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TRATAMOS TUDO POR TU cultura - actualidade - vícios - multimédia

P3 cátia monteiro 2

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Trabalho desenvolvido por Cátia Monteiro no âmbito da disciplina de Semiologia Tipográfica do mestrado em design da Universidade de Aveiro –2014/15, de redesenho para suporte papel do jornal P3.

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TRATAMOS TUDO POR TU

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actualidade, ambiente

“RECICLA O CAFÉ” QUER REDUZIR DESPERDÍCIOS E REPOVOAR CIDADES

99% do café é desperdiçado e as borras acabam quase sempre no lixo

Em Portugal consomem-se cerca de 47 milhões de quilos de café por ano

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Texto de Mariana Correia Pinto

“Este projecto tem muito a ver com aquilo que é a nossa visão de cidade. Acreditámos que o futuro das cidades passa pela criação de sistemas mais sustentáveis e alguns autores têm defendido que também a agricultura passa pelas cidades. Que urbanidade e ruralidade vão conviver no mesmo território”, disse ao P3 o arquitecto Pedro Marques Alves. A ideia de transformar borras de café em cogumelos não é nova. O que dis-tingue o “Recicla o Café”, esclarece o arquitecto, é a “adaptação da ideia ao território nacional” e a “dimensão cidade”. “Não é só um projecto que aborda a questão do desperdício, é um projecto que tem a ver com a econo-mia das cidades, que quer combater o esvaziamento das funções das ci-dades, repovoá-las e reduzir gastos energéticos”, desenvolve.Um protótipo e um laboratórioO trio quer levar a produção agrícola para dentro das cidades e criar um protótipo e um laboratório de pesqui-sa para o desenvolvimento de outras formas de transformação de desper-dícios alimentares. “Queremos ter um edifício com características quase la-boratoriais para que a produção seja feita com 100% de colheita garantida”,

revelou Pedro Alves, destacando que este espaço seria também uma forma de “promover emprego qualificado”.O “Reciclar o Café” pretende ainda delinear parcerias com restaurantes e cafés, já que 80% do café consumido em Portugal é bebido fora de casa. “Queremos que sejam nossos par-ceiros neste projecto. Para a maioria deles, as borras de café são lixo ao fim do dia, mas vamos mostrar que podem ter um valor no futuro. A ideia é que os parceiros sejam beneficiados, ou podendo revender os cogumelos ou através de publicidade.”Este projecto está a concorrer ao de-safio Ideias de Origem Portuguesa, da Fundação Calouste Gulbenkian, cujos finalistas serão anunciados a 20 de Abril. Mas a ideia, ressalva Pedro Alves, é para ter continuidade, independentemente do sucesso neste desafio: “Considerando o aumento da população mundial e o facto de nos mudarmos cada vez mais para as ci-dades, é cada vez mais importante pensar nestas estratégias.”

Têm o café como ponto de partida e o repovoamento das cidades como chegada. Pode parecer estranho à primeira leitura, mas rapidamente se entranha. Pedro Marques Alves e Bojan Balen trabalham na área de planeamento urbano na Holanda e, por lá, perceberam há muito que é nas cidades que se vai desenhar o futuro da produção agrícola, usando o desperdício do consumo alimentar como base para novas produções. Quando pensaram em criar um pro-jecto a partir de desperdícios alimen-tares para ser implementado em Por-tugal foi fácil chegar ao produto sob o qual poderiam trabalhar: o café, bebida que se consome no país a um ritmo de 47 milhões de quilos por ano, e cujas borras são um substrato rico em nutrientes e minerais. O “Recicla o Café” quer aproveitar o desperdício associado a esta bebida e produzir cogumelos a partir dele. No processo de passar água quente por café torrado e moído, 99% do café é desperdiçado e as borras acabam quase sempre no lixo. A ideia de Pedro e Bojan, desenvolvida com a bióloga Patrícia Santos, passa por aproveitar este substracto, muito presente em meios urbanos.

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Bojan Balen, Patricia Santos e Pedro Marques Alves são os rostos por detrás do “Recicla o Café”

Pedro, Bojan e Patrícia querem reciclar as borras de café e transformá-las em cogumelos. Mas o “Recicla o Café” é muito mais do que um projecto anti-desperdício. É uma estratégia para criar emprego e dar novas funções às cidades.

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Criada há dois anos, plataforma de denúncia de anúncios de emprego “sem vergonha” apresentou mais de 170 casos e promoveu petição pública. “Ganhem Vergonha” quer reunir tudo num livro; para isso precisa de 3.950 euros

actualidade, sociedade

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Ofertas de estágios não remunerados com duração de mui-tos meses, pagamento de refeições em jeito de salário e estágios curriculares assim rotulados erradamente são apenas algumas das denúncias que a plataforma “Ganhem Vergonha” torna públicas desde Março de 2013. Não faltam anúncios que pedem, grosso modo, que os candidatos aceitem trabalhar de graça — ou com remune-rações que roçam o ridículo. Em dois anos, a plataforma já recebeu mais de 2.000 denúncias e apresentou mais de 170 casos. Está na hora, diz Francisco Fernandes Ferreira ao P3, de passar para outro nível e editar um livro que reúna todos estes exemplos.Se no início era o jovem de 32 anos quem recolhia os casos publicados, entre amigos e conhecidos, hoje são as pessoas que lhe fazem chegar denúncias. Umas mais concretas do que outras, com ou sem provas: Francisco tem “uns 200 e-mails por ler” e pouco tempo para actualizar o site, que lhe ocupa as horas em que não está a trabalhar. Procura partilhar duas denúncias por semana, mas acaba por acu-mular casos e quem denuncia acaba por ficar impaciente. “Sinto que há uma pressão, por parte de quem acompanha o projecto, para que surjam mais conteúdos”, confessa ao P3.Foi também a pensar nas mais de 23 mil pessoas que seguem o “Ganhem Vergonha” — entre utilizadores regis-tados no blogue, fãs nas redes sociais e subscritores — que Francisco resolveu tentar editar um livro com o carimbo da plataforma, uma compilação em formato físico do que tem sido partilhado na Internet. A campanha de crowdfunding está online até 12 de Maio, no site português PPL, e o valor pedido é de 3.950 euros [na internet podes consultar o vídeo “ganhem vergonha” de Luís Sá, com narração de Oliveira Geão e música de Cavalheiro]. Qualquer pessoa pode con-tribuir a partir dos três euros e as recompensas passam por agradecimentos no livro, versões em PDF ou em papel do mesmo e “merchandising”.Paradas existem várias denúncias, por falta de provas. Para um testemunho ser publicado é preciso que o “Ganhem Vergonha” tenha meios e tempo para investigar. “O trabalho feito tenta seguir, ao máximo, a deontologia jornalística”, garante Francisco. Ainda assim, os e-mails das empresas mencionadas não deixam de chegar à caixa de correio do

blogue, chegando até a insultar a escolha do próprio nome. “Sei que o nome é bastante panfletário — e se fosse hoje talvez até desse outro —, mas acho que ninguém tem a noção de como eu poderia ser mais populista do que sou.”Num eventual livro, o propósito será segmentar os casos concretos, catalogá-los como estágios não remunerados, falso voluntariado e ofertas abaixo do salário mínimo, por exemplo. Há áreas nas quais se verificam mais denúncias, como é o caso do design e da comunicação, e isso também seria abordado. “Gostava de ter, por cada capítulo, uma análise feita pela plataforma e artigos de opinião de espe-cialistas (…) Já tenho muitos nomes em mente mas nada fechado, ainda”, conta Francisco.Mais de 4.800 assinaturas em petiçãoParte importante do “Ganhem Vergonha” é a petição pú-blica pela regulação dos anúncios de oferta de emprego, que já conta com mais de 4.800 assinaturas e que foi, no fundo, o grande motor do projecto. O facto de Portugal ter “um sistema de procura e oferta de emprego desregulado e obsoleto”, como é apelidado no texto introdutório da petição, faz com que os candidatos não estejam protegidos. “Nada impede que quem quiser roubar portefólios ou construir base de dados à custa de anúncios falsos o faça”, aponta Francisco, o que torna as pessoas vulneráveis.Quem visita sites com este tipo de ofertas depara-se, fre-quente, com anúncios “que não respeitam a lei laboral”, razão pela qual esta plataforma comunitária luta pela inclu-são das seguintes informações em todos eles, obrigatoria-mente: nome do empregador, tipo de contrato e respectiva duração, salário associado ao cargo e horário a cumprir.Recentemente, a petição pública chegou à Assembleia da República, onde Francisco teve uma audiência com deputa-dos de vários partidos. Estes comprometeram-se a analisar o tema “de forma séria” e mostraram preocupação pela “desregulação total”. Segundo o jovem, a deputada respon-sável pela petição pediu um parecer ao Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) sobre o assunto. Neste portal do Estado, as normas são seguidas. No entanto, no sector privado, a regulamentação é inexistente. Assim se explica que, em alguns sites, ofertas de emprego convivam com anúncios para compra e venda de bicicletas, ironiza.

“GANHEM VERGONHA” QUER PASSAR AS DENÚNCIAS PARA LIVRO E CRIOU CAMPANHA DE CROWDFUNDING

Texto de Ana Maria Henriques

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A Associação de Surdos do Porto lançou, no início do mês, a primeira Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa. Plataforma pretende aproximar as comunidades surda e ouvinte

Texto de Maria João Monteiro

A Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa é a primeira escola vir-tual do género e foi criada pela As-sociação de Surdos do Porto (ASP). O site está aberto a toda a gente e o registo na plataforma é gratuito. Após a autenticação, os conteúdos e os testes ficam acessíveis ao público e não é necessária qualquer quali-ficação específica para começar o curso de língua gestual.O curso tem seis módulos que abor-dam temáticas como dactilologia, numerais, saudações, graus de pa-rentesco, entre outras. O curso é gra-tuito e pode ser feito quantas vezes o utilizador entender, sem limites de tempo, pois as respostas dadas aos testes são guardadas e o aluno pode retomar o curso a qualquer altura.Projeto quer continuar a crescerArmando Baltazar, do Departamento de Formação da ASP, explica que o projecto surgiu “para eliminar a bar-

reira de comunicação entre os mun-dos surdo e ouvinte”. A Escola Virtual é, desta forma, um espaço comum às “duas comunidades que, vivendo, trabalhando, frequentando juntas no mesmo espaço estão tão ‘distantes’ e se encontram [na plataforma]”.O projecto foi criado com o apoio do BPI, através do prémio BPI Capaci-tar, e depende de apoios financeiros para continuar a evoluir. Armando Baltazar clarifica que, “nesta fase, os conteúdos são mínimos e a inten-ção é ir aumentando gradualmente até se atingir um nível que permita a qualquer utilizador uma fluência linguística boa”.A adesão à Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa tem superado as expectativas da ASP e promete con-tinuar a crescer devido à facilidade e flexibilidade que o site oferece ao utilizador que se inscreve para fre-quentar o curso.

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Na Carolina do Norte, nos EUA, existe um hotel que permite que os clientes adoptem cães que não têm dono

vícios, em trânsito

FAZ O CHECK-IN E

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Um hotel americano teve a ideia de dar um novo lar a cães que fo-ram abandonados: os hóspedes podem adoptá-los, sem qual-quer custo. O conceito surgiu numa viagem de avião – uma das voluntárias de uma associação de resgate de animais da cida-de sentou-se ao lado de um dos empregados do hotel e falaram sobre as dificuldades de adop-ção destes animais. Foi aí que surgiu a ideia de os levar a pas-sear no hotel, que sempre per-mitiu que os turistas pudessem levar os seus próprios animais de estimação.O processo é muito simples. Quando o cliente chega à re-cepção, vê um cão que está vestido com um casaco que diz “Adopta-me”. No Aloft, nome do hotel, existem mesmo espaços reservados para os cães, como a recepção e o telhado. Caso um hóspede queira levá-lo a passear pelo hotel, também o pode fazer.Se houver interesse na adopção, o hóspede tem de entrar em contacto com a Charlie’s An-gels Animal Rescue, onde serão entrevistados para se perceber se estão aptos para cuidar do animal. A ideia foi desenvolvida em parceria do hotel com a or-ganização de resgate de animais e desde Julho do ano passado já conseguiram arranjar casa para mais de 20 cães. O programa de adopção de cães abandonados espera que a ideia se repita noutras cidades. Aliás, a associação que trabalha com este hotel já recebeu dezenas de chamadas de outros hotéis americanos para poderem pôr em prática a ideia.

Texto de Bruna Cunha

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Chamam-lhe a conspiração da indústria da carne e revelam dados que a provam, alegam os realizadores. Já exibido em Portugal, o documentário reabriu a discussão sobre a alimentação sustentável — e até já mudou hábitos

Não tem (muitas) imagens que impressionam, ao contrário do que acontece com outros documentá-rios que alertam para a realidade da criação de ani-mais para consumo. São os números, apresentados em hora e meia, que mais chocam quem assiste a “Cowspiracy — A Sustainability Secret”. Entre ten-tativas falhadas de chegar à fala com associações de defesa do ambiente, entrevistados que evitam questões incómodas e especialistas que sublinham o impacto altamente nocivo da exploração pecuá-ria intensiva para a saúde da Terra, Kip Andersen e Keegan Kuhn criaram um documentário “que incentiva as pessoas a agir, sem ser impositivo”.A análise é de Rita Silva, presidente da Animal há já 11 anos. “Tenho recebido dezenas de e-mails de pessoas, que me conhecem ou não, que depois de verem o filme ficaram mesmo mudadas, tiveram um clique”, diz em entrevista ao P3. No início de Janeiro, “Cowspiracy” foi exibido num cinema de Lisboa, com sessão dupla. A iniciativa partiu de Rita e do apresentador de televisão João Manzarra. A primeira é amiga de um dos realizadores do filme e desde que ouviu falar dele que o queria passar em Portugal. O segundo reconheceu o impacto que ver o documentário teve na sua vida: perante milhares de seguidores nas redes sociais, Manzarra assumiu uma nova dieta baseada em produtos de origem vegetal e vendeu a participação numa petisqueira da qual era sócio, por uma questão de consciência.Sheila Teodoro foi uma das espectadoras no cinema do Saldanha Residence. Já tinha ouvido falar do filme, mas não sabia propriamente o que esperar. Como veterinária, a jovem tinha noção de algumas das consequências ambientais da agro-pecuária mas não estava preparada para os números [vê os destaques a laranja à esquerda]: “Depois de ver os factos foi fácil mudar”. Sheila, que não come carne há perto de 20 anos, abandonou de vez os derivados de origem animal e o peixe. Sente-se bem com esta mudança alimentar — “hoje em dia é tão mais fácil ser-se vegano do que era há 20 anos” —, consequência assumida dos factos revelados por Kip e Keegan. “Para mim, faz todo o sentido, sobretudo depois de saber a percentagem de emissão de gases, o gasto de água na produção de lacticínios e o impacto nos oceanos”, enumera.A mesma reacção teve Raquel Graça, designer freelancer de 30 anos: “Tu olhas para aqueles da-dos e pensas: tenho que fazer alguma coisa para contrariar isto”. Assim Raquel pensou, assim o fez: a carne deixou de fazer parte da dieta, bem como o leite de vaca. Reduziu o consumo de queijos e ovos e passou a comprar aqueles cuja origem conhece, com a preocupação de optar por produtos locais — agir localmente para alcançar um impacto global. “Não sou defensora de radicalismos, apenas de agir de forma sustentável. É isso que tenho tentado fazer”, explica.

Texto de Ana Maria Henriques

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Portugal é dos países europeus com maior pegada hídrica, aponta Nuno Sequeiro: 80% da água consu-mida é para efeitos de agricultura. A nível mundial, de acordo com o documentário, um terço da água doce da Terra é gasta na indústria da carne e dos lacticínios; o valor médio da União Europeia é ainda mais elevado, chegando aos 46%.Na introdução, Kip conta como “Uma Verdade In-conveniente” (2006), do antigo vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, teve um impacto impres-sionante na sua vida. Os dados que o Prémio Nobel da Paz de 2007 revelou fizeram com que Kip se tornasse “obcecado pelo ambiente”: passou a re-ciclar absolutamente tudo, a usar a bicicleta como principal transporte, a tomar duches mais curtos e a fechar a torneira na hora de lavar os dentes.Achava que estava a fazer tudo que podia para “mudar o mundo” — afinal, parece que não. Estes gestos ajudam, claro, considera Raquel. Mas, tal como o realizador de “Cowspiracy”, também a jovem se apercebeu que um banho mais curto “re-presentava uma coisa mínima”. “Isso foi mesmo o choque maior”, confessa, porque “não tinha noção dos números”: 2500 litros de água são suficientes para dois meses de banhos de chuveiro, mas ape-nas chegam para a produção de um hambúrguer.Ao não mencionar o impacto da pecuária nas alte-rações climáticas, Al Gore deixou Kip “desiludido”, que juntamente com Keegan trabalhou durante meses para perceber como o assunto está a ser tratado. Associações de defesa do ambiente de ní-vel global recusaram-se a prestar esclarecimentos ou sequer a recebê-los. A Greenpeace — provavel-mente a mais conhecida e mediática — foi uma das que declinou. Raquel sentiu-se “muito enganada”. “Tu achas que são elas que têm um papel impor-tante em tentar mudar algumas coisas e estão é a

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O filme estreou em Portugal no início de Janeiro, num cinema em Lisboa. Novas sessões estão a ser pensadas

Kip Andersen e Keegan Kuhn, autores do documentário

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Não fosse a crise como é que se

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s, d

o qu

e os

teus

avó

s. J

á fo

i das

res

erva

s do

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róle

o, d

o ‘c

rash

’ bol

sist

a, d

o bo

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iliár

ia. A

s ju

stifi

ca-

ções

são

cad

a ve

z mai

s es

otér

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rédi

to m

al-

para

do, o

s ju

ros

do d

ívid

a, o

mer

cado

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futu

ros,

a

grip

e av

iári

a, o

pul

gão

dos

mir

tilos

... ‘w

hate

ver’

é

o qu

e vo

cês

quis

erem

, o

que

eu s

ei é

que

é

visi

ta v

elha

, com

dife

rent

es n

omes

e e

xplic

açõe

s di

vers

as (c

ada

vez

mai

s co

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exas

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com

os

resu

ltado

s de

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pre

junt

o ao

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o.H

ouve

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ento

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pass

ou p

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ois

mai

s pa

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a m

oda,

m

as p

or a

gora

ach

o qu

e já

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cebe

mos

todo

s qu

e é

cons

tant

e, p

erm

anên

cia,

mod

o de

pro

duçã

o,

ideo

logi

a. V

á lá

, men

os fi

ta! O

nos

so c

apita

lism

o lib

eral

é s

ó es

colh

as e

libe

rdad

e, n

ão g

osta

s de

C

oca-

Col

a, ‘c

onso

me’

ant

es P

epsi

. Pi

or e

stav

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min

ha a

vó q

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ivid

ia o

bur

ro c

om o

viz

inho

!Te

ns o

ord

enad

o co

ngel

ado

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e qu

e co

meç

aste

a

trab

alha

r: n

ão te

met

as é

no

sind

icat

o qu

e is

so é

co

isa

ultr

apas

sada

, do

antig

amen

te. O

con

trat

o a

praz

o nu

nca

mai

s dá

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z um

sem

term

o: ve

nera

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tes

o Po

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e Ca

yenn

e do

‘cria

dor d

e em

preg

o’.

Salti

tas

de e

stág

io e

m e

stág

io e

m e

stág

io e

m

está

gio

sem

nun

ca p

ousa

res:

met

e na

Etv

que

os

feio

sos

expl

icam

-te

com

o a

‘flex

ibili

zaçã

o’ é

lind

a e

nece

ssár

ia. A

sen

hora

do

cent

ro d

e em

preg

o en

colh

e a

frus

traç

ão e

os

ombr

os: c

once

ntra

-te

ante

s no

s lin

dos

olho

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Mot

a So

ares

e e

m c

omo

o Pr

imei

ro f

ugir

ao

fisco

é c

ulpa

do

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. Um

a ch

efe-

de-s

ervi

ço d

a In

speç

ão-G

eral

das

Fin

ança

s te

m 2

,5 m

ilhõe

s de

dól

ares

na

Suíç

a: a

hh is

so é

da vi

da p

riva

da d

ela

diz-

nos

a am

iga

do S

chau

ble.

actualidade, economia

16

CR

ÓN

ICA

Page 17: P3 cátia monteiro 2

O g

esto

r de

cont

a já

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istiu

de

te im

ping

ir ca

rtõe

s e

já s

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que

r ‘co

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’ a d

ívid

a: is

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cap

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pree

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o, d

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e d

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nun

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men

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ardo

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e os

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mbl

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man

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as

leis

que

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aliz

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s ne

góci

os à

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rde:

tu q

uere

s é

‘gul

ag’ e

Cor

eia

do N

orte

. And

as

fodi

do e

mal

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o e

aind

a po

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ma

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dio

só d

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s Th

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ft pa

ra b

aixo

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str

esse

s qu

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dia

o te

lhad

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Con

serv

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io a

bate

e v

acin

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lo

go a

mús

ica

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a p

róxi

ma

gera

ção.

Par

a os

ri

cos

ajud

as e

par

a o

povi

nho

vale

ntes

sur

ras:

‘in

vest

e’ m

as é

no

Euro

milh

ões

e na

ras

padi

nha

que

se tu

do o

mai

s fa

lhar

val

e-no

s a

Cri

stin

a (d

e m

anhã

), a

Sô D

ona

Fátim

a (à

tard

e) e

o p

rofe

ssor

M

arce

lo (d

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te).

O a

vô p

assa

va f

ome:

ó fi

lho

é a

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pai

ia

desc

alço

par

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fabr

ico:

o ra

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o di

abo

da c

rise

! O

filh

o nã

o te

m e

mpr

ego

a nã

o se

r a fa

lsos

reci

bos

verd

es: ó

por

ra d

a cr

ise!

A v

er s

e a

puta

da

cris

e ch

ega

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mpo

da

neta

, par

a a

garo

ta n

ão p

erde

r a

opor

tuni

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de

part

icip

ar n

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velh

a tr

adiç

ão.

Não

foss

e a

cris

e co

mo

é qu

e se

fazi

a di

nhei

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ada?

Com

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que

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mos

os

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ompe

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o no

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eces

sá-

rio’

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rapa

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em e

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os n

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bai

xo, c

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das

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67

não

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Vá,

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xa q

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ndo

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ise

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da. V

á lá

, rep

itam

com

igo

‘‘gue

rra

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ber-

dade

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scra

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ra! i

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Deu

s e

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osso

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nhor

es n

os

livre

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o di

a em

que

se

acab

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cris

e!

A CRISE QUALQUER DIA

ACABA-SE!

Texto de Tiago Matos Silvaantropólogo, doutorando e investigador

17

“Vá, bolinha baixa que no fundo no fundo a crise é linda. Vá lá, repitam comigo ‘‘guerra é

paz! liberdade é escravatura! ignorância é força! obrigado senhor doutor!’’. Deus e os Nossos

Senhores nos livrem do dia em que se acabe a crise!”

Page 18: P3 cátia monteiro 2

MORREU SÁ CARNEIRO, E ENTÃO?

actualidade, política

18

CR

ÓN

ICA

“Três horas depois do meu nascimento e a mais de 30 kms, estava a minha mãe preparada para um cesariana quando a minha gémea sai de pés. “Sinal de felicidade” rematou de imediato uma enfermeira aliviada pelo final feliz.”

Page 19: P3 cátia monteiro 2

O dia era de chuva, cenário mais que provável no início de Dezembro. Dor-mira repleta de ansiedade, iria fazer a primeira ecografia para ver o seu “rapaz grande”, assim descrito pelo médico. No entanto, como sempre, o destino trocou-lhe os planos. Com as águas rebentadas durante a ma-drugada só teve tempo de voar para a maternidade da sua terra. Deitada numa cama há várias horas, entre do-res intermitentes e estranhas quan-do comparadas com o seu primeiro parto, testemunha um hospital em alvoroço, colado à rádio e ao arcaico aparelho de televisão. “Sá Carneiro morreu, mulher”, esclareceu alguém que em resposta teve um gemido em jeito de “e? Estou aqui cheia de dores em alegado trabalho de parto”.Dois dias depois, todas as persona-gens estavam bem mais calmas, mas as dúvidas dos dois lados permane-ceram. Afinal foi acidente ou atenta-do? E o “bebé grande, nasce ou nem por isso?”. Eis que eu finalmente tive coragem e mergulhei neste mundo de parto normal, sem ouvir um único “ai” da minha mãe coragem. No ime-diato foi-lhe dito que afinal era uma menina pequenina e que havia outra lá dentro, “atravessada”.“Não deixe morrer”, a resposta pron-ta de uma verdadeira mãe que entre dores, dúvidas, estranheza, pensou, apenas e só, na sua cria.À falta de condições hospitalares ru-mámos todos de imediato de S. João da Madeira ao Porto. Eu, minúscula, ao colo do bombeiro, a minha mãe e irmã em grande perigo de vida. Ali a ignorância teve o papel principal. Três horas depois do meu nascimento e a mais de 30 kms, estava a minha mãe preparada para um cesariana quando a minha gémea sai de pés. “Sinal de felicidade” rematou de imediato uma enfermeira aliviada pelo final feliz.Foram precisos quase 20 dias para termos alta, porque, à la lebre, quem vem à frente nem sempre vence. Pre-cisei de incubar. Ainda hoje incubo sonhos, ideias e dúvidas. As mesmas que permanecem nos outros perso-nagens desta história com 34 anos.

Texto de Joana Costaautora do blogue Caramelo Repetido

Deitada numa cama há várias horas, entre dores intermitentes

e estranhas quando comparadas com o seu primeiro parto,

testemunha um hospital em alvoroço, colado à rádio e ao

arcaico aparelho de televisão

19

Page 20: P3 cátia monteiro 2

SER

Á Q

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UM

DIA

VA

MO

S D

EIX

AR

DE

LA

RG

AR

BA

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actualidade, ambiente

20

AMB

IEN

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Page 21: P3 cátia monteiro 2

De

form

a a

ser

cria

do u

m

deba

te s

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s qu

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ões

pode

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bien

te, o

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Vir

gíni

a, n

os E

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çou

o m

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ssão

so

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oibi

ção,

ou

não,

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lanç

amen

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e ba

lões

“Pod

emos

fes

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m b

alõe

s, m

as n

ão o

s po

dem

os la

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com

est

e an

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o, n

o “s

ite”

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Vir

gini

a W

ater

way

s, q

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scus

são.

Seg

undo

os

seus

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s,

depo

is d

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lanç

ados

, os

balõ

es tr

ansf

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xo e

as

preo

cupa

ções

am

bien

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cr

esce

m a

cad

a an

o qu

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ssa.

Atra

vés

da in

vest

igaç

ão a

mbi

enta

l, o

prob

lem

a pa

ssou

par

a o

foro

pol

ítico

– c

om s

uces

so, d

evi-

do a

os c

idad

ãos

e am

bien

talis

tas

preo

cupa

dos.

Se

gund

o o

site

Jor

nalís

sim

o, e

m c

ausa

est

á a

idei

a ap

rese

ntad

a po

r Je

ff M

cWat

ers,

um

de-

puta

do re

publ

ican

o qu

e qu

er im

pedi

r o

lanç

a-m

ento

de

balõ

es n

aque

le e

stad

o. S

egun

do e

le,

esta

mos

“ape

nas

a te

ntar

edu

car a

s pe

ssoa

s”.

No

enta

nto,

a p

ropo

sta

não

foi a

prov

ada

pelo

Se

nado

da

Virg

ínia

que

indi

cava

que

as

coim

as

aplic

adas

pod

eria

m re

vert

er a

favo

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cam

pa-

nhas

de

reci

clag

em. P

or c

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balã

o (c

om h

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ro g

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ais

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r) a

pen

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ação

se

ria d

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nco

dóla

res.

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çado

.Es

tá c

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te p

rova

do,

com

o di

zem

os

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stig

ador

es d

o Aq

uári

o de

Virg

ínia

, que

m

uito

s an

imai

s, ta

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rra

com

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por

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rer

por

caus

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s ba

lões

.Ed

Cla

rk, d

o Ce

ntro

da

Vida

Sel

vage

m d

a Vi

rgí-

nia,

con

stat

ou q

ue o

s an

imai

s qu

e m

ais

sofr

em

com

est

e pr

oble

ma

são

as ta

rtar

ugas

mar

inha

s qu

e ac

abam

por

con

fund

ir o

obj

ecto

com

um

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forr

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mem

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mor

te.

E nã

o só

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erig

o ta

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m e

xist

e pa

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utro

s an

imai

s m

arin

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os, t

arta

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s e

bale

ias

que

já f

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ontr

adas

com

ba-

lões

alo

jado

s no

est

ômag

o. J

á os

pás

saro

s,

por

exem

plo,

fica

m p

reso

s no

s fio

s de

“ny

lon”

ou

plá

stic

o.

Mai

s de

50

dá m

ulta

Na

real

idad

e, já

exi

stem

cin

co e

stad

os a

mer

i-ca

nos

— s

endo

a V

irgín

ia u

m d

eles

— o

nde

é pr

oibi

do la

nçar

mai

s de

50

balõ

es n

o es

paço

de

um

a ho

ra. N

o en

tant

o, s

ão p

reci

sas

mai

s m

edid

as p

ara

com

bate

r os

efe

itos

nega

tivos

de

sta

prát

ica.

Para

tal

, um

pro

ject

o pa

ra r

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ir o

impa

cto

dos

balõ

es e

stá

a se

r co

nduz

ido

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dep

arta

-m

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am

bien

tal d

a Vi

rgín

ia a

trav

és d

e m

arke

-tin

g so

cial

, pre

venç

ão e

edu

caçã

o do

s ci

dadã

os

de m

odo

a en

tend

erem

os

risc

os a

mbi

enta

is

dest

a pr

átic

a co

mum

.H

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tras

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idad

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nvol

vida

s, c

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Vi

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s, e

m p

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gini

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arin

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Cent

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s im

pact

os a

mbi

enta

is e

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es p

ara

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que

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lam

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mor

ador

es

para

, cas

o en

cont

rem

um

bal

ão, t

irar

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ma

foto

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a e

indi

care

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síti

o on

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enc

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a-ra

m. A

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am, a

inda

, par

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fact

o de

se

pode

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cont

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mat

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met

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men

to d

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lões

com

o nã

o os

enc

her

com

lio e

dei

tá-l

os a

o lix

o, l

iber

tar

balõ

es e

m

sítio

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chad

os o

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es, r

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tá-l

os. S

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m d

os d

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do

Aqu

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de

Virg

ínia

, os

balõ

es s

ão u

ma

das

três

form

as d

e lix

o m

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freq

uent

es n

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raia

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SER

Á Q

UE

UM

DIA

VA

MO

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EIX

AR

DE

LA

RG

AR

BA

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Texto de Bruna Cunha

21

Page 22: P3 cátia monteiro 2

cultura, livros

22

FOTO

GR

AFIA

Page 23: P3 cátia monteiro 2

A CIDADE MURADA É UMA CIDADE

FORA DA LEI

O livro “City of Darkness Revisited” (“Cidade da Escuridão Revi-sitada”) retrata um microcosmo da cidade-estado de Hong Kong chamado “Kowloon Walled City” (“Cidade Murada de Kowloon”), demolido em 1994. O autor Greg Girard, em colaboração com Ian Lambot, fotografou entre 1987 e 1990 a cidade de 30 mil habitan-tes, considerando o ambiente “hostil para com pessoas de fora, especialmente com aqueles que tentavam fotografar”, contou ao P3. Tudo mudou depois do anúncio da intenção de demolição da cidade: “Os moradores compreenderam que era importante documentar os últimos dias e tornou-se mais fácil trabalhar.” A Cidade Murada tinha a particularidade de viver na ausência de um sistema legal formal; entre 1949 e 1974, a acção policial era praticamente nula e o crime imperava: tráfico de droga, prostituição, jogo e actividade económica ilícita. Gangs disputavam território, bordéis e casas de ópio e eram frequentes os homicídios resultantes de duelos com navalhas. Um dos moradores comentou que “se não acontecesse nas ruas principais, ninguém se importava.” A toxicodependência era um grave flagelo e os consumidores de ópio e de heroína que sucumbiam a doses mais pesadas eram depositados pelas famílias nas casas de banho públicas da Cidade Murada e mais tarde recolhidos pela ‘Associação de Moradores de Kowloon’. O crime baixou após o ano de 74 devido à criação da ‘Comissão Independente Contra a Corrupção’. As condições de vida eram precárias: o acesso a água potável era escassa, não havia qualquer controlo sanitário, a electricidade era feita através de ligações clandestinas, o lixo nas ruas escuras e estretitas era abun-dante - a quantidade de ratos era tal que a esmagadora maioria dos moradores adoptava gatos como animais de estimação. Por volta dos anos 60, a população começou a aumentar e a construção em altura começou a fazer-se notar: a população construía andares no topo dos edifícios pré-existentes, colocando em risco o acesso de aviões ao Aeroporto Internacional Kai Tak. Apenas dois edifícios tinham elevador, em toda a cidade, embora as construções não apresentassem, após estabilização, menos de catorze andares. Dentro da sobrepopulada urbe a actividade económica era abundante; podiam encontrar-se fábricas de plásticos, metais e têxteis, mercearias, confeitarias, ta-lhos, lojas de roupa e de conveniência, clínicas médicas e dentárias de baixo custo - com serviços practicados por pessoas sem licença de actividade e que não conseguiam exercer a profissão noutro local. Em 1986/87 deu início o processo de evacuação e realojamento de toda a população e em 1994, finalmente, a cidade foi demolida, dando lugar ao Parque de Kowloon. “Acho que o que nos motivou foi em grande parte um interesse em apresentar a Cidade Murada como uma comunidade extraordinária que funcionava dentro desta feno-menal estrutura, mais do que apresentá-la como um bairro de lata, como era maioritariamente descrita. Quanto mais tempo uma pessoa passava lá mais se apercebia de que o local era um exemplo de uma comunidade dentro de uma espécie de “edifício vivo” que era capaz de dar resposta às necessidades dos seus habitantes. Em grande parte,

Projecto de Greg Girard

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esta capacidade de adaptação era o resultado das invulgares circunstâncias históricas da Ci-dade Murada: ficou fora da ju-risdição da lei de Hong Kong e embora tecnicamente fosse uma parte da China sob controlo in-glês, na realidade não era gover-nada por ninguém.” Hoje em dia, a “Walled City” é vista como um ícone, apesar de no passado ter sido um local desaconselhado e onde a maioria dos habitantes de Hong Kong nunca esteve pre-sente. A primeira edição do livro foi lançada em 1993 e por se ter tornado popular entre estudan-tes de arquitectura foi reeditado em 1999. “Ao longo dos anos, a ‘Walled City’ influenciou, contra todas as expectativas, realiza-dores, arquitectos, urbanistas, designers de jogos de vídeo entre outros, inspirados na sua atmosfera e na ideia de uma ci-dade sem planeamento e sem o contributo de arquitectos ou urbanistas. Com o apoio de uma campanha [de crowdfunding] no Kickstarter, eu e o Ian pudemos revisitar o nosso arquivo fotográ-fico e contar com a colaboração de escritores e outros artistas inspirados pela Cidade Murada e publicar uma versão mais com-pleta e actualizada do livro “City of Darkness Revisited”.

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Texto de Mariana Correia Pinto

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Aos 38 anos, um cancro da mama virou-lhe a vida

do avesso. Foi operada, fez quimioterapia, depois radioterapia. Mas nunca

deixou de combater: “É preciso acreditar todos os

dias que o seguinte virá.” Um testemunho optimista

no Dia Mundial da Luta Contra o Cancro

Tantos sorrisos espalhou nos últimos dois anos, enquanto combatia um cancro da mama, que, a dada altura, as amigas obrigaram-na a ir a um psi-cólogo: “Elas achavam que estava a reagir bem demais.” Áurea Ferreira dá a cara pela doença e fá-lo sempre com um sorriso. É optimista por natureza. Por isso, quando descobriu um nódulo na mama direita e confirmou, pouco tempo depois, que a doença a tinha apanhado — como antes havia feito com a mãe e também com o pai — não caiu. Pelo menos, psicologicamente. A dor física foi diferente. “Cada pessoa reage de uma maneira. Para mim, a quimio foi indiscritível... Mas pensava sempre: ‘Vai doer mas vai passar’, ‘vai doer mas vai passar’.”Enfermeira no Hospital de São João, no Porto, Áurea, agora com 39 anos, emociona-se, durante a entrevista, por uma única vez. Quando fala da-quele que considera o pior momento de todo o processo: “Contar aos meus pais foi o mais difícil de tudo.” “Foi um dia ao jantar”, recorda. “A minha mãe chorou, a minha irmã chorou, o meu pai engoliu tudo.” Mas o cancro não é uma barreira na vida dela, não há um “antes de” e um “depois de”. Foi uma fase. Ponto. E foi para partilhar esta maneira de conviver com a doença, nunca deixando de “acreditar” e de “lutar”, que decidiu participar numa campanha fotográfica com doentes oncológicos, chamada “Despir o Pre-conceito”. Por dia, morrem em Por-tugal 70 pessoas vítimas de tumores malignos, avançou no segundo se-mestre de 2014 o Instituto Nacional de Estatística, acrescentando que apesar de este ser o número mais elevado de sempre, as perspectivas são de um aumento ainda mais significativo nos próximos anos. O cancro é a segunda causa de morte em Portugal, depois das doenças cerebro-cardiovascula-res, e estima-se que, por ano, viti-me 20 a 25 mil pessoas. Neste Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, 4 de Fevereiro, fica aqui um testemunho na primeira pessoa, escrito a partir de uma entrevista:

“Nunca pensei na morte. Para mim, estava fora de questão. E nunca tive medo. Sempre pensei em ir em frente, acontecesse o que acontecesse. Os outros, o medo deles, foi o que mais me incomodou. A minha mãe teve cancro da mama, o meu pai teve cancro da bexiga. Quem sofre é quem está do outro lado. Quando se está dentro pode lutar-se. A doença muda algumas coisas em nós, mas para mim não há um antes do cancro e um depois do cancro. O que mudei foi passar a viver mais para mim. E deixei de esperar o que quer que seja. Tudo o que vier é bom, mas não tenho expectativas. Não vejo isto como uma fase negativa da minha vida, vejo como uma fase. Ponto. Aconteceu-me a mim como podia ter acontecido a qualquer pessoa. Porque não eu? Há quem pergunte “Porquê eu?”. Mas porque não pensar ao contrário? Ao fim e ao cabo isto não pode ser nenhum castigo divino, porque se fosse não havia crianças doentes nunca, não é? Sempre fui uma pessoa positiva e continuo a dizer que temos de ver o lado bom das coisas más — isso ajuda muito. Há uma coisa muito engraçada nes-ta doença: a gente decora datas, são como se fossem aniversários. No dia 19 de Dezembro de 2012, estava em casa a decorar bolachas de Natal para os meus primitos, e deu-me uma co-michão na mama. Cocei e senti um nódulo. Tinha feito uma ecografia me-ses antes, mas com a história anterior da minha mãe na cabeça, liguei logo a uma amiga minha do hospital para desabafar. Disse-lhe que queria ir no dia seguinte fazer uma biópsia. O fac-to de ser enfermeira e conhecer bem os processos facilita as coisas. Fui ao serviço de oncologia no São João e fiz a biópsia. Passei o Natal sem contar a ninguém e só recebi os resultados no dia 26 de Dezembro. Estava a traba-lhar. A médica liga-me e diz: ‘Áurea...’ E eu respondi logo: ‘Não precisas de dizer mais nada, eu já desço.’ A mé-dica deu-me a notícia e as lágrimas caíram-me pela cara abaixo. Foram uns minutos. Depois disse: ‘O que va-mos fazer?’. Fui almoçar fora nesse dia, com uma amiga. Pensei e decidi logo que não queria ser operada no meu serviço, no meu hospital. Queria o meu momento, a minha privacidade. Contactei uma médica que tinha pas-

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casa sem me maquilhar. Criei a minha for-ma de lidar com a doença. Fui ao psicólogo uma só vez, as minhas amigas achavam que eu estava a reagir bem demais. O psicólogo disse que realmente fazia uma gestão das minhas necessidades muito boa. Eu afas-tei amigas próximas no primeiro impacto, sabia que não era bom para mim. Tinha de as consolar a elas às vezes. Desliguei muitos telefonemas. Sei que as pessoas choravam sem ser à minha beira. Afastei-me disso tudo.O mais difícil de tudo foi contar aos meus pais. Foi um dia ao jantar. A minha mãe chorou, a minha irmã chorou, o meu pai engoliu tudo. A família foi muito importante. Os amigos também. Tinha 38 anos quando isto aconteceu, Na altura falaram-me da possibilidade de fazer preservação de ovóci-tos porque não tinha filhos ainda. Ponderei durante um tempo, mas eu tinha um tumor hormonal e ia injectar-me de hormonas. Depois, quando acabasse o tratamento, ia ser mãe aos 43, 44, 45. Podia estar a querer ter um filho à custa da minha saúde. Pensei que se a questão se pusesse mais tarde eu teria outras alternativas para ser mãe e decidi não o fazer. Há que aceitar.Participei numa campanha, em 2013, o ‘Despir o Preconceito’, porque acho que ele ainda existe e muito. As pessoas ainda têm muito a coisa do “coitadinha”. Não fazem por mal, mas os portugueses são muito melodramáticos e põem muito negativismo nas coisas. Decidi participar nessa cam-panha para tentar combater essas ideias. Muita gente começou a acrescentar-me no Facebook e fazer-me perguntas. Era quase um consultório. O que digo sempre a quem está a passar por isto é: acreditem e lu-tem. É preciso acreditar todos os dias que o seguinte virá. E depois, muito importante, nunca nos desvalorizarmos. Mesmo a nível físico. Continuo a dizer que tenho saudades minhas, é verdade. Tenho saudades do que conseguia fazer antes da doença. Ainda não recuperei toda a força dos braços, já parti colecções inteiras de louça, no meu traba-lho tenho limitações. Ainda tenho de tomar uma pastilha todos os dias e vou a imensas consultas. Mas, mais uma vez, é viver dia a dia. Um dia de cada vez, sempre. Aos poucos chegarei lá.”

sado no São João e que dava consultas na Trindade. Marcamos logo a cirurgia. Ela deu-me todas as opções e eu decidi. Fui sempre eu a decidir. Não quis fazer mastectomia. Tirei o tumor e fiz pes-quisa do gânglio sentinela para saber se tinha de fazer esvaziamento axilar. O meu maior medo era ter de o fazer. O braço fica muitas vezes com edema e era o direito, muito importante para o meu trabalho como enfermeira.Depois da operação há um tempo de espera dos resultados para ver se a quimio é precisa ou não. Já sabia que tinha de fazer radioterapia, mas quimioterapia tinha de esperar. O re-sultado era muito ‘borderline’, tinham dúvidas se era preciso fazer ou não quimioterapia. A única hipótese que tinha era fazer um exame chamado ‘mammaprint’, que se faz a toda a gente nos EUA, mas cá não. Claro que se pensa que pode não haver necessi-dade de fazer quimio... mas também se pensa que são 3700 euros por um exame. Decidi pagar — era o dinheiro que andava a juntar para fazer a mi-nha viagem de sonho, a Buenos Aires. Foi tudo para Amesterdão, onde fazem esse exame. O resultado veio e con-cluiu que tinha de fazer quimio e mais sessões do que aquelas que teria feito sem saber dos resultados. Foi a parte mais dolorosa de todas em termos físicos. Quando tento explicar o que senti digo às pessoas que se estivesse em cima da ponte naquele momen-to eu atirava-me. Isto é metafórico, atenção. Eu nunca pensei nisso, nem sequer pensei algum dia na morte. Nunca. Cada pessoa reage de uma maneira. Para mim a quimio foi in-discritível... Mas pensava sempre ‘vai doer mas vai passar’, ‘vai doer mas vai passar’. A gente tem de acreditar em algo e eu sempre acreditei que ia correr bem. Em termos físicos abalei, mas em termos psicológicos não.À terceira semana de quimio caiu-me logo o cabelo. Mas essa questão nun-ca me incomodou. Eu tinha um cabelo muito comprido e adorava o meu ca-belo. Nunca gostei de cabelos curtos. Mas sabia que não havia volta a dar. Então rapei, assim sem meios cortes. Comprei uma peruca, mas já tinha decidido optar pelos lenços. Com as pestanas e as sobrancelhas foi dife-rente. A nossa expressão muda muito e isso custava-me. Mas fui fazendo uma colecção de pestanas postiças e pintava sobrancelhas. Não saía de

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Perguntas e respostas

O que é o cancro?A palavra cancro é utilizada para designar uma neoplasia maligna ou, se se usar a palavra tumor como sinónimo de neoplasia, para designar um tumor maligno. Às vezes usa-se também lesão maligna como sinónimo de neoplasia ou tumor maligno.

O cancro tem cura?De forma simplificada pode dizer-se que os doentes com cancros diagnosticados numa fase precoce são curáveis em quase 100% dos casos, geralmente através de cirurgia ou endoscopia. Em contrapartida, a doença cancerosa avançada não é curável, embora seja muitas vezes possível controlá-la através da sua transformação numa doença crónica, graças a tratamentos cada vez mais personalizados.

Posso proteger-me contra o cancro?Existem vários factores de risco para a ocor-rência de cancro que são bem conhecidos e controláveis. Evitando esses factores de risco, estaremos a diminuir as hipóteses de vir a desenvolver cancro.

Quais os principais factores de risco?Tabaco, obesidade e sedentarismo.

Qual a frequência da doença em Portugal?A possibilidade de desenvolver um cancro ao longo da vida é de 50%. A de morrer de doença ocológica é de 25%. Anualmente são diagnosti-cados 40 a 45 mil novos casos no país. Entre 20 e 25 mil morrem de doença oncológica, a segunda causa de morte em Portugal, depois das doenças cerebro-cardiovasculares.

Quais os cancros mais comuns em Portugal?Nas mulheres, o cancro da mama, colorretal, estômago e útero. Nos homens, cancro da pelo, próstata, pulmão, colorretal e estômago.

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O melhor que se pode fazer pelo sonho de um jovem, com aspirações musicais ou literárias, é ser-se sincero. De outro modo, estarão apenas a lucrar dinheiro com um sonho

Como tudo se alterou em quinze ou vinte anos. Sou um miúdo, com os meus vinte e sete anos, mas tenho a noção disso. Há duas décadas, editar um livro ou um disco era um privilégio apenas reserva-do, sobremaneira, aos predestinados, ou, por outro lado, aos que muito se entregavam a uma paixão. Porventura, aos dois casos em apenas um.Entrega a uma paixão é trabalho. Tra-balho árduo, onde se está disposto a abdicar do prazer por si, para ter horas de tormenta a aperfeiçoar algo que deveria sair de forma inata. O pra-zer de ouvir boa música ou ler grandes autores, confluindo em horas e horas de arranjos nos acordes ou na narra-tiva, para findarem em tentativa fa-lhadas. Falhadas, não desperdiçadas, porque esses erros, a percepção deles e as opiniões e conselhos alheios, são o que fundamenta o aperfeiçoamento que vai encaminhando para o tal pata-mar de excelência, que era merecedor de publicação.Hoje, as coisas tornam-se substan-cialmente diferentes. A edição de li-vros ou álbuns democratizou-se, mas num sentido nem sempre positivo. A diminuição dos custos associados à edição, seja de música ou livros, abriu uma caixa de pandora para muitos que, não tendo essa capacidade de sacrifício, têm um sonho. E aí surgem as vendedoras de sonhos, que para efeitos legais têm o nome de editoras. Na música como na literatura, exis-tem as empresas, com o foco absoluto

no ganho, que dispensaram a parte cultural, a que despoleta o raciocínio e encaminha para obras maiores, para fazerem desta área uma simples área de negócio, onde o lucro se encontra apenas associado ao lucro, sem ne-nhum tipo de preocupação artística.Os escaparates estão sobrecarrega-dos de música e livros totalmente va-zios, que oferecem o entretenimento por si, sem nada mais que se possa de lá retirar. Em grande medida, isso transporta-se para outras áreas da nossa sociedade. Porém, existe algo de mais gravoso nesta situação, que é o aproveitamento dos sonhos alheios, para proveito próprio. Refiro-me, cla-ro, às recentes editoras que surgiram para sugar o dinheiro das pessoas, através da fomentação da ideia que os jovens autores, pouco experimentados na área da escrita e da música, já se encontram no patamar ideal de pu-blicação. Existem casos em que isso é verdade, mas, nesses casos, não seria necessário às editoras solici-tarem aos autores que pagassem a sua publicação, pois elas próprias, ex-perimentadas na área, saberiam que o retorno surgiria de forma natural. Há autores que existem para vender, outros que exigem para prestigiar o catálogo da marca. Em ambos os ca-sos, é rentável, seja pelo lucro ou pela notoriedade. De outro modo, é apenas um aproveitamento.O melhor que se pode fazer pelo so-nho de um jovem, com aspirações mu-sicais ou literárias, é ser-se sincero. Dizer que ainda não é momento, ou que, para sê-lo, é necessário aperfeiçoar de-talhes. De outro modo, estarão apenas a lucrar dinheiro com um sonho, sabendo que os livros ou discos não venderão. Ou vender-se-ão pelo mesmo fenómeno que vende o José Rodrigues dos Santos e os cantores que saem das casas dos segredos: a fama.

Texto de Ricardo Alves Lopeslicenciado em Marketing, apaixonado pela

escrita e enamorado pela vida

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actualidade, educação

IDEIAS INOVADORAS DE ARQUITECTURA E DESIGN POSTAS À PROVA

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Cosentino Group, uma marca relacionada com design e arquitectura, vai organizar a nona edi-ção de um concurso direcionado para jovens que querem desenvolver projectos relaciona-dos com estas temáticas. Procura-se trabalho de pesquisa, reflexão e criatividade. O grupo incentiva, também, o respeito pelo ambiente através da reutilização de materiais, sempre que seja possível. Vão ser atribuidos três primeiros prémios de primeiro lugar, (três para a categoria de design, outros três para arquitectura). Cada prémio terá um valor de 1000 euros.Os trabalhos dos estudantes vão ser acom-panhados de modo a se ambientarem com o mundo do design e da arquitectura e vão ter a oportunidade de conhecer as tendências e a forma de trabalho de estudantes de outros países o que, segundo a empresa, “é de grande importância numa sociedade onde a competi-ção e actividade profissional têm um foco cada vez mais internacional”.Em edições passadas houve temas como “de-sign de uma cozinha outdoor”, “uma casa para um astrónomo” e uma “nova casa-de-banho para a escola de arquitectura de Madrid”.O Ténico de Lisboa está a colaborar com o pro-jecto que foi apresentado dia 9 de Março. A ideia conta com o apoio de várias entidades de Espa-nha, EUA e Austrália. A competição fecha dia 1 de Junho e nesse mês é conhecida a decisão do júri na internet. Para participares e sabe-res mais informações, basta acederes ao site http://www.cosentinodesignchallenge.com/.

Cosentino Group está a organizar a nona edição de um concurso que desafia estudantes destas áreas a mostrar o seu talento

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Texto de Bruna Cunha

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actualidade, educação

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Texto de Bruna Cunha

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Albert Rivera é de Barcelona mas não quer ver a Catalunha independente — e esta foi uma das razões que aproxi-mou o advogado de 35 anos da política espanhola. À frente do Cidadãos (Ciu-tadans — Partit de la Ciutadania, no original catalão) há quase nove anos, tem ganho particular notoriedade e presença mediática nos últimos me-ses. É jovem, “não parece um político” e esta parece ser a sua hora: resulta-dos surpreendentes nas últimas son-dagens da Metroscopia (publicadas no “El País”) mostram que o presidente do C’s, partido percepcionado como de centro direita, é o político mais valori-zado pelos eleitores espanhóis. À sua frente só está o rei Filipe VI.É presença frequente em progra-mas de televisão e tertúlias políticas, tem uma imagem cuidada e saltou do domínio catalão para o nacional, passando para a frente do também jovem Pablo Iglesias, do Podemos, em termos de notoriedade e popu-laridade. Quando comparado com o líder do partido que vai à frente nas sondagens (27,7% dos espanhóis inquiridos manifestam intenção em votar no Podemos), Rivera admite que ambos fazem “nova política” e que se identifica em termos de geração. “Mas ele [Iglesias] faz [política] com ideias velhas, como intervencionismo”, criti-ca, em entrevista ao “El Mundo”.As mesmas sondagens, publicadas no início de Fevereiro pelo diário “El País”, revelam que as intenções de voto no Cidadãos (12,2%) e no Pode-mos (27,7%) combinadas são supe-riores à soma das percentagens do Partido Popular, PP (20,9%), no poder, e do Partido Socialista Operário Espa-nhol, PSOE (18,3%). Há cada vez mais espanhóis à procura de alternativas às forças há muito estabelecidos, no poder rotativamente. “Há muita gente em Espanha que quer uma mudança (…), mas sensata”, resume em en-trevista ao “El Mundo”. O PP critica o C’s, reforçando a ideia de que se trata de um partido catalão ao qual os

dirigentes políticos se devem referir como “Ciutadans” e não como “Ciu-dadanos”, sublinha o “El País”. Depois de centrarem os ataques no Podemos, de Pablo Iglesias, “os populares estão preocupados com o crescimento do Ciudadanos, que se move no seu cam-po e com os seus eleitores”.O partido que Albert Rivera Díaz li-dera não defende a independência da Catalunha, antes uma Espanha uni-da — ainda que em diferentes mol-des daqueles que hoje se verificam. A prioridade do C’s é pôr fim à cor-rupção, sublinha sempre, através da “regeneração democrática”. No perfil de Twitter, apresenta-se com uma fra-se que não deixa dúvidas sobre o seu posicionamento — e do seu partido, fundado em 2005. “A Catalunha é a minha terra, a Espanha é o meu país

e a União Europeia é o nosso futuro. Melhor juntos”. No próximo mês de Maio, o Cidadãos vai concorrer às elei-ções autárquicas em 500 localidades de toda a Espanha, extravasando os limites da fronteira da Catalunha. Ri-vera não avança, contudo, pelo menos para já, se será candidato às legisla-tivas, previstas para o Outono, ou até à presidência da Catalunha: decisões só depois das primárias.Quando questionado sobre possíveis coligações, antes ou depois de elei-ções, Rivera tem algumas condições, como as que apontou numa entrevista televisiva analisada pelo “El Perió-dico”. “Não podemos fazer parte de uma coligação com quem não tenha feito limpeza no seu próprio partido e governo”, assegurou, realçando uma vez mais aquele que diz ser o seu

Deputado ao parlamento catalão pelo Cidadãos desde 2006, Albert Rivera ganhou notoriedade nos últimos meses. O advogado que não defende a independência da Catalunha é o político com mais aprovação entre os eleitores espanhóis

actualidade, política

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Idade: 35 anosNaturalidade: BarcelonaFormação: licenciado em Direito pela Universitat Ramon Llull

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principal cavalo de batalha — a luta contra a corrupção. E a menos que o Podemos altere o programa eleitoral apresentado, “será difícil” chegar a acordo sobre uma eventual aliança. “Com esse programa regressaríamos à peseta”, critica.Reestruturação nos tipos de IVA, dimi-nuição do número de câmaras munici-pais (de 8.000 para 1.000) e incentivos para “trabalhadores mais pobres” são algumas das ideias que Rivera parti-lhou na mesma entrevista. No caso do acesso a cuidados de saúde públicos, defendeu que estes devem existir para quem tenha “autorização de residên-cia ou sejam cidadãos espanhóis” — o que exclui os imigrantes ilegais, à semelhança do que acontece, por exemplo, na Alemanha.Seguido por milhares onlineÉ na Internet que o C’s tem a sua maior ferramenta de propaganda — como Rivera afirma no vídeo ao lado — e os números das redes sociais re-flectem a importância que conferem à rede “sem a qual o Cidadãos não exis-tia”. No Facebook, Rivera tem mais

de 127 mil seguidores; no Twitter, o número já ultrapassa os 200 mil. Pra-ticamente todos os dias actualiza os dois perfis, respondendo a muitos dos comentários e partilhando fotografias. No Instagram aposta, sobretudo, em “selfies” e já vai em mais de 7 mil seguidores. Pela transparência que apregoa, Rivera faz questão de parti-lhar a sua agenda profissional, dispo-nível online, bem como entrevistas e outros vídeos da página de YouTube do Cidadãos. Há ainda uma “playlist” no Spotify com a sua identificação, para que eleitores e potenciais sim-patizantes possam saber que tipo de música ouve.Em 2006, Rivera — então com 27 anos — posou nu para a campanha do C’s, aquando das eleições catalãs, naquilo que o “El País” chamou de “apelativo cartaz eleitoral”. Nesse mesmo ano, o partido conseguiu três deputados na assembleia da Catalu-nha, número que triplicou em 2012. O jovem é deputado ao parlamento catalão desde esse ano, bem como líder do C’s, cargo ao qual chegou por ter um nome começado pela primeira letra do alfabeto (foi esta a forma que o partido encontrou para eleger o seu presidente).Política à parte, muito se tem escrito sobre Rivera na imprensa espanhola. Desde artigos em que o advogado con-ta que investe em fatos Hugo Boss e tem um gosto particular por sapatos, até entrevistas nas quais fala (sem-pre pouco) da filha de quatro anos, Daniela, este é o novo político “cool” de Espanha, com um visual e uma ati-tude bem diferente de Pablo Iglesias. “Alguns dos jornalistas que seguem Rivera desde o início destacam o seu estilo e chamam-lhe o candidato ‘cool’, partilham as suas fotografias nas redes sociais e mostram como as mulheres seguem atentamente o que faz”, escreve Silvia Taulés em “Albert Rivera: o candidato casadouro já tem namorada”, no “El Mundo”. Antigo campeão de natação e pólo aquático, não nega que a imagem é importante — “e não só na política”.

ALBERT RIVERA, O JOVEM POLÍTICO “COOL” QUE

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Texto de Ana Maria Henriques

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actualidade, ciência

Beber café moderadamente – três a quatro por dia – pode reduzir o risco de doenças cardíacas. Quem o diz é uma equipa de investigadores do Samsung Hospital Kangbuk após um estudo realizado com mais de 25 mil funcionários

SE BEBES TRÊS A QUATRO CAFÉS POR DIA

ESTA NOTÍCIA É PARA TI!

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Texto de Jéssica Justo

Um estudo do Samsung Hospital Kangbuk, na Coreia do Sul, realizado com mais de 25 mil funcionários con-cluiu que tomar três a quatro cafés por dia limpa as artérias e, assim, diminui o risco de doenças cardíacas. Os exames de saúde de rotina foram feitos a homens e mulheres, com idade média de 41 anos, e permiti-ram observar que esta bebida evita o entupimento das artérias, um co-nhecido factor de risco para doenças cardíacas, confirmaram cientistas sul-coreanos.Como o café é uma bebida que gera muita polémica devido aos verdadei-ros efeitos que tem sobre a saúde do coração, o debate deve ser reaberto após a apresentação dos resultados do estudo na especializada revista científica”Heart”.No entanto, Victoria Taylor investi-gador da British Heart Foundation, revela que as ilações retiradas desta larga amostra não garantem que o café tenha o mesmo efeito em toda a população. O café contém cafeína, estimulante, e outros compostos que podem ter efeitos nocivos em alguns indivíduos, pelo que Victoria Taylor afirma que é um risco qualquer ge-neralização na sequência das conclu-sões do estudo sul-coreano. Este estudo destaca a eventual liga-ção do consumo de café e o menor risco de obstrução das artérias: a in-gestão de café diminui a probabilida-de de os consumidores acumularem depósitos de cálcio nas artérias co-ronárias e, por conseguinte, e reduz o risco de aterosclerose coronariana, uma causa de morte.

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cultura, mp3

Números de 2014

86 mil pessoas no festival

30 mil dormidas

15 milhões de euros de retorno

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Texto de Amanda Ribeiro

Killer Mike e El P, isto é, Run The Jewels e a pop futurista da menina-ovni FKA Twigs, que assinaram dois dos grandes marcos de 2014. O excêntrico Ariel Pink, super estrela in-dependente, chega sem os seus Haunted Graffiti (assinou o primeiro trabalho a solo no ano passado com “Pom Pom”) e o mestre da electrónica Dan Snaith, aqui Caribou, regressa a Portugal com o seu aclamado “Our Love”. Mais boas notícias: teremos por cá novamente o “enfant-terrible” canadiano Mac DeMarco, a sensação soul Jungle, as canções orelhudas de Mikal Cronin, o noise visceral dos Health. E, na prata da casa, Manel Cruz, num concerto especial, em que passa em revista os vários projectos em que já esteve envolvido, o multi-ins-trumentista Bruno Pernadas e a Banda do Mar, do trio Fred Ferreira, Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, a traçar um vaivém musical entre Portugal e Brasil.Já sabemos, pela amostra de 2013, que é obrigatório ver Dan Deacon ao vivo e, em 2015, teremos uma nova oportunidade de estar numa festa de electrónica alucinada no Primave-ra — ainda para mais, o desconcertante músico lança um novo álbum, “Gliss Riffer”, este mês. E, nesta sexta-feira 13, uma prenda para quem em 2012 lamentou o cancelamento dos Death Cab For Cutie: os norte-americanos também têm viagem marcada para o Porto. Ah, mais uma: os california-nos Foxygen, que no ano passado desmarcaram as datas europeias. Damien Rice e José González trazem o seu folk intimista, enquanto que, noutro universo, os veteranos do doom Electric Wizard, os fúnebres Pallbearer e os apoca-lípticos Pharmakon prometer puxar o volume ao máximo. E ainda o super-grupo indie The New Pornographers e os Spiritualized de Jason Pierce.O cartaz fica completo com os Giant Sand de Howe Gelb, o produtor Juan MacLean em formato “live”, os efervescentes Viet Cong, e ainda Baxter Dury, Kevin Morby, The KVB, Marc Piñol, Movement, Ought, Roman Flügel, Twerps, Xylouris White, Yasmin Hamdan e Younghusband. O difícil será esco-lher, mas esses cálculos ficarão para depois, quando forem conhecidos os horários.Mais do que um festival do 8 aos 80 Na conferência de imprensa, que teve lugar na Câmara Muni-cipal do Porto num evento que foi aberto ao público e onde o cartaz foi revelado através de um vídeo ilustrado (sabe mais sobre as imagens na próxima página), soube-se ainda que ao quarto ano o NOS Primavera Sound abre-se ainda mais a novos públicos. “Não é um festival dos 8 aos 80, é mais do que isso”, nas palavras do presidente da câmara, Rui Moreira.Este ano, duas semanas antes do festival, o Parque da Cidade recebe o NOS Mini Primavera Sound, uma espécie de Pri-mavera em “versão para crianças”, perfeito para famílias. A ideia é manter a mesma “lógica musical”, mas para os “mais pequenos”, explicou Pedro Moreira da Silva, da NOS. E, à semelhança do ano passado, o Passeio das Virtudes acolhe os festivaleiros no Primavera nas Virtudes, de entrada livre. Os alinhamentos para ambos serão conhecidos em breve. Traçando um balanço da edição anterior (ver números à es-querda), o director do festival, José Barreiro, foi peremptório: “Conseguimos fazer deste festival um marco da cidade.”A quarta edição do NOS Primavera Sound realiza-se de 4 a 6 de Junho no Parque da Cidade, Porto. Os passes gerais, à venda nos locais habituais e no site oficial, podem ser adqui-ridos pelo preço promocional de 90 euros até 25 de Fevereiro, passando depois para 105 euros.

As contas de cabeça começaram há semanas, quando foi conhecido o cartaz do Primavera Sound de Barcelona. Pois bem, esses dias terminaram. O cartaz da quarta edição do NOS Primavera Sound, que se realiza no Porto de 4 a 6 de Junho, foi conhecido esta sexta-feira 13 (que de 13 terá muito pouco) e inclui Interpol, The Replacements, Antony and The Johnsons, Belle & Sebastian, Underworld, Run The Jewels, FKA Twigs e muito mais. Vejamos. A Patti Smith (com “Hor-ses” e em modo “spoken word”) e Ride, artistas já anunciados oficialmente, juntam-se assim o barítono Paul Banks e os seus Interpol, que, depois de umas aventuras a solo, regres-saram aos discos no ano passado com “El Pintor”. Teremos lições de história com os lendários The Replacements, ar-quitectos da ponte que fundou o indie rock da década de 90 (“sem eles, a música em 2015 poderia ser muito diferente”, escreve-se no blog do “NME”), agora a arriscarem uma nova vida, e os Underworld, que nos levam numa visita de estudo a “dubnobasswithmyheadman”, álbum lançado há 20 anos e que eliminou fronteiras na música electrónica (uma lição de história de techno ao vivo, portanto).Confirmados ainda o inconfundível Antony Hegarty, que se apresenta com os seus Johnsons para apontar canções cer-teiras ao coração (vai apresentar material novo em Barcelo-na), e os sempre ansiados Belle & Sebastian, acabadinhos de lançar o nono álbum de estúdio, “Girls in Peacetime Want to Dance”. E mais regressos a caminho: o das aguerridas Babes in Toyland, que depois de um silêncio de vinte anos — actuaram no Imperial ao Vivo, em Gaia, em 1997 — prometem partir a loiça toda, e o de Mary Timony, ex-Helium, ex-Wild Flag, que está de volta, mais leve, com as Ex Hex. Também marcam presença os mestres do experimentalismo rock Einstürzende Neubauten, que em “Lament”, lançado em Novembro, reproduzem a banda sonora da Primeira Guer-ra Mundial. E, claro, não poderia faltar a banda fetiche do festival, os Shellac de Steve Albini. Thurston Moore está de regresso com a sua banda, depois de ter passado por Portugal no Verão, tal como Sun Kil Moon, projecto do ex-Red House Painter Mark Kozelek.De Dan Deacon a Ariel Pink (e Manel Cruz)Está ainda prometida uma viagem pelo que de melhor se fez na música nos últimos tempos. O hip-hop do “power duo”

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Texto de Cláudia Carvalho

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Black Keys, Sleater-Kinney, Run the

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Patti Smith e Ride. Festival realiza-se

em Barcelona de 28 a 30 de Maio

Foi preciso descarregar uma apli-cação e jogar um jogo. Um nome do cartaz é revelado a cada personagem que se combate. Não fomos longe no jogo mas descobrimos o cartaz da 15ª edição do Primavera Sound de Barce-lona, que acontece de 28 a 30 de Maio. Black Keys, Belle and Sebastian, Slea-ter-Kinney, Run the Jewels e Interpol são alguns dos nomes confirmados.Não será de estranhar que alguns dos nomes anunciados nesta quarta-fei-ra passem depois pelo Porto para a edição portuguesa do festival, como já vem sendo habitual. O cartaz para o NOS Primavera Sound, que acontece no Porto de 4 a 6 de Junho, é anuncia-do em Fevereiro. Confirmado está já o regresso de Patti Smith que, quase quatro décadas depois, interpretará o álbum de culto “Horses”, além de uma segunda actuação em formato acústico e “spoken word”. Os britânicos Ride já estavam igualmente confirmados.Além destes, já se sabia que também os Strokes tinham viagem marcada para Barcelona. O que não se sabia ainda era que a banda norte-americana se vai desdobrar igualmente em actuações em nome próprio, nomeadamente a de Albert Hammond Jr. e a de Julian Ca-sablancas com os The Voidz. A estes nomes juntam-se bandas como Black Keys, Belle and Sebas-tian, Sleater-Kinney, Run the Jewels, Interpol, Foxygen, The Replacements, the New Pornographers, alt-J ou Dea-th From Above 1979.Destaque ainda para Antony Hegar-ty que apresentará canções novas, assim como para James Blake, que também dará a conhecer material novo. E depois há ainda: Panda Bear, DIIV, the Julie Ruin, Unknown Mortal Orchestra, Spiritualized, tUnE-yArDs, Twin Shadow, Perfume Genius, Mac DeMarco, Swans, Iceage, Jose Gon-zalez, Dan Deacon, Sun Kil Moon, Fucked Up, Kelela, Ariel Pink, Mikal Cronin, Tyler, the Creator, Shabazz Palaces, Jon Hopkins, Caribou e Ex Hex, entre muitos outros.Não faltam os habituais, aqueles que não falham uma edição, entenda-se os Thee Oh Sees e os Shellac. De regresso estará também Thurston Moore e a sua banda.

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Texto de Francisco Pio Correiaé licenciado em comunicação e escreve torto por linhas direitas

E sem nos darmos conta… passou. Pode dizer-se que é um sentimento profundo e nostálgico aquele que circunda. Fica uma impressão de que o tempo passou demasiado rápido, que se viveu num piscar de olhos, tudo porque foram horas incrivelmente bem gastas. Um festival que, no fundo, é uma experiência. É uma experiência onde os dias parecem mais curtos, não só porque realmente acordamos à uma da tarde, mas porque a música também os encurta, faz-nos pensar mais rápido e dar saltos no tempo.Jeff Mangum, aquando do concerto dos Neutral Milk Hotel, invocou que o que presenciávamos naquela altura devia ser guardado no coração e na memória. E tenho a certeza que foi o que as quase 70 mil pessoas que passaram no NOS Primavera Sound fizeram. A verdade é que de 5 a 7 de Junho o meu coração aumentou e os meus dias só tiveram oito horas. E quando achei que tudo aquilo passava, e me fugia por entre os dedos, toquei a minha guitarra fictícia e fiz força para nunca mais o esquecer. Pode parecer uma análise vaga e distorcida do que se passou. Mas é a minha e é verdadeira, tal e qual quando gostamos de alguém e é difícil escrever ou dizê-lo. A verdade é que me senti mais leve, não só por causa dos quilos que perdi recentemente, mas porque me tirou um peso que tinha em cima, não me perguntem qual. É aí que a minha ingenuidade musical dá os seus frutos, pois não se prende com aspectos espaciais da música, mas sim com os emo-cionais. É isso, este festival emocionou-me. E se é esta emoção que me está destinada, que venham mais. Que venham muitos. Para acabar este raciocínio, resta-me falar das pes-soas. São o mais importante a seguir à música. E embora seja apologista da independência musical de cada um, é tudo criado para que se viva em conjunto. Com quem não conheces, com quem conheces ou até mesmo com quem acabaste de conhecer. E neste ponto tenho de admitir que fui contra tudo aquilo que a minha avó me ensinou. E nunca me soube tão bem.

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EQUIPA

Director: Álvaro SousaEditor in chef: Joana JervellProduction Manager: Ana LapãoArt direction & Design: Cátia MonteiroOnline Editor: Invês RevésContributing writer: Mariana Correia Pinto, Ana Maria Henriques, Maria João Monteiro, Bruna Cunha, Tiago Matos Silva, Joana Cos-ta, Greg Girard, Ricardo Alves Lopes, Jéssica Justo, Amanda Ribeiro, Cláudia Carvalho