12
ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU - RJ Arthur Alves Bispo dos Santos (a) , Vinicius da Silva Seabra (b) (a) Departamento de Geografia UERJ FFP / Faculdade de Formação de Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, [email protected] (b) Departamento de Geografia UERJ FFP / Faculdade de Formação de Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, [email protected] Eixo: Geotecnologias e modelagem aplicada aos estudos ambientais Resumo A vegetação exerce função determinante no equilíbrio dos sistemas naturais, e a análise de seu estado de conservação se torna imprescindível, principalmente em áreas de grande dinamismo, como é o caso da bacia hidrográfica Guapi-Macacu, que se localiza no estado do Rio de Janeiro, e que é responsável pelo abastecimento de água de 2 milhões de habitantes da região metropolitana. O trabalho tem por objetivo a análise dos padrões espaciais de fragmentação florestal na bacia hidrográfica Guapi- Macacu - RJ, dando ênfase ao arranjo espacial a partir das métricas da paisagem. A metodologia consiste em técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, por meio da classificação baseada em objetos (GEOBIA), e da realização das métricas da paisagem, utilizando cálculos de área, densidade e tamanho, forma, borda, e área central. Esse tipo de estudo permite análises que são úteis para prefeituras, órgãos fiscalizadores, gestão ambiental e planejamento, como subsídio à tomada de decisões. Palavras chave: Geoprocessamento, fragmentos florestais, métricas da paisagem, classificação baseada em objeto, bacia hidrográfica Guapi-Macacu.

PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1

PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU - RJ

Arthur Alves Bispo dos Santos (a), Vinicius da Silva Seabra (b)

(a) Departamento de Geografia UERJ – FFP / Faculdade de Formação de Professores,

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, [email protected]

(b) Departamento de Geografia UERJ – FFP / Faculdade de Formação de Professores,

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, [email protected]

Eixo: Geotecnologias e modelagem aplicada aos estudos ambientais

Resumo

A vegetação exerce função determinante no equilíbrio dos sistemas naturais, e a análise de seu

estado de conservação se torna imprescindível, principalmente em áreas de grande dinamismo, como é o

caso da bacia hidrográfica Guapi-Macacu, que se localiza no estado do Rio de Janeiro, e que é

responsável pelo abastecimento de água de 2 milhões de habitantes da região metropolitana. O trabalho

tem por objetivo a análise dos padrões espaciais de fragmentação florestal na bacia hidrográfica Guapi-

Macacu - RJ, dando ênfase ao arranjo espacial a partir das métricas da paisagem. A metodologia

consiste em técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, por meio da classificação baseada

em objetos (GEOBIA), e da realização das métricas da paisagem, utilizando cálculos de área, densidade

e tamanho, forma, borda, e área central. Esse tipo de estudo permite análises que são úteis para

prefeituras, órgãos fiscalizadores, gestão ambiental e planejamento, como subsídio à tomada de

decisões.

Palavras chave: Geoprocessamento, fragmentos florestais, métricas da paisagem,

classificação baseada em objeto, bacia hidrográfica Guapi-Macacu.

Page 2: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 2

1. Introdução

A vegetação exerce função determinante no equilíbrio dos sistemas naturais, e a

análise de seu estado de conservação em diferentes escalas e recortes espaciais se torna

imprescindível. Como uma das possibilidades de analisar a distribuição da vegetação sobre a

superfície terrestre, está o estudo do uso e cobertura da terra, que constitui as informações

básicas para o entendimento das manifestações humanas, caracterizadas pela distribuição dos

materiais biofísicos sobre a superfície terrestre (LUCHIARI, 2005).

Um fragmento florestal pode ser definido como qualquer área de vegetação natural

contínua interrompida por barreiras naturais, como lagos, rios, rochas ou solos; e antrópicas,

como culturas agropecuárias e ocupações urbanas (VIANA, 1992). Assim, analisar a

distribuição e o padrão de fragmentação florestal é de fundamental importância,

principalmente para fins de proteção. Além disso, permite também entender o quão

equilibrado está uma área e como essa área consegue manter suas funções geossistêmicas,

como por exemplo, a manutenção de mananciais hídricos, biodiversidade e mitigação de

processos erosivos.

A análise dos padrões da fragmentação florestal pode ser feita através das métricas da

paisagem. Turner et al. (2001) afirmam que a utilização das métricas para avaliação da

estrutura da paisagem é considerada um método eficiente para a compreensão das condições

ecológicas de uma determinada localidade.

A bacia do rio Guapi-Macacu (Figura 1) é o resultado da união artificial dos rios

Macacu, Guapiaçu e Guapimirim. Abrange em torno de 1.260 km², correspondente a quase

um terço do total da área de contribuição à baía de Guanabara, no Estado do Rio de Janeiro, e

é responsável pelo abastecimento de água de quase dois milhões de pessoas (BENAVIDES et

al., 2009). A área de drenagem da bacia pertence aos municípios de Cachoeiras de Macacu,

Guapimirim e uma pequena área de Itaboraí e Magé. A bacia se limita ao norte pela escarpa

da Serra do Mar, onde se encontra as suas principais nascentes. Em suas porções leste e

Page 3: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 3

sudeste, esta bacia tem como limites formações montanhosas dos patamares residuais,

também da Serra do Mar, e de maciços alcalinos do Tinguá e Rio Bonito.

Figura 1. Mapa de delimitação da bacia hidrográfica do rio Guapi-Macacu – RJ

A construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ), no

município de Itaboraí, proporciona uma série de modificações nessa área e ao entorno, tais

como, expansão imobiliária, aumento do contingente populacional, grande fluxo de pessoas e

materiais, entre outros fatores que contribuem com a pressão e impactos sobre a

biodiversidade e geodiversidade da bacia.

Portanto, o trabalho tem por objetivo a análise dos padrões espaciais de fragmentação

florestal na bacia hidrográfica do rio Guapi-Macacu - RJ, dando ênfase ao arranjo espacial a

partir das métricas da paisagem, que são aquelas que quantificam o tamanho, a forma e as

áreas centrais dos fragmentos. As métricas da paisagem são realizadas a partir do

Page 4: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 4

mapeamento de uso e cobertura da terra, produzido através da classificação baseada em

objetos (GEOBIA), com imagem de satélite Landsat 8.

2. Material e Métodos

A realização da classificação de uso e cobertura da bacia hidrográfica do rio Guapi-

Macacu se iniciou com a aquisição da imagem do sensor Operational Land Imager (OLI),

transportado pelo satélite Landsat 8. Este dado foi adquirido, já ortorretificado, através do site

Earthexplorer, que é operacionalizado pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).

A imagem foi obtida no dia 25 de setembro de 2015, e sua escolha baseou-se no fato de ser a

cena mais recente sem cobertura de nuvens na área de interesse.

Em seguida, foi realizado a correção atmosférica nas bandas da imagem de satélite.

Para a correção atmosférica, utilizou-se o software 6S, e os parâmetros escolhidos foram:

modelo de atmosfera tropical, modelo de aerossóis urbano, parâmetro de visibilidade com 15

km (levando em conta características locais, época do ano e análise visual) e superfície média

de 50 m acima do nível do mar. Outros parâmetros, tais como: data e horário de aquisição,

número de linhas e colunas da imagem e informações sobre as bandas, foram adquiridos nos

metadados da imagem.

Posteriormente, foi criado um projeto no software Definiens, em que as bandas da

imagem OLI foram incorporadas, para posterior classificação baseada em objetos (GEOBIA).

O método GEOBIA foi o escolhido para este tipo de classificação pois apresenta um ambiente

para a classificação de imagens que possibilita a adoção de segmentação em diferentes níveis

de escala, a utilização de descritores variados, disponibilizados ou construídos, além da

hereditariedade entre níveis e/ou classes.

Cruz et al. (2007) apontam que a classificação baseada em objetos geográficos busca

simular técnicas de interpretação visual através da modelagem do conhecimento para

identificação de feições, baseada na descrição de padrões identificadores, tais como textura,

cor, métrica, contexto. A GEOBIA ainda se diferencia das demais técnicas por apresentar a

Page 5: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 5

possibilidade de se realizar multissegmentações, gerando níveis hierarquizados, incluindo

ainda aspectos de multirresolução.

Com o projeto criado no software Definiens, foram aplicados uma série de processos

em diferentes etapas. O primeiro processo é a segmentação. Para este trabalho diferentes

parâmetros de segmentação foram testados, e após alguns testes e análises, a imagem foi

segmentada com valores de escala 50 (parâmetro de cor/forma 0,1 e suavidade/compacidade

0,5), com pesos iguais para todas as bandas. Segundo Florenzano (2011), a segmentação de

imagens é um processo computacional que permite dividir a imagem em regiões

espectralmente homogêneas.

Em seguida foram definidas e estruturadas as classes temáticas, assim como a rede

semântica de mapeamento. Foi elaborada uma rede semântica em três níveis, onde no

primeiro nível foram mapeadas as classes de água, sombra e outros usos. A classe temática

"outros usos", no segundo nível semântico, foi classificada em agropasto, áreas úmidas, áreas

urbanas, solo exposto e vegetação natural. Por fim, a classe de “vegetação natural” foi

separada em florestas e mangues.

Para a classificação de cada classe temática foram escolhidas de 10 (dez) a 15 (quinze)

amostras distribuídas dentro da área de estudo. Em seguida à amostragem, foi aplicado o

processo de modelagem, que consiste na definição de descritores para a classificação das

regiões produzidas na segmentação. Após essa última etapa, foi rodado o processo de

classificação, que resultou no mapa de uso e cobertura da bacia hidrográfica do rio Guapi-

Macacu (Figura 2).

A partir do mapa de uso e cobertura da terra, a classe “florestas” foi isolada. Para a

posterior realização das métricas da paisagem, os fragmentos florestais foram divididos em

classes de acordo com o tamanho: muito pequeno (inferior a 10 ha), pequeno (entre 10 e 91

ha), médio (entre 91 e 501 ha), grande (entre 501 e 1100 ha) e muito grande (acima de 1100

ha). Classificação semelhante foi utilizada por Abdalla & Cruz (2015).

Page 6: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 6

Essa metodologia foi escolhida pois a análise conjunta dos fragmentos, sem considerar

as devidas particularidades dos fragmentos de acordo com o seu tamanho, podem mascarar

informações de muita relevância, tanto de fragmentos pequenos como de fragmentos grandes,

para a dinâmica da paisagem.

Figura 2. Mapa de uso e cobertura da terra da bacia hidrográfica do rio Guapi-Macacu - RJ.

Após a classificação dos fragmentos florestais em classes conforme o tamanho, foram

realizadas as análises das métricas de ecologia da paisagem. As métricas ou índices foram

produzidos a partir da extensão Patch Analyst disponível no software ArcGIS 10.4. Foram

utilizadas métricas de área, densidade e tamanho, forma, borda, e área central.

A partir das métricas de densidade e tamanho, foi possível identificar a quantidade de

fragmentos e o tamanho médio dos fragmentos por classe de tamanho. Viana et al (1992)

aponta que a medida do tamanho e a densidade dos fragmentos são de suma importância para

o desenvolvimento de estratégias para a conservação de biodiversidade. Também foram

Page 7: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 7

realizadas análises de índices de forma e de borda dos fragmentos por classe de tamanho, que

são: índice de forma médio, total de bordas, e densidade de bordas.

A métrica de área central é considerada pela literatura como medida muito mais forte

de qualidade de habitats do que a área dos fragmentos, pois apresenta uma previsão do que

realmente está sendo conservado (VOLATÃO, 1998). Assim, para a análise da área central,

foram obtidos valores para: quantidade de manchas que possuem área central por classe de

tamanho, média do tamanho da área central por classe de tamanho, e o índice de área central,

medido em porcentagem. Para as métricas de área central, foi utilizada a distância de 100

metros da borda. Pirovani (2010) afirma que 100 metros é a distância adequada para estimar a

área central, pois valores acima disso causam uma redução significativa nos valores dessa

métrica.

3. Resultados e Discussões

A partir do mapa dos fragmentos florestais em classes de tamanho (Figura 3), é

possível perceber que os maiores fragmentos estão localizados de forma contínua na escarpa

da serra do mar e nos patamares residuais, nas porções norte e nordeste da bacia.

Na tabela I temos os resultados das métricas da paisagem por classes de tamanho dos

fragmentos. Nela podemos observar que foram encontrados 1.287 fragmentos florestais, que

ocupam 59.107,9 ha da bacia hidrográfica do rio Guapi-Macacu. A média de tamanho para os

fragmentos analisados conjuntamente, sem distinção de classes de tamanho, foi de 45,9 ha.

Esse valor médio ocorre por conta da presença de uma alta quantidade de fragmentos

pequenos, e também pela ocorrência de fragmentos com valores de área muito acima do valor

médio.

Os fragmentos considerados como “muito pequeno” totalizam 1.091, com tamanho

médio de 2,57 ha, ocupando uma área de 2.808,27 ha, e representando apenas 4,75% da área

total ocupada pelos fragmentos. A classe “pequeno” tem um total de 175 fragmentos, com

tamanho médio de 26,04 ha, correspondendo a área de 4.557,93 ha, referente a 7,71% da área

Page 8: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 8

total. A classe “médio” totaliza 16 fragmentos, com tamanho médio de 224,43 ha, ocupando

uma área de 3.590,94 ha, que representa 6,08% da área total de remanescentes florestais.

Figura 3. Mapa de fragmentação florestal por classe de tamanho da bacia hidrográfica do rio

Guapi-Macacu - RJ.

As duas últimas classes são classes com menor número de fragmentos, mas que

ocupam a maior porção de área dos remanescentes florestais. A classe “grande” possui 4

fragmentos, num total de 2.892,54 ha, com tamanho médio de 723,13 ha e correspondendo a

4,89% da área total. A classe “muito grande” possui somente 1 fragmento, por se tratar de um

“outlier”, ocupando 45.258,2 ha e representando a maior parte da área total dos fragmentos,

com 76,57%.

O índice de forma médio expressa o quanto o fragmento é próximo de um círculo.

Essa métrica efetua a soma do perímetro de todos os fragmentos e divide pelo quadrado da

área de cada classe. Basicamente expressa que quanto mais próximo de 1 for o valor, a forma

do fragmento é mais parecida com um círculo (REMPEL et. al., 2012). O índice de forma

médio revela que a classe “muito pequeno” possui fragmentos com formatos mais regulares

Page 9: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 9

(1,58), assim como as classes “pequeno” (2,24) e “médio” (3,85). A classe “grande” possui

valores um pouco mais altos (6,45), e a classe “muito grande” apresenta o maior valor

(22,64), revelando uma forma bem mais complexa. É possível perceber que os fragmentos

ficam mais complexos e irregulares conforme o tamanho do fragmento aumenta. Isso ocorre

por causa da maior proporção de bordas, com alta razão perímetro/área.

Tabela I. Métricas de ecologia da paisagem de área, de tamanho e de densidade por classes de

tamanho da bacia hidrográfica do rio Guapi-Macacu

O valor de “Total de bordas” expressa o comprimento total do perímetro (borda) para

cada classe de tamanho. Ele indica que a classe “muito pequeno” possui 894.976 m de borda,

sendo a segunda classe de tamanho que mais possui áreas em contato com o exterior do

fragmento, estando abaixo apenas da classe “muito grande”, que possui 1.707.750 m de

borda. Já a métrica de densidade de bordas expressa a relação entre o perímetro de cada classe

de tamanho pela área total da paisagem. Ou seja, o valor de cada classe indica quanto o

fragmento possui de área de borda. Percebe-se com isso que a classe “muito pequeno” possui

o valor de borda de 15,14 m/ha, seguido pelas classes “pequeno” (11,99 m/ha), “médio” (5,60

Page 10: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 10

m/ha) e “grande” (4,18 m/ha), com menor quantidade de borda. A classe “muito grande” é a

que possui maior valor de densidade de borda, de 28,29 m/ha.

A partir dessa métrica, com exceção da classe “muito grande”, percebe-se uma relação

entre a densidade de bordas e o total de bordas para cada classe de tamanho. Os resultados

dessa métrica indica um menor efeito de borda nos fragmentos que possuem menor

quantidade de borda, que são as classes “médio” e “grande”, sugerindo um maior grau de

conservação nos fragmentos desse tamanho. Em contrapartida, com o aumento da quantidade

de bordas, há o aumento também da densidade de bordas, como pode ser visto nas classes

“pequeno” e “muito pequeno”, indicando assim um menor grau de conservação nos

fragmentos desse tamanho.

Devido a forma dos fragmentos, a quantidade de áreas centrais foi maior que o número

de fragmentos para quase todas as classes de tamanho. A classe “pequeno” possui 235 áreas

centrais, a classe “médio” apresentou 67, a classe “grande” possui 45, e a classe “muito

grande” apresentou 182. A exceção é a classe “muito pequeno”, que apresentou somente 33

áreas centrais, dos 1.091 fragmentos iniciais. O maior número de áreas centrais em classes de

tamanho com menores números de fragmento se deve à separação de várias áreas centrais de

um mesmo fragmento, devido ao tamanho e as formas irregulares dos mesmos.

O tamanho médio da área central de cada classe foi proporcional ao aumento do

tamanho das classes, sendo a menor área central da classe “muito pequeno” (0,13 ha) e a

maior da classe “muito grande” (174,28 ha). Associado à essa métrica, está a área total das

áreas centrais para cada uma das classes de tamanho de fragmentos. Isso contribui para o

melhor entendimento do efeito de borda que essas classes de tamanho estão submetidas.

Como exemplo, a classe “muito pequeno” registrou apenas 4,25 ha de área central, que

representa apenas 0,15% da área inicial dos fragmentos dessa classe, o que significa que

99,85% da área dos fragmentos dessa classe estão submetidos ao efeito de borda. De forma

crescente, a classe “pequeno” registrou 475,16 ha de área central, representando 10,42% de

sua área inicial; a classe “médio” apresentou 1.256,52 ha (34,99%); com 1.168,11 ha de área

Page 11: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 11

central, a classe “grande” apresentou 40,38% de sua área inicial protegida do efeito de borda;

e a classe “muito grande” registrou 31.719 ha de área central, representando 70,08% de sua

área inicial, o que indica que essa classe é a menos afetada.

4. Considerações Finais

A partir dos resultados das métricas da paisagem, percebeu-se que há uma dicotomia

de quantidade de manchas e de dimensão. Os fragmentos classificados como “muito pequeno”

são os mais representativos em termos de quantidade de manchas, mas esses fragmentos

representam uma área mínima em termos de contribuição em área percentual, se comparado

com outras classes de tamanhos. O inverso também ocorre, com a classe “muito grande”

possuindo apenas uma mancha, mas representando uma grande área em termos de dimensão.

Com relação ao formato dos fragmentos florestais, percebeu-se que os fragmentos mais

irregulares apresentaram um maior valor de total de bordas.

De forma geral, chega-se à conclusão que grande parte dos fragmentos florestais estão

expostos aos efeitos da fragmentação em função do tamanho, da forma e dos efeitos de borda.

Ou seja, os fragmentos florestais da bacia hidrográfica do rio Guapi-Macacu não se

encontram conservados, e estão expostos a fatores com propensão a causar ainda mais a

diminuição do tamanho dos fragmentos e resultar na perda da biodiversidade.

Percebe-se também que as métricas da paisagem são ferramentas cruciais para análises

de fragmentação florestal, que são considerados como estudos prévios fundamentais para a

implementação de estratégias de conservação e recuperação da paisagem.

5. Referências Bibliográficas

ABDALLA L. S. & CRUZ C. B. M. Análise de fragmentação florestal no município de

Silva Jardim, APA do Rio São João, RJ. Revista Brasileira de Cartografia. N 67/1, p. 169-

184. 2015.

Page 12: PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA …...ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 PADRÕES ESPACIAIS DE FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GUAPI-MACACU

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 12

BENAVIDES, Z. C.; CINTRÃO, R. P.; FIDALGO, E. C. C.; PEDREIRA, B. C. C. G.;

PRADO, R. B. Consumo e abastecimento de água nas bacias hidrográficas dos rios

Guapi-Macacu e Caceribu, RJ. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2009.

CRUZ, C. B. M., VICENS, R. S., SEABRA, V. S., REIS, R. B., FABER, O. A., RICHTER,

M., ARNAUT, P. K. E., ARAUJO, M. Classificação orientada a objetos no mapeamento

dos remanescentes da cobertura vegetal do bioma Mata Atlântica, na 60 escala

1:250.000. XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, INPE, Florianópolis, Brasil.

2007.

FLORENZANO, T. G. Iniciação em Sensoriamento Remoto. 3ª Edição. 128p. São Paulo:

Oficina de Textos, 2011.

LUCHIARI, A. Algumas considerações sobre as aplicações dos produtos do

Sensoriamento Remoto para levantamento do Uso e Revestimento da Terra. In: Anais do

X Encontro de Geógrafos da América Latina. p.8191-8218. São Paulo, 2005.

PIROVANI, D. B. Fragmentação, florestal, dinâmica e ecologia da paisagem na bacia

hidrográfica do rio Itapemirim, ES. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do

Espírito Santo. Centro de Ciências Agrárias. 2010.

REMPEL, R.S., D. Kaukinen., and A.P. Carr. Patch Analyst and Patch Grid. Ontario

Ministry of Natural Resources. Centre for Northern Forest Ecosystem Research, Thunder

Bay, Ontario. [online: http://www.cnfer.on.ca/SEP/patchanalyst/]. 2012.

TURNER, M. G., GARDNER, R. H. & O’NEIL, R. V. Landscape Ecology in Theory and

Practice: Pattern and Process. 401p. Spinger Verlag, New York. 2001.

VIANA, V. M. Biologia e manejo de fragmentos florestais naturais. Anais do 6º

Congresso Florestal Brasileiro. p113-118. São Paulo, 1992.

VIANA, V. M., TABANEZ, A. J. A. & MARTINEZ, J. L. A. Restauração e manejo de

fragmentos florestais. Instituto Florestal de São Paulo, 4(2): 86-94. 1992.

VOLATÃO, C. F. S. Trabalho de análise espacial: Métricas do Fragstats. INPE: São José

dos Campos, São Paulo–SP. 1998.