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1 Rosana Ricalde Artista visual, formada em gravura pela Escola de Belas Artes da UFRJ, e Mestre em Ciência da Arte pela Universidade Federal Fluminense, Niterói. Integra a equipe de produção e pesquisa do Paço Imperial, Rio de Janeiro, desde 2000. Em parceria com o artista Felipe Barbosa, participa das três edições do Prêmio Interferências Urbanas, Rio de Janeiro, em 2000 e 2001. Expôs em países como o Japão, França, Espanha, Portugal, Holanda, Croácia, México, Argentina, Porto Rico e São Tomé e Príncipe. Participou de residências artísticas em São Tomé e Príncipe, na V Bienal de Arte e Cultura 2008, na Ilha de Susak, Croácia, no evento Eko Susak 2008 e no Perambulações 2005 em Roterdam, Holanda. Recebeu o prêmio CNI-SESI Macantonio Vilaça III edição. Texto a partir da Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visual Exposições individuais 2011 O livro das Questões, Baró Cruz Galeria, São Paulo, SP. 2009 Mundo Flutuante - Galeria Baró Cruz, São Paulo,SP. O Navegante, Arte em Dobro, Rio de Janeiro, RJ. O Percurso da Palavra - Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza, CE. 2008 Galeria 3+1, Lisboa, Portugal. Palavras Compartilhadas SESC Paraná, Maranhão, Mato Grosso, Ceará, Bahia, Tocantins, Amapá e Pernambuco. 2007 Cidades Ocultas Arte em Dobro, RJ. La Casa Del Lago UNAM (Universidad Autônoma de México) - Intervenção Urbana Cidade do México (trabalho em parceria com Felipe Barbosa). 2006 Todos os Nomes Galeria Amparo 60, Recife. Horizonte Azul Galeria Mínima, RJ. 2005 Móvel Mar Galeria Casa Triângulo, SP. Poesia DES _RE_GRADA, Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho Castelinho do Flamengo, RJ. 2004 Palavra Matéria Escultórica - Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Programa de Exposições Centro Cultural São Paulo, SP. Exercício da Possibilidade - Centro Universitário Maria Antônia, SP. 2003 Casa de Cultura da América Latina, Brasília. Insola(R)ções - Solar Grandjean de Montigny, RJ. 2002 Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho Castelinho do Flamengo, RJ. 2001 Vento Contentamento Galeria do Centro de Artes UFF, Niterói. Verba Volant, Scripta Manent Espaço Maria Martins, RJ.

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Texto de apresentação da exposição Palavras Compartilhadas, de Rosana Ricalde, para professores da rede estadual de educação do ES, produzido por Célia Ribeiro - artedu-celialice.blogspot.com

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Rosana Ricalde

Artista visual, formada em gravura pela Escola de Belas Artes da UFRJ, e Mestre em Ciência da Arte pela Universidade Federal Fluminense, Niterói. Integra a equipe de produção e pesquisa do Paço Imperial, Rio de Janeiro, desde 2000. Em parceria com o artista Felipe Barbosa, participa das três edições do Prêmio Interferências Urbanas, Rio de Janeiro, em 2000 e 2001. Expôs em países como o Japão, França, Espanha, Portugal, Holanda, Croácia, México, Argentina, Porto Rico e São Tomé e Príncipe.

Participou de residências artísticas em São Tomé e Príncipe, na V Bienal de Arte e Cultura 2008, na Ilha de Susak, Croácia, no evento Eko Susak 2008 e no Perambulações 2005 em Roterdam, Holanda.

Recebeu o prêmio CNI-SESI Macantonio Vilaça III edição.

Texto a partir da Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visual

Exposições individuais

2011 O livro das Questões, Baró Cruz Galeria, São Paulo, SP. 2009 Mundo Flutuante - Galeria Baró Cruz, São Paulo,SP. O Navegante, Arte em Dobro, Rio de Janeiro, RJ. O Percurso da Palavra - Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza, CE. 2008 Galeria 3+1, Lisboa, Portugal. Palavras Compartilhadas – SESC Paraná, Maranhão, Mato Grosso, Ceará, Bahia, Tocantins, Amapá e Pernambuco. 2007 Cidades Ocultas – Arte em Dobro, RJ. La Casa Del Lago – UNAM (Universidad Autônoma de México) - Intervenção Urbana Cidade do México

(trabalho em parceria com Felipe Barbosa). 2006 Todos os Nomes – Galeria Amparo 60, Recife. Horizonte Azul – Galeria Mínima, RJ. 2005 Móvel Mar – Galeria Casa Triângulo, SP. Poesia DES –_RE_GRADA, Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho – Castelinho do Flamengo, RJ. 2004 Palavra Matéria Escultórica - Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Programa de Exposições Centro Cultural São Paulo, SP. Exercício da Possibilidade - Centro Universitário Maria Antônia, SP. 2003 Casa de Cultura da América Latina, Brasília. Insola(R)ções - Solar Grandjean de Montigny, RJ. 2002 Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho – Castelinho do Flamengo, RJ. 2001 Vento Contentamento – Galeria do Centro de Artes UFF, Niterói. Verba Volant, Scripta Manent – Espaço Maria Martins, RJ.

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A pesquisa plástica de Rosana Ricalde:

• Explora a escrita fora de seu registro convencional; • Busca na escrita uma densidade que vem sendo solapado pelo sentido de urgência dos tempos

em que vivemos; • Confere uma visualidade corpórea a fragmentos de textos extraídos de poemas, romances,

manifestos; • Subverte a narrativa, a semântica, a sintaxe do texto, expandindo-os numa operação de

superposição e rebatimento de sentidos, desassociando livremente o conteúdo do texto e a forma do vocábulo.

A palavra como dispositivo plástico

Nos trabalhos de Rosana evidencia-se um jogo de atrito entre dois sistemas cognitivos históricos, duas ordens assumidas como paradigmáticas e antagônicas:

A ótico-visual, entendida como experiência essencialmente sensível, não coercível a um conhecimento lógico e logocêntrico e

A textual, remetida a uma natureza decididamente intelectiva.

Ela desfaz essa polaridade em suas obras ao mesclar e confundir suas fronteiras. A palavra retoma um sentido especulativo, na medida em que, translúcida, convoca o olhar a atravessá-la, a procurar em seus vazios algo evocado em seu conteúdo inicial.

Simultaneamente, a palavra retém uma objetividade quase escultórica e se implanta como um dispositivo construtivo.

Rosana problematiza de maneira irônica a encruzilhada demarcada pela arte conceitual, que demarcava o limite da arte na reflexão de sua definição. Ela convoca tal indagação como ponto de partida de novas investigações possíveis, para as quais, todavia, a escrita (ou reescrita) desta - ou destas - pergunta(s) só se torna viável quando propostas materialmente a enfrentar sua inscrição no mundo. Texto a partir de Guilherme Bueno – Curador - MAC - Niterói 2004 http://www.muvi.advant.com.br/artistas/r/rosana_ricalde/materia_escultorica.htm

"[...] quem somos nós, quem é cada um de nós senão

uma combinatória de experiências, de informações, de

leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia,

uma biblioteca, um inventário de objetos, uma

amostragem de estilos, onde tudo pode ser

continuamente remexido e reordenado de todas as

maneiras possíveis".

Sobre a Multiplicidade In CALVINO, Ítalo. Seis Propostas para o

próximo milênio. São Paulo: 2ª Ed.Companhia das Letras, 1998.

Pilares, 2003 - Instalação com 40 pilastras recobertas com páginas de dicionários de línguas latinas http://www.rosanaricalde.com/obrasport.html

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ALFABETO DE VERBOS – 2002

Trabalho inaugural da identidade artística de Rosana Ricalde

“Eu fiz a faculdade, tinha produção, mas o trabalho não tinha identidade. Quer dizer, você pega cada coisa que você conhece e vai digerindo, mas aquilo ali ainda não tem uma linha.

O início dessa linha foi o trabalho que se chamou Alfabeto de Verbos (2002), em que datilografei todos os verbos da língua portuguesa em etiquetas e colei em 42 painéis.

A partir desse trabalho comecei a tomar consciência do que eu estava pesquisando meio instintivamente, e aí foi mais fácil porque passei a conduzir a pesquisa fazendo leituras que estavam ligadas ao que me interessava, antes as coisas estavam mais soltas. (...)

“Esse trabalho inaugurou esse entendimento do que eu queria fazer de fato. Nesse momento, li As palavras e as Coisas do Michel Foucault, que foi um livro muito instigante, que me deu idéias e me mostrou algumas coisas e alguns materiais que eu poderia explorar dentro de meu trabalho.” Catálogo Rosana Ricalde

PROCESSO CRIATIVO

“A gente tem uma biblioteca incrível e uma pequena coleção (...). A gente investe por acreditar que a gente se alimenta daquilo ali, de imagem, de texto e também de informação sobre história da arte. Não sou uma grande estudiosa de teoria, até gostaria de me dedicar um pouco mais, mas não dá tempo, então a formação é um pouco informal. É baseada nos livros que a gente tem e que você vai vendo e tendo idéias, porque a arte contemporânea não te proíbe de ter idéias a partir de outros artistas.

(...) “na arte contemporânea não é só o resultado que representa o trabalho. A imagem pode até falar por si, o trabalho pode produzir um encantamento ou provocação, mas o contexto dele é fundamental para entender a obra. Gosto de ter o contexto, tanto no meu trabalho quanto no de outros artistas e entender como o cara produz, mais ainda os que me interessam.”

''O artista não deve fazer sua arte pensando no dinheiro. Isso é mérito do trabalho. Não pode ser a premissa e sim a conseqüência'', opina Rosana Ricalde, de 32 anos, casada com o colega de profissão Felipe Barbosa, de 26. Eles fizeram faculdade de artes plásticas. Ela se especializou em gravura e ele, em pintura. Há cerca de cinco anos, mantêm um ateliê a dois, no mesmo espaço que é também casa. Depois de formados, trabalharam como monitores, assistentes e restauradores. Também ralaram em um ateliê coletivo, onde dividiam o espaço com outros dez artistas - foi lá que se conheceram. A cada vitória, preparavam-se para dar mais um passo. ''Sempre reinvestimos o que ganhamos em equipamentos como laptop e máquina fotográfica para documentar as obras'', conta Felipe. Hoje a arte virou negócio de verdade. A dupla até emprega três assistentes. ''No início do ano, compramos a nossa casa'', conta Rosana.

Texto: Beatriz Portugal http://revistacriativa.globo.com/Criativa/0,19125,ETT832875-2240,00.html

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OBRAS DE ROSANA RICALDE NA EXPOSIÇÃO ITINERANTE PALAVRAS COMPARTILHADAS

Série CONTRAPOEMAS – Entre a literatura e a imagem

Poema Versos escritos n’água, de Manoel Bandeira, recortado em vinil adesivo preto, e poema construído com palavras antônimas, recortado em vinil branco adesivado sobre vidro-moldura de madeira 100x100cm

Poema Desesperança, de Manoel Bandeira, recortado em vinil adesivo preto, e poema construído com palavras antônimas, recortado em vinil branco adesivado sobre vidro-moldura de madeira 100x100cm

Série AUTO-RETRATOS – Entre a literatura e a imagem

O desejo por aproximar campos distintos é explorado nos trabalhos da série Auto-retratos, em que poemas de cinco autores que formularam, em palavras, o que imaginaram ser a própria imagem (fisionômica ou moral), são reproduzidos, com fita rotuladora, sobre superfícies planas.

A partir de Moacir dos Anjos. Fonte: http://www.muvi.advent.com.br

Auto-retrato de Mário Quintana, 2004. Poema de Mário Quintana intitulado Auto-retrato, escrito em fita rotuladora verde, 50x46cm

Auto-retrato de Cecília Meireles, 2004. Poema de Cecília Meireles intitulado Auto-retrato, escrito em fita rotuladora azul, 50x46cm

Auto-retrato de Manoel Bandeira, 2004, Poema de Manoel Bandeira intitulado Auto-retrato, escrito em fita rotuladora preta, 50x46cm

Auto-retrato de Augusto Massi, 2004. Poema de Augusto Massi intitulado Auto-retrato falado, escrito em fita rotuladora vermelho, 50x46cm

Auto-retrato de Graciliano Ramos, 2004. Poema de Graciliano Ramos intitulado Auto-retrato, escrito em fita rotuladora roxa, 50x46cm

Série PROVÉRBIOS – Entre a literatura e a imagem

Provérbio. 2004. Pinturas com frases coloridas para serem vistas com óculos coloridos

Série O TEMPO MUDA TUDO – Entre a paisagem e a escrita

O Tempo muda tudo, 2002.

Três vidros com palavras escritas em areia colorida.

Série de 5 fotografias com diferentes ordens de palavras, 40x60cm cada fotografia| 3x5cm cada vidro

Série MARES – Entre a paisagem e a escrita

Mar Egeu, 2006. Desenho sobre papel artesanal azul, feito com o nome Mar Egeu, 91x62x5cm Mar Vermelho, 2006. Desenho sobre papel artesanal azul, feito com o nome Mar Vermelho, 91x62x5cm

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Série MANIFESTOS – Construções em palavras

Rosana Ricalde apresenta vários manifestos artísticos conhecidos, em versões "visuais-literárias", onde a estrutura do texto é destrinchada, sugerindo uma tomada de atitude do público ou do artista através de uma leitura diferente.

Os trabalhos buscam a palavra pelo viés da sua materialidade, reinventando a métrica e a rima dos escritos, e colocando a verbalidade como elemento primordial - ainda que a legibilidade e o entendimento imediato das frases sejam comprometidos de certa forma.

Desse modo, o lugar da palavra e do conteúdo no meio do bombardeio de mídias ultra-rápidas que em que vivemos, é a questão mais crítica desta série, que rejeita interpretações manifestantes ardorosas.

Daniela H. Labra http://www.muvi.advant.com.br/artistas/r/rosana_ricalde/exercicio_da_possibilidade.htm

Leitura Dinâmica, 2003. Estatística das letras empregadas na escrita do Manifesto neoconcreto – impressão sobre papel, 60x42cm

Manifesto de Verbos, 2003. Manifesto antropofágico sem espaços entre as palavras e com os verbos que surgem após esta junção das palavras colocados em negrito – impressão sobre papel, 60x42cm

Deglutição do Manifesto, 2003. Manifesto antropofágico escrito apenas com vogais – impressão sobre papel, 60x42cm

Manifesto Objeto, 2004. O objeto (escrito por Waldemar Cordeiro) sobreposto à imagem A Mulher que não é B.B. (obra de Waldemar Cordeiro) – impressão sobre papel, 60x42cm1. Manifesto Visível, 2004. Manifesto ruptura sobreposto à obra Idéia visível (de Waldemar Cordeiro) – impressão sobre papel, 60x42cm

TEXTOS DE APOIO PARA A SÉRIE MANIFESTOS

Manifesto Neoconcreto

O neoconcretismo dialoga com o movimento concreto no país (década de 50) e os artistas dos Grupos Frente - RJ, Ruptura - SP.

A arte concreta, tributária das correntes abstracionistas modernas das primeiras décadas do século XX - Bauhaus, De Stijl, Cercle et Carré, do suprematismo e construtivismo soviéticos, ganha terreno com as formulações de Max Bill, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

O contexto desenvolvimentista de crença na indústria e no progresso dá o tom da época. O programa concreto parte de uma aproximação entre trabalho artístico e industrial. Afasta da arte qualquer conotação lírica ou simbólica. O quadro, construído exclusivamente com elementos plásticos - planos e cores -, não tem outra significação senão ele próprio. Menos do que representar a realidade, a obra de arte evidencia estruturas e planos relacionados, formas seriadas e geométricas, que falam por si mesmos.

A investigação dos artistas paulistas enfatiza o conceito de pura visualidade da forma. Em oposição o grupo carioca destaca a intuição como requisito fundamental do trabalho artístico e estabelece uma articulação forte entre arte e vida, afastando a consideração da obra como "máquina" ou "objeto“.

O manifesto de 1959, assinado por Amilcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis, denuncia o perigo da exacerbação racionalista da arte concreta levada.

Contra as ortodoxias construtivas e o dogmatismo geométrico, os neoconcretos defendem a liberdade de experimentação, o retorno às intenções expressivas e o resgate da subjetividade.

Texto a partir da Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais Imagem: http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=11852

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Manifesto Antropófago

Escrito por Oswald de Andrade, foi publicado em maio de 1928, no primeiro número da Revista de Antropofagia.

Em linguagem metafórica cheia de aforismos poéticos repletos de humor, repensa a dependência cultural no Brasil.

Influências teóricas identificadas no Manifesto:

Pensamento revolucionário de Karl Marx;

Descoberta do inconsciente pela psicanálise e o estudo Totem e Tabu, de Sigmund Freud;

Liberação do elemento primitivo no homem proposta por alguns escritores da corrente surrealista como André Breton;

Manifeste Cannibale escrito por Francis Picabia em 1920;

Questões em torno do selvagem discutidas pelos filósofos Jean-Jacques Rousseau e Michel de Montaigne;

Idéia de barbárie técnica de Hermann Keyserling.

Oswald amalgamou essas influências ao conceito inédito de antropofagia ou canibalismo com raízes na história da civilização brasileira.

A antropofagia realça a contradição violenta entre as culturas primitivas (ameríndia e africana) e a latina na base da cultura brasileira.

Não propõe um processo de assimilação harmoniosa e espontânea entre os dois pólos, como no Manifesto da Poesia Pau-Brasil de 1924. Agora o primitivismo aparece como signo de deglutição crítica do outro, o moderno e civilizado:

"Tupy, or not tupy that is the question. (...) Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago".

O mito irracional critica a história do Brasil e as conseqüências de seu passado colonial, e estabelece um horizonte utópico, em que o matriarcado da comunidade primitiva substitui o sistema burguês patriarcal:

"Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama".

Oswald não se opõe à civilização moderna industrial, acredita que alguns de seus benefícios tornam possíveis formas primitivas de existência. Por outro lado somente o pensamento antropofágico é capaz de distinguir os elementos positivos dessa civilização, eliminando o que não interessa, podendo promover a "Revolução Caraíba" e seu novo homem "bárbaro tecnizado": "A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls".

Na nova imagem forjada o passado pré-cabralino é emparelhado com as utopias vanguardistas, pois "já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista" em nossa idade de ouro.

A antropofagia desloca o objeto estético, predominante na fase pau-brasil, para discussões relacionadas com o sujeito social e coletivo.

A multiplicidade de interpretações do Manifesto Antropofágico proporcionada pela justaposição de imagens e conceitos é coerente com a aversão de Oswald de Andrade ao discurso lógico-linear herdado da colonização européia. Sua trajetória artística indica que há coerência na loucura antropofágica - e sentido em seu não-senso.

A partir de texto In http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=marcos_texto&cd_verbete=339

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O Objeto

CORDEIRO, Waldemar. O objeto. AD – Arquitetura e Decoração, São Paulo n. 20, não paginado, nov./dez. 1956.

No ápice concretista, durante a I Exposição Nacional de Arte Concreta (1956/57), (Waldemar Cordeiro) propõe uma nova correlação entre “O objeto” e a sensibilidade, fundada na “experiência direta”, mas atenta à “potencialidade social da criação formal”. (...)

A arte é conceituada como produtora de objetos que são fontes de conhecimento, matrizes de uma nova realidade. Mais do que fatura, a obra é produto; o único conteúdo (e valor) artístico admitido é o fato visual concretamente materializado pela obra. (...).

Manifesto Ruptura

Sob o impacto da I Bienal Internacional de São Paulo, e da vinda delegação dos artistas construtivistas suíços, principalmente Max Bill, surgiu em São Paulo o movimento concreto. O grupo inicial era formado por Waldemar Cordeiro, Lothar Charoux, Geraldo de Barros, Luiz Sacilotto, Kazmer Féjer, Anatol Wladyslaw e Leopoldo Haar, artistas que desde a década anterior realizavam experiências com a abstração, abandonando a representação da realidade em suas obras. A arte representativa não respondia às novas questões do mundo industrial. Era necessária uma nova forma de arte, que pensasse e agisse diretamente na sociedade contemporânea.

Os artistas se reuniam regularmente para discutir os novos caminhos da arte, da arquitetura e do design (termo este que era novidade no Brasil). A idéia era organizar um projeto de reforma para a cultura brasileira. Surge o Grupo Ruptura.

Manifesto Ruptura:http://www.artbr.com.br/casa/ruptura/manirup.html Texto: http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo3/ruptura/ruptura.html

Idéia Visível

Waldemar Cordeiro 1925-1973

Nasce em Roma, onde inicia sua formação artística. Vem para o Brasil em 1946.

Trabalha inicialmente como jornalista, crítico de arte e realiza ilustrações para jornais.

Em 1952, funda o Grupo Ruptura, do qual participam, entre outros artistas, Luiz Sacilotto (1924 - 2003) e Lothar Charoux (1912 - 1987).

Conhece os poetas Décio Pignatari (1927), Haroldo de Campos (1929 - 2003) e Augusto de Campos (1931), que divulgam na revista Noigandres a experiência da poesia concreta em São Paulo.

Na década de 50 produz obras que se caracterizam pelo rigoroso abstracionismo geométrico e pelo uso de materiais industriais

No fim da década de 40 realiza quadros abstratos nos quais dialoga com a pureza plástica das obras de Mondrian, empregando cores primárias, linhas retas e pinceladas impessoais lisas como, por exemplo, em Estrutura Plástica (1949).

Explora também relações entre círculos sobrepostos e deslocados do centro, como em Idéia Visível (1956), que possui um ritmo musical. A partir de: www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3529&cd_item=2&cd_idioma=28555

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“Realismo artístico e não realismo anedótico.” Forma autônoma de conhecimento, a arte afronta o mundo exterior com seus próprios meios, em total independência das injunções verbais, abrindo-se à realidade sem alterar sua essência. O aval desse argumento é o conceito de “arte produtiva” de Fiedler, que se opõe ao idealismo da arte de “expressão” – “a arte não é expressão mas produto; a linguagem artística não é expressão do ser, mas forma do ser”. Sendo produto, ela não exprime, é. (...)

Reconhecidas a especificidade e a autonomia da arte, credita-se ao fazer artístico um papel analítico, reflexivo, cognitivo, depurador do olhar. O fato pictórico adquire significação com a própria prática visual. A arte enquanto “pensamento por imagens” alcança a intelecção artística no ato mesmo em que se realiza. A construção de um campo disciplinar autônomo constitui a essência da arte concreta, informando teoria e ação ao longo dos anos 1950. (...)

A singularidade do concretismo brasileiro e, particularmente, de Cordeiro, deve ser imputada à associação inusitada de Fiedler, Gramsci e teoria da Gestalt: arte como objeto, portanto conhecimento sensível fundado na experiência direta e voltado à pedagogia do olhar, entendidos a ação cultural como fato político e o intelectual como agente persuasivo a produzir valores endereçados à transformação das concepções de mundo das massas.

In MEDEIROS, Givaldo. Dialética concretista: o percurso artístico de Waldemar Cordeiro, revista do ieb n 45 p. 63-86 set 2007 http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/rieb/n45/a05n45.pdf

A mulher que não é B.B.

Waldemar Cordeiro 1925-1973

A partir de 1968, associado ao físico e engenheiro Giorgio Moscati, realiza os primeiros trabalhos em arte por computador, na Universidade de São Paulo.

Para Waldemar Cordeiro, a arte eletrônica é uma seqüência lógica da arte concreta, na qual o artista cria um projeto, que tem em sua base um programa numérico.

Trabalha com derivações de imagens, partindo de fotografias, que são traduzidas em imagens de trama reticulada - um processo usual na indústria gráfica.

Em A Mulher Que Não É B.B. (1971), estuda a desintegração da figura no campo visual a partir da foto de uma menina vietnamita. (...)

Waldemar Cordeiro propõe, assim, em suas obras, outra compreensão da arte através dos novos recursos tecnológicos, dos quais estimula o uso criativo.

Texto a partir de: www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3529&cd_item=2&cd_idioma=28555 Retrato: http://www.fabiofon.com/webartenobrasil/texto_interartistas2.html