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CARTA MENSAL – Abril 2009 # 649 v. 55 Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo www.portaldocomercio.org.br 1 Os Fundadores do Rio de Janeiro: Américo Vespucci, Villegagnon ou Estácio de Sá? Vasco Mariz Historiador e diplomata aposentado. Ex-Embaixador do Brasil no Equador, Israel, Chipre, Peru e Alemanha. Por ocasião dos festejos do 5º centenário do Descobrimento do Brasil, ocorreram paralelamente vivos debates sobre a fundação do Rio de Janeiro, à luz de recentes pesquisas e estudos publicados na França e no Brasil. A inegável comprovação da existência da efêmera cidade de Henryville, fundada por Villegagnon no início de 1556, na praia do Flamengo, como a capital da França Antártica e que só durou quatro anos, daria clara preferência ao almirante francês como o fundador do Rio de Janeiro. Entretanto, como Henryville não teve continuidade, essa prioridade reconhecida por vários historiadores a Villegagnon, está sendo contestada pelos defensores de Estácio de Sá. Ele efetivamente fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro a 1º de março de 1565, em local provisório, uma estreita língua de terra junto ao Pão de Açúcar. Existe porém uma outra corrente de historiadores que considera Américo Vespucci, o verdadeiro fundador da primeira implantação européia na Baía da Guanabara, a feitoria da Ilha do Governador, em 1503. Tomé de Souza também teria construído uma casa de pedra na Guanabara em local desconhecido. Devo dizer que essas prioridades de fundação da cidade são bastante relativas. Hoje, parece mesmo inegável que Villegagnon fundou a primeira aglomeração urbana européia na Guanabara em 1556, que não vingou, pois . indefesa . foi destruída por Mem de Sá em março de 1560. O local aproximado de Henryville, que está registrado nos mapas da Guanabara de André Thevet, publicados em Paris em 1562, ! cava na praia do Flamengo, onde a linha d.água era então bem mais recuada do que hoje em dia e passava aproximadamente pela atual rua Senador Vergueiro, praça José de Alencar e rua do Catete. Henryville estava nas margens do rio Carioca, que hoje corre por baixo da rua Barão do Flamengo e era a única reserva de água doce disponível e permanente de toda a região. Estácio de Sá fundou a cidade do Rio de Janeiro nove anos mais tarde, a 1º de março de 1565, uma povoação que, em 1567, depois da derrota ! nal dos franceses, foi transferida para local mais apropriado e seguro, no morro do Castelo e adjacências, por ordem de Mem de Sá. Não devemos esquecer porém que, bem antes, em 1503, Américo Vespucci, viajando na esquadra comandada por Gonçalo Coelho, fundara uma feitoria (ou torre, como se dizia na época) em Paranápuã, a nossa atual Ilha do Governador, então chamada de ilha do Gato pelos portugueses. Lá deixaram, na Ponta do Matoso, 24 portugueses, 12 bombardas, mantimentos para seis meses e numerosos indígenas amigos. Era o início da implantação comercial lusitana, ordenada pelo rei de Portugal e sob a responsabilidade do arrendatário Fernão de Noronha. Não há notícias de quanto durou essa primeira tentativa de colonização européia da Baía da Guanabara, talvez poucos meses apenas. Supõe-se que uma armada espanhola de passagem pela nossa Baía tenha desmantelado essa feitoria e levado os toros de pau-brasil ali acumulados à espera de uma nau portuguesa.

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Os Fundadores do Rio de Janeiro: Américo Vespucci, Villegagnon ou Estácio de Sá? Vasco Mariz Historiador e diplomata aposentado. Ex-Embaixador do Brasil no Equador, Israel, Chipre, Peru e Alemanha. Por ocasião dos festejos do 5º centenário do Descobrimento do Brasil, ocorreram paralelamente vivos debates sobre a fundação do Rio de Janeiro, à luz de recentes pesquisas e estudos publicados na França e no Brasil. A inegável comprovação da existência da efêmera cidade de Henryville, fundada por Villegagnon no início de 1556, na praia do Flamengo, como a capital da França Antártica e que só durou quatro anos, daria clara preferência ao almirante francês como o fundador do Rio de Janeiro. Entretanto, como Henryville não teve continuidade, essa prioridade reconhecida por vários historiadores a Villegagnon, está sendo contestada pelos defensores de Estácio de Sá. Ele efetivamente fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro a 1º de março de 1565, em local provisório, uma estreita língua de terra junto ao Pão de Açúcar. Existe porém uma outra corrente de historiadores que considera Américo Vespucci, o verdadeiro fundador da primeira implantação européia na Baía da Guanabara, a feitoria da Ilha do Governador, em 1503. Tomé de Souza também teria construído uma casa de pedra na Guanabara em local desconhecido. Devo dizer que essas prioridades de fundação da cidade são bastante relativas. Hoje, parece mesmo inegável que Villegagnon fundou a primeira aglomeração urbana européia na Guanabara em 1556, que não vingou, pois . indefesa . foi destruída por Mem de Sá em março de 1560. O local aproximado de Henryville, que está registrado nos mapas da Guanabara de André Thevet, publicados em Paris em 1562, ! cava na praia do Flamengo, onde a linha d.água era então bem mais recuada do que hoje em dia e passava aproximadamente pela atual rua Senador Vergueiro, praça José de Alencar e rua do Catete. Henryville estava nas margens do rio Carioca, que hoje corre por baixo da rua Barão do Flamengo e era a única reserva de água doce disponível e permanente de toda a região. Estácio de Sá fundou a cidade do Rio de Janeiro nove anos mais tarde, a 1º de março de 1565, uma povoação que, em 1567, depois da derrota ! nal dos franceses, foi transferida para local mais apropriado e seguro, no morro do Castelo e adjacências, por ordem de Mem de Sá. Não devemos esquecer porém que, bem antes, em 1503, Américo Vespucci, viajando na esquadra comandada por Gonçalo Coelho, fundara uma feitoria (ou torre, como se dizia na época) em Paranápuã, a nossa atual Ilha do Governador, então chamada de ilha do Gato pelos portugueses. Lá deixaram, na Ponta do Matoso, 24 portugueses, 12 bombardas, mantimentos para seis meses e numerosos indígenas amigos. Era o início da implantação comercial lusitana, ordenada pelo rei de Portugal e sob a responsabilidade do arrendatário Fernão de Noronha. Não há notícias de quanto durou essa primeira tentativa de colonização européia da Baía da Guanabara, talvez poucos meses apenas. Supõe-se que uma armada espanhola de passagem pela nossa Baía tenha desmantelado essa feitoria e levado os toros de pau-brasil ali acumulados à espera de uma nau portuguesa.

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O historiador Fernando Lourenço Fernandes, no livro Pau Brasil escreveu: “Podemos afirrmar que a feitoria da ilha do Gato é o lugar onde o Brasil nasceu.” Afirmou ele que a notícia ficou “encalhada” no modelo Varnhagen durante um século, que a! rmava que o primeiro entreposto da região fora construído em uma ilha, na região do Cabo Frio. Em 1511, a nau Bretoa recebeu instruções para entregar mercadorias ao feitor do dito entreposto, situado em uma grande ilha, vizinho a um povoado de índios. Ora, do litoral do Cabo Frio até a Ilha Grande não existe ilha alguma dessas proporções. A única ilha relativamente grande e sabida fonte de pau brasil para os franceses e portugueses naquela época era a ilha do Gato, nossa Ilha do Governador, que tem 32 km2 e várias fontes de água doce. Segundo a famosa carta de Américo Vespucci, a feitoria teria sido mandada construir por Gonçalo Coelho, o capitão-mor da armada de 1501/1502 (fare la fortezza). A arqueóloga brasileira Maria Beltrão e sua equipe estavam trabalhando na região da Ponta do Matoso, na Ilha do Governador, em 1963, quando deram com numerosos vestígios esparsos de construções indígenas, ao meio das quais encontraram os restos de uma construção retangular de madeira, com aproximadamente cem metros de comprimento por cinqüenta de largura. Maria Beltrão acredita que se tratava de uma aldeia forti! cada por toros de madeira, aproximadamente com quatro metros de altura. Ela relatou que as construções indígenas em torno da Baía da Guanabara eram sempre todas circulares, o que a levou a concluir que a referida construção retangular de madeira deveria ser forçosamente de origem européia, portuguesa portanto, já que se tratava, seguramente, de uma primeira ocupação. Não foram feitos testes de carbono, mas acredita ela que aqueles restos datam do início do século XVI. Esses vestígios de construções européias foram encontrados perto da antiga aldeia dos Pixunas. Foram 875 cacos de cerâmica indígena associada à cerâmica neobrasileira colonial e também restos de porcelana de Macau. A presença desses cacos de porcelana de Macau con! rmam inegavelmente a presença lusitana no local. Fernando Lourenço Fernandes, na citada obra, afirma: “.Esse sítio da Ponta do Matoso permite deduzir, pelos materiais exclusivos ali encontrados, a existência de carpintaria naval, sugerindo carenagem de embarcações, tanoaria, aparelhamentos, enfim serviços de apoio típicos de uma feitoria . a Feitoria do Gato”. Isso nos leva a recordar, em alguns parágrafos, o 5º centenário da visita à Guanabara, em janeiro de 1502, do famosíssimo navegador italiano Amerigo Vespucci. Em 1999, tivemos uma pequena exposição sobre ele e suas viagens no Museu Histórico Nacional, mas que recebeu pouca publicidade. As viagens de Vespucci ao continente, embora controvertidas, foram muito importantes na época e, surpreendentemente, todas as terras descobertas por Colombo e outros navegadores acabaram sendo batizadas de América, utilizando o prenome de Vespucci. Na verdade, as terras da América deveriam chamar-se Colômbia... No que se refere ao Brasil, lembro que coube ao comandante da primeira expedição lusa após Cabral, o português Gonçalo Coelho, em 1502, o privilégio de batizar a Baía da Guanabara com o nome de Rio de Janeiro. A princípio, acreditava-se que ele deu essa

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denominação à Baía, pensando tratar-se da foz de caudaloso rio, mas isso não era verdade. Ele deve ter notado depois que não se tratava de um grande rio, pois não havia fluxo d.água constante saindo da entrada da barra. Na época dava-se o nome de ria a uma enseada ou a uma baía. Essa confusão de ria com rio não demorou, mas ficou sendo mesmo, erroneamente, Rio de Janeiro. Américo (ou Amerigo) Vespucci esteve pela primeira vez na Baía da Guanabara em janeiro de 1502, como membro daquela frota comandada por Gonçalo Coelho, que veio explorar o litoral brasileiro. Descobriram também Angra dos Reis nessa viagem. Em uma segunda viagem em 1503, em companhia do próprio arrendatário Fernando de Noronha, o navegador italiano passou vários meses na Guanabara, em Paranapuã, a atual Ilha do Governador. Vespucci era homem letrado, nascido e educado em Florença e estava em Portugal como um discreto espião da família Médicis. Outros autores disseram que ele foi incluído na expedição de Coelho pelo armador italiano Marchioni para informar sobre as riquezas do Brasil. Já o historiador português Jorge Couto nos informa de que D. Manuel havia mandado incorporar Vespucci à expedição chefiada por Gonçalo Coelho com a finalidade de .efetuar uma prospeção dos produtos com interesse comercial existentes da Terra de Santa Cruz.. O rei D. Manuel, de Portugal, não ficara animado com as modestas informações sobre o Brasil, colhidas na primeira viagem de Gonçalo Coelho e decidira arrendar grandes áreas a ricos cristãos-novos, que se obrigaram a enviar anualmente seis naus às costas brasileiras. Eles deveriam .descobrir em cada uma delas (capitanias) 300 léguas adiante e fazer uma fortaleza no território descoberto e mantê-la nos três anos em que duraria o arrendamento. Comentando a sua segunda viagem à região, Vespucci escreveu em 1504 uma famosa carta, ou Lettera em italiano, ao príncipe florentino Pedro Lourenço de Médicis, a qual se tornaria uma das primeiras fontes valiosas de informações sobre o Brasil nascente, embora já estejam identificadas algumas contradições. A expedição explorou a nossa costa entre o cabo de São Roque até Cananéia, ao sul de São Paulo, que era a área atribuída a Portugal pelo Papa no Tratado de Tordesilhas. Uma das obrigações da expedição era fundar uma feitoria, ou como diziam eles na época --- uma torre, o que agora parece confirmado. O coronel Rolando Laguarda Trias, na História Naval Brasileira, e Fernando Lourenço Fernandes, em A Feitoria do Rio de Janeiro, identificaram na Ilha do Governador uma feitoria fundada pela expedição de que participou Vespucci, de 1504, o que seria a primeira tentativa de implantação urbana européia na Guanabara. Varnhagen havia previamente situado essa feitoria no Cabo Frio, mas as pesquisas arqueológicas de Maria Beltrão no local comprovam que isso ocorreu na Ponta do Matoso, na Ilha do Governador. O almirante Max Justo Guedes, no seu já citado e esplêndido livro sobre O Descobrimento do Brasil (publicado em duas línguas pelos Correios de Portugal, em 2000) afirma que “.ali demorou-se Vespucci cinco meses e, segundo sua própria informação; foi erguida a fortaleza (feitoria) do contrato de arrendamento, sendo ali deixados 24 homens com 12 bombardas, e pacificados os silvícolas. Durante a estadia houvera uma tentativa de penetração no interior, feita por 30 tripulantes das embarcações. O retorno foi realizado diretamente a Portugal, onde chegaram, segundo a Lettera, a 8 de junho de 1504”

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. Essa feitoria, ou torre, teria sido precariamente construída e por isso foi facilmente desmantelada, pouco tempo depois, talvez por uma esquadra espanhola de passagem pela Guanabara, que teria levado todo o estoque de toros de pau-brasil ali acumulado, à espera de naus portuguesas. Outra hipótese, talvez mais viável, seria de que aquela frágil feitoria e seus poucos habitantes tenham sido destruídos por um grande ataque indígena. A iniciativa de dar o nome de Américo Vespucci às terras descobertas por Colombo e outros navegadores nas Américas foi de Waldseemüller (Hylacomilus) em 1507, que as batizou de Amerigue e depois de Américas, como se pode ler na sua Cosmographiae Introductio, no exemplar da nossa Biblioteca Nacional. Essa denominação teve acolhida imediata na Lorena onde surgiu, e se propagou pela França, Alemanha e Flandres, graças à recente invenção da imprensa. Só os espanhóis resistiram ao termo América e, por estranho que pareça, o ignoraram por 250 anos. Continuaram a chamar as terras por eles descobertas de Índias Ocidentais e só em 1758 as cartas geográficas espanholas adotaram o nome de América. Há um interessante livro que se ocupa da história do nome da América, de autoria de Hugues, publicado em Turim em 1898 com o título de Le vicende del nome America. Os antigos mapas tardaram bastante a mostrar claramente a Baía da Guanabara na costa brasileira e, curiosamente, parece haver sido um corsário turco, aquele que, em 1513, produziu o primeiro mapa da nossa costa com nítida referência à Baía. Outras cartas, com maior ou menor clareza, também a registraram, como o livro de André Thevet, membro da expedição de Villegagnon, que as publicou em seu interessantíssimo livro Les Singularitez de la France Antarctique em 1562. Finalmente, em 1570 aproximadamente, apareceu o belo mapa de Luiz Teixeira, que mostrou ao mundo a Baía da Guanabara por completo, quase perfeitamente desenhada, e a cores. O famoso livro de Jean de Léry também menciona Henryville. Para tentar manter o mare clausum português contra as repetidas aventuras francesas e espanholas na região, o rei de Portugal enviou depois ao Brasil a expedição de Cristovão Jacques, que explorou melhor a orla marítima e limpou toda a costa sul do Brasil de atrevidos intrusos. Entrou em águas espanholas e atingiu a foz do Rio da Prata, então conhecido como Rio de Solís. Já o viajante alemão Hans Staden, que visitou o Brasil poucos anos antes da fundação da França Antártica, conta em seu famoso livro Viagem ao Brasil, publicado na Alemanha em 1557, que encontrou franceses na região da Guanabara antes da chegada de Villegagnon em 1555 . eram os chamados renegados normandos. Graças à interferência deles é que Staden pôde regressar à Europa à bordo de um navio francês, que o levou até o porto de Honfleur, na Mancha. Infelizmente, pouco tempo depois da notável descoberta de Maria Beltrão, em 1963, tratores da Marinha revolveram toda a região da Ponta do Matoso e aqueles restos se perderam. No entanto, tais conclusões parecem coincidir com a descrição feita por Américo Vespucci em sua célebre lettera de 1504, quando aludia a uma feitoria, ou torre, mandada construir por Gonçalo Coelho antes de regressar a Portugal. O douto almirante Max Justo Guedes, em seu livro O Descobrimento do Brasil, aceita essa versão e também dá credibilidade à descoberta de Maria Beltrão. Tal fato, embora não possa mais ser comprovado, dá ampla prioridade a Vespucci e seus companheiros como os fundadores da primeira implantação européia na Guanabara, muito anterior portanto a Villegagnon (1556) e a Estácio de Sá

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(1565). Esclareço, no entanto, que o chefe das duas expedições, Gonçalo Coelho, não teria chegado até a Guanabara nessa segunda viagem, quando foi construida a feitoria. Seja como for, essa foi a primeira tentativa de instalação européia na Guanabara, mera feitoria com um punhado de habitantes, de pequeníssima duração, e não uma verdadeira povoação como Henryville, ou como a futura cidade de São Sebastião. Temos assim três datas e três prioridades de fundação da primeira instalação européia na Guanabara:

1) em 1504, na Ilha do Governador, na Ponta do Matoso, uma torre instalada pela expedição de Gonçalo Coelho, da qual participou Américo Vespucci, o relator oficial da construção da feitoria.

2) no início de 1556, na praia do Flamengo, a futura cidade de Henryville, cuja existência está comprovada pela carta de Villegagnon ao Duque de Guise, que está em nosso Museu da Marinha, e também pelo pan" eto do pastor francês Pierre Richer, onde ele protestava contra a vida dissoluta dos franceses em Henryville, e ainda pelo registro do local exato da futura capital da França Antártica nos mapas da Guanabara de André Thevet. A povoação de Henryville, por ocasião do ataque de Mem de Sá em março de 1560 deveria ter cerca de 500 habitantes, dentre eles cerca de cem franceses.

3) a 1º de março de 1565, na Urca, uma cidade foi formalmente fundada por Estácio de Sá. Antes de sua transferência para o morro do Castelo, São Sebastião deveria ter uma população de cerca de duzentos portugueses e numerosos indígenas.

Entretanto, é importante sublinhar que nenhum dos três pontos iniciais de colonização sobreviveu: os dois primeiros foram destruídos manu militari e o terceiro, o de Estácio de Sá, foi transferido voluntariamente para local mais apropriado e mais seguro, a salvo de eventuais ataques inimigos, o morro do Castelo. Villegagnon tem sido festejadíssimo nos últimos anos e até mesmo homenageado em sua cidade natal, Provins, pela Marinha de Guerra brasileira, com um obelisco fabricado com pedras provenientes da ilha que, até hoje, leva o seu nome. Em bela cerimônia, assistida por altas autoridades francesas, o obelisco foi inaugurado a 1º de agosto de 2000 pelo embaixador do Brasil na França, Marcos de Azambuja, nosso atual colega do Conselho Técnico. Vários livros têm focalizado a França Antártica no Brasil e na França, entre os quais Rouge Brésil, de Jean Claude Ru! n, que obteve o Prêmio Goncourt de 2001 e já vendeu 500.000 exemplares, com ampla repercussão mundial. Por isso, parece-me oportuno recordar a nebulosa personagem de Estácio de Sá, merecedor de justas homenagens e, injustamente, também alvo de alguns ataques apaixonados. Um conhecido jornalista carioca chegou a chamá-lo de .menino bobo. em artigo no jornal .O Globo.. A polêmica repercutiu em Portugal e a Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, foi solicitada a promover um seminário para fazer-lhe um desagravo. Por outro lado, Estácio de Sá é ainda um

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personagem um pouco misterioso, pois até o conhecido historiador português Joaquim Veríssimo Serrão, ex-presidente da Academia de História de Portugal, fez discretas restrições à sua memória. Escreveu ele sobre a sua admissão na Ordem de Cristo, por Carta Régia de 8 de março de 1566: “A verdade é que o grau de noviço da Ordem de Cristo era atribuído a um homem apagado, apenas o sobrinho do governador”. Elysio Belchior, um de nossos melhores especialistas no século XVI, discorda e considera que essa distinção demonstrou o apreço que o monarca tinha por ele, tanto que deixou de lado algumas exigências para conceder aquela distinção. No entanto, em outra citação de seu livro clássico sobre o século XVI no Brasil, Serrão teve mais consideração por Estácio: . ”O decisivo impulso para a conquista do sítio e pacificação da terra foram graças ao esforço dele e assim que se puderam assentar os fundamentos da nova cidade”. O sobrinho de Mem de Sá havia chegado a Salvador em 1557 muito jovem ainda, talvez com menos de 20 anos. Em março de 1560, ele foi enviado a Portugal para dar a boa nova da primeira derrota francesa à corte portuguesa e pedir reforços para expulsar os franceses remanescentes, que ainda eram bastante numerosos. Estácio voltou ao Brasil à frente de dois galeões com reforços, que chegaram a Salvador a 1º de maio de 1563. Após mais preparativos, partiram em direção ao sul e foram muito bem recebidos no Espírito Santo pelo cacique Araribóia. Ao entrarem na Guanabara, encontraram forte resistência da parte dos tamoios e dos franceses, que continuavam entrincheirados no morro da Glória, perto da arrasada Henryville. A armada portuguesa comandada por Estácio de Sá, diante daquela resistência inesperada, preferiu largar velas em direção a São Vicente para angariar mais reforços. Lá ficaria quase um ano, pois teve de ajudar a Câmara local com suas forças em sua luta com os índios da vizinhança. Finalmente, em 1564, os lusos se apresentaram outra vez diante da entrada da barra na Guanabara. Esgueiraram-se junto ao Pão de Açúcar e ali se instalaram junto ao morro Cara de Cão, local estreito, pouco apropriado, mas o único possível naquelas circunstâncias. Como disse acima, os historiadores portugueses não têm demonstrado muito entusiasmo por Estácio. No entanto, o Padre Manuel da Nóbrega, fiel testemunha desta etapa inicial de nossa história, o tinha em boa conta e relatou que Estácio foi incansável na instalação e administração da aldeia inicial, naqueles 22 meses de sua gestão. Conta Elysio Belchior, em seu excelente livro Conquistadores e povoadores do Rio de Janeiro, que o próprio capitão-mor não tinha muita confiança na verdadeira força da expedição que che! ava. Quando esteve em São Vicente para recrutar reforços, Estácio manifestou suas dúvidas ao Padre Manuel da Nóbrega, e perguntou-lhe: “Que conta darei a Deus e a El Rei se deitar a perder esta armada?” Ao que lhe teria respondido o jesuíta: “Eu darei conta a Deus de tudo e, se for necessário, irei diante de El Rei a responder por vós”. Esta frase parece atestar a competência e o empenho do jovem comandante português.

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Do mesmo modo, o Padre José de Anchieta, que viera de São Vicente, relatou em carta . uma espécie de certidão de nascimento do Rio de Janeiro . que Estácio de Sá desembarcou com 180 homens e .foi logo dormir em terra, dando ânimo aos outros a fazer o mesmo.. Desde o capitão-mor até o mais modesto colonizador cortaram madeira e carregaram pedras sem haver nenhum que a isso repugnasse..Estácio exortava os soldados no cumprimento do dever e certa vez teria dito uma frase que ficou na história: “Levantemos esta cidade que ficará por memória do nosso heroísmo e de exemplo às vindouras gerações para ser a rainha das províncias e o empório das riquezas do mundo”. Os céticos afirmam que não havia taquígrafos nem gravadores na época para registrar tal frase, que é demasiado altissonante para a época. Seja como for, podemos aceitar a relativa autenticidade dessa bonita frase de Estácio de Sá, que teria sobrevivido graças à tradição oral. Finalmente, a 1º de março de 1565, solenemente fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, honrando o legendário rei que em breve desapareceria em dramática campanha na Africa. Naqueles dois anos de consolidação de sua posição na Urca (1565-67), os portugueses resistiram a freqüentes assaltos de franceses e tamoios e já no dia 6 de março de 1565, portanto seis dias após a cerimônia da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, os portugueses sofreram um violento ataque que conseguiram rechaçar .deixando a praia juncada de cadáveres.. A chamada .batalha das canoas., que por vezes é encenada nos festejos anuais de 1º de março como um verdadeiro pageant, não me parece muito autêntica, mas a comemoração é mesmo pitoresca. O capitão-mor foi elogiado por todos os historiadores por sua .prudência, sizo e constância por levar adiante o determinado.. No entanto, Veríssimo Serrão não deixou de afirmar que a figura de Estácio de Sá continua na penumbra histórica, pois seu tio reivindicou a glória do nascimento da cidade à sua pessoa, sonegando o papel essencial desempenhado pelo seu esforçado sobrinho.. Mas o ilustre historiador português também esclareceu merecidamente que .a glória da transferência da cidade (da Urca para o morro do Castelo) não se deveu ao governador, pois com ele (Estácio) deu-se a transferência do local.. Belchior também registrou que ....não lhe faltavam reconhecimento os que com ele conviveram, nem recompensas dos que nele confiaram. Os pósteros, por vezes, o esqueceram, mas não faltaram aqueles que o cercaram de uma aura de heroismo, ou em versos cantaram seus feitos e destino... . O padre José de Anchieta estava presente em 1560, na batalha que ocorreu por ocasião do ataque ao forte Coligny, onde Estácio teria sido o primeiro português a penetrar. Anchieta também esteve na Guanabara nos primeiros dias após a fundação da cidade, em março de 1565. Ele deu maior relevo a Estácio de Sá e afirmou em carta ao Padre Geral de São Vicente que o jovem capitão-mor .nunca descansava, nem de noite nem de dia, acudindo a uns e a outros e sendo o primeiro nos trabalhos.. Foram 22 meses de lutas constantes com os tamoios e os franceses, que tudo ! zeram para que o Estácio desistisse de fixar-se ali e regressasse à Bahia ou a São Vicente. Ele teria sido incansável não só para reforçar o

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perigoso e vulnerável local onde se instalara, mas também fez estabelecer roças para que pudesse alimentar os habitantes da novel povoação. Estácio concedeu nada menos de 50 sesmarias aos seus melhores colaboradores e ele mesmo possuía terras na região. Jorge Couto acrescenta que ele instalou a Câmara Municipal, criou o brasão da cidade, nomeou os titulares de cargos administrativos, judiciários e religiosos, e fundou ainda um colégio jesuíta. Só no início de 1567, após haver recebido mais reforços, Estácio de Sá sentiu-se su! cientemente forte para tentar o assalto ao Mont Henry, ou Uruçu-mirim dos indígenas, o nosso atual morro da Glória. A batalha foi um êxito, mas infelizmente o capitão-mor foi ferido no rosto (alguns historiadores a! rmam que foi em um olho), por uma flecha envenenada e, após um mês de sofrimentos, veio a falecer. Dias depois, os portugueses atacaram com sucesso a aldeia francesa de Paranapuã, na atual Ilha do Governador. O Dr. Serrão escreveu: .Estácio de Sá morreu na casa dos vinte e poucos anos e seu juvenil martírio foi envolvido numa sombra de lenda, que lhe tem agigantado a figura. Já o historiador português Jorge Couto foi mais romântico, dizendo: “Morreu tal como o martir que escolheu para o patrono da cidade. vítima das flechas”. De Estácio de Sá não restam cartas, nem documentos, mas Mem de Sá confiava em seu sobrinho, pois já manifestara vontade de mantê-lo no comando do Rio de Janeiro, após a transferência da povoação para o morro da Castelo. Seus restos mortais estão na igreja de São Sebastião, na rua Haddock Lobo, na Tijuca. Os episódios que cercaram a fundação da cidade do Rio de Janeiro foram cantados em prosa e verso. Em meados do século XIX tivemos o conhecido poema épico A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães (1856), hoje de leitura bastante difícil. De 1965, é o Romanceiro de Estácio, de Stela Leonardos, editado pela Secretaria Geral de Educação e Cultura, por ocasião do 4º centenário da efeméride. Henrique Orciuoli escreveu Estácio na Guanabara, e Frederico Trotta publicou A fundação da cidade do Rio de Janeiro, ambos divulgados pelo mesmo editor, em 1965. O livro que escrevi em parceria com Lucien Provençal sobre Villegagnon e a França Antártica está na 2ª. edição e foi publicado em Paris em 2002. Em 2005, o Museu Histórico Nacional organizou importante seminário intitulado .O Universo da França Antártica., do qual participaram os melhores especialistas brasileiros, portugueses e franceses. Ali ouvimos excelente palestra de Elysio Belchior sobre Estácio de Sá e que me parece ser a última palavra sobre o personagem. Finalmente, desejo esclarecer que Estácio de Sá nunca foi governador do Rio de Janeiro, como já se escreveu, e sim apenas capitão-mor, pois a novel cidade estava situada na capitania doada pelo rei a Martim Afonso de Souza. Já se escreveu que Mem de Sá pretendia nomeá-lo governador, mas a sua morte prematura levou o governador-geral a designar seu outro sobrinho, Salvador Corrêa de Sá, em 1567, primeiro governador da cidade. Essa ilustre familia Corrêa de Sá dirigiu por mais de um século a administração da cidade, culminando no ilustre Salvador Correa de Sá e Benevides, um grande personagem do século XVII no Brasil e em Portugal, três vezes governador do Rio de Janeiro.

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Em 1965, por ocasião dos festejos do 4º centenário da fundação da cidade, o governador Carlos Lacerda fez erigir uma pequena pirâmide na curva do aterro do Flamengo, em merecida homenagem a Estácio de Sá. De lá se descortina frontalmente o morro Cara de Cão, à sombra do qual foi semeada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Olhando à esquerda vemos a Ilha de Villegagnon, hoje sede da Escola Naval do Brasil, e também a Praia do Flamengo, onde existiu por quatro anos a efêmera Henryville, e mais à esquerda ainda, ao alto, ergue-se o morro da Glória, o Mont Henry, onde resistiram os franceses por sete anos depois da queda do forte Coligny. E daquela curva do aterro descortina-se uma das mais belas vistas do Rio, panorama dominado pelo Pot-au-beurre (o pote de manteiga) . como batizaram os franceses o nosso Pão de Açúcar. Lembro ainda que o Congresso de História Nacional, a 5 de junho de 1913, determinara fosse erguido um marco comemorativo da fundação do Rio de Janeiro. Em conseqüência, o Instituto Histórico e Geográ! co Brasileiro, a 20 de janeiro de 1915, tomou a iniciativa de erigir o marco na Urca, na Praia de Fora, para celebrar o feito de Estácio de Sá. Destarte, tal como Buenos Aires teve dois fundadores: Pedro de Mendoza em 1535 e Juan de Garay em 1575, nosso Rio de Janeiro também teve, no sentido lato, dois fundadores, ou até podemos dizer mesmo três fundadores: � Américo Vespucci, na Ilha do Governador, em 1504, � Nicolas Durand de Villegagnon na Praia do Flamengo em 1556, � e Estácio de Sá na Urca, em 1565.

Devemos honrá-los a todos, pois como escreveu o Padre Manuel da Nóbrega ao Cardeal D. Henrique, de Portugal: “Aqui está o que há de melhor no Brasil”. Estácio continua bem presente no Rio de Janeiro do século XXI pelo populoso bairro do centro da cidade que leva o seu nome e que ficou ligado à história do samba. Existe uma grande universidade com seu nome e até uma Escola de Samba, a Estácio de Sá, que alegra anualmente os desfiles carnavalescos. Bem haja" BIBLIO GRAFIA SELETA ANCHIETA, José de . Cartas, fragmentos históricos e sermões, edição da Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, 1933. ANAIS do seminário .O Universo da França Antártica., no Museu Histórico Nacional, outubro de 2005. Numerosas palestras de especialistas brasileiros, portugueses e franceses. Palestra de Elysio Belchior. A ser publicado em 2009. BELCHIOR, Elysio . Conquistadores e Povoadores do Rio de Janeiro, Livraria Brasiliana Editora, Rio de Janeiro, 1965. _______________ . Ainda conquistadores e povoadores do Rio de Janeiro, in revista do IHGB, v. 402, janeiro/março de 1999, página 49.

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Palestra pronunciada em 10 de Março de 2009