1
N.º 1 | | 2016/2017 N.º01 Missão Amar(es): Um projeto, uma proposta de vida! “Um sacrifício, para ser real, tem que custar, tem que doer, tem que nos esvaziar.” Santa Teresa de Calcutá As férias de verão são uma oportunidade para realizar tantas atividades com tan- tas escolhas diversas e ocupar o tempo de forma diferente do habitual. Uma dessas es- colhas é o voluntariado internacional. A oportunidade de se ampliar um desafio pessoal que ao longo do ano se vai incrementando, e que nas férias o podemos estender por um período maior de tempo dedicando-o aos outros, é a razão de tantos jovens e adultos cumprirem esta escolha nas suas férias de verão. O voluntariado é, hoje, um movimento que mobiliza em todo o mundo um grande número de jovens e de adultos, sendo um instrumento de participação da sociedade civil nos mais diversos domínios de atividade. Esta prática não se restringe ao campo social, mas alarga-se à cultura, à educação, à justiça, ao ambiente, ao desporto e a outras di- mensões do nosso quotidiano e tem vindo a responder às questões que continuamente emergem do tecido social, económico ou político. Neste contexto, nasceu o projeto Missão Amar(es) para os alunos do Ensino Se- cundário da Escola Secundária de Amares, que através de um conjunto de ações de in- teresse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada pelos alunos, no âmbito de projetos sociais vários, procura além de incentivar o voluntariado em contexto escolar, ao mesmo tempo, promover o agir local e o pensar global. A Educação para o Voluntari- ado acaba por ocupar, deste modo, um lugar ímpar na preparação integral dos alunos e ajudá-los a construir uma identidade pautada no bem comum. Acreditamos que sempre que uma instituição educativa promove atividades de voluntariado, mediadas e animadas pela escola oferece aos seus alunos a oportunidade de participar ativamente na construção de uma sociedade mais coesa e mais solidária. Partindo das experiências realizadas e da formação adquirida ao longo do Ensino Secundário, desejamos incutir nos alunos que participam no Clube da Solidariedade e do Voluntariado da Escola Secundária de Amares um espírito de partilha e experiências glo- bais, nomeadamente em contextos de países em vias de desenvolvimento e, preferenci- almente, de língua portuguesa. Assim, quisemos que o projeto Missão Amar(es) propor- cionasse uma oportunidade a três alunos (duas jovens e um jovem) de realizarem uma experiência de voluntariado internacional. Neste caminhar contínuo, conseguimos reali- zar a nossa experiência no passado mês de agosto em Moçambique, concretamente di- vidindo a missão entre Mavalane e Hulene, na província de Maputo e em Chibuto, pro- víncia de Xai-Xai – Gaza. Definitivamente, uma experiência única de estar com os outros mais desfavorecidos de contextos sociais e culturais bem diferentes do nosso. Construir pontes entre nós e estes povos ajudam ao desenvolvimento local, porque é na proximi- dade que se consegue obter o sucesso de uma relação que permita num curto período de tempo deixar a marca da nossa missão, porque enquanto homens e mulheres procu- ramos o equilíbrio e a justiça social entre todos. A Missão Amar(es) que tem como lema um projeto, uma proposta de vida, é justa- mente uma opção distinta de viver o verão. Sabemos que a humildade não nos torna melhores que ninguém, mas acredito que nos torna diferentes de muitos. Desejo que a Missão Amar(es) como projeto e proposta de vida, se perpetue com humildade. Reviver uma missão é reencontrar partes inteiras de uma identidade que cresceu e nas- ceu numa jornada verdadeiramente memorável. Partir para Moçambique foi abalar para um choque vulnerável de existências que se de- senhava num povo moldado pelos resquícios da escravidão. Uma realidade sufocante de políticas desumanas combatidas por rebeldes era conspirada em cada casa e núcleo. A cidade não feria pela pobreza , mas pela riqueza que arquitetava a Costa do Sol e inúme- ras avenidas impiedosamente coloniais. Como é possível coexistir ilusoriamente a opu- lência e o desfalque da humanidade? Desde a Escola Secundária de Mavalane a Hulene B, foram várias as escolas que per- corremos. Esta última era plantada nas imediações de uma lixeira de 3 km de extensão e assegurava a educação de 180 crianças entre os 3 e 5 anos de idade. Foi nesta mesma escolinha que entendi a imensurável importância que a educação tinha para estas comu- nidades marginalizadas. Em todas as escolas era necessário o pagamento de propinas e, mesmo em sufoco financeiro constante, existiam listas intermináveis de espera para o ensino público. Inicialmente abismada com a incoerência da capital era agora presentea- da com feixes surpreendentes de esperança. As escolas traziam orgulhosamente pinta- das nas paredes o pensamento de Pitágoras: “Educai as crianças e não será preciso cas- tigar os homens.”. Chibuto era em tudo diferente à metrópole moçambicana que descansava a 200 km no sul. Desde as paisagens de cimento substituídas por idílicos quadros quentes de terra africana às ruas agora amplamente compostas de crianças imensas, Chibuto era estra- nhamente familiar. Entre núcleos, escolas e construção de casas foi verdadeiramente ins- pirador vaguear pelo mundo do pároco Amaro que se fazia acompanhar da Diana e So- fia, duas leigas que transponham toneladas de boa energia por osmose a quem cruzasse caminho. Conhecem aquele efeito psicadélico de sorrir sem razão aparente? Esse era o meu inspirador estado em Chibuto. Tudo era motivo para ficar só mais um pouco, para voltar e relembrar o caloroso “HOYO HOYO!” com que me recebiam. Portugal tinha fica- do no hemisfério contrário mas o mundo era tão próximo que podia abraçá-lo de uma vez só. O amor faz isto até aos mais fortes, torna-os loucamente frenéticos por algo maior do que a sua própria existência. Regressar foi saber que havia mundos paralelamente palpáveis onde a missão não se fazia de léguas mas de uma vontade imensa de quebrar injustiças e concordâncias soci- ais. Regressar foi querer partir por conhecer um mundo que reveste cada ser com o potencial de se tornar verdadeiramente extraordinário. A vida encontrou-se ali, naquela missão! A todos os que agora veem o que eu vi, KANIMAMBO! Uma missão em Moçambique Ana Luísa Amaro KANIMAMBO Desde o meu 5ºano de escolaridade que estive integrado na disciplina de Educa- ção Moral Religiosa Católica, mas só no meu 9ºano é que me foram incutidos determi- nados valores, de forma a estar na vida e ver de maneira diferente o voluntariado. Nes- tes 4 anos de caminhada aprendi que ser voluntário é ter a oportunidade de contribuir com algo, de uma forma livre e não estar à espera de receber nada em troca. É difícil dizer em poucas ou até mesmo em muitas palavras aquilo que vi e vivi com esta missão, mas é certo que todas estas experiencias vieram guardadas no meu coração, para assim poder transmitir a todos aqueles que estiveram direta ou indireta- mente envolvidos no projecto. Chegado a Moçambique a 17 de agosto, nomeadamente a Maputo deparei-me com duas realidades totalmente diferentes: a classe rica que vivia em habitações luxuo- sas e com todas as condições necessárias para o dia a dia e a meia dúzia de quilóme- tros a classe pobre que vivia mesmo ao lado de uma lixeira com mais de três quilóme- tros de comprimento. Mas o local que mais me marcou foi a duzentos quilómetros da capital de Mo- çambique, em Chibuto com cerca de 57.281 habitantes (dados recolhidos em 2008). Sempre que chegávamos a uma comunidade eramos recebidos de braços aber- tos pelo povo aí residente, como forma de agradecimento por essa recessão oferecía- mos algumas coisas que tínhamos levado para essa missão e assim mais familiariza- dos, tivemos oportunidade de conhecer os seus hábitos e a sua cultura. No seio da comunidade de Chibuto tive a oportunidade de contribuir com algo de mim, ajudando os jovens dessa paróquia na construção de uma casa típica da região, habitação composta por uma só divisão. Esta foi destinada a um senhor de idade, que era apelidado na região por vovô, que vivia numa habitação sem condições nenhumas. Para essa construção foram utilizados alguns materiais típicos da região como o caniço que é um tipo de cana de pouca espessura, este servia para a construção das paredes; utilizamos ainda matérias mais comuns nos países desenvolvidos para complementar a construção como por exemplo o cimento que servia para pavimentar o chão e chapas que serviam de telhado na mesma. Outro aspeto que me marcou foi o facto de todas as comunidades apresentarem características que são de louvar, encontrávamos neles uma bondade tremenda e um espírito de partilha nunca antes visto, como é o exemplo de uma comunidade que fomos visitar com o padre Amaro. Esta tinha várias dificuldades económicas como alimentares, mas mesmo assim fizeram questão de nos oferecer um almoço como forma de agrade- cimento pela nossa visita. Adorei também ter trabalhado com as crianças que me deram uma lição muito boa que para ser feliz não é preciso viver num berço de ouro, onde tudo que queremos aparece aos nossos pés e no momento em que lhes ofereci uma t-shirt, que para mim era uma simples objecto apercebi-me que para eles tinha um valor incalculável e isso foi visível quando eles olhavam para mim e me faziam um sorriso de orelha a orelha. John Campos ... um sorriso de orelha a orelha Testemunho As palavras não são suficientes para espelhar o quão especial foi tudo o que vivi. A nossa missão foi mais do que o esperávamos… foi enriquecedora, aventureira, extra- ordinária, familiar!!! Visitamos as várias escolinhas, principalmente a de Hulene B e o Centro de Dia de Hulene. Nesta experiência senti que desempenhava-mos um papel importante na vida da- quelas pessoas. Tenho saudades das danças africanas com os vovôs, de andar em cima dos pneus sempre a cair porque as crianças puxavam-me a pensar que me seguravam, dos abraços e beijinhos cheios de alegria e amor. Mas nem tudo o que vimos foi positivo, há imagens que vou guardar para resto da mi- nha vida. Perto da escola de Hulene B fomos ver uma lixeira com cerca de 3km, onde vimos casas em frente a todo o lixo de Maputo, as crianças a brincar descalças em cima de vidros, pessoas à procura de comida… Quando estivemos no Centro de Dia de Hulene, a diretora pediu-me para visitar uma vovó que não andava, por que tinha sido operada, mas como não tinha possibilidades económicas, nunca pode comprar canadianas e deixou de andar. Eram 15h e esta vovó ainda não tinha comido nada, nem ia comer, mas conseguimos arranjar-lhe uma refeição para aquele dia. Lembro-me de ela me dizer: “Quando fores para Portugal diz que esta velha sabe falar muito bem português e que manda muitos beijinhos.”. Em Chibuto ajudamos, juntamente com os jovens da paróquia, a construir uma casa pa- ra um vovô que vivia sozinho. Estivemos a colaborar com a Escolinha “Mãos Unidas” e ainda, fizemos parte do projeto SOPA, que consistia em dar uma refeição a pessoas que precisavam, como foi o exemplo de dois vovôs que tinham a seu cargo quatro netos abandonados pelos pais. Chego a Portugal cheia de marcas negras, não aguentei a avalanche de carinho e da alegria de todas aquelas crianças, até me levaram ao chão. Espero vir a ter muitas mais destas marcas, que apesar de desaparecerem fisicamente nunca serão esquecidas emocionalmente. A missão chegou ao fim, mas foi a primeira de muitas outras que desejo vir a realizar. Espero que mais alunos se juntem a nós. Ana Vieira Testemunho Vovós MISSÃO AMAR(ES)

Outubro’16 - aeamares.comaeamares.com/images/pdf/PAA/2016-2017/Boletim PAA nº01 - Missão... · Acreditamos que sempre que uma instituição educativa promove atividades de voluntariado,

  • Upload
    phamthu

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Outubro’16 - aeamares.comaeamares.com/images/pdf/PAA/2016-2017/Boletim PAA nº01 - Missão... · Acreditamos que sempre que uma instituição educativa promove atividades de voluntariado,

PAACTIVIDAD

ES

Agrupamento de Escolas de Amares

AAGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE AMARES

N.º 1 | | 2016/2017

AEA . E-Boletim outubro 16

AEAMARES

Outubro’16

N.º01 e-BOLETIM

Missão Amar(es):

Bernardino Silva

Um projeto, uma proposta de vida!

“Um sacrifício, para ser real, tem que custar, tem que doer, tem que nos esvaziar.”

Santa Teresa de Calcutá

As férias de verão são uma oportunidade para realizar tantas atividades com tan-

tas escolhas diversas e ocupar o tempo de forma diferente do habitual. Uma dessas es-

colhas é o voluntariado internacional. A oportunidade de se ampliar um desafio pessoal

que ao longo do ano se vai incrementando, e que nas férias o podemos estender por um

período maior de tempo dedicando-o aos outros, é a razão de tantos jovens e adultos

cumprirem esta escolha nas suas férias de verão.

O voluntariado é, hoje, um movimento que mobiliza em todo o mundo um grande

número de jovens e de adultos, sendo um instrumento de participação da sociedade civil

nos mais diversos domínios de atividade. Esta prática não se restringe ao campo social,

mas alarga-se à cultura, à educação, à justiça, ao ambiente, ao desporto e a outras di-

mensões do nosso quotidiano e tem vindo a responder às questões que continuamente

emergem do tecido social, económico ou político.

Neste contexto, nasceu o projeto Missão Amar(es) para os alunos do Ensino Se-

cundário da Escola Secundária de Amares, que através de um conjunto de ações de in-

teresse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada pelos alunos, no âmbito

de projetos sociais vários, procura além de incentivar o voluntariado em contexto escolar,

ao mesmo tempo, promover o agir local e o pensar global. A Educação para o Voluntari-

ado acaba por ocupar, deste modo, um lugar ímpar na preparação integral dos alunos e

ajudá-los a construir uma identidade pautada no bem comum.

Acreditamos que sempre que uma instituição educativa promove atividades de

voluntariado, mediadas e animadas pela escola oferece aos seus alunos a oportunidade

de participar ativamente na construção de uma sociedade mais coesa e mais solidária.

Partindo das experiências realizadas e da formação adquirida ao longo do Ensino

Secundário, desejamos incutir nos alunos que participam no Clube da Solidariedade e do

Voluntariado da Escola Secundária de Amares um espírito de partilha e experiências glo-

bais, nomeadamente em contextos de países em vias de desenvolvimento e, preferenci-

almente, de língua portuguesa. Assim, quisemos que o projeto Missão Amar(es) propor-

cionasse uma oportunidade a três alunos (duas jovens e um jovem) de realizarem uma

experiência de voluntariado internacional. Neste caminhar contínuo, conseguimos reali-

zar a nossa experiência no passado mês de agosto em Moçambique, concretamente di-

vidindo a missão entre Mavalane e Hulene, na província de Maputo e em Chibuto, pro-

víncia de Xai-Xai – Gaza. Definitivamente, uma experiência única de estar com os outros

mais desfavorecidos de contextos sociais e culturais bem diferentes do nosso. Construir

pontes entre nós e estes povos ajudam ao desenvolvimento local, porque é na proximi-

dade que se consegue obter o sucesso de uma relação que permita num curto período

de tempo deixar a marca da nossa missão, porque enquanto homens e mulheres procu-

ramos o equilíbrio e a justiça social entre todos.

A Missão Amar(es) que tem como lema um projeto, uma proposta de vida, é justa-

mente uma opção distinta de viver o verão. Sabemos que a humildade não nos torna

melhores que ninguém, mas acredito que nos torna diferentes de muitos. Desejo que a

Missão Amar(es) como projeto e proposta de vida, se perpetue com humildade.

Reviver uma missão é reencontrar partes inteiras de uma identidade que cresceu e nas-

ceu numa jornada verdadeiramente memorável.

Partir para Moçambique foi abalar para um choque vulnerável de existências que se de-

senhava num povo moldado pelos resquícios da escravidão. Uma realidade sufocante de

políticas desumanas combatidas por rebeldes era conspirada em cada casa e núcleo. A

cidade não feria pela pobreza , mas pela riqueza que arquitetava a Costa do Sol e inúme-

ras avenidas impiedosamente coloniais. Como é possível coexistir ilusoriamente a opu-

lência e o desfalque da humanidade?

Desde a Escola Secundária de Mavalane a Hulene B, foram várias as escolas que per-

corremos. Esta última era plantada nas imediações de uma lixeira de 3 km de extensão e

assegurava a educação de 180 crianças entre os 3 e 5 anos de idade. Foi nesta mesma

escolinha que entendi a imensurável importância que a educação tinha para estas comu-

nidades marginalizadas. Em todas as escolas era necessário o pagamento de propinas e,

mesmo em sufoco financeiro constante, existiam listas intermináveis de espera para o

ensino público. Inicialmente abismada com a incoerência da capital era agora presentea-

da com feixes surpreendentes de esperança. As escolas traziam orgulhosamente pinta-

das nas paredes o pensamento de Pitágoras: “Educai as crianças e não será preciso cas-

tigar os homens.”.

Chibuto era em tudo diferente à metrópole moçambicana que descansava a 200 km

no sul. Desde as paisagens de cimento substituídas por idílicos quadros quentes de terra

africana às ruas agora amplamente compostas de crianças imensas, Chibuto era estra-

nhamente familiar. Entre núcleos, escolas e construção de casas foi verdadeiramente ins-

pirador vaguear pelo mundo do pároco Amaro que se fazia acompanhar da Diana e So-

fia, duas leigas que transponham toneladas de boa energia por osmose a quem cruzasse

caminho. Conhecem aquele efeito psicadélico de sorrir sem razão aparente? Esse era o

meu inspirador estado em Chibuto. Tudo era motivo para ficar só mais um pouco, para

voltar e relembrar o caloroso “HOYO HOYO!” com que me recebiam. Portugal tinha fica-

do no hemisfério contrário mas o mundo era tão próximo que podia abraçá-lo de uma vez

só. O amor faz isto até aos mais fortes, torna-os loucamente frenéticos por algo maior do

que a sua própria existência.

Regressar foi saber que havia mundos paralelamente palpáveis onde a missão não se

fazia de léguas mas de uma vontade imensa de quebrar injustiças e concordâncias soci-

ais.

Regressar foi querer partir por conhecer um mundo que reveste cada ser com o potencial

de se tornar verdadeiramente extraordinário.

A vida encontrou-se ali, naquela missão!

A todos os que agora veem o que eu vi, KANIMAMBO!

Uma missão em Moçambique

Ana Luísa Amaro

KANIMAMBO

Desde o meu 5ºano de escolaridade que estive integrado na disciplina de Educa-

ção Moral Religiosa Católica, mas só no meu 9ºano é que me foram incutidos determi-

nados valores, de forma a estar na vida e ver de maneira diferente o voluntariado. Nes-

tes 4 anos de caminhada aprendi que ser voluntário é ter a oportunidade de contribuir

com algo, de uma forma livre e não estar à espera de receber nada em troca.

É difícil dizer em poucas ou até mesmo em muitas palavras aquilo que vi e vivi

com esta missão, mas é certo que todas estas experiencias vieram guardadas no meu

coração, para assim poder transmitir a todos aqueles que estiveram direta ou indireta-

mente envolvidos no projecto.

Chegado a Moçambique a 17 de agosto, nomeadamente a Maputo deparei-me

com duas realidades totalmente diferentes: a classe rica que vivia em habitações luxuo-

sas e com todas as condições necessárias para o dia a dia e a meia dúzia de quilóme-

tros a classe pobre que vivia mesmo ao lado de uma lixeira com mais de três quilóme-

tros de comprimento.

Mas o local que mais me marcou foi a duzentos quilómetros da capital de Mo-

çambique, em Chibuto com cerca de 57.281 habitantes (dados recolhidos em 2008).

Sempre que chegávamos a uma comunidade eramos recebidos de braços aber-

tos pelo povo aí residente, como forma de agradecimento por essa recessão oferecía-

mos algumas coisas que tínhamos levado para essa missão e assim mais familiariza-

dos, tivemos oportunidade de conhecer os seus hábitos e a sua cultura.

No seio da comunidade de Chibuto tive a oportunidade de contribuir com algo de

mim, ajudando os jovens dessa paróquia na construção de uma casa típica da região,

habitação composta por uma só divisão. Esta foi destinada a um senhor de idade, que

era apelidado na região por vovô, que vivia numa habitação sem condições nenhumas.

Para essa construção foram utilizados alguns materiais típicos da região como o caniço

que é um tipo de cana de pouca espessura, este servia para a construção das paredes;

utilizamos ainda matérias mais comuns nos países desenvolvidos para complementar a

construção como por exemplo o cimento que servia para pavimentar o chão e chapas

que serviam de telhado na mesma.

Outro aspeto que me marcou foi o facto de todas as comunidades apresentarem

características que são de louvar, encontrávamos neles uma bondade tremenda e um

espírito de partilha nunca antes visto, como é o exemplo de uma comunidade que fomos

visitar com o padre Amaro. Esta tinha várias dificuldades económicas como alimentares,

mas mesmo assim fizeram questão de nos oferecer um almoço como forma de agrade-

cimento pela nossa visita.

Adorei também ter trabalhado com as crianças que me deram uma lição muito

boa que para ser feliz não é preciso viver num berço de ouro, onde tudo que queremos

aparece aos nossos pés e no momento em que lhes ofereci uma t-shirt, que para mim

era uma simples objecto apercebi-me que para eles tinha um valor incalculável e isso foi

visível quando eles olhavam para mim e me faziam um sorriso de orelha a orelha.

John Campos

... um sorriso de orelha a orelha

Testemunho

As palavras não são suficientes para espelhar o quão especial foi tudo o que vivi. A nossa missão foi mais do que o esperávamos… foi enriquecedora, aventureira, extra-ordinária, familiar!!! Visitamos as várias escolinhas, principalmente a de Hulene B e o Centro de Dia de

Hulene. Nesta experiência senti que desempenhava-mos um papel importante na vida da-

quelas pessoas. Tenho saudades das danças africanas com os vovôs, de andar em cima

dos pneus sempre a cair porque as crianças puxavam-me a pensar que me seguravam,

dos abraços e beijinhos cheios de alegria e amor.

Mas nem tudo o que vimos foi positivo, há imagens que vou guardar para resto da mi-

nha vida. Perto da escola de Hulene B fomos ver uma lixeira com cerca de 3km, onde

vimos casas em frente a todo o lixo de Maputo, as crianças a brincar descalças em cima

de vidros, pessoas à procura de comida…

Quando estivemos no Centro de Dia de Hulene, a diretora pediu-me para visitar uma

vovó que não andava, por que tinha sido operada, mas como não tinha possibilidades

económicas, nunca pode comprar canadianas e deixou de andar. Eram 15h e esta vovó

ainda não tinha comido nada, nem ia comer, mas conseguimos arranjar-lhe uma refeição

para aquele dia. Lembro-me de ela me dizer: “Quando fores para Portugal diz que esta

velha sabe falar muito bem português e que manda muitos beijinhos.”.

Em Chibuto ajudamos, juntamente com os jovens da paróquia, a construir uma casa pa-

ra um vovô que vivia sozinho. Estivemos a colaborar com a Escolinha “Mãos Unidas” e

ainda, fizemos parte do projeto SOPA, que consistia em dar uma refeição a pessoas que

precisavam, como foi o exemplo de dois vovôs que tinham a seu cargo quatro netos

abandonados pelos pais.

Chego a Portugal cheia de marcas negras, não aguentei a avalanche de carinho e da

alegria de todas aquelas crianças, até me levaram ao chão.

Espero vir a ter muitas mais destas marcas, que apesar de desaparecerem fisicamente

nunca serão esquecidas emocionalmente.

A missão chegou ao fim, mas foi a primeira de muitas outras que desejo vir a realizar.

Espero que mais alunos se juntem a nós.

Ana Vieira

Testemunho

Vovós

MISSÃO AMAR(ES)