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Departamento de Química
1
OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE EXTRAÇÃO DE METALOTIONEÍNAS DE
BÍLIS DE TILÁPIA PARA USO COMO BIOMARCADORES DE EXPOSIÇÃO A
METAIS
Alunos: Julia Arias Feijó de Lemos
Roberto Vinicius Granha Fiúza
Co-orientadoras: Carolina Lyrio T. Correia
Rachel Ann Hauser-Davis
Orientadora: Tatiana Dillenburg Saint’Pierre
1. Introdução
Metalotioneínas (MTs) são uma classe de proteínas de baixo peso molecular com alta
afinidade por íons metálicos livres.1
Elas têm papel na regulação de metais essenciais e a
detoxificação de metais tóxicos. A capacidade de indução das MTs é maior nos tecidos que
estão envolvidos na captação, acúmulo e excreção, como fígado, rins, brânquias e intestino.2,3
Dessa forma, a MT é encontrada em maior quantidade nesses órgãos, o que justifica a escolha
dessas matrizes para análises metalômicas. A bílis, por ser um fluido produzido pelo fígado,
também contém essa proteína, porém em menores concentrações. A bílis foi escolhida como
matriz principal deste trabalho por ser naturalmente líquida e, portanto, mais simples de se
trabalhar em relação ao fígado. Além disso, não há necessidade de sacrificar o animal, já que
existe a possibilidade de canulação hepática para sua extração.4 As MTs têm sido amplamente
utilizadas como biomarcadores de exposição a metais traços, devido a sua potencial função
como agente detoxificante. Esse seu papel tem sido estudado e empregado em diferentes
espécies de animais aquáticos para a avaliação da contaminação de ecossistemas aquáticos
por metais.5,6
As características fisiológicas e ecológicas da espécie de tilápia Oreochromis
niloticus são favoráveis para sua utilização como espécie bioindicadora de exposição a metais.
Além disso, o banco de dados de proteínas da tilápia já está quase todo mapeado, o que
também justifica a sua escolha como objeto de estudo.7
2. Objetivos
O objetivo deste estudo foi avaliar e padronizar o método térmico de extração
atualmente aplicado para a purificação e quantificação de metalotioneína de bílis de peixe
utilizando diferentes reagentes e a análises estatísticas multivariadas num contexto
proteômico / metaloproteômico, uma vez que esta proteína foi previamente relatada como um
biomarcador potencial em bílis de peixe.
3. Materiais e métodos
Tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus) foram adquiridas diretamente de
fornecedores certificados que vendem peixe para consumo humano, na zona sul do Rio de
Janeiro. Fígado e bílis foram imediatamente removidos, o último por meio de punção direta
da vesícula biliar com uma seringa de plástico de 5,0 mL. O fígado foi pesado e o volume e a
cor da bílis foram registados. Ambos os órgãos foram então armazenadas a -80 °C até a
análise em tubos de polipropileno estéreis. As amostras de fígado foram liofilizadas no
laboratório (LioTop L101, São Paulo, Brasil), para facilitar a manipulação da amostra.
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3.1. Exposição a metais no laboratório
As tilápias compradas foram submetidas a doses subletais de quatro metais: Cd, Pb,
Zn e Ni, enquanto o grupo controle não foi exposto.
A exposição a substâncias tóxicas no laboratório ocorre tipicamente entre 24 e 96
horas. Os testes são muitas vezes realizados em condições estáticas, ou seja, sem a renovação
da água durante todo o experimento, uma vez que este é mais simples e menos caro em
comparação com os sistemas semi-estáticos (substituição parcial) ou sistemas de fluxo
contínuo (renovação contínua). O sistema estático é especialmente recomendado quando a
substância for comprovada estável no ambiente, tais como o cobre e outros metais.8
Tanques de 500 L, contendo água sem cloro, pH 7,0, foram preparados para receber os
peixes. Soluções contendo Pb, Zn, Cd e Ni em doses subletais, de acordo com a concentração
máxima permitida de cada elemento na água salobra, de acordo com a Resolução n º 357 (17
de março de 2005, o CONAMA) foram usadas. Os valores das concentrações finais de cada
um dos elementos nas soluções que receberam os peixes são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Concentrações das soluções usadas na experiência de exposição em laboratório, de
acordo com as concentrações máximas permitidas pela Resolução CONAMA 357 (2005).
Metal Concentração (mg L-1
)
Ni 0.025
Zn 0.09
Pb 0.01
Cd 0.005
3.2. Extração das MTs
Os procedimentos de extração utilizados foram baseados no protocolo de extração de
Erk et al.9
Este protocolo utiliza DTT como agente redutor, e tempos de centrifugação de 1
hora e depois de 30 minutos, com corte térmico da temperatura de extração de 70 oC. Neste
estudo a normalização, no entanto, foi feita com uma mistura de 100 μL de sobrenadante
purificado de MT de bílis (n=10) e fígado (n=10). Estes sobrenadantes foram
homogeneizados em três soluções diferentes, contendo β-mercaptoetanol a 0,01%, DTT
(Ditiotreithol) 0,01% ou TCEP (Tris 2-carboxietil-fosfina) 1% como agentes redutores em
Tris-HCl 20 mmol L-1
, pH 8,6 a redução, com PMSF (phenylmethylsulphonylfluoride) 0,5
mmol L-1
adicionado como um agente antiproteolítico. Para as amostras de fígado, 100 mg da
mistura das amostras (a partir dos mesmos 10 peixes utilizados para obter as amostras
biliares) foram homogeneizados em 2 mL das mesmas soluções redutoras, utilizando um
bastão de vidro. As amostras foram centrifugadas a 20.000 xg por diferentes tempos
pré-estabelecidos, a 4 ºC. Os sobrenadantes foram então cuidadosamente separados do
sedimento e transferidas para novos frascos Eppendorf esterilizados, e aquecidos durante 10
min a diferentes temperaturas pré-estabelecidas. Uma segunda centrifugação foi realizada a
20.000 xg durante períodos variáveis, a 4 ºC e os sobrenadantes finais contendo MT nas
sub-amostras purificadas foram separados e congelados a -80 ºC até à análise. Um
planejamento experimental foi realizado para otimizar e padronizar a purificação de MT
destas amostras. Três protocolos diferentes, A, B e C, foram realizados com cada um dos
tempos de centrifugação e temperaturas e variando os agentes redutores (Tabelas 2, 3 e 4).
Para a maioria das aplicações, a faixa de concentração de TCEP 5-50 mM oferece
excesso molar suficiente para reduzir de forma eficaz ligações dissulfeto de peptídeo ou
proteína. Por essa razão, a concentração de TCEP utilizada para os procedimentos de extração
(1%) foi maior do que a dos demais reagentes (0,01%).10
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Tabela 2. Procedimento de extração 1.
Extração 1ª Centrifugação (min) Banho-maria (°C) 2ª Centrifugação (min)
A 45 60 15
B 60 70 30
C 75 80 45
Tabela 3. Procedimento de extração 2 (variando a temperatura e fixando os tempos).
Extração 1ª Centrifugação (min) Banho-maria (°C) 2ª Centrifugação (min)
B’ 60 50 30
B’ 60 60 30
B’ 60 70 30
B’ 60 80 30
B’ 60 90 30
Tabela 4. Procedimento de extração 3 (variando os tempos e fixando a temperatura).
Extração 1ª Centrifugação (min) Banho-maria (°C) 2ª Centrifugação (min)
A’’ 45 70 15
B’’ 60 70 30
C’’ 75 70 45
3.2 Quantificação das MTs
A quantificação das MTs foi realizada por espectrofotometria aplicando a reação
de Ellman.11
Este é um ensaio de quantificação indireta, uma vez que são medidos os grupos
sulfidrilo presentes na amostra e não a concentração absoluta de MT.
Após a aplicação dos diferentes procedimentos de purificação para as amostras
de fígado e biliares, 50 μl das sub-amostras purificadas foram tratadas com HCl 1 mol L-1
contendo EDTA 4 mmol L-1
, NaCl 2 mol L-1
, 0,43 mmol L-1
DTNB (ácido 5,5
'-ditiobis-2-nitrobenzóico), tamponadas com 0,2 mol L-1
de fosfato de sódio, pH 8.0 e
incubadas durante 30 minutos.
As amostras foram então centrifugadas a 3000 xg durante 5 minutos e a
absorvância do sobrenadante foi avaliada a 412 nm usando um leitor de microplacas
SpectraMax (Hamilton, EUA). Na reação de formação de cor do reagente de Ellman com
grupos sulfidrilo, o DTNB reage com grupos tiol, tais como cisteínas de peptideos, de modo a
formar dissulfideos e TNB, o que torna possível medir a cor a 412 nm . Concentrações de MT
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foram aproximadas usando o padrão, glutationa reduzida (GSH), para a curva de calibração.
(0-1000 mmol L-1
) a partir de uma de solução estoque de 10 mmol L-1
. Embora este método
meça todos os tióis ácidos solúveis, a glutationa é mais do que 90% dos grupos tiol reativos,
sendo considerado um padrão apropriado.12
A concentração de MT foi estimada assumindo a
razão 1:20 MT/GSH, como descrito por Kagi13
para peixes.
3.3 Quantificação de proteínas totais
As concentrações de proteína total nas amostras de bílis e fígado foram
medidas pelo método de Lowry modificado por Peterson.14
A curva analítica foi preparada
com uma série de diluições com uma solução estoque de concentração de albumina de soro
bovino a 2 mg mL-1
(BSA, Sigma-Aldrich), em um intervalo de massa de 0 a 50 mg de BSA.
Resumidamente, a solução de 0,1% de sulfato de cobre, tartarato de potássio e sódio 0,2%,
carbonato de sódio a 10% e NaOH e SDS, foram misturados em conjunto, resultando em
"Reagente A". "Reagente B", por sua vez, é uma solução Follin-Ciocalteau (Sigma-Aldrich)
5x diluída com água ultra-pura. 400 L de "Reagente A" foi adicionado a cada 10 L de
amostra. Os tubos foram agitados manualmente e encubados por 10 min. Em seguida, 200 L
de reagente B foram adicionados com agitação. Os tubos foram então deixados em repouso
durante 30 minutos e as amostras e curva de calibração foram medidos a 750 nm, utilizando
um leitor de microplacas SpectraMax (Hamilton, EUA).
3.4 Análise em SEC-HPLC-ICP-MS
Os perfis qualitativos das metalotioneínas, bem como os metais ligados a elas, foram
analisados pelas técnicas de cromatografia de exclusão por tamanho (SEC) e espectrometria
de massas por plasma indutivamente acoplado (ICP-MS).
A cromatografia de exclusão por tamanho (SEC) é uma técnica cromatográfica que
separa as moléculas dissolvidas com base no seu peso molecular, bombeando-as por colunas
que contêm um recheio de material microporoso. As moléculas grandes eluem primeiro da
coluna, já que elas têm maior dificuldade de penetrar nos poros. Já as pequenas penetram
mais facilmente na maioria dos poros e, por isso, são eluídas mais tardiamente. O ICP-MS
pode realizar seletiva monitorização, em tempo real, de um dado elemento associado a um
determinado composto eluído de uma coluna cromatográfica. Para isso, utilizou-se uma coluna Superdex 75 acoplada ao HPLC hifenado ao
ICP-MS. Ela foi equilibrada com água ultra-pura e, em seguida, com Tris-HCl 0,02 mol L-1
,
pH 7,4, ambos a uma vazão de 0,5 mL min-1
. A velocidade da bomba durante a análise foi de
0,70 mL min-1
, e os seguintes isótopos dos metais que se ligam a MT foram monitorados
online: 208
Pb, 60
Ni, 114
Cd, 66
Zn.
3.5 Eletroforese em Gel
A eletroforese em gel de poliacrilamida em uma dimensão foi utilizada para a
separação de proteínas de acordo com seu peso molecular.
Géis de poliacrilamida (15%) foram preparados de acordo com Laemmli et al.15
Alíquotas de extratos de MT, tanto de fígado quanto de bílis, foram aplicadas para cada
poço, junto com os padrões de peso molecular. Os géis foram corridos, em triplicata, por
aproximadamente 2 h30 min, a 45 mA / gel. Os géis foram depois corados usando o método
de coloração com prata, como descrito abaixo. Foram utilizados os padrões de peso molecular
(BioRad Precision Plus ProteinTM Dual Color Standards) para determinar os pesos
moleculares das bandas de proteínas e manchas.
Os géis foram corados com nitrato de prata seguido o protocolo de Heukeshoven e
Dernick16
, onde os géis são primeiro fixados com solução de fixação (10% de ácido acético,
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30% etanol), sensibilizados em uma solução de 5% de tiosulfato de sódio e 20% de etanol.
Lavou-se os géis com água ultrapura e deixou-os reagir com nitrato de prata (2,5%), e, em
seguida, lavou-se novamente. Os géis foram revelados em uma solução de formaldeído a
0.05% e carbonato de sódio 3%. O desenvolvimento é então interrompido com EDTA a 1,5%,
evitando a redução dos íons de prata na solução. Os géis foram então conservados em uma
solução contendo 25% de etanol e 5,3% de glicerol (que evita com que o gel fique com
fissuras durante a secagem) para análise de imagem e subsequente espectrometria de massa.
Os géis foram escaneados no ImageScanner II (GE Healtchare, Upspsalla, Sweden),
com o densitômetro operando em resolução de 300 dpi. O software de análise de imagem
Image-Master 2D Platinum 6.0 Sowftare (Genebio, Geneva, Switzerland) foi utilizado para as
análises dos géis após sua coloração.
4. Resultados e discussão
4.1 Análise espectrofotométrica
Três processos de purificação diferentes, nomeados de A, B e C, foram
estabelecidos, onde os tempos de centrifugação, a temperatura de extração e os diferentes
reagentes redutores variaram como um único fator. A escolha dos reagentes redutores foi
baseada na literatura que utiliza o processo de extração de metalotioneína. Os reagentes mais
utilizados são o DTT e -mercaptoetanol. No entanto, neste trabalho, a eficiência de redução
do reagente TCEP também foi testada, visto que ele tem sido amplamente utilizado em
análise metaloproteômica. Uma vantagem do TCEP é que, como seu intervalo de pH é mais
amplo, a sua absorção UV é menor do que os outros, além disso, o TCEP mantem
efetivamente as condições de redução, mesmo a concentrações de μM.
Não foi observada nenhuma diferença estatisticamente significativa entre os
procedimentos A e B, tanto para as sub-amostas de MT (p <0,05) de bílis, quanto para as de
fígado, quando se comparou os processos de quantificação de MT. A temperatura de extração
de 70 °C utilizando TCEP como o reagente redutor (que tem uma ampla faixa de estabilidade
de pH 1,5-8,5, enquanto -mercaptoetanol tem uma faixa de trabalho de pH 5,0-8,5 e o poder
redutor do DTT é limitado a valores de pH acima de 6,5), no entanto, mostrou-se o mais
adequado para ambas as matrizes, com diferenças significativas (p <0,05) quando comparado
com as outras temperaturas de extração e agentes redutores. Comparando os dois órgãos, a
quantidade de MT na bílis foi inferior à quantidade de MT no fígado, como era de se esperar,
uma vez que o fígado acumula MT com taxas de desintoxicação mais lento do que a bílis, que
é liberada a partir da vesícula biliar durante a alimentação, e diluído por água.
Figura 1 - Concentrações de metalotioneína na bílis e no fígado (expressa em mol L-1
) para cada um
dos procedimentos de purificação testados e reagentes.
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Seguindo o planejamento experimental para os três protocolos iniciais, fixamos os
tempos de centrifugação só para avaliar a influência da temperatura do banho-maria. 60
minutos para a primeira centrifugação e 30 minutos para a segunda centrifugação (tempos de
centrifugação da extração B) foram escolhidos, visto que a extração B provou-se ser a mais
eficaz quando comparada com as outras, mesmo que não tenha sido observadas diferenças
significativas. O reagente utilizado foi TCEP, como concluímos a partir dos primeiros
resultados de extração de que este é o mais eficiente entre os três reagentes testados. A Figura
2 mostra os resultados de extração MT na bílis e no fígado, com as diferentes temperaturas do
banho de água.
Figura 2 - Concentrações de MT na bílis (a) e no fígado (B) em diferentes condições de temperatura
do banho-maria
Como pode ser visto através da análise de dados, o perfil da temperatura se
assemelha a uma curva de Gauss, com um ponto máximo, o que corresponde à temperatura
ótima para extração. Uma razão para este comportamento é que, apesar de ser uma proteína
termoestável, a MT começa a se desnaturar a temperaturas superiores a 70 °C. Portanto, a
temperaturas mais elevadas, a extração de MT é menos eficaz. A temperaturas mais baixas, a
extração é também ineficiente, possivelmente indicando que a função de TCEP pode ser
prejudicada, uma vez que na melhor a temperatura, maior é o número de interações entre as
moléculas do reagente redutor e os grupos tiol proteicos. Na última operação de extração de
MT, a temperatura do banho foi fixada (70 ° C), o reagente redutor foi o TCEP, e foi avaliada
a influência dos primeiro e segundo tempos de centrifugação (Figura 3).
Figura 3 - Concentração de MT na bílis (a) e no fígado (B) em diferentes tempos de centrifugação.
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O TCEP, em particular, é um potente agente redutor, versátil e praticamente sem
odor. Ele tem sido aplicado de forma ampla para estudos de proteínas e outras pesquisas
envolvendo a redução de pontes de dissulfeto. Ela também é facilmente solúvel em soluções
aquosas. O TCEP reduz pontes de dissulfeto de forma tão eficaz como DTT, mas ao contrário
deste e de outros agentes de redução contendo tiol, TCEP não tem de ser removido antes de
certas reações de ligação cruzada.
4.2 1D- SDS - PAGE
A análise qualitativa do 1D-SDS-PAGE demonstrou também que os melhores
resultados de purificação são alcançados quando utiliza-se TCEP como o agente redutor para
fígado e bílis. Quando se utiliza este agente redutor, a extração de MT mostrou-se mais
eficiente e o sobrenadante final era mais puro, com menos bandas de proteína discerníveis em
diferentes pesos moleculares.
Ao comparar estes resultados qualitativos eletroforéticos (Figura 4) com as
quantificações espectrofotométricas de MT bílis, foram observadas diferenças:
Para amostras de bílis, as análises espectrofotométricas não mostraram diferenças
estatisticamente significativas (p <0,05) para os procedimentos A e B, enquanto que as
análises do SDS-PAGE mostraram que as bandas de proteína de cerca de 150 kDa
desapareceram nos procedimentos de extração B e C.
O procedimento A foi mais eficiente em relação à exclusão de proteínas de baixo peso
molecular.
Bandas acima de 250 kDa estavam presentes em todos os procedimentos de extração.
Bandas em torno de 50 kDa estavam presentes em todos os procedimentos, exceto
naqueles que utilizaram TCEP, confirmando ainda mais a eficiência deste reagente.
Bandas fracas entre 50 e 75 kDa estavam presentes apenas nas extrações A feitas com
DTT e β-mercaptoetanol e ausente nos procedimentos que utilizaram TCEP e na extração
de B e C feitas com estes agentes redutores.
Procedimento C, mesmo quando usou-se TCEP, não foi tão eficiente, como pode ser visto
pelas bandas ligeiramente mais fracas sobre o SDS-PAGE. Provavelmente isso é devido à
temperatura significativamente mais elevada utilizada no processo, o que pode desnaturar
as proteínas presentes na amostra, enquanto procedimentos A e B (60 ºC e 70 ºC,
respectivamente), mostraram bandas de MT mais fortes.
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Figura 4 - Gel SDS-PAGE para amostras de bílis e fígado, utilizando os diferentes procedimentos de
extração e reagentes analisados estudo.
Para as amostras de fígado, as bandas de proteína de cerca de 150 kDa, também
desapareceram nos procedimentos de extração de B e C, o que indica que as proteínas
presentes nesta faixa desnaturaram a temperaturas acima de 70 ºC. Bandas fracas entre 25 e
20 kDa estavam presentes no extrações B e C, com DTT e β-mercaptoetanol em ambos os
procedimentos, e bandas mais fracas estavam presentes na extração B usando TCEP, Figura 5.
Esta banda estava ausente do procedimento de extração utilizando TCEP. O procedimento C,
mesmo usando TCEP, não era tão eficiente para a extração de MT, como pode ser visto pelas
bandas mais fracas no gel de SDS-PAGE, também provavelmente devido à temperatura mais
elevada utilizada no processo. As amostras de fígado, no entanto, provavelmente devido ao
fato de ser sólido e mais complexo do que a bílis, não apresentaram géis tão "limpos" e
bandas de proteínas distintas, comparado com a bílis, isso indica que as análises de bílis são
mais fáceis de conduzir e mostram melhores resultados.
4.3 Quantificação de proteína total O nível de proteína total foi determinado devido à necessidade de conhecer a
concentração de proteína total para a preparação de gel e, consequentemente, a análise de
espectrometria de massa, a fim de identificar as proteínas presentes nas amostras extraídas. O
método de Lowry modificado por Peterson foi usado e se mostrou eficiente e reprodutível.
A quantificação de proteína total nos extratos de fígado e bílis usados para otimizar o
protocolo de extração de metalotioneína mostrou-se consistente com os resultados obtidos por
SDS-PAGE. A melhor extração, como discutido acima, foi com o reagente TCEP, uma vez
que os géis 1D tratados pareciam "mais limpos", o que indica uma melhor extração e
estabilidade ao calor. Consequentemente, uma extração mais eficiente deve levar a um menor
teor de proteína total nas amostras deixando apenas MT. A extração “A” apresentou menores
concentrações de proteínas totais, o que significa que mais proteínas indesejáveis foram
eliminadas durante o procedimento de extração de MTs. Além disso, houve um menor desvio
padrão em relação à média das replicatas para essa extração, o que enfatiza ainda mais a sua
eficiência em relação às outras (B e C).
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4.4 Análise por SEC-HPLC-ICP-MS
Ao acoplar SEC-HPLC com ICP-MS, pode-se determinar quais os elementos estão
ligados a proteínas, auxiliando na caracterização da contaminação por metal, se existir, e
também na investigação de possíveis diferenças no comportamento dos perfis de ligação a
metais em MT diferentes situações.
O cromatograma de SEC-HPLC-UV (extratos de bílis e MT-I (solução padrão
contendo Cd)) e de espectros de SEC-ICP-MS (metaloproteínas) obtidos com os diferentes
procedimentos de extração (tratados com DTT e -mercaptoetanol (protocolos A, B e C)) são
mostrados na figura 7.
Figura 7 - Amostras SEC-HPLC-UV-ICP-MS e padrão MT-I para extratos de bílis
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Todas as leituras foram realizadas no mesmo dia, a fim de comparar as intensidades de
sinal e, assim, indiretamente, as concentrações. Não foram observadas alterações
significativas entre os tratamentos, no entanto, foi observada uma pequena diferença no perfil
de cromatografia, quando a amostra é tratada com -mercaptoetanol (protocolo B),
influenciando o pico de MT e o zinco ligado a esta proteína, embora o pico deste elemento
tenha sido bem definido em todas as medições. As análises foram realizadas no mesmo dia,
permitindo assim a comparação das intensidades entre os dois espectros.
A presença de Zn nas amostras é devida ao fato de que este metal é um elemento
traço essencial necessário para certos processos metabólicos, atuando como um co-factor para
várias metaloproteínas e enzimas na maioria dos organismos vivos, enquanto que os outros
fatores analisados estudo (Pb, Cd e Ni) são metais não-essenciais. Além disso, o zinco é
também um regulador de metalotioneína. Estes fatores corroboram ainda mais a presença de
níveis basais de MT em situações de não contaminação.
Diferenças significativas foram observadas para as amostras de fígado quando
comparado com as amostras de bílis. Obviamente, existem diferenças entre as duas matrizes
normais, embora algumas semelhanças também sejam observadas, uma vez que estes órgãos
são interligados no corpo.
O níquel esteve mais presente na bílis, quando comparado ao fígado, provavelmente
devido ao fato de que esta matriz reflete mais rapidamente a recente exposição a
contaminantes do que o fígado, que leva mais tempo para acumular estes xenobióticos. Além
disso, este elemento é normalmente extraído através dos rins e excretados na urina, apesar de
excreção por outras vias, tais como a bile, também ser possível, dependendo da forma que o
elemento é absorvido pelo organismo e do tipo de exposição que o animal sofre.
A presença de Cu e Cd foi mais acentuada no fígado e estes elementos estavam
presentes em outras diferentes metaloproteínas (sem ser MT). No procedimento de extração
que utilizou DTT, percebemos que este reagente não é capaz de eliminar metaloproteínas
termoestáveis a esses metais. A presença de Cd nas matrizes pode indicar uma contaminação
remota, uma vez que este elemento é menos presente na bílis. O Cu, no entanto, é um
elemento-traço essencial e espera-se que apareça tanto na bílis quanto no fígado.
Zn é predominantemente ligado a MT em ambas as matrizes, mas menos
pronunciada nas amostras de fígado tratadas com DTT.
Picos de MT estavam também presentes em todos os testes, indicando a presença
de MT nas amostras de bílis e de fígado, independentemente de exposição do metal ou não,
confirmando que esta é uma ocorrência natural de metaloproteína nestes organismos. A
presença de um único pico de MT nos cromatogramas indica que a cromatografia de exclusão
de tamanhos não é eficiente na separação de MT isofórmicas.
5. Conclusões
O tratamento térmico remove eficazmente as proteínas mais indesejáveis nas
amostras fígado e bilis de peixe, no entanto os resultados indicam que a temperaturas acima
de 70 º C não é mais eficiente uma vez que também é removida MT de ambas as matrizes.
Entre os três agentes redutores analisados, TCEP demonstrou-se ser o mais eficiente,
enquanto que o DTT e β-mercaptoetanol revelara resultados semelhantes tanto na
quantificação espectrofotométrica e na análise qualitativa por SDS-PAGE.
As análises de SDS-PAGE mostraram-se úteis, corroborando com a
padronização dos resultados obtidos pela espectrofotometria. Além disso, eles auxiliaram a
distinguir certas características que não podem ser observadas nas análises
espectrofotométricas dos diferentes processos de purificação, tais como a presença ou
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ausência de outras proteínas nas amostras purificadas. Os resultados também indicam que os
tempos de centrifugação não são tão importantes na quantificação de MT como a escolha do
agente redutor, e que os tempos de centrifugação descritos na literatura podem ser reduzidos a
fim de analisar mais amostras no mesmo período de tempo com a mesma resposta de
quantificação. Assim, o protocolo estabelecido neste trabalho é mais rápido e
significativamente mais eficiente para a bílis de peixe, e também corrobora relatórios
anteriores que indicam que o TCEP é um potente agente redutor.
Os perfis obtidos a partir das análises de SEC-HPLC-ICPMS mostraram não
haver diferenças significativas quando se compara bilis e fígado, sugerindo que ambas as
matrizes seriam capazes de proporcionar a mesma informação sobre a indução de MT,
corroborando ainda mais o potencial de bílis como um biomarcador interessante. No entanto,
as isoformas de MT não são capazes de ser separados por meio desta técnica. Esta técnica
também corroborou as análises de SDS-PAGE, indicando que o processo de extração não só
é eficaz para a MT, uma vez que outras proteínas termoestáveis também são extraídas no
processo e também foram separados por técnicas de cromatografia de exclusão de tamanho.
6. Referências
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