OSMO, Alan (2015) - O Campo Da Saúde Coletiva No Brasil

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A Saúde Coletiva pode, em um primeiro contato,parecer bastante múltipla e fragmentada. Buscandocompreender melhor o que a define como conhecimentoe atuação na sociedade, realizou-se umarecuperação de natureza teórica das consideraçõeshistóricas e epistemológicas desenvolvidas porpesquisadores dedicados a caracterizá-la comocampo científico e social. Primeiro, com base nessaprodução bibliográfica, foi feita uma breve caracterizaçãoda emergência da Saúde Coletiva. É dese destacar que suas origens situam-se no final dadécada de 1970, em um contexto no qual o Brasilestava vivendo uma ditadura militar. A Saúde Coletivanasce, nesse período, vinculada à luta pelademocracia e ao movimento da Reforma Sanitária.Apontam-se as influências do preventivismo e damedicina social em sua constituição. Ao longo desteestudo, foram exploradas distintas tentativas de suadelimitação como campo de saberes e de práticas.Buscou-se apresentar a Saúde Coletiva não com umadefinição única, mas considerando a multiplicidadede construções encontradas, o que permite apontarpara uma identidade de difícil elaboração e aindaem desenvolvimento.

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    Alan OsmoUniversidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva. Programa de Aprimoramento Profissional em Sade Coletiva. So Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]

    Lilia Blima SchraiberUniversidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva. So Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]

    O campo da Sade Coletiva no Brasil: definies e debates em sua constituio1 The field of Collective Health in Brazil: definitions and debates on its constitution

    CorrespondnciaLilia Blima SchraiberUniversidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Departamento de Medicina Preventiva. Av. dr. Arnaldo, 455, 20 andar. So Paulo, SP, Brasil. CEP 01246-903.

    DOI 10.1590/S0104-12902015S01018

    ResumoA Sade Coletiva pode, em um primeiro contato, parecer bastante mltipla e fragmentada. Buscando compreender melhor o que a define como conhe-cimento e atuao na sociedade, realizou-se uma recuperao de natureza terica das consideraes histricas e epistemolgicas desenvolvidas por pesquisadores dedicados a caracteriz-la como campo cientfico e social. Primeiro, com base nessa produo bibliogrfica, foi feita uma breve carac-terizao da emergncia da Sade Coletiva. de se destacar que suas origens situam-se no final da dcada de 1970, em um contexto no qual o Brasil estava vivendo uma ditadura militar. A Sade Co-letiva nasce, nesse perodo, vinculada luta pela democracia e ao movimento da Reforma Sanitria. Apontam-se as influncias do preventivismo e da medicina social em sua constituio. Ao longo deste estudo, foram exploradas distintas tentativas de sua delimitao como campo de saberes e de prticas. Buscou-se apresentar a Sade Coletiva no com uma definio nica, mas considerando a multiplicidade de construes encontradas, o que permite apontar para uma identidade de difcil elaborao e ainda em desenvolvimento. Palavras-chave: Sade Coletiva; Medicina Social; Domnios Cientficos; Conhecimento.

    1 Este artigo foi elaborado a partir de um trabalho, O campo da Sade Coletiva: definies e debates na sua constituio, anteriormente apresentado pelos autores no VI Congresso Brasileiro de Cincias Humanas e Sociais em Sade, em 2013.

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    AbstractAt first sight, Collective Health might seem to be multiple and fragmented. Aiming to understand better what defines it as knowledge and activity in society, we made a theoretical review of historical and epistemological considerations developed by researchers who dedicated themselves to character-izing it as a scientific and social field. First, based on this literature, we provide a brief panorama of the emergence of Collective Health in Brazil. It is important to notice that its origins date back to the end of the 1970s, in a context in which Brazil was experiencing a military dictatorship. Collective Health emerges, at that moment, connected with the struggle for democracy and with the Health Reform movement. We show the influences of preventive medicine and social medicine in its constitution. Then, we explore different attempts to delimit it as field of knowledge and practice. We sought to present Collective Health not through one single definition, but taking into account the multiplicity of constructions about it that we found. This allows us to point to an identity of difficult development and that is still under construction.Keywords: Collective Health; Public Health; Social Medicine; Scientific Domains; Knowledge.

    IntroduoO que instigou a escolha do tema para este trabalho foi a percepo de que a Sade Coletiva pode, em um primeiro contato, parecer bastante mltipla e fragmentada, tanto do ponto de vista terico quanto do prtico. Pretendendo, ento, conhec-la melhor, foi realizado um estudo a partir da produo em Sade Coletiva na tentativa de buscar respostas para as questes: O que caracteriza e define a Sa-de Coletiva? O que a distingue de outros campos de conhecimento e interveno?

    Com a qualidade de uma primeira reflexo sobre essas questes, optamos por revisitar estudos que se dedicaram a pens-la como um campo especfico e que foram realizados por autores considerados referncia na Sade Coletiva, tanto por figurarem entre aqueles que participaram da elaborao e implantao da proposta de uma Sade Coletiva no pas, ao final dos anos 1970, quanto por serem pesquisadores da Epidemiologia, das Cincias Humanas e Sociais em sade e tambm da Poltica, Planejamento e Gesto em sade, que, desde esses distintos ramos da Sade Coletiva, estudaram sua constituio.

    A referncia de que a Sade Coletiva configura um campo registrada em quase todas as publi-caes. Neste texto, manteremos essa referncia seguindo Paim e Almeida Filho (1999, 2000), que, em suas reflexes sobre a Sade Coletiva, caracte-rizam-na como campo de conhecimento e mbito prprio de prticas: A Sade Coletiva pode ser considerada como um campo de conhecimento de natureza interdisciplinar cujas disciplinas bsicas so a epidemiologia, o planejamento/administrao de sade e as cincias sociais em sade (Paim; Almeida Filho, 2000, p. 63).

    No entanto, em recente publicao que examina a Sade Coletiva, essa qualificao de campo, desde o incio embasada pelo conceito cunhado por Pierre Bourdieu (1993), relativizada, considerando que a Sade Coletiva, ora denominada como rea, ora como espao social, aponta em seu desenvol-vimento uma tendncia para consolidar-se como um campo (Vieira da Silva; Paim; Schraiber, 2014).

    Conhecendo essa questo em aberto, como um campo futuro ou consolidado, instigou-nos, sobre-tudo, a delimitao de uma identidade, cientfica

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    e prtica, com base em seus contedos de saber e mbitos de interveno. Desse modo, buscamos, nessa mencionada revisita s publicaes sobre a construo da Sade Coletiva, explicitar quais do-mnios de competncia se fala desde suas origens. Menos que uma reviso bibliogrfica, portanto, este trabalho busca uma releitura de importantes discusses sobre a identidade da Sade Coletiva.

    Trata-se de um esforo para se ter uma clareza maior sobre o que constitui o todo da Sade Cole-tiva, tentando superar uma possvel viso fragmen-tria baseada nos diversos recortes disciplinares que a compem, de modo, inclusive, a compreender melhor uma construo de sua identidade. Segundo Everardo Nunes (2005), tal esforo parece ser uma preocupao importante na prpria histria da Sade Coletiva:

    Recuperar a histria e desvendar sua composio

    interna (epistem) tem sido uma das preocupaes

    presentes em diversos trabalhos e anlises que vm

    acompanhando a prpria construo da Sade Co-

    letiva no Brasil. Esse esforo tem estado presente

    desde os anos 80 e se estende at a atualidade,

    buscando fornecer os elementos que configurem

    nossa identidade e revelem quem somos, onde nos

    situamos, o que fazemos, quais os produtos de

    nossas prticas (p. 14).

    O presente artigo est divido em duas partes. A primeira faz uma breve apreciao sobre a constitui-o da Sade Coletiva, tal como apresentada por au-tores do campo, em que damos destaque s correntes de pensamento em torno a processos sade doena em coletivos, como formas de aproximao distintas de uma sade pblica e com base no olhar cunhado pela medicina da modernidade. O modo como so articuladas questes da medicina e da sade pbli-ca a referncia para a compreenso das questes que cercam o contedo disciplinar que a proposta da Sade Coletiva abraou. A nossa segunda parte explora contrastes entre distintas tentativas de de-finio da Sade Coletiva. Tais contrastes tambm constam em textos de autores do campo, os quais trazem diferentes perspectivas de delimitao da Sade Coletiva, j indicando em seu interior uma grande multiplicidade de correntes de pensamento acerca de suas definies como campo.

    A constituio do campo da Sade ColetivaAs origens do campo da Sade Coletiva so situadas por Nunes (1994) na dcada de 1950. Vieira-da-Silva, Paim e Schraiber (2014) reforam o final da dcada de 1970 utilizando como marco o surgimento do termo Sade Coletiva no Brasil e a criao da asso-ciao civil que representaria o campo a Associao Brasileira de Ps-Graduao em Sade Coletiva (Abrasco) , no negando as razes apontadas por Nunes em perodos anteriores. A Sade Coletiva consolidou-se, ento, com esse nome e com suas especificidades no Brasil. Apesar de o nome no ter sido adotado em outros pases, muitos autores veem a Sade Coletiva como parte de um movimento mais amplo da Amrica Latina, como aponta o prprio Nunes (1994).

    Com base em uma distino entre projeto e campo de Sade Coletiva, Nunes (1994) apresenta a emergncia desse campo composta por trs momen-tos: o primeiro, denominado fase pr-Sade Coletiva, durou os primeiros quinze anos a partir de 1955, e foi marcado pela instaurao do projeto preventi-vista; o segundo, que vai at o final dos anos 1970, denominado fase da medicina social; o terceiro vai do final dos anos 1970 at pelo menos 1994, quando o autor escreveu o artigo Sade coletiva: histria de uma ideia e de um conceito. O autor considera este ltimo segmento como sendo o perodo da Sade Coletiva propriamente dita. Segundo Nunes (1994, p. 2), a emergncia desses projetos reflete, de um modo geral, o contexto socioeconmico e poltico- ideolgico mais amplo, como tambm as sucessivas crises, presentes tanto no plano epistemolgico, como das prticas de sade e da formao de recur-sos humanos.

    Nesse sentido, Paim e Almeida Filho (1999) tambm alertam para a importncia do contexto nas questes relativas ao campo do conhecimento. Esses autores, a partir de ideias de Kuhn e de Rorty, defendem que a construo do conhecimento cient-fico no produzida pelos investigadores de forma isolada, em abstrato, mas ocorre, sim, organizada institucionalmente, dentro da cultura, imersa na linguagem. A cincia seria, portanto, determinada social e historicamente. Os autores propem que a

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    cincia deva ser entendida como uma prtica social que tem fundamentos particulares, que se exerce em um processo de dilogo e de negociao destinado produo de um consenso localizado e datado, baseado em uma certa solidariedade dos atuantes da comunidade cientfica.

    A nosso ver, um importante aporte dessa pe-riodizao est em evidenciar o preventivismo e a medicina social como abordagens do processo sade-doena em coletivos que podem ser reconhe-cidas como as razes da proposta de Sade Coletiva elaborada no Brasil e que tiveram influncia na implantao institucional do campo.

    A seguir, vamos caracterizar essas razes para que se possa compreender a modalidade de propo-sio disciplinar e prtica que constituam.

    O preventivismo

    Segundo Paim e Almeida Filho (1998), na dcada de 1940, comeou-se a diagnosticar nos Estados Unidos uma crise de determinada medicina, que estava extremamente especializada e fragmentada, o que ocasionava, tambm, um aumento dos custos relacionados s prticas mdicas. Em resposta a isso, surgiram propostas de mudanas no ensino mdico, incorporando nele uma ideia de preveno. Essas propostas serviram de base para uma reforma dos currculos escolares dos cursos de medicina de vrias faculdades norte-americanas na dcada de 1950. Organismos internacionais do campo da sade aderiram nova doutrina, que veio a ser chamada de Medicina Preventiva, ocorrendo, ento, uma in-ternacionalizao dessa proposta.

    Nunes (1994) aponta que a emergncia do proje-to preventivista, na Amrica Latina, aconteceu na segunda metade dos anos 1950, nos seminrios que se realizaram no Chile e no Mxico, sob o patrocnio da Organizao Pan-americana de Sade (Opas). As reformas defendidas apareceram vinculadas a um plano pedaggico:

    O grande saldo do perodo a incluso, no curso

    de graduao em medicina, de disciplinas e temas

    associados epidemiologia, cincias da conduta,

    administrao de servios de sade, bioestatstica.

    Procurava-se, dessa forma, ao criticar a biologiza-

    o do ensino, calcado em prticas individuais e

    centradas no hospital, no somente introduzir ou-

    tros conhecimentos, mas fornecer uma viso mais

    completa do indivduo (Nunes, 1994, p. 7).

    O fato de que o ensino fosse pautado na especiali-zao tornava a educao mdica muito estilhaada. Como reao a isso, buscou-se realizar propostas de mudanas no ensino, a fim de que o futuro profissio-nal mdico tivesse uma compreenso do indivduo como um todo, acreditando-se que, assim, haveria uma recomposio do bio-psico-social que tinha sido fragmentado. O movimento social que originou a Medicina Preventiva como disciplina do curr-culo das escolas mdicas denominou-se Medicina Integral, com o objetivo de buscar a recomposio das prticas especializadas (Schraiber, 1989). Dele, porm, resultou apenas a incluso de uma nica disciplina curricular, ainda que perpassasse diver-sos momentos da formao do mdico, mas sem que outros projetos integradores alm do ensino da preveno fossem incorporados, quer na formao dos mdicos, quer em termos de seus exerccios profissionais em servios de sade. Como apontou Schraiber (1989), essas propostas pretendiam uma reforma da prtica mdica, mas pressupunham que essa reforma seria alcanada pela formao do mdico, como se cada mdico em sua prtica fosse o principal recurso transformador da forma de prestar assistncia populao. Esse modo de olhar a refor-ma da prtica mdica foi bem caracterizado, como uma leitura liberal e individualizante das questes sociais, bastante prprio cultura norte-americana relativamente ao papel do Estado na sociedade, por Arouca (2003) em publicao hoje considerada um marco para a Sade Coletiva brasileira (Vieira da Silva; Paim; Schraiber, 2014).

    Alm da Medicina Preventiva, chegou na Amri-ca Latina a Medicina Comunitria. Esta surgiu, na dcada de 1960, tambm nos Estados Unidos, em um perodo de intensa mobilizao popular e intelectual em torno das questes sociais. Como mostraram Donnangelo e Pereira (1976), a Medicina Comunit-ria foi uma resposta baixa cobertura de assistncia mdica aos mais pobres, tais como comunidades ca-rentes de migrantes ou de estratos de baixa renda da sociedade norte-americana, e baixa cobertura aos idosos, que, por estarem fora do mercado de trabalho, tambm ficavam sem acesso adequado aos servios mdicos. Diversos modelos de interveno foram,

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    ento, testados e institucionalizados sob a forma de movimentos organizados em comunidades urbanas, tendo como objetivo reduzir as tenses sociais nos guetos das principais cidades norte-americanas. No campo da sade, houve a implantao de centros comunitrios de sade subsidiados pelo governo federal, que estavam destinados a efetuar aes preventivas e prestar cuidados bsicos de sade populao local (Paim; Almeida Filho, 1998).

    Assim como na Medicina Preventiva, havia, na proposta da Medicina Comunitria, uma nfase nas cincias da conduta. Nesse caso, entretanto, o conhecimento dos processos socioculturais e psicos-sociais destinava-se a possibilitar a integrao das equipes de sade nas comunidades problemticas, atravs da identificao e cooptao dos agentes e foras sociais locais para os programas de educao em sade (Paim; Almeida Filho, 1998, p. 304).

    Os organismos internacionais do campo da sa-de incorporaram, mais uma vez, o novo movimento ideolgico comunitrio e preventivista, traduzindo o seu corpo doutrinrio s necessidades dos diferen-tes contextos em que poderia ser aplicado.

    A Medicina Comunitria e a Medicina Preventi-va, apesar de terem surgido em momentos diferentes nos Estados Unidos, chegaram, mais ou menos, ao mesmo tempo no Brasil (Donnangelo; Pereira 1976; Schraiber, 1989).

    Medicina Social

    O movimento da Medicina Social apareceu na Am-rica Latina no final da dcada de 1960 e no incio da de 1970. Em seu centro est a discusso acerca da valorizao do social enquanto esfera de determi-nao dos adoecimentos e possibilidades de sade, na preveno das doenas e na promoo da sade, assim como esfera prpria de interveno, para alm de, e em, uma articulao com a medicina como interveno nos casos individuais (Vieira da Silva; Paim; Schraiber, 2014). Trata-se, pois, de um olhar al-ternativo reduo biomdica em que se estruturou o saber e a prtica da medicina, ainda que com explo-raes diversas quanto ao sentido da valorizao do social. Nesse sentido, a figura central para a Amrica Latina, e com forte influncia no Brasil, foi o mdico e socilogo argentino Juan Cesar Garcia por meio de sua atuao junto Opas (Garcia, 1985; Nunes, 1983;

    Vieira da Silva; Paim; Schraiber, 2014). Ao valorizar a presena do social na sade, Garcia, assim como muitos dos pesquisadores brasileiros partcipes da construo da Sade Coletiva, buscou referncias em uma abordagem histrico-estrutural do social e no apenas assumiu uma presena segmentada do social tal como a abordagem isolada de elementos do meio ambiente e da prpria populao.

    De outro lado, diversos autores, ao fazerem refe-rncia Medicina Social, com os estudos que George Rosen fez sobre o assunto, valem-se do movimento que surge na Europa em meados do sculo XIX. A esse respeito, Nunes (1983) diz:

    Este artigo de Rosen tem sido considerado de

    fundamental importncia para a compreenso da

    medicina social e entre os pontos que levanta fica

    ressaltada a questo dos problemas sanitrios, que

    se avolumam quando das transformaes decorren-

    tes do processo de industrializao (p. 19).

    Rosen (1983) vai apontar que uma questo cen-tral na Europa, durante o sculo XIX, poderia ser explicitada em termos de qual orientao poltica o governo devia seguir a fim de aumentar o poder e a riqueza nacionais. Via-se como um dos principais meios a indstria. Em consequncia disso, o traba-lho passou a ser olhado pelos estadistas como um elemento essencial para gerar a riqueza nacional. Qualquer perda de produtividade no trabalho em relao doena e morte era, nessa poca, visto como um problema econmico significativo. Essa aborda-gem implicou na ideia de uma interveno pblica de carter nacional para a sade, que foi desenvolvida em diferentes direes, dependendo do pas.

    O primeiro lugar em que apareceu uma preocu-pao do Estado em relao aos problemas de sade da populao foi nos estados alemes, antes mesmo de se unificarem ou passarem pelo processo de in-dustrializao, surgindo pela primeira vez a ideia de polcia mdica. Sobre o termo, diz Rosen (1983), Polizei, em alemo, (police, em ingls), deriva da palavra grega politeia. A teoria e prtica da admi-nistrao pblica veio a ser conhecida ao longo do sculo XVIII, nos estados alemes, como Polizeiwis-senschaft (a science of police) e o ramo que trata da administrao da sade como Medizinalpolizei (medical police).

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    O desenvolvimento da teoria e prtica da admi-nistrao pblica estava intimamente relacionado aos interesses do Estado absolutista. Alcanou-se a uma sistematizao de pensamento e comportamen-to administrativo que atribua ao Estado absoluto as atividades de bem-estar. Ficava, entretanto, a cargo do legislador determinar qual era o maior bem-estar, de modo que o Estado tinha o poder de intervir nos assuntos dos indivduos visando o interesse geral. O desenvolvimento e aplicao do conceito de polcia mdica foi uma tentativa pioneira de um exame me-tdico e preciso dos problemas de sade do ponto de vista social. No princpio e na metade do sculo XIX, foi na Frana que esse tipo de estudo se desenvolveu teoricamente. Na Frana, todavia, o conceito de pol-cia mdica no foi aceito amplamente (Rosen, 1983).

    No contexto da Revoluo Francesa, problemas de sade e de bem-estar haviam sido pensados pelos governos revolucionrios. Chegou-se, inclusive, a uma tentativa de se estabelecer um sistema nacional de assistncia social, que inclua ateno mdica. Apesar de isso no ter avanado, algumas das ideias e objetivos do perodo iriam influir profundamente na Frana da primeira metade do sculo XIX. Ideias de servio pblico e utilidade social forneceram a semente da qual germinaram novas ideias sobre a relao entre sade, medicina e sociedade (Rosen, 1983, p. 43).

    Durante a primeira metade do sculo XIX, houve na Frana um fecundo cruzamento entre a filosofia social e a medicina. Como resultado, a medicina francesa esteve permeada, em grau considervel, com o esprito de mudana social (Rosen, 1983, p. 46). O contato com as novas condies de vida decorrentes do processo de industrializao, como a condio dos trabalhadores e a realidade social em que viviam, fez emergir novas ideias no campo da sade em suas relaes com a sociedade. Desse cenrio, germinou a ideia de Medicina Social. Jules Gurin foi um dos primeiros autores a utilizar esse termo, em 1848.

    Nunes (2007) enfatiza que foi em um contexto revolucionrio, ocorrido na dcada de 1840, que muitos mdicos, filsofos e pensadores assumiram o carter social da medicina e da doena. As ideias e propostas que tinham progredido na Frana, an-tes e durante o movimento revolucionrio de 1848,

    se espalharam pela Alemanha. Entre os principais nomes do movimento alemo, que assume ento a Medicina Social e no a Polcia Mdica como pro-posta de interveno nacional, estavam Neumann e Virchow. Neumann, em 1847 (apud Rosen, 1983, p. 50), afirma que a cincia mdica intrnseca e essencialmente uma cincia social e, enquanto isto no for reconhecido na prtica, no seremos capazes de desfrutar de seus benefcios e teremos que nos satisfazer com um vazio e uma mistificao.

    Os proponentes da ideia da medicina como uma cincia social empregavam-na como uma formu-lao conceitual sob a qual resumiam princpios definidos:

    O primeiro destes princpios que a sade das

    pessoas um assunto societrio direto e que a so-

    ciedade tem a obrigao de proteger e assegurar a

    sade de seus membros [...]. O segundo, como notou

    Neumann, que as condies sociais e econmicas

    tm um importante e em muitos casos crucial im-

    pacto sobre a sade e a doena e que estas relaes

    devem ser submetidas investigao cientfica [...].

    O terceiro princpio, que se segue logicamente,

    que os passos tomados para promover a sade e

    combater a doena devem ser tanto sociais como

    mdicos (Rosen, 1983, p. 51-52).

    A influncia de toda essa formulao na Sade Coletiva brasileira pode ser vista, por exemplo, no fato de esses princpios terem sido revisitados no Brasil na VIII Conferncia Nacional de Sade, em uma releitura prpria ao contexto histrico dos anos 1980 e para a realidade de um pas perifrico ao de-senvolvimento capitalista. Portanto, so princpios que, enquanto conexes entre a medicina e o social, vo influenciar a reforma sanitria brasileira.

    O processo revolucionrio da dcada de 1840, entretanto, foi derrotado na Alemanha, assim como na Frana, e com isso o movimento de reforma m-dica terminou rapidamente (Rosen, 1983). Durante as dcadas seguintes, a ampla proposta de reforma transformou-se em um programa limitado. A ideia de medicina social foi aparecer novamente em uma reu-nio convocada pela Organizao Mundial de Sade, OMS, em 1952, em Nancy, e depois, mais uma vez, em um documento da Opas, de 1974 (Nunes, 1994).

    O final da dcada de 1960 e incio da dcada de

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    1970 foram anos extremamente frteis em discus-ses tericas sobre as relaes sade-sociedade. Houve bastante influncia de discusses oriundas de autores das cincias humanas, sendo um marco nesse sentido a conferncia de Michel Foucault, em 1974, no Rio de Janeiro, sobre as origens da Medicina Social (Nunes, 2005), j rediscutindo o contedo significativo desse termo. De acordo com Paim (1992), nesse momento, observou-se no Brasil e no restante da Amrica Latina uma produo terica importante, que reconhecia os vnculos das prticas de sade com a totalidade social. Nesse sentido, as contribuies das cincias sociais ao estudo da sa-de foram fundamentais para alcanar o grau atual de sistematizao dos conhecimentos no campo.

    Sobre a proposta da medicina social, Srgio Arouca vai dizer o seguinte:

    A Medicina Social aparece, pois, com duas tendn-

    cias; a primeira [...] movimento de modificao da

    medicina ligado prpria mudana de sociedade,

    ou [...] atravs de sua mudana institucional [...]; a

    segunda uma tentativa de redefinir a posio e o

    lugar dos objetos dentro da medicina, de fazer de-

    marcaes conceituais, colocar em questo quadros

    tericos, enfim, trata-se de um movimento ao nvel

    da produo de conhecimentos que, reformulando

    as indagaes bsicas que possibilitaram a emer-

    gncia da Medicina Preventiva, tenta definir um

    objeto de estudo nas relaes entre o biolgico e

    o psicossocial. A medicina social, elegendo como

    campo de investigao estas relaes, tenta esta-

    belecer uma cincia que se situa nos limites das

    cincias atuais (Arouca, 2003, p. 150).

    Arouca aponta aqui duas dimenses da Medicina Social: a formulao de propostas de interveno na vida social e na medicina baseadas na conexo sade-sociedade e a proposta de estabelecer um ramo de estudos dessa especfica conexo, seja nas questes de adoecimento, seja nas de produo da assistncia mdica e das prticas profissionais nos servios. Alm de uma crtica a certa medicina cara, fragmentada e com poucos resultados para a sade da populao estava em pauta tambm uma discusso em torno da extenso da cobertura dos servios de sade para a populao. De acordo com Nunes (1994), assistia-se ao incio da crise do

    modelo de sade pblica desenvolvimentista, que havia postulado que um dos efeitos do crescimento econmico seria a melhora das condies de sa-de. Isso particularmente vlido para o Brasil do perodo, que, apesar de passar por um momento de crescimento econmico, no via resultados disso refletidos nas condies de vida de sua populao.

    Nos anos 1970, houve, no mbito internacional, um fortalecimento da discusso sobre a extenso da cobertura dos servios de sade, de modo que, na Assembleia Mundial de Sade, em 1977, foi lanado o lema Sade para todos no ano 2000 (Paim; Almeida Filho, 1998). No Brasil, em um contexto marcado pelo recrudescimento das foras repressivas por parte de um Estado autoritrio e pelo aumento das desigualda-des sociais e piora das condies de vida de boa parte da populao, foi-se tentando construir um campo de saber e de prticas inovadores na rea da sade.

    Nunes (1983), fazendo referncia a Laurell, diz que a reflexo crtica sobre a medicina e suas insti-tuies, nos pases latino-americanos, no perodo, pode ser vista como resposta a quatro grupos de questes: 1) a posio de classe explica muito melhor do que qualquer fator biolgico a distribuio das do-enas na populao; 2) a crena de que as condies de sade da populao melhorariam como resultado do crescimento econmico se mostrou equivocada; 3) o desenvolvimento da ateno mdico-hospitalar no implicou em um avano significativo nos ndices de sade dos grupos cobertos por ela; e 4) a distribui-o dos servios de sade entre os diferentes grupos e classes sociais no depende de consideraes tcnicas e cientficas, mas, principalmente, de consideraes polticas e econmicas.

    A Sade Coletiva

    Paim e Almeida Filho (1998) apontam influncias mtuas entre o desenvolvimento de um projeto de campo de conhecimento chamado Sade Coletiva e os movimentos pela democratizao no Brasil, especialmente o da reforma sanitria. Isso nos leva a ressaltar a importncia em considerar o contexto histrico no qual apareceu a Sade Coletiva, que foi o de um pas vivendo sob um regime autoritrio. Nesse sentido, pode-se afirmar que a

    Aliana da Sade Coletiva com a democracia e os

    direitos humanos e sociais deve-se ao fato histrico

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    de que se gesta o campo em plena dcada de tur-

    bulncias sociais e movimentos reivindicatrios,

    dentro da luta contra a ditadura brasileira e pela

    reforma social (Schraiber, 2008, p. 15).

    Essa reforma social inclui no projeto da Sade Coletiva uma reforma sanitria. No Brasil, duas ins-tituies surgem diretamente ligadas a esse projeto: o Cebes e a Abrasco. O Centro Brasileiro de Estudos de Sade (Cebes) foi criado em 1976 trazendo para discusso a questo da democratizao da sade e constituindo-se como um organizador da cultu-ra capaz de reconstruir o pensamento em sade (Paim, 2008, p. 78). De acordo com Paim (2008), o Cebes reconhecido como o primeiro protagonista institucionalizado do movimento sanitrio brasi-leiro, desempenhando papel importante a partir da socializao da produo acadmica crtica oriunda da ento emergente Sade Coletiva.

    Dois momentos importantes na criao em 1979 da Associao Brasileira de Programas de Ps-Graduao em Sade Coletiva (Abrasco) hoje Associao Brasileira de Sade Coletiva , foram o I Encontro Nacional de Ps-Graduao em Sade Coletiva e a Reunio sub-Regional de Sade Pblica da Organizao Pan-americana de Sade/Associaci-n Latinoamericana de Escuelas de Salud Pblica (Opas/Alesp), ambos realizados em 1978. Eles tive-ram como objetivo redefinir a formao de pessoal para a rea da sade, propondo uma associao que pudesse congregar os interesses das instituies for-madoras em nvel de ps-graduao (Nunes, 1994).

    O movimento da reforma sanitria brasileira, surgido em meados da dcada de 1970, tinha como principal bandeira a luta pela democratizao da sade. Paim (2008) defende que, muito alm de um projeto de reforma setorial da sade, constitua-se como um amplo projeto de reforma social:

    [...] como uma reforma social centrada nos seguin-

    tes elementos constituintes: a) democratizao

    da sade, o que implica a elevao da conscincia

    sanitria sobre sade e seus determinantes e o

    reconhecimento do direito sade, inerente cida-

    dania, garantindo o acesso universal e igualitrio

    ao Sistema nico de Sade e participao social no

    estabelecimento de polticas e na gesto; b) demo-

    cratizao do Estado e seus aparelhos, respeitando

    o pacto federativo, assegurando a descentralizao

    do processo decisrio e o controle social, bem como

    fomentando a tica e a transparncia dos governos;

    c) democratizao da sociedade alcanando os

    espaos da organizao econmica e da cultura,

    seja na produo e distribuio justa da riqueza

    e do saber, seja na adoo de uma totalidade de

    mudanas, em torno de um conjunto de polticas

    pblicas e prticas de sade, seja mediante uma

    reforma intelectual e moral (Paim, 2008, p. 173).

    Em um cenrio de crise no setor da sade na segunda metade da dcada de 1970 apesar de ha-ver um discurso oficial, por parte do governo, com maior abertura ao social , as medidas adotadas foram muito limitadas diante dos determinantes dessa crise que se expressava pela baixa eficcia da assistncia mdica, pelos altos custos do mo-delo mdico-hospitalar e pela baixa cobertura dos servios de sade em funo das necessidades da populao (Paim, 2008, p. 75). Nesse mesmo pe-rodo, ocorreu um renascimento dos movimentos sociais, envolvendo a classe trabalhadora, setores populares, intelectuais e profissionais da classe mdia (Paim, 2008, p. 77). No mbito da sade, es-ses movimentos articularam-se, tornando-se foras sociais contrrias s polticas de sade autoritrias e privatizantes.

    Em relao aos fundamentos tericos vincula-dos proposta da reforma sanitria, Paim (2008) aponta que as concepes de sade utilizadas foram elaboradas pelo seu brao acadmico, ou seja, pelos departamentos de medicina preventiva e social e as escolas de sade pblica ou equivalentes. Havia, na dcada de 1970, bastante influncia do movimento preventivista, que trazia as ideias da Medicina Integral. Porm, na medida em que as crticas das propostas de Medicina Preventiva e de Medicina Comunitria eram elaboradas, no Brasil e em outros pases latino-americanos, parte dessas instituies acadmicas passou a se inspirar na Medicina Social desenvolvida na Europa em meados do sculo XIX (Paim, 2008). A Sade Coletiva apareceu no Brasil, ento, como uma ruptura, a partir da crtica aos movimentos da medicina preventiva, comunitria e ao sanitarismo institucional (Paim, 1992).

    Dois conceitos importantes como fundamento terico para a reforma sanitria, desenvolvidos

  • Sade Soc. So Paulo, v.24, supl.1, p.205-218, 2015 213

    pela produo acadmica em Sade Coletiva, foram: determinao social das doenas e processo de trabalho em sade. Segundo Paim (2008), o enten-dimento de que a sade e a doena no podem ser ex-plicadas exclusivamente pelas dimenses biolgica e ecolgica permitia alargar os horizontes de anlise e de interveno sobre a realidade (p. 165). Ganhou fora a compreenso dos fenmenos da sade e da doena como determinados social e historicamente, sendo o materialismo histrico um importante fun-damento epistemolgico. A Medicina Social latino-americana, j alinhada nesse sentido, passou a ser, no perodo, uma corrente de pensamento crtico em relao Sade Pblica dominante. Essa corrente orientou muitas das proposies do movimento da reforma sanitria relativas s polticas de sade (Paim, 2008).

    Um marco de grande importncia na reforma sanitria brasileira foi a VIII Conferncia Nacional de Sade, realizada em 1986. Essa foi a primeira conferncia com ampla participao da sociedade civil, contando com o protagonismo dos profissio-nais de sade, trabalhadores e setores populares (Paim, 2008, p. 99). A Abrasco elaborou um docu-mento para embasar discusses nessa conferncia, que acabou servindo de referncia para textos e intervenes apresentados. O documento partia do reconhecimento de uma conjuntura de crise econ-mica com mudanas na ordem poltico-institucional e buscava revisar questes terico-polticas, assim como recuperar princpios e diretrizes do movimen-to pela democratizao da sade; sublinhava que a sade deveria ser vista como fruto de um conjunto de condies de vida que vai alm do setor dito de sade (Paim, 2008, p. 100); defendia a participao popular na poltica da sade bem como o controle da sociedade sobre o aparelho estatal; e reconhecia a sade como funo pblica.

    Em um dos eixos da conferncia, chamado sade como direito inerente cidadania, aos di-reitos sociais e ao Estado, nas discusses sobre as respostas sociais visando ampliao do direito sade, foram destacados os movimentos sociais vinculados ao aparecimento da Medicina Social do sculo XIX. Foram, inclusive, retomados os prin-cpios elaborados por Virchow e Neumann (Paim, 2008). Paim tambm afirma que a compreenso de

    sade presente nas proposies do relatrio final da VIII Conferncia Nacional de Sade (CNS) pode ser creditada produo terica sobre determina-o social do processo sade-doena, realizada por pesquisadores da rea de Sade Coletiva no Brasil e na Amrica Latina desde a dcada de 1970, tendo elementos nesse sentido tais como: ampliao do conceito de sade, reconhecimento da sade como direito de todos e dever do Estado, criao do SUS, participao popular e constituio e ampliao do oramento social.

    Outro evento importante foi o I Congresso Bra-sileiro de Sade Coletiva (I Abrasco), cujo tema era Reforma Sanitria e Constituinte: garantia do di-reito universal sade e que aconteceu tambm no ano de 1986. Assim, o presidente da entidade definia a linha da atuao da Abrasco, naquela conjuntura:

    A recente convocao da VIII CNS trouxe-nos a

    grande responsabilidade de dar continuidade a este

    processo e de contribuir tanto com o conhecimento

    tcnico cientfico produzido na rea de sade co-

    letiva, como na competncia poltica de analisar

    criticamente certas conjunturas, mobilizar vonta-

    des, articular aes e iniciativas que levem adiante

    um projeto de transformaes profundas e radicais

    para o setor sade. esta a responsabilidade, este

    o compromisso que a Abrasco, ao organizar este

    congresso, quer dividir com todos os participantes

    (Paim, 2008, p. 128).

    possvel observar, desse modo, um entrelaa-mento, no perodo, entre outras, das instituies da Abrasco e do Cebes, com a produo terica em Sade Coletiva, no engajamento poltico em torno da reforma sanitria. Nesse sentido, Paim (2008) afirma que a Sade Coletiva apoiou teoricamente a RSB a partir do triedro ideologia, saber e prtica, porquanto surgiu e se desenvolveu, enquanto campo cientfico, de forma vinculada proposta e ao projeto da Reforma Sanitria (p. 292). Para o autor, o campo da Sade Coletiva apresenta rupturas fundamentais em termos polticos em relao ao da Sade Pblica, apesar de trazer ainda algumas continuidades.

    A viso da sade da populao como resultante das formas de organizao social de produo, tal como concebida pela Medicina Social e pela Sade Coletiva, acabou sendo, por meio da reforma sanit-

  • 214 Sade Soc. So Paulo, v.24, supl.1, p.205-218, 2015

    ria, assimilada pelo arcabouo legal no Brasil (Paim, 2008, p. 306). De acordo com Schraiber (2008), o campo da Sade Coletiva instituiu-se como um projeto duplamente reformador: de um lado, na sua crtica s necessidades de sade culturalmente da-das e ao modelo assistencial vigente em satisfaz-las na assistncia mdica (modelo biomdico, liberal e privatizante da produo dos servios e elitista no acesso) e na sade pblica (modelo da educao sanitria, de cunho liberal-individualizante no que concerne s prticas de preveno) (p. 13); de outro lado, na sua crtica alienao da face tecnocient-fica do campo.

    Segundo a autora, o projeto do campo da Sade Coletiva se situa na tenso entre a crtica contra- cultural de ordem tcnico-cientfica e a democratiza-o dos modelos mdico e sanitrio cientificamente tradicionais (Schraiber, 2008, p. 14). O campo foi sempre desenvolvido em compromisso com a demo-cratizao e com a luta pelos direitos humanos e so-ciais, em um compromisso, como disse Donnangelo (1983), com o coletivo desde sua origem:

    Essa multiplicidade de objetos e de reas de

    saber correspondentes da cincia natural ci-

    ncia social no indiferente permeabilidade

    aparentemente mais imediata desse campo a

    inflexes econmicas e poltico-ideolgicas. O

    compromisso, ainda quando genrico e impreciso,

    com a noo de coletivo, implica a possibilidade

    de compromissos com manifestaes particula-

    res, histrico-concretas desse mesmo coletivo,

    dos quais a medicina do indivduo tem tentado

    se resguardar atravs do especfico estatuto da

    cientificidade dos campos de conhecimento que

    a fundamentam (Donnangelo, 1983, p. 21).

    Caractersticas e especificidades da Sade Coletiva: tentativas de delimitaoContemporaneamente, com o desenvolvimento da Sade Coletiva e a emergncia de um corpo bem constitudo de produes cientficas, observa-se tambm a importncia em debater acerca de suas delimitaes e competncias. Uma primeira aproxi-

    mao mostra que o campo da Sade Coletiva, talvez por ser novo e existir apenas no Brasil, ou talvez por articular-se tambm em uma dimenso mais prtica dos servios de sade, por vezes confundindo-se com essa dimenso de corte poltico-administrativo, carece de reflexes mais aprofundadas no campo epistemolgico. De antemo, chama a ateno que comum autores usarem como sinnimos, em um mesmo texto, os termos Sade Coletiva e Sade P-blica, ou Sade Coletiva e Medicina Social, ou ainda Sade Coletiva e Epidemiologia.

    interessante que essa prpria dificuldade em definir o campo da Sade Coletiva foi tematizada por alguns autores. Assim, Nunes (2007) diz que muitas tm sido as tentativas de se definir a Sade Coletiva, mas tornou-se difcil um consenso a res-peito. O autor, fazendo referncia a Stotz, atribui interdisciplinaridade e s tenses epistemolgicas internas ao campo a impossibilidade de uma teoria unificadora que explique o conjunto dos objetos de estudo. A dificuldade, portanto, de se definir o campo residiria no fato de ser uma criao que transbor-da os limites disciplinares e que se apresenta na interface de reas do conhecimento detentoras de especificidades tericas e conceituais (Nunes, 2005, p. 14). Poderamos acrescentar tambm como possvel fator para essa dificuldade a composio heterognea, tanto institucional quanto profissio-nal, dos autores da Sade Coletiva, cujas pesquisas abarcam disciplinas diversas, como a Epidemiolo-gia, as Cincias Sociais e Humanas, a Filosofia, ou a Administrao.

    Campos (2000) bastante incisivo nas questes que coloca em relao ao campo: [a] sade coletiva teria criado um novo paradigma, negando e supe-rando o da medicina e o da antiga sade pblica? A sade coletiva corresponderia a todo o campo da sade, ou apenas a uma parte? (p. 220). E ainda: qual a identidade da sade coletiva? Ou seja, qual o seu ncleo de saberes e de prticas? [...] Quem o agente que faz sade coletiva? Haveria um agente especializado? (p. 221) E, por ltimo, o que a troca de nomes de sade pblica para sade coletiva revelou de novo? Que rupturas, de fato, aconteceram? O que existe de continuidade? (p. 221).

    Uma caracterstica muito associada Sade Co-letiva a de ser um campo interdisciplinar (s vezes

  • Sade Soc. So Paulo, v.24, supl.1, p.205-218, 2015 215

    seus autores usam o termo multidisciplinaridade, ou ento transdisciplinaridade no cabendo aqui entrar em discusso). Nunes (1994) destaca que o campo fundamenta-se na interdisciplinaridade como possibilitadora de um conhecimento ampliado de sade e na multiprofissionalidade como forma de enfrentar a diversidade interna ao saber/fazer das prticas sanitrias. A Sade Coletiva necessita pensar o geral e o especfico. Para Birman (1991), o campo admite no seu territrio uma diversidade de objetos e de discursos tericos, sem reconhecer em relao a eles qualquer perspectiva hierrquica e valorativa (p. 15).

    Outra caracterstica bastante destacada o papel das Cincias Humanas nesse campo de conhecimen-to. Nesse sentido, Ayres (2002) apresenta a seguinte compreenso:

    O campo da sade coletiva, termo pelo qual estare-

    mos nos referindo genericamente a um conjunto, na

    verdade muito amplo e contraditrio, de disciplinas

    ocupadas do social da sade (medicina social,

    medicina preventiva, sade pblica etc.), , sabida-

    mente, o principal polo de aglutinao e irradiao

    dessa renovada preocupao com as relaes entre

    a sade e sociedade no campo acadmico (p. 26).

    Segundo Birman (1991), a concepo de Sade Coletiva se constituiu atravs da crtica sistemtica do universalismo naturalista do saber mdico. Seu postulado fundamental afirma que a problemtica da sade mais abrangente e complexa que a leitura realizada pela medicina (p. 12).

    Essa questo bastante importante quando con-sideramos como o mbito do social foi progressiva-mente silenciado, no campo da sade, pelo discurso biomdico. A Sade Coletiva teria, justamente, como uma de suas principais propostas resgatar o social. Ao traar a histria da epidemiologia em seu livro Epidemiologia e emancipao, Ayres (2002) apre-senta como se deu esse processo de domesticao do social nas cincias da sade.

    Segundo esse autor, a partir de um dado momen-to histrico, os discursos predominantes acerca da sade e da doena passaram a traduzir os careci-mentos humanos associados a esses conceitos em termos estritamente biolgicos (Ayres, 2002, p. 92). O social foi, ento, incorporado meramente como ele-

    mento secundrio no processo sade-doena, uma condio adjetiva, uma espcie de linha auxiliar de apreenso dos fenmenos que s adquirem positi-vidade no organismo individual. Para Ayres (2002),

    Desde o estabelecimento da hegemonia clnica no

    pensar e produzir sade, os eventos extraorgnicos

    da doena e de seus determinantes passam a ser,

    no plano da construo do conhecimento, somente

    suporte lgico ou emprico para construes fisio-

    patolgicas (p. 27).

    A dimenso extraorgnica da doena passou a ser apenas um elo das relaes de eficincia causal, do determinismo exato das cincias da sade. O irrequieto social foi domado pelas variveis mor-fofuncionais e fsico-qumicas do corpo: traduzida pelo comportamento coletivo dessas qualidades empricas, a determinao social da doena apri-sionada sob o inofensivo emblema de condicionante externo dos estados de sade (Ayres, 2002, p. 132).

    A investigao em sade na dimenso coletiva passou a distinguir, ento, de um lado, grupos populacionais tomando por base caractersticas demogrficas, e do outro lado, as variveis morfofun-cionais orgnicas. O comportamento quantitativo dessas subpopulaes torna-se os elementos neces-srios e suficientes para as inferncias causais (Ayres, 2002, p. 133). A natureza de um conhecimento assim gerado reveste-se de um ar de neutralidade, como se fosse uma forma universal de apreenso da realidade.

    Ayres (2002), em sua crtica de como ocorreu esse processo, conclui: Ao perder-se a dimenso social dos fenmenos coletivos de sade em sua objeti-vao cientfica, perde-se, imediatamente, a possi-bilidade de abordar racionalmente sua substncia propriamente pblica (p. 150). O discurso cientfico hegemnico tornou unidimensional a apreenso do espao pblico da sade, naturalizando-o.

    Nesse sentido, a Sade Coletiva, ao ter como uma de suas propostas a aproximao com as cincias humanas, busca reconfigurar o campo do social na sade. Paim e Almeida Filho (1998) colocam como elementos significativos do campo a superao do biologismo dominante, da naturalizao da vida so-cial, da sua submisso clnica e da sua dependncia ao modelo mdico hegemnico (p. 310).

  • 216 Sade Soc. So Paulo, v.24, supl.1, p.205-218, 2015

    A partir desse quadro, Paim e Almeida Filho (1998) propuseram compreender a Sade Coletiva como um campo cientfico em que se produzem saberes e conhecimentos acerca do objeto sade e onde operam distintas disciplinas que o contemplam sob vrios ngulos (p. 308). E tambm como um mbito de prticas, em que se realizam aes em diferentes organizaes e instituies por diversos agentes (especializados ou no) dentro e fora do espao convencionalmente reconhecido como setor sade (p. 308). Os autores preferiram adotar a viso da Sade Coletiva como um campo interdisciplinar, e no como uma disciplina cientfica ou como uma cincia.

    Sobre os pressupostos bsicos do marco concei-tual do campo, os autores fazem referncia a um texto de Paim de 1982, ou seja, a um documento de um perodo em que a Sade Coletiva ainda estava em nascimento. Paim e Almeida Filho retomam alguns dos pressupostos daquele texto:

    a) A Sade, enquanto estado vital, setor de produo

    e campo de saber, est articulada estrutura da

    sociedade atravs das suas instncias econmica

    e poltico-ideolgica, possuindo, portanto, uma

    historicidade.

    b) As aes de sade (promoo, proteo, recupe-

    rao e reabilitao) constituem uma prtica social

    e trazem consigo as influncias do relacionamento

    dos grupos sociais.

    c) O objeto da Sade Coletiva construdo nos

    limites do biolgico e do social e compreende a

    investigao dos determinantes da produo so-

    cial das doenas e da organizao dos servios de

    sade, e o estudo da historicidade do saber e das

    prticas sobre os mesmos. O carter interdiscipli-

    nar desse objeto sugere uma integrao no plano

    do conhecimento e no plano da estratgia de reunir

    profissionais com mltiplas formaes.

    d) O conhecimento no se d pelo contato com a

    realidade, mas pela compreenso de suas leis e

    pelo comprometimento com as foras capazes de

    transform-la (Paim; Almeida Filho, 1998, p. 309).

    A delimitao provisria do campo da Sade Coletiva na qual Paim e Almeida Filho (1998) che-gam, no mencionado artigo, :

    Enquanto campo de conhecimento, a sade coletiva

    contribui com o estudo do fenmeno sade/doena

    em populaes enquanto processo social; investiga

    a produo e distribuio das doenas na sociedade

    como processos de produo e reproduo social;

    analisa as prticas de sade (processo de trabalho)

    na sua articulao com as demais prticas sociais;

    procura compreender, enfim, as formas com que a

    sociedade identifica suas necessidades e problemas

    de sade, busca sua explicao e se organiza para

    enfrent-los (p. 309).

    Tanto esses autores (Paim; Almeida Filho, 1998), quanto Nunes (1994), identificam na Sade Coletiva trs grupos disciplinares: a epidemiologia; as cin-cias sociais em sade; e a poltica, planejamento e administrao em sade. So mencionadas ainda outras disciplinas complementares a essas.

    Campos (2000), seguindo uma outra linha, vai defender que a Sade Coletiva um pedao do campo da sade. O autor quer contrapor-se a uma tendncia que identifica em outros acadmicos de confundir a Sade Coletiva com todo o campo da Sade. Ten-dncia essa que contribuiria para a fragmentao e enfraquecimento da Sade Coletiva enquanto campo de saber e de prtica.

    Campos (2000) prope que o ncleo da Sade Coletiva se constituiria no apoio aos sistemas de sade, elaborao de polticas, e construo de modelos; na produo de explicaes para os pro-cessos sade/enfermidade/interveno; e, talvez seu trao mais especfico, na produo de prticas de promoo e de preveno de doenas (p. 225).

    A insero da Sade Coletiva no campo da sade dar-se-ia, segundo sua proposta, em dois planos: no horizontal e no vertical. No plano ho-rizontal, os saberes e prticas oriundos da Sade Coletiva comporiam parte dos saberes e prticas de outras categorias e atores sociais. Assim, todas as profisses de sade, em alguma medida, deve-riam incorporar em sua formao e em sua prtica elementos da Sade Coletiva. Nessa perspectiva, a misso da sade coletiva seria a de influenciar a transformao de saberes e prticas de outros agentes, contribuindo para mudanas do modelo de ateno e da lgica com que funcionam os ser-vios de sade em geral (Campos, 2000, p. 225). No plano vertical, a Sade Coletiva consistiria

  • Sade Soc. So Paulo, v.24, supl.1, p.205-218, 2015 217

    em uma rea especfica de interveno. Uma rea especializada e com valor de uso prprio, diferente da clnica ou de outras reas de inter-veno (Campos, 2000, p. 225). Alguns problemas so levantados a partir disso, como: quem seria o agente da Sade Coletiva? Haveria um curso bsico de formao?

    De todo modo, Campos (2000) defende que se combinem as perspectivas do plano horizontal e do plano vertical na Sade Coletiva. Ou seja, que tanto se socialize os saberes e prticas da Sade Coletiva quanto que se assegure a existncia de especialistas que produzam saberes mais sofisticados na rea e que possam intervir em situaes mais complexas.

    Chegamos, assim, ao final deste percurso ainda com muitas dvidas. Neste caminho, nos pareceu que o campo da Sade Coletiva pode no admitir apenas uma nica definio sobre sua delimitao e caracterizao. Talvez pelo fato de ser um campo bas-tante novo, houve nele ainda poucas cristalizaes no sentido de se formarem culturas tradicionais, de modo que existe, em seu interior, uma grande pluralidade (e tenses) em termos disciplinares e epistemolgicos.

    Sempre em construo e muito podendo cami-nhar na produo e em termos de reflexo sobre a prpria identidade, a Sade Coletiva, como outros, constitui um campo vivo (Schraiber, 2008). Mas a dificuldade em encontrar elementos aglutinadores, tecendo pontos comuns, pode representar, por um lado, uma fragilidade, ainda que, por outro, tornar a Sade Coletiva um campo sempre aberto incor-porao de propostas inovadoras (Paim; Almeida Filho, 1998, p. 312).

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    Contribuio dos autoresOs autores contriburam igualmente na concepo, no levantamento do material bibliogrfico e na redao final do artigo.

    Recebido: 04/04/2014Reapresentado: 22/08/2014Aprovado: 12/09/2014

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