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8/14/2019 osimboloculturalacan[1]
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O smbolo e a cultura: Lacan
LIVRO: A Psicanlise depois de Freud
AUTORES: Bleichmar & Bleichmar
Para Lacan (1966), o externo ao indivduo a estrutura da linguagem e a estrutura
social, considerada antropolgicamente como o conjunto de leis de intercmbio entre os
sujeitos. A linguagem desempenha um papel decisivo. De fato, ela que distingue a
sociedade humana das naturais. A dotao biolgica do recm-nascido se situa, em seu
modelo, na ordem do real.
Lacan prope que a criana se identifica com o desejo da me. O resultado que osujeito fica alienado no desejo do outro. Ela no seno o que a me deseja que ela seja:
o falo. Por meio do dipo, produz-se outra identificao, o sujeito se identifica com a lei e
adquire a noo de que no o falo, embora possa possui-lo. Nesta identificao, tem um
papel capital, como significante, o nome-do-pai, que permite o ingresso do indivduo na
ordem simblica.
Lacan definitivo, quanto ao papel da linguagem no processo de identificao. O
sujeito , desde o nascimento, presa da linguagem; portanto, definido em funo da
estrutura.
A origem fundamental da agressividade no , neste autor, como em outros, a
frustrao. Tampouco as pulses constitucionais desempenham um papel importante. O
ponto medular da agressividade estaria focalizado na ruptura da identificao imaginria.
Tudo o que a questiona, engendra agressividade. A prpria identificao narcisista faz
parte da agressividade: a alienao do sujeito no desejo do outro. No plano filosfico, a
dialtica do Senhor e do Escravo, extrada da teoria hegeliana, sintetiza o fato de que a
satisfao do desejo humano s possvel por meio do desejo e do trabalho do outro. O
que est em jogo o reconhecimento do homem pelo homem. Esta agressividade parece
ser inerente ordem humana e deixaria sua marca, no s no mal-estar da sociedade,
mas tambm na neurose. A cultura imprime sua profunda marca no sujeito. Na proposta
lacaniana, o inconsciente efeito e reflexo da estrutura significante. A dissoluo do
conflito edpico ocorre graas representao do falo, como significante principal. Todos
os demais significantes surgem de seu deslocamento metonmico e metafrico, tomando
forma no inconsciente e guardando entre si as relaes que apresentam na linguagem,
respeitando suas regras e permitindo as operaes que nela podem ser feitas
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(condensao e deslocamento). Diferentemente de outros autores, o inconsciente no ,
para Lacan, a sede das pulses. Ele est estruturado como linguagem.
Na conceptualizao do conflito edpico, novamente ressalta o grande peso da
estrutura e da cultura (entendida como linguagem e lei). No incidem s em sua
resoluo, mas tambm em seu desencadeamento.O que o externo ao indivduo, na teoria lacaniana? De maneira diferente das
outras teorias, nas quais o externo representado pela me, em Lacan o que est fora do
sujeito o desejo (do outro), a linguagem e a Lei.
Em sntese, destaquemos o grande valor que Lacan atribui cultura, na
constituio do sujeito e, tambm, em sua psicopatologia. Os elementos inatos realmente
tm pouca importncia, enquanto que o modelamento imposto pelo mundo externo de
grande envergadura. Por ltimo importante destacar que, na teoria lacaniana, a cultura um conceito de alto nvel de abstrao, suprapessoal, diferente dos modelos
anteriormente expostos, nos quais entendida em um sentido mais natural e quotidiano.
8. Concluses
Preocupam-nos as modificaes das teorias psicanalticas, em direo a um
critrio que pode chegar a ser excessivamente ambientalista. Na tcnica, suas
conseqncias levam modificao da concepo do processo analtico da compreenso
dos conflitos inconscientes e de sua resoluo na transferncia, at uma experincia
emocional corretiva, cuja metodologia e resultados so incertos (2). Freud props a teoria
pulsional e as sries complementares para explicar o conflito psquico. A teoria kleiniana
continuou enfatizando a luta pulsional, agora sob a tica das relaes de objeto. Os
autores ps-kleinianos, em especial Bion, com sua idia de continente-contedo e da
funo de rverie da me, completam, no esquema kleiniano, a incidncia das
caractersticas reais da me, na produo de patologia. Em Hartmann, mantm-se o
enfoque pulsional, porm o centro de ateno desliza para o ambiente, ao hierarquizar o
ego e sua adaptao realidade. As idias de Mahler, Winnicott e Kohut marcam uma
orientao ambientalista, para a compreenso do desenvolvimento e da doena mental. A
teoria lacaniana tambm se situa no setor ambiente do espectro, porm agora definido a
partir da cultura estruturante do sujeito.
Uma das causas que influram nesta modificao terica e tcnica a necessidade
de compreender a inegvel influncia que a patologia dos pais possui no desenvolvimento
dos filhos na medida que a psicanlise se foi estendendo em sua aplicao, a patologiasmais graves, fez-se necessrio algum tipo de conceptualizao que explicasse este fato
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clnico. Porm, oportuno voltar a destacar, aqui, a diferena de nvel existente, quando
se estuda a influncia dos fatores inatos e ambientais na gnese do psiquismo humano, e
quando consideramos estes mesmos fatores no paciente, com sua realidade psquica j
constituda. Nesta ltima situao, atribuir os fatores patgenos exclusivamente m
participao dos pais reduz a compreenso do conflito a um determinismo causal, nolevando em conta as mltiplas motivaes existentes na mente do paciente.
Uma conseqncia importante da proposta ambientalista que se favorece a
dissociao da transferncia negativa, ao situar o mal, que acontece com o paciente, no
passado. Assim, a relao analtica objeto de uma idealizao, que seria fomentada
pelo referencial terico do terapeuta, pois este se atribui a possibilidade de ser melhor do
que os pais, para este novo acontecer das experincias passadas. Outras das causas da
inclinao para estes procedimentos o quo doloroso se torna, na situao analtica,suportar os sentimentos agressivos, que so de muita intensidade, nos pacientes graves.
Isto assim, tanto para o paciente como para o terapeuta.
Pode-se pensar como uma causa terica do problema que nos ocupa, que, como
afirma Gedo (1979, p. 367), as propostas ambientalistas se produzem em um momento
da histria da psicanlise em que se discute a metapsicologia freudiana quanto validade
de seus conceitos bsicos. Quando se questionam as noes de libido, energia psquica,
pulses de vida e de morte etc., parece que as teorias das motivaes, relacionadas com
elas, tambm ficariam sem efeito. Assim, surgiria a necessidade de fundamentar de outro
modo o conflito psquico, sendo ento que aparecem, como explicao, as teorias
ambientalistas.
Como uma causa extrapsicanaltica, pode-se pensar na presso que exercem
outras tcnicas de psicoterapia, sejam individuais, de grupo ou familiar, que buscam
resultados mais rpidos e contundentes, diante das quais o psicanalista apenas conta
com seu mtodo, que lento, trabalhoso e, muitas vezes incerto, requerendo uma grande
pacincia e tolerncia dor mental.
O campo da psicanlise continua a ser o da compreenso e elaborao da
realidade psquica do paciente. A idia da motivao inconsciente, sempre existente em
seus conflitos e sentimentos, d-nos a possibilidade de compreender os fatores internos e
externos que, permanentemente, interagem nesta motivao. Esta postura, durante a
sesso, restringe o mbito de nossa compreenso, quanto ao que podemos observar, na
atual situao da realidade psquica. Ali o passado s existe como um estado emocional
do paciente, vinculado a determinadas fantasias. O acesso que temos a seu passado atravs de sua significao no presente. Desta perspectiva, torna-se impossvel pensar
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em um descongelamento do passado, ou em reproduzir, no presente, de maneira
concreta, uma experincia anterior, variando as condies externas de sua realizao.
Outro dos temas em discusso o do livre arbtrio. Em boa parte, temos uma
responsabilidade pessoal pelos acontecimentos de nossa realidade psquica e suas
motivaes. Assim o sentimos, quando sofremos nossos sintomas estados emocionais outraos de carter, embora no saibamos por que. As teorias ambientalistas, ao situar nos
pais a responsabilidade pelo dano psquico, transformam o indivduo em uma espcie de
vtima inocente do que os outros lhe fizeram sofrer. A idia de realidade psquica implica
um repertrio pessoal de motivaes e de possibilidades de reao frente s
circunstncias externas. Neste sentido, a teoria da posio depressiva de Klein implica
assumir a responsabilidade e a dor pelos nossos atos psquicos, mas tambm oferece
uma soluo ao problema do livre arbtrio, que amplia a noo de determinismo psquico.A idia das sries complementares de Freud mantm sua vigncia, para a
compreenso do conflito mental. Prope uma multiplicidade de fenmenos que interagem,
para definir um acontecimento e, embora isto torne mais complexo o campo de
observao dos fatos clnicos, parece poder nos proteger de simplificaes, que levam a
uma compreenso restrita e, s vezes, esquemtica, do que acontece na vida mental.
Desta perspectiva, a opo natureza-cultura torna-se falsa ao procurar estabelecer uma
determinao causal que redutora e impossvel de comprovar. No tratamento
psicanaltico, temos a possibilidade de explorar e atuar sobre o presente, o atual, que a
realidade psquica do paciente, onde participamos diretamente, em um constante interagir
entre o interno e o externo.
NOTAS
* Neste captulo transcrevemos, com ligeiras modificaes, dois artigos apresentados na Associao Psicanaltica de
Buenos Aires. "Las teoras de la relacin emocional entre la madre su beb" foi lido por um de ns (N. M. B.) no
Simposiumsobre Desenvolvimento psquico precoce, de 1981, e "EI problema naturaleza-cultura en psicoanlisis", poroutro (C. L. de B.), por ocasio da solicitao de sua aceitao como membro titular. J nos preocupavam, naqueles
anos, vrios dos temas que se apresentam neste livro. Estes trabalhos podem ser de utilidade ao leitor, servindo, ao
mesmo tempo, como reviso de alguns temas que aparecem em captulos anteriores.
(1) CE. Kant, E. (1781): Crtica de la razn pura. Mxico: Ed. Nacional.
(2) Nem toda concepo ambientalista teria de desembocar, necessariamente, nesta situao e, de fato, no acontece
assim, na prtica.
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