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Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

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este livro fala de reencarnação

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Sumário

1 As Leis do Fenômenos Espíritas 2 A Lição da Discordância Radical 3 Mais Lições da “Discordância Radical” 4 Comunicação com o Além 5 Dissociação da Personalidade 6 “Eles próprios afirmam” 7 Espíritismo em maus lençois 8 Espíritas, um mínimo de reflexão!

As Leis do Fenômenos Espíritas

Espiritismo e Reencarnação

OS MELHORES NÃO SÃO BONS!

No artigo anterior (Espíritas um mínimo de reflexão) vimos que as

mensagens do espiritismo, se não fossem meramente oriundas de divisão da

personalidade!, em todo caso não podem proceder de espíritos bons, porque

estariam se mostrando como mentirosos, enganadores, falsários.

Esse mesmo proceder de disfarçar-se com nomes que não lhes pertencem,

proceder que Allan Kardec atribui aos ―espíritos superiores‖ (?!), em outro

livro,‖O livro dos espíritos‖, o julga próprio de espíritos inferiores:

―Um fato demonstrado pela observação e confirmado pelos próprios

espíritos (superiores, ou inferiores disfarçados?) é que os espíritos

inferiores muitas vezes usurpam nomes conhecidos e respeitados. Quem

pode, pois, afirmar que os que dizem ter sido, por exemplo, Sócrates, Júlio

César, Carlos Magno, Fenelon, Napoleão, Washington etc. tenham

realmente animado essas personagens? (..) Como se lhes pode comprovar a

identidade? Semelhante prova é, de fato, bem difícil de se produzir‖.

Na realidade, quem não é espírita fanático sabe que quem diz ser Sócrates,

Júlio César, Carlos Magno etc. é simplesmente um louco.

Só um espírita pode duvidar… Tal dúvida, aliás, contradiz sem dúvida

outra hipótese do espiritismo, a reencarnação!

Mas o que interessa aqui é que Kardec considera que usurpar nomes é

comportamento próprio de espíritos inferiores. Logicamente. Aqui tem

razão!

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Entre os pesquisadores da metapsíquica, uma das personificações ou

prosopopéias do inconsciente melhor estudada foi Phinuit. Os espíritas

consideram-no ―o mais acabadamente espírito bom‖. Era o ―espírito guia‖

da provavelmente melhor dotada de fenômenos de conhecimento, Eleonora

Piper.

―Houve sessões nas quais todas as perguntas e todas as proposições

formuladas eram verdadeiras‖.

Em outras, porém, todos os conhecimentos do ―espírito de luz‖ Phinuit

esvaziavam-se e perdiam-se em astúcias e simulações, ele ―não

manifestava o menor conhecimento real e limitava-se a (…) respostas

formuladas ao acaso (…), generalidades vagas (…) Phinuit pretendia estar

sempre em comunicação com os outros espíritos (…), e logo mais suas

lembranças confundiam-se (…), terminava em incoerências (…),

comunicações procedentes de espíritos de extraterrestres (…) Muitos

defeitos e muitas incoerências‖.

Assim o garante nada menos que seu grande pesquisador Frederico Myers.

Quem poderia confiar em Phinuit? Como é que os líderes do espiritismo

tanto o exaltam?

INDIGNO DE ESPÍRITOS DIGNOS

É inadmissível que pessoas que em vida tenham sido eminentemente

respeitáveis, no além estejam à disposição de curiosos, ou se misturem em

ambientes escuros e agitados, ou se degradem a golpear ou fazer girar uma

mesa ou empurrar um copo etc.

―Se nossos defuntos, ao menos os respeitáveis, pudessem comunicar-se

conosco, encontrariam um meio mais digno‖.

Assim conclui Enrico Morselli após as pesquisas nada menos que com a

mais famosa de fenômenos de efeitos físicos, Eusápia Palladino.

―Mas é possível que o grande mistério da morte, se reduza a uma comédia?

(…) Quando morrer, deverei pôr-me à disposição de um médium e

percorrer o mundo para levantar cadeiras de sob os assistentes e golpear

uma mesinha? Não acredito porque é absurdo, porque é ímpio‖, conclui

outro grande pesquisador, Gaetano Negri. É evidente. Lamentável a

mentalidade dos ―mestres‖ espíritas.

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PREJUDICIAL A “LEI DA AFINIDADE”

Segundo os dirigentes espíritas, repetido nas mais diversas ocasiões, os

espíritos são atraídos pela igualdade ou maior semelhança entre eles e o

ambiente que os evoca. Afinidade moral, cultural, de desenvolvimento

perispIrÍtico (!?) etc.

De acordo com esta lei, os ―desencarnados‖ que se comunicariam com os

médiuns só podem ser

— os mais incultos: não se celebram sessões de espiritismo nos congressos

de prêmios Nobel nem nas universidades.

— Os mais amorais: não se celebram sessões de espiritismo nos conventos,

nos mosteiros, nas santas casas de misericórdia, nos hospitais da madre

Teresa de Calcutá na Índia, ou nos Asilos da Irmã Dulce no Brasil, nas

organizações internacionais da Cruz Vermelha, etc.

— Os menos desenvolvidos: porque os ―espíritos de luz‖ estariam muito

distantes desta Terra de castigo (?!), e seu persipírito (?!) teria de ser o mais

grosseiro, dado que o perispírito sujeito ao corpo mortal no planeta Terra

seria dos mais baixos da escala de desenvolvimento. Tudo de acordo com

as leis espíritas. Ernesto Bozzano afirma como consenso entre todos os

mestres do espiritismo:

―Confirma-se tudo o que, há muito tempo, já se havia assinalado com

relação às comunicações mediúnicas, isto é, que os espíritos que se

comunicam, quando se acham imersos na ‗aura‘ dos médiuns, ficam em

condições análogas às dos pacientes hipnóticos e se tornam, em

conseqüência, sugestionáveis, sofrendo notável diminuição de suas

faculdades mnemônicas. Isto dissipa muitas dúvidas teóricas‖.

É a lei da afinidade que atrai os espíritos apegados à terra; e mesmo que na

―rede caísse‖ algum espírito superior, pela influência da lei da afinidade,

logo se adaptaria ao baixo nível.

―isto dissipa muitas dúvidas teóricas‖. Pretende safar-se de tantas

contradições, erros, bobagens e mesmo grosseiras e imoralidades

facilmente misturadas nas mensagens atribuídas aos mais altos espíritos

superiores. Nem percebe que assim acaba com os espíritos superiores. São

simples seres hipnotizados e sugestionáveis à mercê e no nível dos

médiuns…! Logicamente, se atraísse algum espírito, seria o das pessoas

vivas deste mundo (telepatia), pois são elas sem dúvida as que mais se

assemelham aos evocadores deste mundo.

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Ou, na realidade, o próprio inconsciente do médium (com ou sem

telepatia). Porque em questão de afinidade nenhum outro espírito pode

estar tão perto como uma parte complementar do próprio ―eu‖ do médium.

E dado que se tratava de uma parte da própria pessoa, são pessoas com

divisão da personalidade, desequilibradas. Segundo os espíritas, seriam

espíritos grosseiros.

Outra boneca. Feita de trigo. Para garantir as boas colheitas!: ―Os

semelhantes se atraem‖!

E A OUTRA LEI?

Deve-se levar em consideração, aliás, que embora as partes do psiquismo

de uma mesma pessoa

sejam sem dúvida da mesma natureza, do mesmo ―perispírito‖ (?!), da

mesma estrutura, da mesma substância…, a divisão da personalidade pode

ser por ―cristalização‖ das ―partículas‖ mais díspares entre si, ocasionando

grupos complementares ou opostos. Junto à lei da afinidade, deve constar

também a lei da atração dos opostos. Nas manifestações espiritóides pode

acontecer que a parte inconsciente que se manifesta seja precisamente a

oposta à personalidade oficial do médium.

NÂO PODEM SER, AO MESMO TEMPO, BONS E MAUS

Allan Kardec escrevia convicto em ―O livro dos espíritos‖ :

―A linguagem dos espíritos superiores é constantemente digna, nobre (…)

Sua presença afasta os espíritos inferiores‖.

Foi a experiência que lhe ensinou mais tarde que a realidade é muito

diferente? (o inconsciente mistura o bom e o mau). Ou é só mais uma de

tantissimas contradições de Kardec, dado que na realidade só pretendia

confundir? Então ―os espíritos superiores‖ entraram em contradição:

Afirmam em ―O livro dos médiuns‖ que não afastam com sua presença os

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espíritos inferiores, mas que permanecem, uns e outros, continuamente

misturados. Mesmo tendo dito:

―Os bons e os maus espíritos não andam juntos‖, poucos parágrafos depois

se contradiz e deixa escapar um ―pela facilidade com que os maus espíritos

se intrometem nas comunicações‖ (dos bons espíritos).

Imediatamente, contra a afirmação de que a ―presença (dos bons espíritos)

afasta os espíritos inferiores‖, nova contradição pouquíssimas linhas

depois:

―Quanto piores são os espíritos, mais obstinados se mostram e muitas vezes

resistem a todas as injunções‖.

Isto é, os que estariam mais ligados à Terra, os mais numerosos, os

espíritos verdadeiramente maus, muito maus, os piores, não são afastados

pelos espíritos superiores!!

O “CONTROLE”

Mesmo o ofício ou a pretensa existência do ―espírito guia‖ ou ―controle‖

das sessões foi claramente subterfúgio inventado tardiamente. Inventado

pelo inconsciente e pelos líderes modernos do espiritismo. Para defender-se

dos erros, tolices, contradições etc. freqüentemente misturados nas

manifestações do inconsciente -ou intromissões dos ―espíritos inferiores‖!-

sendo que os fundadores do espiritismo -os primeiros mestres e ―espíritos

superiores‖- nada sabiam de ―espíritos guias‖.

Seriam médiuns entre os médiuns da Terra e os espíritos do além. Mas

sobre esses ―espíritos médiuns‖ logo apareceram outros novos ―espíritos

médiuns‖ ou espíritos guias‖, e logo outros e assim numa série

interminável que mais do que mostrar organização, provaria e confirmaria a

total anarquia dos ―espíritos‖ (não há espírito humano sem corpo material

ou ressuscitado), totalmente indigna.

É desse anárquico além que os espíritas pretendem receber a doutrina para

endireitar este mundo terrestre!

Todas as religiões, ao menos as religiões principais e mais desenvolvidas,

separam no além os bons dos maus. A mistura que o espiritismo faz, mostra

seu baixo calão.

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ESSA AMALGAMA É BEM CONHECIDA

A psicologia e a parapsicologia, com seus respectivos estudos sobre o

inconsciente, explicam esta mistura do bem e do mal. Sem recurso a esse

amálgama do espíritos. Onde os bons e maus viveriam tão

indissoluvelmente misturados, que um ―espírito de luz‖ se converte -ou é

substituído- de repente num ―espírito inferior‖.

Compreende-se perfeitamente pela irresponsabilidade própria do

inconsciente. Nele se arquiva o mais sublime e o mais baixo. Ele capta

também extranormal e paranormalmente em pessoas presentes e ausentes o

mais sublime e o mais baixo. Nele o mais sublime pode justapor-se ao mais

baixo por qualquer associação de idéias, e inclusive por contraste. É

corriqueiro e próprio das manifestações nos sonhos, na hipnose, após a

injeção de drogas, ou em qualquer outro estado alterado de consciência.

Quem foi meu professor, um grande psicólogo e por muitos anos professor

de psicologia, Fernando Maria Palmés S.J., que também era filósofo,

teólogo e parapsicólogo, escrevia:

―Porque (…) em boa razão não tem cabimento a possibilidade de atribuir

semelhantes fenômenos às almas dos defuntos (…), que de tal maneira

estejam à disposição dos homens que praticam as superstições do

espiritismo, a ponto de lhes executarem as ordens e lhes satisfazerem a vã

curiosidade e as ânsias do maravilhoso, dando lugar a exibições que

freqüentemente são pueris, ridículas e, não poucas vezes, também

grosseiras e imorais (…), que os próprios espíritas nos descrevem‖ (…)

―Mistura ridícula das verdades cristãs com os erros mais crassos; a moral

mais pervertida, junto com (…) máximas boas, ou indiferentes (…);

mentiras e contradições em que quase sempre incorrem os médiuns (…) E

muitas outras particularidades que ainda se poderiam notar na

fenomenologia aduzida pelos próprios espíritas‖ (…)

―Sobretudo em razão do desequilíbrio mental que em maior ou menor

escala padecem quantos se dedicam assiduamente às práticas espíritas,

especialmente os que desempenham o papel de médium‖.

O curioso (algo surpreende no espiritismo?) é que o próprio Allan Kardec,

em nova contradição, reconhece que não se trata de mistura de espíritos

bons e maus, senão de influência do inconsciente:

Os espíritos superiores (?) respondem afirmativamente à pergunta de se ―as

comunicações escritas ou verbais também podem emanar do próprio

espírito encarnado do médium (…). É fora de dúvida que o espírito do

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médium pode agir por si mesmo‖. Precisamente por estar ―no estado de

sonambulismo ou de êxtase, é que principalmente o espírito do médium se

manifesta, porque não se encontra mais livre. No estado normal é mais

difícil‖.

Tais interferências do inconsciente do próprio médium podem ser

superiores aos seus conhecimentos conscientes:

―Poderá ele haurir nas profundezas do seu próprio eu as idéias que parecem

fora do alcance da sua instrução. Isso acontece freqüentemente no estado

de crise sonambúlica, ou extática‖.

Nos sonhos, no estado crepuscular, em todos os estados alterados de

consciência, não só se misturam manifestações as mais díspares do arquivo

normal e patológico do inconsciente, mas também podem misturar-se

dados parapsicologicamente adquiridos.

COMO EXEMPLO O CASO GLIKA

Entre inumeráveis, eis um exemplo de mentira do inconsciente provocada

pela adivinhação parapsicológica. Nenhuma necessidade de inventar

intervenções de espíritos mentirosos. O exemplo é contado por um pioneiro

da parapsicologia, Teodoro Flournoy, grande psicólogo e parapsicólogo,

que já no início do século XIX mostrava quanto desconhecimento supõe a

explicação (?) espírita:

Quatro pessoas interrogam uma mesa, uma delas é médium, Glika. Com

movimentos e golpes no chão, a mesa, sob a mão dos presentes

(paracinesia), energicamente comunica: ―Bertin, Bertin, meu amigo!

Alexandre morreu‖.

Alexandre G., de 21 anos, está internado há mais de vinte anos num asilo.

O Prof. Bertin (pseudônimo), culto, de uns 60 anos, é seu primo… e

herdeiro. Várias vezes Bertin pensou se não seria melhor que Alexandre

fosse ―descansar‖ e que do sanatório não lhe enviassem mensalmente as

contas a pagar. Ficou contentíssimo com a mensagem…

Mais uma vez um amigo, a pedido do Sr. Bertin, foi verificar o estado de

saúde de Alexandre: ―Lamentavelmente‖ estava em perfeita saúde física.

O ―espírito superior‖ de repente trocaria a atenção com seu ―querido

amigo‖ Bertin, das anteriores comunicações verdadeiras, por um grosseiro

engano?

Ou de repente, não obstante todo o cuidado do ―espírito guia‖, misturou-se

um espírito mentiroso?

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Acrescenta Flournoy:

―A mesa mentiu, sim, tratando-se da realidade material dos fatos. Mas ela

traduziu o pensamento secreto, o desejo latente e obstinado do Sr. Bertin‖.

A adivinhação inconsciente da médium profissional, simples HIE

(Hiperestesia sobre o Inconsciente Excitado), um dos mais fáceis e

freqüentes fenômenos parapsicológicos de conhecimento, explica

perfeitamente os fatos sem esse recurso absurdo de intervenções

cronométricas ou simultâneas de espíritos bons, maus e guias inúteis.

É sabido -embora os ―mestres‖ espíritas prefiram ignorar também isso- que

o inconsciente, e concretamente as faculdades parapsicológicas, é

caprichoso e irregular.

Um dos maiores mestres da psicologia, filosofia e parapsicologia, William

James, já destacava a respeito de Eleonora Piper o motivo psicológico pelo

qual o inconsciente inventou essa briga e a interferência de espíritos:

É para ―explicar de maneira plausível tantas repetições, hesitações,

inconseqüências, frases sem sentido, tantas apalpadelas e sondagens

manifestas e falsas pistas. Daí tanto recurso a poderes inexistentes

(interferências de espíritos inferiores entre os superiores e guias), quando

na realidade é obediência à sugestão‖.

A mesma coisa acontece com as manifestações do inconsciente fora do

ambiente supersticioso do espiritismo, demonologia, ou entre pentecostais,

carismáticos etc.

Ante a riquíssima boneca supersticiosa, o espertalhão médium incorpora o

―espírito de porco‖!

ENTÃO SERIAM SÓ ESPÍRITOS INFERIORES?

É preciso partir do pressuposto de que o espiritismo se fundamenta numa

comunicação pretensamente normal, habitual, freqüente dos espíritos. Não

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se poderia falar em espiritismo se houvesse só algumas esporádicas

manifestações de alguns espíritos.

Lourenço Faget, por exemplo, em entrevista oficial aos jornalistas como

presidente do Congresso Internacional de Espiritismo, de Liége, afirma que

um dos pilares fundamentais do espiritismo é ―a possibilidade das

comunicações normais, note-se que digo normais e não acidentais, entre os

mortos e vivos, entre os desencarnados e os encarnados‖.

Ora, em todo e qualquer grupo onde há manifestações espiritóides normais

ou freqüentes, sempre há manifestações atribuídas aos ―espíritos

inferiores‖. Um dos mestres, percursores ou fundadores do espiritismo

moderno, Staiton Moses, num livro que alcançou centenas de edições entre

os espíritas, afirma a respeito das entidades que se manifestam em toda

parte, em todos os centros:

―Muitas dessas entidades são seres maléficos nos seus gostos e impuros nos

seus costumes, que estão reunidos em bandos sob o comando da

inteligência mais maléfica, para causar dano, para obstacular nossa obra‖.

No espiritismo não são os espíritos bons que se manifestam. Também não

são conjuntamente espíritos bons e maus. Restaria que fossem só espíritos

maus, vestidos às vezes com peles de ovelha.

Mas logo caindo-lhes a máscara! Allan Kardec escrevia:

―Quanto aos espíritos que se enfeitam com nomes respeitáveis, eles se

traem logo pela sua linguagem e suas máximas‖.

Os ―mestres‖ do espiritismo anglo-saxão, em geral, concordam com Oliver

Lodge. Nada menos que Oliver Lodge, tão louvado pelos espíritas de todo

o mundo. Lodge afirma que se fundamenta em abundantes revelações

espíritas (?), confirmadas pelas do espírito (?) do seu próprio filho

Raymond. Pois bem, Lodge garante que a vida no além se prolonga

indefinidamente, levando os espíritos a subir sempre mais alto na escada

evolutiva, afastando-se cada vez mais da terra e ficando cada vez mais

difícil a comunicação espírita e mesmo impossível para os espíritos

superiores. Só os espíritos mais grosseiros, mais apegados às misérias desta

Terra no início da purificação é que teriam possibilidade e mesmo

facilidade de se comunicar.

Kardec e os ―mestres‖ do espiritismo latino concordam em que os espíritos

desenvolvidos se afastam da Terra.

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Para os ―mestres‖ do espiritismo anglo-saxão, os espíritos inferiores, em

grande número, estão apegados à Terra. Precisamente os espíritos mais

grosseiros são os mais fortes. Se algum ―debilitado‖ e ―purificado‖ espírito

superior pretende imiscuir-se no ambiente da Terra e competir com os

espíritos grosseiros para se comunicar com um vivo, nem luta haveria. Os

espíritos grosseiros venceriam com a máxima facilidade.

E no além haveria total anarquia. Ninguém estabeleceria ordem! Muito

menos na Terra: Uma revista de máximo prestígio entre os espíritas de todo

o mundo ―Le Monde Psychique‖, transcreve a doutrina concordante:

―No mundo dos espíritos, reina a lei do mais forte. É um estado de

anarquia. Se as sessões não são instrutivas, é porque um espírito malvado

não abandona a mesa e deita-se sobre ela, de uma sessão para outra, de

maneira que os espíritos que desejarem entrar em comunicação séria com

os membros do círculo não podem se aproximar‖.

A maioria dos ocultistas, seguindo seu ―grande mestre‖ Papus, modificou a

tradicional definição esotérica de ―elementares‖, terminando quase por

identificá-los com espíritos de mortos.

Pois bem, o que interessa agora, conclui o grande especialista René Guénon

no seu ―L‘erreur spirite‖: segundo os ocultistas e teósofos, os espíritos

―precisamente dos bêbados, dos feiticeiros e dos criminosos, como também

dos falecidos em morte violenta e dos suicidas (…), os de natureza mais

inferior são os que com gosto se manifestam nas sessões espíritas (…) É

mesmo a esses seres inferiores aos quais os teósofos reservam o nome de

‗elementares‘ (…) Haveria que se afastar plenamente das práticas do

espiritismo, e é isso efetivamente o que recomendam os dirigentes do

ocultismo e mormente do teosofismo‖.

E o curioso é que Kardec e os ―mestres‖ espíritas concordam com todas as

premissas: muito numerosos, apegados, mais grosseiros, mais fortes,

anarquia…! Contraditoriamente, porém, negam a conseqüência! Na

realidade, segundo a lógica, seria necessário dar plena razão aos ocultistas:

os espíritos superiores não têm a mínima possibilidade de se comunicar

com os vivos da Terra. Só poderiam os espíritos inferiores. Tanto mais

facilidade e comunicação quanto mais inferiores!

NÃO SÃO OS ESPÍRITOS INFERIORES

Apesar de formado em ambiente do espiritismo durante anos, por fim o

grande estudioso Dr. Alexander, da Universidade de Bruxelas, terminou

por reconhecer:

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―Perante a ingente quantidade de tolices e despropósitos que se comunicam

em todos os centros de espiritismo, e considerando a quantidade de cretinos

e imbecis que já morreram no mundo, estar-se-ia inclinado a aceitar a

explicação das ingerências dos espíritos inferiores. Mas, tal explicação não

tem base nenhuma, e para compreender que se trata de ingerências do

próprio inconsciente do médium ou dos assistentes, basta considerar as

grosserias que é capaz de soltar a mais fina madame quando sob os efeitos

de clorofórmio. Todos os cirurgiões dão testemunho disso‖.

Um exemplo… Recentemente um médico foi expulso da Sociedade de

Medicina Italiana e causou escândalo entre o povo desconhecedor do

inconsciente, porque contra a mais elementar ética publicou as horríveis

blasfêmias que durante o delírio prévio à morte escaparam de uma alta

autoridade da Igreja, modelo de piedade e amor a Deus, hoje com causa de

beatificação introduzida. O episódio foi publicado em todo o mundo.

NA REALIDADE É O INCONCIENTE

Como Flournoy demonstrou de modo completamente convincente (para

quem não sofreu lavagem cerebral pela mentalidade espírita), o famoso

caso de Helena Smith, considerado pelos espíritas como o mais

convincente de identificação, nada tem a ver nem com espíritos superiores

nem com interferências de espíritos inferiores…

Tudo foi produto das qualidades, maravilhosas por certo, assim como

também das frustrações e mesmo hetero-sugestões do inconsciente de

Helena.

O mesmo Flournoy recolheu quatro outros casos sensacionais, os melhores

possíveis de ―identificação‖ dos espíritos. A lógica (?) espírita

imediatamente garantiu tratar-se de interferência de ―espíritos

enganadores‖.

Nada disso. O famoso psicólogo e brilhante parapsicólogo da Universidade

de Gênova demonstrou com sistemática análise e verificação de cada

detalhe, que nesses quatro casos como no de Helena Smith e em outros

casos que cita menos detalhadamente, tratava-se de ―comunicações‖ de

pessoas completamente vivas e cheias de saúde!

Nem nos melhores casos segundo os espiritas. Nunca. O máximo que pode

acontecer (pois há muitíssimos outros casos absolutamente vulgares,

fictícios, truques…) é serem ―comunicações‖ e personificações

(prosopopéias) selecionadas de acordo com as tendências afetivas,

evidentemente dos inconscientes dos médiuns.

Page 13: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

CONCLUSÃO

Tomá-la-emos de Chico Xavier! Não é das menores contradições dentro do

espiritismo a afirmação psicografada por Chico Xavier, ―papa‖ do

espiritismo do Brasil:

―Na existência terrena vivemos o combate das idéias e das coisas (…) A

morte, todavia, transformação fundamental de todas as coisas é o sopro

ciclópico de realidades absolutas, descortinando ao espírito a perspectiva

imensa da ciência universal (…), a ciência ideal (…) estudando a Verdade

em seus fundamentos intrínsecos‖.

Só a lógica (?) espírita não percebe que esta mensagem acaba com a

reencarnação, com toda a doutrina espírita em bloco…, e concretamente

com as ingerências e mesmo a tal ignorância de espíritos inferiores, que o

próprio espiritismo inventou como escusa.

O picante para o espiritismo é que essa afirmação de Chico Xavier está

plenamente de acordo com a doutrina católica: com a morte termina a

ignorância. E de acordo com a parapsicologia: não se trata de espíritos

superiores e inferiores. Trata-se de manifestações das faculdades dos vivos,

―na existência terrena… no combate das idéias e das coisas‖.

A Lição da Discordância Radical

Espiritismo e Reencarnação

Gênio ou Insensato?

Allan Kardec afirma -e os ―mestres‖ do espiritismo repetem- que o

espiritismo é a doutrina revelada unanimemente em todo o mundo pelos

espíritos superiores. Allan Kardec garante que soube identificar os espíritos

superiores. Ele codificou a doutrina, revelada unicamente por eles.

Com essa revelação ―os tempos marcados pela Providência para uma

manifestação universal chegaram‖. A doutrina dos espíritos não é de

concepção humana. Ela foi ditada pelas próprias inteligências que se

manifestam (…). Milhares de médiuns disseminados por todas as partes do

globo, que jamais se viram (…), dizem a mesma coisa‖.

Page 14: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Os ―mestres‖ do Espiritismo, e os espíritas em geral, nem suspeitam

quantos ―sapos e cobras‖ podem sair de uma cabeça em transe, desligada

da realidade, em estado alterado de consciência, imaginando que é um

morto!

Ou Allan Kardec foi -por mérito próprio ou por inspiração e missão dos

espíritos superiores- a pessoa de maior cultura geral, o maior sábio, o maior

gênio que já passou pela Terra, ou então Kardec e os mestres do espiritismo

como sendo a doutrina unânime, revelada pelos espíritos superiores, e que

substitui todas as outras revelações (pretensas ou reais), são os maiores

insensatos.

Prescindamos dos “detalhes”

Não há nada nem de muito longe parecido com doutrina única, doutrina

unânime, revelação concordante e universal. Nunca acabaria se pretendesse

enumerar as diferenças e contradições em aspectos particulares da suposta

revelação espírita Kardecista.

Muitas contradições apareceram e aparecerão em outros artigos. A

―revelação espírita‖ está em estrita dependência do médium. Igualmente os

médiuns dependem do seu ambiente.

Agora só vamos analisar as grandes linhas, as fundamentais, do espiritismo

universal…

Que “espíritos superiores”?

“O livro dos médiuns”

— Kardec garante que a codificação espírita, além de ditada unicamente

por espíritos superiores, posteriormente, na edição definitiva,‖ os espíritos

a corrigiam, com particular cuidado. Como reviram tudo, aprovando-a, ou

modificando-a à sua vontade, pode-se dizer que ela é, em grande parte,

obra deles, porquanto a intervenção que tiveram não se limitou aos artigos

assinados‖.

Page 15: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

A mesma idéia repete-se constantemente em todos os livros de Kardec.

— Da mesma pretensão de que recebia a doutrina unicamente dos espíritos

superiores estava convencido Andrew Jackson Davis, o codificador seguido

pela maioria dos espíritas anglo-saxões. Conan Doyle, na qualidade de

presidente da Federação Internacional de Espiritismo, haverá de qualificá-

lo como o terceiro maior profeta depois de Cristo!

O segundo maior profeta seriam as irmãs Fox. Davis muito por cima de

Kardec…

— Logo depois dos primeiros escritos de Allan Kardec, na própria França,

D‘Orino publica seu ―La génese de l‘ame‖, e na Itália Umberto Natalini

publica o seu ―Gli spiriti e il loro mondo‖.

Os três pretendem haver identificado os espíritos superiores. Suas

doutrinas, porém, divergem plenamente em pontos fundamentais. Não é,

pois, revelação unânime ou não são espíritos superiores. São três

―revelações‖ divergentes e mesmo opostas. Quem dos três é o gênio, quais

dos três, os petulantes?

Depois de Kardec, na própria França, o próprio P.G. Leymarie, que era um

dos discípulos prediletos e mais afeiçoado a Allan Kardec, no prólogo às

―Obras póstumas‖ do próprio Kardec, escrevia:

Mas o espiritismo de Davis é completamente diferente do espiritismo de

Kardec.

— E na época de Davis, quando se iniciava o espiritismo, poucos anos

antes de Kardec, surgiam com também inumeráveis seguidores, inclusive

entre sábios e pessoas cultas, outros mestres espíritas. E todos convictos de

que souberam muito bem identificar os espíritos superiores e só por eles

estarem sendo guiados.

&& Com doutrinas diametralmente diferentes (algumas diferenças

fundamentais veremos logo mais).

Assim J. T. Mahan, de Ohio, é não só simples codificador, mas também o

mais destacado médium! ―Ele deu mostras de uma visão mental

maravilhosa e criou um (novo) sistema científico tanto físico como

intelectual‖, segundo seus discípulos.

— Precisamente quando Kardec se iniciava no espiritismo, os mais

―sublimes espíritos‖ ditavam vários livros, que arrastaram multidões de

norte-americanos, a Charles Linton. Ele era médium psicógrafo, não só

simples codificador. Sua principal obra apresentava-se como ―a salvação

das nações‖.

Page 16: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

— ―No Congresso Espírita de 1890, os estudos sucessivos puseram em

relevo questões novas e, de acordo com o ensino preconizado por Kardec,

alguns dos princípios do espiritismo em que o mestre baseava o ensino

deviam pôr-se de acordo com a ciência em geral‖.

&& Conclusão: Desde o início e na atualidade, a diversidade de

―revelações‖ espíritas mostra total anarquia dos ―espíritos superiores‖!

Ainda há, principalmente no Brasil, espíritas que se gabam de ser

seguidores da codificação de Allan Kardec. Mas Kardec já foi abandonado

na França.

Pelo influxo e interesse de Kardec, o espiritismo chegou naquela época a

alcançar um certo número de seguidores na Espanha. Principalmente em

Barcelona, onde houve inclusive o citado Congresso Internacional de

Espiritismo. Mas posteriormente o Kardecismo foi declinando na Espanha

até praticamente desaparecer.

Depois da época de Franco, e aproveitando os ares de liberdade na

Espanha, a escola Científica Basílio, originária da Argentina, esforçou-se

por reanimar o espiritismo, e alcançou registro no ministério do interior.

Essa ―escola‖ é muitíssimo diferente do Kardecismo. A partir do fato de

acreditar que sua doutrina é revelada só e nada menos que pelo espírito de

Jesus Cristo! Todos os demais espíritos que se comunicam nas sessões de

outras denominações espíritas são, para os basílios, incomparavelmente

inferiores, e por isso mesmo devem ser rejeitados…

— Depois o mestre espírita kardecista Rafael González Molina, retornando

do Brasil, fundou em Madri o centro de Estudos e Difusão do espiritismo.

Trata-se de um espiritismo tipicamente brasileiro, mistura de várias

tendências, embora se autodenomine Kardecista. Molina pretende, sem

nenhum êxito, unificar todos os espíritas espanhóis. Como dizia a escritora

María Luisa Morales: ―Se somos duzentos espíritas em Madri, há duzentas

versões de espiritismo‖.

&& Todos convictos de identificar e seguir as revelações dos espíritos

superiores!

— No resto do mundo, e mesmo no Brasil -―Coração do mundo e pátria do

evangelho‖ espírita (!?)-, uma multidão de pessoas seguem muitas outras

―revelações‖ dos ―espíritos superiores‖.

Page 17: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

&& Há alguma parte da doutrina que possa ser considerada unânime para

os ―espíritos superiores‖? Entre tantos codificadores, quem é o maior

gênio? (ou o mais insensato petulante?)

Concretizemos algumas línhas mestras:

Religião, culto, clero…

— Allan Kardec, em nome dos ―espíritos superiores‖ nas ―Obras

Póstumas‖, opunha-se que o espiritismo pudesse ser considerado religião.

— A maioria dos espíritas brasileiros, porém, seguindo seus ―espíritos

guias‖ e seus mestres, consideram o espiritismo e a ele aderem como

religião.

— E a mesma divisão há em muitas outras nações.

— Kardec repudiava templos, clero, rituais… Mas em 1919, por exemplo,

já surgia o caodaísmo. O sulvietnamitã Ngo-van-Chien, desde 1902,

durante seus estudos na França, fora seguidor de Kardec. Em numerosas

sessões e com numerosos médiuns, os ―espíritos superiores‖ sob o

comando de Cao-Daí (que significa ―Palácio Supremo‖, e daí o nome de

caodaísmo) estabeleceram toda uma organização de uma religião espírita,

onde o Kardecismo e o budismo se misturam e que pretende unir todas as

regiões.

— Mas adiante, um nobre convertido ao cadaísmo, Le-Van-Trung, foi

eleito papa dessa religião; mas Ngo-van-Chien, seguido as ―revelações‖ do

Supremo Espírito Cao-Daí, foi nomeado papa de um outro ramo dessa

religião.

Victor Hugo é muito considerado pelos espíritas kardecistas, mas ele foi o

primeiro profeta e o primeiro santo canonizado do caodaísmo. Numerosos

mandatários do Vietña do Sul e numerosos bispos do caodaísmo ao longo

dos anos apresentaram-se como reencarnações do grande poeta francês.

Entre eles, o bispo caodaista que oficiou a inauguração da catedral de

Apnomh-Phen, em 22 de maio de 1922, foi apresentado oficialmente -

―revelado‖ pelos ―espíritos superiores‖!- como reencarnação de Victor

Hugo.

Grande número dos bispos caodaístas formaram-se na França. Na França,

na mesma terra onde nasceu o Kardecismo, está muito desenvolvida esta

Page 18: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

nova religião.

&& Assim querem e revelam os ―espíritos superiores‖!?

Nem sobre reencarnação (e comunicação!)

Para Allan Kardec, em ―O livro dos espíritos‖ a reencarnação apresenta-se

como um dogma (sic). Fundamental.

&& Pois bem, nem sequer neste ―dogma fundamental‖ a revelação (?) dos

―espíritos superiores‖ tem unanimidade.

É sabido que os espíritos mais cultos, os anglo-saxões (EUA, Irlanda,

Holanda, Alemanha, Inglaterra etc.) -ou os ―espíritos superiores‖ que se

manifestam nesses países!-, tradicionalmente se mostram até ferrenhos

adversários da reencarnação. São chamados davinianos porque Andrew

Jackson Davis é para eles o que é Kardec para muitos dos espíritas latinos.

E mais do que Kardec, porque Davis não só codificou toda a doutrina, mas

também, como ―médium extraordinário‖, a teria recebido diretamente dos

espíritos. E pelos espíritos que ele incorporava teria sido corrigido o que

procedia de outros médiuns. Kardec nunca foi médium. Ainda mais: Davis

teria sido arrebatado repetidas vezes para vasculhar todas as ―moradas

espirituais‖.

&& Embora muito bem recebidos pelos ―entusiastas‖ do espiritismo e

traduzidos em várias línguas, evidentemente os trinta enormes livros de

Davis não são inteiramente lidos pela maioria dos seus seguidores. E para

os não-entusiastas pelo espiritismo, são tremendamente enfadonhos,

absurdos… J. L. Moore compilou o principal.

Davis e seus espíritos superiores, os mais altos de todo o mundo espiritual,

negam rotundamente a reencarnação: ―Há uma corrente de homens em

diversas etapas de progresso (sem reencarnação; progresso no além) (…).

Lembremo-nos de que todos os espíritos e anjos já foram homens, viveram

em organizações físicas como vivemos e faleceram como falecemos, antes

de partirem para seu lar espiritual‖.

Os anjos seriam os espíritos dos homens heróicos na virtude (os santos).

E sem reencarnação, no além, continuam afastando-se cada vez mais da

Terra, diminuindo cada vez mais a possibilidade de comunicação, subindo

cada vez mais evolutivamente até incorporar-se em Deus (absurdo

panteísmo!).

Page 19: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Assim o espírito de Raymond o afirma e o repete freqüentemente a seu pai,

Sir Oliver Lodge, que foi prestigiado mestre do espiritismo anglo-saxão.

Os mais sublimes ―espíritos superiores‖, que na realidade já seriam parte de

Deus (mais do que panteísmo, ateísmo: Deus com partes!!) teriam

comunicado a Davis: ―Estamos nEle e com Ele, como o trono, o galho, os

ramos, as folhas, os botões, as flores e as frutas de uma árvore (…). A

Grande Essência Germinal da Árvore Universal se desenvolve, e forma

(…) conjuntos que perfumam e adornam o Todo Estupendo‖.

— Segundo os kardecistas, todos os espíritos, mesmo os mais antigos,

podem ser evocados, e de fato freqüentemente os mais antigos personagens

da humanidade comunicariam mensagens (apesar da reencarnação;

esqueceram de reencarnar?: pode haver maior desastrosa contradição?).

Para os davinianos, porém, é absolutamente impossível que espíritos de

pessoas que hajam vivido na Terra há muitos anos possam vir para se

comunicar. E muito menos para se reencarnar. Para os anglo-saxões, o

recorde em antigüidade de espírito comunicante haveria sido estabelecido

pelo espírito do capelão de Cromwell, que se haveria comunicado no fim

do século XIX, Completa diferença em ambos os pontos fundamentais.

Em 1961 -para citar um só documento-, reuniram-se membros de 32

federações nacionais num Congresso organizado pela ―International

Spiritualist Federation‖, de Londres. São federações nacionais unicamente

do considerado alto espiritismo. Não se aceitam federações nacionais de

animismo, fetichismo… da África; candomblé, macumba… do Brasil;

vudu e santeria da América central etc… As federações participantes no

Congresso eram exclusivamente da Europa e da América do Sul, onde o

―dogma‖ kardecista é mais difundido. Apesar de tudo, a divergência da

revelação (?) a respeito da reencarnação apareceu manifesta: sete das 32

federações nacionais não consideravam a doutrina da reencarnação como

formando parte da doutrina espírita, e outras três federações votaram em

branco. 90%, ou 28 das 32 federações, consideravam que a reencarnação

tanto poderia ser considerada regra como exceção.

Diferenças entre reencarnacionistas (e nas possessões)

Mesmo os espíritas que professam a doutrina da reencarnação a entendem

muito diferentemente.

Para os kardecistas, a reencarnação é só de espíritos humanos e em corpos

humanos, e é sempre progressiva.

Page 20: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Para o conceito da maioria dos outros espíritas reencarnacionistas, o termo

mais adequado seria metempsicose, pois a série de reencarnações

começaria com o mineral, depois no vegetal, e só por fim continuaria seu

interminável processo no corpo humano. Poderia ser também regressiva. É

por isso que procuram abster-se de comer animais e mesmo plantas,

procurando alimentar-se só com os frutos destas e com leite ou com

animais acidentalmente mortos, para não serem culpáveis de interferências

na lei do carma.

— Segundo Kardec, em ―O livro dos espíritos‖ nenhum espírito diferente

do reencarnado na concepção pode incorporar-se depois no mesmo corpo.

Isto é para os kardecistas (e nisto estão acertados) não existe possessão ou

incorporação.

A maioria dos espíritas anglo-saxões, porém, tradicionalmente seguem uma

revelação (?) diametralmente contrária. Por exemplo, Wickland,

considerado por Conan Doyle (presidente da Federação Espírita

Internacional) como o melhor e mais experimentado conhecedor dos

―Invisíveis‖. Wickland escreve: ―A crença na reencarnação na Terra é falaz

e impede o progresso às mais altas esferas espirituais depois da morte. Foi

freqüentemente declarado pelos espíritos superiores que numerosos casos

de obsessão (não confundir obsessão com incorporação ou possessão) que

vieram pôr-se sob nosso cuidado deveram-se a espíritos que, ansiando por

‗reencarnar‘ em crianças, ficaram presos nas suas auras magnéticas

causando grande sofrimento às vezes às suas vítimas e a si mesmos‖.

Nem sequer sobre a existência de Deus!

(Nem sobre o espírito)

Já no Congresso Internacional do Espiritismo celebrado em Paris em 1889

oficializava-se esta discrepância nas revelações (?) dos ―espíritos

superiores‖.

Havia naquele congresso representantes de Federações Nacionais de

espíritas positivistas e futuristas. Intitulando-se kardecistas, estes espíritas

franceses aceitavam com Kardec a reencarnação, mas afirmando que, em

nome da verdadeira revelação dos espíritos superiores, negavam não só a

Divina Providência -como Kardec, que deixa toda a providência aos

espíritos-, senão também -contra Kardec- a própria existência de Deus.

E por todos eles o Congresso rejeitou que a existência de Deus fizesse parte

da doutrina espírita.

Page 21: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Estavam ali -e há difundidos por todo o mundo- os espíritas panteístas:

todas as criaturas identificam-se com o Criador, tudo é Deus.

&& E portanto para eles não existiria Deus pessoal: rejeitam a existência

de Deus, a revelação divina etc.

Alguns anos mais tarde, em 1926, a Federação Espírita Internacional, em

―fraterno apelo aos irmãos da América Latina‖, influenciados pelo

Catolicismo reinante, pedia que não considerassem Deus como um Ser

Pessoal, Onisciente e Onipotente, porque ―a doutrina espírita deve difundir

o conceito da divindade como princípio abstrato ou termo genérico que

possa convir a todas as formas de conceber a divindade‖.

&& Pior ainda: dentro do espiritismo, dentro dos seguidores de pretensas

revelações de espíritos superiores, além da negação da reencarnação e

mesmo da imortalidade, também cabe aqui o ateísmo. Entre tantos

exemplos, merece destaque por sua difusão e rigor auto-afirmado científico

(?), o espiritismo mais prestigiado na Holanda. Os pesquisadores rodeiam-

se de aparelhagens impressionantes. Fundaram a ―psicologia física‖, são

homens de ciência… Conforme a doutrina deste tipo de alto espiritismo, há

mensagens como as seguintes:

―No mundo dos espíritos (…), em média os espíritos vivem de 100 a 150

anos. A densidade do seu corpo aumenta até a idade de 100 anos; depois a

densidade e a força diminuem e enfim eles se dissolvem, como tudo se

dissolve na natureza (…). Nós (os espíritos dos mortos) estamos

submetidos às leis da pressão do ar; somos matéria (…), não nos

interessamos mais, desvanecemos-nos: tudo o que é matéria está submetido

ás leis da matéria: a matéria se decompõe; nossa vida não dura mais de 150

anos no máximo, quando morremos para sempre‖.

Pode haver espíritos de mortos pouco desenvolvidos que ainda acreditam

em Deus, mas, unanimemente ―os espíritos mais inteligentes protestam

positivamente contra a idéia de Deus‖.

Concordes só na discordância

De nada adiantariam os esforços dos espíritas durante muitos anos, para

encontrar algum denominador comum na doutrina espírita. Sucediam-se os

Congressos Internacionais de Espiritismo, de ―alto espiritismo‖, só dos que

seguem as doutrinas dos ―espíritos superiores‖, só dos espíritas da culta

Europa e dos avançados Estados Unidos, da América Latina só os

kardecistas. Mas não chegaram a nenhuma conclusão. Nenhum ponto

Page 22: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

unitário: Barcelona 1888, Paris 1890, Genebra 1913, Liège 1923, Paris

1925, Londres 1929, Barcelona 1934…

&& A única conclusão possível foi que a pretensa revelação unânime dos

espíritos superiores nada tinha de unânime. Eram diversíssimas revelações

(?). Total anarquia. De acordo com o gosto das diversas nações, dos

diversos grupos, até de cada médium…

Não há doutrina espírita nem nos pontos mais importantes. E nunca se

acabaria de relacionar a espantosa diversidade de revelações (?) dos

espíritos superiores, aceitas pelos seguidores do ―alto‖ espiritismo em

temas de menor (?) importância. Trata-se de acúmulo de doutrinas,

diferentes, divergentes, contrárias contraditórias… Não pode haver

codificação, síntese, resumo… da doutrina espírita.

Por outra parte, todos os espíritas invocam e destacam a tarefa dos seus

―controles‖ (terminologia preferida pelos espíritas davinianos) ou dos seus

―espíritos guias‖ (terminologia preferida pelos espíritas kardecistas), que

seriam os mais altos espíritos superiores. Perante tão completa diversidade

em todos os pontos, só caberia concluir que os tais controles ou guias não

valem absolutamente para nada… (ou, indo mais à raiz, nada procede dos

espíritos superiores).

Revelações dos espíritos dos mortos? Várias e incompatíveis

codificações…

E O “BAIXO” ESPIRITISMO?

Qual é o baixo e qual é o alto? Quem estabeleceu a diferença e apresentou

o ―altímetro‖ e demonstrou sua validez para a classificação de ―alto‖ ou

―baixo‖?

Page 23: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Revelações dos espíritos dos mortos? Várias e incompatíveis

codificações…

Antes, fora e depois dos dois grupos mais conhecidos de espiritismo:

kardecista e daviniano (anglo-saxão), que se consideram alto espiritismo,

houve e há outros tipos de espiritismo.

Na Argentina, o espiritismo mais alto é representado pela Escola Científica

Basílio com muito mais seguidores naquele pais do que o kardecismo, ao

qual desprezam plenamente. Outros grupos espíritas são o Constanza e os

Trincadistas (seguidores de Joaquim Trincado). Acham-se mais altos que

os basílios e muito mais altos que os kardecistas, considerados antiquados.

Etc.

O chamado Baixo Espiritismo. Especialmente todos os tipos de espiritismo

procedentes da África, com origem antiquíssima, estão re-ligados (re-

ligião) a algum tipo de divindade. É o primitivo animismo que considerava

animadas as forças da natureza. Essas almas das forças e de todos os seres

da natureza, diferentes do homem, foram divinizadas por parecerem

superiores a ele.

Primitiva, falsa, mas religião.

No Mundo Greco-Romano. Parecia que a cultura já tinha deslocado a

superstição que via deuses em todas as coisas.

Mas, não obstante, os grandes elementos da natureza continuavam a ser

considerados como dotados de alma. Melhor: eram considerados deuses.

Por exemplo o Sol e os planetas e satélites: Mercúrio, Marte, Vênus, a Lua,

todos eram deuses cujo chefe supremo, ou pai de todos os deuses, era

Júpiter. E a Terra, os ventos, e o mar (Netuno), também eram deuses. Junto

aos grandes deuses do Olimpo, havia também culto e consultas aos deuses

familiares: Penates ou Lares.

&& Também entre os clássicos junto a este verdadeiramente ―alto‖

espiritismo misturou-se o verdadeiramente ―baixo‖ espiritismo ou

ocultismo, ou magia, de evocação e manifestações de seres inferiores.

Paralela, escassa, mas havia. Principalmente cerimônias para espantar os

elementais – logo falarei deles-: terrificantes ou lêmures, e estúpidos ou

larvas.

A religião, a literatura, a vida, e mesmo o governo contavam com a

intervenção e consulta aos numerosíssimos deuses. O panteão greco-

Page 24: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

romano é bem conhecido. Havia deuses em tudo e para tudo. Dos seus

templos, dos seus oráculos, dos livros sibilinos ―inspirados‖ por seus

deuses, os gregos e romanos recebiam a doutrina, os conselhos, o

prenúncio do futuro.

&& Grécia e Roma! As duas civilizações que mais maravilharam e

influenciaram a história humana (por isso se fala em ―clássicos‖ e cultura

humanística‖).

Mitologia e erro na interpretação da natureza. Erro também na

interpretação dos fenômenos parapsicológicos. Mas, por outro lado, a

religião pagã era um maravilhoso monumento levantado pelo homem.

Religião abraçada pelas pessoas mais sábias e oficiada pelos sacerdotes

mais dignos, apesar das falhas inevitáveis no homem.

Mas enormemente mais alto que todos os diversos ramos do ―alto‖

espiritismo moderno.

— As divindades subalternas ou divindades da natureza foram chamadas

na antiga cultura grega daimones, demônios. Por exemplo, Platão fala das

intervenções dos daímones bons (agato-daímones, que correspondem aos

orixás) e dos daímones malignos ou ao menos que fazem ou causam males

(caco-daímones, que correspondem aos exús).

Toda a escola neoplatônica de Alexandria dos primeiros séculos depois de

Cristo praticava a comunicação com estas divindades subalternas. (Era uma

espécie de candomblé, puro e primitivo).

Por pretender estar em comunicação com divindades, pensadores e

filósofos de categoria como Plotino, Porfírio, Jâmblico, Proclo, Eunápio

etc., foram considerados místicos – e grandes místicos.

Depois a cultura judaica tardia e cristã identificaria os daimones ou

demônios com anjos rebeldes. E os espíritas kardecistas -e outros ramos de

espiritismo- aviltaram-nos mais ainda: identificam-nos com espíritos de

mortos maus. Os daimones (= divindades) foram se degradando cada vez

mais na cabeça dos homens.

Portanto, o chamado baixo espiritismo deveria na realidade considerar-se

imensamente superior ao chamado alto.

— Mesmo os grupos de alto espiritismo que não negam a existência de

Deus (Deus pessoal), na prática são ateus porque prescindem

completamente dEle. Tudo, no mal chamado alto espiritismo, rodopia ao

redor dos espíritos dos mortos: acreditam receber a doutrina dos espíritos

Page 25: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

dos mortos, não de Deus; aos espíritos dos mortos dão seu culto, não a

Deus; os espíritos são os guias e não há Divina Providência; mesmo o Juiz

Supremo não seria Deus, mas o carma ao que o próprio Deus teria de

obedecer.

Ateísmo prático, quando não também teórico.

Não é religião: relação criatura-Criador.

É verdade que nem por isso o candomblé, a umbanda e demais cultos afro-

brasileiros deixam de cair no ateísmo prático, quase tão plenamente quanto

o kardecismo ou outros tipos do mal chamado alto espiritismo, porque na

realidade não rendem culto e em tudo prescindem do Deus Supremo. Por

isso mesmo também, quase tão plenamente quanto o alto espiritismo, o

chamado baixo espiritismo também não tem pleno direito a ser considerado

religião.

Amálgama, mistura

No Brasil, o espiritismo de origem africana conservar-se-ia mais puro no

candomblé.

Mas hoje os orixás do candomblé no Brasil foram degenerados, rebaixados

ao rol ―espíritos‖ superiores de mortos, como no ―alto‖ espiritismo.

Contaminaram-se e misturaram-se também com espíritos inferiores de

pessoas falecidas.

Por exemplo, uma famosa ―mãe-de-santo‖ do candomblé da Bahia, D.

Georgina Aragão dos Santos Franco, assim se expressa:

―Como ‗ebami‘ (os últimos sete anos da iniciação para mãe-de-santo)

montei meu altar em casa com as imagens, as flores e o retrato do índio

Jupiara (o candomblé em aberto sincretismo com o espiritismo ameríndio),

que é ‗caboclo‘. O candomblé no Brasil não aceitava os ‗caboclos‘ de jeito

nenhum (…), mas um dia na Bahia, há muitos anos, houve uma porção de

‗iaôs‘ (os três primeiros anos de iniciação) (…) e os ‗caboclos‘ invadiram

(…) e pegaram as ‗iaôs‘ do candomblé. As mães-de-santo ficaram

apavoradas e daí em diante tiveram de deixar os ‗caboclos‘ se

manifestarem (…).

―Então eu era uma espécie de ‗faz-tudo': Recebia ‗caboclo‘, sabia os

trabalhos de ‗umbanda‘ e recebia ‗pretos-velhos'; mas também fazia

‗sacrifícios‘ aos orixás no candomblé. Além disso recebi poderes para ser

cartomante‖.

Nessa mistura, como falar de ―espíritos superiores‖ e sua doutrina?

Mais mistura, sincretismo

Page 26: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Na umbanda (macumba, quimbanda etc.), tipicamente brasileira, e no vudú

e santeria (da América Central) não há nem doutrina nem ritual fixo.

Que espíritos são os que se comunicariam?

Segundo alguns ―mestres‖ ou alguns centros, terreiros ou tendas, ―as

entidades que baixam não são espíritos de mortos, jamais foram encarnados

e não o serão jamais, são os espíritos da natureza‖ (orixás e exus); ―outros

sustentam que os espíritos que se incorporam nos médiuns são de

(falecidos) pretos-velhos e índios (caboclos) que querem ajudar seus

descendentes nos caminhos da Terra‖.

Os orixás do candomblé seriam os mesmos espíritos chamados pretos-

velhos e caboclos na umbanda, santos no catolicismo e espíritos superiores

no ―alto‖ espiritismo. Todos seriam os mesmos espíritos!

&& É sabido que em toda a América Latina os escravos negros

procedentes da África disfarçaram seus deuses sob o nome de santos

católicos. Os ―mestres‖ do ―baixo‖ espiritismo – ou as divindades e

espíritos comunicantes!- puderam explicar (?) o sincretismo servindo-se da

absurda crença na reencarnação:

Um ―obá‖ (médium de Xangô) na Bahia, e um ―babalorixá‖ (chefe de

terreiro) de Recife ―explicavam‖ assim o sincretismo: na África e entre os

primeiros escravos vindos ao Brasil, só havia orixás. Mas eles, antes de

ascenderem por numerosas reencarnações à categoria de deuses, foram os

reis e príncipes que viveram na África. Aconteceu também, que após seu

reinado na África como negros, reencarnaram-se como brancos na Europa

na Idade Média e foram canonizados pela Igreja Católica. ―Eis por que

dissemos que Xangô é S. Jerônimo, que Oxóssi é S. Jorge, e Iemanjá é

Nossa Senhora do Rosário (em outros tipos de Candomblé a

correspondência de orixás e santos é diferente). Isso quer dizer que o

espírito do orixá e do santo são um só e mesmo espírito, aparecido diversas

vezes na Terra através dos ciclos das reencarnações‖.

&& A cronologia de orixás, reis, santos e de novo orixás é totalmente

incompatível, mas como frisa o grande antropólogo e historiador Roger

Bastide, no espiritismo africano e afro-brasileiro -como em todo tipo de

espiritismo, acrescento eu- a lógica não tem importância!

Importante é frisar que se o ―baixo‖ espiritismo desceu do Olimpo das

divindades ao baixo nível dos espíritos superiores do ―alto‖ espiritismo, as

doutrinas porém, do alto e do baixo espiritismo originariamente nada

Page 27: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

tinham em comum. Apesar de que tudo teria sido revelado pelos mesmos

espíritos superiores dos mortos!

Não se trata, portanto, de revelações de espíritos superiores (nem

inferiores), mas de reflexos dos diversos ambientes… E, por isso mesmo,

hoje e cada dia mais há sincretismo e concordância entre o baixo e o alto

espiritismo…

Reis e Anjos. Tenho de começar pelo mais sensacional centro espírita,

segundo os ―grandes mestres‖ no início do espiritismo anglo-saxão

(daviniano) e também segundo ―grandes mestres‖ do espiritismo

kardecista:

Segundo os próprios espíritos superiores, que haveriam vindo na missão do

lançamento mundial do espiritismo, para convencer a todos os céticos, da

sobrevivência e da comunicação dos espíritos.

Foi na primeira década do espiritismo, pouco depois dos fenômenos das

fundadoras, as irmãs Fox. Falanges de ―espíritos‖ inferiores foram reunidas

pelos espíritos ―superiores para realizar os fenômenos, dado -afirmavam -

que eles não podiam agir por si próprios nem aceitariam rebaixar-se a

ministério tão vulgar.

Naquele centro houve todos os tipos de fenômenos. E em grau muito

notável. O médium, Jonatham Koons, foi considerado por muitos espíritas,

e unanimemente por todos os espíritos superiores de todos os centros a que

foi chamado, o melhor médium de sua época. O seu filho mais velho,

Nahun, era também um grande médium. E em plano mais modesto,

também os outros sete filhos. Aí surgiu o grande invento e sensacional

novidade de estabelecer os controles ou espíritos guias.

Pela segunda vez na história do espiritismo houve escrita direta

(pneumografia), e muito freqüente. Pela primeira vez, voz direta

(psicofonia) freqüente e potentíssima. Deu-se a primeira ocorrência

concretamente de mãos isoladas (ecto-colo-plasmia) visíveis para todos e

que se desvaneciam em vapor para libertar-se do toque de certos

observadores.

Em 165 espíritos superiores que comandariam com absoluto domínio a

ação dos inumeráveis espíritos inferiores, esses espíritos superiores eram

todos reis. Eram designados apenas pelo nome genérico de King (rei).

Afirmavam ser anjos na tradição judeu-cristã!.

Page 28: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

(Não sem alguma contradição), também o chefe dos ―espíritos‖ inferiores

era conhecido pelo nome de John King. Teria sido um corsário inglês, de

sobrenome Morgan, no tempo de Charles II. Teria sido o pai de Katie King

(da que falo ao tratar da transfiguração, e que voltaremos a encontrar em

vários artigos). E… todos os espíritos superiores eram pré-adamitas!

Haviam vivido na Terra milhares de anos antes da nossa espécie.

Com referência à doutrina revelada por tão altos espíritos superiores, o

―grande mestre‖ espírita Ernesto Bozzano -secundado por todos os

―grandes mestres‖ do alto espiritismo- afirma entusiasmado: ―Examinando

esses ensinamentos dos espíritos, ditados no decurso de 1852 a 1856, é

curioso observar que a pesquisa moderna não conseguiu ultrapassá-los e ir

mais longe. Nada de melhor foi obtido e se mantêm idênticas conclusões

quanto à explicação dos perturbadores enigmas próprios à investigação

psíquica‖ (parapsicologia).

&& Não é aqui o momento de analisar pormenorizadamente as

contradições. Mas é preciso destacar que precisamente com referência aos

―ensinamentos dos espíritos‖ a doutrina revelada por estes ―reis‖ e ―anjos‖

da mais alta corte celeste está na mais completa oposição à doutrina

kardecista? Não só eles teriam esquecido durante milhões de anos de

reencarnar, nem só John King (Morgan) teria durante séculos também

esquecido de reencarnar, senão que em toda a interminável e monótona

revelação não teriam pronunciado uma só palavra a favor da reencarnação,

tema que no kardecismo constitui o ponto alto e fundamental para a

―explicação dos perturbadores enigmas próprios à investigação psíquica‖.

Da pretensão kardecista de unanimidade universal, nada!

Também não se pode preterir aqui o fato de que o melhor médium, além

dos 165 espíritos superiores, reis ou anjos, com suas falanges de

espíritos…, fracassaram completamente na missão de convencer todos os

céticos e unificar todas as religiões sob o estandarte do espiritismo (que não

é religião!). Quanta megalomania: pura loucura.

Koons não convenceu nem sequer à maioria dos seus vizinhos, que

acabaram revoltados contra ele: povo, jornalistas, incultos, sábios e Justiça.

Muito superior a Kardec. Muito antes das irmãs Fox, muito antes de

Kardec, um século antes, Emmanuel Swedenborg (nascido de família

luterana em Estocolmo, Suécia, em 1688) fundava a Igreja

Swedenborguiana, ou A Nova Igreja, ou Igreja de Nova Jerusalém. Doutor

pela Universidade de Upsala, percorreu quase toda a faixa das ciências da

época, e era a maior autoridade sueca em mineralogia e geologia. Era

Page 29: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

matemático destacado, foi o primeiro a propor a hipótese nebular,

antecipou-se a Einstein nas teorias de energia… Foi chamado o Aristóteles

sueco e comparam-no também com Leonardo da Vinci. Esse cultíssimo

pensador muito influenciou figuras díspares como Honoré de Balzac, Ralph

Waldo Emerson, Abraham Lincoln etc., e convenceu plenamente a

extraordinária mulher que foi Hellen Keller. Ainda hoje tem milhões de

seguidores especialmente nos Estados Unidos da América. O poeta Edwin

Narkhan afirmou: ―Não há dúvidas de que Swedenborg foi uma das

maiores inteligências que houve no planeta‖.

Mas…, também os sábios podem ficar e desenvolver loucura…

Em 28 anos de mediunidade, Swedenborg dialogava com espíritos de

pessoas que conhecera em vida e com os espíritos de grande número de

personagens históricos. Em viagens espirituais foram-lhe mostrados alguns

dos planos superiores, inclusive planos do mundo espiritual reservados aos

espíritos mais elevados e sublimes, plano ao qual contadíssimos espíritos

chegam.

Sua doutrina? Frisarei somente o aspecto principal: com referência à

sobrevivência.

Cada homem é uma criação nova e individual de Deus. O homem vive uma

só vez na Terra. Depois de deixar o corpo físico por causa da morte na

Terra, nunca mais terá outro corpo, que para nada lhe serviria. Como

espírito e pelos próprios esforços vai avançando pelos planos espirituais da

existência, aperfeiçoando-se, sempre em frente e para cima, durante

muitíssimo tempo. Até alcançar um estado de perfeição que o torna digno

de apresentar-se diante de Deus.

Tudo falso: o espírito, como tal, não pode evoluir. Não há tempo na

eternidade. E não existe espírito humano sem corpo: ressurreição… A

doutrina de Swedenborg consiste em meros devaneios de um inconsciente

profundamente religioso e de privilegiada inteligência. Grande sábio em

coisas observáveis da nossa terra, mas a respeito da doutrina sobrenatural,

inobservável, não basta a inteligência e boa vontade, só Deus revela a

Doutrina e Ele assina com os autênticos milagres (subrenaturais ou, em

parapsicologia, Supra-Normais – SN).

Mas baste aqui frisar esses conceitos diametralmente opostos e diversos

dos devaneios kardecistas de reencarnação. Onde fica a unanimidade e

universalidade na doutrina dos espíritos superiores?

Mais Lições da “Discordância Radical”

Espiritismo e Reencarnação

Page 30: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Teosofismo…

Helena Petrovna Blavatski (ou HPB, sigla da fundadora e guia do

teosofismo) afirmava, entre outras versões e intencionais mentiras!, que

recebera a ―doutrina secreta‖ por psicografia ditada por dois mahatmas,

mestres tibetanos já falecidos.

Os elementares, fadas, gnomos… regeriam a natureza. Miniatura

de 36mm.

Neste ponto da pretensa revelação pelos mais altos espíritos dos mortos,

teosofismo e espiritismo coincidem.

O teosofismo apresenta-se como a ―verdade absoluta‖, pretende estabelecer

―a pedra angular das futuras religiões da humanidade‖.

&& Religião (de religare ) é a relação criatura-Criador. Como o

Teosofismo poderia ser religião se nega a existência pessoal de Deus?!. São

panteístas e portanto, ateus.

Pela convicção e pelo ateísmo prático, o teosofismo se identifica com

diversos tipos de espiritismo.

— E como o espiritismo, o teosofismo está seguro de ser, através de HPB,

o único caminho reto de revelação mediúnica dos espíritos superiores, ―elo

puro e abençoado entre os seres do Alto e os da Terra‖.

A doutrina ―revelada‖ (?) pelos mahatmas é completamente diferente da

doutrina do espiritismo. Os teósofos desprezam os espíritas de todo tipo

considerando que eles são miseravelmente enganados pelos ―elementares‖,

seres inferiores, do plano astral que nem espíritos são.

… e tantos outros

Repetir-me-ia monotonamente se apresentasse singularmente outras seitas

Page 31: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

espíritas como os rosa-cruzes, os cabalistas, os san-martinistas, os

neognósticos, os albigos, os ―verdadeiros valentinistas‖, etc, etc., etc.

Já no ―Congresso Internacional do Espiritismo‖ de Paris em 1889, fizeram-

se presentes os representantes dessas seitas do alto espiritismo. Em todas e

cada uma delas a mesma certeza de serem os únicos que recebem de

primeira mão a revelação do alto mundo espiritual. E não obstante, estes

espíritos não só pela doutrina, mas também pela origem e características,

são completamente diferentes dos mahatmas, dos pré-adamitas, dos

caboclos e pretos-velhos, dos exus e orixás, e completamente diferentes das

entidades que se comunicariam aos kardecistas e a tantos outros ramos do

alto espiritismo.

Também no citado Congresso Internacional de Espiritismo participaram

legitimamente, pois haveriam recebido a doutrina dos espíritos superiores,

e com eles estariam em comunicação, numerosos outros espiritismos,

ramos desmembrados do ocultismo, da cabala, do martinismo, dos rosa-

cruzes, do teosofismo, do faquirismo, e outros vários nomes do alto

espiritismo com conotações e influência oriental.

Pois bem, os ―espíritos superiores‖ orientais não concordam com os

ocidentais.

— Segundo os espíritas de influência budista -e segundo o budismo

milenar -, os ―espíritos‖ dos mortos nenhum ou muito pouco tempo teriam

para comunicar-se com os vivos. Porque a reencarnação seria ou

imediatamente, no instante da morte, ou no máximo após 49 dias, tempo

em que os ―espíritos‖ estariam num estado intermediário (bardo).

Acontece, porém, que o bardo pouco ou nada poderia revelar de sensato,

precisamente porque no bardo os ―espíritos‖ dos mortos, muito

desorientados, não teriam possibilidade de entender coisa alguma…

Ou reencarnação imediata, ou bardo. E há muitos espíritas por todo o

mundo com essas teorias! Como poderiam receber a doutrina dos

―espíritos‖? Como poderiam receber essa mesma crença nesse ―além‖? Só

a total falta de lógica de todos os tipos do fanatismo espírita não os impede

de ser espíritas!

— Os espíritas do Japão acreditam desde tempos imemoriais que seus

antepassados, espíritos familiares, geralmente considerados como ―espíritos

superiores‖ e bons, só vêm à Terra uma vez por ano, para rever seus lares.

Precisamente na noite do 13º dia do 7º mês do antigo calendário.

Page 32: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

&& Mesmo que só fosse por essa doutrina, o alto espiritismo do Japão já

seria completa refutação das pretensas freqüentes revelações de tantos

outros ramos do espiritismo.

“Espíritos Superiores” católicos?

– Cinco anos após os acontecimentos com as irmãs Fox, no primeiro livro

de destaque publicado pelos espíritas (Lights and Sound‖, de Henry Spicer,

Londres), o teor geral das manifestações dos espíritos na Inglaterra e EUA

era simpático ao catolicismo.

Á pergunta ―qual é a verdadeira religião?‖, a resposta mais freqüente dos

―espíritos superiores‖ era do tipo: ―Nenhuma é perfeita, mas a Igreja

Católica é a mais próxima à realidade‖.

— Stainton Moses, o grande líder nos princípios do espiritismo, declarou

que seu ―espírito guia‖ principal era nada menos que o do profeta

Malaquias, que o foi orientando para a Igreja Católica:

―Durante essa fase de tua crença religiosa nós tínhamos dirigido teus

estudos para a história daquela falange de pessoas que creram em Cristo

(Messias, Deus…). Leste seus livros, vieste ao conhecimento do seu Credo,

aprendeste deles muito do que é verdade real (…). Um raio de luz iluminou

tua alma quando começaste a acreditar que um católico pode salvar-se e

que Deus pode considerar com benevolência as orações dirigidas à Virgem

(…) Percebeste a existência da intercessão dos santos e conheces a força da

oração‖.

— Seguidores de muitos tipos de espiritismo se autodenominam ―os

verdadeiros cristãos‖. Allan Kardec – ou os seus ―espíritos superiores‖! –

escreveu ―O Evangelho segundo o Espiritismo‖ como sendo a verdadeira

doutrina cristã revelada!

Se os espíritas são os verdadeiros cristãos, então as Igrejas universalmente

denominadas cristãs -católica e protestantes- não seriam verdadeiramente

cristãs…

O certo, em todo caso, é que o espiritismo e o cristianismo são

completamente diferentes, qualquer semelhança ou coincidência em algum

pequeno ponto é mera exceção.

O cristianismo é doutrina diretamente ensinada em vida por Jesus de

Nazaré e transmitida também em vida por seus apóstolos. Jesus e seus

Page 33: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

apóstolos, com os milagres, provaram que Jesus era o Cristo prometido por

Deus no Antigo Testamento. Os milagres confirmaram a revelação bíblica

como de Deus.

O cristianismo em nada se baseia nas ―revelações‖ dos espíritos.

―Se alguém, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anunciar um

Evangelho diferente do que vos anunciamos, seja anátema‖, escrevia S.

Paulo (Gl 1,6).

— Acontece, porém, que com muitos médiuns espíritas, os ―espíritos

superiores‖ revelam (?) temas em plena consonância com a doutrina cristã,

completamente incompatíveis com a doutrina do espiritismo, alto e baixo.

Tratar-se-ia de espíritos ainda mais altos, superiores aos do alto espiritismo,

superiores aos mahatmas do teosofismo e até superiores aos orixás e outras

divindades dos diversos tipos de espiritismo? Não. Simplesmente é prova

manifesta de que tudo depende do inconsciente dos médiuns, do

ambiente…

— Baste citar aqui, entre muitíssimos exemplos, uma quadrinha

psicografada por Chico Xavier:

Acha ele -e acham os espíritas- que é o espírito do falecido poeta popular

brasileiro Antônio Nobre (o ―Anto‖) que lhe dirige a mão na psicografia

destes versos dedicados aos velhos abandonados:

―Ó figuras de velhinhos que andais dormitando ao léu!

Como são belos os linhos

Que vos esperam no Céu!‖

Nesses quatro versos, destila-se ampla contradição fundamental com a

doutrina espírita. Grande médium, grande poeta. Espíritos superiores. Se,

porém, o sofrimento fosse castigo de vidas anteriores, os velhinhos

abandonados não estariam muito desenvolvidos espiritualmente. Nem o

próprio Chico Xavier, pois além de doente, levou desde a infância uma

vida de sofrimentos. Nem o poeta do além seria espírito superior. Esperar-

lhes-iam ainda muitas outras reencarnações, mas, não obstante, fala-se aqui

de um nascer venturoso no além, sem pesado carma. Fala-se expressamente

do céu.

A lógica (?) espírita deve optar entre a doutrina católica, que haveriia sido

revelada aqui do além ao grande médium Chico Xavier, ou renegar da

Page 34: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

doutrina espírita…

Adorando o orixá da cachoeira.

“Espíritos” de coisas!

Aludi no artigo anterior ao que deveria ser -se não tivesse decaído -o puro

espiritismo afro-brasileiro e o candomblé ortodoxo do Brasil.

Adorando o orixá da cachoeira.

Os espíritos comunicantes ―jamais foram encarnados e não o serão jamais‖.

Assim se pensava no início do espiritismo africano. Todas as coisas estão

animadas, tudo tem alma. O espírito do trovão, do rio, do mar… O mesmo

com as plantas. O mesmo com os animais. E as almas de todos os animais,

vegetais e coisas eram pequenos (?!) deuses. Bons e maus. Orixás e exus.

Ao longo dos séculos os exus e orixás, os daímones e outras divindades do

animismo primitivo foram cedendo passo à ciência e se transformando. As

divindades subalternas que animavam todos os elementos da natureza

experimentaram o duplo movimento de vaivém.

1º) O avanço da ciência suprimiu essas divindades das forças naturais.

E a ―alta magia‖ aceitou esse progresso, começando a falar de elementais

ou ―espíritos dos elementos‖.

A antiga e ―alta magia‖ dividia os elementais em quatro categorias:

salamandras ou espíritos do fogo, silfos ou espíritos do ar, ondinas ou

espíritos da água, gnomos ou espíritos da terra.

Pela palavra espíritos designavam algo sutil, invisível e de existência

temporária; nada, absolutamente nada tendo de igual ou parecido com os

espíritos dos mortos; nada, absolutamente nada tendo de espiritual. Só o

nome.

Page 35: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

2º) Aconteceu, porém, que os praticantes da magia e do ocultismo, assim

como o povo, sem entender as teorias dos ―mestres‖ voltaram a

personificar os elementais. Não os converteram de novo em daímones ou

orixás…, mas deram-lhes personalidade humana.

Esse antropomorfismo exotérico (externo) é completa deturpação dos

conceitos esotéricos (internos ou ocultos). A maioria dos modernos

teósofos, ocultistas, rosa-cruzes etc. cai nessa deturpação.

Os antigos magos hebreus também não evocavam os espíritos dos mortos,

contra o que erradamente afirmam os ―mestres‖ do espiritismo. Os magos

hebreus evocavam Ob, que nada tem a ver com o espírito racional -

neshamah-, nem com a alma (o que anima) sensitiva -ruah-, nem com a

vegetativa -nephesh-.

O Ob dos hebreus designava praticamente a mesma coisa que a magia

greco-romana chamava Manes. Os Manes também nada, absolutamente

nada tinham a ver com os espíritos dos mortos, contra o que também

erradamente entenderam os ―mestres‖ do espiritismo.

Ob, Manes (e tantos outros nomes) não designam seres espirituais.

Eqüivalem quase plenamente -prescindindo de detalhes em civilizações tão

diferentes- ao conceito de elementais, conceito muito comum a muitas

civilizações quando a reflexão no primeiro movimento do vaivém reagiu

contra o animismo primitivo.

O conceito de elementais também nada tem a ver com os monumentais

erros de perispírito, corpo astral, duplo etérico etc. considerados absurda e

contraditoriamente envoltórios (?!) do espírito.

Bastem agora estas idéias gerais.

Esta mentalidade ignorante e primitiva, tendo degenerado mais ainda,

prolifera em sincretismo com o espiritismo. Muitos povos ao longo da

história, como ainda hoje povos ―primitivos‖ (não só na África e no

espiritismo latino-americano de origem africana…) conservam essa

mentalidade.

— Assim por exemplo, Maye se surpreendeu ao descobrir no moderno

vudu haitiano que evocavam, além de mortos e deuses, os espíritos da

locomotiva da localidade!

— Entre os antigos Incas do Peru -e a doutrina se conserva- havia

sacerdotes e virgens consagrados aos grandes deuses Sol, Lua, Estrelas….,

Page 36: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

e também os chamados Hecleloc, que incorporavam os deuses secundários

e maus para fazer curas e adivinhações.

— Na Patagônia, os epitéticos sempre foram considerados iguais aos

sacerdotes e sacerdotisas em transe compulsivo, incorporados por

divindades maléficas. Assim pretendem fazer curam e adivinhações.

— A mesma coisa entre os índios carajás do Brasil.

– Os batas, de Guiné espanhola, escolhiam seus sacerdotes -adivinhos,

curandeiros- entre os loucos e seus filhos, respeitavam seus oráculos como

de origem em diversas divindades.

— Igualmente, os habitantes de Nias, ilha da Indonésia.

— Para Kardec (no máximo do simplismo ou plena idiotice), todos esses

deuses e espíritos são espíritos perversos de mortos. Seus oráculos, curas,

adivinhações etc. são puros enganos mal-intencionados. Seus sacerdotes e

sacerdotisas são médiuns de baixo calão.

O espírito dos animais! Tradicionalmente, desde épocas imemoriais até

nossos dias, o povo chinês acredita que quando alguém, por crueldade ou

libertinagem, mata um animal, o espírito (!?) da vítima incorpora-se ao

agressor até a completa expiação da culpa. Dessa mentalidade surgiram

práticas de desobsessão, doutrinamento, evocação dos espíritos dos animais

mortos.

―Um homem e sua esposa, em Vang-Tcheu, tinham uma gata favorita, e

esta gata deu à luz três gatinhos. Como a maioria de outros animais

domésticos, esta família de felinos tinha suas tendências á rapina

(gatunos!), e estava constantemente roubando diversos petiscos que uma

jovem empregada reservava para si. No fim, a jovem ficou tão exasperada

que matou gata e gatinhos, um após outros, em diferentes oportunidades‖.

―Em pouco tempo a moça foi afetada por violenta doença, miando e

arranhando como um gato e apresentando todos os sintomas da raiva. Seus

patrões, suspeitando a verdadeira (?!) causa dos ataques da jovem,

exorcizaram a gata mãe, inquirindo por que tinha assombrado o corpo da

jovem. A gata (?!), falando pela boca da jovem, relatou então os maus-

tratos que recebera e contou o modo como foram mortos seus filhotes. Um

afogado, outro despedaçado por um cachorro e o terceiro queimado vivo.

Tudo isso foi dito pela própria jovem (é claro!), procedendo como uma

Page 37: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

gata, e depois caiu em convulsões aos pés da patroa‖ (prosopopéia e

histeria).

Interrogada sobre este caso, respondeu outra revista especializada em

assuntos da China: ―Os chineses acreditam firmemente em histórias como a

referida‖.

— Camille Flammarion (colaborador de Allan Kardec) deixa transparecer

toda essa mentalidade supersticiosa e profundamente ignorante de acreditar

nos espíritos das coisas e dos animais, subjacente a tantos tipos de

espiritismo. Pretendendo explicar as ―casas mal-assombradas‖, escreve:

―Este primeiro conspecto nos patenteou uns tantos exemplos variados,

extravagantes, inexplicáveis, pueris, de uma banalidade algo irritante (…).

Que significação poderemos atribuir a esses efeitos incompreensíveis, cuja

banalidade nos revolta? Eles revelam atos intencionais, idéias confusas,

próprias de uma mentalidade inferior‖.

Em vez de assim detectar os fundos primitivos do inconsciente humano,

responsável pelas chamadas ―incorporações‖ (?!), sugere meio

envergonhadamente:

―Neste nosso planeta não há exemplos de pensamentos sem cérebro. E no

entanto, certos efeitos do raio deparam-se tão singulares que deixam a

impressão de ocultos propósitos‖.

E em vez de detectar a sabedoria do Criador, de novo sugere o espírito das

coisas e dos animais: ―Por outro lado, as leis que regem o sistema

planetário não derivam de um cérebro (…). Que é o instinto da galinha, que

choca os ovos durante vinte dias para gerar os pintinhos?‖ E até o afirma

despudoradamente: ―Há espírito na natureza‖.

Tal e tão extremo golpe à unanimidade da revelação espírita, desferido pelo

sucessor de Allan Kardec na presidência do espiritismo internacional…

Page 38: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Até as plantas teriam espíritos humanos e ―espíritos‖ de animais! Duas

orquídeas.

Nem anjos nem demônios. Dediquei um amplo livro, ―Antes que os

demônios voltem‖, a pôr luz nas dicussões teológicas e cientificas, que

sempre houve, esparsas, e hoje são mais generalizadas. Aqui bastem estas

idéias gerais: Os anjos de que se fala na Bíblia são simplesmente um modo

respeitoso de se referir a Deus. Mas esta ―suplência‖ ou artifício de

linguagem não exclui -antes supõe -a existência de anjos.

Existem anjos rebeldes ou diabos? Apesar de o tema não ser propriamente

bíblico ou parte da Revelação Divina, é uma verdade geralmente admitida

por outros argumentos filosófico-teológicos. Há criaturas espirituais,

unicamente espirituais, anjos. Se livres, alguns viriam a ser diabos (depois,

erradamente, confundidos com demônios etc.).

Aceita-se a possibilidade de que milhares de místicos católicos, que ao

longo dos séculos acreditaram estar em íntima comunicação com os anjos

da guarda, projetassem e dramatizassem assim simplesmente seus

sentimentos de união com Deus.

Citam-se milagres, falsos ou verdadeiros, dos anjos: seriam, nos falsos

milagres, erros de interpretação de fenômenos parapsicológicos humanos; e

nos verdadeiros, milagres de Deus.

Allan Kardec acreditando fundamentar-se nos ―espíritos superiores‖ dos

mortos, liquida a discussão: de Deus até o homem só existem espíritos de

mortos.

Nisso os davinianos concordam com os Kardecistas. Escrevia Andrew

Jackson Davis: ―Há uma corrente que se estende do homem à Divindade. E

uma corrente do homem em diversas etapas de progresso (…). Lembremo-

nos de que todos os espíritos e anjos já foram homens‖.

A petulância de Allan Kardec chega ao máximo. Nem sequer conhece a

vida dos santos, garante, porém:

Os anjos da guarda são espíritos guias, e os anjos em geral são espíritos

bons de mortos, quando se comunicam com médiuns que apóiam a doutrina

por ele codificada. Se não, mesmo os maiores santos são frívolos; e os

anjos da guarda, tão benfazejos, na realidade são espíritos malignos de

mortos!

Page 39: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

& Por outro lado, negar a existência de seres espirituais que não foram

homens rompe todos os limites da petulância. É pôr-se contra toda a

filosofia, contra todas as religiões, contra toda a tradição judeu-cristã, e

inclusive contra espíritas mais cultos, como por exemplo Oliver Lodge, que

também defende a necessidade filosófica de que Deus haja criado seres

plenamente espirituais, anjos.

E o próprio Deus. A Bíblia alude aos ―terafim‖ (Gn 31,19; Jz 17,5; 1Sm

15,22. 19,13), ídolos domésticos, equivalentes aos deuses Penates dos

romanos. Pelos movimentos inconscientes transmitidos à estatueta

(paracinesia) serviam para adivinhações.

No Efó os sacerdotes levavam as ―sortes sagradas‖ para adivinhações (1Sm

2,28; 14,18s.; 23,9s.; 30,8; Jz 17,5; 18,14s). Se por sorte saía a madeirinha

chamada Urim significava sim; saindo o tummin seria não (Cf. 1Sm 14,41).

Inicialmente os hebreus acreditavam, com o beneplácito dos sacerdotes

oficiais e levitas, que o próprio Deus dava respostas por intermédio dessas

técnicas adivinhatórias.

&& Não corresponde à Bíblia ou à teologia a interpretação dos fatos do

nosso mundo, mas transmitir e interpretar a doutrina sobrenatural, a

Revelação Divina. Os antigos hebreus atribuíam a Deus esses fatos, hoje

bem conhecidos e explicados pela parapsicologia. É certo que tudo provém

de Deus, geralmente através das ―causas segundas‖, mas aqui estamos

falando da procedência direta, muito diferente, os milagres.

Na verdadeira doutrina bíblica, esssa prática supersticiosa era condenada.

Possivelmente referindo-se também a instrumentos de adivinhação

idênticos ou parecidos com os que hoje se chamam, respectivamente,

―prancheta‖ ou ―oui-já‖ (igual à ―brincadeira do copo‖ etc.) e varinha do

rabdomante, o profeta denunciava em nome de Deus: ―Meu povo consulta

o seu pedaço de madeira e o seu bastão faz-lhe revelações (…). Eles se

prostituíram, afastando-se de seu Deus‖ (Os 4,12).

Manifestamente superstição dos hebreus primitivos. A partir da época

davídica, essas práticas foram abandonadas. Eram fenômenos

parapsicológicos, nada tendo a ver nem com manifestações de Deus.

— Allan kardec, porém, e os demais líderes do espiritismo estão seguros de

que os fenômenos atribuídos a Deus pelos hebreus deviam-se a espíritos de

mortos. E espíritos maus, pois revelavam doutrina distinta de Allan

Kardec!

Page 40: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Segundo Lombroso, eram ―instrumentos aptos a estabelecer comunicações

com o Além-túmulo‖.

De Vesme arrisca: ―Provavelmente não eram mais do que instrumentos

mediúnicos‖.

Igualmente consideram mediúnicos, devidos á intervenção dos espíritos dos

mortos, diversos fenômenos parapsicológicos que alguns na Igreja

Primitiva (com o mesmo erro dos carismáticos de hoje) consideravam

carismas ou dons do Espírito Santo.

Conan Doyle, presidente da Federação Espírita Internacional, cita Sto.

Irineu: ―Ouvimos que muitos irmãos na Igreja possuem dons proféticos‖.

E Conan Doyle comenta: ―Isto é, mediúnicos‖!

Continua citando Sto. Irineu: ―E falam, através do Espírito, diversas línguas

e revelam, no interesse geral, coisas ocultas aos homens, explicando os

mistérios de Deus‖.

Com a expressão ―através do Espírito‖, evidentemente Sto. Irineu referia-se

ao Divino Espírito Santo.

Conan Doyle, porém interpreta-a com referência ao espírito de algum

morto. E acrescenta: ―Nenhuma passagem poderia descrever melhor as

funções de um médium de alta classe‖.

E agora, Allan Kardec? ―De alta classe‖, apesar de serem sempre pessoas

devotas e santas, ambiente e doutrina católica!

Pouco depois, os pretensos dons do Divino Espírito Santo (repito, salvo

algum milagre, geralmente meros fenômenos parapsicológicos mal-

interpretados) em pessoas devotamente seguidoras da doutrina católica, o

―grande mestre‖ espírita Doyle ainda reiteradamente ensina que se trata de

manifestações de espíritos de mortos:

―Quando Tertuliano teve a sua grande controvérsia com Márcio, tomou os

dons mediúnicos para um teste da verdade. Nas Constituições Apostólicas

estava discutindo esses dons ou variadas formas de mediunidade (…).

Então como agora, a mediunidade tomava diversas formas, como o dom

das línguas, de cura, de profecia e outros (…). Os vários dons, que em geral

correspondem ás nossas diferentes formas de mediunidade‖.

&& Espíritos superiores e portanto com médiuns de alta classe segundo

Conan Doyle, mas segundo Kardec e outros mestres do espiritismo, essas

manifestações atribuídas a Deus seriam de ―espíritos‖ baixos e médiuns

Page 41: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

frívolos! Até as pedras estariam com espírito humano e de animal. A

esquerda se vislumbra o rosto de um homem. No meio ―O cão sentado‖ e

na frente do cão, embaixo, se vislumbra um macaco. Em Nova Friburgo

(RJ).

Até as pedras estariam com espírito humano e de animal. A esquerda se

vislumbra o rosto de um homem. No meio ―O cão sentado‖ e na frente do

cão, embaixo, se vislumbra um macaco. Em Nova Friburgo (RJ).

É o próprio homem.

Orquídea Brava, uma chinesa residente nos Estados Unidos, teria travado

uma desproporcionada luta para defender-se de um fantasma monstruoso,

enorme, com três braços. A filha de Orquídea Brava escreveu, num livro

bastante divulgado, as memórias da sua mãe na luta com os monstros do

além.

Aquele fantasma era um entre inúmeros fantasmas aterradores nos quais a

tradição chinesa acredita. É freqüente que vejam os espíritos dos mortos

masculinos, com crista de galo; e os femininos com corpo de galo gigante e

só a cabeça de mulher.

Para Orquídea Brava, como para multidão de chineses, os fantasmas

terrificantes, ―fantasmas do muro‖, monstros, são reais.

Qualquer pessoa, que não se tenha intelectualmente deformado nessa

herança de séculos de superstição, compreende que tudo é simplesmente

imaginação ou, em último caso, com base nos fenômenos parapsicológicos.

— Da China e dos Estados Unidos pulamos para a África. Os lunda, os

luvale, os ndembu de Zâmbia e muitos outros povos africanos explicam

esses espíritos aterradores.

A população vive aterrada pelos feiticeiros -dizem os antropólogos-. É

inútil evitar um feiticeiro, porque há muitíssimos. Pensam que os feiticeiros

Page 42: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

contam com a amizade de poderosos espíritos, capazes de causar doenças e

mesmo matar quando e a quem o feiticeiro quiser; podem também curar,

conceder riquezas… Se o feiticeiro não pedir morte para alguém, o espírito

pode matar o próprio feiticeiro, porque precisa de sangue.

Mas se livrarmos essas crenças da ganga da superstição, veremos a

verdade: ―esses espíritos familiares são criados pelos feiticeiros a partir do

sangue das suas vítimas‖. Deixemos de lado vítimas e sangue. ―São criados

pelos feiticeiros‖: São uma projeção da imaginação humana. É o próprio

homem. Para o bem ou para o mal. Tanto os espíritos bons como os

espíritos maus.

O Teosofismo concorda. . H. P. Blavatski começa por referir-se aos

íncubos e súcubos da mentalidade medieval. São ―evocados das regiões

invisíveis pela paixão e a concupiscência humanas‖. Identifica-os com

espíritos sensuais e obscenos (como a ―Pomba-Gira‖, por exemplo, na

Umbanda) que certos médiuns pensam incorporar.

―Na realidade são ‗gules‘, ‗vampiros‘, elementos sem alma, centros

informes de vida, desprovidos de sentido. Numa palavra: protoplasmas

subjetivos quando os deixam tranqüilos, mas que atuam como seres

inteligentes e maus quando evocados pela criadora e enfermiça imaginação

de um mago ou de uma bruxa‖.–

— O Teosofismo é drasticamente contra a interpretação espírita.

―Pergunta: não acreditais no espiritismo?‖

―Teósofo: se por espiritismo entendeis a explicação que os espíritas dão de

alguns fenômenos incomuns, declaramos decididamente que neste caso

não. Afirmam que (…) são produzidos pelos espíritos dos mortos (…), que

voltam à Terra, segundo dizem, para se comunicar (…). Rejeitamos

completamente esse ponto. Afirmamos que os espíritos dos mortos não

podem voltar à Terra. (…). Nem se comunicam com os homens. Casos

raros e excepcionais (são interpretados) de modo inteiramente subjetivo‖.

O verdadeiro sentido do termo subjetivo é: originado e existente no interior

da pessoa, isto é, não provém de fora nem existe fora da invencionice

humana.

Com respeito à ―alta revelação‖, que HPB diz haver recebido, é evidente

que há uma grande contradição.

Como vimos afirma que recebeu toda a doutrina por revelação de espíritos

tibetanos, os mahatmas.

Page 43: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Mas agora também afirma categoricamente que a comunicação dos

espíritos é subjetiva. Não pode, portanto, ser objetiva e menos ter toda a

freqüência que seria necessária para que HPB pudesse receber a

abundantíssima, repetitiva e enfadonha doutrina do Teosofismo.

Também o Ocultismo contra o Espiritismo. Aquela mais ou menos velada

descrição dos ―gules‖ ou ―elementos sem alma‖, ―centros informes‖ etc.

corresponde aos ―elementares‖, ―cascões‖, ―larvas‖ etc. do ―mundo astral‖,

segundo várias correntes do Ocultismo.

O ―grande mestre‖ dos ocultistas, Papus, garantia: ―Aquilo que o espírita

chama um espírito, o ocultista chama um elementar, uma casca astral‖.

Os elementares ―flutuam ao redor da Terra no mundo invisível, enquanto

os princípios superiores (o homem, o espírito principalmente) evoluem em

outro plano (…). Não é o espírito que vem a uma sessão, é o elementar da

pessoa evocada, isto é algo que o defunto não possui, senão os (baixos)

instintos e a memória das coisas terrestres‖.

―O ocultismo -acrescenta Papus- admite como absolutamente reais todos os

fenômenos do espiritismo. Mas (…) os atribui a uma multidão de outras

influências em ação no mundo invisível‖.

―O ser humano cinde-se em vários elementos depois da morte, e aquilo que

se comunica (ou que se capta nas sessões espíritas) não é o ser todo inteiro

(nem o espírito do morto), senão um resto do ser, uma casca astral‖. O que

acontece é que ―a ciência oculta é demasiado difícil para ser compreendida

e demasiado complicada para os leitores habituais dos livros espíritas‖.

— Mais recentemente as mesmas idéias foram esposadas por certas

personalidades que chegaram a fazer-se famosas. Podemos chamá-las neo-

ocultistas ou neo-hermetistas, ou aprendizes de magos em busca de se

tornar super-homens: destacadamente Gurdjeff e Kremmerrz.

&& Partem da premissa errada, positivista, de que não seria possível a

sobrevivência do espírito e da consciência pessoal:

— Após a morte, pairariam no ar unicamente alguns elementos do

composto humano, resíduos e conglomerados, muito diferentes do espírito,

a alma humana individual. Esses ―cascões astrais‖ é que seriam evocados

pelos magos e pelos espíritas de todos os níveis. Essas ―larvas‖ é que se

reencarnariam.

Page 44: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

―Se os espíritas soubessem realmente quem são os seres que obedecem ao

seu chamado, talvez morressem de espanto‖, dizia o iniciado (e romancista)

Gustav Meyrink. É que no ―mundo astral‖, além dos horríveis ―cascões‖,

―larvas‖, ―elementares‖, resíduos em decomposição após a morte do

homem, também estão lá as ―formas pensamento‖: cada pensamento

humano originaria no ―mundo astral‖ um ―eco‖ subsistente.

— Explica o ocultista Laedbeater: Cascões dos mortos e formas

pensamento dos vivos alimentam-se pelas vibrações. O plano astral em

esoterismo significa não um lugar do espaço, mas uma condição ou estado

de vibração. Chama-se também mundo do desejo, precisamente porque

constituído e alimentado pelas vibrações dos pensamentos, sentimentos e

imaginações do homem. A maior vibração depende da maior paixão. Isso é

que seriam os chamados espíritos bons e maus. Mas é sabido que

lamentavelmente na humanidade abundam mais os pensamentos

inconfessáveis…

— É preciso lembrar que nada menos que o conhecido filósofo inglês

Broad, além disso bom conhecedor da fenomenologia parapsicológica,

inicialmente inclinou-se à interpretação ocultista tomada ao pé da letra -

sem ocultismo-. Ao menos como uma teoria possível, por ser imensamente

menos inverossímil do que a hipótese espírita. Todos e cada um desses

resíduos seriam meros reservatórios de memória, depósitos captados pelos

médiuns espíritas.

O próprio Broad reconhece, porém, que a descoberta da telepatia inutilizou

não só a intervenção dos espíritos dos mortos, mas também todo esse

arrazoado de resíduos amnésicos…

Representação hindu, datada no século II antes de Cristo: A árvore

divinizada.

A Revelação do Ocultismo – Segundo todas as outras correntes do

ocultismo divergentes do espiritismo, sem ocultismo, sem ocultar a

Page 45: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

verdade, no fundo dessas expressões de cascões, elementares, formas,

mundo astral, resíduos mnésicos etc., se está afirmando que as revelações

espíritoides procedem do inconsciente humano.

Desmascarando as expressões que ocultam o verdadeiro significado, o

ocultismo em grande parte coincidiria com a parapsicologia. A explicação

ocultista e a explicação científica da parapsicologia (e antes, do

magnetismo e hipnotismo a respeito de alguns fenômenos) freqüentemente

seria a mesma. A parapsicologia -dá a entender o prestigioso parapsicólogo

Robert Amadou- diferencia-se do ocultismo porque não encobre a

realidade, ―não aceita relações ocultas‖.

Um exemplo: Elifas Levi. É sem dúvida nos tempos modernos um dos

maiores representantes ou ―mestres‖ do ocultismo e nenhum mago

contemporâneo pode prescindir dele…

Elifas Leví descreve a evocação que ele mesmo fez de um espírito superior,

nada menos que o de Apolônio de Tiana, talvez o maior mago dos tempos

antigos.

&& Mas Elifas Levi sabe que na realidade não se trata de manifestação do

espírito de Apolônio nem de nenhum outro espírito. É, única e limpamente,

manifestação de forças do inconsciente do próprio Levi, ―embebedamento

da imaginação‖, como ele diz expressamente.

Elifas Levi era formalmente anti-espírita e anti-reencarnacionista. Ás vezes

dizia ser a reencarnação de Rabelais, mas por pura brincadeira. Escreve a

respeito René Guénon: ―Tivemos sobre este ponto o testemunho de quem o

conheceu pessoalmente, e que, sendo reencarnacionista, de nenhuma

maneira pode ser suspeito de parcialidade‖.

Muitos ocultistas posteriores, precisamente por influxo do espiritismo,

aceitaram a reencarnação…., mas excepcionalmente! Se alguns espíritos

reencarnassem, seria por um privilégio extraordinário, muito tempo depois

da morte, para uma missão, muito especial, e eles conservariam a

lembrança plena de tudo o que aprenderam e da própria vida anterior.

Em geral, pela total diferença de critérios na elaboração da doutrina, os

ocultistas têm o maior desprezo pelo espiritismo.

―A gosto do Consumidor‖. Acreditando todos os espíritas na comunicação

de espíritos -que espíritos?-, só em uma coisa poderiam estar de acordo

Page 46: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

todos os espíritas do mundo: em que os espíritos superiores não estão de

acordo em nada.

A enorme diversidade das doutrinas pretensamente reveladas pelos

espíritos mostra irrefutavelmente que não se trata de revelações dos

espíritos dos mortos. São efeito da diversidade de tendências e ambientes

deste mundo. Não é admissível que no além os espíritos dos mortos, ao

menos os espíritos superiores continuem com a total inexperiência e

desconhecimento direto que neste mundo há das verdades do além.

A diversidade das doutrinas espíritas condena o espiritismo.

— Escreve um ―mestre‖ espírita brasileiro de hoje, Herminio C. Miranda:

―Tudo (…), o estritamente doutrinário, (…) está contido na doutrina

espírita ordenada por Allan Kardec (…). Todo pesquisador sério e bem-

intencionado que se dispuser a estudar os fenômenos psíquicos chegará às

mesmas conclusões contidas nas obras básicas do espiritismo (…). É fato

irrefutável que as linhas mestras das conclusões conferem e coincidem

nitidamente, qualquer que seja o experimentador, desde que

intrinsecamente honesto diante daquilo que observa e relata‖.

&& Só uma mente completamente minada pelo próprio espiritismo pode

acreditar na total imbecilidade de que no espiritismo ―as linhas mestras (…)

conferem e coincidem nitidamente‖! Os espíritas que me perdoem: a

respeito da doutrina dos espíritos superiores não posso evitar lembrar-me

da frase irônica de Oliver Herford: ―Os pensamentos de uma mulher são

mais limpos que os dos homens: mudam-nos continuamente‖.

O mesmo Kardec sabia que existia, previa que continuaria e temia a

enorme diversidade doutrinal. Há muitas frases como esta do seu ―Projeto‖

(1868): ―Um dos maiores obstáculos da propagação da doutrina é a falta de

unidade‖.

— E por isso instituía, como de capital importância, um chefe com plena

autoridade, uma Comissão Central também de plena autoridade.

&& Mas como poderia haver uma autoridade capaz de dirimir as

diversidades quando se trata precisamente de seguir revelações de espíritos

superiores? Acaso os espíritos superiores estão de acordo em alguma coisa?

— Allan kardec deixou escrito… perdão: os espíritos superiores -superiores

a que outros?- revelaram: ―Médium perfeito seria aquele contra o qual os

maus espíritos jamais ousassem uma tentativa de enganá-lo. O melhor é

aquele que (…) tem sido o menos enganado‖.

Page 47: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Todos, portanto, estão enganados.

Conclusão – Retomo as palavras do início do artigo anterior. Ou Allan

Kardec -e pode-se aplicar a cada chefe de cada ramo do espiritismo- foi o

maior gênio da humanidade, ou então sua petulância raiou a extrema

loucura. Certamente não foi o maior gênio da humanidade…

Há outros motivos, mas ao menos pelos motivos citados nestes dois últimos

artigos, é justo concordar com Daniel Dunglas Home: ―Sabe-se que Allan

Kardec não foi médium. Ele nada fazia senão magnetizar ou psicologizar

pessoas mais impressionáveis do que ele‖.

E Daniel Dunglas Home (que terminaria por rejeitar plenamente o

espiritismo) foi considerado pela maioria dos ―mestres‖ do alto espiritismo,

kardecistas e davinianos, latinos e anglo-saxões, como o maior médium de

todos os tempos!

Menos por Kardec, ―seu inimigo íntimo‖. Não é de hoje que se interpretam

estas últimas palavras –mais uma, entre muitas, das investidas que Home

lançou contra Kardec– no sentido de que os médiuns foram dirigidos,

influenciados por Allan Kardec ―a traduzirem seu próprio pensamento e

não a captarem mensagens do além‖.

Tratando-se de uma revelação única, como a revelação judeu-cristã da

Bíblia e da Tradição, pode surgir muita diversidade de interpretações em

cada uma das suas partes. Todos os exegetas, porém, evidentemente estão

de acordo em que a verdade revelada por trás de cada texto difícil é uma só,

e procuram alcançar o sentido verdadeiro das palavras, a verdade única de

cada parte da Revelação. É uma Revelação Divina. Os homens, porém nem

sempre a interpretam corretamente, daí a separação dos judeus e a

diversidade das denominações cristãs.

Não é assim no espiritismo. As palavras ―reveladas‖ pelos ―espíritos

superiores‖ freqüentemente estão claras, claríssimas. Não se trata de

diversidades interpretações da ―revelação espírita‖, trata-se

clarissimamente de diversidade de pretensas revelações.

É necessário que as verdades do além nos sejam reveladas do além.

Evidente. Mas o único modo de sabermos que uma doutrina, digna e lógica,

é revelada por um ―Espírito Superior‖, é procurar o milagre confirmativo.

Em vários livros e muitos artigos exponho que Deus (Pai, por Moisés e os

profetas; Filho em Cristo e pelos Apóstolos, e Espírito Santo o dia de

Pentecostes) provou pelos milagres que era realmente o Espírito Supremo

Page 48: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

vindo para revelar a verdadeira Doutrina. Só pelos milagres pode ser válida

a afirmação de que Sua Doutrina é verdadeira, e todas as outras, em tanto

quanto se afastarem da dEle, originadas em falsos profetas.

Comunicação com o Além

Espiritismo e Reencarnação

Assim seria bem simples

A comunicação com a supra-realidade é uma busca que remonta desde as

civilizações da antigüidade. A comunicação com os mortos, também

chamada necromancia, iniciou-se na antigüidade grega em cavernas onde

existiriam fantasmas dos mortos e onde e pitonisa, recebe espíritos de

ancestrais. No norte da África também havia feiticeiros mediúnicos. Na

bíblia a consulta aos mortos aparece no antigo testamento efetuada pelo rei

Saul ao morto profeta Samuel através da pitonisa de Endor. Será que a

bíblia é espírita?

No século passado ocorre a sistematização do espiritismo por Allan Kardec

com a mentalidade da época, racionalista e positivista. A primeira

contradição espírita é a revelação reencarnacionista das sessões francesas

em total oposição às sessões inglesas, que em nada acreditavam em

reencarnação.

O espírita Davis contradiz o espírita Kardec. O espírito de um morto no

―espiritismo católico‖ pede uma missa e rezas, mas no mundo espírita e

ocultista pedem rezas com sessões mediúnicas. É contra-senso dos

espíritos.

Allan Kardec no ―Livro dos Médiuns‖ admite que as comunicações com os

mortos dependem do médium, portanto, do vivo e revela a mentalidade da

época já dando mostras do valor do dotado vivo. Em ―A Gênese‖ de

Kardec em 1868 observamos muitos erros de astronomia que dependiam

dos conhecimentos da época e não dos grandes cientistas do além. Daniel

Dunglas Home falando de Kardec: as revelações espíritas são as idéias de

Kardec impostas ao médium e por ele corrigidas, de acordo com o

conhecimento da época. Flamarion diz que as revelações da genêse dos

cosmos eram reflexos do que sabia na época sobre o cosmos; são

revelações do que o vivo sabe e não coisas novas do além. Nenhum morto

ligado à medicina revelou a cura do câncer, esquizofrenia e AIDS. A

descoberta vem dos vivos.

É manifestação do morto ou um fenômeno que lembra o morto ou

semelhante a ele. Nas pinturas da Gaspareto, psicopictografia , os quadros

lembram o pintor morto famoso, mas na totalidade é do médium vivo. Nas

Page 49: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

psicografias de Chico Xavier as frases lembram algum literato, mas na

essência são do vivo Chico Xavier. Segundo Kardec, no Evangelho

segundo o Espiritismo o Espírito Santo é o espírito de mortos que revelou a

reencarnação. Como o indivíduo apresentar várias personalidades ou

individualidades é um absurdo, o princípio da mediunidade fica sem base

alguma e não se sustenta. Os fatos espíritas de comunicação com o além

como batidas inteligentes, fantasmas, falar línguas, telepatia, precognição

já têm compreensão simples e objetiva pela parapsicologia, não

necessitando de explicações fora desta realidade. Experiência como frase-

controle ou experiência do envelope foram realizadas com moribundos das

duas grandes guerras. Os moribundo morria com uma senha e depois os

parapsicólogos procuravam esta senha com os grandes médiuns. Nenhuma

senha foi descoberta.

Parapsicólogos europeus inventaram um morto que jamais existiu e os

médiuns revelavam a identidade e sua vida, o que era absurdo, mostrando o

erro dos médiuns. Os médiuns descobriram alguém que nunca existiu.

Em relação a Deus podemos dizer que ele se comunica pelos seus raros

milagres, que são fatos concretos e observáveis. É possível também que

ocorra pelo diálogo sobre a verdade transconsciente dos homens.

Conclusão: Teoricamente a mediunidade é grande ilusão. Na análise

qualitativa dos casos de mediunidade o que desvelamos são fenômenos

inconscientes e parapsicológicos de nossa realidade e com pessoas vivas

como é o caso do profeta Samuel que nada atuou e sim a pitonisa, que é

uma sensitiva que captou por hiperestesia indireta do pensamento do rei

Saul. Nos testes empíricos da senha-controle e pessoa impossível não

houve mediunidade. A mediunidade portanto, é uma grande ilusão.

Victor Eugênio Arfinengo

Grupo de Estudos do CLAP

Dissociação da Personalidade

Espiritismo e Reencarnação

1. – PERGUNTA Jorge IC:

―Oi, Pe. Quevedo, eu queria esclarecer uma dúvida. Tenho 28 anos e por 3

anos freqüentei um centro espírita. Hoje não freqüento mais. Eu era ateu,

mas conheci Deus e sou muito grato por isso. Hoje sou católico, indo a

Missa e lendo a Bíblia. Mas vi muita coisa no centro que não sei explicar,

como incorporações inclusive em mim, com mudança na voz (ecolalia é o

nome em parapsicologia, psicologia e psiquiatria – Pe.Q.) Incorporações

Page 50: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

essas comigo das que não me lembro quase nada, só algum flash. O que

fazíamos ali eu e os outros médiuns para conseguir as incorporações, sei

que a Igreja não concorda. Mas eu vivi aquela situação e não sei explicar,

mas as pessoas lá acreditam e muito. Gosto muito do seu trabalho, se

possível gostaria que me dissesse algo sobre o assunto. Muito obrigado‖.

2. – PERGUNTA Luciano P. L.:

―Pertenço a uma Igreja Reformada, fiz teologia há pouco tempo, possuo o

seu ―Antes que os Demônios Voltem‖, admiro muito esse seu livro e o seu

trabalho. Também já não acredito nesta questão de possessão, mas eu tenho

uma dúvida, gostaria que o senhor, Pe. Quevedo, me respondesse: Por quê

uma pessoa supostamente possessa, fala como se fosse outra pessoa? Por

ex, um filho ‗possesso‘ olha para a mãe e diz: ‗Eu vou matar seu filho‘.

Quê fenômeno é este? Grato pela atenção‖.

3. – E MUITAS OUTRAS PERGUNTAS (e até insultos) sobre o mesmo

tema

RESPOSTA GERAL

Os ―mestres‖ espíritas não sabem que há muitos anos Charcot (e

sucessores) por hipnotismo reproduziu toda classe de‖incorporações‖?

O tema da divisão da personalidade, quase desconhecido na época de Allan

Kardec, foi posteriormente muito bem estudado. Pode-se desculpar em

parte a Allan Kardec e aos pioneiros do Espiritismo… Mas não há

desculpas para o fato de os ―mestres‖ modernos do Espiritismo ainda

repetir tão falso argumento fazendo caso omisso das manifestações

personificadas do inconsciente.

Certos sistemas inconscientes são suficientemente ricos para separar-se da

personalidade global daquela pessoa e constituírem personificações parciais

anexas. A personalidade (ou personalidades) adventícia, ―secundus‖,

forma-se de preferência com fatos e sensações descuidadas pela

personalidade oficial ou ―primus‖.

Page 51: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Os ―mestres‖ espíritas não sabem que há muitos anos Charcot (e

sucessores) por hipnotismo reproduziu toda classe de ―incorporações‖

É precisamente por isso que as manifestações das personificações do

inconsciente podem parecer absolutamente estranhas ao consciente.

Pierre Janet, continuador de Charcot, marcou época com seus estudos da

dissociação da personalidade global nos histéricos.

Com seus estudos da histeria desvendou o inconsciente psicológico e o

mundo do automatismo (como o da psicografia, ―brincadeira do copo‖,

locuções inconscientes, etc.).

É de Janet o mérito principal na descoberta das dissociações patológicas da

personalidade.

Demonstrou a identidade das dissociações histéricas ou sonambúlicas e as

personificações espíritas, demoníacas etc. Trata-se de um mundo de idéias,

sentimentos, imagens etc. e automatismos do inconscientes que se

apoderam bruscamente, e por certo tempo, do campo debilitado da

consciência do histérico.

Sigmund Freud, além das manifestações dos histéricos, já estudadas por

Janet, analisou também muitas manifestações na vida ordinária, como

lapsos, ações frustradas, certos tipos de esquecimentos por motivos

inconscientes, os sonhos etc.

Freud compreendeu que o inconsciente tem uma vida normal paralela à de

―primus‖ e intervém freqüentemente na vida comum. Em mais alto grau,

claro está, quando chega a constituir uma personificação independente ou

―Segunda‖.

A divisão entre consciente e inconsciente (ou partes do inconsciente) cobre

todos os degraus da escada, desde o total desconhecimento mútuo,

independência e autonomia de cada um, até a total convivência e ação

simultânea.

Page 52: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

TESTEMUNHA E ATÉ PODE INTERVIR

É o 1º degrau. Assim, por exemplo, os chamados ―sonhos lúcidos‖, que nos

últimos anos têm interessado bastante aos parapsicólogos.

Allan Kardec em ―O Livro dos Espíritos‖ (nn. 401-402) e os ―mestres‖

kardecistas afirmam que os sonhos, mesmo os mais comuns, são ―viagens

do perispírito‖ (?!), e revelações dos espíritos dos mortos.

Tal afirmação hoje é um retrocesso de mais de vinte séculos, pondo-se no

nível de interpretações supersticiosas que consideravam os sonhos

revelação dos deuses.

Hoje todos os especialistas e inclusive todas as pessoas de senso comum

(não fanatizadas pela superstição) sabem que os sonhos procedem do

inconsciente. São ―respostas‖ e reações que o ―eu‖ inconsciente dá aos

inumeráveis fatores da vida cotidiana. Essas ―respostas‖ não se limitam a

imagens visuais e auditivas, com cores ou sons mais ou menos acentuados.

Nos sonhos podem também ocorrer sensações odoríferas, táteis, gustativas.

Podem surgir também fenômenos parapsicológicos. Durante o sonho, a

sensação de realidade é total, como se o sonhante estivesse no estado

consciente acordado.

Alguns sonhos são chamados ―lúcidos‖, porque há ―consciência do

inconsciente‖, isto é, a pessoa que sonha está consciente de estar sonhando.

E o mais interessante é que o sonhante, ao chegar à conclusão de que está

sonhando, pode adquirir um certo controle sobre o desenvolvimento do

sonho. O treino ajuda neste controle (o que não quer dizer que seja

conveniente tal treino…: pode aumentar a cisão da personalidade).

PRESENTE SEM INTERVENÇÂO

Por exemplo em Julien, famoso psicógrafo francês, o ―eu‖ oficial , ou

―primus‖ estava plenamente consciente e presente ao que escrevia sob

diversas personificações do inconsciente. Julien compreendia que se tratava

de diversas divisões do próprio eu:

―Jamais tive a impressão de perder o controle de minha consciência no

decurso das comunicações telepáticas. Esforçava-me, ao contrário, em

permanecer sempre dono de minhas faculdades e jamais perder o senso

crítico. Não obstante, todo o resto estava plenamente desligado do que eu

sentia: tinha a impressão de um vazio voluntariamente fomentado, de uma

tela mental sobre a qual as palavras se imprimiam uma a uma sem que

fosse possível adivinhar o sentido da frase em formação. Em outras

Page 53: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

oportunidades, tratava-se de idéias já completas no momento em que

surgiam, e só faltava formá-las rapidamente‖.

―E ao mesmo tempo, para mim, era um assombro ilimitado constatar que

algo de extraordinário estava acontecendo, que um verdadeiro diálogo

parecia estabelecer-se entre o ‗eu‘ e outros ‗eus‘ (parte da própria

personalidade global) inteiramente autônomos, cuja presença viva se

impunha como se fosse separada‖.

TESTEMUNHA IMPOTENTE

O 2º degrau na relação entre consciente e inconsciente. Presente, mas sem

poder agir.

Escreve um grande pioneiro da parapsicologia e grande filósofo e teólogo,

Justino Kerner:

Em alguns desses pacientes, ―os olhos permanecem abertos e a consciência

lúcida, mas o paciente é incapaz de resistir, mesmo com toda força da sua

mente, à voz que fala nele; ele ouve a si mesmo expressar-se como se fosse

outra e estranha individualidade alojada nele, mas fora de seu controle‖.

Acrescenta Eschenmayer, colega de Kerner e também especialista em

mística:

―A moça retém a consciência enquanto a voz fala, mas não pode evitá-lo,

mesmo tentando com toda a sua vontade; ela ouvia a voz ressoar

externamente como a de um indivíduo estranho, alojado dentro dela, sem

que estivesse em condições de controlá-lo ou fazer qualquer coisa‖.

Os espíritas, incompreensivelmente ignorando plenamente o inconsciente,

classificam estes casos como mediunidade e incorporação consciente!!

Na realidade é manifestação de uma das partes ―amotinadas‖ da única

pessoa, é uma personificação de um conteúdo Divisão da personalidade

inconsciente, como as ―cristalizações‖ ao redor de diversos núcleos num

líquido saturado. Como insiste o professor Oesterreich no seu excelente

livro de estudo dos erradamente chamados casos de possessão demoníaca,

em todos os povos e épocas, ―uma análise mais exata revela que os estados

mentais, aparentemente pertencentes a um segundo ‗eu‘ são realmente

parte do indivíduo original‖

Page 54: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Divisão da personalidade

Contraprovas, inclusive muito fáceis de fazer, por exemplo com

clorofórmio ou éter, mostram que não se trata de incorporação de espírito

nenhum.

Algumas pessoas, aspirando a droga anestesiante, quando ainda não estão

―dormindo‖, mas não plenamente acordadas, falam, inclusive muito

imprudentemente, sem poder evitá-lo. Sabem que estão falando sem querer

falar.

O consciente ainda está presente, mas estão ―possuídos‖ pelo próprio

inconsciente. Divisão da personalidade causada pela droga.

BOIANDO, ATÉ O PRÓXIMO MERGULHO

Imaginemos o psiquismo humano como um ―iceberg‖. Só 1/10 do bloco de

gelo emerge sobre a superfície das águas: o consciente.

Pela transparência das águas pode-se observar um pouco do submerso: o

pré-consciente. Basta olhar, prestar atenção para perceber a passagem do ar

pelas vias respiratórias, o contato da roupa, a umidade ambiente, os

barulhinhos que chegam da rua etc., etc. Sensações que antes também

tínhamos, embora sem percepção consciente da sensação pré-consciente.

Basta dar atenção.

Nada aparece na superfície do que se trama e age no fundo. Acontece às

vezes que uma tempestade vira o bloco de gelo. Some o consciente ou vira

inconsciente, e parte do inconsciente emerge ou aparenta ser o consciente.

Acontece nessas mudanças de personalidade que uma pessoa se deita na

grama, ―dorme‖… e ―acorda‖ a 2.500 quilômetros de distância.

Complicada viagem de ônibus, de ―carona‖ e de trem, hospedou-se em

hotéis, selecionou o cardápio de restaurantes… Quando o ―iceberg‖ volta à

posição habitual, quando ―acordou‖, não lembrava absolutamente nada.

Page 55: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Na hipnose, por exemplo -um tipo de novo mergulho, um tipo de estado

alterado de consciência-, o psicólogo verifica que o inconsciente ―pegou as

rédeas‖, ―fez-se passar‖ como consciente.

Prova irrecusável de que é parte do mesmo ―iceberg‖, atividade do

inconsciente da mesma pessoa. O psicólogo ―mergulha‖ e verifica que

aquelas idéias, aqueles sentimentos são na realidade outra parte do mesmo

―eu‖: o subconsciente.

Fazendo caso omisso da psicologia, os espíritas consideram estes casos

como de ―mediunidade inconsciente‖.

Não são idéias ou sentimentos de um ―espírito‖(ponho sempre entre aspas

porque não há espírito humano sem corpo material ou ressuscitado) alheio

que se incorporou temporariamente e foi embora. São idéias constituintes,

partes complementares do mesmo ―eu‖.

Jean Lhermitte, o famoso psiquiatra da Academia de Medicina de Paris,

expressava-se assim no VIII Congresso Internacional de Psicologia e

Religião:

―A consciência pode aparecer completamente suspensa. A pessoa

transforma-se em robô, em máquina elementar. Caminha, corre (…) E a

crise não deixa lembrança alguma‖ (…)

―Em outros casos, o automatismo se mostra mais complicado. Assim, uma

das minhas doentes se admirava freqüentemente de ver, de manhã, sua

mesa servida e os pratos postos sem que ela (segundo pensava) tivesse

tocado nada‖.

―Uma outra doente se encontrou um dia servindo a seus filhos costeletas

grelhadas, com as mãos carbonizadas‖.

―Um médico, durante uma ausência (da consciência), prosseguia

imperturbável o exame do seu doente e pode estabelecer o diagnóstico

correto. Quando recobrou a consciência, não conservava nenhuma

lembrança da lição que acabava de ensinar‖.

―Mais, um escultor sobre madeira, observado por Marchand, executava

durante suas ausências (de consciência) trabalhos muito mais complicados

que durante o estado consciente‖ (O inconsciente é sumamente mais

inteligente que o consciente, como exporei em outra oportunidade).

Page 56: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Não vou entrar agora na distinção entre a inconsciência por divisão da

personalidade (em que há prosopopéia: dá-se o nome ou se ‗batiza‘ às

partes dissociadas) e estas ausências da consciência com plena atividade

inconsciente, que alguns chamaram ―epilepsia psíquica‖. Em nenhum dos

dois casos se trata de espíritos de mortos, apesar de ―não terem

consciência‖. É disfunção cerebral mesmo. ―relações rompidas do cérebro

com o pensamento‖ consciente na expressão de Lhermitte.

A cisão pode ser múltipla. É freqüente nesses casos que ―primus‖ ignore,

completamente e sempre, ao menos alguma dessas partes desgarradas. A

personificação, ―secundus‖, pode ter-se feito plenamente independente,

separado completamente da personalidade oficial ou ―primus‖.

Pode acontecer também que a parte do inconsciente, que se manifestou

espontaneamente, não seja acessível à exploração do psicólogo, nem por

ele controlável: o psiquismo humano é muito profundo. Nestes casos o

consciente nem está presente, nem pode intervir, nem lembra.

Por exemplo, no famoso caso ―As três faces de Eva‖: Eva Preta, Eva

Branca e Jane (caso que analisarei em outro artigo desta mesma série), Eva

Preta afirmou que gozara de uma vida independente desde a infância.

Muitos anos antes de irromper a dissociação da personalidade.

Os pesquisadores inicialmente pensaram que seria uma das tantas mentiras.

Mas o ceticismo foi derrubado quando verificaram que ―sua memória

proporcionava um infindável número de evidências indiretas, pois podia,

por exemplo, fazer relatos bastante fiéis das punições a que fora submetida

na infância, assim como das infrações em que incorrera para ser castigada‖,

e ―Eva Branca era absolutamente incapaz de recordar esses fatos‖. Com

todo rigor científico, os pesquisadores comprovaram que a palavra de Eva

Branca estava acima de qualquer suspeita. Comprovaram cientificamente

praticamente inesgotável de Eva Preta.

E não obstante essa aparente independência total, trata-se irrefutavelmente

de duas partes divididas de uma mesma personalidade…

A mesma aparente independência encontra-se em numerosos outros casos

de divisão da personalidade.

Em parapsicologia, chama-se prosopopéia a máscara que o inconsciente

costuma usar ao emergir. O consciente não reconhece a parte emergente

como constituinte da própria personalidade. Daí, a necessidade psicológica

de pôr um nome, uma máscara.

Page 57: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Os elementos constitutivos de uma personalidade sugerida na hipnose e

aceitos pela imaginação são passageiros. Somem no fim da sessão

hipnótica, da sessão espírita etc. Dificilmente alcançam a continuidade e a

emotividade necessárias para a solidificação e emancipação. A não ser com

o habitual ―desenvolvimento mediúnico‖ ou com contínuas sessões

hipnóticas… Esse é um dos perigos do ―desenvolvimento‖… Prosopopéias

inicialmente caricaturescas e até simulações mais ou menos subconscientes

podem chegar a adquirir impressionante consistência. A experiência o

ensinou aos espíritas, embora eles o expressem com outras palavras: Dizem

que nos começos os espíritos encontram muitas dificuldades em adaptar-se

ao novo instrumento, médium ou ―cavalo‖.

O fator emotivo ou reprimido pode ser o simples amor-próprio. O pior que

pode acontecer a um hipnotizador é sugerir uma personalidade que ele

julga fictícia e irrelevante, e que na realidade coincida com alguns

recalques fortemente afetivos do hipnotizado. O que se pretendia que fosse

uma simples prosopopéia, pode transformar-se em profunda divisão da

personalidade.

Igualmente nas sessões de espiritismo: a aparentemente transitória

prosopopéia de ―espíritos guias‖ pode vir ao encontro de uma

personalidade problemática. A ―Pomba-Gira‖, o ―Exu Quebra-Tudo‖, o

―Zé Pelintra‖ etc., etc., têm originado muitos loucos. Passaram a ser

perseguidos por ―espíritos‖, que na realidade são certas tendências

recalcadas daquela pessoa.

Os ―mestres‖ do Espiritismo na sua profunda ignorância ou fanatismo

insistem muito na aparente independência das prosopopéias…

Janet já demonstrara que ―a personalidade secundária às vezes se mostra

muito indócil‖. Inclusive ―as pessoas mais sugestionáveis mostram-se

capazes de resistência e de espontaneidade‖, mesmo as histéricas ou

durante a hipnose.

Os mais destacados casos espiritóides nem sequer igualam a aparente

independência observada nos casos mais notáveis de ―divisão da

personalidade‖. Os mais famosos casos de ―divisão da personalidade‖

estudados -e curados pela ciência- certamente eram mesmo isso: divisões

de uma única e mesma pessoa. Se um pouco os antigos, hoje não têm

desculpa os ―mestres‖ do Espiritismo.

“Eles próprios afirmam”

Espiritismo e Reencarnação

Page 58: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

SIMPLES E SIMPLISTA

Na introdução ao seu primeiro livro, ―O Livro dos Espíritas‖, Allan Kardec

escrevia:

―Aplaudiríamos a nós mesmos por ter sido escolhidos para realizar uma

obra da qual não pretendemos, de resto, nos fazer nenhum mérito pessoal,

uma vez que os princípios que ela encerra não são nossa criação; portanto,

seu mérito é inteiramente dos espíritos que a ditaram (…) Na França como

na América (…) as inteligências que se manifestam declararam ser

espíritos‖.

As pessoas simples usam muito esse falso argumento: ―Sonhei com um

desastre…, foi meu pai falecido que me comunicou‖, ―escrevi uma

mensagem…, meu marido morto assinou‖ etc. Todos os livros e mensagens

de Chico Xavier e de milhares de médiuns espíritas pelo Brasil e pelo

mundo são simplesmente atribuídos a espíritos de mortos sem verificação:

―foi ditado‖, ―foi assinado‖… Ponto, isso basta para Kardec!! Isso basta

para milhões de espíritas!!

A mais elementar regra de prudência aconselha -impõe com tanto maior

obrigação quanto mais o problema for importante- que nos certifiquemos

de quem é a pessoa que nos procura, quais suas qualidades, qual sua

honestidade.

Só um louco da confiança a um desconhecido num negócio do qual

dependesse sua vida profissional e econômica, a de toda a família, e a de

muitas outras…

E assim mesmo, quantas vezes, mesmo pessoas inteligentes e prudentes se

enganam… Todas as garantias exigidas pelos governos, pelos tribunais,

pelos bancos…, muitas vezes demonstraram-se insuficientes.

Se assim é com pessoas que vemos, que tocamos, que analisamos… nos

negócios bem tangíveis da vida; quanto mais deveria ser em relação aos

espíritos, conforme esse ―argumento‖ espírita?

Em tema tão transcendental, haveremos de aceitar a doutrina espírita

simplesmente porque os se-dizentes espíritos dos mortos afirmam intervir

nas sessões de espiritismo, e com essa doutrina, na intenção kardecista,

substituir (!) e aperfeiçoar (!) a Revelação do Pai (por Moisés e os

Profetas), do Filho (por Jesus Cristo e os Apóstolos) e do Espírito Santo

(no dia de Pentecostes)? Simplesmente porque Kardec e os mestres do

Page 59: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

espiritismo e os médiuns afirmam que são os próprios espíritos que

afirmam ser espíritos de mortos? Pode haver maior loucura?

Incorporando o espírito de um animal?‖Ele próprio o afirma‖

ASSIM, TUDO VALE

Dando valor a tal ―argumento‖, os espíritas caem continuamente em

contradição, embora eles mesmos no fanatismo ou lavagem cerebral

sofrida, nem o percebam:

Na ―Revue Spirite‖, sob a direção de Allan Kardec, publicou-se a ―História

de Joana D´Arc ditada por ela mesma‖. Pouco depois aparece uma

―Dissertação moral ditada por S. Luís‖, Rei de França.

E logo vão aparecendo mensagens assinadas por habitantes de Marte,

Mercúrio e mormente de Júpiter. Seriam espíritos de ex-habitantes da Terra

que reencarnaram (?) nesses planetas! Foi dito e assinado por eles!

Mas Allan Kardec não explica como é que esses extraterrestres, que nem

sequer seriam espíritos de mortos, mas habitantes vivos de outros planetas,

conseguiriam comunicar-se com os médiuns ―do planeta Terra‖.

―Comunicam‖ mil fantasias, que os astronautas e exploradores do espaço

modernos têm demonstrado serem completamente falsas.

Em todas as épocas, em todos os povos, o inconsciente dramatizou suas

próprias comunicações, atribuindo-as a todo tipo de seres, de acordo com a

mentalidade ambiente. Há muitos tipos de prosopopéias. Atrevo-me a dizer

a prosopopéia de espíritos de mortos não é a mais freqüente na história.

Muito mais freqüentes -e também erradas- foram e voltaram a ser as

prosopopéias ou personificações de demônios E há até umas outros 56.000

tipos de prosopopéias… ou seitas religiosas.

Como transmitem os etnólogos Letourneau e Bonwick, para ―as raças

primitivas, os habitantes da Terra do Fogo, os tasmanianos, os australianos

e os hotentotes (…), nessa fase primitiva do desenvolvimento humano, a

religiosidade consiste em crer na existência de divindades (da natureza)

antropomorfas (como as fadas dos contos infantis), que residem nas rochas,

Page 60: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

grutas, árvores etc. (…) Um pouco mais tarde o homem, pensando mais e

raciocinando (…), imagina que essas divindades são seres errantes, muito

parecidos com os homens (…) Mais adiante no tempo (…) aparece o mago

(ou xamã, feiticeiro etc.) que acredita comunicar-se com esses deuses e

servir de intermediário entre eles e os homens‖.

Pensam que são deuses, porque esses próprios deuses assim o afirmam!

Os bambara acreditam nos ―disioren‖, divindades da selva. Os xamãs

comunica-se com esses deuses e sabe como aplacá-los quando se

aproximam ou entram nos povoados.

Pelo mesmo motivo, os esquimós divinizaram um exército numerosíssimo

de todo tipo de forças da natureza, cada uma de relativamente pouco poder

em si mesma, mas poderosíssimas em conjunto sob o comando de

Torgarsuk. Todo esse enorme exército de gênios está a serviço e em

comunicação com seus xamãs.

Também porque assim o afirmam os próprios gênios!

A mitologia germânica e escandinava, nas suas intermináveis noites de

inverno, foi criando, ao longo dos séculos e adquirindo certeza de que se

comunicavam com gnomos, silfos, sífiles, normas, valquírias, alfes etc.

Como não? ―Eles mesmos o afirmam‖!

ATRASO DEMAIS!

Com o mesmo direito e pelo mesmo motivo que os espíritas apresentam

para que se aceite a afirmação ou ―assinatura‖ dos espíritos dos mortos,

teríamos de aceitar todos esses seres mitológicos, cuja existência, ou

mesmo o conceito, geralmente é absurdo e contraditório.

É ignorância, ou fanatismo, ou má vontade, ou mesmo parafrenia

demais…, que os ―mestres‖ espíritas de hoje não estejam de acordo com a

descoberta do inconsciente pela psicologia moderna. Hoje o transe -

espiritóide, hipnótico, êxtase místico etc.- é bem estudado e conhecido. O

mínimo que todo ―mestre‖ espírita deveria saber de psicologia é que a

primeira característica do transe é, indiscutivelmente, a obnubilação do

senso crítico e a exaltação da capacidade inconsciente de fabulação. A

pessoa em transe não pode distinguir a ficção da realidade. Se distinguisse

e não fabulasse, não seria honesto, e estaria fingindo o transe… O valor da

afirmação de que é um espírito de um morto é, simples e absolutamente,

zero.

Mas nem sequer estão a par de conhecimentos alcançados pelos pensadores

da Grécia clássica -e nisto Allan Kardec e os antigos ―mestres‖ espíritas

mostram uma ignorância assombrosa.

Page 61: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Pitágoras e Platão, pela observação de que os fenômenos hoje chamados

parapsicológicos estão sempre ligados a uma pessoa, logo rejeitaram

qualquer tipo de prosopopéias, ou máscaras, ou ―assinaturas‖ que o

inconsciente pusesse. E falam em termos quase modernos de divisão da

personalidade: ―Divisão da psique em duas partes‖.

Plutarco, Platão e Xenofonte rejeitam o daímon (=divindade inferior) com

que Sócrates acreditava estar em comunicação, e explicam os fatos pela

―alma racional‖ de Sócrates sem que o próprio filósofo percebesse: quase

ao pé da letra a descrição moderna do inconsciente.

E o neoplatônico Porfírio, analisando as manifestações ―assinadas‖ pelos

deuses comunicantes dos oráculos, adivinhos, magos e pessoas em ―êxtase‖

ou transe, deduz que ―a causa (…) é uma afecção mental (…) derivada da

sobreexcitação do psiquismo (…) O daímon aderido a nós (…) é uma certa

parte do psiquismo humano‖.

―O próprio espírito afirmou‖ estar com sede… Mas não era verdade. Não

gosta…

OS MAIS ALTOS “ESPÍRITOS DE LUZ”

A situação torna-se pior para a lógica (?) dos ―mestres‖ espíritas no uso

deste falso argumento (―eles próprios o afirmam‖), quando a ―assinatura‖

da comunicação do inconsciente corresponde aos nomes mais sagrados. Só

cabeças completamente distorcidas poderiam acreditar:

―Vida de Jesus ditada por ele mesmo‖, obra original em francês, traduzida

para o italiano, espanhol e por fim no Brasil. ―Corolarium: Obra ditada pelo

Page 62: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

magnífico espírito de Maria de Nazaré, excelsa mãe de Jesus Cristo.

Prefaciada pelo apóstolo Tiago‖. ―Elucidário. Obra ditada pelo espírito de

Paulo de Tarso‖. Com prefácio de irmão Tomé (Santo Tomé!).

Os santos mais cuidadosamente fiéis ã doutrina católica e adversos a toda

sombra de espiritismo como S. Paulo ou ―Paulo de Tarso‖, o ―príncipe dos

Apóstolos‖ S. Pedro, S. ―João Evangelista‖ etc., misturados com as

doutrinas e ambiente das sessões de espiritismo!

Os ―prolegômenos‖ do primeiro livro de Allan Kardec foram assinados por

―S. João Evangelista, Sto. Agostinho, S. Vicente de Paulo, S. Luís, O

Espírito da Verdade‖ (o Divino Espírito Santo!).

Depois desses santos católicos e da própria Terceira Pessoa Divina,

assinam espíritos pagãos: ―Sócrates, Platão‖, e por fim ―Fenelon, Franklin,

Swedenborg etc., etc.‖

Contra a doutrina predileta (embora absurda) do espiritismo kardecista é

preciso perguntar se tão grandes santos e sábios ficaram tão distraídos no

além que se esqueceram de reencarnar…

Tais livros são divulgados em milhares de livrarias, bancas e centros

espíritas.

KARDEC SE TRUMBICA

Contra esse falso argumento (―eles mesmos o afirmam‖) que usou no seu

primeiro e principal livro, mais adiante Allan Kardec terminou por cair

num torvelino de dislates. Principalmente quando os ―espíritos‖ (não há

espírito humano sem corpo material ou ressuscitado) se atribuem nomes

celestes ou famosos: À identificação dos espíritos dedica Kardec todo o

capítulo XXIV de ―O livro dos médiuns‖. Observe o prezado internauta os

malabarismos e sofismas que Kardec vai fazendo, tudo com o maior

apriorismo e falta de provas. Observe como escorrega, pretendendo

defender o que no mínimo de lógica é indefensável:

―Os espíritos não nos trazem ata de notoriedade (documento de identidade)

e sabe-se com que facilidade alguns dentre eles tomam nomes que nunca

lhes pertenceram (…) A identidade dos espíritos das personagens antigas é

mais difícil de se conseguir, tornando-se muitas vezes impossível (…) À

medida que os espíritos se purificam e elevam na hierarquia, os caracteres

distintivos de suas personalidades se apagam, de certo modo. Nessa

culminância, o nome que tiveram na Terra (…) é coisa absolutamente

insignificante‖.

Page 63: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

É insignificante a identificação? Pode-se deixar nessa ambigüidade? Não

posso deixar de lembrar aquela ambígua redação de um jornalista que

escreveu nestes termos sobre a cerimônia do ―bota-fora‖ de um navio:

―Como complemento da imponente cerimônia, a encantadora filha do

almirante quebrou uma garrafa de champanhe contra sua popa enquanto

deslizava graciosamente à água‖. Não seria conveniente identificar a quem

pertencia a ―popa‘ e quem ou o que deslizava graciosamente?

Continua Kardec: ―Notemos mais, que os espíritos são atraídos uns para os

outros pela semelhança de suas qualidades (…) Se considerarmos o número

imenso de espíritos que, desde a origem dos tempos, devem ter galgado as

fileiras mais altas‖ (…)

Será que é ―imenso o número de espíritos que galgaram as fileiras mais

altas‖, pondo-se ―pela semelhança de suas qualidades‖, nessa culminância,

no mesmo nível de Jesus Cristo, ou do ―magnífico espírito de Maria de

Nazaré, excelsa Mãe de Jesus Cristo‖??? Por muito purificado e

desenvolvido que fosse esse espírito, certamente estaria cometendo

gravíssima usura e orgulho ao assinar com os sacrossantos nomes de Jesus

Cristo e Maria de Nazaré…

E continua disparatando Kardec (e, pior!: continuam copiando-o os

―mestres‖ de hoje!): ―Porém, como de nomes precisamos para fixar as

nossas idéias, podem eles tomar o de uma personagem conhecida, cuja

natureza mais identificada seja com a deles (…) Pode, sem dúvida, o

espírito dar provas (de identidade) atendendo ao pedido que se lhe faça,

mas assim só procede quando lhes convém (?!). Geralmente semelhante

pedido o magoa, pelo que deve ser evitado (?!). Com o deixar o seu corpo.

O espírito não se despojou da sua susceptibilidade (…) Suponhamos que o

astrônomo Arago, quando vivo, se apresentasse numa casa onde ninguém o

conhecesse e que o apostrofassem deste modo: dizeis que sois Arago, mas

não vos conhecemos; dignai-vos prova-lo (…) Que responderia ele?‖

Será que Arago se irritaria se lhe pedissem que ―se dignasse identificar-se

numa casa onde ninguém o conhecesse‖? Não é o que todos fazem em

qualquer assunto importante? E o espiritismo pretende que se aceite a

comunicação e doutrina espíritas sem exigir irrefutáveis mostras de

identificação?

Os próprios Iahweh, Cristo e o Espírito Santo, os profetas, os apóstolos…

submetem-se à identificação, prometeram como prova de identificação e

realizam inúmeros milagres. Os espíritos dos mortos não devem nem

sequer dar seu verdadeiro nome?

Page 64: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Mas… o cúmulo: Umas linhas mais adiante (―O livro dos médiuns‖, nn.

255-259) o próprio Kardec se contradiz completamente:

―Deve-se concluir daí que a recusa de um espírito a afirmar sua identidade,

(quando interrogado) em nome de Deus é sempre uma prova manifesta de

que o nome que ele tomou é uma impostura; mas também que, se ele o

afirma, essa afirmação não passa de uma presunção, não constituindo prova

certa‖.

Por evitar jurar em falso seria honesto quem está cometendo uma

impostura?!

―O próprio espírito afirmou‖ estar com fome… Mas não era verdade. Tinha

repugnância

E MAIS ABSURDOS E MAIS CONTRADIÇÕES!

Continua Kardec destruindo contraditoriamente todo intento de

identificação: ―Dirão sem dúvida que, se um espírito pode imitar qualquer

assinatura, pode também pode também imitar a linguagem. Assim é. Vimos

alguns que utilizavam com descaramento o nome de Cristo, e para iludir

melhor, simulavam o estilo evangélico, prodigalizando a torto e a direito as

palavras bem conhecidas ‗em verdade, em verdade vos digo'‖ (n. 223).

Continua Kardec: O médium ―tira de sua imaginação teorias fantásticas

que, de boa fé, julga resultarem de uma comunicação (…) É de apostar-se

então mil contra um que isso não passa de reflexo do próprio espírito do

médium (…) São os próprios médiuns que, arrebatados pelo ímpeto de suas

próprias idéias, pelas lentejoulas de seus conhecimentos literários, (…)

apresentam suas próprias idéias como sendo dos espíritos‖ dos mortos

(n.241).

Page 65: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

E ―porque eles próprios o afirmam‖ vamos a aceitar a doutrina espírita?

Como acreditar em espíritos que começam mentindo, roubando e

apresentando-se com adornos alheios, apresentando-se como os mais

nobres, os de máxima luz, os mais puros?

Compreendem-se essas imposturas em manifestações do inconsciente.

Mentiras, imposturas, compensações psicológicas… são próprias da

histeria.

Pela afirmação de que os espíritos se atribuem nomes que não lhes

correspondem, o próprio Kardec e ―mestres‖ espíritas excluem a

participação dos espíritos bons nas suas sessões. Então o argumento

―porque eles mesmos o afirmam…‖ só é válido, quando nos dão nomes de

espíritos inacreditáveis, baixos, vulgares e desconhecidos!!

O curioso (?) é que Allan Kardec implicitamente reconhece isto: nenhum

espírito bom, nenhum ―espírito superior‖ na terminologia dos espíritas,

poderia usar um nome que não lhe corresponde:

Perguntando a um espírito que sob juramento se autodenomina Filho de

Deus, Kardec argumenta: ―És então Jesus? Isto não é provável. Jesus está

muito altamente situado para empregar um subterfúgio‖.

=Portanto, usar esse subterfúgio de nome que não lhe corresponde é

exclusivo de espíritos (?) de baixo calão.

Só se poderia acreditar, contraditoriamente, no ―pai da mentira‖, os

demônios (os espíritas identificam espíritos de mortos perversos com os

demônios). Se segundo o espíritos de luz mentem conscientemente e

pavoneiam-se soberbamente, contraditoriamente só seria verdadeiro o

testemunho dos mentirosos demônios quando reconhecessem

humildemente (nunca!) serem baixos e perversos! Portanto, o testemunho

espiritóide essencialmente é sempre nulo, nada vale.

O curioso é que o próprio Allan Kardec refuta diretamente o argumento (?)

de que ―eles próprios o afirmam‖! Kardec abertamente nega toda

autoridade aos espíritos, precisamente porque não-identificados. Toda a

autoridade estaria única, apriorista e contraditoriamente no bom senso (?)

dos seguidores desta suposta revelação espírita…: ―Não há outro critério,

senão o bom senso para se aquilatar o valor dos espíritos. Absurda será

qualquer fórmula que eles próprios dêem para este efeito e não poderá

provir de espíritos superiores‖. (E por sua vez, esta afirmação, em

contradição com o argumento, é também contestada pelo próprio Kardec

em outras oportunidades).

Page 66: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

REFUTAÇÃO BÁSICA

É muito difícil ou impossível encontrar uma linha reta de argumentação em

Kardec. Como em toda pessoa vítima de fanatismo, precisamente porque o

fanatismo não tem lógica nem argumentação coerente.

O caso é que nas ―Obras póstumas‖, com referência à sua iniciação no

espiritismo, Kardec mostra que nunca chegou a identificar o seu próprio

espírito guia! Ou sempre procurou fugir, escapulir, escorregar…

Primeiro, sob o título ―Meu espírito protetor‖, Kardec fala do espírito de

Zéfiro. Depois, sob o título de ―Meu guia espiritual‖ e cognominando-o de

―meu espírito familiar‖ já passa a chamá-lo ―A Verdade‖. Mas, mesmo

assim, o caráter escorregadio de Allan Kardec projeta-se no seguinte

diálogo. Kardec: ―Animaste alguma pessoa conhecida na Terra?‖ Resposta

de A Verdade: ―Disse-te que para ti eu era A Verdade. Este (termo) ‗para

ti‘ quer dizer ‗discrição‘, não deves querer saber mais‖.

E deste desconhecido, deste não-identificado, de quem nem tentar decifrar

a identidade é permitido, Kardec teria recebido a missão de implantar o

espiritismo!

A doutrina revelada… por quem? Pode haver maior contradição ou mais

completa refutação do pretenso argumento ―eles mesmos o afirmam‖?

Espíritismo em maus lençois

Espiritismo e Reencarnação

“REVELAÇÕES DOS ESPÍRITOS = DOS DEMÔNIOS”

Em ―O livro dos médiuns‖ Allan Kardec, na sua imensa ignorância (e

grande desejo de enganar), afirma:

―Abaixo de Deus não há outros espíritos, senão almas humanas,

desencarnadas (?) e encarnadas (…) Pela palavra demônios devem

entender-se os espíritos impuros (…) Seu estado é transitório, espíritos de

homens maus que com reencarnações (?) se purificariam (…) Os demônios

não são outra coisa que os maus espíritos, e salvo a crença de que os

primeiros são perpetuamente voltados ao mal (…), não há entre eles senão

uma diferença de nome‖.

Page 67: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

É tão absurda a pretendida comunicação espírita, que pessoas inteligentes

chegaram até o erro de identificar os se-dizentes espíritos comunicantes

com alguém vindo do Inferno (!?) ou até com o mesmíssimo Diabo (!?).

Ensina (?) o ―grande mestre‖ Mario Cavalcanti de Mello:

―Eis os diabos da Igreja Romana: simples criaturas desencarnadas a

produzirem fenômenos com o auxílio de médiuns. Criaturas humanas‖.

E Zeus Wantuil, que foi Presidente da Federação Espírita Brasileira,

começa por criticar o dogma da Igreja Católica…

A demonologia, embora Wantuil não o saiba, não pertence ao dogma…

Critica, pois, as crendices de muitos séculos entre católicos e protestantes a

respeito da atividade demoníaca, e acusa essas crendices de absurdas e

causadoras de grandes males.

Não lhe falta alguma razão nisso, embora as circunstâncias históricas não

sejam tão simples como ele, e todos os inimigos da Igreja, supõem ou

fingem que não sabem…

Por fim, o ―mestre‖ espírita desemboca no que agora nos interessa:

―Era, porém, chegada a hora de tudo ser esclarecido (?), e ficou

demonstrado (?), provado (?), que os tais demônios nada mais eram que as

almas daqueles homens que na Terra foram maus, frívolos, brincalhões,

materialistas, indiferentes, hipócritas, orgulhosos, fraudadores etc., e que ao

atravessar o túmulo, em pouco ou em nada mudaram, conservando como é

mais lógico (!?) os mesmos defeitos e imperfeições que possuíam quando

no corpo de carne‖.

Nessas frases há vários erros, mas o que interessa agora é que, segundo o

espiritismo, os demônios, ou diabos, ou… (os ―mestres‖ espíritas caem na

mesma, ou maior, amalgama de conceitos da crendice secular), seriam os

espíritos ―desencarnados‖ (?) dos homens maus. Segundo o espiritismo,

não existiriam demônios no sentido cristão (o exato seria dizer diabos,

Page 68: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

anjos livremente desobedientes a Deus; demônios era o nome dado às

doenças internas).

SERIAM DEMÔNIOS DISFARÇADOS

Ora, se segundo os espíritas tudo o que entre os cristãos foi explicado (?)

pela intervenção dos demônios deve entender-se como intervenção dos

―espíritos inferiores‖ dos mortos, o inverso tem que ser aceito pelos

espíritas: tudo o que os espíritas explicam (?) por intervenção dos ―espíritos

inferiores‖ dos mortos se enquadra no requinte de malícia, na perversidade

monstruosa, da intervenção dos demônios no conceito dos cristãos.

Exemplos? Todas as chamadas comunicações de espíritos! Muitos casos

são bem sintomáticos:

Já as irmãs Fox, que deram origem ao espiritismo, grandemente veneradas

pelos espíritas, estavam convencidas no começo de que o espírito

―comunicante‖ era o próprio Diabo. Escreve o ―mestre‖ espírita Carlos

Imbassahy:

―Foi o comunicante que se declarou espírito (lembremos o ―grande

argumento‖: ―Eles próprios o afirmam‖, artigo No.3) (…), o chamavam de

pé de bode (…) e o tinham como demônio, pois só o demônio poderia vir

entreter-se com os homens, só o demônio poderia ser o batedor (tiptologia)

invisível. Coisas do demônio, em suma‖.

Imbassahy nem percebeu as conseqüências profundas que para os espíritas

deveria ter tal identificação feita pelas fundadoras do espiritismo…

Num terreiro em Cuibá (MT) os acontecimentos arrepiavam as

testemunhas. Correu a fama pela cidade.

―Meu irmão Wanderley -Magalhães de Siqueira-, muito corajoso, aceitou o

‗desafio‘ e foi lá. No fim do show, estando o médium ainda possuído pelo

espírito, meu irmão aproximou-se e perguntou:

– ‗Quem é o senhor? Qual a sua origem?‘.

– ‗Senhor, não. Senhor é só Aquele de lá de cima‘, corrigiu imediatamente

o possesso.

– ‗Então, quem é você? De onde você vem?‘

Ele deu mostras assustadoras de não gostar da pergunta. Mas perante a

insistência, valentia e esconjuros de Wanderley, terminou por responder:

Page 69: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

– ‗Eu sou um anjo caído, um anjo condenado, vim do inferno'‖.

Tudo é contraditório. Se fosse um demônio não reconheceria que ―Senhor,

só Aquele lá de cima‖. Se fosse um espírito inferior, mau, de morto, não

mostraria tal respeito ao Senhor. E se fosse um ―espírito superior‖ não

mentiria disfarçando-se de demônio.

Mas tudo é compreensível na simples prosopopéia do inconsciente do

médium em transe, em estado alterado de consciência.

CONCORDAM OS ESPÍRITAS MENOS INCULTOS

Escreve Staiton Moses:

―O médium está sempre exposto aos assaltos de todos os espíritos malignos

(…), somos vítimas de um sistema organizado de cruel impostura, indo até

servir-se dos mais sadios sentimentos do gênero humano. O espírito que

age de tal modo, apesar de manter um ar de sinceridade e elevação, deverá

sem dúvida ser o demônio em pessoa, travestido de anjo de luz‖.

Devem reconhecê-lo os espíritas menos incultos, os anglo-saxãos, dado que

tal ensinamento teria sido recebido mediunicamente pela psicografia nada

menos de Staiton Moses, para eles um dos mais confiáveis médiuns da

história do espiritismo, ou o mais confiável e prestigiado.

CONCORDAM NA TEOSOFIA

Assim C.W. Leadbeater…:

Gaspar era um fantasma, visto só duas vezes, ―envolto num amplo capote e

com chapéu alto e de abas largas‖, mas durante três anos anunciava com

psicofonias o futuro (precognição, Pcg) a todos os membros da família e

aos empregados.

Comenta ―o grande mestre‖ teosófico:

―Naturalmente, alguns indivíduos desta família deviam ter aptidões

mediúnicas, de modo que o desencarnado (?) tirara deles a matéria (telergia

invisível e ectoplasma visível) suficiente para emitir a voz física

(psicofonia) e aparecer (fantasmogênese) por duas vezes. Quando a família

se mudou para outro país, o comunicante não a seguiu, porque talvez

tivesse se elevado a um nível do qual lhe fosse mais difícil a comunicação‖.

Isto é, quanto menos desenvolvido o espírito, mais fácil seria a

comunicação; quanto mais desenvolvido, mais difícil, até tornar-se

impossível…

Page 70: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

E com respeito a uma pretensa aparição de Sto. Estanislau Kostka, o

mesmo autor, ignorando que os milagres são por poder divino, não dos

santos, explicita mais a mesma ―explicação‖. E isto é que agora interessa:

―Embora isto (que se tratasse de aparição do santo) seja possível (segundo

o mestre teósofo e os espíritas!), não é, no entanto, provável, pois Sto.

Estanislau Kostka morreu há muitos anos, e parece inverossímil que um

homem de sua categoria se detivesse tanto tempo no mundo astral (?!), não

obstante haver morrido moço, pois precisaria para isso (…) de um conjunto

de circunstâncias quase impossível de reunir. Ao homem de (…) vida

depravada é possível permanecer dilatado tempo no mundo astral, porém

não a alguém de natureza tão delicada, terna, pura e devota como o

famosos jesuíta‖.

Isto é, após a morte só os espíritos de pessoas depravadas poderiam se

comunicar com os vivos…

CONCORDAM NO OCULTISMO

Enfim, entre outros exemplos, basta citar o proceder de uma das maiores

autoridades do esoterismo. É sabido que Agrippa abandonou o ocultismo e

voltou ao catolicismo, porque ficou convencido de que na evocação dos

mortos, na necromancia, na magia etc. quem agiria é o Diabo e seus

demônios, mascarando-se de espíritos de mortos e de forças ocultas da

natureza. Depois disso só a Bíblia e a teologia lhe interessavam.

É muito fácil alencar, como já se fez, ―recitados de testemunhas‖ das

maiores vilezas oriundas do espiritismo.

Page 71: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

É muito fácil alencar, como já se fez, ―recitados de testemunhas‖ das

maiores vilezas oriundas do espiritismo.

ERRADAMENTE CONCORDAM TAMBÉM NO CRISTIANISMO

Entre os teólogos protestantes, aqueles que pesquisaram do ponto de vista

da Sagrada Escritura as manifestações do espiritismo são praticamente

unânimes em afirmar que se devem aos demônios. Fundamentam-se

principalmente em que o espiritismo está severamente condenado na

Bíblia, onde é chamado de abominação (por exemplo em Lv 18,9-12).

Muitos teólogos católicos -quando não bem a par das pesquisas da

parapsicologia, como lamentavelmente é freqüente- concordam com os

protestantes.

Igualmente muitíssimos entre o povo cristão em geral, de acordo com o

seguinte raciocínio clássico -errado!-: não podem ser nem Deus nem os

anjos, nem as almas do céu nem as do purgatório, porque a doutrina espírita

se afasta quase em todos os pontos da doutrina cristã. Não podem ser,

também não, as almas dos condenados ao inferno, porque ninguém sai do

inferno pelo próprio poder e Deus não faria um milagre para enganar na

doutrina… E daí concluem com um erro…, até maior: são, por

conseguinte, os demônios. E ―esquecem‖ que se trata simplesmente de

fenômenos humanos.

Page 72: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Alcançou grande difusão entre os católicos e elogios da revista ―Civiltà

Cattolica‖ o livro de Mousseaux. Ele analisa as ―proezas‖ dos médiuns

norte-americanos. Analisa também ―as mesas girantes‖ (paracinesia), muito

em voga então, nos primórdios do espiritismo. E assegura que se trata

unicamente de ―comércio com os demônios‖.

— Também ele apoia-se preferentemente em textos bíblicos…

À Bíblia não corresponde a análise de fatos, isso pertence à Ciência. A

Bíblia é um livro de Doutrina (e moral…) Sobrenatural Inobservável.

PROSOPOPÉIA

Em plena discussão entre espíritas e pioneiros da parapsicologia, surge o

grande cientista Pierre Janet. Estuda sem preconceitos, analisa os fatos,

demonstra que são manifestações do inconsciente e cura os doentes. Não há

mais base para discussão.

Um exemplo clássico, entre os pioneiros da pesquisa, semelhante a muitos

outros relativamente freqüentes:

―Dailll, um homem de 33 anos, é levado à Salpêtrière no mês de novembro

de 1891, em um estado lamentável. Tem o rosto coberto de sangue e com

crostas secas. Porque se fere com as próprias unhas. Tem os olhos

desvairados de espanto, os lábios gretados. Não pode ficar senão

acompanhado e estreitamente vigido. Quando deixado sozinho, procura

fugir‖.

Para os espíritas e para as testemunhas não-especialistas que conhecem um

caso destes, não haveria dúvida: trata-se de obsessão por espíritos perversos

ou pelos demônios. Acenam para os fatos. Só pode ser perverso quem ―o

arrojou, pés atados, num pântano (…) Sente outro demônio no peito, que o

impele a pronunciar blasfêmias (…) Vê o demônio, todo preto, com chifres

e figura ameaçadora (…) Após seis meses, só fala de demônios, enxerga-

os, ouve-os, sente-os diante de si, e comete mil loucuras (…) Escuta o

obsessor cochichar ameaças no ouvido, maldições e conselhos perniciosos,

como ‗dá-te à bebida‘, ‗está chegando o fim do mundo‘ (…), ‗vai deitar

sobre os túmulos do cemitério‘, onde foram enterrados os corpos dos

espíritos obsessores ou de outros companheiros. Uma manhã, sem motivo,

estoura em riso (…) que aterroriza todos os presentes. Ri sem parar durante

várias horas e depois diz todo tipo de incongruências‖.

Para a ciência, porém, nem demônios nem espíritos. Pierre Janet, após as

devidas análises e com toda sua experiência, diagnosticou, e é reconhecido

plenamente pela parapsicologia:

Page 73: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

―Alucinações de todos os sentidos complicadas por desejos impulsivos e

por interpretações delirantes (…) Delírio de possessão, com agitação

maníaca aguda‖.

Tal diagnóstico será ridicularizado de imediato pelos ―mestres‖ do

espiritismo, na sua ignorância. E negado também por alguns teólogos, que

acreditam em ―milagres do demônio‖ (?!). É notável como esta

interpretação supersticiosa fanatiza inclusive pessoas em outros temas

equilibradas e inteligentes! Apoiam-se em preconceitos teóricos, sem

analisar nem entender de antecedentes, etiologia, pródromos da doença e

descobertas da ciência experimental.

Responde Janet e a ciência:

―Não obstante eu sei e posso demonstrar (…) que se trata de um delírio

verdadeiramente histérico‖:

1º ) ANTECEDENTES

―Este doente pertence a uma família evidentemente com muitas taras: o pai

era supersticioso e obsessivo; o avô paterno em várias ocasiões fugiu

inconcebivelmente; a mãe é de temperamento instável e alcoólica, como

também a avó materna; Daill foi sempre medroso e impressionável‖.

Alguma vez alguém plenamente sadio, física e psiquicamente, sofreu

―incorporações‖ ou ―possessões‖?

2º ) ETIOLOGIA

Muito habilmente Janet provocou escritas automáticas (psicografias):

―O demônio comunicava-se nas suas escrituras como os espíritas nas suas

experiências espíritas. Conseguimos transformar estes atos subconscientes

em sonambulismo (hipnótico). O doente encontrava normalmente neste

estado todas as lembranças, e pode explicar-nos as causas psicológicas

(…). Fazia um ano que empreendera uma pequena viagem (…) Durante a

viagem, Daill atreveu-se a trair sua esposa e ficou cheio de remorsos e

atormentado pela idéia de uma doença contagiosa‖ (…)

Está patente a origem da histeria, suprimindo o recurso supersticioso a

demônios ou espíritos obsessores.

3º) PRÓDROMOS

―Daí seu mutismo e o afastamento da mulher (…) Sombrio e preocupado

falava pouco e rejeitava a esposa. ‗O mau humor continuou e parecia -dizia

sua esposa- ter perdido a fala porque fazia esforços para falar sem

consegui-lo, tinha de escrever o que desejava‘. Mais adiante falava um

pouco, mas caiu em angústias e aniquilamento (…) O doente recusava-se a

abandonar o leito, não se barbeava e deixou de se alimentar. Ficava imóvel,

Page 74: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

quase não falava e desviava-se da esposa e da filhinha (de sete anos) (…)

Havia sonhado que estava muito doente e que morreria logo. Imaginou que

foi transportado ao inferno, ao meio dos demônios. Neste momento o sonho

subconsciente havia engrandecido e provocado as alucinações no seu

consciente. As interpretações do doente fizeram o resto e determinaram o

delírio‖.

Sobram os demônios. Sobram os espíritos dos mortos.

4º) E POR FIM A CURA

Com técnicas de psicoterapia, ―num mês o ‗diabo‘ foi batido e retirou-se

definitivamente. Dois anos depois a cura mantém-se absolutamente

completa (…) Não precisamos acrescentar que um caso destes é fácil de

curar‖.

Quantos casos semelhantes, e aparentemente mais impressionantes por

serem acompanhados de fenômenos parapsicológicos, casos inclusive

enviados em desafio por exorcistas e espíritas foram curados em pouco

tempo e definitivamente na Clínica do CLAP. Alguns casos publiquei no

livro ―Antes que os demônios voltem‖. Sem exorcismos. Sem trabalhos de

―limpeza‖, ou ―descarrego‖, ou desencosto‖…, que na realidade aumentam

a mentalidade supersticiosa e multiplicam os casos epidemicamente. Só

com conhecimentos de parapsicologia e com psicoterapia. Cura natural de

causas e fenômenos naturais…

CONCLUSÃO

Mas não estamos aqui tratando de demonologia, o que fazemos em outros

numerosos artigos. O que interessa aqui é destacar que o espiritismo em

geral é tão cheio de contradições, de ignorância, tão anti-religioso em geral

e tão anti-cristão em particular, de tão baixo calibre…, que as pessoas mais

inteligentes, de todos os ângulos e inclusive os próprios líderes do

espiritismo acabaram por identificar os supostos espíritos com os

demônios!

O espiritismo em maus lençóis.

Espíritas, um mínimo de reflexão!

Espiritismo e Reencarnação

O CASO KERSTIN E LISA

Com a ―brincadeira (?) do copo‖, duas jovens tomam conhecimento de que

seu amigo Rolf cairia com o avião no dia seguinte (= Precognição = Pcg),

quando estaria vindo para visitá-las. No dia seguinte, com efeito, houve o

acidente fatal. Algum tempo depois e de novo com a paracinesia do copo o

inconsciente das jovens manifestou outras duas precognições: dois

Page 75: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

acidentes automobilísticos nos quais perderiam a vida um ―amigo colorido‖

de Lisa, e Nils, o noivo de Kerstin.

Nas três ocasiões as mensagens vieram assinadas com todas as letras: ―O

Diabo‖. As jovens ficaram apavoradas, pelo autor da mensagem e pelo

―azar‖ anunciado…

Poderíamos citar muitos casos de mensagens assinadas pelo Diabo,

Satanás, demônio, Lúcifer etc…

Escrevi um amplo livro ―Antes que os demônios voltem‖ demonstrando

que nunca o Diabo ou os demônios fizeram milagre nenhum.

Corresponderia, porém, aos espíritas, antes de acreditar em comunicações

de espíritos ―porque eles próprios o afirmam‖ excluir do alcance do seu

―grande‖ argumento a intervenção diabólica ou demonológica.

A intervenção diabólica, embora inexistente, seria menos absurda do que a

dos espíritos de luz, ao mesmo tempo mentirosos e disfarçados! Ou

espíritos baixos, ao mesmo tempo pregando a verdade!

O Diabo ou demônios, sendo puramente espirituais, para agir não

precisariam do corpo do médium nem de perispírito. Seria, portanto,

imensamente mais fácil do que a intervenção dos espíritos dos mortos.

A hipótese da intervenção do Diabo ou demônios contaria a seu favor,

sobre a contraditória hipótese espírita, com o fato de ser afirmada pelo

próprio Diabo (?) com muitíssimo maior freqüência, e ―o Diabo‖ ou

―demônios‖ teriam sido vistos inúmeras vezes (apesar de não terem

corpo!), e muitos dos melhores sábios da humanidade, vítimas da

mentalidade de obscurantistas épocas passadas, acreditaram na sua

intervenção. Milhares de pessoas sofreram os maiores tormentos e até se

deixaram queimar vivas sem denegar sua convicção. Tal crença foi quase

unânime durante muitos séculos em toda a cristandade. Ainda hoje muitas

pessoas de prestígio acreditam nas intervenções demoníacas.

E tudo isso está errado.

Page 76: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Os antigos acreditavam, sem reflexões, que o ―deus‖ Júpiter se comunicava

com Leda..

“VINDO DO CÉU E DO PURGATÓRIO, E MESMO DO INFERNO!”

As manifestações do inconsciente que pretenderam se disfarçar como

aparições e comunicações procedentes de almas do inferno, do purgatório,

e do céu têm sido também numerosas nos países cristãos.

Se os espíritas aceitam as aparições e comunicações ―católicas‖, acabam

com a própria doutrina espírita.

Se querem ficar com a doutrina espírita, acabam com a comunicação dos

que ―eles próprios afirmam‖ secularmente ser espíritos de mortos.

Não aceitando essas comunicações ―católicas‖, os espíritas não têm direito

de aceitar as outras das quais dizem haver recebido a doutrina. Acabam

com a doutrina e com as comunicações espíritas. E então é que estariam

certos: nem comunicação de espíritos de mortos nem doutrina revelada

pelos espíritos.

POR EXEMPLO: TERESA NEUMANN

Santa heróica sem dúvida, mas também, grande histérica…

… levava muito a sério a alucinação que em 8 de janeiro de 1929 teve de

uma ―alma do purgatório‖!

Ela acreditava que o purgatório era um lugar tétrico. Acreditava naquelas

enormes chamas. Via o corpo (?) ardendo…, sem consumir nem sequer a

barba (?) ou os cabelos(?)!

Teresa Neumann tinha certeza da aparição do Pe. Joseph Schleinkofer,

redentorista, que acabava de falecer.

Page 77: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

A ―aparição‖ pediu à vidente que não rezasse nem fizesse penitência por

ele, ―porque Deus não queria libertá-lo do purgatório antes do tempo‖. Três

semanas depois…

Na eternidade não há tempo!

…Segundo Teresa, Deus muda de idéias (!?) e já permite que reze e que

faça sufrágios pelo missionário falecido.

Basta um dia de sofrimento de Teresa, e já no dia seguinte acredita ter outra

aparição na qual o Pe. Schleinkofer, belo e luminoso, vem agradecer as

orações e sacrifícios. Teresa vê então os pais do sacerdote saindo do céu (?)

ao encontro do filho, acompanhando-o depois à felicidade sem fim.

O pároco de Konnersreuth, Pe. Naber, e seu coadjutor, Pe. Hartes, ficaram

comovidos com todas estas manifestações. Eles ouviram longamente a voz

(= psicofonia) da ―aparição‖.

O conjunto, porém, só pode ser tomado como imaginação e projeção

histérico-parapsicológica de Teresa Neumann.

Segundo os espíritas seria revelação do além. É só como ―do além‖ pode

ser aceito pelos espíritas, para os quais Teresa Neumann seria uma médium

vidente…

Mas semelhantes manifestações (tão numerosas!) destroem completamente

a doutrina espírita: nada de reencarnação! E teriam de aceitar como

revelada por ―espíritos de luz‖ a doutrina católica (revelada por Cristo, não

por espíritos de mortos!) a respeito da penitência e oração reparadora em

união com o Redentor, do purgatório, do céu eterno etc…

“A GOSTO DO CONSUMIDOR”

Aparições (na realidade visões ), como todos os outros fenômenos

parapsicológicos, houve sempre e em toda parte. Os fenômenos

parapsicológicos, pelo próprio fato de serem humanos, foram e são sempre

fundamentalmente idênticos. A psicofisiologia humana é

fundamentalmente a mesma.

É importante, porém, verificar que as interpretações são as mais diversas.

Isso demonstra que são também interpretações subjetivas humanas,

segundo as diversas culturas, não correspondendo à realidade comprovada

pela ciência, pela parapsicologia.

Page 78: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Os fenômenos são os mesmos; as interpretações, diferentes. Os fenômenos

são objetivos; as interpretações (e adornos), subjetivas. Os fenômenos

existem e corresponde à parapsicologia explica-los, fazendo caso omisso

das inumeráveis e incompatíveis interpretações populares falsamente

religiosas (não corresponde à religião interpretar fatos) ao longo dos

séculos.

Como constatava Lombroso,

“estes fenômenos (parapsicológicos), vistos singularmente, parecem

justamente inverossímeis. Mas surge a grande verossimilhança, por não

dizer a certeza, do fato de que se repetem em épocas, em regiões e em

nações diversas, sem ligação histórica entre si; algumas, ao contrário, em

completo antagonismo religioso e político”.

Daí as interpretações tão diversas e mesmo antagônicas.

Na sua grande ―História das aparições e manifestações no mundo antigo‖,

conclui Eric Dingwall:

“Os fenômenos parapsicológicos foram assinalados em todas as épocas e

em todos os povos, as descrições que chegaram até nós são

fundamentalmente idênticas. Embora as interpretações sejam muito

diferentes nas diversas civilizações”.

RESOLVAM ESSE IMPASSE!

1.- Um ―espírito‖ (ponho sempre entre aspas porque não há espírito

humano sem corpo material ou ressuscitado) muito prestigiado por

destacados espíritas…

Primeiramente ele mesmo afirmava ser ―O Invisível‖, nome que atribuía a

si mesmo como pseudônimo de Deus, nada menos! Maior ―espírito de luz‖,

nenhum. Depois esse mesmo ―espírito‖, num acesso de modéstia, mas com

romantismo, disse chamar-se ―Clélia‖.

Por fim ―O Invisível Clélia‖ garantiu: nas manifestações espíritas, fora do

próprio médium, ―não existe nenhum espírito‖.

No fim é que mostrou toda a verdade.

O caso foi analisado nada menos que por Frederick Myers, um dos

fundadores da parapsicologia.

Page 79: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

2.- A ―assinatura‖ aposta pelo inconsciente em numerosas manifestações

em ambiente rosa-cruz é: ―Alma divina universal‖, a alma do deus-mundo.

Panteísmo crasso, contradição: a criatura, o finito, o passageiro, o material

etc. não pode identificar-se com o Criador, o Infinito, o Eterno, o

Puramente Espírito, etc.

Mas o que ―ele mesmo afirma‖ ser, na comunicação aos rosa-cruzes, não

pode ser mais alto, mais sublime ―espírito de luz‖.

Baseado em milhões dessas ―revelações‖, Spencer Lewis, Imperator da

Ordem Rosa-Cruz (AMORC) para as Américas do Norte e do Sul,

pontifica:

“Pergunta: é verdade que nas chamadas sessões espíritas (…), as almas de

pessoas falecidas retornam à Terra?”

“Resposta: É absolutamente certo que a alma de uma pessoa não retorna à

Terra (…). Por conseguinte, não poderá ele em tempo algum flutuar no

espaço e visitar centros espíritas”.

E aí fica o impasse para os espíritas: os mais altos ―espíritos de luz‖

revelam (?) que não são os espíritos que revelam… Espíritos de nenhum

tipo: nem fadas, nem demônios, etc. ―Porque eles mesmos o afirmam‖.

É possível esperar dos líderes do Espiritismo, após tanto contágio psíquico,

ou lavagem cerebral, ou fanatismo (ou má intenção)…, é possível esperar

neles ao menos um mínimo de reflexão e lógica?

O PRÓPRIO INCONSCIENTE TIRA A MÁSCARA

Mas como não raro acontece nas manifestações do inconsciente, ele próprio

termina por se trair ou por manifestar a verdade, quando deixa de lhe

interessar a máscara ( = prosopopéia). É de se lamentar que os espíritas não

saibam dar atenção a esse fato, apesar de ele ter entrado bem cedo nos anais

do espiritismo:

O Sr. Harrison, editor da revista ―Spiritualist‖, escreve:

“No Sábado, 12 de setembro de 1868 (bem no início e no auge do

Kardecismo ), dirigi-me sozinho a uma sessão privada na casa e com o Sr.

e Sra. Marshall (espíritas também, testemunhas do fato ), com a intenção

de instaurar uma longa conversa com John King (uma das prosopopéias

mais famosas no espiritismo, responsável por muitos fenômenos

parapsicológicos) . De início, por meio da tiptologia (a típica

―comunicação‖ por pancadas) , à plena luz comunicou):

Page 80: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

- Sou teu bom espírito familiar.

- Então tenha a bondade de dizer-me quem é.

- Pois não. Sou tu mesmo .

(…) Entramos num aposento escuro. E após uns minutos vimos aparecerem

corpos luminosos(ectoplasmia e fotogênese ) como cometas, de uns 30cm

de comprimento, largos numa das pontas e afiando-se até uma fina ponta

no outro extremo. Os corpos luminosos flutuavam no ar, por diversos

lugares, em trajetórias curvas. Pouco depois uma voz (psicofonia), perto

de mim, disse: ‗ Sou teu próprio eu espiritual'‖.

O Sr. Harrison acrescenta:

“Pensei que fosse uma brincadeira de John King e não continuei o

diálogo. Sempre me lamentei por isso, agora que sabemos que em grande

número de manifestações espíritas o duplo (parte do próprio eu) manifesta

um papel importante”.

É que pode tomar-se a sério que numerosas e diferentes forças do ―além‖

dominam o ser humano? (Kali, Shiva… no Tantrismo

SUCESSIVAS MÁSCARAS DESMASCARADAS

Estas confissões -os fatos de o próprio inconsciente tirar a máscara- são

freqüentes.

Extrato de um longo relatório estenográfico (com referência a mim -Pe.

Quevedo-. Convido o leitor a ir vendo nas entrelinhas o modo pelo qual a

voz da consciência cristã, osuperego na nomenclatura de Freud, o

inconsciente, adota diversos disfarces, mas vai se traindo ou demonstrando,

até ficar claro, que tudo é mesmo parte da própria ―RS‖. A interpretação é

claríssima, à medida que as prosopopéias vão caindo. Sessões com a mal

chamada ―brincadeira‖ do copo que desliza sobre a tábua de letras (=

paracinesia, que de brincadeira não tem nada e já enfiou muitas pessoas no

manicômio).

“Peço sigilo do nome. Minhas iniciais sempre usadas são RS”.

1 ª sessão:

Page 81: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

“Eu estava fisicamente debilitada por excesso de serviço, pouco sono e

notícia de falecimento de pessoa querida em circunstâncias trágicas”.

Situação apta às dissociação da personalidade em pessoa, como RS, já

bastante predisposta.

RS: “Quem és? És um espírito?”

Copo: “Não; (sou uma) mente viva. Eu venho do P…” (incompreensível)‖.

RS: “É outro planeta?”

Copo: “Sim, distante 700 anos-luz. Eu vejo a Terra através dos teus olhos”

(…)

Exato. Trata-se de visões dos próprios médiuns.

Copo:… “durante os meses de agosto, setembro e abril”.

RS: “Por que somente nesses meses?”

RS: “Porque no ar que teu corpo pode respirar, de que teu corpo precisa

para ver, fugu…”(incompreensível).

Manifesta fuga, por não ter o inconsciente encontrado uma resposta lógica.

Temos, na primeira sessão, a negação expressa de ser um espírito de morto.

Afirma claramente que se trata de um ser vivo. Em outro planeta? Essa é a

primeira máscara, que não mais porá, pois logo foi substituída.

2 ª sessão:

RS: “Tens certeza de que não és espírito?”( de um morto).

Copo: “Não; sou um ser vivo inorgânico”.

Um ser vivo inorgânico e pensante é um ser unicamente espiritual. São

chamados anjos ou demônios.

Confirma e explica melhor a máscara da sessão anterior: ―Uma mente

viva‖. Corresponde também perfeitamente ao inconsciente de RS, mas

ainda mascarado.

3 ª sessão:

A respeito de um filho falecido de José Luiz , “meu „marido‟ ilegítimo há

oito anos, embora ele viva com a esposa legítima com separação de

corpos”:

RS: “Será que o filho pagou com a vida porque nós, o pai dele e eu,

estamos errados?”

Copo: ―Não. Foi inevitável. Ele é um anjo‖.

Clarissimamente os remorsos de consciência de RS.

Page 82: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Mas na máscara, nova precisão. Descartados, portanto, os anjos e demônios

propriamente ditos ou no sentido judeu-cristão. Ainda não descartados

anjos e demônios no sentido espírita (espíritos bons e maus, de mortos!).

Várias sessões:

“Disse-me: „RS, eu te amo com amor de irmã‟. Desde então ao referir-me

à comunicante digo ela, não ele”.

Exato!:

‖ Ela sempre falava de Deus”.

Descartado, portanto, o demônio no sentido espírita. Encaixa-se, porém,

como símbolo da consciência de RS…

“Numa ocasião ela disse: „Todos terão paz‟ ao que eu respondi que após a

morte teremos paz. A resposta foi: „Isso é que não; nem todos terão paz.

RS, esteja com Deus, sempre com Deus, que José Luiz esteja com Deus”.

São os conceitos católicos da voz da consciência arquivados no

inconsciente de RS.

Meses depois. 15 ª sessão:

“Sinto meu corpo amolecer completamente. E então, de olhos fechados, vi

uma luz tão intensa e senti uma alegria infinita como nunca antes vira,

nem sentira. E ouvi dentro de minha mente que ela me dizia: „Filha, eu te

quero assim como és‟. Depois de me recuperar senti e compreendi que era

voz e a presença de Deus”.

“De noite, ouvi dentro de mim a voz que me dizia: agora verás a outra

parte. Não dormi a noite toda. Tive visões de uma tristeza infinita. A voz

disse: „Esta é a ausência de Deus'”.

O ser feminino espiritual, que primeiro era habitante de outro planeta e

depois mulher ressuscitada, agora seria nada menos que Deus! Na realidade

sob a máscara de revelação divina aparecem as reflexões da consciência de

RS a respeito da felicidade no céu e da tristeza no inferno: a presença e a

ausência de Deus nos ressuscitados.

16 ª sessão:

“As letras marcadas pelo copo escreveram: „A tua vaidade te perdeu.

Serias condenada, mas Deus te perdoou. A dor profunda do teu

arrependimento te salvará, te beatificará: te fará feliz. Tua irmã também

será beatificada: feliz'”.

“Não consegui repousar. Nunca em toda minha vida senti tamanha dor,

tamanho remorso, nem me senti tão indigna. Chorei a noite toda, rezei

sofrendo horrivelmente. Mais tarde, enquanto rezava, vi uma poderosa luz

na cortina e ouvi que a luz me dizia: „Filha, já te disse que te perdoei, por

Page 83: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

que te martirizas tanto?‟ É que eu me achava indigna de perdão.

Compreendi a misericórdia infinita de Deus”.

O ―outro eu‖ inconsciente, o ―secundus‖ da própria RS refletindo e

manifestando-se ao consciente, ―primus‖. Sob a prosopopéia de ser Deus,

está o remorso e por fim a confiança de RS na bondade de Deus.

Após o clímax da tensão nervosa, após a reação confiando no perdão de

Deus, as máscaras vão caindo, o inconsciente começa a contradizer-se ou

trair-se:

“Durante a época que se seguiu me senti bem, calma, melhor de saúde e

muita paz de espírito foi se desenvolvendo dentro de mim…”

Exato.

“…e compreendi certas coisas com mais precisão. Por exemplo, senti

dentro de minha mente as palavras: „Eu sou você e você sou eu‟ “.

Agora é que caiu a máscara plenamente! E RS ficou um tanto

desconcertada.

RS: “Quem és?”

Copo: “Zenda”.

Tentativa de nova máscara.

RS: “Quem é Zenda?”

Copo: “Pergunte a seu próprio ser “.

De nada adiantou a tentativa de mascarar-se de novo.

“No dia seguinte, rezei muito e pedi a Deus que me orientasse (…) Passei

duas semanas sem dormir (…) Um Domingo procurei o Pe. Quevedo e

expus meu caso”.

O caso é que RS achou que deveria fazer mais uma consulta ao copo, para

checar as minhas respostas… Observe o leitor como o copo reflete

claramente as dúvidas da própria RS a respeito das minhas explicações:

Copo: “Rs, o padre não tem razão. Os milagres existem”.

Sempre acreditei e defendo cientificamente os milagres. RS é que pensava

erroneamente que a ―brincadeira do copo‖ seria milagre!, e que negando-o

eu, seria porque não acreditasse em milagres.

RS: As respostas e as visões surgiram da minha mente?”

Copo: ” Sim , mas por permissão de Deus. Eu sou você . Eu sou sua visão

do futuro (= Pcg). RS tem de ser uma. RS não deve ser duas. Uma

personalidade só. RS tem seu eu e pode dividir-se em duas!”

Page 84: Padre Quevedo Espiritismo & Reencarnação

Bem entendidas as minhas explicações.

RS: “Posso voltar a falar contigo em Abril?”

Copo: “Podes optar por seguir teu Deus, ou podes seguir um deus ateu”.

“Compreendi que com a expressão „deus ateu‟ se referia ao copo, porque

o Pe. Quevedo disse ser superstição e tentativa de magia própria dos

pagãos”.

RS: “Não usarei mais o copo”.

Copo: “Sim. E Deus estará com você”.

“Atualmente freqüento um curso de Parapsicologia” (pós-graduação no

CLAP )

Com estudo e terapia rápida acalmou-se o inconsciente e reestruturou-se a

personalidade.

.