Upload
leminh
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
PAISAGEM CULTURAL: um conceito integrador das noções de
patrimônio natural e cultural
GUIMARÃES, SÁVIO
Centro Universitário de Brasília. Faculdade de Tecnologia e Ciências Sociais Aplicadas SEPN 707/907, Asa Norte, Brasília/DF. CEP.: 70790-075
RESUMO
Junto ao desenvolvimento das ciências sociais evidenciado a partir de meados do século XX, o ideário contemporâneo vincula-se, gradativamente, a uma visão de mundo de caráter sistêmico, estimulante a interpretações amparadas nas múltiplas dimensões do objeto analisado. Assim, cresce a sensibilização em relação a campos ou experiências antes assimilados de maneiras distintas das que agora passam a configurar o pensamento científico e que, gradativamente, tendem a alterar também as pré-noções já arraigadas no senso comum. Sob tal contexto, entre tantos outros campos de análise, a comunicação aqui proposta, amparada em fatos e análises afins, objetiva uma reflexão sobre a ampla temática do patrimônio cultural, categoria de pensamento que tem passado por sucessivas transformações em sua conceituação e instrumentalização. A análise de um bem na atualidade, a partir dos eventuais valores a ele atribuídos, como os que o confere o status de patrimônio, certamente, irá se vincular a tais diretrizes de pensamento e, no caso da análise de um espaço, à noção de que qualquer espacialidade reveste-se de múltiplas possibilidades de leitura que, juntas, são capazes de evidenciá-la, não apenas como o mero resultado de ações sucessivas, mas também como a representação de específicos valores simbólicos, como o reflexo das possibilidades econômicas locais e como um lugar estimulante a distintas maneiras de sociabilidade. Outrora apartada da natureza como estratégia de compreensão e conceituação de seus mecanismos, a cultura agrega-se, crescentemente, ao meio-ambiente, uma vez que a questão ambiental emergiu de modo a forçar uma revisão de valores que afeta as mais diversas dimensões do pensamento e da ação humana. O conceito de paisagem, constructo mental complexo, que há muito vem se desenvolvendo em meio às noções de entrelaçamentos da natureza com a cultura, agora adjetivado “paisagem cultural”, junto à valorização da dimensão humana e seu envolvimento no campo, configura-se como uma pertinente tentativa de ruptura da tradicional separação entre cultura e natureza ao abranger muitas categorias de elementos que, assim, passam a se integrar à assimilação de um ou outro bem considerado patrimônio na atualidade. E justamente o conceito de paisagem cultural vem sendo apresentado como passível a outras possibilidades de se pensar tanto a preservação quanto a dinâmica das criações, ambiências e vivências humanas. Mas, afinal, englobando as mais diversas categorias de pensamento, além de atuar, por meio da chancela, pela preservação das representatividades culturais, tal conceito pode abarcar o processo, as eventuais necessidades e forças de mudança que venham ocorrer em um dado contexto sem que seja perdida a sua referência? Palavras-chave: cultura, patrimônio cultural, natureza, patrimônio natural, paisagem cultural
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Introdução
São vários os sítios naturais mais intensamente ocupados e alterados pela ação humana,
seja pelas particulares características físicas, seja, até mesmo, pelas analogias simbólicas
de tais ambientes que, por facilitarem ou desafiarem uma ocupação territorial, estimulam tal
tentativa. Se a assimilação do ambiente natural e das paisagens culturais, criadas pelo
homem ao intervir em tal ambiente, vai além de suas características físicas assumindo
múltiplos significados simbólicos (COSGROVE, 1998), também o tempo tem influenciado
essa e outras de suas interpretações.
Já apreendido sob ideais de harmonia e misticismo quando de seus ciclos de fertilidade
dependiam os cultivos humanos, o espaço natural, transformado consideravelmente no
processo inicial de industrialização por que passou boa parte do globo foi quase que
simultaneamente idealizado ou romanceado por aqueles que buscavam um refúgio aos
primeiros efeitos do mundo industrial. Mesmo sendo trazida para as centralidades urbanas,
a excessiva ordenação racional do mundo natural assim estabelecida, sob um ideal de
controle e de superação a partir da visão de progresso adotada, viu, diante do agravamento
da deterioração ambiental na segunda metade do século XX, o crescente esfacelamento de
tais preceitos e ambições que pautaram o desenvolvimento econômico nos últimos séculos.
Tal situação levou, inclusive, à criação e difusão da expressão “meio ambiente”, de certa
maneira, reforçando a necessária compreensão da inter-relação entre a natureza e o
homem, da qual este faz parte junto com a biodiversidade que compõe equilibrados
ecossistemas. E dos estudos e das ações dos primeiros biólogos e ecologistas, das
propostas para uma cidade verde ideal (HOWARD, 1996) ou mesmo uma bioarquitetura
praticável (LENGEN, 2004), cresceram os debates e as ações ambientais empreendidos em
escala local ou internacional, como a Conferência Mundial promovida pela Organização das
Nações Unidas (ONU), em 1972, na França, quando se incluiu o Patrimônio Natural como
objeto de preservação, ou como a Conferência Ecológica de 1992 (ECO 92), realizada no
Brasil, na qual foram listadas, na Agenda 21, várias diretrizes de caráter ambiental para
adoção mundial pelas políticas públicas em busca de um “desenvolvimento sustentável”,
vinculado a ideias de práticas conscientes processadas e já divulgadas anos antes, a partir
da publicação do Relatório Brundtland (1987), e que hoje se encontra entre os conceitos
mais presentes no discurso das mais distintas áreas ao defender a satisfação de
necessidades atuais sem o comprometimento da capacidade das futuras gerações em
satisfazer às suas (ACSELRAD, 2001).
Logo, não parece casual a crescente entrada da esfera natural no âmbito da cultura, das
reflexões e ações culturais que, assim, mais do que em muitas épocas anteriores, passa a
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
reconhecer e valorizar a inter-relação entre o ambiente e as transformações nele
empreendidas e, por vezes, estabelecidas como uma determinada prática ou representação
simbólica, uma cultura (TUAN, 1980). Considerar as expressões manifestas na dinâmica
cultural, material e imaterial (correlacionados em qualquer prática ou representação), que
entre interações as mais diversas perfazem um determinado ambiente se mostra, como
crescentemente defendido pelos teóricos de distintas áreas aqui referenciados, uma
tentativa para a melhor compreensão de um espaço e, na atual conjuntura global, também
para a sua proteção. Nesse contexto, conceitos como o de paisagem cultural, a ser aqui
abordado entre outros assuntos a ele correlacionados, estão entre algumas das sucessivas
buscas pela atribuição de novos valores ou adequação dos mesmos às novas configurações
do mundo.
Junto às criações culturais cristalizadas, aquelas consideradas por sua materialidade,
assistimos agora, e participamos, de um novo momento no qual, nas mais diversas
sociedades de todos os continentes, este longo processo de construção cultural trilhado pelo
homem ao longo da história se amplia. De fato, nos últimos séculos tornaram-se crescentes
as reflexões e ações pela preservação cultural devido à valorização, conforme expresso na
atual versão da Constituição Federal do Brasil (1988), de todo e qualquer conjunto de práticas
e de bens culturais portadores de referência tanto à identidade quanto à memória dos mais
diferentes grupos atuantes no processo de configuração da sociedade nacional. Mas, agora,
tal postura se amplia para uma dimensão até então ainda não experimentada, uma realidade
postulada a partir de sua configuração inter-relacionada – expressões culturais de caráter
material e imaterial desenvolvidas pelo homem sob forte vínculo com um determinado meio
natural. Sob tal contexto, entre tantos outros campos de análise, a comunicação aqui
proposta objetiva uma reflexão sobre a ampla temática da cultura, categoria de pensamento
que tem passado por sucessivas transformações em sua conceituação e instrumentalização
até essa presente vinculação da mesma com o meio onde atua.
A cultura e o patrimônio cultural
De fato, na esteira do vigor alcançado na contemporaneidade pela categoria de pensamento
cultura, sobressaem-se, gradativamente, adjetivações do termo que se entrecruzam no
campo e que também se reforçam em importância. Considerando o conceito antropológico
de cultura, centrado nas práticas e representações significativas a uma coletividade,
qualquer que seja ela, tal como prenunciado no século XIX por representantes da escola
antropológica do evolucionismo social (TYLOR, 1947) e difundido na gestação da pós-
modernidade, torna-se compreensível as distintas assimilações com o tempo engendradas
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
sobre tal campo. Ainda assim, várias das representações culturais (CHARTIER, 1988) de
alguma maneira consideradas significativas pelo homem têm sido, ao longo da história,
preservadas.
No campo da arquitetura, inicialmente preservadas por seu vínculo a crenças religiosas
(MUMFORD, 1982) ou por seu caráter de excepcionalidade artística, essas representações
culturais edificadas passaram a ser, por um longo período, assimiladas como “monumentos”
(artefatos edificados intencionalmente para o fim de memória) e, muito depois, como
“monumentos históricos” (artefatos que adquiriram potencial de memória com o passar do
tempo), conforme a célebre distinção de Alöis Riegl (RIEGL, 2014), até que ambos os
conceitos se fundiram em face da adoção de outro conceito, o de “patrimônio”, difundido em
caráter estratégico a partir de fins do século XVIII, no contexto pós Revolução Francesa
(CHOAY, 2001), e que conseguiu, de fato, alterar a relação da população insurgente com as
representações culturais fortemente vinculadas aos segmentos sociais destituídos do poder
em tal ocasião, deixando de saqueá-las e depredá-las para assimilá-las como
representatividades coletivas e, logo em seguida, públicas. E de “patrimônio artístico e
histórico”, tal conceito adquiriu, a partir de meados do século XX, uma noção ainda mais
abrangente, a de “patrimônio cultural”. Essa última conceituação foi criada, em 1959
(CHOAY, 2005), pelo então ministro de Estado e da Cultura da França, André Malraux, junto
à criação de sucessivos órgãos e procedimentos ligados a tal tema concedendo, assim,
enorme relevância à esfera cultural e, de certa maneira, conforme também enfatizou
Françoise Choay, promovendo um exponenciamento do vínculo entre cultura e
desenvolvimento econômico ao conectar mais fortemente tais esferas por meio de uma
política de “animação cultural” (ARANTES, 1995, p. 67), essencialmente ligada aos aspectos
de fruição do lazer.
No Brasil, a contínua luta por justiça social obteve, ao longo do século XX, algumas
conquistas no sentido do conferir importância à cultura nacional e, cada vez mais, no sentido
de começar a reconhecer e valorizar sua diversidade formativa. Mesmo que o respeito e a
preservação da diversidade cultural brasileira ainda careçam de uma maior conscientização
e maiores ações para tal fim, a partir da elaboração de legislações em escala nacional foram
sendo regulamentadas as ações sobre esse campo. Situação essa que se iniciou com a
Constituição Federal Brasileira de 1934, tornando o patrimônio histórico e artístico um
princípio constitucional, tal como com a Constituição de 1937, que atribuiu ao poder público
a proteção das belezas naturais e dos monumentos históricos e artísticos, além do célebre
Decreto-lei 25 de 1937; um decreto que, baseado, entre outros, no anteprojeto de Mário de
Andrade (TELLES, 2009), ainda hoje embasa muitas reflexões e decisões no campo,
regulamentando, desde o objeto cultural que recebe o status de patrimônio cultural, até a
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
definição dos efeitos legais vinculados à proteção de tal objeto, selecionado entre outros,
como um bem cultural por ser considerado portador de significação e valor cultural para um
determinado grupo e, por isso, vinculado a um direito coletivo público e passível à fruição
“pelos titulares desse direito coletivo: a população” (RABELLO, 2016). Atualmente, a
Constituição Federal Brasileira demonstra o reconhecimento oficial de tal importância ao
especificar, em seu Artigo 216 da Seção II do Capítulo III que trata da Educação, Cultura e
Desporto, uma variedade de expressões culturais a serem preservadas:
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (CONSTITUIÇÃO, 1988).
Considerando que sucessivas iniciativas de preservação tenham sido elaboradas no campo
do patrimônio cultural há alguns séculos (KÜLL, 1998), e que as posturas e diretrizes mais
apuradas vêm sendo elaboradas, no âmbito internacional, desde os anos 1800 (IPHAN,
1980), e principalmente em momentos de transição, se mostra relevante o pensamento
sobre essa categoria de pensamento em face das vertiginosas transformações por que
passa a atualidade, momento em que numerosas e diferentes localidades, como um
palimpsesto, têm sofrido de maneira forte a supressão das marcas históricas já que, por
vezes, novas expressões ou representações físicas são superpostas àquelas
representativas de temporalidades anteriores. Fato que ocorre não só pela desvalorização
de representações culturais já antigas, por muitos consideradas signos ultrapassados, mas
também, e paradoxalmente, pela hipervalorização de áreas centrais que, geralmente, foram
revestidas de historicidade e que, pela ausência de vazios urbanos aptos à construção nos
grandes centros, tornam-se um novo alvo da especulação imobiliária. Tal circunstância,
como outras geradoras de posteriores pesares nas mais distintas localidades, conforme já
observado por muitos, como Maurice Halbwachs em seus trabalhos sobre uma importante
memória coletiva (HALBWACHS, 2004), tende a eliminar, gradativamente, os traços de
conhecimentos agregados ao espaço sedimentado das cidades que são, por vezes,
assimilados pelos que os vivenciam cotidianamente, mesmo sem tal percepção.
E nesse contexto complexo, de múltiplas dinâmicas e interesses, há que se considerar,
ainda, outra questão de relevância, envolta à manipulação da cultura histórica qualificada
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
pela atribuição de valor que lhe é conferida ao ser considerada patrimônio de um lugar e que
tem gerado alguns embates entre profissionais desse mesmo campo no que diz respeito às
suas várias dimensões ou às categorias culturais crescentemente conceituadas. Mesmo que
se considere que toda e qualquer expressão ou representação cultural possa agregar
distintas dimensões de temporalidade, essa questão se relaciona, especificamente, às
novas práticas culturais, às chamadas culturas emergentes, legítimas enquanto reflexos da
dinâmica histórica a que as sociedades estão sujeitas, mas que, já há um bom tempo, vêm
evidenciando sua dificuldade na procura por espaços à sua expressão nos locais onde
comumente pretendem se expor: não mais o restrito espaço interno de galerias e museus,
mas a ampla espacialidade urbana.
Por mais que sejam apresentadas acepções conceituais que integrem essas expressões
como dimensões de um mesmo campo, a normatização já vigente e em constante agregação
de minúcias, entre proteções e impedimentos sobre o espaço patrimonializado e sua
ambiência, admite questões a serem analisadas, no sentido de um diálogo, com as também
legítimas expressões emergentes, centradas em novos códigos de assimilação e apropriação
do espaço. Mas a situação se complexifica pelo fato de que tais emergências, já assimiladas
como autênticas representatividades da cultura contemporânea, se distinguem nas mais
diversas modalidades de ação e demanda: ora pela reivindicação por equiparação de
incentivos públicos e privados às novas expressões em relação a representações culturais já
institucionalizadas, ora pela reivindicação de direito de expressão no espaço público mediante
intervenções ou ocupações e apresentações de caráter efêmero, ora pela solicitação de
atuação mediante as inovadoras projeções lumínicas justamente sobre as edificações
históricas e culturais das mais variadas cidades. Algumas propostas vinculadas a essas
experiências artísticas e culturais emergentes têm, inclusive, desafiado a própria legislação
vigente até mesmo por preceitos de atuação, e também nas mais distintas escalas, como
pode ser demonstrado na fala – entre a de outros a esse âmbito da cultura vinculados – do
artista e arquiteto argentino Tomás Saraceno ao descrever um de seus desafiadores e
utópicos projetos participativos, a polêmica instalação itinerante Air-Port-City, como:
Uma estrutura que procura desafiar as restrições políticas, sociais, culturais e militares atuais numa tentativa de restabelecer novos conceitos de sinergia (SARACENO apud JODIDIO, 2011, p. 368).
A defesa pela liberdade e facilitação da emergência de novas expressões culturais tem sido,
assim, também crescente na contemporaneidade mesmo que, por vezes, seus contornos
não sejam sequer entrevistos em meio ao crescente processo de globalização
contemporâneo, pautado em uma excessiva manipulação e um intenso fluxo baseado,
sobretudo, em informações culturais e artísticas pré-existentes e ainda remanescentes,
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
patrimonializadas, de certa maneira já acomodadas no cotidiano contemporâneo e,
evidentemente, no âmbito da estrutura econômica – que crescentemente a ressignifica por
meio da tecnologia para objetivos específicos.
Assim sendo, mantem-se a noção de que qualquer espacialidade reveste-se de múltiplas
possibilidades de leitura, as quais, juntas, são capazes de evidenciar tal espacialidade, não
apenas como o mero resultado de ações sucessivas, mas também como a representação
de específicos valores simbólicos, como o reflexo das possibilidades econômicas locais e
como um lugar estimulante a distintas maneiras de sociabilidade. Contudo, uma análise
cultural procedida hoje agrega-se a um somatório de questões sucessivamente admitidas no
campo. Por um lado, desconstruir analiticamente uma prática ou representação cultural já é
considerado, há um bom tempo, uma maneira de perceber as estruturas e os códigos sob
os quais a mesma se processa. Por outro lado, valorizar além da sofisticação erudita as
representações populares da cultura, considerar além da dimensão tangível a natureza
imaterial de determinadas expressões e rituais culturais, reconhecer além das referências a
outras temporalidades aquelas do próprio presente revestidas de valor e autenticidade
principalmente para seus praticantes, permite-nos ampliar o campo de análise sobre a
cultura tal como tem sido considerado em muitos trabalhos sobre o campo, o qual, agora,
admite a inclusão de outra dimensão, prévia à própria manifestação cultural e com ela
presente em uma contínua inter-relação de influências: a natureza transformada em
paisagem.
A paisagem e a paisagem cultural
No contexto do agravamento da questão ambiental, diante da fragilidade crescente
demonstrada pela natureza – ou pela fragilidade hoje demonstrada pelo ideário moderno de
progresso plasmado em seu domínio – a sucessiva abrangência conceitual que o termo
cultura vem adquirindo também na “paisagem de eventos” (VIRILIO, 1993, p. 54) da pós-
modernidade, engendrou uma adjetivação da cultura para outro alcance, ao se vincular mais
diretamente com o conceito de paisagem.
Para a paisagem, e justamente essencial a demarcação, o ser-abarcada num horizonte momentâneo ou duradouro; a sua base material ou os seus fragmentos singulares podem, sem mais, surgir como natureza - mas, apresentada como "paisagem", exige um ser-para-si talvez optico, talvez estético, talvez impressionista, um esquivar-se singular e característico a essa unidade impartível da natureza, em que cada porção só pode ser um ponto de passagem para as forças totais da existência. (...) Afigurasse-me ser este o ato espiritual com que o homem modela um âmbito de fenômenos e o insere na categoria de "paisagem": uma contemplação em si reclusa, apercebida como unidade autossuficiente, entrançada, porém, numa extensão infinitamente ampla, numa torrente vasta, e guarnecida de
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
limites que não existem para o sentimento do Uno divino e do todo da natureza, o qual reside em baixo, noutro estrato (SIMMEL, 2009, p. 06).
Constructo mental complexo, a histórica acepção do termo paisagem há muito vem assim se
desenvolvendo, em meio às noções de entrelaçamentos da natureza com a cultura: “La
naturaleza es indeterminada y sólo el arte la determina, un país no se convierte em paisaje
más que bajo la condición de un paisaje, y esto, de acuerdo con las dos modalidades, móvil
(in visu) y adherente (in situ), de la artealización.” (ROGER, 2007, p. 08). No entanto, nas
últimas décadas, diversos debates têm sido promovidos, especificamente, pela crescente
adoção do conceito de “paisagem cultural”, abarcando as duas já tradicionais e igualmente
polêmicas categorias da cultura, a cultura material e a cultura imaterial – essa última,
podendo ser assimilada por práticas sucessivas ou pela memorização. Tal acepção de uma
paisagem cultural vem apresentando outras possibilidades de se pensar tanto a preservação
quanto a dinâmica das criações, ambiências e vivências humanas.
O conceito de paisagem cultural, englobando as mais diversas categorias de pensamento,
além de atuar pela preservação das representatividades culturais por meio do instrumento
da chancela (uma forma de acautelamento regulamentada no Brasil pela Portaria 127 de
2009), admite, sob certo controle, o processo, as eventuais necessidades e forças de
mudança que venham a ocorrer em um dado contexto sem que seja perdido o seu valor
enquanto um referencial. Ainda dessa maneira, tal conceito desarticula algumas amarras até
então estabelecidas por meio do tradicional instrumento do “tombamento” – mesmo que
careça de maior instrumentalização de sua complexa gestão, em esferas tão amplas. Já há,
de fato, tentativas como as propostas pela Escola de Berkeley, mediante a elaboração de
atlas e tipologias de paisagem, ou como a recente proposta da UNESCO, mediante o
estabelecimento de três subcategorias distintas para o reconhecimento de uma paisagem
cultural e sua gestão, como já bastante divulgadas (RIBEIRO, 2007): a paisagem evoluída
organicamente, cuja ênfase valorativa se direciona à maneira como determinada paisagem
foi construída ao longo do tempo pelo homem, a paisagem associativa, cuja ênfase
valorativa se direciona às associações culturais desenvolvidas em torno de tal paisagem, e a
paisagem claramente definida, cuja ênfase valorativa se direciona à específica tradição do
paisagismo e da arquitetura da paisagem.
Apesar de ser discutido desde o século passado, principalmente na área da Geografia, o
conceito de paisagem cultural foi melhor apresentado ou formalizado no Brasil, vinculado-se
ao patrimônio cultural nacional, apenas em 2007, na Carta de Bagé, código de procedimento
que, assim como outros elaborados a partir de um congresso de temática específica e
vinculada a preocupações da cidade sede, o define da seguinte maneira:
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Paisagem cultural é o meio natural ao qual o ser humano imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão, resultando em uma soma de todos os testemunhos resultantes da interação do homem com a natureza e, reciprocamente, da natureza com homem, passíveis de leituras espaciais e temporais (CARTA DE BAGÉ, 2007).
De fato, o espaço que o homem modifica, à parte de peculiaridades conceituais, seja natural
ou já reconfigurado por atributos culturais, continua a exercer, mesmo que não de modo
determinante, sua influência numa rede de interações que se manifesta, tanto pela
implantação, escala, volume ou forma (LYNCH, 1997) que estes últimos assumem quanto
pelos comportamentos humanos (JACOBS, 2003) também passíveis de alteração segundo
um dado contexto de inserção e lógica de associação. Logo, os espaços construídos e
vivenciados pelo homem como suas expressões e representações, além dos motivos
específicos para os quais são engendrados, tendem, de fato, a se reforçar, com o tempo,
como fontes potenciais ao conhecimento, e reconhecimento próprio inclusive: “Choque e
adequação, reconhecimento e descoberta, confirmação e surpresa. O viajante viajou no seu
próprio país” (SARAMAGO, 1998, p. 08).
De maneira semelhante a Saramago, Anne Cauquelin, em sua ampla reflexão sobre o
conceito de paisagem, enfatiza distintas percepções passíveis de geração sobre um lugar
de acordo com o grau de vínculo que com ele estabelecemos, ainda que, evidentemente, a
atenção para as múltiplas dimensões que configuram um paisagem – naturais e culturais,
materiais e imateriais, agregadas de maneiras as mais distintas – permitam ampliar sua
compreensão:
Coisa curiosa: quando se trata de culturas estrangeiras, imaginamos facilmente a relação entre os espaços apresentados e os modos de vida, os usos, as “maneiras” de ver e os modos de dizer, de tal forma que chegamos a perceber uma espécie de tecido inconsútil, sem dentro nem fora, em uma única peça. Mas pra nós, em nossa própria cultura, temos grande dificuldade em imaginar que nossa relação com o mundo (com a realidade, diga-se) possa depender de um tecido tal que as propriedades atribuídas ao campo espacial por um artifício de expressão – qualquer que seja ele – condicionem a percepção do real (CAUQUELIN, 2007, p. 14).
Uma vez reconhecidas essas dimensões parcelares da realidade que nos cerca e o quanto
somos condicionados a percepções distintas dessa realidade, a gestão desse conjunto de
manifestações correlacionadas torna-se uma consequência esperada, ainda que venha a se
desdobrar entre sucessivas experiências de êxito imprevisível. Cantão e confim
Cidades, municípios, espaços de longa história ou de conformação recente, de pequeno ou
grande porte, marcados por certo caráter rural ou urbano, dos mais distantes cantões e
confins mais interioranos às grandes e celebrizadas centralidades urbanas, são alvo de
crescentes intervenções e manipulações de seu espaço e suas referências ali configuradas.
E no que diz respeito ao entrelaçamento entre natureza e cultura aqui em estudo,
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
referências como as contribuições de Maurice Halbwachs, vinculadas à consideração do
mecanismo da “memória” no estudo da estrutura social e de suas representações culturais,
como as de base coletiva, se mostram uma possibilidade de relevante auxílio na tentativa,
tanto de uma identificação inicial de traços remanescentes e germinantes de uma
determinada cultura em sua dinâmica desenvolvida em um lugar específico quanto do
possível desenvolvimento posterior de mecanismos para sua melhor regulação.
Nossa cultura e nossos gostos aparentes na escolha e na disposição dos objetos se explicam em larga medida pelos elos que nos prendem sempre a um grande número de sociedades, sensíveis ou invisíveis. (...) Quando um grupo humano vive muito tempo em um lugar adaptado ao seus hábitos, não somente os seus movimentos, mas também seus pensamentos se regulam pela sucessão das imagens que lhe representam os objetos exteriores (HALBWACHS, 2004. p.137).
Halbwachs, cujos trabalhos, amparados em seu prestigiado estudo por muitos designado
como uma sociologia da “memória coletiva”, de conceito por ele criado em 1925 designando
uma dimensão de memória construída, partilhada e transmitida pelo grupo ou sociedade e,
diferindo, dessa maneira, da essencialmente subjetiva “memória individual” estudada por
Henri Bergson, seu professor, parece permitir um enriquecimento nos esforços de análise
para compreensão da esfera cultural. Se para Durkheim a sociedade – por ele conceituada,
de modo geral, como uma rede de representações coletivas compartilhadas entre seus
integrantes e estruturada por conjuntos de instituições, indivíduos e ações – tem na coesão
social, na formação das cidades e na alta comunicabilidade sua condensação progressiva,
para Halbwachs, a partir de outro de seus trabalhos (HALBWACHS, 1939), considerações
como a da memória coletiva terão, também nestes elementos, maiores possibilidades de
registrar, inclusive, a estrutura desta sociedade e, consequentemente, as suas específicas
representações de caráter cultural cristalizadas no espaço.
As cidades são sempre o resultado da necessidade que obriga os indivíduos a estarem constantemente em íntimo contato entre si; constituem, assim, pontos onde a massa social se contrai mais fortemente. (...) Enquanto a organização social é essencialmente segmentaria, a cidade não existe (DURKHEIM, 1978, p 39).
E as considerações de Halbwachs sobre a memória coletiva assemelham-se às bases do
pensamento de Durkheim ao afirmar que a evocação da memória tem como ponto de
referência e aplicação os quadros sociais. Neste sentido de compreensão do processo da
memória e suas duas instâncias, individual e coletiva, pode-se considerar que o individual
existe em relação a um grupo, ou seja, a memória individual é constituída, atravessada e
ampliada no interior de um grupo, a partir da influência, das referências e lembranças do
grupo, da sua memória coletiva. Em outras palavras, sob tal consideração, pode ser dito que a
memória individual refere-se a um ponto de vista sobre a memória coletiva. É possível, ainda,
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
pensar na formação desse sujeito ou dessa memória individual via memória coletiva a partir
do lugar ocupado no grupo e das relações mantidas com o mesmo, o que vem a reforçar,
assim, a importância e a transversalidade entre estas duas dimensões, individual e coletiva.
Seja por meio da memória individual ou, principalmente, por meio da memória coletiva,
muito da história da estrutura social desenvolvida em um lugar, e das representações
culturais expressas no cotidiano por vários de seus segmentos sociais, nem sempre
registradas, podem ser iluminadas por uma análise e um discurso atentos à complexidade
do social (COSGROVE, 1998), o que, de certa maneira, também auxilia no conhecimento de
outras escalas, permitindo a concordância de que: “tem-se mais confiança nas sínteses
obtidas pelo aprofundamento de uma circunstância quotidiana do que num tratamento
global” (AUERBACH apud BOURDIEU, 2005, p. 05). E sob um contexto onde as realidades
locais são inseridas em uma dinâmica global sem precedentes, quando boa parte das
mesmas se configuram como aquelas parcelas defendidas de seu esfacelamento pelos
críticos do atual processo de globalização em razão de sua baixas condições econômicas e
tecnológicas para uma troca cultural equilibrada, diante de uma homogeneização em escala
vertical, tornam-se pertinentes reflexões e atuações no campo cultural alicerçadas em
conceitos abrangentes como o de paisagem cultural.
Considerações
A partir do conhecimento de conceitos e categorizações diversas e sucessivas, como as
evidenciadas neste artigo, criadas tanto no âmbito da cultura quanto no âmbito do espaço
natural alterado pelas práticas e representações culturais, tornam-se claros os esforços
empreendidos historicamente no sentido de sua melhor compreensão de acordo com a
emergência de novos valores e questões e, consequentemente, outras assimilações dessas
esferas, que assim demonstram parte de sua importância.
Ainda que possam ser criticados os atuais métodos de trabalho com tais terminologias, e até
mesmo as limitações conceituais das mesmas, essas categorias de pensamento também
podem ser apreciadas por auxiliarem na compreensão do quanto tem se tornado mais
evidente que a cidades expressam não apenas seus substratos materiais, culturais, mas
também os naturais, assim como uma morfologia social, todos em uma mescla de
interações cada vez mais reconhecida como fundamental para a compreensão das
configurações distintas de cada lugar (HALBWACHS, 2004). De fato, junto ao
reconhecimento das características gerais de um lugar, de suas potencialidades ou
carências naturais e culturais, as forças de pensamento, as teias intangíveis elaboradas por
seus agentes modeladores, que assim engendram ações, transformações e consequentes
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
situações ali vivenciadas, também podem ser reveladas em uma investigação atenta às
múltiplas dimensões que se entrecruzam na conformação da realidade em questão.
Reflexões e ações amparadas na consideração de uma interação entre esferas até poucas
décadas assimiladas de maneira distinta e apartadas (até mesmo em situação de oposição)
podem, com certeza, auxiliar em uma melhor compreensão do contexto contemporâneo –
tanto em seus aspectos e relações locais quanto em suas referências globais dentro da
atual dinâmica contemporânea; um contexto que tem levado a numerosos questionamentos
sobre pontos fundamentais dessa conjuntura que por ora se apresenta, e que foram aqui
apenas superficialmente abordados. Afinal:
O que pode significar a palavra “sustentabilidade” fora dos grandes foros internacionais, na vida cotidiana dos 20 ou 30% da população desocupada, 50 a 70% de pobres que procuram sobreviver nas grandes cidades médias? Que esperanças pode dar-lhes a palavra “cultura”, evocada em jornais que obviamente não lêem, e que o rádio ou a televisão não mencionam quase nunca porque nesses meios de comunicação mais se fala de entretenimento, consumo, modas e prazeres fugazes? (CANCLINI, 2005, p. 186).
Uma possibilidade a ser escolhida é essa acima ressaltada por Canclini e neste trabalho
também defendida, buscar se atentar, nesse contexto, tanto aos acontecimentos de grande
escala e conhecimento, difundidos e reproduzidos pelos mais variados lugares, como também
se deixar ouvir expressões locais bem ou mal amparadas por uma determinada coletividade.
Na específica esfera cultural, se atentar às suas práticas ou instituições culturais consideradas
as mais representativas, por vezes “monumentalizadas” e alçadas ao status de arte,
patrimônio ou paisagens culturais, como também às práticas ou artefatos culturais mais
vivenciados e/ou midiatizados e consumidos no cotidiano e, ainda, àquelas singulares e por
vezes estranhadas práticas ou representações que nem sempre se desvelam ou sequer o
pretendem, mas que expressam legítimas alteridades e meandros da esfera relacional da
cultura, ou de suas múltiplas esferas.
Será a cultura global simplesmente a comercialização internacional de mercadorias culturais por indústrias transnacionais que cercaram e privatizaram os bens comuns culturais, o domínio público? (...) Será a cultura da cidade global uma cultura proletária em algum sentido ainda impensado ou inimaginado dessa palavra, o produto simbólico de massas imigrantes formando movimentos sociais e esferas públicas plebeias de formas ainda não teorizadas? (DENNING, 2005, p. 19).
Diante de “uma cultura global” quando muitos vislumbravam “culturas globais”, não
necessariamente processos passíveis de supressão de representações mais frágeis, mas a
emergência de vários e/ou novos diálogos, o fato de ser este um processo recente e
atuante, e por isso de difícil análise, não impede, contudo, sua simultânea investigação,
mesmo que se proceda por meio dos fatos da ordem do dia, por meio de vínculos a
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
reflexões e situações anteriores, bem como por meio da imaginação criativa, também
conformadora de realidades.
São justamente esses dilemas da contemporaneidade, baseada em uma valorização e
circulação desenfreada de informações que levam a crer, nessas considerações parciais de
uma presente reflexão contínua, o quanto a cultura, se considerada como um sistema de
informações, torna-se um alvo de grande de interesse em tal cenário, o que, obviamente,
engendra uma maior preocupação em relação à sua manipulação, tal como a natureza, em
uma nova fase de valorização simbólica diante de suas reações à sua já excessiva
manipulação. Nesse momento da pós-modernidade, sobressaem-se, é preciso enfatizar, os
porta-vozes de uma cultura fortemente vinculada ao capital por meio da circulação –
financeira, informacional e humana – que tende a homogeneizar o imaginário, as ações e
situações vividas no cotidiano (GUIMARÃES, 2015). Especificidades culturais têm sido, por
não poucas vezes, apagadas diante da valorização midiática de uma representação cultural
específica (SANTOS, 2000), de um modo de vida específico que, de certa maneira, se
equivale ao mesmo padrão de intervenção adotado nos mais distintos e distantes lugares,
assim transformados em concorridos e homogeneizados espaços. Sob tal contexto,
conceitos como o de paisagem cultural, perfazem uma resposta ambiciosa mas coerente à
compreensão, discussão e ação sobre as múltiplas e inter-relacionadas dimensões do
ambiente em que vivemos, sobre o que o mesmo nos ensina, o que podemos preservar ou
mesmo redirecionar para um ou outro sentido considerado mais favorável.
Referências
ACSELRAD, Henri. (Org.). A duração das cidades. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
ARANTES, Otília Beatriz Fiori. O lugar da arquitetura depois dos Modernos. São Paulo: Edusp, 1995. 248 p.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 316 p.
BRUNDTLAND REPORT OUR COMMON FUTURE. United Nations, 1987.
CANCLINI, Nestor Garcia. O papel da cultura em cidades pouco sustentáveis. In: SERRA, Mônica Allende. (Org.). Diversidade cultural e desenvolvimento urbano. São Paulo: Iluminuras, 2005. pp. 185-198.
CARTA DE BAGÉ OU CARTA DA PAISAGEM CULTURAL. Bagé: 2007. Disponível em: <http://www.icomos.org.br/cartas/Carta de Bage PaisagemCultural.pdf>. Acesso em: 15 out. 2012.
CAUQUELIN, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins, 2007. 196 p.
CHARTIER, Roger. A historia cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DELFI, 1988. 240 p.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP, 2001. 284 p.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
______. Património e mundialização. Évora: Licorne, 2005. 65 p.
CONSTITUIÇÃO (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 2000.
COSGROVE, Denis. A geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORREA, Roberto Lobato e ROSENDAHL, Zeny (Orgs.). Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: UERJ, 1998. pp. 92-123.
DECRETO-LEI nº 25, de 30 de novembro de 1937. (1937, 06 dezembro). Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro.
DENNING, Michel. A cultura na era dos três mundos. São Paulo: Francis, 2005. 294 p.
DURKHEIM, Emile. Lições de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 203 p.
GUIMARAES, Sávio T. O singular das Gerais? Entre roteiros e derivas pelas esferas relacionais da cultura. 2015. 288f. Tese (Doutorado em Planejamento Urbano e Regional) - Instituto de Pesquisa e Planejamento Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2004. 198 p.
______. (1939) La estructura morfológica de las grandes ciudades. In: Actas del XIV Congreso Internacional de Sociologia. Bucarest, Instituto de Investigaciones Sociales de Rumanía, 1939.
HOWARD, Ebenezer. Cidades Jardins de amanhã. São Paulo: Hucitec; Annablume, 1996. 188 p.
IPHAN. Proteção e revitalização do patrimônio cultural no Brasil: uma trajetória. Rio de Janeiro. Ministério da Cultura/IPHAN, n. 31, 1980. 143 p.
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Martins Fontes: São Paulo, 2003. 510 p.
JODIDIO. Philip. Architecture now! Temporary. Cologne: Benedikt Taschen, 2011. 416 p.
KÜHL, Beatriz Mugayar. Arquitetura do ferro e arquitetura ferroviária em São Paulo: reflexões sobre sua preservação. São Paulo: Ateliê; Fapesp; Secretaria da Cultura, 1998. 437 p.
LENGEN, Johan van. Manual do arquiteto descalço. Porto Alegre: Livraria do Arquiteto; Rio de Janeiro: TIBÁ, 2004. 480 p.
LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 227 p.
MUMFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo: Martins Fontes, 1982. 741 p.
PORTARIA nº 127 (2009, 30 abril). Estabelece a chancela da paisagem cultural brasileira. Diário Oficial da União, nº 83, Brasília-DF.
RABELLO, Sônia. Tombamento. Rio de Janeiro: 2016. Disponível em: <http://www.portal.iphan.gov.br/dicionariopatrimoniocultural?letra=t>. Acesso em: 01 jul. 2016.
RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem cultural e patrimônio. Rio de Janeiro: IPHAN/COPEDOC, 2007. 152 p.
RIEGL, Alöis. O culto moderno dos monumentos: a sua essência e a sua origem. São Paulo: Perspectiva, 2014. 68 p.
ROGER, Alain. Breve tratado del paisage. Madrid: Biblioteca Nueva,2007. pp. 135-153.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000. 174 p.
SARAMAGO, José. Viagem a Portugal. São Paulo: Schwarcz, 1998. 488 p.
SIMMEL, Georg. A filosofia da paisagem. Covilhã: LusoSofia, 2009. 18p.
TELLES, Mário Ferreira de Pragmácio. Do conjunto ao sistema: análise das normas de proteção ao patrimônio cultural brasileiro sob a ótica dos direitos culturais. 2009. 122 p.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Monografia (Especialização em Patrimônio) – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, 2015.
TYLOR, Edward Burnett. Cultura primitiva. Cidade do México: Fondo de Cultura, 1947. 498 p.
VIRILIO, Paul. Espaço crítico e as perspectivas do tempo real. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. 120 p.