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345 CAPÍTULO VI DO DOMICÍLIO Sumário • 1. Conceito, proteção constitucional e distinções terminológicas – 2. Espécies de domicílio – 3. Efeitos da fixação do domicílio – 4. Domicílio da Pessoa Jurídica – 5. Ex positis – 6. Súmulas aplicáveis: 6.1. Súmulas do Supremo Tribunal Federal (STF) – 7. Entendimento recente dos Tribunais Superiores (informativos de jurispru- dência): 7.1. Informativo do STF; 7.2. Informativo do STJ – 8. Questões de concursos: 8.1. Questões de múlti- pla escolha – 9. Gabarito anotado – 10. Na hora da prova– 11. Legislação aplicável. 1. CONCEITO, PROTEçãO CONSTITUCIONAL E DISTINçõES TER- MINOLóGICAS Durante toda a evolução de nossa sociedade, a fixação de um local para residên- cia sempre esteve entre as prioridades de sobrevivência do homem. Buscava-se, além de abrigo, um local para descanso e acúmulo de bens para satisfazer necessidades básicas que ainda permitisse a reunião do grupo familiar. Enfim, histórica e cultu- ralmente, nosso modelo de vida exige a permanência num determinado lugar, o que acaba por facilitar o tráfego jurídico e o relacionamento intersubjetivo. Ocorre que a facilidade e a velocidade alcançadas com a revolução dos meios de transporte e da comunicação verificada nas últimas décadas permitem aos indiví- duos mobilidade incrível, propiciando relações jurídicas com pessoas que se encon- tram separadas a grande distância espacial, quase em tempo real. A vida atribulada nas metrópoles, com intensos problemas de trânsito e poluição, além do alto custo habitacional nos centros urbanos provocou o surgimento de verdadeiras cidades- -dormitórios, nos arredores das grandes cidades, com intenso fluxo de pessoas se des- locando para estudar e trabalhar noutras localidades, atraídas por melhor estrutura e mais oportunidades. Enfim, a dinâmica da vida moderna permite intensa interação com outros sujeitos em diversos lugares, que podem ser alterados constantemente. Se atualmente é possível manter contato com uma pessoa instantaneamente por meio do celular ou da internet, não importando o lugar onde ela se encontre, mostra-se cada vez mais importante a necessidade de se definir qual o local em que pode ser alguém encontrado para fins de direito. Para o Direito, denomina-se domicílio o lugar que pode ser caracterizado como a sede jurídica dos negócios e interesses da pessoa. É onde ela se presume presente, pois é o espaço físico no qual habitualmente celebra atos jurídicos, encontra ami- gos e parentes, guarda seus pertences pessoais etc. Não é só um centro negocial, mas também familiar e social, para onde se dirigem convites, cartas, extratos ban- cários, jornais, revistas e contas de consumo. É este o lugar indicado nos cadastros

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Capítulo VIDo DomICílIo

Sumário • 1. Conceito, proteção constitucional e distinções terminológicas – 2. Espécies de domicílio – 3. Efeitos da fixação do domicílio – 4. Domicílio da Pessoa Jurídica – 5. Ex positis – 6. Súmulas aplicáveis: 6.1. Súmulas do Supremo Tribunal Federal (STF) – 7. Entendimento recente dos Tribunais Superiores (informativos de jurispru-dência): 7.1. Informativo do STF; 7.2. Informativo do STJ – 8. Questões de concursos: 8.1. Questões de múlti-pla escolha – 9. Gabarito anotado – 10. Na hora da prova– 11. Legislação aplicável.

1. ConCeito, proteção ConstituCional e distinções ter-minológiCas

Durante toda a evolução de nossa sociedade, a fixação de um local para residên-cia sempre esteve entre as prioridades de sobrevivência do homem. Buscava-se, além de abrigo, um local para descanso e acúmulo de bens para satisfazer necessidades básicas que ainda permitisse a reunião do grupo familiar. Enfim, histórica e cultu-ralmente, nosso modelo de vida exige a permanência num determinado lugar, o que acaba por facilitar o tráfego jurídico e o relacionamento intersubjetivo.

Ocorre que a facilidade e a velocidade alcançadas com a revolução dos meios de transporte e da comunicação verificada nas últimas décadas permitem aos indiví-duos mobilidade incrível, propiciando relações jurídicas com pessoas que se encon-tram separadas a grande distância espacial, quase em tempo real. A vida atribulada nas metrópoles, com intensos problemas de trânsito e poluição, além do alto custo habitacional nos centros urbanos provocou o surgimento de verdadeiras cidades--dormitórios, nos arredores das grandes cidades, com intenso fluxo de pessoas se des-locando para estudar e trabalhar noutras localidades, atraídas por melhor estrutura e mais oportunidades. Enfim, a dinâmica da vida moderna permite intensa interação com outros sujeitos em diversos lugares, que podem ser alterados constantemente.

Se atualmente é possível manter contato com uma pessoa instantaneamente por meio do celular ou da internet, não importando o lugar onde ela se encontre, mostra-se cada vez mais importante a necessidade de se definir qual o local em que pode ser alguém encontrado para fins de direito.

Para o Direito, denomina-se domicílio o lugar que pode ser caracterizado como a sede jurídica dos negócios e interesses da pessoa. É onde ela se presume presente, pois é o espaço físico no qual habitualmente celebra atos jurídicos, encontra ami-gos e parentes, guarda seus pertences pessoais etc. Não é só um centro negocial, mas também familiar e social, para onde se dirigem convites, cartas, extratos ban-cários, jornais, revistas e contas de consumo. É este o lugar indicado nos cadastros

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preenchidos pelo indivíduo na escola, no trabalho; e é a proximidade com tal local que define normalmente a que supermercado, farmácia, padaria, academia, acabare-mos frequentando em nossa rotina diária.

Desnecessário destacar que por vezes a escolha do nosso domicílio, com o passar dos anos, influencia em nosso modo de ser, com reflexos tanto na maneira de falar como na de se comportar. O que permite nossa identificação através de hábitos, costumes e expressões idiomáticas. Mudança de domicílio na busca de qualidade de vida e/ou melhores condições de trabalho faz parte da experiência de vida de muitos brasileiros.

Percebe-se, desse modo, a indissociável relação entre a noção de dignidade hu-mana e o domicílio, que justifica a proteção constitucional conferida ao instituto1, de modo a permitir ao sujeito de direito um espaço onde possa ter assegurada a proteção a sua intimidade e privacidade, além do desenvolvimento de suas re-lações sociais, afinal, é no refúgio inviolável de sua casa2 (aqui entendida como sinônimo de domicílio) que as pessoas costumam exercer sua liberdade de modo mais pleno.

Para melhor compreensão do conceito de domicílio, é necessário distingui-lo das noções de habitação (ou moradia) e residência. O mero local que serve tran-sitoriamente para moradia denomina-se habitação (período de hospedagem num quarto de hotel ou aluguel de uma casa na praia para passar as férias, por exemplo). Prepondera nesta noção seu caráter acidental ou transitório, ou seja, não existe in-tenção de permanência, ao contrário, a ocupação do espaço físico é episódica, vale dizer, eventual.

Segundo Venosa, não é necessário distinguir os termos habitação e moradia (ou estada), pois não são relevantes juridicamente. No entanto, importante destacar que não há que se falar em mais de uma moradia simultaneamente, pois a configuração de tal conceito exige presença física, não sendo possível que uma pessoa ocupe mais

1. Dispõe o art. 5º, inciso XI, da CF/88 que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo pene-trar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.

2. O Supremo Tribunal Federal já pacificou entendimento no sentido de que para os fins da proteção jurídica, o conceito de ‘casa’ deve ser interpretado de modo abrangente, podendo, inclusive, estender-se a qualquer apo-sento de habitação coletiva, desde que ocupado. Desse modo e desde que observada essa específica limitação espacial, os quartos de hotel também podem ser objeto de proteção para garantir-se a privacidade e intimidade do indivíduo. Sem verificação das excepcionais taxativamente previstas no texto constitucional (art. 5º, inciso XI), “nenhum agente público poderá, contra a vontade de quem de direito (invito domino), ingressar, durante o dia, sem mandado judicial, em aposento ocupado de habitação coletiva, sob pena de a prova resultante dessa diligência de busca e apreensão reputar-se inadmissível, porque impregnada de ilicitude originária”. (RHC 90.376, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 3-4-07, DJ de 18-5-07)

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de um lugar ao mesmo tempo3. Tais noções somente possuem alguma relevância “quando se ignora a existência de uma sede mais estável para a pessoa”4.

Já a residência seria um estágio intermediário entre a habitação e o domicílio, no qual embora exista intenção de permanência, pode o indivíduo ausentar-se tem-porariamente de tal lugar. Ressalte-se que enquanto as noções de habitação e resi-dência pertencem ao mundo dos fatos, baseando-se primordialmente num elemento material (lugar), o conceito de domicílio, como visto acima, tem natureza jurídica, exigindo para sua configuração, além do elemento material (objetivo) – residência –, um elemento imaterial (subjetivo), que pode ser definido como intenção de per-manência.

domicílio = Ato de fixação em determinado local + Ânimo definitivo

de permanência

Elemento objetivo:RESIDÊNCIA

Elemento subjetivo:INTENÇÃO

Não basta apenas habitar num determinado lugar para que este seja considerado domicílio de alguém. É necessário que o indivíduo tenha intenção de lá permanecer, com objetivo de constituir neste espaço determinado o centro de seus interesses, vale dizer, que se comporte de modo a deixar evidente que em tal local pode ser encontrado para qualquer finalidade de direito. Nesse sentido, dispõe o art. 70 do Código Civil vigente: “o domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo”.

Perceba-se, então, que os conceitos de residência e domicílio não são coinci-dentes. Uma pessoa pode ter um só domicílio e mais de uma residência. Mesmo o sujeito que não possui residência, tem domicílio, pois, nestes casos, considera-se domicílio o lugar onde for encontrado (art. 73). Além disso, nosso sistema jurídico admite a pluralidade de domicílio, ao dispor em seu art. 71 que se a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.

Existe ainda outra hipótese de pluralidade de domicílio no art. 72 do CC/02, que também considera domicílio, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. E considerando o fato de que muitos indivíduos possuem mais de uma relação de trabalho, o parágrafo único do mencionado artigo dispõe

3. direito Civil. Parte Geral, 7 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 201.4. RUGGIERO, Roberto de. Instituições de Direito Civil. São Paulo: Bookseller, 1999, v.1, p. 501. Apud GA-

GLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. novo Curso de direito Civil; Parte Geral. 8ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 244.

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que, “se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domi-cílio para as relações que lhe corresponderem”.

Nesse sentido, é possível estabelecer uma relação entre os conceitos:

• Situação fática;• Caracteriza-se por ser tran-

sitória, acidental ou even-tual;

• Não existe intenção de per - manecer no lugar.

• Estado de fato que com-põe o conceito de domicí-lio (elemento objetivo)

• Lugar que se habita com intenção de permanecer, mesmo dele se ausentan-do temporariamente.

• Sede jurídica dos negócios da pessoa, que exige a con-jugação de residência com intenção de permanência, determinando o lugar on-de o indivíduo responderá pelos seus atos.

Habitação Residência Domicílio

2. espéCies de domiCílio

A doutrina costuma classificar o domicílio em duas espécies, que dependem da forma de sua constituição. Denomina-se voluntário aquele cuja fixação depende ex-clusivamente da vontade do sujeito, ou seja, de ato jurídico decorrente de sua autono-mia privada, diferentemente do que ocorre com o domicílio necessário ou legal, que decorre de um fato previsto em lei, independentemente da vontade do interessado.

Em relação ao domicílio necessário, estão previstas no art. 76 as seguintes hi-póteses: (a) o domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; (b) o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; (c) o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; (d) o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; (e) o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

Já o agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterri-torialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve (art. 77).

A importância do elemento vontade para fixação do domicílio voluntário fica bem evidente no disposto no art. 74 do CC/02, que permite a alteração do domicí-lio, desde que haja transferência de residência com manifesta intenção de mudá-lo.

domicílio voluntário x necessário: coexistência

Vale lembrar que não ocorre perda automática do domicílio anteriormente possuído caso ao sujeito passe a ser imposto, por determinação legal, um novo domicílio. Como nosso país ad-mite a pluralidade domiciliar, a pessoa poderá considerar seu domicílio qualquer um deles. É o caso, por exemplo, de alguém aprovado num concurso público cujo cargo deve ser exercido noutra cidade, mas que mantém vínculo e residência em sua cidade natal.

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Para se provar a intenção de mudar e assim demonstrar que ocorreu alteração do domicílio, segundo o disposto no parágrafo único do citado art. 74, serão le-vadas em consideração declarações que a pessoa formular às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai. Contudo, se tais declarações não existirem, deve-se analisar, por qualquer meio de prova admitido em direito, a própria mu-dança, com as circunstâncias que a acompanharem. Basta verificar, dentre outros tantos aspectos, se, por exemplo, a correspondência passou a ser entregue noutro endereço, se os filhos mudaram de escola, se o local de trabalho permanece o mes-mo, se amigos e familiares foram informados da alteração de endereço, bem como se ocorreu mudança de lugar de realização das compras necessárias ao sustento da família etc.

Alguns autores preferem adotar uma classificação tríplice para o domicílio da pessoa natural, apontando, ao lado das categorias domicílio voluntário e necessário, uma terceira categoria, denominada domicílio especial ou de eleição. Não nos pa-rece que tal hipótese configure uma categoria autônoma, pois, na verdade, trata-se de um caso especial de domicílio voluntário, no qual a fixação do domicílio tem origem contratual (art. 78), com efeitos apenas entre as partes e para o negócio que foi instituído.

É bastante comum que durante as negociações para celebração de um contrato, duas ou mais pessoas decidam fixar o lugar em que para fins de direito serão en-contradas (e eventualmente demandadas) para qualquer situação relativa (única e exclusivamente) ao contrato específico que fora celebrado5. Tal decisão não importa, v.g., automática alteração de domicílio comum ou profissional, sendo essa fixação decorrente do consenso dos contratantes, logo, estabelecida voluntariamente. Dessa forma, prescreve o art. 78 do CC/02 que “nos contratos escritos, poderão os contra-tantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes”.

Cabe aqui destacar advertência de Stolze e Pamplona sobre a inadmissibili-dade de utilização do domicílio de eleição aos contratos de trabalho, motivada pela necessidade de proteção do empregado, diante da sua reconhecida hipossuficiência, perante o empregador6.

Desse modo, melhor dividir o estudo do domicílio em dois grupos:

5. A determinação do “foro do contrato” pode ser útil para facilitar sua eventual execução e, por vezes, altera a regra geral da competência judicial (vide arts. 94 e 95 do CPC). No entanto, não se perca de vista que as alterações de competência aqui mencionadas referem-se aos casos de competência relativa em razão do valor e território, pois a competência absoluta não pode ser alterada por vontade das partes.

6. GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. novo Curso de direito Civil; Parte Geral. 8ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 251.

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espécies de domicílio

voluntário necessário

Comum Profissional Especial (contratual ou de eleição) –

Para melhor compreensão das categorias tratadas acima, cumpre propor o se-guinte esquema:

espéciesdomicílio(pessoa natural)

voluntário(liberdade de escolha)

art. 76

ocasional – aparente

(lugar onde encon-trado, já que não existe resi dência habitual - art. 73)

Servidor público(o lugar em que exercer perma-

nentemente suas funções)

Militar/Marítimo(o lugar onde servir

/onde o navio estiver matriculado)

incapaz – menor, tutelado

ou curatelado (o mesmo do seu

representante ou assistente)

Em razão da pro­fissão ou atividade

preso (o lugar em que

cumprir a sentença)

outrashipóteses

Agente diplomático

(art. 77)

Cônjuge (art. 1.569)

comum (Geral) Livre escolha - art. 70

Lugar exercício profissional

- art. 72Profissional

especial (de­eleição)

Foro contratual - art. 78, CC/02 e art. 111, CPC)

necessário(determinado

na lei)

Anote-se, por fim, que nossa legislação civil em vigor ainda não disciplinou o denominado domicílio eletrônico, situação que já é uma realidade em alguns setores de nosso quotidiano, como por exemplo, no âmbito da Receita Federal, que desde o mês de julho de 2006 passou a considerar a caixa postal eletrônica (local de recebi-mento de e-mails) como o domicílio tributário eletrônico do contribuinte que optar por esta forma de comunicação. Atualmente é indiscutível a crescente importância da internet em nossas vidas, o que já enseja a necessidade de um marco regulatório

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Anote-se ainda que se a administração da pessoa jurídica tiver a sede no estran-geiro, “haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder” (art. 75, § 2o, CC/02).

O quadro abaixo sintetizará as ideias aqui expostas:

Domicílio­Pessoa­juríDica­(art.­75)

união estados­ e territórios município Demais­pessoas­jurídicas

O Distrito Federal

As respectivas capitais

o lugar onde funcione a

administração municipal

O lugar onde funcionarem

as respectivas diretorias e ad-

ministrações

Onde elegerem domicílio

especial no seu estatuto ou atos

constitutivos.

5. Ex positis

i. Qual­o­mínimo­indispensável­para­estudar­sobre­domicílio?Nas provas de concurso, normalmente as questões de primeira fase, ou seja, as questões objetivas recaem sobre as regras de domicílio legal (necessário) e pluralidade domiciliar, sobretudo com assertivas relacionadas ao domicílio profissional e ao domicílio ocasional do art. 73 do CC/02. Para as questões discursivas, necessário atenção para os efeitos da fixação do domicílio e sua proteção constitucional. A incidência de questões sobre domicílio da pessoa natural costuma ser bem maior do que questões sobre o domicílio da pessoa jurídica. (2 e 3)

ii. domicílio e competênciaAtenção para questões interdisciplinares, que conjugam indagações sobre a espécie de domicílio com as regras de fixação de competência processual existentes no CPC. Especial cuidado deve ser observado nas provas que exi-gem a redação de peças jurídicas (iniciais, contestações, sentenças, parece-res, recursos etc.), pois é bem comum a necessidade de se discutir o foro aplicável ao negócio e/ou o juiz competente para decidir a causa. (3)

iii. domicílio e o cdcNo Código de Defesa do Consumidor admite-se que a ação de responsabili-dade civil do fornecedor de produtos e serviços seja proposta no domicílio do autor, sendo consideradas nulas de pleno direito cláusulas contratuais que determinam de modo compulsório que o foro de eleição é o domicílio do fornecedor. (3)

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6. súmulas apliCáveis

6.1. súmulas do supremo tribunal Federal (stF)súmula 60: Não pode o estrangeiro trazer automóvel quando não comprovada a transferência defini-tiva de sua residência para o Brasil. (196411)

súmula 62: Não basta a simples estada no estrangeiro por mais de seis meses, para dar direito à trazida de automóvel com fundamento em transferência de residência. (1964)

súmula 80: Para a retomada de prédio situado fora do domicílio do locador exige-se a prova da ne-cessidade. (1964)Obs.: veja Súmula 483.

súmula 335: É válida a cláusula de eleição do foro para os processos oriundos do contrato. (1964)

súmula 363: A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato. (DJ 21.11.1963)

súmula 406: O estudante ou professor bolsista e o servidor público em missão de estudo satisfazem a condição da mudança de residência para o efeito de trazer automóvel do exterior, atendidos os demais requisitos legais. (DJ 6/7/1964)

súmula 410: Se o locador, utilizando prédio próprio para residência ou atividade comercial, pede o imóvel locado para uso próprio, diverso do que tem o por ele ocupado, não está obrigado a provar a necessidade, que se presume. (DJ 6/7/1964)

súmula 483: É dispensável a prova da necessidade, na retomada de prédio situado em localidade para onde o proprietário pretende transferir residência, salvo se mantiver, também, a anterior, quando dita prova será exigida. (DJ 10/12/1969)

súmula 484: Pode, legitimamente, o proprietário pedir o prédio para a residência de filho, ainda que solteiro, de acordo com o art. 11, iii, da lei 4494, de 25/11/1964. (DJ 10/12/1969)

súmula 517: As sociedades de economia mista só têm foro na justiça federal, quando a União intervém como assistente ou opoente. (DJ 10/12/1969)

súmula 539: É constitucional a lei do município que reduz o imposto predial urbano sobre imóvel ocupado pela residência do proprietário, que não possua outro. (DJ 10/12/1969)

súmula 583: Promitente comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é contri-buinte do imposto predial territorial urbano. (DJ 3/1/1977)

súmula 689: O segurado pode ajuizar ação contra a instituição previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio ou nas varas federais da capital do estado-membro. (DJ 9/10/2003)

11. Súmula da Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal - Anexo ao Regimento Interno. Edição: Imprensa Nacional, 1964.

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6.2. súmulas do superior tribunal de Justiça (stJ)súmula 1: O foro do domicilio ou da residência do alimentando e o competente para a ação de inves-tigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos. (DJ 02/05/1990)

súmula 58: Proposta a execução fiscal, a posterior mudança de domicilio do executado não desloca a competência já fixada. (DJ 06/10/1992)

súmula 383: A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em prin-cípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda. (DJE 08/06/2009)

7. entendimento reCente dos tribunais superiores (inFor-mativos de JurisprudênCia)

7.1. informativo do stFa) inviolabilidade de domicílioDomicílio. Inviolabilidade noturna. Crime de resistência. Ausência de configuração. A garantia cons-titucional do inciso XI do artigo 5º da Carta da República, a preservar a inviolabilidade do domicílio durante o período noturno, alcança também ordem judicial, não cabendo cogitar de crime de resistên-cia. (informativo 481).

(...) Afastou-se, de igual modo, a preliminar de ilicitude das provas obtidas mediante instalação de equipamento de captação acústica e acesso a documentos no ambiente de trabalho do último acusado, porque, para tanto, a autoridade adentrara o local três vezes durante o recesso e de madrugada. Escla-receu-se que o relator, de fato, teria autorizado, com base no art. 2º, IV, da Lei 9.034/95, o ingresso sigiloso da autoridade policial no escritório do acusado, para instalação dos referidos equipamentos de captação de sinais acústicos, e, posteriormente, determinara a realização de exploração do local, para registro e análise de sinais ópticos. Observou-se, de início, que tais medidas não poderiam jamais ser realizadas com publicidade alguma, sob pena de intuitiva frustração, o que ocorreria caso fossem praticadas durante o dia, mediante apresentação de mandado judicial. Afirmou-se que a Constituição, no seu art. 5º, X e XI, garante a inviolabilidade da intimidade e do domicílio dos cidadãos, sendo equiparados a domicílio, para fins dessa inviolabilidade, os escritórios de advocacia, locais não abertos ao público, e onde se exerce profissão (CP, art. 150, § 4º, III), e que o art. 7º, II, da Lei 8.906/94 expressamente assegura ao advogado a inviolabilidade do seu escritório, ou local de trabalho, de seus arquivos e dados, de sua correspondência, e de suas comunicações, inclusive telefônicas ou afins, salvo caso de busca ou apreensão determinada por magistrado e acompanhada de representante da OAB. Considerou-se, entretanto, que tal inviolabilidade cederia lugar à tutela constitucional de raiz, ins-tância e alcance superiores quando o próprio advogado seja suspeito da prática de crime concebido e consumado, sobretudo no âmbito do seu escritório, sob pretexto de exercício da profissão. Aduziu-se que o sigilo do advogado não existe para protegê-lo quando cometa crime, mas proteger seu cliente, que tem direito a ampla defesa, não sendo admissível que a inviolabilidade transforme o escritório no único reduto inexpugnável de criminalidade. Enfatizou-se que os interesses e valores jurídicos, que não têm caráter absoluto, representados pela inviolabilidade do domicílio e pelo poder-dever de punir do Estado, devem ser ponderados e conciliados à luz da proporcionalidade, quando em conflito prático segundo os princípios da concordância. Não obstante a equiparação legal da oficina de trabalho com o domicílio, julgou-se ser preciso recompor a ratio constitucional e indagar, para efeito de colisão e aplicação do princípio da concordância prática, qual o direito, interesse ou valor jurídico tutelado por essa previsão. Tendo em vista ser tal previsão tendente à tutela da intimidade, da privatividade e da

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nos termos do art. 100, parágrafo único, do CPC. O Tribunal a quo confirmou essa decisão em sede de agravo de instrumento e daí adveio o recurso especial. O Min. Relator ressaltou que houve um fato superveniente – a EC n. 45/2004 – e que todas as decisões foram anteriores à emenda constitucional, logo essa matéria não foi, em momento nenhum, objeto de análise, nem poderia ter sido; consequen-temente, não se pode falar em prequestionamento. Destacou, ainda, quanto à questão dos autos, após a citada emenda, este Superior Tribunal firmou a jurisprudência no sentido de que as ações indeniza-tórias por danos materiais e morais decorrentes da relação de trabalho, desde que não sentenciadas, são da competência absoluta e imediata da Justiça do Trabalho devido ao preceito constitucional. Logo, para o Min. Relator, o mais coerente, nesses casos, é determinar o retorno dos autos ao juiz, para que ele proceda ao exame competencial, agora sob o enfoque da nova norma constitucional. Com esses argumentos, a Turma, por maioria, não conheceu do recurso, determinando o retorno dos autos com as observações da nova jurisprudência decorrente da EC n. 45/2004. Note-se que os votos vencidos conheciam do recurso e davam provimento a ele diante da jurisprudência, à época, antes da emenda constitucional (o foro vigente era o do lugar do acidente, no caso, Barueri) e, fixada a competência a nível infraconstitucional, deixavam, também, registrado quanto à jurisprudência atual. REsp 833.655- SP, Rel. Min. Jorge Scartezzini, julgado em 15/8/2006. 4ª Turma. (informativo nº 293)

j) ação revisional. Competência. Foro de eleição.O foro competente para processar e julgar ação revisional de benefícios previdenciários contra a Previ é o foro de sua sede no Rio de Janeiro, independentemente de figurar no pólo passivo o Banco do Brasil S/A, com sede na capital federal, uma vez que essa não é o foro de domicílio dos autores, que moram em diversos estados da Federação, nem o lugar de celebração do contrato ou de sua execução (CPC, art. 100, IV, a). É facultado à demandante residente em Sobradinho-DF requerer o desmembramento do feito em momento oportuno. Precedentes citados: REsp 331.783- DF, DJ 17/6/2002, e REsp 707.136-DF, DJ 30/5/2005. REsp 780.342-DF, Rel. Min. Jorge Scartezzini, julgado em 21/2/2006. 4ª Turma. (informativo nº 275)

8. Questões de ConCursos

8.1. Questões de múltipla escolha

01. (Analista Judiciário TRE-PE/2004 – FCC) Quanto ao domicílio civil da pessoa natural, é  in-Correto afirmar que

a) se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

b) se muda o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.c) o andarilho, sem residência habitual, tem seu domicílio fixado, fictamente, em Brasília.d) se a pessoa tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu

qualquer delas.e) o lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo é o seu domicílio.

02. (Técnico Judiciário TRF4/PB/2004 – FCC) antonio, vendedor autônomo, vive e reside alter-nadamente em são paulo, rio de Janeiro e Florianópolis. nesse caso, considera-se domicílio de antonio

a) o lugar onde for encontrado.b) aquela em que permanecer mais tempo.c) qualquer dessas cidades.d) aquela em que residir sua família.e) aquela onde estiver a sede de seu empregador.

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a) Considera-se domicílio da pessoa natural, quanto à profissão, o lugar onde esta é exercida. b) Na hipótese a o lugar eleito pela pessoa. c) Na hipótese a o lugar da inscrição em órgão de classe. d) Nenhuma das hipóteses acima.

09. (ANS DIREITO/2007-FCC) uma pessoa jurídica de direito privado estrangeira tem a res-pectiva diretoria sediada em bordeaux (França) e possui filiais no brasil. nesse caso, no que concerne às obrigações contraídas pelas filiais situadas no brasil, haver-se-á por domicílio dessa empresa

a) o lugar em que está sediada a diretoria (Bordeaux-França).b) o lugar da filial situada no Brasil a que a elas corresponder.c) a capital do Estado estrangeiro onde está sediada a diretoria.d) a capital do Estado brasileiro onde estiver a filial a que a elas corresponder.e) o lugar que corresponder à principal filial brasileira.

10. (JUIZ TRT11/2007- FCC) José, servidor público federal, sendo proprietário de um imóvel na cidade de são paulo, alugou-o para antonio. Findo o prazo contratual e tendo de mudar-se para aquela cidade em razão de transferência, onde proverá cargo efetivo, que deseja exercer durante dois anos, tempo suficiente para obter sua aposentadoria, o locador notificou o loca-tário, para desocupar a casa. neste caso, a notificação do locador

a) constitui ato jurídico e José terá apenas residência em São Paulo, mas não terá domicílio.b) e a fixação do domicílio constituem ato jurídico e o domicílio de José será voluntário.c) constitui ato jurídico, mas não é negócio jurídico e José terá domicílio necessário em São Paulo.d) e a fixação do domicílio constituem, respectivamente, negócio jurídico e ato jurídico, e José terá

domicílio voluntário.e) e a fixação do domicílio constituem, respectivamente, ato jurídico e negócio jurídico e José terá

domicílio voluntário em São Paulo.

9. gabarito anotado

Questão Gabaritooficial comentários

onde­encontro ­no­livro

01 C

a) A questão requer a marcação da alternativa incorreta. A presente alternativa está correta, pois extraída do texto do parágrafo único do art. 72 do CC/02

b) A presente alternativa não apresenta incorreção, pois extraída do texto do art. 74 do CC/02. Vale lembrar que a questão requer a marcação da alternativa incorreta.

c) alternativa­correta. A alternativa refere-se ao domicílio ocasional, espécie do gênero domicílio legal (necessário) que está fixado no art. 73. A pessoa natural que não tiver residência habitual, como o andarilho referido na afirmação, terá domicílio no lugar onde for encontrado e não fictamente em Brasília, como propõe a questão.

d) A presente alternativa não apresenta incorreção, pois extraída do texto do art. 71 do CC/02.

e) A presente alternativa não apresenta incorreção, pois extraída do texto do art. 70 do CC/02.

Cap. VI 1 e 2

Do domicílio

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Marcos Ehrhardt Jr.

08 A

a) alternativa­correta, conforme disposto no art. 72 do CC/02.b) Alternativa incorreta, pois o lugar livremente escolhido pela pessoa

natural para residência com ânimo definitivo não configura domi-cílio profissional e sim o domicílio voluntário. O domicílio profissio-nal se define pelo lugar onde a profissão é exercida.

c) Alternativa incorreta. O domicílio profissional se define pelo lugar onde a profissão é exercida e não pela inscrição no órgão de classe.

d) Alternativa incorreta, segundo argumentos mencionados nos itens anteriores.

e) –

Cap. VI 2

09 B

a) Alternativa incorreta. Vide disposto no §2º do art. 75 do CC/02.b) alternativa­correta, conforme disposto no §2º do art. 75. Se a ad-

ministração, ou diretoria, da pessoa jurídica tiver a sede no estran-geiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

c) Alternativa incorreta. Vide disposto no §2º do art. 75 do CC/02. A hipótese é de pessoa jurídica de direito privado estrangeira e não de pessoa jurídica de direito público.

d) Alternativa incorreta. Vide disposto no §2º do art. 75 do CC/02. No tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder, será considerado seu domicílio.

e) Alternativa incorreta. Vide disposto no §2º do art. 75 do CC/02.

Cap. VI 2 e 4

10 C

a) Alternativa incorreta. Havendo intenção (ânimo definitivo), a mu-dança do local de residência implica mudança de domicílio nos ter-mos do disposto no art. 70 c/c art. 74 do CC/02.

b) Por ser funcionário público, nos termos do parágrafo único art. 76, o domicílio de José é necessário, consubstanciando-se no lugar em que exercer permanentemente suas funções. Alternativa incorreta.

c) alternativa­correta. A fixação do domicílio é exemplo de ato ju-rídico em sentido estrito, conforme aprofundaremos no capítulo específico sobre o tema.

d) Alternativa incorreta, conforme demonstrado pelos argumentos apresentados na alternativa “b”.

e) Alternativa incorreta, conforme demonstrado pelos argumentos apresentados na alternativa “b”.

Cap. VI 1, 2 e 3

10. na hora da provaNão esqueça que:

99 Segundo o disposto no art. 70 do CC/02, o domicílio é a sede jurídica dos negócios da pessoa, determinando o lugar onde o indivíduo responderá pelos seus atos. A residência seria um estágio intermediário entre a habitação e o domicílio, no qual, embora exista intenção de permanência, pode o indivíduo ausentar-se temporaria-mente de tal lugar. Ressalte-se que enquanto as noções de habitação e residência pertencem ao mundo dos fatos, baseando-se primordialmente num elemento mate-rial (lugar), o conceito de domicílio, como visto acima, tem natureza jurídica, exigindo para sua configuração, além do elemento material (objetivo) – residência –, um ele-mento imaterial (subjetivo), que pode ser definido como intenção de permanência.

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99 Nossa lei admite pluralidade domiciliar, mas deve-se ficar atento para o fato de que o lugar de exercício profissional só é considerado domicílio para as relações concernentes ao trabalho do indivíduo (art. 72).

99 Têm domicílio necessário, além dos militares e dos marítimos, os servidores públi-cos, os presos e os incapazes.

99 O domicílio das pessoas jurídicas de direito público está fixado no art. 75 do CC/02, sendo o da União o Distrito Federal, o dos Estados e Territórios as respectivas capitais, do Município, o lugar onde funcione a administração municipal e, por fim, o das de-mais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e adminis-trações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

99 Os agentes diplomáticos têm regramento específico no que concerne à fixação do domicílio: uma vez citado no estrangeiro, se alegar extraterritorialidade sem desig-nar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve (art. 77).

11. legislação apliCáveltítulo iii

do domicílio

art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar on-de ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.

art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar on-de esta é exercida.

Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for en-contrada.

art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a resi-dência, com a intenção manifesta de o mudar.

Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.

art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:I - da União, o Distrito Federal;II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;III - do Município, o lugar onde funcione a admi-

nistração municipal;

IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde fun-cionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

§ 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimen-tos em lugares diferentes, cada um deles será considera-do domicílio para os atos nele praticados.

§ 2º Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o ser-vidor público, o militar, o marítimo e o preso.

Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, cita-do no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem de-signar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve.

art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contra-tantes especificar domicílio onde se exercitem e cum-pram os direitos e obrigações deles resultantes.

Do domicílio