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GASPAR DA NOITEf a n t a s i a s à m a n e i r a

d e R emb r a n d t e C a l l o t

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Aloysius Bertrand

GASPAR DA NOITEfantas ias à maneira

de Rembrandt e Cal lot

tradução e apresentação

Aníbal Fernandes

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TÍTULO DO ORIGINAL: GASPAR DE LA NUIT,

FANTAISIES À LA MANIÈRE DE REMBRANDT ET CALLOT

© SISTEMA SOLAR, CRL

RUA PASSOS MANUEL, 67B, 1150-258 LISBOA

tradução © ANÍBAL FERNANDES, 2017

NA CAPA: GUILHERME GERALDES, COLAGEM COM REMBRANDT E CALLOT (2017)

REVISÃO: ANTÓNIO D’ANDRADE

1.ª EDIÇÃO, JUNHO DE 2017

ISBN 978-989-8833-18-1

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Ao Rui Mário Gonçalvesque me pedia para traduzir este livro

André Breton chamou-lhe — quando quis enunciar no seuPrimeiro Manifesto os precursores do movimento — «surrealistano passado».Aloysius Bertrand é, de facto, um inventor de passados, não

exactamente dos conhecidos com as precisões da História e daLenda, mas presos a essas fontes pela liberdade da sua imaginação.Tenha embora nascido em 1807 no Céva, Piémont, cedo foi paraDijon, a cidade da Borgonha que ele veio a adoptar até ao maisfundo de si e o contaminou com aragens medievais portadoras deuma extravagância de alquimistas, feiticeiros, monges, mendigos,bandidos (a querer-se mais pormenor, seria grande o cortejo), osque povoam e conferem vasta razão ao seu Gaspar da Noite.Primeiro filho de um tenente da polícia loreno e de uma mãe

italiana, o mais velho de quatro irmãos, e com um tardio e literá-rio Aloysius sobreposto aos bastante mais comuns Louis-JacquesNapoléon que o baptismo lhe deu em 1807, reduzidos a Louis nassuas intervenções literárias anteriores ao póstumo e célebre Gasparda Noite.Em Dijon, Louis Bertrand foi desde cedo «dado a literaturas»

seduzidas pelo que poderá chamar-se pitoresco gótico, primeiro

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numa poesia que se lembrava constantemente do Victor Hugo maissombrio, mas também de Musset, até se inventar numa prosa «di-ferente», alinhada em estrofes que procuravam um ritmo mas de-cididas a não querer confundir-se com poesia, com bem marcadogosto por palavras pouco ouvidas ou de um passado que a línguaesqueceu. Este difícil e ambíguo campo de caça fê-lo suportar maistarde a designação de «inventor do poema em prosa francês» —ele, que sempre chamou prosa à experiência da sua obra e todos osesforços fez para a não confundirem com poesia. (Dir-se-á quemuito mais satisfação sentiria se lhe chamassem inventor «da prosaem poema francesa».)Baudelaire lembrou-se dele quando publicou Le Spleen de

Paris e escreveu na dedicatória a Arsêne Houssaye: «Tenho umapequena confissão a fazer-lhe. Ao folhear pela vigésima vez, pelomenos, o famoso Gaspar de la Nuit de Aloysius Bertrand […] éque tive a ideia de tentar qualquer coisa análoga e de aplicar àdescrição da vida moderna, ou antes, a uma vida moderna e maisabstracta, o processo que ele aplicou à pintura da vida antiga e es-tranhamente grotesca.»Anos mais tarde, quando Max Jacob publicou Le Cornet à

dés, voltou à necessidade de relembrar o território marcado porAloysius Bertrand: «Neste momento considero como [inventores dopoema em prosa] Aloysius Bertrand e Marcel Schwob, autor de LeLivre de Monelle. Ambos têm estilo e margem, quer dizer, com-põem e situam. Reprovo a um [Bertrand] o seu romantismo “à ma-neira de Callot”, como ele lhe chama, com atenção voltada paracores demasiado violentas que põem sobre a própria obra um véu.De resto, ele considerava esses pedaços como bocados de uma obra,e não delimitadas obras.» Se podemos não concordar com a evi-

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dência de as cores violentas de Bertrand cobrirem a sua obra comum véu, a esta discutível observação é acrescentada a outra, lúcidae irrecusável, de que as suas peças não são «delimitadas». Gasparda Noite deve ser sentido e avaliado no seu todo e não em cadauma, isoladamente, das peças que o compõem.Em Dijon, Bertrand mostrou no jornal literário Le Provin-

cial, com vida curta de um ano, cerca de vinte fragmentos que vi-riam a pertencer ao seu livro. Causaram a estranheza e a surpresade uma «novidade», intrigaram alguns intelectuais de Paris. Queestranhos eram, mostrados naquele nem-prosa-nem-verso; que tipode livro formariam se alguma vez chegassem a coleccionar-se aolongo das suas páginas.Mas Louis Bertrand também se exercia como jornalista repu-

blicano e romântico, farto de Luís XVIII e Carlos X, a suspirarpor uma nova forma política com homens e realidades que deseja-ria ver triunfar no seu país mas avessas, arriscamo-nos a dizê-lo,aos fantasmas medievais que lhe povoavam com persistência aimaginação e modelavam com singularidades o comportamento.A província de Dijon fez-se acanhada para as ambições deste

programa político, para este sonho de literatura. Travava-se em Parisa luta anti-monárquica que contava, e viviam lá Victor Hugo,Mallarmé, Sainte-Beuve… aqueles a quem desejava mostrar-se emversos, em prosas de indecisão entre dois géneros habitualmente sepa-rados por uma linha tensa, fronteira de duas disciplinas que elesonhava confundir obrigando o que era apenas prosa à concentração,aos ritmos e a sonoridades até ali só exigências formais da poesia.Em Novembro de 1828, com vinte e um anos de idade e muitas

ilusões de êxito, Louis Bertrand desce em Paris, instala-se no Hotelde la Normandia e comparece em sessões públicas onde brilham

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Hugo, Nodier, Deschamps e muitos outros. Victor Hugo seduz-secom a sua «diferença», Sainte-Beuve interessa-se pela sua obra efaz-lhe algumas promessas; mas Paris é cruel para as suas escassaspossibilidades de trabalho remunerado. Chega a assustar a sua mãecom uma carta onde escreve: Não tenho, a bem dizer, sapatos,tenho a parte da frente do casaco muito usada. […] Foi o meufato que me fez, em parte, desperdiçar o contacto com VictorHugo e os seus amigos.Este Paris que o aproxima da fome e da indigência, devolve-o

a Dijon; e ela recebe-o com uma generosidade oposta aos maustratos da capital. Começa por oferecer-lhe um posto de gerência dojornal Le Spectador, onde o feroz republicano sente o seu ardorincompatível com as moderadas posições a que tem ali de obedecer.Melhor será Le Patriote de la Côte d’Or, onde é aceite como di-rector e guerreiro de palavras (a pouca distância do confronto físico)com um alvo preferido que é Le Spectador. A sua notoriedade lo-cal chega nesse ano a um dos palcos da cidade, que representa ecanta um vaudeville de sua autoria; mas estas glórias provincianasnão o demovem de um regresso a Paris. Dijon, a gótica Dijon quepaira sobre as maiores inspirações da sua literatura, destina-se anão mais do que presença virtual numa carreira que precisa daproximidade de grandes escritores, de um acesso directo a grandeseditores.Em 1833 Louis Bertrand instala-se de vez na capital, onde

permanecerá durante os nove anos que a sua tuberculose, bem aju-dada pelas fatalidades típicas de um romântico poeta de man-sarda, lhe permitirá viver. Sainte-Beuve recorda-o, já nessa fase dedegradação física, como «um grande e magro homem, com peque-nos e vivos olhos negros, fisionomia maliciosa e fina, sem dúvida,

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um pouco insignificante, talvez, e com um riso silencioso.» MasVictor Pavie (também ele escritor e, ao mesmo tempo, editor mar-ginal), é mais extenso: «O seu ar desajeitado, fora das normas eingénuo, as suas deficiências no equilíbrio e na postura, traíam al-guém que fugia da província. Adivinhava-se o poeta no mal con-tido fogo dos olhos errantes e tímidos. […] Quanto à expressão dafisionomia, onde um qualquer diletantismo exaltado se combi-nava com um ar taciturno e um tanto selvagem, era muito fácilreconhecê-lo como vítima do ideal e do capricho que, expulsos doseu território por incompatibilidade de raça, vão procurar em Pa-ris a miséria ou a sorte.»Paris só faz dele colaborador obscuro de menos conhecidos jor-

nais, acidental secretário do barão Roederer, velho amigo do seupai, e leva-o a receber (impensável paradoxo naquele que é tãoaguerrido republicano) uma oferta de cem francos da rainha Amé-lie, mulher de Luís Filipe condoída perante o seu mal reconhecidotalento. E, azar supremo, a mais baixo resvala a sua situação fi-nanceira quando se vê obrigado, por morte do seu pai, a sustentaraquela mãe e aquela irmã castradoras e que tão mal sabem agra-decer-lhe os sacrifícios.Entre tantas más sortes de Paris, houve a da sua peçaDaniel,

baseada no romance The Antiquary de Walter Scott, recusada porvários teatros. Mas Gaspar da Noite, esse, pareceu-lhe iluminadopor outra estrela quando o viu aceite pelo editor Eugène Renduel,e a sua publicação incondicionalmente defendida pelo escultor Da-vid d’Angers, um fiel amigo até ao fim da sua vida e, com ele jámorto, o autor do busto que continua a celebrá-lo em Dijon.Mas Renduel: se é editor descentrado e capaz de saber valorizar

quem brilha nas margens, não lhe faltam hesitações, subtilezas, recuos

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que fazem Gaspar da Noite estar, mas também não estar, prestes aser editado; e Louis Bertrand: se é um autor assombrado pela urgênciade ver o seu livro editado, não hesita em cortar, acrescentar, emmodificar-lhe por completo o plano. O que tinha sido um conjuntode versos e prosas, passa a ser não mais do que prosas; o que tinhasido uma colecção de sessenta e quatro textos, reduz-se a cinquentae um; desordem muito sua e reconhecida por uma memória deFrédéric, seu irmão mais novo: «Nervoso em excesso, dotado deuma imaginação ardente, de um carácter bizarro e variável, comum cérebro em imparável ebulição, faltava a Louis o espírito me-tódico de quem classifica; apanhava em pleno voo uma das ideiasque o assaltavam, atirava-a para um lenço de papel e voltava alançá-la naquela fornalha, para tirar de lá outra. Tudo o que fossebom para os seus pensamentos — velhos sobrescritos de cartas,margens de jornal, pedaços de papel, últimas páginas amareleci-das, arrancadas de um alfarrábio — lhe servia. A sua pequenamesa esteve juncada de rascunhos com rasuras, rasgados e cobertoscom uma letra fina e ilegível.»Num dia de vitória sobre esta inconstância, Louis Bertrand

considerou o seu manuscrito concluído. Passava nessa época de umhospital a outro, vivia ao sabor das investidas da sua tuberculose,e foi de um desses leitos que acolhiam os desesperos da sua enfermi-dade que o enviou a David d’Angers: Este manuscrito […] dir--lhe-á quantos instrumentos os meus lábios experimentaram,antes de chegar ao que dá a nota pura e expressiva, quantospincéis usei na tela, antes do nascimento da vaga aurora doclaro-escuro. Estão lá consignados diversos procedimentos, tal-vez novos, de harmonia e cor, único resultado e única recom-pensa que as minhas elucubrações obtiveram.

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Em Março de 1841, um mês antes de morrer, Louis Bertrandescreveu numa carta datada do hospital de La Pieté: Estou comum pé e meio na cova, mas tranquilo e resignado como umdoente onde a paixão, ao mesmo tempo que a vida, se apaga.Bertrand recuperou, no entanto, paixão e vida para escrever versos(os quarenta e seis poemas póstumos de La Volupté, que lhe pare-ceram correctos mas sem originalidade), para sentir urgência napublicação do eternamente adiado Gaspar da Noite. Renduel jánão seria, porém, seu editor; estava falido, e para devolver o ma-nuscrito em seu poder exigia os cento e cinquenta francos (nessaépoca uma quantia avultada) adiantados por contrato. Logo a se-guir outro editor lhe apareceu, decidido a satisfazer a exigência deRenduel, mas pondo como condição alguns cortes. Numa das últi-mas cartas que Bertrand escreveu antes de morrer, lamenta-se:M. Victor Pavie exige que eu retire do livro alguns textos ecorte algumas frases. De toda esta controvérsia resultou, pelo me-nos, uma versão suavizada de «O Capitão Lazare».Louis Bertrand é de novo internado a 11 de Março de 1841,

agora no Hospital Necker; e a 29 de Abril, quando David d’An-gers vai fazer-lhe uma visita, é dissuadido pela enfermeira de ser-viço com esta informação: «Não vale a pena, o senhor do n.º 6morreu.»Esta morte venceu todos os entraves instalados no percurso de

Gaspar da Noite, fantasias à maneira de Rembrandt e Callot, eo livro surgiu em Novembro de 1842, com erros de transcrição sóem edições futuras corrigidos, com uma apresentação bastante maissóbria do que a sonhada e acalentada pelo autor (existem indica-ções suas com pormenores sobre as reproduções de pinturas que de-viam acompanhar cada um dos cinquenta e um textos do livro).

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Esta edição, com chancela obscura e pouco eco no panorama edito-rial desses dias, só conseguiu vender, apesar do extenso prefácio deSainte-Beuve e da caução que o seu prestigiado nome conferia…vinte exemplares. Mas tinha assim nascido — com obscuro nasci-mento — o autor que assinara o seu manuscrito como Louis Ber-trand e passaria a ser, por conselho de Sainte-Beuve e Mallarmé, oAloysius Bertrand que estava na assinatura da maior parte dassuas cartas. Por decisão alheia, Louis Bertrand é hoje Aloysius Ber-trand: o autor deGaspar da Noite.Fez-se evidente, com a leitura, a sua colagem aos pintores que

o título e o Prefácio anunciam; porque nos seus trechos, tal comonas obras plásticas que visitavam a imaginação deste homem soli-tário, surgem delimitados um espaço e um tempo elípticos e lacu-nares, em estado de fragmento e miniatura. São trechos volunta-riamente insuficientes, no que respeita a exigências tradicionaisda literatura em prosa, e que cumprem de muito mais perto aquiloque a imaginação do observador extrai do momento fixado porum quadro figurativo. Na introdução a uma das edições deste li-vro, Jean Richer resume de forma muito hábil o que é o centro dasua estratégia literária: «Na sua prosa os espaços em falta consti-tuem, todos eles, praias de silêncio, pausas cheias de um ruído deintenções, virtualidades, pensamentos por exprimir. E, destaforma, em contraponto ao texto escrito elabora-se no cérebro doleitor um texto sub-jacente, não escrito. E a reunião entre o ex-presso e o que é suposto ou adivinhado constitui o sentido global ecompleto do texto.» Hoje, Gaspar da Noite é citado e estudado;são-lhe descobertas intenções e subtilezas que o autor nunca pôde,na sua áspera solidão e como ele próprio previu na dedicatória final a Charles Nodier, alguma vez imaginar.

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Aloysius foi sepultado na vala-comum do cemitério de Mont-parnasse, e seis anos mais tarde teve direito a um túmulo individual,pago a contragosto pela sua mãe quando lhe fizeram notar que umatal indiferença prejudicava a sua imagem e a da sua família.Todo o reconhecimento de Aloysius Bertrand é póstumo. E hoje

pode ser-lhe colada a etiqueta de «autor de culto», que levanta semprea suspeita de venerações alheias à verdadeira consciência crítica.Transbordou da literatura. René Magritte lembrou-se dele para umquadro que se inspira em «O Pedreiro», o segundo texto de Gasparda Noite; e em 1908 Maurice Ravel deu a conhecer em três momen-tos de piano «Ondine», «Scarbô» e «A Forca» (este pertencente à seriedos eliminados pelo autor na edição original). Para se compreendertodo este sortilégio vale a pena ouvir de novo André Breton: — «Eleprecipita-nos, desde o presente, num passado onde as nossas certezasnão tardam a cair em ruínas.»

A.F.

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instruções ao senhor paginador

Regra geral. — Branquear como se o texto fosse de poesia.A obra está dividida em seis livros, e cada livro contém um maior ou

menor número de peças.O senhor paginador notará que cada peça está dividida em quatro,

cinco, seis e sete alíneas ou estrofes. Ele atirará com largos espaços para o meiodestas estrofes, como se fossem estrofes de versos.

Devo no entanto fazer notar que na última metade da obra, ou seja,ao começar o Quarto Livro, inclusivé, há várias peças que não estão, como asprecedentes, regularmente cortadas em estrofes e contêm frases dispersas,diálogos, etc. O senhor paginador branqueará as peças como lhe parecermelhor, de acordo com as indicações do manuscrito, mas sempre de formaa fazer-se entender e a dar um ar solto à matéria. — Tive o cuidado de lheassinalar estas peças no manuscrito com um x posto à margem. São em nú-mero de nove.

Peço-lhe que não se esqueça de colocar na paginação as estrelas queassinalo no manuscrito entre as estrofes de algumas peças, e que além dissoindicam a necessidade de um duplo espaço em branco.

Quanto às epígrafes de cada peça, e às notas de fim de página, peço-lheque sejam compostas com caracteres muito pequenos. Substituirá por asteris-cos, os números que dou a essas notas.

Quanto ao resto, é seguir as indicações do manuscrito.Enviar as provas de autor para o seguinte endereço: M. Louis Ber-

trand, rua Des Fossés-du-Temple, n.º 22 (perto do Bulevar Du Temple).

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Não te lembras, amigo, que naquele domingo, em Dijon, No caminho de Colónia, no coração da Borgonha,Admirámos campanários, pórticos e torres,E as velhas casas com pátios interiores?

Sainte-Beuve, Les Consolations

Torre góticaE flecha góticaNo céu do teu óculo.Acolá é DijonCom latadas joviaisSem haver outras iguaisE com sinos que uma vezChegaram a dez.Mais de uma litradaEle tem, esculpida ou pintada*;Mais de uma fachadaEle tem, que é um leque aberto.Dijon, Que muito me tardas*!Com camarguês alaúdeVou cantar tuas mostardasE o boneco Jacquemart* Que as horas te faz soar!

* — A todas as palavras ou expressões assinaladas com * corresponde umanota no fim do volume. (N. do T.)

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gaspar da noite

Gosto de Dijon como a criança de uma ama a quem chupao leite, como o poeta da adolescente que lhe iniciou o coração.— Criança e poesia! Como é uma efémera e enganadora a ou-tra! A criança é uma borboleta que se apressa a queimar asbrancas asas nas chamas da mocidade, e a poesia lembra-nos aamendoeira com flores perfumadas e amargos frutos.

Sentei-me um dia num recanto do jardim do Arcabuz1 —chamado assim por essa arma tantas vezes ter outrora assina-lado ali as graças dos cavaleiros do papegai*. Imóvel numbanco, é bem possível que me comparassem com a estátua dobastião Bazire. Esta obra-prima do figurista Sévaillée e do pin-tor Guillot representava um padre que lia sentado. No trajonada lhe faltava. De longe tomavam-no por um ser vivo, via-sede perto que era de gesso.

A tosse de alguém a passear dissipou-me o enxame dos so-nhos. Era um pobre diabo com um exterior que só anunciavamisérias e dores. Neste jardim eu já tinha reparado na sua so-brecasaca puída que se abotoava até ao queixo, no chapéu deum feltro sem forma e nunca escovado por nenhuma escova,no cabelo longo como o de um salgueiro e penteado como osmatagais, nas mãos descarnadas que pareciam ossuários, na

1 É neste jardim de Dijon que se encontra o monumento a Aloysius Bertrandcom a escultura reproduzida na página 4. (N. do T.)

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Aloy s i u s B e rt r and

fisionomia trocista, definhada e doentia, que uma barba naza-rena afilava; e as minhas conjecturas tinham-no incluído cari-dosamente entre esses artistas de meia tigela que tocam vio-lino, e os pintores de retratos que uma fome insaciável e umasede inextinguível condenam a correr mundo no encalço dojudeu-errante.

Agora éramos dois no banco. O meu vizinho folheava umlivro, e dessas páginas fugiu, contra vontade sua, uma flor seca.Apanhei-a para a devolver. O desconhecido agradeceu, levou-aaos seus lábios murchos e voltou a colocá-la no misterioso livro.

— Será, por certo, essa flor — aventurei-me a dizer-lho —o símbolo de um qualquer doce e sepultado amor? Ai de mim!Temos todos um dia no passado que desencanta o futuro!

— Sois poeta! — respondeu-me a sorrir.Tínhamos atado o fio da conversa. Em que novelo iria

agora enrolar-se?— Poeta, se é ser poeta procurar a arte!— Procurastes a arte! E foi encontrada?— Quisesse o céu que a arte não fosse uma quimera!— Uma quimera!… Também a procurei! — exclamou

com o entusiasmo do génio e a ênfase do triunfo.Pedi-lhe para me informar a que oculista devia a sua des-

coberta, já que a arte era para mim o mesmo que uma agulhanum palheiro.

— Resolvi — disse ele — procurar a arte como o rosa--cruz na Idade Média procurava a pedra filosofal. A arte, a pe-dra filosofal do século XIX!

«Comecei por ter uma pergunta a dominar-me a escolás-tica. Perguntava a mim próprio: O que é a arte?… A arte é a

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Ga s pa r d a No i t e

ciência do poeta… Tão límpida definição como um diamanteda mais bela água.

«Mas quais são os elementos da arte? Segunda pergunta, aque hesitei em dar durante vários meses uma resposta. Umanoite em que eu, na tenda de um alfarrabista, escavava à luz fu-marenta de um candeeiro a sua poeirenta cuba, desenterrei umpequeno livro em ininteligível língua barroca e de título braso-nado com uma anfisbena* que desenrolava numa bandeirolaestas duas palavras: Gott-Liebe*. Poucas moedas pagaram estetesouro. Trepei até à minha mansarda e ali, conforme eu ia des-cascando o livro enigmático à frente da janela e banhado porum luar, pareceu-me de repente que o dedo de Deus passavapelo teclado do órgão universal. As zumbidoras falenas assim selibertam do seio das flores com lábios que os beijos da noitedesmaiam. Saí pela janela e olhei para baixo. Que surpresa! Es-taria eu a sonhar? Num terraço com suaves emanações de laran-jeiras, com uma existência de que eu nunca tinha desconfiado,uma rapariga vestida de branco tocava harpa, e um velho ves-tido de preto rezava ajoelhado!… O livro caiu-me das mãos.

«Desci à casa dos inquilinos do terraço. O velho era umministro da religião reformada, que tinha trocado a fria pátriada sua Turíngia pelo morno exílio da nossa Borgonha. A intér-prete musical era sua filha única, loura e franzina beleza comdezassete anos a distrair um mal que a definhava; e o livro, queeu pedi para me devolverem, um eucológico alemão para usodas igrejas do ritual luterano, e com as armas de um príncipeda casa de Anhalt-Coëthen.

«Ah! Senhor, não vamos remexer numa cinza ainda nãoadormecida. Elisabeth já não passa de uma Beatriz com vestido

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azul-de-onda. Está morta, senhor, morta! E aqui tem o eucoló-gico onde ela derramava a sua tímida prece, a rosa onde exaloua sua alma inocente! — Flor que secou em botão, como ela! —Livro fechado como o livro do seu destino! — Abençoadas re-líquias que ela não vai menosprezar na eternidade, com lágri-mas que vão encharcá-las quando a trombeta do arcanjo tiverquebrado a pedra do meu túmulo e eu me atirar, para além detodos os mundos, até à virgem adorada, para me sentar enfimperto dela, sob os olhares de Deus!…»

— E a arte? — perguntei.— Era minha dolorosa conquista o que é sentimento na

arte. Eu tinha amado, eu tinha rezado. Gott-Liebe, Deus eAmor!… Mas o que é ideia na arte seduzia-me ainda a curiosi-dade. Acreditei que encontraria o complemento da arte na na-tureza; estudei portanto a natureza.

«Eu saía de casa de manhã e só à noite voltava a entrar. —Ora apoiado no parapeito de um bastião em ruínas, durantelongas horas a respirar o perfume selvagem e penetrante doalali* que salpica com os seus ramos de ouro o vestido de herada feudal e caduca cidadela de Luís XI, eu gostava de ver umgolpe de vento, um raio de sol ou uma bátega de chuva aciden-tarem a paisagem tranquila, o papa-figos e a passarada das sebesa divertirem-se no viveiro onde as sombras e as claridades seespalham, os tordos que chegam da montanha para vindimar avinha que é muito alta e densa para esconder o veado da fábula,os corvos que em bandos fatigados caem de todos os pontosdo céu sobre a carcaça de um cavalo abandonado pelo esfoladornum qualquer ponto baixo e verdejante; a escutar as lavadeirasque faziam o alegre rouillot* soar na margem do Suzon e a

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criança que cantava uma queixosa melodia enquanto dava vol-tas, na base da muralha, à roda do cordoeiro. — Ora eu abriaaos meus devaneios um caminho de musgo e orvalho, de silên-cio e quietude longe da cidade. Quantas vezes eu roubei as suasárvores podadas com frutos vermelhos e ácidos nos matagaismal afamados da fonte de juventude e do eremitério de NossaSenhora do Pântano, a fonte dos espíritos e das fadas, o eremi-tério do diabo! Quantas vezes apanhei o buzeno* petrificado eo coral fóssil nas alturas pedregosas de São José escavadas pelatempestade! Quantas vezes pesquei lagostins nos desgrenhadosvaus das Tilles*, entre os agriões que abrigam a salamandra ge-lada, e entre os nenúfares com indolentes flores que bocejam!Quantas vezes espreitei a cobra nas praias enlameadas de Sau-lons, que apenas ouvem o grito monótono da galinha selvageme o gemido fúnebre do mergulhão! Quantas vezes estrelei comuma vela as grutas subterrâneas de Asnières onde a estalactitedestila com lentidão a eterna gota de água da clepsidra dos sé-culos! Quantas vezes gritei com um corno nas rochas perpen-diculares de Chèvre-Morte, com a diligência a trepar penosa-mente o caminho de trezentos pés abaixo do meu trono denevoeiros! E mesmo à noite, nas noites de Verão balsâmicas ediáfanas, quantas vezes dancei a giga como um licantropo àvolta de um fogo aceso no vale ervoso e deserto, até as primei-ras pancadas do machado do lenhador abalarem os carvalhos.— Ah! Senhor, como a solidão tem para o poeta atractivos!Sentir-me-ia feliz se vivesse nos bosques sem fazer mais barulhodo que o pássaro a matar a sede na fonte, do que a abelha a de-bicar no espinheiro-alvar e do que a bolota com uma quedaque fura as folhas do chão!…»

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— E a arte? — perguntei.— Paciência!… A arte ainda estava nos limbos. Eu tinha

estudado o espectáculo da natureza; estudava os monumentosdos homens.

«Dijon nem sempre desfiou as horas ociosas nos concertosdas suas filarmónicas crianças. Envergou a cota de malha — pôsna cabeça o murrião — brandiu a partazana — desembainhou aespada — carregou com fulminante o arcabuz — assestou o ca-nhão nas muralhas — correu pelos campos a rufar o tambor ecom os estandartes rasgados — e tal como o menestrel, grisalhode barba, que pôs na boca a trombeta antes de tanger a rabeca,teve maravilhosas histórias de guerra para vos contar, ou antes— os seus bastiões a derrocarem, que enfiam as raízes folhosasdos seus castanheiros-da-índia numa terra misturada com des-troços — e o seu castelo desmantelado, com a ponte a tremersob o passo derreado da jumenta do gendarme que regressa àcaserna — tudo confirma dois Dijon — um Dijon de hoje,um Dijon de outrora.

«Não tardou que eu desentulhasse o Dijon dos séculos XIVe XV, à volta do qual corria uma baila de dezoito torres, oitoportas e quatro poternas ou portelles— o Dijon de Filipe o In-trépido, João sem Medo, Filipe o Bom, Carlos o Temerário —com as suas casas de adobe e empenas pontiagudas como o bonéde um bobo, fachadas barradas com cruzes de Santo André;mansões embastilhadas com finas seteiras, postigos duplos, al-pendres com o chão pavimentado de alabardas. — Com as suasigrejas, a sua capela sagrada, as suas abadias, os seus mosteirosque faziam procissões de tocadores de sino, flechas em agulha,que desdobrava como estandartes os seus vitrais de ouro e azul-

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a m. victor hugo

Não sabe a glória onde eu moroE sozinho canto a canção chorosaQue pra mim só tem encantos.

C. Brugnot, Ode

— Desprezo os vossos espíritos errantes,diz Adão, não me inquietam mais do quea águia se inquieta com um bando de pa-tos-bravos; todos estes seres se puseram emfuga desde que as cátedras foram ocupadaspor corajosos ministros e as orelhas dopovo se encheram com santas doutrinas.

Walter Scott, The Abbot, cap. XVI

Dentro de cem anos o livro grácil dos teus versos será,como hoje, o acarinhado bem das castelãs, dos donzéis e dosmenestréis*, florilégio de cavalaria, Decameron de amor queencantará as nobres ociosidades das mansões.

Mas este pequeno livro que eu te dedico sofrerá o destinode tudo o que morre depois de ter, talvez, uma manhã alegradoa corte e a cidade que pouco precisam para se divertir.

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Aloy s i u s B e rt r and

Lembre-se então um bibliófilo de exumar esta obra cheiade bafio e roída pelos vermes, e leia na primeira página o teunome ilustre que não terá salvo o meu do esquecimento.

A sua curiosidade vai libertar o débil enxame dos meus es-píritos, que fechos de prata por tão longo tempo terão aprisio-nado num cárcere de pergaminho.

E não menos preciosa será a sua descoberta do que a nossaperante qualquer lenda em letras góticas onde um licorne ouduas cegonhas fazem uma iluminura.

Paris, 20 de Setembro de 1836

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AS FANTASIAS

DE GASPAR DA NOITE

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Começa aquio primeiro l ivrodas Fantas ias

de Gaspar da Noite

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Escola f lamenga

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iharlém

Quando, de Amsterdão, cantar o galo de ouro,Vai a galinha de ouro de Harlém pôr o seu ovo.

As Centúrias de Nostradamus

Harlém, essa admirável bambochata* que resume a EscolaFlamenga, Harlém pintada por Jan Brueghel, Pieter Neffs, Da-vid Teniers e Paul Rembrandt;

E o canal onde treme a água azul, e a igreja onde arde a vi-draça de ouro, e o stöel* onde a roupa seca ao sol, e os telhadosverdes de lúpulo:

E as cegonhas, que a bater asas à volta do relógio da cidade,desde o alto dos ares esticam o pescoço e recebem no bico asgotas de chuva:

E o burgomestre indiferente, que acaricia com uma mão oduplo queixo, e o apaixonado florista que emagrece de olhospresos a uma túlipa;

E a cigana que desfalece sobre o bandolim, e o velho quetoca rommelpot*, e a criança que incha uma bexiga;

E os bebedores que fumam no mal afamado botequim, e acriada da estalagem que à janela prende um faisão morto.

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2o pedreiro

O mestre Pedreiro. — Olhai para estes bas-tiões, estes contrafortes: diríamos que foramconstruídos para a eternidade.

Schiller, Guilherme Tell

Com a colher na mão, o pedreiro Abraham Knupfer cantaem andaimes nos ares — tão alto, que ao ler os versos góticosdo grande sino nivela com os pés a igreja de trinta arcobotantese a cidade das trinta igrejas.

E vê as tarascas* de pedra que vomitam a água das ardósiasno confuso abismo das galerias, das janelas, dos pendentes, doscoruchéus, dos torreões, dos telhados e vigamentos, e que man-cha com um ponto pardo a meia-lua da asa imóvel do machofalcão.

Vê as fortificações que se recortam em estrela, a cidadelaque se empertiga como uma gallina pousada no visgo, os pátiosdos palácios onde o sol esgota as fontes, e os claustros dos mos-teiros onde a sombra roda à volta dos pilares.

As tropas imperiais alojaram-se no subúrbio. E temos láum cavaleiro a tocar tambor. Abraham Knupfer distingue-lhe

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o chapéu tricórnio, os alamares de lã vermelha, o distintivoatravessado pela presilha e o rabicho atado com uma fita.

Mas o que também vê, no parque empenachado por ra-madas gigantescas e em vastos relvados de esmeralda, são bru-tais soldados que crivam a tiros de arcabuz o pássaro de ma-deira preso no mais alto de uma árvore-de-maio*.

E à noite, quando a nave harmoniosa da catedral ador-mece de braços cruzados no peito, da escada vislumbra no ho-rizonte uma aldeia que a gente da guerra incendiou e flamejano firmamento como um cometa.

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3o capitão lazare

— Nos tempos que correm, todas as precau-ções sejam poucas, sobretudo depois de osmoedeiros falsos se terem instalado neste país.

O cerco de Berg-Op-Zoom

Ele, o Johan Blazius, senta-se na poltrona de veludo deUtreque enquanto o relógio de São Paulo carrilhoa o meio-diaaos roídos e fumegantes telhados do bairro.

Ele, o podagroso* lombardo, senta-se à banca de madeirada Irlanda para trocar este ducado de ouro que retiro do saiote— aquecido por um peido.

Um dos dois mil que o sangrento ricochete da fortuna eda guerra atirou da escarcela de um prior beneditino para abolsa de um capitão lansquenete.

Deus me perdoe! O somítico examina-o através da lupa epesa-o na balança como se a minha espada tivesse cunhadomoeda falsa no crânio do monge!

Vamos lá, mestre cornudo, despacha-te porque não estoude humor nem de ócio para assustar os rufias a quem a tua

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índice

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Instruções ao senhor paginador . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Gaspar da Noite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37A M. Victor Hugo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

AS FANTASIAS DE GASPAR DA NOITE

primeiro livro: Escola flamenga1. Harlém . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 452. O pedreiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 463. O capitão Lazare . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 484. A barba bicuda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 505. O vendedor de túlipas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 526. Os cinco dedos da mão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 547. A viola da gamba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 568. O alquimista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 589. Partida para o Sabat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

segundo livro: O velho Paris1. Os dois judeus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

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2. Os indigentes da noite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 673. A lanterna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 694. A torre de Nesle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 715. O requintado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 736. O ofício da tarde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 757. A serenata. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 778. O Monsenhor Jean. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 799. A missa da meia-noite. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

10. O bibliófilo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

terceiro livro: A noite e os seus prestígios1. O quarto gótico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 892. Scarbô . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 913. O louco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 934. O anão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 955. O luar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 976. A dança de roda sob o sino . . . . . . . . . . . . . . . . . 997. Um sonho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1018. O meu bisavô. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1039. Ondina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

10. A salamandra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10711. A hora do Sabat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

quarto livro: As crónicas1. Mestre Ogier (1407). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1152. A poterna do Louvre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1173. Os flamengos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1194. A caçada (1412) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1215. Os valentões. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

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6. As grandes companhias (1364) . . . . . . . . . . . . . . 1257. Os leprosos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1298. A um bibliófilo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

quinto livro: Espanha e Itália1. A cela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1372. Os arrieiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1393. O Marquês de Arouca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1424. Henriquez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1445. O alerta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1466. Padre Pugnaccio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1487. A canção da máscara. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150

sexto livro: Silves1. A minha choupana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1572. Jean das Tilles. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1593. Outubro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1604. Nos rochedos de Chèvremorte . . . . . . . . . . . . . . 1625. Mais uma Primavera. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1646. O segundo homem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165

A M. Charles Nodier. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169

Notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171

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Os génios, seguido de Exemplos, Victor Hugo

O senhor de Bougrelon, Jean Lorrain

No sentido da noite, Jean Genet

Com os loucos, Albert Londres

Os manuscritos de Aspern (versão de 1888), Henry James

O romance de Tristão e Isolda, Joseph Bédier

A freira no subterrâneo, com o português de Camilo Castelo Branco

Paul Cézanne, Élie Faure, seguido de O que ele me disse…, Joachim Gasquet

David Golder, Irene Nemirowsky

As lágrimas de Eros, Georges Bataille

As lojas de canela, Bruno Schulz

O mentiroso, Henry James

As mamas de Tirésias — drama surrealista em dois actos e um prólogo,

Guillaume Apollinaire

Amor de perdição, Camilo Castelo Branco

Judeus errantes, Joseph Roth

A mulher que fugiu a cavalo, D.H. Lawrence

Porgy e Bess, DuBose Heyward

O aperto do parafuso, Henry James

Bruges-a-Morta — romance, Georges Rodenbach

Billy Budd, marinheiro (uma narrativa no interior), Herman Melville

Histórias da areia, Isabelle Eberhardt

O Lazarilho de Tormes, anónimo do século XVI e H. de Luna

Autobiografia, Thomas Bernhard

Bubu de Montparnasse, Charles-Louis Philippe

Greco ou O segredo de Toledo, Maurice Barrès

Cinco histórias de luz e sombra, Edith Wharton

Dicionário filosófico, Voltaire

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A papisa Joana — segundo o texto de Alfred Jarry, Emmanuel Rhoides

O raposo, D.H. Lawrence

Bom Crioulo, Adolfo Caminha

O meu corpo e eu, René Crevel

Manon Lescaut, Padre Prévost

O duelo, Joseph Conrad

A felicidade dos tristes, Luc Dietrich

Inferno, August Strindberg

Um milhão conta redonda ou Lemuel Pitkin a desmantelar-se, Nathanael West

Freya das sete ilhas, Joseph Conrad

O nascimento da arte, Georges Bataille

Os ombros da marquesa, Émile Zola

O livro branco, Jean Cocteau

Verdes moradas, W.H. Hudson

A guerra do fogo, J-H. Rosny Aîné

Hamlet-Rei (Luís II da Baviera), Guy de Pourtalès

Messalina, Alfred Jarry

O capitão veneno, Pedro Antonio Alarcón

Dona Guidinha do Poço, Manoel de Oliveira Paiva

Visão invisível, Jean Cocteau

A liberdade ou o amor, Robert Desnos

A maçã de Cézanne… e eu, D.H. Lawrence

O fogo-fátuo, Drieu la Rochelle

Memórias íntimas e confissões de um pecador justificado, James Hogg

Histórias aquáticas — O parceiro secreto, A laguna, Mocidade, Joseph Conrad

O homem que falou (Un de Baumugnes), Jean Giono

O dicionário do diabo, Ambrose Bierce

A viúva do enforcado, Camilo Castelo Branco

O caso Kurílov, Irène Némirowsky

A costa de Falesá, Robert Louis Stevenson

Nova Safo — tragédia estranha, Visconde de Vila-Moura

Gaspar da noite — fantasias à maneira de Rembrandt e Callot, Aloysius Bertrand

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