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TOCANTINS PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa CURRICULO NA ALFABETIZAÇÃO: CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS ANO 01 UNIDADE 01 Encontro Araguaína, junho/2013 Governo do TOCANTINS Secretaria da Educação

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa · direitos de aprendizagem que possam nortear a organização do trabalho pedagógico nas ... vivenciadas ao longo da nossa história

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Governo do

TOCANTINS

PNAIC

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade

Certa

CURRICULO NA ALFABETIZAÇÃO:

CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS

ANO 01

UNIDADE 01

1º Encontro

Araguaína, junho/2013

Governo do

TOCANTINS

Secretaria da Educação

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Secretaria de Educação Básica – SEB Diretoria de Apoio à Gestão Educacional

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)

_______________________________________________________________________________

Brasil. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.

[57] p.

ISBN 978-85-7783-124-1

1. Alfabetização. 2. Aprendizagem. 3. Língua portuguesa. 4. Currículo. I. Título.

CDU 37.014.22 _______________________________________________________________________________

Tiragem 122.102 exemplares

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA

CEP: 70047-900

Sumário

CURRÍCULO NA ALFABETIZAÇÃO:

CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS

Iniciando a conversa 05

Aprofundando o tema 06

Currículo no ciclo de alfabetização: princípios gerais 06

Concepções de alfabetização:

o que ensinar no ciclo de alfabetização 16

Avaliação no ciclo de alfabetização 24

Compartilhando 30

Direitos de aprendizagem no ciclo de alfabetização

– Língua Portuguesa 30

O acompanhamento da aprendizagem das crianças:

sugestão de instrumento de registro da aprendizagem 38

Perfil de grupo:

sugestão de instrumento de acompanhamento da turma 41

Aprendendo mais 42

Sugestões de leitura 42

Sugestões de atividades para os encontros em grupo 45

Contribuições para a produção dos quadros de direitos de aprendizagem:

Projeto gráfico e diagramação:

Iniciando a conversa

São muitos os desafios que vivenciamos nos últimos anos na busca da garantia de uma

escola democrática, em que todos os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade.

Aprender a ler e escrever é um direito de todos, que precisa ser garantido por meio de

uma prática educativa baseada em princípios relacionados a uma escola inclusiva.

Nesse primeiro texto do curso Formação do Professor Alfabetizador, pretendemos refletir

sobre a possibilidade real de desenvolvimento de práticas de alfabetização baseadas na

inclusão e no respeito à heterogeneidade. Para isso, é importante discutirmos acerca das

concepções de alfabetização e de avaliação que se relacionam a tais princípios. Além dis-

so, para garantir que todas as crianças aprendam a ler e escrever, faz-se necessário traçar

direitos de aprendizagem que possam nortear a organização do trabalho pedagógico nas

escolas.

· entender a concepção de alfabetização na perspectiva do letramento;

· aprofundar a compreensão sobre currículo nos anos iniciais do Ensino Fundamental na perspectiva da Educação Inclusiva e das diferentes concepções de alfabetização;

· compreender a importância da avaliação no ciclo de alfabetização, analisando e construindo instrumentos de avaliação e de registro de aprendizagem;

· construir coletivamente o que se espera em relação aos direitos de aprendizagem e desenvolvimento no ciclo de alfabetização.

Assim, os objetivos dessa unidade são:

Aprofundando o tema

Ao falarmos em alfabetizar crianças e

adultos no Brasil, podemos nos referir a

práticas diversas de ensino da leitura e

da escrita, desde aquelas vinculadas ao

ensino de letras, sílabas e palavras com

base em métodos sintéticos ou analíticos

e que usam textos cartilhados, até as que

buscam inserir os alunos em práticas so-

ciais de leitura e escrita. Da mesma forma,

podemos nos referir a práticas desenvol-

vidas em diferentes espaços: na família,

no trabalho, na escola. Considerando que

esta última é a instituição oficial respon-

sável pelo ensino da leitura e da escrita,

podemos considerar que, mesmo nesse

espaço, esse ensino tem apresentado certa

diversidade.

Como abordado por Chartier (2000), as

mudanças nas práticas de ensino podem

se relacionar, dentre vários aspectos, a

alterações nas definições dos “conteúdos”

a serem ensinados, que constituiriam

mudanças de natureza didática, ou a

transformações relacionadas à organiza-

ção do trabalho pedagógico (material pe-

dagógico, avaliação, etc.), que correspon-

deriam a mudanças pedagógicas. Assim,

as diferentes práticas de alfabetização

vivenciadas ao longo da nossa história

estariam relacionadas a mudanças de na-

turezas didática e pedagógica no ensino

da leitura e da escrita, decorrentes de

diferentes aspectos – desenvolvimento

científico em diferentes áreas, contexto

socioeconômico, organização escolar,

desenvolvimento tecnológico, mudanças

pedagógicas (material pedagógico, livros

didáticos, etc.).

As mudanças relativas às práticas de

alfabetização ou às outras áreas de co-

nhecimento se relacionam a mudanças

curriculares se tomarmos a definição de

Currículo no ciclo de alfabetização:

princípios gerais

Eliana Borges Correia de Albuquerque

unidade 01 07

currículo como apontado por Moreira e

Silva (1994), não como um veículo que

transporta algo a ser transmitido e absor-

vido, mas como um lugar em que ativa-

mente em meio a tensões, se produz e se

reproduz a cultura. Currículo refere-se,

nessa perspectiva, a criação, recriação,

contestação e transgressão.

Para Moreira e Candau (2007), a discussão

sobre currículo envolve diferentes aspec-

tos, tais como os conhecimentos escolares,

os procedimentos e as relações sociais que

conformam o cenário em que os conhe-

cimentos se ensinam e se aprendem, as

transformações que se deseja efetuar nos

alunos, os valores que se deseja inculcar e

as identidades que se pretende construir.

Os autores, ao falarem sobre currículo, se

referem a “experiências escolares que se

desdobram em torno do conhecimento,

em meio a relações sociais, e que contri-

buem para a construção das identidades de

nossos/as estudantes” (p. 18).

Em relação ao ensino da leitura e da escri-

ta, como abordado por Braslavsky (1988),

as práticas de alfabetização baseadas em

diferentes métodos de ensino (sintéticos

e analíticos) que até hoje se fazem pre-

sentes em algumas escolas começaram

a se desenvolver a partir do século XVII

em um contexto de mudanças históricas

orientadas por novos modelos sociais que

passaram a demandar a leitura e a escrita

em uma época em que a maioria da popu-

lação ainda era analfabeta. Cook-Gum-

perz (1991) relaciona a prática escolar

de leitura com ênfase em métodos que

enfatizam o processo de “decodificação” à

necessidade de expansão da escolarização

à população.

Até meados da década de 1980, a discus-

são acerca das práticas de alfabetização

se relacionava principalmente ao debate

sobre os métodos mais eficazes para

ensinar a ler e escrever, que envolviam

os sintéticos, analíticos e analítico-sinté-

ticos. Tais métodos, apesar de se dife-

renciarem no que se refere à unidade da

língua que serviria como ponto de partida

para o ensino da leitura e da escrita (le-

tras, fonemas, sílabas, palavras, textos),

se assemelhavam em muitos aspectos.

Todos se baseavam em uma concepção

de leitura e escrita como decodificação

e codificação. O aprendizado do código

alfabético se dava por meio do ensino

transmissivo das unidades da língua, se-

unidade 01 08

guindo uma progressão pré-determinada

que ia das unidades mais fáceis para as

mais difíceis. Partia-se do pressuposto de

que todos os alunos iniciavam o processo

sem conhecimento algum sobre a escrita

e que cabia aos professores o ensino das

letras, sílabas e palavras. Ao aluno, nessa

concepção, cabia um papel passivo de

“recebedor” de algo pronto: a língua.

As cartilhas relacionadas a esses métodos

passaram a ser amplamente utilizadas

como livro didático para o ensino nessa

área (MORTATTI, 2000). Ensinar a ler e

escrever com base nos métodos analíticos

ou sintéticos exigia que as crianças apre-

sentassem uma prontidão para o início do

processo de alfabetização. Essa prontidão

estava relacionada ao desenvolvimento

de habilidades perceptivas e motoras e,

na maioria das vezes, era desenvolvida

na Educação Infantil ou nos primeiros

meses da 1ª série do Ensino Fundamental.

Assim, o trabalho com a linguagem nessa

primeira etapa da escolarização era repleto

de atividades que levavam as crianças a

desenvolver habilidades de coordenação

motora e discriminação auditiva e visual, e

esses exercícios envolviam, entre outras, a

identificação e o traçado de letras e síla-

bas isoladas. Nesse contexto, a leitura e a

escrita eram evitadas, e o acesso aos textos

limitava-se, muitas vezes, à prática de

contar histórias realizada pela professora,

como forma de tornar o texto escrito mais

simples e consequentemente mais “fácil”

de ser compreendido.

Na 1ª série (1º ano do Ensino Fundamen-

tal de oito anos), uma vez desenvolvi-

das as referidas habilidades, os alunos

começavam a aprender, por meio prin-

cipalmente da memorização, as letras/

fonemas/sílabas que lhes possibilitaria

ler palavras, frases e, por último, textos.

Todos os alunos vivenciavam as mesmas

atividades, pois se acreditava, como já foi

dito, que todos aprendiam do mesmo jei-

to, seguindo a mesma sequência presente

nas cartilhas.

Se buscarmos definir os conhecimen-

tos escolares trabalhados na 1ª série do

unidade 01 09

Ensino Fundamental, relacionados tanto

à área da Língua Portuguesa como às

outras áreas, podemos perceber que se

ensinava com base principalmente nas

lições presentes nos livros didáticos. Os

professores alfabetizadores, no geral,

seguiam a cartilha à risca, garantindo

que todos os alunos fizessem as mesmas

atividades de forma correta. O erro preci-

sava ser evitado, pois era sinônimo de que

o aluno não tinha aprendido o que fora

ensinado/transmitido. Na série destinada

à alfabetização, que correspondia ao 1º

ano do Ensino Fundamental de oito anos,

as crianças passavam todo o ano apren-

dendo letras, sílabas, palavras e lendo/

escrevendo textos cartilhados que possuí-

am palavras com as unidades trabalhadas

nas lições anteriores. Os textos eram,

portanto, artificiais e não correspondiam

àqueles com os quais os alunos conviviam

fora da escola.

Acreditou-se, por muito tempo, que o

fracasso escolar, que, a partir da década

de 1970, com a democratização do acesso

à escola, atingiu índices preocupantes,

estaria relacionado à falta de capacidades

individuais dos alunos provenientes prin-

cipalmente do meio social desfavorecido.

Além de garantir a prontidão para a alfa-

betização, era preciso assegurar que os

estudantes aprendessem o código escrito.

Mudava-se a cartilha ou o método utiliza-

do, mas as práticas continuavam pautadas

em um programa curricular voltado para

a aprendizagem do código, desvinculado

dos usos sociais da leitura e da escrita,

que desconsiderava os conhecimentos

que as crianças possuíam sobre a escri-

ta. Muitos alunos, inclusive, iniciavam

a 1ª série lendo e escrevendo palavras e

textos. Para estes, as atividades escolares

além de repetitivas, não os faziam evoluir

em suas aprendizagens. Nessa perspecti-

va, esses alunos, ao não serem atendidos

em suas necessidades, eram, de certa

forma, excluídos do processo de ensino-

-aprendizagem, embora não fossem

desvalorizados, já que apresentavam, no

geral, as respostas corretas nas atividades

realizadas. Já as crianças que cometiam

erros e concluíam o ano sem o domínio do

código escrito, engrossavam as estatísti-

cas cada vez mais crescentes de repetên-

cia e evasão escolar, sendo “excluídos” em

seus direitos de aprendizagem da leitura

e da escrita.

Nesse contexto, as crianças que apresenta-

vam necessidades especiais eram segre-

gadas em salas específicas e muitos dos

alunos que fracassavam nas salas de aula

regulares eram avaliados como “deficien-

tes”. O sistema escolar era excludente e

atendia de forma efetiva a uma pequena

parcela da população. A partir da década

de 1980, a temática da exclusão/inclusão

educacional passou a ganhar força, como

pode ser observado no texto a seguir, que

discute a “Educação Inclusiva”.

No “Caderno de Educação Especial - a alfabetização de crianças com deficiência: uma proposta inclusiva” são apresentadas reflexões sobre Educação Inclusiva, com dicas acerca das estratégias de inclusão de crianças com dife- rentes necessida- des educacionais especiais.

unidade 01 10

Educação Inclusiva Rafaella Asfora; Wilma Pastor de Andrade Sousa

Pensar em Educação Inclusiva remete, em primeiro plano, ao

debate sobre exclusão educacional e nos faz refletir sobre a lógica

do sistema escolar que historicamente buscava atender apenas a uma parcela da população, segregar a maioria e direcionar o seu

trabalho para uma sala de aula homogênea.

Se a escola não promovesse a exclusão das diferenças, não preci- saríamos definir aqui os princípios que fundamentam uma escola

inclusiva “que conhece cada aluno, respeita suas potencialidades e necessidades, e a elas responde, com qualidade pedagógica” (BRASIL, 2004, p. 08). E de que princípios estamos falando? Es-

tamos aqui nos referindo ao princípio da aceitação e respeito às diferenças, como um dos pilares fundamentais para uma educação para todos, uma vez que estamos inseridos em um estado demo-

crático de direito.

A nossa Constituição Federal de 1988 apresenta como princípio

fundamental a dignidade da pessoa humana e, por conseguinte, o exercício da cidadania. Em seu artigo 205, apresenta “a educação como um direito de todos” e, no artigo 206, inciso I, estabelece “a

igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino. Encontramos aqui um direito instituído, mas como viabilizá-lo? Como garantir acesso ao ensino,

permanência no âmbito educacional e educação de qualidade? Esse é o grande desafio que nos é colocado na atenção à diversi- dade.

A partir dos anos noventa, novas formas de interpretação da ques- tão da desigualdade, bem como do acesso das camadas populares a bens e serviços, começaram a ficar mais definidas. Alguns do-

cumentos internacionais, como, por exemplo, a Declaração Mun- dial sobre Educação para Todos (UNICEF, 1990), a Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994) e a Convenção de Guatemala (BRASIL,

unidade 01 11

2012), passaram, então, a influenciar no Brasil a elaboração de leis

e ações relacionadas às políticas públicas de educação inclusiva, as quais estão sendo efetivadas paulatinamente.

Dentre os documentos anteriormente citados, a Declaração de Sala-

manca constitui-se como o marco da educação inclusiva, elaborado durante a Conferência Mundial de Educação Especial, que reafirma: o direito à educação de todos os indivíduos, a igualdade de oportuni-

dades às pessoas com deficiência e a promoção do acesso à educação para a maioria das pessoas que apresentam Necessidades Educacio- nais Especiais (NEE). No contexto da educação especial, de acordo

com esse documento, o termo NEE refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou de dificuldades de aprendizagem. Esse

documento reconhece “que toda criança possui características, inte- resses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas” - Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994).

Sendo assim, ele direciona a reconfiguração da escola tradicional em uma escola inclusiva, e nos faz refletir sobre o lugar ocupado pela

educação especial na perspectiva de uma educação inclusiva. Nesta direção, o Decreto N° 3.298/99 define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de

ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular.

Vale salientar que, a partir do respeito aos direitos humanos e do

exercício da cidadania fundamentado no reconhecimento das dife- renças e na participação dos sujeitos, fica claro que a educação é um dos caminhos do exercício dessa cidadania, e que se faz necessário

respeitar os direitos de aprendizagem de todas as crianças, à medida

que atende às suas necessidades educacionais especiais (NEE).

Nessa direção, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LD- BEN/96 (BRASIL, 1996), no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e

organização específicos para atender às suas necessidades. Enten- demos, com isso, que essa garantia deve ser contemplada a partir

unidade 01 12

dos anos iniciais da educação básica, sobretudo no ciclo de alfabe- tização, na perspectiva de que saber ler e escrever é um direito de todos que até então não tem sido efetivado.

Quando falamos em alfabetização via educação inclusiva, esta se configura como um instrumento de inserção da criança na socie-

dade, e nos coloca diante de algumas reflexões pedagógicas. Para

que a criança se aproprie do Sistema de Escrita Alfabética, que se configura como um direito de aprendizagem, é imprescindível a reformulação do currículo que rege as escolas, em função da reali-

zação de práticas inclusivas.

Nessa perspectiva, muitas vezes, nós educadores perguntamos:

Como incluir e atender à diversidade? Se acreditarmos que é possível, precisamos nos engajar no sentido de repensar o fazer pedagógico na alfabetização, visando ao atendimento de todos e

a garantia dos direitos de aprendizagem. Para compreendermos e enfrentarmos esse processo, ressaltamos, então, os princípios da educação inclusiva: acessibilidade e remoção das barreiras

à aprendizagem, avaliação da aprendizagem numa perspectiva formativa, gestão participativa, participação da família e da co- munidade, serviço de apoio especializado, currículo multicultural,

professor com formação crítico-reflexiva (NAKAYAMA, 2007).

Tais princípios nos chamam a atenção para o desafio de educar na diversidade, para isso, necessário se faz: conhecer cada estudante

(suas necessidades, potencialidades, interesses, experiências pas- sadas, etc); identificar necessidades de aprendizagem específicas; planejar as aulas por meio de uma didática e de gestão do tempo,

de modo que todos participem efetivamente da aula.

Referências

BRASIL. Presidência da República. Declaração de Salamanca e ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994.

BRASIL. Presidência da República. Ministério da Educação. Lei de diretri- zes e bases da educação nacional. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília: MEC, 1996.

A Resolução nº 7, de 14

de dezembro de 2010, do

Conselho Nacional de Educação, que

fixa Diretrizes Curriculares

Nacionais para o Ensino

Fundamental de 9 (nove) anos,

pode ser lida no caderno do ano 1,

Unidade 8.

unidade 01 13

BRASIL. MEC/SEE. Educação inclusiva: a escola. V.3. Brasília, 2004.

BRASIL. Presidência da República. Decreto n°.3.956, de 08 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Con- venção de Guatemala: 2001. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ ccivil_03/ Acesso em 22 de junho de 2012.

NAKAYAMA, Antônio Maria. Educação inclusiva: princípios e representação. Tese (Doutorado) Universidade de São Paulo – Faculdade de Educação. 364p. 2007.

UNICEF. Declaração mundial sobre educação para todos. Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem. Jomtiem, 1990.

Conforme apresentado no quadro “Edu-

cação Inclusiva”, o aprendiz conquista o

lugar social de um sujeito de direitos e a

educação inclusiva viabiliza a efetivação da

sua cidadania à medida que busca respei-

tar as peculiaridades de cada sujeito por

meio de práticas de ensino acessíveis.

Repensar práticas de ensino da leitura e da

escrita, assim como dos conhecimentos re-

lacionados às outras áreas de ensino, requer

que pensemos, como Moreira e Candau

(2007, p. 31), na relação entre currículo e

cultura. Como apontam os referidos autores,

“Insistimos, inicialmente, na necessidade de uma nova pos-

tura, por parte do professorado

e dos gestores, no esforço por construir currículos cultural-

mente orientados. Propomos, a seguir, que se reescrevam os conhecimentos escolares, que se evidencie a ancoragem social desses conhecimentos, bem como que se transforme a esco-

la e o currículo em espaços de crítica cultural, de diálogo e de desenvolvimento de pesquisas. Esperamos que nossos princí-

pios possam nortear a escolha de novos conteúdos, a adoção de novos procedimentos e o esta-

belecimento de novas relações na escola e na sala de aula.”

unidade 01 14

Ao proporem a elaboração de currículos

culturalmente orientados, Moreira e

Candau defendem, apoiados em Stoer e

Cortesão (1999), a superação do “daltonis-

mo cultural”.

“Elaborar currículos cultural-

mente orientados demanda uma nova postura, por parte da comunidade escolar, de aber-

tura às distintas manifestações culturais. Faz-se indispen-

sável superar o “daltonismo cultural”, ainda bastante pre-

sente nas escolas. O professor “daltônico cultural” é aquele que não valoriza o “arco-íris de culturas” que encontra nas salas de aulas e com que precisa trabalhar, não tirando, por-

tanto, proveito da riqueza que marca esse panorama. É aquele que vê todos os estudantes como idênticos, não levando em con-

ta a necessidade de estabelecer diferenças nas atividades peda-

gógicas que promove.” (p. 31)

Nessa direção, um currículo multicultural

implica em propostas curriculares inclu-

sivas que compreendem as diferenças e

valorizam os alunos em suas especificida-

des, seja cultural, linguística, étnica ou

de gênero, o que amplia o acesso à alfabe-

tização a um maior número de crianças,

além de respeitar os seus direitos de

aprendizagem.

Na próxima seção, discutiremos sobre as

mudanças nas práticas de alfabetização

relacionadas à tentativa de construção de

currículos voltados a uma perspectiva de

educação inclusiva que garanta o direito de

todos à aprendizagem da leitura e da escrita.

Referências

BRASLAVSKY, Berta. O método: panaceia,

negação ou pedagogia? Cadernos de Pes-

quisa, 66: 41:48, 1988.

CHARTIER, Anne-Marie. Réussite, échec

et ambivalence de l’innovation pédagogi-

que: le cas de l’enseignement de la lecture.

Recherche et Formation pour les profes-

sions de l’éducation: Innovation et réseaux

sociaux. INRP, n. 34, p. 41-56, 2000.

COOK-GUMPERZ, Jenny. Alfabetização e

escolarização: uma equação imutável? In:

COOK-GUMPERZ, Jenny (org.). A constru-

ção social da alfabetização. Porto Alegre:

Artes Médicas, 1991.

MOREIRA, Antonio Flávio B. CANDAU,

Vera M. Currículo, conhecimento e cul-

tura. In: BEAUCHAMP, Jeanete. PAGEL,

unidade 01 16

Concepções de alfabetização:

o que ensinar no ciclo de alfabetização

Na década de 1980, as práticas de alfabe-

tização baseadas em métodos sintéticos e

analíticos que culminavam na retenção, na

1ª série, de uma grande parcela da popula-

ção que frequentava as redes públicas de

ensino passaram a ser amplamente critica-

das à luz de teorias construtivistas e intera-

cionistas de ensino (em geral) e da língua

(em particular). No campo da alfabetiza-

ção, os trabalhos de Emília Ferreiro e Ana

Teberosky sobre a Psicogênese da Língua

Escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 1984;

FERREIRO, 1985) vão influenciar no desen-

volvimento de novas práticas de alfabetiza-

ção. Demonstrando que a escrita alfabética

não era um código, o qual se aprenderia a

partir de atividades de repetição e memo-

rização, as autoras propuseram uma con-

cepção de língua escrita como um sistema

de notação que, no nosso caso, é alfabético.

Elas perceberam, por meio de pesquisas,

que, no processo de apropriação do Sistema

de Escrita Alfabética, os alunos precisariam

entender como esse sistema funciona. Para

isso, é fundamental que compreendam o

que a escrita nota (ou “representa”, “grafa”)

e como a escrita cria essas notações (ou “re-

presentações”). Eles precisariam, portanto,

entender que o que a escrita alfabética nota

no papel são os sons das partes das palavras

e que o faz considerando segmentos sonoros

menores que a sílaba (os fonemas).

Ainda de acordo com as referidas autoras,

no processo de apropriação da escrita alfa-

bética, as crianças ou adultos analfabetos

passariam por diferentes fases relaciona-

das à forma como concebem as questões

acima citadas: inicialmente apresentariam

uma escrita pré-silábica, em que não

há correspondência grafofônica, depois

passariam pela escrita silábica, em que já

há essa correspondência, mas no nível da

sílaba (uma letra representaria um síla-

ba) e não do fonema para posteriormente

poderem chegar à escrita alfabética, na

qual percebem a relação fonema-grafema,

ainda que apresentem trocas de letras na

notação de alguns sons, já que essa fase

não pode ser confundida com domínio da

norma ortográfica sendo, esta última, uma

tarefa de aprendizagem posterior.

Para Ferreiro e Teberosky (1984), assim

como para outros pesquisadores (REGO,

1988), é interagindo com a escrita, con-

templando seus usos e funções, que as

Eliana Borges Correia de Albuquerque

A discussão sobre o Sistema de

Escrita Alfabética e seu ensino é

objeto de reflexão nos cadernos da

Unidade 3.

unidade 01 17

crianças se apropriariam da escrita alfa-

bética, e não a partir da leitura de textos

“forjados” como os presentes em diferen-

tes cartilhas de alfabetização. Para esses

autores, dependendo das oportunidades

de vivenciar práticas diferenciadas de lei-

tura e produção de textos (tanto na escola

como fora dela), os aprendizes poderiam

ter maior ou menor conhecimento sobre a

“linguagem que usamos ao escrever” textos

de diferentes gêneros e sobre os diferentes

usos sociais que damos a eles.

Assim, com a difusão dos trabalhos da

Psicogênese da Língua Escrita, vimos

nascer um forte discurso contrário ao uso

dos tradicionais métodos de alfabetização

e a defesa de uma prática que tomasse por

base a teoria psicogenética de aprendiza-

gem da escrita. Pregava-se a necessidade

de possibilitar que as crianças se apro-

priassem do Sistema de Escrita Alfabética

a partir da interação com diferentes textos

escritos em atividades significativas de

leitura e produção de textos, desde a Edu-

cação Infantil.

O discurso da importância de se consi-

derar os usos e funções da escrita com

base no desenvolvimento de atividades

significativas de leitura e escrita na escola

foi incorporado, principalmente a partir

da década de 90, a um novo conceito de

alfabetização: o de letramento. Segundo

Soares (1998), o termo letramento é a ver-

são para o Português da palavra de língua

inglesa literacy, que significa o estado ou

condição que assume aquele que aprende a

ler e escrever.

No Brasil, o termo letramento não substi-

tuiu a palavra alfabetização, mas aparece

associada a ela. Atualmente ainda convi-

vemos com um alto índice de analfabetos,

mas não podemos dizer que essas pessoas

são “iletradas”, pois sabemos que um

sujeito, criança ou adulto, que ainda não se

apropriou da escrita alfabética, envolve-se

em práticas de leitura e escrita por meio

da mediação de uma pessoa que sabe ler

e escrever e, nessas práticas, desenvolve

conhecimentos sobre os textos que circu-

lam na sociedade (REGO, 1988; MORAIS

e ALBUQUERQUE, 2004). Assim, por

exemplo, podemos ver que crianças peque-

nas que escutam frequentemente histórias

lidas por adultos (em casa ou na escola),

são capazes de pegar um livro e fingir que

leem a história usando, para isso, uma

linguagem característica desse gênero.

unidade 01 18

Por outro lado, é importante destacar

que apenas a interação com textos que

circulam na sociedade não garante que os

alunos se apropriem da escrita alfabética,

uma vez que, no geral, essa aprendizagem

não acontece de forma espontânea, mas

exige um trabalho de reflexão sobre as

características do nosso sistema de escrita.

A despeito das novas concepções de alfa-

betização e de mudanças nas práticas de

ensino da leitura e da escrita com base nas

novas perspectivas teóricas, muitos alunos

continuaram a concluir o primeiro ano e

mesmo o primeiro segmento do Ensino

Fundamental sem saber ler e escrever.

Resultados de avaliações em larga escala,

sejam internacionais (PISA), nacionais

(SAEB, Prova Brasil), estaduais ou muni-

cipais, têm revelado o baixo desempenho

dos nossos alunos em leitura e confirmam

o fracasso da escola em ensinar os estu-

dantes a ler.

Algumas medidas têm sido efetivadas

tanto no âmbito nacional, como no âmbi-

to das diferentes secretarias de educação,

para tentar superar os problemas rela-

cionados ao aprendizado da leitura, tais

como: a ampliação do Ensino Fundamen-

tal para 9 anos como forma de garantir

que os alunos da rede pública de ensino

iniciem o processo formal de alfabetiza-

ção aos seis anos de idade (BEAUCHAMP;

PAGEL; NASCIMENTO, 2007), a defi-

nição dos três primeiros anos do Ensino

Fundamental como o período destinado

à alfabetização (PNE 2011/2020 - BRA-

SIL, 2011), o investimento na formação

continuada de professores, por meio da

criação da Rede Nacional de Formação

de Professores e do desenvolvimento de

programas de formação continuada como

o Pró-Letramento.

Paralelamente ao debate sobre tais políti-

cas relativas à formação dos professores e

sobre os resultados das avaliações em larga

escala, temos vivido também um amplo

debate sobre que métodos/metodologias

utilizar para alfabetizar nossos alunos.

Reportagens publicadas em revistas de

grande circulação criticam o ensino da lei-

tura e escrita com base em uma abordagem

construtivista de alfabetização, afirmando

unidade 01 19

ser tal abordagem responsável pelo baixo

índice de leitura apresentado por nossos

educandos nos processos de avaliação.

Defender, no entanto, a alfabetização

centrada em qualquer método sintético

ou analítico, como meio de superar o atual

contexto de fracasso escolar na alfabeti-

zação, é desconsiderar as contribuições

das pesquisas que analisam o processo de

construção dos sujeitos na aprendizagem

da leitura e da escrita e os estudos sobre

letramento.

Soares (2004), em seu artigo sobre as

muitas facetas da alfabetização, comenta

que os problemas que vivenciamos hoje re-

lativos a essa fase da escolarização podem

estar relacionados, entre outras coisas, a

uma perda de especificidade do proces-

so de alfabetização vivenciado nas duas

últimas décadas, relacionada a um pro-

cesso por ela chamado de “desinvenção da

alfabetização”. Para a referida autora, esse

processo foi causado, principalmente, pela

mudança conceitual a respeito da aprendi-

zagem da escrita que se difundiu no Brasil

a partir de meados dos anos 1980, com a

divulgação dos trabalhos da psicogênese

da escrita.

Sem desconsiderar a incontestável contri-

buição que essa mudança paradigmática,

na área da alfabetização, trouxe para a

compreensão da trajetória da criança em

direção à descoberta do sistema alfabético,

Soares destaca alguns equívocos e falsas

inferências surgidos com a transposição

dessa abordagem para a prática pedagógica

de alfabetização, tais como: privilégio da

faceta psicológica da alfabetização que obs-

cureceu sua faceta linguística – fonética e

fonológica; incompatibilidade divulgada

entre o paradigma conceitual psicogené-

tico e a proposta de métodos de alfabeti-

zação; e, por fim, o pressuposto, também

amplamente divulgado, de que apenas por

meio do convívio intenso com o material

escrito que circula nas práticas sociais, a

criança se alfabetizaria. Nessa perspectiva,

a alfabetização, como processo de apro-

priação de um sistema de escrita conven-

cional com regras próprias, foi obscurecida

pelo letramento, porque “este acabou por

frequentemente prevalecer sobre aquela,

que, como consequência, perde sua espe-

cificidade” (SOARES, 2004, p. 9).

No entanto, para “reinventar a alfabe-

tização”, mais do que defender a volta

dos antigos métodos de alfabetização

(analíticos ou sintéticos) que priorizam

primeiro o ensino de um “código” para

depois os alunos poderem ler e escrever

textos diversos, a autora defende o tra-

balho específico de ensino do Sistema de

Escrita Alfabética inserido em práticas de

letramento. Nessa perspectiva, a referida

autora propõe uma distinção entre os ter-

mos alfabetização e letramento. O pri-

meiro corresponderia à ação de ensinar/

aprender a ler e a escrever, enquanto o

segundo seria considerado como o estado

unidade 01 20

ou a condição de quem não apenas sabe

ler e escrever, mas cultiva e exerce as

práticas sociais que usam a escrita. Como

afirmado por ela:

“alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inse-

paráveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado.” (Soares, 1998, p. 47)

Como desenvolver práticas de alfabetiza-

ção nessa perspectiva? Seriam essas práti-

cas efetivas? Algumas pesquisas têm sido

desenvolvidas com o objetivo de investigar

como os professores estão construindo

práticas de alfabetização na perspectiva do

alfabetizar letrando e investigar a relação

dessas práticas com a aprendizagem dos

alunos. Relataremos, a seguir, de forma

sucinta, duas dessas pesquisas.

A primeira foi desenvolvida por Albu-

querque, Morais e Ferreira (2008) e

envolveu um grupo de nove professoras

que lecionavam no 1º ano do 1º ciclo da

Secretaria de Educação da cidade do Reci-

fe. Como procedimentos metodológicos,

além de observações semanais das aulas

das professoras, uma vez por mês eram

realizados encontros com as docentes que

tinham o objetivo de discutir as práticas

observadas, e refletir sobre alguns aspec-

tos constitutivos do processo de alfabe-

tização. A análise dos resultados revelou

que um grupo de professoras desenvolvia

uma prática sistemática de alfabetização

que contemplava, diariamente, ativida-

des de reflexão sobre o Sistema de Escrita

Alfabética, enquanto outras professoras

priorizavam o trabalho de leitura e pro-

dução coletiva de textos. A realização de

um ditado com os alunos das professoras

mostrou que a maioria das crianças que

estudavam com as do primeiro grupo

concluiu o ano na hipótese alfabética de

escrita, enquanto nos outros grupos uma

proporção maior de alunos apresentou

hipóteses de escrita menos avançadas. As

experiências vivenciadas nos encontros

mensais, no entanto, possibilitaram que

as docentes refletissem sobre suas práti-

cas de ensino e, nesse processo, fossem

recriando-as, na perspectiva do alfabeti-

zar letrando.

A segunda pesquisa foi desenvolvida por

Cruz (2008), e teve como objetivo verificar

as práticas de ensino da leitura e da escrita

desenvolvidas por professores dos três

primeiros anos do Ensino Fundamental

e a relação dessas práticas com a apren-

dizagem dos alunos no que se refere ao

domínio do Sistema de Escrita Alfabética

e à capacidade de produzir textos. Partici-

param da pesquisa três professoras (uma

unidade 01 21

de cada ano do 1º ciclo) e 60 alunos (15

do 1º ano, 20 do 2º ano e 25 do 3º ano) de

uma escola da Rede Municipal de Ensino

do Recife. Como procedimentos meto-

dológicos foram realizadas observações

de aulas e atividades diagnósticas com os

estudantes: escrita do nome de figuras

e uma atividade de reescrita de texto. A

análise dos dados revelou que a maioria

dos alunos das três turmas concluiu o ano

na fase alfabética de escrita, apresentando

razoável domínio das correspondências fo-

nográficas diretas. Em relação à produção

textual, algumas crianças do 1º concluíram

o ano produzindo textos de forma legível e

elaborada. Esses resultados apontam para

a possibilidade de alunos do 1º ano do 1º

ciclo se apropriarem do Sistema de Escri-

ta Alfabética, ao mesmo tempo em que

ampliam suas experiências de letramento,

desde que sejam submetidos a atividades

sistemáticas de alfabetização que os levem

a refletir sobre o sistema de escrita, assim

como a atividades de leitura e produção de

textos, como era o caso da turma partici-

pante da pesquisa.

O que estamos chamando de atividades de

reflexão sobre o Sistema de Escrita Alfa-

bética? Como abordado por Leal e Morais

(2010), para compreender as proprieda-

des do sistema alfabético, é necessário que

o indivíduo se aproprie de uma série de

conhecimentos, tais como:

A reflexão mais aprofundada sobre os princípios do Sistema de Escrita Alfabética é contemplada na Unidade 3.

a) se escreve com letras, que não podem ser inventadas, que têm um repertório finito e que são diferentes de números e outros símbolos;

b) as letras têm formatos fixos e pequenas variações produzem mudanças na identidade das mesmas (p, q, b, d), embora uma letra assuma formatos variados (P, p, P, p);

c) a ordem das letras é definidora da palavra e, juntas, configuram-na, e uma letra pode se repetir no interior de uma palavra e em diferentes palavras;

d) nem todas as letras podem vir juntas de outras e nem todas podem ocupar certas posições no interior das palavras;

e) as letras notam a pauta sonora e não as

características físicas ou funcionais dos referentes que substituem;

f) todas as sílabas do português contêm uma vogal;

g) as sílabas podem variar quanto às combinações entre consoantes, vogais e semivogais (CV, CCV, CVSv, CSvV, V, CCVCC...), mas a estrutura predominante é a CV (consoante-vogal);

h) as letras notam segmentos sonoros menores que as sílabas orais que pronunciamos;

i) as letras têm valores sonoros fixos, apesar de muitas terem mais de um valor sonoro e certos sons poderem ser notados com mais de uma letra. (p. 35-36)

unidade 01 22

Nessa perspectiva, defendemos que as

crianças possam vivenciar, desde cedo,

atividades que as levem a pensar sobre as

características do nosso sistema de escrita,

de forma reflexiva, lúdica, inseridas em

atividades de leitura e escrita de diferentes

textos. É importante considerar, no entanto,

que a apropriação da escrita alfabética não

significa que o sujeito esteja alfabetizado.

Essa é uma aprendizagem fundamental,

mas para que os indivíduos possam ler e

produzir textos com autonomia é necessário

que eles consolidem as correspondências

grafofônicas, ao mesmo tempo em que

vivenciem atividades de leitura e produção

de textos. É preciso, portanto, a definição

de direitos de aprendizagem relacionados

aos diferentes eixos do ensino da Língua

Portuguesa a serem desenvolvidos ao longo

dos três primeiros anos do Ensino Funda-

mental, tal como os que são sugeridos no

primeiro fascículo do material do Programa

Pró-Letramento, que propõe um conjunto

de capacidades a serem desenvolvidas pelos

alunos dos três primeiros anos do Ensino

Fundamental. Outro exemplo de propo-

sição de direitos de aprendizagem pode

ser visualizado na seção Compartilhando

deste caderno. O principal objetivo dessa

proposição é que tal exemplo possa servir

de ponto de partida para a discussão, em

cada município, acerca de conhecimentos e

capacidades que possam ser propostos nos

documentos oficiais que orientam o traba-

lho nas escolas.

A definição de direitos de aprendizagem

colabora para a discussão acerca do que

pode ser priorizado no planejamento do

ensino e do que pode ser avaliado, tema

que será discutido na próxima seção.

Referências

ALBUQUERQUE, Eliana B.C., MORAIS,

Artur G.; FERREIRA, Andrea T.B. As

práticas cotidianas de alfabetização: o

que fazem as professoras? In: Revista

Brasileira de Educação. V. 13, n.38. maio/

ago 2008.

BEAUCHAMP, Jeanete, PAGEL, Sandra

e NASCIMENTO, Aricélia. Ensino

fundamental de nove anos: orientações para

inclusão da criança de seis anos. Brasília:

Ministério da Educação, Secretaria de

Educação Básica, 2007.

BRASIL. Plano Nacional de Educação

PNE/2011-2020. Brasília: MEC/SEF, 2011.

CRUZ, Magna do Carmo Silva. Alfabetizar

letrando: Alguns desafios do 1º ciclo

no Ensino Fundamental. Recife: Ed.

Universitária da UFPE, 2008.

FERREIRO, Emilia & TEBEROSKY, Ana.

Psicogênese da Língua Escrita. Porto

Alegre, Artes Médicas, 1984.

23 unidade 01

Avaliação no ciclo de alfabetização

Como vimos no texto anterior, até meados

da década de 1980, as práticas de alfabetiza-

ção se baseavam em métodos considerados

hoje como “tradicionais”, que tornavam

artificiais as práticas escolares da leitura e

da escrita. Liam-se e escreviam-se palavras,

frases e textos “cartilhados” (considerados

pseudo textos) com o objetivo de aprender

“o código” alfabético. Atreladas a essas prá-

ticas de alfabetização desenvolvidas na 1º

série do Ensino Fundamental observávamos

a realização de práticas de avaliação nomea-

das hoje como tradicionais, cuja ênfase era

na medição/mensuração das aprendizagens

dos alunos e na classificação deles como ap-

tos ou não aptos para progredir no ensino.

Antes de iniciar o processo formal de alfa-

betização, era preciso avaliar se os alunos

apresentavam a “prontidão” necessária para

tal processo, relacionada ao desenvolvimen-

to de habilidades “psiconeurológicas” ou

“perceptivo-motoras” (coordenação mo-

tora, discriminação auditiva e visual, etc.).

Com a elevação do índice de repetência na

1ª série do Ensino Fundamental da escola

pública, vimos surgir programas de Educa-

ção Compensatória que tinham o objetivo

de preparar os alunos, na Educação Infantil

(denominada de pré-escola na época),

Eliana Borges Correia de Albuquerque

para o início do processo de alfabetização,

compensando as supostas carências cultu-

rais, deficiências linguísticas e defasagens

afetivas que esses alunos – provenientes das

camadas populares – apresentavam (KRA-

MER, 2006).

Considerava-se, naquele contexto, que as

crianças que ingressavam no Ensino Funda-

mental não possuíam conhecimentos sobre

a língua e, ao mesmo tempo, julgava-se

necessário que todas elas tivessem desen-

volvido uma maturidade para aprender a ler

e escrever relacionadas com as habilidades

anteriormente mencionadas. Uma vez diag-

nosticado que elas estavam “aptas” para ini-

ciar esse processo, cabia ao professor, que

seguia um determinado método, apresentar

as unidades sonoras (sílaba, fonema) em

uma sequência pré-estabelecida, unidades

estas que deveriam ser memorizadas pelos

alunos. Como abordado por Albuquerque e

Morais (2006, p. 129),

“Os diferentes métodos contro-

lavam e garantiam a aprendiza-

gem quando existia prontidão. O controle era feito a partir da apresentação das unidades que

unidade 01 25

deveriam ser memorizadas – le-

tras/fonemas/padrões silábicos, no caso dos métodos sintéticos, ou textos/frases com um reper-

tório de palavras que deveriam ser memorizadas, no caso dos métodos analíticos – sempre com base em uma sequência a ser seguida. O aluno só poderia ser apresentado a novas unida-

des uma vez que tivesse memo-

rizado as anteriores. “

Nessa prática de ensino da leitura e da

escrita, a avaliação era fundamental para

o bom andamento do processo. Avaliava-

-se se os alunos estavam aprendendo

o código alfabético na perspectiva da

memorização das unidades apresentadas/

ensinadas pelo professor e presentes no

livro didático utilizado. O objetivo de tal

avaliação era o de medir e classificar a

aprendizagem dos alunos para determinar

seu prosseguimento nos estudos, tanto no

que se refere à sequência de apresentação

das lições/unidades ao longo do ano, como

à passagem para a 2ª série. O propósito

classificatório e seletivo de tal prática de

avaliação evidencia-se nos altos índices de

reprovação no final da 1ª série.

Ainda em relação a tais práticas de alfabe-

tização e avaliação, presentes na memória

de muitos de nós, avaliava-se por meio

de atividades que exigiam a leitura e a

escrita das letras, sílabas, palavras, frases

e textos trabalhados. Era preciso garantir

que os alunos dessem as respostas cor-

retas, uma vez que o erro precisava ser

evitado, pois era indicador de que o estu-

dante não havia aprendido/memorizado o

que fora ensinado.

Como abordado no primeiro texto deste

caderno, tal prática de avaliação era exclu-

dente, pois desconsiderava o sujeito em

suas singularidades e não considerava suas

experiências/conhecimentos prévios, assim

como seus percursos de aprendizagem. Os

educandos, ao final do ano, eram apenas ro-

tulados em aptos ou não aptos a prosseguir

os estudos, estando tal aptidão relacionada

ao desempenho deles nas tarefas/provas

escolares e a suas capacidades de emitirem

as respostas corretas.

A partir da década de 1980, o fracasso esco-

lar que até então era visto como um proble-

ma de deficiência ou carência cognitiva e

cultural dos alunos do meio popular, passou

a ser relacionado, à luz das teorias cons-

trutivistas e sociointeracionistas de ensino

(em geral) e da língua (em particular), às

práticas tradicionais de ensino da leitura

e da escrita. No campo da alfabetização,

como vimos anteriormente, os trabalhos

de Emília Ferreiro e Ana Teberosky vão dar

um novo sentido aos erros ou escritas não

convencionais dos alunos, que passaram a

ser vistos como reveladores de suas hipóte-

ses de escrita.

unidade 01 26

Como abordado por Albuquerque e Morais (2006), diferentemente de uma prática tradi-

cional de alfabetização e avaliação, na perspectiva construtivista e interacionista de ensino,

e também na perspectiva inclusivista, avaliam-se as conquistas e as possibilidades dos estu-

dantes ao longo do ano escolar, e não apenas os impedimentos e as condutas finais e acaba-

das. O erro, que antes precisava a todo custo ser evitado, já que era o principal sintoma de

exclusão escolar, passa a ser considerado como indicador da forma como os alunos pensam

sobre determinado conhecimento. Os objetivos das avaliações não se relacionam mais à

simples medição de conhecimentos para determinar se estão aptos a progredir nos estudos,

mas à identificação dos conhecimentos que os estudantes já desenvolveram, com o objetivo

de fazê-los avançar em suas aprendizagens. Além disso, nessa perspectiva, a avaliação aten-

de a diferentes objetivos, como alguns apontados por Leal (2003, p. 20):

a) identificar os conhecimentos já construídos pelos alunos, a fim de planejar as novas atividades de ensino de forma ajustada, isto é, considerando as aprendizagens que eles já desenvolveram, as dificuldades ou lacunas que precisam superar;

b) decidir sobre a necessidade ou não de

Nessa perspectiva, avalia-se tanto os alu-

nos, para mapear seus percursos de apren-

dizagem, como as práticas pedagógicas

com o objetivo de analisar as estratégias de

ensino adotadas de modo a relacioná-las

às possibilidades dos educandos. Como

abordado por Ferreira e Leal (2006), “é

papel de a escola ensinar, favorecendo, por

meio de diferentes estratégias, oportuni-

dades de aprendizagem, e avaliar se tais

estratégias estão sendo de fato adequadas”

(p. 16).

Na unidade 2 o planejamento do

ensino é discu- tido, a partir do

pressuposto de que é a avaliação que fornece informa- ções sobre quais

são as prioridades a serem consideradas no planejamento e

sobre como agrupar os estudantes em

sala de aula.

Quanto ao registro dessas avaliações, pode-

-se também propor diversificação quanto

aos instrumentos: cadernos de registros

dos estudantes; os portfólios com a cole-

tânea de atividades/registros realizados

pelas crianças ao longo de um determinado

período que permitem que tanto o professor

como os próprios alunos acompanhem as

dificuldades e os avanços em uma determi-

nada matéria; a ficha de acompanhamento

individual (de cada aluno) e coletiva (da

classe).

retomar o ensino de certos itens já ensinados ou de usar estratégias de ensino alternativas, a partir da verificação do que os alunos aprenderam;

c) decidir sobre se os alunos estão em condições de progredir para um nível (série, ciclo, etc.) escolar mais avançado.

unidade 01 27

Ana Cristina Bezerra da Silva, professora

do 1º ano de uma escola da rede municipal

de ensino do Recife, relata de forma breve

como faz uso da avaliação diagnóstica para

identificar os conhecimentos das crianças

em relação ao Sistema de Escrita Alfabética

e poder planejar as atividades de forma a

possibilitar que elas avancem em suas hipó-

teses de escrita:

“Nos primeiros dias de aula des-

te ano letivo foi estabelecido pela coordenação da escola, junta-

mente com todos os professores, um período de sondagem inicial (ou diagnóstico da turma), para que pudéssemos descobrir o que cada aluno sabia sobre o sistema de escrita, bem como identificar quais hipóteses da língua escrita em que as crianças encontra-

vam-se para que pudéssemos adequar o planejamento das au-

las de acordo com as necessida-

des de aprendizagem do grupo. Essa avaliação inicial me permite acompanhar os avanços na apro-

priação do Sistema de Escrita Alfabética durante todo ano. A sondagem inicial foi realizada através de uma atividade feita individualmente com a produ-

ção espontânea de uma lista de palavras de um mesmo grupo

semântico que, no caso desta turma, escolhi nome de alguns animais (SAPO, CAVALO, MA-

CACO, CORUJA, VACA, GATO). Em outro momento fiz aplicação de uma avaliação elaborada pela coordenadora para aplicação nas turmas do 1° ano, em seguida fo-

ram tabulados os acertos de cada criança de acordo com os descri-

tores estabelecidos pela escola. Com base nessa tabela, foi pos-

sível fazer uma análise crítica de como deveria ser a rotina e quais atividades seriam contempladas para que cada criança avançasse do seu estágio inicial de escrita. Com o resultado desta sondagem organizei as primeiras atividades para que pudesse fazer as inter-

venções adequadas à diversidade de saberes da turma. Como, no grupo de dezessete alunos, doze estavam no nível pré-silábico, iniciei as atividades partindo do nome das crianças, para que as crianças entrassem em contato com a leitura e a escrita através do que lhe pertence, que é o seu nome. Elaborei também um quadro, para que, no final de cada bimestre, pudesse manter um registro criterioso do proces-

so de evolução das hipóteses de

unidade 01 28

escrita das crianças, pois é atra-

vés das sondagens e da obser-

vação cuidadosa e constante das produções dos alunos durante o ano, que eu posso saber em que momento se encontra cada um, e se a minha rotina está funcio-

nando, e como posso ajustar o planejamento do meu trabalho para que, no final do ano letivo, todos estejam alfabetizados.” (Ana Cristina Bezerra da Silva, professora do 1° Ano da Escola Municipal Maurício de Nassau – Recife/PE).

A professora Ana Cristina é a mesma docen-

te da pesquisa de Cruz, relatada no segundo

texto deste caderno. Tais atividades citadas

são favorecidas porque existe um compro-

misso entre os profissionais da escola em

que ela trabalha de desenvolver uma prática

de ensino da leitura e da escrita na perspec-

tiva do alfabetizar letrando.

A proposta pedagógica da referida escola

contempla alguns direitos de aprendizagens

a serem assegurados a cada ano do ciclo e

os professores, juntamente com a equipe

pedagógica, buscam alternativas para que

tais direitos sejam assegurados. Para isso, é

essencial a realização de uma avaliação diag-

nóstica no início do ano, para que o perfil da

turma seja traçado e a professora possa, jun-

tamente com a equipe, pensar nas estraté-

gias de ação relacionadas à alfabetização. Tal

avaliação também acontece ao longo do ano

e, com base nela e nas atividades desenvol-

vidas diariamente, a docente preenche um

quadro de registro de cada aluno, de modo

a poder acompanhar os avanços de cada um

nas diferentes áreas. Por meio de tal quadro

é possível, também, analisar o baixo ren-

dimento dos alunos de modo a pensar nas

soluções para que efetivamente eles apren-

dam. Pode-se, por exemplo, realizar mudan-

ças na organização de estratégias didáticas,

com a possibilidade de acompanhamento

individual do aluno pelo professor em

alguns momentos e por outro profissional da

escola (coordenador pedagógico, estagiário,

etc.), em outros momentos.

Por fim, é importante considerar que as

mudanças nas práticas de alfabetização e

avaliação foram acompanhadas também

de mudanças na organização de alguns

sistemas de ensino em regimes ciclados. No

Brasil, foi a partir da década de 1980, como

forma de diminuir o gargalo na 1ª série do

Ensino Fundamental, que a organização

curricular em ciclos passou a ser instituída.

Para Ferreira e Leal (2006, p. 18),

“[...] os argumentos para a ado-

ção do regime ciclado são mui-

tos. Um deles repousa na ideia de que essa estrutura curricular favorece a continuidade, a inter-

disciplinaridade e a participa-

unidade 01 29

ção, respeitando-se os ritmos e os tempos dos alunos. Há ainda, nessas propostas, uma negação da lógica excludente e competi-

tiva (quem vai chegar primeiro?) e a adoção de uma lógica de in-

clusão e solidariedade (partilha de saberes). Outro aspecto a des-

tacar é a mudança da perspecti-

va conteudista de “quanto já se sabe sobre” para uma perspecti-

va multicultural, que respeita a diversidade de saberes, práticas e valores construídos pelo grupo. Há, ainda, uma rejeição da busca de homogeneização e uma valo-

rização da heterogeneidade e da diversidade.”

Enfim, na perspectiva da inclusão que

norteia a proposta da organização escolar

em ciclos é fundamental que os sistemas de

ensino (seriados ou ciclados) estabeleçam o

que deve ser ensinado em cada ano escolar

e construam estratégias didáticas para que

os estudantes progridam em seus conheci-

mentos, respeitando-se a heterogeneidade

do grupo. É necessário pensar também em

formas de acompanhamento daqueles que

não alcançaram as metas pretendidas para

o ano e que vão prosseguir em seus estudos,

de modo a garantir que não sejam excluídos

do grupo. Algumas escolas e redes de ensino

têm adotado estratégias relacionadas ao

desenvolvimento de projetos de acompa-

nhamento aos alunos com defasagem de

aprendizagem, projetos esses que são reali-

zados por parte de um grupo de professores

ou estagiários em determinados horários da

semana ou no contra turno.

Referências

ALBUQUERQUE, Eliana e MORAIS, Artur.

Avaliação e alfabetização. In MARCUSCHI,

Beth e SUASSUNA, Lívia. Avaliação em língua

portuguesa: contribuições para a prática

pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

FERREIRA, Andréa e LEAL, Telma. Avaliação

na escola e ensino da Língua Portuguesa:

introdução ao tema. In MARCUSCHI, Beth e

SUASSUNA, Lívia. Avaliação em língua

portuguesa: contribuições para a prática

pedagógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

KRAMER, Sônia. As crianças de 0 a 6 anos nas

políticas educacionais no Brasil: Educação

Infantil e Fundamental In: Educação e

Sociedade. Campinas, Vol. 27, n. 96. Especial,

p. 797 – 818, out. 2006.

LEAL, Telma Ferraz. Intencionalidade da

avaliação na Língua Portuguesa. In: SILVA, J.

F.; HOFFMANN, J.; ESTEBAN. M. T. Práticas

avaliativas e aprendizagens significativas em

diferentes áreas do currículo. Porto Alegre:

Mediação, 2003.

O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:

I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia,

das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;

IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.

Artigo 32

Compartilhando

O direito à Educação Básica é garantido a todos os brasileiros e, segundo prevê a Lei 9.394,

que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, “tem por finalidades desenvolver

o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e

fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Art. 22).

Desse modo, a escola é obrigatória para as crianças e tem papel relevante em sua formação

para agir na sociedade e para participar ativamente das diferentes esferas sociais. Dentre

outros direitos, é prioritário o ensino da leitura e escrita, tal como previsto no artigo 32:

Direitos de aprendizagem no ciclo de

alfabetização – Língua Portuguesa

unidade 01 31

Para atender às exigências previstas nas

Diretrizes, torna-se necessário delimitar os

diferentes conhecimentos e as capacidades

básicas que estão subjacentes aos direitos.

Nos quadros a seguir, alguns conhecimen-

tos e capacidades estão descritos e podem

ser postos como pontos de partida para o

estabelecimento do debate.

São descritos direitos de aprendizagem

gerais, que permeiam toda a ação peda-

gógica e depois são expostos quadros com

conhecimentos e capacidades específicos

organizados por eixo de ensino da Língua

Portuguesa: Leitura, Produção de textos

Escritos, Oralidade, Análise Linguística.

O eixo Análise Linguística foi dividido em

dois quadros, com o objetivo de destacar

as especificidades do ensino do Sistema

de Escrita Alfabética, necessário para que

as crianças tenham autonomia na leitura e

produção de textos, separando tais direitos

de outros aspectos da análise linguística,

também fundamentais para a ampliação

das capacidades para lidar com as situa-

ções de produção e compreensão de textos

orais e escritos.

Em todos os quadros são expostas sugestões

acerca de como tratar a progressão de co-

nhecimento ou capacidade durante o ciclo

de alfabetização. A letra I será utilizada para

indicar que determinado conhecimento ou

capacidade deve ser introduzido na etapa

escolar indicada; a letra A, indicará que a

ação educativa deve garantir o aprofunda-

mento; e a letra C, indica que a aprendiza-

gem deve ser consolidada no ano indicado.

Como poderá ser observado, um determi-

nado conhecimento ou capacidade pode

ser introduzido em um ano e aprofundado

em anos seguintes. A consolidação também

pode ocorrer em mais de um ano escolar,

dado que há aprendizagens que exigem um

tempo maior para a apropriação. Nos eixos

de produção e compreensão de textos, por

exemplo, são muitas e variadas as situações

sociais que demandam ações de escrita/

fala/escuta/leitura. Cada uma tem carac-

terísticas próprias em que determinados

gêneros textuais circulam. Desse modo, é

possível dizer que determinados gêneros

podem ser introduzidos em um deter-

minado ano, demandando capacidades e

conhecimentos relativos a ele que podem

ser aprofundados e consolidados naque-

le mesmo ano, e, no ano seguinte, outro

gênero pode exigir que as mesmas capaci-

dades, com maior nível de complexidade,

sejam retomadas. Por exemplo, podem ser

realizadas situações didáticas para desen-

volver nas crianças a capacidade de elaborar

inferências, utilizando, para isso, textos de

A Resolução nº 7, de 14 de dezembro de 2010, do Con- selho Nacional de Educação, que fixa Diretrizes Curricula- res Nacionais para o Ensino Fundamen- tal de 9 (nove) anos, pode ser lida no caderno do ano 1, Unidade 8.

Ler e escrever com autonomia,

neste documento, significa ler e

escrever sem precisar de ledor

ou escriba, o que só é possível nos

casos em que as crianças dominam

o Sistema de Escrita Alfabética.

unidade 01 32

determinado gênero, com determinado tipo

de vocabulário e de complexidade sintática;

a criança pode consolidar tal capacidade

naquele mesmo ano. No entanto, no outro

ano de escolaridade, podem ser realiza-

das outras situações didáticas em que se

busca desenvolver a capacidade de elaborar

inferências mais complexas, na leitura de

textos mais longos, com vocabulário mais

rebuscado, com estruturas sintáticas mais

complexas. Desse modo, naquele ano, tal

capacidade vai ser aprofundada e consolida-

da. Concebe-se, portanto, que há aprendiza-

gens que podem ser aprofundadas e consoli-

dadas durante toda a vida das pessoas.

É importante também salientar que o nível

de aprofundamento de um determinado

Direitos gerais de aprendizagem: Língua Portuguesa

Compreender e produzir textos orais e escritos de diferentes gêneros, veiculados em suportes textuais diversos, e para atender a diferentes propósitos comunicativos, considerando as con- dições em que os discursos são criados e recebidos.

Apreciar e compreender textos do universo literário (contos, fábulas, crônicas, poemas, dentre outros), levando-se em conta os fenômenos de fruição estética, de imaginação e de lirismo, assim como os múltiplos sentidos que o leitor pode produzir durante a leitura.

Apreciar e usar em situações significativas os gêneros literários do patrimônio cultural da infância, como parlendas, cantigas, trava línguas.

Compreender e produzir textos destinados à organização e socialização do saber escolar/científico (textos didáticos, notas de enciclopédia, verbetes, resumos, resenhas, dentre outros) e à organização do cotidiano escolar e não escolar (agendas, cronogramas, calendários, cadernos de notas...).

Participar de situações de leitura/escuta e produção oral e escrita de textos destinados à refle- xão e discussão acerca de temas sociais relevantes (notícias, reportagens, artigos de opinião, cartas de leitores, debates, documentários...).

Produzir e compreender textos orais e escritos com finalidades voltadas para a reflexão sobre valores e comportamentos sociais, planejando e participando de situações de combate aos preconceitos e atitudes discriminatórias (preconceito racial, de gênero, preconceito a grupos sexuais, preconceito linguístico, dentre outros).

conhecimento que se busca ao lidar com

crianças de seis anos, não é o mesmo que

se busca com crianças de oito anos. O pro-

fessor, sem dúvidas, precisa estar atento às

experiências e conhecimentos prévios de

seu grupo classe, seus interesses e modos

de lidar com os saberes escolares.

Em todos os anos de escolarização,

as crianças devem ser convidadas a

ler, produzir e refletir sobre textos

que circulam em diferentes esferas

sociais de interlocução, mas alguns

podem ser considerados prioritários,

como os gêneros da esfera literária;

esfera acadêmica/escolar e esfera

midiática, destinada a discutir temas

sociais relevantes.

unidade 01 33

.

Ler textos não-verbais, em diferentes suportes. I/A A/C A/C

Ler textos (poemas, canções, tirinhas, textos de tradição oral, dentre outros), com autonomia. I/A A/C C

Compreender textos lidos por outras pessoas, de diferentes gêneros e com diferentes propósitos. I/A A/C A/C

Antecipar sentidos e ativar conhecimentos prévios relativos aos textos a serem lidos pelo professor ou pelas crianças. I/A A/C A/C

Reconhecer finalidades de textos lidos pelo professor ou pelas crianças. I/A A/C A/C

Ler em voz alta, com fluência, em diferentes situações. I A C

Localizar informações explícitas em textos de diferentes gêneros, temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente. I/A A/C C

Realizar inferências em textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos com autonomia. I I/A A/C

Apreender assuntos/temas tratados em textos de diferentes gêneros, lidos pelo professor ou outro leitor experiente. I/A A/C C

Interpretar frases e expressões em textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos com autonomia. I/A A/C A/C

Localizar informações explícitas em textos de diferentes gêneros, temáticas, lidos com autonomia. I A/C A/C

Estabelecer relações lógicas entre partes de textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente. I/A A/C A/C

Apreender assuntos/temas tratados em textos de diferentes gêne- ros, lidos com autonomia. I A A/C

Estabelecer relação de intertextualidade entre textos. I I/A C

Realizar inferências em textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente. I/A A/C A/C

Estabelecer relações lógicas entre partes de textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos com autonomia. I A A/C

Interpretar frases e expressões em textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente. I/A A/C A/C

Relacionar textos verbais e não-verbais, construindo sentidos. I/A A/C A/C

Saber procurar no dicionário os significados das palavras e a acep- ção mais adequada ao contexto de uso. I A

Leitura Ano 1 Ano 2 Ano 3

I - Introduzir; A - Aprofundar; C - Consolidar.

unidade 01 34

. Planejar a escrita de textos considerando o contexto de produção: organizar roteiros, planos gerais para atender a diferentes finalida- des, com ajuda de escriba.

I/A A/C A/C

Planejar a escrita de textos considerando o contexto de produção: organizar roteiros, planos gerais para atender a diferentes finalida- des, com autonomia.

I A A/C

Produzir textos de diferentes gêneros, atendendo a diferentes finalidades, por meio da atividade de um escriba. I/A A/C C

Produzir textos de diferentes gêneros com autonomia, atendendo a diferentes finalidades. I I/A A/C

Gerar e organizar o conteúdo textual, estruturando os períodos e utilizando recursos coesivos para articular ideias e fatos. I I/A A/C

Pontuar os textos, favorecendo a compreensão do leitor. I A/C

Organizar o texto, dividindo-o em tópicos e parágrafos. I A/C

Utilizar vocabulário diversificado e adequado ao gênero e às finalidades propostas I/A A/C A/C

Revisar autonomamente os textos durante o processo de escrita, retomando as partes já escritas e planejando os trechos seguintes. I/A A/C

Revisar coletivamente os textos durante o processo de escrita em que o professor é escriba, retomando as partes já escritas e plane- jando os trechos seguintes.

I/A A A/C

Revisar os textos após diferentes versões, reescrevendo-os de modo a aperfeiçoar as estratégias discursivas. I A

Produção de textos escritos Ano 1 Ano 2 Ano 3

unidade 01 35

Participar de interações orais em sala de aula, questionando, sugerindo, argumentando e respeitando os turnos de fala. I/A A/C C

Escutar com atenção textos de diferentes gêneros, sobretudo os mais formais, comuns em situações públicas, analisando-os criticamente. I/A A/C A/C

Planejar intervenções orais em situações públicas: exposição oral, debate, contação de história. I A/C C

Produzir textos orais de diferentes gêneros, com diferentes pro- pósitos, sobretudo os mais formais comuns em instâncias públicas (debate, entrevista, exposição, notícia, propaganda, relato de expe- riências orais, dentre outros).

I I/A A/C

Analisar a pertinência e a consistência de textos orais, consideran- do as finalidades e características dos gêneros. I A A/C

Reconhecer a diversidade linguística, valorizando as diferenças culturais entre variedades regionais, sociais, de faixa etária, de gênero dentre outras.

I A A/C

Relacionar fala e escrita, tendo em vista a apropriação do sistema de escrita, as variantes linguísticas e os diferentes gêneros textuais. I A C

Valorizar os textos de tradição oral, reconhecendo-os como manifestações culturais. I/A/C A/C A/C

Oralidade Ano 1 Ano 2 Ano 3

unidade 01 36

. Analisar a adequação de um texto (lido, escrito ou escutado) aos interlocutores e à formalidade do contexto ao qual se destina. I/A A/C A/C

Conhecer e usar diferentes suportes textuais, tendo em vista suas características: finalidades, esfera de circulação, tema, forma de composição, estilo, etc.

I/A/C A/C C

Conhecer e usar palavras ou expressões que estabelecem a coesão como: progressão do tempo, marcação do espaço e relações de causalidades.

I A A/C

Conhecer e usar palavras ou expressões que retomam coesivamente o que já foi escrito (pronomes pessoais, sinônimos e equivalentes). I A A/C

Conhecer e fazer uso das grafias de palavras com correspondências regulares diretas entre letras e fonemas (P, B, T, D, F, V). I/A A C

Conhecer e fazer uso de palavras com correspondências irregula- res, mas de uso frequente. I A

Identificar e fazer uso de letra maiúscula e minúscula nos textos produzidos, segundo as convenções. I A A/C

Usar adequadamente a concordância e reconhecer violações de concordância nominal e verbal. I A/C

Conhecer e fazer uso das grafias de palavras com correspondências regulares contextuais entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro (C/QU; G/GU; R/RR; SA/SO/SU em início de palavra; JA/JO/ JU; Z inicial; O ou U/ E ou I em sílaba final; M e N nasalizando final de sílaba; NH; Ã e ÃO em final de substantivos e adjetivos).

I A/C

Saber usar o dicionário, compreendendo sua função e organização. I A/C

Saber procurar no dicionário a grafia correta de palavras. I A/C

Pontuar o texto. I A/C

Segmentar palavras em textos. I A/C

Reconhecer gêneros textuais e seus contextos de produção. I/A/C I/A/C I/A/C

Análise linguística: discursividade, textualidade e normatividade Ano 1 Ano 2 Ano 3

Reconhecer diferentes variantes de registro de acordo com os gêneros e situações de uso. A C I

unidade 01 37

Reconhecer diferentes tipos de letras em textos de diferentes gêneros e suportes textuais. I/A A/C

Perceber que palavras diferentes variam quanto ao número, repertório e ordem de letras. I/A/C

Usar diferentes tipos de letras em situações de escrita de palavras e textos. I A/C C

Segmentar oralmente as sílabas de palavras e comparar as palavras quanto ao tamanho. I/A/C

Dominar as correspondências entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro, de modo a ler palavras e textos. I/A A/C C

Dominar as correspondências entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro, de modo a escrever palavras e textos. I/A A/C C

Conhecer a ordem alfabética e seus usos em diferentes gêneros. I/A/C

Identificar semelhanças sonoras em sílabas e em rimas. I/A/C

Reconhecer que as sílabas variam quanto às suas composições. I/A/C

Perceber que as vogais estão presentes em todas as sílabas. I/A/C

Ler, ajustando a pauta sonora ao escrito. I/A/C

Compreender que palavras diferentes compartilham certas letras. I/A/C

Reconhecer e nomear as letras do alfabeto. I/A/C

Diferenciar letras de números e outros símbolos. I/A/C

Escrever o próprio nome. I/A/C

Análise linguística: apropriação do Sistema de Escrita Alfabética Ano 1 Ano 2 Ano 3

unidade 01 38

O acompanhamento da aprendizagem

das crianças: sugestão de instrumento

de registro da aprendizagem

Fev. Jun. Ago. Dez.

Análise linguística:

apropriação do Sistema de Escrita Alfabética

Escreve o próprio nome.

Reconhece e nomeia as letras do alfabeto.

Identifica semelhanças sonoras em sílabas e em rimas.

Percebe que as vogais estão presentes em todas as sílabas.

Reconhece que as sílabas variam quanto às suas composições.

Lê, ajustando a pauta sonora ao escrito.

Diferencia letras de números e outros símbolos.

Conhece a ordem alfabética e seus usos em diferentes gêneros.

Reconhece diferentes tipos de letras em textos de diferentes gêneros e suportes textuais.

Compreende que palavras diferentes compartilham certas letras.

Percebe que palavras diferentes variam quanto ao número, repertório e ordem de letras.

Segmenta oralmente as sílabas de palavras e compara as palavras quanto ao tamanho.

Domina as correspondências entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro, de modo a ler palavras e textos.

Domina as correspondências entre letras ou grupos de letras e seu valor sonoro, de modo a escrever palavras e textos.

[ S ] Sim; [ P ] Parcialmente; [ N ] Não.

ESCOLA: ________________________________________________________________________

NOME: _________________________________________________________________________

unidade 01 39

Fev. Jun. Ago. Dez.

Análise linguística:

discursividade, textualidade e normatividade

Analisa a adequação de um texto (lido, escrito ou escutado) aos interlocutores e à formalidade do contexto ao qual se destina.

Conhece e usa diferentes suportes textuais, tendo em vista suas características: finalidades, esfera de circulação, tema, forma de composição, estilo, etc.

Reconhece gêneros textuais e seus contextos de produção.

Conhece e faz uso das grafias de palavras com correspondên- cias regulares diretas entre letras e fonemas (P, B, T, D, F, V).

[ S ] Sim; [ P ] Parcialmente; [ N ] Não.

Fev. Jun. Ago. Dez. Leitura

Interpreta frases e expressões em textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.

Estabelece relações lógicas entre partes de textos de dife- rentes gêneros e temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.

Localiza informações explícitas em textos de diferentes gêneros, temáticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.

Lê textos não-verbais, em diferentes suportes.

Relaciona textos verbais e não-verbais, construindo sentidos.

Lê textos (poemas, canções, tirinhas, textos de tradição oral, dentre outros), com autonomia.

Antecipa sentidos e ativa conhecimentos prévios relativos aos textos a serem lidos pelo professor ou pelas crianças.

Compreende textos lidos por outras pessoas, de diferentes gêneros e com diferentes propósitos.

Reconhece finalidades de textos lidos pelo professor ou pelas crianças.

Realiza inferências em textos de diferentes gêneros e te- máticas, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.

Apreende assuntos/temas tratados em textos de diferentes gêneros, lidos pelo professor ou outro leitor experiente.

Interpreta frases e expressões em textos de diferentes gêneros e temáticas, lidos com autonomia.

[ S ] Sim; [ P ] Parcialmente; [ N ] Não.

unidade 01 40

Fev. Jun. Ago. Dez. Produção de textos escritos

Planeja a escrita de textos considerando o contexto de produção: organiza roteiros, planos gerais para atender a diferentes finalidades, com ajuda de escriba.

Revisa coletivamente os textos durante o processo de escrita em que o professor é escriba, retomando as partes já escritas e planejando os trechos seguintes.

Produz textos de diferentes gêneros, atendendo a diferen- tes finalidades, por meio da atividade de um escriba.

Utiliza vocabulário diversificado e adequado ao gênero e às finalidades propostas.

[ S ] Sim; [ P ] Parcialmente; [ N ] Não.

Fev. Jun. Ago. Dez. Oralidade

Escuta com atenção textos de diferentes gêneros, sobretu- do os mais formais, comuns em situações públicas, anali- sando-os criticamente.

Participa de interações orais em sala de aula, questionando, sugerindo, argumentando e respeitando os turnos de fala.

Valoriza os textos de tradição oral, reconhecendo-os como manifestações culturais.

[ S ] Sim; [ P ] Parcialmente; [ N ] Não.

unidade 01 41

Perfil de grupo:

sugestão de instrumento de

acompanhamento da turma

ESCOLA: ________________________________________________________________________

PROFESSOR/A: __________________________________________________________________

Sim Conhecimento / Capacidade Parcialmente Não

Escreve o próprio nome.

Reconhece as letras do alfabeto por seus nomes.

Lê palavras formadas por diferentes estruturas silábicas.

Lê textos de gêneros e temáticas familiares em voz alta.

Diferencia letras de números e outros símbolos.

Utiliza letras na escrita das palavras.

Escreve palavras estabelecendo algumas correspondências entre letras e seu valor sonoro, mesmo omitindo, mudando a ordem ou trocando letras.

Escreve palavras com diferentes estruturas silábicas, atendendo a algumas convenções ortográficas.

Produz textos escritos de gênero, temática e vocabulário familiares.

Participa de situações produzindo e compreendendo textos orais de gêneros e temas familiares.

Compreende textos de gêneros, temáticas e vocabulário familiares.

Obs. Em cada coluna deve-se indicar a quantidade de crianças que domina o conhecimento descrito (Sim), a quantidade de crianças que domina parcialmente (Parcialmente) e a quantidade de crianças que não domina (Não).

PNAIC

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade

Certa

PLANEJAMENTO ESCOLAR: ALFABETIZAÇÃO E ENSINO DA

LÍNGUA PORRTUGUESA

ANO 01

UNIDADE 02

2º Encontro

Araguaína, junho/2013

Governo do

TOCANTINS

Secretaria da Educação

-- Brasília : MEC, SEB, 2012. 48 p.

ISBN 978-85-7783-123-4

1. Alfabetização. 2. Língua portuguesa. 3. Planejamento do ensino. I. Título.

CDU 37.014.22 _______________________________________________________________________________

Tiragem 125.616 exemplares

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA

Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500 CEP: 70047-900 Tel: (61)20228318 - 20228320

Sumário

PLANEJAMENTO ESCOLAR:

ALFABETIZAÇÃO E ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Iniciando a conversa 05

Aprofundando o tema 06

Planejamento do ensino: alfabetização e ensino/aprendizagem

do componente curricular - Língua Portuguesa 06

As rotinas da escola e da sala de aula: referências

para a organização do trabalho do professor alfabetizador 17

Compartilhando 29

Direitos de aprendizagem em História no ciclo de alfabetização 29

Materiais didáticos no ciclo de alfabetização. 36

Aprendendo mais 45

Sugestões de leitura 45

Sugestões de atividades para os encontros em grupo 47

Iniciando a conversa

A maneira como uma escola se organiza para atender aos seus objetivos inclui algumas

ações que são fundamentais para o seu funcionamento. Pensar sobre o que e como fazer

em uma escola inclui traçar planos e metas a serem alcançadas ao longo de um determi-

nado tempo, seja este o planejamento de uma gestão escolar ou de uma sala de aula. No

caso das salas de aula do ciclo da alfabetização, é importante ter em mente quais são os

objetivos do ensino de cada fase, que direitos de aprendizagem temos que contemplar

em cada ano para que nossos alunos avancem com sucesso em novas etapas e desafios.

Nesta unidade, discutiremos justamente a importância do planejamento das atividades,

da organização do trabalho, da previsão do tempo pedagógico e da construção de rotinas

no sentido de promover o atendimento e a formação das crianças em alfabetização. Para

isso, abordaremos temas que estão apresentados nas seguintes questões: Por que deve-

mos planejar o ensino da alfabetização? Como planejar o trabalho com a alfabetização

de forma a contemplar os diferentes eixos de ensino da língua? Como organizar o tempo

escolar? Como construir uma rotina que venha a favorecer a aprendizagem dos nossos

alunos? Como planejar e organizar o trabalho pedagógico utilizando-se dos diversos

materiais e recursos disponíveis para o ciclo de alfabetização nas escolas?

· aprofundar os conhecimentos sobre a concepção de alfabetização na perspectiva do letramento;

· conhecer os recursos didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação (livros didáticos e obras complementares aprovados no PNLD; livros do PNBE e PNBE Especial; jogos didáticos distribuídos pelo MEC) e planejar situações didáticas em que tais materiais sejam usados;

· planejar o ensino na alfabetização, analisando e criando propostas de organização de rotinas da alfabetização na perspectiva do letramento;

· criar um ambiente alfabetizador, que favoreça a aprendizagem das crianças;

· compreender a importância da literatura nos anos iniciais do Ensino Fundamental e planejar situações de uso de obras literárias em sala de aula.

Desse modo, os objetivos da unidade 2 são:

Aprofundando o tema

Por que planejar o ensino?

Planejar faz parte do nosso cotidiano.

Quando acordamos, muitas vezes planeja-

mos o que vamos fazer durante o dia, em

que ordem vamos realizar cada atividade,

quanto tempo será dispensado e quase

sempre deixamos um espaço de tempo

para que determinados imprevistos não

atrapalhem ou alterem nossos planos.

Por que planejamos na vida diária? Para

organizarmos nossas ações e evitarmos

frustrações como, por exemplo, progra-

mar uma festa surpresa para um amigo

ou familiar e nos desencontrarmos do

aniversariante. Planejar a ida a um show

pressupõe um preparo: verificar se não

temos outro compromisso naquele dia e

horário, certificar-se do local onde será

realizado, comprar o bilhete de entrada

com antecedência, combinar com os

amigos, decidir o meio de transporte, se

vamos de carro, com quem iremos, onde

vamos estacionar e assim por diante. Na

escola, devemos ter o mesmo cuidado.

Com uma diferença fundamental, no caso

do show não temos a responsabilidade

sobre o futuro de outras pessoas. Desse

modo, o planejamento na escola tem um

impacto maior, pois não traz consequên-

cias apenas para nossas próprias vidas,

como ocorre em relação à ida ao show,

Planejamento do ensino:

alfabetização e ensino/aprendizagem

do componente curricular

- Língua Portuguesa

Luciane Manera Magalhães Rita de Cássia Barros de Freitas Araujo Simone Borrelli Achtschin Terezinha Toledo Melquíades de Melo

unidade 02 07

mas para a vida de outras pessoas: os

estudantes, suas famílias, suas comuni-

dades.

Precisamos planejar para fazermos esco-

lhas coerentes, organizar nossas rotinas,

ter nossos objetivos delimitados, saber

aonde queremos chegar e o que precisa-

mos ensinar aos nossos alunos. Para tanto,

é necessário termos uma visão do processo

mais amplo de aprendizado que será de-

senvolvido durante todo o ano letivo, mas

também do processo micro, revelado por

meio de um planejamento mais pontual,

marcado por intervalos de tempo.

Para planejar o processo de alfabetização

e ensino/aprendizagem da Língua Portu-

guesa, tomamos quatro eixos direciona-

dores: leitura, produção de texto escrito,

oralidade e análise linguística, incluindo a

apropriação do Sistema de Escrita Alfabé-

tica - SEA. Abordaremos, sucintamente,

cada um deles de forma a explicitar as

concepções linguísticas e epistemológicas

que direcionam a presente proposta.

Os eixos de ensino da língua como norteadores do planejamento escolar

Como poderá ser observado, durante a lei-

tura deste material, todo o trabalho com a

alfabetização na perspectiva do letramento

está pautado na busca da realização de

atividades que levem em consideração os

usos sociais da língua escrita, não somente

os escolares, mas também os relativos a

outras esferas sociais. Como bem destaca

Kleiman (2005, p.33):

“As práticas de letramento fora da escola têm objetivos sociais relevantes para os participan-

tes da situação. As práticas de letramento escolares visam ao desenvolvimento de habilida-

des e competências no aluno e isso pode, ou não, ser relevante para o estudante. Essa diferen-

ça afeta a relação com a língua escrita e é uma das razões pelas quais a língua escrita é uma das barreiras mais difíceis de serem transpostas por pessoas que vêm de comunidades em que a escrita é pouco ou nada usada.”

unidade 02 08

Fazer com que a criança em fase de alfa-

betização vivencie a leitura, a produção de

texto escrito, a produção e compreensão

de textos orais e a apropriação do Sistema

de Escrita Alfabética como práticas rele-

vantes e interessantes é um desafio para

os professores, o qual pode ser vencido

quando “o trabalho didático é organizado

levando em conta os textos que circulam

entre diversos grupos sociais, no dia a

dia.” (KLEIMAN, 2005, p.34). É com base

nestas ideias que tomamos os usos dos

gêneros textuais como ponto de partida

para a prática pedagógica, com o objetivo

primeiro de propiciar a vivência destas

práticas também em ambiente escolar e

despertar nossos alunos para o uso além

dos muros da escola. Ensinar por meio dos

usos dos gêneros textuais significa pro-

mover um ensino voltado para a vida, que

propicie verdadeiramente a formação do

cidadão participativo das práticas sociais

que envolvem a cultura escrita. É um direi-

to de nossos alunos e cabe aos professores

garantir este direito de aprendizagem a

cada um.

A leitura

A leitura envolve a aprendizagem de

diferentes habilidades, tais como: (i)

o domínio da mecânica que implica na

transformação dos signos escritos em

informações, (ii) a compreensão das infor-

mações explícitas e implícitas do texto lido

e (iii) a construção de sentidos. As referi-

das habilidades inter-relacionam-se e não

podem ser pensadas hierarquicamente.

Quanto maior for a experiência de ouvir e

ler textos, mais elaborada será a produção

de sentidos por parte do leitor. No proces-

so inicial de apropriação do Sistema de

Escrita Alfabética, cabe ao professor ser o

mediador da turma, auxiliando os alunos

na elaboração de objetivos e expectativas

de leitura, na criação de hipóteses antes

e durante o ato de ler, correlacionando os

conhecimentos prévios dos aprendizes

com aqueles que se pode reconhecer no

texto, sejam explícitos ou implícitos.

Ler para nossos alunos é prática funda-

mental para despertar o gosto e o desejo

pela leitura. Ler, entretanto, não é sinôni-

unidade 02 09

mo de contar histórias, ainda que esta prá-

tica seja fundamental na escola. Quando

lemos o texto escrito para nossos alunos,

permitimos que eles apreendam aspectos

peculiares da modalidade escrita, como a

estrutura sintática, o vocabulário, os elos

coesivos. Quando contamos com as nossas

palavras, e não as do autor, deixamos de

propiciar a convivência da criança com a

linguagem escrita, embora outras aprendi-

zagens possam ser realizadas.

Em nosso dia a dia, utilizamos a leitura

com diferentes objetivos (lemos para obter

informações sobre um assunto específico,

para localizarmos uma rua, para seguirmos

prescrições médicas, para nos distrair-

mos), os quais direcionam nossas atitudes

diante do texto. São essas estratégias, prá-

ticas sociais que vivenciamos em nossas

ações de leitores competentes, que devem

ser tomadas como base para o ensino e

o trabalho na sala de aula com a leitura,

diminuindo cada vez mais as atividades

artificiais e proporcionando, com mais in-

tensidade, atividades próximas às práticas

sociais de letramento.

A produção de textos

Quando se fala em escrita, no primeiro ano,

é comum que se associe esta atividade a uma

escrita alfabética, à produção de um texto

longo, geralmente narrativo, o que leva o

professor a adiar esta prática. Entendemos

que o texto a ser escrito pelas crianças pode

ser longo ou curto, conhecido ou não. A

letra de uma cantiga, uma quadrinha, um

poema, um provérbio, um dito popular,

uma história, um bilhete, um cartaz, um

aviso são alguns exemplos de textos a serem

escritos em sala de aula. A escolha do que a

criança irá escrever irá depender da situa-

ção comunicativa proposta pelo professor.

Partindo desta concepção, defendemos a

ideia de que a criança pode e deve escre-

ver espontaneamente desde as primeiras

semanas de aula. É necessário, entretanto,

que o docente compreenda que copiar não

é sinônimo de escrever, embora seja uma

habilidade necessária a ser desenvolvida

durante a alfabetização.

Levar a criança a escrever “do jeito que

acha que é” é uma maneira de incentivá-la

a buscar estratégias para colocar no papel

o que quer informar ao seu leitor. Quando

solicitamos que a criança faça um desenho

sobre a parte de que mais gostou de uma

história ouvida e escreva sobre esta parte

para divulgar em um mural para que outras

pessoas possam ler, propiciamos a reflexão

sobre a escrita e a busca de soluções para

questões que se colocam acerca da apro-

priação do sistema de escrita. O papel do

professor de revisor do texto para que possa

ser exibido em mural é importante porque,

interagindo neste tipo de situação, a criança

pode aprender que existe uma convenção

social que dita as regras da escrita, as quais

serão aprendidas no decorrer dos anos.

unidade 02 10

Escrever pode ser uma prática não muito

frequente no cotidiano de algumas crian-

ças, não porque ainda não saibam escrever

convencionalmente, mas pelo fato de ser

pouco utilizada em sua família ou comu-

nidade em situações em que elas façam

parte. Despertar nas crianças o desejo de

escrever é papel da escola, mas sabe-se que

escrever apenas para o professor corrigir

ou guardar não é prática sedutora para

a criança. Ter o que dizer e a quem dizer

são, portanto, os primeiros passos para a

formação da criança produtora de textos.

A produção de textos, na escola, pode se dar

de diferentes formas: coletivamente, por

meio de um escriba que geralmente é o pro-

fessor; em dupla; ou individualmente. Quan-

do o professor atua como escriba, ensina às

crianças as diferenças entre linguagem oral e

escrita, a organização das ideias, a importân-

cia de sempre revisar o que foi produzido, a

desenvolverem suas próprias estratégias de

registro e a se assumirem como autores. O

trabalho em dupla é um recurso metodológi-

co interessante porque permite às crianças

interagirem, trocarem informações e resol-

verem conflitos, o que favorece a participa-

ção mais efetiva. Ao produzirem o texto, as

crianças confrontam suas hipóteses, nego-

ciam a escrita e auxiliam umas às outras em

suas reflexões, tanto a respeito do sistema de

escrita, quanto à organização do texto.

Cabe lembrar que é muito mais fácil

para uma criança, em processo inicial de

alfabetização, escrever um texto que já

sabe de cor, como uma quadrinha, uma

pequena cantiga, provérbio ou travalín-

guas, do que um totalmente novo. Neste

caso, a produção escrita serve, sobretu-

do, para a reflexão acerca do Sistema de

Escrita Alfabética: com que letras escrevo

determinada palavra, onde incluir espa-

ços em branco para delimitar as palavras

etc. Tal tipo de atividade é, sem dúvida,

muito importante, no entanto, para que

as crianças aprendam a escrever textos é

preciso variar as situações de produção

quanto às dimensões da escrita a serem

contempladas: (i) registro de um texto

que se sabe de cor, como o tipo citado

acima; (ii) a reescrita de textos, em que

as crianças sabem o conteúdo do texto,

mas precisam recuperá-lo e escrever de

outro modo, pensando em “como dizer”;

(iii) escrita autoral de textos, em que os

estudantes precisam definir o que vão

dizer e como vão dizer.

unidade 02 11

A oralidade

Ser competente em diferentes situações

discursivas orais engloba, em primeira

instância, saber adequar sua linguagem

ao contexto ou ao evento em que

estamos inseridos. Demanda, também,

saber as regras de convivência e de

comportamento segundo as quais os

espaços sociais estão organizados e,

ainda, saber monitorar a fala e a escuta

em situações formais.

Conversar com um colega de classe, no

horário do recreio, exige uma fala mais

coloquial e menor monitoração. Já trans-

mitir um recado à diretora ou apresentar

um trabalho, à frente da turma, necessita

de uma linguagem mais formal e maior

monitoração da fala. Estas situações de

comunicação, quando levadas à reflexão

em sala de aula, fazem com que os alunos

possam perceber as variações da língua,

sua relação com o contexto social e com os

objetivos comunicativos que temos.

Desta forma, o trabalho com a linguagem

oral também deve ser planejado e organi-

zado assim como os demais eixos do ensino

e aprendizagem do Ciclo de Alfabetização

(e outros, ao longo da escolaridade). O pro-

fessor precisa levar em conta os usos que

fazemos da oralidade na sociedade, promo-

vendo atividades sistemáticas que envol-

vam os gêneros orais como, por exemplo,

apresentação de trabalhos, participação

em entrevistas, contação de histórias.

O caderno de Educação Especial - A alfabetização de crianças com deficiência: uma proposta inclusiva apresenta possibilidades de flexibilização para a comunicação de alunos com deficiência.

O alargamento das práticas de oralidade sig-

nifica o direito de apreensão de um instru-

mento necessário não só para a vida escolar,

mas também para a vida em sociedade. Esta

é uma formação que visa o exercício da cida-

dania. Nesta perspectiva, Bortoni-Ricardo

(2004, p. 74) ressalta que cabe à escola

“[...] facilitar a ampliação da competência comunicativa dos alunos, permitindo-lhes apropriarem-se dos recursos comunicativos necessários para se desempenharem bem, e com segurança, nas mais distintas tarefas linguísticas.”

Alfabetizar na perspectiva do letramento

também é compreender que se ensina para

que as crianças sejam sujeitos capazes de

expor, argumentar, explicar, narrar, além

de escutar atentamente e opinar, respei-

tando a vez e o momento de falar.

Nesse sentido, entende-se a importância da

escola como instituição social responsável

pela sistematização dos saberes. No caso da

oralidade, esses saberes relacionam-se ao

desenvolvimento de práticas com os usos

reais da língua; o que significa oferecer o

domínio da norma linguística de prestígio

social sem, com isso, estigmatizar a varie-

dade dos alunos, uma vez que toda língua é

constituída de diferentes modos de dizer e

que há maneiras mais prestigiadas que ou-

tras, o que não é questão linguística e, sim,

questão social, econômica, regional etc.

unidade 02 12

A análise linguística - apropriação do Sistema de Escrita Alfabética

A apropriação do sistema de escrita está

diretamente relacionada com a capacidade

de se pensar sobre a língua. O processo de

análise linguística nos anos iniciais precisa

estar voltado para as reflexões acerca da

língua e de seu funcionamento e é neces-

sário que seja desenvolvido concomitante-

mente com a apropriação dos usos e funções

sociais dos gêneros textuais, da leitura, da

produção de textos e da linguagem oral.

Assumimos a posição de Morais (2012, p.

160) de que

“[...] a escola NÃO deve gastar o precioso tempo de aprendiza-

gem dos alfabetizandos, durante os três primeiros anos do ensino fundamental, fazendo-os deco-

rar as nomenclaturas e taxono-

mias pouco úteis da gramática pedagógica tradicional.”

Os conhecimentos envolvidos no eixo de

apropriação do Sistema de Escrita Alfabé-

tica vão desde a capacidade da criança de

reproduzir seu nome próprio, mesmo antes

de poder escrever outras palavras, dife-

renciar os tipos de letras e outros recursos

gráficos, até aspectos relativos ao domínio

das correspondências entre letras ou grupos

de letras e fonemas. Assim, a criança preci-

sa conhecer todas as letras do alfabeto, seus

Reflexões sobre a aprendizagem do

Sistema de Escrita Alfabética e da

norma ortográfica são realizadas nos cadernos da unidade 3.

respectivos nomes e diferentes formas de

grafá-las; perceber as relações que existem

entre som-letra, por meio do desenvolvi-

mento da consciência fonológica. E, por fim,

precisa aprender sobre a ortografia.

Na prática, a apropriação do sistema alfa-

bético pode se dar por meio de jogos, ativi-

dades lúdicas, atividades de composição e

decomposição de palavras, favorecendo a

reflexão acerca de segmentos linguísticos

menores, como as sílabas e os fonemas. A

escrita de palavras é importante tanto para

aqueles que ainda estão iniciando o pro-

cesso de apropriação do sistema de escrita

- de modo que possam refletir sobre suas

hipóteses, quanto para aqueles que já en-

tendem o seu funcionamento e precisam

de um tempo para consolidar as relações

som-letra e ganhar mais agilidade na

escrita (MORAIS; ALBUQUERQUE, 2010).

Como dito anteriormente, o Sistema de

Escrita Alfabética é complexo e possui

regras próprias de funcionamento, exigin-

do de seus usuários conhecimento de sua

natureza linguística e de sua estrutura. Por

isso, o ensino precisa ser bem planejado.

Importância da organização

de planos anuais

Como planejar o que vou ensinar durante

um ano inteiro se nem conheço minha

turma ainda? Por que elaborar um plano

anual se todo dia eu faço um roteiro para as

minhas aulas? Questões como essas podem

vir à mente quando pensamos na organi-

unidade 02 13

zação do plano anual. Fazer uma avaliação

diagnóstica no início do ano é fundamental.

Conhecer a turma com a qual vamos traba-

lhar é essencial para delimitarmos nossos

objetivos, e termos um ponto de partida

(leia-se um plano anual) que sirva de refe-

rência para nosso trabalho é imprescindí-

vel. Quando planejamos as atividades a se-

rem realizadas para cada dia, sem tomarmos

como referencial o ano letivo, perdemos de

vista o processo mais amplo e corremos o

risco de negligenciarmos conteúdos que são

direitos de aprendizagem de nossos alunos

e, com isso, muitas vezes nos surpreende-

mos com os resultados obtidos. Albuquer-

que, Morais e Ferreira (2008) relatam a

tomada de consciência de uma professora

alfabetizadora que, ao olhar para a frequên-

cia dos tipos de atividades realizadas em sua

sala de aula, durante um espaço de tempo,

chega à conclusão de que seus alunos não se

alfabetizaram, até aquele momento, porque

ela trabalhava muito a leitura e a produção

de textos, mas não realizava atividades de

reflexão linguística:

“Agora eu sei por que meus alunos não estão alfabetizados. Eu trabalho muito com leitura e produção de textos, mando desenhar, mas não realizo essas atividades de reflexão com as palavras. Agora vou fazer dife-

rente.” (ALBUQUERQUE; MO-

RAIS; FERREIRA, 2008, p. 262).

Ao organizarmos planos anuais, visuali-

zamos aspectos mais amplos do trabalho

de alfabetização e letramento e tomamos

decisões gerais concernentes ao processo

ensino/aprendizagem como, por exemplo,

decidir os critérios a serem usados para

escolher textos a serem utilizados; selecio-

nar quais gêneros textuais usar e com que

frequência; definir quando nossos alunos

vão começar a produzir textos – se antes de

saberem escrever convencionalmente ou só

depois de terem memorizado um conjunto

de palavras; decidir que tipo de atividade

será utilizada para desenvolver a linguagem

oral; eleger qual unidade linguística será o

ponto de partida para ensinarmos o sistema

de escrita e com base em qual contexto.

Como podemos ver, o plano anual, além

de organizar os conhecimentos a serem de-

senvolvidos durante um ano letivo, revela

nossas escolhas com relação ao que vamos

ensinar aos nossos alunos, antes mesmo

de conhecê-los. Destaque-se, entretanto,

que além de se ter como foco os direitos de

aprendizagem e as experiências acumula-

das, a ênfase a ser dada a cada tipo de ati-

vidade será dirigida pelo resultado da ava-

liação diagnóstica e pelo que foi decidido

(pela escola, pela Secretaria de Educação e

pela professora) sobre o que será ensinado

naquele ano, tanto em relação aos eixos de

ensino do componente curricular Língua

Portuguesa, quanto no que se refere às

outras áreas de conhecimento.

unidade 02 14

Sobre o planejamento anual, vejamos

o que relatou a professora Ana Cristina

Bezerra da Silva, da escola Maurício de

Nassau (Recife-PE):

“Assim como planejamos as ações que realizamos em nosso dia a dia, o professor também precisa planejar suas ativida-

des. Ele jamais deverá estar diante de uma sala de aula, sem utilizar um planejamento, pois esse é um fio condutor da ação educativa. Através do planeja-

mento o professor organiza o seu trabalho e o tempo didáti-

co de forma a proporcionar e criar oportunidades diferen-

ciadas para cada estudante. Sendo assim, de acordo com as orientações da Secretaria de Educação do município do Recife, seleciono as competên-

cias, conteúdos e procedimen-

tos do plano anual de ensino, sugerido no diário de classe para cada professor. A par-

tir da organização deste plano no diário, estabeleço planos semanais contemplando ini-

cialmente Língua Portuguesa, como eixo norteador de todo o trabalho e considerando a faixa

etária do primeiro ano, utilizo como recursos textuais, para as sequências didáticas: cantigas infantis, poemas, poesias, li-

teratura para crianças, através de leitura, produção de texto escrito, oralidade, análise lin-

guística/apropriação do sistema alfabético. Todas as atividades são realizadas a partir da ava-

liação diagnóstica dos alunos no início do ano letivo, destacando as competências a serem desen-

volvidas e consolidadas.”

O relato da professora Ana Cristina revela a

importância de se planejar um ano de curso,

como vínhamos discutindo. Para a professo-

ra, o conhecimento das orientações oficiais

possibilita a organização das competências

e conteúdos que serão importantes para

aquele nível de ensino. É como se fosse um

mapa geral da sua atuação naquele ano, no

qual se incluiriam os projetos mais amplos e

gerais da escola e os mais específicos daque-

la classe, para que, a partir dele, possam ser

construídos os planos semanais e diários.

O planejamento anual geralmente é feito

nos dias antes de se iniciar um novo ano le-

tivo. Vejamos como aconteceu na escola da

professora Severina Erica da Silva Guerra

da Escola Municipal Monteiro Lobato, em

Recife:

unidade 02 15

“No primeiro dia do mês de fevereiro nos reunimos com as professoras e com a coordena-

dora da tarde para definirmos o que seria trabalhado no ano escolar. Foi apresentado para o grupo o calendário de ativida-

des para 2012; o calendário de reuniões pedagógicas; a temá-

tica geral da Rede de ensino de Recife: Luiz Gonzaga: do litoral ao sertão - uma homenagem aos 100 anos do Rei do Baião, com enfoque na sustentabilidade. Além disso, foi apresentado o Programa Saúde nas Escolas. Ainda tínhamos como tarefa nessa reunião elencar as metas e ações para o Projeto Político Pedagógico (P.P.P.) de 2012 da escola.

A coordenadora nos entregou a cópia do calendário das ativi-

dades escolares previsto para o mesmo ano. O calendário está organizado com as atividades mensais. Dentro de cada mês encontramos datas de reuniões, datas comemorativas, datas de reuniões com pais, reuniões com o Conselho Escolar e datas de culminância de projetos e atividades previstas para cada mês. Após esse momento, foi apresentado o calendário das reuniões pedagógicas, que são os Conselhos Pedagógicos e as reu-

niões mensais de planejamento, pois, por se tratar de uma Escola de horário integral, o dia de pla-

nejamento é garantido.

Finalizado esse momento, a coordenadora entregou para as professoras os conteúdos das disciplinas recortados da pro-

posta curricular, para que nós elencássemos o que seria traba-

lhado nesse ano. As professo-

ras se organizaram por ano e se apoiaram nas competências que são apresentadas na caderneta escolar da Rede que traz as com-

petências instituídas para cada disciplina. A escola não tem a prática de definir quais as metas

unidade 02 16

que deverão ser alcançadas ao final do ano letivo. As profes-

soras ficam muito livres para trabalhar com os conteúdos e as competências instituídas.”

O que aconteceu na escola da professora

Severina Erika, no momento da realização

do plano anual, é um bom exemplo da im-

portância da integração das diferentes ins-

tâncias e âmbitos que constituem a escola e

o processo educativo. Para que o professor

possa pensar no que vai ser realizado du-

rante o ano é necessário traçar metas gerais,

como já discutido na Unidade 1. Refletimos, nesse texto, sobre a importân-

cia de se planejar o ensino com o objetivo

de organizar as ações a serem empreen-

didas durante o ano letivo em turmas do

1º ano do Ensino Fundamental, tendo

em vista os diferentes eixos de ensino

da Língua Portuguesa. Destacamos que,

sem um plano anual, corremos o risco

de deixarmos determinados conteúdos

de lado, ou até mesmo priorizarmos uns

em detrimento de outros, prejudicando,

assim, o aprendizado de nossos alunos.

Finalmente, ressaltamos a necessidade

de se elaborar um planejamento anual de

forma a podermos especificar nossas ações

e termos clareza das metas de aprendiza-

do para os nossos alunos e, a partir dele,

elaborar planos semanais e diários, enfim,

construir uma rotina de trabalho.

Referências

ALBUQUERQUE, Eliana B.C.; MORAIS,

Artur. G.; FERREIRA, Andrea T.B. As

práticas cotidianas de alfabetização: o que

fazem as professoras? In: Revista Brasileira

de Educação. V. 13, n.38. maio/ago 2008.

BORTONI-RICARDO, Stella M. Educação em

língua materna: a sociolinguística na sala de

aula. São Paulo: Parábola, 2004.

KLEIMAN, Angela B. Preciso “ensinar” o

letramento? Não basta ensinar a ler e a

escrever? CEFIEL/IEL/UNICAMP. Ministério

da Educação. Governos Federal, 2005.

KOCH, Ingedore V.; ELIAS, V. M. Ler e

Compreender: os sentidos do texto. SP:

Contexto, 2006.

MORAIS, Artur G.; ALBUQUERQUE, Eliane

B. C. Alfabetização e Letramento: O que

são? Como se relacionam? Como alfabetizar

letrando? In: ALBUQUERQUE, Eliana B. C. e

LEAL, Telma F. (orgs.) Alfabetização de jovens

e adultos em uma perspectiva de letramento.

Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

MORAIS, Artur. G. Sistema de Escrita

Alfabética. São Paulo: Melhoramentos, 2012.

unidade 02 17

As rotinas da escola e da sala de aula:

referências para a organização do

trabalho do professor alfabetizador

Quando falamos em rotina, no geral nos

vem à mente aquelas atividades repetiti-

vas, enfadonhas, e a vontade de se “romper

com a rotina”. Mas, afinal, o que é a rotina?

Ela é um mal ou um bem necessário? Por

que tantas vezes ela é temida, criticada e/

ou desejada e planejada?

O termo rotina é usado em um sentido

negativo quando envolve a realização

diária de atividades repetitivas, cansati-

vas, que fazemos sem refletir, sem saber

o que, como e para que as fazemos. Chico

Buarque, na música Cotidiano, revela essa

concepção de rotina ao descrever o dia-a-

-dia de uma dona de casa: “Todo dia ela faz

tudo sempre igual: Me sacode às 6 horas da

manhã...”. Qual a origem dessa concepção

de rotina e como ela esteve presente em

nossas salas de aula e, mais especificamen-

te, nas práticas de alfabetização?

Com a Revolução Industrial e o desenvol-

vimento do capitalismo, os trabalhadores

passaram, cada vez menos, a ter controle

do que produziam e a produção em série

dos produtos industrializados levava o

trabalhador a realizar, em uma jornada

intensa de trabalho, atividades mecânicas

e repetitivas. O trabalho passou a ser divi-

dido entre dois tipos: o intelectual, desti-

nado a uma parcela pequena da população

que tinha acesso aos estudos universitá-

rios, e o braçal, para a maioria dos traba-

lhadores. Estes deviam fazer exatamente

o que lhes mandassem, sem perguntas,

sem questionamentos. O importante era

garantir a produção em massa.

Andréa Tereza Brito Ferreira Eliana Borges Correia de Albuquerque

unidade 02 18

Não demorou muito para que a escola tam-

bém se transformasse em uma pequena

indústria: com a democratização do acesso

à escola, era preciso a formação de muitos

alunos, o que acarretou na necessidade

de aumento da mão-de-obra qualificada.

Surgiram os cursos profissionalizantes de

magistério e o modelo industrial da época

foi importado para a educação: aos inte-

lectuais, gestores, supervisores cabiam a

prescrição do que deveria ser ensinado e

a organização de métodos a serem desen-

volvidos; aos professores, no geral, cabia a

execução de tais métodos.

Assim, como apontado por Ferreira e Albu-

querque (2012), nas décadas de 1960/70,

no Brasil, quando se falava de rotina na

escola, pensava-se logo nas atividades que

tinham sido planejadas de modo a dividir

o conteúdo em pequenas dosagens diárias

com o objetivo de se fazer cumpri-las, inde-

pendentemente do que pudesse acontecer

no decorrer do processo. Essa maneira de

organizar o trabalho pedagógico estava

baseada em uma concepção de ensino pau-

tada principalmente na memorização dos

conteúdos escolares, bastante articulada às

abordagens positivistas de ciências.

A herança do positivismo traz a objeti-

vidade das ciências experimentais para

análise das relações sociais e, com isso, a

escola passou a adotar modelos baseados

na psicologia comportamentalista e no tec-

nicismo para organizar a rotina da sala de

aula. Com base em tais abordagens, cabia

ao professor organizar o seu tempo peda-

gógico de maneira a garantir o depósito e

assimilação dos conteúdos escolares pelos

alunos, o que requeria, por conseguinte,

um ensino e uma aprendizagem controlada

como algo que se podia medir, manipular

e prever.

Nessa perspectiva, ter uma boa prática

pedagógica significava o domínio dos

instrumentos didáticos (o como fazer)

e, com isso, o dia a dia da sala de aula

era transformado em uma sucessão de

atividades repetitivas guiadas, no geral,

por manuais que garantiam a absorção

máxima do que era proposto, planejado.

Essas práticas, que podem fazer parte da

memória de estudante de muitos de nós,

hoje professores, ainda se fazem pre-

sentes na atualidade e, como abordado

por Silva (2008, p. 36), relacionam-se a

“modelos hierarquizados da organização

unidade 02 19

do trabalho docente, impostos às escolas

no passado, em que cabia ao professor ser

um mero executor de planos definidos

por especialistas”.

Na década de 1980, com a difusão das

teorias construtivista e sócio-intera-

cionista de ensino-aprendizagem, as

práticas pedagógicas baseadas no desen-

volvimento de rotinas pré-estabelecidas,

que contemplavam a realização diária

das mesmas atividades, passaram a ser

amplamente criticadas. No entanto, por

meio de uma interpretação equivocada

da teoria construtivista, passou-se a

criticar tudo o que se relacionava com

planejamento e organização do trabalho

pedagógico com a justificativa de que era

“tradicional”, velho e ultrapassado. Tal

fato fez crescer um discurso em prol da

não sistematização do ensino e da falta

de programação das atividades, com a jus-

tificativa de que o trabalho de sala de aula

deveria considerar apenas o que os alunos

traziam da sua realidade. O professor,

nesse contexto, seria o mediador desses

conhecimentos na sua prática cotidiana

escolar e não precisaria se programar

para realizar as atividades, pois estas

iriam surgir na própria prática cotidiana.

Essa “nova” forma de pensar o trabalho

pedagógico, muitas vezes vinculada,

equivocadamente, a uma perspectiva

construtivista de ensino, tornou a sala

de aula um lugar de improvisos constan-

tes. Embora saibamos que muitas vezes

o improviso acontece em determinadas

circunstâncias, ele não pode fazer parte

e ser o ponto de referência do dia a dia de

uma prática.

De acordo com as abordagens construti-

vistas e sócio-interacionistas de ensino-

-aprendizagem, é preciso que o professor

saiba os conteúdos e procedimentos de

ensino e conheça seus alunos, e o que eles

sabem sobre determinados conteúdos,

para que possa planejar atividades que os

façam evoluir em suas aprendizagens, na

interação com o docente e com os pares em

sala de aula. Nessas perspectivas, a orga-

nização do trabalho pedagógico precisa

envolver um conjunto de procedimentos

que, intencionalmente, devem ser pla-

nejados para serem executados durante

certo período de tempo, tomando como

referência as práticas sociais/culturais dos

sujeitos envolvidos, suas experiências e

conhecimentos.

Concordamos, portanto, com Leal (2004,

p.02) quando a autora defende a impor-

tância do planejamento para a vida escolar,

ao afirmar que,

“[...] as rotinas escolares asse-

guram que alguns “procedimen-

tos” básicos sejam “acordados” entre professor e alunos e que os mesmos já se disponibilizem dentro do espaço temporal e

unidade 02 20

espacial para as tarefas peda-

gógicas. As crianças aprendem, através dessas rotinas, a prever o que fará na escola e a organizar-

-se. Por outro lado, a existência dessas rotinas possibilita ao professor distribuir com maior facilidade as atividades que ele considera importantes para a construção dos conhecimentos em determinado período, facili-

tando o planejamento diário das atividades didáticas.”

Planejar e organizar uma rotina voltada

para reflexão constante sobre a prática

social, considerando uma boa formação

dos conhecimentos específicos, siste-

matizados, selecionados das bases das

ciências é o que propõem os novos estudos

sobre ensinar e aprender. Como desen-

volver práticas de alfabetização em tal

perspectiva e no que elas efetivamente se

diferenciariam das outras? Vivemos, em

pleno século XXI, um momento de grande

defesa à volta dos “tradicionais” métodos

de alfabetização, em virtude da polarização

existente entre as duas correntes já citadas

anteriormente: “a tradicional e a cons-

trutivista”. Sabemos, no entanto, que, no

que se refere ao ensino da língua materna,

alfabetizar não deve se resumir a trabalhar

o sistema de escrita de forma repetida e

com ênfase na memória, dentro de uma

rotina desprovida dos encantamentos dos

textos que estão presentes na vida cotidia-

na das pessoas e de atividades reflexivas e

desafiadoras para os alunos.

Professores de diferentes partes do país,

na construção de rotinas de alfabetização,

têm mostrado que é possível desenvolver

e diversificar atividades, no cotidiano

escolar, para que os alunos possam intera-

gir com diferentes textos ao mesmo tempo

em que eles são levados a refletir sobre o

Sistema de Escrita Alfabética.

Desse modo, defendemos que a orga-

nização e a sistematização do trabalho

pedagógico é muito importante para a

aprendizagem dos alunos. A construção

de uma rotina escolar que contemple os

diferentes eixos de ensino da língua, por

meio de um planejamento elaborado com

base na realidade de cada aluno e escola,

pode favorecer a realização de atividades

que ajudem a promover a autonomia e

a criatividade dos alunos no mundo da

leitura e da escrita. A seguir, analisaremos

como algumas professoras têm organizado

suas rotinas nessa perspectiva.

Ana Cristina, professora do 1º ano do Ensino

Fundamental de uma escola da Secretaria de

Educação da cidade do Recife, tem buscado,

há cerca de dez anos, desenvolver práticas de

alfabetização com ênfase tanto na leitura e

produção de textos, como na apropriação da

escrita alfabética. Para isso, considera o pla-

nejamento e a organização da rotina semanal

unidade 02 21

aspectos fundamentais de sua prática, como

pode ser observado em seu relato:

“O estabelecimento de rotina em sala tem oportunizado aper-

feiçoar o tempo didático. O que hoje acho interessante é que as próprias crianças se orientam com relação ao desenvolvimento das atividades diárias e até mes-

mo sugerem algum item para nossa rotina. Para estabeleci-

mento de uma rotina semanal das atividades que serão desen-

volvidas em classe, necessito ter uma visão geral da turma, por meio da avaliação diagnóstica. A partir desta diagnose inicial tenho clareza das atividades que deverão ser vivenciadas pelas crianças e com que regularidade posso oportunizá-las para o gru-

po. A continuidade dessas ativi-

dades dá segurança aos alunos e a diversidade de assuntos amplia as possibilidades de aprendi-

zagem. Para que isso aconteça, contemplo regularmente em minha rotina: as atividades permanentes, sequências didá-

ticas, projetos didáticos, uso do livro didático (dos componentes curriculares Língua Portuguesa

e Matemática) e jogos relaciona-

dos à área de linguagem (como os jogos distribuídos pelo MEC) e a outros conteúdos.”

Como podemos perceber na fala da pro-

fessora Ana Cristina, o estabelecimento

de uma rotina no cotidiano da sala de aula

favorece a interação dos alunos, sobretu-

do com os objetos do conhecimento. De

acordo com Meirieu (2005), ao saber o

que vai ser trabalhado ao longo da sema-

na e do dia, os alunos podem participar

ativamente do processo pedagógico. Essa

participação ativa dos alunos possibilita o

envolvimento deles no processo de apren-

dizagem por meio das atividades e projetos

desenvolvidos no dia a dia da escola.

Na organização de sua rotina, a referida

professora destacou a importância do de-

senvolvimento de atividades diagnósticas

para saber os conhecimentos que os alunos

possuem sobre determinados conteúdos,

e falou que realiza atividades de natureza

diferenciadas, como as que possuem uma

regularidade maior (atividades permanen-

tes), as sequências didáticas, os projetos

didáticos e o trabalho com base em jogos

distribuídos pelo MEC e nos livros didáti-

cos recebidos pelos alunos que, no 1º ano,

são da área de matemática e linguagem.

Vejamos os exemplos que ela comenta

sobre algumas dessas atividades:

unidade 02 22

Considero as atividades perma-

nentes essenciais para o pro-

cesso de alfabetização, por isso realizo algumas diariamente, com periodicidade definida e em horários destinados exclusi-

vamente para elas. Desenvolvo, por exemplo, a leitura de livros de literatura diariamente em classe no início da aula. Nessa atividade, exploro o título do livro, o nome do autor, realizo questões de compreensão lei-

tora antes, durante e depois da leitura e, em algumas situações, aproveito para fazer algumas re-

flexões sobre o Sistema de Escri-

ta Alfabética, em nível oral, ou a exploração de palavras presentes nos textos lidos. Em outros mo-

mentos, proponho a leitura dos textos trabalhados e expostos em sala. Esta é uma das atividades que as crianças gostam muito. Quando estamos fazendo o ro-

teiro diário, eles perguntam se é leitura deleite (leitura dos livros de literatura feita por mim) ou a leitura dos textos da sala (leitura realizada pelos alunos). Esses textos eles já conhecem de cor, pois são as cantigas, parlendas, poemas, textos informativos trabalhados e que são expostos

em sala. Outra atividade que também é vivenciada pelo gru-

po com regularidade, é o uso do laboratório de informática, que, de acordo com a organização semanal da escola, cada turma tem a oportunidade de utilizar. Para a turma do primeiro ano, o dia estabelecido é a sexta-feira, então em diversos momentos estou no laboratório com eles, e realizo atividade de escrita das palavras trabalhadas durante a semana (esta atividade não é só vivenciada no laboratório, tam-

bém utilizo na classe com letras móveis) ou até mesmo utilizo os jogos de alfabetização que já es-

tão instalados no computador.”

Em relação às atividades permanentes, des-

tacamos que no caso da leitura, por exem-

plo, Ana Cristina desenvolve atividades

diárias com objetivos diferentes: a leitura

no início da aula envolve livros de literatura

e tem o objetivo de ampliar as experiências

de letramento dos alunos e formar o gosto

pela leitura. Já o trabalho com textos como

poemas, cantigas, parlendas também pare-

ce ser feito diariamente e tem o objetivo de

desenvolver a fluência de leitura e explorar

alguns princípios do nosso Sistema de Escri-

ta Alfabética, como a relação som-grafia, por

meio da exploração de palavras que rimam.

unidade 02 23

Algumas dessas atividades podem se inserir

em uma sequência didática, conforme se

pode observar na continuidade do relato da

professora:

“Paralelamente às atividades permanentes, também utilizo na rotina semanal as sequên-

cias didáticas que organizo para atingir os objetivos didáticos relacionados às diferentes áreas. A duração desta sequên-

cia é variável de acordo com o conteúdo escolhido: em algu-

mas situações pode levar duas semanas, um mês ou mais e é praticada duas ou três vezes por semana. No mês de maio ini-

ciei uma sequência a partir de uma cantiga (O jacaré – Newton Helliton). Após a exploração do

texto, realizei atividades cole-

tivas e outras diferenciadas de acordo com os conhecimentos das crianças. No dia seguin-

te trouxe para sala a parlenda Jacaré com Catapora, e após a leitura do texto propus ativida-

des de identificação das rimas e de comparação da parlenda com o estilo literário do texto ante-

rior (cantiga). Depois utilizei o poema Jacaré, do livro Alfabe-

tário de José de Nicola e pude ler e comparar com as crianças diferentes versões a partir de uma temática. Em outro mo-

mento trouxe para sala um texto informativo sobre animais em extinção, já que o texto de José de Nicola aborda sobre a explo-

ração deste animal para confec-

ção de bolsas e calçados.”

Alfabetário

Texto: José de Nicola Imagem: Daniel Kondo

A obra Alfabetário traz lindos poemas, cada um com uma das letras do alfabeto, de “A” a “Z”. No último poema, intitulado “Brincadeira de roda do Carlos”, reúnem-se todas as letras, inclusive as recém-incluídas K, W e Y, e se faz uma bem-humorada paródia do poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade. Aprender o alfabeto com poesia é uma maneira diver- tida e eficiente de aprender!

unidade 02 24

O interessante, na prática da referida

professora, é que o trabalho no eixo da

apropriação da escrita alfabética parece

ser feito de forma contextualizada, vincu-

lado à leitura e à produção de textos e ao

desenvolvimento de atividades que estão

integradas aos projetos da escola, ao uso

do livro didático e ao trabalho com jogos,

como pode ser observado a seguir:

“Outra atividade que também entra na minha rotina são os projetos didáticos que são ar-

ticulados aos objetivos didáti-

cos propostos no plano anual para a classe, principalmente nas outras áreas de ensino (Ci-

ências, História, Geografia e Artes). Na escola em que traba-

lho, anualmente vivenciamos alguns projetos didáticos. Neste ano letivo (2012) há um projeto anual cuja temática é 100 anos de Luiz Gonzaga. Relacionado a esse projeto anual, há projetos a serem desenvolvidos por tri-

mestre, vinculados ao contexto da sustentabilidade (1° trimes-

tre: Lixo: poluição ambiental, coleta e reciclagem/2° trimes-

tre: Água: importância, consu-

mo e poluição).

Como os alunos do 1° ano rece-

bem livros didáticos dos com-

ponentes Língua Portuguesa e Matemática, não posso deixar de inseri-los em minha rotina e isso acontece semanalmente. Quando a unidade do livro não está contextualizada dentro do que estou vivenciando na se-

mana, procuro contextualizá-

-la na temática do livro. Por exemplo, na quinzena de maio

unidade 02 25

Além de todas as atividades explicitadas anteriormente, que estão inseridas na minha rotina, também utilizo com regularidade (dois ou três dias na semana) outro recurso que tem auxiliado no avanço da aprendizagem dos alunos, que são os jogos da área de lingua-

gem, como os que foram distri-

buídos pelo MEC. Estes jogos proporcionam aos alunos desa-

fios constantes e reflexão sobre o sistema de escrita. É muito importante a utilização desses jogos, já que essa faixa etária necessita de brincadeiras para o seu desenvolvimento e so-

cializar o que sabem com seus colegas. Quando utilizo deter-

minados jogos, inicialmente explico as regras e jogo com as crianças em pequenos grupos. Em outros momentos eles es-

colhem os jogos de acordo com o que aprenderam. Também tenho a oportunidade de agru-

pá-los de acordo com os níveis de compreensão da escrita que se en-

contram.”

na unidade do LD de matemá-

tica, o objetivo era o ensino dos números ordinais, então antes de utilizarmos o livro, vivenciei com as crianças algumas ati-

vidades (a música: Terezinha de Jesus, que fala dos números em ordem, e a exploração da lista da chamada da classe) e em seguida utilizamos o livro. Em outro momento, como o livro didático do componente curricular Língua Portugue-

sa trata sobre a utilização da agenda, realizei um trabalho com o nome das crianças, so-

licitei que cada um trouxesse para sala o número do telefone da sua casa ou dos pais, e no dia seguinte construímos coleti-

vamente uma agenda da classe, explorando o alfabeto, a partir da lista dos nomes. Esta ativi-

dade foi bastante interessante porque a partir desta vivência eles passaram a comunicar-se por telefone, uns com os ou-

tros. Foi uma atividade desen-

volvida em gru-

po que trouxe o contexto social da utilização de uma agenda.

Jogos

livro didático

unidade 02 26

Como apontado no depoimento de Ana Cristina, uma rotina semanal deve possuir ativi-

dades que acontecem todos os dias, como a leitura deleite, leitura da lista dos alunos e

atividades que envolvem a apropriação do sistema de escrita. As atividades que se alter-

nam e que podem ou não fazer parte de um determinado projeto ou sequência didática,

estão presentes também, porém, de forma mais flexível. O quadro a seguir apresenta a

rotina de trabalho de uma semana da professora Ana Cristina:

segunda-feira Dia 28/05

terça-feira Dia 29/05

quarta-feira Dia 30/05

quinta-feira Dia 31/05

sexta-feira Dia 01/06

- Música: Bom dia; - Registro do tempo, uso do calendário (dia, mês, ano); - Contagem dos alunos; - Escrita da me- renda do dia (re- gistro no quadro para leitura); - Registro da rotina;

Roda de conversa - conversa sobre o final de semana;

Leitura deleite/ Ficha de acom- panhamento dos livros lidos no mês;

Atividade de apropriação do SEA: construção de palavras, uti- lizando alfabeto móvel e regis- tro no caderno (dupla).

Jogo didático: Bingo dos sons iniciais (apresen- tação dos jogos, explicitando as regras).

Atividade de apropriação do SEA: construção de palavras, uti- lizando alfabeto móvel e regis- tro no caderno (dupla).

Jogo didático: Caça-rimas (apre- sentação dos jogos, explicitan- do as regras).

Hora do brinque- do (carrinhos, bo- necos, bonecas, joguinhos).

Roda de leitura: Texto Jacaré (João Paulo Paes), interpretação textual, destacan- do a problemática de animais em extinção.

LD Português: (no- mes, brincadeiras e letras)-cantiga de roda: ciranda, cirandinha, iden- tificação do nome dos colegas;

Construção de um mural, a partir das figuras sele- cionadas pelos alunos, destacan- do características dos animais (duas patas, quatro patas, nenhuma pata);

LD Matemática: Brincadeira das cadeiras, identi- ficando sucessor e antecessor dos numerais, conta- gem e leitura de imagens;

Produção textual coletiva com re- gistro em ficha;

Merenda/Recreio Cantinho da leitu- ra (livre);

Merenda/Recreio Cantinho da leitu- ra (livre);

Merenda/Recreio Cantinho da leitu- ra (livre);

Merenda/Recreio Cantinho da leitu- ra (livre);

Roda de leitura: texto informativo sobre a extinção de animais;

Projeto didático: sustentabilidade e o lixo, reflexão sobre a poluição dos rios que prejudica o habi- tat dos animais;

Roda de leitura: Texto instrucional sobre a brincadei- ra das cadeiras, explicitando as regras (vivência da brincadeira no pátio da escola);

Leitura deleite/ Ficha de acom- panhamento dos livros lidos no mês;

Leitura deleite/ Ficha de acom- panhamento dos livros lidos no mês;

Leitura deleite/ Ficha de acom- panhamento dos livros lidos no mês;

Uso do laborató- rio de Informá- tica: Jogos didá- ticos, de acordo com as necessi- dades do grupo ou relacionada ao que está sendo estudado (digitar palavras ditadas pela professora);

- Música: Bom dia; - Registro do tempo, uso do calendário (dia, mês, ano); - Contagem dos alunos; - Escrita da me- renda do dia (re- gistro no quadro para leitura); - Registro da rotina;

- Música: Bom dia; - Registro do tempo, uso do calendário (dia, mês, ano); - Contagem dos alunos; - Escrita da me- renda do dia (re- gistro no quadro para leitura); - Registro da rotina;

- Música: Bom dia; - Registro do tempo, uso do calendário (dia, mês, ano); - Contagem dos alunos; - Escrita da me- renda do dia (re- gistro no quadro para leitura); - Registro da rotina;

- Música: Bom dia; - Registro do tempo, uso do calendário (dia, mês, ano); - Contagem dos alunos; - Escrita da me- renda do dia (re- gistro no quadro para leitura); - Registro da rotina;

Merenda/Recreio Cantinho da leitu- ra (livre);

unidade 02 27

Podemos observar, por meio da análise do

quadro de rotina, planejado pela profes-

sora para uma semana de trabalho, que

diariamente ela realiza atividades perma-

nentes como a leitura deleite (comentada

por ela no depoimento apresentado) e

uma sequência de atividades realizadas no

início de cada jornada escolar, que envolve

a contagem dos alunos, a exploração do

calendário, a escrita da merenda do dia e

o registro da agenda com as atividades do

dia. Sobre essa última atividade, Gomes,

Dias e Silva (2008) comentam que o regis-

tro da rotina no quadro no início da aula

pode possibilitar tanto a vivência dos usos

e funções do gênero textual agenda, como

o estudo das palavras que são escritas

diariamente, com destaque, por exemplo,

para a existência de diferentes estruturas

silábicas, que corresponde a um dos prin-

cípios do sistema de escrita que precisa ser

compreendido pelos alunos.

O que é importante destacar aqui, em

relação ao trabalho específico com a alfabe-

tização, na rotina da professora, é que ele

é realizado de forma sistemática, ou seja,

todos os dias os alunos são levados a refletir

sobre as unidades menores das palavras por

meio de atividades que envolvem a leitura

de poemas ou outros gêneros textuais. A

professora explora as rimas presentes nos

textos lidos, os sons iniciais de algumas

palavras e trabalha com escrita de palavras.

Essas atividades são muito importantes

para a apropriação do Sistema de Escrita

Alfabética e, se realizadas com frequência,

permitem aos alunos pensarem constante-

mente sobre a relação som-grafia.

Além disso, é importante destacar que

trabalhar sistematicamente com as unida-

des sonoras das palavras (como as sílabas e

fonemas) não significa que estamos vol-

tando ao passado, defendendo um trabalho

baseado em métodos silábicos ou fônicos de

alfabetização; pelo contrário, acreditamos

que o ensino da leitura e da escrita, a alfa-

betização, não pode se resumir a trabalhar

o sistema de escrita de forma repetitiva e

memorística, dentro de uma rotina des-

provida dos encantamentos dos textos e de

situações de uso efetivo da língua. Ao mesmo

tempo, não acreditamos que “ensinar textos

às crianças”, sem atenção à reflexão sobre o

funcionamento da escrita, seja o caminho.

Concordamos, sim, como vimos na prática

da professora Ana Cristina, que podemos

desenvolver e diversificar atividades, no

cotidiano escolar, para que os alunos possam

interagir com diferentes textos ao mesmo

tempo em que eles aprendem de forma re-

flexiva sobre o Sistema de Escrita Alfabética.

Desse modo, queremos ressaltar que a

organização de uma rotina que privilegia a

sistematização do trabalho da alfabetização

de modo a contemplar os diferentes eixos de

ensino da língua, por meio de um planeja-

mento construído com base na realidade de

cada aluno e escola, pode favorecer a cons-

trução e a realização de atividades que aju-

dam a promover a autonomia e a criatividade

dos alunos no mundo da leitura e escrita.

A Resolução nº 7, de 14 de dezembro de 2010, do Conse- lho Nacional de Educação, que fixa Diretrizes Curricula- res Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, pode ser lida no caderno do ano 1, Unidade 8.

O ensino fundamental obrigatório, com duração de 09 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 06 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:

I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II - a compreensão do ambiente natural e

social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.

Artigo 32

Compartilhando

O direito à Educação é garantido a todos os brasileiros e, segundo prevê a Lei 9.394, que

estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, a Educação Básica “tem por fina-

lidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para

o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos

posteriores” (Art. 22).

Desse modo, a escola é obrigatória para as crianças e tem papel relevante em sua for-

mação para agir na sociedade, para participar ativamente das diferentes esferas sociais.

Dentre outros direitos, a compreensão do ambiente natural e social é necessária, tal

como previsto no artigo 32:

Direitos de aprendizagem em

História no ciclo de alfabetização

unidade 02 30

Assim, o ensino de História, segundo o tre-

cho da Lei, deve ser garantido, como meio

para que se possa asseverar a compreensão

do ambiente social, do sistema político

e dos valores em que se fundamenta a

sociedade.

Para atender às exigências previstas nas

Diretrizes, torna-se necessário delimitar

os diferentes conhecimentos e as habi-

lidades básicas que estão subjacentes

aos direitos gerais em cada componente

curricular. Nos quadros a seguir, alguns

direitos de aprendizagem estão descritos e

podem ser postos como pontos de partida

para o estabelecimento do debate acerca

do ensino de História nos anos iniciais do

Ensino Fundamental.

São descritos direitos de aprendizagem

gerais, que permeiam toda a ação pe-

dagógica e, depois, expostos em quatro

quadros, direitos específicos relacionados

aos conceitos fundamentais da disciplina

nos anos iniciais, cujas definições também

oferecemos ao debate. São as seguintes:

Fatos históricos: práticas ou eventos

ocorridos no passado, que causaram impli-

cações na vida das sociedades, dos grupos

de convívio (familiares, étnico-culturais,

profissionais, escolares, de vizinhança, re-

ligiosos, recreativos, artísticos, esportivos,

políticos etc.) ou dos sujeitos históricos.

Sujeitos históricos: indivíduos ou

grupos de convívio que, ao longo do tempo,

promovem e realizam (individual ou cole-

tivamente) as ações sociais produtoras de

fatos históricos.

Tempo: maneira como os indivíduos, os

grupos de convívio e as sociedades sequen-

ciam e ordenam as experiências diaria-

mente vivenciadas por seus membros, com

base nas quais organizam suas memórias e

projetam suas ações, tanto de forma indivi-

dual quanto coletiva.

unidade 02 31

Identificar-se, a si, e as demais pessoas como membros de vários grupos de convívio (familiares, étnico-culturais, profissionais, escolares, de vizinhança, religiosos, recreativos, artísticos, esportivos, políticos etc).

Distinguir as práticas sociais, políticas, econômicas e culturais específicas dos seus grupos de convívio e dos demais grupos de convívio locais, regionais e nacionais, na atualidade.

Identificar as práticas sociais, políticas, econômicas e culturais de grupos de convívio locais, regionais e nacionais, existentes no passado.

Formular e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) uma reflexão a respeito das permanências e das mudanças ocorridas nos vários aspectos da vida em sociedade, ao longo do tempo e em diferentes lugares.

Identificar e utilizar os diferentes marcadores de tempo elaborados e/ou utilizados pelas sociedades em diferentes tem- pos e lugares.

Identificar e utilizar os diferentes instrumentos (individuais e coletivos) destinados à organização do tempo na nossa sociedade, no tempo presente: calendários, folhinhas, relógios, agendas, quadros de horários (horário comum e comercial, horários escolares), dentre outros.

Identificar, na vida cotidiana, as noções de anterioridade, simultaneidade e posterioridade.

Distinguir e ordenar temporalmente os fatos históricos locais, regionais e nacionais.

Articular e estabelecer correlações entre os fatos históricos (lo- cais, regionais e nacionais) e a vida vivida no tempo presente.

Identificar e comparar os diferentes tipos de registros documentais utilizados para a construção, descrição ou rememoração dos fatos históricos: textos manuscritos e impressos, imagens estáticas ou em movimento, mapas, registros orais, monumentos históricos, obras de arte, registros familiares, objetos materiais, dentre outros.

Vivenciar os eventos rememorativos (locais, regionais e/ou nacio- nais), identificar os fatos históricos aos quais se referem.

Formular e expressar (oralmente e por escrito) uma reflexão a respeito da importância destes eventos para os diferentes grupos de convívio da atualidade.

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Direitos gerais de aprendizagem: História Ano 2 Ano 3 Ano 1

I - Introduzir; A - Aprofundar; C - Consolidar.

unidade 02 32

Diferenciar as práticas sociais relacionadas ao âmbito da economia, da política e da cultura.

Identificar e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) as características (individuais e coletivas) comuns e particulares aos membros dos grupos de convívio dos quais participa (familiares, étnico-culturais, profissionais, escolares, de vizinhança, religiosos, recreativos, artísticos, esportivos, políticos, dentre outros), atualmente e no passado.

Dialogar e formular reflexões a respeito das semelhanças e das diferenças identificadas entre os membros dos grupos de convívio dos quais participa (familiares, étnico-culturais, profissionais, escolares, de vizinhança, religiosos, recreativos, artísticos, esportivos, políticos, dentre outros), atualmente e no passado.

Identificar e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) as características (individuais e coletivas) comuns e particulares aos membros de outros grupos de convívio, locais e regionais, atualmente e no passado.

Dialogar e formular uma reflexão a respeito das semelhanças e das diferenças identificadas entre os membros de outros grupos de convívio (familiares, étnico-culturais, profissionais, escolares, de vizinhança, religiosos, recreativos, artísticos, esportivos, políticos, dentre outros), locais e regionais, atualmente e no passado.

Identificar os diferentes tipos de trabalhos e de trabalhadores responsáveis pelo sustento dos grupos de convívio dos quais participa, atualmente e no passado.

Identificar os diferentes tipos de trabalhos e de trabalhadores responsáveis pelo sustento de outros grupos de convívio (locais e regionais), atualmente e no passado.

Identificar as diferentes instituições existentes na localidade, na atualidade e no passado.

Formular e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) uma reflexão a respeito das semelhanças e diferenças identificadas entre as maneiras de trabalhar e/ou entre as práticas dos trabalhadores, ao longo do tempo e em diferentes lugares.

Formular e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) uma reflexão a respeito das mudanças e das permanências identificadas nas maneiras de trabalhar e/ou nas práticas dos trabalhadores, ao longo do tempo e em diferentes lugares.

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Sujeitos históricos Ano 2 Ano 3 Ano 1

unidade 02 33

Comparar as condições de existência (alimentação, moradia, proteção familiar, saúde, lazer, vestuário, educação e participação política) dos membros dos grupos de convívio dos quais participa atualmente.

Comparar as condições de existência (alimentação, moradia, proteção familiar, saúde, lazer, vestuário, educação e participação política) dos membros dos grupos de convívio existentes, local e regionalmente, no passado.

Selecionar e utilizar registros pessoais e familiares (documentos, músicas, fotos, recibos, listas de compras, receitas de todo tipo, contas domésticas, trabalhos escolares antigos, álbuns feitos ou preenchidos domesticamente, cartas, brinquedos usados, boletins escolares, livrinhos usados, dentre outros) para formular e expressar (oralmente, graficamente e por escrito) uma sequência narrativa a respeito da sua própria história.

Identificar as vivências comuns aos membros dos grupos de convívio locais, na atualidade e no passado.

Identificar as vivências específicas dos grupos de convívio locais e regionais, na atualidade e no passado.

Articular as vivências dos grupos de convívio locais e regionais atuais, às dos grupos de convívio locais e regionais, do passado.

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unidade 02 34

Situar-se com relação ao “ontem” (ao que passou), com relação ao “hoje” (ao que está ocorrendo) e com relação ao “amanhã” (a expectativa do porvir).

Diferenciar ações ou eventos cotidianos ocorridos sequencialmente, antes e depois de outros.

Diferenciar ações ou eventos cotidianos ocorridos ao mesmo tempo do que outros.

Identificar as fases etárias da vida humana e as práticas culturalmente associadas a cada uma delas, na atualidade e no passado (com ênfase na infância).

Comparar e calcular o tempo de duração (objetivo e subjetivo) das diferentes práticas sociais (individuais e coletivas), realizadas cotidianamente.

Utilizar diferentes instrumentos destinados à organização e contagem do tempo das pessoas, dos grupos de convívio e das instituições, na atualidade: calendários, folhinhas, relógios, agendas, quadros de horários (horário comercial, horários escolares, horário hospitalar, horários religiosos, horários dos meios de comunicação, dentre outros).

Identificar instrumentos e marcadores de tempo elaborados e/ou utilizados por sociedades ou grupos de convívio locais e regionais, que existiram no passado.

Ordenar (sincrônica e diacronicamente) os fatos históricos de ordem pessoal e familiar.

Ordenar (sincrônica e diacronicamente) os fatos históricos relacionados aos grupos de convívio dos quais participa.

Ordenar (sincrônica e diacronicamente) os fatos históricos de alcance regional e nacional.

Identificar e comparar a duração dos fatos históricos vivenciados familiarmente, localmente, regionalmente e nacionalmente.

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Tempo histórico Ano 2 Ano 3 Ano 1

unidade 02 35

Identificar dados governamentais sobre a história da localidade (rua, bairro e/ou município): origem do nome, data de criação, localização geográfica e extensão territorial, produção econômica, população etc.

Identificar e diferenciar os patrimônios culturais (materiais e imateriais) da localidade (rua, bairro, município e estado).

Identificar os fatos históricos ou as práticas sociais que dão significado aos patrimônios culturais identificados na localidade.

Identificar os grupos de convívio e as instituições relacionadas à criação, utilização e manutenção dos patrimônios culturais da localidade.

Comparar as memórias dos grupos de convívio locais a respeito das histórias da localidade (rua, bairro ou município), com os dados históricos oficiais (ou governamentais).

Comparar as memórias dos grupos de convívio locais a respeito dos patrimônios culturais da localidade, com as memórias veiculadas pelos dados oficiais (ou governamentais).

Identificar as aproximações e os afastamentos entre as memórias compartilhadas por membros de diferentes grupos de convívio sobre a história local.

Identificar as práticas econômicas e de organização do trabalho, ocorridas na localidade no passado e compará-las às práticas econômicas atuais (na localidade).

Identificar aspectos da organização política da localidade no passado e compará-los com os principais aspectos da organização política atual (na localidade).

Identificar aspectos da produção artística e cultural da localidade no passado e no presente.

Mapear a localização espacial dos grupos de convívio atuais na localidade.

Articular as formas de organização do espaço e as práticas sociais dos grupos de convívio atuais e do passado, com sua situação de vida e trabalho.

Identificar as formas de organização do espaço e as práticas sociais dos grupos de convívio que existiram na localidade, no passado.

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Fatos históricos Ano 2 Ano 3 Ano 1

unidade 02 36

Materiais didáticos

no ciclo de alfabetização.

Como foi discutido anteriormente, o

planejamento do ensino é uma das res-

ponsabilidades do professor, mas é mais

que uma obrigação, é uma maneira de

garantir a sua autonomia como profis-

sional. Segundo Freire (1996, p. 43), a

prática não planejada “produz um saber

ingênuo, um saber de experiência [...]

(na qual) falta rigorosidade metódica que

caracteriza a curiosidade epistemológica

do sujeito” (1996, p. 43). É na ausência de

um planejamento realizado pelo próprio

docente que são impostos modos de agir

padronizados e não reflexivos, que muitas

vezes são contrários às concepções dos

próprios professores. O planejamento, na

realidade, é uma ação autoformativa, que

propicia a articulação entre o que sabe-

mos, o que fizemos e o que vamos fazer.

Segundo Gómez (1995, p. 10), ao planejar-

mos, aprendemos a “construir e comparar

novas estratégias de ação, novas fórmulas

de pesquisa, novas teorias e categorias de

compreensão, novos modos de enfrentar e

definir problemas”.

Uma das tarefas do professor quando

planeja sua ação didática é escolher os

recursos a serem utilizados. Leal e Rodri-

gues (2011, p. 96-97), ao discutirem sobre

o uso de recursos didáticos alertam que,

“No bojo da ação de planejar, como já dissemos, está a ação de selecionar os recursos didáti-

cos adequados ao que queremos ensinar. Igualmente, é preciso refletir para escolher tais re-

cursos. De igual modo, é neces-

sário ter clareza sobre as finali-

dades do ensino, as finalidades da escola e atentar que, nessa instituição, além dos conceitos e teorias, estamos influencian-

do a construção de identidades, de subjetividades. Assim, na escolha dos recursos didáticos, tais questões precisam ser con-

sideradas.”

Ao situarmos nosso debate nos direitos de

aprendizagem e nos princípios didáticos

discutidos, consideramos que alguns tipos

de recursos didáticos são essenciais no

ciclo de alfabetização:

Telma Ferraz Leal Juliana de Melo Lima

unidade 02 37

1 – livros que aproximem as crianças do universo literário, ajudando-as a se constituírem como leitoras, a terem prazer e interesse pelos textos, a desenvolverem estratégias de leitura e a ampliarem seus universos culturais, tais como os livros literários de contos, poemas, fábulas, dentre outros;

2 – livros que ampliem o contato com diferentes gêneros e espaços sociais, considerando as diferentes finalidades de leitura, tais como os livros de reflexão sobre o mundo da ciência, as biografias, os dicionários, os livros de receitas, dentre outros;

3 – livros que estimulem a brincadeira com as palavras e promovam os conhecimentos sobre o Sistema de Escrita Alfabética;

4 – revistas e jornais variados que promovam a diversão e o acesso a informações, tais como os jornais, com destaque aos suplementos infantis, as revistas infantis e os gibis;

5 – os livros didáticos, que agrupam textos e atividades variadas;

6 – materiais que estimulem a reflexão sobre palavras, com o propósito de ensinar o sistema alfabético e as convenções ortográficas, tais como jogos de alfabetização, abecedários, pares de fichas de palavras e figuras, envelopes com figuras e letras que compõem as palavras representadas pelas figuras e coleções de atividades de reflexão sobre o funcionamento do sistema de escrita;

7 – os materiais que circulam nas ruas, estabelecimentos comerciais e residências, com objetivos informativos, publicitários, dentre outros, como os panfletos, cartazes educativos e embalagens;

8 – os materiais cotidianos com os quais nos organizamos no tempo e no espaço, como calendários, folhinhas, relógios, agendas, quadros de horários de todos os tipos, catálogos de endereços e telefones, mapas, itinerários de transportes públicos etc.;

9 – os registros materiais a respeito da vida da criança e dos membros de seus grupos de convívio: registro de nascimento/batismo ou casamento (dos pais e/ou dos parentes), boletim escolar, cartões de saúde/vacinação, fotografias (isoladas e em álbuns), cartas ou e-mails, contas domésticas, carnês, talões de cheque, cartões de crédito etc.;

10 – recursos disponíveis na sociedade que inserem as crianças em ambientes virtuais e que promovem o contato com outras linguagens, tais como a televisão, o rádio, o computador, dentre outros.

unidade 02 38

Muitos desses materiais são disponibilizados

pelo Ministério da Educação e pelas secreta-

rias de educação. Outros são selecionados ou

produzidos pelos professores. Sem dúvida,

jamais teremos nas escolas todos os tipos de

materiais possíveis para promover o ensino

no ciclo de alfabetização, mas alguns desses

materiais são extremamente importantes. É

Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)

O PNLD assegura a distribuição de livros

didáticos para as escolas brasileiras. No

âmbito deste Programa, o livro didático é

um material importante no cotidiano do

professor e deve,

“[...] cumprir tanto as funções de um compêndio quanto as de um livro de exercícios, devem con-

ter todos os diferentes tipos de saberes envolvidos no ensino da disciplina e não se dedicar, com maior profundidade, a um dos saberes que a constituem; devem ser acompanhados pelo livro do professor, que não deve conter apenas as respostas às atividades do livro do aluno, mas também uma fundamentação teórico - metodológica e assim por dian-

te.” (BATISTA, 2000, p. 568)

O PNLD 2010 distribuiu as coleções didáticas

em dois grandes grupos: o primeiro, voltado

para os dois primeiros anos de escolaridade,

reúne as coleções de letramento e alfabetiza-

ção linguística e alfabetização matemática; o

segundo grupo reúne as coleções dos compo-

nentes curriculares Língua Portuguesa e Ma-

temática para os 3º, 4º e 5º anos e as coleções

didáticas de Ciências, História e Geografia

para os 2º, 3º, 4º e 5º anos, além dos livros

regionais de Geografia e História, dirigidos

aos alunos do 4º ou 5º ano do Ensino Funda-

mental. Em 2013, foi feita uma reorganização

de modo que o primeiro grupo agregou os

três primeiros anos e o segundo agregou os

dois anos seguintes do Ensino Fundamental.

Os livros didáticos destinados ao ensino do

componente curricular Língua Portuguesa

nos anos iniciais do Ensino Fundamental

contemplam os quatro eixos de ensino

discutidos anteriormente: leitura, produção

de textos escritos, linguagem oral e análise

linguística. As coleções destinadas a esta

etapa de escolarização, no eixo de análise

linguística, têm como prioridade o ensino

do Sistema de Escrita Alfabética.

necessário, portanto, que conheçamos tudo o

que é disponibilizado nas escolas.

Para ajudar nesta tarefa, listamos, abai-

xo, alguns materiais que fazem parte de

Programas de Distribuição de Recursos

Didáticos do Ministério da Educação:

unidade 02 39

Programa Nacional do Livro Didático – Obras Complemen-

tares (PNLD Obras Complementares)

O PNLD Obras Complementares distribui

livros variados, que se destinam a ampliar o

universo de referências culturais dos alunos

em processo de alfabetização e oferecer mais

um suporte ao trabalho pedagógico dos pro-

fessores. Foram distribuídos, em 2010, seis

acervos formados por 30 obras pedagógicas

complementares aos livros didáticos. Cada

sala de aula do primeiro e do segundo ano

do Ensino Fundamental do país recebeu um

acervo de 30 livros; a escola com mais de uma

turma, recebeu um acervo para cada turma,

com variação dos acervos. Em 2013, o Progra-

ma foi ampliado, de modo que a distribuição

contempla as salas de aula dos anos 1, 2 e 3,

totalizando seis acervos de 30 livros.

Os livros que compõem os acervos são

diversificados do ponto de vista temático,

dos gêneros e formato e do grau de com-

plexidade. Assim, os acervos contém obras

que, ou estimulam a leitura autônoma,

por parte do alfabetizando, ou propiciam a

professores e alunos alternativas interes-

santes para situações de leitura comparti-

lhada, de modo a favorecer o planejamento

do ensino e a progressão da aprendizagem.

Como é dito no Edital do Programa:

Assim, cada acervo, a ser composto com base no resultado final da avaliação pedagógica, deverá configurar-se como um instrumento eficaz de apoio:

- ao processo de alfabetização e de formação do leitor;

- ao acesso do aluno ao mundo da escrita e à cultura letrada;

- ao ensino-aprendizagem de conteúdos curriculares.

Os livros selecionados:

- abordam os conteúdos de forma lúdica, despertando o interesse e envolvimento dos alunos com os assuntos neles abordados;

- recorrem a projetos editoriais capazes de motivar o interesse e despertar a curiosidade de crianças dessa etapa de escolarização;

- usam linguagem verbal e recursos gráficos adequados a alunos do 1º, 2º e 3º anos do ensino fundamental;

- configuram-se como obras capazes de colaborar com o processo de ensino aprendizagem.

unidade 02 40

Oito tipos de obras são encontrados nos acervos:

1. livros de divulgação do saber científico / obras didáticas;

2. biografias;

3. livros instrucionais;

4. livros de cantigas, parlendas, trava-línguas, jogo de palavras;

5. livros de palavras;

6. livros de imagens;

7. livros de histórias, com foco em conteúdos curriculares;

8. livros literários.

O PNBE é um Programa que promove “o

acesso à cultura e o incentivo à leitura nos

alunos e professores por meio da distribui-

ção de acervos de obras de literatura, de

pesquisa e de referência. O atendimento

é feito em anos alternados: em um ano

são contempladas as escolas de Educação

Infantil, de Ensino Fundamental (anos ini-

ciais) e de Educação de Jovens e Adultos.

Já no ano seguinte são atendidas as escolas

de Ensino Fundamental (anos finais) e de

Ensino Médio. Hoje, o programa atende de

forma universal e gratuita todas as escolas

públicas de educação básica cadastradas

no Censo Escolar”.

Um dos destaques do PNBE é a distribuição

dos livros de literatura, que engloba textos

em prosa (novelas, contos, crônica, memó-

rias, biografias e teatro), em verso (poemas,

cantigas, parlendas, adivinhas), livros de

imagens e livros de história em quadrinhos.

Esses livros são destinados às bibliotecas das

escolas.

Foram distribuídos, em 2010, 249 títulos

destinados à Educação Infantil, anos iniciais

do Ensino Fundamental e Educação de

Jovens e Adultos. Os livros contemplam te-

máticas, gêneros e extensões variados. Têm

o propósito de atrair os estudantes para o

universo da literatura de forma lúdica, com

textos que promovem a fruição estética

tanto pela linguagem verbal, quanto pelas

imagens. Em 2010, foram selecionados 250

títulos para os estudantes da Educação In-

fantil, anos inicias do Ensino Fundamental

e Educação de Jovens e Adultos.

Programa Nacional da Biblioteca da Escola (PNBE)

unidade 02 41

Programa Nacional da Biblioteca da Escola

– Especial (PNBE Especial)

O PNBE Especial distribuiu, em 2010, livros

em formato acessível aos alunos com defi-

ciências sensoriais (Braille, Libras, Carac-

teres Ampliados, Áudio). Foram entregues

48 obras literárias destinadas ao Ensino

Fundamental. O objetivo principal foi o fa-

vorecimento de acesso ao universo literário

em outros formatos, de modo a abranger as

crianças com necessidades educacionais

especiais.

Programa Nacional do Livro Didático – Dicionários

O dicionário é um tipo de obra de consulta

que, se não for introduzido no mundo da

criança de forma lúdica, dinâmica, tende a

ser rejeitado. Por isso, no PNLD Dicioná-

rios, os livros são selecionados tomando-se

em conta a representatividade e a ade-

quação do vocabulário selecionado. Para o

início do Ensino Fundamental, “a seleção

lexical e a explicação dos sentidos dos

vocábulos devem ser adequados a alunos

em fase inicial de alfabetização”. Com esta

mesma preocupação, os dicionários para

as crianças têm organização gráfica mais

atraente. Desse modo, este recurso didá-

tico também constitui material rico que

circula no espaço escolar.

Jogos de Alfabetização

Em 2011, o Ministério da Educação distri-

buiu para as escolas brasileiras um conjun-

to de jogos destinados à alfabetização. São

10 jogos que contemplam diferentes tipos

de conhecimentos relativos ao funciona-

mento do Sistema de Escrita Alfabética.

Em 2013, tais materiais foram destinados

pelo MEC aos sistemas que aderiram ao

Pacto para Alfabetização.

Os jogos são classificados em três grandes

blocos (LEAL et al., 2008, p. 19-20).

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1. Jogos que contemplam atividades de análise fonológica,

sem fazer correspondência com a escrita

· Bingo dos sons iniciais; · Caça rimas; · Dado sonoro; · Trinca mágica; · Batalha de palavras. Esses jogos auxiliam as crianças a tomar os sons como objeto de reflexão, de modo que os estudantes podem mais facilmente perceber que, para escrever, precisam refletir sobre como se constituem as palavras e quais são as semelhanças e diferenças entre as palavras quanto à dimensão sonora.

Desse modo, os objetivos propostos são: - compreender que, para aprender a escrever, é preciso refletir sobre os sons e não apenas

sobre os significados das palavras; - compreender que as palavras são formadas por unidades sonoras menores; - desenvolver a consciência fonológica, por meio da exploração dos sons iniciais das

palavras (aliteração) ou finais (rima); - comparar as palavras quanto às semelhanças e diferenças sonoras; - perceber que palavras diferentes possuem partes sonoras iguais; - identificar a sílaba como unidade fonológica; - segmentar palavras em sílabas; - comparar palavras quanto ao tamanho, por meio da contagem do número de sílabas.

2. Jogos que levam a refletir sobre os princípios do Sistema

de Escrita Alfabética

· Mais uma; · Troca letras; · Bingo da letra inicial; · Palavra dentro de palavra. A brincadeira com esses jogos favorece a reflexão sobre o funcionamento do sistema de escrita, ou seja, os princípios que constituem a base alfabética, promovendo reflexões sobre as correspondências entre letras ou grupos de letras e fonemas.

Os objetivos propostos são: - compreender que a escrita nota (representa) a pauta sonora, embora nem todas as

propriedades da fala possam ser representadas pela escrita;

- conhecer as letras do alfabeto e seus nomes;

- compreender que as palavras são compostas por sílabas e que é preciso registrar cada uma delas;

- compreender que as sílabas são formadas por unidades menores;

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- compreender que, a cada fonema, corresponde uma letra ou conjunto de letras (dígrafos), embora tais correspondências não sejam perfeitas, pois são regidas também pela norma ortográfica;

- compreender que as sílabas variam quanto à composição e número de letras;

- compreender que as vogais estão presentes em todas as sílabas;

- compreender que a ordem em que os fonemas são pronunciados corresponde à ordem em que as letras são registradas no papel, obedecendo, geralmente, ao sentido esquerda-direita;

- comparar palavras quanto às semelhanças gráficas e sonoras, às letras utilizadas e à ordem de aparição delas.

3. Jogo que ajuda a sistematizar as correspondências entre le-

tras ou grupos de letras e fonemas

· Quem escreve sou eu. Este jogo é importante, sobretudo, para as crianças que já entendem o funcionamento do sistema de escrita e estão em fase de consolidação dos conhecimentos das correspondências entre letras ou grupo de letras e os fonemas.

Os objetivos propostos são: - consolidar as correspondências entre letras ou grupo de letras e fonemas, conhecendo todas

as letras e suas correspondências sonoras;

- ler e escrever palavras com fluência, mobilizando, com rapidez, o repertório de correspondências entre letras ou grupos de letras e fonemas já construídos.

PNBE do Professor

O Programa Nacional Biblioteca da Escola

– acervo do professor distribui acervos de

obras que dão apoio teórico e metodológico

para o trabalho em sala de aula. O principal

objetivo é dar suporte à formação do profes-

sor, de modo a contribuir como ferramenta

para o planejamento de aulas. Foram distri-

buídos para as bibliotecas das escolas, em

2011, 154 títulos divididos por categorias:

53 títulos para os anos iniciais do Ensino

Fundamental; 39 para os anos finais do En-

sino Fundamental; 45 para o Ensino Médio

e Educação de Jovens e Adultos; e 17 para os

anos iniciais e finais do Ensino Fundamen-

tal da Educação de Jovens e Adultos.

Os livros são de natureza pedagógica

e tratam de conhecimentos relativos à

alfabetização e ao ensino dos componentes

curriculares Língua Portuguesa, Matemá-

tica, História, Geografia, Ciências, Física,

Química, Biologia, Filosofia, Sociologia,

Artes, Educação Física, Inglês e Espanhol.

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Coleção Explorando o Ensino

A coleção “Explorando o Ensino” é formada

por obras pedagógicas para aprofunda-

mento de estudos dos professores. Busca

discutir sobre teorias e práticas voltadas

para o ensino em diferentes áreas de

conhecimento, incluindo vários volumes

destinados aos professores dos anos ini-

ciais do Ensino Fundamental.

Além desses materiais descritos há, na

internet, vários livros que podem ser

acessados no Portal do MEC (<http://

portal.mec.gov.br/>), no link “Publica-

ções” (http://portal.mec.gov.br/index.

php?Itemid=872&id=12814).

Em suma, há muitos livros e recursos

acessíveis a professores e estudantes que

circulam nos espaços escolares e devem

ser objeto de exploração, leitura, discus-

são. O importante é que o professor tenha

autonomia para selecionar os que podem

ser mais favoráveis aos seus estudantes e

planejar boas situações didáticas.

Referências

BATISTA, Antônio A. G. Um objeto variável e instável: textos, impressos e livros didáticos. In:

ABREU, Márcia (org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas, SP: Mercado de Letras:

ALB; São Paulo: Fapesp, 2000.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Acervos complementares: as áreas do conheci-

mento nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEB, 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e

Terra, 1996.

GOMEZ, Angel Pérez. O pensamento prático do professor – a formação do professor como profis-

sional reflexivo. In: NÓVOA, A. Os professores e sua formação. Lisboa: Pub. Dom Quixote, 1995.

LEAL, Telma Ferraz; ALBUQUERQUE, Eliana Borges; BRANDAO, Ana Carolina P; FERREIRA,

Andrea T. B.; LEITE, Tania M. R.; LIMA, Ana Gabriela.; NASCIMENTO, Leila. Manual didático

para utilização de jogos de alfabetização. Brasília: MEC, 2008.

LEAL, Telma Ferraz.; RODRIGUES, Siane Gois C. Além das obras literárias, que outros livros

queremos na sala de aula? In: LEAL, Telma Ferraz SILVA, Alexandro (orgs.). Recursos didáticos

e ensino de língua portuguesa: computadores, livros... e muito mais. Curitiba: Editora CRV, 2011,

v.1, p. 95-114.