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Outono de sonhos 2ª edição

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Outono de Sonhos é o primeiro volume da série “Foi Assim que te Amei”. Neste romance, Helen é uma jovem cheia de sonhos e objetivos a conquistar, filha única de uma família estruturada e feliz. No início da trama ela se vê envolta à expectativa do primeiro dia de aula na faculdade de Letras da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. O talento para escrever rende a Helen o convite para dar continuidade a um projeto parado na faculdade: terminar um conto de amor entre um príncipe e uma plebeia, iniciado pelo escritor e estudante de teatro, Andrew Gamberini, que sofreu um acidente há um ano e abandonou a faculdade. Na medida em que entra em contato com a trama, Helen descobre-se apaixonada pelo seu autor e viverá intensamente um romance pelas quatro estações do ano. Outono dos Sonhos é uma obra apaixonante, levando o leitor a mergulhar em uma surpreendente e emocionante história de amor.

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OutOnOSOnhOSde

AdriAnA BrAzil

Foi assim que te amei

2ª edição

2014

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Copyright © 2014 by Adriana Brazil

COORDENAÇÃO EDITORIAL DIAGRAMAÇÃO

CAPAREVISÃO

Silvia SegóviaVanúcia Santos (asedicoes.com)Adriana BrazilAlline Salles (asedicoes.com)

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da LínguaPortuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Brazil, AdrianaOutono de sonhos / Adriana Brazil. -- 2. ed. -- Barueri, SP: Novo

Século Editora, 2014. -- (Série foi assim que te amei)

1. Romance brasileiro I. Título. II. Série.

14-04299 CDD-869.93

Índices para catálogo sistemático:1. Romance : Literatura brasileira 869.93

2014IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO ÀNOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

Alameda Araguaia, 2190 – Conj. 1111CEP 06455-000 – Barueri – SP

Tel. (11) 3699-7107– Fax (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br

[email protected]

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Para todos os sonhadores

e para aqueles que deixaram de sonhar...

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Sem sonhos, as perdas se tornam insuportáveis,

as pedras do caminho se tornam montanhas,

os fracassos se transformam em golpes fatais.

Mas, se você tiver grandes sonhos... seus erros

produzirão crescimento,

seus desafi os produzirão oportunidades,

seus medos produzirão coragem.

Por isso, meu ardente desejo

é que você nunca desista de seus sonhos.

— Augusto Cury

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Sumário

Prefácio .................................................................... 11Prólogo .................................................................... 13

1. Sonhos ................................................................. 152. A festa .................................................................. 323. o projeto ............................................................... 494. um príncipe ........................................................... 635. o retorno............................................................... 866. outono de sonhos ................................................. 1077. Teu olhar ............................................................. 1338. Folhas secas ........................................................ 1619. meu amanhecer ................................................... 17410. Saudades .......................................................... 20211. ondas de amor ................................................... 23012. o dom supremo ................................................. 268Prepare-se para a Última Estação ...................................... 292Agradecimentos ....................................................... 308

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Prefácio

AO SOM DE ONLY HOPE, QUE EMBALA O FOLHEAR das páginas de Outono

de Sonhos, me pego escrevendo as primeiras linhas deste prefácio.

Apaixonante, envolvente, emocionante, são alguns dos adjetivos que

posso dar a esta história que se desenrola pelas quatro estações do ano.

Outono de Sonhos vem nos fazer acreditar no verdadeiro amor, na

fé e na esperança que SEMPRE, independente das circunstâncias, não

nos deixam desanimar.

Helen Castilho e Andrew Gamberini nos fazem pensar em como

cada dia é precioso, cada levantar, um sorriso ou até mesmo lágrimas

existem para nos tornar pessoas melhores e mais preparadas para as

lindas e serenas surpresas da vida.

A cada capítulo me vi emocionada, sorrindo ou até mesmo com

lágrimas nos olhos por saber que os personagens estavam ali, ao meu

lado, dividindo comigo suas dores e suas certezas. Outono de Sonhos vem

ao encontro da realidade de projetos, de sonhos, da juventude que, de

repente, foi roubada de alguém que acreditava no mundo lindo, colori-

do, diverso dentro dos corredores de uma renomada faculdade.

Este livro não conta só mais uma história de amor. Ele a descreve

na sua verdadeira forma, sem reservas e sem medo.

Inacreditável como Adriana Brazil conseguiu, de maneira tão sin-

gular, traduzir em palavras as situações mais únicas e impressionantes

destes jovens do Sul do país. Com uma linguagem pessoal, fl uente e

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clara, a autora nos leva a uma viagem cada vez mais impactante, alegre,

completa, definindo os verdadeiros caminhos para onde sonhos, proje-

tos e amizades nos levam.

Não deixe de ler e descobrir o que a triste realidade do mundo tem

roubado de você.

Sem dúvida este se tornará meu livro de cabeceira, pois me trouxe

de volta uma sensação de que tudo está ao nosso alcance, tão perto,

basta acreditar. Consigo ler Outono de Sonhos e entender que existe uma

única esperança.

— Bruna Aguiar, jornalista

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Prólogo

JAMAIS ESQUECEREI AQUELE ANO. Tantas conquistas, alegrias, desilusões e

dor. Tudo foi intenso, profundo, uma colisão de vários momentos distintos

transformou minha vida para sempre. Não que ela não fosse boa; porém,

tudo foi repentino e ainda respiro o ar daquelas emoções primorosas.

Aquele ano foi marcado pelas estações, que, coincidentemen-

te, conseguiram descrever não apenas a sensação climática, mas

meu interior.

Lembro detalhes minuciosos do outono, expressivo, impetuoso e

inesquecível. Uma atmosfera de sonhos o transformaria para sempre.

Se, para muitos, pensar que um instante de felicidade não vale a pena

diante de um momento maior de tristeza, eu, Helen Castilho, arrisquei;

o tempo vivido intensamente fez valer cada segundo pelo qual chorei.

Certamente, seria capaz de fazer tudo outra vez

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Sonhos

ERA APENAS O COMEÇO, O NOVO COMEÇO na minha vida. Ansiedade e

felicidade uniam-se para defi nir meu estado interior, a sensação de

conquista por ter entrado na faculdade de Letras me preenchia. Um

sonho: contos, poesias, dissertações; agora estava diante dele, prestes a

dar um passo para torná-lo real.O conforto do colchão macio, a difi culdade de abrir os olhos e

o sono que ainda pesava sobre eles se dissiparam quando a palavra “faculdade” soou novamente na memória. Então, num pulo, saltei da cama tomada de empolgação. Foram tantos esforços para alcançar aquele objetivo, que respirar o ar de conquista era incrível.

Era verão na linda cidade de Florianópolis, região Sul do Brasil. Não costumava ser forte o calor; no entanto, o verão era radiante dian-te da felicidade de começar um sonho naquele dia.

Tomei banho, troquei de roupa e desci pela escada. Em meu peito uma felicidade nova me abrangia.

Ao me aproximar da cozinha, encontrei meus pais conversando sobre mim com serenidade.

— Ouvi meu nome! O que estão falando de mim logo cedo?— Hoje é um dia muito especial para todos nós, certo, fi lha? — disse

meu pai.— Ah, pai, muito especial! Estou animada! — Eu ri.— Seu pai falava em te levar na faculdade no primeiro dia — comen-

tou minha mãe, sentando-se ao meu lado.

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Ele pegou o leite no fogão e o colocou sobre a mesa. Com as so-

brancelhas meio franzidas, olhou para mim.

— Os tempos mudaram, filha, talvez seja meio cafona, fora de moda;

contudo, sua mãe e eu adoraríamos te levar, certamente entenderemos

caso não se sinta à vontade com a situação...

— Mãe, pai — interrompi, achando graça daquele comentário —,

vocês sabem, a modernidade não chegou para mim. Adoraria tê-los

comigo, sim.

Enquanto falava, notei a alegria estampada em seus olhos. Exibiam

sorrisinhos satisfeitos, como se o que eu acabara dizer fosse uma vitória

para eles.

— Vocês fazem parte dessa conquista. — Puxei o braço do velho,

porém bonitão, Paulo, e continuei:

— Devo tudo a Deus, por ter me dotado de inteligência e força de

vontade e, claro, a vocês, por fazerem parte disso; devo muito aos dois.

Seria injusto deixá-los de fora!

Notei novamente que escondiam algo. Trocavam olhares, cúmpli-

ces de algum segredo, restava saber qual era.

— Do que estão rindo, afinal?

— Sua mãe, Helen — respondeu ele, tentando desfazer um riso contido.

— O que tem? Fale, pai! — indaguei, curiosa.

— Você reparou na roupa dela?

Observei a bela Suzan, uma senhora de 45 anos, com estatura

mediana e corpo esbelto. Ela se levantou da cadeira, dando uma ro-

dadinha, com um simpático vestido azul floral e branco, era roupa de

passeio. Por um momento analisei-a e ela sentou-se. Ao concluir o fato,

começamos a rir, numa contagiante alegria.

— Pai! Vocês, não acredito, sabiam? — tive de rir novamente.

— Ontem à noite, Suzan fez o plano — explicou ele.

— Ah, filha! — falou ela. — Te conhecemos tanto, imaginamos que diria

sim, então acordamos dispostos e estávamos só esperando você acordar.

— Vocês me conhecem bem — concluí.

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— Você é uma filha de ouro, nos sentimos lisonjeados com sua ati-

tude, Helen — observou ela.

Sentados como estávamos, meu pai segurou nossas mãos e suspi-

rou profundamente; parecia absorver aquela paz a nossa volta.

— Agradeço a você, Deus, por essa família e pela vida de Helen. Fi-

que com ela neste dia especial. Muito obrigado. Levantei-me e os beijei

apertado nas bochechas.

— Então, vamos, senão chego atrasada! — Saltei feliz, pegando a

mochila no sofá.

Enquanto o carro deslizava pela pista, sentia o vento batendo no

rosto, fazendo os cabelos voarem alto como meus sonhos. O Sol não

ofuscava a alegria cintilante e o vento fazia contornos em meu sorriso

aberto. O dia parecia celebrar meu sonho.

Não morava tão distante do campus da faculdade. Ao chegar diante

dela, a tão desejada Universidade Federal de Santa Catarina, suspirei

fundo. Desci do carro e percorri os olhos em sua extensão. Meus pais

aproximaram-se, percebendo minha ansiedade.

— Tudo isso é apenas o começo, filha — notou ele. — Creio que che-

gará a lugares maiores. Vá, faça a diferença aonde passar.

Nós nos abraçamos.

Respirei profundamente, peguei a mochila, coloquei-a nas costas e,

novamente, acenei para os dois.

Logo me deparei com o novo; eram tantas pessoas confusas, an-

dando rápido, em direções diferentes. Tinham papéis nas mãos,

procuravam suas salas. Em alguns rostos eram visíveis a pressa e a pre-

ocupação de encontrar o lugar certo na hora prevista, pensei que tudo

aquilo um dia viraria rotina do mundo novo que passei a pertencer.

Estava mais ansiosa que no dia da recepção dos calouros.

Peguei o papel com a grade de horários na mochila, olhei o reló-

gio, faltavam quinze minutos para a aula inaugural. Depois da procura,

entrei na sala e me sentei quase à frente, na fileira do meio. Em poucos

minutos, a sala encheu-se de estudantes.

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Algumas pessoas conversavam entre si, tentando quebrar o gelo da

primeira impressão.

Os minutos avançaram-se e os estudantes foram se acomodando.

Tirei meu caderno e meu estojo da mochila. Observei que somente

uma garota havia feito o mesmo que eu.

Estava distraída quando senti uma trombada no braço direito, olhei

rápido para o lado e não tive tempo de segurar meu material escolar,

foi tudo ao chão no momento que a garota girou rápido para pedir des-

culpas. Ela se abaixou no mesmo instante que eu e, por pouco, não nos

chocamos. Com um sorriso amarelo pediu desculpas. Voltei à cadeira e

ela se sentou ao meu lado, ofegante.

— Desculpe! Vim correndo, me atrasei!

— Tudo bem. — Triste, conferi meu estojo novinho, cor creme, que

acabara de ficar com a marca do tênis dela.

— Te dou outro, desculpe. — Parei de tentar limpar o estojo e mos-

trei um desalinhado sorriso para que ela não se sentisse mal.

Lembrei de tê-la visto na recepção dos calouros, todavia não troca-

mos palavras naquele dia. Ela, então, se apresentou.

— Foi mal mesmo! É... meu nome é Sarah, e o seu?

— Sou Helen. Tudo bem, se lavar sai — disse, mesmo tendo certeza

de que não sairia.

— Não, te dou outro. — Ela riu e abriu a mochila tirando o caderno.

— Ansiosa?

— Muito ansiosa. — Era melhor esquecer o incidente.

— Você mora no campus ou fora?

— Não moro no campus, moro em Itacorubi.

— Não conheço sua cidade. Sou de Criciúma, me mudei em janei-

ro, então não conheço quase nada. — Ela enrolou os cabelos e os jogou

sobre o ombro direito.

— Itacorubi é próximo. Dez, quinze minutos no máximo. Espero

poder te ajudar a conhecer melhor Floripa.

— Conheci o centro, linda cidade. Mora sozinha?

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— Com meus pais.

— Que ótimo ter a família perto, a minha está tão longe. — Ela deu

um sorriso forçado. Seus traços do rosto ficaram caídos.

— Deve ser difícil lidar com a distância — falei mansamente, tentan-

do ser compassiva com sua tristeza.

— Você sempre morou aqui? — Sarah parecia agitada e, pelos pou-

cos minutos, notei que gostava de conversar.

— Sim. Nasci em Florianópolis, sou manezinha da ilha.

Ela abriu um largo sorriso parecido com o meu.

Enquanto falava, o professor entrou na sala, feliz e contagiante, deu

bom-dia alto e com entusiasmo.

— Olá, galera, sou o professor Jean, Jean Mendes. Serei professor

de Literatura Brasileira e Produção Textual. Teremos uma história ines-

quecível pela frente, se vocês ajudarem. Gosto muito de trabalhar em

conjunto com os alunos, quero ler o que pensam, ouvir suas opiniões.

Contem comigo, não sejam tímidos, quando tiverem dúvidas, pergun-

tem! Para começar, gosto muito de falar. — Todos riram. — E também de

ouvir. Rapidamente, levante-se, fale seu nome e qual seu objetivo aqui

dentro. Pessoal, temos quase quarenta pessoas, sejam breves!

O sorriso foi coletivo diante daquele professor tão simpático. Ra-

pidamente chegou minha vez. Foi uma péssima escolha ter sentado à

frente, mesmo sendo uma mania dos anos do Ensino Médio.

— Sou Helen Castilho, tenho o desejo de absorver todo o ensina-

mento que puderem me dar.

O professor continuou a apresentar o projeto do curso. Estava tão

cativada pela aula que fui despertada por Sarah, me avisando sobre

o intervalo.

Caminhei com ela até a lanchonete. Pedimos sanduíches e sucos,

ainda pedi uma barra fina de chocolate para conter a fome até chegar

em casa. Nos sentamos com os lanches.

— E você, Helen? Conseguiu passar de primeira no vestibular? —

perguntou Sarah.

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Enquanto terminava de mastigar o sanduíche, pus a mão na boca,

depois pude responder.

— Consegui, sim. Estudei muito e os estudos anteriores ajudaram

também.

— Sorte sua! Tentei duas vezes.

— Está aqui, Sarah, é o que conta.

— Verdade.

Fizemos uma pausa enquanto observávamos os outros alunos ao

nosso redor.

— Você tem namorado?

— Não, e você?

— Também não. Porém, espero encontrar o homem da minha vida,

aquele que possa me arrebatar de paixão! — Ela suspirou fundo.

— Entendo. Já viveu o “arrebatamento” antes? — perguntei, mos-

trando encantamento diante da palavra que destaquei.

— Mais ou menos. Quero guardar o coração. Não acredito em

conto de fadas, mas acredito no amor. Creio que o homem da minha

vida será um príncipe! Sou romântica, sabe? — falou com jeito tímido

e sorridente.

— Também sou romântica, penso como você, Sarah.

— Escolha certa onde me sentei hoje.

— Nada é por acaso.

Olhei o relógio, verificando a hora da aula seguinte. Foi quando

observei Sarah, era bonita, morena clara, os olhos quase verdes, os

cabelos, lisos, pretos e longos. Usava uma blusa azul-clara estampada

com algumas flores brancas.

— Reparei no quanto você chama atenção, no quanto é bonita.

— Ah, Helen, como se você não fosse.

— Quero dizer que você é bonita, deve ter tido vários pretendentes,

já teve namorado?

— Tive alguns casos, todos eles, óbvio, aproximavam-se pela atra-

ção, só queriam uma noite comigo para dizer aos outros que haviam

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ficado com Sarah Massao — debochou sutilmente. — Quando notava,

pulava fora. Mas, certa vez...

Ela ficou em silêncio, olhando seu sanduíche. Notei que não pare-

cia à vontade com o assunto.

— Tudo bem, Sarah, se não quiser contar, entendo.

— Não gosto de falar sobre isso.

— Tudo bem — segurei sua mão —, quando achar a hora certa, te

ouvirei, ok? — Ela concordou com um semblante que me fez lembrar

de uma criança triste.

— Teremos muitos dias pela frente, certo?

— Hum, com certeza. — Limpei a boca com guardanapo. — Vamos?

Vai começar a aula!

Ela engoliu rapidamente o restante do sanduíche e bebeu o suco.

— Vamos, sim.

Ao chegar à aula, o professor escrevia seu nome no quadro. Ele

começou com uma dinâmica de apresentação e falou também sobre os

projetos do curso.

No fim da aula, caminhei com Sarah até a saída do prédio. Ela

queria que eu fosse conhecer seu novo lar, até senti vontade de ir, mas

precisava trabalhar. Combinamos que iria em outro dia. Me senti aben-

çoada por ter conhecido uma pessoa tão simpática como Sarah logo no

primeiro dia de aula, mesmo que tenha sido de uma forma desastrada

da parte dela.

No ponto de ônibus, contei o imenso tempo de espera perdido,

precisava conversar com meus pais novamente sobre comprar meu pri-

meiro automóvel.

Olhei o relógio quando o ônibus chegou. A ideia de sempre passar

em casa antes do trabalho estava descartada. Ou comprava o carro ou

teria de almoçar no trabalho todos os dias.

Minha mãe lavava a louça do almoço quando entrei na cozinha. Por

alguns segundos descansei em seus ombros quando a abracei por trás.

— Oi, filha, como foi seu primeiro dia de aula?

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— Ótimo, mãe, gostei muito. Já almoçou? — Coloquei-me na frente

dela, jogando detergente em minhas mãos.

— A-hã, você demorou.

— Bom lembrete! Precisamos conversar sobre aquele assunto do

automóvel novamente.

Enquanto lavava as mãos, Suzan terminava de colocar os pratos no

escorredor, em seguida, ela sentou à mesa.

— Acho melhor conversarmos quando seu pai chegar.

— Mãe, sei que não moramos tão longe da faculdade, porém, vou

precisar do carro para ganhar tempo no dia. Olha a hora?! Amanhã

precisarei ir da UFSC, senão vou viver chegando atrasada no trabalho.

Coloquei lasanha no prato, sentei à mesa.

— Você sabe a opinião de seu pai, então tenha ótimos argumentos

se quiser convencê-lo.

— Mãe, sou maior de idade, tenho carteira de motorista, quero dirigir —

falei de forma bastante óbvia, o que ela desaprovou, espremendo os olhos.

— Vamos conversar à noite, querida.

Suspirei, puxando o canto da boca, bastante inconformada.

— Conheceu alguém legal? — perguntou ela com sorriso gracejador.

— Conheci Sarah, mora no campus, e os professores são paradigmas

da sumidade.

— Gostei da palavra sumidade.

— Aprendi hoje. Vai dar aula?

— Vou, sim, já estou saindo.

— Agora, mãe?! — resmunguei.

— Sim, querida, senão chego atrasada. Nos falamos à noite. Quer

uma carona até metade do caminho?

— Não, vou trocar de blusa ainda.

— Então, até mais tarde, filhota.

Enquanto comia rápido, refleti sobre o dia na faculdade. Pouco

depois, minha mãe saiu em seu Gol do ano anterior; diversas vezes o

dirigi quando estava na autoescola.

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Ergui os olhos para o relógio da parede e resmunguei, chegaria

atrasada.

Trabalhava meio expediente como vendedora de perfumes impor-

tados, no shopping do centro da cidade. O horário flexível me permitia

maior tempo para os estudos.

Cheguei vinte minutos atrasada, justifiquei-me com o gerente. Meu

histórico de boa funcionária foi de grande valia para não ser repreendida.

Meus dias como vendedora eram absolutamente iguais. Indicava

perfumes, aconselhava sobre as fragrâncias e raramente solucionava

dúvidas de clientes sobre maquiagem. Minha habilidade era mesmo

em relação aos perfumes, fazia questão de não me envolver com o

outro setor, já que não costumava usar maquiagem. O máximo que

deixava as colegas de trabalho passarem em mim era uma sombra colo-

rida e um batom discreto. O maior desejo delas era, um dia, fazer uma

make completa em mim.

No começo da noite, como era de se esperar, avistei a BMW preta de

meu pai parada em nossa garagem. Entrei pela porta cantarolando. Ele

estava sentado no sofá, comendo seus amendoins favoritos, assistindo

ao noticiário da noite.

— Oi, pai. Cheguei.

— Oi, filha. Dia comprido o seu. Tem muito para me contar?

— Tenho, sim.

Coloquei as chaves na mesa, joguei a bolsa no sofá pequeno e sen-

tei ao lado dele. Beijei-lhe o rosto e encostei no seu ombro.

— Como foi seu dia?

— Preciso tomar banho primeiro, depois conto tudo. Assim dá tem-

po de mamãe chegar, para não repetir a mesma história. — Meus lábios

formaram uma careta, esperando ser censurada.

— Se prefere assim. Vá tomar banho, deixei o jantar adiantado.

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— Pai, você fez macarrão e bife?

Ele sorriu.

— Desde quando só faço macarrão com bife?!

— Pai, você sempre cozinha isso quando está sozinho... é que... não

combina.

— Você vai ter uma surpresa, tá, senhorita?!

— Espero gostar!

Subi a escada em direção ao meu quarto. Tomei uma ducha de-

morada. Enquanto colocava a roupa, escutei um carro parando na

garagem. Olhei pela janela e vi minha mãe. Ao descer, meu pai estava

no mesmo lugar.

— Pai, não devia estar pondo a mesa do jantar? Cadê a mamãe?

— Foi tomar banho. Esquece a mesa e você deveria vestir algo melhor.

— Por quê?

— Sua roupa não combina com o restaurante aonde vamos.

— Fez surpresa, pai?!

— Falei que se chamava surpresa.

— Pai, você é meu herói!

— Tem a ver com macarrão o herói?!

Enquanto subia a escada, gritei:

— Por isso que você é meu herói, pai!

Uma hora depois, entrávamos no restaurante, na Avenida Beira-

-Mar Norte, um lugar totalmente aconchegante.

Iluminação em meia-luz, pessoas bem-arrumadas e uma comida bem

falada, tudo à espera para contribuir com o fechamento de um dia perfei-

to. Estava um ventinho frio típico do início da noite na cidade. Escolhi o

canto da mesa para não pegar o fraco golpe de vento do ar-condicionado.

— Puxa, ideia legal, mãe! — comentei entusiasmada enquanto folhe-

ava o cardápio.

— Hoje é um dia especial, filha.

— Certamente, mãe! E... só de pensar — sussurrei, escondendo a boca

com o cardápio — em me livrar de comer a gororoba de papai... — Ela riu.

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— Muito engraçada você, Helen! — grunhiu ele. — Nos conte sobre

seu dia.

— A faculdade é linda, os professores são o máximo e fiz uma nova

amiga, Sarah.

— Que bom, fico feliz.

— A pior parte foi ter chegado atrasada no trabalho por esperar

o ônibus.

Suspirei fundo, tentando afastar a impaciência. Era o momento ide-

al de entrar no assunto, falar sem rodeios antes de a coragem ir embora.

— Pai, preciso de um carro. — Foi de uma única vez, rápido e convicto.

Suas expressões ficaram rígidas. Seu olhar já revelava negação.

— Você sabe o quanto acho perigoso você dirigir. Lembra o último

acontecido?

— Pai, naquela ocasião tinha acabado de tirar carteira, foi só uma batidi-

nha no carro de mamãe, nada sério, ninguém se machucou. Passou-se um

ano, não sou mais uma menina. Você disse que voltaríamos neste assunto.

— Não aconteceu nada porque era um local de pouco movimento,

acaso fosse na UFSC?

— Preciso do carro, vou gastar muito tempo da faculdade ao traba-

lho. Posso assumir as prestações. Guardei dinheiro. Confie em mim!

— Confio em você, não confio nos outros.

— Por confiar em mim, deveria deixar.

Ele fitou Suzan, colocou os cotovelos apoiados na mesa e apontou

o indicador.

— Escuta, menina, você sabe a responsabilidade dessa atitude?

— Claro que sei.

Ele prolongou o olhar sobre mim depois de dar um longo suspiro.

No mínimo, havia muitas justificativas que ele apontaria, ou, sim-

plesmente, e o mais difícil, deixaria de lado.

— Vou conversar com sua mãe e amanhã te dou a resposta. — Meus

lábios alinharam um enorme sorriso.

— Valeu, pessoal!

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Na volta, a exaustão pesava os olhos, cochilei no banco do carro.

Dei boa-noite a eles, ansiando por minha cama.

Fui acordada pelo despertador do celular. Queria ficar somente mais

cinco minutos... despertei rapidamente quando me lembrei da resposta

do desejado primeiro carro.

Naquela manhã, comemorei alegremente a notícia de que eles da-

riam a quantia restante para um carro zero, presente por ter ingressado

na faculdade. Foi melhor do que havia pensado.

Cheguei ao campus, peguei a folha com a grade de aulas na mochila

e não fazia ideia para que lado deveria ir.

Olhando o papel, acabei esbarrando em duas garotas.

— Ai, desculpem, meninas — falei, totalmente sem graça.

— Está perdida? — perguntou uma delas.

— São números, letras, por que simplesmente não colocam o andar

e o número da sala?

— Estão em ordem — continuou uma delas.

— Não percebi.

— Observe, da letra A a L é no primeiro andar, do M em diante,

aqui em cima. Os números também seguem o padrão. A letra em cima

indica o prédio.

— Certamente não está no segundo dia de aula. — Elas sorriram.

— No começo, fiquei perdida também, demora, mas você acostu-

ma, caloura... — ela pausou, esperando meu nome.

— Sou Helen, valeu pela ajuda.

— Sou Karen, esta é Anna. — Cocei a testa.

— Ok, meninas, direita ou esquerda?

— Aquele lado. Caloura de... — Anna sorriu, apontou à direita.

— Letras, faço Letras.

— Gosta das palavras? — perguntou Karen.

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— Ah, sim, faz parte das mulheres.

— Nos vemos por aí. Boa sorte, Helen — falou Anna. Estendi a mão,

sinalizando um tímido tchau.

Na sala, encontrei Sarah conversando com cinco pessoas de nossa

classe. Mal deixei a mochila na cadeira e ela me puxou pelo braço,

apresentando-os.

— Helen, quero te contar algo! — sussurrou ela, eufórica, logo em

seguida.

Voltamos para os nossos lugares.

— Conta!

— Conheci um carinha lindo hoje! Veterano, faz Engenharia Civil,

chama-se Álex!

— Como foi?

— Estava procurando este prédio, quando ele se aproximou com um

amigo, oferecendo ajuda ao observarem que estava perdida. Eles me

trouxeram aqui. Helen, Álex é lindo, quando encontrá-lo te apresento!

— Também conheci duas meninas muito simpáticas, me ajudaram,

fiquei perdida.

Parei de falar ao avistar a professora entrando na sala. Ela escreveu

no quadro: “Sra. Martha Lemos”.

— Depois continuamos — sussurrei.

A senhora devia aparentar 60 anos, séria, todavia esbanjou inteli-

gência e conhecimento na aula de Teoria Literária. Fiquei boquiaberta

com tamanha desenvoltura.

No intervalo, Sarah e eu nos sentamos para lanchar. Avistei Anna

e Karen, acenei.

— Fez amizade rápido, hein, guria? — observou Sarah.

— São as meninas que mencionei. Demoraria muito tempo para

encontrar a sala se não fossem elas.

— Essas letras, números são complicados. — Sarah sorriu, devorando

seu sanduíche. E, mal acabou de engolir, continuou: — Simplesmente

deveriam colocar o andar, o prédio e o número das salas.

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— Falei exatamente isso com elas.

Sarah parou de mastigar, engoliu e ficou olhando à sua direita.

Ela não precisava dizer, sua expressão era de que havia encontrado

algo perdido. Parecia encantada.

— Olha, Helen, lado direito, aqueles são Álex e Diego.

A curiosidade já havia me feito virar o pescoço no instante que

ela falava e, na mesma hora, entendi tudo. Um rapaz bonito no meio

de outros três nos observava. Eles acenaram. Envergonhada, voltei a

olhar Sarah.

— Eles estão nos olhando.

— Álex é muito gato! — ela falou bastante animada retribuindo o

aceno.

— Concordo, muito bonito.

Não resisti e olhei para o lado de novo. Reparei em Álex, moreno,

alto, postura atlética, os cabelos lisos, porém pouco ondulados, curtos e

pretos, agradável à vista.

— Realmente é um gato. Sabe, ele não tira os olhos daqui. — Mordi

o sanduíche.

Enquanto conversávamos, ela não parou de admirá-lo.

Sarah era superatenciosa e gostava de me encher de perguntas.

Passei a dizer que ela deveria ser jornalista, pois sempre tinha uma ex-

pressão divertida no rosto para se justificar. Perguntou por que eu havia

escolhido Letras. Meu propósito era de um dia fazer com que crianças

aprendessem a amar não somente os livros, mas a arte de uma maneira

ampla. Ao contrário, Sarah tinha os planos de voltar para Criciúma e

ser professora. Além de letras e papéis, eu tinha uma grande admiração

por fotos e quadros de arte, devido ao fato de que minha mãe era uma

excelente professora de Artes. Sarah pediu que eu passasse o link com

minhas fotos para que ela pudesse verificar se eu realmente era boa

com uma câmera fotográfica nas mãos.

Terminamos o lanche e lentamente andamos de volta à sala, falan-

do sobre nossos sonhos.

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Sonhos, havia tantos tramitando na minha lista invisível de metas a

conquistar. Às vezes, me considerava sonhadora demais, outras, acredi-

tava que aquele fosse meu destino na vida: sonhar. Mas uma certeza me

impulsionava, não deixaria que o tempo levasse nenhum dos meus so-

nhos antes que fossem realizados. E, dentre tantos, eu tinha um sonho

que me movia, um sonho que somente Deus sabia e eu não duvidava

que um dia ele mudaria a história da minha existência.

No outro dia, pela manhã, cheguei cedo, combinei com Sarah de

conhecermos melhor o campus.

Quando começamos a andar em direção à Biblioteca, encon-

tramo-nos com Álex, Diego e seus amigos, próximo ao Centro de

Cultura e Eventos.

— Olha quem está ali! — Sarah apontou disfarçadamente para onde

eles estavam, totalmente empolgada.

— Oi, Sarah! — Diego veio andando rápido.

— Oi, Diego, tudo bem? — Eles trocaram beijos no rosto. — Esta é

minha nova amiga, Helen. Helen, este é Diego.

— Bela amiga. — Diego beijou meu rosto. — Não fique com ciúme,

você é uma gata também. — Ele mexeu no cabelo dela.

— Não estou com ciúme. — Sarah torceu os lábios.

— Venham, meninas, vou apresentar meus amigos.

Diego colocou os braços sobre nossos ombros nos conduzindo até

os rapazes.

— Álex, você conhece Sarah, esta é Helen. Helen, estes são Álex,

Gustavo e Renato.

Eles nos cumprimentaram, visivelmente com segundas intenções,

principalmente quando Álex veio falar comigo.

— Muito prazer, Helen. — Ele beijou meu rosto lentamente, pegan-

do o canto dos meus lábios.

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— Vamos, Sarah, está quase na hora. — Afastei-me dele e a puxei.

— Espero que a gente se fale, meninas! — disse Diego.

Nos afastamos, não apenas por estar assustada com a audácia de

Álex, mas por receio de não saber lidar com aquele tipo de situação.

— Álex é lindo! — Sarah suspirou fundo.

— Lindo e oferecido! — Ela riu franzindo o nariz, numa expressão

infantil.

— Ah! Vi suas fotos na internet, Helen. Você tem talento, guria!

— Gostou de alguma especial?

— Gostei muito daquelas que usou o preto e branco e uma parecida

com efeito antigo.

— Efeito sépia é bem legal.

— Vi as fotos da ponte Hercílio Luz à noite, lindas! Queria conhecer

qualquer dia.

— Nunca esteve no forte?!

— Só vi de longe. Quero conhecer de perto.

— Muito legal! Qualquer dia vamos lá.

— Suas fotos são ótimas. Você tem uma segunda profissão.

— É sempre bom. — Sorrimos juntas.

A manhã esperada de sábado me fez acordar eufórica, antes de meus

pais. Era uma sensação prazerosa que atrapalhou bastante minha noite.

Apressei todos a tomarem café rápido. Estava ansiosa pela com-

pra do meu primeiro carro. A caminho do centro, fomos acertando

os detalhes.

Fechamos negócio em um Fox lindo, vermelho, zero, e o melhor,

só meu.

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Os dias se passaram, Sarah tornava-se uma grande amiga. Álex e Diego

ficaram nossos amigos; os dois dividiam o quarto desde que ingressaram

na UFSC. Diego era superengraçado e adorava contar piadas. Álex

desejava ir além da amizade comigo, sempre falava ou fazia algo como

lembrete do fato. Embora ficasse confusa e sem saber como agir, resolvi

ignorar, encontrei nele uma pessoa especial. Era um motivo importante

de continuar prezando sua amizade.

Sarah fez amizade com Evelyn, veterana do terceiro período de

jornalismo. Ela teve problemas com as colegas de quarto e acabou

anunciando duas vagas no seu novo quarto, no qual Sarah alugou.

Evelyn era megaextrovertida, alegre, animada, acabou se encontrando

conosco.

Karen cursava o quinto período de jornalismo, Anna, o terceiro.

Sarah não gostava dos momentos em que conversávamos com elas,

mantinha a opinião de que Anna gostava de Álex. Parecia um motivo

justo para não aprofundarmos a amizade com as duas.

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