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HALLINA BELTRÃO SOBRE FOTOS DE TOM CABRAL / O SANTO

Página Fliporto - 2012

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Página Fliporto - 2012

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1 O homem que biografou alguns dos nossos grandes ícones do final do século passado, Barry Miles, conversa sobre contracultura. No Congresso Literário (Praça do Carmo), às 15h.

2 Exibição do filme Vestido de noiva, de Joffre Rodrigues. No Cine Fliporto (Focca, Praça do Carmo), às 18h.

3 Performance do escritor gaúcho João Gilberto Noll com o título Literatura e Convulsão. No Congresso Literário (Praça do Carmo), às 18h30.

4 Aula-espetáculo de Ariano Suassuna marcando o encerramento da Fliporto 2012. No Congresso Literário (Praça do Carmo), às 20h.

Coordenação de JornalismoAriane Cruz Schneider Carpeggiani

Edição e TextosDupla Comunicação Antônio TinéMichele Cruz Iara LimaAnne Mendes Guilherme Vila NovaTacyana ViardRebeka NascimentoFabiana ConstantinoMarcio Silva

Carolina BorbaFernando de Albuquerque

FotografiaO Santo – Beto Figueiroa e Tom Cabral Leandro Lima Chico Ludermir

RevisorFelipe Casado Design GráficoHallina Beltrão

O making ofdo anjo Ruy Castro revela os bastidores do livro que

reviveu a lenda de Nelson Rodrigues

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Nelson Rodrigues era um individualista feroz que não aceitava qualquer espécie de coletivização, um dos princípios básicos do socialismo. Este teria sido um dos motivos que levou as pessoas a rotulá-lo de forma apressada como um simples reacionário. “Ele acreditava no ser humano, pura e simplesmente; era contra até mesmo os esquemas táticos do futebol, era a favor do craque”, vaticinou o escritor Ruy Castro no painel Segredos e Inconfidências D’O Anjo Pornográfico, ao lado de Heloísa Seixas, sob a mediação do jornalista Geneton Moraes Neto.

Quando Castro decidiu fazer a biografia de Nelson, no início dos anos 90, o autor estava “abandonado”. “Durante as pesquisas, sequer os livreiros dos sebos de Rio de Janeiro e São Paulo possuíam obras dele”, relembrou. Entretanto, os dois anos de produção do livro foram os mais felizes de sua vida. Entre os segredos de Nelson, ele e sua parceira Heloísa Seixas descortinaram as peculiaridades da biografia, lançada em 1992. “O título do livro surgiu de uma entrevista que Nelson forneceu à revista Manchete em 1967. Foi a primeira e única vez que ele se referiu a ele mesmo como um ‘Anjo Pornográfico’. O título do livro estava pronto”, revela.

A relação de Nelson e as mulheres que o circundavam, como as irmãs e a esposa, sua ambiguidade sobre a política nacional dos anos de chumbo e a paixão pelo futebol também entraram em cena. Geneton rememorou uma entrevista com o dramaturgo, em 1978, agendada pelo próprio Nelson durante uma partida da seleção brasileira.

Já Castro defendeu seu avesso desconhecido do público em geral: um homem que ajudou amigos durante a Ditadura Militar e que defendeu Augusto Boal e Caetano e Gil abertamente, além de lembrar o público de que ele foi o autor mais censurado no Brasil, tendo obras que levaram até 22 anos para serem liberadas ao público, como foi o caso de Álbum de Família, escrita em 1945 e que só pôde ser encenada em 1967.

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Sobre sermos livres Antônio Campos lança livro que revela

memórias de anos de chumbo

“Vencer o medo é uma forma de sermos livres”. Com essa frase, o advogado e curador da Fliporto, Antônio Campos, destacou o significado da instalação no Brasil da Comissão da Verdade, assunto abordado no seu livro A Comissão Nacional da Verdade e A Operação Condor, lançado, ontem, no Solar Sarau da Marquesa, em Olinda, seguido de sessão de autógrafos.

Instalada em 2012, a Comissão da Verdade tem por objetivo apurar as violações aos Direitos Humanos ocorridas no período da Ditadura Militar. O livro surge, portanto, como uma importante ferramenta de estudo e de pesquisa para os interessados na temática, o que envolve os cidadãos brasileiros e a própria Comissão da Verdade. A obra possui documentos e fatos históricos acontecidos na época da Operação Condor. O livro traz ainda um CD com o áudio do depoimento exclusivo de Miguel Arraes sobre a Operação.

No livro é reproduzida a petição enviada pela direção do Instituto Miguel Arraes (IMA) ao presidente da Comissão Nacional da Verdade solicitando abertura de investigação para “declarar a existência da Operação Condor no Brasil, examinando e esclarecendo as graves violações aos direitos humanos praticadas em seu seio, a sua extensão e conexões internacionais, vítimas e algozes”.

O objetivo da representação para abertura de investigação é declarar a existência da Operação Condor no Brasil, examinando e esclarecendo as graves violações aos direitos humanos praticados em seu seio, a sua extensão e conexões internacionais, vítimas e algozes. A Operação Condor foi uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul — Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai —, criada com o objetivo de coordenar a repressão aos opositores dessas ditaduras e eliminar líderes de esquerda instalados nos seis países do Cone Sul.

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Haikais: a surpresa do mínimo O público infantil que passou pela Fliporto este ano ganhou um presente especial: uma oficiana de haikais comandada por um dos principais nomes da literatura brasileira contemporânea, a premiadíssima Maria Valéria Rezende.

“Quando criança convivi com o grande haikaista Pe. Primo Vieira, que nos fazia ler haicais e ‘brincar’ de ‘encontrá-los’ e escrevê-los. Por longos anos esqueci-me deles... Há poucos anos, ‘redescobri’ o haicai e retomei sua prática. Logo depois tive a chance de participar de uma oficina com Alice Ruiz e não parei mais. Com Alice Ruiz, de parceria, publicamos, pela Iluminuras, o livro Conversa de passarinhos, que foi finalista do Jabuti 2009 e já publiquei mais dois, editados pela Autêntica para crianças de qualquer idade; um deles, No risco do caracol, ganhou um Jabuti também em 2009. E passei a fazer oficinas com gente de todas as idades, especialmente com crianças, e o resultado é se mpre surpreendente e muito prazeroso”, comentou sobre seu interesse no gênero literário japonês.

FOTO: LEANDRO LIMA

Os teens também foram bem contemplados durante o sábado. As duas atividades que encerraram a programação da manhã na Fliporto Nova Geração abordaram o uso do mundo das letras como complemento a tratamentos de saúde em hospitais e instituições públicas do Recife. O tema Usos Alternativos da Literatura: Literatura e Solidariedade retomou a importância da humanização em tratamentos e das histórias para crianças, jovens e adultos hospitalizados.

O assunto foi apresentado pelo coordenador da Manifestações de Arte Integrada à Saude, Leniée Campos Maia, e pelo coordenador do Programa Viva e Deixe Viver, Lucas Cruz. Ambos capacitam voluntários, preparando-os para lidar com o ambiente hospitalar, a contar histórias e poesias que envolvam os ouvintes. Concorridíssima na Fliporto Nova Geração foi a participação da best-seller Paula Pimenta, que fez uma espécie de making of da criação da sua obra, em conversa com o curador do braço jovem da festa, Antonio Nunes.

A generosidade do pluralAs semelhanças e diferenças que marcaram o debate entre José Eduardo Agualusa e Mia Couto

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Um tema subterrâneo circulou pelo concorrido debate entre os escritores José Eduardo Agualusa e Mia Couto, na primeira palestra da Fliporto da manhã deste sábado: por favor, não perca tempo falando da África como se o continente inteiro fosse um bloco de concreto homogêneo e de uma cor apenas. Não fale do cheiro da África, da cor da África, de uma língua ou de um jeito específico do africano amar, superar, esquecer e até lembrar. Use a generosidade do plural, que respeita, ou melhor, que compreende diferenças nada ilusórias. Existem Áfricas.

Um mesmo xingamento de homogeneidade persegue os latino-americanos em 2012, quando são lembrados os supostos 50 anos do Boom Literário, gênero (ilusório, como são todos os gêneros) usado para “exaltar” qualquer escritor abaixo do Equador que começou a escrever pós-Gabriel García Márquez, como se um autor argentino, chileno ou brasileiro escrevesse do mesmo jeito ou registrasse as fissuras das suas nações com a mesma ênfase.

Agualusa e Mia Couto divertiram o público contando histórias das vezes em que foram confundidos, de como deram autógrafos para livros que não escreveram ou de como foram convidados para jantar por leitores um do outro. É compreensível: ainda vai demorar para que Moçambique deixe de ser um “braço” de Angola e vice-versa. Ainda vai demorar para que um argentino e um brasileiro deixem de ser a mesma pessoa.

Os escritores ironizaram as semelhanças entre eles apenas para destacar o quando são diferentes. “Tem horas que quero discordar das opiniões do Mia, mas acabo concordando com ele”, declarou um Agualusa que talvez se sinta mais Mia Couto quando não pensa igual ao amigo.

E como estamos falando de semelhança e diferença, vamos lançar mão da segunda para delimitarmos os temas literários a perseguirem cada um dos dois. Mia Couto escreve prosa como quem ergue uma poesia. Em obras como Terra Sonâmbula, mistura, desconstrói e arquiteta palavras e frases como se cada linha funcionasse como uma pedra a erguer seu Moçambique após a Guerra Civil que devastou gerações. Mia Couto é um engenheiro da língua portuguesa.

A preocupação de Agualusa com a sua Angola é outra: sabe que identidades são instituições frágeis que dependem do jogo entre esquecer e lembrar. Dois movimentos que se completam justamente por suas diferenças tão agudas (assim como Angola e Moçambique). Lembrar não é o oposto de esquecer, mas uma consequência.

Mia Couto e Agualusa são “um outro” sendo “um mesmo”.

PS: Um dos momentos mais fortes do debate entre os dois foi quando a mediadora Zuleide Duarte leu um trecho do livro A Educação Sentimental dos Pássaros, de José Eduardo Agualusa. Confira o trecho lido: “As grandes indústrias vêm tentando convencer-nos de que é possível tirar o veneno ao prazer e ficar apenas com o prazer: café sem cafeína, cerveja sem álcool, cigarro sem nicotina – amor platónico. Quanta estupidez. Quem bebe café procura a exaltação da cafeína. Quem pede uma cerveja numa tarde de sol quer refrescar o corpo, sim, mas também quer soltar o espírito. Se é para pecar quero o pecado inteiro.”

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Entre outras coisas, a beleza Edney Silvestre revela as descobertas

que a literatura lhe trouxe

Na infância, o jornalista e escritor Edney Silvestre passou por uma série de problemas de saúde que o tornaram uma criança ensimesmada, com dificuldade de fala e também motora. E foi justamente sua condição física que o levou à disciplina e ao hábito incessante da leitura. “Precisava aprender a falar corretamente para me fazer compreendido e para as outras crianças não debocharem de mim”, revelou ele no painel Romance e Drama.

Nascido e criado até os 16 anos na cidade paulistana de Valença, foi com o teatro o seu primeiro contato com uma manifestação artística, pelas mãos de seus pais. A paixão pela literatura, por sua vez, foi fomentada quando Valença ganhou uma biblioteca pública. “Escolhia os livros pelos nomes interessantes para depois me dar conta de que estava lendo grandes autores. Caninos Brancos (Jack London) e Adeus às Armas (Hemingway) foram alguns deles”.

Após uma consolidada carreira como jornalista, ele se lançou de forma bem sucedida no mercado editorial desde 2010, quando seu primeiro romance (Se eu fechar os olhos agora) se tornou sucesso de público e crítica. “Na literatura, faço muita pesquisa e uso muita coisa do que via e ainda vejo como jornalista. Gosto do jornalismo porque gosto de pessoas, estar com pessoas e conversar com pessoas. De outra forma, eu não teria acesso a estes outros mundos”, revelou.

Na Fliporto 2012, Edney também aproveitou para apresentar o texto de sua primeira peça, ainda inédita, intitulada Boa noite a todos. Estrelada pela atriz Christiane Torloni, sob direção de José Possi Neto, a peça é uma performance em dois atos sobre uma mulher que está perdendo, entre outras coisas, a beleza.

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José Eduardo Agualusa

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Flávia de Gusmão

Antônio Cícero

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Paula Pimenta

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FOTO: BETO FIGUEROA/ O SANTOFOTO: LEANDRO LIMA

Câmbio: FliportoRadioamadores estão transmitindo, em

tempo real, a 8ª edição da Fliporto – Festa Literária Internacional de Pernambuco. Nos

dias 17 e 18, cerca de 10 operadores se revezaram para colocar todos os detalhes

da festa no mundo. “A expectativa é con-tatar 100 países e ter uma média de 10 mil

chamadas por dia”, diz o coordenador de operações Ricardo Lyra.

A estação ZV70, criada para a festa lit-erária, enviará uma chamada especial do

evento. Quem responder ao chamado, poderá acessar a página http://www.qrz.

com e, através do ZV7O, conferir todos os detalhes da Fliporto.

O livro renasceDurante a tarde de ontem, um dos maiores especialistas em e-books do país, e mem-

bro da Comissão do Livro Digital da Câ-mara Brasileira do Livro, Ednei Procópio,

trouxe um resumo de todas as novidades que acontecem nos bastidores do mercado

editorial convencional, ocasionadas a partir das transformações das mídias digitais. De

acordo com o especialista, a literatura tem recebido muita influência do mundo digital,

no entanto, para quem acredita que os livros digitais são o futuro, ele afirma que na ver-

dade é o passado. “Atualmente, o livro nasce no mundo digital. O futuro dele é quando ele

está impresso e finalizado”, ressaltou. A aula final do curso O Livro Além da Mídia acontece

hoje (18), das 13h às 15h, na E-Porto Party. Para participar, é só chegar com antecedên-

cia e fazer a inscrição.

Onde os baobás persistem O Curador da Fliporto, Antônio Campos, foi presença marcante junto ao coordenador-geral da

EcoFliporto, Marcus Prado, durante o lançamento do e-book Pernambuco, jardim de baobás, um projeto cultural voltado para a sustentabilidade e área ecológica, que pretende contar a

história, em Pernambuco, dessa “árvore sagrada”. Durante o lançamento, os organizadores da obra, Antônio Campos e Marcus Prado, destacaram a grandiosidade existente no Estado.

“A ideia do e-book surgiu para sistematizar e destacar a qualidade e grandiosidade do acervo de Baobás que temos e precisamos valorizar”, ressaltou Antônio Campos.

A partir do lançamento, haverá ação educativa permanente sobre o baobá na Fliporto Criança. Além disso, este estudo será divulgado em um livro digital, na versão impressa, e em

meio virtual, com a criação de um site.

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Sonia e Maria Lucia Rodrigues, filhas de Nelson Rodrigues

Mia Couto e Agualusa atraem multidão

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FOTO: LEANDRO LIMA

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Humberto Werneck

CuradoriaAntônio Campos

Coordenador Executivo Eduardo Côrtes

Coordenação Literária Mario Helio Gomes

Coordenação da Fliporto Nova Geração e da Fliporto Criança Antonio Nunes

Coordenação da E-Porto Party Lívio Meirelles, Cláudia Cordeiro e Julio Silveira

Coordenação do CineFliportoAlexandre Figueirôa

Coordenação Geral da EcoFliportoAntônio Campos e Marcus Prado

Coordenação Executiva da EcoFliportoLeila Teixeira

Coordenação da Feira do LivroLívio Meirelles

Coordenação de JornalismoAriane Cruz e Schneider Carpeggiani

Coordenação de Publicidade João Castelo Branco

Coordenação Executiva e FinanceiraMaria Galliza

Coordenação AdministrativaVeronika Zydowicz

Coordenação Artística e Cultural/ Porto da Poesia Monica Silveira

Produção Executiva Vanessa Guedes e Tatiana Valente

Assessoria Jurídica José Arnaldo Moreira Guimarães Neto

Coordenação do Ambiente VirtualCláudia Cordeiro

Assessoria de Imprensa Dupla Comunicação