Pablo Stolze - Apostila de Dir

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    No devemos pedir a Deus fardos mais leves, mas ombros maisfortes (Santo Agostinho).

    PERSONALIDADE JURDICA

    Conceito: Lembra-nos Clvis Bevilqua que a personalidade para odireito no apenas um processo de atividade psquica, mas simuma criao social moldada pela ordem jurdica. Para o direito,a personalidade a aptido genrica para se titularizardireitos e contrair obrigaes na ordem jurdica, ou seja, aqualidade para ser sujeito de direito.

    Em que momento a pessoa fsica adquire personalidade jurdica?Em uma interpretao literal, luz do art. 2 do CC (1 parte),a personalidade civil adquirida a partir do nascimento comvida (resposta ideal para uma prova objetiva).

    Art. 2 o A personalidade civil da pessoa comea do nascimento comvida; mas a lei pe a salvo, desde a concepo, os direitos donascituro.

    OBS: Nascer com vida significa o funcionamento do aparelhocardiorrespiratrio do recm-nascido (ver resoluo n 1/88, doCNS).

    OBS: Diferentemente do art. 30 do CC da Espanha, o direito

    brasileiro , luz do princpio da dignidade humana, no exige dorecm-nascido forma humana nem tempo mnimo de sobrevida .

    Teorias explicativas do nascituro: Em princpio, so trsteorias explicativas do nascituro.

    1. Teoria natalista (majoritria a exemplo de Vicente Ro,Slvio Rodrigues e Eduardo Espnola): Para esta primeirateoria o nascituro apenas um ente concebido ainda nonascido, desprovido de personalidade. Vale dizer, onascituro no pessoa, gozando apenas mera expectativa de

    direitos.

    2. Teoria da personalidade condicional (Serpa Lopes): Paraesta segunda teoria, o nascituro, ao ser concebido, teriauma simples personalidade formal, permitindo-lhe gozar dedireitos personalssimos. No entanto, s viria a adquirirdireitos patrimoniais sob a condio de nascer com vida.

    3. Teoria concepcionista (Pablo Stolze, Teixeira de Freitas,Clvis Bevilqua, Silmara Chinelato): Essa terceira teoria a mais defendida pela corrente moderna. O nascituro

    seria considerado pessoa para efeitos patrimoniais ouextra-patrimoniais desde a concepo.

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    OBS: Com base na teoria concepcionista, inmeros direitos podemser reconhecidos ao nascituro , inclusive o direito aos alimentos(de carter patrimonial), alm do sagrado direito vida(personalssimo). Lamentavelmente, a maioria da jurisprudnciabrasileira ainda no adota esta teoria, no reconhecendo ao

    nascituro direito aos alimentos, dentre outros. Mas, j halgumas decises judiciais que homenageiam a teoriaconcepcionista.

    Tambm com base na teoria concepcionista, vale lembrar que o STJ j admitiu inclusive, no RESP 399028/SP, dano moral aonascituro .

    OBS: No podemos confundir nascituro, embrio e natimorto . Nascituro o ente concebido no ventre materno. O nascituro um

    embrio com vida intra-uterina, ou seja, o embrio produzido em

    laboratrio no nascituro, mas mero embrio . J o natimorto o nascido morto. O enunciado n 1 da 1 jornada de Direito Civilafirma que o natimorto goza de tutela jurdica no que tange aonome, imagem e sepultura.

    Qual das trs teorias adotada pelo CCB? Aparentemente,seguindo a linha de Clvis Bevilqua, o codificador, ao afirmarque a personalidade da pessoa comea do nascimento com vida,pretendeu abraar a teoria natalista, mas em inmeros pontos doprprio cdigo sofre inequvoca influncia da teoriaconcepcionista.

    CAPACIDADE CIVIL

    Conceito: Fundamentalmente, no direito, a capacidade se desdobraem capacidade de direito e capacidade de fato . A capacidade dedireito , segundo Orlando Gomes, confunde-se com o prprioconceito de personalidade, ou seja, a capacidade jurdicagenericamente reconhecida a qualquer pessoa . Ao lado dela, temosa capacidade de fato , que a capacidade de, pessoalmente,exercer os atos da vida civil ( a chamada capacidade deexerccio). A soma da capacidade de direito com a capacidade defato gera a chamada capacidade civil plena (que em geral adquirida aos 18 anos).

    OBS: No podemos confundir capacidade com legitimidade . A faltade legitimidade significa que, mesmo sendo capaz, a pessoa estimpedida por lei de praticar determinado ato (exemplo: os irmosno podem se casar, mesmo que capazes).

    Todo mundo tem capacidade de direito. A falta da capacidade defato gera a incapacidade civil , que pode ser absoluta ourelativa .

    Art. 3 o So absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os

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    atos da vida civil:

    I - os menores de dezesseis anos (menores impberes);

    II - os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiveremo necessrio discernimento para a prtica desses atos;

    III - os que, mesmo por causa transitria, no puderem exprimirsua vontade.

    Art. 4 o So incapazes, relativamente a certos atos, ou maneirade os exercer:

    I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (menorespberes);

    II - os brios habituais, os viciados em txicos, e os que, pordeficincia mental, tenham o discernimento reduzido;

    III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

    IV - os prdigos.

    Pargrafo nico. A capacidade dos ndios ser regulada porlegislao especial.

    Consideraes importantes acerca das incapacidades (absoluta e

    relativa):O absolutamente incapaz dever ser interditado ( procedimentojudicial) e dever-se- nomear-lhe um curador .

    OBS: O ato praticado por uma pessoa portadora de enfermidade oudeficincia mental e desprovida de discernimento ainda nointerditada pode ser invalidado? Com base na doutrina italiana,Orlando Gomes afirma que o ato praticado pelo incapaz ainda nointerditado pode ser invalidado, desde que concorram trsrequisitos:

    1. A incapacidade de discernimento;

    2. O prejuzo ao incapaz;

    3. A m-f da outra parte (que pode ser presumida dascircunstncias do negcio).

    O art. 503 do cdigo da Frana, na mesma linha, admite que osatos anteriores interdio possam ser invalidados se aincapacidade j existia.

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    OBS: No campo da proteo do incapaz, aplicvel o benefcio derestituio ( restitutio in integrum )? Trata-se, segundo ClvisBevilqua, do benefcio reconhecido ao incapaz para permitir queele possa anular qualquer ato que lhe seja prejudicial. Essebenefcio continua proibido em respeito boa-f e segurana

    dos negcios. Mas, caso exista conflito de interesses entre orepresentante e o incapaz, pode-se invocar o art. 119 do CCB.

    Art. 119. anulvel o negcio concludo pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era oudevia ser do conhecimento de quem com aquele tratou .

    Pargrafo nico. de cento e oitenta dias, a contar daconcluso do negcio ou da cessao da incapacidade, o prazo dedecadncia para pleitear-se a anulao prevista neste artigo.

    EMANCIPAO

    a cessao da incapacidade do menor antes do momento oportuno.Permite a antecipao da capacidade plena . Ter repercussescivis , ou seja, no pode responder penalmente eadministrativamente. O emancipado tambm no pode tirar carteirade habilitao.

    Existem trs tipos de emancipao: voluntria, judicial oulegal.

    Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando apessoa fica habilitada prtica de todos os atos da vidacivil.

    Pargrafo nico. Cessar, para os menores, a incapacidade:

    I - pela concesso dos pais, ou de um deles na falta do outro,mediante instrumento pblico, independentemente de homologaojudicial, ou por sentena do juiz, ouvido o tutor, se o menortiver dezesseis anos completos;

    II - pelo casamento;III - pelo exerccio de emprego pblico efetivo;

    IV - pela colao de grau em curso de ensino superior;

    V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existnciade relao de emprego, desde que, em funo deles, o menor comdezesseis anos completos tenha economia prpria.

    1) Voluntria ( art. 5, I, 1 parte, CC ) ato concedidopelos pais (ou um deles, na falta do outro), mediante

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    escritura pblica . irrevogvel e independe dehomologao do juiz . S possvel se o menor tiver, pelomenos, 16 anos completos. A doutrina brasileira nosentido de que, em respeito vtima, a emancipaorealizada pelos pais no os isenta de uma futura

    responsabilidade civil por ato ilcito causado pelo filhoemancipado os pais permanecem responsveis pelos atosque o menor emancipado praticar at os 18 anos de idade. Aresponsabilidade solidria. Caio Mrio diz que a vontadeno pode sobrepor-se lei.

    2) Judicial ( art. 5, I, 2 parte, CC) a concedida porsentena em procedimento de jurisdio voluntria,ouvindo-se o tutor, desde que o menor tenha 16 anoscompletos. O juiz ouve a opinio do tutor e concede aemancipao em geral, concedida a rfos ou cujos paisestejam destitudos do poder familiar. E os pais ausentes?Tem que ter pelo menos 16 anos completos. O juiz analisa ocaso concreto para saber se tem condies de seremancipado.

    3) Legal ( art. 5, II a V, CC ) Hipteses mais cobradas emprova! No necessrio sentena, a emancipao decorre dalei. Por questo de segurana jurdica pode entrar comao declaratria, inclusive pedindo tutela antecipada.Hipteses:

    Casamento pode aos 16 anos de idade. Veja que a lei nodiz unio estvel. O menor adquire capacidade plena. Aseparao e o divrcio, por terem efeitos para o futuro,no prejudicam a emancipao decorrente do casamento. OBS:o art. 1520 admite o casamento abaixo dos 16 anos.

    Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podemcasar, exigindo-se autorizao de ambos os pais, ou deseus representantes legais, enquanto no atingida amaioridade civil.

    Art. 1.520. Excepcionalmente, ser permitido o casamentode quem ainda no alcanou a idade nbil (art. 1517), paraevitar imposio ou cumprimento de pena criminal ou emcaso de gravidez.

    OBS: Invalidado o casamento, a emancipao mantida? forte a doutrina no Brasil (a exemplo de Pontes de Miranda)no sentido de que a sentena que invalidada o casamento temeficcia retroativa, com o condo de cancelar o registromatrimonial. Assim, lgico concluir que a emancipao

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    perder a eficcia, ressalvada a hiptese do casamentoputativo.

    Exerccio de emprego pblico efetivo (emprego pblico oucargo pblico) No tem idade mnima para o CC,

    entretanto o estatuto do servidor diz que a idade de 18anos. No vale cargo em comisso. A hiptese deemancipao legal, por exerccio de emprego ou cargopblico efetivo de difcil ocorrncia, podendo seapontar como exemplo a assuno de funo pblica emcarreira militar h carreiras militares que comeam aos17 anos de idade, incidindo nessa hiptese.

    Colao de grau em curso de ensino superior Cuidado!Aprovao no vestibular no emancipa. No importa a idade.

    Estabelecimento civil (realiza uma atividade tcnica,artstica, intelectual. Ex. dar aulas de violo, arteso,prestar servio) ou estabelecimento comercial(empresarial. Ex.: compra e revenda de gado, quitanda) ouexistncia de relao de emprego (Novidade. provado combase na CTPS) DESQUE QUE, em funo deles, o menor tenhaeconomia prpria desde que ele tiver 16 anos completos eeconomia prpria (conceito aberto/indeterminado que seranalisado pelo juiz ver Box abaixo princpio daoperabilidade). Preenchido no caso concreto no h

    conceito estabelecido. Ex: Se o menor de 17 anos, pobre,que trabalha numa loja no shopping, est emancipado porfora de lei. Agora, se o mesmo caso, o menor for de umafamlia rica, no poder se sustentar com o salrio queganha ento no ser emancipado. Vale acrescentar que, luz do princpio da segurana jurdica , caso um menoremancipado seja demitido, ele no deve retornar situaode incapacidade.

    OBS: PRINCPIOS DO CDIGO CIVIL BRASILEIRO:

    1) Princpio da eticidade o cdigo civil se preocupa comvalores ticos. Ex.: boa-f objetiva.

    2) Princpio da socialidade o CC se preocupa com a funosocial.

    3) Princpio da operabilidade o CC consagrou um sistema abertode normas com conceitos indeterminados e clusulas gerais aserem construdos ou complementados pelo juiz no caso concreto .

    OBS: para concurso de Procurador Federal no RGPS h um detalhe

    estranho O emancipado, nos termos do art. 16, I da L. 8213/91,no tem direito ao benefcio previdencirio.

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    No podemos olvidar que a emancipao no antecipa aimputabilidade penal, que s advm aos 18 anos. Prova: MAS O

    MENOR EMANCIPADO PODER SER PRESO CIVILMENTE!

    OBS: Repercusso jurdica da reduo da maioridade civil :

    A doutrina penalista (Marcus Viveiros Dias e Luiz Flvio Gomes)sustenta que os benefcios penais em favor do ru entre 18 e 21anos continuam em vigor, luz do princpio de individualizaoda pena.

    Os atos processuais praticados por pessoa maior de 18 anos noexigem mais assistncia.

    No campo previdencirio , com a reduo da maioridade, oenunciado 03 da 1 Jornada de D. Civil e nota 42/03 da CasaCivil do governo federal, determinam que os benefciosprevidencirios devem acompanhar o limite etrio da leiprevidenciria, e no do Cdigo Civil. Ento ser at os 21 anosde idade. No mbito do direito da infncia e da juventudeprevalece a orientao de que, em havendo conflito com o CCprepondera o ECA (STJ). Art. 121, 5, ECA (no foi revogadopelo CC).

    No direito de famlia , o STJ j pacificou (ver informativo 232 STJ e acrdos constantes do material de apoio no sentido de quea reduo da maioridade civil no implica cancelamento

    automtico da penso alimentcia. A justia brasileira prev quevai at o fim da faculdade). A penso alimentcia deve continuara ser paga at o trmino da faculdade em regra aos 24 anos.

    Prosseguindo o julgamento, a Seo, por maioria, proveu orecurso, entendendo que, com a maioridade do filho, a pensoalimentcia no pode cessar automaticamente. O pai ter de fazer o procedimento judicial para exonerar-se ou no da obrigao dedar penso ao filho. Explicitou-se que completar a maioridade de18 anos no significa que o filho no ir depender do pai.

    OBS: o STJ tem reafirmado o entendimento de que o MinistrioPblico no tem legitimidade para interpor recurso da decisoque exonerou o devedor de alimentos por conta da maioridade docredor (RESP 982410 DF 2007).

    OBS: eu me tornei maior de 18 anos no primeiro instante do diado aniversrio (segundo Washington de Barros Monteiro. Trata-sede entendimento pacificado).

    Extino da pessoa fsica ou natural / morte presumida / mortesimultnea (ou comorincia)

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    Morte:

    Morte : Tradicionalmente, a extino da pessoa fsica opera-se emvirtude da parada total do aparelho cardiorrespiratrio. Noentanto, a comunidade cientfica mundial, assim como o Conselho

    Federal de Medicina tem afirmado que o marco mais seguro para seaferir a extino da pessoa fsica a morte enceflica ,inclusive, para efeito de transplante. Isso porque a morteenceflica irreversvel. Resoluo 1480/97 Conselho Federalde Medicina. OBS.: Em medicina legal, quem estuda a morte atanatologia. OBS.2: A morte deve ser declarada por profissionalda medicina, admitindo-se, na ausncia deste, nos termos da lei6015/73 (L. de registros pblicos), a declarao de bito possaser feita por duas testemunhas. Ento, excepcionalmente, nohavendo declarao mdica, ela poder ser feita por duastestemunhas.

    Art. 6 o A existncia da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei

    autoriza a abertura de sucesso definitiva .

    Morte presumida: pode se dar em duas situaes: ausncia ou nashipteses do art. 7, CC . Em relao ao instituto da ausncia, oprofessor falou que no vale a pena estudar pela doutrina, poisest tudo na lei.

    CAPTULO IIIDA AUSNCIA

    Seo IDa Curadoria dos Bens do Ausente

    Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domiclio sem delahaver notcia, se no houver deixado representante ouprocurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, arequerimento de qualquer interessado ou do Ministrio Pblico,declarar a ausncia, e nomear-lhe- curador.

    Art. 23. Tambm se declarar a ausncia, e se nomear curador,quando o ausente deixar mandatrio que no queira ou no possaexercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes foreminsuficientes.

    Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe- os poderes eobrigaes, conforme as circunstncias, observando, no que foraplicvel, o disposto a respeito dos tutores e curadores.

    Art. 25. O cnjuge do ausente, sempre que no esteja separadojudicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da

    declarao da ausncia, ser o seu legtimo curador.

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    1 o Em falta do cnjuge, a curadoria dos bens do ausenteincumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, no havendoimpedimento que os iniba de exercer o cargo.

    2 o Entre os descendentes, os mais prximos precedem os mais

    remotos. 3 o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolhado curador.

    Seo IIDa Sucesso Provisria

    Art. 26. Decorrido um ano da arrecadao dos bens do ausente,ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passandotrs anos, podero os interessados requerer que se declare aausncia e se abra provisoriamente a sucesso.

    Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente seconsideram interessados:

    I - o cnjuge no separado judicialmente;

    II - os herdeiros presumidos, legtimos ou testamentrios;

    III - os que tiverem sobre os bens do ausente direitodependente de sua morte;

    IV - os credores de obrigaes vencidas e no pagas.

    Art. 28. A sentena que determinar a abertura da sucessoprovisria s produzir efeito cento e oitenta dias depois depublicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado,proceder-se- abertura do testamento, se houver, e aoinventrio e partilha dos bens, como se o ausente fossefalecido.

    1 o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e no havendointeressados na sucesso provisria, cumpre ao MinistrioPblico requer-la ao juzo competente.

    2 o No comparecendo herdeiro ou interessado para requerer oinventrio at trinta dias depois de passar em julgado asentena que mandar abrir a sucesso provisria, proceder-se- arrecadao dos bens do ausente pela forma estabelecida nosarts. 1.819 a 1.823.

    Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente,ordenar a converso dos bens mveis, sujeitos a deterioraoou a extravio, em imveis ou em ttulos garantidos pela Unio.

    Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens doausente, daro garantias da restituio deles, mediante

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    penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhes respectivos.

    1 o Aquele que tiver direito posse provisria, mas no puderprestar a garantia exigida neste artigo, ser excludo,mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administrao do

    curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que presteessa garantia.

    2 o Os ascendentes, os descendentes e o cnjuge, uma vezprovada a sua qualidade de herdeiros, podero,independentemente de garantia, entrar na posse dos bens doausente.

    Art. 31. Os imveis do ausente s se podero alienar, no sendopor desapropriao, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, paralhes evitar a runa.

    Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisrios ficarorepresentando ativa e passivamente o ausente, de modo quecontra eles correro as aes pendentes e as que de futuroquele forem movidas.

    Art. 33. O descendente, ascendente ou cnjuge que for sucessorprovisrio do ausente, far seus todos os frutos e rendimentosdos bens que a este couberem; os outros sucessores, porm,devero capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundoo disposto no art. 29, de acordo com o representante do

    Ministrio Pblico, e prestar anualmente contas ao juizcompetente.

    Pargrafo nico. Se o ausente aparecer, e ficar provado que aausncia foi voluntria e injustificada, perder ele, em favordo sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.

    Art. 34. O excludo, segundo o art. 30, da posse provisriapoder, justificando falta de meios, requerer lhe seja entreguemetade dos rendimentos do quinho que lhe tocaria.

    Art. 35. Se durante a posse provisria se provar a poca exatado falecimento do ausente, considerar-se-, nessa data, abertaa sucesso em favor dos herdeiros, que o eram quele tempo.

    Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existncia,depois de estabelecida a posse provisria, cessaro para logoas vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia,obrigados a tomar as medidas assecuratrias precisas, at aentrega dos bens a seu dono.

    Seo IIIDa Sucesso Definitiva

    Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentena que

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    concede a abertura da sucesso provisria, podero osinteressados requerer a sucesso definitiva e o levantamentodas caues prestadas.

    Art. 38. Pode-se requerer a sucesso definitiva, tambm,

    provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que decinco datam as ltimas notcias dele.

    Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes abertura da sucesso definitiva, ou algum de seus descendentesou ascendentes, aquele ou estes havero s os bens existentesno estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou opreo que os herdeiros e demais interessados houverem recebidopelos bens alienados depois daquele tempo.

    Pargrafo nico. Se, nos dez anos a que se refere este artigo,

    o ausente no regressar, e nenhum interessado promover asucesso definitiva, os bens arrecadados passaro ao domnio doMunicpio ou do Distrito Federal, se localizados nasrespectivas circunscries, incorporando-se ao domnio daUnio, quando situados em territrio federal.

    Art. 7 o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretao deausncia :

    I - se for extremamente provvel a morte de quem estava emperigo de vida ;

    II - se algum, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro,no for encontrado at dois anos aps o trmino da guerra .

    Pargrafo nico. A declarao da morte presumida, nesses casos,somente poder ser requerida depois de esgotadas as buscas eaveriguaes, devendo a sentena fixar a data provvel dofalecimento .

    Ausncia : um procedimento. Foi tratada pelo legislador como

    situao de morte presumida, a partir do momento em que abertaa sucesso definitiva dos bens do ausente (ver apostila nomaterial de apoio). O sujeito desaparece do domiclio sem deixarparadeiro, sem deixar procurador. registrada em livro prprio(e no no registro de bito). A ausncia tem duas fases:

    1) Provisria provisoriamente transmitida ao herdeiro;

    2) Permanente abre-se a sucesso definitiva dos bens doausente.

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    Pela lei brasileira ( art. 6, CC ) no momento em que se abre asucesso definitiva do ausente, ele considerado presumidamentemorto.

    OBS: Na forma do 1, art. 1.571, CC , aberta a sucesso

    definitiva e considerado morto o ausente, resulta rompido ovnculo matrimonial (viva presumida ou vivo presumido).

    OBS: Mesmo a ausncia sendo uma morte presumida, o registro daausncia feito no livro de ausentes, no no de bito.

    Existem hipteses de morte presumida que no se confundem com aausncia e esto prevista no art. 7, CC .

    Depois de cessada as buscas, o juiz comea o procedimento dejustificao. Esse procedimento ocorre nas hipteses do art. 7.O juiz declara o bito e fixa a data do falecimento. Estasentena no de ausncia; de declarao de bito.

    O juiz competente deve ser Estadual, pois se refere ao status dapessoa.

    Art. 7 o PODE SER DECLARADA A MORTE PRESUMIDA, SEM DECRETAO DE AUSNCIA :

    I - se for extremamente provvel a morte de quem estava em perigo de vida;

    II - se algum, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, no for encontrado at 2 anos aps o trmino da

    guerra .

    Pargrafo nico. A declarao da morte presumida, nesses casos,somente poder ser requerida depois de esgotadas as buscas eaveriguaes, devendo a sentena fixar a data provvel dofalecimento.

    PROVA: ESSA SENTENA REGISTRADA NO LIVRO DE BITO, pois no ausncia .

    Comorincia:

    Art. 8 o Se dois ou mais indivduos falecerem na mesma ocasio,no se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aosoutros, PRESUMIR-SE-O SIMULTANEAMENTE MORTOS .

    uma situao de morte simultnea. Traduz a situao em queduas ou mais pessoas falecem na mesma ocasio, sem que se possaindicar a ordem cronolgica das mortes. Art. 8, CC.

    O art. 8, CC, na mesma linha dos cdigos do Chile e daArgentina, consagra a regra segundo a qual no se podendo

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    averiguar a ordem cronolgica das mortes, os comorientespresumem-se mortos ao mesmo tempo, de maneira que um comorienteno herda do outro, abrindo-se cadeias sucessrias autnomas edistintas. Na prtica significa dizer que se os comorientesmorreram ao mesmo tempo abrem-se cadeias sucessrias distintas,

    um no herda do outro. A sua parte vai para seus herdeiros, nopara o cnjuge.

    Caso: Joo casado com Maria sob o regime de comunho parcialde bens e sofreram acidente de carro em que ambos os corposforam carbonizados, no se podendo dizer quem morreu primeiro.Nesse caso, aplica-se o art. 8.

    OBS: em tese, os comorientes podem estar em locais distintos.Mas de difcil ocorrncia.

    PESSOA JURDICA chamada de ente de existncia ideal por alguns. Nasce para odireito sob a influncia da sociologia, pois nasceu comodecorrncia do fato associativo.

    Conceito: ente que recebeu da lei personalidade para fazer o que compatvel com a funo de pessoa jurdica. Grupo humano

    personificado pelo direito, visando atingir finalidades comuns.A Pessoa jurdica um sujeito de direito (Kelsen pessoajurdica centro de imputao).

    Requisitos para constituio de pessoa jurdica:

    a) Vontade;

    b) Ato constitutivo documento escrito (contrato social,estatuto...);

    c) Registro: sociedade de advogados OAB; sociedadeempresria junta comercial; sociedade simples, fundaoe associao cartrio de registro de pessoa jurdica;

    d) Objeto lcito: requisito de validade.

    Classificao quanto atuao:

    a) Pessoas jurdicas de direito pblico:

    Externo (Organizaes internacionais, Pases)

    Interno (Entes polticos, Autarquias, fundaes pblicas,Agncias reguladoras, Associaes pblicas associaesformadas por entes polticos para a gesto associada deservios pblicos. Ela faz a gesto de servio e no aexecuo dele).

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    b) Pessoas jurdicas de direito privado:

    Sociedades pessoas jurdicas com objetivo de lucro.Entram as sociedades criadas pelo Estado (sociedade deeconomia mista e empresas pblicas) e as no criadas pelo

    Estado. Associaes constitudas de pessoas que se renem para

    realizao de fins no econmicos.

    Fundaes

    Partidos polticos

    Organizaes religiosas autnomas. A lei no diz comoser regida a situao delas.

    Consrcios pblicos de direito privado so pessoasjurdicas formadas pela reunio de entes polticos para agesto de servios que possa ser realizada por pessoas dedireito privado.

    Teorias explicativas da pessoa jurdica (Prova dissertativa):

    1) Teoria negativista negava a pessoa jurdica como sujeitode direito, negava a sua existncia. Ihering , Brinz,Bekker, Planiol, Duguit, etc. Primeiro argumento: A pessoa

    jurdica apenas um patrimnio afetado a uma finalidade.Segundo argumento: a pessoa jurdica apenas umpatrimnio coletivo, um condomnio. ltimo argumento emais utilizado: pessoa jurdica um grupo de pessoasfsicas reunidas. Teoria que no vingou;

    2) Teoria afirmativista reconhece a existncia da pessoajurdica. Possui trs correntes (o que tm de comum aceitar a pessoa jurdica):

    Teoria da fico Savigny . A pessoa jurdica no teria

    existncia social, de maneira que seria um produto datcnica jurdica a pessoa jurdica seria uma abstrao,sem realidade social. Essa teoria tem proximidade com ateoria institucionalista (D. Constitucional). A pessoajurdica tem existncia meramente ideal (abstrata). Elaexiste, mas uma criao do direito. No tem atuao narealidade Esse argumento considerado pelos defensoresdas prximas teorias como sendo a falha do pensamento deSavigny.

    Teoria da realidade objetiva ou organicista Augustocomte, Clvis Bevilqua, Cunha Gonalves, etc.Influenciado pelo organicismo sociolgico, contrariamente,

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    afirmavam a PJ teria existncia social consistindo em umorganismo vivo na sociedade. A pessoa jurdica teria umaatuao social real, ou seja, defendia-se que a pessoajurdica seria uma clula ou um organismo social vivo nasociedade.

    Teoria da realidade tcnica Ferrara; Sabilles etc.Equilibra as duas teorias anteriores. Observa o que cadauma das anteriores tem de melhor. Afirma que a pessoajurdica, embora personificada pelo direito, tem atuaosocial. Reconhece a atuao social da pessoa jurdica,admitindo ainda que a sua personalidade fruto da tcnicajurdica. a que melhor explica a pessoa jurdica e o CCbrasileiro, no art. 45, adotou essa tcnica.

    Art. 45. Comea a existncia legal das pessoas jurdicas dedireito privado com a inscrio do ato constitutivo no respectivo registro , precedida, quando necessrio, deautorizao ou aprovao do Poder Executivo, averbando-se noregistro todas as alteraes por que passar o ato constitutivo.

    Pargrafo nico. Decai em trs anos o direito de anular aconstituio das pessoas jurdicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicao de suainscrio no registro.

    Aquisio da personalidade jurdica da pessoa jurdica:

    Art. 45, CC comea com o registro. O registro da pessoajurdica ato constitutivo (no declaratrio) da personalidadejurdica. J o registro da pessoa fsica declaratrio.

    Caio Mrio: por isso que as sociedades sem registro no tmpersonalidade jurdica. Para algumas pessoas jurdicas, alm doregistro, exige-se autorizao especial do poder executivo paraexistirem (ex: bancos). A falta dessa autorizao gera a

    inexistncia da pessoa jurdica.

    OBS: A falta do registro pblico do ato constitutivo caracterizao ente como sociedade despersonificada/irregular/de fato.Considerando-se que o registro da pessoa jurdica constitutivoda sua personalidade, as entidades desprovidas de registro soconsideradas irregulares, tratando-as o CC, a partir do art.986 , como sociedade despersonificada (eram chamadas no cdigoantigo de sociedade de fato ou irregulares). Nos termos do art.990 do CC , estas sociedades despersonificadas permitem que seusscios ou administradores possam ser pessoalmente responsveispelos dbitos sociais RESPONDEM OS SCIOS ILIMITADAMENTE eisos perigos da sociedade despersonificada. Vale lembrar, nos

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    termos do art. 12 do CPC, que tambm no so pessoas jurdicas,mas apenas entes despersonificados, com capacidade processual, ocondomnio, o esplio, a massa falida e a herana jacente.

    Ex: Uma sociedade, desprovida de registro, funcionou por oito

    anos. A partir da, os scios registraram-na. Os efeitos doregistro de uma pessoa jurdica so sempre para o futuro, ouseja, ex nunc . No se pode retroagir, legitimar o passado.

    Art. 12. Sero representados em juzo , ativa e passivamente:

    I - a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Territrios, por seus procuradores;

    II - o Municpio, por seu Prefeito ou procurador ;

    III - a massa falida, pelo sndico;

    IV - a herana jacente ou vacante, por seu curador;

    V - o esplio, pelo inventariante;

    VI - as pessoas jurdicas, por quem os respectivos estatutosdesignarem, ou, no os designando, por seus diretores;

    VII - as sociedades sem personalidade jurdica, pela pessoa aquem couber a administrao dos seus bens;

    VIII - a pessoa jurdica estrangeira, pelo gerente,representante ou administrador de sua filial, agncia ousucursal aberta ou instalada no Brasil (art. 88, pargrafonico);

    IX - o condomnio, pelo administrador ou pelo sndico.

    Ato constitutivo de uma pessoa jurdica pode ser ou contratosocial ou estatuto .

    O registro do ato constitutivo da pessoa jurdica, em geral, realizado (feito) na junta comercial ou no cartrio de registro

    de pessoa jurdica (CRPJ).

    Em algumas situaes a pessoa jurdica tem que ser autorizadapelo poder executivo. Ex: Banco.

    OBS: O que so os grupos despersonificados ou grupos de personificao anmala? Art. 12, CPC . No so pessoas jurdicas,

    mas tm capacidade processual. Ex: Sociedade irregular, massafalida, esplio, condomnio, etc.

    OBS: Questo de prova Pessoa jurdica pode sofrer dano moral?

    Sim, pacfico. Todavia, o examinador queria saber osargumentos contrrios a essa tese. Vejamos as correntes:

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    1) Pessoa jurdica pode sofrer dano moral (majoritria):smula 227 do STJ e art. 52 do CC. A pessoa jurdica temhonra objetiva, logo, pode sofrer dano moral.

    2) Arruda Alvim e Enunciado 286 da quarta jornada de direito

    civil.Portanto, a corrente predominante, baseada na Smula 227 STJ eno art. 52, CC , admite a possibilidade de a pessoa jurdicasofrer dano moral. Tem honra objetiva imagem. No tem honrasubjetiva. A corrente minoritria (Arruda Alvim) baseada noEnunciado 286 da 4 Jornada de direito Civil no aceita aresponsabilidade por dano moral. O argumento utilizado que sea pessoa jurdica for denegrida perante a sociedade, porexemplo, s se prejudicar financeiramente (aspectopatrimonial). E dano moral = leso a direito da personalidade.

    Quais so as espcies de pessoa jurdica de direito privado? Ascontidas no art. 44, CC (rol no exaustivo):

    1) As associaes;

    2) As sociedades;

    3) As fundaes;

    4) As organizaes religiosas. Ex: Centro Esprita, igrejaevanglica etc.

    5) Os partidos polticos.

    Os dois ltimos so espcies de associaes, por isso, no cdigoantigo no estavam especificados. Foram acrescentados no art.44, do NCC, pois visava a permitir em seguida a alterao doart. 2031, NCC , para excluir essas entidades da obrigao de seadaptarem ao NCC.

    Se as trs primeiras no se adaptarem ao novo cdigo asconseqncias sero as seguintes:

    a) So proibidas de participarem de licitaes;

    b) So proibidas de obterem linha de crdito;

    c) Tornam-se sociedades irregulares (sem personalidadejurdica. Os scios passam a ter responsabilidadepessoal).

    Associaes

    Conceito : As associaes so pessoas jurdicas de direito

    privado formadas pela unio de indivduos com o propsito de

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    realizarem fins no econmicos ou finalidade ideal. Associaono pode ter finalidade econmica.

    Art. 53. Constituem-se as associaes pela unio de pessoas quese organizem para fins no econmicos.

    Pargrafo nico. No h, entre os associados, direitos eobrigaes recprocos.

    Ex: um clube recreativo (iate clube).

    OBS: Sindicado tem natureza de associao. Parte da doutrina(Pablo Stolze) defende que no cabe mandado de segurana contraato de dirigente de sindicato.

    OBS: Uma associao pode gerar receita , mas essa receita

    revestida nela mesma (a finalidade da associao ideal, e nolucrativa).

    O ato constitutivo de uma associao o seu estatuto .

    Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associaesconter:

    I - a denominao, os fins e a sede da associao;

    II - os requisitos para a admisso, demisso e excluso dosassociados;

    III - os direitos e deveres dos associados;

    IV - as fontes de recursos para sua manuteno;

    V o modo de constituio e de funcionamento dos rgosdeliberativos;

    VI - as condies para a alterao das disposies estatutriase para a dissoluo.

    VII a forma de gesto administrativa e de aprovao dasrespectivas contas.

    O rgo mximo de uma associao no o diretor-presidente. a Assemblia Geral . A competncia / as atribuies da Assemblia

    Geral de associados encontra-se no art. 59 do CC:

    Art. 59. Compete privativamente assemblia geral:

    I destituir os administradores;

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    II alterar o estatuto.

    Pargrafo nico. Para as deliberaes a que se referem osincisos I e II deste artigo exigido deliberao da assembliaespecialmente convocada para esse fim, cujo quorum ser oestabelecido no estatuto, bem como os critrios de eleio dosadministradores.

    OBS: Vale lembrar que possvel a existncia de categoriasdiferenciadas de associados, mas dentro de cada categoria osassociados no podem ser discriminados entre si (art. 55 CC).

    Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas oestatuto poder instituir categorias com vantagens especiais.

    OBS: Qual o destino do patrimnio de uma associao extinta?Nos termos do art. 61 CC, regra geral, dissolvida a associaodo seu patrimnio, ser atribudo a entidades de fins noeconmicos designadas no estatuto, ou, omisso este, seratribudo a instituio municipal, estadual ou federal de finsiguais ou semelhantes.

    Art. 61. Dissolvida a associao, o remanescente do seupatrimnio lquido, depois de deduzidas, se for o caso, as

    quotas ou fraes ideais referidas no pargrafo nico do art.56, ser destinado entidade de fins no econmicos designadano estatuto, ou, omisso este, por deliberao dos associados, instituio municipal, estadual ou federal, de fins idnticosou semelhantes.

    1 o Por clusula do estatuto ou, no seu silncio, pordeliberao dos associados, podem estes, antes da destinao doremanescente referida neste artigo, receber em restituio,atualizado o respectivo valor, as contribuies que tiveremprestado ao patrimnio da associao.

    2 o No existindo no Municpio, no Estado, no Distrito Federalou no Territrio, em que a associao tiver sede, instituionas condies indicadas neste artigo, o que remanescer do seupatrimnio se devolver Fazenda do Estado, do DistritoFederal ou da Unio.

    O NCC admite a excluso / a expulso do associado, nos termos doart. 57 CC:

    Art. 57. A excluso do associado s admissvel havendo justacausa (conceito aberto), assim reconhecida em procedimento queassegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos

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    no estatuto (devido processo legal privado eficciahorizontal dos direitos fundamentais).

    OBS: No se aplica o art. 57 a condmino !

    OBS: No Brasil ainda prevalece a tese segundo a qual o art.57,POR CUIDAR DE ASSOCIAES, no deve ser aplicado para expulsode condmino anti-social, para o qual prevista sanoespecfica no pargrafo nico do art. 1.337 CC/02; nestesentido, j decidiu o TJSP, julgando a apelao cvel668403.4/6. Deste modo, geraria uma desapropriao privada. Mas cabvel aplicao de multa inclusive de carter geomtrico.Parcela da Doutrina, toda via, invocando o principio da funosocial e a teoria do abuso de direito, comea a ganhar foradefendendo a excluso do condmino, via ao judicial prpria(entendimento minoritrio).

    Enunciado 508 da V jornada de direito civil:

    Verificando-se que a sano pecuniria mostrou-se ineficaz, a garantiafundamental da funo social da propriedade (arts. 5, XXIII, da CRFB e 1.228, 1, do CC) e a vedao ao abuso do direito (arts. 187 e 1.228, 2, do CC)

    justificam a excluso do condmino antissocial, desde que a ulterior assembleia prevista na parte final do pargrafo nico do art. 1.337 do Cdigo Civil deliberea propositura de ao judicial com esse fim, asseguradas todas as garantiasinerentes ao devido processo legal.

    Fundaes (de direito privado)

    As ONGs (chamado terceiro setor) organizam-se no Brasil ou comoassociao ou como fundao.

    As fundaes, assim como as associaes, tm finalidade ideal ouno lucrativa (art. 62 CC).

    Art. 62. Para criar uma fundao, o seu instituidor far, porescritura pblica ou testamento, dotao especial de benslivres, especificando o fim a que se destina, e declarando, sequiser, a maneira de administr-la.

    Pargrafo nico. A fundao somente poder constituir-se parafins religiosos, morais, culturais ou de assistncia .

    OBS: Uma fundao, assim como uma associao, pode gerarreceita , mas essa receita revestida nela mesma (a finalidadeda associao ideal, e no lucrativa).

    Conceito de fundao : A fundao, diferentemente da associao,

    no grupo de pessoas, mas sim um patrimnio que se personificavisando a perseguir finalidade ideal.

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    declarado inconstitucional pelo STF ADI 2.794-8 em razo dausurpao da atribuio constitucional constante no referidodispositivo), porem, havendo justificativa legal bvia, poder aMPF (Procuradoria da Repblica), tambm atuar exercendofiscalizao (enunciado 147, III jornada de D. Civil).

    Art. 69. Tornando-se ilcita, impossvel ou intil a finalidadea que visa a fundao, ou vencido o prazo de sua existncia, orgo do Ministrio Pblico, ou qualquer interessado, lhepromover a extino, incorporando-se o seu patrimnio, salvodisposio em contrrio no ato constitutivo, ou no estatuto, emoutra fundao, designada pelo juiz, que se proponha a fimigual ou semelhante.

    O art. 67 do CC alterou o qurum de deliberao para alteraodo estatuto da fundao que, no cdigo anterior, era de maioriaabsoluta.

    Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundao mister que a reforma:

    I - seja deliberada por dois teros dos competentes para gerire representar a fundao;

    II - no contrarie ou desvirtue o fim desta;

    III - seja aprovada pelo rgo do Ministrio Pblico, e, casoeste a denegue, poder o juiz supri-la, a requerimento dointeressado.

    Se no houver unanimidade da alterao do estatuto, poder haverimpugnao pela minoria vencida (prazo decadencial de 10 dias),de acordo com o art. 68 do CC.

    Art. 68. Quando a alterao no houver sido aprovada porvotao unnime, os administradores da fundao, ao submeteremo estatuto ao rgo do Ministrio Pblico, requerero que se dcincia minoria vencida para impugn-la, se quiser, em dezdias.

    Sociedades:

    Conceito : A sociedade, espcie de PJ de direito privado,instituda por meio de contrato social, dotada depersonalidade jurdica prpria e visa a perseguir fins

    econmicos ou lucrativos.

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    O elemento teleolgico / finalstico de uma sociedade(finalidade lucrativa) a principal caracterstica da sociedadeque a diferencia de uma associao ou de uma fundao.

    Sociedade no tem como ato constitutivo o estatuto; mas o

    contrato social .Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas quereciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou servios,para o exerccio de atividade econmica e a partilha, entre si,dos resultados.

    Pargrafo nico. A atividade pode restringir-se realizao deum ou mais negcios determinados.

    OBS: possvel sociedade entre cnjuges?

    Art. 977. Faculta-se aos cnjuges contratar sociedade, entre siou com terceiros, desde que no tenham casado no regime dacomunho universal de bens, ou no da separao obrigatria .

    Essa presuno de fraude, na opinio de Pablo Stolze, flagrantemente inconstitucional. Mas, a despeito dessa opiniodo citado doutrinador, o dispositivo est em pleno vigor.

    O Departamento Nacional de Registro de Comrcio (DNRC), por meiodo parecer jurdico 125/2003, firmou o entendimento (correto) deque o art. 977, em respeito ao ato jurdico perfeito, no atingesociedade entre cnjuges anterior ao NCC.

    Classificao das sociedades :

    Tradicionalmente, no Brasil, as sociedades eram classificadas daseguinte maneira:

    a) Sociedades civis;

    b) Sociedades mercantis (comerciais).O ponto comum entre sociedades civis e mercantis era que ambasbuscavam finalidade econmica.

    As sociedades mercantis praticavam atos de comrcio ( luz dadoutrina francesa), diferentemente das sociedades civis, que nopraticavam atos de comrcio.

    A doutrina italiana revolucionou essa matria (a noo decomrcio era pouco precisa e foi substituda pela teoria daempresa ). No se fala mais em sociedades civis e mercantis (oNCC no adotou a teoria dos atos de comrcio). O NCC divide associedades em:

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    a) Sociedades simples;

    b) Sociedades empresrias.

    A chave da diferena entre sociedades simples e empresrias estno art. 982 do CC.

    Art. 982. Salvo as excees expressas, considera-se empresriaa sociedade que tem por objeto o exerccio de atividade prpriade empresrio sujeito a registro (art. 967); e, simples, asdemais.

    Pargrafo nico. Independentemente de seu objeto, considera-seempresria a sociedade por aes; e, simples, a cooperativa.

    OBS: Vale observar que a sociedade annima sempre empresria e

    a cooperativa sempre sociedade simples, por determinao dalei.

    Uma sociedade empresria quando se observam dois requisitos:

    1) Requisito material: toda sociedade empresria realiza umaatividade econmica organizada, ou seja, uma atividadeempresarial, nos termos do art. 966.

    Art. 966. Considera-se empresrio quem exerceprofissionalmente atividade econmica organizada para aproduo ou a circulao de bens ou de servios.

    Pargrafo nico. No se considera empresrio quem exerceprofisso intelectual, de natureza cientfica, literria ouartstica, ainda com o concurso de auxiliares oucolaboradores, salvo se o exerccio da profisso constituirelemento de empresa.

    2) Requisito formal: Registro na Junta Comercial (RegistroPblico de Empresa).

    H uma grande semelhana entre os conceitos de sociedadeempresria e o antigo conceito de sociedade mercantil. Mas hdiferenas. O conceito de sociedade empresria mais abrangentedo que o conceito (antigo) de sociedade mercantil (conjugaodos dois requisitos).

    A sociedade empresria aquela que conjuga os requisitos doart. 982, e alm disso, com a caracterstica da impessoalidade,os seus scios atuam precipuamente como meros articuladores defatores de produo (capital, trabalho, tecnologia e matriaprima), a exemplo de um banco ou de uma revendedora de veculos.

    O seu registro feito na Junta Comercial e sujeitam-se legislao falimentar. J as sociedades simples tm por

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    principal caracterstica a pessoalidade: os seus scios no someros articuladores de fatores de produo, uma vez que prestame supervisionam direta e pessoalmente a atividade desenvolvida.Em geral, so sociedades prestadoras de servios, a exemplo dasociedade de advogados ou de mdicos. O seu registro feito, em

    geral, no Cartrio de Registro de Pessoas Jurdicas (CRPJ).

    OBS: Uma grande banca de advocacia, a depender do caso concreto,sob o aspecto material, podem at constituir uma sociedadeempresria (caracterstica de empresa). Mas, ela continua sendosimples , pois o registro continua sendo feito no CRPJ e na OAB(e no na J. Comercial).

    Quanto s cooperativas, so tratadas como sociedades simples,por fora de lei, predominando o entendimento doutrinrio(Julieta Lunz, Paulo Rego) no sentido de que, a despeito da Lei

    8.934/94, o seu registro, luz do NCC, deve ser feito no CRPJ,e no na Junta Comercial (h entendimento doutrinriominoritrio em sentido contrrio, no sentido de que a Lei8.934/94 lei especial esse entendimento no deve prevalecer,uma vez que o NCC muito claro em relao ao tema).

    OBS: Magistrado pode ser scio de empresa, s no podeadministrar.

    Extino da Pessoa Jurdica:

    Para ser liquidada a PJ, o seu passivo deve ser satisfeito,especialmente as obrigaes tributrias, para s ento se podercancelar o registro.

    Existem trs formas bsicas de dissoluo da PJ :

    a) Convencional : aplica-se s sociedades e se opera por atode vontade dos prprios scios, que firmam distrato.

    b) Administrativa : aquela que decorre da cassao daautorizao de funcionamento, especfica para algumasentidades (ex: banco demanda uma autorizao especficado BC).

    c) Judicial : se d por sentena em procedimento falimentar(sociedades empresrias, em regra) ou de liquidao(sociedades simples, em regra).

    OBS: Qual a regra que disciplina a dissoluo de umasociedade no sujeita lei de falncia? luz do art.1.218 VII CPC, o procedimento a ser seguido o do CPC de1939.

    Art. 1.218. Continuam em vigor at serem incorporados nasleis especiais os procedimentos regulados pelo Decreto-lei

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    n o 1.608, de 18 de setembro de 1939, concernentes:

    Vll - dissoluo e liquidao das sociedades (arts. 655 a674);

    Desconsiderao da Pessoa Jurdica ( disregard doctrine ) :

    A expresso inglesa porque a origem da teoria inglesa (Gr-Bretanha). O caso paradigmtico foi o famoso Salomon vs. SalomonCo.

    Rubens Requio (grande comercialista) foi quem introduziu essateoria no Brasil.

    Conceito : A doutrina da desconsiderao pretende o afastamentotemporrio da personalidade jurdica da entidade, para permitir

    que os credores prejudicados possam satisfazer os seus direitosno patrimnio pessoal do scio ou administrador que cometeu oato abusivo.

    OBS: importante lembrar que a desconsiderao no se confundecom a despersonificao da PJ . A desconsiderao, luz doprincpio da continuidade da empresa, tende a permitir amantena posterior de suas atividades. Diferentemente, adespersonificao aniquila a PJ, cancelando o seu registro.

    OBS: O enunciado n 7 da 1 Jornada de Direito Civil lembra-nos

    de que a desconsiderao, por ser medida de fora, deve atingirapenas o scio ou administrador que cometeu o ato abusivo (ou sebeneficiou dele).

    OBS: Qual a diferena entre a Desconsiderao da PJ e a Teoriada Ultra Vires Societatis ? De origem anglo-saxnica, e reguladano art. 1.015 do CC, esta teoria sustenta ser nulo o atopraticado pelo scio que extrapolou os poderes a si concedidospelo Contrato Social. Esta teoria visa a proteger a PJ.

    Art. 1.015. No silncio do contrato, os administradores podem

    praticar todos os atos pertinentes gesto da sociedade; noconstituindo objeto social, a onerao ou a venda de bensimveis depende do que a maioria dos scios decidir.

    Pargrafo nico. O excesso por parte dos administradoressomente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos umadas seguintes hipteses:

    I - se a limitao de poderes estiver inscrita ou averbada noregistro prprio da sociedade;

    II - provando-se que era conhecida do terceiro;

    III - tratando-se de operao evidentemente estranha aos

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    negcios da sociedade.

    Desconsiderao da Personalidade Jurdica e Direito Positivo :

    O CC/1916 no previa a desconsiderao da personalidadejurdica.

    O primeiro diploma legal a tratar do assunto foi o CDC (art.28); depois veio a Lei Anti-Truste; a Legislao Ambiental; e,mais recentemente, tambm regulou a desconsiderao dapersonalidade jurdica o CC/2002, em seu art. 50:

    Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurdica,caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confuso

    patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, oudo Ministrio Pblico quando lhe couber intervir no processo,que os efeitos de certas e determinadas relaes de obrigaessejam estendidos aos bens particulares dos administradores ouscios da pessoa jurdica .

    OBS: Lembra-nos Edmar Andrade que, regra geral, adesconsiderao matria sob reserva de jurisdio . Mas,observa Gustavo Tepedino (em artigo publicado na RTDC) queEXCEPCIONALMENTE poder haver desconsiderao administrativa da

    PJ (RESP 15166/BA).Requisitos para a desconsiderao da PJ no CC :

    1) Que tenha havido o descumprimento da obrigao (ou atmesmo o que mais grave a insolvncia da PJ);

    2) Abuso caracterizado ou pelo desvio de finalidade ou pelaconfuso patrimonial .

    OBS: Um exemplo tpico de abuso por confuso patrimonial opera-se quando uma PJ (controladora) constitui uma nova PJ(controlada) para praticar atos por meio desta (essa nova PJassume todo o passivo da PJ controladora).

    OBS: Seguindo a doutrina do prof. Fabio Konder Comparato,podemos concluir que o art. 50 do CC concebeu a teoria dadesconsiderao com carter objetivo, dispensando a prova dodolo especfico do scio ou administrador (elemento subjetivo) .Adotar outro raciocnio significaria aniquilar por completo aessncia da teoria da desconsiderao da personalidade jurdica!

    OBS: A desconsiderao ser requerida por interessado ou peloMP, e deferida pelo Juiz.

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    c) Domiclio: para ser domiclio preciso algo mais: odomiclio abrange a noo de residncia, porque nodomiclio tambm h o aspecto da habitualidade. Mas, paraser domiclio, alm da habitualidade, preciso que haja ainteno de permanncia (alguns autores chamam de animus

    manendi ), transformando aquele local em centro da vidajurdica daquela pessoa. Ento, domiclio o lugar onde apessoa fsica fixa residncia com nimo definitivo,transformando-o em centro de sua vida jurdica (conceito).Vejamos o art. 70 do CC:

    Art. 70. O domiclio da pessoa natural o lugar onde elaestabelece a sua residncia com nimo definitivo ( conceitolegal de domiclio ).

    OBS: Pode haver pluralidade de domiclios? Sim, o sistemabrasileiro, seguindo o direito alemo, admite pluralidade dedomiclios, nos termos do art. 71 do CC:

    Art. 71. Se, porm, a pessoa natural tiver diversasresidncias, onde, alternadamente, viva, considerar-se-domiclio seu qualquer delas.

    OBS: O que domiclio profissional? Seguindo a linha do art. 83do Cdigo de Portugal, o art. 72 do CC considera, APENAS PARAEFEITOS PROFISSIONAIS, como domiclio o lugar onde a atividade desenvolvida.

    Art. 72. tambm domiclio da pessoa natural, quanto srelaes concernentes profisso, o lugar onde esta exercida.

    Pargrafo nico. Se a pessoa exercitar profisso em lugaresdiversos, cada um deles constituir domiclio para as relaesque lhe corresponderem.

    O CC cuida ainda da mudana de domiclio , no art. 74 (trata-sede uma norma imperfeita: desprovida de sano):

    Art. 74. Muda-se o domiclio, transferindo a residncia, com ainteno manifesta de o mudar.

    Pargrafo nico. A prova da inteno resultar do que declarara pessoa s municipalidades dos lugares, que deixa, e para ondevai, ou, se tais declaraes no fizer, da prpria mudana, comas circunstncias que a acompanharem ( para o campo da pessoafsica, essa norma desprovida de importncia prtica ).

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    Art. 78. Nos contratos escritos, podero os contratantesespecificar domiclio onde se exercitem e cumpram osdireitos e obrigaes deles resultantes.

    OBS: Nos contratos de adeso, especialmente de consumo, aclusula de foro de eleio prejudicial ao consumidor ouaderente NULA DE PLENO DIREITO. Inclusive, o juiz podedeclinar de ofcio de sua competncia (mesmo sem haverexceo de incompetncia relativa), quando verificar oprejuzo ao consumidor (RESP 201195/SP). Isso estexpresso no art. 112 do CPC:

    Art. 112 CPC. Argi-se, por meio de exceo, aincompetncia relativa.

    Pargrafo nico. A nulidade da clusula de eleio de foro,em contrato de adeso, pode ser declarada de ofcio pelojuiz, que declinar de competncia para o juzo dedomiclio do ru (Includo pela Lei n 11.280, de 2006) .

    Smula 335 STF: valida a clausula de eleio de foropara processos oriundos do contrato.

    Enunciado 171 III jornada de direito civil STJ 171 Art.423: O contrato de adeso, mencionado nos arts. 423 e 424

    do novo Cdigo Civil, no se confunde com o contrato deconsumo.

    3) Domiclio legal : decorre do prprio ordenamento jurdico(arts. 76 e 77).

    Art. 76. Tm domiclio necessrio o incapaz , o servidorpblico , o militar , o martimo e o preso .

    Pargrafo nico. O domiclio do incapaz o do seurepresentante ou assistente; o do servidor pblico, o lugarem que exercer permanentemente suas funes; o do militar,onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronutica, a sededo comando a que se encontrar imediatamente subordinado; odo martimo ( marinheiro particular ), onde o navio estivermatriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir asentena ( CUIDADO: a lei no disse priso provisria oucautelar ).

    Art. 77. O agente diplomtico do Brasil, que, citado noestrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde

    tem, no pas, o seu domiclio, poder ser demandado noDistrito Federal ou no ltimo ponto do territrio

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11280.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11280.htm#art1
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    brasileiro onde o teve .

    OBS: Servidor pblico de funo temporria oucomissionada no tem domiclio legal !

    OBS: Trata-se de regras de ordens pblicas, no podendoser contrariadas via contratos. (nulidade ou fraudeimperativa).

    OBS: No exclui a possibilidade de pluralidade. necessrio, mas no obrigatrio.

    BEM DE FAMLIA

    A fonte histrica mais significativa do bem de famlia oHomestead Act do Direito Texano, do ano de 1839. O HomesteadAct conferia proteo especial ao bem de famlia.

    No direito brasileiro, temos duas espcies de bens de famlia :

    1) Bem de famlia voluntrio (regulado a partir do art. 1.711do CC):

    Conceito : o bem de famlia voluntrio o institudo porato de vontade do casal, ou de terceiro, medianteformalizao no registro de imveis, deflagrando doisefeitos fundamentais :

    Impenhorabilidade limitada (significa que o imveltorna-se isento de dvidas futuras, salvo obrigaestributrias referentes ao bem e despesas condominiais art. 1.715 do CC);

    Inalienabilidade relativa (uma vez institudo bem defamlia voluntrio, ele s poder ser alienado com a

    autorizao dos interessados, cabendo ao MP intervirquando houver participao de incapaz art. 1.717 doCC).

    OBS: Obviamente, s pode instituir bem de famliavoluntrio quem for solvente!

    OBS: Para evitar fraudes, o art. 1.711 do CC limitou ovalor do bem de famlia voluntrio ao teto de 1/3 (umtero) do patrimnio lquido dos seus instituidores.

    OBS: O NCC tambm inovou ao admitir, no art. 1.712, apossibilidade de afetar rendas ao bem de famliavoluntrio, visando proteo legal (desde que se comprove

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    inclusive os de uso profissional, ou mveis que guarnecem acasa, desde que quitados (ex (jurisprudncia do STJ):mquina de lavar, mquina de passar, ar condicionado,antena parablica, televiso, instrumento musical etc.).

    OBS: A despeito do que dispe o pargrafo nico do art. 1da Lei 8.009/90, o STJ tem admitido o desmembramento paraefeito de penhora (a exemplo do RESP 510643/DF).

    Esto excludos da proteo do bem de famlia (art. 2 daLei 8.009/90):

    Art. 2 Excluem-se da impenhorabilidade os veculos detransporte, obras de arte e adornos suntuosos.

    Pargrafo nico. No caso de imvel locado, aimpenhorabilidade aplica-se aos bens mveis quitados queguarneam a residncia e que sejam de propriedade dolocatrio, observado o disposto neste artigo.

    Excees proteo do bem de famlia legal (art. 3 daLei 8.009/90):

    Art. 3 A impenhorabilidade oponvel em qualquer processode execuo civil, fiscal, previdenciria, trabalhista oude outra natureza, salvo se movido :

    I - em razo dos crditos de trabalhadores da prpriaresidncia e das respectivas contribuies previdencirias(a melhor hermenutica deste inciso no sentido de queempregados meramente eventuais no se subsumem exceo

    prevista em lei Min. Luiz Fux STJ);

    II - pelo titular do crdito decorrente do financiamentodestinado construo ou aquisio do imvel, no limitedos crditos e acrscimos constitudos em funo dorespectivo contrato ;

    III - pelo credor de penso alimentcia ;

    IV - para cobrana de impostos, predial ou territorial,taxas e contribuies devidas em funo do imvel familiar(o STF j entendeu, interpretando este inciso, que despesascondominiais tambm vencem a proteo legal do bem defamlia RE 439003/SP);

    V - para execuo de hipoteca sobre o imvel oferecido comogarantia real pelo casal ou pela entidade familiar (a meraindicao do bem a penhora, segundo o STJ, no impede a

    futura alegao de bem de famlia AgRg no Resp

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    813543/DF);

    VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou paraexecuo de sentena penal condenatria a ressarcimento,indenizao ou perdimento de bens ;

    VII - por obrigao decorrente de fiana concedida em contrato de locao (o STF j pacificou o entendimento deque o fiador em contrato de locao no goza da proteo do

    bem de famlia, de maneira que a penhora de seu imvelresidencial considerada constitucional RE 352940-4/SP

    Pablo Stolze critica muito este dispositivo, alegandoque ele inverte a lgica: como pode o devedor principalgozar de proteo do bem de famlia e o fiador no gozar?OBS: vale lembrar, nos termos do art. 1.647 do CC, que ocnjuge casado em regime que no seja de separao de bens,

    necessita da autorizao do outro para prestar fiana essa pode ser a salvao do fiador!).

    OBS: Pablo Stolze entende que essas excees aplicam-se,tambm, aos bens de famlia voluntrios (pois a maioriadas hipteses de ordem pblica) .

    OBS: O devedor solteiro goza da proteo do bem defamlia? Sim. A base de proteo do bem de famlia no afamlia, mas a proteo constitucional da dignidade

    humana, que se traduz no direito moradia (o STJ jfirmou esse entendimento).

    BENS JURDICOS

    Conceito: bem jurdico toda utilidade fsica ou ideal que sejaobjeto de um direito subjetivo.

    Qual a diferena entre bem e coisa? Orlando Gomes afirma quebem gnero e coisa espcie. Maria Helena Diniz e SilvioVenosa, contrariamente, afirmam que a noo de coisa maisampla. E Washington de Barros Monteiro, em determinado trecho desua obra curso de direito civil afirma poder haver umasinonmia.

    Pablo Stolze entende que razo assiste a Orlando Gomes, seguindoo Direito Alemo, quando afirma que a noo de coisa maisrestrita, limitando-se aos objetos corpreos ou materiais.

    Bem seria um gnero que se subdivide em bens imateriais e bensmateriais (= coisa).

    OBS: O que se entende por patrimnio jurdico? Para osclssicos, patrimnio era a representao econmica da pessoa.Atualmente, afirma-se quanto sua natureza jurdica, que

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    patrimnio uma universalidade de direitos e obrigaes.Inclusive, na doutrina brasileira o entendimento predominante(desde Clvis Bevilaqua) no sentido de que cada pessoa possuiapenas UM patrimnio.

    Sob o influxo da dignidade da pessoa humana, renomados autores(Carlos Bittar, Wilson Melo da Silva, Rodolfo Pamplona Filho)tm admitido o denominado o patrimnio moral (que seria oconjunto de direitos da personalidade).

    Vale lembrar que a teoria do estatuto jurdico do patrimniomnimo (Luiz Edson Fachin) sustenta, em respeito ao princpio dadignidade, que cada pessoa deve ter resguardado pela lei civilum mnimo de patrimnio.

    Principais classificaes de bens jurdicos:

    1) Imveis por fora de Lei : o art. 80 do CC estabelece que:

    Art. 80. Consideram-se imveis para os efeitos legais:

    I - os direitos reais sobre imveis e as aes que osasseguram;

    II - o direito sucesso aberta.

    OBS: Por conta da natureza imobiliria do direito

    herana, no caso de cesso do direito hereditrio exige-seescritura pblica, bem como, forte corrente doutrinria(Francisco Cahali) afirma a necessidade de autorizaoconjugal, nos termos do art. 1.647.

    2) Mveis por fora de lei : o art. 83 do CC estabelece que:

    Art. 83. Consideram-se mveis para os efeitos legais:

    I - as energias que tenham valor econmico;

    II - os direitos reais sobre objetos mveis e as aescorrespondentes;

    III - os direitos pessoais de carter patrimonial erespectivas aes.

    OBS: O smen do boi considerado energia biolgica(inciso I).

    3) Bens acessrios : Dividiremos:

    Frutos : os frutos, espcies de bens acessrios, soutilidades renovveis, cuja percepo no exaure a

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    coisa principal (ex: laranja, amendoim frutosnaturais tecido de indstria frutos industriais juros, aluguis frutos civis).

    Produtos : diferentemente do fruto, uma utilidade

    que no se renova, esgotando a coisa principal (ex:ouro).

    Pertenas : a coisa que serve o bem principal, semintegr-lo (art. 93 do CC). Ex: aparelho de arcondicionado, rdio do carro.

    Art. 93. So pertenas os bens que, no constituindopartes integrantes, se destinam, de modo duradouro,ao uso, ao servio ou ao aformoseamento de outro.

    Benfeitorias : a benfeitoria toda obra realizadapelo homem na estrutura de uma coisa com propsito deconserv-la (benfeitoria necessria), melhor-la(benfeitoria til) ou proporcionar prazer(benfeitoria volupturia).

    OBS: benfeitoria no se confunde com acesso(construo). As benfeitorias so reformas em umaestrutura que j existe!

    O que so bens imveis por acesso intelectual? So os bens queo proprietrio intencionalmente destina para exploraoindustrial, aformoseamento ou comodidade (art. 43, III doCC/1916). Ex: um fazendeiro compra um grande maquinrio agrcolapara a explorao do imvel. O enunciado n 11 da 1 Jornada deDireito Civil afirmou que esta classificao no existe mais.

    Mas, esse maquinrio agrcola, ento, o que? Pode-se, seguindoa linha do Cdigo Novo, classific-lo como pertena.

    Vejamos os dispositivos do CC que tratam dos bens (a leitura

    destes artigos essencial, pois em concursos pblicos semprecai mais a literalidade da lei):

    LIVRO IIDOS BENS

    TTULO NICODas Diferentes Classes de Bens

    CAPTULO IDos Bens Considerados em Si Mesmos

    Seo I

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    Seo IVDos Bens Divisveis

    Art. 87. Bens divisveis so os que se podem fracionar semalterao na sua substncia, diminuio considervel de valor,ou prejuzo do uso a que se destinam.

    Art. 88. Os bens naturalmente divisveis podem tornar-seindivisveis por determinao da lei ou por vontade das partes.

    Seo VDos Bens Singulares e Coletivos

    Art. 89. So singulares os bens que, embora reunidos, seconsideram de per si , independentemente dos demais.

    Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de benssingulares que, pertinentes mesma pessoa, tenham destinaounitria.

    Pargrafo nico. Os bens que formam essa universalidade podemser objeto de relaes jurdicas prprias.

    Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo derelaes jurdicas, de uma pessoa, dotadas de valor econmico.

    CAPTULO IIDos Bens Reciprocamente Considerados

    Art. 92. Principal o bem que existe sobre si, abstrata ouconcretamente; acessrio, aquele cuja existncia supe a doprincipal.

    Art. 93. So pertenas os bens que, no constituindo partesintegrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao servioou ao aformoseamento de outro.

    Art. 94. Os negcios jurdicos que dizem respeito ao bemprincipal no abrangem as pertenas, salvo se o contrrio

    resultar da lei, da manifestao de vontade, ou dascircunstncias do caso.

    Art. 95. Apesar de ainda no separados do bem principal, osfrutos e produtos podem ser objeto de negcio jurdico.

    Art. 96. As benfeitorias podem ser volupturias, teis ounecessrias.

    1 o So volupturias as de mero deleite ou recreio, que noaumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem maisagradvel ou sejam de elevado valor.

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    2 o So teis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.

    3 o So necessrias as que tm por fim conservar o bem ouevitar que se deteriore.

    Art. 97. No se consideram benfeitorias os melhoramentos ouacrscimos sobrevindos ao bem sem a interveno doproprietrio, possuidor ou detentor.

    CAPTULO IIIDos Bens Pblicos

    Art. 98. So pblicos os bens do domnio nacional pertencentess pessoas jurdicas de direito pblico interno; todos osoutros so particulares, seja qual for a pessoa a quepertencerem.

    Art. 99. So bens pblicos:

    I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas,ruas e praas;

    II - os de uso especial, tais como edifcios ou terrenosdestinados a servio ou estabelecimento da administraofederal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os desuas autarquias;

    III - os dominicais, que constituem o patrimnio das pessoasjurdicas de direito pblico, como objeto de direito pessoal,ou real, de cada uma dessas entidades.

    Pargrafo nico. No dispondo a lei em contrrio, consideram-sedominicais os bens pertencentes s pessoas jurdicas de direitopblico a que se tenha dado estrutura de direito privado.

    Art. 100. Os bens pblicos de uso comum do povo e os de usoespecial so inalienveis, enquanto conservarem a suaqualificao, na forma que a lei determinar.

    Art. 101. Os bens pblicos dominicais podem ser alienados,observadas as exigncias da lei.

    Art. 102. Os bens pblicos no esto sujeitos a usucapio.

    Art. 103. O uso comum dos bens pblicos pode ser gratuito ouretribudo, conforme for estabelecido legalmente pela entidadea cuja administrao pertencerem.

    TEORIA DO FATO JURDICO

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    embora derive da atuao humana, desprovido de vontadeconsciente em direo ao resultado que se pretende atingir (ex:alienado mental que pega argila, pensando se tratar de comida, eproduz uma belssima obra de arte; criana que encontra tesourona rua).

    OBS: Qual a natureza jurdica da venda de um doce a umacriana de cinco anos de idade? Pode ser entendido como umnegcio nulo socialmente aceito (Silvio Venosa). O professorJorge Cesa Ferreira afirma que a venda de um doce a uma crianaenquadra-se melhor na noo de ato-fato (essa linha seguidapelo prof. Pablo Stolze).

    Negcio Jurdico: a categoria mais importante (foidesenvolvida no Direito Alemo).

    Conceito : uma declarao de vontade emitida com base naautonomia privada e por meio da qual o agente auto-disciplina osefeitos jurdicos que pretende atingir (idia de liberdadenegocial). Ex: casamento.

    E no contrato de adeso, existe autonomia privada? GeorgesRipert, em sua obra a regra moral nas obrigaes civis,analisa que os contratos de adeso so mais fruto da autoridadeprivada do que da autonomia privada. Porm, existe autonomia,ainda que apenas de assinar ou no o contrato (seria uma espciede autonomia mnima - mitigada).

    Essa autonomia, ainda que em menor grau, essencial para acaracterizao de um negcio jurdico.

    OBS: A autonomia privada, ncleo do negcio jurdico, encontra-se hoje condicionada a parmetros constitucionais de ordem superior, a exemplo dos princpios da funo social e da boa-fobjetiva .

    Teorias explicativas do negcio jurdico :

    1) Teoria da vontade interna (ou voluntarista) : a teoriamais tradicional. Afirma que a base do negcio jurdico a inteno (vontade interna). Foi a teoria que maisinfluenciou o CC/2002. Vejamos:

    Art. 112. Nas declaraes de vontade se atender mais inteno nelas consubstanciada do que ao sentido literal dalinguagem.

    2) Teoria da vontade externa (ou da declarao) : afirma que onegcio jurdico se traduz na vontade externa oudeclarada.

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    Durante anos, a doutrina se digladiou para descobrir com queteoria estava a razo. E a resposta que as duas teorias, naverdade, se harmonizam O negcio jurdico fruto da soma davontade interna com a vontade que se declara.

    O que teoria da pressuposio? Teoria desenvolvida porWindscheid, segundo a qual o negcio jurdico somente seriaconsiderado vlido e eficaz se a certeza subjetiva dodeclarante, ao realizar o ato, no se modificasse. Essa teoria,hoje, no aplicada como em outrora.

    Podemos subdividir o negcio jurdico em trs planos de anlise(Pontes de Miranda):

    a) Plano de existncia : aqui, vamos estudar os requisitos deexistncia do negcio jurdico, sem os quais o negcio

    jurdico inexistente (a inexistncia pode serreconhecida de ofcio pelo juiz no h prazo para adeclarao da inexistncia). Este plano no est previstono CC, mas colocado pela doutrina. Os requisitos deexistncia do negcio jurdico so :

    Manifestao de vontade (ex: a violncia fsica geraa inexistncia do negcio jurdico);

    OBS: No que tange manifestao de vontade, osilncio pode como tal ser compreendido? A questo

    quer saber se quem cala consente. No mbito dodireito civil, em linha de princpio, lembra-nos CaioMrio, que o silncio ausncia de manifestao devontade. No entanto, excepcionalmente, nos termos doart. 111, o silncio pode traduzir vontade.

    Art. 111. O silncio importa anuncia, quando ascircunstncias ou os usos o autorizarem, e no fornecessria a declarao de vontade expressa.

    Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatrio,

    para declarar se aceita ou no a liberalidade. Desdeque o donatrio, ciente do prazo, no faa, dentrodele, a declarao, entender-se- que aceitou, se adoao no for sujeita a encargo (exemplo deaplicao do art. 111).

    OBS: veremos que o silncio pode tambm significarquebra de boa-f objetiva por dolo negativo (art. 147do CC) .

    Agente (emissor da vontade);

    Objeto ;

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    Forma (o professor Vicente Ro trata muito bem desteassunto. Forma significa o meio pelo qual a vontadese exterioriza, ou seja, o revestimento exterior davontade. Pode ser oral / escrita / mmica).

    b) Plano de validade : o plano qualificativo do negcio. Noestuda a estrutura do negcio (que est no plano deexistncia). Neste segundo plano vamos estudar ospressupostos de validade (art. 104 do CC muito criticadopela doutrina, pois disse menos do que deveria):

    Art. 104. A validade do negcio jurdico requer:

    I - agente capaz;

    II - objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel;

    III - forma prescrita ou no defesa em lei.

    Manifestao de vontade livre e de boa-f ;

    Agente capaz e legitimado ;

    Objeto lcito, possvel e determinado (ou ao menosdeterminvel) ;

    OBS: em geral, na doutrina civilista, licitudesignifica legalidade e adequao ao padro mdio demoralidade (ex: contrato de prestao de serviossexuais invlido).

    Forma livre ou prescrita em lei (no direitobrasileiro, a regra a liberdade da forma nosnegcios jurdicos art. 107 do CC mas hsituaes em que a lei exige a forma escrita paraefeito de prova do negcio ex: art. 227 do CC).

    Art. 227. Salvo os casos expressos, a provaexclusivamente testemunhal s se admite nos negciosjurdicos cujo valor no ultrapasse o dcuplo do

    maior salrio mnimo vigente no Pas ao tempo em queforam celebrados .

    Pargrafo nico. Qualquer que seja o valor do negciojurdico, a prova testemunhal admissvel comosubsidiria ou complementar da prova por escrito.

    Vejamos, ainda, o art. 108 do CC:

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    Art. 108. No dispondo a lei em contrrio, aescritura pblica essencial validade dos negciosjurdicos que visem constituio, transferncia,modificao ou renncia de direitos reais sobreimveis de valor superior a trinta vezes o maiorsalrio mnimo vigente no Pas.

    OBS: Ausente algum requisito de validade o negcio invlido .

    OBS: Os vcios do negcio atacam a validade do negcio aqualificao da vontade (geram nulidade ou anulabilidade).

    c) Plano de eficcia : estuda os elementos que interferem nosefeitos jurdicos do negcio:

    Condio ;

    Termo ;

    Modo ou encargo .

    DEFEITOS DO NEGCIO JURDICO

    ERRO:

    Erro vs. Ignorncia : uma falsa representao positiva darealidade; ao passo que a ignorncia um estado de espritonegativo, traduzindo desconhecimento.

    O erro causa de anulao do negcio jurdico.

    Para a doutrina clssica , para que o erro possa anular o negciojurdico, precisa ser SUBSTANCIAL e ESCUSVEL (perdovel) . Oprimeiro requisito pacfico. Quanto ao segundo requisito, diza doutrina clssica que o direito no tutela os que dormem /os negligentes / os patos (pautava-se a doutrina clssica naidia do homem mdio). A doutrina moderna, porm, luz doprincpio da confiana e considerando a dificuldade na anliseda escusabilidade do erro, tem dispensado este segundo requisito(enunciado 12 da 1 Jornada de Direito Civil).

    Segundo a doutrina de Roberto de Ruggiero, podemos identificarbasicamente trs espcies de erro :

    1) Erro sobre o negcio : incide sobre o prprio negcio em si(ex: pensei que era uma doao, mas tratava-se de umemprstimo).

    2) Erro sobre o objeto : incide nas caractersticas do objeto( a hiptese mais comum).

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    3) Erro sobre a pessoa : um exemplo a celebrao de umnegcio com o irmo gmeo univitelino de quem eu gostariade celebrar.

    OBS: Veremos no Direito de Famlia a grande aplicao do

    erro sobre a pessoa, quando estudarmos os arts. 1.556 e1.557 do CC, que cuidam da anulao do casamento por errosobre pessoa.

    Estas espcies de erro esto previstas no art. 139 do CCB.

    Art. 139. O erro substancial quando:

    I - interessa natureza do negcio, ao objeto principal dadeclarao, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;

    II - concerne identidade ou qualidade essencial da pessoa aquem se refira a declarao de vontade, desde que tenhainfludo nesta de modo relevante;

    III - sendo de direito e no implicando recusa aplicao dalei, for o motivo nico ou principal do negcio jurdico.

    Todos os casos que vimos at agora se referem ao erro de fato. Mas o CCB previu o chamado erro de direito? Clvis Bevilaqua

    no gostava da teoria do erro de direito, razo pela qual oCC/16 no era explcito a respeito; Eduardo Espnola, Carvalho

    Santos e Caio Mrio defendiam essa possibilidade. luz do princpio da boa-f, o novo direito civil (art. 139 III do CC) passou a admitir explicitamente o erro de direito, aquele que,

    sem traduzir intencional recusa aplicao da lei, incide nombito de atuao permissiva da norma (em outras palavras, um erro de interpretao quanto ilicitude do ato) .

    Questo especial de concurso: Qual a diferena entre erro evcio redibitrio? O erro atua no psiquismo do agente,invalidando o negcio jurdico (o erro est dentro de voc); jo vcio redibitrio defeito da prpria coisa, sendo, portanto,exterior ao agente. Alm disso, o vcio redibitrio geraresponsabilidade civil, mas no invalida o negcio.

    DOLO:

    Conceito : o dolo o artifcio malicioso empregado por uma daspartes ou por terceiro com o propsito de enganar a outra partedo negcio, causando-lhe prejuzo. Resumindo, dolo o erroprovocado.

    O dolo gera a anulao do negcio jurdico (art. 145 do CC).

    A doutrina clssica costuma dividir o dolo em :

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    1) Dolus bonus : no anula o negcio jurdico. muitoutilizado como tcnica de publicidade (o realce dascaractersticas do produto est no campo da licitude).

    2) Dolus malus : anula o negcio jurdico.

    OBS: a mensagem subliminar, aquela que atuainconscientemente em face do consumidor, induzindo-o adeterminado comportamento, pode traduzir comportamentodoloso e prtica comercial abusiva, situaesjuridicamente reprovveis.

    A doutrina distingue duas espcies de dolo: dolo principal edolo acidental . O dolo que anula o negcio jurdico o doloprincipal (aquele que ataca a sua causa / a sua substncia); odolo meramente acidental no anula o negcio jurdico, apenas

    gera a obrigao de pagar perdas e danos. Vejamos o art. 146 doCC:

    Art. 146. O dolo acidental s obriga satisfao das perdas edanos, e acidental quando, a seu despeito, o negcio seriarealizado, embora por outro modo.

    O que dolo negativo? O dolo negativo, previsto no art. 147 doCC, traduz quebra de boa-f objetiva por omisso dolosa davontade.

    Art. 147. Nos negcios jurdicos bilaterais, o silnciointencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidadeque a outra parte haja ignorado, constitui omisso dolosa,provando-se que sem ela o negcio no se teria celebrado.

    Faamos a leitura atenta dos dispositivos seguintes do CC,acerca do dolo (muito importantes):

    Art. 148. Pode tambm ser anulado o negcio jurdico por dolode terceiro , se a parte a quem aproveite dele tivesse oudevesse ter conhecimento; em caso contrrio, ainda que subsistao negcio jurdico, o terceiro responder por todas as perdas edanos da parte a quem ludibriou.

    Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes sobriga o representado a responder civilmente at a importnciado proveito que teve; se, porm, o dolo for do representanteconvencional, o representado responder solidariamente com elepor perdas e danos.

    Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma podealeg-lo para anular o negcio, ou reclamar indenizao.

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    OBS: Havendo dolo bilateral , nos termos do art. 150, deixa-secomo est, no podendo nenhuma das partes alegar a sua torpezaem juzo.

    OBS: No caso do dolo de terceiro , regulado no art. 148, noposso esquecer que a anulao s ocorrer se o beneficiriosoubesse ou tivesse como saber do engodo; em caso contrrio, onegcio mantido e apenas o terceiro responde pelas perdas edanos.

    COAO:

    Estamos tratando da coao moral!

    Conceito : lembra-nos Francisco Amaral que coao sinnimo de

    violncia, ou seja, a violncia psicolgica apta a influenciara vtima a realizar negcio jurdico que a sua vontade internano deseja celebrar.

    A coao gera a anulao do negcio jurdico!

    O CC trata da matria a partir do art. 151 (que uma normaexplicativa):

    Art. 151. A coao, para viciar a declarao da vontade, h deser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente econsidervel sua pessoa, sua famlia, ou aos seus bens .

    Pargrafo nico. Se disser respeito a pessoa no pertencente famlia do paciente, o juiz, com base nas circunstncias,decidir se houve coao .

    Art. 152. No apreciar a coao, ter-se-o em conta o sexo, aidade, a condio, a sade, o temperamento do paciente e todasas demais circunstncias que possam influir na gravidade dela .

    Art. 153. No se considera coao a ameaa do exerccio normalde um direito, nem o simples temor reverencial .

    Art. 154. Vicia o negcio jurdico a coao exercida porterceiro , se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte aque aproveite, e esta responder solidariamente com aquele por

    perdas e danos .

    Art. 155. Subsistir o negcio jurdico, se a coao decorrerde terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse oudevesse ter conhecimento; mas o autor da coao responder portodas as perdas e danos que houver causado ao coacto.

    A coao apreciada em concreto (art. 152)! No tem essa dehomem mdio!

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    necessidade, ou por inexperincia, se obriga a prestao manifestamente desproporcional ao valor da prestao

    oposta .

    1 o Aprecia-se a desproporo das prestaes segundo osvalores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negciojurdico .

    2 o No se decretar a anulao do negcio, se foroferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecidaconcordar com a reduo do proveito .

    luz do princpio da conservao, o pargrafo 2 do art.157 admite que as partes possam reequilibrar o negcioevitando a sua anulao.

    Qual a diferena entre leso e a teoria da impreviso? A leso marcada pelo desequilbrio que nasce com o contrato, tornando-o passvel de invalidao; diferentemente, a teoria daimpreviso pressupe contrato vlido que se desequilibra depois.Vale dizer, na impreviso o desequilbrio superveniente.

    ESTADO DE PERIGO:

    Conceito : trata-se de uma aplicao do Estado de Necessidadepara o Direito Civil. Configura-se quando o agente, diante desituao de perigo de dano conhecido pela outra parte, assume

    prestao excessivamente onerosa.Vejamos o art. 156 do CC:

    Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando algum, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua

    famlia, de grave dano conhecido pela outra parte, assumeobrigao excessivamente onerosa .

    Pargrafo nico. Tratando-se de pessoa no pertencente famlia do declarante, o juiz decidir segundo ascircunstncias .

    O Estado de Perigo causa de anulao do negcio jurdico.

    Exemplo: um navio est afundando. Voc, para salvar-se, pedeauxlio a outra embarcao, pedindo para ser levado ao porto. Osujeito, ento, cobra de voc R$ 100.000,00 (Caio Mrio).

    Exemplo (STJ RESP 796.739/MT): No razovel em cheque dadocomo cauo para tratamento hospitalar ignorar sua causa, poisacarretaria desequilbrio entre as partes. O paciente em casos

    de necessidade, quedar-se-ia merc do hospital e compelido aemitir cheque, no valor arbitrado pelo credor . A exigncia de

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    cheque cauo para tratamento hospitalar (emergncia) umexemplo de leso (o negcio jurdico pode ser anulado).

    A existncia do Estado de Perigo e da Leso no direito civil brasileiro significa o respeito ao princpio da funo social

    como forma de coibir abuso de poder econmico . A ANS, por meio da res. 44/03, nos seus termos, probe a

    exigncia desse tipo de cauo estabelecendo que as dennciasdevero ser remetidas ao MPF .

    SIMULAO:

    A simulao, no CC/16, gerava anulao do negcio jurdico. Masno CC/2002 (art. 167) causa de nulidade absoluta do negciojurdico ! OBS: O NCC no se aplica retroativamente aos negcioscelebrados na vigncia do cdigo anterior.

    Conceito : na simulao celebra-se um negcio jurdico que temaparncia normal, mas que, em verdade, no pretende atingir oefeito que juridicamente devia produzir.

    Existem duas espcies de simulao (em qualquer dos casos onegcio nulo) :

    1) Simulao absoluta : aquela em que se celebra um negciojurdico destinado a no gerar efeito algum.

    2) Simulao relativa : na simulao relativa, tambm chamadadissimulao, as partes celebram um negcio destinado aencobrir um outro negcio cujos efeitos so proibidos porlei.

    Ex: um cidado casado no pode doar bens concubina.Simula, ento, uma compra e venda (ou doa a um amigo, quedoar amante).

    No caso da simulao relativa, luz do princpio daconservao, se o juiz puder, aproveitar o negcio

    dissimulado (art. 167 do CC).

    Art. 167. nulo o negcio jurdico simulado, massubsistir o que se dissimulou, se vlido for na substnciae na forma.

    Como a simulao gera nulidade, considerando-se que o negcionulo pode ser inclusive reconhecido de ofcio de ofcio pelojuiz, qualquer dos simuladores poder impugnar o negcio em juzo (enunciado 294 da 4 Jornada de Direito Civil).

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    O que contrato de vaca-papel? Trata-se de um contrato agrrio(parceria pecuria), que, em verdade, mascara (dissimula), umemprstimo a juros extorsivos. O contrato de parceria pecuria o contrato simulado. H a simulao de emprstimo de vaca (quena verdade o dinheiro, j que no h vaca alguma), que

    possibilita, quando do pagamento, um valor superior ao dos jurosautorizados, ao argumento de que se trataria do resultado doinvestimento agropecurio. O STJ j pronunciou que o contrato devaca-papel SIMULADO (e, portanto, NULO DE PLENO DIREITO) Resp. 441.903/SP.

    O que reserva mental? Relaciona-se com a cogitatio , sendo deraiz psicolgica. A reserva mental se configura quando o agenteemite declarao de vontade resguardando o ntimo propsito de