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PAG 15 ALCIMAR SIMOR NUNES

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Page 1: PAG 15 ALCIMAR SIMOR NUNES

Cinéfilo, cineclubista, coleciona-dor, um dos maiores especialistas da história do cinema, Alcimar es-tréia hoje como nosso colaborador mais bem pago. Não foi fácil, mas contratamos seu passe após longa disputa com o Cahiers du cinema e

Newsweek . Em sua matéria de hoje, ele demonstra er-udição falando de um “ilustre “desconhecido da cin-ematografia russa, Andrei Tarkovski. Seja bem vindo, amigo Alcimar, contamos sempre com sua companhia e imensa boa vontade.

Assim que o chamo - O poeta das águas - Porque em todos os seus filmes ela está presente. Apesar da presença constante dos quatro

elementos da natureza, a água, o fogo, a terra e o ar. Em participação especial como em O Rolo Compressor e o Violinista. Um filme que serviu de graduação do seu curso de cinema. Ou como protagonista. O que seria de Solaris sem o seu Oceano? O filme não teria sentido, pois o precioso líquido está presente explicita e implicitamente em todas as cenas. O mesmo ocorre com Stalker e Nostalgia. Sem falar em O espelho, A Infância de Ivan, Nostalgia e Andrei Rublev. O que poderia representar esse Oceano de águas nos filmes de Tarkovski? Representa vida, representa a alma do homem em busca de uma outra dimensão neste mundo tão materialista.Nos seus filmes o Homem não está em busca de riquezas materiais ou querendo ganhar uma competição. Nos seus filmes o Homem está em busca de si mesmo, de um sentido para a vida. Como ele mesmo disse: Talvez estejamos aqui para nos aprimorarmos espiritualmente. Se a nossa vida tende a um enriqueci-mento espiritual a arte é um meio de se conseguir isso.E ele conseguiu; com sua arte nos deixar oito obras primas. E, tendo sensibilidade para “entrar” nos seus filmes sairemos de lá muito mel-hores. Mais cientes da importância que temos, para o meio que nos cerca.“O cinema é uma arte infeliz, pois depende de dinheiro; não só porque é caro, mas também porque é comercial como cigarros; por exemplo. Um filme só é bom se dá dinheiro. Mas se o cinema é arte; tal caminho é um absurdo”. Quando disse isso Tarkovski estava pensando nas agruras que pas-sava para colocar na tela tudo que construía na sua mente inquieta.Perfeccionista ao extremo, nada passava despercebido aos seus pequenos olhos. O resultado disso são oito obras de arte projetas nas telas.O Rolo Compressor e o Violinista. (1960)A Infância de Ivan (1961)Andrei Rublev (1966)Solaris (1972)O Espelho (1974)Stalker (1979)Nostalgia (1983)O Sacrifício. (1986) Um pouco do que ele sabe sobre cinema e seus filmes ele deixou em seu livro “Esculpir o Tempo” que também é uma maneira excelente de conhecer seu pensamento.Na sua vida de cineasta enfrentou censura, repressão, falta de apoio. Mas nada o tirava do seu objetivo.Quando queria “salvar” uma cena, montava propositalmente uma sequencia interminável antes dela. Os censores se cansavam e man-davam corta-la ou encurta-la. Mas a que ele queria no filme estava a salvo do jeitinho que ele planejara.Quando resolveu filmar Stalker procurou um local ideal para as fil-magens. Achou! Só que aquelas instalações industriais abandonadas na Estônia estavam contaminadas com radiação. Coincidência ou não; o fato é que alguns anos depois os três protagonistas e out-ras pessoas da produção além do diretor do filme estavam mortos, vitimas de câncer. Talvez o título e a historia do seu filme testamento (O Sacrifício), que ele terminou já muito doente, tenha toda a paixão que ele sentia pelo cinema levado as ultimas consequências. Literal-mente, ele deu a vida por seus filmes.

“Amo muito o cinema. Eu mesmo ainda não sei muita coisa: se, por exemplo, meu trabalho cor-

responderá exatamente à concepção que tenho, ao sistema de hipóteses com que me defronto atual-

mente. Além do mais, as tentações são muitas: a ten-tação dos lugares-comuns, das idéias artísticas dos outros. Em geral, na verdade, é tão fácil rodar uma cena de modo requintado, de efeito, para arrancar aplausos... Mas basta voltar-se nessa direção e você

está perdido. Por meio do cinema, é necessário situ-ar os problemas mais complexos do mundo mod-

erno no nível dos grandes problemas que, ao longo dos séculos, foram objetos da literatura, da música e da pintura. É preciso buscar, buscar sempre de novo, o caminho, o veio ao longo do qual deve mover-se a

arte do cinema.” Andrey Tarkovski

ANDREI TARKOVSKI - O POETA DAS ÁGUAS. Alcimar Simor Nunespor

FILM NOIR - A REVISTA DO CINECLUBE - MARÇO 2013 página 15 cinema