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Painel I – Participação dos Pais na Vida da Escola e no Acompanhamento dos Filhos Moderador – Albino Pinto de Almeida

Painel I – Participação dos Pais na Vida da Escola e no ... · O que devemos perguntar aos nossos filhos é: “Estás bem disposto? Como é que correu? ... meramente fiscais,

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Painel I – Participação dos Pais na Vida daEscola e no Acompanhamentodos Filhos

Moderador – Albino Pinto de Almeida

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EDUCAÇÃO E FAMÍLIA

Albino Pinto de Almeida∗

Vamos então começar, por indicação do senhor Presidente do Con-selho Nacional de Educação.

Solicitarei aos oradores, a quem passarei a palavra, que em dezminutos tentem formular as ideias acerca do tema de cada um.

Haverá um período de debate.

Permitam-me ainda acrescentar, antes de lançar o debate, que ostextos escritos serão publicados através das edições normais do CNE.Portanto, a riqueza dos textos escritos ficará para essa altura.

De qualquer maneira, tenho alguma dificuldade, quando modero, emser inteiramente neutro. Também assisti à primeira parte do debate e gostavaque os companheiros de mesa pudessem focar, dentro dos dez minutos quevão ter, alguns aspectos que achei importantes da primeira parte.

Em primeiro lugar, em meu entendimento, a participação dos pais navida da escola faz-se como direito de cidadania. É esse o primeiro direitoque leva os pais à escola. Porque, depois, a segunda parte deste mesmotema, o acompanhamento dos filhos, faz pensar noutra realidade, que é oacompanhamento que fazemos aos filhos em casa. E aí a CONFAP – euaqui sou Conselheiro, mas tenho que também interpretar o sentimento quetemos no terreno –, é de que, a escola, a partir do 1.º ciclo, deixa de ensinare verificar se o aluno aprende. Ou seja, se as famílias acompanharem, se osalunos tiverem explicador, se tiverem computador e tudo o mais, os alunostêm sucesso; se isto não se verifica, teremos problemas de insucesso escolar.

Aparentemente, a equipa que dirige a educação defende a ideia de queserá possível escrever uma lei ou um despacho qualquer que definam muitobem o papel dos pais, o papel da escola. Gostava que se pronunciassemsobre o que é isto no terreno. Sem leis nenhumas até agora, nos últimostrinta anos, a relação escolas – famílias tem zonas de excelência. Costumo

∗ Conselho Nacional de Educação

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SEMINÁRIO

até dizer que as famílias confiam sempre na escola, quando os miúdosiniciam a sua relação com a escola. O que é que se passa para que os nossosfilhos deixem, mais tarde, de gostar de estudar na escola, e nós percamos aconfiança na escola à medida que se avança no percurso escolar dos nossosfilhos? É um fenómeno que importaria que o senhores conferencistaspudessem também focar.

Sobre a forma da participação dos pais, é claro que houve aqui,suponho, um lapso do senhor Prof. Jorge Miranda. Nós defendemos a escolapública com projecto educativo. Daqui a pouco irei ao DEB, com umaescola pública de Matosinhos, com os pais dos alunos e o corpo docente,que vai precisamente defender o seu contrato de autonomia e o seu projectoeducativo. Está-se a caminhar nesse sentido, no que respeita à colaboraçãoentre pais e famílias no ensino público, como aliás já se faz, e bem, noprivado.

Referir-me-ei, por último, à política de família para acompanhamentoaos filhos. Gostava de dizer, partilhando muitas das minhas angústias com aDra. Margarida Neto, que daqui saúdo muito especialmente, assim comotambém saúdo a Dra. Maria de Jesus Barroso que, de facto, temos asensação que não devemos permitir que o loureiro em matéria de políticasde família fique de um lado, e o vinho, fique do outro. Os pais chegam cadavez mais tarde, as exigências para as horas que os pais passam nos trabalhossão maiores, e desejava também que os conferencistas pudessem falar decomo é o acompanhamento dos filhos quando se chega a casa às nove e dezda noite. Como é que vamos acompanhar os filhos nessa altura? A escolanão terá que ser um local de trabalho onde os alunos resolvam os seusproblemas relativos ao estudo? Qualquer dia, os filhos perguntam: “Pai,tiveste bom desempenho no emprego?”, ou “Vais ter de realizar unstrabalhinhos para amanhã renderes mais?” O que devemos perguntar aosnossos filhos é: “Estás bem disposto? Como é que correu? Como é que terelacionaste? O que é que aconteceu na escola?” E não averiguar se os filhosou os netos já fizeram o trabalho de casa, às nove da noite, quandochegamos.

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Portanto, passava a palavra, com estes tópicos, que gostaria pudessemser apreciados na perspectiva de que os pais e alunos são pessoas diferentes,a quem tem que se dar diferente, para se poder chegar por igual.

Passava então a palavra à senhora Dra. Olga de Jesus Avelino, a quemsolicitava uma gestão adequada de tempo, conforme me pede o senhorPresidente do Conselho Nacional de Educação, e quem pede da maneiracomo pede, só pode ser obedecido.

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Participação dos Pais na Vida da Escola e no Acom-panhamento dos Filhos – A Importância da Sintonia e daCoerência

Olga Avelino∗

1. Preâmbulo/Introdução

O tema é-me caro, é-me próximo...

Procurarei partilhar convosco um pouco do meu saber de experiênciafeito, de alguém que, todos os dias, está no terreno e que obviamentetambém estuda estas problemáticas.

Tendo em conta o País, as suas assimetrias, as diferentes escolas eníveis etários e a enorme diversidade de famílias...

São as minhas convicções, os meus pontos de vista necessariamentesubjectivos e falíveis que despretensiosamente me apraz partilhar convoscoe que as outras intervenções enriquecerão e o debate virá a animar e acompletar.

2. Participação

O que é participar?

Participar é fazer parte integrante, acompanhar solidariamente, ter outomar parte, ter a natureza de, ter as qualidade comuns a algo...

neste caso a Escola, a Vida da Escola...

E a Escola é feita de, por e para pessoas: Alunos, os Educadores daEscola (Professores e não só) e os Pais.

∗ Colégio S. João de Brito

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Assim, e tendo em conta a Comunidade Educativa numa perspectivatripla, a Escola tem de abrir-se, tem de solicitar, tem de envolver os Pais,tem de ser apelativa e tem de deixar-se também interpelar.

Partindo da sua própria reflexão descobre a sua identidade, tem o seuprojecto educativo específico e a Escola é nuclear, complementando os Paisna sua acção educativa.

Claramente da Escola ressaltam dois grandes objectivos:

– formar – à luz de uma escala de valores partilhados com asFamílias.

– informar – potenciando as capacidades dos alunos, desenvolvendoas competências inerentes a cada faixa etária no cumprimento deconteúdos programáticos.

Ao referir o primeiro grande objectivo utilizei o termo escala apropósito dos valores e não o fiz por acaso.

Escala é sucessão, sequência, categoria, mesmo uma série de sonsmusicais que se sucedem por certo número de conjuntos que podem serascendentes ou descendentes.

No nosso caso teremos de ter na escala não exactamente os sonsmusicais, mas sim valores trabalhados, vividos em sintonia e coerência.

Visamos a formação integral, procurando criar condições para que oaluno, individual e colectivamente, consiga ser ele mesmo nas diversascondições etárias, psicológicas e sociais. Formar não para conformar, maslevar os alunos a serem capazes de transformar o mundo e as estruturassociais concretas.

Neste contexto considero que as metas podem ser altas, ambiciosas,mas creio que o devem ser, recusando a corrente tão evidente da ambição dedominar e possuir, da ganância e do lucro, da injustiça, da auto-suficiência edo individualismo; para estes anti-valores propõe-se o pugnar e o viver os

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valores da comunhão e da participação, do desprendimento e da liberdadeinterior, da paz e não violência, da abertura e do serviço aos outros.

Alguns dos valores atrás citados têm obviamente uma repercussãosocial, mas há uma dimensão pessoal que me importa também referir, já queo aluno deve ser educado num sentido autêntico de: responsabilidade,liberdade, equilíbrio e maturidade, desenvolvimento da imaginação ecriatividade, constância e firmeza sem se deixar deprimir pelo trabalho,capacidade de estima e admiração, desenvolvimento dos mecanismos decomunicação, entre vários outros.

E nesta Educação por e para os valores, Pais e Professores têm deestar próximos, sendo os Pais efectivamente Pais (todos nascemos filhos evamos aprendendo a ser Pais) e procurando os Professores não sersubstitutos dos Pais, mas antes coadjuvando-os na sua acção formativa.

3. E então o Acompanhamento...

O que é acompanhar?

Acompanhar – estar ou ir em companhia de alguém; seguir commúsica adequada o que se canta, recita ou executa com outros instrumentos;possuir os mesmos sentimentos de outrem; escoltar; guarnecer; seguir.

Participar e acompanhar não é substituir.

Exercendo a sua autoridade, indicando os limites, não sendomeramente fiscais, vivendo o amor, os Pais serão cada vez melhores Pais,sem entrar na esfera de acção dos Professores já que, esses sim, têm a suaformação científica e pedagógica e são os especialistas dentro da Escola.

Frequentemente, quando ouvimos teorizar sobre estas matérias,refugiamo-nos nas questões:

– Mas como fazer?

– E onde vamos ter tempo para tudo isto?

– Ou ainda: E quem nos paga para tal?

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A motivação está exactamente nos objectos do nosso labor que afinalsão sujeitos – os nossos filhos, os nossos alunos.

Receitas tipo “fast food” não existem, mas elaboram-se no dia-a-diacom todo o ânimo...

O tempo e a disponibilidade inventam-se...

E o pagamento também nos é feito pelo gozo de ver crescer apesar dosretrocessos nos avanços.

A escola não é mais o espaço onde se dão as matérias.

Do lado dos Pais, não apenas para o futuro, mas já, participa-seestando com a Escola, o que não significa obrigatoriamente ir à Escola, mastambém.

Do lado da Escola, inventem-se formas de provocar a participação dosPais e de fomentar o acompanhamento dos Filhos.

São imensas as estratégias que a Escola pode utilizar para fazer vir osPais à Escola.

– Reuniões de Pais diversificadas (por ano, por turma, temáticas);

– Entrevistas individuais, também logo no início do ano lectivo e nãoapenas após surgirem os problemas;

– Festas;

– Convívios;

– Teatros;

– Jogos;

– Campanhas;

– Exposições;

– Visitas de Estudo;

– Dias de ...

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Aí se comunica, se geram cumplicidades, se fortalecem as referênciastão importantes no crescimento dos filhos/alunos.

Aliás, a comunicação tem de ser uma constante, tem de fluir, tem deser efectiva entre as Famílias e a Escola, e vice-versa, desde os pequeninosdo Jardim-de-Infância até ao Secundário.

Assim se pode interagir e prevenir mais do que curar:

– dificuldades de integração;

– situações de isolamento;

– desajustamento na Leitura, Escrita ou Cálculo;

– instabilidades emocionais;

– problemas de concentração;

– uso de álcool, drogas e outros.

Nos meus encontros com os Pais, nas muitas reuniões de Pais em quetenho participado, sempre prometo e peço cooperação e lealdade, sintonia ecoerência.

Cada vez mais estou convicta da importância destes pontos.

Permitam-me que destaque os dois últimos.

Sintonia, que é acordo de frequência entre um emissor e um receptor,que é simultaneidade, que é acordo mútuo (de sentimentos, ideias, etc.).

Coerência, que é o estado ou qualidade de ser coerente, que é nexoentre dois factos ou duas ideias, que é conexão.

Esta sintonia, esta coerência vivenciadas na Família e na Escola sópodem contribuir para termos Pais e Professores, de facto, coerentes –elementos bem ligados, conformes, lógicos, elementos que querem coerir: overbo é pouco usado no nosso quotidiano, mas significa aderir recipro-camente.

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Há que coerir para o bem maior que são os nossos jovens e para quenós mesmos tenhamos “mais prazer em percorrer com eles uma estrada quese deseja mais larga e, se possível, percorrida com menos sobressaltos”.

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Para Além da Análise Sistémica: Excepções, Soluções e“Milagres” na Relação Família-Escola

Luís Miguel V. A. Neto∗

Resumo:

Com base na reflexão sobre a experiência de vinte anos de trabalho clínico comfamílias, grupos profissionais e pessoas individuais orientada pelo modelo sistémico deintervenção, o autor propõe a consideração de algumas das estratégias próprias daquelemodo de actuação aplicadas no horizonte definido pela problemática das relações escolafamília. Sublinha-se, em particular, as possibilidades oferecidas pela aplicação dos modelosorientados para a solução na intervenção em sistemas humanos, em particular a oriunda daperspectiva do grupo de Milwaukee, de Steve de Shazer e Insoo Kim Berg. Referem-seainda, a título ilustrativo, as metodologias da gestão coordenada do sentido e do inquéritoapreciativo com o objectivo de alargar as possibilidades de intervenção estratégica dosoperadores sociais que de algum modo enquadrem o seu trabalho no contexto da relaçãoescola família.

1. Agradecimento

Desejo começar com o meu sincero agradecimento ao ConselhoNacional de Educação e à senhora Coordenadora Nacional para os Assuntosda Família, Dra. Margarida Neto, com a qual partilho, por coincidência, onome e a experiência de formação no quadro do modelo sistémico deintervenção em sistemas humanos. Estou convicto de que a intençãosubjacente a esta iniciativa é, à partida, do mais elevado interesse, não mesendo difícil imaginar que as suas consequências sejam do maior valor paraa comunidade associada à vida escolar.

∗ Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Universidade de Lisboa

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2. Apresentação e Referenciais

O contributo que proponho à vossa consideração é necessariamentelimitado, circunscrevendo-se às características próprias da minha expe-riência de actuação e dos referenciais de literatura e investigação que lhetêm vindo a servir de suporte nas últimas duas décadas. Assim sendo,permito-me definir sumariamente a trajectória que percorri, aproveitando oensejo para homenagear algumas das pessoas, professores, colegas e outroseducadores com quem tive o gosto de trabalhar directamente. Peço assim avossa compreensão para as referências pessoais que se seguem e solicito avossa indulgência, baseado na ideia de que, ao perceber melhor a pessoa,melhor se compreenderá a perspectiva para que ela aponta. Tendo terminadoa licenciatura em Psicologia no ano de 1983, passei a integrar a equipa doProfessor Francisco Pina Prata, um dos pioneiros da Psicologia Social eintrodutores do pensamento sistémico no nosso país. Pessoalmente marcantee historicamente significativa foi a realização naquele ano do I EncontroEuropeu de Terapia Familiar, realizado em Lisboa e em cuja organizaçãotrabalhei. Nessa altura, as ideias e conceitos orientadores da intervençãosistémica circunscreviam-se praticamente à descrição tipológica dasfamílias, à sua dinâmica e seu funcionamento. No quadro do horizonteteórico e prático definido pelo modelo sistémico resultava, então, que aperspectiva de intervenção em situações que implicassem a escola e opercurso escolar de crianças ou jovens era feita na óptica da dinâmicaprópria da família e em particular no que era diagnosticado como défice oudesequilíbrio funcional. A ideia fundamentadora daquela perspectiva era ado diagnóstico, avaliação e intervenção ao nível da função desempenhadapelo comportamento sintomático num dado sistema de relações.Pragmaticamente, as questões orientadores do interventor sistémico eram dotipo:

• Qual a função do comportamento sintomático da criança ou jovemno contexto das relações da família? Quais os dinamismos demanutenção da homeostase familiar? Que alianças ou “casamentosprincipais”, se observam na interacção da família?

• De igual modo no que respeita às dificuldades de relação escolafamília, as questões orientadoras de intervenção sublinhavam a

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importância de consideração dos comportamentos e relações entreos dois sistemas como elementos integrantes da rigidez funcionalinter-sistémica. O interventor era, nesta óptica e nesta época,sobretudo um de-estruturador, intervindo com vista à eliminaçãodos constrangimentos impostos pela dinâmica de interacçãointer-sistémica, vista como determinante dos comportamentos,discursos e ideações individuais.

Posteriormente, já no âmbito dos trabalhos conducentes ao douto-ramento na Universidade de Massachusetts em Amherst, tive a oportunidadede aprofundar a orientação que privilegia o estudo da comunicação nossistemas humanos. Tendo tido o privilégio de simultaneamente integrar asequipas do programa de terapia familiar orientada por Janine Roberts e doprograma dos estudos de comunicação cujos líderes eram, então, BarnetPearce e Vernon Cronen, verifiquei as possibilidades oferecidas pelosmodelos comunicacionais aos interventores psico-sociais e educadores. Comefeito, e referindo-me apenas à literatura relativa ao modelo da gestãocoordenada de significações/sentido, na tradução que propôs paraCoordinated Management of Meaning, ou CMM, como é habitualmenteconhecido, verifica-se um incremento significativo na margem de manobrana intervenção no âmbito das relações nos sistemas humanos e entre eles.Julgo que, pelo menos no nosso contexto educacional, não estão aindaesgotadas todas as possibilidades e recursos desta metodologia, apesar dasmúltiplas utilizações que já foram efectuadas no sistema de saúde do nossopaís, por via dos trabalhos de investigação-acção que tenho vindo a orientarno âmbito do mestrado de Comunicação em Saúde da Universidade Abertade Lisboa.

Seguiu-se um período, correspondendo a meados da década de 1990,onde tive a oportunidade de me aperceber das soluções encontradas ao níveldo sistema universitário inglês relativas aos desafios colocados pelo ensinodo modelo e práticas sistémicas. Isto porque nesta altura integrei enquantoexternal examiner o quadro docente da Universidade de Luton em Londres,colaborando simultaneamente com o Kensington Consultation CenterInternational, fundação dirigida por Peter Lang e Martin Little. Esta fasepermitiu-me alargar o conhecimento das implicações e consequências do

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tipo de intervenção a que me tenho vindo a reportar por via da participaçãoem formações e programas de Master em realidades nacionais tão distintascomo a da Colômbia e a dos países escandinavos. Retenho muitoespecialmente a ideia relativa à extrema plasticidade de intervenção eadaptação do modelo sistémico social e construcionista a contextos que iamda formação de polícias de rua nos EUA, efectuada por Vernon Cronen, àsexperiências de mediação comunicacional entre camponeses e autoridadesna Colômbia orientada por Barnet Pearce e Sara Cobbs, à intervenção comprofessores de escolas em zonas socialmente “difíceis” na Suécia, Irlanda,Inglaterra, e Portugal, na qual tive o ensejo de participar e que integrou,entre outros, Peter Lang e Elspt MacAdam. São particularmente caracte-rísticas desta fase as possibilidades operativas oferecidas pela metodologiadesignada Inquérito Apreciativo ou, numa tradução mais adaptada, Inda-gação Apreciativa. Esta metodologia decorreu dos trabalhos de Svristava eCooperrider, com quem em Londres trabalhei, situando-se, inicialmente, noâmbito do desenvolvimento organizacional, tendo sido depois alargada eadaptada a outros contextos.

Mais recentemente, a colaboração com as Universidades de Sala-manca, Sevilha e la Coruña, em larga medida ao abrigo do programaErasmus, têm-me permitido e à equipa de alunos que supervisiono umaatenção particular a aspectos especializados do modelo em causaprocurando, agora, uma adequação a realidades históricas e sociais maispróximas da nacional. Com efeito, e no quadro do Programa Erasmus, acirculação de docentes e alunos das universidades espanholas mencionadase da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade deLisboa, tem permitido a investigação e a adaptação do modelo centrado nassoluções, de Steve de Shazer e Insoo Kim Berg.

De seguida, irei proceder a um aprofundamento dos referenciaismetodológicos evocados nesta apresentação. Por razões que se prendemcom o nível de complexidade das metodologias em causa seguirei a ordeminversa das referências mencionadas na apresentação.

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EDUCAÇÃO E FAMÍLIA

3. A orientação para a solução nos sistemas humanos aplicada à relaçãofamília-escola

A abordagem orientada para as soluções nos sistemas humanos,habitualmente associada ao grupo de Milwaukee de Steve de Shazer e InsooKim Berg, parece-me merecer a nossa maior atenção dadas asconsequências pragmáticas já evidenciadas. A sua utilização no contexto dosistema educativo e aplicação no domínio das relações escola família foi jádefinida por Metcalf (1995). São próprias desta abordagem a identificação eexplicitação das excepções dos problemas, a amplificação do funcional, asatribuições de controlo, a avaliação com pressuposto salutogénico, aincidência nas soluções locais.

Com o objectivo de concretizar as linhas gerais e filosofia destaabordagem, exemplificamos no quadro junto algumas das estratégias que lhesão próprias.

Quadro 1: Estratégias orientadas para a solução (Adap. Metcalf) (1985).

1.Abrir possibilidades utilizando um discurso que evita a patologização, atribuiçãode culpas e identificação de “bodes expiatórios”;

2. Considerar os diagnósticos um luxo e não uma necessidade;

3.Levar a que alunos, professores e encarregados de educação fiquem maismotivados criando condições para que os seus objectivos sejam expressos erespeitados;

4.Considerar a hipótese de existência do efeito de “bola de neve positiva” nossistemas humanos: uma pequena mudança pode gerar grandes consequências;

5.Considerar a hipótese de que alguns problemas humanos poderem ter soluçõessimples; Quando se adopta estrategicamente a visão do mundo dos actores dossistema escolar e familiar diminuem-se as resistências destes e encoraja-se acooperação;

6. Atacar os problemas das pessoas e não as pessoas detentoras dos problemas;7. Atender a que todas as queixas têm implícitas excepções;

8.Conseguir objectivos realistas aproxima-se mais da maratona do que de umaprova de velocidade;

9.Reconhecer que as mudanças rápidas podem ocorrer quando se identificamexcepções;

10. Reconhecer que as mudanças mais fundamentais são de ordem atitudinal;11. Olhar os problemas de forma diferente é começar a encontrar uma solução;

12.Atender a que não é consequente – nem económico – tentar mudar o que jáfunciona num sistema humano ou na relação escola família.

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SEMINÁRIO

4. A Indagação Positiva (IA) de David Cooperrider e Srivstava adaptadaà problemática das relações escola família

O modelo de desenvolvimento organizacional de Cooperrider eSrivistava tem merecido entre nós alguma atenção na sua aplicação aocontexto educacional e formação de professores (Neto e Marujo, 2001). Seme permitem continuar o desvelo da auto-referência julgo que muitaspossibilidades estão ainda em aberto por esta perspectiva que pretendedefinir um horizonte para além das metodologias habituais da resolução deproblemas. As possibilidades aqui abertas decorrem da constatação um tantoprosaica, porém prenhe de consequências a diversos níveis, de que a vidanão é, apenas, “um problema a seguir a outro”.

Ilustramos esta perspectiva com o quadro 2, adaptado a partir de Netoe Marujo (2001) que pretende, precisamente, ilustrar as diferenças entre oIA e as metodologias correntes de resolução de problemas.

Quadro 2 – Resolução de problemas e indagação apreciativa.

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS VISÃO/INDAGAÇÃO APRECIATIVA1. Diagnosticar os problemas e as

necessidades sentidas1. Identificar o que funciona; valorizar o

que está operacional2. Descobrir e analisar as causas do que foi

identificado como problema2. Idealizar o que se “pode e deve”

concretizar3. Analisar as possíveis soluções ou

tratamentos3. Dialogar sobre a concretização

4. Aplicar a solução ou tratamento 4. Inovar na práticaPRESSUPOSTOS: PRESSUPOSTOS:

As pessoas grupos e organizações sãoproblemas que devem ser resolvidos

As pessoas grupos e organizações são“mistérios” à espera de seremcompreendidos

Os pais, professores, técnicos, são umaespécie de bombeiros a actuarpermanentemente em emergências

Os responsáveis educativos são comotreinadores que ajudam a jogar mas não sãoeles que marcam golos

De interesse, parece-me, é também a referência às “proposiçõesprovocativas” do IA:

1.Em todas as sociedades, organizações, famílias há algo que funciona; de outromodo o sistema já não existiria. Importa por isso identificar o que está a dar vidaao sistema.

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EDUCAÇÃO E FAMÍLIA

2.A atenção é o bem mais precioso dos sistemas humanos. Aquilo a que damosatenção transforma-se na “nossa realidade”

3No horizonte da experiência vivencial o único momento que conta é o presente.Contudo, para compreender o momento presente devo considerar a história e asexpectativas

4Ao colocar questões estamos a influenciar representações e comportamentos.A intervenção nos SH pode ser mais consequente se for mais interrogativa do queafirmativa

5As pessoas caminham mais seguras em direcção ao futuro quando levam consigopartes do passado que viveram e conhecem

6Se decidirmos acompanhar as pessoas na sua caminhada em direcção ao futuro,isto é, intervir nas mudanças dos sistemas humanos, é importante que se transporteos elementos mais valorizados da experiência pessoal

7As diferenças são um bem insubstituível nos SH devendo por isso ser respeitadas evalorizadas

8A linguagem (re)cria o mundo: Uma linguagem de problemas (re)cria um mundode problemas

5. A gestão coordenada de significações como óptica de análise

O modelo da gestão coordenada de significações/sentido tornou-se nosúltimos vinte anos uma referência central nos estudos da comunicação,deslocando-se de uma posição de marginalidade na literatura daquela áreapara um lugar de, no mínimo, alguma visibilidade. Por ter trabalhado comos seus autores fundadores, tal circunstância é-me particularmente grata. Pormotivos de ordem prática saliento aqui apenas algumas das suas vertentes,ilustrando com um exemplo prático um tanto extemporâneo em relação aotema mas revelador do seu potencial analítico. Na sua arquitecturaconceptual, o CMM considera a articulação entre as cinco categorias:Cultura, Identidade (self), relações, episódios, e actos de fala. Estascategorias articulam-se com literaturas científicas de diferentes domínios:Antropologia, Comunicação, Sistémica Familiar, Interaccionismo Sim-bólico, Etogenia, Socio-Linguística. Trata-se, como é bem de ver, de ummodelo muito integrativo, aconselhado como instrumento analítico emsituações de elevada complexidade sistémica ou comunicacional. Nocontexto nacional tem servido, como disse atrás, como referente eminvestigações adstritas ao sistema de saúde. Destaco algumas dasinvestigações efectuadas no nosso país e que se reportam àquele modelo:Transmissão de Más Notícias por Técnicos de Saúde, Comunicação da

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SEMINÁRIO

Equipa de Saúde no Acompanhamento de Grávidas, O Ensino da Ética naFormação dos Estomatologistas, Expectativas e Adesão ao Tratamento deMulheres Mastectomizadas, A Comunicação dos Técnicos de Saúde aPessoas Idosas e outros.

Julgo que a versatilidade deste modelo o poderá tornar num instru-mento utilíssimo, não apenas associado ao contexto do sistema de saúde,mas também de ensino.

Bibliografia

Metcalf, L. (1995). Couseling Toward Solutions: A Practical Solution Focused program forWorking with Students, Teachers and Parents. Nova Iorque: Center for Applied Researchin Education.

Neto, L., Marujo, H. (2001). Optimismo e Inteligência Emocional: Guia para Educadores eLíderes. Lisboa: Presença

Using CMM: The Coordinated Management of Meaning, retirado do sítiowww.pearceassociates.com em 22 de Julho de 2001.

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EDUCAÇÃO E FAMÍLIA

Participação dos Pais na Vida da Escola e no Acom-panhamento dos Filhos – A Perspectiva de uma Associaçãode Pais

João Asseiro∗

I – Nota Introdutória

Quando o CNE me convidou para participar neste Seminário sobre otema “A Família e Educação: Que relação para o Futuro”, encarei esteconvite com um sentimento misto de desafio e preocupação.

Desafio pelo facto de ser pai e membro de uma Associação de Pais(AP) de uma Escola de Serviço Público, e poder relatar a minha expe-riência enquanto tal; preocupação pelo facto de na minha auto--avaliação, me questionar se de facto estou à altura dos acontecimentos, ouseja, se como pai, estou a transmitir os melhores princípios e valores aosmeus filhos.

Falar especificamente sobre a participação dos Pais na vida da Escolae no acompanhamento dos filhos não é tarefa simples mesmo para quemcomo eu tem funções numa AP, no entanto, e dada a importância do temavou procurar transmitir, a esta assembleia, o meu testemunho como pai ecomo educador.

II – A Participação dos Pais na Escola

É uma verdade inquestionável, que são os pais os primeiroseducadores dos seus filhos, são os pais que têm a liberdade de escolha daEscola e do projecto educativo para os seus descendentes.

Mas será que todos os pais estão conscientes desta responsabilidade?

∗ Presidente da Associação de Pais do Colégio Rainha Santa

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SEMINÁRIO

Será que todos os pais exercem este direito de forma consciente eobjectiva?

A resposta é infelizmente negativa.

Ainda temos muitos Pais que vêem na escola um “depósito” para osseus filhos, na qual delegam a formação e a educação dos seus filhos. A suaparticipação na vida da Escola é nula e quando esporadicamente o fazem,tentam fazê-lo da pior forma, intervindo na área pedagógica, seguramente aque menos lhes diz respeito.

A Escola deve ser vista cada vez mais pelos pais, como uma parceirana educação dos seus filhos, uma comunidade educativa, na qual,participam activamente todos os elementos que dela fazem parte, corpodocente, corpo não docente, alunos, pais e Direcção da Escola.

O papel dos Pais na Escola deverá ser cada vez mais um papelcomplementar do trabalho efectuado pelos restantes elementos, um papel deconforto, como que uma rede de apoio para os momentos mais difíceis.

É muito importante a presença dos Pais na Escola na perspectiva atrásreferida, esta presença constitui uma forte contribuição para a auto-estimada comunidade, para a valorização do trabalho efectuado no dia-a-dia,seguramente um contributo muito positivo para o aproveitamento escolardos alunos.

A Escola por sua vez, deverá ser também um polo aglutinador devontades, um local onde os Pais possam reaprender e superar lacunas emáreas específicas ligadas à educação dos seus filhos.

Ser pai é um processo permanente de aprendizagem. No mundoglobalizado em que vivemos e face à complexa e variadíssima informação aque nós e os nossos filhos temos acesso, os valores vão-se diluindo, face aum ambiente externo cada vez mais hostil.

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A Escola pode ter e terá aqui seguramente, um papel relevante,nomeadamente através da capacidade de acolher e dar respostas aos pais.A lógica da parceria entre Escola e Pais só faz sentido se cada um deles forcapaz de partilhar vontades, esforços e quereres.

É neste contexto que as Associações de Pais podem desempenhar umpapel importante em conjunto com especialistas na área da educaçãoparental, preparando soluções e respostas aos problemas dos pais.

As Escolas de Pais surgem naturalmente como iniciativas muitoválidas e no contexto actual podem ser uma mais-valia para os Pais,ajudando-os a ultrapassar dificuldades, a partilhar problemas comuns, naforma como devem encarar a educação dos seus filhos.

É neste contexto que no Colégio Rainha Santa Isabel, a AP e aDirecção do Colégio, em parceria com a Faculdade de Psicologia e Ciênciasda Educação da Universidade de Coimbra, estão a iniciar o projecto daEscola de Pais.

O 1.º passo deste projecto foi a elaboração de um questionário comperguntas de resposta múltipla e de tipo hierarquizado. A taxa de resposta aoinquérito foi de 30% do universo total dos pais da Escola.

Os resultados do inquérito mostram-nos as necessidades de educaçãodos Pais nas diversas áreas, as quais são transversais, quer em relação aoextracto sociocultural, quer ao nível da sua formação académica, quer aindaem relação ao ciclo de ensino que os filhos frequentam.

A título de exemplo passo indicar por ordem decrescente os 10conteúdos referidos pelos Pais com interesse e muito interesse:

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SEMINÁRIO

Quadro 1

À pergunta, sobre qual o local preferido para a realização deactividades de educação dos pais, um número bastante elevado é de opiniãoque essas actividades podem e devem ocorrer no estabelecimento de ensinoque os filhos frequentam no caso em concreto, o Colégio.

Quadro 2

Locais para a realização de actividades

paróquia/igreja

centro de formação

faculdade

centro de saúde

local de trabalho

junta de freguesia

colégio

5.0

4.5

4.0

3.5

3.0

2.5

2.0

1.5

de pais

955As novas tecnologias e a educação

964Pais e socialização dos filhos

964A adolescência

964Prevenção da toxicodependência

964Problemas de comportamento

973Os métodos de estudo

982Pais e desenvolvimento afectivo dos filhos

982Comunicação pais – filhos

982Estratégias de gestão de comportamentos

991Pais e desenvolvimento cognitivo dos filhos

Com/muito Nenhum/pouco

Gra

u de

con

cord

ânci

a

Gráfico 2 – Grau de concordância relativamente a locais onde poder-se-ão realizar actividades de educação

Quadro 1 – Conteúdos de Educação de Pais:Interesse

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E os alunos, vêem com bons olhos a presença dos seus pais na Escola?

Podemos ir procurar a resposta a esta questão importante e pertinentea duas fontes:

• Aos estudos técnicos efectuados por investigadores

• Às práticas do dia nas Escolas.

Em ambas as situações, quando as parcerias e as envolvências sefazem através de equipas compostas por professores, alunos, pais eelementos da Direcção da Escola, as conclusões apontam para uma reacçãomuito positiva dos filhos/alunos à presença dos Pais na Escola, quer se tratede parcerias específicas destinadas a melhorar o resultado concreto de umconjunto de alunos numa determinada disciplina, quer se trate de parceriasglobais de médio prazo, como seja o planeamento e a execução do projectocultural da Escola.

E a Escola, está preparada para receber os Pais? Para efectuar comeles estas parcerias?

A capacidade ou incapacidade da Escola para se envolver nestasparcerias é o factor crítico de sucesso, para atingir padrões altíssimos dequalidade pedagógica e académica.

Quero acreditar que ainda há Escolas, espero que poucas, que não têmmassa crítica com vontade para efectuar este envolvimento, também nãohaverá incentivo a essa vontade, quer pelo conformismo dos seus elementos,quer pela inércia da sua gestão.

É pena que isso aconteça no nosso País, mas talvez esteja aqui umaparte da explicação e das razões para que Portugal tenha uma das maiorestaxas de abandono escolar da UE e até da OCDE.

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III – O acompanhamento dos Filhos

O que dizer agora do acompanhamento dos filhos pelos pais? Esta é aparte mais difícil do tema aqui tratado e eu não escapo a essa dificuldade.Questiono-me muitas vezes se eu estou a dar o meu melhor no acom-panhamento dos meus filhos (no caso concreto, duas filhas), até pela razãode ter uma ocupação profissional muito intensa.

Não tenho resposta objectiva para esta interrogação, que épermanente. Vou fazendo o meu melhor, mas, será que o que estou a fazer émesmo o meu melhor? As minhas interrogações continuam, talvez daqui auns anos terei as respostas a estas perguntas.

Será que os pais estão a cumprir a sua parte; a formação da pessoa nasuas variadas vertentes: da cidadania, da amizade, do respeito pelos outros,da tolerância, do sentido da responsabilidade e do esforço, do espírito degrupo, etc.?

Aos pais compete criarem o ambiente familiar propício para que osfilhos apreendam os valores e consolidem a informação ministrada naEscola.

Esta, não é seguramente uma tarefa fácil de executar, até porque, adiversidade de situações familiares não permite padronizar comportamentos,nem impor modelos, no entanto há formas de ultrapassar estas dificuldades.A mais importante, na minha opinião, é a comunicação veiculada da Escolapara casa, quer através dos professores, quer através das AP, quer através dacomunidade envolvente.

A comunicação escrita assume aqui um papel relevante, em especialos comentários dos pais e professores complementados, sempre, comreuniões com carácter periódico permanente.

Os TPC não devem ser feitos pelos pais ou em centros especializadosde apoio ao aluno, como os que existem espalhados pelas cidades do nosso

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País e que mais não visam do que preencher tempo não disponibilizadopelos pais, numa óptica mais ou menos mercantilista.

Os TPC devem ser feitos pelos filhos e devem servir, sobretudo, parainteragir com os pais sobre o que estão a aprender na Escola.

A ajuda em casa, dos avós e/ou dos pais, só pode significar: encorajar,ouvir, reagir, premiar, guiar, supervisionar e discutir, e não ensinar osconteúdos escolares.

Tenho ouvido muitos comentários de pais que dizem que são os“melhores amigos dos seus filhos”. Apetece-me perguntar, a esses pais, esempre que há oportunidade faço-o, se é isso que os seus filhos esperamdeles?

Na minha opinião os pais não devem querer ser os melhores amigosdos seus filhos, porque não é isso que, genericamente, os filhos esperam denós! Os filhos esperam e vêm-nos como pais, esperam de nós autoridade,esperam de nós rigor, esperam de nós amizade, esperam de nóssolidariedade, mas, sobretudo, esperam de nós exemplos e atitudespositivas.

Os pais têm o dever de acompanhar permanentemente os seus filhos,de serem exigentes com eles, de lhe transmitirem os valores soberanos dapessoa humana tais como:

– A ética,

– O respeito por si e pelos outros,

– A solidariedade,

– A responsabilidade pelos seus actos.

– A Amizade

Os nossos filhos esperam sobretudo de nós, que, os ensinemos aser futuros pais!!

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SEMINÁRIO

“Educar crianças é talvez a tarefa mais importante e desafiadora que a maior parte de nós executa. É um compromisso para toda a vida – por vezes descrito como a única tarefa que temos na vida – e o facto de a executarmos bem tem a probabilidade de ter um impacto nas gerações futuras, tendo um papel significativo na modelação dos valores e atitudes que os jovens tomam até às suas próprias relações adultas e a sua abordagem em serem pais por sua vez.”

(Pugh, De`Ath & Smith, 1994, p. 9)

Agradeço o tempo que me concederam, espero que este meu simplescontributo, através de alguns alertas que vos deixo, nos ajudem a todos, acumprir esta nobre missão que é ser mãe e pai.

Termino agradecendo o amável convite formulado pelo CNE,apresentando uma citação da Prof. Pugh, que penso resume tudo aquilo quefoi dito, de uma forma muito objectiva:

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EDUCAÇÃO E FAMÍLIA

Comunicação e Cooperação entre Meio Familiar e MeioEscolar

José Morgado

Na agenda de preocupações sobre o desenvolvimento da qualidade dossistemas educativos surge de forma destacada a problemática doenvolvimento e participação dos pais no percurso escolar dos alunos. Defacto, os aspectos ligados às dinâmicas familiares, nos seus múltiplosformatos, e a sua relação com o meio escolar consideram-se actualmentecomo importantes factores contributivos para o desenvolvimento depercursos educativos bem sucedidos e, portanto, para a construção deprojectos de vida promotores de realização pessoal e profissional para todosos indivíduos. Esta importância decorre, entre outros aspectos, doentendimento de que a educação funciona num contexto sistémico em quetodos os intervenientes, a partir dos seus diferentes papéis, concorremconcertadamente para que o processo de educação de uma criança ou jovemse desenvolva de forma equilibrada e com qualidade.

Neste contexto, importa considerar que as mudanças maisrecentemente operadas nas comunidades e decorrentes das formas emodelos de desenvolvimento a que assistimos, têm vindo a implicarajustamentos no próprio funcionamento dos sistemas familiares o que,naturalmente, obriga a que também a escola sinta a necessidade de ajustar oseu papel na formação global das crianças e jovens. A observação do que sepassa neste âmbito permite considerar que a qualidade e níveis decooperação entre o espaço familiar e o espaço escolar estarão longe de seconsiderarem satisfatórios para todos os intervenientes.

Tentando analisar esta realidade e reflectir sobre algumas mudançasqualitativas consideremos alguns aspectos.

Em primeiro lugar, parece-nos fundamental a afirmação clara epersistente de que a qualidade da educação também depende do nível e

Departamento de Psicologia Educacional do Instituto Superior de Psicologia Aplicada

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SEMINÁRIO

qualidade da cooperação entre os pais e a escola. Em segundo lugar,julgamos necessário que se proceda a uma clara definição dos respectivospapéis.

Embora possa parecer clara a diferença existente, as práticas a quecom alguma frequência assistimos parecem mostrar que algo haverá a fazerneste domínio. Como exemplo pode referir-se a forma como frequentementeé gerido o chamado “trabalho de casa”. De facto, sendo certo que os paispodem e devem colaborar com os filhos na realização de “trabalho emcasa”, não pode depender da capacidade de ajuda dos pais a realização bemsucedida dos “trabalhos de casa”, pois nem todos os pais possuirão essacapacidade de ajuda, não sendo aliás essa a sua função.

Nesta perspectiva torna-se necessário definir claramente a naturezacomplementar e não de sobreposição dos diferentes desempenhos, ainda quea escola no exercício da sua função formadora global promova e desenvolvacontributos e ajudas para que os pais possam assumir as suas competênciasde forma mais tranquila e eficaz.

A cooperação torna-se ainda essencial se considerarmos que os paisdetêm sobre as crianças e jovens um conhecimento que, naturalmente,interessa à escola, assim como a escola possui um conhecimento sobre osalunos que interessa aos pais para a sua actividade de educadores.

Do ponto de vista da criança ou jovem é também importante a suapercepção de que os pais se interessam pela sua actividade, contactando coma escola regularmente e não só quando algo corre menos bem. De facto,pode ser relevante para a criança ou jovem, em termos de motivação esucesso, o interesse demonstrado pelos pais em perceber o que se passa naescola relativamente a trabalhos e actividades, interesses e sentimentos,incidentes do quotidiano, etc.

Estes aspectos ilustram a necessidade absolutamente central de umdiálogo regular entre o meio familiar e meio escolar, alterando a situaçãoainda frequente dos espaços formais de diálogo (reuniões de pais) seremgeridos numa lógica administrativa e de informações formais e de outros

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espaços de diálogo mais individualizado apenas serem estabelecidos apósincidentes quase sempre de carácter negativo.

Com o objectivo de contribuir para o desenvolvimento da desejadacooperação consideramos alguns aspectos de natureza mais prática.

A comunicação entre a escola e o meio familiar deve estabelecer-se omais cedo possível pois contactos realizados no início do ano em que seprovidencie informação e orientação podem repercutir-se positivamente namotivação dos alunos, na assiduidade, na prevenção de problemas dedisciplina, etc.

A comunicação regular deve ser estimulada e facilitada em termos deorganização e funcionalidade. Por vezes, os tempos previstos pela escolapara recepção aos pais não são os mais ajustados em termos de disponi-bilidade o que, obviamente, poderá criar algumas dificuldades.

Parece-nos também essencial que a comunicação com os pais assentetanto quanto possível num registo positivo, ou seja, acentuar o que deve serfeito mais do que o que deve ser evitado, valorizar as competências mais doque apontar insucessos, etc. Este discurso positivo poderá influenciar asexpectativas dos pais face à escola e aos seus próprios filhos o que éreconhecidamente importante.

Um outro aspecto que nos merece reflexão prende-se com anecessidade de que a escola considere a multiplicidade de variáveisculturais, económicas, sociais, etc., presentes nos sistemas familiares dosalunos. Nesta perspectiva, a comunicação com os pais deve obedecer a umregisto claro para todos evitando, por exemplo, o recurso a terminologiatécnica, própria da cultura escolar, mas eventualmente desconhecida paramuitos pais e, por isso, inibidora de eficácia na comunicação. Ainda nesteâmbito acreditamos ser positivo que a escola assuma a preocupação deinformar os pais sobre os seus procedimentos, modelos de organização efuncionamento, objectivos, dispositivos de apoio, etc. Acontece que emmuitas circunstâncias os pais percepcionam a acção da escola apenas através

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da observação dos filhos, o que obviamente diminui a sua capacidade deintervenção.

Considerando ainda este último aspecto, parece-nos fundamental que,designadamente, em situações específicas como elaboração de programaseducativos individuais, elaboração de planos de recuperação, mobilização dedispositivos de apoio pedagógico acrescido, etc., seja promovido oenvolvimento e participação esclarecida por parte de pais e encarregados deeducação.

Actualmente, considerando as referidas alterações nos contextosfamiliares bem como as solicitações de pais progressivamente maispreocupados com o seu desempenho, parece também importante que aescola providencie alguma “orientação” que possa contribuir para que ospais assumam o seu papel de forma mais competente. Este aspecto éilustrado pela emergência cada vez mais frequente de programas de apoio apais e que repetidamente emergem por solicitação dos próprios. Nestaperspectiva, as reuniões de pais podem contemplar a abordagem dos seusinteresses e preocupações providenciando alguma informação e orientaçãosobre o desenvolvimento e funcionamento das crianças e jovens, bem comosobre procedimentos e atitudes que se entendam com ajustadas.

Considerando que a qualidade da nossa vida colectiva tambémdepende do grau de envolvimento e participação que, numa perspectiva deexercício de cidadania, podemos assumir face a diferentes matérias,acreditamos que as Associações de Pais e Encarregados de Educação podemdesempenhar um papel relevante no que respeita à relação entre a escola e omeio familiar.

De facto e para além das competências que lhes estão atribuídas peloquadro normativo, as Associações podem desenvolver uma acção impor-tante em diferentes áreas das quais e como exemplos podemos referir arecepção e integração dos pais de novos alunos, a mobilização de dispo-sitivos de apoio extra-escolar, contributos para a mobilização de recursospertinentes a um melhor funcionamento da escola em área como equipa-mentos, segurança, acções destinadas aos pais, etc.

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Sendo certo que a relação entre a escola e a família deve decorrerprivilegiadamente num clima de cooperação também sabemos que emergefrequentemente uma dimensão de conflitualidade que consideramos normalmas que poderá, por vezes, criar alguns constrangimentos. Esta conflitua-lidade poderá decorrer por exemplo de modelos de organização e funciona-mento das escolas (horários e calendários por exemplo), da assimetria óbviano que respeita às decisões relativas à vida escolar dos alunos, da eventualapreciação divergente do impacto de algumas decisões, etc. Neste contexto,parece-nos importante que a comunidade (toda a comunidade) disponha deuma instância reguladora que poderia assumir a forma de Provedoria daEducação ou, numa perspectiva mais alargada e na linha de pensamento e deadvocacia da criança expressas por cidadãos e cientistas com a estatura deJoão dos Santos e Gomes Pedro, a criação da figura de Provedor da Criança.Acreditamos que uma iniciativa desta natureza seria seguramente umenorme contributo para qualidade dos contextos de educação e desenvol-vimento das nossas crianças e jovens.

Pelo exposto parece poder concluir-se que, tal como referimos deinício, a cooperação entre o meio familiar e o meio escolar assumem umpapel central na definição de percursos educativos bem sucedidos para todasas crianças e jovens.

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Debate

Albino Pinto de Almeida – Antes de abrir o debate, gostava deformular duas notas a propósito do que disseram aqui os oradores: haviamuita coisa sobre que poderíamos falar, mas dir-lhes-ei que o movimentoassociativo de pais, e os pais, em geral, vão à escola por cidadania, e estão lámuitos, por causa dos órfãos de pais vivos, que cada vez mais existem nonosso país. Uma professora, na qualidade de mãe, foi a semana passada auma escola e invocou o 225 do Código do Trabalho; teve a faltainjustificada, sem vencimento, porque o Código do Trabalho não se aplicaaos funcionários públicos. E, portanto, como dizia há bocado, com leisassim, em que o loureiro está de um lado, e o vinho, na prática, está dooutro, continuamos a ter o diabo nos pormenores. Vamos a ver seconseguimos a tal boa prática das leis, que às vezes são boas nas intenções,mas não chegam para fazer boas políticas.

A última nota queria deixá-la para os TPC. As minhas filhas ensina-ram-me que aquilo, em tradução literal, significa “tortura para crianças”.E fiquei seriamente a pensar nisso, até porque são gémeas e têm bomdesempenho. E, portanto, nesta “tortura” para crianças, em que se trans-formam os trabalhos de casa, são, de facto, as famílias com menos recursos,menos condições económicas e culturais, a serem verdadeiramente tortu-radas e angustiadas. Às tantas, passam aos filhos a mensagem subliminar deque também avançaram na vida sem a escola e, se calhar, é por isso quemuitos deles a abandonam.

Tenho aberto o debate.

Uma Participante – Fala-se no mau acompanhamento dos pais, nassuas dificuldades, nas suas limitações. É verdade que os pais são limitados,é verdade que há pais que não conseguem acompanhar convenientemente osfilhos. Mas a má qualidade do nosso ensino não se deve prioritariamente aum medíocre acompanhamento que possa ser atribuído à responsabilidadedos pais. Isto não pode esquecer-se. A grande carência que as nossas escolas

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e a nossa sociedade têm de uma efectiva participação dos pais, que seriauma enorme mais-valia para o sistema educativo, não se deve à culpa dospais, mas ao facto de não lhes ser permitido participar. E, assim, a escolapermanece intocável e imune a qualquer influência dos pais.

Uma Participante – Antes de mais, queria agradecer a todos osoradores, que foram brilhantes. Sou professora e mãe e, quando falamos narelação escola – família, parece-me que continuamos a insistir num graveerro que é o de tentarmos encontrar culpados, como a pessoa que meantecedeu nesta intervenção acabou por fazer. Durante longos anos,principalmente nos últimos, temos estado sempre a dizer que a culpa, ou édos pais, ou é dos professores. A culpa é de todos nós. O que temos quetentar encontrar é um consenso e uma boa relação entre pais e escola.A escola não é intocável, de forma alguma; a escola, hoje em dia, até édemasiadamente vulnerável, na medida em que, quando algo corre mal, aculpa passa a ser dos professores. Por outro lado, isto é um desabafo comoprofessora. Julgo que perdemos muito tempo em discussões supérfluas e nãovamos ao essencial das questões.

Uma última nota, em relação com os trabalhos de casa. Não entendo, esou mãe, que o TPC seja uma tortura para a criança. Entendo, sim, é que ascoisas têm que ser doseadas, de forma a que os meus filhos, aos chegarem acasa, tenham mais tempo do que o pedido para fazerem os trabalhos de casa.Entendo que a escola não pode ser elitista de tal modo que os alunos quetêm pais com conhecimentos ou com possibilidades de lhes facultar essesconhecimentos, estejam num patamar acima daqueles que não têm essesconhecimentos. Isso é o que entendo que a escola não pode fazer de formaalguma. Mas os trabalhos de casa são extremamente importantes, sejam elesfeitos em casa, ou na escola. Se calhar, concordo, como mãe, que eles têmque ser feitos na escola, em todas as escolas: nas públicas, nas privadas, nãonesses centros mercantis que aparecem por aí, mas em salas verda-deiramente de estudos como dantes havia – estudei num colégio onde tinhaa minha sala de estudo. Isto que volte a acontecer. Neste momento, temosuma escola que a maior parte das vezes não está a incutir hábitos detrabalho, de tal modo que o aluno, ao sair da escola, fecha o seu livrinho, e

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até se esquece da pasta na escola. É verdade que, por vezes, os alunos nãolevam as pastas para casa. É importante que o pai, seja ele analfabeto ounão, veja pelo menos o que é que o aluno está a fazer. Portanto, acho quesão importantes os trabalhos de casa. Se calhar, tínhamos que examinar oproblema mais a montante, ou seja, ver a carga curricular, saber se oscurrículos estão adaptados.

Agora, o ponto mais importante parece-me ser este: vamos, de um vezpor todas, tentar criar um elo, uma parceria real, uma cooperação, o nomeque queiramos dar-lhe, mas não estejamos a culpar-nos uns aos outros. Atéporque muitas vezes vivemos uma situação dupla: somos pais, e somosprofessores.

Um Participante – Desejava colocar uma questão concreta à mesa.Pergunto se esta relação entre a escola e a família não seria facilitada se, defacto, as famílias pudessem, de uma vez por todas, escolher a escola quedesejam para os seus filhos, o projecto educativo, os educadores, acosmovisão, a antropologia na qual querem educar os seus filhos. Isso nãofacilitaria, de facto, a relação escola – família?

Margarida Neto – Era de novo uma profissão de fé acerca danecessidade da colaboração entre os pais e a escola.

E uma pequena informação, justamente nesta linha: o Código doTrabalho inclui o direito do trabalhador ir à escola, quatro horas portrimestre, por cada filho. Tenho dito muitas vezes que estas quatro horas sãohoras de ouro; não serão muitas, mas não havia nenhuma. Poderiam sermais, com certeza, mas são quatro horas por trimestre, por cada filho. Julgoque este é um espaço em que a escola pode promover uma série de coisas;não só saber se o menino está bem ou mal, mas promover, justamente,outras metodologias de aproximação.

Por outro lado, é certo que o Código do Trabalho se destina à maioriados trabalhadores privados. O funcionalismo público não tem ainda este

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direito, mas tem outros, tem uma maior flexibilidade, e espero que estavenha a ser mais alargada.

José Morgado – Só uma coisa muito simples. Nós, em Portugal, domeu ponto de vista, quando analisamos algumas coisas, sobretudo as zonasde maior fragilidade, criamos conceitos em torno da ideia de culpa ou deresponsabilidade. Uma questão é a das responsabilidades, e é desejável quenós percebamos a natureza das nossas responsabilidades. naquelaperspectiva da história do colibri que contei. O que é que eu, como professoruniversitário, na área da psicologia educacional, posso fazer para criar umacultura mais eficaz sobre estas matérias, na perspectiva da responsabilidade,e não da de diabolizar, quer a família, quer a escola? Interessa-me perceberas dimensões de fragilidade, porque entendo, talvez por deformaçãoprofissional, que só conhecendo o que faço, é que posso melhorar o quefaço. E, portanto, convém olhar com algum realismo para como as coisas sepassam, não na perspectiva da identificação da culpa, mas da definição clarade responsabilidades, o que não é exactamente a mesma coisa. Não naintenção, de facto, de diabolizar a família ou a escola, mas de perceber comocada um dos papéis pode ser cada vez melhor cumprido, e com essadesejável cooperação.

Um outro aspecto, só muito breve, em relação ao TPC. Pessoalmente,sou completamente favorável à realização de trabalhos em casa, mas otrabalho em casa é uma coisa, e o trabalho da escola, que é feito em casa, éoutro. O trabalho da escola é para ser feito na escola, o trabalho em casa étrabalho que pode ser feito em casa, com a minha ajuda, que sou psicólogo.Em casa o trabalho da escola é para exercitar competências, não é para levaros miúdos a aprender competências. Porque, se tenho dificuldades ao pé dosmeus colegas e do meu professor, como é que em casa serei capaz de fazersozinho o meu trabalho? A escola não pode, do meu ponto de vista, criaresta situação. Esse tipo de trabalho deve ser para exercitar aquilo que eu seifazer! E aí eu posso, por mim, como miúdo, aluno, ser capaz de exercitar ascompetências. É difícil que se remeta trabalho para casa para eu aprenderem casa, porque aí tenho a tentação de pedir a alguém que está ao meu lado,e normalmente são os meus pais ou os irmãos mais velhos. E aí é que se

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criam situações que julgo que podem ser complicadas. Agora, outra coisa étodos nós cooperarmos – mais uma vez a cooperação entre a escola efamília. Devemos ver o que é que nós, a família, podemos fazer em casa queseja útil e se repercuta positivamente na escola. Isso é o que eu chamotrabalho em casa, e que é uma coisa de natureza diferente. Como sabem, hápaíses que proíbem trabalho de casa! Proíbem, não se pode passar trabalhosde casa. Eu não tenho essa atitude fundamentalista, como não tenho umaatitude fundamentalista relativamente a outras coisas. Agora, vamos serrazoáveis: quando se pede aos miúdos que exercitem as suas competênciasem casa, importa que estejam em condições de funcionar nessa perspectiva;quando isso não acontece, criam-se grandes desequilíbrios, como a históriaque eu contava da mãe muito incomodada!

Às vezes cria-se um bocadinho a ideia maniqueísta, sim aos trabalhosde casa, não aos trabalhos de casa. Não! O trabalho em casa é impres-cindível ao exercício das competências dos miúdos; agora, trabalho daescola realizado em casa, é outra coisa. E é desse ponto de vista que julgoque podemos conversar e optimizar aquilo que solicitamos aos miúdos e,por tabela, às famílias, para se envolverem em processos ou em situaçõeseducativas que têm repercussões positivas na escola. Mas, como muitasvezes acontece, quando é feito na sala de aula, por exemplo, nem sempre éacabado, e é para acabar em casa. Se o filho tem dificuldades em fazersozinho na escola, como é que ele vai fazer sozinho em casa? E, depois,lança a responsabilidade para cima dos pais, para alguns pais, e, depois, háoutros pais que estão tão distantes que aquilo lhes é indiferente! Não sabemse ele tem ou não trabalho de casa, nem sabem o que é essa coisa dotrabalho em casa. Mas nós temos que criar condições para que, de umamaneira mais eficaz, todos, mesmo os que não têm cultura académica,possam interessar-se pelos trabalhos em casa. E não vejo que, com umaorientação mais correcta neste domínio, não possamos todos ser maiseficazes.

Um Participante – Parece-me que faz sentido os pais e os filhospartilharem algumas das ideias envolvidas na escola, mas já não o faz se, na

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área das ciências ou da matemática, um miúdo chegar às cinco e meia ouseis a casa e tiver três ou quatro páginas de um livro para preencher. Achoque isso é anti-pedagógico, acho que isso é uma tortura, isso não é trabalhode casa. Agora, discutir o nível de aprendizagem, os itens que já foramdados na escola, e tentarmos, com a nossa ajuda e dentro das nossaslimitações, ajudar e poder melhorar esse método de ensino, está bem. Nãonos podemos esquecer de uma coisa: o ensino e a escola não são mais doque ferramentas, e as características básicas dessas ferramentas têm que serdadas na escola, e aperfeiçoadas em casa, mas aperfeiçoadas no sentido dese colherem contributos positivos para essas ferramentas funcionarem bem.Lembro-me de uma história de quando era aluno da escola primária, e amesma professora da escola primária tinha os quatro anos: a 1.ª, a 2.ª, a 3.ª ea 4.ª classe: era um método terrível, porque a senhora obrigava os alunos da4.ª classe a levantarem-se às cinco da manhã, a irem estudar para junto dacasa onde morava e, sobretudo, a estudarem alto! Isso não é nada! Isso éuma tortura! Não podemos entrar em exageros. Concordo com a professoraquando disse que há miúdos que se esquecem propositadamente das pastas edos cadernos na escola; não querem, se calhar, dar conta aos pais de comoestão a evoluir na escola. Temos que ter aqui algum sentido de equilíbrio ede bom senso, porque o importante é que haja ambiente familiar, é que o paipossa perguntar: “Então, a tua escola como é que correu hoje? Cometestealguma asneira? Ou o que é que se passou com os teus colegas? Estás a sermais solidário com os teus colegas? Estás a ajudar os colegas, ou não estás?Como é que é?” Essas questões é que fazem parte da formação com-plementar em casa! Agora, levarem uma série de problemas das ciências damatemática para resolver, ou levar trabalhos para casa para investigar naInternet, quando têm que ser os pais a ir à Internet buscar os trabalhos, efazê-los, se houver Internet, isso não é nada.

Outra questão que tem a ver com a questão dos pais não irem à escola:fico muito perplexo quando dizem que os pais não vão à escola porque assuas entidades patronais não os deixam ir! Não conheço nenhuma entidadepatronal que goste de ter um bom ambiente na sua empresa, que goste de tercolaboradores motivados, e que não facilite uma hora ou duas ao pai para irà escola. Porque se o pai vai à escola e quer saber do seu filho, é sinal de

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que anda mais motivado. Se se criar este espírito mais positivo no traba-lhador, melhora o seu desempenho na empresa. Tudo isto é uma questão dementalidade. Estamos a falar de ensino, mas também podemos falar deempresas e da capacidade empresarial dos nossos directores, dos nossosquadros da administração pública. Às vezes, não são capazes de ter flexi-bilidade mental para perceber que, se um colaborador andar motivado esouber como é que os filhos andam na escola e têm bom comportamento, asua produtividade aumenta. É evidente que há aqui princípios de base quesão fundamentais: se o pai escolher o projecto educativo e a escola que quer,já tem tempo para tudo. Essa é que é a questão fundamental. Quando os paissão obrigados a ir para a escola a, b ou c, não sabem qual é o projectoeducativo dessa escola, não conhecem os professores. E os professores sãode Tavira e estão colocados em Cantanhede, estão lá contrariados, querem échegar ao final da aula e ir-se embora, nem sequer se apercebem que o alunopode ter uma dificuldade, isso é que é grave! E naturalmente que os pais aítêm mais dificuldade no diálogo com esse professor e com a escola.

Luís Miguel Neto – Perdoem-me se não vou ser inteiramente directorelativamente às questões colocadas. De qualquer forma, irei também serbreve e começar por referir o que é que aprendi: gosto, em cada situação,seja escolar, seja académica, seja informativa ou de outra natureza, de retirarconclusões, o que é que não sabia e fiquei a saber. Agradeço a referênciafeita a “coerir”, verbo que desconhecia inteiramente; agradeço também autilização da expressão “pôr o loureiro de um lado e o vinho do outro”; eagradeço também, entre outras coisas, naturalmente, essa ideia dainvestigação que o Prof. José Morgado referiu, relativamente à escola emque 90% da comunicação se faz por escrito, para uma população de 40% deanalfabetos. As coisas novas, depois, demoram algum tempo a fazeremsentido. Ainda não sei inteiramente o significado da expressão “pôr o vinhode um lado e pôr o loureiro do outro”, ou o significado do verbo “coerir”;relativamente à questão dos 90% da comunicação se destinar a 40% deanalfabetos, também não sei integral e inteiramente o significado disso, masvou ficar a pensar.

Depois, permitam-me também que evoque duas experiências.

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Estou muito ligado, de facto, ao modelo de ensino anglo-saxónico.Obtive o doutoramento nos Estados Unidos, um dos meus filhos nasceu lá, ooutro também andou numa escola americana. Ora uma das coisas práticas,que já é estrutural e estruturante no universo de ensino anglo-saxónico, é aideia de “pais e professores associados”. No nosso contexto, aqui no CNE,ainda não ouvi falar de uma associação de professores e pais – esta sinergia,importante no ensino anglo-saxónico, seria de aproveitar entre nós.

Outra coisa que se passa nos colégios e nas escolas anglo-saxónicas,quando há as tais reuniões de pais, é o seguinte: às sete, por exemplo, háuma intervenção de um reputadíssimo neurologista, sobre a influência daaprendizagem no cérebro; e depois, às oito, servem-se bebidas e aperitivos.Isto pode parecer estranho, uma espécie de incitamento ao consumoalcoólico. Mas querem apostar que se as escolas começarem a dar umcarácter mais informal às reuniões com os pais, de abertura à cultura real, aspessoas aparecem? E, depois, julgo até que deixam de ser reuniões de mães.Portanto, é uma sugestão que deixo no ar.

Há, ainda, a questão dos trabalhos de casa. Não se me tinha colocado aquestão com o realismo que aqui foi evocado; também me deixou a pensar.Não sei se hei-de ser a favor, se hei-de ser contra, mas há uma coisa queestou certo: julgo que existe uma intenção benévola da parte dos senhoresprofessores, que recomendam uma grande quantidade de trabalhos de casa.Agora o que está por trás desta questão é uma coisa quase gigantesca, é umaguerra de influências. O que está aqui por trás é um conjunto de senhoresprofessores que querem manter uma influência educativa sobre os seusalunos, quando sabem, porque lhes entra pelos olhos dentro, que a grandeinfluência que as crianças têm, não é dos pais, não é deles próprios,professores, é da televisão. O factor estruturante na vida das famílias, forada esfera de trabalho e fora da esfera escolar, é o quê? É a televisão.E, portanto, dá-me a ideia que esta questão dos trabalhos de casa tambémdeve ser vista neste contexto: é uma espécie de movimento, até com algumdesespero, por parte de alguns senhores professores. Não queremos subtraira nossa influência e entregar os alunos à quantidade de visionamentotelevisivo diário. A minha geração era a preto e branco, e às onze e meia

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fechava com o Hino Nacional, e nós víamos uma hora, hora e meia detelevisão! Os índices, actualmente, são o que são; em média, estamos entretrês e quatro horas a ver televisão. E, portanto, julgo que esta questão dostrabalhos de casa também deve ser equacionada em função de outrascircunstâncias, nomeadamente esta, que é o factor estruturante da televisãona vida das pessoas.

Olga Avelino – Duas ou três coisas breves, se me permitem.

Quando há pouco falavam das reuniões de pais ou reuniões de mães,de entrevistas, vou partilhar convosco o seguinte: uma das coisas queprocuro sempre fazer com os pais dos novos alunos que são admitidos nocolégio, é que no primeiro encontro comigo estejam a mãe e o pai. Háimensas coisas que aprendo nesse primeiro encontro e que fico a saber, atéporque, aquilo que me interessa saber não é tanto a parte académica, mas éobter, fundamentalmente, a opinião dos pais sobre como são os seus filhos.E são dados estupendos, de facto, que recolho nesse instante, e que sãopreciosos numa fase ulterior.

Depois, em relação às reuniões de pais, observo que os própriosalunos são envolvidos nessas reuniões, ou porque muitas vezes tambémparticipam nelas, ou porque, pelo menos, solicitam a presença dos pais. Sãofeitas a horas variadas, não são sempre às seis e meia, também são à noite,em dias diversificados, para, realmente, se poder dar cobertura àdisponibilidade dos pais.

E a propósito de disponibilidade, estava a lembrar-me que já não é aprimeira vez que recebo pais às sete da manhã, porque não têm outrahipótese. Para realmente atender os alunos devidamente, é preciso que ospais tomem consciência que a nossa flexibilidade, nossa, dos professores,existe. Há as horas do almoço, há as horas para o fim do dia, não há umahora certa para que um determinado director de turma – no colégio não sechama assim, começaram por se chamar tutores, actualmente chamam-seprofessores responsáveis, – receba os pais. Não há uma hora fixa para esseatendimento.

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Em relação aos TPC, não me vou pronunciar, mas deixo só umareflexão. Propõe-se para trabalho de casa que os alunos façam umdeterminado trabalho em grupo. Como é possível, numa grande cidade, e,nomeadamente, num colégio em que um mora no Lumiar, outro vem deCascais e o outro vem de Alenquer, que os alunos se encontrem em grupo?Sobra, evidentemente para mim, o poder organizar um espaço onde osalunos se encontrem, e poder providenciar para que façam esse dito trabalhoem grupo, que deveria ter sido feito na sala de aula.

E, a propósito de disponibilidade, uma última nota. Quando, na minhaintervenção, falei na questão do tempo fixo que não temos, esclareço que éuma opção que não é só minha, mas de outros educadores do colégio.Somos, em grande parte, um corpo docente estável, com as suas vantagens,mas também com alguns inconvenientes, como em tudo na vida. Mas que setraduz numa maior disponibilidade de atendimento aos alunos, no estar nocolégio à hora do almoço. Posso dizer-vos que estou no refeitório com osalunos, ninguém me obriga, e depois do almoço, estou nos gabinetes, noscorredores, ou nos recreios. De facto, são momentos em que os alunospartilham connosco imensas coisas, que têm alguém, que mais não seja paraos ouvir. E há até aqueles que passam e perguntam: “Sra. Dra., não precisade nada?” E este “não precisa de nada” é apenas um pretexto para iniciaruma conversa, para partilhar uma preocupação.

Albino Pinto de Almeida – Com a permissão do senhor Presidente doConselho Nacional de Educação, desejaria enunciar, muito brevemente,algumas questões que acho essenciais como conclusão deste debate.

Primeiro, a importância de um sistema mais humano, maisdiversificado. Esta é uma lição que levo daqui. E sempre direi que era porisso que usava a expressão “loureiro de um lado, e vinho do outro”. NoNorte, quando vamos pelas estradas fora e vemos o loureiro pendurado naporta, sabemos que ali se vende vinho. Ora bem, quando digo que oGoverno em muitas matérias põe o loureiro de um lado, e o vinho do outro,V. Exas. já perceberam claramente aquilo que estou a falar. E, portanto, éesta também uma questão que é decisiva, por exemplo, em relação aos

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tutores. Se os tutores estiverem nas escolas com o horário de pedreiro – enão tenho nada contra os pedreiros, bem pelo contrário –, se foremenvolvidos os professores com menos tempo ou menos jeito para isso, é otal loureiro de um lado e o vinho do outro. Portanto, nós, pais, tememos quea figura do tutor se esvazie. De facto, quando dava aulas no Colégio doRosário fazia exactamente o que se disse: entrava mais cedo, ficava até maistarde, e a minha hora de almoço era diferente da dos outros.

No que respeita à CONFAP, observo que esta Confederação irádesenvolver a linha da formação parental, numa perspectiva de formação aolongo da vida. A CONFAP vai solicitar ao Governo mecanismos específicospara que essa formação possa ser feita, de uma forma organizada, em todo opaís, uma vez que já o fazemos em escolas de pais e em muitas dasestruturas concelhias da Confederação Nacional.

É por aqui que vai, é por este esforço de cidadania, embora hajacidadãos mais activos do que outros. Está instalado, na nossa sociedade, oprincípio de que, quando algo não é directamente comigo, não tenho que mepreocupar, esse é um assunto dos outros. É o princípio da gestão docondomínio: só lá vamos quando o administrador comete um desvio, ouquando o prédio está a cair. Se tudo estiver bem, não se consegue fazer umaassembleia de condóminos. Deixo esta nota acerca do pouco envolvimento eda responsabilidade.

Julgo que o Conselho Nacional de Educação está de parabéns por estainiciativa. Dei o meu modesto contributo. Peço desculpa, a todos ospalestrantes, por algum rigor, porventura excessivo, que haja colocado naquestão do tempo.

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