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PA ULA CA ROLINA DE SO UZA KIR CHOF D OS REIS …...Há mais de 5 anos na qualidade de arquiteta responsável por projetos de instala ções físicas em dois campi de uma Instituição

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PAULA CAROLINA DE SOUZA KIRCHOF DOS REIS

O DESIGN ARQUITETÔNICO COMO AGENTE DE APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SUSTENTÁVEIS EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação do Centro Universitário

Ritter dos Reis (UniRitter) como requisito

parcial para a obtenção do título de

Mestre em Design.

Orientadora: Profª. Dra. Lígia Maria

Sampaio de Medeiros

PORTO ALEGRE 2012

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

R375d Reis, Paula Carolina de Souza Kirchof dos

O design arquitetônico como agente de aplicação de técnicas sustentáveis em instituição de ensino / Paula Carolina de Souza Kirchof dos Reis. – 2012.

141 f. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Centro Universitário Ritter dos Reis, Faculdade de Design, Porto Alegre, 2011.

Orientador: Prof. Dra. Ligia Maria Sampaio de Medeiros.

1. Desenho arquitetônico. 2. Arquitetura sustentável. 3.Universidades - Arquitetura. 4. Edifícios para educação e cultura I. Título. II. Medeiros, Ligia Maria Sampaio

CDU 727.3

Ficha catalográfica elaborada no Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Dr. Romeu Ritter dos Reis

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PAULA CAROLINA DE SOUZA KIRCHOF DOS REIS

O DESIGN ARQUITETÔNICO COMO AGENTE DE APLICAÇÃO DE TÉCNICAS SUSTENTÁVEIS EM INSTITUIÇÃO DE ENSINO

Trabalho de Conclusão defendido e aprovado como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Design pela banca examinadora constituída

por:

_____________________________Prof. Dra. Raquel Rodrigues Lima

_____________________________Prof. Dr. Sidnei Renato Silveira

_____________________________Prof. Dra. Ligia Maria Sampaio de Medeiros

Porto Alegre

2012

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AGRADECIMENTOS

Acima de tudo, agradeço a Deus, meu Pai e Mestre, pelo amor e força.

Desde a formatura na graduação de Arquitetura e Urbanismo, até a defesa deste

trabalho em Design, diversas pessoas passaram por minha vida, as quais

contribuíram de alguma maneira para o desenho desta Dissertação. Entre elas,

destaco agradecimentos à Lilia Pires, Mirelle Nagel e Gustavo Colussi, amigos e

colegas de trabalho, pelas conversas e troca de ideias; aos meus sogros, Ivelone

Nagel Reis e Flávio D’Almeida Reis, pelas oportunidades, incentivo e experiências;

ao curso de Mestrado em Design do UniRitter, particularmente ao Prof. Vinicius

Gadis Ribeiro, por toda a ajuda e dedicação, aos demais professores e funcionários

da Instituição; à Josiane da Costa, Tania Inês e demais colegas do Mestrado,

sempre impulsionando minha evolução pessoal e profissional. De maneira distinta,

agradeço aos meus pais, Vitor Kirchof e Marisa de Souza Kirchof, por terem

colocado acima de tudo a minha educação, ensinando valores como persistência,

dedicação e coragem; ao meu marido Fernando Ritter dos Reis, por todos os dias

que esteve ao meu lado, suas ideias, incentivo, amor e paciência; à Lígia Medeiros,

minha professora e orientadora, pelo conhecimento e possibilidades de discussões

em aula, construindo uma nova dimensão para a prática docente; em especial ao

Prof. Luiz Vidal Negreiros Gomes, eterno Mestre-orientador, pelos ensinamentos,

discussões e incentivo, que deu novo rumo a minha prática pessoal, profissional e

docente.

Mais uma vez, muito obrigada a todos.

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A Natureza, secreta e silenciosamente, concebe, gera, desenvolve e põe ao nosso dispor, em troca de muito pouco – a não ser de respeito e preservação – todas as suas coisas. (GOMES, 2001)

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RESUMO

Esta dissertação tem por objetivo propor diretrizes para implantação de edificações

de Instituições de Ensino Sustentáveis como elemento de reforço para uma atividade

educacional. Escolas e Universidades que possuem edificações a serem construídas

em seus campi, ou terrenos para a instalação de novos campi, têm nas mãos uma

grande oportunidade de desempenhar o seu papel, optando pela construção

sustentável. Este trabalho fundamentou-se em informações relacionadas à

sustentabilidade econômica, social e ambiental e focou-se, mais especificamente,

nos aspectos metodológicos da arquitetura sustentável a fim de se elucidar a

influência do ambiente físico no processo educacional. Esta pesquisa concentrou-se

em descrever a metodologia empregada e apresentou as análises das informações

coletadas na pesquisa bibliográfica das edificações sustentáveis de IE. Por fim,

desenvolveu-se a aplicação da metodologia em Universidade Brasileira UniLivre,

apresentando os resultados e contribuições acerca do planejamento do design

arquitetônico como agente de aplicação das técnicas sustentáveis, visando o uso

sistemático do Design Arquitetônico para proteger o meio ambiente e ensinar

acadêmicos e comunidade.

Palavras-chave: Sustentabilidade. Design Arquitetônico. Instituições de Ensino.

Tecnologias Sustentáveis.

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ABSTRACT

This thesis aims to propose guidelines for implantation of buildings of educational

institutions as part of Sustainable reinforcement for an educational activity. Schools

and Universities that have buildings to be constructed on their campuses, or land for

the installation of new campuses, their hands a great opportunity to play their part by

opting for sustainable construction. This work was based on information related to

economic, social and environmental focused more specifically on the methodological

aspects of sustainable architecture in order to elucidate the influence of the physical

environment in the educational process. This research focused on describing the

methodology used and presented the analysis of information collected in the

literature IE of sustainable buildings. Finally, we developed the application of the

methodology in Brazilian University Unilivre presenting the results and contributions

on the design of the architectural design as an agent for the implementation of

sustainable techniques, aiming at the systematic use of Architectural Design to

protect the environment and teaching academics and the community.

Keywords: Sustainability. Architectural Design. Education Institutions. Sustainable

Technologies.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 1

2 O DESIGN SUSTENTÁVEL NO ENSINO 7 2.1 CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE 10 2.2 O PAPEL DO DESIGNER PARA A SUSTENTABILIDADE 13 2.3 SUSTENTABILIDADE NO DESIGN ARQUITETÔNICO 152.4 EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE 16 2.5 O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO NA SOCIEDADE 19 2.6 A IMPORTÂNCIA DA CLASSIFICAÇÃO 21

3 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL EM IE 253.1 COMPATIBILIDADE DO PROCESSO EDUCACIONAL AO ESPAÇO FÍSICO 26 3.2 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO 283.3 TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS DO DESIGN ARQUITETÔNICO 313.4 TECNOLOGIAS INOVADORAS VISANDO À SUSTENTABILIDADE 323.5 INFLUÊNCIAS DO AMBIENTE NO ENSINO 363.6 PRINCIPAIS ACORDOS AMBIENTAIS RELACIONADOS ÀS IE 38

4 METODOLOGIA DA PESQUISA 424.1 AIA – INSTITUTO AMERICANO DE ARQUITETOS 42 4.2 AIA NA EDUCAÇÃO 444.3 COTE – COMISSÃO DO MEIO AMBIENTE 454.4 DEFINIÇÕES E MEDIDAS DO DESIGN SUSTENTÁVEL AIA|COTE 484.5 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA A SER EMPREGADA 524.5.1 Quadro de Dados 53 4.5.2 Quadro de Levantamento 54 4.5.3 Quadro de Avaliação 58

5 ANÁLISES DO AIA EM IE 615.1 KROON HALL 61 5.2 RINKER HALL 755.3 HEIMBOLD CENTRO DE ARTES VISUAIS 92

6 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NA UNILIVRE 1086.1 LEVANTAMENTO DO GRAU DE SUSTENTABILIDADE DA UNILIVRE 110

CONTRIBUIÇÕES 1237.1 AVALIAÇÃO DA UNILIVRE 125

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CONSIDERAÇÕES FINAIS 136

REFERÊNCIAS 141

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1 INTRODUÇÃO

Os princípios norteadores da Arquitetura e do Design, quando examinados em con-

junto no projeto de edificações sustentáveis, podem contribuir para um resultado bastante

satisfatório. A Arquitetura contribui com as soluções de adaptação do edifício ao espaço, o

uso de recursos naturais, orientação solar, ventos, vegetação; estuda a movimentação das

pessoas nos espaços, as atividades que serão desenvolvidas e cuida para que haja conforto

e segurança nos serviços oferecidos pela edificação.

O Design, por sua vez, fornece o fundamento metodológico de projetar, situando o

usuário no centro de interesse do produto industrial. Buscam-se equacionar simultaneamen-

te os fatores econômicos, ergonômicos, tecnológicos, perceptivos, ecológicos e culturais

para se acalçar um produto, cujo ciclo de vida, da concepção ao descarte, possa ser conhe-

cido e controlado. Design é a área do conhecimento que trata do planejamento, da progra-

mação e do projeto, dos objetos com os quais o homem lida em seu cotidiano, assim como

dos ambientes em que mantém seu espaço de vida (ESDI, 2011).

Gomes (2011) considera que existem pelo menos nove Profissões do Design, a sa-

ber: Arquitetura; Artes Visuais; Administração; Engenharia; Ergonomia; Mercadologia; Publi-

cidade; Moda; e Desenho industrial. Visto sob essa perspectiva e em consonância com a

filosofia do Mestrado em Design do UniRitter, o termo Design Arquitetônico é utilizado, no

presente trabalho, para nomear a área do conhecimento que aborda o projeto dos ambien-

tes em que o ser humano vive, e as relações que se estabelecem entre usuários e espaços,

mediadas por produtos de consumo, de capital e de serviços. Tendo os princípios dessas

duas atividades profissionais como referência para aplicação em espaços destinados ao

ensino, esta dissertação demonstra de que forma o Design Arquitetônico é utilizado como

agente de aplicação das técnicas sustentáveis em Instiuições de Ensino (IE).

É relevante o papel das IE, rumo ao desenvolvimento sustentável, face às conse-

quências previstas de um aquecimento global crescente e demais problemas ambientais.

Neste trabalho, entende-se que a construção civil causa enormes impactos ambientais, o

que exige novas alternativas, uma vez que um edifício pode ser ícone de sustentabilidade

através da linguagem semiótica, difusão de novas tecnologias, conceitos e práticas no seu

uso, e, se isso for aliado à responsabilidade de uma Escola ou Universidade, a construção

sustentável passa a representar um exemplo físico e técnico de uma visão de mundo.

O tema proposto para desenvolvimento desta pesquisa foi orientado para se encaixar

na linha de pesquisa Design e Inovação. Procurou-se pensar em tema que tratasse de unir

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processos de inovação tecnológica e arquitetura sustentável, a fim de aplicá-los em solu-

ções projetuais para edificações de IE.

Há mais de 5 anos na qualidade de arquiteta responsável por projetos de instala-

ções físicas em dois campi de uma Instituição de Ensino Superior (IES), um localizado em

Canoas e outro em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, motivei-me pelo

tema de pesquisa que une tecnologia, sustentabilidade e arquitetura. Essa tríade de pala-

vras, quando relacionada à integração de conhecimento projetual e criativo, orienta-se tanto

aos propósitos do curso de Mestrado em Design do UniRitter – justo por tratar de inovação

para formação da ideia de um produto, no caso o edifício – , quanto à filosofia educacional

e gerencial da IES junto à qual se pretende desenvolver o projeto: educação para benefício

de todos e proteção do meio ambiente.

Como arquiteta, chamou-me atenção o site Arcoweb – Arquitetura e Design, a dis-

cussão do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), que trata das novas leis

voltadas para a sustentabilidade para todos os envolvidos no processo da construção civil

(SILVA, 2007). Essas leis atingem desde o arquiteto até o empreendedor, passando por

consultores e equipes técnicas. A duras penas, a sociedade está chegando à conclusão de

que, embora tenha alcançado o maior desenvolvimento tecnológico que a humanidade já

experimentou, gerou também, no século XX, o maior desastre ecológico do planeta. O dile-

ma do homem no século XXI, como já se alardeia mundialmente, será conciliar desenvolvi-

mento com preservação dos recursos naturais. A construção civil começa a acordar para a

questão. O meio ambiente deve ser visto como parceiro e nunca como entrave – principal

recado deixado pelo 2º Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável.

Este dado mostra a crescente preocupação da sociedade em preservar o meio am-

biente e o quanto as construções mal projetadas, mal contruídas e mal conservadas influen-

ciam negativamente a ecologia e principalmente a saúde dos ocupantes. Exemplo disso são

os sistemas de ar-condicionado que podem abrigar micróbios e elementos químicos poten-

cialmente letais, trazendo grandes prejuízos à saúde dos usuários de uma arquitetura des-

preocupada com o meio ambiente (ROAF, FUENTES, THOMAS, 2006). Ainda nesse senti-

do, de acordo com Dillenseger (1986), uma casa mal concebida pode dar origem a doenças,

desde a simples fadiga crônica e insônia até a depressão (DILLENSEGER, 1986). É possí-

vel concluir que a necessidade de conscientização sobre sustentabilidade e preservação

está cada dia mais em voga, tanto que um dos canais disponíveis na grade de uma rede de

TV por assinatura, o Discovery Home & Health, apresenta um programa sobre casas ecoló-

gicas com exemplos de construções existente e reais completamente voltadas para a sus-

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tentabilidade, mostrando novas técnicas e incentivando o telespectador a refletir sobre a

preservação do meio ambiente.

A construção civil causa impactos ambientais de grande porte. Dentre eles, desta-

cam-se os (i) materiais: 60% de todos os recursos mundiais que são destinados à constru-

ção (estradas, edificações, etc); (ii) energia: cerca de 50% da energia gerada é utilizada pa-

ra aquecer, iluminar e ventilar as edificações, além de 3% usados na sua construção; (iv)

água: 50% da água usada no mundo é destinada ao abastecimento de instalações sanitá-

rias e outros usos nas edificações; (v) solo: 80% do melhor solo cultivável é utilizado na

construção civil e não na agricultura, e grande parte do restante é perdida como consequên-

cia de inundações causadas pelo aquecimento global; (vi) madeira: 60% dos produtos ma-

deireiros mundiais são utilizados na construção de edificações, assim como cerca de 90%

das madeiras duras (EDWARDS, 2008, p. 25).

Diante desse contexto, Universidades que possuem edificações a serem construídas

em seus campi ou terrenos para a instalação de novos campi, têm nas mãos uma grande

oportunidade para desempenhar o seu papel de optar pela construção sustentável e pela

implantação de um Plano Diretor que leve em consideração a Gestão Ambiental. Dessa

forma, esta pesquisa baseia-se em análises, cujo imperativo é assimilar práticas sustentá-

veis através dos edifícios e operações de campi de Instituições de Ensino, utilizando suas

soluções de projeto arquitetônico, incluindo a edificação, sistemas funcionais de iluminação,

ventilação, circulação, sanitário, e sua rotina de operação como ferramenta educacional.

A sustentabilidade pode ser transmitida pelo conhecimento tácito. Segundo Cortese

(2000), retemos apenas de 10% a 20% do que ouvimos ou lemos, contra 80% do que expe-

rimentamos. Para Lundvall (2001):

O aprendizado partilhado é a chave para o conhecimento tácito e implica

naturalmente que o contexto social é importante para esse tipo de aprendi-

zado (LUNDVALL, 2001).

Um dos desafios arquitetônicos para a implantação de um campus universitário sus-

tentável no sul do Brasil é o fato de que a edificação deve propiciar conforto térmico tanto

para baixas temperaturas, quanto para altas temperaturas, pois a variação diária de tempe-

ratura no verão e no inverno atinge grandes amplitudes. Portanto, fica evidente a necessi-

dade de serem estudadas estratégias de projetos voltados para a sustentabilidade, com

técnicas passivas para conforto térmico, conforto acústico, valorização da iluminação natural

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como prateleiras de luz, beirais e brises, sheds, muros de aquecimento, pátios internos, es-

tufas, entre outros.

Flexibilidade, funcionalidade, e energias alternativas também são itens de grande

importância no estudo. Sabe-se, também, que é possível melhorar a qualidade do ar interior

e exterior com a combinação: edificação, vegetação e paisagismo. Outro aspecto importante

de pesquisa é a redução do consumo de água potável, o reuso e o aproveitamento da água

da chuva. Da mesma forma, é fundamental que haja a verificação de locais adequados para

o armazenamento do lixo, respeitando, assim, a coleta seletiva que é fundamental para au-

mentar a vida útil do aterro sanitário da cidade e manter a higiene e saúde do ambiente.

Vale lembrar que os projetos são sempre específicos para cada situação, sendo a

sua relação com o entorno e clima fatores decisivos, o que leva a conceber cada projeto

como um projeto único. O conceito de projeto é o mesmo, mas as soluções serão diferenci-

adas, específicas para cada caso.

Para Orr (2004), toda escola, colégio ou universidade, além de seu currículo explícito

descrito em seu catálogo, possui outro, que poderíamos chamar de currículo implícito e que

consiste em seus edifícios, terrenos e operações. Assim, como a infraestrutura urbana re-

percute na sociedade, em seu conjunto, a infraestrutura que os estudantes observam nos

campi, ou seja, como eles se movem (transporte), o que eles comem, como eles se relacio-

nam uns com os outros, como eles “vivenciam” determinados espaços, a noção de tempo e

espaço que constroem, são aspectos que influenciam sua capacidade de imaginar melhores

alternativas.

Conforme visto anteriormente, retemos de 10 a 20 % do que ouvimos ou lemos, e

aproximadamente 80% do que experimentamos (CORTESE, 2000). Por conseguinte, é im-

prescindível a assimilação de práticas sustentáveis por meio dos edifícios e operações dos

campi universitários, utilizando seu design e sua rotina de operação como ferramenta edu-

cacional (ORR, 2004).

Orr (2006) valoriza a perseverança do grupo idealizador do projeto e a conquista do

envolvimento de toda a instituição, relatando sucessos e obstáculos, desde a aprovação da

instituição até a obtenção de recursos. Na visão de Lundvall,

Indivíduos e organizações que solucionam conjuntamente problemas, ao fi-

nal de um projeto específico, terão partilhado o conhecimento original do

parceiro, do mesmo modo que terão partilhado o novo conhecimento tácito

gerado pelo trabalho conjunto (LUNDVALL, 2001).

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O objetivo especifico desta dissertação é o desenvolvimento de diretrizes para im-

plantação de edificações para IES, definindo estratégias de projeto e apontando soluções,

tendo como exemplo prédios Universitários. Além disso, objetiva colaborar na instituição de

práticas sustentáveis nas IES, através de suas edificações, em projetos novos ou adaptação

de edifícios existentes. Estes, por sua vez, demandam novos produtos, comportamentos e

processos, exigindo, pois, novas pesquisas, além de contribuirem para formação de uma

“cultura sustentável”.

O presente trabalho visa mostrar a relevante contribuição da arquitetura para as edi-

ficações educacionais sustentáveis, apresentando estratégias de projeto adequados à reali-

dade brasileira. Os resultados da investigação centram-se nas propostas de novos produtos,

comportamentos e processos diferenciados, aberturas para novas pesquisas, de forma a

divulgar princípios de “cultura sustentável”.

A metodologia adotada para este estudo baseou-se nas edificações existentes de In-

tituições de Ensino consideradas como projetos de exelência em sustentabilidade. Analisou-

se os prédios Rinker Hall e Heimbold, ambos situados nos Estados Unidos da América

(EUA) e executados para abrigar para cursos superiores ligados às Artes, Design, Arquitetu-

ra e Engenharia. Os outros objetos de estudo foram os prédios do Koon Hall, nos EUA e

UniLivre, no Brasil, ambos direcionados a cursos superiores ligados a estudos ambientais.

Nesse sentido, a UniLivre destaca-se como exemplo de solução no Brasil, mais especifica-

mente na região sul, estado do Paraná. A partir dessas análises, elaborou-se um quadro

comparativo para demonstrar as metas sustentáveis atingidas em cada solução de projeto.

O trabalho está dividido em cinco capítulos: (i) revisão de literatura sobre a importân-

cia da sustentabilidade em prédios de instituições de ensino; (ii) revisão de literatura sobre o

design arquitetônico sustentável em instituições de ensino; (iii) metodologia empregada com

estudos de casos; (iv) descrição e os objetos de estudo; (v) contribuição, apresentando os

resultados; e (vi) discussão.

No capítulo I, de fundamento, apresentam-se informações relacionadas à sustentabi-

lidade econômica, social e ambiental; sua relação com a manutenção e construção dos Mei-

os Ambientes Natural e Artificial e com a Ecologia. São analisadas essas características

conceituais e estruturais sobre edificações de ensino, enfatizando a arquitetura sustentável

nos dias atuais, descrevendo histórico, técnicas e materiais. O capítulo II, focaliza, mais es-

pecificamente, os aspectos metodológicos da arquitetura sustentável, procurando perceber

qual a influência do ambiente físico no processo de ensino nos cursos de Design e Arquite-

tura, que utilizam o processo criativo, assim como abordar as metodologias de ensino des-

ses cursos para que sejam compatíveis ao ambiente físico.

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Já o capítulo III descreve a metodologia empregada e apresentada pelo Instituito de

Arquitetos Americano (AIA) e o quadro de medidas a serem analisadas, assim como o qua-

dro de dados, de levantamento e o de avaliação. No capítulo IV, apresentam-se as análises

das informações coletadas na pesquisa bibliográfica sobre edificações sustentáveis de Insti-

tuições de Ensino consideradas ideais e vencedoras do programa Top Ten promovido pelo

AIA.

O capítulo V aborda a aplicação da metodologia em uma Universidade Brasileira, a

UniLivre, localizada na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. Esta análise demonstra a

aplicação do guia organizado a partir das orientações do AIA.

No capítulo VI, são expostos resultados e contribuições acerca do planejamento do

design arquitetônico como agente de aplicação das técnicas sustentáveis, na forma de um

método projetual, utilizando-se parâmetros sustentáveis. Nas Considerações Finais, são

expostas as impressões sobre as informações colhidas durante a pesquisa e apresentadas

sugestões para estudo de futuros pesquisadores.

Assim, deseja-se que este trabalho possa contribuir tanto para a produção teórica

quanto prática de Designers e Arquitetos, imbuídos de um espírito ecológico, conscientes,

responsáveis e comprometidos com a manutenção e construção do Meio Ambiente Natural

e Artificial.

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2 O DESIGN SUSTENTÁVEL NO ENSINO

Conforme Fouto (2002), o papel das Instituições de Ensino Superior (IES) alcança

quatro níveis de intervenção: (i) Educação dos tomadores de decisão para um futuro susten-

tável; (ii) Investigações de soluções, paradigmas e valores para uma sociedade sustentável;

(iii) Operação dos campi universitários como exemplos práticos de sustentabilidade à escala

local; (iv) Coordenação e comunicação entre os níveis anteriores e entre estes e a socieda-

de. De forma geral, as IES assumem uma responsabilidade essencial na preparação das

novas gerações para um futuro viável.

Pela reflexão e por seus trabalhos de pesquisa básica, esses estabelecimentos de-

vem não somente advertir, ou mesmo dar o alarme, mas também conceber soluções racio-

nais. Devem tomar a iniciativa e indicar possíveis alternativas, elaborando propostas coeren-

tes para o futuro (Fouto, 2002; Kraemer, 2004).

Kraemer (2004) enfatiza que o desenvolvimento sustentável procura nas IES um

agente especialmente equipado para liderar o caminho. A missão das IES são o ensino e a

formação dos tomadores de decisão do futuro, ou dos cidadãos mais capacitados para a

tomada de decisão. Essas instituições possuem experiência na investigação interdisciplinar

e, por serem promotoras do conhecimento, acabam assumindo um papel essencial na cons-

trução de um projeto de sustentabilidade.

Isso vem ao encontro de Fouto (2002) que, ao discutir o papel do Ensino Superior no

desenvolvimento sustentável, apresenta a visão da Universidade Politécnica da Catalunha,

sob a forma de um modelo (Figura 1).

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Figura 1. O papel da universidade na sociedade, relativo ao desenvolvimento sustentável.

Fonte: Adaptado de Fouto (2002).

Duas vertentes se referem ao desenvolvimento sustentável nas IES: uma pedagógi-

ca, relativa ao ensino, com a inserção de temas ambientais nas disciplinas de graduação,

projetos de pesquisa e programas de extensão voltados ao desenvolvimento sustentável;

outra operacional, de estrutura física e administrativa, considerando planejamento dos campi

e seus edifícios. Além de seu currículo explícito, toda IES possui outro, implícito, que consis-

te em seus terrenos, edifícios e operações. (FOUTO, 2002)

Existem razões signifcativas para implantar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA)

em uma IES, entre elas o fato de que as faculdades e universidades podem ser comparadas

com pequenos núcleos urbanos, envolvendo diversas atividades de ensino, pesquisa, ex-

tensão e atividades referentes a sua operação por meio de bares, restaurantes, alojamen-

tos, centros de conveniência, entre outras facilidades. Além disso, um campus precisa de

infraestrutura básica, redes de abastecimento de água e energia, redes de saneamento e

coleta de águas pluviais e vias de acesso. Como consequência das atividades de operação

do campus, há geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos, além do consumo de recur-

sos naturais.

Para uma edificação sustentável bem sucedida, é importante que os todos os profis-

sionais envolvidos compreendam a edificação com um pensamento sistêmico: a importância

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do Projeto Integrado. O edifício é pensado como um todo, e, na sustentabilidade, é levado

em consideração o uso, a manutenção e até sua demolição, incluindo o ciclo de vida dos

materiais. O arquiteto vai reger um conjunto de ações chamado projeto, envolvendo o co-

nhecimento de cada especialista para a criação de um saber coletivo interdisciplinar.

Creio que a arquitetura cada vez mais, exige diretores à altura de dominá-la

[...] não poderia trabalhar sem ter ao meu lado uma equipe de especialistas

[...] Quanto mais forte a especialização, mais forte deve ser a idéia geral,

porque em certos níveis, se a pessoa fica parada olhando para o trinco da

janela, está perdida [...].(FAROLDI E VETTORI, 1997.p.124).

Firmitas, Utilitas e Venustas (resistência, funcionalidade e beleza) foram conceitos

estabelecidos por Marcus Vitruvius Pollio em seus dez livros de arquitetura, considerados o

mais antigo tratado sobre o tema, e representam os três pilares teóricos sobre os quais se

fundamentou a arquitetura moderna (IKEDA, 2005). Com a incorporação dos aspectos da

sustentabilidade pela arquitetura, surge o novo conceito, conhecido como The Green Vitru-

vius (LAMBERTS et al., 2004). Portanto, a sustentabilidade também deve contemplar a esté-

tica e a harmonia do todo.

Degani & Cardoso (2005) defendem a importância da etapa do projeto arquitetônico

para a sustentabilidade das edificações. Relatam que, a partir da identificação de aspectos e

impactos ambientais das atividades desenvolvidas ao longo do ciclo de vida dos edifícios e,

também, do panorama atual verificado em empresas e organizações que atuam em prol das

edificações sustentáveis, no edifício, quando abordado como um produto global, é possível

verificar certas oportunidades de influências positivas nos projetos arquitetônicos.

Sendo o arquiteto o regente do projeto, quanto maior a sua interação com os especi-

alistas, melhor o resultado do produto final. É imprescindível, para que a meta sustentabili-

dade seja alcançada, que os profissionais responsáveis pelos projetos complementares se-

jam consultados durante o processo de criação, e não somente após a conclusão do projeto

executivo, como habitualmente acontece.

Orr (2006) afirma ser eficaz e indicada a formação de uma equipe multidisciplinar

sob a liderança do arquiteto e/ou consultor ou responsável, com domínio das técnicas sus-

tentáveis. Ressalta também a importância do envolvimento de toda instituição.

No entanto, convencionalmente, há o modelo de projeto linear, conforme figura 2.

Para uma edificação sustentável bem-sucedida, é preciso que todos os profissionais envol-

vidos compreendam a edificação com um pensamento sistêmico, como projeto integrado, de

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acordo com a figura 3, em que as etapas deixam de ser lineares e os diversos profissionais

interagem em todo o processo.

Figura 2 - Modelo de projeto linear. Fonte: Deeke, Casagrande, Silva. (2009)

Como o projeto é o ponto de partida do ciclo de vida do edifício, presume-se que sur-

jam dos arquitetos soluções mitigadoras de seus impactos, pois as definições dessa primei-

ra fase implicam nas consequências das fases seguintes. Quanto maior a interação do ar-

quiteto com especialistas, melhor será o produto final. O arquiteto “regerá” um conjunto de

ações, envolvendo o conhecimento de cada especialista para criar um novo saber, coletivo e

interdisciplinar – o projeto sustentável.

Figura 3 - Visão Sistêmica: Projeto Integrado. Fonte: Deeke, Casagrande, Silva. (2009)

2.1 CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE

A prosperidade econômica e o crescimento populacional provocam cada vez mais

impactos no meio ambiente. Conforme Edwards (2008), estima-se que, por volta do ano de

2050, a espécie humana causará um impacto ambiental quatro vezes maior do que em

2000, considerando um crescimento econômico anual de 2% e uma população mundial de

10 bilhões (EDWARDS, 2008, p. 10). Perante esse quadro, Thackara (2008) define que a

única saída para o nosso destino é a sustentabilidade, isto é, um processo ou estado que

pode ser mantido indefinidamente em um determinado nível (THACKARA, 2008, p.27).

A sustentabilidade vem ocupando um lugar de destaque na vanguarda da ciência

como base para tecnologias inovadoras e abordagens de design, representando um novo

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paradigma para a equidade social, além de uma nova perspectiva por meio da qual as em-

presas poderão projetar seus futuros. No entanto, no âmbito da arquitetura, costuma-se es-

quecer que o conceito de desenvolvimento sustentável envolve os dois grandes vetores do

Movimento Moderno: a inovação tecnológica e a igualdade social. Vários movimentos arqui-

tetônicos recentes consideraram apenas um desses aspectos. A arquitetura high-tech, por

exemplo, utiliza novas tecnologias de edificação, mas não contempla aspectos sociais nem

sustentáveis (EDWARDS, 2008, p. 11).

De fato, a construção sustentável constitui a base do projeto sustentável, que, por

sua vez, influencia o desenvolvimento, e não ao contrário. A grande complexidade que en-

volve o desenvolvimento sustentável das cidades dificulta a ação neste sentido. No entanto,

a facilidade de avaliação do impacto das edificações sobre os recursos naturais pode ser

explorada para a divulgação de uma nova arquitetura ecológica, que promova um processo

de mudança. Cada vez mais, este é um partido adotado por alguns dos arquitetos mais res-

peitados da atualidade, como Norman Foster, Nicholas Grimshaw, Richard Rogers e Micha-

el Hopkins (EDWARDS, 2008, p. 6). Reforçando este pensamento, segundo Thackara

(2008), designers e arquitetos têm nas mãos a oportunidade de controlar a situação que

parece fora de controle:

As coisas podem parecer fora do controle – mas não estão fora do nosso

alcance. Muitas das preocupantes situações atuais são o resultado de deci-

sões de design (THACKARA, 2008, p.24).

A arquitetura social, por outro lado, costuma ignorar o potencial do projeto e das tec-

nologias para a resolução de problemas sociais. O conceito de sustentabilidade, todavia,

envolve ambos os enfoques: não só revitaliza a arquitetura, como outorga uma nova validez

moral à criação de assentamentos humanos, proporciona uma nova base ética para o exer-

cício da arquitetura e, finalmente, dá nova forma estética e cultural a paisagem (EDWARDS,

2008, p. 11).

Conforme figura 4, o projeto sustentável depende de 3 vértices que se complemen-

tam para alcançar o objetivo estabelecido. O projeto deve contemplar não apenas os aspec-

tos ambientais, mas também os aspectos sociais e tecnológicos.

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Social (economia, formação, comunidade, equidade, capital cultural)

Projeto

Sustentável

Tecnológico (tecnologia

energética, técnicas, design,

novas tecnologias, capital de

conhecimento)

Ambiental (saúde, ener-

gia, água, futuridade, ca-

pital de recursos)

Figura 4 – três vértices do projeto sustentável: social, tecnológico e ambiental (Fonte: adapta-

do de EDWARDS, 2008, p. 11).

O projeto sustentável, objeto deste trabalho, envolve o desenvolvimento sustentável

e sustentabilidade, de acordo com suas definições. Na visão de Edwards (2008), há uma

diferença importante entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável que deve ser

destacada, conforme figura 5. Desenvolvimento sustentável, é o aproveitamento dos recur-

sos biológicos, os quais devem ser explorados da maneira menos prejudicial possível, con-

servando a natureza e permitindo a harmonia entre o desenvolvimento das atividades hu-

manas e a preservação.

O conceito de desenvolvimento sustentável apresenta três níveis fundamentais,

quais sejam: sustentabilidade da sociosfera, sustentabilidade da biosfera e sustentabilidade

da ecosfera. Cada um desses subsistemas está interligado aos demais, alimentando pere-

nemente o conceito de sustentabilidade através do princípio da recursividade, não havendo,

portanto, o privilegiamento de um nível sobre os demais.

Sustentabilidade é o modo de sustentação, ou seja, da qualidade de manutenção da

forma de vida do humano enquanto espécie biológica, individualidade psíquica e social. De

modo óbvio, também, está incluso no princípio da sustentabilidade, o meio ambiente, em

sentido lato sensu, assim como as demais formas de vida do planeta, afinal, o ser humano

possui autonomia para existir, mas não possui independência da natureza.

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Desenvolvimento Sustentável (DS) É uma meta

– produto (mecânico)

Meio ambiente

Economia

Sociedade

Sustentabilidade (S) É um processo – sistema

(sistêmico)

Ecológico

Econômico

Social

Cultural

Figura 5 – diferença entre desenvolvimento sustentável e sustentabilidade (Fonte: adaptado

de EDWARDS, 2008, p. 12).

2.2 O PAPEL DO DESIGNER PARA A SUSTENTABILIDADE

Segundo Thackara (2008), a tarefa de designers, em relação à sustentabilidade, é

substituir os recursos físicos pela informação. Informar-se é saber onde um recurso que será

necessário utilizar pode ser encontrado.

Se você usar um objeto e acessá-lo facilmente, não precisa tê-lo – e a bios-

fera não precisa arcar com ele. Pense nos carros: a maioria deles é utilizada

menos 5% do tempo; em outros momentos, eles ficam vazios, não utiliza-

dos, consumindo espaço. O mesmo se aplica a muitas construções

(THACKARA, 2008, p.33).

Um arquiteto, consciente de seu trabalho, projeta levando em consideração o futuro,

expressando profissionalismo e contribuindo para a construção da cultura geral, passando a

fazer parte dela e influenciando a sociedade em questões como concepção de formas, cores

e bom desenho. As leis que o orientam deveriam ser convertidas em soluções práticas,

identificando um trabalho ordenado e organizado, que levasse em conta parâmetros vitais

para a vida do homem e do meio ambiente. Redig (1978), em seu livro O sentido do Design,

citou Gropius ao conceituar o Design baseado em conceitos da Arquitetura:

Walter Gropius afirmou que “o principal meio de expressão da Arquitetura,

além de todas as questões de ordem técnica, é o espaço”. (Atlas

d’Architecture Mondiale, pág. 21). Pode-se adaptar essa frase para dizer

que o principal meio de expressão do Desenho Industrial, além de todas as

questões de ordem técnica, é a forma (REDIG, 1978, p.42).

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Walter Gropius nasceu em Berlim, no ano de 1883, e faleceu em 1969, na cidade de

Boston. É considerado um dos principais nomes da Arquitetura do século XX, tendo sido

fundador da Bauhaus, escola que foi um marco do Design, Arquitetura e Arte Moderna.

Também foi diretor do curso de Arquitetura da Universidade de Harvard. Portanto, seus

pensamentos em relação à profissão de arquiteto são de extrema relevância. Para Gropius,

o arquiteto é, em primeiro lugar, um coordenador, um homem de visão e competência pro-

fissional, com a tarefa de solucionar harmonicamente os vários problemas sociais, técnicos,

econômicos e artísticos que surgem em conexão com a construção (GROPIUS, 1977, p.93).

Sustentabilidade, para o arquiteto, é um conceito complexo. Grande parte de um pro-

jeto sustentável envolve a redução do aquecimento global, por meio da economia energéti-

ca, e o uso de certas técnicas, como análises do ciclo de vida com o objetivo de manter o

equilíbrio entre o capital inicial investido e os ativos fixos a longo prazo. No entanto, projetar

de forma sustentável também envolve a criação de espaços saudáveis, viáveis economica-

mente e sensíveis às necessidades sociais. Significa respeitar os sistemas naturais e

aprender por meio dos processos ecológicos. (EDWARDS, 2008, p. 3).

O arquiteto do futuro terá de encontrar novamente, através de seu trabalho, uma ex-

pressão original construtiva para as necessidades intelectuais e materiais da vida humana, e

dar assim novos impulsos intelectuais, em vez de reproduzir repetidamente o pensar e o

fazer de tempos anteriores (GROPIUS, 1977, p.84).

O saber só pode tornar-se vivo através da experiência pessoal. Por isso

projeto e processo de construção, prancheta e obra precisam estar profun-

damente ligados em todas as fases do estudo (GROPIUS, 1977, p.94).

Quanto ao problema da poluição, o Design brasileiro necessita utilizar materiais e

processos de produção que preservem o ciclo biológico natural desse meio, enfrentando as

dificuldades de se usar técnicas limpas, não poluentes, menos divulgadas, menos conheci-

das, menos experimentadas, mas urgentemente indispensáveis à nossa sobrevivência, di-

ante da situação crítica em que se encontra o processo de deterioração que presenciamos

em nosso ambiente (REDIG, 1978, p.69). Mantendo essa preocupação com a preservação

do meio ambiente, é possível reduzir os problemas frequentes de poluição.

As construções causam a diminuição da permeabilidade do solo e alteram a drena-

gem, o que causa enchentes e reduz as reservas de água subterrânea. A cadeia produtiva

da construção contribui para a poluição e a liberação de gases do efeito estufa, como o

CO2, durante a queima de combustíveis fósseis e a descarbonatação de calcário. O uso de

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madeira extraída ilegalmente compromete a sustentabilidade das florestas e ameaça o equi-

líbrio sistêmico.

Desse modo, arquitetos, designers e engenheiros são agentes transformadores da

sociedade em que vivem. Como organizadores do espaço construído ao homem, muito po-

dem contribuir para minimizar o impacto socioambiental. Tecnicamente capacitados para

desenvolver projetos sustentáveis e conscientes de sua importância, podem transmitir esses

conceitos tanto a empreendedores da construção civil quanto a gestores de instituições de

ensino ou cidadãos comuns, que talvez ainda não tenham despertado para essas premen-

tes questões. (DEEKE, CASAGRANDE, SILVA, 2009).

Projetar de forma sustentável também envolve a criação de espaços saudáveis, viá-

veis economicamente e sensíveis às necessidades sociais (EDWARDS, 2008, p. 3). É im-

portante que o projeto seja consistente ambientalmente e mais importante ainda que sua

execução seja fiel ao que foi planejado, portanto, é fundamental que o profissional tenha

conhecimento dos processos executivos para poder projetar da forma mais adequada. Se-

gundo Gropius (1977):

A expressão “prática” não se refere ao trabalho em escritório de construção,

mas à experiência imediata em uma obra como assistente do contramestre

ou mestre (GROPIUS, 1977, p.95).

Sendo assim, o designer precisa projetar de acordo com as práticas executivas a fim

de que sejam compatíveis com as intenções sustentáveis, isso significa não apenas ter co-

nhecimento das soluções e técnicas mas também dominar suas execuções. O importante é

que a execução da técnica seja tão sustentável quanto o seu resultado.

2.3 SUSTENTABILIDADE NO DESIGN ARQUITETÔNICO

De acordo com Thackara (2008), o design consciente envolve as seguintes determi-

nações: (i) pensar nas consequências das ações antes de promovê-las e levar em conside-

ração os sistemas naturais, industriais e culturais que constituem o contexto das nossas

ações como designers; (ii) pensar em fluxos de materiais e energia em todos os sistemas

que projetamos; (iii) priorizar o ser humano e não tratá-lo como mero “fator” em um contexto

mais amplo; (iv) entregar valor às pessoas e não entregar pessoas aos sistemas; (v) tratar o

“conteúdo” com algo que se faz, não algo que se vende; (vi) lidar com a diferença cultural,

de local e de tempo com valores positivos, não como obstáculos; (vii) concentrar-se em ser-

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viços, não em coisas, e evitar encher o mundo com dispositivos sem sentido (THACKARA,

2008, p.37).

Se pensarmos neste produto sendo uma edificação, as características do desempe-

nho de um edifício são previsíveis, pois podem ser medidas facilmente por meio de seu con-

sumo e da sua produção. Se a sociedade aceitar a ideia de projetos de edificações susten-

táveis, o desenvolvimento sustentável das cidades será uma consequência (EDWARDS,

2008, p. 5).

A arquitetura por si só, não é capaz de resolver os problemas ambientais do

planeta, mas pode contribuir de forma significativa para a criação de habi-

tats humanos sustentáveis (EDWARDS, 2008, p. 7).

Globalmente, a atividade de construção e demolição da indústria de construção civil

está entre os modelos de produção e consumo mais ineficientes. De fato, conforme atesta

Edwards (2008), o capital ambiental investido nas edificações é enorme, assim como seu

impacto em termos de resíduos. Em relação aos materiais, 60% de todos os recursos mun-

diais são destinados à construção de estradas, edificações, entre outros. Quanto à energia,

cerca de 50% é utilizada para aquecer, iluminar e ventilar as edificações, ao passo que 3% é

usada na construção.

Considera-se que 50% da água consumida no mundo é destinada ao abastecimento

de instalações sanitárias e a outros usos nas edificações. Em referência ao solo, sabe-se

que 80% do melhor solo cultivável é utilizado na construção civil e não na agricultura, além

de grande parte do restante ser perdida como consequência de inundações causadas pelo

aquecimento global. Dos produtos madeireiros mundiais, 60% são utilizados na construção

de edificações, assim como cerca de 90% das madeiras duras. (EDWARDS, 2008, p. 25)

2.4 EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE

Segundo Edwards (2008), embora a cidade seja nossa obra de arte mais antiga, é,

ao mesmo tempo, nossa sala de estar comunitária. Herdamos as cidades de nossos ante-

passados e, por um breve período de tempo, somos guardiões. O conceito de desenvolvi-

mento sustentável foi criado para garantir que deixemos a cidade em bom estado para nos-

sos filhos e netos. Dedicou-se muita atenção à definição dos princípios do desenvolvimento

sustentável, mas fez-se muito pouco para introduzir esse conceito nos valores da sociedade.

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A chave está na educação, desde a escola primária até os cursos de pós-

graduação. As autoridades educacionais locais, os organismos responsá-

veis pelo desenvolvimento dos planos de estudo, as escolas de arquitetura

e, obviamente, os profissionais desempenham um papel fundamental neste

sentido (EDWARDS, 2008, p. 31).

Por ser obrigatória, a educação constitui uma oportunidade única de criar um meca-

nismo que promova o desenvolvimento sustentável junto a outros valores. A educação é a

primeira ferramenta para a formação de uma consciência ambiental, a qual deve ser refor-

çada posteriormente pela formação e experiência profissional. Todo este sistema pode ser

fundamentado por projetos e edificações que transmitam claramente os princípios ecológi-

cos. O ponto de partida para a transformação da consciência ambiental é a alarmante adver-

tência da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura,

de que, se quisermos que nosso planeta seja capaz de satisfazer as necessidades das futu-

ras gerações, devemos promover uma profunda transformação.

A educação é um poderoso instrumento de mudança e a educação ambiental, em

particular, pode introduzir as crianças em idade escolar na interdisciplinidade da sustentabi-

lidade. Isto pode ser obtido mediante a combinação de aulas, excursões a locais relevantes

e o uso da própria escola como um recurso físico para o aprendizado (EDWARDS, 2008, p.

31). Esta última opção é o objetivo principal das Eco Schools (escolas ecológicas), que pro-

movem a aproximação dos estudantes aos conceitos de eficiência, reciclagem e biodiversi-

dade, com base no próprio projeto arquitetônico das edificações dos centros de ensino e da

utilização do território que ocupam (EDWARDS, 2008, p. 31).

Por intermédio da Unesco, que ajudou ativamente no processo de criação do concei-

to de desenvolvimento sustentável na década de 1980, a ONU – Organização das Nações

Unidas, dedica-se a sua difusão atualmente. Um importante e recente relatório intitulado

Plano de Ação para o Meio Ambiente Humano tenta mobilizar os governos por meio de um

programa internacional de educação ambiental, que abrange todos os aspectos e principais

fatores.

O plano baseia-se nas seguintes prioridades: (i) o desenvolvimento sustentável deve

ser integrante do processo de desenvolvimento; (ii) as necessidades das futuras gerações

devem ser respeitadas; (iii) o desenvolvimento sustentável visa, antes de tudo, proteger os

seres humanos; (iv) a criatividade, os ideais e a coragem dos jovens devem ser aproveita-

dos na criação de uma aliança para o desenvolvimento sustentável. Esse plano reconhece

que, embora a educação seja um elemento fundamental, são necessários meios formais e

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informais para promover ao máximo o desenvolvimento sustentável. Reconhece também

que, apesar de ter surgido no Ocidente, o conceito de desenvolvimento sustentável é global

e transcende as divisões políticas, étinicas e culturais. O plano promove a ideia de que o

desenvolvimento sustentável é basicamente multidisciplinar e, como consequência, está

presente em diversas áreas (EDWARDS, 2008, p. 32).

A conexão entre ideias, conceitos, abordagens e valores, no âmbito da educação pa-

ra o desenvolvimento sustentável, gera uma aprendizagem que costuma estar baseada na

concretização de projetos. Tanto na escola primária quanto na universidade, a educação

sobre desenvolvimento sustentável transpassa as antigas fronteiras interdisciplinares. Tam-

bém incentiva a criatividade e a independência da aprendizagem, assim como o respeito por

outras disciplinas, métodos e procedimentos. Portanto, a inclusão do conceito de desenvol-

vimento sustentável no ensino primário e secundário proporciona benefícios, que ultrapas-

sam o mero conhecimento sobre o meio ambiente.

Além de promover novos conhecimentos, as habilidades desenvolvidas por

meio de uma metodologia educacional planejada são transferíveis a outras

áreas do conhecimento e facilitam a aprendizagem durante toda a vida

(EDWARDS, 2008, p. 31).

A educação para o desenvolvimento sustentável não apenas envolve as escolas, as

universidades e as profissões, mas também os clientes, os governos e as ONGs – Organi-

zações não governamentais. Ainda existe um considerável desconhecimento acerca dos

impactos humanos sobre o meio ambiente. O envolvimento dos usuários na fase de projeto

ajuda a garantir que sejam levados em conta os aspectos ecológicos antes dos econômicos.

Da mesma forma, a adaptação do plano de trabalho do Royal Institute of British Architects

(RIBA), para que sejam incluídos os princípios do desenvolvimento sustentável nas primei-

ras fases de projeto, garante que as questões ambientais sejam integradas em todo o pro-

cesso de trabalho. Segundo Edwards (2008):

A educação influi nos valores fundamentais, entretanto a atuação individual

de organizações como RIBA ou ARB na qualidade do ensino não é suficien-

te. Mudanças nos códigos profissionais de conduta e na ética da prática

profissional são necessárias para garantir que se estabeleçam conexão e

compromissos reais com o meio ambiente (EDWARDS, 2008, p. 33).

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Ainda de acordo com Edwards (2008), no guia básico para a sustentabilidade, os

principais fatores para alcançar o desenvolvimento sustentável (DS) são: (i) educação; (ii)

legislação; (iii) tributação; (iv) eficiência da prática profissional e benefícios empresariais; (v)

imagem e reputação. Inserido no item educação, fundamentalmente, a tecnologia contribui

por alcançar o objetivo do DS, pois permite converter recursos em produtos úteis, desde

cidades a telefones celulares.

A tecnologia é a união da ciência com o design; a dimensão humana é

transmitida pelas mentes criativas que projetam o futuro (EDWARDS, 2008,

p. 162).

Segundo Thackara (2008), em seu livro Plano B, a sustentabilidade se refere a um

mundo baseado em menos coisas e mais pessoas. Dessa forma, sustentabilidade significa

planejar ações para que as pessoas retomem o controle das situações, em vez de substitui-

las pela tecnologia (THACKARA, 2008, p.34). Porém, quando se fala em arquitetura, a tec-

nologia é a base da construção sustentável (EDWARDS, 2008, p. 162). Para isso, é neces-

sário que as pessoas dominem a situação e conheçam profundamente a tecnologia, fazendo

com que ela seja uma aliada para alcançar o objetivo da sustentabilidade. Este domínio so-

bre a tecnologia, aliado ao pensamento sustentável, pode desenvolver soluções simples,

porém, sem o conhecimento tecnológico, isso não seria possível:

Uma grande contribuição para a sustentabilidade por uma organização inte-

ligente pode ser reutilizar os espaços existentes em vez de construir novos

(THACKARA, 2008, p.132).

2.5 O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO NA SOCIEDADE

As universidades e equivalentes instituições de ensino superior formam as futuras

gerações de cidadãos e possuem conhecimentos de especialidade em todos os campos da

investigação, tanto em tecnologia como nas ciências naturais, humanas e sociais. É, conse-

quentemente, seu dever propagar a literatura ambiental e promover a prática de uma ética

ambiental na sociedade, em concordância com os princípios definidos na Magna Carta das

Universidades Européias, datada de 18 de stembro de 1988, e subsequentes declarações

universitárias e com as recomendações da UNCED – United Nations Conference on Envi-

ronment and Development, para o ambiente e desenvolvimento.

De fato, cada vez mais, as universidades são chamadas a desempenhar um papel

preponderante no desenvolvimento de uma forma de educação multidisciplinar e eticamente

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orientada, de forma a encontrar soluções para os problemas ligados ao desenvolvimento

sustentável. Elas devem, pois, assumir um compromisso para com o processo contínuo de

informação, educação e mobilização de todas as partes relevantes da sociedade com rela-

ção às consequências da degradação ecológica, incluindo o seu impacto sobre o ambiente

global e as condições que garantem um mundo sustentável e justo.

Do ponto de vista de Kraemer (2005), para alcançar estes objetivos e cumprir a sua

missão básica, as universidades são pressionadas a desencadear todos os esforços para

subscrever e implementar dez princípios de ação: (i) as universidades devem demonstrar

um compromisso real para com a teoria e prática da proteção ambiental e do desenvolvi-

mento sustentável no seio da comunidade acadêmica; (ii) precisam promover entre os seus

docentes, alunos e o público em geral padrões de consumo sustentáveis e um estilo de vida

ecológico, estimulando paralelamente programas que desenvolvam as capacidades do cor-

po docente para ensinar literatura ambiental; (iii) necessitam proporcionar educação, forma-

ção e encorajamento aos seus funcionários em matérias ambientais, para que eles possam

prosseguir o seu trabalho de uma forma ambientalmente responsável; (iv) carecem incorpo-

rar uma perspectiva ambiental em todo o seu trabalho e estabelecer programas de educa-

ção ambiental envolvendo docentes, investigadores e estudantes, expondo-os a todos aos

desafios globais do ambiente e desenvolvimento, seja qual for o seu campo de trabalho ou

estudo; (v) devem encorajar a educação interdisciplinar e colaborativa e programas de in-

vestigação relativos ao desenvolvimento sustentável enquanto parte da missão central da

instituição; (vi) precisam apoiar esforços para suprir as falhas na atual literatura disponível

aos estudantes, profissionais, decisores e público em geral, preparando material didático

informativo, organizando leituras públicas e estabelecendo programas de formação, além de

preparar para participação em auditorias ambientais; (vii) necessitam promover redes inter-

disciplinares de peritos ambientais em nível local, nacional, regional e internacional, com o

objetivo de colaborar em projetos ambientais comuns de ensino e investigação; (viii) devem

tomar a iniciativa de forjar parcerias com outros setores preocupados com sociedade, de

modo a desenhar e implementar abordagens, estratégias e planos de ação coordenados;

(ix) precisam criar programas de educação ambiental sobre estes assuntos para diferentes

grupos-alvo; (x) necessitam contribuir para programas educacionais concebidos para a

transferência de tecnologias de educação e inovação e métodos de gestão avançados.

Neste sentido, os trabalhos desenvolvidos dentro das instituições de ensino de nível

superior têm um efeito multiplicador, pois cada estudante, convencido das boas ideias da

sustentabilidade, influencia o conjunto, a sociedade, nas mais variadas áreas de atuação.

Com exeção de poucos notáveis casos, o desenvolvimento de edificações nos campi uni-

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versitários raramente expõe os alunos e o corpo acadêmico à realidade do projeto arquitetô-

nico sustentável e da boa gestão sustentável.

Nos centros universitários há poucos exemplos de aplicação da tecnologia fotovoltai-

ca em edifícios novos ou reabilitados, de alojamentos que utilizem energia solar passiva, de

reciclagem de água e resíduos e de campi livres de automóveis. Sem a triangulação entre

ensino, pesquisa e desenvolvimento, o estudante não pode ser culpado por não levar a sus-

tentabilidade a sério (EDWARDS, 2008, p. 48).

Segundo Deeke e Junior (2008), a criação de centros universitários sustentáveis se

justifica por dois motivos principais: (i) a real redução dos impactos ambientais causados por

sua construção e seu uso, diminuindo a pegada ecológica; (ii) a importância do edifício sus-

tentável em si, como agente catalisador no processo de educação para um modo de vida

mais sustentável, ética, social e ambientalmente mais responsável. Acredita-se que pelo

modo como o espaço é utilizado, os estudantes passam a conhecer novas tecnologias, ma-

teriais e práticas, tornando-se replicadores da sustentabilidade.

2.6 A IMPORTÂNCIA DA CLASSIFICAÇÃO

A sustentabilidade, por sua vez, é compreendida como um princípio capaz de reunir

questões de ordem social, dimensões econômicas e proteção ambiental. Sustentabilidade

ambiental, por exemplo, requer que a produção e o consumo de produtos e serviços não

excedam a capacidade do planeta, a fim de que seja possível apoiar populações existentes,

suas crianças, os filhos destas e, assim por diante, no futuro indefinido (ROY, 2009).

O Desenvolvimento para a Sustentabilidade Contemporâneo teve seu início com a

Tecnologia Alternativa, movimento que se destaca além das preocupações ambientais e da

contra cultura das décadas de 1960 e 1970. Especialistas em Tecnologia propuseram proje-

tos alternativos, radicais, carregados de inovações, como casas autossuficientes e comuni-

dades independentes das fontes centrais de energia, água e alimentação. Uma corrente de

pensamento específica é referente à “tecnologia apropriada”, que aponta para geração de

empregos em países em desenvolvimento que, mesmo aplicando capital de baixo custo,

sejam facilmente instalados e mantidos, além estarem ambientalmente adequado. Tal como

ocorrera com os movimentos anteriores de Design, as inovações no projeto de produtos

industriais e de edificações com base na Tecnologia Apropriada e Alternativa estão associa-

das às questões de mudanças sociais e econômicas; movimentos esses também denomi-

nados de “desenho para um mundo real” e “tecnologia radical” (ROY, 2009).

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Até agora, o Desenvolvimento para a Sustentabilidade foi discutido como se fosse

uma coisa só. Mas há, contudo, muitas e diferentes abordagens que já foram categorizadas,

pelo menos em quatro níveis, e denominadas de: (i) “projetos verdes”, (ii) “projetos ecologi-

camente corretos, Ecodesign”, (iii) “projetos sustentáveis” e (iv) “inovações sustentáveis”

(ROY, 2009). Os primeiros dois níveis abordam projetos ambientalmente sustentáveis, en-

quanto que o segundo par inclui também sustentabilidade social e econômica.

Os Projetos Verdes dizem respeito àqueles desenhos que foram desenvolvidos para

produtos industriais que, ao serem fabricados, apresentam reduzido impacto ambiental e,

em termos de sustentabilidade, estão focados em um ou dois aspectos. Na prática, o dese-

nho de projetos verdes focaliza um ou mais itens referentes ao meio ambiente, como con-

servação de materiais, conservação de energia e inibição de emissões tóxicas ou resíduos

perigosos (ROY, 2009).

O foco dos Projetos Ecologicamente Corretos, ou Ecodesign é dirigido para a legis-

lação. Quase sempre apresentam algumas desvantagens, isto é, um ganho ambiental em

uma dada área pode produzir perda em outra. Por exemplo, um produto fabricado com ma-

teriais reciclados poderá ser mais pesado, portanto demanda mais energia para transportá-

lo, ou será menos durável e consequentemente rapidamente descartado. O Projeto Ecologi-

camente Correto tenta lidar com alguma dessas desvantagens. Ecodesign também é fre-

quentemente chamado de “projetos para o ciclo de vida”, porque se baseia em técnicas de

análise e avaliação de ciclo de vida ou LCA, sigla inglesa para Life Cycle Assessment or

Analysis (ROY, 2009).

Uma importante falha tanto em projetos verdes (Green-design) quanto em projetos

ecologicamente corretos (Ecodesign) é que nenhuma das duas abordagens projetuais será

suficiente adequada para se alcançar padrões elevados, necessários às reduções de emis-

sões de gases poluentes, ou no uso de recursos naturais nos países industrializados. Os

projetos sustentáveis focalizam questões do uso racional de energia e da redução de CO2

principalmente em projetos inseridos nos centros urbanos (ROY, 2009). Ainda de acordo

com o autor, um modo de se alcançar sustentabilidade para um maior número das pessoas

em países industrializados é por inovação sustentável. Isto significa caminhar além de pro-

dutos individuais engenhosos ou edifícios para sistemas inteiros em desenvolvimento que

são ambiental, social e economicamente sustentáveis (ROY, 2009).

A figura 6 mostra objetivamente um quadro comparativo desta classificação segundo

Roy (2009):

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Categoria Descrição

Projetos verdes Conservação e reaproveitamento de materiais

Ecodesign Avalia impactos ambientais do ciclo de vida dos componentes

Projetos sustentáveis Uso racional de energia e redução de CO2 em habitações

Inovações sustentáveis Socialmente, economicamente e ambientalmente sustentável.

Figura 7 – classificação segundo Robin Roy (ROY, 2009)

A inovação está diretamente ligada à criação de um novo produto. Além disso, exis-

tem, ainda, as inovações radicais e as incrementais. As radicais têm um grande impacto na

sociedade, causando uma mudança, para tanto se trata de produtos onde o incremento de

tecnologia passou por um grande avanço (como as lâmpadas incandescentes). As incre-

mentais envolvem modificações técnicas ou melhorias em um produto existente, ou ainda

em seu processo produtivo, como a mudança de elementos dessa mesma lâmpada. (ROY,

2006).

Segundo Roy (2006), para o desenvolvimento de novos produtos, é necessária a ob-

servância de um conjunto de fatores que incluem: (a) pesquisa, inventividade e criatividade;

(b) identificação de um problema, necessidade de mercado; (c) um pedido ou especificação

de um cliente; (d) encontrar problemas ou buscar aprimorar produtos existentes; (e) adições

a um grupo de produtos; (f) estudos baseados em um grupo de consumidores; (g) troca de

ideias com membros da empresa; (h) troca de ideias com usuários, cientistas, acadêmicos,

etc.; (i) reuniões de brainstorm; (j) estudos de tendências e mudanças sócio-tecnológicas;

(k) resposta a produtos concorrentes; (l) desenvolvimento de parcerias com outras empre-

sas; (m) estudo da viabilidade de novos materiais, processos, entre outros; (n) consideração

de questões éticas, sociais e ambientais e (o) seguimento de legislações, regulamentações

e padrões estabelecidos por órgãos competentes.

A inovação tecnológica sustentável é responsabilidade de quem realiza atividade

econômica. Entretanto, a assunção de tal responsabilidade pelos agentes econômicos de-

pende de adequados estímulos, sendo a promessa de lucro o maior deles. Neste sentido, o

papel do consumidor pode ser importantíssimo, mas isso depende de inovações sociais que

o coloquem em melhor situação nas relações de poder de decisão sobre as inovações tec-

nológicas.

A questão ambiental vem sendo debatida em todo o mundo, e tornou-se necessário

adequar a arquitetura a esta demanda. Diversos países criaram critérios de avaliação para

construções sustentáveis.

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No capítulo seguinte, apresentam-se mais especificamente os aspectos metodológi-

cos da arquitetura sustentável, procurando perceber qual é a influência do ambiente físico

no processo de ensino.

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3 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL EM IE

No Brasil, encontramos iniciativas pontuais, como as da Universidade Federal de

São Carlos – UFSCAR, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP e Universidade de

Passo Fundo – UPF, rumo à sustentabilidade, em seus campi. Nos Estados Unidos, por

exemplo, os campi universitários assumem papel ainda mais relevante, por se tratarem de

verdadeiras vilas, uma vez que englobam também as moradias dos estudantes.

Existem várias associações que têm como objetivo incrementar as práticas sustentá-

veis na Educação de nível superior, tanto na esfera intelectual, através da implementação

de novos currículos, como no plano físico, através dos greenbuildings. Alguns exemplos a

serem citados são a AASHE - Association for the Advancement of Sustainability in Higher

Education, a HEASC – Higher Education Associations Sustainability Consortium, e a ULSF –

University Leaders for a Sustainable Future.

Universidades americanas possuem greenbulidings certificados pelo LEED – Lead-

ership in Energy and Environmental Design, e entre elas podemos citar: Malone Center –

Yale´s Engineering Research Building, Architecture Building – Ball State University, Edward

Stevens Center – George Fox University, Adam Lewis Center – Oberlin College.

Soluções hightech não são compatíveis com a realidade da maioria das IES brasilei-

ras e, em especial, com as instituições públicas. No que tange às edificações, os arquitetos,

e demais projetistas envolvidos precisam superar com criatividade as barreiras econômicas

através de soluções tecnológicas adaptadas a contextos regionais e tropicais.

A obra do arquiteto Severiano Porto nos permite apontar, como solução arquitetônica

para os países periféricos, o desenvolvimento da arquitetura sustentável com baixa tecnolo-

gia. Porto, há 30 anos, quando não se falava em sustentabilidade na arquitetura, idealizou

projetos com conceitos e estratégias bioclimáticas e uma arquitetura de forte feição regiona-

lizada, destacando o uso da madeira em sua permanente busca da relação construção e

natureza, sem descartar o uso do concreto, o aço e a alvenaria em suas obras.

Como exemplo, pode-se citar o projeto para o campus da Universidade Federal de

Manaus – UFAM, Manaus, de 1973. Foram utilizadas estratégias de projeto como soluções

passivas de conforto térmico – efeito chaminé, ventilação cruzada, coberturas duplas e in-

dependentes, colchão de ar, dentre outras ideias (FINESTRA, 2007).

Conforme Bonsiepe (1997), o design é um elemento de união entre dois campos do

saber e permite a introdução da inovação na prática da vida cotidiana. Tratado de forma

isolada, o design pode se restringir ao formalismo estético, não efetivando uma real melhoria

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na sociedade. Por isso o design contém um considerável potencial quando está integrado

aos institutos de pesquisa científica e tecnológica (BONSIEPE 1997, p.38).

3.1 COMPATIBILIDADE DO PROCESSO EDUCACIONAL AO ESPAÇO FÍSICO

Um dos interesses de aplicação da ergonomia está nas atividades de ensino, procu-

rando torná-las mais eficientes. Esse interesse é facilmente justificado, segundo Iida (2005),

por ser uma atividade que existe no mundo todo e consome uma boa parcela dos orçamen-

tos governamentais, principalmente em países desenvolvidos, cujos cidadãos passam cerca

de 20% de suas vidas em sala de aula. Nos países em processo de desenvolvimento, essa

porcentagem é menor, pois há escassez de investimentos oriundos das verbas públicas.

Dessa forma, é necessário que os estudos e pesquisas em ergonomia do ensino devam ser

realizados com maior eficiência.

Essa ergonomia preocupa-se em contribuir para os processos de ensino e de apren-

dizagem, melhorando as condições e a organização do trabalho em sala de aula. De acordo

com Iida (2005), ela é subdividida nas seguintes áreas: compatibilidade do processo educa-

cional, situação de ensino, método de avaliação, equipamentos e material didático, infraes-

trutura e ambiente e aspectos organizacionais. Tem-se observado, no ambiente escolar,

uma grande lacuna de aplicações e adequações ergonômicas. Na maioria das escolas ainda

não existe um investimento em relação ao ambiente físico, mobiliário e equipamentos.

Como exemplo disso, podem ser citadas a má iluminação, ventilação, posicionamen-

to do quadro negro, cadeiras e carteiras inadequadas, que influenciam no desempenho, no

conforto e na eficácia do aluno quanto ao seu objetivo, que nada mais é do que aprender e

adquirir conhecimentos. Considerando-se que este trabalho fixou sua pesquisa na área de

infraestrutura e ambiente aplicados ao ensino, faz-se necessária uma breve consideração

sobre conceitos relativos ao posto de trabalho.

O posto de trabalho pode ser definido como o entorno físico no qual o operador efeti-

va as operações atribuídas ao posto, ou seja, é o lugar onde o homem realiza a porção mais

simplificada de um complexo sistema de trabalhos e é onde o operário ou operador deve

realizar uma tarefa rotineira e repetitiva ao longo do tempo de permanência nele. No entan-

to, não há uma definição igual para todos os postos que guardam semelhanças quanto à

execução de uma tarefa. Desde a escrivaninha, o cockipt de uma aeronave ou a carteira em

sala de aula, todos possuem em comum o lugar utilizado para realizar uma tarefa. (IIDA,

2005)

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Conforme Iida (2005), sob o enfoque ergonômico, os postos de trabalho devem pro-

piciar uma boa postura, objetos dentro do alcance dos movimentos corporais, além de facili-

tar a percepção de informações. O posto de trabalho de um aluno é composto por carteira e

cadeira, utilizadas dentro da sala de aula, considerando que a sala de aula é um ambiente

de trabalho como outro qualquer, em que as pessoas realizam tarefas específicas e também

é a porção mais simplificada de um complexo sistema de ensino.

Para que se tenha uma maior eficiência na transmissão do conhecimento entre o

professor e o aluno, é preciso adequar o posto de trabalho e o ambiente aos sujeitos envol-

vidos neste contexto. Tal adequação permite, ao aluno, a realização de tarefas na sala de

aula, em situação confortável, assim como quanto melhores as condições do meio, maior a

quantidade de informações transmitidas. Não só os recursos pedagógicos determinam o

êxito do processo educacional, como o ambiente físico é determinante neste processo tam-

bém.

Fatores físico-ambientais interferem no processo educativo caso estejam ou não

adequados aos fatores humanos. A utilização de mobiliários e equipamentos projetados

adequadamente ao aluno (usuário), de acordo com suas medidas antropométricas e a reali-

zação das tarefas nas salas de aula, aliados aos fatores ambientais como, iluminação, venti-

lação, temperatura, entre outras, são fundamentais para um maior desempenho escolar.

Moro (2005) considera que o mobiliário escolar, juntamente com outros fatores físi-

cos, é notadamente um elemento da sala de aula que influi circunstancialmente no desem-

penho, segurança, conforto e no comportamento dos alunos. Afirma que as condições am-

bientais afetam diretamente o desenvolvimento da tarefa, sendo, em muitos casos respon-

sáveis pelo baixo rendimento dos estudantes, além de gerarem desconforto e futuramente

problemas de postura.

No Brasil, a ergonomia tornou-se responsabilidade pública quando o Ministério do

Trabalho e Previdência Social instituiu a Portaria n. 3751, em 1990, que estabelece a Norma

Regulamentadora 17 – NR 17, referente à Ergonomia. Essa norma visa estabelecer parâme-

tros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológi-

cas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e de-

sempenho eficiente.

Hahn (1999) entende que a pedagogia e ergonomia, apesar de constituírem-se em

campos de investigação distintos, possuem vários aspectos comuns, sendo o conforto e a

facilidade na execução das atividades, aspectos relevantes de identificação, tendo uma

adequação do homem ao processo de trabalho, nesse estudo, compreendendo ensino e

aprendizagem. Neste sentido, a contribuição ergonômica ultrapassa o ambiente tradicional

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de trabalho, analisando, em sala de aula, o que efetivamente contribui para o aluno e pro-

fessor, considerando as condições físicas e organizacionais para maior eficiência no desen-

volvimento dos processos de ensino e de aprendizagem.

Na visão de Iida (2005), o processo educacional deve ser compatível com o objetivo

institucional. Assim, se o objetivo for o de transmitir um conceito filosófico, o melhor meio

pode ser o verbal. Já para ensinar a usar um alicate, o melhor é colocar essa ferramenta na

mão do aluno e ensinar como se pega e se manuseia. Ou seja, para cada tipo de objetivo

institucional, existem procedimentos, materiais e métodos mais adequados. Para exemplifi-

car, pode-se pensar em um aprendiz que deve aprender a dar certo tipo de nó em uma cor-

da. Se os movimentos necessários para dar este nó forem descritos apenas verbalmente, o

aprendiz terá uma grande dificuldade para executá-los, e é bem provável que não aprenda a

fazer o nó. A situação melhora se esta descrição verbal for ilustrada com desenhos. Para

aperfeiçoar a facilitar ainda mais, basta substituir esse desenho estático por um filme que

mostre os movimentos necessários. Finalmente, a melhor situação é que estes movimentos

sejam demonstrados por um instrutor “ao vivo”, permitindo que o aprendiz reproduza os mo-

vimentos, passo a passo. Isso tem a vantagem de permitir que o instrutor vá corrigindo os

movimentos errados do aprendiz, até que o nó seja dado corretamente.

Dessa forma, conforme Iida (2005), o projeto adequado dos mobiliários, salas de au-

la, bibliotecas, laboratórios e outros meios de apoio didático podem influir no desempenho

dos professores e alunos. Nas salas de aula, deve-se cuidar o posicionamento correto do

quadro negro, janelas que não provoquem brilhos ou ofuscamentos e assim por diante. O

ambiente físico, como iluminação, ruídos, temperatura, ventilação e uso de cores influenci-

am no conforto físico e psicológico e, portanto, no rendimento acadêmico do aluno.

3.2 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO

Antes da Revolução Industrial se usavam basicamente fontes de energia renováveis.

Povos e cidades se assentavam de acordo com as considerações do microclima e caracte-

rísticas locais. Com o advento dos combustíveis fósseis, as pessoas abandonaram a luz

natural e os ganhos solares térmicos nos projetos e orientação das edificações. Abandona-

ram energia da água, vento, biomassa, força animal e humana em função da energia mecâ-

nica (STRONG, 1999, p.89). Para Behling e Behling (1996):

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Os combustíveis fósseis foram indispensáveis nesse momento e do ponto

de vista tecnológico, significaram um grande passo adiante e uma grande

inovação (BEHLING, BEHLING, 1996, p.18).

As novas tecnologias ofereceram a possibilidade a arquitetos e engenheiros de supe-

rar os limites impostos pelo padrão humano. Os edifícios passaram a representar não tanto

a aplicação da tecnologia como instrumento da arquitetura, mas a submissão da arquitetura

ao controle da própria tecnologia. A arquitetura, a construção e o urbanismo perseguiram o

objetivo de simbolizar essa nova época de inovação e crescimento (BEHLING, BEHLING,

1996, p.128).

Essa foi a orientação dos projetos usados por muito tempo ao redor do mundo e du-

rante muito tempo se acreditou que todas as dificuldades podiam ser superadas através das

inovações, crescimento e progresso. E, raramente, os praticantes da inovação pararam para

examinar o que faziam, como faziam e por que faziam e quais as consequências destas

ações (BEHLING, BEHLING, 1996, p.194).

O termo inovação na arquitetura e construção é muito diferente de outras indústrias.

A inovação depende da construção física, sua organização social, econômica e o contexto

cultural em que se insere. Ou seja, essas condições dependem de circunstâncias históricas

especificas (WHARTON, 2003, p.76). No ponto de vista de Behling e Behling (1996):

A arquitetura e tecnologia nunca se desenvolveram de maneira independen-

te e os avanços arquitetônicos e construtivos foram determinados pelo de-

senvolvimento técnico da engenharia (BEHLING, BEHLING, 1996, p. 21).

A inovação na arquitetura e construção pode ser considerada como a solução de um

problema tecnológico. Esse conceito foi utilizado pela primeira vez para descrever o conjun-

to de fases que vão desde a pesquisa básica até o uso prático, compreendendo a introdu-

ção de um novo produto no mercado em escala comercial, tendo, em geral, fortes repercus-

sões socioeconômicas (LONGO, 1996). Segundo Vargas (1994):

A tecnologia constituiu-se como o estudo ou atividade da utilização de teori-

as, métodos e processos científicos para a solução dos problemas técnicos,

relacionados com materiais e processos construtivos, fabricação de produ-

tos industriais, organização do trabalho, cálculos e projetos de engenharia

(VARGAS, 1994, p.16).

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Tecnologia é, pois, um ramo do conhecimento que trata da criação e uso dos méto-

dos técnicos e materiais e a inter-relação destes com a vida, a sociedade e o meio ambien-

te. É o conjunto dos saberes práticos, métodos e técnicas utilizados para atingir determina-

dos objetivos. Significa os meios de se chegar a um determinado fim (CHING, 1999, p.11).

Atualmente, a discussão sobre as questões ambientais e a consciência da esgotabi-

lidade dos recursos na terra levou a repensar e buscar novas alternativas tecnológicas para

a construção (STRONG, 1999, p.89). Para Edwards (2008), esta solução está na união da

ciência com o Design:

Fundamentalmente, a tecnologia permite converter recursos em produtos

úteis, desde cidades a telefones celulares. A tecnologia é a união da ciência

com o design; a dimensão humana é transmitida pelas mentes criativas que

projetam o futuro (EDWARDS, 2008, p.162).

Sendo assim, Inovação Tecnológica é o elemento gerador de mudanças. Isto repre-

senta esperança, novidade, desafio para alguns poucos e medo, risco, insegurança, perigo

e instabilidade para a maioria, principalmente, aos conservadores. Para introdução de pro-

dutos ou serviços novos, necessita-se ser criativo, paradigmático, experimentalista, sistêmi-

co, interdisciplinar, insatisfeito e ousado por natureza. As inovações não se relacionam ape-

nas com questões de ordem técnico-científica, mas apresentam também dimensões de or-

dem política, econômica e sociocultural (PUERTO, 1999).

A política da sustentabilidade, através de implantação de metodologias eco inteligen-

tes, da educação ecológica, de incentivos fiscais para produção verde e legislação ambien-

tal rigorosa, incentiva a inovação tecnológica e abre novos mercados. Segundo exemplo de

Lauer (2000):

A Alemanha ocupa hoje um lugar destacado na exportação de tecnologia

ambiental em todo o mundo, envolvendo mais de 10.000 empresas. Com

um crescimento acima da média, apenas um setor tradicional “reabastece-

dor”, movimenta cerca de 17 bilhões de Euros anualmente (LAUER, 2000).

A Alemanha também se destaca quando investe em energias renováveis, tanto que o

país possui o maior parque eólico do planeta. A inovação em métodos construtivos como

super-isolamento térmico e uso de coletores solares para produção de eletricidade, aliado

aos incentivos do governo, revolucionam a construção civil no país e diminuem a emissão

de CO2 relativas à este setor (LAUER, 2000).

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A inovação tecnológica deveria tratar de introduzir a melhor técnica ou forma de or-

ganização no contexto produtivo, com efeitos positivos avaliados não somente por meio de

critérios de rentabilidade econômica, mas também por critérios sociais ambientais (THIOL-

LENT, 1994). O desenvolvimento sustentável exige novos conhecimentos e tecnologias

(EDWARDS, 2008, p.3).

A técnica por si só é uma dimensão pobre e ultrapassada, pois nem sempre é exata

e verdadeira. Por isso, o papel do cidadão é questionar a técnica. É de reunir o conjunto de

meios para atingir um fim razoável em benefício da sociedade. As questões do “porquê”,

“como” e “para quem” são sempre oportunas e necessárias (BASTOS, 1998).

3.3 TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS DO DESIGN ARQUITETÔNICO

Para o Designer, o conhecimento dos processos tecnológicos é tão indispensável

quanto o conhecimento das técnicas de desenho e expressão visual, pois, se o Projeto con-

cretiza-se no desenho, o Produto – objetivo e resultado do Projeto – concretiza-se através

da Tecnologia (REDIG, 1978, p.57).

A Agenda 21, em seu capítulo 34, coloca que as tecnologias ambientalmente saudá-

veis protegem o meio ambiente, são menos poluentes, usam todos os recursos de forma

mais sustentável, reciclam mais seus resíduos e produtos e tratam os dejetos residuais de

uma maneira mais aceitável do que as tecnologias que vieram substituir (CONFERÊNCIA

DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1995).

As tecnologias ambientalmente saudáveis não são apenas tecnologias isoladas, mas

sistemas totais que incluem conhecimentos técnico-científicos, procedimentos, bens e servi-

ços e equipamentos, assim como os procedimentos de organização e manejo. Isso significa

que, ao analisar a transferência de tecnologias, devem-se também abordar os aspectos da

escolha de tecnologia relativos ao desenvolvimento dos recursos humanos e ao aumento do

fortalecimento institucional e técnico local, inclusive os aspectos relevantes para ambos os

sexos.

A introdução de tecnologias de energia renováveis, de tecnologias sustentáveis e a

pesquisa de materiais mais sustentáveis, que utilizem componentes e operações que supo-

nham um menor custo ecológico em qualquer etapa do seu ciclo de vida, incorporando crité-

rios ambientais de reciclabilidade e de baixa toxicidade, pode ser considerada uma prática

inovadora (COLIN, 2004, p.111).

As características do desempenho de um edifício são previsíveis, pois podem ser

medidas facilmente por meio de seu consumo e da sua produção. Se a sociedade aceitar a

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ideia de projetos de edificações sustentáveis, o desenvolvimento sustentável das cidades

será uma consequência (EDWARDS, 2008, p.5).

Resgatar conceitos como do economista Schumaker (1973), autor de “Small is Be-

autiful”, que defendia “uma tecnologia com face humana”, são hoje de extrema importância

para a sustentabilidade. Defensor de uma tecnologia que podia ser intermediária, contrária a

uma tecnologia automatizada de larga escala, controlada por grandes organizações e de

alto custo financeiro, o autor enfatiza que a automação, além de não ser compatível com as

necessidades básicas do ser humano, torna-o escravo das máquinas altamente consumido-

ras de recursos materiais e energéticos.

Cunhada como Tecnologia Apropriada, esta apresenta uma mudança de enfoque do

“serviço da ciência” para a sociedade, cujas transformações culturais, sociais e políticas

ocorrem a fim de serem implantadas condições para uma produção local, com recursos lo-

cais e participação direta de uma comunidade, sem a relação de hierarquia que caracteriza

a chamada “tecnologia de ponta”. O grande desafio para os arquitetos consiste na utilização

das tecnologias e na colaboração com a indústria da construção civil para o desenvolvimen-

to de novas tecnologias sustentáveis (EDWARDS, 2008, p.27).

Ao desenharmos estratégias de desenvolvimento, através de um design ecológico e

de um processo de inovação tecnológica que não exclua a questão socioambiental, também

devemos repensar a criação de parques tecnológicos ou dos arranjos produtivos locais, ali-

nhando estes às diretrizes das cidades sustentáveis (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNI-

DAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1995). As tecnologias inovadoras

da arquitetura e construção são tecnologias sustentáveis, cujos conceitos e exemplos estão

descritos na próxima seção.

3.4 TECNOLOGIAS INOVADORAS VISANDO À SUSTENTABILIDADE

Sabe-se que o aproveitamento das vantagens da água, do vento, da luz e do calor

do sol fazem parte da tradição e da história da arquitetura e da construção. No entanto, o

uso de dispositivos e equipamentos específicos, desenvolvidos através de pesquisas cientí-

ficas ao longo das últimas décadas, vem propiciando alternativas de captação e novas pos-

sibilidades de utilização destes recursos. São considerados processos inovadores na arqui-

tetura e na construção, na medida em que buscam a constituição de uma nova cultura e

ética, centrada no ser humano e na natureza. A seguir, faz-se uma breve descrição de al-

gumas dessas inovações utilizadas na construção, que dependem do design arquitetônico e

de soluções de projeto para serem implantadas, visando à sustentabilidade.

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A tecnologia para uso da energia solar é o aproveitamento da energia do sol, com

células solares ou células fotovoltaicas. A operação de sistemas fotovoltaicos não provoca

qualquer tipo de poluição, pouco modifica a temperatura do seu entorno e tem uma durabili-

dade considerável. A manutenção requerida é mínima e a matéria-prima para sua manufatu-

ra é o silício, o segundo mineral mais abundante da Terra.

A tecnologia para uso da energia dos ventos, energia eólica, é o aproveitamento dos

ventos para gerar energia elétrica. O desenvolvimento dessa tecnologia deu origem às tur-

binas eólicas, muito utilizadas em barcos, áreas costeiras e regiões de vento constante para

a geração de energia elétrica. A energia eólica ganhou popularidade justamente devido a

sua capacidade de gerar energia com uma fonte renovável. Hoje, apresenta também como

vantagem um custo relativamente menor que dos sistemas fotovoltaicos. As turbinas eólicas

são máquinas potentes, a sua tecnologia tem apresentado, nos últimos anos, grandes avan-

ços em aproveitar de maneira mais eficaz a velocidade do vento (BEHLING, BEHLING,

1996, p.197).

Anteriormente as técnicas de construção utilizavam materiais em sua maioria reciclá-

veis. Tais materiais mais sustentáveis poderão vir a substituir, em alguns casos, os materiais

responsáveis por grandes impactos ambientais (COLIN, 2004, p.112). Um exemplo disso é o

bambu, material renovável com interessantes propriedades mecânicas e de possibilidades

diversificadas. Utilizado isoladamente ou associado à argila, apresenta possibilidades não

apenas técnicas, mas também estéticas.

Empregado amplamente na arquitetura tradicional, hoje é alvo de pesquisas sobre

suas características e novas possibilidades de utilização na bioarquitetura, como laminados,

pisos, forros, lambris, estruturas, entre outros. As tecnologias desenvolvidas são capazes de

aprimorar soluções populares e dar forma a uma arquitetura diversificada. A redução dos

custos construtivos que o uso do bambu proporciona, quando associado à boa qualidade

das edificações, obtidas a partir do seu emprego com técnicas adequadas, permite, inclusi-

ve, tornar acessíveis edificações de interesse social.

Já os fardos de palha são materiais naturais com notáveis propriedades de isolamen-

to térmico e acústico. A construção com fardos de palha faz uso de um material que na mai-

oria dos casos é resíduo abundante das lavouras de produção de cereais, como o trigo e o

arroz. A grande vantagem desse material consiste no fato de a palha dos cereais conter

sílica, que com o passar do tempo cria uma rede estrutural enrijecida e resistente, contribu-

indo para a durabilidade das construções. Uma edificação construída com fardos de palha,

normalmente, determina uma elevada eficiência térmica, além de sua execução ser rápida.

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Devido à sua leveza e funcionalidade, os fardos funcionam como blocos a serem empilha-

dos e intertravados, erguendo assim paredes de forma rápida e simples.

A tecnologia do reuso da água é o processo de utilização da água, tratada ou não,

por mais de uma vez, para o mesmo ou outro fim. Essa reutilização pode ser direta ou indi-

reta, decorrente de ações planejadas ou não. A água de reuso tratada é produzida dentro

das Estações de Tratamento de Esgotos e pode ser utilizada para inúmeros fins, como ge-

ração de energia, refrigeração de equipamentos, em diversos processos industriais, em pre-

feituras e entidades que usam a água para lavagem de ruas e pátios, irrigação de áreas

verdes, desobstrução de rede de esgotos e águas pluviais e lavagem de veículos. O sistema

é formado por uma série de tanques cheios de plantas filtrantes, compondo os diversos es-

tágios de tratamento da água, que vão do processo inicial de decomposição anaeróbico dos

sólidos, passando por reatores aeróbicos cobertos de vegetação. As plantas são parte in-

dispensáveis do processo, pois vão filtrando a água conforme ela vai percorrendo os tan-

ques (MASCARÓ e YOSHINAGA, 2005).

Além das tecnologias disponíveis, os projetistas tem a opção de utilizar estratégias

de projeto, dependendo do local da edificação, para ter um resultado sustentável. Essas são

soluções de desenho e alternativas capazes de modificar totalmente o resultado esperado.

Todavia, antes de definir as soluções, deve-se relacionar os itens a serem resolvidos. Con-

forme descreve Corbella e Yannas (2009), para conseguir um bom nível de conforto em cli-

ma tropical úmido, semelhante ao da cidade de Porto Alegre, é necessário analisar os se-

guintes itens: (i) controle dos ganhos de calor; (ii) dissipação da energia térmica do interior

do edifício; (iii) remoção da umidade em excesso e promoção do movimento de ar; (iv) pro-

moção do uso da iluminação natural; (v) controle do ruído.

Na análise do controle dos ganhos de calor, é importante adotar ainda as seguintes

estratégias: (i) minimizar a energia solar que entra pelas aberturas; (ii) minimizar a energia

solar absorvida pelas paredes externas; (iii) colocar isolantes térmicos nas superfícies mais

castigadas pelo sol, como paredes e telhados. Já para aumentar a dissipação de energia do

espaço habitado, deve-se: (i) promover níveis maiores de ventilação quando a temperatura

externa for menor que a interna, o que significa boa disposição das aberturas, áreas corre-

tas e fechamentos de boa qualidade, ou ventilação mecânica controlada; (ii) combinar a

possível ventilação noturna com inércia térmica, sabendo como promover o movimento do

ar e como escolher e dispor os elementos e materiais da construção; (iii) transferir o calor

para zonas com temperatura menor do que a do ambiente habitado, como depósitos, gara-

gens e subsolos. Quanto à remoção da umidade em excesso e a movimentação do ar, o

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35

qual aumenta o conforto térmico das pessoas, é necessário promover o movimento do ar e

sua renovação, no período no qual as pessoas estejam ocupando o ambiente.

Para utilização da iluminação natural, é fundamental serem estudadas as aberturas

que deixarão entrar a luz natural, sem permitir a entrada da radiação solar direta. Isto se

conjuga com a necessidade de controlar a carga térmica provinda da energia solar. O con-

trole do ruído é realizado por meio da disposição de elementos que dificultem sua transmis-

são, tanto para os ruídos provindos de fontes localizadas no próprio edifício quanto para os

geradores fora dele.

Por fim, as estratégias para combater o ganho de calor devido à radiação solar e a

consequente elevação de temperatura do ar interior, além das superfícies internas que ro-

deiam as pessoas, consistem em: (i) posicionar o edifício de maneira a obter a mínima carga

térmica devido à energia solar; (ii) proteger as aberturas contra a entrada do sol; (iii) dificul-

tar a chegada do sol às superfícies do envelope do edifício; (iv) minimizar a absorção do sol

pelas superfícies externas; (v) determinar a orientação e o tamanho das aberturas para

atender as necessidades de luz natural (CORBELLA, YANNAS, 2009, p.42).

A forma do edifício influi na carga térmica recebida por ele. Assim, por exemplo, em

Porto Alegre, um edifício de dez andares e 2.000m2 de superfície recebe menor carga térmi-

ca quando se apresenta alongado e com as fachadas principais na orientação Norte/Sul. A

carga térmica recebida pelo edifício aumenta, sendo máxima, quando a orientação das fa-

chadas principais é Leste/Oeste e o edifício é novamente alongado (MASCARÓ, 1985,

p.23).

A forma deve ser escolhida, então, em função da orientação disponível de maneira a

minimizar a carga térmica recebida e, consequentemente, o consumo de energia operante

(MASCARÓ, 1985, p.23). O bom resultado do edifício depende, portanto, das decisões do

designer. Assim, de acordo com Redig (1978):

O Designer é assim, um elemento componente de uma rede social mais

ampla, que compreende a produção, a distribuição, e o uso do Objeto. Tor-

na-se, portanto, inevitavelmente, comprometido com o Contexto Social para

o qual trabalha (com uma responsabilidade definida perante ele) (REDIG,

1978, p.57).

Quanto ao conforto térmico, não é suficiente oferecer condições mínimas para que a

temperatura do corpo se mantenha dentro dos limites razoáveis. É preciso evitar circunstân-

cias prejudiciais aos processos de regularização térmica a partir do ponto que começam a

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interferir na execução das funções normais ou na manutenção da saúde. Quando o homem

deixa de perder calor no mesmo ritmo que o absorve, os resultados são, no mínimo, alta-

mente desconfortáveis (MASCARÓ, 1985, p.16).

As soluções do desenho arquitetônico, assim com as decisões de projeto, influenci-

am diretamente na eficiência da edificação. Nesse sentido, Marcaró (1985) afirma que a

colocação correta da vegetação, composta de arbustos e árvores de caule liso e copas al-

tas, permite a absorção da radiação solar e o resfriamento do ar que penetra no edifício

(MASCARÓ, 1985, p.39). Além disto, uma solução onde os edifícios são intercalados é mais

vantajosa, pois pode-se obter uma boa ocupação do terreno, maior densidade, sem prejudi-

car a ventilação do conjunto de prédios, não aumentando o consumo energético (MASCA-

RÓ, 1985, p.38).

Experiências para medir a ação do vento descendente em uma zona de redemoinhos

que demonstram que a formação da zona de baixa pressão depende, além da inclinação do

telhado, do tamanho e forma do edifício, sendo praticamente independente da velocidade do

vento (MASCARÓ, 1985, p.82). São de total responsabilidade do projetista, então, os efeitos

positivos e negativos das condições de ventilação, provocados pela presença do prédio no

seu entorno e, consequentemente, a minimização dos consumos de energia, não só do edi-

fício em questão, mas também nos que estão próximos a ele (MASCARÓ, 1985, p.82).

3.5 INFLUÊNCIAS DO AMBIENTE NO ENSINO

Thackara (2008) afirma, em seu livro Plano B, que espaços ricos em sistemas, pelo

fato de confundirem nosso relógio mental e biológico, criam as precondições da psicose.

Ressalta também que qualquer espaço, incluindo o artificial, afeta nossa mente e corpo.

Dessa forma, como visto anteriormente, todo o ambiente educacional influi diretamente no

processo educacional das pessoas, sejam elas crianças ou não.

O ambiente escolar, muitas vezes circunscrito à sala de aula, não pode se bastar

com a oferta do conhecimento, se este não tiver relevância e aplicabilidade, se os jovens

não forem capazes de trabalhar em equipe, de serem desafiados, de praticarem, de fazerem

e se não conseguirem ser eles mesmos (FRANCO, 2004, p.51). Atualmente há uma legisla-

ção especial sobre instalações em Instituições de Ensino (IE), de modo particular adequa-

das à recepção de alunos deficientes. Mas não bastam instalações apropriadas para aten-

der deficientes. É necessário também contar com técnicos especializados para oferecerem a

tais alunos as condições adequadas de estudos.

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O que quase sempre se verifica é que as escolas superiores começam suas ativida-

des utilizando instalações impróprias para o ensino de terceiro grau. Seus laboratórios nem

sempre são completos e muitas vezes pouco permitem o desenvolvimento de pesquisas por

parte dos professores e dos alunos. O ensino superior privado pode se jactar, pois institui-

ções menos recentes conseguiram ampliar significativamente suas instalações, conferindo o

necessário conforto aos alunos e professores. Conseguiram dotar seus laboratórios de ade-

quadas condições de funcionamento, inclusive para a pesquisa, e criam clínicas e escritórios

especializados para a prática educacional (FRANCO, 2004, p.61).

De acordo com Franco (2004), os jovens devem: i) aprender a conhecer, unindo teo-

ria e prática, prática e teoria em tudo que se ensina; ii) instruir-se a fazer, de tal maneira que

o ensino ministrado tenha a devida aplicabilidade e relevância para os mesmos, o que não é

relevante e não se pratica ao conhecer, perde-se facilmente com o tempo; iii) aprender a

conviver, de tal sorte que, na socialização proporcionada pela escola, saibam aceitar os ou-

tros com as suas individualidades, com suas peculiaridades, com as diferenças que reve-

lam; iv) instruir-se a ser, isto é, assumir e dar destaque as suas próprias características e

marcas pessoais. Em suma, necessitam ser estimulados a realizarem seus próprios projetos

de vida.

Na categoria ambiente criativo, Tardif e Sternberg (1988) apontam três formas de es-

tudar o indivíduo no seu campo ou ambiente cultural, através dos efeitos especiais que um

campo particular pode ter no seu domínio de conhecimento, a natureza da expressão criati-

va daí resultante e as características específicas do ambiente que tanto promovem como

inibem a criatividade (SILVA, 1993, p.147). Os autores ainda afirmam que os psicólogos têm

visto a criatividade como um processo existente em uma pessoa e em um momento particu-

lar. Os novos modelos propostos do comportamento criativo, embora não excluam a ênfase

no indivíduo, dão maior importância à relação entre a pessoa e o produto criativo com o sis-

tema social ao qual pertencem (SILVA, 1993, p.148).

Para Vygotsky, este processo é determinado socialmente, uma vez que a criatividade

surge de necessidades que são dadas ao indivíduo criativo, as quais são operacionalizadas

a partir das possibilidades que existem ao seu redor, fato que nos permite traçar o desen-

volvimento histórico das áreas técnicas e científicas. A vinculação da expressão criativa com

o social fica mais clara quando este autor afirma que nenhuma invenção ou descoberta cien-

tífica ocorre antes que as condições materiais e psicológicas, necessárias à sua criação,

estejam presentes. O terceiro componente, em adição ao objetivo e social, é o pessoal que

inclui o nível de aspiração, motivação interna e outros parâmetros psicológicos do sujeito

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criativo. O autor salienta, ainda, que a relação entre o produto e o processo criativo dá-se,

pois o produto pertence à cultura e o processo à personalidade. (SILVA, 1993, p.152).

Baseado na Teoria Construtivista de Piaget, cuja premissa é que o conhecimento

não está no sujeito nem no objeto, mas ele se constrói na interação do sujeito com o objeto.

Nesse sentido, conforme Carretero (1997), na medida em que o sujeito interage com os ob-

jetos é que ele produz a capacidade de conhecer e produzir o próprio conhecimento. O co-

nhecimento surge da ação. Sendo assim, entende-se que na medida em que o aluno estuda

em um ambiente sustentável, ele interage com o conteúdo aprendido e sua aplicação, pro-

duzindo seu próprio conhecimento. A interação com o objeto pode ser entendida, de acordo

com Redig (1978), da seguinte forma:

A Forma (bi e tridimensional) é o canal por onde se transmite a relação Ho-

mem/Meio Construído. É através da Forma que o Homem toma contato (vi-

sual e tátil) com o Objeto, projetado pelo Designer (REDIG, 1978, p.56).

3.6 PRINCIPAIS ACORDOS AMBIENTAIS RELACIONADOS ÀS IE

O desafio do desenvolvimento sustentável procura, na universidade, um agente es-

pecialmente equipado para liderar o caminho, uma vez que sua missão é o ensino e a for-

mação dos decisores do futuro ou dos cidadãos mais capacitados para a tomada de deci-

são. Isso ocorre, pois é rica e extensiva a sua experiência em investigação interdisciplinar e

porque a sua natureza fundamental de motor do conhecimento lhe imprime um papel essen-

cial em um mundo cujas fronteiras se dissolvem a cada dia.

A Organização das Nações Unidas (ONU) deu os primeiros sinais às universidades

quanto ao seu papel no caminho global para o desenvolvimento sustentável. Os documen-

tos associados às Conferências em Desenvolvimento Humano, em 1972, e em Ambiente e

Desenvolvimento (UNCED), em 1999, explicitam objetivos e medidas dirigidas às institui-

ções de ensino superior.

As universidades estão cada vez mais conscientes do papel que têm a desempenhar

para preparar as novas gerações para um futuro viável. Nos anos 80, com a publicação do

Relatório Brandtland e também da cúpula “Planeta Terra” do Rio, as universidades se esfor-

çaram para definir e ao mesmo tempo assumir seu papel no que se refere ao ensino para

um futuro viável. Com essa finalidade, em diferentes períodos e lugares, eles propuseram e

adotaram declarações ambiciosas, nas quais era possível observar os grandes princípios e

objetivos do processo de reforma que estavam prestes a serem adotados. A seguir, são

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mencionados alguns documentos e declarações referentes ao desenvolvimento sustentável

das universidades.

A Declaração de Talloires, redigida em outubro de 1990, estabelece que as universi-

dades têm um papel crucial na educação, investigação, formação de políticas e troca de

informação, necessárias à concretização destes objetivos e que os líderes universitários

devem garantir a liderança e apoio na mobilização dos recursos internos e externos, de for-

ma que suas instituições respondam a este desafio urgente. Os signatários da declaração

de Talloires, comprometem-se a criar uma cultura institucional de sustentabilidade, encora-

jando todas as universidades a se envolverem na educação, investigação, formação de polí-

ticas e intercâmbio de informação em ambiente e desenvolvimento (KRAEMER, 2005).

No decorrer da década de 90, outras declarações foram emitidas às universidades

relacionadas ao desenvolvimento sustentável: a Declaração de Halifax, em 1991; declara-

ção de Swansea, em1993; e os acordos da Conferência da Terra, de 1993.

A Declaração de Kyoto, promovida pela Associação Internacional das Universidades

(IAU), destaca a dimensão ética da educação para o desenvolvimento sustentável, a qual,

além de ensinar princípios, deve promover práticas igualmente sustentáveis. Na 9ª Mesa

Redonda da IAU, que ocorreu em Kyoto, no Japão, em 19 de novembro de 1993, cerca de

90 líderes universitários reuniram-se para discutir e adotar uma declaração de princípios,

baseada nas declarações emanadas das conferências de Talloires (ULSF - University Lea-

ders for a Sustainable Future, 1990), Halifax (AUCC – Association of Universities and Colle-

ges of Canada, 1991) e Swansea (ACU – Australian Catholic University, 1993).

Destacam-se algumas ações desta declaração como: (i) incentivar as universidades

em todo mundo a procurar, estabelecer e disseminar uma compreensão mais clara do con-

ceito de desenvolvimento sustentável; (ii) utilizar os recursos das universidades para encora-

jar uma melhor compreensão, por parte dos governos e do público em geral, dos perigos

inter-relacionados físicos, biológicos e sociais que ameaçam o planeta Terra, e para reco-

nhecer a interdependência significativa e as dimensões internacionais do desenvolvimento

sustentável; (iii) marcar a obrigação ética da geração presente; (iv) potencializar a capacida-

de da universidade de ensinar, investigar e agir no seio da sociedade de acordo com os

princípios de desenvolvimento sustentável; (v) cooperar entre si e com todos os segmentos

da sociedade; (vi) encorajar as universidades a rever as suas próprias operações de forma a

refletir as melhores práticas de desenvolvimento sustentável (KRAEMER, 2005).

De acordo com Kaemer (2005), no documento da Carta Copernicus, há várias reco-

mendações reforçando a ideia de promoção do uso do campus como laboratório experimen-

tal e modelo de desenvolvimento sustentável. Esse ato coletivo leva a concluir que, em um

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país em desenvolvimento, o engajamento de universidades tecnológicas é ainda mais signi-

ficativo, uma vez que suas próprias edificações podem propiciar projetos de pesquisa que

contribuam para gerar novas tecnologias e para criar um novo modelo de desenvolvimento

socioeconômico.

O programa COPERNICUS (Cooperation Program for Environmental Research in

Nature and Industry through Coordinated University Studies) é um programa de cooperação

europeia para a pesquisa sobre a natureza e a indústria com os estudos coordenados da

universidade. Esse foi lançado pela Conferência dos Reitores da Europa (CRE), em 1988. O

programa desenvolve a sua própria estratégia de ação consubstanciada nos princípios de

sua carta, tendo como visão tornar a sustentabilidade uma marca registrada tanto do espaço

europeu da investigação como do espaço europeu da educação, conforme mostra figura 6.

Objetivos gerais Prioridades Áreas-chave Ações COPERNICUS

Identificar formas

das universida-

des ajudarem a

sociedade a res-

ponder ao desa-

fio do Desenvol-

vimento Susten-

tável (DS)

Gerar conheci-

mento sobre DS

Investigação multidiscipli-

nar; redes de peritos

Seminário virtual em

expansão e DS

Disseminar co-

nhecimento

sobre DS entre

os alunos

Formação de professores;

currículos universitários

em DS

Disseminar co-

nhecimento

sobre DS à so-

ciedade

Parcerias e redes de tra-

balho em nível local;

serviço à sociedade em:

-ciência e investigação;

-definição de políticas;

-desenvolvimento de ca-

pacidades;

-transferência tecnológica

Conferências anuais,

desde 1998;

Sustainable Universities:

inter-, multi- and trans-

disciplinary issues and

options (Barcelona,

1999)

Alcançar a sus-

tentabilidade nas

universidades

Implementar

práticas ambi-

entalmente res-

ponsáveis pelas

e nas universi-

dades

Promover a gestão ambi-

ental das universidades;

promover padrões susten-

táveis de produção e con-

sumo nas universidades

Projetos:

-Universidade de baixa

energia;

-campus-solar europeu

-química sustentável

Figura 7 – Estratégia do Programa Copernicus para o Desenvolvimento Sustentável (KRAE-

MER, 2005).

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41

A sociedade e mercado demandam profissionais capazes de superar os atuais desa-

fios. Uma universidade comprometida com desenvolvimento sustentável, ao articular políti-

cas de inovação na área socioambiental, desenvolve pesquisas cientificas baseadas em

novas tecnologias em um contexto sistêmico e passa a exercer efeitos de polarização regio-

nal e nacional, tornando-se referência.

No próximo capítulo, apresenta-se a metodologia utilizada neste trabalho e os dados

coletados em uma pesquisa sobre edificações de ensino, que estão organizados, classifica-

dos, comparados e analisados para orientar o desenvolvimento dos resultados e das dis-

cussões.

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4 METODOLOGIA DA PESQUISA

Os métodos para avaliação ambiental de edifícios surgiram na década de 1990, na

Europa, Estados Unidos e Canadá, com a intenção de encorajar o mercado a obter níveis

superiores de desempenho ambiental. Pelo fato das agendas ambientais serem diferencia-

das, os métodos empregados em outros países não devem ser utilizados sem as devidas

adaptações, incluindo a definição dos requisitos de sustentabilidade que necessitam ser

atendidos pelos edifícios no Brasil.

Atualmente, praticamente cada país europeu, além de Estados Unidos, Canadá,

Austrália, Japão e Hong Kong, possui um sistema de avaliação de edifícios. No Brasil, o

atestado de boa conduta ambiental e social mais difundido é a Certificação LEED do GBC –

U.S. Green Building Council (Conselho Norte Americano de Prédios Verdes). LEED é um

sistema de certificação, feito por meio de avaliação de alguns critérios do edifício. Para cada

critério, é dada uma determinada pontuação, que varia de acordo com o tipo de edifício

(KAWAKAMI, 2008). Existem outros sistemas de certificação, porém o objetivo deste traba-

lho é focar em apenas um método de avaliação, selecionado pelo critério de organização

das informações, reconhecido perante a classe profissional e com possibilidade de adapta-

ção às condições brasileiras.

A metodologia empregada foi orientada pelas normas e regras da Comissão do Meio

Ambiente do Instituto de Arquitetos Americanos. Essa instituição, além de desenvolver um

processo de avaliação, criou também um arquivo virtual que orienta e exemplifica os princí-

pios adotados, criando uma metodologia educacional aos profissionais, gerando uma avalia-

ção quantitativa e qualitativa. Para melhor entendimento, a seguir, apresentam-se conceitos

e história dessa instituição.

4.1 AIA – INSTITUTO AMERICANO DE ARQUITETOS

Fundado em 1857, o Instituto Americano de Arquitetos (AIA) é uma organização que

representa os interesses dos profissionais de Arquitetura dos Estados Unidos. Atualmente,

sua sede está localizada em Washington, DC e conta com aproximadamente 83.500 profis-

sionais associados. Os membros do Instituto aderem a um código de ética e de conduta

profissional que assegura aos clientes, ao público e aos colegas de profissão o cumprimento

dos padrões da prática profissional.

Em 23 de fevereiro de 1857, 13 arquitetos se reuniram no escritório de Richard

Upjohn, em Nova Iorque, para formar um grupo de discussão. Esse grupo incluía HW Clea-

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veland, Henry Dudley, Leopold Eidlitz, Edward Gardiner, Richard Morris Hunt, J. Mould

Wrey, Fred A. Petersen, JM Priest, John Welch, e Joseph C. Essa equipe procurou criar

uma organização cuja missão seria a promoção do aperfeiçoamento científico e prático de

seus membros, além da elevação do estatuto da profissão. Os primeiros passos deste pe-

queno grupo de 13 pessoas mudaram profundamente a profissão de Arquitetura nos Esta-

dos Unidos. Para a segunda reunião do grupo, em 10 de março de 1857, os membros fun-

dadores convidaram mais 16 arquitetos, incluindo AJ Davis, U. Thomas Walter, e Calvert

Vaux. Nessa data foi elaborado um estatuto, com projeto de normas e diretrizes, e definida a

troca do nome da organização chamada de New York Society of Architects para American

Institute of Architects (AIA), por indicação de Thomas U. Walter, um conhecido profissional

da Filadélfia (AIA, 2005).

O AIA produziu cópias deste estatuto, que foram impressas e distribuídas para uso

diário dos arquitetos como referência de trabalho. O AIA também reuniu assinaturas de pro-

fissionais de várias regiões do estado e, em 13 de abril de 1857, depois de um almoço no

restaurante Delmonico, um pequeno grupo, liderado por Richard Upjohn, apresentou uma

proposta de incorporação de uma constituição ao juiz James J. Roosevelt. O juiz entendeu

que os membros do AIA estavam conscientes das necessidades de uma base sólida para os

profissionais da arquitetura e construção e que, portanto, sentia segurança de viabilizar este

projeto. Dois dias depois, os membros assinaram a constituição na capela da New York Uni-

versity (AIA, 2005).

Em 1858, a constituição foi alterada, ampliando a missão do AIA para o avanço geral

da Arte, destacando a profissão artística, científica e prática dos seus membros, para elevar

a dignidade da profissão, e combinar os esforços daqueles engajados na prática da Arquite-

tura. Para alcançar essas metas, foram elaborados documentos em reuniões regulares com

os membros, e proferidas palestras sobre temas de interesse geral, além da criação de uma

biblioteca coletiva. Para garantir o bom relacionamento entre os membros, a constituição

proibiu todas as discussões de natureza religiosa ou política. Sendo assim, eram permitidos

apenas debates sobre questões artísticas. A declaração desta missão permaneceu em vigor

até 1867, quando foram modificados os objetos deste Instituto, que deveriam se unir aos

arquitetos de todo o país, para combinar os esforços de modo a promover a eficiência artís-

tica, científica e prática da profissão. Com o tempo, esses preceitos foram ainda mais refi-

nados, mas os objetivos básicos permaneceram os mesmos (AIA, 2005).

Em 1860, os arquitetos de outros países mostraram interesse em aderir ao AIA, e os

membros iniciaram uma série de debates sobre a melhor maneira de incluí-los. Alguns su-

geriram convidar arquitetos do México e do Canadá, mas isso não ocorreu, e o foco perma-

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neceu nos arquitetos dos Estados Unidos. Em 1887, o AIA estava atuando na Filadélfia,

Chicago, Cincinnati, Boston, Baltimore, Albany, Rhode Island, San Francisco, St. Louis, In-

dianapolis, e Washington, DC. Hoje, o AIA existe em mais de 300 cidades, que fazem parte

dos Estados Unidos e seus territórios, bem como no Reino Unido, Europa Continental e

Hong Kong (AIA, 2005).

Muitas das reuniões eram realizadas no restaurante Delmonico, o mesmo onde os

fundadores começaram a criação do Instituto. O AIA realizou a sua primeira convenção em

Nova Iorque, em 22 de outubro de 1867, onde os participantes leram os relatórios sobre o

Instituto, as comissões e trabalhos foram apresentados sobre os avanços no campo da ar-

quitetura. Todo este material foi impresso e distribuído para os membros. As edições poste-

riores incluíram relatórios dos capítulos e listas de membros, e foram publicadas até 1931.

Os encontros forneceram aos membros a oportunidade de integração, além da troca de ex-

periências sobre novas tecnologias e produtos, ganhando créditos de formação. A maior

convenção do AIA já realizada foi em 2005, na cidade de Las Vegas, e atraiu aproximada-

mente 24.400 pessoas (AIA, 2005).

4.2 AIA NA EDUCAÇÃO

Em 1867, o AIA influenciou a educação de arquitetura dos Estados Unidos. O Insti-

tuto debatia a criação de uma escola nacional de arquitetura baseada no modelo da École

des Beaux-Arts, em Paris. Os membros ministravam aulas noturnas de Desenho, Estética e

História da Arte e da Arquitetura. Infelizmente, os esforços para assegurar o financiamento

não foram suficientes, e o Instituto optou por apoiar o programa de arquitetura desenvolvido

por Robert Ware, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em 1868 (AIA, 2005).

Outros programas também foram desenvolvidos, como na Universidade Cornell

(1871), na Universidade de Illinois (1873), na Columbia University (1881) e Tuskegee

(1881). Atualmente o AIA, tem sólidas parcerias com o American Institute of Architecture

Students Institute (AIAS), Association of Collegiate Schools of Architecture (ACSA) e o Nati-

onal Architectural Accreditation Board (NAAB), que continuam garantindo a máxima qualida-

de do ensino de arquitetura nos Estados Unidos (AIA, 2005).

Antes de 1897, não havia definição legal para a profissão de arquiteto e nem quais-

quer exigências legais relativas ao uso do título ou a prestação de serviços de arquitetura.

Naquele ano, no entanto, Illinois tornou-se o primeiro estado a adotar uma lei de licencia-

mento de Arquitetura. Levou mais de 50 anos para todos os estados a seguirem o exemplo

e adotar leis de licenciamento. Hoje, o AIA trabalha em conjunto com o National Council of

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Architectural Registration Boards (NCARB) para desenvolver e recomendar normas que re-

gulam a prática da arquitetura (AIA, 2005).

4.3 COTE – COMISSÃO DO MEIO AMBIENTE

Fundada em 1990, a Comissão do Meio Ambiente (COTE) é um comitê pertencente

ao AIA, criado para promover, divulgar e defender os profissionais da indústria, da academia

e das práticas de design que utilizam em seus projetos sistemas para melhorar a qualidade

e o desempenho do ambiente construído. A COTE serve à comunidade e promove discus-

sões em nome dos arquitetos do AIA sobre design sustentável e ciência da construção e

desempenho. Hoje, o comitê obtém uma definição sólida de sustentabilidade em que se

baseia o processo de design sustentável, o qual inclui todas as questões humanas e ecoló-

gicas. Na década de 1970, tiveram início as questões de energia (AIA|COTE, 2005).

O Comitê de Energia da AIA foi fundado, em 1973, por um grupo que incluía Herb

Epstein, Richard Stein, Ezra Ehrankrantz, e Leo Daly, todos conhecidos por seu trabalho na

pesquisa de energia, arquitetura e construção. Esse comitê preparou vários documentos,

incluindo uma relação de edifícios energeticamente eficientes, os quais se tornaram ferra-

mentas eficazes para fazer análises de outros projetos sustentáveis (AIA|COTE, 2005).

Em 1990, em Nova Iorque, o COTE listou alguns projetos que estavam começando a

ilustrar as importantes mudanças nas práticas de design, ligados às questões de energia,

materiais, qualidade do ar e luz natural. Foi importante, também, o apoio dos proprietários

na monitorização cuidadosa, após a ocupação das edificações, possibilitando, assim, a do-

cumentação dos resultados. Neste momento, a perspectiva estava começando a ser integra-

tiva e indo muito além da energia. Falava-se sobre ambientes saudáveis para as pessoas, o

cuidado com os resíduos, uso da terra, ecologia, e água (AIA|COTE, 2005).

Também era o momento das primeiras críticas e discussões sobre a avaliação do ci-

clo de vida e como essa estrutura se relaciona a determinadas características regionais. Os

anos de 1990 a 1993 foram de intenso desenvolvimento e crescimento da experiência de

AIA|COTE. A biologia e o projeto ambiental estavam sendo valorizados pelos profissionais,

utilizando a água local, energia, materiais e resíduos como uma base para planejamento e

projeto. O COTE também organizou simpósios focados em questões relacionadas à respon-

sabilidade ecológica no design. A primeira, sobre conservação e eficiência energética de

edifícios, foi realizada na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (AIA|COTE, 2005).

Reconhecendo que os profissionais precisavam estudar exemplares e assim apren-

der com eles, o AIA|COTE criou o programa Top Ten Green Projects, em 1997, sob a lide-

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rança de Gail Lindsey. O programa, que foi pioneiro de uma mistura de avaliação qualitativa

e quantitativa, atualmente em 2012, está em seu décimo quinto ano. O envolvimento e o

apoio do Departamento de Energia e da Agência de Proteção Ambiental Energy Star, o pa-

trocinador atual, tem sido importante para o crescimento e a força do programa. O júri têm

sido multidisciplinar, incluindo engenheiros, arquitetos e jovens profissionais. O programa

Top Ten Green Projects tem um sofisticado processo de submissão on-line, desenvolvido

pela equipe. Embora contando apenas com a internet para uma primeira avaliação dos jura-

dos, a submissão on-line fornece informações detalhadas, possibilitando a este programa

um quadro exclusivo de avaliação qualitativa e quantitativa, fornecendo um recurso crítico

do site (AIA|COTE, 2005).

Em 2003, Daniel Williams foi presidente do COTE e seu envolvimento no grupo coin-

cidiu com período de maior desenvolvimento das medidas de Design Sustentável da COTE.

Foi concluído o quadro de metas para o Top Ten Green Projects, que valoriza integralmente

as questões do terreno, do design, da água e da região. Neste momento, o grupo consultivo

do COTE se esforçava para trazer a questão da sustentabilidade de volta à frente do Institu-

to Americano de Arquitetos. Em 2003, o presidente da AIA era Thom Penney e ele nomeou

Williams e Bill McDonough a participarem como representantes do AIA na reunião sobre

design sustentável, promovida pela União Internacional de Arquitetos, realizada em Barce-

lona. Williams também incluiu Dan Nall, Loftness Vivian, Mark Rylander, entre outros, e, nes-

te período, desenvolveu um relatório, que originou a base para as avaliações atuais, con-

forme relato de Williams (2007):

O modelo ecológico mostra que estamos na natureza e que todas as comu-

nidades estão interligadas. Uma sociedade sustentável projeta e constrói

estruturas e comunidades sustentáveis. Este é o momento, na prática pro-

fissional de design, onde as oportunidades de hoje irão definir a profissão

para o próximo século. (WILLIAMS, 2007)

O AIA participa em estreita colaboração de grupos de conhecimento do EUA, como a

Conferência de Prefeitos dos Estados Unidos, o Centro de Comunidades de Design, a Co-

missão da Diversidade, a Comissão do Design, o Comitê de Design Regional e Urbano, a

Comissão de Habitação, o Comitê do Ministério Público de Arquitetos, o Centro de Ciência,

Construção e Desempenho, da Rede Educador, entre outros. Os esforços da comissão em

colocar as questões ambientais como prioridade é o foco principal das declarações de Willi-

ams (2007) (AIA|COTE, 2005).

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Os esforços combinados de todos os que têm levantado, realizado, e se re-

uniram por trás da bandeira da arquitetura e de qualidade ambiental para

toda a vida fizeram um impacto duradouro sobre os valores, princípios e

práticas de todo o mundo da arquitetura. A mais simples declaração para

este banner foi articulada por Alvar Aalto em 1930: "o designer responsável

deve causar nenhum dano." COTE é uma parte do diálogo construída sobre

este preceito (WILLIAMS, 2007).

O COTE tem o objetivo de divulgar o compromisso da profissão de arquiteto em pro-

porcionar ambientes saudáveis e seguros para as pessoas e se dedica a preservar a capa-

cidade da Terra de sustentar uma qualidade de vida elevada e compartilhada. A missão do

comitê é liderar e coordenar a participação da profissão em questões ambientais relaciona-

das com a energia, e promover o papel do arquiteto como um líder em preservar e proteger

o planeta e seus sistemas vivos (AIA|COTE, 2005).

O COTE fornece a AIA o conhecimento sobre questões ambientais, e apoia o institu-

to quanto às políticas ambientais que afetam a prática da arquitetura. O comitê se envolve

na relação com educadores e Instituições de Ensino, fabricantes, agências governamentais,

organizações ambientais, e grupos da indústria na promoção de processos de design ambi-

entalmente saudável e suas normas, bem como materiais inovadores e sistemas integrados.

O COTE tem metas específicas a serem alcançadas. São elas: (a) divulgar a impor-

tância do Design Sustentável para os arquitetos, dentro do Instituto, e ao público em geral;

(b) educar arquitetos sobre os impactos ambientais relacionados com a energia nas deci-

sões de projeto e como incorporar o design sustentável na prática diária; (c) definir e promo-

ver o design sustentável para a profissão; (d) promover a liderança dos arquitetos em todas

as facetas do processo de decisão ambiental; (e) reconhecer a liderança ambiental dos ar-

quitetos, na prática, educação, indústria e governo; (f) influenciar o rumo da educação de

arquitetura para colocar mais ênfase na alfabetização ecológica, design sustentável e ciên-

cia da construção; (g) manter, aperfeiçoar e fortalecer alianças com associações profissio-

nais e comerciais e outros líderes em design ambientalmente responsáveis, tornando assim

a mensagem mais forte (AIA|COTE, 2005).

Também são metas do COTE: (h) manter, refinar e fortalecer alianças com outras

Comunidades de Conhecimento, com o objetivo de proporcionar recursos para iniciativas do

Instituto e desenvolver projetos que promovam a sustentabilidade no ambiente construído;

(i) definir locais verdes para reuniões e convenções do AIA; (j) comunicar as preocupações

ambientais relacionadas com projetos de energia dentro do AIA para os setores públicos e

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privado e influenciar as decisões dos profissionais, clientes e funcionários sobre o impacto

de suas decisões ambientais relacionadas principalmente com a energia; (k) educar arquite-

tos sobre o desempenho, regulamentos, técnicas e questões de ciência da construção e

como essas questões influenciam a arquitetura, incentivando a educação em arquitetura

baseada na programação, concepção, construção e desempenho de gestão; (l) investigar e

divulgar informações sobre práticas de construção para melhor desempenho da edificação

como os critérios, métodos e ferramentas de planejamento; (m) promover uma prática mais

integrada, a fim de alcançar projetos ambientalmente e economicamente mais eficientes,

incentivando o desenvolvimento de ferramentas de Tecnologia da Informação (AIA|COTE,

2005).

Para o COTE a Sustentabilidade é definida como a ação que prevê a prosperidade

duradoura de todas as coisas vivas. Já o Design sustentável busca criar comunidades, edifí-

cios e produtos que contribuam para esta visão (AIA|COTE, 2005).

4.4 DEFINIÇÕES E MEDIDAS DO DESIGN SUSTENTÁVEL AIA/COTE

Este trabalho adotou como metodologia os itens de medidas utilizados pela Comis-

são do Meio Ambiente do Instituto Americano de Arquitetos (AIA/COTE – American Institute

of Architects | Committe on the Environment), com sede em Washington, DC. As dez medi-

das do Design Sustentável foram desenvolvidas para fornecer orientações e critérios de

avaliação ao AIA/COTE para eleger os dez melhores projetos verdes no programa de pre-

miação feito anualmente desde o ano de 1997.

As edificações vencedoras resolvem os desafios ambientais com projetos que inte-

gram a arquitetura, tecnologia e sistemas naturais. Fornecem contribuições positivas para

suas comunidades, melhorando o conforto dos usuários do edifício e reduzindo os impactos

ambientais através de estratégias, como a reutilização das atuais estruturas de conexão dos

sistemas de trânsito. Estes projetos também proporcionam o uso consciente e racional da

energia, da água e dos ventos, além de estimular o uso de estruturas naturais e materiais

locais (WILLIAMS, 2007, p.129).

As medidas que definem o Design Sustentável, segundo o Comitê COTE, foram de-

finidas na convenção do Instituto AIA em Los Angeles, em uma sessão conduzida por Vivian

Loftness, Siegel Henry, Dan Williams, FAIA (Florida Association of Insurance Agents), e

Gould Kira. Dez itens foram considerados fundamentais para a compreensão dos aspectos

inter-relacionados à sustentabilidade, e liderado pelo arquiteto Jeff Levine, o comitê avalia

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uma série de padrões e princípios de cada uma dessas áreas na escolha dos melhores pro-

jetos anualmente.

Os domínios da sustentabilidade relacionam aspetos espirituais, humanos, culturais

e ambientais com seus padrões naturais e de fluxos. Também estão presentes os aspectos

econômicos com seus padrões financeiros, de capital e social. O projeto sustentável é um

processo colaborativo que envolve pensar ecologicamente e estudar sistemas, relações e

interações, a fim de contribuir com a forma e eliminar o estresse de sistemas. O processo de

design sustentável, de forma holística e criativa, integra o uso da terra, da comunidade, da

mobilidade urbana e da ecologia regional. Também estão relacionados aspectos da água

local, da geração de energia, da luz e ar naturais, dos materiais disponíveis no entorno ime-

diato, do projeto bioclimático específico e de aspectos do ciclo de vida de toda a edificação.

Este processo considera também o incentivo ao aprendizado com os resultados de um de-

sign sustentável verdadeiro, belo, humano, socialmente necessário e restaurador.

A lista com as dez medidas AIA/COTE e suas descrições resumidas inclui tanto os

elementos qualitativos e quantitativos. Essas medidas estão apresentadas de forma organi-

zada e objetiva no quadro, conforme mostra a figura 8 (WILLIAMS, 2007, p.239).

Medidas Descrição

1. Intenção do projeto

sustentável

Observa as principais ideias de design sustentável e inovações

para o projeto, bem como as circunstâncias específicas ou restri-

ções que geraram essas ideias. Demonstra como a expressão

arquitetônica representa a intenção do projeto sustentável e como

o design conduz uma melhor concepção do projeto como um todo.

Indica que o projeto sustentável seja enraizado em uma mentali-

dade que entenda o homem como parte integrante da natureza e

responsável pela administração dos sistemas naturais. Ele começa

com uma ligação a valores pessoais e abraça as circunstâncias

ecológicas, econômicas e sociais de um projeto. A expressão ar-

quitetônica vem a partir desta intenção, respondendo as especifi-

cidades da região, vizinhança, comunidade, bacia hidrográfica, e

terreno.

2. Comunidade regi-onal e conectividade

Observa como o projeto promove a identidade regional da comu-

nidade em um sentimento adequado ao lugar, e como o projeto

contribui para o espaço público e interação com a comunidade.

Demonstra as estratégias alternativas de transporte local ou regio-

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nal, bem como os esforços bem sucedidos de incentivo para a

redução de estacionamentos.

O projeto sustentável reconhece o caráter cultural e natural do

lugar, promovendo a identidade da região e da comunidade. Con-

tribui para o espaço público e interação com a vizinhança. Visa

reduzir o uso de veículos particulares e promove estratégias alter-

nativas de trânsito, reduzindo, então, a necessidade de estacio-

namentos.

3. Ecologia local de

uso da terra

Descreve como o desenvolvimento do projeto se integra ao seu

contexto ecológico e como o terreno e o projeto se relacionam com

os ecossistemas em diferentes escalas, do local ao regional. Des-

creve o projeto da paisagem, da criação, da recriação, da preser-

vação do espaço aberto e dos ecossistemas no local.

O projeto sustentável revela como sistemas naturais podem pros-

perar na presença de desenvolvimento humano, diz respeito aos

ecossistemas em diferentes escalas, e cria, recria ou preserva o

espaço aberto de acordo com o seu ecossistema local.

4. Projeto Bioclimáti-co

Descreve como o edifício responde às condições bioclimáticas

através de estratégias de design passivo. Descreve como a orien-

tação da construção é influenciada pelas condições climáticas do

local, como o caminho do sol, as brisas prevalecentes e os ciclos

sazonais e diários.

O projeto sustentável economiza recursos e otimiza o conforto

humano através de conexões com os fluxos da região bioclimática,

usando o projeto em nível local, beneficiando o acesso gratuito

das energias solar, eólica, e da água, além dos benefícios do ca-

minho do sol, a brisa, e os ciclos sazonais e diários.

5. Luz e ar

Descreve as estratégias de design para criar um ambiente saudá-

vel e produtivo no interior da edificação através da iluminação na-

tural e artificial, assim como as estratégias de ventilação natural e

seus sistemas de controle.

O projeto sustentável cria um ambiente saudável e confortável no

interior, enquanto fornece luz abundante e ar fresco. A luz do dia

considerada no projeto de iluminação e a presença da ventilação

natural na edificação, melhora a qualidade do ar interior e reforça a

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ligação vital do ser humano com a natureza.

6. Ciclo da água

Descreve como as estratégias de construção e design do projeto

conservam os suprimentos e gestão da água local, assim como

drenagem e capitalização sobre as fontes renováveis no entorno

imediato. Esboça a preservação de água da paisagem e define as

estratégias do projeto de construção, assim como os acessórios,

aparelhos e equipamentos para redução do consumo de água.

O projeto sustentável reconhece a água como um recurso essen-

cial e prioriza, no planejamento, o abastecimento, o armazena-

mento, a drenagem e a capitalização de fontes renováveis do lo-

cal. Utiliza estratégias para poupar água, assim como todos os

utensílios, aparelhos e equipamentos necessários.

7. Fluxos de energia

e futuro da energia

Descreve como o projeto da edificação integra os sistemas que

contribuem para a conservação de energia, reduzindo a poluição e

melhorando o desempenho da construção para o conforto interno.

Descreve o uso eficaz de controles, tecnologias, estratégias de

iluminação eficiente e quaisquer outros sistemas do projeto em

relação às energias renováveis.

Enraizado em estratégias passivas, o projeto sustentável contribui

para a conservação de energia, reduzindo ou eliminando a neces-

sidade de iluminação, aquecimento e refrigeração mecânica. Pro-

põem a construção de sistemas menores e mais eficientes para

reduzir a poluição e melhorar o desempenho e conforto da cons-

trução. Controles, tecnologias e estratégias de iluminação, visando

a energias renováveis, devem ser empregados considerando os

impactos em longo prazo.

8. Materiais e cons-trução

Descreve os critérios de seleção de maior importância, conside-

rando as limitações dos materiais ou dos conjuntos de construção

do projeto. Descreve a redução dos resíduos da construção e to-

das as estratégias para promover a reciclagem durante a ocupa-

ção.

Usando uma lente de ciclo de vida, a seleção de materiais e pro-

dutos pode economizar recursos, reduzir os impactos da colheita,

da produção e do transporte. Pode também melhorar o desempe-

nho do edifício e assegurar a saúde e o conforto humano. Os ma-

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teriais de revestimento, do edifício de alto desempenho, podem

contribuir melhorando o conforto e reduzindo o consumo de ener-

gia e poluição. O projeto sustentável promove a reciclagem atra-

vés da vida do edifício.

9. Ciclo de vida

Descreve como a concepção do projeto cria valor duradouro atra-

vés da flexibilidade, em longo prazo, e da adaptabilidade da cons-

trução. Apresenta os materiais, sistemas e design desenvolvidos

para aumentar a versatilidade, durabilidade e potencializar a reuti-

lização adaptativa da edificação.

O projeto sustentável visa ao valor ecológico, social e econômico

também em relação ao tempo. Materiais, sistemas e soluções de

design são desenvolvidos com o objetivo de aumentar a versatili-

dade, durabilidade e o potencial de reutilização adaptativa do edi-

fício. O projeto sustentável começa com o dimensionamento ne-

cessário às demandas atuais prevendo adaptações futuras.

10. Lições aprendidas

Descreve como o processo de design aprimorou o melhor desem-

penho e sucesso do edifício. Como os esforços de colaboração

entre a equipe de projeto, consultores, cliente e comunidade con-

tribuíram para o sucesso. Descreve as lições aprendidas durante o

projeto, a execução e a ocupação do edifício.

O projeto sustentável reconhece que as estratégias de projeto

mais inteligentes evoluem ao longo do tempo através do conheci-

mento compartilhado dentro de uma grande comunidade. As lições

aprendidas com o processo de concepção integrada contribuem

para o desempenho do edifício, a satisfação dos ocupantes e a

concepção de projetos futuros.

Figura 8 – quadro das 10 medidas da AIA / COTE (WILLIAMS, 2007)

4.5 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA A SER EMPREGADA

As medidas listadas no quadro da figura 8 foram utilizadas para organizar um guia ou

roteiro para orientação e planejamento de projetos ou avaliação de edificações destinadas a

diversas ocupações. Os exemplares a serem estudados foram escolhidos por serem edifica-

ções de Instituições de Ensino que ganharam destaque como construções sustentáveis,

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escolhidas pela Comissão do Meio Ambiente do Instituto Americano de Arquitetos no ano de

2005 e de 2010, os quais serão apresentados no capítulo seguinte.

4.5.1 Quadro de dados

Para esta etapa, criou-se o quadro de dados, o qual é apresentado somente em sua

essência, pois esse foi formulado com o objetivo de organizar, de forma resumida, as infor-

mações dos dados recolhidos. Conforme mostra a figura 9, a parte superior do quadro des-

tina-se às informações da edificação a ser analisada como: (i) imagem da edificação; (ii)

nome do projeto; (iii) atividade a que ela é destinada, (iv) local onde está situada, (v) autoria

do projeto, (vi) área em metros quadrados e (vii) ano de inauguração. Abaixo, na primeira

coluna identificam-se as medidas AIA com uma breve descrição de cada uma delas. Já a

segunda coluna é reservada para apresentar, resumidamente e de forma objetiva, as solu-

ções adotadas no projeto para que a edificação contribua com o meio ambiente.

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Quadro de dados

Imagem: Edificação:

Atividade:

Local:

Projeto arquitetônico:

Área da edificação:

Inauguração da edificação:

MEDIDA AIA SOLUÇÕES

Medida 1 _ Intenção do proje!

to sustentável

Medida 2 _ Comunidade regi!

onal e conectividade

Medida 3 _ Ecologia local de

uso da terra

Medida 4 _

Projeto Bioclimático

Medida 5 _ Luz e Ar

Medida 6 _ Ciclo da água

Medida 7 _ Fluxos e futuro da

energia

Medida 8 _ Materiais e cons!

trução

Medida 9 _ Ciclo de vida

Medida 10 _ Lições aprendidas

1º coluna 2º coluna

Figura 9 – quadro de dados criado pela autora

4.5.2 Quadro de levantamento

Em visita realizada no dia 16 de setembro de 2011, na parte da manhã, na sede da

Universidade do Meio Ambiente – UniLivre – localizada na cidade de Curitiba, no estado do

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Paraná/Brasil, foi possível verificar a necessidade de um roteiro de orientação. Para isso,

foram desenvolvidas duas perguntas para cada medida, a fim de facilitar e objetivar a visita

técnica de avalição quanto à sustentabilidade do campus da UniLivre, em especial, para

avaliar a edificação construída.

Destas perguntas originou-se um quadro de levantamento, apresentado na figura 10,

com questões que foram de grande importância na organização das informações coletadas.

Cada item foi desenvolvido inteiramente baseado nas orientações da AIA/COTE.

Para a medida nº1, relacionada à intenção do projeto sustentável, as questões foram:

(i) Quais as circunstâncias ecológicas, sociais e econômicas consideradas na concepção do

projeto? (ii) A expressão arquitetônica demonstra a intenção de um projeto sustentável? Na

medida nº2, a respeito da comunidade regional e conectividade, perguntou-se: (i) O projeto

contribui para o espaço público e a interação da comunidade? (ii) O projeto incentiva a redu-

ção de transportes poluentes?

Para a medida nº3, referente à ecologia local e uso da terra, questionou-se: (i) Como

a edificação se comporta ao contexto ecológico? (ii) O projeto auxilia no desenvolvimento

dos sistemas naturais? Com referência à medida nº4, sobre projeto bioclimático, verificou-

se: (i) A orientação da construção é favorecida pelas condições climáticas do local? (ii)

Quais foram as estratégias de Design utilizadas para proporcionar conforto no interior do

edifício?

Em relação à medida nº5, a respeito da luz e do ar, as questões foram: (i) O projeto

criou ambiente interno saudável e confortável, com luz e ventilação adequadas? (ii) Quais

são as estratégias de design para iluminação e ventilação natural e artificial? Para a medida

nº6, relacionada ao ciclo da água, questionou-se: (i) Quais as estratégias utilizadas para

diminuir o consumo de água? (ii) Quais as tecnologias adotadas para a reutilização de água

pluvial e cloacal?

Na medida nº7, referente a fluxos e futuro da energia, perguntou-se: (i) Quais as es-

tratégias utilizadas para a conservação da energia? (ii) Quais as tecnologias adotadas pelo

projeto para gerar energia alternativa? Com referência à medida nº8, a respeito dos materi-

ais e construção, verificou-se: (i) Quais são os critérios de seleção dos materiais quanto aos

seus impactos no meio ambiente (economia de recursos, impactos da colheita, da produção

e do transporte)? (ii) Os materiais de revestimento selecionados contribuem para o conforto

e reduzem o consumo de energia e poluição?

Para a medida nº9, relacionada ao ciclo de vida, as questões foram: (i) O projeto cria

valor duradouro para o edifício através da flexibilidade e adaptabilidade? (ii) Os materiais e

sistemas aumentam a versatilidade, durabilidade e potencializam a reutilização adaptativa

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da edificação? Sobre a medida nº10, referente às lições aprendidas, questionou-se: (i) O

projeto proporcionou novas soluções, estratégias ou tecnologias que podem ser utilizadas

na concepção de projetos futuros? (ii) Quais as estratégias utilizadas no projeto que evoluí-

ram ao longo do tempo com o aparecimento de novas tecnologias?

Além das questões descritas acima, o quadro de levantamento destaca, na parte su-

perior, as informações da edificação a ser analisada: (i) nome do projeto; (ii) atividade a que

ela é destinada, (iii) local onde está situada, (iv) autoria do projeto, (v) área em metros qua-

drados e (vi) ano de inauguração.

Logo abaixo, na primeira coluna, identificam-se as medidas AIA com uma breve des-

crição de cada uma delas. Na segunda coluna, apresentam-se as duas perguntas de apoio,

desenvolvidas com base nas descrições de cada medida do quadro da figura 8. Já, na ter-

ceira coluna, estão os espaços a serem preenchidos com as informações coletadas no local

da análise técnica.

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Quadro de levantamento

Edificação: Projeto Arquitetônico:

Atividade: Área da edificação:

Local: Inauguração da edificação:

MEDIDA AIA PERGUNTAS DE APOIO INFORMAÇÕES RECOLHIDAS

As circunstâncias ecológicas, sociais e econômicas foram

consideradas na concepção do projeto?

A expressão arquitetônica demonstra a intenção de um projeto

sustentável?

O projeto contribui para o espaço público e a interação da

comunidade?

O projeto incentiva a redução de transportes poluentes?

Como a edificação se comporta ao contexto ecológico?

O projeto auxil ia no desenvolvimento dos sistemas naturais?

A orientação da construção é favorecida pelas condições

climáticas do local?

Quais foram as estratégias de Design util izadas para

proporcionar conforto no interior do edifício?

O projeto criou ambiente interno saudável e confortável, com

luz e ventilação adequadas?

Quais são as estratégias de design para i luminação e

ventilação natural e artificial?

Quais as estratégias util izadas para diminuir o consumo de

água?

Quais as tecnologias adotadas para a reutil ização de água

pluvial e cloacal?

Quais as estratégias util izadas para a conservação da energia?

Quais as tecnologias adotadas pelo projeto para gerar energia

alternativa?

Quais são os critérios de seleção dos materiais quanto aos

seus impactos no meio ambiente (economia de recursos, da

colheita, da produção e do transporte)?

Os materiais de revestimento selecionados contribuem para o

conforto e reduzem o consumo de energia e poluição?

O projeto cria valor duradouro para o edifício através da

flexibil idade e adaptabil idade?

Os materiais e sistemas aumentam a versatil idade,

durabil idade e potencializam a reutil ização adaptativa da

edificação?

O projeto proporcionou novas soluções, estratégias ou

tecnologias que possam ser util izadas na concepção de

projetos futuros?

Quais as estratégias util izadas no projeto que evoluíram ao

longo do tempo com o aparecimento de novas tecnologias?

1º coluna 2º coluna 3º coluna

Medida 7 _ Fluxos e

futuro da energia

Medida 8 _ Materiais

e construção

Medida 9 _ Ciclo de

vida

Medida 10 _ Lições

aprendidas

Medida 1 _ Intenção

do projeto

Medida 2 _

Comunidade regional

e conectividade

Medida 3 _ Ecologia

local de uso da terra

Medida 4 _ Projeto

Bioclimático

Medida 5 _ Luz e Ar

Medida 6 _ Ciclo da

água

Figura 10 – quadro de levantamento criado pela autora

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4.5.3 Quadro de avaliação

Conforme análise das medidas AIA, mencionadas no capítulo 5, verificou-se uma sé-

rie de itens insatisfatórios que podem ser melhorados para que a edificação seja mais sus-

tentável e menos nociva ao meio ambiente. Estes itens foram organizados de forma objetiva

no quadro de avaliação para melhor visualização do material, de acordo com a figura 11. A

parte superior do quadro é reservada para as informações da edificação a ser analisada: (i)

nome do projeto; (ii) atividade a que ela é destinada, (iii) local onde está situada, (iv) autoria

do projeto, (v) área em metros quadrados, (vi) ano de inauguração e (vii) imagem da identifi-

cação. Logo abaixo, na primeira coluna, identificam-se as medidas AIA com uma breve des-

crição de cada uma delas.

Na segunda coluna, o espaço é destinado às informações recolhidas através da visi-

ta técnica feita no local. Para esta etapa, utiliza-se o quadro de levantamento, conforme ci-

tado e explicado no capítulo 5. Na terceira coluna, os dados a serem preenchidos dizem

respeito aos resultados das avaliações de cada medida, indicadas por legendas, capazes de

resumir e objetivar as informações. Essas legendas estão apresentadas na forma de círcu-

los onde (i) o círculo completamente preenchido representa que a medida foi atingida ple-

namente; (ii) o círculo com apenas a metade preenchida representa que a medida foi atingi-

da parcialmente; (iv) e o círculo vazio, sem preenchimento, representa que a medida não foi

atingida.

A quarta coluna destina-se à apresentação das sugestões de melhorias, que, neste

caso, serão baseadas nos exemplos apresentados no capítulo 4, a fim de que a edificação

possa contribuir melhor com o meio ambiente. Para futuras avaliações, esta etapa deve ser

baseada em estudos técnicos de viabilidade de cada caso, pois, neste trabalho, o objetivo

principal é mostrar o funcionamento deste processo.

Este quadro de avaliação também pode ser utilizado na fase do planejamento do

projeto, em conjunto com o quadro de levantamento, pois, dessa forma, o projetista pode

verificar se estes itens estão sendo contemplados no seu trabalho.

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Quadro de avaliação

Edificação:

Atividade:

Local:

Projeto Arquitetônico:

Área da edificação:

Inauguração da edificação: Imagem:

MEDIDA AIA INFORMAÇÕES RECOLHIDAS AVALIAÇÃO SUGESTÃO

Medida 1 _ Intenção do

projeto sustentável

Medida 2 _ Comunidade

regional e conectividade

Medida 3 _ Ecologia local de

uso da terra

Medida 4 _ Projeto

Bioclimático

Medida 5 _ Luz e Ar

Medida 6 _ Ciclo da água

Medida 7 _ Fluxos e futuro da

energia

Medida 8 _ Materiais e

construção

Medida 9 _ Ciclo de vida

Medida 10 _ Lições aprendidas

1º coluna 2º coluna 3º coluna 4º coluna

Figura 11 – quadro de avaliação criado pela autora

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No capítulo seguinte, apresentam-se as análises feitas pelo COTE/AIA dos prédios

do Kroon Hall, Rinker Hall e Heimbold, que estão voltados para o ensino de cursos relacio-

nados a estudos ambientais e cursos relacionados com Artes e Design. Essas análises es-

tão lançadas nos quadros de dados e servirão como sugestões de soluções e técnicas ado-

tadas nos projetos para alcançar a sustentabilidade. Também serão utilizadas como suges-

tão, no capítulo 4, para medidas a serem adaptadas em edificação existente: o prédio da

Universidade Livre do meio ambiente.

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5 ANÁLISES DO AIA EM IE

Nesta fase do trabalho apresentam-se as análises de três edificações consideradas

exemplares em design sustentável e que estão voltadas para as atividades de ensino. São

edificações que participaram do programa top ten projects green do AIA|COTE e foram ven-

cedoras nos anos de 2005 e 2010.

5.1 KROON HALL

A edificação Kroon Hall está situada na cidade de New Haven, no estado de Connec-

ticut, nos Estados Unidos da América (EUA). Essa construção abriga a escola de estudos

Ambientais e Florestais da Universidade Yale, que oferece cursos de pós-graduação em

Gestão Ambiental, Ciências Ambientais, Silvicultura e Ciências Florestais, além de servir

como local de pesquisa nessas áreas. De autoria do escritório Hopkins Architects, o prédio

foi concebido para utilizar 50% menos de energia se comparado a outro exemplar de mes-

mo porte que utilize sistemas convencionais. É uma das obras escolhidas pela direção da

Universidade como exemplo para atingir a sua meta, definida desde 2005, de redução de

43% nas emissões de gases de efeito estufa nos próximos 15 anos, em todo o campus

(WILLIAMS, 2007).

A direção da Instituição solicitou um projeto, cujos conceitos de economia de energia

pudessem inspirar outras edificações, e que fosse um lugar saudável para estudar, trabalhar

e descansar. Um ambiente que aproximasse as pessoas do centro urbano e da natureza. O

edifício possui área para professores, funcionários, salas de aula, biblioteca, centro de estu-

dos, auditório e um centro do meio ambiente.

A seguir, apresenta-se a classificação do edifício seguindo as 10 medidas utilizadas

pela Comissão do Meio Ambiente do Instituto Americano de Arquitetos (WILLIAMS, 2007,

p.239).

Analisando a medida nº1, é possível observar que os projetistas e a Instituição queri-

am definir um novo padrão para as escolas de ensino superior de todo o país. O Kroon Hall

foi concebido para compensar as práticas insustentáveis na vida quotidiana das pessoas e

para inspirá-las a modificarem suas vidas, a fim de tornarem-se cidadãos mais sustentáveis.

Através de uma combinação de medidas ativas e passivas de design e funcionalidades do

edifício visível, invisível e interativo, este objetivo foi alcançado. O projeto também envolveu

uma série de ações das equipes, a partir de uma compreensão fundamental das possibilida-

des sustentáveis que o local oferecia, como as questões mais sistêmicas, incluindo a trans-

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missão eletrônica dos projetos para revisão entre os projetistas, poupando, assim, energia e

reduzindo o desperdício.

Em relação à medida nº 2, verificou-se que, devido à localização do prédio em um

campus universitário urbano, a integração e a ligação com a comunidade foi de extrema

importância. Os pátios e terraços que circundam o prédio são espaços públicos, visíveis e

acessíveis à vizinhança. Suas dimensões foram maximizadas devido à orientação do edifí-

cio, que por sua vez ajudou a otimizar muitas das medidas passivas sustentáveis, que foram

incorporadas ao projeto, conforme figura 13.

Figura 13 – espaços públicos junto ao Kroon Hall (fonte: http://environment.yale.edu/news/5508)

A entrada principal do prédio fica na rua pública da cidade e dá acesso às partes do

edifício que podem ser utilizadas para eventos públicos, como o auditório e os espaços de

estar, formando um lugar de destaque na fachada. Esta é a ligação do campus com a cida-

de de New Haven, de acordo com a figura 14. Uma parada de ônibus foi instalada próximo

ao bicicletário, assim como, armários e chuveiros foram disponibilizados, incentivando a uti-

lização dos transportes públicos e veículos de livre deslocamento. Não há estacionamento

no local para desestimular o uso de automóveis. O usuário que necessitar estacionar pode

optar por uma garagem próxima, o que incentiva este motorista a interagir com o campus e

com a cidade como pedestre.

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Figura 14 – implantação do campus do Kroon Hall (fonte: http://greensource.construction.com/green_building_projects/2009/09_Kroon-Hall/slide-8.asp)

A medida nº 3 está baseada na informação de que o Kroon Hall é parte de um plano

maior, cujo objetivo é transformar, sistematicamente, o ambiente físico e social do bairro. O

projeto transformou uma instalação industrial que fornecia pouco benefício ecológico ou so-

cial em um lugar onde a comunidade pode desfrutar de um ambiente saudável, ao ar livre, e

do contato com a natureza em meio ao seu espaço urbano.

Essa edificação foi implantada em um terreno em desnível de forma que, no térreo, a

face sul fica exposta e a face norte mais protegida, proporcionando isolamento térmico e

favorecendo a luz natural que entra pelos pátios adjacentes. Os pátios sul e norte proporcio-

nam um atraente ambiente de trabalho e estudo. O primeiro é uma plataforma elevada, com

telhado verde que reúne 25 variedades de plantas nativas, as quais necessitam de irrigação

e são alimentadas unicamente com água da chuva colhida.

Com uma profundidade disponível de apenas 2 a 3 pés no topo de uma estrutura

subterrânea, uma solução de tratamento do solo com base de águas pluviais não era funci-

onal. Sendo assim, a equipe desenvolveu um sistema inovador, à base de água composta

de jangadas flutuantes, com plantas aquáticas nativas selecionadas especialmente para

remover poluentes transportados pela água da chuva que se reciclam através dela.

Em relação à medida nº 4, nota-se que o desenho do edifício combinado com o envi-

draçamento permite que a luz do dia forneça grande parte da iluminação no interior. A orien-

tação também foi fundamental para a concepção do sistema de fachada. Assim, as facha-

das leste e oeste, conforme mostra figura 15, têm grandes áreas de vidro protegidas por

persianas horizontais, as quais possibilitam que a luz seja refletida para o interior do prédio,

ao mesmo tempo em que bloqueiam a luz solar direta e o calor excessivo. Em contrapartida,

as fachadas norte e sul são mais fechadas, colaborando com o isolamento termo acústico.

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Figura 15 – brises de madeira instalados nas fachadas de maior insolação (fonte:

http://environment.yale.edu/news/5508)

A inclusão de elementos e características para a redução do consumo de energia

passiva, ativa e renovável no local foi importante para a equipe de projeto. A enorme varia-

ção das condições climáticas locais exigiu uma construção adaptável, isto é, com a possibi-

lidade de ser completamente fechada ao exterior durante os meses de verão e inverno, e,

também, capaz de ser aberta para permitir a ventilação natural durante as épocas de transi-

ção, minimizando o uso de energia.

O edifício está orientado ao longo de um eixo leste-oeste, permitindo que a fachada

sul atue como um grande coletor solar. Aproveitou-se do local a inclinação, incorporando a

maior parte do piso térreo na encosta, auxiliando no gerenciamento térmico. Os coletores de

energia renovável estão localizados na parte externa; os painéis fotovoltaicos, incorporados

ao projeto, fazem uma indicação visual de sua importância para o edifício e seus ocupantes.

Eles, por sua vez, definem estratégias arquitetônicas, como a inclinação do telhado com

desenho curvilíneo, a fim de fornecer aos painéis fotovoltaicos um ângulo perfeito para a

captação da energia solar durante todo o decorrer o dia, nas várias estações do ano.

Na medida nº 5, analisa-se o fato de o princípio orientador do projeto ter determinado

que a fachada fosse adaptável e contasse com sistema de ventilação passiva, para serem

utilizados sempre que possível, uma vez que a região tem variações extremas de tempera-

tura ao longo do ano. Essa solução reduz o uso de equipamentos de aquecimento e refrige-

ração quando o clima é mais temperado. No verão e no inverno, as janelas permanecem

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fechadas; na primavera e no outono elas se abrem, acionadas por um sistema eletrônico,

que funciona com código de cores.

Conforme figura 16, uma claraboia no topo do telhado do edifício fornece luz natural

para uma grande porcentagem dos espaços e permite ventilação cruzada e eficaz através

das janelas. As áreas de maior ocupação são priorizadas com a luz do dia mais frequente-

mente, enquanto os espaços auxiliares estão localizados na parte central da edificação.

Quando necessário, um sistema de sinalização indica aos usuários o momento oportuno

para abrir as janelas.

Figura 16 – detalhe dos brises nas áreas internas colaborando com o controle térmico e de

luminosidade (fonte: http://environment.yale.edu/news/5508)

A escadaria central é iluminada com claraboias na parte superior e fornece a cone-

xão física e visual entre todos os níveis do edifício, de acordo com a figura 17. O pé direito

no último pavimento permite a circulação de ar e contribui para penetração da luz do dia. As

fachadas leste e oeste têm persianas de madeira e balanços de grandes dimensões que

permitem sombra mantendo a vista para o exterior. Grandes janelas proporcionam uma vi-

são para os demais edifícios do campus, assim como os pátios e terraços, que são acessí-

veis a partir de vários locais na construção, projetados para incentivar as pessoas a estuda-

rem e relaxarem na parte externa. O térreo estimula atividades ao ar livre, mesmo durante

os dias com intempéries.

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Figura 17 – Vista do interior da escada central do segundo andar (fonte:

http://environment.yale.edu/news/5508)

O percentual de área construída e iluminada durante o dia por luz natural é de 77%,

enquanto a área que pode ser ventilada com janelas operáveis atinge 80% da construção. A

figura 18 mostra o esquema de iluminação em todos os andares do prédio: a parte amarela

representa as áreas mais iluminadas por luz natural. Já a área azul corresponde à parte

menos iluminada. O esquema apresenta os pavimentos começando pelo último andar e

chegando até o térreo.

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Figura 18 – Série de modelos que mostra a iluminação natural para todos os quatro andares

(fonte: http://environment.yale.edu/magazine/spring2009/kroon-hall-rises/)

Para alcançar a meta da medida nº 6, a água da chuva é coletada por um sistema de

canais instalado na cobertura e direcionado para um jardim no pátio ao sul, onde plantas

aquáticas filtram os sedimentos e contaminantes, segundo mostra figura 19. As águas mais

cinzas vão para tanques de armazenamento subterrâneos e são bombeadas de volta para a

lavagem de sanitários e irrigação. Com isso, o sistema economiza anualmente mais de 500

mil litros de água potável e reduz a carga sobre os esgotos da cidade.

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Figura 19 – esquema de coleta e reutilização de águas pluviais (fonte:

http://environment.yale.edu/news/5508)

O Kroom Hall apresenta uma aplicação inovadora de tratamento de água da chuva,

armazenamento e reutilização. O projeto utilizou uma característica das plantas locais para

limpar águas pluviais através de fitorremediação, que é o uso de plantas para remover, imo-

bilizar ou tornar inofensivos ao ecossistema, contaminantes orgânicos e inorgânicos presen-

tes no solo e na água. Associado ao paisagismo, esse sistema também proporcionou um

espaço agradável de lazer no pátio, como mostra a figura 20.

Com este sistema o uso de água potável é reduzido em 75% do valor inicial, através

de mictórios sem água, banheiros com descarga dupla, e outras características. Nenhum

percentual de água potável é disponível para complementar a irrigação. O sistema é proje-

tado para salvar 634.000 litros de água por ano e contribuir para a melhor qualidade da água

de descarga nos esgotos da cidade.

Figura 20 – plantas locais que limpam as águas pluviais (fonte:

http://environment.yale.edu/news/5508)

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Analisando a medida nº 7, verificou-se que uma cobertura de cem quilowatts de pai-

néis fotovoltaicos fornece aproximadamente 25% da eletricidade para o edifício. A energia

solar em vermelho, segundo mostra a figura 21, é levada até um transformador para ser

convertida em energia elétrica, representada em azul. Esta energia, então, é utilizada em

conjunto com corrente alternada da rede do campus Yale e direcionada para tomadas e ilu-

minação em todo o edifício. O aquecimento e o resfriamento dos ambientes interno são ob-

tidos através de bombas de calor, em vez de caldeiras convencionais e sistemas de refrige-

ração. Para isso, quatro poços de 1,5 mil metros de profundidade usam águas subterrâneas

para a transferência de calor entre as bombas e a terra.

Figura 21 – esquema de transformação da energia solar em energia elétrica (fonte:

http://environment.yale.edu/magazine/spring2009/kroon-hall-rises/)

Um grande volume de ar, em movimento lento, circula através da construção por

aberturas no piso elevado, por saídas de ar nas paredes interiores dos escritórios e respira-

douros elevados em áreas centrais, como mostra a figura 22. No inverno o sistema de venti-

lação transfere o calor dos exaustores para novas entradas de ar. No verão, essa transfe-

rência também é feita, mas um sistema de sprays ajuda a reduzir ainda mais a sua tempera-

tura antes de transferir o frio da exaustão para o ar de entrada.

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Figura 22 – Aquecidas e resfriadas ambas as partículas de ar movem-se quase impercepti-

velmente através de câmaras de ar instaladas no piso elevado. O ar sai através de aberturas locali-

zadas acima das portas (fonte: http://environment.yale.edu/magazine/spring2009/kroon-hall-rises/)

Painéis solares embutidos na fachada sul, de acordo com a figura 23, aquecem,

através da energia solar, a água do edifício para a climatização do prédio. As paredes de

concreto celular autoclavado asseguram a estabilidade térmica, retendo o calor no inverno e

resfriando no verão.

Figura 23 – Quatro painéis solares embutidos na fachada sul abastecem o edifício com água

quente. Nos dias em que não há muito sol, fluídos nos tubos evacuados atravessam externamente as

bobinas movendo a água quente (fonte: http://environment.yale.edu/magazine/spring2009/kroon-hall-

rises/).

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O detalhe que garante o conforto ambiental são as paredes espessas. Elas possibili-

tam que as janelas fiquem embutidas e alinhadas pela face interna de forma que o espaço

externo dos vãos favoreça o sombreamento. Todas as janelas são de alto desempenho,

possuem vidros duplos com câmeras de argônio.

A camada exterior do edifício torna-se uma pele sensível que reage às mudanças

sazonais das condições atmosféricas. As fachadas norte e sul apresentam janelas protegi-

das e paredes altamente isoladas, revestidas de pedra para efetuar o controle eficaz sobre o

clima durante todo o ano. A escada central aberta permite a troca entre os níveis de ventila-

ção. A iluminação é de alta eficiência com lâmpadas fluorescentes ou LED, sendo controla-

da por sensores de presença. Toda a energia adicional necessária para a construção vem

de fontes renováveis externas via créditos de carbono. O consumo de energia pode ser con-

trolado pelos ocupantes em todos os momentos através de dois monitores touch-screen no

lobby.

Com relação à medida nº 8, muitos materiais foram adquiridos localmente, incluindo

o revestimento do edifício de carvalho vermelho que vem do interior das florestas certifica-

das. Conforme figura 24, os projetistas mantiveram o acabamento natural dos elementos

estruturais, tais como aço e concreto, que puderam ficar expostos no interior e no exterior

sem acabamentos, reduzindo a quantidade de material desnecessária para ornamentação.

O concreto utilizado contém 50% de escória de terra granulada de alto forno, o que reduz o

conteúdo de energia e duplica a vida útil do concreto. A maioria dos móveis é greenguard e

carpetes é Green Label Plus certificada.

Figura 24 – vista interna com acabamentos naturais como a laje, pilar e paredes em concreto

aparente (fonte: http://environment.yale.edu/news/5508)

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As madeiras em arcos que formam a estrutura do telhado são 70% certificadas e fo-

ram fabricadas no local para eliminar o desperdício. Um plano abrangente foi usado para

desviar os resíduos de construção dos aterros e incineradores. No local foi montado um es-

quema de resgate dos materiais que poderiam ser reutilizados ou reciclados, o que resultou

em 94,2% de redução de resíduos.

Analisando a medida nº 9, observou-se que o edifício tem uma vida útil projetada pa-

ra 100 anos. Portanto, os materiais selecionados foram robustos com o objetivo de envelhe-

cerem bem, isto é, no tempo previsto. Incluem características duráveis como o telhado de

metal, fundações e paredes de arenito. Internamente, os carpetes são modulados para as-

segurar a reposição fácil, assim como os painéis de madeira de revestimento das paredes

são fixados com sistema de encaixe, a fim de que possam também ser facilmente substituí-

dos. As áreas de alto tráfego, como circulações e a escada central, são construídas de ma-

deira para garantir a durabilidade.

A circulação vertical e núcleo de sanitários estão localizados estrategicamente de

forma a deixar as partes significativas do edifício, em planta livre, disponíveis para futuras

reorganizações, como mostra a figura 25. Os escritórios e áreas de pesquisa, que se encon-

tram entre esses núcleos, são dimensionados em partes iguais. Dessa forma, este projeto

modular no interior permite a renovação fácil do programa de necessidades. As paredes

internas foram feitas de material leve para fazer essas conversões de forma tão simples

quanto possível. Todos os andares do prédio possuem piso com painéis elevados da laje

garantindo a facilidade de religação ou adição de novas tecnologias, as quais também são

pressurizadas, eliminando, assim, a necessidade de retrabalho em caso de alterações na

construção. O terceiro andar é largamente aberto e possui dois grandes espaços multiuso,

incluindo um café e um ambiente de convívio para os estudantes, podendo, esse local, ser

reconfigurado quando necessário.

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Figura 25 – planta baixa do nível térreo e último pavimento (fonte:

http://greensource.construction.com/green_building_projects/2009/09_Kroon-Hall/slide-8.asp)

Para alcançar as metas da medida nº 10, os arquitetos e paisagistas utilizaram a

modelagem 3D e as renderizações, enquanto que os consultores ambientais empregaram

os programas de modelagem térmica e iluminação natural para desenvolver e aperfeiçoar os

sistemas em resposta à qualidade ambiental interna e as ambições de eficiência energética.

A direção da Universidade de Yale e as comunidades de New Haven estavam envolvidas

em pontos específicos, nos quais suas atuações eram úteis, como em reuniões e para dis-

cussão de ideias e necessidades da região. Foram feitos vários protótipos para serem testa-

dos no local e avaliar as muitas das recomendações que os programas de modelagem mos-

traram. Um exemplo disso são as grelhas móveis externas sugeridas para a fachada sul,

que foram removidas quando os modelos revelaram que elas não seriam necessárias.

A reação dos usuários tem sido positiva desde a ocupação do prédio. O monitora-

mento contínuo e serviços de manutenção ajudaram a aperfeiçoar os sistemas existentes.

Quiosques no átrio fornecem dados de desempenho da construção em tempo real para os

usuários, uma característica essencial para o processo de educação ambiental da popula-

ção, e para o desempenho de construção contínuo com o feedback dos ocupantes.

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A figura 26 apresenta ao quadro de dados do Rinker Hall, onde as informações estão

apresentadas resumidamente de forma direta e objetiva.

Quadro de dados

Edificação: Kroon Hall ! Universidade Yale

Atividade: Escola de Estudos Ambientais e Florestais

Local: New Haven, Connecticut / EUA

Projeto arquitetônico: Escritório Hopkins Architects

Área da edificação: 6.390m2

Inauguração da edificação: 2009 | Top Ten 2010

MEDIDA AIA SOLUÇÕES

Medida 1 _ Intenção do projeto

sustentável Os projetistas e a Instituição queriam definir um novo padrão

para as demais escolas em todo o país.

Medida 2 _ Comunidade regio!

nal e conectividade

Espaços de lazer podem ser utilizados pela comunidade; sem

estacionamento para incentivar o transporte público.

Medida 3 _ Ecologia local de

uso da terra

A implantação do prédio no terreno em desnível favoreceu o

isolamento térmico e a entrada da luz natural.

Medida 4 _ Projeto Bioclimático Construção pode ser fechada ao exterior durante o verão e in!

verno, e aberta no período de transição.

Medida 5 _ Luz e Ar Janelas acionadas por um sistema de cores; ventilação cruzada; claraboias; brises de madeira e balanços.

Medida 6 _ Ciclo da água Economia de água com mictórios sem água e banheiros de des!carga dupla; tratamento de água com plantas locais.

Medida 7 _ Fluxos e futuro da

energia

Painéis solares; iluminação eficiente com sensor de presença; janelas protegidas e paredes isoladas.

Medida 8 _ Materiais e con!

strução

Materiais da região e certificados; planejamento para controlar e

reciclar os resíduos da obra.

Medida 9 _ Ciclo de vida Uso de metal e arenito; materiais de revestimento modulados; planta livre e piso elevado.

Medida 10 _ Lições aprendidas É fornecido dados sobre o desempenho do prédio para a educa!

ção ambiental dos usuários.

1º coluna 2º coluna

Figura 26 – quadro resumo das medidas do Kroon Hall (fonte: autora)

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5.2 RINKER HALL

Rinker Hall é o prédio construído para abrigar as Faculdades de Design e de Enge-

nharia da Universidade da Flórida, nos EUA, na cidade de Gainesville. Com capacidade

para 1.500 alunos e 100 docentes, o edifício possui salas de aula, laboratórios de ensino,

laboratórios de construção, escritórios administrativos, escritórios para docentes e demais

instalações de infraestrutura (WILLIAMS, 2007).

Rinker Hall foi selecionado pela Comissão do Meio Ambiente do Instituto Americano

de Arquitetos como um dos dez melhores projetos sustentáveis do ano de 2005. O edifício

recebeu uma avaliação de ouro em Maio de 2004, pela Leadership dos EUA e o Green Buil-

ding Council em Energia e Design Ambiental, uma norma nacional para o desenvolvimento

de alto desempenho em construção sustentável.

O arquiteto Randy Croxton, do Croxton Collaborative Architects, recebeu o prêmio

em Los Angeles, em nome da sua empresa e da empresa parceira do projeto, Gould Evans

Associates, Tampa, Flórida. Croxton reconheceu a excelente desenvoltura do projeto e a

participação do corpo docente e alunos da instituição que contribuíram para o sucesso do

projeto.

A singularidade de Rinker Hall vem em muitas formas, foi o primeiro edifício LEED

Gold avaliado no estado da Flórida e o 26º nos Estados Unidos. A inovação tecnológica utili-

zada na construção do edifício minimizou a quantidade de resíduos de construção produzi-

dos e maximizou a eficiência energética. Este projeto é um exemplo de minimização de

materiais, facilitando características de longa duração, o que permitiu fácil modificação ou

alteração do edifício ao longo do tempo, com impacto moderado sobre os ocupantes do pré-

dio.

Em relação à medida nº 1, observa-se que o sucesso do Rinker Hall resultou em

uma política interna na Universidade para que todos os edifícios futuros fossem projetados e

executados segundo as normas LEED, usadas para medir o desempenho ambiental de um

edifício. As normas LEED enfatizam também as estratégias para o desenvolvimento da co-

munidade local: economia da água, eficiência energética, seleção de materiais e qualidade

interna para aumento do conforto e do ambiente saudável para os ocupantes.

Um processo de planejamento interativo caracteriza o design do Rinker Hall desde

seu início. Oficinas criadas no canteiro de obras proporcionaram aos professore e aos alu-

nos das faculdades de Arquitetura, Design e de Engenharia um contato direto com o projeto.

Os alunos colaboraram com os projetistas explorando o local através de um exercício de

mapeamento dos materiais regionais e estudos de volumetria conforme mostra a figura 27.

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A equipe do projeto de gestão da construção foi composta principalmente por egressos da

escola de Construção Civil.

Implantaram-se neste projeto todas as propostas definidas pelo LEED e outros in-

centivos ecológicos em escala comunitária. As redes locais de bens e serviços foram a cha-

ve para uma prática sustentável. Os materiais utilizados foram selecionados levando em

consideração a proximidade do local de fabricação, a reciclagem, o conteúdo de recursos

renováveis, a colheita sustentável, a longevidade, baixa manutenção, baixa toxicidade e

capacidade de ser reciclado ou reutilizado no final de sua vida útil.

Apesar da alta classificação LEED, os arquitetos tiveram o cuidado de observar que

isso não indica, necessariamente, um bom design. Os projetistas acreditam que LEED é um

instrumento de medida importante, mas não deve ser confundido como uma ferramenta de

design. Não há substituto para a verdadeira holística, nem para a concepção integrada e

sustentável. Embora Rinker Hall seja propriamente considerado um edifício exemplar verde,

sua maior importância está na qualidade de representação de um esforço em todo o campus

para a cooperação, conexões diversas, a sinergia e a troca de informações entre os ramos

da construção civil.

Figura 27 – estudos de volumetria do Rinker Hall (fonte:

http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

Analisando a medida nº 2, observa-se que o local para o Rinker Hall foi escolhido

com base em critérios observados durante um passeio a pé pelo Dr. Charles Kibert, diretor

da Escola de Construção Civil, junto com o vice-reitor. Eles selecionaram uma área de esta-

cionamento já existente, a fim de preservar o espaço verde e construir somente em áreas já

ocupadas, além de reduzir o incentivo aos estacionamentos em série. Essa percepção de

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sustentabilidade básica foi considerada inovadora para o processo tradicional da Universi-

dade quanto à seleção de locais para construções.

O levantamento de dados e conceitos gerais para o planejamento da obra ocorreu

durante três dias e foi realizado por uma equipe composta por estudantes, docentes, traba-

lhadores da construção civil, administradores de obras, membros da equipe de projeto e

demais interessados da comunidade. Esta equipe listou algumas conclusões que foram de

extrema importância para o projeto: (i) manter o acesso de pedestres localizado na fronteira

oeste do terreno, pois é onde se localiza a principal via de veículos que leva ao centro do

campus; (ii) preservar, ao norte do terreno, um ponto de encontro de estudantes, existente

no campus, a fim de realizar eventos importantes como piquenique e desfiles de bandas,

criando elementos de proteção; (iii) conservar e proteger a rua interna existente, a qual dá

acesso às residências dos estudantes ao sul do terreno, assim como ao seu pátio de entra-

da comum; (iv) reforçar o caminho diagonal que leva os estudantes do sul para o novo refei-

tório ao norte, além de manter este percurso inclusive no período de obras; (v) preservar os

carvalhos protegidos durante a construção e inclui-los no projeto paisagístico, pois esses

são patrimônios vivos do local.

Além destes itens levantados pela comunidade, os projetistas sugeriram um estacio-

namento de bicicletas próximo à entrada norte, assim como conservação da localização das

principais linhas de ônibus da Universidade, pois essas também facilitam o acesso ao cam-

pus.

O processo de planejamento local, realizado em colaboração com alunos e professo-

res, posicionou o edifício como uma "pedra no fluxo" dos percursos estudantis existentes. A

mais significativa é a passagem em diagonal, que vai do sudoeste ao nordeste para o refei-

tório novo, conforme mostra a figura 28.

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Figura 28 – planta de situação do Rinker Hall (fonte:

http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

Conforme mencionado anteriormente, Rinker Hall ocupou o lugar de um antigo esta-

cionamento e foi cuidadosamente planejado para proteger as valiosas árvores existentes.

Em relação à medida nº 3, avalia-se que, embora o terreno pudesse facilmente acomodar

um prédio de dois andares, a equipe projetou um prédio de três andares, a fim de proporcio-

nar mais espaço de vegetação aberta, conforme mostra a figura 29. As áreas livres foram

pavimentadas com cascalho compactado da região, o que permite a permeabilidade da

água no solo. Sendo assim, a água pluvial é captada e direcionada para o reservatório, sen-

do reutilizada para a irrigação.

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Figura 29 – planta de localização do Rinker Hall (fonte:

http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

Uma mistura de flora indígena suporta uma ampla gama de animais, que são alta-

mente valorizados pela comunidade. O palmito (Sabal palmetto), árvore característica do

estado da Flórida, conforme mostra a figura 30, compõe a maior parte da paisagem do local

com 42 palmeiras, as quais, uma vez plantadas, não precisam de água acima da média de

Gainesville, que é aproximadamente 56 polegadas de precipitação anual. Isso ocorre tam-

bém como as demais árvores e arbustos utilizados no paisagismo do projeto.

Para aqueles que optam por andar de bicicleta, há um amplo estacionamento desti-

nado a este tipo de veículo, incluindo um chuveiro que tem como objetivo incentivar ainda

mais o uso deste transporte. Além disso, a proximidade com serviço de transporte público é

um impulso a não utilização dos veículos automotores particulares.

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Figura 30 – vista da flora do local (fonte: http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

Para alcançar a meta da medida nº 4, adotou-se uma inclinação no teto do edifício

para controlar a iluminação natural e artificial, em conjunto com grelhas de iluminação supe-

rior nas janelas. Um átrio central coberto por uma claraboia proporciona à área da escada

um feixe de luz dinâmica que marca o horário do meio-dia solar a cada dia, conforme mostra

a figura 31. Um sistema de climatização eficiente mantém o ambiente interior confortável

usando um processo que tira vantagem do ar que já tenha sido refrigerado ou aquecido.

Figura 31 – cortes esquemáticos para estudos da iluminação do Rinker Hall (fonte:

http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

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Fixada sobre o telhado, uma manta isolante branca termoplástica produz menos pro-

dutos químicos prejudiciais ao meio ambiente do que outras opções similares. Sua cor refle-

te a luz solar, reduzindo a quantidade de calor, que é absorvido pelo edifício, proporcionan-

do uma economia de energia de 47%, conforme mostra a figura 32.

Figura 32 – vista do telhado do Rinker Hall (fonte:

http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

Os projetistas evitaram o uso de materiais com substâncias cancerígenas, como clo-

reto de polivinila (PVC), normalmente encontrado em janelas com eficiência energética.

Também foram descartados o formaldeído e a ureia, produtos perigosos à saúde, que são

encontrados no interior da madeira compensada e em painéis de fibras de média densidade

(MDF). Para intensificar a busca para uma melhor qualidade do ambiente, durante a cons-

trução, adotou-se uma política de não fumar no canteiro de obras.

O prédio foi totalmente projetado para absorver o uso dos materiais locais, e comple-

tamente detalhado para facilitar e evitar desperdícios na montagem e desmontagem das

peças. As áreas de montagem da construção, conforme mostra a figura 33, foram utilizadas

até o final da obra, e, por isso, foram inseridas estrategicamente no canteiro de obras. Des-

sa forma, foram aproveitadas, pois, o sombreamento térmico e os atributos que abrigavam

as condições do edifício.

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Figura 33 – imagem do canteiro de obras do Rinker Hall (fonte:

http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

Projetar um prédio sustentável e que se encaixe com o estilo gótico colegial da Uni-

versidade da Flórida (UF), foi um desafio para os projetistas. Para manter a eficiência ener-

gética, o edifício foi projetado com vidro e aço. No entanto, as demais edificações do cam-

pus da UF têm fachadas de alvenaria. Para incorporar os elementos arquitetônicos necessá-

rios à nova construção, os designers construíram uma estrutura de varandas, coerente com

a tradição do sul, e uma parede de tijolo descolada do prédio, na fachada ocidental. Com

isso o edifício manteve a linguagem arquitetônica existente no campus.

Analisando a medida nº 5, verifica-se que o edifício do Rinker Hall está orientado em

um eixo norte-sul, sem comprometer a luz ou criar problema de ofuscamento. Com o uso de

claraboias no telhado, conforme mostra figura 34, o prédio permite a entrada de luz natural,

proporcionando uma sensação de ambiente ao ar livre, em contato com a natureza, porém

sem o brilho intenso do sol. Esta estratégia de projeto permite, além de um ambiente agra-

dável, a iluminação nas saídas de emergência, no caso de ocorrer alguma falha de energia

durante o dia.

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Figura 34 – claraboias Rinker Hall (fonte:

http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

Os ambientes de aprendizagem, como salas de aula e laboratórios, são projetados

para proporcionar uma variação sutil e natural da intensidade de luz e consequentemente de

cor durante o decorrer do dia, portanto os ambientes tornam-se mais saudáveis e mais pro-

dutivos, conforme mostra a figura 35. À noite, as luzes fluorescentes de baixo consumo

energético iluminam o interior. Os detectores de movimento e sensores de iluminação natu-

ral mantêm o uso de luz elétrica a um mínimo. O daylight é otimizado, o que também reduz

a carga de refrigeração mecânica.

Figura 35 – detalhe dos brises na sala de aula (fonte:

http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

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As análises de hora-a-hora da equipe de projeto demonstraram que este sistema ob-

teve um aumento de 30% do uso da luz natural, comparado a projetos de base, 4.153 horas,

comparado a 3.171 horas no caso base.

Um eficiente sistema de aquecimento, ventilação e ar-condicionado mantém o ambi-

ente interno confortável, utilizando um sistema com entalpia, uma grandeza física que busca

medir a energia em um sistema termodinâmico que está disponível na forma de calor. Du-

rante o verão, o ar externo é pré-misturado e molhado com o retorno de ar seco. No inverno,

o ar frio externo se mistura com o ar de retorno pré-aquecido.

Venezianas e vidros personalizados filtram o sol forte da Flórida controlando o calor

e o ofuscamento, conforme mostra a figura 36. A luz é movida através do espaço por gre-

lhas de luz, tetos inclinados, e reflexão da claridade sob as superfícies das paredes. O edifí-

cio atinge 17% de economia no consumo de energia através da orientação e iluminação

natural.

Figura 36 – detalhe janelas (fonte: http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

As alternativas de saída de emergência são indicadas e iluminadas diretamente com

luz solar natural. A porta de saída para o átrio possui clarabóias, assim como todo o com-

primento do edifício, além de possuir também vistas panorâmicas para o norte e para o sul

em todos os três andares. Ao norte e ao sul, a escada tem aberturas para o exterior, con-

forme mostra a figura 37, já a leste, possui uma parede totalmente envidraçada. O elevador

também tem uma cabine de vidro, em frente à parede de vidro exterior. Portanto, nada po-

derá causar um "black out" durante o dia.

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Figura 37 – iluminação natural das escadas e corredores (fonte:

http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

Para alcançar a meta da medida nº 6, observou-se que o Rinker Hall utiliza 30% me-

nos água do que um edifício convencional. A água da chuva, que é reaproveitada, mantém o

paisagismo e contribui para a diminuição do consumo de água potável. Além disso, o siste-

ma de recolhimento da água é também utilizado para lavar os sanitários.

Para isso, uma cisterna de 8.000 litros coleta as águas pluviais do telhado para reuti-

lização em vasos sanitários. O local escolhido para abrigar esse equipamento fica ao lado

do sistema de tratamento de esgoto da Universidade, espaço onde todo o esgoto do prédio

é tratado antes de ser devolvido ao terreno como água de irrigação.

Em dois andares do Rinker Hall, foram instalados mictórios ecológicos nos sanitários

masculinos, conforme mostra a figura 38. Cada mictório economiza aproximadamente

100.000 litros de água por ano, pois não utiliza a rede hidráulica de entrada nem a válvula

de descarga além de evitar o entupimento da rede de esgoto. A bacia e o sifão têm um de-

sign especialmente desenvolvido com o objetivo de prevenir o acúmulo e a proliferação de

bactérias, é um equipamento ergonômico pesando 3,8 kg, o que facilita seu transporte e

instalação. O sifão garante o pleno funcionamento do mictório sem a utilização de água ou

qualquer outro fluído, pois a urina entra na parte interior do cilindro e segue diretamente pa-

ra a rede de escoamento.

A pressão exercida pelo peso da urina aciona o pistão hidrostático, abrindo e fe-

chando a parte superior do sifão. As bordas flexíveis mantêm os odores na parte interna.

Assim que a urina atinge a altura das aberturas de escoamento do sifão, ela começa a se-

guir em direção à tubulação de esgoto.

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Figura 38 – mictórios ecológicos, solução de design para não utilização de água (fonte:

http://eficienciaenergtica.blogspot.com/2008_08_01_archive.html)

Na medida nº 7, foi possível notar que, desde que o local foi definido como sendo de

clima úmido, as análises de modelagem confirmaram que, devido a um sistema natural de

entalpia, alcançava-se uma redução de 22% na carga de aquecimento do edifício no horário

de pico. Portanto a estratégia de design exigiu um fechamento de vidro e metal para liberar

rapidamente o calor. Porém, devido à linguagem arquitetônica do campus a solução encon-

trada foi posicionar uma parede de alvenaria em frente à fachada, o que também contribuiu

com a eficiência energética, gerando sombra no edifício e equilibrando, assim, as cargas

térmicas.

Depois de projetados e planejados, os sistemas de energia e iluminação natural fo-

ram totalmente simulados e otimizados através de modelos de computador. Entre as medi-

das de conservação de energia, incluem-se as paredes, que fazem sombra nas fachadas

oeste e sul com alto desempenho, além dos controles automáticos de iluminação, telhado

estrategicamente inclinado e ventilação com recuperação de energia.

A parede exterior foi cuidadosamente projetada para equilibrar a umidade, a carga

térmica e a luz do dia. As janelas de todo o edifício possuem vidros de alto desempenho,

assim como os brises de alumínio são utilizados no controle da iluminação.

Os componentes do edifício foram orientados e organizados para que no futuro pu-

dessem gerar energia solar. Painéis de silício monocristalino foram instalados no telhado e

nas janelas das fachadas leste e oeste do edifício, criando, pois, duas possibilidades de sis-

temas para geração de energia solar para o edifício no futuro.

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De toda a redução de carga, 40% é obtida através do sistema que utiliza a entalpia

como economia de energia, enquanto 60% é gerada por meio de estratégias de otimização,

tais como a iluminação natural, o revestimento eficiente do telhado, sensores de presença,

sombreamento e a proteção da parede térmica na fachada. Este edifício consume 57% me-

nos energia se comparado a um edifício comum do mesmo porte.

Analisando a medida n° 8, verificou-se que a equipe de design cuidadosamente con-

siderou os materiais que foram incorporados ao projeto e os materiais que seriam descarta-

dos. Antes do início da construção, a Centex-Rooney Construction Company, de Jacksonvil-

le, na Flórida, realizou sessões de formação sobre práticas de construção verde para os

seus subempreiteiros. Eles incentivaram o funcionário de demolição a reaproveitar o asfalto

antigo e utilizar a base de calcário do estacionamento anterior.

Também houve incentivo ao fabricante das paredes drywall para reaproveitamento

de materiais em outros projetos. O contratante determinou que mais de 50% dos resíduos

de construção deveriam ser reciclados ou reutilizados por meio do plano de gestão de resí-

duos.

A ênfase sobre os locais de fabricação foi que ficasse dentro de 500 milhas, ou 800

quilômetros, reduzindo assim os custos de transporte e de combustíveis, além de contribuir

com o sustento da economia local. Foram utilizados em todo o edifício materiais com con-

teúdo reciclado, como nos painéis de alumínio, paredes, vidros, grades e forros. Além disso,

os arquitetos escolheram madeira proveniente de florestas geridas de forma sustentável, e

outros materiais com conteúdo renovável, como a placa de trigo e linóleo, uma espécie de

tecido impermeável feito de juta e untado com óleo de linhaça e cortiça em pó, usado no

revestimento de pavimentos.

A estrutura de metal dos painéis da parede drywall e sistemas de forros poderão ser

totalmente reciclados no final da vida útil do edifício, conforme mostra a figura 39. As defini-

ções dos materiais, no projeto do Rinker Hall, foram o resultado da coleta de informação

sobre vários atributos ambientais de cada um dos itens. Os materiais foram analisados

quanto a sua proximidade na fabricação, reciclagem, conteúdo dos recursos renováveis,

colheita sustentável, longevidade, requisitos de manutenção e capacidade de serem recicla-

dos ou reutilizados no final da vida útil. Os materiais de construção também sofreram uma

extensa revisão ambiental com base na composição química, a fim de reduzir os tratamen-

tos devido à bioacumulação dos materiais e das substâncias que alteram os hormônios ou

que de alguma outra forma representam riscos à saúde dos trabalhadores ou dos ocupantes

do edifício.

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A descoberta de materiais próximos ao local da obra foi resultado de um exercício

envolvendo os alunos do curso de Engenharia que auxiliou a equipe de design na localiza-

ção dos materiais de construção regional. Os produtos reciclados utilizados na construção

foram: o aço estrutural, o alumínio dos painéis de parede de sistemas de vidros, as grades,

o isolamento de paredes de celulose, as divisórias dos banheiros, gesso, os componentes

do concreto, as telhas de vidro e forros. Dentre os materiais com conteúdo renováveis estão

inclusas as placas de trigo e linóleo dos pisos e a madeira certificada pela gestão sustentá-

vel das florestas e aprovadas pelo Conselho de Manejo Florestal.

Mais da metade dos resíduos de construção foram reciclados devido a um plano de

gestão de resíduos que exigiu do empreiteiro gravar todos os resíduos de construção e

componentes que foram reutilizados, reciclados e enviados para um aterro sanitário.

Figura 39 – estruturas das paredes drywall (fonte:

http://eficienciaenergtica.blogspot.com/2008_08_01_archive.html)

Em relação à medida nº 9, a equipe projetou uma abordagem inovadora que chamou

de “mapeamento de acesso e flexibilidade”. Isso exigiu a consolidação e simplificação de

todas as tubulações dos sistemas de suporte básico do edifício, incluindo sistemas mecâni-

cos, sistemas elétricos, telefonia e dados, sprinklers do sistema de incêndio, entre outros,

conforme mostra a figura 40. Estes sistemas estão instalados embaixo do piso elevado, e

são executados em conjunto com a modulação do sistema estrutural. A grande escala deste

espaço de acesso facilitado prevê a evolução de todas as tecnologias e funções que não

puderam ser previstas no momento da execução.

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Figura 40 – esquema das instalações dos sistemas básicos (fonte:

http://www.aiatopten.org/hpb/images.cfm?ProjectID=286#)

Na medida nº 10, observou-se que o custo de construção foi maior do que o de um

edifício convencional. Contudo, espera-se que em 6 anos esta diferença seja reduzida devi-

do à grande economia anual de energia que é de 47%. Também conta-se com o reaprovei-

tamento dos materiais no final de sua vida útil, em média apenas 14% dos materiais de um

edifício convencional são reciclados, ao contrário do Rinker Hall que está projetado para

reciclar 80% de seus materiais.

A utilização de materiais locais em um raio de 800 km reduziu os custos de combus-

tíveis para transporte, gerou menos poluição e apoiou o comércio da região. Novos materi-

ais foram cuidadosamente estudados e reciclados. Devido ao Plano de Gerenciamento de

Resíduos, foi determinado e comprovado que 50% dos resíduos da construção foram reci-

clados ou reutilizados.

Grandes ganhos de desempenho foram descobertos através de novos materiais que

minimizaram e simplificaram a construção, como a selagem dos pisos de concreto nas salas

de aula. Entretanto, ao desenvolver novas estratégias, devem-se observar os demais itens

de planejamento. Por exemplo, ao criar grande acessibilidade e flexibilidade nas tubulações

básicas, a equipe de projeto teve que solucionar os problemas de acústica entre os pavi-

mentos gerados pelas várias aberturas de passagem do sistema mecânico.

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Por fim, um dos maiores ganhos do Rinker Hall foi o processo valioso do ponto de

vista educacional. Com as atividades das oficinas no canteiro de obras, os alunos puderam

aprender na prática a realidade de um projeto, realizando as tarefas diárias, assumindo res-

ponsabilidades com clientes reais, e não fazendo apenas um projeto imaginário da faculda-

de. Todavia, é importante ressaltar que o Rinker Hall ainda é uma ferramenta de estudo pa-

ra estudantes de Design, Arquitetura e Engenharia mesmo depois de concluído, pois fre-

quentemente disponibiliza visitas orientadas ao local da construção, para promover e incen-

tivar a Arquitetura Sustentável entre alunos, professores e também a comunidade em geral.

A figura 41 apresenta ao quadro de dados do Rinker Hall, onde as informações estão

apresentadas resumidamente de forma direta e objetiva.

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Quadro de dados

Edificação: Rinker Hall ! Universidade da Flórida

Atividade: Faculdades de Design e Engenharia

Local: Gainesville, Flórida / EUA

Projeto arquitetônico: Escritório Croxton Collaborative Archtects

Área da edificação: 4.390m2

Inauguração: 2003 | Top Ten 2005

MEDIDA AIA SOLUÇÕES

Medida 1 _ Intenção do projeto

sustentável Política interna na Universidade de que todos os edifícios futuros seriam projetados e executados segundo as normas LEED.

Medida 2 _ Comunidade regio!

nal e conectividade

Ocupação de área de estacionamento existente, a fim de preser!var o espaço verde e reduzir o incentivo aos estacionamentos.

Medida 3 _ Ecologia local de

uso da terra

Optou!se por um prédio de três andares a fim de proporcionar mais espaço de vegetação aberta; a proximidade com o transpor!te público incentiva a redução de automóveis.

Medida 4 _ Projeto Bioclimático

Adotou!se uma inclinação no teto do edifício que controla a ilu!

minação natural e artificial, em conjunto com grelhas de ilumina!

ção superior nas janelas.

Medida 5 _ Luz e Ar Uso de claraboias no telhado o edifício permite a entrada de luz natural; utiliza um sistema com entalpia para aquecimento, ven!

tilação e ar condicionado.

Medida 6 _ Ciclo da água A água da chuva é reaproveitada no paisagismo, pias e sanitários; utilização de mictórios ecológicos nos sanitários masculinos.

Medida 7 _ Fluxos e futuro da

energia

Paredes que fazem sombra nas fachadas; controles automáticos de iluminação; telhado estrategicamente inclinado e ventilação

com recuperação de energia.

Medida 8 _ Materiais e con!

strução

Incorporação ao projeto dos materiais que seriam descartados; materiais da região; mais de 50 % dos resíduos de construção

deveriam ser reciclados.

Medida 9 _ Ciclo de vida Consolidação e simplificação de todas as tubulações dos sistemas de suporte básico do edifício sob piso elevado.

Medida 10 _ Lições aprendidas As atividades das oficinas no canteiro de obras permitiram que os alunos pudessem aprender na prática a realidade de um projeto.

1º coluna 2º coluna

Figura 41 – quadro de resumo das medidas do Rinker Hall (fonte: autora)

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5.3 HEIMBOLD CENTRO DE ARTES VISUAIS

O Heimbold Centro de Artes Visuais está localizado na cidade de Bronxville, no es-

tado de Nova Iorque, nos EUA. O prédio foi inaugurado em setembro de 2004 e abriga os

cursos de Artes Visuais, História da Arte, História do Cinema, Pintura, Escultura, Fotografia,

Gravura, Desenho, Fundamentos Visuais e Fundamentos Digitais da Universidade de Sarah

Lawrence (WILLIAMS, 2007).

O prédio possui seis estúdios disponíveis para a prática de escultura, pintura, e fun-

damentos visuais, que estão agrupados em torno de espaços de apoio, com acesso ao su-

porte técnico. O espaço aberto dos estúdios foi concebido para que os alunos pudessem ver

o trabalho dos outros colegas. A edificação possui também instalações para o aprendizado

de fotografia, incluindo um estúdio especial aberto para alunos não matriculados nesse cur-

so. Os demais ambientes são dedicados aos trabalhos com solda, madeira, cerâmica, mol-

des e fabricação de papel.

Para o aprendizado de cinema e mídia, o edifício possui um estúdio de animação, e

salas de edição, além de um laboratório de imagem digital. Também existe uma sala de ci-

nema com acesso à tecnologia digital, a qual está disponível em todos os estúdios e salas

de aula. Há também uma biblioteca de recursos visuais, ateliês individuais, salas de crítica,

salas de aula em geral para cursos de Cultura Visual, e uma grande área de exposição.

Com o Heimbold Visual Arts Center, além de estabelecer um novo lugar para as ar-

tes no campus, o Sarah Lawrence College procurou desenvolver um papel de liderança na

criação de um edifício que está alicerçado nos princípios fundamentais do design sustentá-

vel. Como resultado, este projeto, realizado pelo Polshek Partnership Architects, foi escolhi-

do pelo Comitê do Meio Ambiente do Instituto de Arquitetos dos EUA como um nos melho-

res projetos sustentáveis do ano de 2005. O novo Centro Heimbold estabelece um ambiente

dinâmico interdisciplinar para as artes visuais no campus Sarah Lawrence College, o qual

está localizado a aproximadamente 15 km ao norte de Manhattan.

Analisando a medida nº 1, verificou-se que o Heimbold Visual Arts Center foi dese-

nhado por Susan Rodriguez, do Polshek Partnership Architects, em Nova Iorque. Sarah

Lawrence College estava comprometida com a responsabilidade ambiental e assim queria

que seu novo centro de artes fosse construído e explorado de forma sustentável. O progra-

ma exigia um espaço físico que pudesse facilitar o ensino e a produção de todas as formas

de artes visuais contemporâneas, mantendo a escala residencial, o que apresentou um

grande desafio para os projetistas deste edifício.

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O Sarah Lawrence College ocupa 40 hectares de área arborizada ao sul de Wes-

tchester, em Nova Iorque. O fundador da Instituição, William Van Duzer Lawrence, traçou

planos para a faculdade com a crença de que a separação física entre lazer e trabalho deve-

ria ser minimizada. Esta filosofia fica evidente em muitos aspectos da instituição, começan-

do pela estrutura do currículo até a concepção dos edifícios do campus. Atualmente 90%

dos estudantes universitários vivem no campus, criando assim a necessidade de uma esca-

la residencial adequada.

O projeto adequado possuía um tamanho muito maior do que o local poderia com-

portar para manter a escala residencial. A solução arquitetônica foi enterrar mais de um ter-

ço da área total do edifício no terreno. Portanto, laboratórios de fotografia e outros estúdios

que não necessitam de luz natural estão localizados nesta área.

A seleção de materiais de revestimento como pedras, cedro, vidro e zinco, assim

como o átrio central para iluminação natural, foram soluções determinadas pelo local, con-

forme mostra a figura 42. O Heimbold Visual Arts Center possui 61.000 m2, mas o impacto

global do edifício é modesto, pois soluções como o telhado verde, que controla o escoamen-

to de águas pluviais, reduz o impacto global do edifício sobre o ambiente natural.

O prédio é aquecido e resfriado por um sistema geotérmico, energia que pode ser

obtida utilizando o calor no interior da terra, e um sistema especial de ventilação reduz a

exposição aos produtos químicos, materiais tóxicos e vapores liberados pelos laboratórios

de trabalhos manuais.

Figura 42 – vista externa do Heimbold Visual Arts Center (fonte: http://ariburling.com/portfolio/project-

heimbold-center-for-visual-arts/)

Na medida nº 2, observou-se que, desde o início, a Instituição tinha como objetivo

uma construção estratégica conceitual, ambiental, espacial, sistêmica e material. As artes

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plásticas vinham ocupando historicamente um lugar importante no currículo da Faculdade

de Artes Liberal Progressista. No entanto, ao longo do tempo as diversas disciplinas do pro-

grama foram espalhadas por todo o campus em espaços inadequados. Dessa forma, o obje-

tivo da Instituição foi reforçar o currículo de artes e forjar uma nova direção interdisciplinar

nessa área. Isso só poderia ser atingido por meio da criação de um ambiente verdadeira-

mente unificado que inspirasse a criatividade, promovendo um diálogo intensivo entre estu-

dantes e professores, e quebrando as barreiras entre as disciplinas. Além disso, a Instituição

galgou um papel de liderança em design sustentável.

Para promover o engajamento com a construção e incentivar o movimento através

dele e, finalmente, para proporcionar a todos os alunos o acesso visual ao processo criativo,

o projeto incorporou padrões pré-existentes à circulação entre as instalações de sala de aula

no campus histórico, e dormitórios a oeste. Além disso, como a construção emerge do plano

do solo, tendo sua base de pedra, o vidro é empregado como matéria-prima, proporcionan-

do transparência visual e maximizando a iluminação natural dentro do ambiente. A permea-

bilidade física é conseguida por meio de portas de vidro tipo garagem, que abrem para o

terraço ajardinado dos estúdios, onde se localiza um espaço de café e ocorrem reuniões

para discussões. Nesse sentido, o objetivo conceitual de manter a distinção entre a paisa-

gem e o edifício é atingido.

Localizado em um antigo caminho de ligação entre duas áreas do campus, o edifício

continua permitindo a circulação de pedestres, porém agora a área possui um espaço de

exposições de trabalhos feitos pelos estudantes da Instituição. O projeto paisagístico do

edifício, conforme mostra a figura 43, tem como estratégia promover um senso de comuni-

dade, incentivando à circulação dos usuários nos ambientes de exposição para maior divul-

gação das artes em todo o campus. Para isso, o Heimbold Visual Arts Center fica localizado

entre os edifícios existentes no campus da Instituição, aumentando a densidade e promo-

vendo o desenvolvimento desta área, impedindo, assim, a degradação dos espaços com

maior sensibilidade à ocupação humana.

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Figura 43 – estudo para implantação do Heimbold Visual Arts Center (fonte:

http://architypesource.com/7-university/projects/42-sarah-lawrence-college-monica-a-and-charles-a)

O Heimbold Visual Arts Center possui apenas dois pavimentos acima do nível da

rua, mais da metade de seu espaço fica no subsolo. Além disso, é fornecido também um

espaço aberto para atividades passivas, incluindo aulas ao ar livre.

O prédio está próximo ao terminal de transporte público municipal, que possui mais

de 30 linhas de ônibus, e também faz parte da etapa de expansão da cidade, pertencendo

ao percurso do serviço de bonde, com uma parada localizada em frente à entrada principal

do edifício, conforme mostra a figura 44. Apenas os deficientes físicos possuem vagas de

estacionamento para veículos, em um lote na mesma rua. No entanto, a instituição disponi-

biliza espaço para carga e descarga de serviços de manutenção e infraestrutura do prédio,

embora essa estratégia não incentive o uso de veículos automotivos individuais.

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Figura 44 – vista superior da implantação do Heimbold Visual Arts Center (fonte:

http://architypesource.com/7-university/projects/42-sarah-lawrence-college-monica-a-and-charles-a)

O campus Sarah Lawrence é caracterizado pela topografia ondulada, afloramentos

rochosos e densa folhagem. Analisando a medida nº 3, atentou-se para o fato de o Centro

Heimbold ocupar um local de destaque junto à casa do presidente, de dois andares, com

estrutura de pedra local, construída em 1921, conforme mostra a figura 45.

O edifício está integrado na topografia do morro existente e possui um telhado cober-

to de grama, o que reduz o impacto do edifício no ambiente natural e controla o escoamento

de águas pluviais. O espaço paisagístico resultante é um novo ponto focal para o público

externo ao campus.

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Figura 45 – vista da casa do presidente e ao fundo o Heimbold (fonte:

http://architypesource.com/7-university/projects/42-sarah-lawrence-college-monica-a-and-charles-a)

As plantas nativas e utensílios de baixo fluxo de água reduzem o consumo de água

potável. O sistema de bombas de calor geotérmicas não requer uma torre de resfriamento e,

portanto, não necessita de torre de arrefecimento, reduzindo ainda mais o consumo de

água.

Na seleção dos materiais de construção, a equipe do projeto se inspirou na rica pai-

sagem do campus e na arquitetura histórica. Extraíram-se as pedras das proximidades dan-

do continuidade à história da Instituição, ou seja, mantendo a tradição de utilizar material

local na construção de seus edifícios.

O campus é caracterizado pela topografia, afloramentos de rocha, e vegetações de

folhagens densas. Para reduzir o impacto no local das fronteiras entre exterior e interior, o

novo edifício integrou-se à topografia do morro existente, conforme mostra a figura 46.

Figura 46 – corte do Heimbold mostrando a integração do edifício com a topografia local (fonte:

http://www.architectureweek.com/2008/0820/news_5-4.html)

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Um sistema de detenção de águas foi instalado para evitar qualquer aumento de lí-

quido da taxa de escoamento de águas pluviais entre o local anterior e o novo projeto de-

senvolvido.

A combinação de design e concreto para a pavimentação de áreas externas foi de-

senvolvida para refletir o calor, o que limita a contribuição do edifício para o efeito de calor

urbano. Quando testados, uma amostra teve uma refletância média de cerca de 40%.

Para alcançar a meta da medida nº 4, concluiu-se que, no interior, alguns dos espa-

ços de ensino estão integrados aos espaços de exposições, formando uma rede de circula-

ção e movimento ao local. Os espaços do estúdio de pintura, desenho, escultura, gravura,

fotografia, cinema, novas mídias, fundamentos visuais, história, arte, cultura visual e produ-

ção são totalmente acessíveis a todos os alunos da Universidade, mesmo sendo específicos

para cada disciplina. Os espaços de crítica, seminários e tecnologia são intercalados no de-

correr do edifício, mas também de livre acesso aos demais alunos do campus. Sendo assim,

a integração de tecnologias avançadas serve como uma ligação essencial entre alunos, pro-

fessores e comunidade das artes promovendo um processo interdisciplinar.

Figura 47 – plantas de distribuição dos ambientes do primeiro e segundo pavimento do Heimbold

(fonte: http://www.e-architect.co.uk/new_york/heimbold_visual_arts_center.htm)

Desde o início do projeto, os princípios fundamentais do design sustentável em ma-

téria de localização, orientação solar, seleção de materiais, iluminação natural e sistemas

mecânicos foram integrados ao conceito geral. Exemplo disto são as soluções para o siste-

ma de bomba de calor geotérmico; a solução do vidro que define a exposição dos estúdios

ao norte; a galeria central que faz de dois andares o ponto de luz focal para a construção; e

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a unificação das atividades acadêmicas com a flexibilidade dos espaços, conforme mostra a

figura 48.

Figura 48 – vista dos espaços de circulação integrados com espaços de ensino Heimbold (fonte:

http://www.architectureweek.com/2008/0820/news_5-4.html)

Na medida nº 5, observou-se que a concepção do projeto tem foco na utilização da

luz natural em todo o edifício. Sendo assim, para o conforto visual e funcionalidade, a estra-

tégia do projeto foi utilizar claraboias para iluminação natural, conforme mostra a figura 49. A

pintura em cores claras das paredes nos estúdios de desenho foi concebida para maximizar

esta iluminação com luz do dia.

Figura 49 – claraboias nas circulações do edifício (fonte: http://www.e-

architect.co.uk/new_york/heimbold_visual_arts_center.htm)

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O acesso visual ao exterior, através dos vidros, é fornecido para os ocupantes do

prédio na maioria dos espaços e, intencionalmente, são desprotegidos da luz solar. Cerca

de 60% do total do espaço interior é iluminado naturalmente durante todo o dia, conforme

mostra a figura 50. Os espaços em que a vista para o exterior e a luz natural são indesejá-

veis estão localizados no subsolo do prédio, como os estúdios fotográficos, as salas de ví-

deo e de edição de filmes, as salas de produção e as salas de teatro.

Figura 50 – estúdios internos com iluminação natural (fonte: http://www.e-

architect.co.uk/new_york/heimbold_visual_arts_center.htm)

A ventilação natural é outro componente fundamental do projeto. Em média, o edifí-

cio tem pelo menos uma janela de funcionamento para cada 200m2 de área de perímetro,

conforme definido pelas normas LEED. Os estúdios de escultura e design têm portas de

vidro com alumínio e abertura tipo garagem que se abre para ventilação natural, quando

necessário. Aproximadamente 75% do edifício têm ventilação ou refrigeração apenas com

janelas operáveis.

A qualidade do ar interior e o conforto térmico são preservados e protegidos através

de várias estratégias. Um sistema de ventilação por demanda controlada, desencadeada por

monitores de dióxido de carbono, é integrado com o sistema de gestão do edifício, garantin-

do a quantidade adequada de ar exterior.

Medidas de controle de poluentes no interior do edifício incluem sistema de exaustão

com grelhas em cada entrada principal do edifício e encanamento adequado em todas as

áreas onde misturas químicas são manipuladas. Os materiais utilizados nas artes visuais

podem ser tão tóxicos como os utilizados em laboratórios de ciências, portanto utilizam-se

equipamentos especiais de alta potência incorporados aos sistemas de ventilação como

parte dos controles de qualidade do ar. Os dutos que compõem o sistema de qualidade do

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ar foram protegidos de qualquer contaminação durante a construção. Políticas internas re-

comendam aos trabalhadores a não fumar na construção.

Para alcançar a meta da medida nº 7, diagnosticou-se que o projeto possui baixo flu-

xo de água nos sanitários, isto é 24%, sendo, pois, menor do que o exigido pelo Energy Po-

licy Act de 1992. Além disso, a água não é usada para irrigar as plantações, pois a paisa-

gem é nativa e tolerante ao clima da região. A fixação de sistemas controladores de base

para requisitos de desempenho representam uma economia anual de mais de 51 mil litros

de água.

A terra é a fonte de água, pois o prédio possui um sistema de bomba de calor que

economiza uma quantidade significativa de água, porque não exige uma torre de resfriamen-

to e, portanto, não necessita de torre de arrefecimento. Mais de 90% do consumo de água

nos prédio tradicionais é utilizado nas torres de resfriamento.

Na avaliação da medida nº 7, observou-se que as estratégias de baixo consumo de

energia e sistemas resultaram em uma economia de energia de 29,4%, quando comparado

a um edifício convencional.

O edifício foi concebido para criar condições de iluminação ideal em todos os espa-

ços. A parede do ateliê de pintura do norte é composta de vidro de canal, e monitores de

verão proporcionam luz natural adicional de cima, conforme mostra figura 51. A fachada sul

possui estúdios iluminados naturalmente durante o dia, e possuem brises projetados para

controlar o sol do meio-dia. O estúdio de desenho é controlado por ripas de cedro, que criam

um espaço com a luz ideal para o desenho. A galeria possui uma claraboia central de dois

andares e é o ponto de luz focal da construção.

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Figura 51 – vista do ateliê de pintura: iluminação estratégica para diminuir o consumo de energia (fon-

te: http://www.e-architect.co.uk/new_york/heimbold_visual_arts_center.htm)

Colunas foram perfuradas na terra a 1.500 pés e inseridas na rocha do terreno para

fornecer aquecimento e arrefecimento ao edifício. A terra proporciona um isolamento adicio-

nal para as partes subterrâneas do edifício.

Diversas estratégias reduzem a demanda elétrica no horário de maior consumo. Os

equipamentos foram selecionados para reduzir o uso de eletricidade, e as bombas de calor

embaixo da terra foram utilizadas como fonte de calor do edifício. Luminárias eficientes, e

fontes de luz naturais são usadas para iluminar os espaços, e sensores de presença forne-

cem o controle de iluminação em todos os espaços públicos, exceto dos corredores. Um

sistema totalmente automatizado de gestão para edifícios controla o aquecimento, ventila-

ção e ar-condicionado de acordo com os modos de ocupados e desocupados. Os controles

de iluminação do corredor preveem uma base de tempo em relação ao relógio do sistema. O

prédio não foi projetado para operar durante um apagão, mas as luzes de emergência pos-

suem baterias de 90 minutos.

Analisando a medida nº 8, verificou-se que a equipe de projeto selecionou uma rica

variedade de materiais naturais locais para utilização no projeto do Centro de Artes Visuais.

Essa seleção incluiu a pedra de campo, cedro, vidro e zinco que foram escolhidos com base

na rica história arquitetônica do campus. A integração e a estratificação dos demais materi-

ais no corpo do edifício refletem a integração do projeto com a paisagem arquitetônica do

campus e a singularidade do edifício, conforme mostra figura 52 e 53.

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Figura 52 – vista dos materiais de revestimento do Heimbold integrados a paisagem (fonte:

http://www.e-architect.co.uk/new_york/heimbold_visual_arts_center.htm)

O critério de seleção dos materiais baseou-se na redução dos contaminantes que

afetam a qualidade do ar interior e a diminuição dos impactos ambientais da fabricação e da

aquisição. Adesivos, selantes, tintas e carpetes foram escolhidos devido a sua baixa emis-

são de compostos orgânicos voláteis (COV). Produtos que continham formaldeído e ureia

foram proibidos.

No total, 13% dos materiais da construção foram compostos de uma combinação de

pós-consumo e pós-industrial de material reciclado, conforme recomenda as normas LEED.

Mais de 55% dos materiais utilizados no projeto foram fabricados dentro de 500 milhas de

distância da obra. Desse montante, 46% eram compostos de recursos naturais que foram

extraídos ou colhidos dentro das 500 milhas. Além disso, mais de 60% dos materiais de ma-

deira utilizados no projeto foram certificados segundo as normas do Forest Stewardship

Council.

O projeto inclui instalações no local para a coleta seletiva de papel, plástico, vidro,

metal e papelão. A equipe executou um plano de gestão rigorosa dos resíduos da constru-

ção, segundo o qual menos de 1% dos restos de escavação e construção foi enviado para

um aterro sanitário. Das 16.156 toneladas de resíduos gerados, 900 toneladas de rocha

foram reutilizadas no local, sustentando e preenchendo a parede de pedra. Um adicional de

15.199 toneladas de lixo foi reciclado fora do local.

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Figura 53 – detalhe da parede de pedra composta pelas rochas locais e detalhe do revesti-

mento de madeira (fonte: http://www.e-architect.co.uk/new_york/heimbold_visual_arts_center.htm)

O projeto do edifício surgiu a partir de um amplo diálogo entre alunos e professores

sobre as atuais necessidades de um centro de arte contemporânea. Em relação à medida nº

9, observou-se que, nas últimas décadas, as fronteiras dentro das artes visuais foram remo-

vidas, e as novas tecnologias se tornaram disponíveis. Suposições antigas sobre a separa-

ção das disciplinas no estúdio estão sendo abandonadas.

Assim, o edifício foi concebido para permitir a flexibilidade na resposta a futuros de-

senvolvimentos nas artes. O espaço físico do prédio facilita o ensino e a produção da arte

visual contemporânea em todas as formas, conforme mostra figura 54. As paredes, algumas

das quais são móveis, tornam o espaço do estúdio mais flexível. Dessa maneira, é possível

aos estudantes observarem e experimentarem o trabalho dos seus colegas, trocando expe-

riências, tornando assim, mais fácil o ensino da arte, com uma forma interdisciplinar.

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Figura 54 – espaços internos multifuncionais do Heimbold (fonte: http://www.e-

architect.co.uk/new_york/heimbold_visual_arts_center.htm)

Analisando a medida 10, constatou-se que as soluções e definições durante o proje-

to permitiram que o consumo de energia fosse de aproximadamente 40% menos do que o

de edifícios tradicionais. Claraboias, paredes de vidro, e os espaços abertos permitem que a

luz natural entre abundantemente, minimizando a necessidade de consumo energético para

iluminação artificial. A proposta de sensores de presença nos ambientes é utilizada sempre

que possível para garantir que a eletricidade não seja desperdiçada em salas vazias.

Foram utilizados somente sistemas ambientalmente responsáveis, como refrigeração

e equipamentos de incêndio que não usam gases tóxicos, e sistemas de ventilação de alta

potência, os quais atendem as necessidades exigidas de um espaço de artes visuais. Mais

da metade dos 61 mil metros quadrados de salas de aula, auditórios, estúdios e espaços da

galeria estão localizados no subsolo. Oito poços subterrâneos fornecem um aquecimento

geotérmico e sistema de arrefecimento para o edifício. Duplos terraços ajardinados imitam o

resfriamento natural da terra, da atmosfera e também controlam o escoamento de águas

pluviais.

A figura 55 apresenta ao quadro de dados do Heimbold, onde as informações estão

apresentadas resumidamente de forma direta e objetiva.

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Quadro de dados

Edificação: Heimbold ! Universidade de Sarah Lawrence

Atividade: Centro de Artes Visuais

Local: Bronxville, New York / EUA

Projeto arquitetônico: Escritório Polshek Partnership Architects

Área da edificação: 5.570m2

Inauguração da edificação: 2004 | Top Ten 2005

MEDIDA AIA SOLUÇÕES

Medida 1 _ Intenção do projeto

sustentável

Sarah Lawrence College estava comprometida com a responsabi!lidade ambiental e queria que seu novo centro de artes fosse

construído e explorado de forma sustentável.

Medida 2 _ Comunidade regio!

nal e conectividade

O paisagismo tem como estratégia promover um senso de co!

munidade, incentivando a circulação dos usuários nos ambientes de exposição.

Medida 3 _ Ecologia local de

uso da terra

Edifício integrado na topografia do morro existente; telhado co!

berto de grama reduz o impacto do edifício no ambiente natural e controla o escoamento de águas pluviais.

Medida 4 _ Projeto Bioclimático

Sistema de bomba de calor geotérmico; vidro define os estúdios ao norte; galeria central que faz ponto de luz focal; unificação

das atividades acadêmicas com a flexibilidade dos espaços.

Medida 5 _ Luz e Ar Claraboias para iluminação natural; portas de vidro com abertu!

ras tipo garagem para controle da ventilação natural.

Medida 6 _ Ciclo da água Economia de água na irrigação das plantações, pois a paisagem é

nativa e tolerante ao clima da região.

Medida 7 _ Fluxos e futuro da

energia

A terra proporciona um isolamento adicional para as partes sub!

terrâneas do edifício; uso de claraboias e brises.

Medida 8 _ Materiais e con!

strução

Utilização de materiais locais; materiais com emissão de compos!tos orgânicos voláteis; resíduos foram utilizados na obra.

Medida 9 _ Ciclo de vida Paredes móveis tornam os espaços dos estúdios de arte mais flexíveis.

Medida 10 _ Lições aprendidas Soluções e definições durante o projeto permitiram que o con!

sumo de energia fosse 40% menos do que o de edifícios tradicio!

nais.

1º coluna 2º coluna

Figura 55 – quadro resumo das medidas do Heimbold (fonte: autora)

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No próximo capítulo, desenvolver-se-á a aplicação da metodologia em uma Universi-

dade Brasileira, a UniLivre, localizada na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. A partir

disso, será demonstrada a aplicação do guia organizado de acordo com as orientações do

AIA.

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6 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NA UNILIVRE

As informações obtidas na visita técnica feita à UNILIVRE, em 16 de setembro de

2011, estão registradas de forma organizada e objetiva no quadro de levantamento, confor-

me figura 56. Essas informações estão baseadas nas observações feitas pela autora deste

trabalho, e foram produzidas a partir das perguntas de apoio e dos relatos do Engenheiro

ambiental Eduardo Baptista, Gerente de Projeto da UNILIVRE, que acompanhou e orientou

a visita na edificação.

Segundo o que foi mencionado no capítulo anterior, na primeira coluna, identificam-

se as medidas AIA, com uma breve descrição de cada uma delas. Na segunda coluna,

apresentam-se as duas perguntas de apoio, desenvolvidas com base nas descrições de

cada medida. E, na terceira coluna, estão presentes as informações coletadas pela autora

no local da análise técnica.

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Quadro de levantamento

Edificação: Sede da UNILIVRE ! Universidade Livre do meio Ambiente Projeto Arquitetônico: Arquiteto Domingos Bongestabs

Atividade: Prédio destinado a escola de Estudos Ambientais Área da edificação: 874m2

Local: Cidade de Curitiba, bairro do Pilarzinho no estado do Paraná/BR Inauguração da edificação: 1992

MEDIDA AIA PERGUTAS DE APOIO INFORMAÇÕES RECOLHIDAS

As circunstâncias ecológicas, sociais e econômicas foram

consideradas na concepção do projeto?

Sim, o local estava destinado a ser aterro sanitário, devido ao abandono e a elevada

quantidade de material existente, com a implantação do campus, a vegetação se

recuperou naturalmente num processo chamado de sucessão ecológica.

A expressão arquitetônica demonstra a intenção de um projeto

sustentável?

Sim, no momento em que o l ixo foi totalmente retirado, a grande pedra foi descoberta e

incorporada ao projeto paisagístico. A pedreira é um dos elementos de destaque que

compõem a paisagem da Unilivre.

O projeto contribui para o espaço público e a interação da

comunidade?

Sim, é um local onde os usuários podem debater l ivremente a questão da ecologia e meio

ambiente e, ao mesmo tempo se tornou um dos pontos turísticos mais visitados de

Curitiba, principalmente aos finais de semana e por pessoas de fora da cidade e do país.

O projeto incentiva a redução de transportes poluentes?

Como faz parte da rota turística da cidade, a UniLivre possui l inhas de ônibus especiais

que circulam por diversos pontos da cidade em horários variados facil itando e

incentivando o transporte coletivo.

Como a edificação se comporta ao contexto ecológico?

Com o planejamento estratégico da implantação da edificação no bosque, o prédio

valorizou a vegetação, o lago e a pedreira existente, recuperando também o ecossistema

local.

O projeto auxil ia no desenvolvimento dos sistemas naturais?

Sim, além dos cuidados básicos de preservação outra estratégia adotada para recuperar

o local que estava muito devassado, foi o transporte de animais nativos, trazidos para

auxil iar na recuperação e harmonia do ambiente.

A orientação da construção é favorecida pelas condições

climáticas do local?

Não, pois as áreas internas são muito úmidas nos períodos de inverno e no verão

tornam!se abafadas com a pouca ventilação natural

Quais foram as estratégias de Design util izadas para

proporcionar conforto no interior do edifício?Não possui.

O projeto criou ambiente interno saudável e confortável, com

luz e ventilação adequadas?

Não, as áreas internas são muito úmidas nos períodos de inverno e no verão tornam!se

abafadas com a pouca ventilação natural

Quais são as estratégias de design para i luminação e

ventilação natural e artificial?Não possui.

Quais as estratégias util izadas para diminuir o consumo de

água?Não possui.

Quais as tecnologias adotadas para a reutil ização de água

pluvial e cloacal?Não possui.

Quais as estratégias util izadas para a conservação da energia? Não possui.

Quais as tecnologias adotadas pelo projeto para gerar energia

alternativa?Não possui.

Quais são os critérios de seleção dos materiais quanto aos

seus impactos no meio ambiente (economia de recursos,

impactos da colheita, da produção e do transporte)?

Foram valorizados os materiais da região e inclusive os reciclados como os postes de

luz da cidade de Curitiba, util izados em parte da estrutura da edificação e as demais

madeiras da estrutura são de reflorestamento.

Os materiais de revestimento selecionados contribuem para o

conforto e reduzem o consumo de energia e poluição?A madeira e o vidro não proporcionam isolamento adequado aos ambientes.

O projeto cria valor duradouro para o edifício através da

flexibil idade e adaptabil idade?

Observou!se que as atividades são restritas, pois sua planta não é flexível, l imitando o

seu uso para outras finalidades.

Os materiais e sistemas aumentam a versatil idade,

durabil idade e potencializam a reutil ização adaptativa da

edificação?

A madeira é tratada, e a fixação da estrutura é feita com parafusos e porcas

galvanizados, portanto a estrutura está preparada para ter uma vida útil de 30 a 50

anos e conforme a manutenção estas metas podem aumentar.

O projeto proporcionou novas soluções, estratégias ou

tecnologias que possam ser util izadas na concepção de

projetos futuros?

Sim, no contexto da época, esta edificação trouxe grandes contribuições e l ições para

futuros projetos e para a comunidade. Este projeto fez parte de um grande processo de

conscientização ambiental de toda a cidade de Curitiba.

Quais as estratégias util izadas no projeto que evoluíram ao

longo do tempo com o aparecimento de novas tecnologias?Não possui.

1º coluna 2º coluna 3º coluna

Medida 10 _ Lições

aprendidas

Medida 1 _ Intenção

do projeto

Medida 2 _

Comunidade regional

e conectividade

Medida 3 _ Ecologia

local de uso da terra

Medida 4 _ Projeto

Bioclimático

Medida 5 _ Luz e Ar

Medida 9 _ Ciclo de

vida

Medida 8 _ Materiais

e construção

Medida 7 _ Fluxos e

futuro da energia

Medida 6 _ Ciclo da

água

Figura 56 – quadro de levantamento criado pela autora

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6.1 LEVANTAMENTO DO GRAU DE SUSTENTABILIDADE DA UNILIVRE

Conforme visto anteriormente, a Universidade Livre do Meio Ambiente foi escolhida

como caso de avaliação por ser uma Instituição de ensino destinada às questões ambien-

tais. Conhecida também como UNILIVRE ou ULMA é uma Organização não Governamental

(ONG), uma sociedade civil sem fins lucrativos, que tem o objetivo de compartilhar e cons-

truir conhecimentos sobre meio ambiente e ecologia, com cursos de capacitação para alu-

nos e professores de ensino médio e superior e para a população em geral. É considerada

uma referência em estudos de preservação de ecossistemas, um exemplo economicamente

sustentável, além de ser o maior foco dos assuntos tratados quando a referência é o meio

ambiente nas grandes cidades.

A UNILIVRE situa-se no bairro Pilarzinho, na cidade de Curitiba, capital do estado

brasileiro do Paraná. O campus, assim como o edifício sede do curso de estudos ambien-

tais, está instalado no local onde, na década de 1940, havia uma das maiores pedreiras da

cidade. Atualmente, nesse mesmo espaço, se encontra o Bosque Zaninelli. A universidade

foi inaugurada em 1992, com aula inaugural ministrada pelo oceanógrafo Jacques Couste-

au. Posteriormente, foi declarada de "Utilidade Pública" por lei municipal, em 1993, e esta-

dual, em 1996.

Em 22 de novembro de 2004, a UNILIVRE recebeu o prêmio Destaque Nacional, ou-

torgado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), pelo traba-

lho realizado na área do desenvolvimento urbano sustentável. No livro Cities for a Small

Planet, de 1997, o arquiteto inglês Richard Rogers, reconhecido pelo alto grau de tecnologia

que usualmente adota em seus projetos, coloca a Universidade Livre do Meio Ambiente co-

mo um dos exemplos de arquitetura adaptada à natureza.

Uma pedreira contém a Universidade do Meio Ambiente, construída dentro

de uma estrutura circular de postes de telégrafo recuperados. Aqui, crianças

em idade escolar e seus professores fazem cursos específicos que expli-

cam os princípios e os resultados tangíveis da aplicação do desenvolvimen-

to urbano sustentável (ROGERS, 2001, p.61).

Analisando a medida nº 1, referente à Intenção do Projeto Sustentável, foi necessário

estudar a concepção do projeto. O arquiteto Domingos Bongestabs, autor do projeto da

UNILIVRE, reconhece que a área do Bosque Zaninelli, nome em homenagem ao antigo pro-

prietário, foi descoberta por outro arquiteto, Roberto Gandolfo, que, ao comprar o terreno

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para edificar sua casa na encosta da antiga Pedreira, desativada desde 1983, percebeu um

paraíso perdido e abandonado. Comunicou, então, o prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, so-

bre sua existência e que, por ser de difícil acesso, servia como esconderijo para marginais e

de entulho de lixo. O local estava destinado a ser aterro sanitário, devido ao abandono e a

elevada quantidade de material existente.

No momento em que o lixo foi totalmente retirado, conforme figura 57, a grande pe-

dra foi descoberta e incorporada ao projeto paisagístico. Sendo assim, a pedreira tornou-se,

e é até os dias atuais, um dos elementos de destaque que compõe a paisagem da UNILI-

VRE. Apenas com a preservação e a implantação do campus, a vegetação se recuperou

naturalmente em um processo chamado de sucessão ecológica.

Figura 57 – vista pedreira UNILIVRE (fonte:

http://www.unilivre.org.br/area_publica/controles/ScriptPublico.php?cmd=curiosidades)

O projeto deste campus é repleto de significados com objetivos educacionais, como

os arcos presentes no pórtico de acesso ao campus. São elementos coloridos, com as cores

preta, verde e amarela. De acordo com a figura 58, os quatro arcos pretos representam a

poluição, os três arcos verdes a vegetação e os dois arcos amarelos a riqueza do país. Essa

riqueza é o resultado de um processo de reciclagem obtido através do tratamento da polui-

ção e da valorização da natureza.

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Figura 58 – arcos coloridos que representam o processo de reciclagem do lixo aparecem no

pórtico de acesso principal ao campus (fonte:

http://www.unilivre.org.br/area_publica/controles/ScriptPublico.php?cmd=curiosidades)

A UNILIVRE organiza visitas guiadas diariamente ao campus com o objetivo de en-

sinar e orientar os visitantes, sendo eles estudantes ou turistas, sobre a importância da pre-

sença de áreas verdes próximas as grandes cidades. Como parte da abordagem holística

de Curitiba, em busca de um desenvolvimento sustentável, cada classe, junto com o profes-

sor, passa uma semana na universidade aprendendo como suas intervenções, em pequena

escala, podem contribuir para a criação de benefícios práticos e efetivos para o meio ambi-

ente. Ao encorajar a participação, desenvolve-se uma ação cultural efetiva, que dá um colo-

rido a todos os aspectos da vida na cidade (ROGERS, 2001, p.61).

Segundo figura 59, durante o percurso, projetado estrategicamente entre o bosque, o

visitante percebe a imensa contribuição da vegetação para o planeta, pois vivencia, no mo-

mento da visita, as temperaturas mais amenas e sente a redução da poluição sonora, visual

e atmosférica. Portanto, o local proporciona o aprendizado das questões ambientais em uma

aula totalmente prática.

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Figura 59 – vista do percurso entre o bosque com deque de madeira tratada (fonte:

http://www.unilivre.org.br/area_publica/controles/ScriptPublico.php?cmd=curiosidades)

No decorrer do caminho, aparecem paredes com pedras retiradas do local e contidas

por telas metálicas, uma intervenção feita pelo homem para conter as terras junto aos rios.

Essa estratégia foi necessária, pois no local a mata auxiliar estava morta e ela é a grande

responsável pela contenção das terras junto aos rios, uma vez que utiliza suas raízes para

contenção das terras, evitando assim o processo de erosão.

Outra estratégia adotada pelos planejadores para recuperar o local que estava muito

devassado foi o transporte de animais nativos, trazidos para auxiliar na recuperação e har-

monia do ambiente, conforme mostra a figura 60.

Figura 60 – animais trazidos como estratégia de recuperação do local (fonte:

http://www.unilivre.org.br/area_publica/controles/ScriptPublico.php?cmd=curiosidades)

Na edificação, os volumes das salas de aula foram projetados com as cores que

simbolizam os elementos da natureza. Conforme figura 61, o volume de cor azul representa

o elemento água; o vermelho, o fogo; e o marrom, a terra. O ar não foi representado em ne-

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nhum volume, pois os projetistas acreditam que ele está muito presente em todo o campus,

como elemento de destaque na sensação de quem chega ao local.

Figura 61 – volumes das salas de aula representando os elementos da natureza (fonte: arqui-

vo pessoal da autora)

Com relação à medida nº 2, a qual analisa a comunidade regional e conectividade

com a UNILIVRE, seu objetivo é construir e compatilhar conhecimentos sobre o meio ambi-

ente à população em geral, sem ter como pré-requisito a educação formal ou informal, atra-

vés de cursos regulares e eventuais. É um local específico onde os usuários podem debater

livremente a questão da ecologia e meio ambiente e, ao mesmo tempo, aprender sobre no-

vos temas e práticas que visem a aprimorar a qualidade de vida dos centros urbanos. Tam-

bém se tornou um dos pontos turísticos mais visitados de Curitiba, principalmente aos finais

de semana, por uma maioria de pessoas de fora da cidade e do país.

Tem por objetivo efetuar ações relacionadas à preservação ambiental, além de de-

senvolver, oferecer e sediar atividades de educação ambiental, como cursos, seminários,

conferências e exposições; prestar serviços de consultoria; realizar pesquisas e estudos;

elaborar e acompanhar projetos. A UNILIVRE é a instituição parceira local do International

Honors Program (IHP), um programa que oferta, para estudantes universitários norte ameri-

canos, a oportunidade de realizarem intercâmbio científico e cultural em nosso país.

Assim, os estudantes entram em contato com a sociedade, a política e o meio ambi-

ente local, adquirindo uma visão maior de mundo para compreenderem os fatos em escala

global. Os acadêmicos são acompanhados por professores de graduação de renomadas

universidades americanas e ficam hospedados em casas de família. Cabe à UNILIVRE se-

lecionar as famílias e organizar todas as atividades do intercâmbio.

Observando a medida nº 3, referente ao uso da terra e ecologia local, destaca-se

que as rochas da UNILIVRE são as mais antigas da região. Anteriormente, eram exploradas

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para brita, embora façam parte de um grupo de rochas que os geólogos interpretam como

pertencentes ao embasamento cristalino, ou seja, a unidade geológica mais antiga que ser-

viu de infraestrutura para a evolução dos terrenos mais jovens.

Datações geocronológicas indicam que elas se formaram há pelo menos dois bilhões

de anos. Na literatura geológica, são conhecidas como pertencentes a um grupo de rochas

denominadas granulítos, isto é, rochas constituídas de minerais que se formam e se cristali-

zam sob condições ambientais de alta temperatura, alta pressão e escassez d’água. Logo, é

possível concluir que elas se formaram em um ambiente geológico totalmente distinto do

que estão hoje. Portanto, admite-se, também, que as rochas granulíticas formam-se em am-

bientes que se situam entre 15 e 20 km de profundidade, onde ocorrem pressões elevadas e

a temperatura é superior a 700 graus centígrados, ou seja, temperatura em que as rochas já

estão próximas ao estado de fusão (CPRM – Serviço Geológico do Brasil).

Assim como a maioria das formações vegetais remanescentes situadas na área ur-

bana de Curitiba, o Bosque Zaninelli apresenta grande parte de sua área caracterizada co-

mo floresta secundária bordeada por capoeirão e capoeira. A capoeira está representada

pela vegetação baixa e densa, que acompanha a margem dos caminhos, sendo formada por

jaborandis, vassouras e carquejas, cujos arbustos muitas vezes estão cobertos por lianas

com inflorescência claras e odoríferas que atraem abelhas e outros insetos.

Interiorizando-se no bosque, surgem os capoeirões, formados basicamente por fu-

mo-bravo, pororocas, aroeira, carne-de-vaca e pixiricas. O estágio mais evoluído da vegeta-

ção, já constituindo uma floresta secundária, possui muitas espécies ocorrentes da floresta

original. Merecem destaque, inicialmente, o Pinheiro do Paraná, pelo porte que atinge e pela

simbologia, e outros exemplares, como açoita-cavalo, quaçulangas, cafezeiro-do-mato, ca-

nela-guaiçá, carne-de-vaca, pitangueira, caá-ingá.

O bosque apresenta, ainda, diversas espécies de samambaias, orquídeas, chuva-de-

ouro, bromélias, liquens, musgos e fungos, cipós, maracujazinho e cipó-de-são-joão. Podem

ser observadas algumas espécies exóticas, como cedros, uva-do-japão, nêspera ou ameixa

amarela, beijinho ou maria-sem-vergonha e copo-de-leite.

A avifauna do Bosque Zaninelli é composta por cerca de 30 espécies, comuns em

áreas semelhantes distribuídas pela cidade. Destacam-se a presença de beija-flores, dentre

eles o beija-flor de peito branco, o besourinho de bico vermelho e o beija-flor de ventre bran-

co. São comuns também sabiás, bem-te-vi e saracuras, que habitam os brejos da lagoa.

Como é próprio de áreas verdes residuais em ambiente urbano, é baixa a diversida-

de de mamíferos na área do bosque. Estão aí representados, o gambá-de-orelha-branca,

preá, ratão-do-banhado, microroedores silvestres e alguns morcegos característicos de am-

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bientes urbanos. O Bosque Zaninelli foi criado a partir de uma área verde regenerada natu-

ralmente após ter sido utilizada, desde 1947, para exploração de granito, o que originou um

grande paredão de pedra e o lago. Foi decretado bosque municipal de preservação em

1992.

A análise do projeto bioclimático, conforme medida nº 4, pode ser observada através

das figuras 62 e 63, onde nota-se que o projeto do campus foi estrategicamente inserido

para envolver e destacar o paredão de pedra, o lago e o bosque. Também era necessário

solucionar a diferença de nível entre o acesso, localizado na Rua Vitor Benato, e o bosque,

no nível da Rua Ministro Brochada da Costa. Este desnível representa aproximadamente um

prédio com 5 andares.

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Figura 62 – implantação campus UNILIVRE (fonte:

http://familiapetroski.blogspot.com/2010/03/bosque-zaninelli-universidade-livre-do.html)

1. Estacionamento 2. Portal 3. Loja / Sanitários / guarda municipal 4. Administração / biblioteca 5. Passarela 6. Coordenação 7. Salas de aula 8. Pavilão Jacques Ives Cousteau 9. Mirante 10. Rampa 11. Palco 12. Lago

A solução para esse desnível foi um projeto verticalizado que se acomodasse ao ter-

reno, criando também áreas para mirantes. Foi construído, então, um prédio de 874m2,

composto por uma rampa em forma de espiral, com vinte e dois metros de extensão, que

liga as salas principais do prédio ao jardim localizado em um nível mais baixo. Durante o

percurso da rampa, é possível desfrutar de uma bela vista dos 37 mil metros quadrados de

mata nativa do Bosque Zaninelli. Por sua arquitetura original, é um tradicional ponto de visi-

tação turística na capital paranaense. O projeto arquitetônico é do arquiteto Domingos Bon-

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gestabs, professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPR – Universidade

Federal do Paraná, o mesmo autor do projeto da Ópera de Arame.

Figura 63 – vista aérea do campus UNILIVRE (fonte:

http://www.unilivre.org.br/area_publica/controles/ScriptPublico.php?cmd=curiosidades)

A estrutura com troncos de eucalipto revestidos com vidro ressalta a potencialidade

do eucalipto industrial proveniente de reflorestamento explorado em seu limite. A estrutura

de madeira chega a 15 metros de altura e tem balanços de 3 metros na estrutura que apoia

a rampa helicoidal. Conforme figura 64, o resultado é a perfeita integração, junto à vegeta-

ção, entre arquitetura e natureza.

Figura 64 – estrutura de madeira inserida na paisagem (fonte:

http://www.unilivre.org.br/area_publica/controles/ScriptPublico.php?cmd=curiosidades)

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Segundo medida nº 5, que analisa as condições de luz e ar, observa-se que as salas

de aula possuem grandes esquadrias de madeira no piso e teto, com vidro transparente. A

iluminação natural é bastante aproveitada e controlada por persianas, também de madeira,

assim como toda a estrutura da edificação.

A disposição das janelas no ambiente das salas permite ventilação, porém para os

dias de maior calor, foi necessária a instalação de ar-condicionado tipo de parede conforme

se verifica na figura 65.

Figura 65 – imagem das salas de aula UNILIVRE (fonte:

http://www.unilivre.org.br/area_publica/controles/ScriptPublico.php?cmd=curiosidades)

Em relação à medida 6, referente ao ciclo da água, observa-se que o lago, conforme

mostra a figura 66, localizado no campus da UNILIVRE, é oriundo da exploração de miné-

rios. Devido às escavações, quando o espaço ainda era utilizado para esta atividade, o len-

çol freático foi atingido. Este fato originou uma vertente d’água, impossibilitando a continua-

ção da atividade extrativista e dando origem ao lago, que hoje possui uma profundidade de

8 metros e é habitado por carpas, além de cisnes, patos, marrecos e tartarugas.

Infelizmente verificou-se que na edificação e no resto do campus não há sistema de

tratamento e nem de reaproveitamento de água.

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Figura 66 – vista do lago do campus da UNILIVRE (fonte:

http://www.unilivre.org.br/area_publica/controles/ScriptPublico.php?cmd=curiosidades)

Quanto à medida nº 7, que examina os fluxos e o futuro da energia, observou-se que

o campus da UNILIVRE não possui sistema para geração e nem para conservação de ener-

gia, embora tenha utilizado estratégias de projeto, como o posicionamento das janelas nas

salas de aula, para maior ventilação e melhor aproveitamento da luz natural. Também como

solução para redução do calor da edificação, a construção foi projetada para ficar inserida

na mata, em meio às árvores e junto ao lago, criando, assim, uma proteção térmica natural.

Analisando os materiais de construção, conforme indica medida nº 8, a sede da UNI-

LIVRE é basicamente uma torre de madeira que se integra ao meio ambiente. A maior parte

da estrutura foi construída com troncos de eucalipto e complementada com embuia, camba-

rá, cedro: todos madeiras de reflorestamento, conforme mostra a figura 67. O revestimento

dos volumes é feito com vidro transparente.

Para sustentar a construção, também foram utilizados os postes de luz da cidade de

Curitiba, que foram substituídos por postes de concreto. Este material sem utilidade foi devi-

damente tratado e reutilizado na construção, servindo como peitoril até como pilar de sus-

tentação.

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Figura 67 – estrutura em madeira da sede do UNILIVRE (fonte:

http://www.unilivre.org.br/area_publica/controles/ScriptPublico.php?cmd=curiosidades)

Em relação ao ciclo de vida da edificação, de acordo com a medida nº 9, verificou-se

que a construção da UNILIVRE foi executada pela construtora Emadel, Estruturas em Ma-

deira Araucária, no estado do Paraná. Toda a madeira empregada, vinda do Rio Grande do

Sul, recebeu um rigoroso tratamento em autoclave, impermeabilizando totalmente as toras,

o que garante uma vida útil de 30 anos ao ar livre, e até 50 anos se bem conservada. A fer-

ragem também recebeu tratamento especial e todos os serviços obedeceram às normas da

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Sobre a medida nº 10, que indica a análise das lições aprendidas, observa-se que o

campus da UNILIVRE tem como conceito arquitetônico uma proposta educacional nova,

ligada à preservação do meio ambiente: respeito, valorização e fruição da paisagem da pe-

dreira com originalidade, transparência e leveza na construção. Por isso, foram utilizados

madeira e troncos de eucalipto para a compatibilidade com o entorno imediato. O vidro foi

inserido pela transparência e leveza.

O local é, pois, uma lição de ecologia, integrando a arquitetura ao meio ambiente.

Para incentivar ainda mais o ensino, o campus tem um roteiro para grupos, escolas ou em-

presas, mesclando diversão e educação ambiental. O acesso dos visitantes se dá por um

mirante integrado à rampa em espiral, que proporciona a mudança da paisagem no decorrer

do percurso, pois a sua estrutura é fragmentada permitindo transparência e percepção da

estrutura.

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No próximo capítulo, serão apresentadas as contribuições deste trabalho, com as

análises e considerações pertinentes e referentes ao levantamento sobre o grau de susten-

tabilidade realizado na UNILIVRE.

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7 CONTRIBUIÇÕES

Estando este trabalho ligado à área de concentração “Design Educação e Inovação”

do Mestrado em Design UniRitter, procurou-se conduzir a dissertação de modo que os

temas “processos de inovação tecnológica” e “arquitetura sustentável” fossem

contextualizados em situações projetuais para edificações de Instituições de Ensino.

Estabeleceu-se, assim, a conexão entre atividades projetuais e criativas aplicadas a

ambientes edificados, e necessidades das gerações futuras em termos de sustentabilidade.

O presente capítulo reúne as informações colhidas e organizadas até aqui para

realizar uma aplicação analítica sobre o objeto de estudo determinado: a sede da

UNILIVRE, Universidade Livre do Meio Ambiente. Essa instituição, como já foi mencionada,

é uma organização não governamental, pioneira na inclusão dos vários segmentos da

sociedade na discussão sobre o meio ambiente. A UNILIVRE foi escolhida como objeto de

estudo por três critérios principais: (i) seu reconhecimento arquitetônico; (ii) ser sede de uma

Instituição de Ensino, foco deste trabalho; (iii) estar localizada no sul do Brasil, o que torna

as observações sobre geografia e clima mais relevantes para um trabalho de dissertação

sediado no Rio Grande do Sul.

Essa universidade foi fundada em 1991 e, em seguida, reconhecida pelo arquiteto

inglês Richard Rogers, conhecido pelo alto grau de tecnologia que usualmente adota em

seus projetos, como um dos exemplos para uma arquitetura adaptada à natureza

(ROGERS, 2001). Sua inauguração ocorreu no dia 5 de junho de 1992, quando acontecia,

no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento, mais conhecida como a ECO-92, cujo objetivo era buscar meios de

conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos

ecossistemas da Terra.

A Conferência do Rio consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável e

contribuiu para a mais ampla conscientização de que os danos ao meio ambiente eram

majoritariamente de responsabilidade dos países desenvolvidos. Reconheceu-se, ao mesmo

tempo, a necessidade de os países em desenvolvimento receberem apoio financeiro e

tecnológico para avançarem na direção do desenvolvimento sustentável. Naquele momento,

a posição desses países tornou-se mais bem estruturada e o ambiente político internacional

favoreceu à aceitação pelos países desenvolvidos de princípios como o das

responsabilidades comuns, mas diferenciadas. A mudança de percepção com relação à

complexidade do tema deu-se de forma muito clara nas negociações diplomáticas, apesar

de seu impacto ter sido menor do ponto de vista da opinião pública (CONFERÊNCIA DAS

NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1995).

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Portanto, a UNILIVRE estava em sintonia com este momento fundamental da

história da sustentabilidade no Brasil e do mundo. Executava-se uma estrutura preocupada

com as questões ambientais e que, de certa forma, chamava a atenção para este tema,

principalmente com a presença do reconhecido oceanógrafo Jacques Cousteau para a aula

inaugural.

Oceanógrafo e ativista do ambiente, o comandante Jacques-Yves Cousteau

notabilizou-se pelas suas investigações subaquáticas e pelos seus livros e documentários

televisivos, largamente difundidos. Foi eleito membro da Academia Francesa em 1988. O

seu empenho no estudo dos oceanos produziria resultados científicos significativos e o

levaria, também, a desenvolver experiências e técnicas revolucionárias. Em 1943, criou com

Émile Gagnan, o aqualung ou escafandro autónomo, isto é, um escafandro que não

dependia do fornecimento de ar a partir da superfície, proporcionando, assim, aos

mergulhadores, possibilidades completamente novas de exploração do mundo subaquático.

Cousteau foi também o inventor de um processo para o uso da televisão debaixo de água.

Promoveu, ainda, a partir de 1962, várias experiências de permanência prolongada debaixo

de água, nas quais os mergulhadores chegaram a estar submersos durante um mês

(COUSTEAU, 2003).

Figura 68 – imagem da foto histórica da aula inaugural com a presença do oceanógrafo Jacques

Cousteau (fonte: arquivo pessoal da autora)

O projeto da UNILIVRE fez parte de um grande processo de conscientização

ambiental de toda a cidade de Curitiba, e, na década de 1990, a cidade foi agraciada com o

premio United Nations Environment Program, da ONU, considerado o prêmio máximo do

meio ambiente no mundo. Conclui-se, portanto, que no contexto da época, esta edificação

trouxe grandes contribuições e lições para futuros projetos e para a comunidade.

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Tal posição de destaque se restringiu aos primeiros anos de ocupação da

edificação. As soluções arquitetônicas de conservação e preservação do meio ambiente não

acompanharam os avanços ocorridos nos diversos setores da construção civil. Por isso,

percebe-se a relevância de se retornar ao caso do UNILIVRE, agora com uma abordagem

contemporânea, para, talvez, apontar direções de renovação desta edificação exemplar.

Novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas e poderão ser adaptadas para maior

harmonia dessa universidade ao meio em que está inserida. Desta forma, a edificação não

se tornará obsoleta, e sua contribuição deixará de estar restrita a um momento importante

para a história da sustentabilidade no Brasil, porém já passado.

Comparando com as três edificações institucionais analisadas no capítulo 4, a

UNILIVRE parece estar afastada do objetivo de ser uma construção sustentável e que

realmente possa servir como exemplo para alunos, professores e funcionários que utilizam o

espaço. Essa instituição tem conceitos fortes e ações marcantes e importantes em relação

às questões ambientais, como programas, palestras, cursos e projetos que realmente fazem

diferença para a sociedade. Porém, quanto à edificação, ficou tecnologicamente e

projetualmente estacionada no tempo. Ela foi modelo na época de sua concepção, mas

hoje, pode-se dizer que apenas está inserida na paisagem, mas não contribui de forma

significativa com o meio ambiente onde está instalada.

A intenção deste capítulo é sugerir a aplicação de um modelo de avaliação

baseado nas medidas orientadas pela AIA, indicando e argumentando sobre os itens que

não foram atingidos em cada medida. Além disso, são sugeridas soluções arquitetônicas

capazes de resolver os itens frágeis do projeto, baseadas nos exemplares analisados no

capítulo 4, ou seja, as edificações Kroon Hall, Rinker Hall e Heimbold Centro de Artes

Visuais.

7.1 AVALIAÇÃO DA UNILIVRE

Observa-se no quadro de avaliação, conforme figura 69, que algumas medidas não

tiveram seus objetivos atingidos.

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Quadro de avaliação

Edificação: Sede da UNILIVRE ! Universidade Livre do meio Ambiente

Atividade: Prédio destinado a escola de Estudos Ambientais

Local: Cidade de Curitiba, bairro do Pilarzinho no estado do Paraná/BR

Projeto Arquitetonico: Arq. Domingos Bongestabs

Área da edificação: 874m2

Inalguração da edificação: 1992

MEDIDA AIA INFORMAÇÕES RECOLHIDAS AVALIAÇÃO SUGESTÃO

Medida 1 _ Intenção do

projeto sustentável

arquitetura adaptada a natureza com o objetivo de

transferir conhecimento sobre ecologiaitem alcançado.

Medida 2 _ Comunidade

regional e conectividade

espaços de lazer para a comunidade e palestras

gratuitas de concientização ambientalitem alcançado.

Medida 3 _ Ecologia local de

uso da terra

implantação do prédio junto a pedreira facilitou

acessos e mirantes estratégicositem alcançado.

Medida 4 _ Projeto

Bioclimático

devido a implantação o prédio recebe umidade

excessiva em determinados periodos do ano

instalação de revestimento interno com material isolante;

maior ventilação das esquadrias

Medida 5 _ Luz e Aresquadrias produzem insolação e ventilação não

suficientes em determinadas temporadas

mais luminárias para melhor iluminação; abertura das

esquadrias superiores e inferiores para maior ventilação

Medida 6 _ Ciclo da águanão há reaproveitamento e nem sistemas de

economia de água em todo o campus

canalização e recolhimento de águas pluviais para reutilização

da água na edificação

Medida 7 _ Fluxos e futuro da

energia

não há sistemas de economia e nem de geração de

energias alaternativas em todo o campus

instalação de painéis fotovoltaicos para capturar a energia do

sol; controladores automáticos de iluminação

Medida 8 _ Materiais e

construção

estrutura com madeira de reflorestamento e postes

de luz da cidade foram reutilizadositem alcançado.

Medida 9 _ Ciclo de vidaestrutura de madeira tratada para terem vida útil

entre 30 e 50 anos

necessita de estudos técnicos mais aprofundados para sugerir

adaptações e alcançar a meta desta medida

Medida 10 _ Lições aprendidasnecessárias adapatações na edificação para melhor

contribuição do prédio para o ambiente

executar adaptações para torna!la mais sustentável e poder

fortalecer sua responsabilidade social e com o meio ambiente

1º coluna 2º coluna 3º coluna 4º coluna

Figura 69 – quadro de avaliação criado pela autora

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Começando pela medida nº 4, que avalia o grau de eficiência do projeto bioclimático,

verifica-se que a implantação da edificação valorizou e destacou a pedreira, o lago, o

bosque, enfim, a natureza do local. Como resultado, obtém-se ambientes agradáveis e

eficientes ao ensino, pois, segundo Lidwell, Holden e Butler (2010), a biofilia é um

importante elemento no processo de aprendizagem:

Considere a biofilia no design de todos os ambientes, mas especialmente

naqueles em que a aprendizagem, a cura e a concentração são de suma

importância. Embora as imagens da natureza substituam adequadamente a

natureza real, esta última deve ter preferência sempre que possível, pois

tem maior probabilidade de produzir um resultado geral intenso. (LIDWELL,

HOLDEN, BUTLER, 2010, p.36).

A implantação também solucionou os desafios da topografia, devido à diferença de

nível entre o acesso principal e o bosque. Porém, o conforto térmico no interior da

edificação, item essencial do projeto bioclimático, ficou comprometido. Para análise desta

medida, é importante lembrar que, localizada no sul do Brasil, a cidade de Curitiba é úmida

e fica em uma zona de clima temperado.

O município está localizado em um planalto e o terreno é plano, com áreas

inundadas, contribuindo para o seu inverno ameno e úmido, com temperatura média de

13°C no mês mais frio, caindo por vezes abaixo de 2°C, em dias mais frios. Durante o verão,

a temperatura média fica em torno de 21°C, mas pode subir acima de 30°C em dias mais

quentes. Ondas de calor durante o inverno e ondas de frio no verão não são incomuns e,

mesmo dentro de um único dia, pode haver uma grande variação, uma característica típica

do clima subtropical.

Vários fatores contribuem para a natureza variável do clima: o terreno plano rodeado

por montanhas em forma arredondada com raio de 40 km ajuda a bloquear os ventos,

permite que a neblina matinal cubra a cidade nas manhãs de frio. A cidade de Curitiba tem

um clima temperado marítimo ou clima subtropical de altitude de acordo com a classificação

climática de Köppen (MENDONÇA, 2004).

Diante deste panorama, observa-se que sua inserção na mata sem isolamento

adequado, resulta em uma edificação úmida devido ao clima em que está inserida e gera

desconforto aos usuários no período de inverno, fazendo-se necessário o uso constante de

desumidificadores. Segundo Iida (2005):

As temperaturas extremas, principalmente o frio, dificultam a concentração

mental, porque a sensação de desconforto provoca distrações (IIDA, 2005,

p.503).

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No verão a edificação recebe sol na maior parte do dia tornando os ambientes

internos muito quentes e abafados, onde a ventilação natural, proporcionada pelas

esquadrias, não é suficiente para resfriar os ambientes, fazendo-se necessário o uso

constante de aparelhos de ar-condicionado. O maior agravante é que esses aparelhos são

do tipo janela, que é o modelo que mais consome energia elétrica. É importante lembrar que

o desempenho, em uma tarefa simples de aprendizagem, sofre pouca influência em 18ºC e

28ºC, a uma umidade relativa de 40%, observando-se o melhor desempenho a 23ºC. A

redução do desempenho, em tarefas mentais, torna-se mais evidente acima de 33ºC (IIDA,

2005, p.503).

Sugere-se, como complemento deste projeto, a colocação de revestimento interno

ou externo, no telhado, com material isolante. Segundo Iida (2005), o projeto de edificações

determina o grau de penetração da energia solar e a influência do calor radiante. O tipo de

isolamento, principalmente do telhado, tem uma grande influência na troca de calor entre a

edificação e o ambiente externo (IIDA, 2005, p.504).

A orientação das edificações é importante para evitar esta incidência direta

da luz solar sobre as áreas envidraçadas. Há uma tendência, nas

construções modernas de aumentar as áreas envidraçadas para reduzir

custos, mas isso provoca maiores trocas de calor aumentando despesas

com aparelhos de ar-condicionado (IIDA, 2005, p.504).

As demais estratégias para combater o ganho de calor devido à radiação solar e a

consequente elevação de temperatura do ar interior e a das superfícies internas que

rodeiam as pessoas consistem em: (i) Posicionar o edifício de maneira a obter a mínima

carga térmica devido à energia solar; (ii) Proteger as aberturas contra a entrada do sol; (iii)

Dificultar a chegada do sol às superfícies do envelope do edifício; (iv) Minimizar a absorção

do sol pelas superfícies externas; (v) Determinar a orientação e o tamanho das aberturas

para atender às necessidades de luz natural (CORBELLA, YANNAS, 2009, p.42).

Com relação à medida nº 5, em que se avaliam luz e ar, constatou-se que, quanto à

iluminação natural, a avaliação é positiva. A luz solar é aproveitada em um longo período do

dia, e as dimensões das esquadrias com vidro são ideais para esta finalidade. Nos climas

temperados, onde o dia tem menor duração durante o inverno, constatou-se maior

incidência de estados depressivos, caracterizados por aumentos do sono e do apetite,

ansiedade, menor disposição e dificuldades nos relacionamentos sociais (IIDA, 2005,

p.471). Porém, em relação à ergonomia, essa situação deve ser controlada:

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129

A luz natural, além de ter boa qualidade, proporciona economia com gastos

energéticos. Entretanto, a incidência direta da luz solar deve ser evitada,

pois provoca perturbações visuais, e, se ela incidir sobre paredes

envidraçadas, tende a aquecer o ambiente pelo “efeito estufa” (IIDA, 2005,

p.470).

Quanto à iluminação artificial, a avaliação não é positiva. Na sala de aula identificada

como azul, mediu-se, com auxílio do luximetro, uma luminância de em média 120 lux, no

período da noite. A luminância indicada para salas de aula é de 300 lux, conforme NBR

5413, norma técnica que estabelece os valores de luminâncias médias mínimas para

iluminação artificial em interiores, onde se realizem atividades de comércio, indústria,

ensino, esporte e outras (ABNT, 1992). Portanto, para solucionar essa medida, sugere-se a

instalação de um número maior de luminárias nas salas. E, para maior eficiência deste

resultado, propõem-se luminárias existentes no mercado e desenvolvidas para gerar

economia de energia. Exemplo disso são os modelos que possuem aletas em alumínio e

que distribuem a iluminação com maior eficiência no ambiente.

Em relação ao ar, constatou-se que as esquadrias existentes não são suficientes

para produzirem ventilação adequada. Para solucionar o problema da ventilação desta

edificação, sugere-se adaptar as esquadrias superiores e inferiores para que possam ter a

opção de serem abertas e melhorar a circulação do ar. Atualmente, apenas as esquadrias

do meio podem ser abertas, como se observa na figura 70. Segundo Mascaró,

No caso da ventilação de conforto (para o verão em climas compostos ou

nos climas quente-úmidos) é interessante que a abertura de entrada de ar

esteja em baixo, e a de saída em cima. Os elementos da janela devem

direcionar o fluxo, fazendo-o passar pelo usuário, aumentando a

evaporação do suor (MASCARÓ, 2005, pg.90).

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Figura 70 – esquadria maxim-ar com aberturas centralizadas que não proporcionam ventilação

suficiente no ambiente (fonte: arquivo pessoal da autora)

Observa-se que, além da intervenção na estrutura, é importante que os usuários

tenham consciência em regular corretamente as aberturas para que possam aproveitar ao

máximo deste recurso. Pois, segundo Corbella e Yannas (2009):

Para remover a umidade em excesso e movimentar o ar – o qual aumentará

o conforto térmico das pessoas – deve-se promover o movimento do ar e

sua renovação, no período no qual as pessoas estejam ocupando o

ambiente. (CORBELLA, YANNAS, 2009, p.40).

É importante salientar que a maioria das cidades brasileiras tem temperaturas

médias dentro das zonas de conforto. Em Porto Alegre, por exemplo, estima-se que só 10%

dos dias do ano precisam de ar-condicionado para se ter conforto nos edifícios, dias com

temperatura média superior a 27°C e 70% ou mais de umidade relativa do ar, segundo o

critério de Mahoney. Entretanto, na maioria dos escritórios gaúchos, o ar-condicionado é

usado durante 30 a 35% dos dias do ano, devido à deficiência no projeto da ventilação

natural e do envolvente do edifício (MASCARÓ, 2005, pg.67).

Avaliando a medida de nº 6, concluiu-se que o campus não está equipado com

nenhum tipo de tecnologia voltada para o tratamento e nem para a reutilização de água.

Sugere-se primeiramente a implantação de uma estrutura que canalize e recolha a água da

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chuva que cai diretamente em cima dos telhados, pois eles recebem um grande volume de

água, como mostra figura 71.

Figura 71 – telhados sem estrutura para recolhimento de águas pluviais (fonte: arquivo pessoal da

autora)

Esta canalização será importante para a implantação de uma cisterna, que irá fazer o

papel de reservar as águas pluviais, obtendo como beneficio o aproveitamento da água,

assim obtida, não apenas para o consumo (alimentação, limpeza), mas como também para

a irrigação. Com estudos mais aprofundados do local, podem-se sugerir tecnologias mais

avançadas, como a utilizada na edificação Kroon Hall, analisada no capítulo IV, que utilizou

plantas da região para limpar a água da chuva. Como sugestão, visando à economia de

água, podem ser utilizados nos banheiros produtos desenvolvidos para este objetivo, como

sensores controladores para as torneiras, bacias sanitárias com controle do fluxo de água

para descarga, entre outros produtos disponíveis no mercado.

Em relação à medida nº 7, observou-se que também não há na edificação e nem no

campus nenhuma tecnologia voltada para geração de energia alternativa. A única ação

existente é a utilização de lâmpadas fluorescentes compactas, conforme é possível verificar

na figura 72. Elas são mais econômicas comparadas com as lâmpadas incandescentes

comuns.

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Figura 72 – lâmpadas fluorescentes compactas, utilizadas em toda a edificação (fonte: arquivo

pessoal da autora)

As lâmpadas fluorescentes compactas apresentam as seguintes vantagens, quando

comparadas às incandescentes comuns: (i) consumo de energia 80% menor, resultando

uma drástica redução na conta de luz; (ii) durabilidade até 15 vezes maior, implicando uma

enorme redução nos custos de manutenção e reposição de lâmpadas; (iii) aquecem menos

o ambiente, representando uma forte redução na carga térmica das grandes instalações,

proporcionando conforto e sobrecarregando menos os sistemas de ar-condicionado; (iv)

excelente reprodução de cores, com índice de 85%, o que garante seu uso em locais onde a

fidelidade e a valorização dos espaços e produtos são fundamentais (MASCARÓ, 1992).

Porém, há outras estratégias existentes no mercado para colaborar com a economia

de energia e principalmente gerar energia alternativa. Tem-se, por exemplo, a possibilidade

de instalação de painéis fotovoltaicos para capturar a energia do sol. Devido à altura da

rampa, é possível observar os telhados da edificação e perceber que eles recebem altos

índices de raios solares diariamente, sendo, pois, um local ideal para a colocação deste

painéis.

Os painéis solares fotovoltaicos são dispositivos utilizados para converter a energia

da luz do sol em energia elétrica. Compostos por células solares, captam, em geral, a luz do

sol. Estas células são, por vezes, chamadas de células fotovoltaicas, ou seja, criam uma

diferença de potencial elétrico por ação da luz. As células solares contam com o efeito

fotovoltaico para absorver a energia do sol e fazem a corrente elétrica fruir entre duas

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camadas com cargas opostas. Atualmente, os custos associados aos painéis solares, que

são muito caros, tornam esta opção ainda pouco eficiente e rentável. O aumento do custo

dos combustíveis fósseis e a experiência adquirida na produção de célula solares, que tem

vindo a reduzir o custo das mesmas, indica que este tipo de energia será tendencialmente

mais utilizado (PALZ, 1981).

Além da geração de energia alternativa contribuindo com meio ambiente, com os

painéis instalados nestes telhados, poderiam ser ministradas aulas de conscientização

ambiental. Associadas com outras sugestões e exemplos presenciais de tecnologias

empregadas para a geração de energia, esta ação segue o mesmo princípio das Eco

Schools, citadas por Edwards (2008):

Eco Schools (escolas ecológicas), que promovem a aproximação dos

estudantes aos conceitos de eficiência, reciclagem e biodiversidade, com

base no próprio projeto arquitetônico das edificações dos centros de ensino

e da utilização do território que ocupam (EDWARDS, 2008, p. 32).

No caso da UNILIVRE, outras ações podem ser sugeridas, como o uso de sensores

de presença nas salas de aula e banheiros, melhorias na ventilação natural e no isolamento

térmico para poupar o uso de aparelhos de ar-condicionado. Conforme analisado no capítulo

4, no exemplo do Heimbold, onde a terra proporcionou um isolamento térmico eficiente para

as partes subterrâneas do edifício, pode-se sugerir como medida a implantação de sistemas

de refrigeração alternativos que não necessitassem apenas da energia elétrica.

No item ciclo de vida, ponderado na medida nº 9, verifica-se que esta edificação está

atendendo em relação aos materiais selecionados. Devido à utilização de madeira tratada, e

as fixações da estrutura serem com parafusos e porcas galvanizados, conforme figura 73, a

estrutura está preparada para ter uma vida útil de 30 a 50 anos e, conforme a manutenção,

estas metas podem aumentar. Observou-se, na visita de análise, que esta estrutura está em

perfeitas condições, tanto que, em 19 anos, foram feitas apenas trocas de algumas peças

de madeira que compõem o piso da rampa, devido ao acúmulo de limo gerado pela umidade

do local.

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Figura 73 – estrutura da edificação com pilares de madeira tratada fixados com sistema de porca e

parafuso galvanizados, como ação para um longo ciclo de vida da edificação (fonte: arquivo pessoal

da autora)

Porém, analisando o potencial de reutilização adaptativa do edifício, conforme

sugere esta medida, concluiu-se que as atividades são restritas, pois sua planta não é

flexível, limitando o seu uso para outras finalidades. Lembrando que o projeto sustentável

começa com o dimensionamento necessário às demandas atuais, prevendo adaptações

futuras, que neste caso, fazendo uma avaliação por observação, não seria possível.

Segundo Thackara (2008):

Uma grande contribuição para a sustentabilidade por uma organização

inteligente pode ser reutilizar os espaços existentes em vez de construir

novos (THACKARA, 2008, p.132).

Enfim, examinando a medida nº 10, nota-se que este item foi parcialmente

alcançado. Conforme citado no início deste capítulo, este projeto fez parte de um grande

processo de conscientização ambiental de toda a cidade de Curitiba, porém não evoluiu com

o tempo. Não acompanhou as novas tecnologias, tornando a edificação obsoleta e sua

contribuição ficou restrita a uma determinada época. Por isso, é extremamente importante

que o profissional tenha em mente que todas as soluções encontradas não são perfeitas,

sendo apenas uma tentativa de busca em direção a uma arquitetura mais sustentável. Com

o avanço tecnológico sempre surgirão novas soluções mais eficientes (YEANG,1999).

Em suma, não é o objetivo neste trabalho apontar erros ou falhas da UNILIVRE, mas

sim mostrar como aplicar este roteiro de avaliação sustentável em uma edificação existente.

De acordo com as informações anteriormente citadas, esta análise foi feita em edificação de

ensino porque a responsabilidade social destas instituições é de extrema relevância.

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Procurou-se mostrar a importância de análise de prédios existentes, por profissionais

capacitados, que possam apontar soluções de adaptação tecnicamente possíveis para

torná-los menos nocivos às questões ambientais.

Reforça-se não apenas a importância do planejamento e a intenção do projeto

sustentável pelos arquitetos, designs e engenheiros, mas também a importância do

comprometimento dos proprietários, diretores e gerenciadores destes prédios, que, por

serem instituições voltadas para a atividade de ensino, tem um papel fundamental na

disseminação do conhecimento ambiental. Salienta-se a importância dos mantenedores

destes prédios de estarem sempre atentos a novas tecnologias auxiliados por profissionais

devidamente capacitados.

Este roteiro é valido para todos os prédios, de todas as atividades a que são

destinados. Porém, conforme descrito no capítulo 1 os campi e principalmente as

edificações internas destinadas ao ensino têm uma grande responsabilidade perante a

sociedade, a fim de servirem de exemplo e incentivo para as soluções e estratégias de um

mundo mais consciente ambientalmente.

As medidas sugeridas e defendidas pela AAI estão completamente interligadas com

as soluções de design, arquitetura e engenharia adotadas pelos projetistas. Dessa forma,

essas informações foram organizadas neste trabalho e montou-se um roteiro com o objetivo

de orientar profissionais a identificar o grau de sustentabilidade de uma edificação, sendo

ela existente ou em projeto, para que estes planejadores, em conjunto com seus clientes,

possam concretizar um futuro mais sustentável.

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7 CONTRIBUIÇÕES

Este trabalho teve como objetivo específico desenvolver um roteiro de orientação pa-

ra avaliar o grau de sustentabilidade de prédios já existentes, podendo também auxiliar no

processo de desenvolvimento de projetos arquitetônicos de edificações de diversas ativida-

des. Nesse sentido, deve-se evidenciar que o desenvolvimento de estudos, tendo como te-

ma Instituições de Ensino, pode contribuir efetivamente para envolver todos os agentes da

comunidade acadêmica nas transformações sociais em direção à sustentabilidade. No de-

correr desse trabalho, foram, ainda, reforçados os conceitos apresentados, relacionando-os

com o papel da Universidade na formação de profissionais responsáveis e comprometidos

com estes processos.

A fundamentação teórica, referenciada nos capítulos 1 e 2, fornecem o lastro teórico

do trabalho, apresentando informações acerca da sustentabilidade econômica, social e am-

biental, bem como sua relação com a manutenção e construção dos Meios Ambientes Natu-

rais e Artificiais e com a Ecologia. São apresentadas, pois, estas características conceituais

e estruturais sobre edificações de ensino, enfatizando a arquitetura sustentável nos dias

atuais, descrevendo histórico, técnicas e materiais. Procurou-se, ainda, nesses capítulos,

perceber qual a influência do ambiente físico no processo de ensino nos cursos de Design e

Arquitetura, os quais se caracterizam por utilizar o processo criativo, assim como abordar as

metodologias de ensino desses cursos, a fim de que sejam compatíveis ao ambiente físico.

O capítulo 3 apresentou a metodologia empregada e os quadros criados para organi-

zar dados e informações recolhidas. No capítulo 4, concentram-se as análises das informa-

ções coletadas na pesquisa bibliográfica das edificações sustentáveis de ensino que foram

consideradas exemplares para sugestões técnicas nas futuras edificações a serem analisa-

das. O capítulo 5 apresentou a pesquisa realizada, sustentando e comprovando a necessi-

dade de uma maior interferência nas análises sustentáveis de edificações existentes, de-

monstrando a aplicação do roteiro sugerido e o organizado a partir das orientações do Insti-

tuto Americano de Arquitetos – AIA.

O capítulo 6, procurou apresentar um procedimento geral de atitude consciente e co-

erente por parte do arquiteto, amparado pelo planejamento sustentável do design arquitetô-

nico. São apresentados os meios para a condução de análise do projeto, a coleta de infor-

mações, sua organização e a apresentação de alternativas através de requisitos estabeleci-

dos e técnicas existentes. São expostos resultados e contribuições acerca de como o De-

sign Arquitetônico serve de agente de aplicação das técnicas sustentáveis, na forma de um

método projetual, utilizando-se parâmetros sustentáveis. A partir disso, pretendeu-se identi-

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ficar os momentos chave para o projetista interferir na edificação existente por parâmetros

ecológicos, assim como os instrumentos a serem utilizados neste trabalho.

Assim, com a apresentação de um modelo de atuação para as Instituições em maté-

ria de tecnologias sustentáveis, espera-se ter conseguido justificar, à escala global, que

existem motivos claros para investimentos das IE neste sentido. Esses motivos substanciam

desde diretrizes a modelos ou guias de atuação e práticas de sustentabilidade para implan-

tação do Design Arquitetônico.

A disseminação do conceito de sustentabilidade no campus poderá contribuir, ainda,

para a formação de uma consciência mais elevada, através de uma postura de como está

no mundo, pois pode evidenciar as bases da valorização da vida para as atuais e futuras

gerações. Conforme Fouto (2002), o papel das Instituições de Ensino Superior (IES) alcança

quatro níveis de intervenção: (i) educação dos tomadores de decisão para um futuro susten-

tável; (ii) investigações de soluções, paradigmas e valores para uma sociedade sustentável;

(iii) operação dos campi universitários como exemplos práticos de sustentabilidade à escala

local; (iv) coordenação e comunicação entre os níveis anteriores e a sociedade.

Duas vertentes se referem ao desenvolvimento sustentável nas IES: uma pedagógi-

ca, relativa ao ensino, com a inserção de temas ambientais nas disciplinas de graduação,

projetos de pesquisa e programas de extensão voltados ao desenvolvimento sustentável;

outra operacional, de estrutura física e administrativa, considerando planejamento dos campi

e seus edifícios. Além de seu currículo explícito, toda IES possui outro, implícito, que consis-

te em seus terrenos, edifícios e operações. (FOUTO, 2002)

Para o bom resultado destes objetivos, o edifício depende, portanto, das decisões do

projetista. Segundo Redig (1978):

O Designer é assim, um elemento componente de uma rede social mais

ampla, que compreende a produção, a distribuição, e o uso do Objeto. Tor-

na-se, portanto, inevitavelmente, comprometido com o Contexto Social para

o qual trabalha (com uma responsabilidade definida perante ele) (REDIG,

1978, p.57).

Este trabalho adotou como metodologia as questões relevantes analisadas nas me-

didas utilizadas pela Comissão do Meio Ambiente do Instituto Americano de Arquitetos –

COTE/AIA, com sede em Washington, DC. As dez medidas do Design Sustentável foram

desenvolvidas para fornecer orientações e critérios de avaliação a esse instituto e eleger os

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dez melhores projetos verdes no programa de premiação feito anualmente desde o ano de

1997.

Os domínios da sustentabilidade, apresentados nestas medidas, relacionam aspetos

espirituais, humanos, culturais e ambientais com seus padrões naturais e de fluxos. Tam-

bém estão presentes os aspectos econômicos com seus padrões financeiros, de capital e

social. O projeto sustentável é um processo colaborativo que envolve pensar ecologicamen-

te e estudar sistemas, relações e interações, a fim de contribuir com a forma e eliminar o

estresse de sistemas.

O processo de design sustentável, de forma holística e criativa, integra o uso da ter-

ra, da comunidade, da mobilidade urbana e da ecologia regional. Também estão relaciona-

dos aspectos da água local, da geração de energia, da luz e ar naturais, dos materiais dis-

poníveis no entorno imediato, do projeto bioclimático específico e de aspectos do ciclo de

vida de toda a edificação. Este processo considera também o incentivo ao aprendizado com

os resultados de um design sustentável verdadeiro, belo, humano, socialmente necessário e

restaurador.

Conforme Williams (2007), as medidas do COTE/AIA estão descritas e classificadas

da seguinte forma: (i) a 1ª medida está relacionada com a intenção do projeto sustentável;

(ii) a 2ª medida diz respeito à comunidade regional e conectividade; (iii) na 3ª medida é ana-

lisada a ecologia local de uso da terra; (iv) a 4ª medida refere-se ao projeto bioclimático; (v)

na 5ª medida é analisada as questões de luz e ar; (vi) a 6ª medida está relacionada com o

ciclo da água; (vii) na 7ª medida são analisados os fluxos e economia de energia; (viii) a 8ª

medida diz respeito aos materiais de construção; (ix) na 9ª medida avalia-se o ciclo de vida

da edificação; (x) e por fim, a 10ª medida está relacionada com as lições apreendidas duran-

te a obra e a ocupação do edifício (WILLIAMS, 2007, p.239).

Com análise das edificações Kroon Hall, Rinker Hall e Heimbold, que estão voltadas

para o ensino de cursos relacionados a estudos ambientais e cursos relacionados com artes

e design, observou-se que estas edificações resolvem os desafios ambientais com projetos

que integram a arquitetura, tecnologia e sistemas naturais. Fornecem contribuições positivas

para suas comunidades, melhorando o conforto dos usuários do edifício e reduzindo os im-

pactos ambientais através de estratégias, como a reutilização das atuais estruturas de co-

nexão dos sistemas de trânsito. Estes projetos também proporcionam o uso consciente e

racional da energia, da água e dos ventos, além de estimular o uso de estruturas naturais e

materiais locais (WILLIAMS, 2007, p.129).

As justificativas para adotar as diretrizes de projeto apresentadas para a edificação

da UNILIVRE também podem contribuir para o desenvolvimento de outros projetos de IES,

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promovendo a disseminação da construção sustentável no Brasil. A tecnologia criada local-

mente tem sempre sua vantagem de não ser necessária a busca de seu conhecimento e de

sua adaptação, porque esse processo se dá intrinsecamente, na criação tecnológica (RE-

DIG, 1978, p.79).

Vale lembrar que os projetos são sempre específicos para cada situação, sendo a

sua relação com o entorno e clima fatores decisivos, o que leva a conceber cada projeto

como único. O conceito de projeto é o mesmo, mas com soluções diferenciadas, específicas

para cada caso. Faz-se importante, ainda, envolver os usuários da edificação, promovendo

interação entre sujeito, objeto e ambiente. Neste caso, há a possibilidade também de envol-

ver estágios dirigidos aos estudantes dos cursos de graduação de Engenharia, Arquitetura e

Design. O saber só pode tornar-se vivo através da experiência pessoal. Por isso projeto e

processo de construção, prancheta e obra precisam estar profundamente ligados em todas

as fases do estudo (GROPIUS, 1977, p.94).

A disseminação do conceito de sustentabilidade no campus Universitário poderá con-

tribuir, ainda, para a formação de uma consciência mais elevada, através de uma postura de

como estar no mundo, pois pode evidenciar as bases da valorização da vida para as atuais

e futuras gerações (CASAGRANDE et al, 2008). Ainda com referência à sustentabilidade,

Edwards (2008) afirma:

A educação para o desenvolvimento sustentável não apenas envolve as es-

colas, as universidades e as profissões, mas também os clientes, os gover-

nos e as ONGS. Ainda existe um considerável desconhecimento acerca dos

impactos humanos sobre o meio ambiente. O envolvimento dos usuários na

fase de projeto ajuda a garantir que sejam levados em conta aspectos eco-

lógicos antes dos econômicos (EDWARDS, p.33, 2008)

O edifício verde representa um ícone da sustentabilidade através da semiótica, da

adição de novas tecnologias e de conceitos associados às práticas operacionais e educaci-

onais, tornando-se, ele próprio, ferramenta educacional. Os estudos a respeito do tema exi-

gem novos produtos, comportamentos e processos, bem como novas pesquisas e contribui-

ções para a formação de uma cultura sustentável. Por serem menos utilizadas, o emprego

de técnicas não poluentes pode, a primeira vista, parecer mais caro, porém torna-se mais

econômico com o uso, na medida em que se integra ao ciclo biológico natural do meio (RE-

DIG, 1978, p.69).

Portanto, a aplicação de conceitos sustentáveis prioriza a valorização da qualidade

de vida. Dessa forma, os resultados técnicos dependerão dos designers, arquitetos e enge-

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nheiros; o sucesso econômico estará condicionando aos empresários descobrirem que as

políticas, regulamentos, acordos voluntários e questões ambientais poderão ser utilizados

como estratégias competitivas em seus negócios. E à construção civil, caberá o papel de

indutora desse processo, revelando a sua face social e ambientalmente responsável, atra-

vés da “produção limpa” rumo ao desenvolvimento sustentável. Sendo assim, a compreen-

são disto é a primeira condição para o exercício de cidadania, pela harmonização das preo-

cupações socioeconômicas e ecológicas, visando à melhoria da qualidade de vida e ao au-

mento das oportunidades às futuras gerações.

Finalmente, a sustentabilidade presume uma mudança de comportamento gradual e

contínua, em que todas as oportunidades que se apresentam constituem-se em ações ex-

tremamente válidas para a educação com vistas ao desenvolvimento sustentável, dentre as

quais se incluem aquelas apresentas sinteticamente neste trabalho. Prevendo as possibili-

dades para trabalhos futuros, apresentam-se a seguir algumas sugestões de continuação

deste estudo:

Continuar o trabalho proposto, definindo entre as alternativas sugeridas uma que

apresente viabilidade, materializando a solução; Aplicar o método em edificações com outro

tipo de atividade, separando por tipo de problema ecológico apresentado; Estudar a viabili-

dade de aplicação deste método em escritórios de arquitetura, integrado ao processo de

trabalho; Verificar a implantação deste método em disciplinas de projeto nos cursos de De-

sign e Arquitetura, com o objetivo de utilizar a infraestrutura interna da Instituição; Estabele-

cer paralelo entre o método proposto e os demais métodos de EcoDesenho.

Reforçando o que foi mencionado anteriormente, Rogers (2001) assegura:

O remédio contra a ignorância é o ensino; contra a adaptação é a conscientização;

do ponto de vista Ecológico, todos os problemas estão interligados. O importante é começar

em algum lugar. Edifícios não são apenas mercadorias. Eles formam o pano de fundo de

nossa vida na cidade. Arquitetura é a arte à qual estamos expostos dia e noite. Ela amplia

ou reduz nossa vida porque cria os ambientes onde nossas experiências cotidianas aconte-

cem, sejam elas comuns ou originais. Não é surpresa que a arquitetura seja motivo de con-

trovérsias, nem que seja forma de arte mais abertamente criticada pelo público, com paixão

e entusiasmo. O papel de destaque desempenhado pela arquitetura exige atenção especial

do cidadão e isto requer que a sociedade seja informada e exigente em relação à qualidade

(ROGERS, 2001, p.68).

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