58
OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA FAMÍLIA NA ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA DO MUNICÍPIO DE PÉ DE SERRA/BA. SALVADOR 2005

OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA

IMPACTOS DO BOLSA FAMÍLIA NA ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA DO MUNICÍPIO DE PÉ DE SERRA/BA.

SALVADOR

2005

Page 2: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA

IMPACTOS DO BOLSA FAMÍLIA NA ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA DO MUNICÍPIO DE PÉ DE SERRA/BA.

Versão Final da Monografia apresentada no curso de graduação de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas

Orientador: Prof. Mestre Antônio Plínio P. de Moura

SALVADOR 2005

Page 3: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa família na economia de subsistência do município de Pé de Serra/Ba / Ozório Carneiro de Oliveira. - Salvador: O. C. Oliveira, 2005. 58 p. ilust. Monografia (Graduação em Economia) – Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA, 2005. Orientador: Prof. Antônio Plínio Pires de Moura 1. Pobreza. 2. Desigualdade. 3. Renda Mínima CDD – 301.441

Page 4: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

Ozório Carneiro de Oliveira Impactos do Bolsa Família na economia de subsistência do município de Pé se Serra/Ba. Aprovada em dezembro de 2005. Orientador: __________________________________ Prof. Antônio Plínio Pires de Moura Faculdade de Economia da UFBA _____________________________________________ Prof. Osmar Gonçalves Sepúlveda Faculdade de Economia da UFBA _____________________________________________ Prof. Ihering Guedes Alcoforado de Carvalho Faculdade de Economia da UFBA

Page 5: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

Este trabalho é dedicado:

A minha irmã Maria Goretti - in memoriam,a minha esposa Elisônia, a meus pais, irmãos e

amigos. Aos professores, funcionários e colegas da Ufba.

Page 6: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

Desejo expressar a minha mais profunda gratidão ao Mestre Antônio Plínio Pires de Moura

pela inestimável dedicação, incentivo e inesgotável paciência no trabalho de orientação.

Page 7: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

RESUMO

Aborda-se neste trabalho as repercussões das transferências monetárias, que constituem a

pedra angular das políticas de combate à pobreza, na economia de subsistência do município

de Pé de Serra/Ba. A análise aqui apresentada enfatiza a necessidade de por fim à pobreza e

anular seus efeitos indesejados para a sociedade e a economia, condição necessária para a

elevação dos padrões de vida das futuras gerações do país. O trabalho é composto de seis

seções, sendo a primeira a Introdução expondo a metodologia e a justificativa para a

realização da pesquisa. A segunda seção aborda as principais questões associadas à pobreza,

visando contextualizar os seus desdobramentos na economia nacional. A terceira seção

apresenta um painel das políticas de transferência de renda, com as principais características

das mesmas e uma breve descrição de sua evolução histórica. Na quarta seção, o perfil

socioeconômico do município escolhido para a pesquisa é apresentado com ênfase no seu

caráter de subsistência e dependência das diversas transferências governamentais. Na quinta

seção são apresentados os impactos do programa Bolsa Família no município através de uma

análise combinada de dados secundários e primários coletados sobre a economia local. Por

fim, na sexta e última seção, estarão expostas as conclusões, descobertas e limitações

apresentadas no trabalho monográfico.

Palavras-chave: pobreza, desigualdade, indigência e renda mínima.

Page 8: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela 01 - Evolução da apropriação da renda no Brasil de 1977 a 1999 16Gráfico 01 - Percentagem da renda apropriada pelas pessoas 17Tabela 02 - Distribuição de pobres por região e área 20Tabela 03 - Indicadores sociais p/países selecionados da categoria de renda média inferior 21Tabela 04 - Evolução da pobreza no Brasil 1990 a 2002 22Gráfico 02 - Evolução da pobreza e indigência no Brasil 1990 a 2002 23Quadro 01 - Programas de transferência de renda do governo FHC 27Quadro 02 - Programas de transferência de renda do governo Lula 28Tabela 05 - População por situação de domicílio, Pé de Serra 1991 a 2000 32Tabela 06 - Estrutura etária da população de Pé de Serra, 1991 a 2000 33Tabela 07 - Variação relativa da população de Pé de Serra 2000/1991 33Tabela 08 - Longevidade, mortalidade e fecundidade em Pé de Serra, 1991 a 2000 34Tabela 09 - Nível educacional da população adulta de Pé de Serra, 1991 a 2000 34Tabela 10 - Indicadores de renda, pobreza e desigualdade em Pé de Serra 35Tabela 11 - Porcentagem da renda apropriada pela população de Pé de Serra 35Gráfico 03 - Evolução da renda apropriada por extratos da população de 1991 2000 36Tabela 12 - Composição da receita orçamentária da PMPS 37Tabela 13 - PIB total e por setores de Pé de Serra em R$ (preços correntes 2002) 37Tabela 14 - Transferências do Bolsa Família para Pé de Serra de 2004 a 2005 41Tabela 15 - Comparação entre renda per capita e benefícios do BF 41Tabela 16 - População beneficiada com o Bolsa Família em Pé de Serra 42Gráfico 04 - Pessoas residentes por domicílio 43Tabela 17 - Estimativa dos beneficiários do BF em Pé de Serra 44Gráfico 05 - Proporção de famílias que recebem renda de residentes fora da cidade 45 Gráfico 06 - Principal responsável pelo sustento da família 45 Gráfico 07 - Principal fonte de renda familiar 46 Gráfico 08 - Proporção de famílias com renda familiar segundo faixas selecionadas 46 Gráfico 09 - Destinação da renda recebida do Bolsa Família 47 Gráfico 10 - Modalidade de pagamento de compras 48 Gráfico 11 - Importância do BF para o desempenho do negócio 49 Gráfico 12 - Percentual de clientes beneficiários do BF 50 Gráfico 13 - Impacto do BF no desempenho do negócio 51 Tabela 18 - Impactos do BF nos indicadores selecionados de desempenho 51 Tabela 19 - Produtos mais vendidos aos beneficiários do BF 52

Page 9: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9 2 A POBREZA NO BRASIL 112.2 CONCEITOS E INDICADORES DE POBREZA 112.2 ELEMENTOS INFLUENCIADORES DA POBREZA 142.2.1 Desigualdade e concentração de renda 142.2.2 Crescimento econômico 172.2.3 Ciclo vicioso da pobreza 182.2.4 Inovações tecnológicas e educação 192.2.5 Políticas de combate à pobreza 192.3 ELEMENTOS QUANTITATIVOS DA POBREZA 20 3 POLÍTICAS DE COMBATE À POBREZA NO BRASIL 243.1 OS PRIMEIROS PASSOS DA RENDA MÍNIMA NO BRASIL 243.1.1 Loas 243.1.2 Projeto Suplicy 253.2 PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA DO GOVERNO FEDERAL 263.2.1 Governo FHC 263.2.2 Governo Lula 273.3 OUTRAS POLÍTICAS DE COMBATE À POBREZA 283.4 O PAPEL DAS INOVAÇÕES NO COMBATE À POBREZA 283.5 ASPECTOS POLÍTICOS E INSTITUCIONAIS DAS POLÍTICAS DE COMBATE À POBREZA 30 4 PERFIL DE PÉ DE SERRA/BA. 32 4.1 TERRITÓRIO E DEMOGRAFIA DO MUNICÍPIO 32 4.1.1 Território 32 4.1.2 Demografia 32 4.1.3 Educação 34 4.2 ECONOMIA E RENDA DO MUNICÍPIO 35 5 REPERCUSSÕES DO COMBATE À POBREZA NO MUNICIPIO DE PÉ DE SERRA: IMPACTOS DO BOLSA FAMÍLIA 39 5.1 TRANSFERÊNCIAS AO MUNICÍPIO DE PÉ DE SERRA 39 5.2 PESQUISA DE CAMPO 42 5.2.1 Análise dos impactos sobre a demanda 43 5.2.2 Análise dos impactos sobre a oferta 48 6 CONCLUSÕES 53 REFERÊNCIAS 55 ANEXOS 57

Page 10: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

9

1 INTRODUÇÃO

Sob a justificativa de combater a pobreza e a desigualdade o Governo Federal vem

implantando diversos programas de transferência de renda a famílias e indivíduos em

situação de carência e vulnerabilidade. A evolução dos programas resultou na implantação

do Bolsa Família cujos objetivos principais, além de combater a pobreza, são:

universalização do acesso aos benefícios e racionalização dos gastos com os programas

sociais.

Nosso objetivo é analisar os impactos do Bolsa Família sobre a economia de subsistência do

Município de Pé de Serra/Ba. Analisaremos basicamente as repercussões das transferências

de rendas sob as condições iniciais de demanda e oferta desta economia.

O método de análise combina uma avaliação de aspectos conceituais e quantitativos de

questões como: pobreza, desigualdade, renda mínima, etc., seguindo-se da apresentação e

análise de dados estatísticos primários e secundários referentes à economia do município

escolhido para realização do estudo.

O referencial teórico para esta pesquisa foi encontrado a partir da leitura do artigo de

Cristovam Buarque A Segunda Abolição: a erradicação da pobreza no Brasil cuja

referência encontra-se na parte final desta monografia. Vale ressaltar que a escolha do tema

para este trabalho reflete o entendimento do autor de que a Economia é antes de tudo uma

ciência social, devendo estar em consonância com a realidade no intuito de apreendê-la e

modificá-la. Sendo assim, nada mais propício que uma pesquisa realizada no âmbito de uma

instituição pública de ensino para exercitar tal aspiração.

Esperamos contribuir positivamente para o debate do combate à pobreza e das desigualdades

regionais de nosso país. Entre tantas questões postas à superação pela nossa sociedade está a

relativa à pobreza em elevado grau de prioridade.

Salientamos que a questão da pobreza no Brasil apresenta implicações sociais e econômicas

de grande significância. Sob qualquer abordagem dos indicadores de pobreza, a população

estimada sob tal condição é muito expressiva. Do ponto de vista social e econômico o ônus

da pobreza é compartilhado direta e indiretamente por toda a sociedade. Um exemplo típico

Page 11: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

10

deste ônus é a elevação da marginalidade e criminalidade, provocando a elevação dos gastos

públicos e privados com segurança. Ainda poderíamos mencionar outros aspectos:

educação, saúde, meio ambiente, etc.

O trabalho é composto de seis seções, sendo a primeira esta Introdução. O segundo capítulo

propõe-se a discutir as principais questões associadas à pobreza. Julgamos oportuna esta

discussão para melhor contextualizar a pobreza e seus desdobramentos na economia

nacional. Apresentamos os principais conceitos e indicadores relativos a pobreza analisando

alguns fatores que exercem influência sobre o quadro geral de pobreza e indigência no país.

O terceiro capítulo é dedicado às políticas de combate à pobreza implantadas no país pelos

dois últimos governos da União. Trata-se de um painel com os principais programas de

transferência de renda expondo as características principais das mesmas com uma breve

descrição de sua evolução histórica.

No quarto capítulo apresentamos o perfil do município escolhido para a pesquisa,

caracterizando sua estrutura econômica e social. Especial ênfase é dada ao caráter de

subsistência e dependência das diversas transferências governamentais para a economia do

municipio. Evidencia-se que esta dependência decorre do fato da inexistência de atividades

econômicas capazes de gerar renda e por extensão receitas tributárias.

No quinto e mais importante capítulo apresentamos os impactos das transferências de renda

sobre a economia local. Estabelecemos comparações entre as receitas municipais e as

transferências do Bolsa Família ao município bem como o total de famílias atendidas. Em

seguida apresentamos os dados primários obtidos na pesquisa de campo realizada no local.

A maior ênfase da pesquisa é na identificação dos impactos que o Bolsa Família proporciona

na estrutura de oferta e demanda de bens e serviços sobre a economia local.

Finalizando o trabalho, expomos conclusões, descobertas e limitações apresentadas no

trabalho monográfico.

Page 12: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

11

2 A POBREZA NO BRASIL

A pobreza e a desigualdade de renda são as justificativas para a implantação das políticas de

transferência de renda existentes no país. Para compreendermos as dimensões desta questão

no Brasil e no mundo abordaremos neste capítulo os aspectos mais importantes relacionados

à pobreza. Cabe ressaltar que esta abordagem não pretende esgotar a questão, visto não ser

este o objetivo da pesquisa. Porém esta abordagem justifica-se pela necessidade de uma

compreensão mais ampla da questão que serve como pano de fundo para as políticas de

transferência de renda analisadas neste trabalho.

2.1 CONCEITOS E INDICADORES DE POBREZA

Na literatura econômica podem ser encontradas diversas abordagens desenvolvidas no

intuito de qualificar e quantificar a pobreza. Estas abordagens, em geral, associam a pobreza

à privação de renda ou de necessidades básicas necessárias para a sobrevivência e

reprodução do ser humano.

Uma definição sucinta da questão é apresentada por Sandroni quando afirma que a pobreza

corresponde ao “estado de carência em que vivem indivíduos ou grupos populacionais,

impossibilitados, por insuficiência de rendas ou inexistência de bens de consumo, de

satisfazer suas necessidades básicas de alimentação, moradia, vestuário, saúde e educação”

(SANDRONI, 1994 p. 274).

Partindo deste tipo de definição podemos concluir que as causas da pobreza estão

relacionadas a dois fatores principais: incapacidade produtiva e/ou ineficiência na repartição

da renda gerada pela economia. Esta última pode ser apontada como a principal causa da

pobreza no Brasil em função do país apresentar desempenho expressivo na produção de bens

e serviços, ostentando uma das maiores renda per capita do mundo.

Voltando à discussão relativa aos conceitos de pobreza, a preocupação crescente em torno da

questão provocou o surgimento de diversas abordagens no intuito de definí-la e quantificá-la

de forma mais adequada. Assim, encontramos diversos indicadores para dimensionar a

pobreza, e justamente em decorrência desta diversidade de indicadores surgem grandes

Page 13: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

12

divergências a respeito da população pobre estimada para o Brasil.

Apesar da diversidade de indicadores e medidas para abordagem da pobreza, podemos

enquadrá-las de acordo com suas principais dimensões, ou seja, aquelas cujas medidas

assumem expressões monetárias e as não monetárias.

As medidas de pobreza podem ser divididas em medidas monetárias e não-

monetárias. A abordagem monetária inclui as chamadas Linha de Indigência e

Linha de Pobreza. A primeira caracteriza-se pelo valor monetário necessário para

a aquisição de uma cesta de alimentos que detenha a quantidade calórica mínima

à sobrevivência. A Linha de Pobreza é o valor da Linha de Indigência acrescido

do montante monetário capaz de arcar com despesas básicas de transporte,

vestuário e moradia. Estas são medidas absolutas de pobreza que permitem a

identificação do contingente de pobres de um país. (LOPES; MACEDO;

MACHADO, 2003 p. 7).

As medidas amparadas na concepção monetária permitem um melhor grau de quantificação,

e por isso mesmo, comparações intertemporais e inter espaciais. Por exemplo, se utilizarmos

o valor de US$ 1,00 por dia para a Linha de Indigência e US$ 2,00 para a Linha de Pobreza

é possível fazer comparações entre paises sobre suas respectivas populações nestas faixas de

renda. Este método da renda per capita de um dólar por dia é utilizado pelo Banco Mundial

“que calcula a proporção de pobres ou de extremamente pobres no mundo por esse

parâmetro, como forma de unificar a capacidade de compra em nível mundial através de

uma mesma moeda.” (DEL GROSSI; SILVA; TAKAGI, 2001 p.3).

Outros indicadores monetários para definição de pobreza e indigência normalmente

baseiam-se numa proporção do salário-mínimo. Neste caso a Linha de Indigência é definida

para a renda familiar per capita de ¼ do salário mínimo e a Linha de Pobreza para renda

familiar per capita de ½ salário mínimo. A justificativa para a utilização deste indicador é a

suposição de que o salário-mínimo deveria suprir as principais necessidades de uma família

típica, composta por um casal e dois filhos.

Um terceiro critério expresso monetariamente para as linhas de pobreza e indigência são os

que se baseiam na dieta calórica mínima estipulada pela ONU (2.100 calorias diárias).

Segundo esta abordagem, o individuo que possuir apenas a renda para satisfazer esta

necessidade, estará na Linha de Indigência, enquanto o que possui renda para satisfação

Page 14: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

13

desta e de outras necessidades básicas como moradia, transporte e vestuário estaria na Linha

de Pobreza.

Importante destacar que dentro destas abordagens da pobreza como insuficiência de renda

(privação de renda), o nível de renda considerado mínimo é arbitrariamente estipulado, de

acordo com a metodologia e por que não dizer, com a ideologia dos responsáveis pela

análise da questão.

No caso das abordagens baseadas nas dimensões não monetárias, busca-se definir

necessidades básicas mínimas para a condição de dignidade e bem-estar dos indivíduos.

Adotar esta modalidade de abordagem implica considerar a pobreza como uma privação de

necessidades, considerando-se pobre aquele que não tem acesso ao atendimento de certas

necessidades básicas. “as necessidades básicas não satisfeitas incluem água e esgotos, o

habitat, o nível de educação das crianças, a assistência escolar aos menores, o tempo

disponível e o mobiliário do lar”. (SALAMA, 1997, p. 44) Este autor denomina esta

abordagem de NBNS (Necessidades Básicas Não Satisfeitas) ou NBI (Necessidades Básicas

Insatisfeitas).

Vale ressaltar que este tipo de abordagem não tem a mesma operacionalidade analítica da

medida de US$ 2,00, por exemplo, e o que é pior, depende de sistemas estatísticos

sofisticados a fim de gerar dados com a complexidade e amplitude necessárias para

elaboração dos respectivos indicadores.

Para suprir a necessidade de um indicador mais complexo e de fácil comparabilidade

intertemporal e interespacial foi concebido o IDH1. Este é um indicador importante para

analisar a questão da pobreza. É largamente difundido no Brasil e utilizado pelos

formuladores das políticas de transferência de renda como principal critério de elegibilidade

dos municípios para os quais os gastos do Governo Federal serão direcionados.

O IDH é um indicador idealizado para contrapor ou substituir o PIB nas análises sobre

desenvolvimento partindo do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não

se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais,

culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana. Criado por Mahbub ul

1 Índice de Desenvolvimento Humano.

Page 15: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

14

Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de

Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento

humano. É calculado pela combinação de 3 outros indicadores:

• Longevidade, medida pela esperança de vida ao nascer.

• Educação; medida por uma combinação da taxa de alfabetização de adultos e a taxa

combinada de matricula nos níveis de ensino: fundamental, médio e superior

• Renda; medida pelo poder de compra da população, baseado no PIB per capita

ajustado ao custo de vida local para torná-lo comparável entre países e regiões,

através da metodologia conhecida como paridade do poder de compra (PPC)

Qualquer que seja a metodologia para quantificar e qualificar a pobreza os resultados

obtidos apresentam proporções alarmantes em todas as suas dimensões: locais, regionais,

nacionais e mundiais. Neste estudo, trabalharemos com o conceito de pobreza que se baseia

na insuficiência de renda. Tal escolha deve-se ao fato de que as políticas sociais analisadas

são operacionalizadas via transferências monetárias aos indivíduos, a fim de dotá-los de

certa capacidade financeira para fazer frente às suas necessidades de consumo.

2.2 ELEMENTOS INFLUENCIADORES DA POBREZA

Diversos fatores influenciam no quadro geral da pobreza. Tais fatores por vezes influenciam

também na forma como a pobreza é definida, medida, explicada e até mesmo combatida.

Entre os principais fatores podemos destacar a desigualdade e a concentração da renda, o

crescimento econômico, o ciclo da pobreza, as inovações tecnológicas, bem como políticas 2 Teoria do Capital Humano - procura explicar que a variação da PMgT depende do nível de educação, treinamento e idade do trabalhador. 3 Lei Orgânica de Assistência Social 4 FUNRURAL – beneficio não contributivo, concedido a titulo de aposentadoria aos trabalhadores rurais na forma de um salário mínimo. Foi criado pela Lei 4.214 de 1963. 5 Pobreza medida pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50, equivalente à metade do salário mínimo vigente em agosto de 2000. 6 Medida da concentração de renda que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1 for o coeficiente maior será a concentração da renda. 7 PMPS: Prefeitura Municipal de Pé de Serra. 8 Renda per capita baseada no PIB de R$ 20.543.858,94 dividida pela população de 13.531 habitantes é de R$ 1.518,28 e não de R$ 67,66. 9 A elasticidade renda da demanda mede a variação na demanda causada pela variação da renda enquanto outras variáveis são mantidas constantes. Nos casos de indivíduos de baixa renda esta elasticidade comumente aproxima-se de 1 para todos os tipos de bens. 10 Família composta por dois adultos e duas crianças. 11 Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Page 16: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

15

públicas de combate à pobreza. Dada a importância de tais fatores para o entendimento da

questão da pobreza, discutiremos alguns de seus aspectos mais importantes.

2.2.1 Desigualdade e concentração da renda

Podemos afirmar que a escassez de recursos não é a principal causa da pobreza no país e sim

a má distribuição da renda gerada na economia. O expressivo contingente de pessoas

vivendo no país sob condições de pobreza não sugere que o Brasil possa ser considerado um

país pobre, pois, ao contrário da maioria dos paises com elevado número de pobres, o Brasil

dispõe de uma ampla gama de recursos naturais e fatores de produção, figurando entre as 15

principais economias do mundo ao longo dos últimos 40 anos. A desigualdade de renda, de

fato, é apontada por alguns autores como a causa principal da pobreza no Brasil. Barros et e

al, analisando a estrutura da renda na economia brasileira apresentam a seguinte conclusão a

respeito da pobreza.

Em primeiro lugar o Brasil não é um país pobre, mas um país com muitos pobres.

Em segundo lugar, os elevados níveis de pobreza que afligem a sociedade

encontram seu principal determinante na estrutura da desigualdade brasileira, uma

perversa desigualdade na distribuição da renda e das oportunidades de inclusão

econômica e social. (BARROS; HENRIQUE; MENDONÇA, 2001 p. 1)

Estas conclusões estão amparadas no fato de o Brasil apresentar uma renda per capita seis

vezes maior que o necessário para a satisfação das necessidades nutricionais de uma pessoa

[Linha de Indigência] e três vezes maior que o necessário para a satisfação de todas as suas

necessidades básicas [Linha de Pobreza]. (BARROS, CARVALHO, 2003 p. 1)

Com base nestes dados, bastaria que a renda efetiva de cada habitante fosse ligeiramente

superior a um sexto da renda per capita para que se acabasse com a indigência no país. Já

para acabar com a pobreza bastaria que a renda efetiva fosse um pouco maior que um terço

da renda per capita. Tal raciocínio revela que a desconcentração da renda nas proporções

acima descritas seria o mecanismo ideal para erradicação da pobreza e indigência no país.

Mas não é o que vem acontecendo.

Apesar de alguns avanços nas políticas de combate à pobreza, a desigualdade mantem-se

Page 17: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

16

estável. Segundo Medeiros:

A concentração da renda é alta em todo o país, sendo especialmente aguda nas

regiões mais pobres. Tais desigualdades são bastante estáveis no tempo e não há

nenhuma tendência de sua redução nos próximos anos. A literatura que analisa a

origem e a evolução dessas tendências geralmente as atribui a um modelo

nacional de desenvolvimento segmentado que investiu pouco na supressão dos

diferenciais regionais. (MEDEIROS, 2004 p. 19)

Os percentuais da renda apropriados pelas parcelas da população nacional apresentados na

Tabela 1 para o período 1977 – 1999 mostram que a parcela da renda apropriada pelos 10%

mais ricos foi em média 48,2%, quase metade de toda a renda produzida no país, cabendo

para os 90% restantes da população apenas 51,8% da renda.

Considerarmos o valor apropriado pelos 20% mais ricos, o percentual médio apropriado

sobe para mais de 64%. Um outro dado importante da Tabela 1 é a relação entre a renda dos

1% mais ricos comparada com a renda dos 20% mais pobres, tal razão corresponde a 6,13.

Ou seja, a parcela apropriada pelos 1% mais ricos da população é 6,13 vezes maior que a

renda dos 20% mais pobres.

Tabela 1 - Evolução da apropriação da renda no Brasil de 1977 a 1999

Page 18: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

17

1977 2,4 7,7 11,7 66,6 51,6 18,51978 2,1 7,6 12,0 64,1 47,7 13,61979 1,9 7,5 11,9 64,2 47,6 13,41981 2,6 8,6 13,0 63,1 46,7 12,71982 2,5 8,2 12,6 63,7 47,3 13,11983 2,5 8,1 12,4 64,4 47,7 13,51984 2,7 8,5 12,8 63,8 47,6 13,21985 2,5 8,2 12,4 64,4 48,2 14,21986 2,6 8,5 12,9 63,4 47,2 13,81987 2,3 7,9 12,1 64,3 48,0 14,11988 2,1 7,3 11,3 66,0 49,7 14,41989 2,0 6,8 10,5 67,8 51,7 16,41990 2,1 7,3 11,3 65,6 49,1 14,21992 2,3 8,4 13,1 62,1 45,8 13,21993 2,2 7,9 12,3 64,5 48,6 15,01995 2,3 8,0 12,3 64,2 47,9 13,91996 2,1 7,7 12,1 64,1 47,6 13,51997 2,2 7,7 12,1 64,2 47,7 13,81998 2,2 7,9 12,2 64,2 47,9 13,91999 2,3 8,1 12,6 63,8 47,4 13,3

Média 2,3 7,9 12,2 64,4 48,2 14,1

10% mais Ricos 1% mais RicoAno

Porcentagem da Renda Apropriada pelas Pessoas20% mais

Pobres40% mais

Pobres 50% mais Pobres 20% mais Ricos

Fonte: (BARROS; HENRIQUE; MENDONÇA, 2001) - Elaborada com dados das PNADS diversos anos

Tais dados refletem a concentração de renda e a desigualdade econômica no Brasil que

podem ser graficamente analisadas através do Gráfico 1.

A área total do gráfico corresponde a renda total e está dividida entre 4 grandes grupos e

suas respectivas parcelas da renda. No período compreendido no gráfico, quase não se

percebe variação dos percentuais apropriados por cada parcela da população.

Para se ter uma idéia mais acurada, o desvio padrão calculado para a série referente aos 10%

mais ricos é de 1,4 e para os 50% mais pobres o desvio padrão foi de 0,6 demonstrando

assim uma quase perfeita estabilidade no padrão de distribuição da renda no Brasil com

elevados percentuais de concentração e desigualdade. A parcela referente aos 50% mais

pobres, ou seja, a maior parcela da população contida no gráfico, corresponde a apenas uma

média de 12,2% que é inferior a média dos 1% mais ricos que é de 14,1%.

Gráfico 1

Page 19: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

18

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1988 1989 1990 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

%

50% mais Pobres 20% mais Ricos 10% mais Ricos 1% mais Rico

Gráfico 1 - Percentagem da renda apropriada pelas pessoas Fonte: (BARROS; HENRIQUE; MENDONÇA, 2001)

2.2.2 Crescimento econômico

A melhor estratégia para a erradicação da pobreza no Brasil deveria ser a de combinar

crescimento econômico e redução da desigualdade de renda. Esta combinação, além de

proporcionar maior eficácia apresentaria maior velocidade na consecução do objetivo, pois a

inadequação do receituário do crescimento econômico para combater a pobreza reside no

fato de que dada a concentração atual, ao fim do ciclo de crescimento a distância entre

pobres e ricos se ampliaria em termos absolutos já que as proporções são mantidas estáveis.

Apesar disto o crescimento econômico ainda é visto por muitos como o meio mais adequado

para erradicação da pobreza. Porém, dada a elevada concentração da renda e também da

riqueza no país, a redução da pobreza via crescimento da economia, dependeria que este

crescimento ocorresse de forma continuada através de décadas.

O crescimento econômico, evidentemente, representa uma via importante, apesar de lenta, para combater a pobreza. Um crescimento de 3% a.a. na renda per capita, por exemplo, tende a reduzir a pobreza em um valor aproximado de um ponto percentual a cada dois anos. Ou, ainda, um crescimento contínuo e sustentado de 3% a.a. na renda per capita levaria, no Brasil, mais de 25 anos para reduzir a proporção de pobres abaixo de 15%. Assim, embora conduza a uma redução da pobreza, a via do crescimento econômico necessita durar um longo período de tempo para produzir uma transformação relevante na magnitude da pobreza. (BARROS; HENRIQUE; MENDONÇA, 2001 p. 20)

Page 20: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

19

Desta maneira podemos concluir que o crescimento econômico é condição necessária,

porém não suficiente para a erradicação da pobreza. Como esta é uma questão estrutural da

economia brasileira é necessário mudanças nos padrões de distribuição da renda para que se

rompa o ciclo da pobreza e sejam melhorados os indicadores sociais e a qualidade de vida

no país.

2.2.3 Ciclo vicioso da pobreza

Dentre as diversas variáveis que influenciam a renda de um indivíduo podemos considerar a

educação como sendo a principal variável explicativa, de acordo com a TCH2, que postula

ser a renda uma função que varia positivamente em relação à educação do individuo. Assim,

ceteris paribus e até um determinado limite, aumentos nos anos de estudo implicam

acréscimos na renda dos indivíduos. Neste ponto reside a grande dificuldade para as famílias

pobres e principalmente as indigentes: o custo de oportunidade de manter os filhos na

escola. Este custo é representado pela parcela da renda acrescida com o trabalho de crianças

e jovens na composição da renda familiar.

Diante da situação de carência vivenciada por estas famílias qualquer acréscimo é

significativo para a sobrevivência do grupo familiar que não pode se dar a este “luxo”. Daí

temos que: os pobres de hoje estão nesta condição em face de possuírem menos educação do

que o necessário para ocuparem melhores postos no mercado de trabalho, como se ocupam

de funções de baixa remuneração seus filhos precisam trabalhar para complementar a renda

familiar e não completam os estudos, ao tornarem-se adultos estarão mais uma vez em

desvantagem no mercado futuro de mão de obra, ou seja, serão os pobres do futuro. Esta é

uma descrição simplificada do mecanismo denominado de ciclo da pobreza, e responsável

pelo caráter permanente de sua reprodução de geração a geração na sociedade brasileira.

Vale destacar que dentre todos os aspectos presentes na questão da pobreza o ciclo vicioso

da pobreza é um dos mais dramáticos. É por estas razões que a vinculação de recebimentos

de benefícios condicionados a permanência das crianças na escola é um fator positivo nas

atuais políticas públicas de combate à pobreza.

2.2.4 Inovações tecnológicas e educação

Page 21: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

20

O estágio atual de desenvolvimento tecnológico, intensificado pela globalização econômica,

impõe uma constante elevação dos requisitos de informação e conhecimento necessários

para inserção no mercado de trabalho. Desta forma, são necessários investimentos pesados

em educação por parte do Estado e das famílias para que os indivíduos possam participar do

mercado de trabalho, sendo que as melhores oportunidades, via de regra, são ocupadas por

aqueles que detêm mais anos de escolaridade e maior familiaridade com as inovações

tecnológicas.

Importante salientar que os investimentos realizados nas inovações visam, em geral,

preencher maior fatia de mercado (market share), redução de custos (que em geral implicam

redução de mão de obra empregada nos processos produtivos) e maiores lucros.

Em relação à pobreza, a redução de custos via diminuição dos postos de trabalho em

decorrência das inovações tecnológicas, implicam em sério agravamento da questão. Ou

seja, as inovações tecnológicas refletem nos índices de pobreza marginalizando segmentos

menos preparados para tratar com os avanços técnicos e concentrando renda nas mãos dos

proprietários das novas tecnologias.

2.2.5 Políticas de combate à pobreza

Como afirmamos anteriormente, a pobreza é um problema estrutural da economia brasileira

e seus desdobramento na sociedade são tão diversos que a questão deve ser compreendida

não apenas do ponto de vista econômico mas também dos pontos de vista social e ético.

Não se pode esperar desenvolvimento e ordem social numa sociedade injusta e desigual.

Sendo assim, é possível que as políticas de transferência de renda do governo federal

correspondam ao ponto de inflexão para uma trajetória declinante da evolução da

desigualdade de renda no Brasil.

Condicionando o recebimento do beneficio à freqüência escolar os indicadores referentes à

educação deverão ser progressivamente melhorados bem como as condições de atendimento

as outras necessidades básicas, tais como: alimentação, transporte, moradia e saúde. No

Capitulo 3 apresentaremos um painel com os pontos principais de cada política de

transferência de renda implantada pelo governo federal e sua consolidação no programa

Page 22: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

21

Bolsa Família. Por ora, pretendemos apenas ressaltar a influência destas políticas nas

condições iniciais da pobreza, pois entendemos que elas desempenharão papel decisivo no

Longo Prazo caso recebam continuidade e apoio da sociedade.

2.3 ELEMENTOS QUANTITATIVOS DA POBREZA

No Brasil é muito difundida a idéia de que a pobreza concentra-se nas periferias das grandes

cidades. Esta idéia não encontra comprovação nas pesquisas realizadas até o presente

momento. A Tabela 2 mostra a distribuição espacial da pobreza no Brasil. Podemos perceber

que a maior concentração dos pobres encontra-se na Região Nordeste 62,7%, e mais

particularmente nas pequenas cidades e na área rural 32,7%. A pobreza é menos forte nas

áreas centrais das regiões metropolitanas 5,8%, contrastando com a percepção de muitos de

que é nas favelas das grandes metrópoles que estão concentrados os pobres do Brasil.

Tabela 2 - Distribuição de pobres por região e área

Fonte: (ARBACHE, 2003 p. 36)

Outra constatação proporcionada pela analise dos dados da Tabela 2, é que as políticas

governamentais implantadas com o objetivo de superar as desigualdades regionais ainda não

foram suficientemente adequadas. De tal maneira que é mais uma questão posta no caminho

da superação da pobreza. Cabe ressaltar aqui a pertinência da análise deste trabalho,

enfocando a Economia Local e analisando a importância das transferências de renda para a

economia dos municípios pobres, pois como pode ser visto, é nestas áreas que se encontra a

maior concentração de pobres do Brasil. E melhorando as condições de vida nestes

municípios haverá efeitos sobre a migração responsável pelo inchaço das grandes

metrópoles.

Parcela de pobreza total Nordeste Centro-Oeste Norte Sudeste Sul Total

Centro e região metropolitana 3,6% 0,2% 0,4% 1,3% 0,3% 5,8%

Periferia da região metropolitana 2,4% 0,1% 0,1% 2,4% 0,5% 5,4%

Grandes Cidades 4,8% 0,7% 1,1% 1,3% 0,6% 8,5%

Cidades médias 6,6% 0,7% 1,7% 1,9% 1,3% 12,2%

Cidades pequenas 12,5% 1,2% 2,4% 3,1% 1,2% 20,5%

Área rural 32,7% 2,1% 0,7% 7,7% 4,3% 47,5%

Total 62,7% 5,0% 6,4% 17,7% 8,1% 100,0%

Page 23: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

22

Em relação à pobreza nos grandes centros urbanos vale ressaltar que esta última é mais

severa que nas áreas rurais. As exigências por mão de obra nas áreas urbanas são maiores,

criando dificuldades para aqueles com menor qualificação – leia-se pobres.

Um outro fator agravante das dificuldades ao atendimento das necessidades nas metrópoles

é que nestas as necessidades são intermediadas através das trocas nos mercados, de maneira

mais intensa que nas áreas rurais, nas quais as possibilidades de encontrar alimentos

diretamente da natureza não foram ainda eliminadas.

Tabela 3 - Indicadores sociais para países selecionados da categoria de renda média inferior

Países

selecionados na categoria de renda média

inferior

Pop, total (1000 hab.) (2003)

Renda per capita (US$)

(2003)

% da Pop, abaixo de US$ 2 por

dia

Pop, total

(1000 hab.) abaixo de US$

2 por dia

Bolívia 8.808 890 34,3 3.021 Brasil 178.470 2.710 22,4 39.977 China 1.304.196 1.100 46,7 609.060 Egito 71.931 1.390 43,9 31.578 Irã 68.920 2.000 7,3 5.031 Peru 27.167 2.150 37,7 10.242 Romênia 22.334 2.310 20,5 4.578 Turquia 71.325 2.790 10,3 7.346 Ucrânia 48.523 970 45,7 22.175

Fonte: Brasil: o estado de uma nação 2005 IPEA, 2005.

A Tabela 3 que permite comparar a situação do Brasil com alguns outros paises

selecionados apresenta um número elevado de pessoas que vivem com uma renda de até

US$ 2,00 por dia. São quase 40 milhões de brasileiros sob esta dura realidade. Em termos

absolutos o país é superado apenas pela China com números ainda mais dramáticos.

Podemos destacar ainda a Ucrânia, o Egito, o Peru e a Bolívia com proporções também

elevadíssimas de pessoas pobres em relação à população total.

Utilizando um outro critério -o salário mínimo - como parâmetro de estimativa do número

de pobres no Brasil, o IPEA apresentou números ainda mais alarmantes.

Considerando-se o salário mínimo de setembro de 2002, estimou-se que “cerca de 49

Page 24: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

23

milhões de pessoas e 10 milhões de domicílios brasileiros poderiam ser considerados pobres,

algo em torno de 29% da população do país e 22% de todos os domicílios daquele ano.

Dessa parcela, 18,7 milhões de pessoas e 3,7 milhões de domicílios seriam classificados

como indigentes ou em condições de pobreza extrema.” (REZENDE, TAFNER, 2005 p. 87).

A Tabela 4 apresenta uma outra estimativa elaborada pelo IPEA, considerando agora como

critério a renda necessária para aquisição de 2.100 calorias diárias, recomendadas pela FAO

para dieta alimentar de uma pessoa sem considerar idade, sexo, atividade, etc.. Os dados

foram extraídos usando uma série baseada na Pesquisa Anual por Amostra de Domicílios

(PNAD) do IBGE.

Tabela 4 - Evolução da pobreza no Brasil 1990 a 2002

Período

Número de pessoas abaixo da linha de pobreza

(milhões)

Proporção de pessoas abaixo

da linha de pobreza - (%

população 1990 58,2 42,01993 61,0 43,01996 51,8 34,71999 56,2 35,32002 52,4 31,3

Fonte: IPEA.

O Gráfico 2 elaborado com os dados da Tabela 4 permite identificar uma tendência de

redução do percentual de pobres no Brasil com relação à população total, ao longo dos

últimos doze anos selecionados. Em 1990 o percentual de pessoas abaixo da linha de

pobreza era de 42% enquanto que em 2002, último ano da série, o percentual cai para 31,3%

o que significa uma redução de 25,5%. Esta redução no entanto ainda não merece nenhum

tipo de comemoração, pois os números absolutos revelam uma verdadeira catástrofe social:

mais de 52 milhões de pessoas que não possuem renda para adquirir as 2.100 calorias diárias

recomendadas pela FAO.

Gráfico 2

Page 25: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

24

46

48

50

52

54

56

58

60

62

1990 1993 1996 1999 2002

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

%

Número de pessoas abaixo da linha de pobreza (milhões)

Proporção de pessoas abaixo da linha de pobreza - (% pop. total)

Gráfico 2 - Evolução da pobreza e indigência no Brasil 1990 a 2002

Fonte: IPEA

Sob o ponto de vista da produção, a pobreza produz os mais variados reflexos. Seus

desdobramentos são refletidos diretamente nos índices de produtividade, afetando tanto a

demanda - via insuficiência de renda de um expressivo contingente de consumidores

marginalizados no mercado de bens e serviços - quanto a oferta, na medida em que os

empresários programam os investimentos e a produção em função da expectativa dos gastos

agregados.

3 POLÍTICAS DE COMBATE À POBREZA NO BRASIL

Na última década diversas políticas de combate à pobreza foram implantadas no Brasil por

diversos entes federativos. Em geral estas políticas consistiam em transferir determinada

quantidade de moeda para famílias e/ou indivíduos que atendessem critérios pré-definidos

de elegibilidade.

Page 26: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

25

Na prática tais políticas não alcançaram os resultados pretendidos em função de diversos

fatores, tais como: (i) as políticas sociais em geral não atendem aos mais necessitados; (ii) as

políticas que atendem a estes não cumprem adequadamente os seus objetivos sociais; (iii) as

políticas que atendem aos mais necessitados não deixam efeitos permanentes sobre o seu

estado de pobreza; e (iv) o problema das políticas sociais no Brasil não é a falta de recursos,

mas sim o da má aplicação dos mesmos, seja devido à corrupção e desvios ou a falta de

focalização (ARBACHE, 2003 p. 39).

Este quadro foi ligeiramente modificado quando a União entrou em cena, tornando-se então

o principal agente dos atuais programas de transferência de renda. Nesta seção discutiremos

a atuação do Governo Federal no combate à pobreza detalhando os programas até aqui

implantados, fazendo uma rápida retrospectiva histórica que vai da discussão e apresentação

do Projeto Suplicy na década de 80 (marco do debate da Renda Mínima no Brasil),

implantação da LOAS3 até a formulação e implantação do Programa Bolsa Família.

3.1 OS PRIMEIROS PASSOS DA RENDA MÍNIMA NO BRASIL

3.1.1 Loas

O ponto de partida para compreensão das mudanças no desenho das políticas de combate à

pobreza no Brasil e dos programas de transferência de renda está na própria Constituição de

1988 que deu uma nova concepção para a Assistência Social e foi posteriormente

regulamentada com a aprovação da LOAS em 1993, que assegurou benefícios assistenciais,

no valor de um salário mínimo, a todas as pessoas idosas e às portadoras de deficiência com

renda familiar per capita igual ou inferior a um quarto do salário mínimo.

Esta lei proporcionou mudanças muito importantes na política social brasileira.

Provavelmente o impacto mais significativo tenha sido o que ocorreu com as aposentadorias

rurais (FUNRURAL4) no Nordeste brasileiro. Estudos do IPEA demonstram significativos

impactos na renda familiar, redução da pobreza, bem como mudanças nos arranjos

familiares, dinamização da economia local etc. Com relação a este programa de

aposentadoria rural, cuja contribuição por parte destes trabalhadores é pouco significativa, o

financiamento origina-se na sua maior parte, das contribuições urbanas. “Com a

promulgação da Constituição, o sistema foi unificado, passando a ser de solidariedade geral.

Page 27: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

26

Por outro lado, parte da contribuição dos empregadores urbanos é repassada aos preços e,

portanto, custeada indiretamente por todos.” (BELTRÃO; CAMARANO; MELLO, 2005,

p.2).

3.1.2 Projeto Suplicy

O segundo e principal marco ocorreu em 1991, quando o Senado da República aprovou

Projeto de Lei do Senador Eduardo Suplicy que instituía no Brasil um Programa de Garantia

de Renda Mínima – PGRM. Este projeto estabelecia uma complementação de renda para os

indivíduos que não obtivessem uma determinada renda considerada como mínima. “O

PGRM seria implantado gradualmente, abrangendo inicialmente os maiores de 60 anos e

sendo a faixa etária coberta ampliada anualmente até que atingisse toda sua população alvo

no 8º ano de execução.” (LAVINAS; VARSANO, 1997 p. 8).

Este projeto diferentemente dos programas já implantados pelo Governo Federal propõe que

os beneficiários sejam os indivíduos e não as famílias, além do mais, não é necessário

nenhuma contrapartida como, por exemplo, freqüentar uma escola, a única exigência é não

possuir a renda mínima estipulada.

Quando o projeto foi apresentado o país ainda não havia experimentado a estabilidade da

moeda, por isso mesmo, argumentava-se de sua inviabilidade ao mesmo tempo em que a

estabilização monetária seria por si só suficiente para combater a pobreza através da

eliminação do imposto inflacionário. Em parte, tal argumento demonstrou certa lógica, pois

a estabilização realmente teve um efeito redutor sobre a pobreza pouco durável.

Um segundo argumento contra o PGRM era o de que a concessão de um benefício em forma

de renda aos indivíduos geraria uma acomodação sobre a força de trabalho, pois esta

contaria com uma renda regular para satisfazer suas necessidades independentemente de

qualquer esforço. Mesmo com tantos argumentos contrários a proposta foi aprovada. Não é

fácil para políticos posicionarem-se abertamente contra os pobres num país em que o

contingente populacional destes é tão elevado. Ademais os gastos previstos para o PGRM

seriam remanejados de outros programas sociais gradativamente.

3.2 PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA DO GOVERNO FEDERAL

Page 28: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

27

3.2.1 Governo FHC

O Quadro 1 apresenta uma descrição dos programas implantados durante o governo FHC.

Devido ao fato da execução dos programas ficarem a cargo de diversos ministérios,

carecendo de várias estruturas para gestão e fiscalização e a conseqüente elevação dos custos

administrativos, a ineficiência tornava-se patente, contribuindo para o risco de numa mesma

localidade uma determinada família fosse contemplada em mais de um programa enquanto

outras poderiam ficar sem acesso a nenhum benefício.

Vale ressaltar que esta “dispersão” no quadro geral não decorria apenas do fato do Governo

Federal atuar de forma descoordenada, os estados e municípios também adotaram diversos

outros modelos de programas.

A solução encontrada foi a criação e adoção de um Cadastro Único, que concentraria em um

único banco de dados as informações sobre as condições de pobreza de todos os municípios

do país para ser utilizado pela União, estados e municípios. Desde então, verifica-se uma

tendência de integrar os programas em um órgão único para racionalizar a aplicação dos

recursos e garantir maior efetividade dos programas no atendimento das pessoas de renda

mais baixa. Como veremos no tópico seguinte, a tentativa de racionalizar a gestão e os

gastos com as transferências de renda resultou na consolidação dos principais programas

implantados no governo FHC em um benefício único: o Bolsa Família.

Programa Ministério Objetivo Bolsa-Escola Educação Bolsa mensal entre R$ 15,00 e

R$ 45,00 para famílias pobres com crianças na faixa de 6-15 anos que freqüentam a escola

Bolsa-Alimentação Saúde Bolsa mensal entre R$ 15,00 e R$ 45,00 para famílias pobres com gestantes ou crianças em situação de risco nutricional na faixa de 0-6 anos

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil ou Programa Bolsa Criança-Cidadã

Previdência e Assistência Social Bolsa mensal entre R$ 25,00 e R$ 40,00 para famílias pobres que se comprometam a retirar suas crianças de trabalhos

Page 29: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

28

penosos para retornar à escola Agente Jovem Previdência e Assistência Social Bolsa mensal de R$ 65,00 para

jovens pobres na faixa de 15-17 anos, em situação de risco que retornem à escola.

Bolsa-Renda Integração Nacional Auxilio mensal de R$ 60,00 para famílias pobres vitimas da seca do Nordeste, que mantenham crianças nas escolas.

Auxílio-Gás ou Vale Gás Minas e Energia Auxilio mensal para famílias pobres para aquisição de GLP (gás de cozinha)

Quadro 1- Programas de transferência de renda do governo FHC

Fonte: (lavinas, 2004 p. 70)

3.2.2 Governo Lula

No ano de 2003 foi criado pelo governo Lula o Programa Fome Zero. Este programa

ampliava os critérios de elegibilidade para concessão do benefício, bastando apenas que a

família candidata ao benefício se encontrasse em alguma situação de vulnerabilidade como,

por exemplo, pobreza extrema. O Quadro 2 apresenta os dois novos programas de

transferência de renda implantados no governo Lula, o Fome Zero e oBolsa-Família.

O Fome Zero foi criado e implantado pelo governo Lula cumprindo uma promessa da

campanha eleitoral de 2002. Como o próprio nome sugere o objetivo principal é o combate a

fome. Já o Bolsa Família foi criado visando racionalizar o gasto e a gestão dos programas

até então implantados bem como universalizar as políticas de transferência de renda. O

programa, grosso modo, consiste em consolidar em um único benefício os demais

programas. O Vale Gás, o Bolsa Escola e o Bolsa Alimentação já migraram e o PETI ainda

encontra-se em fase de migração para o Bolsa Família.

Programa Ministério Objetivo Fome Zero Segurança Alimentar e

Combate à Fome Bolsa mensal de R$ 50,00 às famílias em condição de vulnerabilidade, tenham filhos ou não.

Bolsa-Família Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Bolsa mensal entre R$ 50,00 e R$ 95,00 para famílias em condição de extrema pobreza. Agrega num único benefícios os demais PGRM da União

Quadro 2 - Programas de transferência de renda do governo Lula

Page 30: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

29

Fonte: MDS

3.3 OUTRAS POLÍTICAS DE COMBATE À POBREZA

Uma modalidade interessante de política de combate à pobreza é a que utiliza o micro

crédito. Nos últimos anos os programas baseados nesta concepção passaram também por

diversas reformulações e são operacionalizados por entidades de crédito privadas e estatais.

Os principais programas são:

• PROGER – Programa de Geração de Emprego e Renda – destinado a quem quer

iniciar ou ampliar o próprio negócio;

• PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – que

tem por objetivo aumentar a produção agrícola, a geração de ocupações produtivas

e a melhoria da renda e da qualidade de vida dos agricultores familiares;

Estes tipos de programas desfrutam de um conceito mais elevado, pois confirmam o

dito popular de que “melhor que dar esmola aos pobres é ensiná-los a pescar.”

3.4 O PAPEL DAS INOVAÇÕES NO COMBATE À POBREZA

Os programas de transferência de renda implantados nos últimos governos representam uma

mudança no panorama da distribuição de renda e na estratégia de combate a pobreza. Tal

mudança ocorre numa era em que as inovações se sucedem em todos os segmentos sociais,

políticos e econômicos. Desta forma encontramos diversos fatores referentes às atuais

políticas de transferência de renda que consideramos conveniente discutir.

Falar de inovações tecnológicas como instrumento de combate à pobreza soa como um

contra-senso. É sabido que o avanço tecnológico amplia a concentração de riqueza e

aumenta a desigualdade. Isso em razão da utilização do conhecimento como instrumento

poupador de mão de obra e que requer um conhecimento cada vez mais especializado por

parte da força de trabalho para operar as novas tecnologias empregadas nos processos

produtivos. Ou seja, tal especialização funciona como instrumento de ampliação das

desigualdades e por conseqüência de agravamento dos números dramáticos da pobreza.

Ampliando este quadro sombrio, tais desigualdades verificam-se também no campo das

Page 31: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

30

relações entre países e regiões com níveis de desenvolvimento diferentes. Como se já não

bastasse o cenário de endividamento e dependência, dos países subdesenvolvidos, completa-

se o quadro com o “subdesenvolvimento tecnológico”.

Cabe, porém uma observação, acerca da utilização dos avanços tecnológicos. O relativo

êxito obtido com as políticas de combate a pobreza, tem como um de seus principais fatores,

a utilização de inovações tecnológicas, sobretudo aquelas relacionadas com a tecnologia da

informação, aplicadas em larga escala na automação do setor de serviços financeiros.

A utilização de cartões magnéticos permite o acesso direto das pessoas pobres aos recursos

sem a necessidade de intermediários e reduz o uso clientelista dos programas de

transferência com reflexos sobre a transparência das ações.

A principal inovação refere-se à tentativa de formular programas de combate à pobreza

atacando as causas do problema e não mais no âmbito das políticas compensatórias. Isso é

demonstrável pela proposta da concessão do benefício vinculada à permanência de crianças

na escola. Assim o combate à pobreza estrutural é possível, pois a médio e longo prazo, o

aumento da escolarização, poderá proporcionar melhores oportunidades de emprego e renda

a estas famílias, possibilitando romper o ciclo vicioso da pobreza. Desta maneira busca-se

compensar o custo de oportunidade para as famílias manter as crianças na escola, ao invés

de estarem trabalhando para ajudar no orçamento familiar.

Uma outra mudança diz respeito ao fato de que, ao disponibilizar uma quantia em meios

monetários, diretamente às famílias beneficiárias, mantém-se uma autonomia acerca das

melhores decisões quanto aos bens que deverão ser adquiridos pela família.

3.5 ASPECTOS POLÍTICOS E INSTITUCIONAIS DAS POLÍTICAS DE COMBATE À

POBREZA

Desde o início da década de 90, quando foi apresentada ao Congresso Nacional, a primeira

proposta de implantação de uma política de renda mínima, a discussão em torno da questão

não desfrutava de grande atenção, devido em grande parte ao problema crônico da

hiperinflação.

Page 32: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

31

O pensamento dominante era o de aniquilando-se a inflação a situação dos pobres

melhoraria pelo efeito automático da eliminação do imposto inflacionário. A eliminação

deste imposto acarretaria um efeito-renda de maior magnitude para os pobres. “De fato, logo

após a introdução do Plano Real houve significativa redução da pobreza [...] O efeito-renda

observado no período levou a um aumento da demanda de consumo por bens duráveis e não

duráveis por parte das classes mais baixas.” (ARBACHE, 2003 p. 15)

Um segundo aspecto diz respeito ao debate cultural/ideológico. Setores conservadores

argumentavam contra as políticas de transferência de renda usando a idéia que a distribuição

de dinheiro para a população faria surgir uma maior “acomodação” da força de trabalho.

Sobre esta possível acomodação o valor pouco significativo dos benefícios seguramente

funciona como principal atenuante.

Um terceiro aspecto da conjuntura nacional bastante dificultador do debate é o da corrupção.

Este é problema mais persistente de todos. Somente o aprofundamento da cidadania e o

amadurecimento das instituições democráticas podem atenuar os problemas gerados pela

corrupção, evitando que ocorram desvios dos recursos destinados ao combate a pobreza, o

que comprometeria gravemente os resultados dos programas.

Os aspectos referidos acima funcionaram como um freio ao avanço e implantação das

PGRM, podendo-se apontar alguns aspectos que funcionaram como vetores destas políticas.

O aspecto de destaque neste contexto foi a tendência crescente da descentralização

administrativa ocorrida, sobretudo a partir da promulgação da Constituição de 1988. Tal fato

permitiu que surgisse uma ampla e criativa gama de políticas de combate a pobreza,

contribuindo enormemente para enriquecer o debate sobre a sua implantação. Houve uma

profusão de propostas nas três esferas administrativas, União, estados e municípios. Aqui

cabe destacar, que os programas instituídos pela União, são via de regra executados pelos

municípios e estados, funcionando basicamente como transferências monetárias da União

para os municípios e estados, que complementam o valor do benefício e executam ações,

como cadastramento e pagamentos, bem como fiscalização da adequada aplicação dos

recursos.

Page 33: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

32

4 PERFIL DO MUNICIPIO DE PÉ DE SERRA/BA.

Um expressivo número de municípios foi criado no Brasil nas duas últimas décadas e é neste

ambiente social e político que surgiu o Município de Pé de Serra/Ba emancipado de Riachão

do Jacuípe através de plebiscito em 1985 e instalado em 1986.

4.1 TERRITÓRIO E DEMOGRAFIA DO MUNICÍPIO

Nesta seção faremos uma caracterização dos aspectos principais do município para melhor

situar a nossa análise, já que temos como objetivo explicar as relações e impactos que as

políticas de transferência de renda exercem sobre os municípios de economia de subsistência

adequadamente representados pelo município escolhido. Segundo o IBGE “em relação ao

Page 34: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

33

conjunto dos 5.560 municípios existentes em 2001, observa-se que a maioria (73,3%)

possuía até 20.000 habitantes”. (IBGE, 2004, p.10) Portanto é este o grupo em que se

enquadra o município do nosso estudo.

4.1.1 Território

O Município de Pé de Serra possui uma área de 560,7 km2 e uma densidade demográfica de

24,1 hab/ km2. Está localizado na micro região de Serrinha distante de Salvador 174 km

situando-se na área do semi-árido com vegetação predominante de caatinga.

4.1.2 Demografia

A Tabela 5 apresenta os dados da população de Pé de Serra quando da realização do Censo

do IBGE nos anos de 1991 e 2000.

Tabela 5 - População por situação de domicílio, Pé de Serra 1991 e 2000

INDICADOR 1991 2000

População Total 17.048 13.531 Urbana 3.736 4.111 Rural 13.310 9.420

Taxa de Urbanização 21,93% 30,38% Fonte: Fonte: IPEA/PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano

Neste período, a taxa média de crescimento anual da população foi de -2,63%. Esta taxa

pode ser explicada por dois fatores: (i) migração populacional para grandes centros urbanos

em busca de melhores condições de vida e/ou (ii) falhas cometidas nos referidos censos

como, por exemplo, superestimação da população em 1991. Um dado interessante a respeito

da Tabela 5 é o aumento da taxa de urbanização, passando de 21,93% em 1991 para 30,38

em 2000, refletindo em uma população urbana no ano de 2000 maior que a de 1991.

Com relação à estrutura etária da população de Pé de Serra, podemos ver pela Tabela 6 que

houve alteração na participação em todas as faixas etárias na comparação de 1991 e 2000. A

população maior de 65 anos sofreu uma variação de 55,8% passando de 4,3% em 1991 para

6,7% no ano de 2000. Também houve aumento na população entre 15 a 64 anos, porém

sofrendo uma variação menor de apenas 6,7%, passando de 54,5% para 58,2%. No caso da

Page 35: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

34

faixa populacional que abrange as pessoas menores de 15 anos houve uma diminuição da

participação da mesma na ordem de -15,2%.

Tabela 6 - Estrutura etária da população de Pé de Serra, 1991 a 2000

Habitantes % Habitantes %Menos de 15 anos 7.034 41,3% 4.742 35,0%15 a 64 anos 9.289 54,5% 7.876 58,2%65 anos e mais 725 4,3% 913 6,7%

Total 17.048 100% 13.531 100%

1991 2000

Fonte: IPEA/PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano

Na Tabela 7 podemos ver que a única faixa etária populacional que cresceu entre 1991 e

2000 foi a dos idosos, 25,9%.

Tabela 7 - Variação relativa da população de Pé de Serra, 2000/1991

1991Habitantes Habitantes %

Menos de 15 anos 7.034 4.742 -32,6%15 a 64 anos 9.289 7.876 -15,2%65 anos e mais 725 913 25,9%

Total 17.048 13.531 -20,6%

2000

Fonte: IPEA/PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano

Este fato está associado à melhoria da aposentadoria rural que proporciona uma melhor

qualidade de vida a este segmento populacional, a migração de jovens em busca de trabalho

nos centros econômicos mais dinâmicos, bem como, expressa uma tendência internacional

de envelhecimento da população verificável tanto a nível nacional quanto a nível

internacional.

O aumento da população de idosos pode ser ainda confirmado através do aumento da

esperança de vida. De acordo com a Tabela 8 em 1991 este indicador era de 59,7 anos. No

ano de 2002 esta esperança de vida ao nascer ganha um incremento de 4,45 anos chegando a

64,15 anos. Vale ressaltar ainda a diminuição da mortalidade e da fecundidade.

Tabela 8 - Longevidade, mortalidade e fecundidade em Pé de Serra, 1991 e 2000

Page 36: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

35

Indicadores 1991 2000Mortalidade até 1 ano de idade

(por 1000 nascidos vivos) 70,0 45,3

Esperança de vida ao nascer 59,7 64,2

Taxa de Fecundidade Total (filhos por mulher) 4,1 2,8

Fonte: IPEA/PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano

4.1.3 Educação

No quesito educação, podemos observar que houve melhoria em todos indicadores. De

acordo com a Tabela 9 apesar da diminuição do percentual de adultos analfabetos a taxa de

analfabetismo é ainda muito elevada ficando em 34,7%. O destaque positivo é a média de

anos de estudo que passou de 1,4 em 1991 para 2,3 em 2000, uma elevação de 64,2%.

Tabela 9 -Nível educacional da população adulta de Pé de Serra, 1991 e 2000

Indicador 1991 2000

Taxa de analfabetismo 43,5 34,7

% com menos de 4 anos de estudo 85,8 73,6

% com menos de 8 anos de estudo 96,6 92,9

Média de anos de estudo 1,4 2,3

Fonte: IPEA/PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano

4.2 ECONOMIA E RENDA DO MUNICÍPIO

A renda per capita média do Município cresceu 55,4% entre os anos de 1991 e 2000 de

acordo com a Tabela 10 passando de R$ 43,47 em 1991 para R$ 67,58 em 2000 em valores

constantes de 2000. A proporção de pobres5 diminuiu 16,2% passando de 88,1% em 1991

para 73,8% em 2000. O que corresponde 9.987 pessoas pobres para uma população total de

13.531.

Tabela 10 - Indicadores de renda, pobreza e desigualdade em Pé de Serra

Indicador 1991 2000

Renda per capita Média (R$ de 2000) 43,5 67,6

Page 37: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

36

Proporção de pobres 88,1 73,8

Coeficiente de Gini6 0,44 0,57

Fonte: IPEA/PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano

O contrário ocorreu com a desigualdade que cresceu 29,5% medida pelo Coeficiente de

Gini. Os dados de tal desigualdade estão apresentados na Tabela 11. Destaca-se o percentual

de renda apropriada pelos 20% mais pobres em 2000 que foi de apenas 1,1% enquanto os

20% mais ricos apropriaram-se de 58,4%, praticamente 3/5 da renda.

Tabela 11- Porcentagem da renda apropriada pela população de Pé de Serra

Extrato populacional 1991 2000

20% mais pobres 5,1 1,1

40% mais pobres 14,9 7,2

60% mais pobres 29,4 19,6

80% mais pobres 51,0 41,6

20% mais ricos 49,0 58,4

Fonte: IPEA/PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano

Para um melhor entendimento da Tabela 11 plotamos no gráfico 3 a evolução da

distribuição da renda entre 1991 e 2000. Existe uma tendência clara de diminuição da renda

apropriada pelos extratos mais pobres e uma elevação da renda destinada aos mais ricos,

aumentando a concentração e a desigualdade de renda no Município de Pé de Serra.

Gráfico 3

Page 38: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

37

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

1991

2000

20% mais pobres 40% mais pobres 60% mais pobres

80% mais pobres 20% mais ricos

Gráfico 3 - Evolução da renda apropriada por extratos da população, 1991 e 2000. Fonte: IPEA/PNUD Atlas do Desenvolvimento Humano

A economia do Município de Pé de Serra tem como atividades predominantes aquelas

ligadas à produção de subsistência. Desta forma, podemos afirmar que a maior parte das

atividades intermediadas através de mercados tem uma significativa dependência das

atividades do poder público. Assim, os funcionários públicos juntamente com os

aposentados do INSS desempenham papel de agentes privilegiados na economia local.

Esta dependência pode ser comprovada pelo fato de mais de 98% das receitas da Prefeitura

Municipal serem provenientes dos diversos tipos de transferências intergovernamentais e

menos de 2% são de receitas próprias. Com tal desempenho, o Município de Pé de Serra

encontra-se entre “os 95,67% que gerou receitas tributárias próprias em proporção inferior a

10% do total de suas receitas” (SEI, 2004, p. 9). E o que é pior, no ano 2000, último ano

com dados disponibilizados no estudo da SEI, o percentual de receitas próprias foi de apenas

0,50%, conforme a Tabela 12.

Tabela 12 - Composição da receita orçamentária da PMPS7

R$ % R$ %Receitas Orçamentárias 6.627.226,20 100,00 5.443.239,77 100,00

Receitas Próprias 170.743,93 2,58 27.245,28 0,50 Receitas de Transferências 6.456.482,27 97,42 5.415.994,49 99,50

1999 2000Tipo de Receita

Page 39: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

38

Fonte: SEI - Perfil financeiro dos municípios baianos 1993 a 2000

Em virtude da participação inexpressiva das receitas próprias em relação às receitas totais

constatamos a priori a importância das PGRM para este tipo de economia. Este ponto de

vista é reforçado pelo entendimento de que tamanha escassez de recursos próprios é

decorrente da falta de atividade econômica no local que possibilite a ampliação da renda dos

habitantes e a cobrança dos tributos municipais.

Na seqüência apresentamos mais informações a respeito da economia local para uma melhor

compreensão do quadro municipal. A Tabela 13, por exemplo, apresenta o PIB setorial e

total do Município. Como estes dados originam-se de uma fonte diferente daqueles

apresentados na seção relativa à renda encontramos aqui uma renda per capita8 diferente da

que apresentamos naquela seção. As atividades do setor de serviços são responsáveis por

mais de 57% do PIB municipal. Em seguida, porém com um percentual bem menor, aparece

o setor agropecuário. Vale ressaltar que esta produção está diretamente ligada à subsistência

da população, bem como a que concentra a maior parcela da população ocupada, pois cerca

de 70% da população do Município reside na área rural.

Tabela 13 - PIB total e por setores de Pé de Serra em R$ (preços correntes 2002)

Setores Reais %Agropecuária 6.465.422,54 31,47

Indústria 2.238.093,53 10,90

Serviços 11.753.165,66 57,21 Total 20.543.858,94 100,00

Fonte: SEI

A análise da Tabela 13 permite constatar que a participação do setor industrial não é

expressiva no Município fato este passível até mesmo de comprovação empírica, pois esta

atividade é realizada principalmente pelo segmento de laticínios através da produção de

queijo e manteiga para o mercado local, bem como o de pão e biscoitos também para este

mercado local.

Algumas outras atividades do setor industrial referem-se a produção em pequena escala de

derivados de sisal, cancelas e móveis em madeira e carroças.

Page 40: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

39

5 REPERCUSSÕES DO COMBATE À POBREZA NO MUNICIPIO DE PÉ DE

SERRA: IMPACTOS DO BOLSA FAMÍLIA

Como já mencionado anteriormente as condições do orçamento municipal e as

aposentadorias da Previdência Social exercem uma influência determinante sobre a

economia do município de Pé de Serra/BA, compondo os fatores de maior influência sobre a

demanda dos mercados locais. Alem destes, completam o quadro da demanda local os

ocupados nas atividades de subsistência cuja atividade é predominante no Município.

Page 41: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

40

Diante da descrição acima sobre a demanda, detalhamos abaixo o quadro da oferta o qual é

composto basicamente de:

• Pequenas empresas - formais e informais que exploram principalmente o comércio e

a indústria, esta última de forma bastante incipiente;

• Produtores rurais – desempenham atividades de baixa produtividade características

da produção de subsistência, geram excedentes comercializáveis eventualmente.

• Prestadores de serviço – destacando-se aqueles ligados aos serviços de transporte.

Montado o quadro básico da oferta e da demanda locais, entendemos que os PGRM exercem

um poder complementar e ao mesmo tempo dinamizador neste quadro de demanda, por

conta da destinação quase exclusiva dos recursos recebidos na aquisição de bens e serviços

nos mercado locais. Assim, passaremos a analisar a influência que as transferências de renda

exercem sobre a economia local e em que medida seus efeitos são sentidos pelos agentes

econômicos citados.

5.1 TRANSFERÊNCIAS AO MUNICÍPIO DE PÉ DE SERRA

Os PGRM são experiências recentes na cena contemporânea brasileira, portanto ainda não

possuem uma modelagem definitiva. É por isso que apesar da preocupação com a

racionalidade e a transparência na utilização dos recursos públicos despendidos com os

programas os dados sobre os mesmos ainda encontram-se dispersos em diversos órgãos

governamentais inviabilizando uma análise quantitativa conclusiva neste período de

evolução.

Os fatores abaixo exercem influência considerável sobre a precariedade dos dados de forma

que consideramos muito importante destacá-los:

• Reformulações constantes visando melhorias nos programas já existentes, como por

exemplo, o Bolsa Família que consolida os diversos benefícios num único

programa;

• Implantação de novos programas – foram surgindo gradativamente para atender

diversas clientelas e por isso tinham denominações, publico alvo e valores diferentes

de benefícios;

• Ampliação da clientela (universalização) – os programas até o presente momento

Page 42: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

41

atendem apenas pouco mais de 70% do publico alvo com um gasto previsto para

2005 de R$ 6,5 bilhões. A meta é atender 11,4 milhões de famílias até 2006;

• Inexistência de coordenação na gestão dos programas (na fase inicial) – o Bolsa

Família e Cadastro Único objetivam combater esta distorção, mas o fato é que a

situação atual está longe do ideal.

Em decorrência dos fatores apontados acima, optamos por considerar os dados consolidados

do programa Bolsa Família na nossa análise. Este artifício decorre do fato de o programa

citado agregar a maioria dos outros programas em apenas um único beneficio possibilitando

assim a agregação dos dados em uma serie histórica mais consistente. Daqui em diante

procuraremos nos referir ao Bolsa Família utilizando as suas letras iniciais: a sigla BF.

A Tabela 14 apresenta os valores transferidos pelo programa Bolsa Família aos beneficiários

residentes no Município de Pé de Serra. Embora não tenha ocorrido variação substancial no

Beneficio Médio no período compreendido na tabela, o valor total mensal das transferências

ao Município sofreu um incremento considerável determinado pela ampliação da quantidade

de famílias atendidas. Esta variação foi de 35,1% na comparação de setembro de 2005 com

janeiro de 2004.

Em relação ao número de famílias atendidas no mesmo período a variação ocorrida de

38,7% foi ainda mais significativa não apenas em consideração ao valor absoluto, mas por

representar a inclusão de uma quantidade maior de pessoas usufruindo de mais renda.

Mantida a média mensal dos nove primeiros meses de 2005, o total transferido ao Município

somente pelo Bolsa Família chegará ao montante anual de R$ 1.217.345,20 que

correspondem a 5,9% do PIB municipal do ano de 2002. Este montante significa um

substancial aumento da demanda agregada municipal, em face da elevada elasticidade-renda

da demanda9 da população beneficiada.

Tabela 14 - Transferências do Bolsa Família para Pé de Serra de 2004 a 2005

Page 43: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

42

Transf. ao município - R$

Familias atendidas

Benef. Médio em R$

Transf. ao município - R$

Familias atendidas

Benef. Mem R$

JAN 78.245,00 1.162 67,34 100.201,00 1.538 65 FEV 78.245,00 1.162 67,34 100.201,00 1.538 65 MAR 77.720,00 1.162 66,88 100.201,00 1.538 65 ABR 77.540,00 1.162 66,73 100.201,00 1.538 65 MAI 77.420,00 1.162 66,63 100.274,00 1.539 65 JUN 77.270,00 1.162 66,50 100.339,00 1.540 65 JUL 77.120,00 1.162 66,37 100.194,00 1.538 65 AGO 81.490,00 1.162 70,13 105.699,00 1.612 65 SET 100.291,00 1.230 81,54 105.699,00 1.612 65 OUT 100.381,00 1.532 65,52 NOV 100.201,00 1.538 65,15 DEZ 100.201,00 1.538 65,15 Total 1.026.124,00 913.009,00 Média 85.510,33 1.261 67,94 101.445,44 1.555 65

2004 2005

Período

Fonte: Caixa Econômica Federal

Se além de considerarmos o agregado das transferências sobre a renda agregada municipal

fizermos um outro exercício de comparação entre renda per capita e benefício médio

recebido pelas famílias, teremos os dados da Tabela 15, que contém em destaque o valor do

Beneficio Médio Mensal do Bolsa Família. Podemos ver que este Beneficio Médio Familiar

do programa Bolsa Família corresponde a 51,6% da renda per capita mensal do Município.

Tabela 15 - Comparação entre renda per capita e beneficios do BF

Indicador PopulaçãoRenda Per Capita Anual - RPCA 1.518Renda Per Capita Mensal - RPCM 127Benefício Médio Familiar Mensal - BMFM 65BMFM / RPCM 51,6%

Fonte: SEI, CGU

Estas informações são de fundamental importância, pois devido à elevada desigualdade na

distribuição de renda no local torna-se alvissareiro o fato de uma parcela expressiva da

população obter tal rendimento via transferências para o combate da pobreza e indigência.

Se considerarmos o arranjo familiar típico10 o número de pessoas diretamente beneficiadas

com este incremento de renda é de 6.448 pessoas ou 47,7% da população, conforme a

Page 44: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

43

Tabela 16,o que significa afirmar que o Bolsa Família exerce influência sobre a cesta de

consumo de quase metade da população do Município.

Tabela 16 - População beneficiada com o BF em Pé de Serra

Indicador PopulaçãoPopulação total do município 13.531Familias beneficiadas 1.612População total beneficiada 6.448Pop. Benef. / Pop. Total 47,7%

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, CGU

Podemos dizer que a implicação mais imediata desta afirmação é o fato destas transferências

proporcionarem a estas famílias a condição de agentes ativos nos mercados locais. Podendo

alocar seus escassos recursos entre os bens que melhor se adeqüem às suas necessidades,

respeitadas as restrições orçamentárias e as preferências de cada família. Estas preferências

diferenciadas são demonstradas na pesquisa de campo realizada no Município e cujos

resultados serão apresentados e discutidos na próxima seção. Isto sem falar dos efeitos sobre

a população ocupada na oferta de bens e serviços para a qual são dirigidos os recursos

monetários.

5.2 A PESQUISA DE CAMPO

Veremos agora os resultados obtidos na pesquisa de campo realizada através de entrevistas

na cidade de Pé de Serra. O objetivo da pesquisa foi o de coletar as informações diretamente

das famílias beneficiárias das transferências e dos comerciantes locais a fim de identificar os

impactos reais nos seus padrões de renda, de atividade e nos seus hábitos. Os questionários

foram aplicados durante o mês de outubro de 2005, diretamente aos ofertantes e

demandantes de bens e serviços.

5.2.1 Análise dos impactos sobre a demanda

Neste grupo foram aplicados 35 questionários contendo 10 questões objetivas sobre a

composição familiar, renda e hábitos de consumo. Os pontos relevantes da pesquisa serão

abordados na seqüência. As residências foram escolhidas aleatoriamente tendo como única

pré-condição para a sua escolha a existência de beneficiários do programa Bolsa Família. O

tamanho da amostra fixado em 35 famílias foi definido arbitrariamente em mais ou menos

Page 45: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

44

2% das 1.612 famílias informadas pelo MDS11 como beneficiárias do BF.

A primeira questão visou identificar a estrutura do arranjo familiar buscando-se a

informação do número de pessoas residentes em cada domicilio da pesquisa. A média de

habitantes por domicílio encontrada foi de 5 pessoas.

Gráfico 4

N° de pessoas residindo no domicílio

3%11%

75%

11%

≤ 2 pessoas ≥ 3 ≤ 6 pessoas ≥ 7 ≤ 10 pesoas > 10 pessoas

Gráfico 4 – Pessoas residentes por domicílio Fonte: Dados da pesquisa de campo.

De acordo com o Gráfico 4, verificamos que 75% das famílias são compostas por um

número entre 3 e 6 pessoas. De posse deste número é possível estimar a quantidade de

pessoas que se beneficiam efetivamente do BF. Através de um simples exercício de

agregação encontramos o percentual de 89% das famílias compostas por 3 pessoas ou mais.

Se utilizarmos os valores médios das classes da distribuição de freqüência desta amostra

como ponderadores para uma nova estimativa do número de beneficiários do Bolsa Família

no Município, encontraremos um total de 7.093 beneficiários para o programa.

O exercício mencionado acima é demonstrado na Tabela 17, como pode ser visto, o que

fizemos foi apenas multiplicar a quantidade de famílias contempladas pelo programa BF

utilizando os percentuais encontrados na amostra como seus respectivos pesos. A conclusão

proporcionada pelo exercício foi a obtenção de um número maior de beneficiários do que

Page 46: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

45

aquele obtido a partir do arranjo familiar típico do IBGE que havia sido de 6.448 pessoas.

Tabela 17 - Estimativa dos beneficiários do BF em Pé de Serra.

N° de famílias contempladas

pelo Bolsa Família

% de famílas

compostas pela

respectiva média de pessoas

Média do intervalo de

classe da distribuição

familiar

Quantidade de

beneficiários do BF por

classe familiar

1.612 11% 2 368 1.612 74% 4 4.790 1.612 11% 8 1.474 1.612 3% 10 461 1.612 100% 7.093

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Com relação à composição da renda familiar elaboramos questões a fim de estabelecer as

principais variáveis que a compõem. Apresentamos a seguir as principais informações

obtidas em relação à renda familiar.

Procuramos aferir a ocorrência de contribuições enviadas por parentes que residem em

outros municípios. Sobre este tipo de recebimento de ajuda financeira 60% das famílias

responderam positivamente, conforme o Gráfico 5. Apesar da enorme variação dos valores

declarados entre as famílias e da falta de regularidade na freqüência do recebimento, esta

informação é importante para identificar a composição da renda das famílias estudadas. Em

geral, as contribuições são enviadas por parentes que migraram por motivo de trabalho para

os grandes centros urbanos (notadamente São Paulo e Rio de Janeiro) e ainda planejam

retornar a sua cidade natal.

Gráfico 5

Page 47: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

46

Recebe renda de parente residente n'outra cidade?

Não60%

Sim40%

Gráfico 5 – Proporção de famílias que recebem renda de residentes fora da cidade

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Quanto à responsabilidade do sustento da família constatamos que esta tarefa é realizada

pelos homens em 60% dos casos, cabendo a mãe em 31% e nos outros 9% cabe aos avós,

conforme Gráfico 6.

Gráfico 6

Principal responsável pelo sustento da família

Avós9%

Mãe31%

Pai60%

Gráfico 6 – Principal responsável pelo sustento da família

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Em relação a principal fonte de renda familiar o percentual atribuído à renda obtida com o

Bolsa Família foi significativo. Tal percentual é menor que o da renda proveniente do

trabalho que participa com 29% e o de Outras fontes 34%.

Page 48: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

47

Gráfico 7

Fonte principal da renda familiar

Trabalho29%

Bolsa Família23%

Aposentadorias14%

Outros34%

Gráfico 7 – Principal fonte de renda familiar

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Vale ressaltar que Outras fontes agrega diversas atividades como: comércio ambulante,

bicos, etc., enquanto a renda proveniente de Trabalho foi considerada apenas aquela

realizada mediante vinculo empregatício habitual. A outra fonte de renda citada foi a de

aposentadorias.

Gráfico 8

Renda familiar excluindo o Bolsa Família

23% 31%

35%11%

≤ 200,00 ≥ 200,01 ≤ 300,00

≥ 300,01 ≤ 400,00 ≥ 400,01

Gráfico 8 – Proporção de famílias com renda familiar segundo faixas selecionadas. Fonte: Dados da pesquisa de campo.

A variável renda familiar apresentou-se distribuída conforme os percentuais verificados no

Gráfico 8. Agregando as faixas que recebem até 1 salário mínimo encontramos o percentual

Page 49: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

48

de 66% das famílias, ou seja, 2/3 das famílias recebendo no máximo R$ 300,00 para

satisfação de todas as suas necessidades. O outro terço é composto por famílias que

compostas de mais de um aposentado, proprietários de pequenos negócios como barracas de

feira, etc.

O Gráfico 9 apresenta em que os beneficiários do BF gastam os recursos recebidos.

Podemos verificar um elevado grau de responsabilidade na utilização dos recursos. Uma das

explicações para este fato pode estar na preferência da titularidade do benefício nas mão das

mães de família. Este fato reflete a preocupação de o recurso não ser desviado para usos

inadequados, como por exemplo, bebidas alcoólicas.

Gráfico 9

Como é gasta a renda do Bolsa Família?

Outros6%

Mat. Escolar20%

Remédios11%

Alimentos63%

Gráfico 9 – Destinação da renda recebida do Bolsa Família.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Os resultados encontrados são os seguintes. Entre as famílias entrevistadas 63% afirmaram

utilizar os recursos para a aquisição de alimentos. Em seguida, com 20% consta o item

material escolar e remédios 11%. Outros gastos somaram 6% compreendendo esta

modalidade de gasto itens importantes como água, luz, gás e até óculos. Serve também para

quitar dívidas em atraso decorrentes da retenção de salários dos funcionários públicos da

prefeitura.

Complementando o questionário buscamos identificar se o incremento de renda

proporcionado pelo Bolsa Família propiciou melhoria nos padrões de pagamento das

aquisições realizadas pelas famílias. Constatamos que as famílias entrevistadas não tinham

uma compreensão muito clara sobre esta variável. Uma explicação para esta situação é o

Page 50: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

49

fato de a folha do funcionalismo municipal encontrar-se em atraso há cinco meses. De

qualquer modo as famílias, em geral declaravam que se não estivessem recebendo os valores

dos benefícios estariam passando fome.

Gráfico 10

Como costuma pagar as compras no comercio local?

Fiado69%

A vista31%

Gráfico 10 – Modalidade de pagamento de compras.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Ainda sobre a questão dos padrões de pagamento, através do Gráfico 10 verificamos que

69% das famílias realizam compras no comércio local utilizando-se da modalidade do fiado,

prática culturalmente muito difundida no local. Os demais 31%, realizam as compras

pagando à vista, e mesmo assim sob a alegação de que só o fazem por não disporem de

crédito nos estabelecimentos comerciais em função de suas rendas reduzidas.

5.2.2 Análise dos impactos sobre a oferta

Até aqui apresentamos os dados referentes à pesquisa realizada com as famílias, vamos

agora analisar os dados obtidos através do questionário de oferta aplicado nos

empreendimentos urbanos localizados na cidade de Pé de Serra/Ba.

Para este grupo foram aplicados 15 questionários contendo 10 questões objetivas sobre:

faturamento, composição da clientela, criação de empregos, concorrência e inadimplência.

Os estabelecimentos foram escolhidos de maneira aleatória contemplando os dedicados a

bens de consumo básicos.

Procuramos identificar a importância do BF para a economia local. Partindo deste objetivo

fizemos o questionamento de maneira direta aos comerciantes da cidade e obtivemos uma

Page 51: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

50

resposta afirmativa de 87% destes enquanto 13% afirmaram que o BF não exerce nenhum

tipo de influência sobre seus negócios.

Gráfico 11

Você considera o BF importante para o seu negócio?

Não13%

Sim87%

Gráfico 11 – Importância do BF para o desempenho do negócio Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Em relação à participação dos beneficiários do BF na composição da clientela dos

empreendimentos, solicitamos aos proprietários uma estimativa desta participação, pois

sabemos que neste tipo de cidade a maioria das pessoas são conhecidas, o que é evidenciado

pelo fenômeno do “fiado” como principal modalidade de pagamento nas transações entre os

agentes econômicos locais e que mais adiante discutiremos.

O Gráfico 12 contém os percentuais relativos a participação dos beneficiários do BF na

clientela dos estabelecimentos da pesquisa. Os valores encontrados confirmam a importância

das transferências para a economia local. Apenas 13% dos comerciantes declararam não

realizar transações comerciais com os beneficiários do BF e os demais apontaram

percentuais variados de participação dos mesmos entre a sua clientela, como se verifica

através do Gráfico 12.

Os negócios com maior participação de beneficiários do BF são aqueles dedicados ao

comércio de alimentos, como por exemplo, supermercados, padarias e lanchonetes. Os que

apontaram a ausência destes foram os estabelecimentos dedicado à comercialização de

bebidas alcoólicas e um outro dedicado ao ramo de confecções.

Gráfico 12

Page 52: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

51

Os beneficiários do BF representam qual percentual de sua clientela?

3/4 13%

1/2 13%

1/4 61%

Zero13%

Gráfico 12 – Percentual de clientes beneficiários do BF

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Um outra indagação na tentativa de aferir a importância do BF no desempenho dos negócios

na cidade está demonstrada no Gráfico 13. Indagados sobre a ocorrência de melhora ou

piora nos seus negócios após a implantação do BF, apenas em 7% dos estabelecimentos

entrevistados ocorreu piora de desempenho, em 27% não ocorreu nenhuma melhora e nem

piora. A maioria (66%) experimentou algum tipo de melhoria, em 20% houve pouca

melhora e 46% afirmaram a ocorrência de uma grande melhora nos negócios. Esta última

afirmação foi mais freqüente nos estabelecimentos de menor porte, a exemplo de bancas de

lanches e barracas de feira.

Gráfico 13

Após o BF seu negócio melhorou?

Piorou7%

Nãomelhorou

27%

Melhoroupouco20%

Melhoroumuito46%

Gráfico 13 – Impacto do BF no desempenho do negócio

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Os que declararam piora não a atribuíram aos desdobramentos do BF, mas a outras

circunstâncias de naturezas diversas.

Page 53: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

52

Como os sistemas estatísticos não dispõem de informações confiáveis sobre a atividade

econômica no Município principalmente no que concerne ao número de empregos e

empresas estabelecidas no local, optamos por verificar os impactos sobre o mercado de

trabalho e concorrência diretamente nos estabelecimento pesquisados.

Os impactos do BF foram pouco significativos sobre o nível de empregos. Entre os 15

estabelecimentos pesquisados apenas 2 declararam a criação de algum posto de trabalho

após a implantação do BF, porém sem associá-los diretamente aos impactos do programa.

Esta situação justifica-se pelo fato de que a quase totalidade das empresas existentes na

localidade são do tipo familiar, observando-se in loco a presença de varias gerações

ocupando os poucos postos de trabalho existentes.

Em relação à concorrência, dois terços dos entrevistados afirmaram que a concorrência

aumentou. Esta elevação da concorrência é atribuída ao fato do surgimento de novos

estabelecimentos em todos os ramos pesquisados principalmente em supermercados. Vale

ressaltar que estes dados são atribuídos de acordo com a experiência empírica dos

entrevistados e não foram confrontados pelos dados oficiais devido à predominante

informalidade da atividade econômica municipal.

Tabela 18 - Impactos do BF nos indicadores selecionados de desempenho.

Indicador Variação

Aumento nas vendas 67%Diminuição da inadimplência 40%Maior n° de clientes 67%Variedade de produtos 47%

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Fatores positivos no desempenho dos negócios foram apontados pelos pesquisados e estão

apresentados de maneira bem resumida na Tabela 18. A expressiva melhoria dos indicadores

deve ser analisada com cautela em função desta melhora derivar de estimativas na base do

“achismo”. Uma segunda ressalva é que estas melhorias não ocorreram nesta ordem de

grandeza para cada estabelecimento e sim para a amostra como um todo, o que explica o

Page 54: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

53

somatório dos percentuais maior que 100%.

A Tabela 19 contém a distribuição dos produtos mais vendidos aos beneficiários do BF. Não

encontramos a ocorrência de vendas de bebidas alcoólicas e cigarros mesmo tendo incluído

ofertantes de tais produtos na pesquisa. A segunda conclusão a respeito da composição da

cesta de bens adquirida com os recursos da transferência é que os dados são compatíveis

com os percentuais informados na pesquisa de demanda ressalvadas pequenas variações.

Tabela 19- Produtos mais vendidos aos beneficiários do BF

Produtos Adquiridos Percentual

Alimentos 53%Material escolar 20%Remédios 13%Roupas e calçados 13% Fonte: Dados da pesquisa de campo.

Uma comparação interessante entre dados obtidos nos questionários de demanda e de oferta

refere-se aos dados relativos à modalidade de pagamento de compras. De acordo com o

Gráfico 12 os demandantes afirmaram que pagam suas compras à vista em 31% das

oportunidades. Porém, de acordo com os ofertantes este percentual é de 20%. Estes

percentuais demonstram a reduzida monetização das trocas no local.

Trata-se de uma prática transmitida entre gerações. O que significa dizer que tanto os

clientes quanto os fornecedores unem-se por laços de relacionamento que são passados de

pai para filho o que ainda é muito comum no interior baiano. Cada estabelecimento mantém

uma “caderneta” onde são anotadas as compras realizadas para uma posterior liquidação.

Vale ressaltar que apesar da divergência no percentual de pessoas que se utilizam deste

artifício para realização das compras, a melhoria do crédito e da inadimplência foi apontada

tanto por ofertantes como por demandantes como indicadores que apresentaram melhoria

após o BF.

6 CONCLUSÕES

Page 55: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

54

A análise desenvolvida neste trabalho sobre as repercussões do programa Bolsa Família na

economia de subsistência do Município de Pé de Serra permitiu constatar o grau de

importância das transferências de renda para este tipo de economia.

Acreditamos que a questão da pobreza é de grande relevância para o país e os seus efeitos

sobre a sociedade e a economia devem ser equacionados para que as futuras gerações

experimentem um padrão de vida médio mais elevado que o atual.

As diversas abordagens da pobreza analisadas proporcionaram um entendimento das

dimensões do problema, com desdobramentos sobre os planos internacional, nacional,

regional e local. É relevante mencionar que qualquer que seja a abordagem utilizada na

analise da questão, os números acerca da população submetida às condições de pobreza e

indigência são muito elevados.

Conforme apontamos no segundo capítulo, a desigualdade e a forte concentração de renda

são as principais causas da pobreza no Brasil. Constatamos ainda, que esta pobreza

concentra-se mais intensamente nas pequenas cidades da Região Nordeste. Entendemos que

esta situação pode ser melhorada através de políticas de transferência de renda e combate à

pobreza como é o caso do Bolsa Família.

Apresentando uma diversidade de justificativas para serem implantadas, entendemos que a

ampliação e universalização destas políticas de transferência de renda são necessárias e

devem considerar todas as dimensões da questão da pobreza, assumindo papel estratégico

para o desenvolvimento nacional na medida em que se constituem mecanismos de combate

às desigualdades regionais e individuais.

Pudemos verificar que a execução de políticas de combate à pobreza na forma como são

operacionalizadas, via transferências diretas de renda às famílias e indivíduos pobres,

impacta positivamente a demanda de bens e serviços nas economias das pequenas cidades

caracterizadas pela predominância de atividades de subsistência.

Entre estes impactos destacamos a melhoria nos padrões de alimentação e educação da

população pobre, com resultados expressivos no combate a fome e desnutrição. Ressaltamos

que os resultados obtidos ainda são modestos, apresentando impactos significativos apenas

Page 56: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

55

sobre a população em situação de pobreza extrema.

Destacamos que a eficiência das políticas de combate à pobreza, caracterizadas pela

transferência direta de renda às famílias em situação de extrema pobreza, decorre em grande

medida da ausência de intermediários entre o governo e o público alvo, contribuindo para

diminuição da corrupção e dos desvios de recursos.

Os dados colhidos e apresentados neste trabalho evidenciam a importância das políticas para

famílias, comerciantes e população em geral da localidade pesquisada, pois compreendemos

que qualquer melhora na distribuição de renda gera impactos positivos na bem estar da

sociedade como um todo.

A grande dificuldade na pesquisa pode ser atribuída ao caráter transitório das políticas

implantadas até o momento, em decorrência, os dados existentes não permitem ainda

inferências conclusivas em definitivo sobre o desempenho das políticas de transferência

quanto aos seus efeitos diretos sobre a oferta e demanda de bens e serviços nas localidades

atendidas, bem como quanto a diminuição da desigualdade.

Em virtude destas últimas considerações, acreditamos que num futuro próximo novas

pesquisas devam ser realizadas visando corroborar as conclusões aqui apresentadas.

REFERÊNCIAS

ARBACHE, J. S. Pobreza e Mercados no Brasil: uma análise de iniciativas de políticas

Page 57: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

56

públicas. Brasília: CEPAL. Escritório no Brasil/DEFID, 2003.

BARROS, R. P.; HENRIQUES, R.; MENDONÇA, R. A estabilidade inaceitável:

desigualdade e pobreza no Brasil. Brasília: IPEA, 2001. (Texto para discussão, 800)

Disponível em: http://www.ipea.gov.br acesso em: 20/03/2005.

BARROS, R. P.; CARVALHO, M. Desafios para a política social brasileira. Brasília:

IPEA, 2003. (Texto para discussão, 985) Disponível em: http://www.ipea.gov.br acesso em:

20/03/2005.

BELTRÃO, K. I.; CAMARANO, A. A.; MELLO, J. L. Mudanças nas condições de vida

dos idosos rurais brasileiros: resultados não-esperados dos avanços da seguridade rural.

Brasília: IPEA, 2005. (Texto para discussão, 1066) Disponível em: http://www.ipea.gov.br

acesso em: 28/06/2005.

BUARQUE, Cristovam. A Segunda Abolição: a erradicação da pobreza no Brasil. In:

VELLOSO, João Paulo dos Reis; ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de (Orgs.)

Pobreza, cidadania e segurança. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.

DEL GROSSI, M. E.; SILVA, J. G.; TAKAGI, M. Evolução da pobreza no Brasil

1995/99. Campinas: IE/UNICAMP, 2001. (Texto para discussão, 104) Disponível em:

http://www.eco.unicamp.br/publicacoes/textos/t104.html acesso em: 20/03/2005.

IBGE, Indicadores Sociais Municipais: uma análise dos resultados da amostra do Censo

Demográfico 2000 Brasil e Grandes Regiões. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br acesso em: 05/03/2005.

LAVINAS, L; VARSANO, R. Programas de garantia de renda mínima e ação

coordenada de combate à pobreza. Brasília: IPEA, 1997. (Texto para discussão, 534)

Disponível em: http://www.ipea.gov.br acesso em: 20/03/2005.

LOPES, H. M, MACEDO, P. B., R., MACHADO. A. F. - Indicador de pobreza: aplicação

de uma abordagem multidimensional ao caso brasileiro. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar,

2003. (Texto para discussão, 223) Disponível em: http://www.cedeplar.ufmg.br acesso em:

20/04/2004.

Page 58: OZÓRIO CARNEIRO DE OLIVEIRA IMPACTOS DO BOLSA …³rio... · Ficha catalográfica elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB 5-707 Oliveira, Ozório Carneiro de. O48 Impactos do bolsa

57

MEDEIROS, M. A geografia dos ricos no Brasil. Brasília: IPEA, 2004. (Texto para

discussão, 1029) Disponível em: http://www.ipea.gov.br acesso em: 20/03/2005.

REZENDE, F.; TAFNER, F. (eds.) Brasil: o estado de uma nação, 2005. Rio de Janeiro:

IPEA, 2005. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/Destaques/brasil/CapIII.pdf acesso em:

19/10/2005.

SALAMA, P. VALIER, J. Pobrezas e desigualdades no Terceiro Mundo. São Paulo:

Nobel, 1997.

SANDRONI, P. Novo Dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1994.

SEI, Perfil financeiro dos municípios baianos: 1993 a 2000. Salvador: SEI; TCM, 2004.

Disponível em: http://www.sei.ba.gov.br acesso em: 20/06/2005.

SUPLICY, Eduardo. Programa de garantia de renda mínima. Brasília: Gráfica do

Senado Federal, 1992.