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3- Outubro 2009

SUMÁRIOOUTUBRO 2009/08

Mural ----------------------------------------------------04 Cartas OPINIÃO -------------------------------------------------05 Frei Tito 35 anos depois Júlio César Caldeira

ÁfrIca ---------------------------------------------------06 A Missão como reconciliação Michael Mutinda

PrÓ-VOcaÇÕES ---------------------------------------07 A vocação revela a nobreza do ser humano Rosa Clara Franzoi

VOlTa aO MuNDO ------------------------------------08 Notícias do Mundo Agência Ecclesia / Fides / ZENIT

ESPIrITualIDaDE ---------------------------------------10 Aprendendo com Maria Patrick Gomes Silva

TESTEMuNHO ------------------------------------------12 Discípulos missionários de Jesus Fátima Elisa dos Santos e Luís Baseggio

fÉ E POlÍTIca ------------------------------------------14 O tempo da política Humberto Dantas

fOrMaÇÃO MISSIONÁrIa --------------------------15 Fonte e critério da Missão Luiz Augusto Ramos Viera

JuVENTuDE MISSIONÁrIa ---------------------------19 Personagens em EducAção Vanessa Ramos DESTaQuE DO MÊS ----------------------------------20 Campanha Missionária 2009 Vitor Agnaldo de Menezes

ESPEcIal ------------------------------------------------22 A Mãe Consoladora. Mais vida em Jaguarari. Cristina Ribeiro Silva

IGrEJa ---------------------------------------------------23 As religiões a serviço da paz Mário de Carli

INfâNcIa MISSIONÁrIa -----------------------------24 É Missão de todos nós! Deus chama! Roseane de Araújo Silva

ENTrEVISTa fraNcIS NJOrOGE -------------------26 Identidade e inclusão Karla Maria

aTualIDaDE ---------------------------------------------28 Vamos caminhar, Povo de Deus! Jaime Carlos Patias

VOlTa aO braSIl --------------------------------------30 CNBB / CPT / Notícias do Planalto / revista Missões

E D I T O R I A L

A vOcAçãO dA IgRejA

1. Um novo olharpara uma nova Missão.

Arte: Cleber Pires

2 - 12ª Romaria a Pé em São Paulo.Foto: Jaime C. Patias

Evangelho de Marcos, primeiro texto catequético da comunidade primitiva, foi escrito com a finalidade de res-ponder à pergunta: “quem é Jesus”? Pedro faz a solene declaração “Tu és o Messias” (Mc 8, 29). Essa profissão de fé sintetiza quem Jesus é e faz: mestre, profeta, reve-lador, ungido pelo Espírito de Deus. Depois dessa primeira

resposta o Evangelho nos ajuda a entender que tipo de Messias é Jesus. Enviado pelo Pai, Ele anuncia a Boa Notícia do Reino. E foi só começar sua Missão que encontrou muita resistência por parte dos anciãos (latifundiários), dos sumos sacerdotes (políticos) e doutores da Lei (donos da verdade, do poder ideológico), todos membros do Sinédrio, o tribunal supremo daquele tempo. Sua vida neste mundo é marcada pelo conflito com os poderes e estruturas que rejeitam a novidade do Evangelho. O Messias (Cristo, em grego) sabe que será morto e fala disso abertamente. Mas as instituições de morte não terão a última palavra. Por sua fidelidade ao plano de Deus, Jesus é duplamente julgado pelos fariseus e romanos. É torturado, zombado e pregado numa cruz, mas ressuscita vencendo a morte, garantindo a vida eterna para todos. Ressuscitado, Jesus envia seus discípulos para dar continuidade à sua Missão em toda a terra.

Tendo passado mais de dois mil anos, o envio de discípulos e discípulas é extremamente atual. A Igreja existe para evangelizar e nos recorda que somos “Enviados para anunciar a Boa Nova” (Lc 4, 18). Essa é a ideia central da Campanha Missionária, realizada

durante o mês de outubro em todo mundo, que tem seu ponto mais alto no Dia Mundial das Missões, penúltimo domingo do mês (este ano, dia 18). A responsabilidade pelas Missões é de todos os batizados convocados a participar com orações, contribuições para projetos missionários em várias frentes ou colocando-se à disposição para dar testemunho de Jesus além de suas fronteiras geográficas, culturais e eclesiais. O objetivo é iluminar todos os povos com a luz do Evangelho. E não se trata de dar coisas, mas

Aquele que temos, a razão da nossa fé: Jesus Cristo. Mas, o que significa ser discípulo missionário de Jesus? A

resposta a essa pergunta nos é dada pelo próprio Mestre, em três condições: renunciar a si mesmo, tomar a cruz e segui-Lo (Cf Mc 8, 34). Quem estiver disposto a renunciar a si mesmo estará livre para a Missão. Generosidade, disponibilidade e gratuidade são valores fundamentais na vida dos discípulos e discípulas. Tomar a cruz é aceitar ser perseguido, e se necessário, “perder a vida” por causa do Reino. Seguir Jesus é aceitar ir com Ele até o fim, enfrentando todas as hostilidades da sociedade. Deveríamos fugir sempre da tentação de fazer com que o Messias se torne alguém segundo nossa imagem e semelhança, para nos tornarmos à imagem e semelhança Dele. Esta edição traz artigos, testemunhos, reflexões e informações para ajudar a viver a nossa vocação missionária muito além do Mês das Missões, lembrando que evangelizar constitui a missão essencial da Igreja. A Conferência de Aparecida evidenciou essa vocação da Igreja. As matérias aqui publicadas, retratam a Missão no plural vista como testemunho de vida, primeiro anúncio (Ad Gentes), diálogo inter-religioso, nova evangelização, reevangelização, justiça, paz e integridade da criação, promoção humana, com especial chamada para a Missão além-fronteiras com um olhar de discípulo.

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Criança em Bangladesh.

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Ano XXXVI - Nº 08 Outubro 2009

Rua Dom Domingos de Silos, 11002526-030 - São PauloFone/Fax: (11) 2256.8820Site: www.revistamissoes.org.brE-mail: [email protected]

Redação

Diretor: Jaime Carlos Patias

Editor: Maria Emerenciana Raia

Equipe de Redação: Patrick Gomes Silva, Rosa Clara Franzoi, Júlio César Caldeira, Karla Maria, Mário de Carli eMichael Mutinda

Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard, Roseane de Araújo Silva, Humberto Dantas, Dirceu Benincá, Gianfranco Graziola, Ricardo Castro e CecíliaSoares de Paiva

Agências: Adital, Adista, CIMI,CNBB, Fides, IPS, MISNA, Radioagência Notícias do Planalto e Vaticano

Diagramação e Arte: Cleber P. Pires

Jornalista responsável:Maria Emerenciana Raia (MTB 17532)

Administração: Luiz Andriolo

Sociedade responsável: Instituto Missões Consolata(CNPJ 60.915.477/0001-29)

Impressão: Edições LoyolaFone: (11) 2914.1922

Colaboração anual: R$ 50,00BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2Instituto Missões Consolata(a publicação anual de Missões é de 10 números)

MISSõES é produzida pelosMissionários e Missionárias da ConsolataFone: (11) 2256.7599 - São Paulo/SP (11) 2231.0500 - São Paulo/SP (95) 3224.4109 - Boa Vista/RR

Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Missionária Latino-Americana) e da UCBC (União Cristã Brasileira de Comunicação Social)

Outubro 2009 -

Mural do LeitorRevista Missões

A revista Missões traz em seu conteúdo uma grande ajuda para nós, animadores das CEBs, mantendo-nos informados. Sou imensamente grata por ter conhecido e ajudado a divulgar a revista para os ani-madores de nossa diocese. Nela há muitas coisas belas e instrutivas, fotos e artigos que são usados em muitas comunidades e paróquias na preparação da liturgia. Na edição de setembro amei o texto “CEBs e o Grito da Amazônia” e a entrevista que o padre Jaime Patias fez com a irmã Julieta Amaral. O texto sobre o encontro das CEBs foi muito esclarecedor para nós que não fomos ao Intereclesial. Um grande abraço!

Bernadete Oliveira Mota, Comunicação das CEBsDiocese de São José dos Campos, SP.

Formação para a MissãoEntre as atividades da Casa de Forma-

ção IMC de Santa Luzia, em Manaus, AM, destacamos o encontro e a convivência com rostos novos enviados para a mis-são. O padre Bernard Dennis, imc, recém chegado de Uganda, esteve conosco por alguns meses, trazendo contribuições que nos animaram. Agora ele se encon-tra em Brasília participando do curso de formação e inculturação missionária no CCM – Centro Cultural Missionário. Passaram também os padres Fernando Rocha, Afonso Amane, Sérgio Weber e Mário Campos. Este partilhou seu trabalho na missão de Maturuca, área da Raposa Serra do Sol. Foi um momento especial para todos nós, celebrado com a partilha de nossos compromissos assumidos como nova maneira de viver.

Antonio José Araújo da Luz, seminarista imcManaus, AM.

Direitos dos IndígenasA equipe missionária da Missão Ca-

trimani, juntamente com as assessoras Helaine e Judite, advogadas, acompanhou a segunda etapa do Curso de Direitos, realizada no Catrimani entre os dias 22 e 27 de agosto. Participaram cerca de 65 Yanomamis, entre lideranças, professores, agentes de saúde, microscopistas e alunos das diferentes comunidades da Região. Na maloca de Waroma, no dia 21 já tinham chegado os Yanomamis das diferentes co-munidades. Chegaram também os napëpës

(não-Yanomamis): membros da equipe e assessoras. Os participantes foram acolhidos com pinturas corporais, cantos e danças. Após a apresentação, foram organizados em sete grupos, cada um com um secretário-responsável e um napëpë. Definido o horário e as responsabilidades, os grupos dedicaram-se a recuperar a memória do curso de 2008, através da cartilha então produzida. Durante a noite, diversas lideranças tomaram a palavra e trataram de assuntos ligados ao tema dos direitos, em especial dos Povos Indígenas, lembrando também os anos de luta que antecederam a homologação de suas terras. Os resultados eram apresentados em plenários. Foram destacados aspectos da Constituição Federal, direitos e deve-res, a organização do Estado brasileiro e dados sobre os Povos Indígenas no Brasil. Alguns grupos abordaram o tema dos conflitos em curso nas terras indíge-nas. Na sequência foram colocadas seis perguntas para aprofundar a discussão: Qual a história da demarcação? Como é

a organização interna dos Yanomamis? Quais as leis dos Yanomamis? Quais suas lideranças? Como os Yanomamis resolvem os problemas? Quais são os principais problemas das comunidades? A participação nos trabalhos de grupo foi muito boa com destaque para as con-tribuições dos patapës (lideranças mais experientes) que fizeram memória da história da demarcação e dos aspectos da vida dos Yanomamis.

Diácono Corrado Dalmonego, imcMissão Catrimani, AM.

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Yanomami em estudo sobre direitos indígenas.

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uando falo em memória eu não penso simplesmente em fazer com que uma pessoa sofredora permaneça na memória do povo. Penso muito mais. Comparo muito a vida de Tito com a de Jesus. Jesus quando morre, deixa um memorial, a eucaristia é uma memória per-manente de sua mensagem. Ele subverteu os valores de seu tempo. E ele não foi morto como um simples

ladrão. Ele foi morto na cruz, que era a pena concedida aos subversivos. Então é essa memória subversiva que eu acredito que existe nesse ideal de frei Tito”. Com estas palavras de frei Fernando de Brito, dominicano, companheiro de prisão de frei Tito, queremos recordar os 35 anos da morte deste “mártir da luta pelos direitos humanos” no Brasil, que não é só a história de uma vida, mas parte da história do próprio país.

Vida a serviço do ReinoTito de Alencar Lima, cearense de Fortaleza, nascido no dia 14

de setembro de 1945, era o filho caçula de uma família simples, unida e religiosamente forte. Tito sempre revelou um espírito de liderança a partir de um compromisso político-evangélico. Em 1963 foi eleito dirigente regional da Juventude Estudantil Católica (JEC) do Nordeste, um dos braços da Ação Católica no Brasil, procurando articular iniciativas a partir do Evangelho na busca por mudanças na sociedade.

Aos 20 anos decide entrar na ordem dos dominicanos, onde teve como companheiros os freis Betto, Fernando de Brito, Yves do Amaral, entre outros. Depois de fazer o Noviciado em Belo Horizonte começou, em 1968, a estudar Filosofia em São Paulo e a fazer cursos complementares na USP, onde conheceu os movimentos de resistência ao regime militar e tornou-se um dos organizadores do famoso Congresso de Ibiúna, da UNE. Lá foi preso, pela primeira vez, com vários jovens, sendo fichado e tornando-se alvo de perseguições da repressão militar. Foi solto, mas voltou a ser preso em 4 de novembro de 1969 pela acusação anterior e por seu suposto envolvimento com o “guerrilheiro” Carlos Marighela. Nos porões da ditadura foi torturado física

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Frei Tito35 anos depois

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida

por seus amigos”. (Jo 15,13)

texto e foto de Júlio César Caldeira e psicologicamente pelo delegado Fleury e seus subordinados durante três dias, no DOPS (Departamento da Ordem Política e Social). Tentaram forçá-lo a admitir que os dominicanos haviam pegado em armas (o que não aconteceu!) e a entregar os demais “guerrilheiros”. As torturas foram fortíssimas... Na prisão, escreveu sobre elas num texto que percorreu o mundo, ganhando desta-que nos principais jornais internacionais, inclusive o prêmio de “reportagem do ano” (1970) da revista Look (EUA), tornando-se um símbolo da luta pelos direitos humanos.

Foi banido do país em 1971, passando pelo Chile, Itália e recebendo asilo na França, onde continuou sendo perseguido pelos traumas das torturas que sofreu, conforme nos lembra frei Fernando: “escapou do sofrimento físico, mas jamais conseguiu livrar-se do sofrimento psicológico”. Aos 28 anos, no dia 10 de agosto de 1974, sucumbiu em terras estrangeiras, consumido pela dor e pelas lembranças sombrias do passado. Sobre sua morte trágica, frei Fernando afirma que “quando Tito se mata, mata os torturadores e liberta os torturados”, pois “é melhor morrer do que perder a vida”, como havia dito o próprio Tito.

Somente em 1983 o governo brasileiro autorizou o retorno de seu corpo para São Paulo. Na época, o cardeal Paulo Evaristo Arns frisou que Tito afinal encontrara do outro lado da vida, a unidade perdida. Atualmente seus restos repousam em Fortaleza.

Frei Tito hojeRecordar frei Tito, como afirma a irmã dominicana Maria

Aparecida Ribeiro, “é reacender a certeza do seguimento de Jesus, arriscando a própria vida: ele foi um lutador em nome do Evangelho. Da mesma forma, é relembrar a energia e lucidez da juventude, que acredita no poder da mobilização para mudar os rumos do país, tendo a esperança de que um mundo novo, e diferente, é possível”.

Para conhecer mais sobre frei Tito acesse os sites www.adital.com.br (Agência de Informação Frei Tito para América Latina - Adital), www.teologiaop.com.br (Escola Dominicana de Teologia - EDT) e o livro Batismo de Sangue, de frei Betto.

Júlio César Caldeira, imc, é seminarista e estudante de teologia na Escola Dominicana de Teologia – EDT, em São Paulo.

Frei Betto, Aloysio Nunes Ferreira, frei Oswaldo Rezende e frei Vicente Micallef, durante homenagem a Frei Tito.

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território da Rodésia do Norte, hoje Zâmbia, foi ad-ministrado pelas colônias britânicas da África do Sul desde 1891, até ser assumido pelo Reino Unido em 1923. Durante a década de 20 do século passado, os avanços na mineração estimularam o desenvolvimento e a imigração. O cristianismo é a maior religião no país com 75% de fiéis, seguido pelo islamismo, hinduísmo

e as religiões tradicionais, que dividem os 25% restantes da população. O clima na Zâmbia é moderado, com temperaturas que variam de 16º a 21ºC. A economia é fraca, sendo que o desemprego é espantoso e a maioria do povo depende da agricultura. Outros setores que sustentam economicamente o país são o turismo e a mineração de cobre.

Obstáculos e otimismoDe 4 a 25 de outubro será realizado em Roma o segundo

Sínodo dos Bispos da África, com o tema, “A Igreja da África no serviço de reconciliação, justiça e paz: vós sois o sal da terra... vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13-14). O tema foi escolhido para destacar a importância de se consolidar a estabilidade e a paz no continente. Nesse contexto, a Igreja na Zâmbia se encontra num momento sério da missão Ad Intra (interna, em casa) como reconciliação. Embora a Igreja não tenha todos os meios para resolver os conflitos, deve, no entanto, ser um agente de justiça, perdão e reconciliação nas várias dimensões da vida neste país. Como uma voz profética deve estar vigilan-

de Michael Mutinda

Ote, sem rodeios, na transmissão dos valores do Evangelho e no seu ensino social. Reconciliação, entendida como símbolo fundamental de viver como filhos e filhas de Deus, exige a vivência do perdão e do entendimento, o compromisso com a união, justiça e paz. Nessa linha de pensamento, a Igreja da Zâmbia, e a África como um todo, necessita uma reconciliação em cinco níveis: com o indivíduo, com o outro, com os ances-trais, com a terra e com Deus.

Neste momento histórico, a Igreja na Zâmbia está empe-nhada em promover a justiça que abrange relações pessoais e estruturais, que respeita a dignidade humana, e leva em consideração o desenvolvimento da sociedade inteira. A Igreja também trabalha para promover a paz entendida não apenas como ausência de conflitos armados, mas como a real presença da justiça. Nesse campo o país tem o desafio de superar os obs-táculos e ser mais otimista com relação a uma reconciliação que abranja: uma política democrática, um governo sem corrupção, uma economia sem exploração, uma sociedade sem opressão dos pobres, uma ecologia sem ameaça à criação, uma cultura conservando os valores, e uma Igreja com credibilidade e ponto de referência.

Diante dos obstáculos e oportunidades, a comunidade cristã está otimista de que a reconciliação com toda a criação é possível. Eis o desafio, o privilégio, a oração e a missão Ad Intra.

Michael Mutinda, imc, é seminarista queniano, estudante de Teologia no ITESP, São Paulo.

A Missãocomo reconciliaçãoA Rodésia do Norte tornou-se independente com o nome de Zâmbia sob a presidência de Kenetth Kaunda, em 1964. O país localiza-se no Centro Sudeste da África e faz fronteira com o Congo, Malauí e Tanzânia. A população total é de aproximadamente 12 milhões, cuja maioria é Bantu. A língua oficial é o inglês e sua capital é Lusaka. Jovens na Zâmbia preservam dança tradicional.

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Quer ser um missionário/a?Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva MoratelliAv. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui - 02611-001 - São Paulo - SPTel. (11) 2231-0500 - E-mail: [email protected]

Centro Missionário “José Allamano” - padre Patrick Gomes SilvaRua Itá, 381 - Pedra Branca - 02636-030 - São Paulo - SPTel. (11) 2232-2383 - E-mail: [email protected]

Missionários da Consolata - padre César AvellanedaRua da Igreja, 70-A - CXP 3253 - 69072-970 - Manaus - AMTel. (92) 3624-3044 - E-mail: [email protected]

de Rosa Clara Franzoi

o criar o homem e a mulher, Deus os quis diferentes dos demais seres criados e por isso, conferiu-lhes capacidades que os distinguem substancialmente. Brindou-os com inteligência, vontade e liberdade. Com estas importantes qualidades, unidas a muitas outras inerentes à própria pessoa humana, homem e mulher

tornaram-se aptos a organizarem a sua própria existência, de modo a conseguirem o objetivo principal pelo qual foram coloca-dos neste mundo, revelando assim uma nobreza toda particular. Deus constantemente adapta-se à pedagogia humana. Leva a pessoa, desde criança, a gostar do que faz e a descobrir, aos poucos, as suas tendências. Lentamente a impulsiona a escolher o seu tipo de vida. Deus incentiva, na pessoa, a sua parte inata: tendências, qualidades, experiências afetivas e, dentro delas, lança seus convites, seus apelos para determinadas funções, missões, que chamamos de “vocações”.

Uma vocação para todosNo Antigo Testamento, no livro do Levítico encontramos

este convite de Deus: “Sede santos porque eu, vosso Deus, sou santo (Lv 19, 2)”. Portanto, o chamado à santidade é universal, é comum a todos. A verdade é que o termo santidade, no mais das vezes, assusta. Provavelmente é porque não conhecemos o seu verdadeiro sentido. Pensamos que santos e santas são apenas os que veneramos nas igrejas; e não sabemos que aqueles ou aquelas, reconhecidos pela Igreja como tais, foram pessoas como

nós, com defeitos e virtudes. Só que eles ouviram o convite do Senhor a configurar-se com ele, vivendo como ele viveu e fazendo o que ele fez. Esforçaram-se no exercício do bem, na prática das boas obras, evitando o mal. Acolhendo e praticando o chamado de Deus, viveram santamente. Portanto, ser santo significa amar a Deus e deixar-se guiar por Ele na prática dos mandamentos que, de dez, foram resumidos por Jesus em dois: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Neste sentido, podemos ter a certeza de que existem muitos santos em nosso meio; pessoas que procuram viver como Jesus vi-veu, fazendo o bem a todos; pessoas que esquecendo-se de si mesmas vão ao encontro dos mais necessitados, sem esperar algo em troca e fazem isto, simplesmente porque aprenderam a lição de Jesus, que no Evangelho diz: “Quem fizer o bem a um destes pequeninos é a mim que o está fazendo”(Mt 25, 40b). “Não tenhamos medo de ser santos” (José Allamano).

Retorno ao sagradoNestes últimos tempos percebe-se um forte despertar desta

vocação, que de certa forma, coincide com o retorno ao sagrado. Há em todo lado, também fora do ambiente religioso, uma grande busca do transcendente, um desejo profundo do encontro com o Absoluto, visto como aquele que dá pleno sentido à existência humana. E um fenômeno, que o Concílio Vaticano II denomina “sinal dos tempos”. E não é difícil entender este fenômeno. Não obstante todos os avanços das tecnologias, de todas as descobertas, as pessoas percebem que tudo aquilo não consegue preencher o vazio que experimentam e que não as deixa satisfeitas. Quantos movimentos, quantas filosofias de vida apregoam a prática do bem como caminho para conseguir a harmonia e a paz interior e o bem estar. Mesmo fora do âmbito da fé, e de maneira indireta, esta pessoas reconhecem que existe alguém, acima de tudo e de todos, que vem ao encontro do ser humano e o orienta ao seu fim principal nesta terra: ser feliz e realizado.

Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.

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A vocação revela a nobrezado ser humano

Para refletir:Para continuar a reflexão, ler o texto bíblicoLv 19, 1-4 e responder:

1. A imagem que temos de Deus influencia muito o nosso ser e o nosso agir. Qual é a imagem de Deus que alimentamos?

2. Temos consciência de ser pessoas vocacionadas, chamadas a dar a nossa resposta? Que ideia nós fazemos da santidade?

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Estados UnidosCaritas pede fim da corrupção

Países ricos e Estados mais pobres, todos têm o dever de acabar com a corrupção. Este foi o apelo lan-çado pela Caritas Internacionalis a 50 líderes religiosos e diretores de diversas agências humanitárias numa carta enviada ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pedindo a multiplicação de esforços contra esta praga. A carta frisa que a corrupção tira a “oportunidade e a esperança”, sendo a maior causa de pobreza nos países em vias de desenvolvimento. Por isso, acabar com a corrupção é “um imperativo moral” para remover uma “barreira intransponível” que impede, sobretudo, a população mais pobre, de ascender a uma formação de qualidade e ter assistên-cia sanitária. A dispersão de fundos públicos, a perda do investimento e a redução das receitas geradas pelos impostos afetam principalmente os pobres. “A transparência e a participação da sociedade civil” são fundamentais para “criar um consistente e crível pro-cesso de revisão”. Uma mudança fundamentada nestes princípios, aponta o documento, será um “claro sinal” dado a todos quantos têm responsabilidades políticas “de por um fim ao flagelo da corrupção. A honestidade e integridade são valores morais” que estão subjacentes a qualquer tentativa de lidar com práticas corruptas. O empenho da sociedade civil e dos grupos religiosos é uma importante contribuição para a promoção de uma mudança e para a implementação da Convenção da ONU de 2003 contra a corrupção, o primeiro tratado global para harmonizar os esforços contra o fenômeno, lembra a Caritas.

SudãoConflito em Darfur

O comitê central do Conselho Mundial das Igre-jas - CMI, voltou a discutir o problema da violência no Sudão durante sua reunião em Genebra. Desde 2003, “o conflito em Darfur desatou uma descontrolada onda de violência que teve como resultado a morte de milhares de civis e uma imensa crise humanitária”, diz uma “Declaração sobre a crise de Darfur no contexto do Sudão”, do CMI. A declaração adotada pelo comitê central “condena as atrocidades massivas cometidas contra civis inocentes em Darfur”. Intima o governo do Sudão a “assumir a responsabilidade plena de prote- Fontes: Agência Ecclesia, Fides, ZENIT.

ger seus cidadãos” sem discriminações por questões étnicas nem por nenhum outro tipo de afiliação e “permitir a assistência humanitária ininterrupta para alcançar toda a população que sofre em Darfur”. Tam-bém chama o governo do Sudão a cumprir com todas as declarações e acordos que firmou, sendo o mais importante o Acordo de Paz e Entendimento, firmado com o Movimento Exército de Libertação do Povo do Sudão, em 2005. A declaração expressa seu reconhe-cimento pela assistência proporcionada pelas forças de paz das Nações Unidas e a União Africana - UNAMID em Darfur. Também agradece o “rol significativo das Igrejas do Sudão empenhadas em promover o diálogo inter-religioso e trabalhar pela paz, a justiça, a reconci-liação e o respeito à dignidade e o bem-estar de todos os habitantes do país”. Finaliza alentando os cristãos de todo o mundo a orar “pelo fim das hostilidades em Darfur e uma paz duradoura no Sudão”.

RomaSínodo da África

A África pode se converter em um exemplo para o resto do mundo com relação à convivência pacífica e o diálogo entre as religiões, especialmente com o Islã. Assim explicou, em uma entrevista publicada pelo L'Osservatore Romano em sua edição de 28 de agosto, dom Chidi Denis Isizoh, membro do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, em referência aos temas que serão tratados no Sínodo Especial para a África, previsto para este mês de outubro. Dom Isizoh, originário da Nigéria, explicou que a experiência de diálogo entre as religiões é vivida na África cotidiana-mente, em todos os âmbitos e níveis, e que somente em alguns países existem conflitos. Segundo o bispo, na maior parte dos lugares, cristãos em geral, animis-tas e muçulmanos vivem e trabalham juntos, apesar da centralidade que a religião ocupa em sua vida. A religião na África, explicou, “não é algo separado das demais atividades da existência: é estilo de vida”. Este diálogo se baseia “na vida e na cooperação, em que cada pessoa expressa os ideais de sua religião: ser bons vizinhos, honestos, ajudar quem tem dificuldades, colocar o dinheiro e as capacidades à disposição do bem comum do povo, participar das decisões e lutar contra o crime”. Concretamente, no caso do Islã, dom Isizoh destacou que a relação é boa na maior parte dos países e que o conflito, em geral, é a exceção. “Esta é uma boa notícia que a mídia frequentemente não divulga”, comentou. Mais ainda, nos casos de confli-to, muitas vezes os líderes políticos e alguns grupos com interesses “manipulam os sentimentos religiosos para alcançar seus próprios objetivos”. Com relação ao tema do Sínodo: “A Igreja na África a serviço da reconciliação, da justiça e da paz”, dom Isizoh comentou que um dos maiores obstáculos que a paz encontra hoje no continente é a herança do colonialismo. “Em sua maior parte, os países africanos sofrem as con-sequências da fusão inadequada e forçosa de povos diferentes - que a mídia define frequentemente como grupos tribais - realizada pelo colonialismo”.

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á é uma longa tradição que o mês de outubro seja dedicado ao tema das Missões, o assim chamado mês missionário. No decorrer de seus 31 dias, procuramos rezar, refletir e cooperar com a obra missionária da Igreja em todos os quadrantes do mundo. E isso é muito bom.

Entretanto, se considerarmos isso de um outro ponto de vista, é pena que a Igreja tenha a necessidade de estabelecer um mês missionário, pois isso atesta que, nos demais meses, a missão não é o epicentro da vida dela. O que não deixa de ser uma lás-

Intenção Missionária

de Vitor Hugo Gerhard

J“O Congresso Missionário Indiano é, por um lado, a cele-

bração dos dois mil anos de cristianismo na Índia, mas também um chamado atualíssimo para renovar a nossa fé”, é o que afirma o cardeal Oswald Gracias, presidente da Conferência Episcopal da Índia, falando dos trabalhos do Congresso, que será realizado em Mumbai de 14 a 18 de outubro. Já foi apre-sentado o novo site www.indianmissioncongress.com onde será possível acompanhar constantemente os trabalhos do evento e obter informações. A finalidade do Congresso é “aprofundar a fé de cada fiel, reconhecer o próprio direito-dever na obra missionária, sensibilizar o povo de Deus sobre as necessidades das missões e sobre a necessidade de proclamar Cristo ao mundo inteiro”. O Congresso foi preparado nos últimos meses

por equipes em todas as dioceses, que se empenharam em fazer reflexões, sugestões, projetos a serem incluídos no documento preparatório, que delineará os desafios e as propostas para a missão na vasta nação indiana. O evento foi estabelecido na esteira do Congresso Missionário Asiático e pretende atualizar e contextualizar as indicações e os desafios surgidos no grande evento celebrado pelas Igrejas do continente asiático na Tailândia em 2006. “A evangelização não é uma das tarefas da Igreja, é a única tarefa”, afirmam os organizadores, destacando que o Congresso poderá aumentar a sensibilidade missionária na Igreja indiana. Serão reunidos bispos, delegados e teólogos das dioceses dos três ritos presentes na Índia: latino, siro-malabarês e siro-malankares. Fonte: Fides

Índia realiza Congresso Missionário

Para que o Povo de Deus, que recebeu de Cristo o mandamento de ir pregar o

evangelho a todas as criaturas, assuma com empenho a responsabilidade missionária e a

considere como o maior serviço que pode prestar à humanidade.

tima pois, ou a Igreja é missionária pela sua própria natureza e constituição, ou ela está fora da finalidade pela qual foi criada.

Assim que, se quisermos ver essa intenção missionária tornar-se uma realidade permanente entre os cristãos, algumas providências são necessárias e urgentes, a saber:

- Incluir imediatamente a teologia da missão nos currículos de teologia dos seminários e nas casas de formação para a vida consagrada. Uma Igreja que não reflete os fundamentos da sua própria origem, acaba se desviando de seus propósitos;

- Incluir o tema missão nos cursos de formação dos leigos, ministros e na formação permanente do clero. Uma Igreja que não atualiza seus fundamentos, acaba por deixá-los nos porões da sua história e vira tema de arqueologia;

- Incluir tarefas na linha da missão na catequese, na liturgia semanal e nos movimentos apostólicos, pois a palavra, o rito e a mística, sem perspectiva missionária, perde seu sabor e sua fisionomia se desfigura.

Dom Pedro Casaldáliga já nos lembrava, faz um bom tempo, que cada cristão deveria, periodicamente, retornar à sua pia batismal para, nela, reavivar o espírito missionário recebido no batismo. Mesmo quando a pia batismal foi apenas uma bacia de plástico e uma jarra de suco. Quando se vulgariza o batismo, se mata a Missão.

Vitor Hugo Gerhard é sacerdote diocesano de Novo Hamburgo e trabalha na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Canela, RS.

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Infância e Adolescência Missionárias no Encontro do COMIRE Sul1, Nazaré Paulista.

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Outubro 2009 -

Todo brasileiro tem em Nossa Senhora Aparecida uma mãe especial, sempre pronta a ouvir as suas preces e a levá-las Àquele que tudo pode.

elebrar a festa de Nossa Se-nhora Aparecida, no dia 12 de outubro, é uma ocasião especial para todo o povo brasileiro. Cada um manifesta à sua maneira o seu carinho e a sua devoção

pela Mãe de Deus e nossa. A Ela são levadas as preces de tanta gente que se encontra em momentos de aflição e também os louvores pelos pedidos atendidos. Aproveitando esta festa, nada melhor que olhar para Maria e aprender dela os ensinamentos, as atitudes para ser discípulo e discípula de Jesus.

O texto das bodas de Caná, que o Evangelho de João nos apresenta é ótimo para dar início a esta “lição” (João 2, 1-12).

IntroduçãoO episódio está inserido na parte

introdutória do quarto Evangelho (que vai de 1, 19 a 3, 36). Nesta introdução, João apresenta um conjunto de cenas, com contínuas entradas e saídas de persona-gens, como se estivéssemos no palco de um teatro, destinadas a apresentar Jesus e o seu programa. João explicitamente afirma (cf. Jo 2, 11) que o episódio per-tence à categoria dos “sinais” (semeiôn, em grego): trata-se de ações simbólicas, de sinais indicadores, que convidam a procurar, para além do episódio concreto, uma realidade mais profunda para a qual aponta o fato narrado.

LeituraO cenário de fundo do episódio é o

das bodas, ou seja, de um casamento que acontece no terceiro dia (2, 1); uma leitura atenta ao primeiro capítulo nos levará a entender que se trata do terceiro dia após o convite feito à Felipe para seguir Jesus. No entanto, trata-se do sétimo dia, numa

Cde Patrick Gomes Silva

Aprendendo com Maria

alusão ao livro de Gênesis, assim este seria o sétimo dia da semana inaugural, símbolo da nova Criação.

A imagem do casamento era frequen-temente usada para refletir a relação de amor entre Deus e o seu povo. Em outras palavras, estamos no contexto da “aliança” entre Israel e seu Deus. Nesta “aliança” a certa altura, falta o vinho. O “vinho”,

elemento indispensável nas “bodas”, é símbolo do amor entre o esposo e a esposa (cf. Cântico dos Cânticos 1, 2; 4, 10; 7, 10; 8, 2). Constata-se, portanto, a realidade da antiga “aliança”: tornou-se uma relação seca, sem alegria, sem amor e sem festa, que já não propicia o encontro amoroso entre Israel e o seu Deus. Esta realidade de uma “aliança” estéril e falida é representada pelas “seis talhas de pedra destinadas à pu-rificação dos judeus”. O número seis evoca a imperfeição, o incompleto; a “pedra” evoca as tábuas de pedra da Lei do Sinai e os corações de pedra de que falava o profeta Ezequiel (cf. Ez 36, 26); a referência à “purificação” evoca os ritos e exigências da antiga Lei que revelavam um Deus susceptível, zeloso, impositivo, que guarda distância: ora, um Deus assim pode-se temer, mas não amar. As talhas estão “vazias”, porque todo este aparato era inútil e ineficaz: não servia para aproximar a pessoa de Deus, mas sim para afastar.

Detenhamo-nos, agora, nas persona-gens apresentadas. Em primeiro lugar, a “mãe”: ela “estava lá”, como se perten-cesse às bodas; por outro lado, é ela que se dá conta do intolerável da situação (“não têm vinho”): representa o Israel fiel, que tinha consciência da realidade e que esperava que o Messias resolvesse a situação. Temos, depois, o “chefe de mesa”: representa os dirigentes judeus, instalados comodamente, que não se apercebem – ou não estão interessados em entender – que a antiga “aliança” caducou. Os “serventes” são os que colaboram com o Messias e que estão dispostos a fazer tudo “o que Ele disser” (cf. Ex 19, 8) para que a “aliança” seja revitalizada. Temos, finalmente, Jesus, aquele que irá fazer com que a festa re-comece ao transformar a água em vinho, desta forma, uma nova vida nasce.

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11- Outubro 2009

Passos da Leitura Orante da PalavraDisposição: é importante criar um ambiente adequado que favoreça orecolhimento e a escuta da Palavra de Deus.

1. Invocação ao Espírito SantoPeça o auxílio do Espírito Santo para acolher a Palavra. Você não vai “estudar”a Palavra, vai escutar o que Deus tem a lhe dizer. Repita: “Envia, Senhor,o teu Espírito”.

2. Leitura (o que a Palavra diz em si) Objetivo: Conhecer bem o texto (Jo 2, 1-12)• Ler devagar e sem pressa!• Sublinhar o que achar importante• Ler os comentários presentes na Bíblia• Transcrever algumas frases ou palavras, se achar útil Algumas perguntas podem ajudar:Quais são as personagens? Onde decorre a ação?Quando acontece? O que fazem as personagens?

3. Meditação (o que a Palavra diz hoje a mim)Reler o texto em primeira pessoa, colocando-se na pele da personagem!Encontrar a afirmação central, depois: Repetir - MemorizarConfrontar a sua vida atual com a Palavra escutada:a. Sua vida com Deusb. Sua vida com os outrosc. Sua vida consigo mesmo

4. Oração (o que a Palavra me faz dizer)Responder à Palavra escutada através da oração. Fazer isto em três etapas:1. Pedindo perdão pela Palavra não vivida2. Agradecendo e louvando pelas maravilhas que Deus operou e operaem sua vida3. Fazendo seus pedidos a Deus, de modo especial, pedindo o dom doEspírito Santo.

5. Contemplação (a Palavra me leva ao Coração de Deus)Sinta a presença de Deus, não é tempo de palavras, mas apenas de silêncio.Permita que Deus fale no silêncio, lugar privilegiado de Sua presença.

6. Missão e Ação (a Palavra me leva aos outros)A Palavra não nos pode deixar indiferentes, depois de escutar o que Deustem a dizer, é tempo de descer da montanha e ir ao encontro dos irmãos eirmãs e de se colocar em ação/missão: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.

e o Novo Testamento, dá um “empurrão” a Jesus para que comece a sua “hora”. Se o diálogo entre Jesus e Maria parecia não levar a nenhuma solução, a atitude de Maria após o seu término é surpreen-dente: “fazei o que Ele vos disser”. Total confiança no seu Filho, dessa confiança nasce a “salvação”.

O “salvador” da festaÉ a Jesus que o Israel fiel (a “mulher”/

mãe = Maria) se dirige no sentido de dar nova vida a essa “aliança” caduca; mas o Messias anuncia que é preciso deixar cair essa “aliança” onde falta o vinho do amor. A obra de Jesus não será preservar as instituições antigas, mas apresentar uma radical novidade… Isso acontecerá quando chegar a “Hora” (a “Hora” é, em João, o momento da morte na cruz, quando Jesus derramar sobre a humanidade essa lição do amor total de Deus).

O episódio das bodas de Caná anun-cia, portanto, o programa de Jesus: trazer à relação entre Deus e os homens o vi-nho da alegria, do amor e da festa. Este programa realizar-se-á em plenitude no momento da “Hora” – da doação total por amor.

MeditaçãoCom qual das personagens que parti-

cipam das bodas nos identificamos: com o chefe de mesa, comodamente instalado numa religião estéril, vazia e hipócrita, com a “mulher”/mãe que pede a Jesus que resolva a situação, ou com os “serventes” que vão fazer “tudo o que Ele disser” e colaborar com Jesus no estabelecimento da nova realidade?

Maria foi perspicaz e atenta ao proble-ma dos noivos, notou a falta do elemento fundamental da festa: o “vinho”. Somos pessoas atentas às necessidades dos outros ou sempre fechadas em nós mes-mas e nas nossas necessidades? Será que somos capazes de ver que falta o “vinho” na festa dos outros?

Quando a relação com Deus assenta apenas em ritos externos, de regras e de obrigações que é preciso cumprir, a religião torna-se um pesadelo insuportável que tiraniza e oprime. Ora, Jesus veio revelar-nos Deus como um Pai bondoso e terno, que fica feliz quando pode amar os seus filhos. É esse o “vinho” que Jesus veio trazer para alegrar a “aliança”: o “vinho” do amor de Deus, que produz alegria e que nos leva à festa do encontro com o Pai e com os irmãos. A nossa “religião” é isto mesmo – o encontro com o Jesus que nos dá o vinho do amor?

Patrick Gomes Silva, imc, é diretor do Centro Missionário José Allamano, em São Paulo.

Maria mulher atentaÉ interessante notar aqui o papel que

Maria tem neste episódio. Em primeiro lugar, é ela que nota que está faltando o essencial da festa, o vinho! Mais ninguém parece notar este elemento fundamental. Ao contrário, Maria, qual mulher perspicaz e atenta, vê com olhos de mãe as neces-sidades daqueles dois que se uniram em matrimônio. De imediato age, não faz milagres, mas leva o “problema” Àquele que pode solucioná-lo: Jesus. Em segundo

lugar, notamos o diálogo entre Maria e Jesus: “não têm vinho”. A resposta de Jesus é um tanto assustadora: “Mulher, o que isso tem a ver comigo? Ainda não chegou a minha hora”. Que filho é este que trata a mãe por “mulher” e que se mostra insensível ao problema? Ora, a palavra “mulher” aqui se reveste de grande importância, pois como estamos no sétimo dia da nova Criação, “mulher” evoca que Maria é a nova Eva, aquela que dará à luz uma nova vida. Maria é aquela que faz a transição entre o Antigo

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12 Outubro 2009 -

de Fátima Elisa dos Santos e Luís Baseggio

elo batismo e sendo Leigos Mis-sionários da Consolata - LMC, por opção, nos sentimos chamados a viver o Carisma missionário Ad Gentes, seguindo a espiritu-alidade dos missionários e mis-

sionárias da Consolata, família formada por padres, irmãos, irmãs e leigos(as). O fundador, sacerdote da diocese de Turim, Itália, o Bem-aventurado José Allamano colocou sua obra sob a proteção especial de Nossa Senhora, de cujo santuário ele era reitor. Consolata é um nome italiano, que significa Consoladora ou da Consolação. Maria é consolada por Deus e no misté-rio da salvação tornou-se a Consoladora da humanidade. Allamano foi beatificado pelo papa João Paulo II, em 7 de outubro de 1990. Um grande ardor missionário caracterizava este sacerdote, desde o tempo de seminário; também porque ele viveu numa época em que as missões estavam em seu pleno desenvolvimento, especialmente no continente africano. E ele teria sido um desses missionários que deixam tudo e partem para outras terras, se não fosse o item saúde. Desde

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Discípulos missionários de JesusCasal de leigos faz

experiência missionária no sertão baiano.

"Se algum bem pudemos fazer, foi muito maior o

que recebemos, que nos ajudará em nossa vida".

LMC acompanhados pelos missionários e missionárias da Consolata em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

Envio MissionárioTodos os membros do nosso grupo

atuam nas diferentes pastorais, nas comuni-dades que frequentamos. Mas, o Carisma, nos impulsiona a fazer algo mais, a ir um pouco mais longe. Foi assim, que em abril de 2009, durante a celebração do Lava-Pés, na quinta-feira santa, o padre Marcos Augusto Monte nos abençoou e nos enviou em missão, em nome da Paróquia de São João Batista de Joanopólis, a 100 km de São Paulo, onde moramos atualmente. Nosso destino era a Paróquia São João Batista de Jaguarari – BA, onde trabalham os padres e as irmãs da Consolata. Aque-le foi um momento muito especial para nós. Estávamos respondendo ao apelo de Deus para alguns dias de missão, além da nossa paróquia, da nossa família e do nosso Estado.

A vida no sertãoPartimos para o sertão baiano, na

região do semi-árido, rumo a Jaguarari e Monte Santo, cidades distantes 2.068 km de São Paulo. Lá, em companhia dos padres e irmãs da Consolata, visitamos

pequeno foi uma pessoa franzina e se partisse, não teria tido forças suficientes para enfrentar as dificuldades da missão. Então, já que ele não podia ir, depois de muitas peripécias, realizou a fundação de duas congregações: em 1901, dos padres e irmãos e em 1910, a das irmãs. Hoje seus missionários e missionárias atuam em 26 países de quatro continentes.

Leigos Missionários - LMCJá o Concílio Vaticano II dizia que o

Carisma das congregações religiosas não deveria ser exclusivo delas e as convida-va a condividi-lo com quem se sentisse chamado. Assim, a partir de 1993, um grupo de leigos e leigas, em São Paulo, começou a fazer parte da Família da Con-solata, refletindo e vivendo, na prática, a espiritualidade do Carisma Missionário do padre José Allamano, a espiritualidade da consolação. Existem hoje vários grupos de

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A luta pela água em Jaguarari, BA.

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13- Outubro 2009

Discípulos missionários de Jesusas comunidades rurais, distantes 30 e 40 quilômetros da cidade. As estradas são de difícil acesso, até mesmo de jipe. A paróquia de Jaguarari é formada por 80 comunidades e a de Monte Santo, por 150. Vimos de fato que “a messe é grande e poucos são os operários”. Imaginem tantas comunidades para serem atendidas e acompanhadas, e apenas sete missionários e missionárias. A maior parte do trabalho é feito pelas lideranças leigas. Em todas as nossas visitas pudemos sentir as dificuldades que o povo enfrenta, como o desemprego e o duro trabalho da roça, que só é possível quando chove. Sabemos que no sertão quase não chove. Em algumas comunidades encontramos apenas mulheres, crianças e idosos, porque os homens vão para as cidades vizinhas em busca de algo para fazer e poderem trazer um dinheirinho para o sustento da família. Alguns retornam nos finais de semana; outros ficam meses sem verem a família. Muitos migram para as grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte. Devido à escassez de água, muitos são obrigados a caminhar quilômetros em busca de algo para cozinhar, lavar roupa, tomar banho... O índice de analfabetismo é ainda grande entre os adultos. As crianças chegam a viajar horas e horas no transporte escolar para chegarem à escola mais próxima. Sentimos na pele como é difícil a vida dos nossos irmãos e irmãs sertanejos.

de perfuração de poços; Projeto “Mãos Unidas”, que constrói Centros Comunitários para a formação de lideranças; o Centro de Atendimento Psíquico Social- CAPS; a Cabritas, que financia projetos para o atendimento às crianças e adolescentes no reforço escolar, fornecendo a merenda e possibilitando trabalhos manuais, e os pro-jetos que visam a formação da mulher.

Consolar é uma grande missão, porque significa estar perto dessas pessoas que lutam pela sobrevivência, e os missioná-rios e missionárias fazem isso de muitas maneiras, visivelmente.

As lições da MissãoDurante os 20 dias que lá passamos

tivemos a graça de saborear um pouco da missão e muitas coisas nos chamaram a atenção. A simplicidade das pessoas, que apesar dos poucos recursos de que dispõem não perdem a dignidade; lutam incansavelmente e se mantém firmes na fé. É impressionante ver o sertanejo que levanta suas mãos calejadas para o céu e com grande fé implora a chuva, quando vê tudo se acabando ao seu redor.

Nas comunidades, a acolhida festiva que faziam quando chegávamos e a alegria que demonstravam quando aceitávamos entrar em suas casas. Dividiam conosco o pouco que tinham, com confiança e simplicidade, iam contando a sua história, de onde vieram, como viviam, falavam dos filhos, do trabalho, das lutas e dificul-dades... Ouvindo essas histórias de vida, descobrimos que quase todas as famílias que vivem no sertão já moraram ou tem algum parente em São Paulo; e isso faz com que a aproximação e a simpatia se-jam imediatas. O sorriso sempre aberto, o abraço apertado, o convite para voltarmos, os votos de boa viagem, tudo fazia com que nos sentíssemos em casa.

Experiência abençoadaPartimos de Joanópolis levando no

coração o grande desejo de encontrar e estar perto daqueles irmãos e irmãs, ser uma presença de paz e de solidariedade. Voltamos para a nossa cidade, comunidade e família, aquecidos e enriquecidos por esta experiência missionária. Se algum bem pudemos fazer, foi muito maior o que recebemos e que muito nos ajudará no dia a dia da nossa vida. Somos muito agradecidos a Deus, que nos proporcio-nou esta oportunidade. “O caminho se faz caminhando”, queremos ser “discípulos missionários” de Jesus, cada vez mais comprometidos com a construção do seu Reino.

Fátima Elisa dos Santos e Luís Baseggio, LMC, leigos missionários da Consolata de Joanópolis, São Paulo.

Missão-ConsolaçãoEm meio a este duro cenário, aparecem

sinais de esperança, ou seja, os vários Projetos Sociais de promoção: a Pastoral da Criança; a Escola Família Agrícola do Sertão - EFASE; o Projeto das cabras, que beneficia mais de 40 famílias; o Projeto “Tive Fome e me destes de comer” – que atende as famílias mais pobres com cestas básicas; o Projeto de Construção de cisternas; o Projeto de Captação da água da chuva;

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Crianças de Monte Santo apoiam Projeto Água.

População reunida na Praça da Matriz, Monte Santo, BA.

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14 Outubro 2009 -

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O tempo da políticatempo depois do trauma, lá estamos nós de novo, enroscados. E quando tomamos o milésimo safanão, por vezes ainda insis-timos em voltar, mesmo porque parece que temos memória de peixe – lembrando o desenho Procurando Nemo de Walt Disney em que o peixe não se lembrava sequer do nome.

Fôssemos nós cidadãos educados politicamente, e atentos aos efeitos que as decisões da classe política causam em nosso cotidiano, a história da humanidade seria diferente. Sobretudo as realidades de países que sofrem com tantas desigualdades e barbaridades como o nosso. Mas como a história não nos reservou muita lucidez, nos deparamos com a manipulação do tempo da política sobre nosso cotidiano. E magicamente votamos naqueles que às vésperas das eleições parecem ter resolvido todos os problemas do mundo. Lembremos que nunca um pre-sidente deixou de ser reeleito no Brasil – FHC e Lula venceram a recondução. E que em 2008 a taxa de reeleição dos prefeitos foi superior a dois terços. Seriam todos assim tão bons? Ou o tempo da política é capaz de marcar nossas escolhas eleitorais de forma mais instantânea que os quatro, oito, doze anos das trajetórias dos postulantes?

Sentido da democraciaNo tempo da política verificamos, para piorar de vez esse qua-

dro medonho, decisões sendo tomadas sem grande rigor técnico. O pré-sal, por exemplo. Visto por muitos como o passaporte do Brasil no desenvolvimento econômico, sua exploração tem sido encaminhada com a urgência eleitoral de quem pretende colher resultados para seus indicados. Lula pede 90 dias para que o Congresso tome uma das decisões mais estratégicas da história desse país. Uma determinação que pode marcar o sucesso ou o fracasso de uma era. O The Economist, conceituado periódico, afiança que tudo pode ser perdido pela maldita mania latina de gastar sem ter, de comemorar antes de ganhar. Mas Lula não está sozinho. Serra avança com o metrô e o rodoanel em São Paulo numa velocidade coincidente com o pleito de 2010, como se tudo não passasse de uma tremenda conspiração cósmica. As ilustrações atingem praticamente toda classe política.

Diante desses exemplos todos precisamos ficar atentos para o tempo da política. Cidadãos mais lúcidos serão capazes de perceber que todo instante é tempo de política, todo momento é momento para sermos brindados com boas obras, bons serviços e ótimos governantes. Cidadãos mais maduros serão capazes, no entanto, de reconhecer que nem só de pétalas vive a espinhosa tarefa de governarmos um país, um estado e um município. Essa maturidade é absolutamente capaz de nos mostrar que precisamos compreender o sentido da democracia, que inclui dificuldades e notícias ruins – que devem ser analisadas de forma sábia e racional. E mais do que nunca, ao contrário do que apregoam alguns dos nossos mais relevantes políticos, não precisamos de um pai no governo ou amor no poder. Precisamos de técnica, objetividade e racionalidade. A política pode ser repleta de paixão e suas subjetividades, mas definitivamente o que precisamos é de clareza, previsibilidade e equilíbrio. Pelo menos é isso que dizem as teorias acerca da democracia.

Humberto Dantas é cientista político, coordenador de cursos na Assembleia Legislativa de São Paulo e apresentador do programa Despertar da Cidadania na rede Canção Nova de Rádio.

izem os especialistas que a política tem um tempo, um momento, digamos assim: um ritmo apropriado. E esse instante é, normalmente, pautado pelas eleições. Assim, é bastante aceito na política que os represen-tantes realizam suas ações com olhares bem fixados nos votos. Boas ações próximas das eleições, ações mais difíceis em momento distante. E é isso que temos

assistido. A máxima diz: políticos pautam seus comportamentos na capacidade de transformar ações em resultados positivos nas urnas. Os políticos agem assim por um motivo muito simples: nós nos comportamos quase de maneira irracional. Como animais pouco afeitos à política que somos, recebemos um carinho e nos enroscamos, somos chutados e criamos repulsas. Pouco

de Humberto Dantas

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Magicamente votamos naqueles que às vésperas das eleições

parecem ter resolvido todos os problemas do mundo.

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Jardim Damasceno, Região Brasilândia, São Paulo.

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15- Outubro 2009

Amor e compaixão são habilidades

necessárias para a ação missionária.

Fonte e critérioda Missão

FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

ara ser missionário, não bas-ta somente ter boa vontade para seguir a vocação. Sim, o desejo é pré-requisito funda-mental, todavia, precisamos ser formados na escola de

Jesus para sermos, efetivamente, bons missionários e missionárias. Isso vale ainda mais para quem parte em Missão Ad Gentes, isto é, para quem vai ao encontro daqueles que nunca ouviram falar que Jesus veio para salvar todos os povos. Portanto, formação missionária é importante para que saibamos como testemunhar eficazmente o amor de Deus encarnado em Jesus Cristo, sobre-tudo em países cuja religião dominante não é o cristianismo. O mundo precisa de amor, portanto, de missionários e missionárias que saibam ser sinais

PTexto e fotos de Luiz Augusto Ramos Viera

concretos deste amor. Esse foi o obje-tivo do Seminário sobre Pastoral Skills realizado em Dhaka no ultimo mês de maio para missionários e missionárias que atuam em Bangladesh.

Missão e missionárioEtimologicamente, a palavra missão

origina-se da língua latina e significa envio. Ninguém se auto-envia. Mesmo Cristo foi enviado pelo Pai, e recebeu a importante missão de anunciar ao mundo o amor de Deus. Assim, pode-se afirmar que toda missão tem origem no

amor de um Deus que primeiro “amou o mundo, de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).

Consequentemente, todo batizado-discípulo do Senhor, torna-se enviado por Ele a continuar a Sua missão entre todos os povos da terra: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evange-lho a toda criatura” (Mc 16, 15).

O missionário, portanto, é aquele homem ou mulher que, encontrando-se com Jesus, sente-se amado pelo Amor, O acolhe na própria vida, e, como res-posta a esse Amor, torna-se discípulo-missionário. Assim, aquele que vive a experiência do Amor misericordioso de Deus na própria vida, não pode agir diferentemente senão tornar-se um convicto anunciador desse encontro com Cristo, seja aos que estão perto, ou longe de si. E isso acontece quando

Padre Luiz Augusto com fiéis do vilarejoIsol Bari, Bangladesh, após celebração.

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16 Outubro 2009 -

o sujeito amado tem a capacidade e a humildade de reconhecer a grandeza do Criador e a efemeridade da criatura, relativizando assim todo o resto: a si mesmo, a pátria, a cultura, o afeto de seus familiares e parentes, os amigos etc. Amar não custa pouco, e Jesus sabia bem disso. O amor dele chegou ao extremo da dor, mas paradoxalmente, como diz Madre Tereza de Calcutá, “se você ama até doer, não poderá haver mais dor, mas somente amor...” e por essa razão disse aos seus seguidores que quem não consegue amar assim, não é digno de ser Seu discípulo-missionário (cfr. Mt 10, 37-39), isto é quem não consegue colocar Jesus e os valores do Reino de Deus como prioridade absoluta em sua vida não pode ser discípulo d’Ele.

Exemplificando, São Paulo somente tornou-se o grande missionário entre os não-cristãos porque experimentou esse Amor de Deus manifestado em Jesus Cristo, ponto crucial de toda sua proclamação: “e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gal 2, 20).

Aculturação e inculturaçãoNa Encíclica Redemptoris Missio

(1990) o papa João Paulo II, afirma que “os missionários provenientes de outras igrejas e países, devem inserir-se no mundo sociocultural daqueles a quem são enviados, superando os condiciona-lismos do próprio ambiente de origem.

Assim, torna-se necessário aprender a língua da região onde trabalham, conhe-cer as expressões mais significativas da sua cultura, descobrindo os seus valores

O objeto da missão é anunciar o Reino de

Deus a todos os povos. por experiência direta. Eles só poderão levar aos povos, de maneira crível e frutuosa, o conhecimento do mistério escondido (cf. Rm 16, 25- 27; Ef 3, 5), através daquela aprendizagem. Não se trata, por certo, de renegar a própria identidade cultural, mas de compreen-der, estimar, promover e evangelizar

a do ambiente em que atuam e, deste modo, conseguir realmente comunicar-se com ele, assumindo um estilo de vida que seja sinal de testemunho evangélico e de solidariedade com o povo” (RM 53).

Objeto da missãoPrecisamos saber como fazer a

missão acontecer. Aprender é uma ação que envolve todo o ser de uma pessoa e requer alguns elementos básicos para que o aprendizado se realize: vontade e determinação, abertura e acolhi-da, humildade e perseverança. Estas atitudes são ainda mais necessárias quando alguém se sente chamado a doar generosamente sua vida a serviço da Missão Universal da Igreja para anunciar o Amor de Deus revelado em Cristo Jesus, missionário do Pai.

O processo de aculturação-incultu-ração, no qual se encontra um missioná-rio recém-chegado em terra estrangeira, é árduo e exige atitudes de abertura ao novo, de liberdade em relação a todo e qualquer tipo de preconceito, uma “super” dose de perseverança, além de uma fé madura e equilibrada. Ele também deveria considerar o fato de que, em sua atividade pastoral, está constantemente em contato com pes-soas, e, no caso do Bangladesh, não somente com cristãos, mas, também com muçulmanos, hindus, budistas e animistas, enfim com gente cuja bagagem sociocultural e religiosa é diferente da sua.

Almoço comunitário na paróquia de Baniarchor, administrada pelos missionários xaverianos, Natal de 2008.

Primeira Eucaristia em Baniarchor, Bangladesh.

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17- Outubro 2009

FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Respeito e testemunho“Não se pode testemunhar Cristo

sem espelhar a Sua imagem”. Poder-se-ia dizer que respeito é acolher a pessoa assim como a mim ela se apresenta. E tal acolhida envolve não somente a linguagem falada, mas, também toda uma postura corporal com a qual se realiza a comunicação. O missionário pode e deve utilizar a linguagem oral na sua pregação, porém, algumas vezes certas atitudes não-verbais podem contradizer-lhe. Linguagem verbal e não-verbal deveriam ser dois trilhos sobre os quais o anúncio do Reino escorre.

Como poderia ter Jesus falado do Amor de Deus sem ter concretamente demonstrado respeito, compreensão, amor e compaixão pelo povo? Ou seja, sem ter sido reflexo da imagem do Pai? Isto significa estar em comunhão com o Pai, “Eu e o Pai somos um”. Para poder agir assim, o missionário precisa ler e interpretar a realidade em que se encontra com os olhos e o coração de Deus. Jesus sempre respeitou e aco-lheu as pessoas no contexto em que estavam e na situação em que viviam. Olhemos para o exemplo dos quatro primeiros discípulos pescadores, de

Zaqueu e de Mateus junto ao posto de coleta das taxas, da samaritana junto ao poço; podemos olhar também para a imagem de Deus que aparece nas parábolas de Jesus em Lucas, de modo particular a do Pai Misericordioso, que esperava o filho com os braços aber-tos e cuja boca não proferiu nenhum julgamento porque quando se julga o outro se perde o tempo que se tem para amar! Contrariamente, a Sua acolhida foi traduzida em gestos concretos que demonstraram muito amor e perdão!

Da mesma forma com que se diz ser difícil anunciar o amor de Deus somente através de palavras, assim também dificilmente se poderá since-ramente acolher alguém unicamente com palavras. Para escutar o próximo, antes de mais nada, o missionário deveria estar livre de todo e qualquer tipo de preconceito. A ação pastoral missionária exige, portanto, uma postura de envolvimento! Isso não é tarefa fácil porque, além de disposição e energia, requer do missionário, sobretudo, sen-sibilidade. Enfim, deveríamos amar com o coração de Deus cujo tempo é gasto para amar. O Seu é um amor que nunca se cansa!

Esvaziar-se para encher-seEsvaziar-se de si mesmo para poder

fazer-se presente para o povo e com o povo, não somente em corpo, mas, tam-bém em espírito. Jesus Cristo, quando foi enviado ao mundo, “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fl 2, 7) para poder viver com os seres humanos, para poder sentir e pensar como pessoa humana e assim com-preender a humanidade e seus proble-mas. Se o missionário chega cheio de teorias, esquemas, preconceitos vários, pode-se entravar uma certa falência já no ponto de partida.

Não é muito difícil encontrar este-reótipos de missionários durões, reco-bertos por uma certa couraça, visando, quem sabe, inconscientemente, não demonstrar seus sentimentos e emo-ções; ou, contrariamente, fazendo-se um “super-homem” dotado de uma inteligência superior, de uma cultura superior.

Não é a cultura brasileira, congolesa, italiana ou bengalesa que salva o mundo. Não é o conhecimento ou inteligência que o missionário ou missionária possui que salva a humanidade. Mas é Jesus, Missionário do Pai, que nunca se en-

Para escutar o próximo, o missionário deveria

estar livre de todo preconceito.

Isso, certamente, não é uma tarefa tão fácil de se realizar, mas não de todo impossível se há a convicção de que Deus opera e ama através do missionário que, normalmente, está em relação com seres humanos e seus respectivos dramas. Portanto, seus gestos e atitudes deveriam ser sinais concretos do amor e da compaixão de Deus para com o povo. Esta foi a modalidade absoluta com a qual Jesus agiu e realizou o seu ministério missio-nário durante toda a sua vida pública. Agindo assim o missionário estará certamente iniciando um processo de evangelização coerente.

O gesto-terapia do AmorLemos ainda na Redemptoris Misso:

“na perspectiva de Jesus, as curas são também sinal da salvação espiritual, isto é, da libertação do pecado. Realizando gestos de cura, Jesus convida à fé, à conversão, ao desejo do perdão (cf. Lc 5, 24). Recebida a fé, a cura impele a ir mais longe: introduz na salvação (cf. Lc 18, 42-43). Os gestos de liber-tação da possessão do demônio, mal supremo e símbolo do pecado e da rebelião contra Deus, são sinais de que o ‘Reino de Deus chegou até vós’ (Mt 12, 28)” (RM14).

A atividade pastoral missionária Ad Gentes existe em função de auxi-liar e assistir pessoas que ainda não conhecem Jesus Cristo. Dever-se-ia escutar e experimentar a própria dignidade delas que, muitas vezes, é desconhecida por elas mesmas. Não somente para dizer-lhes o que, como e quando fazer.

Quando o missionário coloca-se à disposição para escutar as pessoas, pode fazer a experiência do valor delas como gente, filhos e filhas amados por Deus Pai, especialmente quando esses valores são obscurecidos por inúmeras e profundas feridas sociais como a destruição e a guerra; a miséria e a fome; o sistema opressor de castas; a injustiça e o trabalho escravo de mulheres e crianças...

Como missionário no cenário benga-lês, experimento quase cotidianamente que, antes de falar do Amor de Deus, é importante mostrar concretamente esse Amor e para tal necessita-se de certas habilidades que, às vezes, não são levadas em consideração como deveriam ser. Uma delas é saber como ganhar a confiança das pessoas, porque essa deve ser conquistada!

Habitante de Koligram.

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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Outubro 2009 -

vergonhou de revelar sua humanidade. É o amor de Deus revelado em Cristo que salva o gênero humano.

Faculdade do ReinoQuando Jesus escolheu seus

discípulos não exigiu deles nenhuma qualificação universitária, bacharelado, mestrado ou doutorado. Os primeiros discípulos eram pessoas simples, pes-cadores, alguns analfabetos! Todavia, receberam especial formação direta-mente do Mestre de Nazaré, que não exigiu deles nada, senão que permane-cessem com Ele e aprendessem d’Ele como amar gratuitamente.

Antes da partida dos discípulos, Jesus lhes dá algumas instruções acer-ca da metodologia a ser utilizada para realizar a missão. A fim de que tivessem o coração livre em função do bom êxito da missão, confiando plenamente na sua presença junto a eles, convida-os especialmente à pobreza, à simpli-cidade, ao despojamento dos bens materiais e dos interesses pessoais e subjetivos (cfr. Mt 10,9-15).

Depois de formá-los, Jesus envia-os em missão. Ele continua ainda hoje a chamar gente simples, gente ordinária para realizar uma missão extraordinária. Essa missão, prolongamento da Sua própria missão, consiste em anunciar o Reino e em lutar objetivamente contra tudo aquilo que escraviza o homem e a mulher, que subtrai-lhes a dignidade de filhos e filhas de Deus, impedindo-os de viver a plenitude da vida em abundância a qual foram chamados, isto é, a felicidade.

Dar Aquele que temos“E disse Pedro: Não tenho prata

nem ouro; mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (Atos 3, 6).

Muitas vezes, nós, missionários, somos tentados a dar coisas! “Não nos sintamos satisfeitos apenas dando dinheiro. O dinheiro pode ser obtido, mas, eles precisam de seu coração para amá-los. Portanto, espalhe o amor por onde quer que vá”. A realidade triste de carência material e miséria com que às vezes o missionário se depara diante de seus olhos, força-o a dar coisas. Ate aí, tudo bem. Jesus também deu “coisas materiais”. O problema é quando se chega a esquecer, involuntariamente, de dar Aquele que possuímos, isto é, o Cristo e Seu Evangelho. A fé não era condição exigida para que o amor

de Deus fosse demonstrado. Jesus sempre amou e curou gratuitamente a todos os que Lhe procuravam. Todavia, a fé era exigência básica para que a salvação efetivamente ocorresse. Muitos obtiveram cura física, mas nem todos eles foram salvos, isto é, não reconheceram nos gestos amorosos de Jesus a presença viva de um Deus que estava buscando salvá-los. Dentre os 10 leprosos fisicamente curados, somente um voltou para agradecer e louvar, reconhecendo assim, em Jesus, a presença salvadora de Deus (cfr. Lc 17,17). Outros saciaram-se de pão abundantemente, mas não acolheram o “Pão vivo descido do céu”.

ocorre. Quantos filhos e filhas de Deus necessitados que diariamente encon-tramos, sem saber onde ir nem a quem recorrer, dirigem-se aos missionários... Se por um lado é mais fácil “dar coisas”, por outro, neste complexo contexto, é necessário anunciar a Boa Nova da sal-vação trazida ao mundo por Cristo.

“Deus Caritas est”. Com esse tema, o papa Bento XVI inaugurou o seu pontificado com a encíclica de mesmo nome, cuja publicação ocorreu em de-zembro de 2005. Procurando dar uma definição de Deus, o papa aproveitou a temática do amor, para falar da ação social da Igreja, mostrando através da história, as ações de caridade como principal meio pelo qual ela tem atuado no mundo.

Se Deus é amor e o missionário é a pessoa de Deus, logo é bem verdade a afirmação de que “o missionário é a pessoa da caridade...” (RM 89,9), contudo, esse conceito nunca deve ser confundido com assistencialismo. Então o missionário, que experimentou a caridade de Deus, gastará sua vida para anunciar esse mesmo amor, por-que compreende que todos os povos têm o direito de conhecer esse amor salvador.

Nós missionários e missionárias, não deveríamos esquecer que somos chamados a dar, sobretudo, Aquele com quem nos encontramos e por quem nos apaixonamos. Jamais deveríamos nos esquecer de que a mais terrível e desgraçada pobreza é a solidão e o sentimento de não ser acolhido, respeitado e amado e que, conforme mostrava Madre Tereza de Calcutá: “no mundo existe mais fome de amor e de apreciação do que de pão”.

Luiz Augusto Ramos Viera é missionárioxaveriano em Bangladesh.

Padre Luiz Augusto com irmãs da Sociedade de Maria Rainha dos Apóstolos, durante o curso em Dhaka.

"Preocupados em dar coisas materiais,

podemos nos esquecer de dar Aquele que

temos: Jesus Cristo".Viver a missão em um contexto

sociorreligioso como em Bangladesh, cuja miséria assusta mesmo aqueles que com ela já têm uma certa “familiaridade”, permanece sempre um grande desa-fio. Do ponto de vista social, uma das grandes “ciladas” em que o missionário pode cair, é tornar-se “assistente-social”, isto é, dar somente “coisas”.

É verdade que muitos procuravam aproximar-se de Jesus não por causa de sua pessoa, ou porque a priori acre-ditavam que Ele fosse Filho de Deus. Nem por isso Jesus deixou de acolhê-las em suas necessidades ou de curá-las, todavia, exigiu algo mais.

Assim como na época de Jesus, também aqui e em outros lugares isso

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1919- Outubro 2009

Para refletir:1. O que se percebe nas diferentes personagens? 2. Que sentido se dá para a palavra educação nos diferentes

contextos?

de Vanessa Ramos

o meio de turbilhões “de gentes” que brotam sabe-se lá de onde, personagens quase anônimos cruzam ruas e vielas, apertam-se nas calçadas, trens, ônibus e barracos, tentando sobreviver. Nosso olhar, às vezes tão desatento ignora rostos e histórias. Mas é ne-cessário ver e reparar com cuidado a realidade. É preciso despertar

a nossa consciência crítica. Essa consciência, porém, nasce de quê?A interpretação que fazemos da realidade não é um fenômeno espon-

tâneo, mas sim fruto de uma construção histórica. A partir dela surgem os avanços e progressos que tornam mais justa e igualitária a vida, mas ao mesmo tempo os preconceitos, violências e algemas que tolhem a liber-dade dos seres humanos. Abaixo, falas de personagens ouvidas nas ruas, trechos de textos presentes em jornais e revistas de grande circulação, e cartilhas de organizações que atuam na sociedade, provocam essa reflexão. A Educação, tida como direito de todos em nossa Constituição, não é vista da mesma forma por todos. Ela é um ato político através do qual se pode oferecer elementos para a libertação ou aprisionamento humano.

Na periferia“A gente para pra ouvir a televisão, o rádio e outros meios de comunicação

que despertam nossa atenção. Ouvir a família, os amigos, a TV no ônibus e no metrô, todos os lugares onde já chegou a energia elétrica. Letreiros luminosos, placas na estrada, frases em banheiros públicos, instruções nas máquinas que a gente opera. Mas a gente não sabe ler e não tem educação de sala de aula porque apesar de jovens, temos que trocar o banco da escola por trabalho para garantir o sustento da família”.

Empresários“Nosso objetivo é ‘garimpar’ talentos nas periferias. Somos um grupo

de empresários dispostos a investir de modo concreto e massivo na educação privada para jovens. Selecionamos alguns jovens a partir de critérios que estabelecemos como corretos e viáveis. Acreditamos que suprimos parte da falha da educação pública no Brasil. Estamos investindo para a qualidade da mão de obra no país”.

Na mídia“Jovens reclamam que não querem ir à escola porque perderam

o estímulo. É cada vez mais comum a evasão escolar no Brasil. Resultados mostram que faltam atrativos na escola. Para os go-vernos estadual e federal, o ensino público está bem. É preciso valorizar as escolas privadas que selecionam adolescentes e jovens que se destacam em escolas públicas, oferecendo-lhes bolsas de estudo, o que estaria lhes permitindo o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais através destas oportunidades, melhorando a qualidade da educação no país”.

Organizações Não Governamentais “Oferecemos capacitação, numa perspectiva global e cidadã,

ao jovem em situação de risco. Trabalhamos com educação, oferecendo ensino supletivo e técnico em empreendedorismo, para que não se perca tempo. Acreditamos na força de jovens protagonistas e no desenvolvimento de negócios sólidos com a marca da sustentabilidade integral. Aceitamos contribuições”.

Estado“O Programa de Desenvolvimento da Educação, o PAC da

Educação irá investir bilhões de reais, para garantir a qualidade da educação pública e o acesso de todos”.

Vanessa Ramos é do Cimi-SP e colaboradora das revistas Missões,Mundo e Missão, dos jornais Brasil de Fato e Porantim.

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Roteiro de EncontroTema do mês: Personagens em EducAçãoa) Acolhidab) Oração do Pai Nossoc) Dinâmicad) Apresentação do tema, questionamentos e debatese) Divididos em grupos: cada grupo assume um dos perso-

nagens e traça seu perfil, seus objetivos e sua visão de Educação e imagina quais seriam os comportamentos desse personagem no cotidiano da vida

f ) Apresentação de propostas, a partir dos gruposg) Debate e reflexão conclusivah) Oração final e despedida

Foto: Divulgação

Personagens em EducAção

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20 Outubro 2009 -

Campanha Missionária é pro-movida em todo o mundo pelas Pontifícias Obras Missionárias - POM e realizada todos os anos em outubro, culminando no Dia Mundial das Missões, no penúlti-

mo domingo do mês (18 de outubro, neste ano). Neste dia todo católico é animado a dar a sua oferta material para as Missões. Quiséramos que esta oferta fosse feita mensalmente, durante o ano todo, mas, infelizmente, a consciência missionária da Igreja no Brasil ainda é inexpressiva, apesar de todos os esforços. A responsabilidade pelas Missões é de todos os batizados. Ninguém tem o direito de se furtar a esta obrigação: “Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória, é uma obriga-ção que me foi imposta. Ai de mim, se eu não evangelizar” (1Cor 9,16). A esta oferta está associada a formação e vivência da Espiritualidade Missionária, por meio de orações e de sacrifícios, como também da entrega pessoal por um determinado período ou Ad Vitam (por toda a vida) às Missões, como serviço à humanidade.

Todo ano crescem as necessidades da Igreja Católica no mundo: constituição de novas dioceses; abertura de novos seminários, devido ao crescimento do número de jovens que acolhem o chamado de Cristo a segui-Lo como sacerdotes; re-giões destruídas por guerras ou fenômenos naturais, que devem ser reconstruídas; regiões por longo tempo fechadas à evan-gelização, e que agora se abrem para ouvir a mensagem de Cristo. É por isto que a cooperação dos católicos é necessária. Cerca de 1.100 dioceses no mundo rece-bem regularmente ajuda financeira anual das doações dos fiéis. Estas dioceses apresentam à Congregação para a Evan-gelização dos Povos (Vaticano) pedidos de ajuda, entre outras necessidades, para catequese, evangelização, seminários, tra-balhos das comunidades religiosas, meios de comunicação e transporte, construção de capelas, igrejas, orfanatos e escolas. Estas necessidades são providas com as doações arrecadadas todo ano.

No BrasilAnualmente as Pontifícias Obras Mis-

sionárias enviam a todas as dioceses do Brasil, para animar o mês das Missões,

de Vítor Agnaldo de Menezes

A

Campanha Missionária 2009vários subsídios: a mensagem do papa Bento XVI; santinhos com a Oração Mis-sionária anual, folhetos informativos e complementares para as celebrações do-minicais, cartazes de divulgação e livretos com sugestões, textos e reflexões. Além disto, para a animação missionária em geral, são realizadas visitas, assessorias e participações em encontros pelo Diretor Nacional e Secretários Nacionais de cada uma das obras missionárias pontifícias, a saber: Propagação da Fé, Infância Missio-nária e Adolescência Missionária (ou Santa Infância), São Pedro Apóstolo e União Missionária, especialmente dedicadas a animar as comunidades para a missão.

A ColetaA Coleta feita no Brasil, no Dia Mundial

das Missões, através do envelope enviado a cada comunidade é destinada ao Fundo Mundial de Solidariedade Missionária. Com estes recursos são financiados projetos para catequese, evangelização, formação de agentes de pastoral, construção de igrejas, capelas, seminários, formação de seminaristas e religiosos(as). Boa parte da Coleta feita no Brasil retorna ao país para subsidiar cerca de 150 projetos anuais para as nossas dioceses e paróquias, seminários e casas de formação. Nos últimos anos, graças ao crescimento da coleta e generosidade do nosso povo, os

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21- Outubro 2009

Campanha Missionária 2009recursos financeiros do Dia Mundial das Missões celebrado no Brasil têm ajuda-do projetos em outros países, dentre os quais, Índia, Ruanda, Angola, Moçam-bique, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, República Democrática do Congo, Malauí, Etiópia, Indonésia, Timor Leste, Filipinas e Equador: sinal e gesto concreto de nossa solidariedade universal.

A Coleta, fruto da generosidade dos bra-sileiros, tem crescido cada ano, mas pode ser mais generosa: muito já recebemos, podemos agora “dar de nossa pobreza” (Puebla, 368). Para isto é necessário organizar a Campanha e fazer chegar a todos o apelo de solidariedade mundial. O relatório da Coleta é apresentado todos os anos no boletim das POM (SIM) e dis-ponibilizado no seu site: www.pom.org.br. As ofertas mundiais em 2008 alcançaram a cifra de US$ 163.007.478,80. No Brasil arrecadamos R$ 4.035.997,28. É muito pouca a nossa oferta, se considerarmos o número de católicos.

“As nações caminharão à sua luz” (Ap 21, 24). O objetivo da missão da Igreja é iluminar com a luz do Evangelho todos os povos em seu caminhar na história rumo a Deus, pois Nele encontramos a sua plena realização. (...) A Igreja não age para ampliar o seu poder ou reforçar o seu domínio, mas para levar a todos Cristo, salvação do mundo. Pedimos somente nos colocar a serviço da humanidade, sobretudo daquela sofredora e marginalizada (...)

1. Todos os povos são chamados à salvaçãoNa verdade, a humanidade inteira tem a vocação radical de voltar à sua

origem, que é Deus, somente no qual ela encontrará a sua plenitude por meio da restauração de todas as coisas em Cristo. A dispersão, a multiplicidade, o conflito, a inimizade serão repacificadas e reconciliadas através do sangue da Cruz e reconduzidas à unidade. (...) A missão da Igreja é "contagiar" de esperança todos os povos. Por isto, Cristo chama, justifica, santifica e envia os seus discípulos para anunciar o Reino de Deus, a fim de que todas as nações se tornem Povo de Deus. (...)

2. Igreja peregrinaA Igreja Universal, sem confins e sem fronteiras, se sente responsável por

anunciar o Evangelho a todos os povos (cfr. EN 53). Ela, germe de esperança por vocação, deve continuar o serviço de Cristo no mundo. A sua missão e o seu serviço não se limitam às necessidades materiais ou mesmo espirituais que se exaurem no âmbito da existência temporal, mas na salvação transcendente que se realiza no Reino de Deus (cfr. EN, 27). (...)

3. Missão Ad GentesA missão da Igreja é chamar todos os povos à salvação realizada por Deus

em seu Filho encarnado. É necessário, portanto, renovar o compromisso de anunciar o Evangelho, fermento de liberdade e progresso, fraternidade, união e paz (cfr. AG, 8). Desejo "novamente confirmar que a tarefa de evangelizar todos os homens constitui a missão essencial da Igreja" (EN, 14), tarefa e missão que as vastas e profundas mudanças da sociedade atual tornam ainda mais urgentes. (...) Toda a Igreja deve se empenhar na missão Ad Gentes, enquanto a soberania salvífica de Cristo não está plenamente realizada: "Agora, porém, ainda não vemos que tudo lhe esteja submisso" (Hb 2,8).

4. Evangelizar por meio do martírioNeste dia dedicado às missões, recordo na oração aqueles que fizeram de

suas vidas uma exclusiva consagração ao trabalho de evangelização. Menciono em particular as Igrejas locais, os missionários e missionárias que testemunham e propagam o Reino de Deus em situações de perseguição, com formas de opressão que vão desde a discriminação social até a prisão, a tortura e a morte. (...) Ao mesmo tempo, convido todos a darem um sinal crível da comunhão entre as Igrejas, com uma ajuda econômica, especialmente neste período de crise que a humanidade está vivendo, a fim de colocar as jovens Igrejas em condições de iluminar as pessoas com o Evangelho da caridade. (...)

A todos, a minha bênção.Papa Bento XVI

Mensagem do Papapara o Dia Mundial das Missões

“A messe é grande, mas os trabalha-dores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe que mande operários para a Sua messe.” Estas palavras de Jesus em Lucas 10, 1ss continuam válidas. No que se refere ao envio de missioná-rios e missionárias, padres, religiosos, religiosas, leigos e leigas, depois de dois mil anos, a messe continua gran-de. O Brasil tem apenas cerca de 1.800 missionários(as) além-fronteiras. Há o clamor insistente de milhares de pessoas que querem conhecer Jesus, mas falta quem O anuncie. A colaboração material de cada cristão católico para as Missões possibilita o envio cada vez maior de missionários Ad Gentes. É indispensável a oração insistente: “Rogate, ergo!” Nisto consiste o objetivo maior da Campanha Missionária do mês de outubro: despertar para a Missão todos os que dormem.

Vítor Agnaldo de Menezes é sacerdote e secretário nacional da Pontifícia Obra da Propagação da Fé.

Campo de refugiados no Sudão.

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22 Outubro 2009 -

A Mãe ConsoladoraMais vida e esperança em Jaguarari.

de Cristina Ribeiro Silva

s missionárias da Consolata trabalham em Jaguarari, BA, há 21 anos. A Paróquia São João Batista está sob responsabilidade dos missionários da Consolata e aco-lheu a visita do quadro de Nossa Senhora Consolata que chegou, no dia 14 de setembro de 2008, acompanhado pelas irmãs e fiéis de Monte Santo. Na BR 407, entrada

da cidade, ele foi recebido pela comunidade. Padre Adriano Prado, imc, e o povo aguardavam-no com bandeirinhas brancas, fogos e muita alegria. “Baianas” o aspergiram com “água de cheiro” para em seguida fazer uma procissão até a Matriz. Na igreja, a missa continuou a partir da Liturgia da Palavra. É admirável o respeito do povo na sua expressão religiosa e cultural. Uma fé mostrada em gestos simples, criatividade e poesia. O sertanejo esqueceu a agrura da seca e se deixou banhar pelo acalento materno da Mãe de Jesus e nossa.

A marca dos passosA programação previa visitas às famílias, novenas, procissões,

rezas e louvações. Nas comunidades maiores a visita encerrava-se com a celebração eucarística. As “pegadas” da Mãe peregrina pelos caminhos empoeirados do sertão marcaram corações. Na saudade permaneceu gravado o recado pessoal a cada filho(a) que se deixou cativar. Foram dias de intensa felicidade. Com o

acenar das mãos calejadas e o adeus da despedida, a queima de fogos que subiu aos céus foi o último louvor ecoando esperança de mais vida para todos!

A visitação na cidade iniciou com uma procissão da casa das irmãs até a Matriz, onde a pastoral do terço dos homens liderou o

Aculto. A celebração foi encerrada com o testemunho missionário da irmã Marilda Navarini, que convidou todos a participarem da caminhada semanal nas comunidades do entorno. No domingo, um ônibus lotado de fiéis partiu acompanhando o quadro pe-regrino. Crianças, adultos e, sobretudo mães com seus bebês no colo, acorreram de perto e de longe. A coordenadora local orientou a celebração. Todos rezaram com o fervor de quem confia e espera da Mãe Consoladora forças, luzes, harmonia e paz. Nossa Senhora olhou com ternura para o seu povo.

Conforto aos doentesNa capela do bairro Populares os fiéis confiantes tocaram e

beijaram o quadro “milagroso”. Com olhar expressivo, as mãos estendidas se recolheram ao peito num abraço de gratidão e fé. O dia terminou com muito louvor. No dia seguinte, Maria passou nas famílias visitando doentes acamados, paralíticos e desanimados. À noite veio a despedida e o caminhar para outra comunidade. No trajeto, os doentes foram colocados diante das casas para verem o “quadro” passar. O cortejo parou. Em silêncio mãe e filho se entreolharam e se entenderam. Idosos sem condições de acompanhar também ficaram à espera da procissão.

Moradores da Capela Santo Antônio vieram ao encontro com carro de som, anjinhos e muita gente na certeza de que alguém

importante estava chegando. A coordenadora Ana Lúcia Barbosa saudou a visitante: “Mãe Consolata, seja bem-vinda! Venha ser a nossa consolação, a nossa intercessora! Abençoa e ilumina a cada um de nós!” Na capela as crian-ças prestaram sua homenagem. Seguiu-se a celebração da Palavra e a bênção. Novamente em procissão, o quadro voltou à Matriz no lombo de um “jegue” que teve seu momento de glória carregando a Mãe de Jesus. O cortejo lembrou a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.

Na comunidade Nossa Senhora Apareci-da, adolescentes encenaram a aparição do quadro da Consolata. Apareceu a figura do Bem-aventurado José Allamano enviando os primeiros missionários ao Quênia. A encenação mostrou também a vinda das irmãs à América como celeiro de novas vocações missionárias. A visita da Consolata peregrina a Jaguarari foi encerrada no dia 23 de novembro de 2008, na Matriz, durante a ordenação diaconal do semi-narista queniano Bernardo Berna Mwagi, imc, que fazia pastoral na paróquia. De Jaguarari o quadro seguiu para São Paulo. A peregrinação

marcou a preparação do centenário de fundação do Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata que será comemorado dia 29 de janeiro de 2010.

Cristina Ribeiro Silva, MC, é educadora em Brasília, DF.

Comunidade da paróquia São João Batista, Jaguarari, BA.

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23- Outubro 2009

“Haverá paz no mundo quando houver paz e diálogo entre as

religiões” (Hans Küng).

As religiõesa serviço da paz

de Mário de Carli

m olhar mais atento sobre a Ásia nos revela novas fa-cetas e paradigmas diante de um mundo em constante mutação. O maior e mais populoso continente procura responder de uma maneira original aos desafios nos mais variados setores. No campo das religiões, o Sri Lanka, por exemplo, onde no passado houve grandes

atrocidades, este ano acolheu mais de 600.000 pessoas de várias confissões religiosas entre cristãos, hindus e budistas no Santuário da Virgem. Na ocasião, o novo arcebispo de Colombo dom Malcom Ranjiith, fez um apelo para acabar com as divisões e o ódio. “Comecemos a amar-nos uns aos outros e construamos uma sociedade mais justa, passando das palavras aos atos”, afirmou. No passado, as religiões tiveram como objetivo construir fronteiras, mas hoje são chamadas a construir pontes.

Convivência entre as religiõesA convivência pacífica das religiões é um dos milagres em

Taiwan. Pode suceder que membros da mesma família vene-rem divindades diferentes, mas isso não constitui motivos de contrastes ou desentendimentos que gerem conflitos sociais. A Igreja de Taiwan preocupa-se em esclarecer e harmonizar as diferentes necessidades do diálogo ecumênico e inter-religioso e coordenar as iniciativas dos vários grupos religiosos mantendo boas relações com os líderes das religiões tradicionais. Ao passo que em Jacarta, na Indonésia, a principal tarefa é desenvolver uma melhor compreensão das diversas tradições religiosas e culturais, privilegiando algumas áreas, entre elas, os direitos humanos.

“Quando olhamos as Tradições Religiosas elas trazem em seu seio o germe do diálogo”, afirma Yusuf Daud, muçulmano indonésio vivendo em Jacarta, “e se espera do Islã um testemunho prático do amor que se encontra no Alcorão: ‘não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti’, e nos pede que ‘nos tornemos uma coisa só com os outros’, de ‘viver com os outros’. Este jeito nos interroga para que não olhemos simplesmente sob o ponto de vista da gentileza, abertura e estima, mas também de um esvaziamento de si mesmo para se tornar um com os outros, isto é, de entrar na pele do outro”, considera Yusuf.

Para onde caminham as religiões? Estas novas dimensões nos fazem entender mais profun-

damente o que significa para o outro ser cristão, muçulmano, hindu, budista. O efeito é duplo, isto é, temos cada um de nós a saída dos limites de nossa própria cultura e o conhecimento da religião e da linguagem do outro, e predispomo-nos à escu-ta mútua, que por sua vez gera a disposição de dialogar sem receios. Podemos sentir que as tradições religiosas caminham olhando muito mais sobre o diálogo inter-religioso, a caridade e os trabalhos sociais, do que sobre a obediência às suas leis e dogmas. Tudo isto para crescer na recíproca compreensão

U

de nossos mundos religiosos, e como Povo de Deus, nossas diferenças e semelhanças, mas sobretudo a nossa unicidade nas tradições abertas ao outro.

As religiões sempre tiveram um papel preponderante nas sociedades. Hoje são chamadas a construir pontes e aproximarem umas às outras pelo conhecimento, tolerância e diálogo. Hans Küng afirmou com objetividade: “Haverá paz no mundo quando houver paz e diálogo entre as religiões”. De nossa parte, por mais contradições que tenham existido, o cristianismo não deixa de encantar quem o conhece, pois ao carregar dentro de si o germe da novidade projeta o indivíduo à liberdade e à responsabilidade, tal qual, é a sua própria essência: um movimento imprevisível. Assim poderá novamente criar pontes entre as pessoas, pois hoje devemos modestamente reconhecer onde há convergências e onde há divergências para que a paz e o diálogo aconteçam e se concretizem no seio das religiões.

Mário de Carli, imc, é vigário paroquial na Paróquia Nossa Senhora da Penha,Jardim Peri, São Paulo.

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InfânciaMissionáriaInfânciaMissionária

24 Outubro 2009 -

de Roseane de Araújo Silva

Sugestão para o grupoAcolhida (destacar nesse mês o continente africano, com ima-gens de crianças em festa, preparar o ambiente com os símbolos missionários, as cores dos continentes e a Bíblia).Motivação (objetivo): refletir com o grupo a grave situação de pobreza e fome que sofrem crianças e adolescentes em várias partes do mundo.Oração espontânea pelas crianças e adolescentes em situação de pobreza e fome, principalmente na África.Partilha dos compromissos semanaisLeitura da Palavra de Deus (sugestões para os 4 encontros):Realidade Missionária: Mc 3, 1-6 Jesus mostra que a lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para o ser humano. As leis e normas são importantes em qualquer socieda-de, mas as leis são necessárias para eliminar as desigualdades sociais e não para reforçar as diferenças.Espiritualidade Missionária: Lc 6, 17-26 Jesus veio anunciar o Reino do Pai, ou seja, produzir uma sociedade justa e fraterna. Para isso acontecer é necessário por fim à pobreza e também ao que gera a pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza.Compromisso missionário: Mt 9, 35-38 No Evangelho de Ma-teus, Jesus nos mostra que a missão nasce da realidade e que há muito trabalho a fazer. Ele necessita de pessoas dispostas a continuar a sua obra e levar a Boa Notícia do Reino ao mundo inteiro. Neste mês faremos o sacrifício pelas crianças africanas em campos de refugiados.Vida de Grupo: Mt 25, 31-40 Jesus nos desafia a enxergá-lo no pobre e marginalizado. Ter fé significa reconhecimento e compro-misso com a pessoa concreta de Jesus. Também é agir em favor da justiça e da verdade. Em nossa comunidade ou paróquia, existem grupos que defendem a vida e a justiça? Conhecemos algum desses grupos? Procurar informações e marcar uma visita ao grupo na comunidade ou paróquia. Organizar um mural com material informativo (jornais, panfletos) para tornar conhecido o trabalho visitado.Momento de agradecimento (fazer preces espontâneas a partir do tema e do Evangelho).Canto e despedida.

este mês missionário celebramos inicialmente Santa Teresinha do Menino Jesus, a Padroeira das Missões. Ela morreu precocemente com problemas de saúde, deixando o exemplo de fidelidade à Santíssima Trindade e dedicação ao Reino pela oração. Ao lembrar Santa Teresinha, recordamos também que o missionário se

a intensificarem as políticas públicas de combate à pobreza e à fome.Estudos comprovam que são as crianças, os adolescentes e as mulheres os mais afetados pela pobreza. A ONU aponta avanços importantes na luta contra a pobreza, porém, seus dados indicam que haverá em torno de 70 milhões de pessoas, a mais, vivendo na pobreza extrema, do que se previra antes da crise. O Relatório da ONU faz referência à necessidade de maiores investimentos para melhorar a saúde materna, a alimentação infantil, o acesso de todas as crianças à escola, sobretudo, nas comunidades rurais e oportunidades de emprego para mulheres, que em muitos países continuam sendo extremamente reduzidas. Os que mais sofrem estão em algumas regiões da Ásia e da África, além dos países em desenvolvimento. Bem próximo de nossas casas ou em lugares distantes, muitas crianças e adolescentes clamam por ajuda, alguns já perderam até a esperança.Como amigos de Jesus que somos, precisamos abraçar esta causa, entendendo que esta é uma luta de todos nós para defender a vida. O nosso Deus é o Deus da Vida e nos enviou Jesus Cristo, como bem nos lembrou Maria em seu cântico Magnificat: “o Todo-Poderoso realizou grandes obras [...] derruba do trono os poderosos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens” (Lc 1, 46-56). Jesus também nos ensinou a defender a vida por meio do serviço aos irmãos (Lc 13, 1-17). Dessa maneira, ser missionário hoje é estar atento aos clamores do mundo e ao serviço aos irmãos e, ainda, “colocar-se à disposição de todos com alegria” (2º Compromisso de Vida da IAM). Somos chamados a defender a vida. De todas as crianças do mundo – sempre amigas!

Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

“É missão de todos nós!

Deus chama!”

Ncaracteriza como aquele ou aquela que em sua oração, mantém o olhar na realidade, na vida concreta do seu próximo. Com isso, quero falar de uma data também significativa: o dia 17 de outubro, instituído pela Organização das Nações Unidas – ONU como o Dia Internacional de Erradicação da Pobreza. Essa data surgiu a partir da Campanha Mundial de Ação contra a Pobreza assumida por diferentes movimentos da sociedade civil, organizações religiosas, grupos de jovens, organizações não governamentais e diferentes associações. Desde 2002 esta Campanha vem acontecendo em diferentes países, como forma de pressionar estados e governos

Menino de Bangladesh.

“Para não ter medo que esse tempo vai passar, não se desespere não,

nem pare de sonhar!”(Gonzaguinha)

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Pastoral Afro é opção missionária que vai além das paróquias, sendo uma das causas assumidas pelo Instituto Missões Consolata - IMC, na América Latina e no Brasil. Entre os dias 3 e 10 de agosto,

os padres quenianos atuando no Brasil, Joakim Kamau, Stephen Murungi e Francis Njoroge, participaram do XI EPA - Encontro da Pastoral Afro-Americana e do II EPA em nível do IMC e Leigos Missionários da Consolata - LMC, realizado na Cidade de Panamá, no Panamá.

Padre Francis nasceu em Kiambu, Quênia, em 21 de setembro de 1966, op-tando pela vida missionária no carisma do IMC, em 1991, quando deixou sua carreira de professor e começou seus estudos para a missão. Durante sua formação passou por Nairóbi e Londres, sendo ordenado em sua terra natal, em 7 de agosto de 1999. De sorriso largo e acolhedor, o missionário lembra que sua primeira missão foi na pe-riferia da Venezuela, na favela de Carapita, em Caracas. Em seguida passou a trabalhar

de Karla Maria

Aentre os afrodescendentes em Barlovento, na costa venezuelana onde permaneceu até outubro de 2008. Neste ano sacerdotal o padre Francis está celebrando o seu 10º aniversário de ordenação e se encontra no Seminário Teológico Padre João Batista Bísio, em São Paulo, acompanhando a formação numa comunidade internacional de 20 seminaristas.

Padre Francis, como você avalia o processo de inculturação do Evangelho na Igreja?

A inculturação é um processo longo, lento e com muitos desafios. Não há uma cultura normativa para o Evangelho, como não existe uma cultura pura ou melhor do que outra. Cada uma tem algo de verdade e beleza para contribuir. As culturas não precisam do Evangelho, pois sempre existi-ram. É o Evangelho que precisa das culturas para se transformar em Boa Notícia e as convocar à conversão. O Evangelho e a pastoral precisam ser concretos, sensíveis e relevantes ao povo. Às vezes se começa a inculturação pela liturgia, quando ela deveria ser o último passo de um caminho mais abrangente. Inculturar não significa

colocar na liturgia romana alguma sim-bologia ou canto próprio de outra cultura; inculturar a liturgia significa produzir uma nova “ritualidade” que aplique os valores culturais autênticos, a linguagem e os símbolos próprios de cada cultura.

Em que o carisma da missão Ad Gentes no IMC pode contribuir na Pas-toral Afro?

Eu faria uma dupla pergunta: qual seria a contribuição das culturas Afro ao carisma do IMC, e em que o nosso carisma fortale-ceria a Pastoral Afro? Ou seja, que estilo de missão pede a realidade do povo Afro? Os mesmos destinatários são os que con-tribuem para enriquecer o carisma, desde suas culturas, processos históricos e seus contextos atuais. A Congregação nasceu no norte da Itália, numa cultura da região do Piemonte, mas se espalhou pelo mundo e hoje tem membros de vários países e culturas trabalhando em quatro continentes, em diversas realidades culturais. Tornou-se internacional e pluricultural. Isso é uma riqueza se for bem trabalhada num diálogo de interculturalidade. Cada qual na sua diferença pode enriquecer o carisma que por sua vez, pode contribuir na promoção humana integral, unido à evangelização para promover a consolação-libertação

Identidadee Inclusão

A Pastoral Afro precisa

ganhar espaços sem pressa e sem pausa!

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e a globalização. Foi um momento de graça nos reunirmos para partilhar experiências e caminhos. Chegamos à conclusão de que precisamos efetivar o diálogo inter-religioso e que, para isso é preciso co-nhecer melhor a religiosidade afro. Nós somos semianalfabetos quando se trata da religiosidade afro. Este tema contribui para o diálogo na sociedade e estimula a tolerância, o reconhecimento mútuo e proporciona um recíproco enriquecimento. Durante o encontro aproveitamos da rique-za cultural dos participantes, do valor de crescer na solidariedade e espiritualidade própria. Discutimos a situação da mulher e da juventude e concluímos que este tema deve ser prioritário na Pastoral Afro. Ao término do XI EPA, nós, os missionários e missionárias da Consolata, realizamos ainda um encontro, com a participação de alguns leigos, para avaliar e viabilizar um projeto continental (Brasil, Venezuela e Colômbia) para a Pastoral Afro. Este foi o segundo encontro entre os missionários e missionárias da Consolata que trabalham com os afrodescendentes no continente.

Como é, para um africano, trabalhar entre a população afrodescendente da América Latina, como foi no caso da Venezuela?

O que faz alguém ser Afro? Acredito que é a consciência e não a cor da pele. O que é que dá a uma pessoa a identidade Afro? Alguns não se consideram como negros! Existe uma baixa autoestima, por causa das experiências desumanas de escravidão e exploração e as imagens distorcidas da terra mãe, a África e do povo negro em geral. Eu me descobri negro so-mente quando cheguei a Londres e entrei em contato com outras raças. Antes não percebia. Eu me orgulho de ser africano. Na Venezuela eu descobri que apesar de ser negro, havia muitas diferenças entre eu e o povo Afro-Venezuelano. Tive que recorrer à inculturação com muita paciência, abertura e amor como uma ferramenta indispensável para meu trabalho. Percebi que o poder do missionário está também na diferença. Na Venezuela começamos o estudo da história do povo de Barlovento e percebemos que a maioria não a conhecia. Através do estudo da história promovíamos os valores do povo Afro-Venezuelano e a sua autoaceitação. Enfim, o meu sonho é que, todos nós, à luz do Evangelho e da proposta de Jesus, possamos construir uma sociedade onde tenhamos oportuni-dades iguais de trabalho e participação na sociedade e na Igreja e assim viveremos de forma justa, igualitária e fraterna como irmãs e irmãos de Cristo Jesus.

Karla Maria, LMC, é estudante de jornalismo.

bispos para que se sintam desafiados. Enfim, necessitamos ganhar espaços sem pressa e sem pausa!

Qual a missão da Pastoral Afro e seus maiores desafios?

A Pastoral Afro tem por missão ajudar o povo a viver sua fé, sem deixar de ser Afro. Reafirmar à sociedade que as diferenças dos povos, das suas culturas, suas religiões não são contrárias ao Reino de Deus, mas, manifestações da riqueza, das maravilhas da sua obra criadora. A Pastoral deve ajudar a aprofundar a inculturação que acontece no contexto de cada cultura, contribuindo para a superação de todos os preconceitos e discriminações, reconhecendo os valores religiosos da cultura Afro. Os Afros são uma grande massa de excluídos. Os desafios grandes estão na superação da pobreza econômica e educacional, em ajudá-los a conhecer suas origens e história e elevar sua autoestima. A Pastoral Afro precisa superar a institucionalização e sacramentalização que ignora a expressão cultural do povo. Há outros desafios como: elaborar projetos articulados com outros movimentos e redes sociais, a presença de grupos fundamen-talistas que deturpam a missão, a pouca sensibilidade por parte dos missionários no diálogo com as religiões afro-americanas, diálogo inter-religioso, e ainda uma mudança excessiva dos evangelizadores impedindo a continuidade no processo de incultura-ção e de encarnação do Evangelho nas diferentes situações humanas.

Quais as contribuições do XI EPA na inclusão e no diálogo inter-religioso?

O XI EPA refletiu sobre Globalizar a Solidariedade, a Espiritualidade Afro-Americana e suas expressões religiosas, a exclusão da pobreza dos afrodescendentes

integral no amor: libertação sociocultural, econômica e político-religiosa com uma verdadeira consciência de solidarieda-de e de pertença responsável na Igreja. Consolação entendida como libertação, justiça, paz e cuidado da criação. Somos chamados por Jesus para estar com Ele e sermos enviados a partilhar a verdadei-ra consolação, Jesus Cristo. Podemos contribuir para sensibilizar a Igreja local a fazer uma evangelização desde a cultura Afro, investindo na formação de agentes de Pastoral com uma espiritualidade inspirada no nosso carisma. Em resumo, temos que ler o nosso carisma IMC à luz da realidade Afro, e vice versa.

A Pastoral Afro é uma das opções do IMC na Região do Brasil? Quais as perspectivas para o futuro?

Na Venezuela, a Pastoral Afro sempre enfrentou dificuldades, os bispos nem sempre apoiavam. Na Colômbia há projetos que caminham, a Igreja se dedica muito a esse trabalho. Aqui no Brasil, o Instituto Missões Consolata demonstra disposição para apoiar e acompanhar. Existem algumas iniciativas em Salvador, Bahia e no Jardim Peri e Heliópolis, em São Paulo. Estamos dando os primeiros passos, mas, preci-samos de missionários que acreditem na Pastoral e é necessário formar uma equipe que trabalhe a tempo pleno. Isso requer preparação e formação dos missionários destinados a trabalhar nessa causa e mais estabilidade no território. Trabalhar em rede, em comunhão com outras forças atuando na área. Favorecer mais a comunicação e promover o estudo e as pesquisas sobre a realidade Afro. Olhando para o futuro, mo-tivar processos formativos nos seminários e com os leigos também. Nas dioceses onde atuamos precisamos envolver os

Participantes do XI EPA - Encontro de Pastoral Afro-Americana, Panamá.

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de Jaime Carlos Patias

ós caminhamos porque temos fé e acreditamos que é póssível construir um outro Brasil com cidadania". Sob esta motivação, a Região Episcopal Brasilândia da arquidiocese de São Paulo

e a diocese de Santo André, realizaram, de 5 a 7 de setembro, a 12ª Romaria a Pé, em sintonia com o Grito dos Excluí-dos. Cerca de 60 pessoas caminharam do Recanto dos Humildes, em Perus, passando pelos bairros Jaraguá, Tai-pas, Rincão, Jardim Damasceno, Vista Alegre, Vila Souza, Jardim Peri, Vila dos Ferroviários e Barra Funda, seguindo até o centro da cidade de São Paulo. Além do necessário para os três dias, os romeiros levavam a imagem de Nossa Senhora Aparecida, a cruz e uma faixa com o tema do Grito: “Vida em primeiro

Vamos caminhar,Povo de Deus!

“Vida em primeiro lugar. A força da

transformação está na organização popular”.

participação quando houver decisão na sua comunidade. Defender com alegria o tema cidadania”. Nas paradas para descanso aconteciam celebrações, ter-ços, dinâmicas educativas e partilha. A primeira noite o grupo se abrigou numa escola da Vila Souza onde as irmãs da Congregação do Padre Mazza mantêm um projeto que atende mais de cem crianças. No centro de São Paulo, a Romaria passou pelo Largo do Paissandu e almoçou no salão São Francisco dos Frades Franciscanos, que alimenta o povo em situação de rua.

Na segunda noite, os romeiros foram acolhidos na Casa de Oração do Povo de Rua, construída em 1997, por dom Paulo Evaristo Arns, na região da Luz. Neste local, os romeiros destacaram os pontos fortes da caminhada e a participação da juventude, em especial de Ricardo Pa-dilha de Oliveira, 30, que é paraplégico. “Agradeço a Deus pela coragem desses jovens em trazer um deficiente físico junto com eles, mesmo debaixo de chuva forte”, disse dona Ana Rosa, mãe de Ricardo, “isso é sinal da graça de Deus”, concluiu. Após o jantar, feito pelos moradores de rua, frei Alamiro Andrade Silva presidiu a eucaristia.

Em meio aos inúmeros contrastes, os romeiros refletiam sobre a vida dos povos indígenas, dos afrodescenden-tes, das crianças e jovens, dos idosos

lugar. A força da transformação está na organização popular”. No roteiro de apro-ximadamente 25 quilômetros, mais de 60 ruas e avenidas com 15 paradas, onde os romeiros eram recebidos com lanches, sucos e muita animação. Aparecida da Silva, 76, participa da comunidade Santo Expedito no bairro Vista Alegre. “Tudo isso é muito especial, uma bênção para nós”, dizia satisfeita, explicando que muitas famílias haviam contribuído com a acolhida. Após o momento de descanso o líder anunciava: “vamos caminhar, povo de Deus, com muita fé e esperança”. Era o grito de ordem que se misturava com o barulho dos carros, o latido dos cães, vozes de crianças e a música do carro de som.

Os organizadores se revezavam ao microfone para explicar à população o significado da ação. “Queremos uma pátria livre, justa, onde o povo seja respeitado e ouvido”, disse Fred Santos, educador no Centro Pastoral Santa Fé, em São Paulo, que também atua na defesa dos direitos humanos. Por todo lado, há muito trabalho social sendo desenvolvido nos bairros, paróquias, associações e enti-dades religiosas. A pedagoga Olívia Luiz de Souza, coordenadora de obras sociais no bairro Vista Alegre recitou uma poesia sobre cidadania: “todo mundo tem direito à saúde e moradia, ao esporte e ao res-peito. O pão, lazer e alegria. Sempre ter

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e aposentados. Falaram da situação da saúde, educação, moradia, transportes, saneamento básico, lixo, meio ambiente e economia. Ao ver a imagem da Mãe Apa-recida, muitas pessoas demonstravam sua devoção. Na Avenida Inajar de Sousa, três ciganas vindas de Aracaju se mostraram interessadas no que estava acontecendo. Detiva dos Santos, Briolange da Gan e Normélia Santos Santana disseram que sempre rezam para que Nossa Senhora faça milagres em favor das pessoas que pedem uma graça.

Na Vila Palmeiras, encontra-se o Centro Comunitário dos Moradores da Inajar de Souza. Dona Benedita dos Santos, 75, mostrou a capelinha de Nossa Senhora que ela mesma construiu e cuida há mais de 30 anos. “Não sei se estou fazendo bem ou mal, mas, sou evangélica e cuido da capelinha porque fui eu quem fiz quando era católica. Deus é quem sabe. Se ela sabe que eu estou fazendo o bem, ela também ajuda”, lembrou Benedita.

Dom Angélico Sândalo, bispo emérito de Blumenau, SC, que mora na Região Brasilândia foi dar seu apoio aos romeiros na comunidade Nossa Senhora Apareci-da, nas proximidades da Avenida Inajar de Souza. Antônieta Felix da Silva que trabalha na Pastoral da Criança e cuida da capela, partilhou com os romeiros as lutas e atividades da comunidade. Dom Angélico distribuiu um punhado de crucifixos e abençoou os peregrinos. “A exemplo de Moisés, permaneçam firmes que a libertação vai acontecer. Essa crise que está aí acaba pisando na garganta do trabalhador. Quem caminha com vo-cês é o próprio Jesus. Ele é nosso líder e o Espírito Santo se manifesta, não na gritaria, mas quando o povo se organiza para que a dignidade aconteça em cada pessoa. Deus vos abençoe na caminhada”, concluiu, animando os romeiros.

Tudo começou em 1995, numa conver-sa na casa de dona Benedita Ferreira. Célia Leme, Maria do Carmo, Eduardo Moreira, Nice Rocha, Orlando Barbe, Sebastião Silva de Souza, Sebastião Gonçalves, Ivo Vescara, padres José Aécio Cordeiro, José Renato, Jorge Ferreira, Luiz Carlos Toffanelli e a irmã Elena Conforto, são alguns que caminham todos os anos. Segundo Célia Leme, que é teóloga e atua nas CEBs “caminhar faz parte da vocação da Igreja com raízes bíblicas desde a caminhada do povo no deserto. A Romaria mostra uma característica das comunidades como Igreja de base que sai para anunciar e denunciar, sempre comprometida com os mais pobres. Uma Romaria a Pé tem um grande significado para a nossa vida pessoal e para a nossa organização”, disse.

dos Excluídos, em São Paulo. Presidida pelo cardeal arcebispo, dom Odilo Pedro Scherer, a missa foi marcada por símbolos que recordavam os diversos gritos do povo brasileiro. Concelebraram dom Angéli-co Sândalo, dom Pedro Luiz Stringhini, bispo auxiliar de São Paulo e presidente da Comissão Pastoral de Justiça e Paz da CNBB, diversos padres e diáconos. “O grito que sobe ao Senhor é fonte de esperança para o povo que se une aos trabalhadores e à Romaria de Aparecida”, afirmou dom Pedro fazendo memória dos 30 anos do assassinato do líder operário, Santo Dias. O bispo convidou o povo a intensificar a coleta de assinaturas para a Campanha Ficha Limpa, que propõe a inelegibilidade de candidatos em débito com a justiça.

Na homilia, dom Odilo recordou a última Encíclica de Bento XVI, Caritas in Veritate, sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade. “Além de buscar soluções locais, precisamos buscar soluções globais. Com tanta tecnologia, como é possível existir tanta gente pas-sando fome, com falta de moradia e sem trabalho?”, questionou o cardeal. “É preciso globalizar a solidariedade, muito mais do que pensar no confronto de interesses, é preciso somar os esforços para uma nova cultura de colaboração, na qual se olhe mais para aqueles que estão excluídos. Isso se realiza na comunidade humana universal como numa família”, disse o arcebispo.

Após a missa, liderados por um trio elétrico, empunhando bandeiras, o povo fez a tradicional caminhada da Sé até o Parque da Independência, no bairro do Ipiranga. A fraca participação dos parti-dos políticos e dos grandes sindicatos como a CUT e a Força Sindical nas lutas dos movimentos sociais foi avaliada pelo deputado federal Ivan Valente, do PSOL, como um retrocesso. O que falta, segundo o deputado, “é o povo na rua para fazer as mudanças. Precisamos do povo orga-nizado em sindicatos, em associações, em movimentos populares”, argumentou. No Parque da Independência as últimas lideranças que representavam entidades organizadoras do Grito em São Paulo fizeram uso da palavra para expor suas reivindicações. Um caixão foi colocado diante do Monumento da Independên-cia, simbolizando a necessidade de se enterrar a corrupção na política brasileira. Enquanto isso, em Brasília, o presidente Lula anunciava a compra de 36 aviões de caça, 50 helicópteros e 5 submarinos, operação no valor de R$ 30 bilhões.

Jaime Carlos Patias, IMC, é diretor da revista Missões, com colaboração de Karla Maria, LMC.

O povo tem féUm dos idealizadores da Romaria a

Pé, padre José Aécio Cordeiro da Silva, adiantou que “o ano que vem ela será melhor. Sabemos que muitas pessoas estão excluídas e até lá vamos nos orga-nizar para sair, quem sabe, de Pirapora do Bom Jesus, a 54 quilômetros do centro de São Paulo. A sujeira da cidade vai parar em Pirapora pelo Rio Tietê. Iremos lá para dizer que precisamos mudar isso. Quando se recupera um rio, recupera-se um Estado, uma Nação”, justificou o padre que atua na paróquia Nossa Senhora das Graças, Morro Doce e coordena a Pastoral Carcerária Padre Macedo, na Região Brasilândia. Perguntado sobre o valor do gesto, padre Aécio explicou: “Deus é quem criou tudo e não tem como separar a fé da vida. O Estado é laico, mas o povo brasileiro tem muita fé. Temos que respeitar os que não têm fé, mas, temos de respeitar também os que acreditam”,

argumentou. Padre Neil Charles Crombie, SPS, vigário episcopal da Região Brasi-lândia acolheu os romeiros na catedral. “Esta romaria é uma lembrança de que nem todo mundo ganhou a independência, é um grito pelo povo mais sofrido e pobre de nossa sociedade”, afirmou.

Grito dos ExcluídosA última etapa levou os romeiros da

região da Luz até a Catedral da Sé, onde o grupo se uniu às outras pastorais e movimentos populares, para a missa dentro das manifestações do 15º Grito

Romeiros cruzam o bairro Perus, SP.

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AmazôniaSemana Missionária em outubro

Pela primeira vez a Igreja do Brasil realiza uma Semana Missionária para a Igreja Católica na Amazô-nia. No último dia 28 de agosto, a Comissão Episcopal para Amazônia, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, enviou para todas as dioceses do país o material necessário para divulgar a Semana: texto-base, folders e cartazes. Este ano ela acontece entre os dias 25 e 31 de outubro, com abertura na catedral da Sé, em Belém, PA. “Queremos que esta iniciativa seja uma oportunidade para que todo o povo de Deus possa engajar-se cada vez mais na ação evangelizadora da Igreja no Brasil”, afirmou o presidente da Comissão para a Amazônia, dom Jayme Henrique Chemello sobre as intenções do evento. Segundo a assessora da Comissão, irmã Maria Irene Lopes dos Santos, a Semana pretende envolver a Igreja do Brasil de diversas formas. “O projeto visa envolver a Igreja fazendo com que os leigos entendam a importância da Amazônia para o Brasil e para o mundo. Aspectos ecológicos, ambientais, econômicos, políticos e, sobretudo, os voltados para a evangelização”. Ainda de acordo com irmã Irene, a principal meta do projeto é fazer conhecer a realidade amazônica. “Queremos fazer conhecer e também responder às grandes transformações e desafios da Amazônia. Com a participação de toda a Igreja vamos enfrentar conjuntamente os desafios da evangelização na Amazônia”. O projeto da Semana Missionária para a Amazônia foi aprovado na última Assembleia Geral da CNBB que aconteceu em abril, em Itaici, Indaiatuba, SP.

Brasília – DFEstatuto da Igualdade Racial

Após quase dez anos de tramitação, a Câmara aprovou, no dia 9 de setembro, o Estatuto da Igual-dade Racial. No entanto, foi preciso fazer um acordo com a bancada ruralista da Casa. Para destravar a proposta, o deputado Antônio Roberto do PV de Mi-nas Gerais, relator do projeto, aceitou excluir o artigo sobre a regularização de terras quilombolas. Apesar disso, o movimento negro avaliou como importante o passo dado pela Câmara. A coordenadora do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira, Cenarab, Macota Gonçalves, comentou o significado da aprovação. “É o Estado brasileiro reconhecendo as consequências da escravidão, da exploração do povo negro, do não acesso do povo negro à educação, à saúde”. Pelas regras do Estatuto Racial, os partidos serão obrigados a destinar aos negros 10% de suas vagas para candidaturas nas eleições proporcionais. Também, passa a ser obrigatória a inclusão, no currículo do ensino fundamental, de aulas sobre história geral da África e do negro no Brasil. Na área da saúde, o estatuto passa a exigir do sistema público, especiali-zação no tratamento de doenças mais características dos negros, como a anemia falciforme. Outro ponto é o incentivo fiscal do governo, que poderá ser concedido para empresas com mais de 20 pessoas ao contratarem pelo menos 20% de funcionários negros. A bancada ruralista aceitou apoiar a votação do Estatuto em ca-ráter terminativo. Ou seja, a proposta poderá seguir diretamente para o Senado, sem ser submetida à aprovação do plenário da Câmara.

Violência no campoA Comissão Pastoral da Terra, CPT, divulgou no

dia 3 de setembro, um balanço da violência no campo nos seis primeiros meses do ano. Segundo o levan-tamento, de janeiro a junho, o número de conflitos no campo no país apresentou queda de 46%, em relação à igual período de 2008. No Brasil, foram registrados de janeiro a junho 366 conflitos, envolvendo mais de 193 mil pessoas, com 12 assassinatos, 44 tentativas de assassinato, 22 ameaças de morte, seis pessoas torturadas e 90 presas. No mesmo período de 2008, foram contabilizados 678 conflitos, com envolvimento de mais 301 pessoas e 13 mortes. O levantamento aponta, no entanto, crescimento no número de ten-tativas de assassinato, de 32, em 2008, para 44, em 2009. A média de pessoas envolvidas nos conflitos é maior em 2009. A média nacional, em 2008, era de 445 pessoas envolvidas a cada conflito. Em 2009, este número saltou para 528. O levantamento também sinalizou para 265 casos no Paraná em que famílias foram submetidas à ação de pistoleiros. Em números de pistolagem, o estado só fica atrás da Bahia, que registrou 744 casos, e Ceará, com 900 casos. Em todo o país, foram registrados 2.915 casos de pistolagem de janeiro a junho. No ano passado, o número de casos no Paraná (855) só foi inferior diante dos registros do Pará (2.311) e do Maranhão (944). O presidente da CPT no Paraná, dom Ladislau Biernaski, confirma que os números da violência no campo vêm caindo no estado, porém continuam apresentando índices preocupantes. Segundo dom Ladislau, o número de assassinatos cai à medida que se efetivam os assen-tamentos. “No Paraná já percebemos uma melhora no volume de assentamentos, apesar de eles ainda serem em número pequeno”, afirma.

Nazaré Paulista – SPEncontro Missionário Regional

Com o tema “A Espiritualidade na Vida do Discípulo(a)”, o Conselho Missionário Regional - COMIRE Sul 1 da CNBB, realizou de 28 a 30 de agosto, na Casa de Retiros Mambré Tainá em Nazaré Paulista, diocese de Bragança Paulista, o 29º Encon-tro Missionário Estadual. O evento foi assessorado pela irmã Antônia Mendes Gomes, NDC, da Confe-rência dos Religiosos do Brasil – CRB e contou com participação de 160 representantes das dioceses, assessores(as) e coordenadores(as) de Conselhos Missionários Diocesanos - COMIDIS, da Infância e Adolescência Missionárias - IAM, religiosas, padres e seminaristas. Segundo Robson Ferreira, coordenador do COMIRE, Regional Sul 1, o Encontro esteve em sintonia com os últimos congressos missionários, no espírito da Conferência de Aparecida. “Queríamos ressaltar a importância da espiritualidade para, diante dos desafios, não cairmos no ativismo. Penso que atingimos esse objetivo”, disse. Para dom José Maria Pinheiro, bispo de Bragança Paulista e presidente do COMIRE, o evento foi “uma grande bênção para a diocese e a cidade de Nazaré Paulista e para o Regional”, destacou.

Fontes: CNBB, CPT, Notícias do Planalto, revista Missões.

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Os subsídios produzidos pela Comissão respon-sável pelo Projeto “O Brasil na Missão Con-tinental”, encontram-se

disponíveis para download em pági-na eletrônica criada especialmente para divulgar o Projeto. Para baixar conteúdos como a explicação do Tríptico (Capelinha Missionária), a Apresentação do Projeto Nacional de Evangelização, vídeos, artigos e fotos, basta acessar a página:http://www.revistamissoes.org.br/missaocontinental/home.htm

Comunidades, paróquias, dio-ceses, grupos e organismos podem utilizar o material em eventos e pro-gramas de formação e animação missionária.

O site recebe e divulga produções, notícias, artigos e experiências no contexto da Missão Continental em curso no Brasil. Contribuições podem ser enviadas para a assessoria de imprensa.

Pe. Jaime C. PatiasComunicação Missioná[email protected]

Subsídios MissionáriosO Brasil na Missão Continental

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