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nÚMero 144 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015 2 € periódico galego de informaçom crítica a vitÓria cubana 12 Os capitalistas nom querem ficar à margem das oportunidades abertas pola Reforma Económica. Se o desa- fio de Cuba nom é menor, o dos EUA consiste em inventar umha forma de interlocuçom que supere a violência. cidadanisMo na Galiza 11 Existem paralelismos entre o cidada- nismo do nacionalismo galego de fins do século passado e o emergente ci- dadanismo espanhol. Quais os limites desta proposta na hora de liquidar as leis do capitalismo? N ovas da G ali a “Assumim que estava condenado desde o mesmo dia da minha detençom” héitor Naia independentista condenado a 11 anos de prisom Pág. 6 e 7 oPinioM a sua ditadura, a Nossa rebeldia por héctor tejón / 3 os massaCres por luís Gonçales blasco / 3 jorNalista de merda por rodri suárez / 28 suPleMento esPecial o PasquiM Nós também somos ‘Charlie hebdo’ Quatro anos (e um quarto) após a sua última reapariçom, ‘O Pas- quim’ reaparece de novo para render póstuma homenagem a Charb, Cabu, Wolinski e Tignous, os quatro cartunistas do ‘Charlie Hebdo’ vilmente assassinados no passado dia 7 de janeiro em Paris. Desta volta, ‘A Revista’ cede todo o seu espaço para que ‘O Pasquim’ poda luzir em todo o seu esplendor e em toda a sua extensom. Contra quem vê falhos na política linguística, há quem julga que está a lograr o seu objetivo real: exterminar o galego / PÁG.20 revolta vicinal contra o barco da rotunda de coia Fracassou a ‘normalización’? uMHa cidade ‘HuManizada’ eM que a vizinHança Passa foMe O conflito vicinal aberto em Vigo pola instalaçom dum barco numha rotunda de Coia está a pôr a debate o uso que as administraçons fam do dinheiro público. O que acontece neste bairro nom é apenas umha ques- tom de urbanismo e estética, é umha revolta da gente que mais está a padecer a crise, denunciando as mil- honárias adjudicaçons a construtoras para a realiza- çom de reformas urbanas enquanto os serviços sociais da cidade colapsam. Os protestos no bairro de Coia começárom em dezembro e o alcalde Abel Caballero nom duvidou em reprimir a vizinhança enviando a Polícia Local para escoltar as obras. / PÁG. 16-17 GALIZA CONTRAINFO Feministas vindicam espaço na história MulHeres e MeMÓria O feminismo reclama a recupe- raçom da genealogia das mul- heres e, sobre todo, das próprias feministas. Um objetivo que co- meça a colar-se no eido institu- cional como é a hemeroteca fe- minista A Saia, impulsada pola Comissom de Igualdade do Conselho da Cultura Galega. O projeto procura visibilizar o fe- minismo galego através da digi- talizaçom de revistas feministas. Umha das técnicas do projeto assinala que trabalhar numha instituçom tem “vantagens” mas também “riscos”. / PÁG. 24-25 A repressom eficiente lei de ‘seGurança cidadÁ’ Com 181 votos a favor –os do PP- e 141 em contra -os de toda a opossiçom-, o Congresso es- panhol aprovou a meiados de dezembro de 2014 a baptizada como Lei de Segurança Cidadá, umha norma que sega as liber- dades e conculca o direito ao protesto. Com a ajuda de Yolan- da Ferreiro, advogada e vice- presidenta de Esculca, debulha- mos o conteúdo deste texto que estabelece, sem matizes, um es- tado policial. Aliás, analisamos as 12 normas internacionais que o ministério do Interior vul- nera ao legalizar as ‘devoluçons em quente’. / PÁG. 18-19 ERNESTO ILKERMN

ovas da Gali a condenado a 11 anos de prisom indep tsa · desta proposta na hora de liquidar as leis do capitalismo? Novas da Gali a “Assumim que estava condenado desde o mesmo

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Page 1: ovas da Gali a condenado a 11 anos de prisom indep tsa · desta proposta na hora de liquidar as leis do capitalismo? Novas da Gali a “Assumim que estava condenado desde o mesmo

nÚMero 144 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015 2 €

p e r i ó d i c o g a l e g o d e i n f o r m a ç o m c r í t i c a

a vitÓria cubana 12Os capitalistas nom querem ficar àmargem das oportunidades abertaspola Reforma Económica. Se o desa-fio de Cuba nom é menor, o dos EUAconsiste em inventar umha forma deinterlocuçom que supere a violência.

cidadanisMo na Galiza 11Existem paralelismos entre o cidada-nismo do nacionalismo galego de finsdo século passado e o emergente ci-dadanismo espanhol. Quais os limitesdesta proposta na hora de liquidar asleis do capitalismo?

Novas da Gali a

“Assumim que

estava condenado

desde o mesmo

dia da minha

detençom”

héitor Naiaindependentistacondenado a 11anos de prisom Pág. 6 e 7

oPinioM

a sua ditadura, a Nossa rebeldia por héctor tejón / 3

os massaCres por luís Gonçales blasco / 3

jorNalista de merda por rodri suárez / 28

suPleMento esPecial o PasquiM

Nós também somos ‘Charlie hebdo’Quatro anos (e um quarto) após a sua última reapariçom, ‘O Pas-quim’ reaparece de novo para render póstuma homenagem aCharb, Cabu, Wolinski e Tignous, os quatro cartunistas do ‘CharlieHebdo’ vilmente assassinados no passado dia 7 de janeiro em Paris.Desta volta, ‘A Revista’ cede todo o seu espaço para que ‘O Pasquim’poda luzir em todo o seu esplendor e em toda a sua extensom.

Contra quem vê falhos na política linguística, há quem julga queestá a lograr o seu objetivo real: exterminar o galego / PÁG.20

revolta vicinal contra o barco da rotunda de coia

Fracassou a ‘normalización’?

uMHa cidade ‘HuManizada’ eMque a vizinHança Passa foMe

O conflito vicinal aberto em Vigo pola instalaçom dumbarco numha rotunda de Coia está a pôr a debate ouso que as administraçons fam do dinheiro público. Oque acontece neste bairro nom é apenas umha ques-tom de urbanismo e estética, é umha revolta da genteque mais está a padecer a crise, denunciando as mil-

honárias adjudicaçons a construtoras para a realiza-çom de reformas urbanas enquanto os serviços sociaisda cidade colapsam. Os protestos no bairro de Coiacomeçárom em dezembro e o alcalde Abel Caballeronom duvidou em reprimir a vizinhança enviando aPolícia Local para escoltar as obras. / PÁG. 16-17

GALIZA CONTRAINFO

Feministas vindicamespaço na história

MulHeres e MeMÓria

O feminismo reclama a recupe-raçom da genealogia das mul-heres e, sobre todo, das própriasfeministas. Um objetivo que co-meça a colar-se no eido institu-cional como é a hemeroteca fe-minista A Saia, impulsada polaComissom de Igualdade do

Conselho da Cultura Galega. Oprojeto procura visibilizar o fe-minismo galego através da digi-talizaçom de revistas feministas.Umha das técnicas do projetoassinala que trabalhar numhainstituçom tem “vantagens” mastambém “riscos”. / PÁG. 24-25

A repressom eficientelei de ‘seGurança cidadÁ’

Com 181 votos a favor –os doPP- e 141 em contra -os de todaa opossiçom-, o Congresso es-panhol aprovou a meiados dedezembro de 2014 a baptizadacomo Lei de Segurança Cidadá,umha norma que sega as liber-dades e conculca o direito aoprotesto. Com a ajuda de Yolan-

da Ferreiro, advogada e vice-presidenta de Esculca, debulha-mos o conteúdo deste texto queestabelece, sem matizes, um es-tado policial. Aliás, analisamosas 12 normas internacionaisque o ministério do Interior vul-nera ao legalizar as ‘devoluçonsem quente’. / PÁG. 18-19

ERNESTO ILKERMN

Page 2: ovas da Gali a condenado a 11 anos de prisom indep tsa · desta proposta na hora de liquidar as leis do capitalismo? Novas da Gali a “Assumim que estava condenado desde o mesmo

02 oPinioM Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

Se tés algumha crítica a fazer, algum facto a denunciar, ou desejas transmitir-nos algumha in-quietaçom ou mesmo algumha opiniom sobre qualquer artigo aparecido no NGZ, este é o teulugar. As cartas enviadas deverám ser originais e nom poderám exceder as 30 linhas digitadasa computador. É imprescindível que os textos estejam assinados. Em caso contrário, NOVAS DA

GALIZA reserva-se o direito de publicar estas colaboraçons, como também de resumi-las ou ex-tratá-las quando se considerar oportuno. Também poderám ser descartadas aquelas cartasque ostentarem algum género de desrespeito pessoal ou promoverem condutas antisociaisintoleráveis. Endereço: [email protected]

o PelourinHo do novas

o salMoM de Grandal

Umha cousa é assistir em pessoaà intervençom de Arturo Grandalem Monçao, com motivo dessa ini-ciativa em favor dumha “euroci-dade” Salvaterra de Minho-Mon-çao, e outra muito diferente é ler arespeito dessa intervençom após ofiltrado realizado polos meios decomunicaçom que recebem emmaior ou menor medida publici-dade de todo tipo de instituiçons.A intervençom de Arturo Grandaldevera ter sido objeto dumha críti-ca jornalística implacável polograu de ridículo protagonizado.

Antes de chegar ao 13 de de-zembro, dia do ato em Monçãocom a assinatura protocolária doacordo de princípios, o desconhe-cemento público em Salvaterrado ato no qual interviria o Presi-dente da nossa Cámara Munici-pal, era absoluto. Quais os fins da“eurocidade”, que benefícios,quais as expetativas e propostasda vizinhança...? Nesta beira do

Minho, nengumha informaçom enengumha possibilidade de apor-tar as nossas opinions ou suge-rências. Pola contra, do outro la-do da ponte, o ato foi anunciadonos meios locais, a populaçom ti-nha conhecemento e era convida-da a assistir e participar. [...]

Na intervençom de Arturo Gran-dal pudo-se apreciar o seu estilopopulista e desconhecimento nasmatérias que aborda. À sua pro-posta de unidade das duas cámarasmunicipais “de aqui a 50 anos”,aportou também o possível nomede “Monsal” ou “Salmón”, decan-tando-se por esta última por maisrepresentativo do rio e do peixe. Secalhar, ainda morando em Monçãoe nom no município do qual é al-caide, desconhece que Salmón emportuguês é Salmão, e que essa ter-minaçom '-mão' nom se correspon-de com o 'Mon-' de Monção. Em to-do caso, esta é provávelmente, amais pequena das burrices aporta-das pola sua parte. [...]

O património cultural partilha-do, a história e língua comuns, som

difuminadas ou perseguidas aquipor quem aposta numha "euroci-dade" com o olhar posto única-mente na possibilidade de enchero peto do empresariado afim e/oufinanciador do seu partido. O de-sastre urbanístico de Salvaterraimpossibilita qualquer aposta sériapor procurar turistas de Portugal

para o nosso município. [...]A promoçom dessa "eurocida-

de" aqui denunciada polas formasnas quais se vem desenvolvendoé só um exemplo de como se faipolítica sem ter em conta a quemdeveramos ser o "para quem se faipolítica". Esta medida implemen-tada com essa linha de interven-

çom nom será a mais perjuducial,mas sim conta o elemento co-mum à maioria de medidas ado-tadas: o despreço pola maioria dapopulaçom de Salvaterra.

Por desgraça, o esbanjamento derecursos públicos em benefício dacamarilha de Arturo Grandal e doseu partido, executados sem a maismínima contestaçom social ve-nhem sendo a tónica habitual. [...]

Em Salvaterra de Minho necessi-tamos promover maiores níveis deautoorganizaçom popular, de con-tato, diálogo e confluência vizinalpara pôr freio a esse costume de "irpor livre" que só benfícia às "autori-dades". Desconhecemos quais se-ram os resultados das próximaseleiçons municipais mas, com maisde Arturo ou com novo governo, amobilizaçom e autoorganizaçompopulares som imprescindíveis pa-ra poder incidir e condicionar as de-cissons de quem governar.

Xosé Gonçalves AlonsoAbraám Alonso Pinheiro

(Salvaterra de Minho)

Nom nos corresponde, por-que o conhecimento do ca-so nom vai além dumhas

quantas capas aparecidas pola re-de, julgar se era a Charlie Hebdoumha publicaçom 'maiormente' an-tifascista, de esquerdas, liberal-isla-mofóbica, ou simplesmente satíricae por isso, ao parescer, impune.

Mas também nom aceitamosum discurso dominante da liber-dade de expressom sagrada, incri-ticável. Primeiro, porque nomacreditamos num modelo tal, quepretende abstrair qualquer um dis-curso das suas condiçons sociais eeconómicas concretas, eximi-lo deresponsabilidade e igualar a vali-dez duns e outros. Sermos intran-

sigentes ante qualquer ingerênciado estado na livre opiniom nom sónom é incompatível, mas exige, oexercício da crítica radical e ainda,quando possível e necessário, oboicote e a sabotagem a quem em-prega a palavra como arma paradefender o status quo ou ri com opatriarcado desde umha posiçomde poder mediático.

Um meio de comunicaçom é um-ha ferramenta com um enorme po-tencial e, portanto, com umha exi-gência enorme de responsabilidadesocial e política. Essa responsabili-dade social do jornalismo e o ser ga-rantes do direito à informaçom nemsempre vai coincidir com o exercí-cio do direito -dos indivíduos- à li-

berdade de expressom, mas sim -seesse exercício de comunicaçompretende ser emancipador- com aconstruçom de solidariedades ealianças entre as classes popularesfrente aos focos de poder.

Descrevia bem o conflito Yazanal-Saadi, redator do periódico daesquerda libanesa Al-Akhbar:“nom atopo nada de heroico num-ha banda de escritores e artistasda elite branca metendo-se comas identidades e crenças das mi-norias. A sátira é um ato do que seespera que golpeie cara acimacontra o poder, e nom cara abaixocontra as e os débeis. Os argu-mento pola liberdade de expres-som e a liberdade de imprensa

nom deveram, nom devem, deixarfora o questionar e entender osprivilégios a as diferentes dinámi-cas de poder operantes.”

Da liberdade de expressom como 'valor ocidental'Nom acreditamos, e é por isso quenom somos agora Charlie, numhaliberdade de expressom que é pre-texto para a invasom de países, paraperpetrar massacres diários e paralevar à gente à prisom por opinar. A'liberdade de expressom' que estesdias foi defendida nos mass-media éumha liberdade eivada, que permitefechar diários, levar a prisom jorna-listas, perseguir cidadás que regis-trem abusos policiais ou opinem.

Porque é este o jogo mais maca-bro das últimas semanas: a dia 20,117 pessoas tinham sido levadasdiante da justiça polo estado francês

por 'apologia do terrorismo'. A maisrecente, um moço de 16 anos quependurou na rede umha justíssimaparódia dumha capa do CharlieHebdo. Jogava com a capa do nú-mero 1099, que ria da morte de cen-tos de egípcios e egípcias a maos darecém instaurada ditadura militarde Al-Sisi. Retratava um egípcioacribilhado por balas que atravessa-vam um Corám, e num quadro mo-fava-se “O Corám é umha merda,nom para as balas”. Um quadrinhoanálogo leva este moço francês antea 'justiça' estatal: um homem brancocom semelhança ao diretor da Char-lie Hebdo sostinha enquanto era ba-leado umha revista que, efetivamen-te, “é umha merda, nom para as ba-las”. Para quem se perguntava co-mo ía reagir Ocidente a essa sátira,a imputaçom deste jovem é a res-posta mais clara possível.

De liberdades e direitoseditorial

HuMor beto

D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência.

editoraa.C. miNho media

CoNselho de redaçomaarón lópez rivas, rubén melide, Xavier miquel, raul rios, Xoán r. sampedro, olga romasanta, beti Vázquez, alonso Vidal e ana Viqueira

CoordeNaçom: Xoán r. sampedro

seCçoNsCronologia: iván Cuevas / economia:raul rios / mar: afonso dieste /

media: Xoán r. sampedro e Gustavo luca / além minho: eduardo s. maragoto / Povos:josé antom ‘muros’ / dito e Feito: olga ro-masanta / a denúncia: iván García / despor-tos: anjo rua Nova e Xermán Viluba / Consu-mir menos, Viver melhor: Xan duro / a Crian-ça Natural: maria Álvares rei / agenda: ireneCancelas / a revista: rubén melide / a Gali-za Natural: joão aveledo língua Nacional:isabel rei samartim / Criaçom: Patricia ja-neiro / Cinema: Xurxo Chirro, iván Garcíaambruñeiras e julio Vilariño

maQuetaçom: h. Carvalho, manuel Pintor

FotoGraFiaarquivo NGZ, sole rei, Galiza independente(GZi-Foto), Zélia Garcia, borja toja

admiNistraçom: Carlos barros Gonçales

audioVisual: Galiza Contrainfo

humor GrÁFiCosuso sanmartin, Pestinho, Xosé lois hermo,Gonzalo, ruth Caramés, Pepe Carreiro, mincinho, beto

FeCho de ediçom: 22/01/2015

Correçom liNGÜÍstiCaXiam Naia, F. Corredoira, Vanessa Vila Verde, mário herrero, javier Garcia, iván Velho, josé dias Cadaveira, albano Coelho

Colaboram Neste NÚmerobeto, héctor tejón, luís Gonçales blasco,júlio teixeiro, Gustavo luca, andrérodrigues, Xiana Guerra, rodri suárez

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Oselvagem atentado queacabou com boa parte doplantel de Charlie Hebdo

tem provocado muitas reações ecomentários. Tive uma boa provaao ler os provocados pelo meuinocente post em Facebook de 7de janeiro: “Comprava CharlieHebdo quase cada semana...” Co-meçou aí uma discussão quequalquer pode ver na minha cro-nologia com documentos, infor-mações e opiniões anexas. A últi-ma asneira que vi em Facebookfoi no perfil de Isca. Eu vi nascero Charlie Hebdo em 1970 parasubstituir o L'Hebdo Hara kirique foi proibido pelo ministro deinterior Raymond Marcellin por

fazer brincadeira com a morte deCharles de Gaulle. Umas sema-nas antes o incêndio de uma dis-coteca causara a morte de maisde 170 pessoas, perante esta tra-gédia jornais franceses publica-ram capas do tipo da que repro-duzo, com o local e o número demortos. De Gaulle morrera noseu lugar de nascimento, Colom-bey les Deux Églises, aonde se re-tirara depois de perder um refe-rendo e abandonar a política.

Fora da minha humilde linhado tempo apareceram muitas opi-niões (aludi a algumas) até do fi-lósofo Slavoj Žižek; o inteletualgalego Xesús González Gómeztraduziu um texto de Edgar Mo-rin que introduz informando deque a 8 de janeiro aparecera naspáginas de opinião de Le Monde

com outros artigos e um outro deBernard-Henry Lévi foi traduzidoe promovido em Espanha por ElPaís. Opina Gonzáleza Gómezque talvez nenhum jornal espa-nhol traduza o texto de Morin,por isso o traduziu e difundiu. Ti-

nha razão, assim foi. A que se de-ve o diferente trato dado a Lévi ea Morin, ambos de origem judia?Este explica que não justifica oporquê do atentado. As agressõesde Ocidente a países muçulma-nos têm uma longa história: Afe-ganistão, Iraque, Líbia, Pérsia, Sí-ria, etc. em muitos casos utilizan-do o islamismo radical para com-bater regimes laicos (em Iraquehavia ministros cristãos). Sobreas ruínas do anti-imperialismolaico nasceu e se desenvolveu omonstro regado e adubado porOcidente.

Dizia eu noutro post “Querodeixar esclarecido que os crimesmaciços em Iraque, Síria, Ucrâniae outras lugares cometidos porOcidente ou com a sua ajuda (Oci-dente, sim) não justificam o mas-sacre contra Charlie Hebdo” quei-xando-me de que muitos amigose boa gente não concordassemcom o meu pesar pelos assassina-tos de Paris e homenageando os

jornalistas mortos com fotos esco-lhidas nos exemplares que con-servava da revista. Tratava de de-monstrar que, contra o que algumdos meus interlocutores opinava erazoava, a gente de Charlie Hebdonão fora apenas antifascistas mastambém de esquerdas.

Remato informando sobre o as-sassinado diretor de Charlie Heb-do, Charb, que sempre sostivo oPCF e nas eleições de 2009 e de2010, apoiou o Front de Gauche.

03oPinioMNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

oPinioM

Acomeços do ano 2014, obairro burgalês de Gamo-nal convertia-se na capa de

todos os noticiários e jornais doEstado Espanhol. Um bairro obrei-ro com uma percentagem de de-semprego muito elevada, castiga-do polas políticas mortíferas dogoverno municipal do PP, observa-va como em nome da “necessidadee interesse sociais” dilapidavam-semais de 8 milhons de euros numhaobra tam inecessária para o comu-nitário como beneficiaria para ointeresse lucrativo do privado. Asredes do bairro, de longa trajetóriana luita obreira, nom só freárom oavanço do capitalismo especulati-vo em forma de investimento eminfraestruturas “públicas” ineces-sárias senom que se convertíromem referência da luita urbana noestado espanhol e de um direito àcidade por conquistar.

Desde o 3 de dezembro do mes-mo ano,o bairro de Coia, em Vigo,vem de apresentar umha dura ba-talha que cresce em torno do quesemelha a instalaçom de umhasimples rotunda e a sua remode-laçom. 300.000 euros para a ins-talaçom de um Barco, que engala-ne umha infraestrutura planifica-da de costas aos interesses reais,já nom do bairro de Coia, senomem tempos de emergência socialcoletivizada, de costas à necessi-

dade de umha populaçom assula-gada pola pobreza e a carência. Oalcalde, igual que no caso de Ga-monal, longe de escuitar, mostraa sua teimosia em que a obra setenha de realizar “sim ou sim”.Um comportamento tiránico de-vedor de tempos pretéritos, que acruz franquista do bairro do Cas-tro lembra diariamente enquantoo presente governo do PSOE in-siste na sua comemoraçom e aimposiçom de umha cidade commais reticências do que apoios.

O bairro de Sam Vicente de El-vinha na Corunha é outro caso pa-radigmático de luita e resistênciacontra a especulaçom disfarçadade “necessidade urbana”. Um pla-no de requalificaçom que data dosanos 90, ao que por aquel entomse opugera a vecinhanza do lugar.Umha obra que ia para “parqueempresarial” com um campo de

golfe e heliporto incluídos, e ficouem vivendas a bom preço porconstruir para cooperativas de po-lícias. A desapariçom de um dosúltimos espaços rurais na cidade,a suburbializaçom de umha aldeiacastigada polo crescimento da ci-dade do lucro classista e o benefi-cio privado. O derrubo de umhavivenda em nome da necessidadede umha infraestrutura inútil nocomunitário mas altamente pro-veitosa no financeiro.

Os três casos citados, visibilizamumha realidade com muitas foca-gens no conflito e transversal naresistência. Umha administraçomdo municipal (que nom comunitá-rio) baseada na satisfaçom dos in-teresses privados, no garante dolucro especulativo e na imposiçomunilateral de realidades urbanasinecessárias e afastadas por com-pleto das demandas comunitárias.

A cartografia da resistência é ra-pidamente comprovável. A tomade consciência por parte dos bair-ros vivos ou em processo de desen-tumecimento capitalista, evidenciaumha gestom política assimétricaentre as necessidades públicas de-mandadas e os interesses privadosgarantidos. A sua luita desigual éumha constataçom. Nos três casos,a presença da força só resulta exer-cida polas instituiçons que dim res-ponder aos nossos interesses. Apoliciarizaçom da rotunda em Coiaem maos dos GOA. Do bairro deElvinha com a presença de mais de14 furgons da Polícia Nacional eum retém incalculável de Polícialocal para botar umha família dasua vivenda. A criminalizaçom eencarceramento de cidadaos dobairro de Gamonal que defendiamum direito à cidade e à existência,que o concelho vende ao melhorcomprador. Amostram que a únicarelaçom política dentro do statuquo estatalista, umha vez que se

racha a série mando institucional-obediência cidadao, é a da imposi-çom da tirania com o exercício domonopólio da violência.

Seria um erro tomar a partepolo todo, porque nem todos osbairros do país e do Estado Es-panhol estám “em luita”, nem to-dos os municípios som contrá-rios aos seus governos, mas simhá duas evidências.

Umha, a da agenda política aaplicar que se vai conformandoatravés do espaço invisível surgi-do da confrontaçom entre o poderregente e a resistência desobe-diente. Pouco ou nada se falara dodireito à vivenda, à cidade, da gen-trificaçom, das urbes como espa-ço classista e lugares hostis para avida e proclives ao negocio. Atéque as próprias comunidades e vi-zinhança tomárom consciência deseu e mostrárom, já nom só o de-sacordo pontual, mas a formula-çom real de um “outro lugar” atin-gível e unicamente nom realizávelpola desídia e desinteresse do po-der despótico instituído.

Umha outra: que nom só se tra-ta de metodologia partitocráticaparticipativa, ou de brindes ao solem nome do povo, senom de algomais simples e profundo que co-meça num desagradável desper-tar cultural, numha lánguida to-ma de consciência social e numhaconquista paulatina e constantedo “impossível” como meta e doreal como lugar.

A sua ditadura, a nossa rebeldiahéctor tejón

Os massacresluís Gonçales blasco ‘Foz’

em Gamonal, Coia eelvinha, a presençada força só resultaexercida polas instituiçons que dimresponder aos nossos interesses

sobre as ruínas doanti-imperialismolaico nasceu e se desenvolveu omonstro regado eadubado por ocidente

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04 acontece Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

aconteceA maioria das cem solidárias que partici-parom na XV Marcha a Teixeiro foromidentificadas pola Guardia Civil. Em Tei-xeiro, as celas semelhavam estar baleiras.Desconhece-se a razom do corte de comu-nicaçom entre solidárias e presas.

controlo Policial na Xv MarcHa a teiXeiro

A Comissom pola Recuperaçom da Me-mória Histórica entregou no registro mu-nicipal umha proposta de moçom sobrea retirada de símbolos franquistas da ci-dade dirigida ao alcaide Negreira, com aintençom de que se aprove no pleno.

corunHa MantÉM 30 sÍMbolos franquistas

ANA VIQUEIRA / Maria Jesus Lou-reda mais o seu marido observá-rom como, nesta sexta-feira 9 dejaneiro, se abria por segunda vezo nicho onde se encontra suposta-mente a sua filha, situado no Ce-mitério Municipal de Sam Amaro,na Corunha. Nesta ocasiom, aexumaçom fai-se baixo iniciativado Julgado de Instruçom Número5 da cidade herculina por decisomda Providência de 2 de dezembrode 2014. Esta ampara-se num re-latório da Polícia Científica emque manifesta ter meios técnicossuperiores aos do laboratório pri-vado e suficientes para poder con-firmar se os restos som de umhadescendente de Loureda.

A exumaçom anterior realizou-se o 12 de abril do 2013 polo labo-ratório Neodiagnóstico, baixo su-pervisom do diretor do laboratórioJaume Buj. O processo tivo especialrelevância por ser a primeira exu-maçom que se fazia na Galiza coma fim de evidenciar umha trama sis-temática de roubo de crianças. Um-ha semana depois do descobrimen-to do nicho para recolher a mostrade ADN, a mulher denunciante re-cebeu ameaças anónimas “do tipode por tu bien estate quieta”.

O ginecologista que atendeuMaria Jesus poderia estar implicado em cinco casos maisMaria Jesus Loureda deu a luzumha nena o 5 de setembro de1977 no Sanatório Belén da Co -

runha. No parto foi anestesiadade modo geral e permaneceu se-dada ao longo de quatro dias.Neste tempo, o avó materno in-sistiu em que queria ver a bebé,sobretudo depois de o pessoalmédico comunicar que nasceracom um estado de saúde muitodébil. Em troques de ensinar-lhea criança, ameaçárom com ex-pulsá-lo do centro. Pouco de-pois, quando chegou o pai da

criança, informárom de que a re-cém nascida, finalmente, morre-ra. O homem insistiu em quequeria vê-la polo que lhe mostrá-rom umha criança que descrevecomo “enorme, mui desenvolvi-da e com hematomas”. Nom pui-do vê-la mais do que segundos.Também tivérom de insistir paraque lhes entregassem os restosmortais da bebé que enterráromno Cemitério Municipal de Ama-

ro e que agora investigam parasaberem se realmente se corres-pondem com as da sua filha su-postamente morta.

Maria Jesus Loureda suspeitaprincipalmente do pessoal mé-dico. De SOS Bebés RoubadosGalicia advertem que o gineco-logista que atendeu Maria Jesusaparece na documentaçom decinco casos mais que denun-ciam o roubo de bebés. Este mé-

dico, ainda que retirado, seguevivo polo que advertem da im-portância de que as investiga-çons periciais se realizem o an-tes possível. Ademais, MariaJesus pom o olho sob umha pes-soa que lhe aconselhou acudir aesse centro sanitário e que, de-pois do seu parto, trasladou-seà Corunha a viver. A associa-çom também assinala que há 11casos vinculados com o Cemité-rio de Sam Amaro. Em toda Ga-liza, SOS Bebés Roubados in-vestiga mais de 100 casos.

O 12 de abril do 2013 abriu-se por primeira vez o nicho dasuposta filha de Maria JesusLoureda para praticar as cor-respondentes provas de ADN.Mas o laboratório privado en-carregado da exumaçom nomfoi quem de certificar se os res-tos ali soterrados eram ou nomde umha descendente de MariaJesus. Após a querela presenta-da no Julgado de Instruçom Nú-mero 5 da Corunha tomou-se adecisom mediante Providenciade 2 de dezembro de 2014 deproceder a umha nova exuma-çom do bebé o 9 de janeiro de2015, amparando-se num infor-me da Policia Científica no quemanifesta ter meios técnicossuperiores aos do laboratórioprivado e suficientes para po-der confirmar se os restos somou nom de umha descendentede Maria Jesus Loureda.

Exuma-se por segunda vez umha suposta criança roubada na Corunha

o laboratÓrio Privado, que abriu o nicHo Por vez PriMeira, noM foi queM de concluir a Prova

Primeira exumaçom do corpo da criançasupostamente roubada / ANA viqueirA

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05aconteceNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

NGZ / A assembleia estatal dasMarchas da Dignidade que tivolugar em Cangas no passado 17de janeiro deu luz verde à agendade mobilizaçons desenhada para2015, incluindo a convocatória degreve geral para 22 de outubro. Éa primeira convocatória de grevegeral realizada através de umhaplataforma que nom está compos-ta exclusivamente de sindicatos,senom que também aglutina di-versos coletivos sociais ou políti-cos. É umha incógnita se as cen-trais sindicais alheias às Marchasapoiarám esta greve ou a valora-çom que fam da mesma, postoque ainda nom figérom declara-çons públicas ao respeito.

Duas grandes citas precedem agreve de 22 de outubro. A primei-ra é umha manifestaçom em Ma-drid em 21 de maio, isto é, justoum ano depois da sucedida mar-

cha do 22-M. A mobilizaçom re-petirá o mesmo formato, mas li-mitará o seu percurso à comuni-dade autónoma madrilena no sí-tio de partir de vários pontos doEstado espanhol. Desta maneira,a marcha apenas durará três dias,umha decisom com a que os con-vocantes esperam atingir maiorimpato mediático e evitar o “es-gotamento” dos participantes, se-gundo explicou ao termo da as-sembleia Luis Blanco, da Intersin-dical Alternativa de Catalunya.

A segunda das citaçons apro-vadas na assembleia de Cangastambém supom umha novidadepara a tradiçom sindical clássica:a celebraçom conjunta do 1º demaio por parte dos diferentes co-letivos, sindicais ou nom, quefam parte das Marchas da Digni-dade. Em declaraçons a Praza, osecretário geral da CUT, Manolo

Caamaño, opinou que estas con-vocatórias “nom significam invi-sibilizar o papel dos sindicatosclassistas e alternativos”, mas “anecessidade de compartir o pro-tagonismo com os movimentossociais, na linha estratégica daunidade obreira e popular”. Se-gundo destacou também o pró-prio Caamaño, a seguinte tarefamarcada para a columna galegadas Marchas é idear o desenhoconcreto para Galiza do trabalhodos próximos meses.

Na assembleia estivérom pre-sentes representantes da IAC(Catalunya), SAT (Andaluzia),ESK (Euskal Herria), Confede-ración Intersindical, CGT, CNT,Intersindical Valenciana, CO-BAS, CUT, ATTAC, Campamen-to de la Dignidad de Extrema-dura, Frente Cívico-SomosMayoría ou Corriente Roja.

As Marchas da Dignidadeconfirmam a convocatória de greve geral em outubro

estÁ fiXada Para 22 de outubro e serÁ de ÁMbito estatal

Pessoal sanitário da Corunha denunciou o 15 de janeiro an-te a Fiscalia as péssimas condiçons em que trabalha a plantade Urgências. Esta solicitude ante a justiça chega depois deintentar sem sucesso o diálogo e negociaçom com a Junta.Após a demanda, a junta de pessoal pediu umha citaçomcom a Fiscalia Geral para achegar documentaçom.

o cHuac da corunHa denuncia o colaPso eM urGÊncias

A Mesa pola Normalización Lingüística acudiu à RevisomPeriódica Universal da ONU em Genebra onde deu contada realidade linguística do país, apresentou as denúnciasde criminalizaçon polo uso da língua galega entre o 2012e 2013 e descreveu os retrocessos respeito da oficialidadeda língua após o Decreto 79/2010 para o plurilinguismo.

a Mesa denuncia a discriMinaçoM do GaleGo ante a onu

NGZ / No meio da vorágine de cortese repagos de serviços públicos de-satada pola crise, o setor da culturavem sendo um dos mais dagnifica-dos. O novo golpe chegou em formade cartas, as que lhes encaminha-rom várias entidades de gestom cul-tural aos concelhos galegos para in-dicar-lhes que deverám começar apagar um cánone por cada livro queemprestem as bibliotecas munici-pais. De forma quase simultánea,também chegarom golpes em for-ma de cartas às escolas do país, nes-te caso remetidas pola Conselhariada Educaçom, informando aos cen-tros de que está proibido projetarfilmes completos nas aulas.

“Imposto à leitura”O cánone às bibliotecas parte dum-ha diretiva da Uniom Europeia(UE) aprovada polo governo cen-tral em agosto –precisamente o mêsno que as bibliotecas funcionam ameio gás. A diretiva, que afeta àsbibliotecas de municípios de maisde 5.000 habitantes, estabelece queos concelhos deverám pagar um cá-none às sociedades de autores eeditores por cada livro emprestadoou por cada usuário dado de alta.

Assim, a partir de janeiro de2016, os concelhos deverám pagar0.004 euros cada vez que umhapessoa leve um livro emprestado.A outra parte da diretiva entrou jáleva em vigor desde agosto e obri-ga a pagar 5 céntimos de euro porcada usuário que empregue a bi-blioteca polo menos umha vez aoano. No entanto, enquanto nomentrar em vigor a taxa por livro

emprestado, as bibliotecas muni-cipais deverám pagar 16 céntimosa maiores por cada livro que ad-quiram. As associaçons de biblio-tecários e bibliotecárias vem namedida um “imposto à leitura”.

Proibido aprender com o cinemaO outro golpe à cultura tambémpromovido polo lobby das socieda-des de gestom de propriedade inte-lectual é a proibiçom expressa deprojetar filmes completos nos cen-tros educativos. Expressa porquefoi a própria Conselharia de Educa-çom a que remeteu a circular às es-colas, informando segundo o pre-visto na Lei de Propriedade Intelec-tual recentemente modificada. Po-rém, esta proibiçom já estava vigen-te desde 1996 e apenas foi afetadapor esta modificaçom. Assim, a con-selharia justifica o envio desta cir-cular nas pressons que recentemen-te teriam recebido por parte dasgestoras da propriedade intelectual.

Segundo afirma o texto, o quesim poderá ser exibido nas aulas se-rám fragmentos de obras audiovi-suais “unicamente para a ilustra-çom das suas actividades educati-vas”, dentro do horário letivo (istoé, nom em cineclubes nem ativida-des extraescolares doutro tipo) eque nom tenham condiçom de “li-vro de texto, manual universitárioou publicaçom assimilada”. Casonom respeitar estes limites, a con-selharia de Jesús Vázquez avisa deque as gestoras de direitos poderámexigir aos centros autorizaçom pré-via ou mesmo demandar compen-saçons económicas.

Exigem às bibliotecaspagar cánone à leitura

circular de educaçoMAto público de apoio às Marchas da Dignidade celebrado na casado concelho de Cangas na véspera da assembleia / XAbi CAstrO

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06 acontece Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

A emigraçom galega está marcada pola expulsom da suamocidade. O Foro Económico da Galiza destaca no seu úl-timo relatório, que avalia o terceiro trimestre do 2014, acaída de 21.100 pessoas de entre os 25 e 34 anos na popu-laçom ativa. No mesmo documento, detalha-se que a eco-nomia galega tem um crescimento nulo -do 0%- do PIB.

Galiza Perde Mais de 20.000 jovens eM 2014

O Concelho de Malpica pretende tirar abaixo a Loja Ve-lha, datada nos anos 50, para construir aparcamentosbaixo um orçamento de 250.000 euros. Mais de meiomilhar de assinaturas procuram incluirem a Loja no pa-trimónio municipal com o fim de reabilitar este espaçoque enquadram na sua memória coletiva.

600 assinaturas contra o derrubo da lonja velHa de MalPica

“Desde o mesmo dia da detençom

assumim que estava condenado”HÉitor naia, indePendentista viGuÊs condenado a 11 anos de PrisoM

BETI VÁZQUEZ / Heitor Naia (Vi-go, 1981) define-se a si pró-prio como “militante indepen-dentista e obstinado comu-nista”. Orfo de nai desde muineno, medrou a cavalo entreos bairros de Lavadores emVigo e de Labanhou na Cru-nha. Colaborador das JUGAs,as Juntas Galegas pela Am-nistia, na década de 90 parti-cipou na constituiçom daAMI, a Assembleia da Mocida-de Independentista, mas em2000 desvinculou-se de qual-quer organizaçom política“por motivos familiares” paracentrar o seu ativismo na so-lidariedade com as presas in-dependentistas fazendo par-te dos projetos Ceivar e QueVoltem para a Casa. Peranteumha sentença judicial emcontra e frente ao julgamentoparalelo da imprensa, seguea defender a sua inocência.

Onze anos de prisom sob a acu-saçom de "integraçom em orga-nizaçom terrorista" e "colocaçomde explosivos". Como valoras es-ta condena?Nom lhe dou mais valor do que le-galmente tem. Desde o mesmo dia

da minha detençom assumim queestava condenado, que passariagram parte da minha vida na ca-deia. Considero esta condena umsimples trámite e umha burla caraà sociedade e contra mim mesmo.Nom só nom é justa senom quenom se ajusta ao direito, assimque é ilegal. Nom fum condenadopor cometer ou nom um delito; éumha condena política.

Que lembras do 15 de setembrode 2012?Lembro tudo. Lembro combinarcom os amigos, dar um passeio po-lo centro de Vigo, entrar num bar,estar de brincadeira, a falar, a ber-rar, a rir... Lembro 20 pistolas quesaírom da nada e apontavam aosmeus amigos e à minha testa. Lem-bro o medo e os encarapuçadosvestidos de hippies. Lembro como

me submetiam entre dous tiposenormes armados e me metiamnum carro com as maos atadascom umha corda e me obrigavama as manter em alto. Lembro osquatro encarapuçados desse carroa comunicarem-se por whatsapp.Só falavam para ameaçar-me.

Lembro o registo, como destro-çavam tudo. Lembro a gatinha bu-fando-lhe ao cam da Guarda Civil

e logo umha venda nos olhos, umcarro e horas de viagem a toda ve-locidade golpeado nos costadosquando nom gostavam das mi-nhas respostas. Crê-me: nenhum-ha pessoa que tivesse vivido istoesquecerá nunca nem um só des-ses instantes.

Que importância dás à fase dejulgamento em processos onde

10.12.2014 / Pessoal de Cleanet,subcontratada polo Ministériode Defesa para a limpeza dasinstalaçons, manifesta-se emFerrol para reclamar o pagodos salários.

11.12.2014 / Umhas dez mil pes-soas manifestam-se na Coru-nha contra os despedimentoscoletivos em Alcoa.

12.12.2014 / Vítimas do acidentede Angrois apresentam na Eu-rocámara duas denúncias por

“publicidade enganosa” contrao governo espanhol.

13.12.2014 / Cadeia humanaatravessa a ponte das Pias pa-ra reclamar medidas urgentesque assegurem o futuro na co-marca de Trasancos.

14.12.2014 / Presidente da RAG,Xesús Alonso Montero, assegu-ra na Radio Galega que A Mesatem uma “visom limitada do ga-lego” pois nom crê na “pedago-gia” nem na “persuasom”.

15.12.2014 / Vizinhança de Coiaparalisa a colocaçom dum bar-co numha rotunda que custará300.000 euros à cámara en-quanto continuam os cortesem politicas sociais.

16.12.2014 / Desaparece nasproximidades de Corrubedo omexilhoeiro Paquito II, com trêstripulantes.

17.12.2014 / A.P.D., estivador, mor-re por asfixia enquanto trabalhanum buque no porto de Ferrol.

18.12.2014 / Polícia espanholadetém na Corunha 18 membrosdos Riazor Blues.

19.12.2014 / Governo asturianonega os permisos ambientaisao projeto mineiro de Salave(Tápia).

20.12.2014 / Salvemos os bos-ques de Catasós realiza marchacontra a linha de alta tensomdisfarçados da Santa Compa-nha, sob o lema “Ata os mortosqueremos viva a nossa fraga”.

21.12.2014 / Umhas 250 pes-soas concentram-se no Obelis-co da Corunha para reclama-rem que Servigal acabe com ossacrifícios no canil municipal.

22.12.2014 / Jealsa-Rianxeiraanuncia que vai vender a Damsa,fatoria de processado de sardi-nha situada no Saara Ocidental,que recebera muitas críticas.

23.12.2014 / Alcoa retira despedi-mentos após obter condiçonsvantajosas na segunda poxa elé-

cronoloGia

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07aconteceNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

A Plataforma STOP Desahucios Compostela inicia umhacampanha de autoinculpaçons como reaçom ao despejode umha família de Arins o 19 de setembro. O atestadopolicial, que a Plataforma risca de “falso”, propicia que o28 de janeiro se celebre um juízo de faltas contra 4 pes-soas e multas contra outras duas.

caMPanHa de autoinculPaçons: eu taMbÉM estiveM eM arins!

A Asociaçom Cultural Vagalume denunciou um intentode incêndio no seu Centro Social este primeiro de janei-ro. Um acontecimento que publicou o jornal El Progresoreferindo-se ao C.S. como lugar “desabitado” e frequen-tado por “okupas”, algo que a A.C. Vagalume entendecomo umha criminalizaçom da sua atividade.

a.c. vaGaluMe acusa “el ProGreso” de criMinalizaçoM

trica, mas anuncia “ajustamen-tos” para reduzirem custos.

24.12.2014 / Vizinhança de Coiavolve impedir a colocaçom dobarco Alfageme na rotunda daAvenida Castelao.

25.12.2014 / Pessoal e utentes re-clamam numha concentraçomque a Cámara de Viveiro assumaa gestom da piscina municipal.

27.12.2014 / Plataforma Sarrianapolo rio realiza roteiro reivindi-

cativo contra o plano de canali-zaçom dos rios Sarria e Celeiro.

28.12.2014 / Camelhe (Camari-nhas) realiza homenagem aManfred Gnädigner, Man.

29.12.2014 / Por volta de 20 pes-soas participam num ato deapostasia coletiva convocado nasede do arcebispado de Ourense.

30.12.2014 / Manifestaçom reú-ne em Narom 300 pessoas con-tra despedimentos em Megasa.

31.12.2014 / Cemitério de Meá(Mugardos) acolhe homenagema Francisco Martínez Leira, Pan-cho, guerrilheiro assassinadopola Guarda Civil em 1954.

01.01.2015 / SOS Panadeirarealiza “performance de luz”reivindicativa em Sam Genjo.

02.01.2015 / Arde umha granjade pitos na Capela (Crecente).

03.01.2015 / Plataforma vizinalde Sam Genjo manifesta-se

frente à casa do concelho con-tra os novos valores do catas-tro municipal.

04.01.2015 / Corrida de reveza-mento entre Vigo e Santiagoreclama medicaçom para a he-patite C financiada pola seguri-dade social.

05.01.2015 / Três dirigentes doBNG processados por partici-parem nos protestos contra avisita de Angela Merkel a Com-postela o 25 de agosto.

06.01.2015 / PSOE expulsa dopartido ex alcalde de Vigo Car-los Príncipe, acusando-o de in-juriar Abel Caballero e outroscargos socialistas polas suasdenúncias de corrupçom.

07.01.2015 / Lourençá realizahomenagem aos vizinhos reta-liados polo franquismo.

09.01.2015 / Manuel FernándezMartínez, vizinho de Cabanas,morre em acidente laboral no caisda Granha, no Arsenal de Ferrol.

cronoloGia

nom se condenam feitos, senomumha suposta finalidade?Som trámites. Pretendem julgar astuas ideias, chegando até pontosridículos coma criminalizar umhaspalavras de Castelao ou ter o tele-fone desligado a fim de semana.

Conheceste seis cárceres em 89dias. Como che afetou a disper-som? Ao ficar menos de 15 diasem cada centro imagino quaseimpossível receber já nom só vi-sitas, senom umha simples carta.Bom, as cartas iam chegando. Co-meçárom a entregar-mas no se-gundo mês, após serem inspecio-nadas e lidas pola direçom geral deInstitucions Penitenciárias e apóspassarem de cadeia em cadeia.Mas contudo, chegar chegárom, efaziam-me muita ilusom. As visitasaté o terceiro mês nom puidem re-cebê-las. Foi complicado que as au-torizassem e nom autorizárom to-das as solicitadas. Mais foi outradas cousas que me levantou muitoo ánimo após passear por meio es-tado e num momento onde tinha amoral polo cham.

Já em liberdade, o julgamento pa-ralelo dos meios de comunicaçomfoi muito violento. No dia 2 deabril de 2013 o diário ABC, alémde vulnerar a presunçom de ino-cência, atribuía a "umha coleta

pró-etarra" o pagamento da fian-ça de 6.000 euros que che tinhaimposto o juiz Eloy Velasco. Quetés que dizer a tais acusaçons?Pois nom diria nada. Costumo veros meios espanhóis como parte doseu sistema de criminalizaçom eprocuro ignorá-los. Mas, já queperguntas... vou explicar [sorri].

A minha fiança pagou-se em me-nos de 48 horas graças às amizades.Em 24 horas tinham juntado quase3.000 euros que vinham de doaçonsde pessoas solidárias, como o donodo bar onde eu parava, por exem-plo, e da venda de material nas ime-diaçons de Balaídos durante um

partido de liga do Celta-Madrid. A outra metade da fiança enviá-

rom-na os Herri Norte Taldea, apenha do Athletic, e eram uns car-tos arrecadados numha festa naprévia de um Athletic-Celta em Bil-bo e que iam destinados a Ceivar;esse dinheiro foi devolvido aospoucos por mim e os amigos.

“O relato de Xurxo permite de-duzir na mais simples lógica hu-mana a intervençom de Héctorem termos de colaboraçom". Issodi a sentença que che condena a11 anos de cárcere, frente aos 3anos impostos aos outros dous

condenados, Diego Santim e opróprio Xurxo Rodríguez. Alémdesse relato inculpatorio ao qualse refere o falho judicial, queprovas havia contra ti?Nenhumha. Zero. Nada. Niente.Nem pegadas, nem ADN, nem se-guimentos policiais que me iden-tificassem cometendo qualquerdelito... Nada. Mesmo o DiegoSantim, que sim reconheceu a suaparticipaçom nos feitos, negouque me conhecesse antes da de-tençom, só de ouvidas. E essa é averdade, se bem o tinha visto,nunca falara com ele. A única pro-va de cargo é a declaraçom deXurxo Rodríguez.

“Asumo mi responsabilidad, me ar-repiento y pido perdón por los he-chos”. Que sentes ao escutar isto?Nojo... ao igual que quando escuitoo resto das declaraçons ensaiadas.Mas o mais duro é escuitá-lo porboca de quem considerava o meuamigo. Havia muito tempo que nosconhecíamos, muitas trasnadas emuitas festas que figéramos jun-tos. Há quem tacha o Xurxo detraidor de um ponto de vista políti-co. A mim politicamente nom meatraiçoou. Mais sim atraiçoou a mi-nha amizade e o meu carinho.

Tés denunciado "ameaças" e con-vites a "colaborar" com o Minis-

tério de Interior. Sim, denunciei-no publicamente.Pouco tempo depois de ser postoem liberdade, uns funcionáriosmui 'amáveis', imagino que do CNI,abordárom-me na rua. Apressen-tárom-me uns informes da GuardaCivil com supostas provas de ADNpositivas e oferecérom-me nom le-vá-las ante o juiz se colaboravacom eles. Após a negativa passá-rom às ameaças. Dixérom-me queo podia passar muito mal em pri-som e todas essas cousas.

A sentença está recorrida peranteo Tribunal Supremo. De se ratificarfinalmente, negarás-te a comparti-lhar cela se nom é com pres@s po-lític@s e a fazer destinos –traba-lhos para a prisom–? Por que?Sim. De chegar o momento, assu-mirei as reivindicaçons do CPIG –em referência ao Coletivo dePres@s Independentistas Ga-leg@s–. Carregarám sançons, sim,mais já sei que nom vou ser trata-do tam bem como os seus políticoscorruptos [ri]. Negarei-me até acompartilhar a cela com presospolíticos menos em caso de extre-ma necessidade de espaço na pri-som, tal e como permitem certosprotocolos e doutrinas europeias.

O tema dos destinos já é outracousa. Há destinos que nom meimportaria cumprir sempre quenom sejam remunerados, como ocuidado de umha horta ou de cansde terapia. Por que? Porque, foradas minhas conviçons, tambémterei as minhas necessidades,principalmente mentais, num lu-gar como é umha prisom. Tudo oque ajude a sair da rotina carcerá-ria seria bem-vindo.

“Chegam até pontosridículos como

criminalizar umhas palavras de Castelao”

“a única prova decargo contra mim é a

declaraçom de Xurxo rodríguez”

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08 acontece Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

Galiza pecha 2014 com um milhom de pessoas ocupa-das, o que coloca a taxa de ocupaçom no 42,3%. Nesteúltimo ano, a cifra de ocupaçom diminuiu em todos ossectores, sobretudo no agro e no mar, com umha baixa-da do 13,5%. Com respeito à mocidade, só o 33,3% dapopulaçom entre 16 e 29 anos está ocupada.

Galiza coMeça 2015 coM 2.200 ocuPadas Menos

A Coordenadora Anticarcerária Cárece=Tortura(CACT) da Galiza convocou o 18 de janeiro umha con-centraçom em apoio a Javi Guerrero, preso no CP de ALama. Guerrero ingressou no dia 5 no hospital provin-cial de Ponte Vedra devido ao seu mau estado de saúdeapós a greve de fome que iniciou a 12 de dezembro.

concentraçoM solidÁria coM Preso eM Greve de foMe

NGZ / O anteprojeto de reforma daLei do Processo Penal preparadopolo Governo saltou às capas dosjornais por contemplar interven-çons de comunicaçons sem or-dem judicial prévia nos casos de“especial gravidade”, umha eti-queta que, apesar de ir acompa-nhada por vários exemplos destesdelitos, consta dumha ampla in-definiçom. O Conselho Geral doPoder Judicial (CGPJ) emitiu emjaneiro um informe negativo so-bre este anteprojeto, assinalandoque intervir comunicaçons semautorizaçom judicial proporia “se-rias dudas de encaixe constitucio-nal”. Assim, o alarme criado numprimeiro momento entre parte dacidadania ante o que era conside-rado umha violaçom de direitosfundamentais foi esmorecendoapós o anúncio do CGPJ.

Até agora, esta excecionalidadeapenas é empregada para casosde suposto “terrorismo”. O 4º pa-rágrafo do artigo 579 da Lei doProcesso Penal reformada em1988 por Felipe González assinalaque “em caso de urgência, quan-do as investigaçons se realizarempara a averiguaçom de delitos re-lacionados com a atuaçom debandas armadas ou elementosterroristas ou rebeldes, a medidaprevista no número 3 deste artigopoderá ordená-la o Ministro doInterior ou, no seu defeto, o Dire-tor da Seguridade do Estado, co-

municando-lho imediatamentepor escrito motivo ao Juíz compe-tente, quem, também de formamotivada, revocará ou confirmarátal resoluçom num prazo mâximode setenta e duas horas desde quefoi ordenada a observaçom”.

Apesar de que a Constituiçomespanhola recolhe no seu artigo18,3 o direito ao segredo de comu-nicaçons salvo resoluçom judicial,a excecionalidade marcada paraos casos de “terrorismo” tambémfica amparada na própria cartamagna. No seu artigo 55,2 con-templa que esse direito pode servulnerado “para pessoas determi-nadas, em relaçom com as inves-tigaçons correspondentes à atua-

çom de bandas armadas ou ele-mentos terroristas”.

Desta maneira, e apesar de queo Governo poda decidir atender oinforme do CGPJ e nom aprovartal reforma; os corpos policiaispoderám seguir espiando sem or-dem judicial as comunicaçons pri-vadas dos cidadans do Estado es-panhol quando existir umha sus-peita de delitos englobados nocampo de “terrorismo”. Desta ma-neira, e apesar de um juiz denegarposteriormente a intervençom –impedindo a sua utilizaçom comoprova judicial- a polícia pode re-cabar informaçom privada de to-dos aqueles grupos ou pessoasque considerar suspeitosas.

A polícia seguirá realizandoescuitas sem ordem judicialnos casos de “terrorismo”

cGPj disuade Governo de aMPliar Medida a outros delitos

NGZ / Arredor do cámbio de ano fa-zia apariçom na rede o web A Fou-ce, anunciado com um correio ele-trónico enviado a umha longa lista-gem de destinatários desde um en-dereço com o mesmo nome. Comaceso através do portal www.net-work23.org/afouce, que permite re-dirigir-se através da rede de anoni-mizaçom TOR ao site alojado numservidor secreto, o web oferece “co-nhecer de primeira mao quem, co-mo e porquê luitamos hoje na Gali-za, com as armas na mao, contra opoder espanhol”.

Ademais de alguns manifestos etextos teóricos e de propaganda,recolhe umha cronologia da violên-cia política em forma de sabota-gens contra interesses do capital edo estado na Galiza desde 1995 atéa atualidade. Igualmente oferecemecanismos para financiar as ati-vidades descritas através da cripto-moeda virtual Bitcoin, e propagan-da gráfica do web que, sinalam,“nom é o portavoz único da Galizaclandestina: é, simplesmente, maisumha ferramenta de expressom eintervençom política”.

DivergênciasComo resposta à apariçom do web,no que figuram também as fotos dealguns presos e presas políticas ga-legas, fazia-se chegar um texto as-sinado polo advogado de CarlosCalvo, Benet Salellas, que qualificao web antes di to de “esperpento”, echama-se a que seja retirada a foto-grafia de Carlos Calvo de “páginasque acirram possíveis e obscurasaçons indesejáveis para a Galiza”.

O mesmo texto aproveita para

acusar Ceivar e Que Voltem para aCasa de “manipulaçons”. Diz o co-municado que Carlos Calvo “en-tende que nestes mais de dousanos se fijo umha utilizaçom inte-ressada e umha manipulaçom porparte de diferentes entidades dasua situaçom como preso para finscom os que nom concorda”. Recla-ma destes coletivos o advogadoque “deixem de empregar Carlosnas suas propagandas e nas suasaçons e meios de difusom”.

Tanto o organismo anti-repressi-vo como o de solidariedade negá-rom terem conhecimento anteriorda vontade de Carlos Calvo de es-tes coletivos deixarem de reclamara sua liberdade e os seus direitos.Acrescenta Ceivar que “o trabalhosolidário desenvolto nom foi em-pregado em nengum caso no pro-cesso judicial para inculpa-lo nempara agravar os delitos polos queele mesmo está acusado”. Aclaramque, “sem decidir e/ou investigarou saber” da realidade dos delitosimputados, o seu trabalho se de-senvolve “em apoio de todas/osas/os independentistas reprimi-das/os por motivaçom política”.

O organismo anti-repressivo“nom oferece nengum inconve-niente em deixar de reclamar a sualiberdade”, como de fato já temacontecido tanto nos webs dosdous coletivos como na Marcha àscadeias da Que Voltem para a Ca-sa, “embora nos resulte triste e in-compreensível”. Insistem na neces-sidade de “resposta unitária” antea repressom e frente “a geraliza-çom da sensaçom” de que “a únicasaída proveitosa é a individual”.

Apresentam a “voz daresistência galega” na rede

‘a fouce’

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09aconteceNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

crÓnica GrÁficaA iX Marcha às Cadeais foi a mais multitudinária até o momento. três colunas confluírom na cadeia de Mansilla deLas Mulas, em Leóm, onde conseguírom comunicar-se com a presa independentista Maria Osório / GALiZACONtrAiNFO

Centenas de pessoas continuam com as mobilizaçons contra a especulaçomurbanística no bairro corunhês de elvinha / stOP DesAHuCiOs COruNHA

Mais um ano, o velho lenhador das montanhas do Courel achegou-se àsruas das cidades galegas. Na imagem, a sua visita a vigo / GALiZACONtrAiNFO

A paróquia do Cristo da vitória, no bairro viguês de Coia, acolheu umha rolda de imprensa para denunciar a repressom policial contra a vizinhança que se está a mobilizar / GALiZACONtrAiNFO

O sindicato nacionalista CiG convocou concentraçons na Corunha (na imagem),Arteijo, Cee, Jove, A Laracha e Narom exigindo umha tarifa elétrica galega / CiG

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10 acontece Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

aGro

A.R. / O pleno do Parlamento euro-peu rechaçou neste mês de janei-ro a criaçom dumha normativaunificada sobre o cultivo de orga-nismos geneticamente modifica-dos (OGM). Deste jeito, será res-ponsabilidade dos países mem-bros da UE a autorizaçom para oemprego de sementes transgéni-cas no seu território.

No debate do texto, a eurodepu-tada galega Lídia Senra qualificouo texto como “auténtica farsa”, ealegou que essa “suposta liberda-de dos estados para decidir sobreos cultivos transgénicos é em rea-lidade umha imposiçom generali-zada da alimentaçom transgéni-ca”. Assim, Senra exigiu, em de-fesa da agricultura tradicional,umha diretiva europeia que proí-ba o emprego dos transgénicos etambém a imediata paralisaçomdo Tratado de Livre Comércio en-tre a UE e EEUU, cuja aprovaçompermitiria às transnacionais de-nunciar os estados que ponham

entraves aos OGM.Por outra banda, agrupaçons

ecologistas como Amigos daTerra também consideram queesta decisom permitirá a entra-da maciça de cultivos transgéni-cos nos Estados. Num comuni-cado, o coletivo ecologista lem-bra que o Estado espanhol é opaís com mais superfície de cul-tivos transgénicos na UE, poracima dos outros quatro estadosque produzem comercialmente

OGM, e que seriam a RepúblicaCheca, a Eslováquia, a Roméniae o Portugal. “ Na atualidade, háum único cultivo transgénicopermitido em Europa, o milhotransgénico MON810 da Mon-santo”, indicam Amigos da Ter-ra, “mas com esta nova lei, oEstado poderia abrir a porta amuitas mais variedades”.

A luita contra os transgénicosna Galiza leva anos em pé, manti-da por coletivos como a Platafor-ma Galega Antitransgénicos ouAdega. Assim, mais de 20 conce-lhos galegos aprovaram moçonsem que se declaravam zonas li-vres de transgénicos. Mesmo noano 2008 o pleno do Parlamentogalego aprovara umha moçom emque se instava à Junta a que nomcontemplasse a produçom de cul-tivos transgénicos destinados aoconsumo humano e animal, masa falta de vontade política por par-te da Junta impediu o desenvolvi-mento deste acordo.

Europa rechaça regular sobre o cultivo de transgénicos

Mar

Pesca ilegal na Antártida e olhadaspara RibeiraA armada neozelandesa sur-preendeu 3 buques a pescarilegalmente en águas antár-ticas a prezada pescada pre-ta ou bacalhau de profundi-dade. Umha atividade emque algum armador galegotem boa experiência.

A.DIESTE / Yonding, Kunlun eSonghua som os três buquesque fôrom surpreendidos ao iní-cio de Janeiro fainando ilegal-mente a pescada preta ou baca-lhau de profundidade en águasda Antártida, umha zona regu-lada pola Convençom para aconservaçom dos recursos ma-rinhos vivos antárticos, onde seproibem taxativamente tais mé-todos de pesca.

Os três barcos tenhem ban-deira da Guiné e já fôrom avis-tados navegando juntos en De-zembro de 2014. Os ecologistasdenunciam que som barcos depesca ilegal, nom declarada enom regulamentada (IUU). Es-tes buques tenhem umha longahistória de mudança de nomes,de registos nacionais e doutrascaracterísticas de identificaçompara evitar serem detetados eidentificados.

Un dos barcos, Songhua, foiincluído na listagem de buquesIUU após umha investigaçomrealizada en 2008 quando tinhacomo nome Paloma V e tinha si-do vencelhado com um grupo deRibeira, no Barbança, Vidal Ar-madores, com um historial desuspeitas e acusaçons por pescailegal. Desde aquela o atualSonghua tivo oito nomes e seisbandeiras. Na atualidade diz serpropiedade de Eastern HoldingsLTD, de Belice, umha firma comcheiro a empresa pantasma.

No que atinge ao Kunlun eYongding, também operáromsob diferentes nomes e bandei-ras nestes anos.

A petiçom de Nova Zelándia,Interpol já emitiu permisos e pe-tiçons para obter informaçomsobre quem está por trás dostrês buques que pescam ilegal-mente no océano Austral. Somavisos distribuídos entre os 190estados membros da Interpol.

E desde o início há suspeitasde que ao final do fio de que estáa puxar Nova Zelándia se ato-pem armadores galegos, algunsdeles com um longo historial deacusaçons e denúncias por pes-ca ilegal mesmo na Antártida.Cumpre lembrar que em marçode 2013 o Supremo Tribunal Es-panhol confirmava umha sen-tença pola que se condenava M.A. Vilar a um ano e 8 meses deprisom e a pagar umha indem-nizaçom de dous milhons de eu-ros por um delito de calote: ven-deu 242 quilogramas de pesca-da preta a umha empresa caná-ria. Um peixe que capturou ile-galmente na Antártida.

a decisoM sobre os oGM dePenderÁ de cada estado MeMbro

o estado espanholé o que tem mais

cultivos transgénicosda uniom europeia

lidia senra qualificaa normativa de

“auténtica farsa”

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11econoMiaNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

econoMia

Burguesia nacionalO capitalismo precisa da identifi-caçom, maioritária, da sociedadecom a situaçom jurídico-institu-cional que fai eficazes as suas leise princípios. Tal solidariedadesubjectiva apenas pode ser hege-mónica ideologicamente comoconsequência dum discurso polí-tico emitido, e assumido, polaselites sociais; isto é, polos mes-mos sectores que hegemonizam,objetivamente, um sistema pro-dutivo baseado na cisom capitaltrabalho. Neste sentido, conceitoscomo modernizaçom, progresso,ou desenvolvimento, som ele-mentos ideológicos fulcrais. Porseu lado, e no marco desta retóri-ca, a operatividade do conceitode naçom reside na referência edelimitaçom da sociedade inter-pelada polo discurso identifica-dor. Um discurso que se apresen-ta, aliás, como expressom dumprojeto nacional de pretensonstotalmente abrangentes e trans-versais. Burguesia nacional é es-ta elite hegemónica, tanto socialquanto ideologicamente, da quefalamos.

Na Galiza, o capitalismo, desen-volve-se de jeito serôdio e lento.Tradicionalmente, pois, a burgue-sia –além de escassa- é fraca e,aliás, frequentemente estrangeira.Por consequência, a raquítica bur-guesia autóctone que foi aparecen-do, aderiu –com exceçons conta-das- ao projeto nacional espanhol.O resultado foi a inexistência dum-ha elite social capaz de elaborar esustentar, para a Galiza, o discursoideológico do capitalismo.

Refundar o nacionalismo dos 70Contudo, na altura, o discurso po-lítico dominante e a óbvia realida-de etno-histórica do povo galegonom se correspondiam. Um ruídona mensagem que patenteou, paraamplos sectores da mocidade, acumplicidade entre as elaboraçonsideológicas prevalentes e certos in-teresses, económicos e políticos,contrários ao país. Foi assim como,a refundaçom do nacionalismodos anos 70, nom enveredou polocaminho de garantir a eficácia dasleis e princípios do capitalismo,mas polo de liquidá-los. Destarte,sob a inspiraçom dos recentes pro-

cessos de libertaçom nacional nomundo, os objetivos do projeto na-cional galego forom colocadosnum horizonte que ultrapassavaos limites do capitalismo.

A formulaçom do nacionalismocomo programa revolucionárioapresenta, porém, certas carate-rísticas que explicam a sua evolu-çom posterior. A base fundamen-tal do projeto é a ideia de depen-dência colonial; ora, definida co-mo o travom político que bloqueiaa modernizaçom da Galiza man-tendo-a no atraso. A luita polaemancipaçom nacional fica, pois,configurada como umha luita polamodernizaçom e o progresso.Nom sem contradiçons, pois osmovimentos populares, impulsio-nados polo próprio nacionalismo,luitarom muitas vezes contra con-creçons materiais dessas duasideias. Umhas contradiçons queexprimiam, na prática, um erro

conceitual de base. De facto, e so-bretudo trás a morte de Franco, amodernizaçom do país foi fazen-do-se evidente e invalidando a in-terpretaçom nacionalista dos fac-tos. A proposta nacional-populartornou-se desnecessária, pois aideia que havia da dependendên-cia colonial era desmentida polarealidade e, a oferta moderniza-dora do estado, apresentava-secomo umha possibilidade muitomais cómoda para a gente do quea via revolucionária.

A prova do noveFinalmente, na segunda metadedos 80 -e com as reconversons (in-dustrial, agro-gandeira e pesquei-ra) como pano de fundo-, a respos-ta do nacionalismo predominantefoi o abandono dos postulados darevoluçom nacional-popular, e asua substituiçom polo paradigmacidadanista e a espetacularidade

institucional. Origi-nou-se, assim, um ci-clo cidadanista quedurou quando me-nos quinze anos;com notável sucessoeleitoral. Sem deixarnunca, no entanto,de ser um sucedâneoda antiga estratégianacional-popular, cu-jo imaginário sobre-viveu nos elementossimbólicos e emocio-nais. Decerto, o cida-danismo, é sempreum sucedâneo; ino-perante, tanto paragarantir a eficáciadas leis do capitalis-mo, quanto para li-quidá-las. Aliás, assoluçons ao impassecidadanista som,também sempre, asmesmas: regressaràs origens revolucio-nárias; ou candida-tar-se para dirigir po-liticamente o apare-lho jurídico-institu-cional ao serviço docapitalismo. A op-çom do nacionalis-mo galego, nos pri-meiros anos deste sé-culo, foi a segunda.

O desenlace destahistória é ainda bemrecente. Todo o apa-

relho propagandístico e institucio-nal em maos das elites sociais tra-dicionais, isto é, da burguesia an-ti-nacional, reagiu unânime paradesalojar o nacionalismo das ins-tituiçons. A prova do nove, na prá-tica, do que é óbvio na teoria: a im-potência do nacionalismo paraatingir, num país sem burguesianacional, os seus objetivos dentrodo capitalismo.

Paralelismos cidadanistasOs paralelismos que existem, en-tre aquel cidadanismo galego doséculo passado e o emergente ci-dadanismo espanhol atual, sommais que evidentes: o tipo de li-derado, a crítica da camarilha po-lítica, o aggiornamento, a denún-cia do caráter antidemocrático daUE… O liderado: um líder ilustra-do em ambos casos, dono dumhaoratória espetacular, cujo prestí-gio académico fai dele um mode-

lo meritocrático para as classesmédias. A crítica da camarilhapolítica: caciquia clientelar pro-cedente do franquismo, num ca-so; casta corrupta nascida do es-gotado regime de 78, no outro.Aggiornamento: nacionalismoinstitucional e nom revolucioná-rio, num caso; movimento cívicoe nom proletário, no outro. De-núncia do caráter antidemocráti-co da UE: aplicada à posterga-çom de Galiza polos tratados deadesom, num caso; referida aoresgate de facto da economia es-panhola, no outro. Enfim, as lei-toras e leitores cuja idade lho per-mitir, poderám encontrar muitosoutros paralelismos semelhantes.

Dizia Marx que, quando a histó-ria se repete, a primeira vez é co-mo tragédia e a segunda como far-sa. Seria patético que na situaçomatual, e para sintonizar com a criseda política que vive Espanha, o na-cionalismo institucional esqueces-se o seu passado cidadanista pararepeti-lo mais umha vez. Mas ago-ra como farsa; porque nom seriacrível que, depois dos seus deno-dados esforços para se apresentarcomo umha proposta política deordem, agora quigesse aparecercomo aquel movimento -pretendi-damente alternativo- que há tem-po preferiu deixar de ser.

Mas, dadas as circunstâncias,como sair do labirinto cidadanis-ta? Apenas há umha saída: a queleva de volta à estaca zero, ao mo-mento justo antes de entrar no la-birinto; a que recupera os concei-tos fundamentais, erroneamentedescartados, para redefini-los.Por exemplo, haveria que redefi-nir dependência colonial. Em rea-lidade, a dependência colonial,nom é travom nengum para a mo-dernizaçom; mas, antes, a formaque a modernizaçom adotou his-toricamente na Galiza.

O nacionalismo no labirinto cidadanistaiMPlicaçons PolÍticas da crise do caPitalisMo (e ii)

a proposta nacional--popular tornou-se

desnecessária, pois aideia de ‘dependência

colonial’ era desmentida

pola realidade

os paralelismos existentes entre o cidadanismo galego do século passadoe o emergente cidadanismo espanhol atual som mais que evidentes

júlio teixeiro

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12 internacional Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

a terra treMe

GUSTAVO LUCA / Dezassete de de-zembro de 2014: EUA reco-nhece o fracasso de cinquen-ta e cinco anos de cerco a Cu-ba e anuncia o reestabeleci-mento de embaixadas. Nomassume que o seu erro costoumuitas vidas, sacrifícios eenormes danos. A ilha celebraa notícia com festa rachada. Asua vitória moral e política écompleta: desde 59, Washing-ton recusava com arrogánciaa oferta cubana de diálogo emigualdade. Foi frustrado o cer-co de Cuba, explica o presi-dente dum país que adoecequando tem que pronunciaras palavras fiasco, fracasso,falimento, desfeita, crebar, le-var capote. Anúncia Obama aliberdade dos três cubanos,torturados nas cadeias deEUA contra toda ideia de hu-manidade, um sequestro dehomens justos aos que ofere-ceram com mil renarterias eum fracasso integral librar ca-deia a condiçom de culpar-see culpar o governo de Cuba.

Obama é o undécimo presidentenorteamericano que persegueCuba em nome dum código (aDeclaraçom Universal de Direi-tos Humanos) que EUA nom aca-ta. O mundo nom pode senomcelebrar a confessom pública deinutilidade e ridículo da CasaBranca, por muito que tal confes-som de fracasso nom exclua opropósito de acabar com a Revo-luçom Cubana. É o mesmo quedizer: trabucamo-nos no proce-dimento (invasom, sabotagem debarcos e avions cubanos, blo-queio, ladroíço, ocupaçom do es-paço radiofónico, sementar an-dácios e atentados e ataques ter-roristas) mas teimaremos por ou-tros meios.

Um sucesso que conmove osandeis das hemerotecas, venerá-veis editoras de imprensa de ga-ravata que durante mais de meioséculo anunciaram a rendiçomiminente de Cuba, a impossibili-dade de a cem milhas de EUApronunciar a palavra socialismo,

a ucronia e absurdo dum país po-bre desafiar a hierarquia inter-nacional do dinheiro. Cuba, comquase a mesma populaçom que oestado de Illinois, tem um PIB in-ferior ao do mais pobre dos 50estados da Federaçom.

Durante meio século, EUA in-cluíra Cuba na lista de perigospúblicos da humanidade e, nomplenamente confiados na suacondena, forçara no 62 a expul-som da ilha rebelde da Organiza-çom de Estados Americanos(OEA). Apenas México resistiucom dignidade a mao que lhe ob-rigava a votar contra Cuba.

Editorialistas subalternos daHispanidade cruzada com a Dou-trina Monroe celebravam o golpecaciquil de Washington contra ailha rebelde e repartiam a pel doCaimám vivo e bem vivo. Os mes-mos que anunciavam o final dasoberania cubana, forom teste-munhas de como votando todosos anos na Assembleia da ONU aprol do bloqueio, com a ajuda dasIlhas Marshall e do Estado de Is-rael, EUA nom dava freado oprestígio crescente da Revolu-çom Cubana. A mais de inútil, oBloqueio separava a Afro-Améri-ca-Latina (AAL) da estratégia doNorte até suceder o que nengumprofeta conservador prevera: aChanceleria de Washington reco-mendar o reingresso urgente de

Cuba na OEA.A história regresava a pé feito

e pedia contas polo abuso. A ca-deia vengativa e ruim contra osCinco tornava os presos em es-trelas da resistência, e a Cuba emmártir da soberania, negada e tri-pada polos estrategas do penalde Guantánamo.

O presidente do país mais ar-mado da terra refai com gralhase chataduras a lista dos adversá-rios a bater mas nom percebeque a América neta dos escravostransplantados e originários es-creve em letras capitulares AL-BA, CELAC, UNASUR e CARI-COM como signos dumha sobe-rania a recuperar. A força destaAmérica contra Washington, aprol dumha retificaçom políticacom Cuba, nom acontecia segre-damente mas os meios da UE re-learom a notícia. A mesma OEAque se prestara a fazer de tribu-nal da inquisiçom de Cuba no 62,decidia convidá-la à cimeira deabril em Panamá e mesmo pôr

como condiçom a sua presença.Apenas umha mudança da rela-

çom com Cuba poderia solucionara crítica possiçom de EUA. Comocondiçom para sentar a falar dorestabelecemento de embaixadas,Cuba impunha a libertaçom dosCinco, proclamada como priori-dade por mor do heroísmo dos de-tidos e das suas famílias e da fide-lidade e o compromisso da opi-niom pública cubana.

Outro asunto de atençom so-bre Cuba na imprensa norteame-ricana é a importante interven-çom associada brasileira no por-to de Mariel, a iniciativa de maiorentidade nos dez últimos anos noGolfo de México, seguida comcem olhos polos bancos de EUA.

A doutora belga Katrien De-muynck, coordenadora da Cam-panha polos Cinco na UE, somaa estas razons a dumha mudançageracional do exílio cubano emFlorida, definidor desde 60 dapolítica de EUA contra Cuba: osherdeiros dos acubilhados polaLei de Ajuste Cubano (de tratodiferencial a exiliados de Cubanos EUA) nom querem ser gover-nados pola sociedade de octoge-nários dirigidos por Posada Car-riles que protesta contra a liber-taçom dos Cinco. Em Florida, ga-nhárom os democratas graças àpromesa de Obama e melhoraras relaçons com Cuba.

Comentando o restabelece-mento de embaixadores e o re-gresso dos Cinco, Raúl Castro di-xo que ninguém poderia negar adestacada executória internacio-nal de Cuba em 2014. Desde osanos 90, as sançons da LeiHelms-Burton contra os paísesque nom respeitavam o bloqueiocomercial de Cuba, contribuiamde facto para o desprestígio deEUA. A sucessom de editoriaisda imprensa norteamericana em2014 contra o bloqueio era um si-nal do fracasso político das me-didas de força contra Cuba. A re-vissom da Possiçom Comum, umpesado herdo de Aznar e VaclavHavel para a política da UE coma AAL, começa tarde, a reboquede Washington. O governo de Ra-joi pretende recuperar o tempoestragado em sançons e encarre-ga ao ministro García Margalloumha missom paternalista (no-vembro de 2014) na qual reco-menda a Cuba copiar a reformapolítica do Franquismo. O minis-tro houvera de abandonar Haba-na em ausência de protocolo, oque deixava o representante doEstado num lugar semelhante aodo velocista Carromero.

Os capitalistas dissidentes dapolítica de sançons contra Cuba,nascida em tempos de Dwight Ei-senhower, nom querem ficar àmargem das oportunidades aber-tas pola Reforma Económica.Pretendem mudar o dilatado cas-tigo dos republicanos de 1959por investimentos e política depressom económica. Mas se odesafio de Cuba nom é menor ameio prazo, como reconheceRaúl Castro, o de EUA consisteem inventar umha forma de in-terlocuçom com a América Mar-tiana que supere a violência ar-mada, o sequestro e o roubo.

desde 1959, Washington recusava

a oferta de diálogo em igualdade

o desafio Para estados unidos É inventar uMHa forMula de interlocuçoM que suPere a violÊncia arMada

Vitória moral e política de Cubacontra o cerco imposto por EUA

a mesma oea que se prestara a fazer de tribunal da inquisiçom de Cuba em 62, decidia convidá-la à cimeira de abril em Panamá

a cadeia vingativa eruim contra os Cinco

tornava os presos estrelas da resistência

raul Castro recevendo aos três presos cubanos libertados em dezembro um dia depois da sua saida

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RAUL RIOS / Em 1959 apenas dousdos Cinco tinham nascido, mas ahistória de todos eles começa noprimeiro dia desse ano. Os EUAnom podiam consentir tamanhodesafio: umha pequena ilha a cemmilhas das costas do império dis-punha-se a ensaiar umha alterna-tiva económica e política nas antí-podas do capitalismo. A guerranunca declarada dos EUA contraCuba arranca com o bloqueio eco-nómico ordenado por Eisenhowerem 1960; um bloqueio que, até adata, apenas se modificou paraendurecê-lo. Apesar das nefastasrepercusons que as sançons ti-nham e tenhem para a populaçomda ilha, Cuba conseguiu resistir aofensiva económica até agora.Mais de meio século, que nom épouco. Após o celebrado fracassoda invasom de Baia de Cochinos,onde os estadounidenses partilhá-rom armas com os primeiros ‘disi-dentes’, os EUA virom-se na obri-ga de renunciar ao confronto mili-tar aberto –umha decissom força-da em parte graças ao pato entreKennedy e Kruschev.

No entanto, a renúncia à ofensi-va militar clássica nom significouo cesamento das hostilidades: oterrorismo internacional entravaem cena. Abria-se o tempo emque, em colaboraçom com a CIA,os grupos anti-castristas ataca-vam Cuba desde a cômoda trin-cheira de Miami. Os bombardeiosde 1959 e 1960 e os ataques bioló-gicos que provocárom o denguehemorrágico em 1981 deixárompasso na década de 90 à sabota-gem de instalaçons públicas, osataques piratas ou os explosivoscom bomba. Estas fórmulas ofen-sivas nom eram novedosas, maspassárom a ocupar a centralidadedo taboleiro desde que permitiamum melhor ocultamento da cola-boraçom dos serviços norteameri-canos. O saldo total de vítimasmortais está cifrado em cerca de3.000 pessoas. Se o número nom émaior é porque, nom em poucasocasons, a inteligência cubana lo-grou deter os atacantes com as ar-mas ainda sem disparar e as bom-bas sem explodir.

Um número com letra capitularEra neste contexto de guerra sujaque, na década de 90, um grupode agentes da Direçom de Inteli-gência (DGI) cubana se encontra-va nos Estados Unidos para vigiaras atividades desses grupos consi-derados terroristas: Partido Uni-dad Nacional Democrática(PUND), Comandos L, EjércitoArmado Secreto (EAS), Alpha 66,

Directorio Insurreccional Nacio-nalista (DIN)... Tinham várias si-glas mas o seu objectivo era um:desestabilizar o Estado Cubanopor meio da violência. A informa-çom recavada polos agentes daDGI continha indícios suficientespara temer um novo atentado;mas faltava um dado fundamen-tal. Desconheciam se o ataque po-dia ter lugar em Cuba ou em terri-tório estadounidense.

Essa segunda hipótese nom eranengumha excepcionalidade, jáque dos aproximadamente 560 ata-ques de magnitude perpetradospor estes grupos contra interessescubanos, quase 300 –mais de meta-de- tiveram lugar nos EUA. Ante es-se risco, e dado que nom tinhampotestade para impedir um ataqueem território estadounidense, osserviços cubanos decidírom remitira informaçom compilada ao FBI.Corria junho de 1998.

A resposta dos corpos de segu-rança dos EUA chegou três mesesdepois, o 12 de setembro do mes-mo ano, com a detençom de cincoagentes da DGI: Antonio Guerre-ro, Fernando González, GerardoHernández, Ramón Labañino eRené González. Em Cuba, desdeesse dia e até hoje, começou-se aescrever o número com letra capi-tular, ‘os Cinco Heróis Cubanos’.

Culpáveis até que se demostrar o contrárioApós a dentençom, os Cinco fo-rom postos em confinamento soli-

tário durante 17 meses. Enquantoainda permaneciam isolados, aimprensa de Miami já os condena-ra: desde os primeiros cabeçalhospodia-se ler bem grande que pre-tendiam “destruir Estados Uni-dos”. Nesse clima deu começo ojuíço em outono de 2000, quandojá se passaram 26 meses do arres-to. Durante os sete meses que du-rou o processo foi impossível pro-var a acusaçom de espionagem -oprincipal cárrego que se lhes im-putava- posto que os Cinco nuncativéram acesso a informaçom se-greda do governo. À juíza do casonom lhe ficou outro remédio queatribuir-lhes “conspiraçom” paracometer espionagem, isto é, umcárrego baseado numha supostaintencionalidade.

Nos 16 anos que chegárom a es-tar em prisom nom se reconhecé-rom como espions nem umha sóvez. Sim que reconhecérom, po-rém, o cárrego de nom registar-secomo agentes extrangeiros ante aFiscalia Geral dos EUA; mas aco-lhendo-se à doutrina da Defensade Necessidade dos mesmos EUA.Assim, saltar-se o que eles consi-

derarom um simples “tecnicismo”estaria justificado pola própria na-tureza da missom para a que esta-vam destinados nesse país.

O júri declarou-os culpáveis dos26 cárregos dos que se os acusava,incluído um de homicídio em pri-meiro grau para Gerardo Hernán-dez; embora a própria procurado-ria pedisse retirar essa acusaçompor falta de provas. A juíza sen-tenciou penas que oscilavam entreos 15 anos de cárcere de RenéGonzález e a dupla prisom perpé-tua de Gerardo. Apenas era o prin-cípio dumha longa batalha judicialque durou até hoje mesmo e quejá é sobradamente conhecida.

Após um tedioso processo deapelaçom, onde a justiça estadou-nidense nom deixou de pôr pausnas rodas da defensa, o XI Circui-to de Apelaçons de Atlanta dá a ra-zom aos cubanos por vez primei-ra. Era 2005 e já passáram seteanos desde a detençom. Ordenama revocaçom da sentença e a reali-zaçóm dum novo julgamento forade Miami, cidade onde era impos-sível realizar um juíço justo dadoo poder do lobby anti-castrista.Mas a procuradoria recorreu a de-cisom e o pleno do Tribunal deApelaçons impediu que esse jul-gamento tivesse lugar.

Tivérom que aguardar até 2009para ver chegar umha nova sen-tença da mesma juíza que os con-denara em Miami a vez primeira.Esta nova sentença, motivada porum recurso da defesa, reduzia as

penas de três dos Cinco. Desapa-reciam as prisons perpétuas àsque foram condenados AntonioGuerrero e Ramón Labañimo, queeram ressentenciados a 22 e 30anos respetivamene. Polo seu la-do, Fernando González era res-sentenciado a 18 anos.

Por que a mesma juíza, contandocom as mesmas provas, decidia re-baixar a sentença desta maneiraquase umha década depois? Emopiniom de Mirta Rodríguez, a maedo preso Antonio Guerrero, foi fun-damental o papel jogado polo mo-vimento internacional de solidarie-dade com os Cinco (NGZ 116).

E voltáromSeja como for, apenas dous dospresos, René e Fernando, foromlibertados ao cumprir as suascondenas. Os outros três só vol-tárom a Cuba graças às negocia-çons que o seu Governo levou acabo com a Casa Branca e que ti-vérom como contrapartida a li-bertaçom de vários presos “sobreos que EUA mostraram interes-se”, em palavras de Raúl Castro.Mas a ningum dos Cinco lhe foireconhecida a sua inocência nostribunais norteamericanos. Pas-sárom 16 anos desde a sua deten-çom e neste tempo sempre rene-gárom de ser espions; unicamen-te se identificárom como agentesantiterroristas. Afinal, isso sim,Fidel tinha razom quando pro-nunciava esse histórico “volta-rám”. Agora estám em casa.

13internacionalNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

De desconhecidos a heróiseM 16 anos de cadeia, nenGuM dos Prisioneiros cubanos reconHeceu ser esPioM neM uMHa sÓ vez

a maioria de ataquesterroristas contra

objetivos cubanostivérom lugar em eua

rostos de vítimas do terrorismo mostrados por jovenscubanos ante as ‘Damas de branco’ / @eL_ALePH_26'

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14 internacional Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

alÉM MinHo

ANDRÉ RODRIGUES / Notícias quevêm de Espanha dão-nos conta deum agitar das águas na Esquerdae duma popularidade, aparente-mente inusitada, do projecto polí-tico Podemos.

Os seus protagonistas parecemfazer eco -e é claro que aqui deve-rá residir boa parte do êxito quetêm colhido, especialmente nascamadas mais jovens duma popu-lação sobretudo urbana- dumaconsciência, de tendência cadavez mais global, de que o sistemapolítico, económico e social domi-nante cria e se alimenta da maisclamorosa injustiça e iniquidade,da corrupção, do compadrio, deque os mais poderosos têm nas ré-deas um poder político que é usa-do para perpetuar os seus privilé-gios, a sua impunidade perante alei, enquanto tratam de atacar oestado social, que deveria prote-ger os cidadãos e assegurar-lhesdireitos fundamentais constitu-cionalmente consagrados.

Alguns dos slogans do Podemossão comuns a muitos dos novos par-tidos e movimentos situados à Es-querda na Europa, no presente: “Es-tamos para além dos partidos e dossindicatos”, “Somos um movimentode cidadãos indignados”, etc.

Sem embargo de acolhermos to-dos os aspectos positivos e pro-

gressistas destes partidos e movi-mentos -nomeadamente a cons-ciência dos problemas de que en-ferma a sociedade em que se inte-gram e as suas causas, a não acei-tação de um pensamento domi-nante de matiz neoliberal (com assuas “inevitabilidades” e os seus“não há alternativa”), a não resig-nação, a predisposição para parti-cipar numa mudança de paradig-ma-, necessário se torna, no entan-to, que nos interroguemos sobre osseus objectivos, no fundo sob o seuprograma político, por vezes con-traditório, e interrogarmo-nos so-bre a sua real capacidade de con-substanciar a ruptura necessáriaque afirmam preconizar.

A este respeito, num texto in-formativo e esclarecedor, Marat(lahaine.org) afirma: “Este con-ceito de estafa levou a uma visãoda crise capitalista como conspi-ração mundial “dos poderosos”,desdenhando a realidade de que

é a contradição fundamental docapitalismo, o antagonismo entreprodução coletiva de bens eapropriação privada de lucros, aque está na origem tanto das cí-clicas como das sistémicas criseseconómicas”.

E ainda: “Mas o certo é que,para não dividir por questõesideológicas ao movimento indig-nado a consigna do “sem bandei-ras e sem partidos”, o raca-racade que as ideologias estão supe-radas e de que as classes sociaissão algo difuso que correspondecom uma linguagem do passado,acabou dando-se a mão com a te-se de Fukuyama do fim da histó-ria e com pensamentos políticosde direitas, anarcocapitalistas,de liberalismo disfarçado de nãoideologia e, no melhor dos casos,de soluções keynesianas que jáfracassaram quando se aplica-ram à crise do 29”.

É claro que estas característicassão comuns a diversos projectospolíticos e movimentos de cidadãosem Portugal, os quais, na melhordas hipóteses, têm dado expressãomomentânea a uma insatisfaçãoprofunda, para se esfumarem pou-co depois, se dividirem ou seremabsorvidos por outros, que acabampor conhecer um destino idêntico.

Isto atinge, em certa medida, o

próprio Bloco de Esquerda, quedurante cerca de uma década lo-grou reunir um apoio substancialde uma população -beneficiandotambém de uma simpatia abertados media de reverência, o que jáde si é revelador- com as mesmascaracterísticas essenciais da queatribui hoje tanta expressão aoPodemos. E no entanto, actual-mente, o BE está, além do mais,refém de divisões internas, apa-rentes crises de liderança e prota-gonismo, na verdade, fortes incoe-rências e contradições no planoideológico e das posições políti-cas, tem vindo a cair em termosde expressão eleitoral, tende afragmentar-se, correndo mesmo orisco de desaparecer.

Desejaríamos que o desconten-tamento e indignação pudessemgerar a indispensável unidade emtorno de um projecto político ca-paz de assegurar uma efectivamudança no sistema. E que os Po-

demos da Europa pudessem levareste barco a bom porto, em vez dese limitar a conduzi-lo um poucoao sabor da onda.

É importante referirmos aqui oúltimo congresso do PS, destina-do a legitimar e a entronizar o Se-cretário-geral António Costa, etambém aproveitado por este parauma tentativa de se demarcar deJosé Sócrates, em prisão preventi-va, acusado dos crimes de fraudefiscal qualificada, corrupção ebranqueamento de capitais.

Quanto ao essencial, e a despei-to de uma ou outra intervençãoverdadeiramente progressista, co-mo a do antigo reitor da Universi-dade de Lisboa, António Nova, opiscar de olho à esquerda não nosparece negar o essencial do seucompromisso político, bem maispróximo de uma política de direita.Essa foi de resto a política seguidapor todos os governos onde esteveo PS, sozinho ou em coligação.

asPectos Positivos e dÚvidas necessÁrias arredor do PodeMos

Águas agitadasos ‘slogans’ do

Podemos são comunsa muitos novos

partidos de esquerda

Povos os limites do estado sionista figérom com que esta comunidadese politizasse e se identificasse palestiniana e árabe

Palestinianos do 48, a colónia interiorJOSÉ ANTOM ‘MUROS’ / Já tratámosem anteriores entregas desta seçoma situaçom da populaçom palesti-niana nos territórios de 67, a das re-fugiadas nos estados limítrofes, dalimpeza étnica realizada polos sio-nistas no atual Israel e a naturezacolonial e racista deste estado. Ago-ra olharemos para as palestinianasde 48, aqueles que como umha co-lónia interior resistem ao Estado deIsrael desde a sua fundaçom.

Há no atual Estado de Israel 1,7milhons -20% da populaçom- dedescendentes das 300.000 habi-tantes originárias que sorteárom a

limpeza étnica sionista. Lográromsobreviver por habitar em encra-ves isolados e nom estratégicos,pola sua atitude nom beligeranteface os sionistas e por nom obede-cerem o erróneo mandato dos paí-ses árabes de fugir. Isto fijo delasumhas pesteadas, durante anos,diante do mundo árabe traumati-zado polo grande fracasso daNakba. Mas os limites do estadosionista figérom com que esta co-munidade se politizasse, e se iden-tificasse palestiniana e árabe.

A cidadania israelita é de se-gunda para todos as cidadás que

nom sejam parte da denominadanacionalidade judia que reivindi-

cam os mitos sionistas. As terraspúblicas de Israel nom municipais

pertencem ao Fondo Nacional Ju-deu que é responsável polas 'aliás'(migraçons judias massivas a Is-

rael) e da construçom de viven-das. Um israelita nom judeu nom

pode comprar nem arrendar ter-ras nem vivendas deste fundo, en-quanto um judeu nom israelita

sim. Um nom judeu nom pode fa-zer parte do exercito israelita.Também nom pode ser polícia na-

cional. Nom podem exercer legal-

mente por volta de 57 ofícios.Nom podem habitar as colóniasdos territórios ocupados. Qual-

quer judeu que imigra tem prefe-rência em vivenda, educaçom ousanidade.

As últimas provocaçons fôromincrementar a percentagem de votopara aceder ao Parlamento forçan-do umha coaligaçom eleitoral téc-nica. Também incidir novamentena divisom administrativa das pa-lestinianas por motivos religiosos,separando cristaos, samaritanos edrusos dos muçulmanos sunitas;ou pola forma de vida, segregando

beduínos de todas as demais.Ademais, já espacialmente, os

enclaves palestinianos na Galileacentral, na costa central entre TelAviv e o norte, e no deserto doNaguev, estám rodeadas porabondosas populaçons sionistasque as cercam. Mais umha pedraacima dumhas populaçons con-denadas ao subdesenvolvimentopolo estado sionista.

Mas as comunidades palestinia-nas num lado e outro do muro sa-bem o que som, um povo indígenaque crebara o sionismo para renas-cer na pluralidade e diversidade, e

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Esta Tribuna nom pretende enmodo nengum dogmatizar nemelevar ideas ao nível de verdadescategóricas. Mas sim pretendecolocar quatro ou cinco -ou seisou sete- argumentos para convi-dar a refletir sobre umha rela-çom cada vez mais estável: a queo desporto amador mantém como consumo. Ou melhor, com oconsumismo.

Passieo marítimo da Crunha.Quatro da tarde. À altura da Casados Peixes detem-se Jesús Fragapara conversar. Todos os dias àmesma hora, depois do almoço, fairunning. Está na moda. A práticadesportiva e o conceito, umha pa-lavra importada do inglês que con-fire um certo 'estilo' ao vocábuloautóctone correr. “Eu chamo-lhequeimar sola”, aponta Fraga. A so-la que ele 'queima' é a duns téniscor laranja fluorescente “que seadaptan a qualquer tipo de pisada,polo que tenho menos risco de so-frer umha lesom”. O seu uniformede running completam-no umhascalças elásticas de cor preta quelevam escrita a marca na parteposterior da perna no mesmo la-ranja fluorescente, e um corta-ventos também preto e com a mar-ca escrita combinando, desta voltanas costas. Perguntamos quantodinheiro gastou na indumentária ecada quanto tempo a renova.“Com os peúgos e todo? Uns 300euros. Tenho dous pares de ténis,os mesmos em distinta cor, e cadaseis ou oito meses renovo os douspares porque com o uso perdemamortecimento”, explica o despor-tista. Tem claro que o desembolsoeconómico que ele fijo é “o míni-mo e imprescindível” para saír cor-rer de maneira saudável, se bemreconhece também que “com umpar de ténis arranjava, sim”. E sor-rí. Corre por saúde e corre “paracompetir, en corridas populares een meias maratonas”.

Ginásio de Compostela. Dozedo meio-dia. Maria Fernández en-ceta a sua aula de zumba. Comen-ta que prefer o desporto no meionatural mas que a falta de temposlivres a obrigou a se inclinar porestoutro tipo de espaços. A rouparepete-se: calças elásticas pretas et-shirt elástico sem mangas em

cor lilás, combinando com as lis-tras dos ténis. A mesma indumen-tária e a mesma loja de procedên-cia: o gigante da distribuiçom des-portiva Decathlon. Porém, o in-vestimento de Fernández foi me-nor. “No que mais gastei foi nosutiá”, reconhece entre risos. Que-ria que fosse “um bocadinho bom”para previr as dores nas costas.Todo o equipamento junto custou“uns 60 euros”. Contodo, o razoa-mento que esta mulher fai resul-ta-nos de especial interesse. Contaque leva “cinco ou seis” anos pra-ticando desporto num ginásio “enunca gastara em roupa”. Até hádous anos, quando começou a es-tudar o ciclo superior de FP deanimaçom socio-cultural. “Os pri-meiros dias fum ao licéu igual queía ao ginásio, com ténis e calçasnormais de todo e t-shirts de pu-blicidade; os que davam quandodoavas sangue eram comodíssi-mos”, assinala. Mas o panoramaque atopou nas aulas a convenceupara gastar em roupa e calçadodesportivo. “Todos, mulheres ehomens, eram manequins do De-cathlon! E suponho que eu nomquigem ser menos...”.

Corrida popular Sam Silvestre.Salamanca. 28 de dezembro de2014. Quadrando com o dia emque Espanha celebra as “inocenta-das”, a organizaçom deste eventodesportivo decidiu fazer umhabrincadeira com as participantes.Uns minutos antes de encetar aprova, de dez quilómetros e comum prémio de 1.200 euros paraquem primeiro cruzar a linha demeta, anunciou-se por megafoniaun controlo anti-dopagem que de-veriam superar os dez primeirosatletas homens, as cinco primeirasatletas mulheres e outras cincopersoas escolhidas ao chou. Hou-vo quem decidiu nom correr ehouvo quem foi em cabeça duran-te toda a prova e nos últimos qui-lómetros fijo números para nomestar entre as ganhadoras. Todoisto numha corrida popular.

Para a redaçom deste artigo fa-lámos com dez pessoas que famdesporto a nível amador. Os teste-munhos repetem-se e dam contado auge desta prática, nomeada-mente na modalidade de moda: orunning. Os motivos som óbvios: ébarato (a priori), pode realizar-seem qualquer espaço e nom está su-jeito a horários. O anuário do des-porto 2014, publicado polo Conse-lho Geral de Desportos, situa-o co-mo a quarta atividade física maispraticada no Estado espanhol, sósuperado pola nataçom recriativa,o ciclismo e o futebol. Contodo, oproblema chega quando essa po-pularizaçom se traduz numha ma-

neira irracional de fazer desporto,entendida tal irracionalidade nosentido de que os benefícios sau-dáveis que correr tem, passam aum segundo plano en favor dumobjetivo único: competir. A todosos níveis. Na qualificaçom despor-tiva de cada quem, mas tambémno vestuário. Assim, nos últimosanos agromáron as corridas popu-lares, as BTT de 70-80 quilóme-tros, as maratonas, as travessias anado ou as denominadas ultra-trail –corridas de montanha-- atéinçarem Galiza. No entanto o des-porto de base esmorece, o finan-ciamento deste tipo de eventos érendível polos ingressos queatraem em forma de publicidade.Ao tempo, a profissionalizaçom,que carrexou importantes avançosa nível psicológico, médico ou far-macéutico, trouxo também avan-ços na mercantilizaçom.

À espreita deste auge estavamdeterminadas marcas que víromno desporto um mercado brutalonde fomentar o consumo. De to-das essas marcas, a mais conheci-da e a que melhores resultadosestá a obter é Decathlon. Por que?Porque a sua aterragem chegou

ligada à ideia dumha alegada de-mocratizaçom do aceso a mate-rial de lazer a preços económicos.O desporto deixou de praticarsecom a roupa “normal” da qual fa-lava acima Maria Fernández.Agora emprega-se roupa técnica,profissional. Do lado do consumorenovou-se um conceito populari-zado a início dos 80 no eido da ali-mentaçom, quando grandes no-mes da distribuiçom francesa co-mo Alcampo ou Carrefour se ins-talárom para pôr o pequeno co-mércio contra as cordas.

A ética do consumo responsá-vel que se reclama noutras esfe-ras das nossas vidas como a co-mida ou a roupa ignoramo-la e in-vocamos a saúde e a prevençomde riscos de lesons. Os t-shirts depublicidade prescrevérom e avan-çámos a passos de gigante no ca-minho da elitizaçom da práticadesportiva, e nom a nível profis-sional senom a nível amador. É omodelo das necessidades criadas:'necessitamos' os ténis de moda emesmo peças novas... Existiamhá dez anos os corta-ventos? Co-loquemos um exemplo gráficopara explicar esta ideia das neces-sidades criadas: o exemplo dos al-cunhados 'ténis voadores'. Exis-tem polo menos quinze marcasque os fabricam, e dentro delespodem distinguir-se já duas tipo-logias: os voadores radicais e osvoadores somentes. Qual é a ca-racterística principal deste produ-to? Que som ligeiras e carecem deamortecimento. Qual é a armadi-lha? Que som muito eficazes paracorrer em pista, mas em asfaltoou em terrenos duros só som efi-cazes se o que queremos é partirumha articulaçom. Aliás, ignora-mos também a esência mesma dodesporto para fazer dele umhaexibiçom, as fotos-finish que de-pois penduramos nas redes so-ciais a carom do trilho que nosmarcou o iPhone.

À maneira de resumo, umhapergunta: necessitamos corrercom uns ténis de 200 euros espe-ciais para pisada pronadora ou su-pinadora? Ou abonda com uns té-nis onde os nossos pés estejambem, cómodos, aos que poda ace-der qualquera pessoa que querapraticar atividade física e semadornos que deam de comer à nos-sa ánsia consumista?

15tribunaNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

o desporto passou depraticar-se com roupa

‘normal’ a exigirestética profissional

a MercantilizaçoM da essÊncia do desPorto fai dele uMHa eXibiçoM

Apontamentos para suar

tribuna

o consumo responsávelestá a ser ignorado

na saúde e na prevençom de lesons

beti Vázquez e Xiana Guerra

DANIEL PUDLES

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16 a fundo Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

Vigo incumpre a proporçom legal detrabalhadoras sociais por número de habitantesa fundo

conflito vicinal eM resPosta às obras na rotunda de coia

“Falam dumha cidade fermosa mas por baixo a gente passa fame”Desde começos de dezembro, a vizinhança do bairro viguês de Coiaestá a luitar contra a instalaçom do barco 'Bernardo Alfageme' numhadas suas rotundas. Graças à sua tenacidade, já conseguírom paralisaras obras várias vezes, ainda que o Concelho de Vigo conseguisse, man-dando trabalhar de noite, que se realizasse a primeira fase das obras. Arotunda agora encontra-se valada, constantemente vigiada pola polícia

mas também sob o olhar atento da vizinhança que denúncia o desperdí-cio de recursos públicos do alcalde Abel Caballero em obras que o cole-tivo vicinal qualificam de “faraónicas”. Vizinhas da paróquia de Coia, quelevam anos a luitar por umha vida digna, assinalam que “falam de criarumha cidade fermosa, mas ergues os barcos, as escadas mecánicas ouas pedras e por baixo a gente passa fame”.

A. LOPES / O conflito vicinal que es-tá a ocorrer por causa da rotundade Coia nom se entenderia semlembrar a história de mobiliza-çom e luita da gente deste bairro.Foi assim que, nos anos 90, as mo-bilizaçons populares conseguí-rom impedir que o parque daBouça fosse classificado como so-lo urbanizável e salvárom-no.Também a atividade da paróquiado Cristo da Vitória tem contribuí-do para criar unidade entre osmoradores e as moradoras destebairro viguês. É nas instalaçonsdesta paróquia que tem a sede oObservatório de Direitos Sociais(ODS) de Coia, umha organiza-çom que desde há anos anda a tra-balhar com a gente que mais estáa padecer a precariedade econó-mica, reclamando serviços sociaisdignos. Para Ester Lora, da ODS-Coia, a decisom do Concelho deVigo de gastar dinheiro públicoem espetar um barco numha ro-tunda do bairro foi o ponto culmi-nante dumha série de despropósi-tos, salientando que Coia “é umbairro empobrecido, que sofre di-retamente os efeitos da chamadacrise económica e onde levamosdous anos pedindo que se aumen-te o orçamento para bem-estar so-cial” - o que fai especialmente do-lorosa a determinaçom do alcaldeAbel Caballero de colocar o Ber-nardo Alfageme neste bairro.

Opacidade nos serviços sociaisPublicamente, o alcalde Abel Ca-ballero manifesta que “Vigo es elAyuntamiento con más políticasocial de España”, procurandodesacreditar as vozes que recla-mam uns serviços sociais dignosna cidade. Mas recentemente vá-rios meios publicárom dados doMinistério das Finanças que si-tuam Vigo no posto 2.945 na clas-sificaçom por gasto social dosconcelhos do Estado e na quintaposiçom das urbes galegas.

Para mais, a ODS denunciou,além da falta de recursos orça-mentários, “a opacidade queexiste na tramitaçom das sub-vençons diretas individuais deemergência social do Concelhode Vigo e, sobretodo, a inobser-váncia do procedimento legal-mente exigível na tramitaçomdestas ajudas”. Estas Ajudas deEmergência Social tramitam-senas Unidades de Trabalho Social(UTS), presentes em diferenteszonas de cidade, e estám destina-das a dar cobertura a pessoasafetadas por cortes de forneci-mento, com dificuldades para opagamento de alugueiros ou paraconseguir alimentaçom básica.

“Custou-nos muito que o Con-celho respeita-se o procedimen-to administrativo, com cousastam básicas como quedar comumha cópia do requerimento eque se responda por escrito, pa-ra sairmos deste sistema de ser-viços sociais opacos”, afirma Es-ter Lora. Assim, esta advogadalembra que do que se está a falaré de direitos fundamentais, poloque “nom estamos de acordocom que haja que ir a rogar di-nheiro ao Concelho. Esse dinhei-

ro é de toda a gente e temos di-reito ao acesso desse dinheirocom celeridade e eficácia”.

Acompanhar as pessoasO montante das ajudas municipaisde emergência foi, no ano passa-do, de 445.000 euros. Estas ajudasdestinam-se às pessoas que as ne-cessitam par fazer face aos paga-mentos básicos do dia-a-dia e de-vem solicitar-se nas UTS. Beatriz,umha vizinha de Coia pediu umhadestas ajudas, explica como fun-ciona o procedimento: “por exem-plo, ti vais pedir para um recibo daluz porque tés um corte e darám-che conforme a fatura que apre-sentares. Logo, ti vais buscar ocheque, vais cobrá-lo a um bancoe logo vais pagar a outro, e a verse tés a sorte de que aí nom checobrem. Depois tés que ir a Servi-ços Sociais e entregar o justifican-te segundo pagache. Igual com aluz ou com o gás. Quando é poralimentos há um baremo segundoos membros da família e com oque che deam tés que comer”.Beatriz lembra que “ir aos servi-ços sociais nom é um passo que aninguém lhe seja agradável” e quefoi necessário, para que poder ace-

der aos seus direitos básicas, “pe-lejar e ir acompanhada doutrapessoa para que che fagam caso enom te machaquem diante dumhatrabalhadora social”.

Outra linha de ajudas para si-tuaçons de emergência social é oconhecido como 'cheque social'.Trata-se dumha convocatóriapontual, com um prazo de vintedias para a apresentaçom de pedi-dos e um baremo mais estrito so-bre os membros da agregado fa-miliar e os seus rendimentos. “Emteoria nom som incompatíveiscom as ajudas de emergência mu-nicipais, mas a realidade é que sedenegam estas dizendo que já selhe deu o 'cheque social'”, afirmaEster. Estas ajudas nascêrom em2013 com um orçamento de 3,2milhons. Já em 2014, o seu orça-mento ficou reduzido para dousmilhons, sendo uns 200.000 eurosreservados para as reclamaçons.

Trabalhadoras sociais movem-seNos últimos meses, à situaçom ex-posta vinhérom acrescentar-se asmobilizaçons do próprio pessoaldas UTS, que denuncia o colapsodo sistema de serviços sociais e exi-gem que se contrate mais pessoal.

Assim, denuncia-se que o Concelhode Vigo está a incumprir a propor-çom de trabalhadoras sociais porhabitante legalmente estabelecido,o que se situa numha trabalhadorasocial por cada 8.000 habitantes.Atualmente o concelho de Vigoconta com apenas umhas 17 traba-lhadoras sociais, menos de metadedo que umha cidade de arredor de300.000 habitantes requereria.

Ester Lora, da ODS-Coia, assina-la que “as trabalhadoras sociais es-tám sobrecarregadas. Os pedidosde ajuda multiplicárom-se entremarço e abril de 2014. Temos cercade 3.000 pedidos ainda sem trami-tar. O que antes se resolvia em 15dias, agora demora quatro, cincoou seis meses”. Outras ativistas, li-gadas à paróquia de Coia, indicamque “nom todos os departamentosmunicipais estám nas mesmas con-diçons: temos, por exemplo, 58GOAS, antidistúrbios da Polícia Lo-cal, que som quase tantos como to-do o pessoal de bem-estar social”.

Progressiva privatizaçomAtualmente, a atençom primárianas UTS é o único tramo dos servi-ços de bem-estar social que nom seencontra privatizado. Deste jeito,nos últimos anos grandes empresasfôrom obtendo diversas conces-sons, sendo umha das mais benefi-ciadas a Clece, empresa do grupoACS e que se autoqualifica comomultiserviços. A esta empresa, se-gundo informa a ODS-Coia, fôromatribuídos os serviços de interven-çom familiar, o de ajuda familiar etambém o programa Cedro de as-sistência a toxicodependentes.

Grandes empresasse beneficiárom da

privatizaçom dosserviços sociais

GALIZA CONTRAINFO

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17a fundoNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

asdasdsadadsdasd

Vigo: urbanismo de patos e formigom

A falta de informaçom públicasobre a adjudicaçom da obrapara a instalaçom do 'Alfage-me' moveu a vizinhança deCoia a denunciar as obras porprevaricaçom, suborno, tráfi-co de influências e malversa-çom perante a Fiscalia, a qualadmitiu a trámite tal denúncia.A Civis Global, a empresa cu-jo logótipo se vê presente nasinconclusas obras da rotun-da, é umhas das empresasadjudicatárias mais habituaisno Concelho de Vigo, e queademais levou nos últimosmeses obras e concessonspor importes milionários. Umrepasso polas recentes adju-dicaçons de obras e humani-zaçons na cidade de Vigo tor-na visível que empresas quese vem salpicadas por escán-dalos de corruçom e imputa-das em investigaçons judi-ciais continuam a contar coma confiança de Abel Caballero.

A.L. / O logótipo de Civis Globalconsta de umhas letras brancassobre um rectángulo verde. E éum logótipo cada vez mais habi-tual na cidade olívica. Desde opasseio do Náutico até as imedia-çons da paróquia de Cabral a suainsígnia aparece intermitente-mente pola cidade. E aparecetambém na rotunda de Coia, caraonde mesmo algum responsável

da empresa tivo que se deslocarao ver como a vizinhança do lugarse rebelava contra umhas obraspromovidas no obscurantismo.

Já de começo, desconhece-sequal é o orçamento da obra. O al-calde Abel Caballero fala duns100.000 euros, enquanto o coleti-vo vicinal nom o rebaixa dos300.000. Segundo exponhem vo-zes deste grupo, a obra contarácom diversas fases, tais comotransporte ou iluminaçom e quejá nengumha delas baixaria dos100.000 euros. “A obra carece denúmero de expediente, de licença,de orçamento, mesmo de cartazde obra”, exponhem. E aqui é on-de entram as suspeitas de preva-ricaçom. Recentemente Civis Glo-bal obtivo a concessom do servi-ço de acondicionamento, manu-tençom e arranjo das infraestru-turas viárias de Vigo, num valorde 6.400.000 euros. E o facto deos operários vestirem coletes coma legenda 'Mantemento Vigo' foialgo que levantou as suspeitas davizinhança. “A obra nova superioraos 30.000 euros deve ser objetode concurso público, senom, cai-se na prevaricaçom”, denunciamas ativistas de Coia.

Civis Global, grandes obrasA sombra da Civis Global é alon-gada e frondosa. Medra de jeitoespecial em obras com altos or-çamentos. Alimenta-se bem dum

governo municipal para o qual ashumanizaçons e as reformas ur-banas estám a ser o seu distinti-vo. No último mês de dezembro,a Civis Global recebeu mais deum milhom de euros em adjudi-caçons, repartidos entre as obrasde acondicionamento do merca-do do Progresso (por mais de800.000 euros), e as humaniza-çons da rua Aragom e Girona.Porém, também recebeu nos úl-timos meses algumhas das obrasdas que o alcalde Abel Caballeropretende sentir-se orgulhoso: ainstalaçom das escadas mecáni-cas em II República, atualmenteavariadas e cuja primeira fasecustou perto de 500.000 euros;ou a concessom para a gestom,com execuçom de obra, dum no-vo centro desportivo em Náviapor valor de mais de 7 milhonsde euros.

Se no canto de dizer Civis Glo -bal, diz-se MovexVial, denomina -çom da empresa antes de 2012, osfantasmas do passado espreitam.Sendo já com este nome umhadas empresas habituais nas adju-

dicaçons e concessons do Conce-lho de Vigo, a sua atividade apa-rece relacionada com algumhasdas supostas tramas de malversa-çom que salpicam o urbanismo vi-guês. Assim, no chamado CasoFormigom aparecem imputados,junto com um técnico municipal eo concelheiro socialista Ángel Ri-vas, dous empresários da antigaMovexVial. Neste caso a justiçainvestiga umha série de empresasque teriam obtido adjudicaçonspor via de urgência, entre os anos2009 e 2012, e que depois adqui-riam material na cimenteira ValMiñor, empresa de que era direti-vo naquela altura o concelheiroÁngel Rivas. Também a trama defcturas falsas da Las 5 Jotas dei-xou manchado o nome da Movex-Vial, cujo representante legal foicondenado por ter faturas falsasque ascendiam a um importe de1,6 milhons de euros.

Humanizaçons e futebolA mao de Abel Caballero é longaquando se trata de repartir dinhei-ro para a obra civil. A Junta de Go-verno do Concelho de Vigo apro-vou, sobretodo nas suas sessonsextraordinárias e urgentes, a adju-dicaçom de obras de humaniza-çom e reformas urbanas que, ape-nas no mês de dezembro, implicamum investimento superior aos 4 mi-lhons de euros. Algumhas das be-neficiadas destas obras, como a

Xestión Ambiental de ContratasS.L., Oresa S.L. ou Oreco S.A. es-tám a ser investigadas, segundo in-formam meios de comunicaçomconvencionais, no caso Formigom.Outras, como a Construcciones Va-le S.L., vem-se também envolvidasnas faturas falsas da Las 5 Jotas.Às vezes a vida dumha empresa deobra civil dá voltas e umha empre-sa que se presume cercana ao PPtambém recebe concessons dumconcelho governado polo PSOE.Seria o caso da Petrolam A Veiga,que obtivo a humanizaçom da ruaMaria Berdiales, dum valor supe-rior aos 400.000 euros.

Mas afinal entre tanto betomtambém nadam os patos. Nestesmeses de novembro e dezembro,tam prolíficos para o urbanismoviguês, nom podia faltar maisumha obra de altura, como as re-formas no estádio de Balaídos. Auniom temporária de empresasStradia – Planificación, Desarrol-lo y Gestión de Construccionesarrecadou o contrato, num valorde 1.136.016 euros para a primei-ra fase das reformas na zona derio e a consolidaçom estruturaldo estádio. Segundo já tem publi-cado a imprensa, a Stradia nom ésenom o novo nome da constru-tora Eiriña, cujo administradorfoi detido na operaçom Patos e seencontra imputado por delitos detráfico de influências, suborno efalsidade documental.

a Civis Global recebeualgumhas das obras

mais custosas dogoverno de Caballero

enquanto a vizinHança Protestava, o Governo MuniciPal adjudicava MilHons de euros eM obras

ERNESTO ILKERMN

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18 eM anÁlise Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

“Si hubo heridos fue porque losmanifestantes se cayeron en sucarrera, pues la policía no golpeóa ninguno. Es más, los campesi-nos llevaban la cabeza hacia elbastón de los agentes”.

BÉTI VÁZQUEZ / A descriçom com aque esta reportagem começa foitirada do informe que um diretorgeral da polícia nacional, JoséMaría Meléndes, entregou após avaga repressiva acontecida no ve-rao de 1992 contra 500 famíliascamponesas que se mobilizavampara recuperar as terras que legi-timamente lhes pertenciam. Asnotas estám tiradas da brochura‘Historia do movimento de luitapopular pola terra do povo Mamde Guatemala’. Nom fam referên-cia a factos decorridos no Estadoespanhol, mas forom escolhidasporque resomem à perfeiçom osdous elementos em que se con-creta a Lei de Segurança Cidadá:opressom para o povo e ‘palavrade polícia’.

Aprovada a começos de ano noCongresso espanhol após passaro PP o rodo da sua maioria abso-luta, o texto é um símil da fran-quista Lei da Ordem Pública, pro-mulgada em 1959, e vem substi-tuir a imposta em 1992 polo da-quela ministro do Interior, JoséLuis Corcuera, no contexto dum-ha profunda crise socio-económi-ca. O contexto repete-se e permiteidentificar o ingrediente funda-mental do governo espanhol pararegular a ordem pública quandoas elites económicas escolhemapertar o cinto das maiorias: um-ha política de contençom no exer-cício das liberdades.

Explica-o com clareza YolandaFerreiro, advogada e vice-presi-denta do Observatório polos di-reitos e as liberdades Esculca: “oimportante nom é centrar-se emse esta norma resulta um ataquesem precedentes ou nom, senomem entender que fai parte dumhabateria de normas aprovadas nosúltimos anos e que conduzem àcriaçom dumha nova sociedade”.E coloca a letrada a consequênciaimediata desta nova norma:

“transforma-se a nossa democra-cia constitucional numha merademocracia representativa com aburla de manter o nome polo fac-to de que nos permitem ir votarcada quatro anos”.

Estado policial sem maquilhagemAssim as cousas, abonda comumha leitura rápida –mesmo semdemasiada atençom- do articula-do referido às novas infraçons pa-ra perceber a intencionalidade dalei. Açons e estratégias que se vi-nhérom empregando como for-mas de protesto contra o corte dedireitos fundamentais carrejamagora sançons nada despreciá-veis. Contudo, e mais alá da mul-ta, o que fam é conculcar um dosdireitos mais básicos da cidada-nia: o direito ao protesto. A normasaiu do Conselho de Ministros emnovembro de 2013 para testar aopiniom pública e contemplavamedidas que iam mesmo em con-tra da sua própria Constituiçom.O texto aprovado finalmente émais suave, sim, mas unicamentena contia das multas.Nesta linha, cumpre destacar queo ministério de Jorge FernándezDíaz nom recuou na sua tentativade sancionar determinadas con-dutas. Nom recuou em nengum

dos objetivos que se perseguemcom esta lei: fugir do controlo ju-dicial, aumentar as infraçons,sancioná-las com multas astronó-micas e “a hipertrofia do preven-tismo numha persecuçom doexercício de direitos fundamen-tais e a penalizaçom do protestopacífico”, aponta Yolanda Ferrei-ro. Em resumo: as condutas a san-cionar som as mesmas que em2013 e a ideia última de estabele-cer um estado policial mantém-setambém intacta.

O preço da dissidênciaVaiamos à letra da lei. Certo é queo departamento de FernándezDías retirou os artigos assinala-dos polo Conselho Geral do PoderJudicial como “inconstitucionais”,mas mantém outros igualmentecontrovertidos como a possibili-dade de multar com até 600.000euros a organizaçom de reunionsou manifestaçons nom comunica-

das “nas instalaçons em que seoferecem serviços básicos à co-munidade”. A definiçom é tamambígua que pode atingir desdeum protesto num hospital -comoos desenvolvidos na Galiza contraa privatizaçom da sanidade- ou nauniversidade -como o organizadoem repulsa pola visita do juiz Bal-tasar Garzón- até umha mobiliza-çom diante do Parlamento galego,como as protagonizadas por tra-balhadoras e trabalhadores donaval ou do cerco.

Em que consiste, entom, a lei‘de segurança cidadá’? Irá damao da contra-reforma do Códi-go Penal (CP) anunciada polo mi-nisterio de Justiça e sancionarácom penas pecuniárias –multas-condutas que se vam despenali-zar no CP. Por quê? Porque inde-pendentemente do que depoisacontecer em cada julgamento, apriori os princípios do procedi-mento penal som mais garantis-tas. É dizer, a pessoa denunciadatem mais possibilidades de se de-fender frente à polícia.

O que se pretende? Evitar aschamadas de atençom enviadaspor organismos como o Conselhode Europa em que dam conta dailegalidade que supom um proce-der que lhe resultará familiar à

leitura ou leitor: a pessoa queapresentar umha denúncia contraa polícia acaba denunciada tam-bém, por atentado à autoridade.Assim, com o novo texto legal, es-sa denúncia cidadá contra a polí-cia tramitará-se polo procedimen-to administrativo sancionador.

Em que é que se traduz isto? Emque a investigaçom sai da via pe-nal e vai fazê-la a própria políciaassistida por um princípio que tor-na indiscutível: a presunçom deveracidade dos agentes da autori-dade, a ‘palavra de polícia’ da qualfalavamos ao começo. Embora se-ja verdade a escusa do ministériode Interior de que toda sançom po-de ser recorrida, tal recurso há quepagá-lo e custará a metade da con-tia fixada como sançom, segundoestabelece a lei de taxas aprovadaem 2014 polo deposto ministroGallardón. A via penal, emprega-da até agora, está exenta de tribu-tos. Mas ainda há mais.

A repressom eficiente“Conseguirám também que assançons sejam muito menos pú-blicas e mobilizar gente... ou apessoa multada está numha orga-nizaçom ou sofre a multa ela soa”,sublinha a advogada Yolanda Fer-reiro. Ao se tratar dum procedi-mento escrito, sem juízo oral, nomexiste a possibilidade de acudir àvista para ouvir a declaraçom“nem de irem protestar com umhafaixa à porta dos julgados”. Res-posta bem, já que logo, às deman-das dos sindicatos policiais: “maisopacidade para os antidistúrbiosatuarem na impunidade e mais re-pressom para que a pouca genteque protesta nom se atreva a pôrum pé fora de casa”, completa avice-presidenta de Esculca.

“Dumha leitura apurada pare-cerá que os contrários à reforma

eM anÁlise

Lei de Segurança Cidadá:radiografia dum estado policial

coM esta norMa, as fotos do desPejo de aurelia rei iMPlicariaM Multas de atÉ 600.000 euros

Concentrar-se ante oParlamento sem

comunicar multaria-secom até 600 mil euros

Com Yolanda Ferreiro, de esculca, deitamos luz sobre o texto aprovado polo Congresso espanhol que elimina o direito ao protesto

“ou a pessoa multada está numha

organizaçom ou sofre a multa soa”

GALIZA CONTRAINFO

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da lei de segurança cidadá estamosa pedir a pervivência de determi-nadas conduas como residentes noCódigo Penal”, di Ferreiro, para ex-plicar a seguir que do que se trataé de deitar luz sobre umha realida-de invisibilizada: a ‘rebaixa puniti-va’ conquistada desde que o ante-projeto saiu do Conselho de Minis-tros até a sua aprovaçom definitiva“nom existe” porque as sançons“continuam a ser desproporciona-das” e, aliás, “seja a multa de 600ou seja de 600.000, o que nom sepode é sancionar o exercício dumdireito. E ponto”.

Para além das penas pecuniá-rias, a fugida do controlo judicialficou vigente. “O Estado nomgostou nada de sentenças abso-lutórias ditadas por juízes do pe-nal e isto, unido à pervivênciaainda nalgumhas resoluçons ju-diciais do direito à presunçom deinocência, dá em que seja maiseficaz e mais lucrativo residen-ciar determinadas condutas nes-ta nova norma”. O objetivo da re-pressom eficiente com que nas-ceu o texto segue no texto. “En-quanto algumhas estávamos adenunciar o engrossamento doCódigo Penal, a penalizaçom decondutas como saída única paraumha convivência pacífica, o go-verno espanhol adiantou-nos edecidiu sancionar essas condutaspola via administrativa; foi pior oremédio do que a enfermidade”,laia-se a advogada.

Cidadania amordaçadaTodo o assinalado até aqui concre-ta-se de maneira prática num totalde 30 infraçons qualificadas de

“graves” ou “mui graves”, que sesancionarám com multas que vamdos 1.001 euros até os 600.000 eu-ros; e outras 17 tipificadas como“leves” multadas com entre 601 e1.000 euros. Procuramos algunsexemplos entre os protestos acon-tecidos na Galiza nos dous últimosanos. Assi, a barricada de pneu-máticos que o sector naval colo-cou diante do Parlamento o 26 denovembro de 2013 seria umha in-fraçom “grave” sancionada commulta de 1.001 a 30.000 euros. Namesma categoria estariam os es-crachos ou as açons de resistênciapacífica empreendidas para evitarum despejo, por exemplo. Assi,enquanto parar um despejo podecarrear multa de até 30.000 euros,fôron 300 euros os que tivo quepagar um polícia de Madrid apósser julgado por malhar em dousativistas anti-despejos.

A nova lei vulnera também o di-reito à informaçom e considera in-fraçom “mui grave” que se tomemfotografias ou imagens em movi-mento de agentes da autoridade ouda polícia de choque “no exercíciodas suas funçons”. As fotografiasque um reporteiro de Galiza Con-trainfo tomou na Corunha o 27 denovembro de 2013 para dar contada atuaçom policial durante o des-pejo de Elisabeth Sanlés implica-riam hoje pena pecuniária de entre30.001 e 600.000 euros. O mesmoacontece coas imagens do despejo

de Aurelia Rei. Na mesma catego-ria estám as “perturbaçons da se-gurança cidadá em atos públicos,espetáculos desportivos ou cultu-rais e ofícios religiosos”.

Berrar “vergonha me daria serpolícia” no decorrer dumha mani-festaçom suporá sançom de entre601 e 1.000 euros ao estar incluí-das nas infraçons leves as “injú-rias ou faltas de respeito numhareuniom ou concentraçom cujodestinatário seja um membro dasforças e corpos de segurança doEstado”. Na mesma categoria es-tám a negativa a entregar a docu-mentaçom para ser identificadaou identificado pola polícia ou a“negligência na custodia e conser-vaçom” dessa documentaçom, édizer, perder o documento deidentidade três ou mais vezes“num prazo de três anos”.

O “polémico” e “repressivo” decreto egípcioAnalisada a lei espanhola, viajamosaté o Egito. O 24 de novembro de2013 e após um golpe de estado, ogoverno aprovou um decreto-leicom carácter transitório que foimui criticado pola chamada 'comu-nidade internacional' e polas orga-nizaçons em defesa dos direitos hu-manos por “restringir a liberdadede manifestaçom e de reuniom”.

Qualificado de “polémico” e “re-pressivo” por estes organismos, otexto egípcio obrigava comunicarcom antelaçom —entre 3 e 15dias— a realizaçom dumha mani-festaçom, assinalando por onde iadecorrer, quem a convocava e pa-ra o que. No Estado espanhol estaobriga estava vigente já antes da

nova lei e a comunicaçom deve fa-zer-se em todo caso com 10 diasde antelaçom.

O decreto egípcio proibia levarmáscaras ou carapuças que impe-dissem distinguir os riscos faciais;a contra-reforma que vem de apro-var o Congresso espanhol castigaesta prática com até 30.000 eurosde multa. No Egito estivo proibidoconvocar protestos diante de pré-dios públicos se houver pessoasdentro; no Estado espanhol já esta-va vetada esta possibilidade se setratar dumha instituiçom e a novalei multará com até 600.000 eurosqualquer concentraçom diantedum prédio público.

Continuamos. A norma egípciaestabelecia sançons equivalentesaos 12.000 euros para quem levas-se armas numha manifestaçom;no texto inicial da lei, o anteproje-to aprovado polo Conselho de Mi-nistros em novembro de 2013, Es-panha pretendia multar com até30.000 euros as “faltas de respei-to” à polícia. Nem a 'comunidadeinternacional' nem os organismospro-direitos humanos dixéromrem a respeito da lei de segurançacidadá espanhola. “Assusta o po-der absoluto que se lhe confere àsforças e corpos de segurança”, in-siste a advogada Yolanda Ferreiro.Teorizava Giorgio Agamben a par-tir das teses do jurista nazi CarlSchmitt a respeito da lógica da ex-ceçom, assinalando que quandoum estado se vê em perigo podeviolar as suas próprias normas pa-ra garantir o status quo. A esterespeito conclui Ferreiro que “esseestado de exceçom, no Estado es-panhol, já existe”.

19eM anÁliseNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

12 normas internacionais que Espanhavulnera coas ‘devoluçons em quente’"Os estrangeiros que sejam deteta-dos na linha fronteiriça da demar-caçom territorial de Ceuta e Melilhaenquanto tentam superar, em grupo,os elementos de contençom frontei-riços para cruzar irregularmente afronteira poderám ser rechaçados afim de impedir a sua entrada ilegal

em Espanha". Com esta disposiçom,incluída na própria Lei de Seguran-ça Cidadá e que vem modificar a Leide Estrangeiria, o governo espanhollegalizou as devoluçons em quente.

Embora o direito de asilo no Es-tado espanhol nom exista na práti-ca, tal e como afirma Yolanda Fer-

reiro, este texto, introduzido na leiapós umha emenda apresentadapolo próprio PP, vulnera polo me-nos 12 normas de carácter estatalou internacional que repassamosde seguido, nom sem antes deixarclaro que os eufemisticamente de-nominados polo governo como 're-

chaços em fronteira' levam-se pra-ticando com total impunidade des-de 1995, tal e como recolhem osrelatórios que maneja Amnistia In-ternacional e tal e como tenhemdenunciado na Galiza coletivos co-mo o Foro Galego de Imigraçomou a Associaçom Sem Papéis.

a lei considera infraçom “mui

grave” fotografar atuaçons policiais

• Lei de Estrangeira, artigo 58.3.b, exige “ressoluçomdas autoridades, assistência letrada e intérprete” antes deexecutar a devoluçom dumha pessoa imigrante.

• Lei espanhola 12/2009, que regula o direito ao asilo,vulnerada neste caso porque as devoluçons em quenteimpedem o “tratamento individualizado” da situaçom decada pessoa exigido na devandita lei.

• Constituiçom de 1978, artigo 13.4, que reconhece odireito ao asilo.

• Código Penal de 1995 contempla delitos como a pre-varicaçom, as coaçons e a privaçom de assistência letradaque se poderiam aplicar ao pessoal funcionário que exe-

cuta as devoluçons em quente.• Diretiva 2008/115, de Retorno, que exige nos estados

membros da UE sistemas “justos e eficazes” que garan-tam o direito ao asilo.

• Diretiva 2005/85, de Asilo, que obriga proporcionar aquem demande asilo garantias legais coma assistência le-trada e intérprete.

• Carta dos direitos fundamentais da UE, cujo artigo19.1 proibe as “expulsons coletivas”.

• Convénio europeu dos direitos humanos, cujo ar-tigo terceiro proíbe a “tortura” e os “tratos desumanose degradantes”.

• Convençom de Genebra, artigo 32, assinala que aexpulsom de refugiadas ou refugiados só se efetuará “coma proteçom jurídica efetiva”.

• Declaraçom universal dos direitos humanos, artigo12, “toda pessoa tem direito a procurar asilo”.

• Estatuto das e dos refugiados, aplica a Convençomde Genebra a todas e todos os refugiados em virtude dumprotocolo assinado a 31 de janeiro de 1967.

• Pato internacional dos direitos civis, que garante odireito à assistência jurídica com intérprete, contempla odireito a apresentar recurso e exige o acesso a um proce-dimento de expulsom com todas as garantias.

o estado espanhol legaliza as devoluçons

em quente e inviabilizao direito de asilo

GALIZA CONTRAINFO

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20 a eXaMe Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

a eXaMe

R.MELIDE / O último inquérito doIGE a respeito dos usos linguísti-cos na Galiza, cujos números vemde refletir o NOVAS do mês passa-do, produziu um efeito ambivalen-te nos diversos setores sociais oupolíticos que defendem a línguaou que, sem a defenderem tanto,vivem dela. As divisões no que dizrespeito ao diagnóstico da saúdeatual do nosso idioma são basica-mente duas: otimismo versus pes-simismo face ao futuro, de umabanda, e fracasso ou sucesso dastrês décadas de normalización lin-guística pela outra.

Situação satisfatóriaO presidente da Junta, Alberto Nú-ñez Feijóo, rejeitou qualquer res-ponsabilidade a respeito dos dadosfornecidos polo IGE, negandoqualquer relação da mesma com apolítica linguística por ele imple-mentada e, mais concretamente,com a derrogação em 2009 do De-creto sobre o galego no ensino. As-sim, o presidente colocou as cau-sas da desgaleguização nas esco-lhas idiomáticas particulares dasfamílias e nos movimentos demo-gráficos que tendem para o agru-pamento da população nos núcleosurbanos: “há anos, falava-se gale-go na casa e castelhano na escola,

mas agora está a acontecer o con-trário”, assinalou. Ao tempo, mani-festou que os dados representam“uma ruptura na trajetória de des-cida do monolinguísmo em galegoregistada entre 2003 e 2008”. Osdepoimentos de Feijóo traduzir-se-iam na felicitação pela recupera-ção do número de pessoas mono-língues em galego durante o seumandado. Aliás, assinalou que nasescolas foi atingido o “equilíbriolinguístico”, pois “nunca tantascrianças conheceram tão bem ogalego”. Para o presidente, a situa-ção do galego “não é muito diver-gente da de outros idiomas queconvivem com línguas universaiscomo o inglês ou o espanhol”.

Por sua banda, Valentín García,responsável pela política lingüísti-ca do governo autonómico, decla-rou que “os dados refletem a reali-dade galega, com duas línguas aconviver sem problemas” e que“as conclusões são muito positi-vas, porque o galego é cada vezmais falado, aumentando o núme-ro de cidadãos que falam indistin-tamente uma ou outra língua”.

Se bem as instâncias oficiais daGaliza autonómica se felicitam pe-los resultados da pesquisa do IGE,as cifras convidam mais bem paraa preocupação séria: três em cada

quatro jovens de menos de quinzeanos são espanhol-falantes, damesma maneira em que o sãodous terços da população entre os15 e os 29 anos, ficando o galegocomo língua maioritária somenteentre as pessoas de mais de cin-quenta anos.

Fracasso da ‘normalización’Da associação Prolingua enten-dem, como exprime o seu vozeiroFrancisco Fernández Rei, que “a po-lítica linguística implementada atéo momento foi um rotundo fracas-so”. A associação pede a todas asforças políticas do país “que deba-tam e expliquem claramente qual éa sua proposta para um consensonacional sobre o galego e quais as

medidas que é urgente tomar”.No entanto, em contraposição a

este discurso do “fracasso” proce-dente de organismos favoráveis àlíngua, também existem vozes preo-cupadas com o futuro do galego queopinam que a história da ‘normali-zación’ foi a dum êxito político.

Sucesso da ‘política linguicida’Marcos Maceira, presidente d´AMesa pola Normalización Lingüís-tica, entende que “os resultadosconstatam o sucesso da política lin-guicida empreendida pelo PP”,acrescentando que “ a satisfaçãoda Junta perante estes resultadossó se explica se o objetivo da suapolítica linguística é a aniquilaçãodo galego, com um balanço típicode um processo de substituição lin-guística”, “sendo ainda mais preo-cupante que o governo autonómi-co se felicite por esta situação”.

Por palavras de Isabel Rei, mem-bro numerário da Academia Gale-ga da Língua Portuguesa, “eu es-tou no lado das que pensamos quefoi um sucesso. O isolacionismo foiuma boa estratégia espanhola pa-ra normalizar a única língua pos-sível no seu território, o castelha-no-espanhol. Foi traçado paracumprir essa função e em quaren-ta anos conseguiu, em boa parte, o

seu objetivo. O futuro passa porabandonar isolacionismos e assu-mir o português comum como veí-culo de expressão ótimo para pes-soas galegas. Declarar o portuguêslíngua oficial da Galiza e ensiná-lo, duma perspetiva galega, de ma-neira normal em todos os estabe-lecimentos educativos. Favorecero intercâmbio de informação, pro-dutos, mercadorias e agendar apolítica institucional galega comos países chamados lusófonos. Ofuturo é sempre construir em posi-tivo. E se depois disto a Espanha jánão pode possuir uma Galiza lusó-fona, abramos o nosso próprio ca-minho, façamos Galiza indepen-dente, que vontade, capacidade erecursos não nos faltam”.

Em termos semelhantes, aindaque se calhar mais duros, fala Má-rio Herrero, também membro daAGLP, que manifesta que “não háfracasso do processo de normali-zación, mas um enorme sucesso.O que procurava a chamada nor-malización era uma institucionali-zação fraca de uma variedade pa-drão altamente castelhanizada dogalego, que ocultasse no essencialorealmente importante: a verda-deira normalização social do cas-telhano. É uma planificação ge-nial: apoiar e mesmo acelerar a

marcos maceira: “asatisfação da junta

perante os resultadossó se explica se o

objetivo da sua política linguística éaniquilar o galego”

o ÚltiMo inquÉrito sobre usos linGuÍsticos convida a uMHa refleXoM sobre o futuro do idioMa

‘Normalización’: fracasso ou sucesso?

Jesús vázquez, Conselheiro da Cultura, e valentín García, secretário Geral para aPolítica Linguística, atuais responsáveis autonómicos em matéria de idioma.

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21a eXaMeNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

substituição social de uma línguaenquanto praticas atos estéticosque aparentam o contrário do querealmente estás a fazer. No livroque sairá nos próximos meses, aprimeira parte da minha tese dedoutoramento, falo em ilusão ne-cessária para denominar este pro-cesso. Tudo foi uma ilusão em queo nacionalismo galego jogou sem-pre a perdedor. A planificação lin-guística galega será estudada nofuturo como o melhor exemplo decomo exterminar democratica-mente uma língua aparentando

que a estás a defender. Como vaiagir o nacionalismo estatalizadoespanhol contra a sua língua na-cional? Só quando existiu a tenta-tiva de estruturar uma rede de es-colas infantis que assegurassem atransmissão da língua no momen-to essencial da vida de uma pessoado ponto de vista linguístico foique reagiu violentamente o nacio-nalismo espanhol. O ensino nacio-nal espanhol, os meios de comu-nicação nacionalistas espanhóis,os poderes económicos naciona-listas espanhóis... Que pessoa sé-

ria podia pensar que iam fazer al-guma cousa que implicasse asubstituição da sua língua nacio-nal numa parte do território na-cional espanhol? É neste aspecto

que o nacionalismo galego mostraa sua face mais patética: confiarnas instituições nacionais espa-nholas, com o sistema educativoem lugar privilegiado, para nor-malizar o galego? Como se podeser ou tão ingénuo ou tão parvo outão ignorante das dinâmicas denacionalização?”.

O galego internacional como via para a recuperaçãoNa linha do apontado polos mem-bros da AGLP, resta comprovarem que medida a assunção do

nosso idioma como língua inter-nacional poderá contribuir para amodificação do panorama. A leiPaz-Andrade -aprovada por una-nimidade parlamentar em 11 demarço de 2014, após uma Inicia-tiva Legislativa Popular apoiadapor 15.000 assinaturas- poderiarepresentar um avanço nessa li-nha. O texto legal visa a imple-mentação da versão internacio-nal do galego no ensino formal, orelacionamento institucional comos países lusófonos e a receçãodos media da beira sul do Minho.Os coletivos que defenderam aPaz-Andrade consideram que anova lei viria a modificar o para-digma interpretativo da realidadegalega, o qual racharia com aocultação da nossa riqueza lin-güística e faria do galego “umavantagem competitiva”.

Os movimentos dos últimostempos situam o nosso idiomanuma encruzilhada: a comunida-de galegofalante -e, enfim, a co-letividade galega em geral- podeaprofundar na marginalizaçãoda sua língua e na sua substitui-ção por uma outra vinda de foraou pode, pela contra, afirmar-senum dos seus traços diferenciaismais valiosos, abrindo-se de pas-sagem ao mundo e desvendandoum tesouro que, aos olhos daimensa maioria da população,talvez tenha ficado oculto pordemasiado tempo.

m. herrero: “Não háfracasso do processo

de normalização, masum enorme sucesso”

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22 Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015dito e feito

dito e feito

“tentamos caminhar cara a autossuficiência,em todos os seus diversos frentes”

conversa coM ibÁn otero, roque rodrÍGuez e duarte artabe de ‘PuMido ao natural’

“A última pessoa que habitou estacasa foi minha tia avó. No tempono que estivo aqui o contador da luznom correu: fijo vida a quando osol, e nom botou mao nem umhasoa vez da eletricidade, ainda sa-bendo que ia ter que pagar por elao mínimo de todos os jeitos”.

Há dous anos no caso de Duarte,e seis meses no de Ibán e Roque,decidides começar um projetode vida no rural, afastados dasociedade de consumo e todo oque a rodeia. Porque? Qual era avossa situaçom?Ibán: Eu tivera um trabalho assa-lariado, e estivera também comoautônomo, mas decatei-me de quede nengumha das maneiras mesentia dono da minha vida. Come-

cei com o tema da agricultura, indoa cursos de permacultura com pro-fessorado muito interessante, e co-nhecim outra gente e outra formade ver o mundo. Estivem de volun-tário por granjas ecológicas, masqueria ficar na Galiza, assim quecomecei a procurar projetos aqui.Num dos cursos de apicultura co-nhecim o Roque, e o Duarte já o co-nhecia de toda a vida. Assim quenos lançámos a isto, e convertim-me numha pessoa sem vida assa-lariada nem número de conta. Duarte: Eu nunca fum assalariado.Licenciei-me e cursei um mestra-do em energias renováveis, masnunca me contratárom. Marchei aBarcelona porque a minha moçaestava lá, sem choio, nem nadaque fazer. No mesmo edifício em

que morava no centro da cidadehavia umha horta comunitária, as-sim que um da baixei e comecei afalar com toda a gente. Trabalha-vam coletivamente, a gente guar-dava as colheitas nas casas, e logofaziam-se jantares comunitários.Voltei para Galiza fazer um cursode bio-construçom, e batim comum colega que trabalhava em Ca-nido para começar este projeto,em dezembro de há dous anos.

Quando conhecim o Roque e oIbán vim que tínhamos ideias maissemelhantes, dumha iniciativa quefosse além da horta e se conver-tesse num projeto integral, assimque vinhérom para aqui. Roque: Eu, igual que Ibán, tinha jáessas inquedanças. Queria ser au-tossuficiente, mas o via ao longe.Graduei-me em biologia há pouco,e quando esta oportunidade apa-receu, estava nesse momento decrise em que nom sabes que fazer.Aproveitei a ocasiom, porque somda zona e, se a deixava passar, ia-me arrepender muito.

Umha das “linhas mestras” dePumido ao Natural é a forma-çom em temas de permacultura,e a divulgaçom destes saberes.

Imagino que este caminho co-meça pola própria autoforma-çom... Ou conheciades já o agro?R: Ibán e Duarte som de Ferrol; eudumha aldeia próxima, de Covas.Na minha casa havia horta e va-cas, mas eu era um desses moçosque viviam no agro mas nom fa-ziam vida nele. D: Para nós a auto-formaçom ébásica. Falar, ler, organizar cursos,ver vídeos na internet... Malia to-do, a agricultura aprende-se nocampo, e nom fica outra que ex-perimentar. Para nós foi básicatambém a relaçom com os vizi-nhos; eles tenhem as chaves queprecisamos. Eu, por exemplo, limmuito os “permacultores puris-tas”, mas nom quigem negar-me afazer regos e trabalhar com sacho.

O.R. / Duarte, Roque e Ibán recebem-nos à noitinha na sua morada de Cha daMarinha com esta deliciosa anedota familiar decrescentista (de quando estaetiqueta nem sequer existia) e um café bem quentinho. Há só seis meses queos três começárom a transiçom nesta casa familiar do Vale de Esmelhe, apoucos quilômetros de Ferrol, mas o espaço está já cheio de vida e de ilusom.Vários gatinhos mexem-se arredor dos alhos com os que estám trabalhandoquando aparecemos. Galinhas, porcos, vacas e patos fam também parte des-te projeto integral, em que pessoas e animais integram o mesmo ciclo que osbosques e a horta. “Pumido ao Natural” nasceu com a intençom de coletivizar

um espaço familiar abandonado, mas a sua açom vai mais lá, apoiada emtrês piares básicos que som o econômico (através dos produtos da horta), acriaçom de comunidade, e o empenho divulgador de técnicas de permacultu-ra e outros saberes, novos e velhos, que permitem a auto-suficiência. E, notransfundo, a filosofia da cultura livre impregnando-o todo, e o desejo de po-linizar com as suas experiências outras terras, outras comunidades, outrascabeças. A Galiza pós-petróleo torna carne e osso entre as paredes da casi-nha de Esmelhe. Com os seus habitantes falamos dos medos, as ameaças,as alegrias e as aprendizagens da volta ao rural.

“a relaçom com os vizinhos é básica,

eles tenhem o que precisamos”

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23dito e feitoNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

Depois decatei-me de que assimperdes muito tempo, e é muito me-lhor trabalhar em socalcos. Umhacamada de compostagem, outrade caixas de cartom sem tinta, pa-lha, plantamos, e ao colheitar ou-tra camada de compostagem ecartom. E assim vas fazendo solo,sem destruir os extratos. Mas a es-sa conclusom chegas provando!

Juan Antón Mora ou César Le-ma som algumhas das pessoasque passárom por aqui nestesmeses para compartilhar os seusconhecimentos. Que suponhemestas experiências para vós?D: A formaçom é para nós um piarfundamental. Cada conversa nosdá muita energia, e a semana se-guinte de vir qualquer pessoa esta-mos a tope! Dam-nos a vida que àsvezes falta aqui, já que isto nom é o“campo jovem” e dinámico do quenós gostaríamos. Aqui o vizinhomais novo tem 70 anos. O bom éque às atividades vem tanto gentenova doutros projetos alternativoscomo gente do lugar, e isso paranós é muito importante. O encon-tro com Juan Antón Mora foi bru-tal; ele é umha pessoa cheia deenergia. Entre outras cousas, parti-lhou com nós a experiência do seu“bosque de alimentos”, um concei-to de permacultura que cópia o sis-tema das florestas, esses espaçosférteis que ninguém vai regar. Ne-les, as plantas e árvores convivem,cada umha na sua época do ano. R: A permacultura é o ponto poronde decidimos começar, mas oleque vai-se abrindo a pouco quepuxes do fio. O mês passado, porexemplo, véu umha moça chama-da Xisela, que tem umha horta ur-bana num museu de arte contem-poránea em Móstoles, e deu umobradoiro de cosmética natural,em que aprendémos a fazer cre-mes para as maos. Tentamos ca-minhar cara a autossuficiência,em todos os seus frentes. I: O encontro com César Lema foitambém espetacular! Ensinou-nosa fazer pam de landras, e compar-tilhámos com ele um jantar bembonito. Para além destas ativida-des com gente externa, queremoscomeçar a fazer “sábados aber-tos”, em que a gente que quigerpoda vir aprender com nós sobreas tarefas com as que andemosem cada momento, ajudar-nos, epartilhar conhecimentos. E tam-bém levamos a cabo algumhas ati-vidades para crianças no local so-cial, como o obradoiro de “bom-bas de sementes” que figémos hápouco, e que tivo muito êxito.

Muitas destas atividades de forma-çom das que estamos a falar te-nhem lugar no local social da paró-quia, e contam com umha gradepresença de vizinhas e vizinhos, al-go que outros projetos semelhan-tes nom som quem de conseguir.I: Nós estamos aqui porque a vizi-

nhança o fai possível; isso há quedizê-lo. Tratam-nos de vício. Ve-nhem às atividades que progra-mamos, e muitos mesmo mudá-rom já os seus jeitos de cultivar.Para nós, com que um o faga, já éumha semente importantíssima.R: Chegámos num momento noque a Associaçom de Vizinhos deEsmelhe está num “boom”. Famjantares, atividades, ludoteca, ren-da de Camarinhas, acabam de res-taurar a rota dos moinhos,...Apoiam-nos muito. Dam-nos es-paço para as atividades e projetor.Nada tem que ver com os locaissociais doutras paróquias!D: Para além de virem às ativida-des, estám muito pendentes dosnossos trabalhos. Venhem ver co-mo sementamos e assesoram-nos,e de passo, vem como fas ti e dei-xam-se aconselhar também subli-minalmente. Por exemplo, aqui osalhos nom os plantavam porquealguém lhe dixo que a terra eramuito ácida, e a nós dérom-se-nosbem. À gente comérom-lhe a ca-beça desde a década de 70, dizen-do-lhe o que podiam plantar e oque nom, como acabar com cadapraga... E agora nós propomos-lhevoltar ao tempo em que nom seusavam químicos. R: A senhora Julia, que vivia nesta

casa, trabalhava todo natural e semquímicos. Aqui havia muita genteque já fazia permacultura antes deque se lhe chamasse assim.I: Para nós esta troca de saberes éimprescindível; queremos criar co-munidade. Nas cidades se nom tesum ovo, nom comes ovo. Aqui é bemdiferente. Eles nom querem vermorrer a aldeia em que medrárom,assim que ponhem muito da suaparte para que a relaçom vaia bem.

Outro dos medos mais com-preensíveis para quem estápensando em começar um pro-jeto é a subsistência econômi-ca enquanto este sistema nomremata de esmorecer. Como fa-zedes para obter algum recur-so econômico?D: As feiras eram umha fonte deingressos, mas deixámos de irbastante, porque nom queremospassar pola nova lei de etiqueta-gem, porque cremos que vai evo-

luir cara formas de controlo. I: Sim, esta Lei apresenta-se comodemasiado bonita, mas nós pen-samos que é umha cortina de fu-me, já que todo o mundo teria queter o produto registrado e umhaespécie de facturaçom com o queentra e o que sai disponível por sehá umha auditoria, e nós o que de-fendemos é venda direta e trans-parência. Nom buscamos selos es-tatais, preferimos o selo da con-fiança, e que os próprios gruposde consumo venham ver comotrabalhamos se querem. Esta Leipode acabar com o mercado devenda de excedentes, porque mui-tas senhoras que vam às feiras setenhem que registrar-se pararámde ir. D: Ainda assim, a produçom dehorta que temos agora mesmo es-tá toda vendida a familiares e ami-gos e aos grupos de consumo deFerrol. Este sistema requer maisprogramaçom, mas é muito inte-ressante para nós. Nesta tempo-rada temos acelgas, escarola, por-ros, nabiça, faba loba medrando,sementeiros para a primavera,...Fazemos também pequenos tra-balhos para os vizinhos, comodesbroçar mato, com os que obte-mos algum recurso pequeno. I: O que buscamos realmente é a

autossuficiência: a pouco que ven-damos, imos ser capazes de sub-sistir, porque a nossa necessidadede dinheiro é mínima. D: Para isto temos que ser multi-faces! Na casa dos pais de Roque,por exemplo, tenhem umha col-meia de que tiramos a cera parafazer os produtos cosméticos. Oprojeto é um organismo vivo, emque mudam as necessidades etambém as pessoas. Como ganha-remos dinheiro, se é que nos faifalta algum, irá-o dizendo o tem-po. Dentro de 10 anos se calhar ahorta é só para autoconsumo por-que todo o mundo tem, e pensa-mos noutro jeito de subsistir. Nomtemos medo. I: Estamos também abertos aqualquer troco. A moeda socialaqui ainda nom está muito traba-lhada, mas tem muitas possibili-dades.

Falamos da vida no rural, assuas oportunidades e as suasdificuldades. Mas e nas cida-des, nom há saída?I: Há! Estám os centros sociaisokupados, as hortas urbanas,...Se as pessoas se juntam, podem,e há sítios onde isto já se está de-monstrando. R: Em Ferrol mesmo estám osMapuches, na horta comunitáriado Canido, e Caranza... Mas eua verdade é que esta transiçomnas cidades nom a vejo. Há mui-ta gente e pouco espaço paraplantar. Se nom tes espaço paraplantar que fas?I: Os espaços tomam-se. Se aquipodemos viver autossuficientesnumha casa, ali podem fazer opróprio num bloco de edifícios. Opróprio Juan Antón Mora per-guntava-se porque nas cidades asárvores som apenas decorativas,e nom produtivas. Há que buscarespaços para produzir alimentos!D: Eu penso que sim há saída,ainda que seguindo também estecaminho da autossuficiência.Nom podemos pensar que 6 mi-lhons de pessoas vam migrar aocampo. Transiçom a distintosritmos. A soluçom está nas pes-soas. A gente está raivosa, emconcentraçons e greves, masagora o que toca é também cons-truir, e depender o menos possí-vel. Somos a primeira geraçomque nom vai saber plantar a suaprópria comida!R: Nós fazemos muito essa crítica.Ferrol é umha das cidades commais paro, e a gente sai nas mani-festaçons para apostar num mo-delo que está morto. Querem vol-tar ao de antes, nom há interessepor gerar umha alternativa. O mo-vimento mais clássico está muitoassociado a isto, mas é umha pers-petiva bastante niilista. A luita es-tá na autossuficiência.

[Conteúdo compartido com a Revista 15/15/15]

“a lei de etiquetagempode acabar com a

venda de excedentes”

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24 cultura Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

cultura Conhecer o que figérom as tuas antepassadas é umha conexomde geraçons e umha forma de poder valorar os passos dados

a história das feministas galegas submerge na memória do país

a saia, HeMeroteca feMinista, eXPoM na rede os PriMeiros nÚMeros de revistas feMinistas

ANA VIQUEIRA / Enquanto desfiao tabaco e enrola um cigarro, Ma-riam Mariño pára na porta doConselho da Cultura ante a chuva.Prende o cigarro e começa a falarsobre o seu trabalho na Comissomde Igualdade que no próximo 24de fevereiro, data em que nasceuRosalia, vai fazer umha década deexistência. Abre o guarda-chuva.A Comissom de Igualdade investi-ga, documenta e pom a disposi-çom do público informaçom rela-cionada com as contribuçons dasmulheres à sociedade incluindo ofeminismo. Uns trabalhos que secomplicam, em boa parte, atravésdo Álbum de mulleres. Cruza apraça do Obradoiro. “Já sacamosmonográficos como as Mulheres eas artes visuais ou as Mulheres e omar, além de fazer umha jornadaanual dedicada a umha mulherconcreta”. Apura, só uns segun-dos, o cigarro na porta dum café,sorri antes de entrar e pede um ca-fé com leite.

Mariam sente-se a gosto com oseu trabalho que descreve como“umha oportunidade feminista”porque “é estar trabalhando paraa gente, achegar conhecimentopara o povo”. Fai umha pausa e ridepois de lhe preguntar sobre asvantagens e riscos de trabalhar narecuperaçom da memória das mu-lheres a partir do ámbito institu-cional. “Ocorrem os problemashabituais ao trabalhar em institui-çons como, por exemplo, que o fe-minismo nom forma parte do pa-norama cultural normalizado, as-sim nom se entende que se fale de

mulheres sem ir além porque o fe-minismo é muito mais do que is-so”. Entre práticas com as quenom se sente cómoda está a lin-guagem sexista ainda que, acres-centa, é umha “labor difícil” fazerchegar a linguagem inclusiva apessoas que nom estám conscien-tizadas politicamente no feminis-mo. “As mudanças som lentas e asgrandes conquistas nom se conse-guem em dous dias”. Mas, paraMariño, trabalhar numha institui-çom também tem a sua cara posi-tiva. “Oferece a oportunidade decontinuar no tempo com o projeto,algo que seria mui difícil fazernum coletivo de base por falta derecursos económicos, humanos eespaciais.” Aliás no caso concretoda recuperaçom da memória e ati-

vidades das mulheres ao longo dahistória, Mariño matiza que “é umtrabalho que deve ser responsabi-lidade pública”.

A Saia, hemeroteca feministaUmha das labores encetadas re-centemente pola da Comissom deIgualdade, em que trabalha Mari-ño, é a hemeroteca feminista ASaia, que pode ser consultada na

rede e procura visibilizar e com-partilhar conhecimento sobre estemovimento. “Os trabalhos come-çam sobre todo, com a localiza-çom de revistas feministas comoA Area, das MNG, A Lúa, da Aso-ciaçom Galega de Mulheres deFerrol, Maria Soinha, da FrenteFeminista de Ferrol, ou Andaina”.Estes trabalhos tenhem a suaeclosom nos anos 80 e recolhemdenúncias sobre a violência se-xual, reclamo dos direitos repro-dutivos, a luita polos direitos daslésbicas ou mesmo a visibilizaçomdas escritoras, poetas e artistasgalegas. “Com a hemeroteca ASaia começamos no ano 2012 coma colaboraçom do Centre Dona iLiteratura de Barcelona e apre-sentamos um primeiro avance no

mês de dezembro”. Nestes casos,o critério de digitalizaçom geralde revistas é que estejam em gale-go e pertençam a organizaçons fe-ministas autónomas.

Neste labor, o mais custoso é adispersom da documentaçom queestava em possessom tanto de or-ganizaçons como de particulares.Aliás, destaca Mariño, nestas re-vistas destaca a multiplicidade de

O feminismo e as mulheres da Galiza vindicam o seu espaço na memóriadas galegas. Neste caminho, estám a aparecer diferentes projetos no eido

institucional. Um deles, a hemeroteca feminista A Saia, leva ao público dife-rentes números de revistas feministas do país.

a documentaçom feminista ajuda a que

o movimento podaser mais forte

o feminismo nom forma parte do

panorama culturalnormalizado

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25culturaNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

artigos que fôrom publicados noanonimato. Como se se tratassedumha moeda “por um lado háum reclamo de visibilizar os no-mes e apelidos que conformam ahistória das mulheres, mas, poroutro lado, os artigos nom eramassinados polas possíveis conse-quências e, sobretodo, porque boaparte entendia que a militáncianom devia ter protagonismos”.

Com a olhada no trabalho queainda há por diante no seu laborna hemeroteca feminista, Mari-ño recalca que continuam a am-pliando a digitalizaçom das re-

vistas. Estám por sair a segundaépoca da revista de Andaina, vá-rios números da Festa da PalabraSilenciada, das Feministas Inde-pendentes Galegas, e outras no-ve cabeceiras. “As que investi-

gam o movimento feminista vol-vem-se loucas com a falta de do-cumentaçom e com este traba-lho, junto nosso projeto de recu-peraçom de documentaçom e ar-quivos do movimento feministagalego, pretendemos que este la-bor seja cada vez mais fácil e quemais pessoas se animem a pes-quisar na nossa história”.

Documentaçom do feminismo,conexom entre geraçonsMariam Mariño levante-se doúnico lugar do café onde a mesavem acompanhada dum sofá e

deixa atrás a chávena de café va-zia. A recuperaçom da docu-mentaçom sobre o ativismo fe-minista contribui a que a “gentenova que se achega ao feminis-mo veja a evoluçom do movi-mento” sobretodo porque“quando somos novas pensamosque descobrimos a lua -realmen-te descobrimos a nossa próprialua- e é importante conhecer oque figérom as tuas antepassa-das, é umha conexom de gera-çons e umha forma de poder va-lorizar os passos dados”.

Na rua o ritual volta a ser omesmo. A chuva continua a caire Mariam volta enrolar um cigar-ro que cuida de apurar enquantovolta ao Conselho. No segundoandar caminha por diante dasmontras onde som expostas asrevistas e os colantes das primei-ras décadas de luita feminista.

Os diferentes movimentos so-ciais galegos levam anos sendodocumentados e estudados emdiferentes campos, bem seja ahistoriografia ou politologia, en-quanto o feminismo ainda está aligar com a sua eclosom dentrodos estudos académicos. “Poderter acesso à documentaçom fe-minista permite dar passos paraque o movimento poida ser maisforte e mais valorizado, é precisoque se veja que os avanços nomfôrom de graça, que por trás de-les está a luita das mulheres fe-ministas”. Os lemas dos colantes,ainda que datem dos anos oiten-ta, continuam a estar de plena

atualidade: “Nom as violaçons”,“Mulher, a luita é nossa”.

Mariam Mariño indica que naatualidade estám a cobrar impor-táncia olhadas queer ou a pós-modernas ficando num segundoplano a luita de marxistas ou so-cialistas com olhadas materialis-tas.“Devemos levar todas à pri-meira linha para podermos co-nhecer, identificar e escolher osnossos roteiros”.

O autoconhecimento, nestesenso, parece crucial. MariamMariño descreve o movimentofeminista galego como “potente”.“É um movimento pequeno den-tro dum país pequeno, em repre-sentaçom creio que houvo mo-mentos em que foi mui potente.Houvo e há muitas mulheres quedeixam as suas energias nestaluita.” Sublinha como nos anos90 o feminismo tivo umha menorvisibilidade com respeito à déca-da anterior, mas, apesar disso,nunca estivo parado. “Semprehouvo feministas organizadas,bem seja em organizaçons autó-nomas como mistas ou no sindi-calismo... de facto existe umhapluralidade que nos permite falarde feminismos”.

Mariam Mariño senta junto asua mesa repleta de apuntamen-tos que lembram citas penden-tes. Ao seu redor enchem o quar-to vários sanandresinhos e umhavinheta de Mafalda, e com ela adocumentaçom feminista aguar-da o seu turno para voltar a estarao serviço do povo.

Mulheres e feministas da Galizavindicam o seu espaço na memó-ria do pais. Um impulso que, nosúltimos anos, começou a entrar ti-midamente no eido institucional.Casualmente, dentro destes pro-jetos há feministas que adotáromumha corrente mais institucionale reformista frente às feministasde classe e independentes. Umhadivisom que historicamente cau-sou rupturas dentro do movimen-to tal e como aconteceu entre fi-nais dos anos 80 e começos dosanos 90 no seio das Feministas In-dependentes Galegas que derivá-rom numha linha anti-institucio-nal (Ana Fernández, PascualaCampos...) e noutra mais “prag-mática” (por palavras de CarmenBlanco em O contradiscurso dasmulleres, historia do feminismo)onde destaca María Xosé Queizánque legaliza as siglas no ano 1989.

No ámbito institucional tam-bém se encontram projetos como'Memoria de mulleres', coordena-do pola Cámara Municipal dePonte Vedra. A iniciativa procuraindagar na memória das mulhe-

res da província abrangendomúltiplas perspectivas, da olhadadas mulheres de pós-guerra quesofrérom a repressom e mais afome - recolhidas no livro deMontse Fajardo, Matriarcas. Mul-leres en pé de vida (2012) - atéumha perspectiva de classe, porexemplo, rememorando o labordas trabalhadoras de AldaresPontesa, umha das fábricas pio-neiras na modernizaçom do tra-tamento da cerámica, entre osanos 1950 e 1980. Neste projetoparticipam seis centros de edu-caçom primária e secundária, demodo que as crianças tambémpoidam pôr luz neste quarto quecomeça a iluminar-se chamadogenealogia das mulheres.

Feminismo e memória no ámbito institucional memória de mulheres

indaga na história das trabalhadoras

de Ponte Vedra

Nas revistas feministasdestacam os múltiples

artigos publicados no anonimato

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26 teMPos livres Novas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

A.V. / Nom é tarefa fácil sacar abailar o jornalismo ao longo demais de 400 páginas. Um laborao qual se enfrenta a jornalistaElvira Fente na sua primeiraobra intitulada “Parir a igualda-de” onde recompila dados sobrea história da luita feminista e omovimento de mulheres na Ga-liza desde 1975 até 2009.

A autora escolhe um campoque apenas está tratado na in-vestigaçom: a história do femi-nismo galego. Pôr esta dançaem prática com apenas três ca-

rinhas de bibliografia resultaumha missom que quase induzao suicídio. Assim as cousas,nom estranha que as pesquisasde Fente se traduzam em múlti-plas referências, mas que tro-pem com a falta de pluralidadenas fontes. Por exemplo, na ho-ra de analisar revistas feminis-tas da Galiza, Fente só se apoiaem Andaina -citando 19 núme-ros- e a Festa da Palabra Silen-cia -citando um número-. Talvezfosse esta falta de documenta-çom a que levou a autora a es-

queceu incluir A Rede Feminis-ta, que nasceu no própio 2009,na epígrafe “Aproximación His-tórica do Movemento Feministade Galicia” onde, por exemplo,sim chegou a nomear associa-çons juvenis como Briga ou osCAF. Tampouco achega um con-texto socioeconómico da Galizanem bota mao de leituras femi-nistas em que enquadrar a luitado feminismo galego.

É curioso como a obra, sen-do vaga em fontes, consegueser exaustiva ao oferecer datas

e feitos. Talvez seja aí onde ra-dica o mais importante destetrabalho de Elvira Fente que,apesar destes déficits, conse-gue dar vitalidade à documen-taçom de parte do feminismogalego. Com umha linguagemligeira, “Parir a liberdade” po-de-se converter num primeiropasso para abordar a investi-gaçom do movimento feminis-ta da Galiza. Afinal, nunca foifácil mover-se ao compasso demelodias que apenas soam naspistas de baile.

teMPos livres

de prato marginal a maravilha nacional

entrelinHas ‘Parir a liberdade. o MoviMento feMinista na Galiza’, elvira fente.

GastronoMia

RAUL RIOS / A gente que nomcostuma viajar a Portugal, quan-do ouve falar de gastronomia lu-sa, o primeiro em que pensa é nobacalhau preparado nas suasmúltiplas receitas. Se bem o pei-xe insígnia dos vizinhos do sulnom pode ser subestimado demaneira nenhumha, seria umerro reduzir a gastronomia por-tuguesa apenas ao bacalhau.Quem cruza o Minho habitual-mente na procura de novos sabo-res é quem poderá falar durantehoras da cozinha portuguesa semnecessidade de mencionar oeclipsante peixe. Mas dentro des-sa infinidade de comidas, receitase sabores que é Portugal; se háum manjar que pode mesmo su-perar o bacalhau como prato na-

cional, esse é a alheira.Como quase todas as cousas

boas de verdade, a alheira surgeda marginalidade. A tradiçom si-tua o seu nascimento na época daInquisiçom portuguesa. A insti-tuiçom, cópia e cola da espanho-la, dedicava-se a perseguir e pu-nir aquelas pessoas cuja fé oucostumes nom entrassem nosmarcos do catolicismo romano.Um dos coletivos mais castigadosfoi o dos judeus ou antigos ju-deus, que se converteram recen-temente ao catolicismo, mas quecontinuavam a praticar os costu-mes do seu anterior credo, taiscomo evitar a carne de porco. Ofacto de nom comerem porco era,precisamente, um dos principaissinais que permitia aos tribunais

eclesiásticos caçarem os hereges. E assim é que nasce a alheira:

um enchido dumha grande varie-dade de carnes –vitela, coelho,frango ou peru- muito similar aochouriço e que permitia a estescoletivos fazerem-se passar porperfeitos cristaos comedores deporco. Igual que os chouriços, asalheiras eram fumadas. E como oseu nome indica, além do fume, oseu conservante principal é o al-

ho. Umha massa de pam dá-lhesconsistência. Um prato tam sabo-roso teria de acabar, por força,popularizando-se também entreos cristaos.

Com o tempo, as alheiras fô-rom saindo da marginalidade ehoje em dia é raro o restauranteportuguês que nom oferece a al-heira na sua ementa. Aquilo quenascera essencialmente comomedida anti-repressiva acaboupor se fazer um oco no estômagode Portugal. No norte, de ondesom originárias, o mais comum égrelhá-las ou assá-las em lumebrando e acompanhá-las com le-gumes e patacas cozidas. No sule nas cozinhas mais urbanas, éhabitual frigi-las e servi-lasacompanhadas com patacas fri-

gidas, ovos estrelados e saladassimples.

A galega ou o galego que qui-ger provar este enchido está naboa, já que as variedades maisafamadas estám a dous passos daGaliza. Som a alheira de Vinhais,a de Barroso-Montalegre e, é cla-ro, a mítica alheira de Mirandela.Nom por acaso, esta última foinomeada como umha das 7 Ma-ravilhas da Gastronomia de Por-tugal. Todo um sucesso se tiver-mos em conta que a escolha de-pendeu da votaçom do grandepúblico e que havia mais de 70pratos pré-finalistas. Porém, sur-preendentemente, nenhumhadas três receitas de bacalhau no-minadas conseguiriam atingir ostatus de maravilha nacional.

um enchido comalheira tinha que

fazer-se o seu oco noestômago de Portugal

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27teMPos livresNovas da GaliZa 15 de janeiro a 15 de fevereiro de 2015

que fazer

15.01.2015 / PROJEÇOM DE AEDUCAÇOM PROIBIDA /20:30 no C.S. A Cova dos Ra-tos (Rua Romil, 3). VIGOCiclo de cinema sobre educa-çom durante o mês de janeiro.

16.01.2015 / ENCONTRO: MO-BILIZAÇOM SOCIAL NA DE-FESA DO PATRIMÓNIO /19:00 na Sala de Exposiçonsda Deputaçom (Rua SamMarcos). LUGOInclui umha palestra do profes-sor de Psicologia Ambiental Ri-cardo García Mira e umha me-sa redonda com representantesdos coletivos Mariña Patrimo-nio, O Iríbio e Plataforma Sa-rriana polo Río. Organiza Ade-ga.

17.01.2015 / CURSO DE FIA-DO E TECIDO DE LÁ DEOVELHA / 10:00 na A.C. Xa-carandaina (Rua HistoriadorVedia, 3). CORUNHAContinua na manhá do 24 dejaneiro. Inscriçom e informa-çom no 981 277 315 ou em [email protected]. Por Ve-laivén Artesanía.

17.01.2015 / CURSO DE PER-CUSSOM DOMÉSTICA / 11:00no C.S. Casa Tomada (Esta-çom de Renfe). CORUNHA

17.01.2015 / ENCONTRO DECRIAÇOM LITERÁRIA COMXOSÉ NEIRA VILAS / 12:00na livraria Couceiro (Praçade Cervantes, 6). COMPOSTELAOrganiza A.C. O Galo.

17.01.2015 / ENTREGA DOSPRÉMIOS ‘OSÍXENO E DIOXI-NA’ / 14:30 no restaurante ANave de Vidán (Avenida daMestra Victoria Míguez, 44).COMPOSTELADepois da Assembleia Geral deAdega e do jantar posterior.

17.01.2015 / CEIA CONCERTO/ 22:00 no C.S. O Fresco (Bai-rro da Ponte, s/n). PONTE AREIASAtuam, a partir das 00:00, osgrupos grindcore Görrinerh,Strangled With Guts e Tzjjja.

17.01.2015 / CONCERTO DEASPERGILLUS DE COIRA /22:30 na Associaçom Xebra(Rua Leandro Cucumy, 19).BURELA

20.01.2015 / MERCADO EN-TRE LUSCO E FUSCO / 17:00no parque de Belvis. COMPOSTELAFeira de produtos locais, bioló-gicos e de comércio justo. To-das as terças-feiras.

21.01.2015 / PROJEÇOM DE OCRIME DO BAILARETE, AIMITACIÓN DO ANXO E O XO-GUETE CRIMINAL, DE ADOL-FO ARRIETA / 21:30 no C.S.

O Pichel (Rua Santa Clara,21). COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. VO e VOSG.

22.01.2015 / PROJEÇOM DE ASOGA / 20:30 no C.S. A Covados Ratos (Rua Romil, 3). VIGOCiclo de cinema sobre educa-çom durante o mês de janeiro.

23.01.2015 / REPRESENTA-ÇOM DE ‘O PACK CÓSMICO’/ 20:30 no C.S. Casa Tomada(Estaçom de Renfe). CORUNHA

23.01.2015 / ‘MERENDOLA’COM ASPERGILLUS DE COI-RA E FLYING BOOGALOOS /21:00 na Travessa Arias de

Arvieto. SÁRRIAA Associaçom 'Rúa da música'organiza merendas com atua-çons musicais todas as sextas-feiras de janeiro.

23.01.2015 / CONCERTO DEFIANDOLA / 22:30 no C.S. OPichel (Rua Santa Clara, 21).COMPOSTELA

24.01.2015 / ATUAÇOM DE PI-PO OURO / 22:00 no C.S. Ca-sa Tomada (Estaçom de Ren-fe). CORUNHA

25.01.2015 / MÚSICAS PARAA SEMENTE / 18:00 no Audi-tório (Paço da Cultura - RuaHolanda, s/n). NAROMFestival em apoio ao projetoSemente Trasancos. Atuam Xa-

bier Díaz e Vai rañala meu. Obilhete custa 10 euros.

28.01.2015 / ORTHODOX EDEAD NEANDERTHALS /20:15 no Liceo Mutante (RuaRosalia de Castro, 100). PONTE VEDRA

28.01.2015 / PROJEÇOM DEPROJEÇOM DE PROFUMO DIDONNA / 20:30 no C.S. A Co-va dos Ratos (Rua Romil, 3).VIGOCiclo de cinema sobre educa-çom durante o mês de janeiro.

28.01.2015 / PROJEÇOM DECIDADE MORTA, DE XAVIERARTIGAS / 21:30 no C.S. OPichel (Rua Santa Clara, 21). COMPOSTELA

Organiza o Cineclube de Com-postela. VO. Com a presençado diretor do filme.

30.01.2015 / ‘SEMPRE EN IBI-ZA’, POR ALDAOLADO / 20:00no C.S. Casa Tomada (Esta-çom de Renfe). CORUNHA

30.01.2015 / ‘MERENDOLA’COM ESQUIZOFRENIA E OSDESVIAOS / 21:00 na Traves-sa Arias de Arvieto. SÁRRIAA Associaçom 'Rúa da música'organiza merendas com atua-çons musicais todas as sextas-feiras de janeiro.

31.01.2015 / CURSO ‘VIVA AMEMÓRIA VIVA DAS MULHE-RES’ / 11:00 na sede do Ce-esg (Rua Lisboa, 20). COMPOSTELAOrganiza Fiadeiras, o Grupo deTraballo em Igualdade do Ce-esg (Colégio de EducadorasSociais). Coordina Tareixa Le-do. Informaçom e inscriçom no639 203 669.

31.01.2015 / HISTÉRIA TEA-TRO REPRESSENTA ‘BER-LÍN’ / 20:30 no C.S. Bou Eva(Rua Terzo de Fóra, 11). VIGOVersom do disco de Lou Reedtraduzido por Leo F. Campos eteatralizado.

31.01.2015 / CONCERTO DEAPENINO E A VECES CI-CLÓN / 20:30 no C.S. CasaTomada (Estaçom de Renfe).CORUNHA

04.02.2015 / APRESENTA-ÇOM DE ‘ESPECTROS’, DEROSA ENRÍQUEZ / 20:00 nalivraria Lila de Lilith (Rua Tra-vessa, 7). COMPOSTELACom a presença da autora edas poetas María do Cebreiro eIsmael Ramos.

06 a 08.02.2015 / LABORATÓ-RIO AUDIOVISUAL DE VE-DRA LAV015 / 20:00 no CPIde Vedra (Avda. Mestre Ma-nuel Gómez, s/n). VEDRAOrganiza a Asociación Senun-peso. Inclui mostras audiovi-suais e cursos de diferentesdisciplinas. O programa com-pleto está em http://www.se-nunpeso.org/.

07.02.2015 / CONCERTO POÉ-TICO DE DAVID PÉREZ + MI-CRO ABERTO / 22:00 no C.S.A Cova dos Ratos (Rua Ro-mil, 3). VIGO

13.02.2015 / CONCERTO ‘MO-RO’ / 22:00 no C.S. A Covados Ratos (Rua Romil, 3). VIGO

organizam acampamento de montanha e rotabtt no fim de semana do 25 de janeiroa agrupaçom de montanha Águaslimpas (amal) sai na procura daneve a finais de janeiro. organi-zam um acampamento de mon-tanha na serra do eixo nos dias23, 24 e 25 de janeiro.amal anuncia que ainda estápendente confirmar os caminhos,pois vai depender das condiçonsclimáticas e do grupo, mas confir-

ma que a noite será no alberguede Fonte da Cova. o preço é de 6euros por noite. Pode-se solicitarmais informaçom no endereço decorreio [email protected] outro lado, o Clube Ciclista ‘osdo monte bravo’, de teio, organizaa iii ediçom da ‘rota bbt os domonte bravo’. esta “ruta socialnom competitiva e nom federada”

vai percorrer 42 quilómetros decaminhos de monte na manhá dodomingo, dia 25 de janeiro. a rotatem umha dificuldade técnica e fí-sica média e a inscriçom na mes-ma custa 10 euros. ao finalizar se-rám realizados vários sorteios eum jantar de confraternidade.há mais informaçom no sitehttp://www.rutabrava.com/.

Voluntariado ambientala organizaçom amigos da terraorganiza, em fevereiro, duas con-vocatórias para fazer voluntaria-do ambiental no Parque Nacio-nal das ilhas atlánticas. as jor-nadas duram um fim de semanae estám centradas no estudo dodesenvolvimento fenológico das

principais espécies de flora arbó-rea e arbustiva.a primeira jornada será nos dias7 e 8 de fevereiro nas ilhas Cies,e a segunda, nos dias 14 e 15na ilha de ons.há mais informaçom no sitehttp://amigosdaterra.net.

o ateneu Ferrolano anunciaque, desde o 19 de janeiro, in-augura umha escola de teatrocom três categorias: de 5 a 11anos (27 euros ao mês), de 12a 17 (37 euros), e pessoasadultas (47 euros). a escola vaiestar centrada no teatro de ob-jeto e Visual e o professor seráPlamen dipchikov (doutor emciência e arte teatral). mais in-formaçom e inscriçom em [email protected] eno telefone 981 357 970.

escola deteatro emFerrol

ateneu

teio e serra do eiXo

nas ilHas atlÁnticas

ENVIA CONVOCATÓRIAS aocorreio [email protected] do dia 12 de cada mês.

Anuncia os teus atosno NOVAS DA GALIZA.

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Novas da Gali a apartado 39 (15701) ComPostela tel. 692 060 607 [email protected]

Foi há dous meses. eunom queria estar ali.Ninguém queria estar.

mas fomos obrigados e obriga-das. Por princípios, por trabal-ho ou por ambas as cousas.tinha, por desgraça, que rela-tar o despejo de isabel e Álvaroda sua casa em elvinha.

Cheguei ao lugar, melhor di-to, cheguei a dous quilómetrosda vivenda e já todo estava to-mado polos uniformados. Pri-meiro erro: tento cruzar o cer-co refugiando-me na minhacondiçom de jornalista. a min-ha açom foi-me negada. Porque digo que cometim um erroao dizer que era jornalista?Porque fui ali como tal, atueicomo isso, mas nunca me sen-tim bem nesse rol naquela lon-ga manhá de combate e de-cência. disso queria falar. dode ser jornalista. Às vezes, re-sulta incómodo.

já sei que pode ser umhahonra escrever com liberdadesobre o que ocorre e participarem primeiro -ou segundo- pla-no do que chamam atualida-de. mas, às vezes, o corpo pe-de outra cousa. em elvinha,durante o despejo desa dignacasa, eu vivia em constanteconflito comigo mesmo. Por-que tinha que observar, apon-tar, chiar e memorizar cousaspara a crónica. um trabalho,independentemente da quali-dade do resultado, maravilho-so. Porém naquele momentonom me enchia.

Porque a injustiça era talque eu o que desejava era as-saltar terrenos blindados; en-cadear-me; insultar toda aque-la merda que consumava abarbárie; procurar umha de-tenção honrada; berrar emapoio aos três heróis do telha-do; tentar cortar a estrada; or-ganizar um lançamento de pe-dras com objetivo ético; pro-clamar a guerra total entre nós-os bons- e eles -os maus-. es-tááááá beeeeem, sou um mal-dito testosterónico com sonhosde intifada. um exageradocom mais boca que atos que omelhor que puido achegar foia sua crónica. já, assumo queo meu trabalho -ao contráriodo que acontece com o dos po-lícias de choque- pode resultarbastante digno.

Porém, há dias, como es-se, em que nom apetece serjornalista.

rodri suárez

jornalista de Merda

No caminhar, crescendo e evo-lucionando, nom só como femi-nista senom também como pes-soa, houvo um passo que foi odecidir ser mãe. Como te afetouesta eleiçom como pessoa e ati-vista feminista?Ao longo dos anos fum desenvol-vendo umha consciência feminis-ta acompanhada de formaçom(leituras, ateliês...) e autodetermi-naçom pessoal. Neste ámbito, amaternidade nunca foi um objeti-vo para mim nem um projeto vi-tal. Por exemplo, tinha claro quenom queria ser mae solteira. As-sim que a raiz da relaçom commeu companheiro fomos decidin-do dar esse passo. E assim chegoua gravidez. Ser mae e feminista éduro, criar a umha criança femi-nista é mui duro. Tés que mudarde ferramentas, repensar, refle-xionar, pelejar todos os dias...nom é nada fácil.

Para isso, umha das açons quefigem foi buscar amparo socialem grupos de famílias, vias de co-municaçom e relaxaçom. É im-

portante nom perder a individua-lidade. As crianças nos primeirosanos som dependentes. Muitasvezes nom funciona nem o quetés na cabeça nem o que preten-des ter. Todos os dias redescubromundos e redescubro-me a mimmesma. Isso sim, tenho claro quenom quero perder a minha indivi-dualidade. Eu som eu e minha fil-ha é minha filha, nom vou viveratravés dela nem fazer dela umhapertença minha.

Que dá o feminismo a umha mae?É um reforço. Ser feminista dá mui-tas chaves para nom perder o nor-te. Ser feminista e ser mae é duro,mas também subversivo, criar um-ha nena forte, independente... éumha forma de fazer ativismo. Tésque estar continuamente a nego-ciar estereótipos, insistir em ideiasde forma relaxada para que dei-xem um fundo na criança.

Muitas vezes a possibilidade deter crianças é baralhada em ter-mos económicos, mas escas-

seiam as reflexons sobre se sa-bemos como queremos criarumha filha e se estamos prepa-radas para fazê-lo.Mas nom só isso, ter crianças temque ser voluntário e desejado. É pre-ciso querer construir uns modelosde criança, pautas, ferramentas...

Mais nom é fácil encontrar ferra-mentas para determinados mo-delos de educaçom como é oigualitário. Certo, isso obriga a umha luitacontínua contra os estereótipos.

É por isso que decidiste pôr em fun-cionamento umha loja de criança?Sim, quando abrimos a loja emSam Pedro -Compostela-, em ou-tubro do ano passado, nom existianenhum espaço como este. Havianecessidades para quem tinhacrianças, e para as crianças mes-mas, que só era possível encontrarem redes como pode ser o porteio,artesania local relacionada com osbebés etc. Assim que decidim abrira Balea Violeta. Além disso, trabal-

hamos a recuperaçom de mate-riais sustentáveis como as gazas,panos de teia..

Falas de espaço, nom de loja. Para mim é mais do que um ne-gócio! É um ser mais (sorri).Aqui temos ateliês para maes,um espaço para que as criançasbrinquem enquanto estám aqui,tenhem brinquedos à sua alturae podem tocá-los... Aliás, nesteespaço temos dous piares funda-mentais que som o idioma e aigualdade. Queremos que osnossos produtos estejam na nos-sa língua e trabalhados com omaior número de produtos pró-prios, e rejeitamos os estereóti-pos e as críticas aos modelos defamílias. Aqui nom existe nadapara nenos e nenas, aqui há cou-sas que podem usar nenas e quepodem usar nenos. Somos umespaço que pensa nas crianças eem quem as cria, um espaço debairro, um espaço que procura,na medida em que for possível,desenvolver valores.

Montse vilar, ativista feMinista resPonsÁvel Pola balea violeta

“ser feminista e ser mae é duro, mastambém tem um carácter subversivo”ANA VIQUEIRA / Tinha 13 anos quando recebeu um presente dasua tia. Montse Vilar desembrulhou o pacote em que havia umlivro de Simone de Beavoir. Através dele começou a repensar

a realidade e a questionar milhares de conceitos. “Foi nessemomento quando se produziu essa chispa. O detonante daminha consciência feminista que recém começava”.