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24 a 26 de junho de 2015 Palestras e oficinas

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24 a 26 de junho de 2015

Palestras e oficinas

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Desembargador Herbert José Almeida CarneiroPresidente

Juíza Luzia Divina de Paula PeixôtoVice-Presidente Administrativa

Juiz Luiz Carlos Rezende e SantosVice-presidente Financeiro

Juiz Maurício Torres SoaresVice-Presidente de Saúde

Desembargador Tibagy Salles OliveiraVice-Presidente dos Aposentados e

Pensionistas

Juíza Ivone Campos Guilarducci CerqueiraVice-Presidente do Interior

Desembargador Tiago PintoVice-presidente Sociocultural-Esportivo

Juiz Morvan Rabêlo de RezendeDiretor-Secretário

Juíza Maria das Graças Rocha SantosDiretora-Subsecretária

Juíza Aldina Soares de LimaJuíza Rosimere das Graças do Couto

Diretoras de Comunicação Social

Desembargadora Jane Ribeiro SilvaDiretora do Centro de Estudos da Magistratura

Juiz Luiz Guilherme MarquesVice-diretor do Centro de Estudos da

Magistratura

DIReTOReS CuLTuRAISDesembargador Guilherme Luciano Baeta Nunes

Desembargadora Mariângela Meyer Pires Faleiro

Juiz Mauro Simonassi

Diretoria triênio 2013/2015

CONSeLHO DeLIBeRATIvOJuiz José Aluísio Neves da Silva

Presidente

Juiz José Roberto SterseVice-presidente

Juiz Antônio Carlos ParreiraSecretário

ASSeSSOReS eSPeCIAIS DA PReSIDêNCIADesembargador Tiago Pinto

Juiz Lailson Braga Baeta NevesDesembargador Nelson Missias de Morais

Desembargador Reynaldo Ximenes CarneiroDesembargador Doorgal Gustavo Borges de Andrada

Desembargador Marcio Aristeu Monteiro de BarrosMinistro Paulo Geraldo de Oliveira Medina

Juiz Marcelo Cavalcanti Piragibe MagalhãesJuiz Carlos Donizetti Ferreira da Silva

COMISSãO eXeCuTIvA DO I CONGReSSO MINeIRO SOBRe eXPLORAçãO MINeRáRIA

Desembargadores Tiago Pinto (presidente), José do Carmo veiga de Oliveira (secretário), edison Feital

Leite, Sérgio André da Fonseca Xavier e Maurício Torres Soares. Juízes Juarez Morais de Azevedo, Luiz Carlos

Rezende e Santos, Pedro Câmara Raposos Lopes, Letícia Drumond, Rosimere das Graças do Couto, Luzia Divina de Paula Peixôto, Geraldo Antonio de Freitas, vânia da

Conceição Pinto e José Martinho Nunes Coelho.

ASSeSSORIA De COMuNICAçãO DA AMAGISBruno Gontijo – MTB-MG: 11008 (Coordenador)

Adriano Boaventura – MTB-MG: 09181Fernanda Marques – MTB-MG: 12188Georgia Baçvaroff – MTB-MG: 08441Izabela Machado – MTB-MG: 11210

Tiago Parrela – MTB-MG:14634

Projeto Gráfico e diagramaçãoCommunicatio Design

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Índice

aPreSentaÇÃo

PaleStraS

“Mineração e Desenvolvimento Sustentável com Ênfase em Aspectos Econômicos” Ex-ministro Paulo Roberto Haddad

“Marco Regulatório”Dr. Octávio Bulcão Nascimento (Diretor Jurídico da Vale S.A.)

“Direito de Pesquisa e Lavra”Dr. Ricardo Eudes Ribeiro Parahyba (Coordenador de Ordenamento Mineral do DNPM)

“Direito de Superfície” Dr. Adriano Drummond Cançado Trindade (Advogado do escritório Pinheiro Neto Advogados)

“Expansão da Atividade Minerária” Dr. Walter Lins Arcoverde (Diretor de Fiscalização Minerária do DNPM)

“Medidas Compensatórias” Dr. Thiago Rodrigues Cavalcanti (Advogado de Meio Ambiente da Fiemg)

“Fechamento de Mina” Dr. Denes Martins da Costa Lott (Advogado analista de meio ambiente na Vale S.A.)

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oficinaS

“Mediação e direitos superficiários” Priscila Ramos Netto Viana (Advogada)

“Projeto e exposição sobre o marco regulatório - legislação sobre o tema”Deputado Federal Gabriel Guimarães (presidente da Comissão Especial do Novo Marco Regulatório Mineral)Deputado Federal Leonardo Quintão(relator do projeto do novo Marco Regulatório)

“Exploração minerária: evolução e perspectivas”José Mendo Mizael de Souza(Engenheiro de Minas e consultor)

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 7

aPreSentaÇÃo

Judiciário e a exploração mineráriaHerbert Carneiro

Presidente da Amagis

A Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis) promoveu, de 24 a 26 de junho, em Belo Hori-zonte, o I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária. A iniciativa, pioneira no âmbito do Judiciário, nasceu da crescente demanda judicial envolvendo a questão minerária e seus reflexos econômicos, ambientais e sociais. Soma-se a isso a premente necessidade de aperfeiçoamento do Judiciário, uma das prioridades de nossa gestão frente à Amagis.

Em um mundo complexo e dinâmico em que vivemos, o aprimoramento é instrumento indis-pensável para enfrentar conflitos e apresentar soluções justas e adequadas à sociedade. O debate jurídico dessa questão não se restringe, como se pode imaginar, só aos impactos ambientais sempre associados ao tema, mas de maneira ampla a todos os desdobramentos dessa importante atividade econômica, que faz de Minas Gerais o maior estado produtor do País.

A atividade está presente em mais de 400 municípios mineiros, onde estão localizadas as 40 das 100 maiores minas em operação no País. Diante dessa realidade, o objetivo do congresso foi promover o apro-fundamento de tema sobre o qual, muitas vezes, não se tem acesso à doutrina mais vasta, além de per-mitir a troca de experiências entre magistrados e outros operadores do direito com especialistas do setor.

Chamamos ao debate não só a magistratura, mas os promotores de justiça, advogados, defensores públicos, as empresas e especialistas na matéria com o temário mais abrangente possível, desde o tão aguar-dado Marco Regulatório até a exaustão da atividade, sempre na busca da mediação no conflito minerário.

Agradecemos o apoio e a dedicação de todos os envolvidos, em especial dos integrantes da dire-toria da Amagis e dos palestrantes, que aceitaram dividir seus conhecimentos com um público ávido por se aprofundar no tema. A presente publicação traz grande parte do conteúdo apresentado no congresso. Desejamos a todos uma excelente leitura.

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária8

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 9

Mineração e desenvolvimento sustentável – com ênfase em aspectos econômicos

Paulo Roberto Haddad

Transcrição da palestra Magna “Mineração e desenvolvimento sustentável – com ênfase em aspectos econômicos”, proferida pelo ex-ministro da

Fazenda e planejamento Paulo Roberto Haddad

Vídeo disponível em www.youtube.com/watch?v=v7IpQD6tDaY

O objetivo desta exposição é dar uma visão de conjunto do papel da mineração no processo de desenvolvimento nacional e, especificamente, no processo de desenvolvimento de Minas Gerais.

Na primeira parte da palestra eu pretendo mostrar como a mineração se desenvolveu em três etapas da história econômica brasileira. Como o assunto é muito amplo, eu vou considerar três mo- delos de desenvolvimento, que ocorreram na nossa história. Do período colonial até a crise de 1929, nós podemos dizer que a economia brasileira cresceu segundo o modelo primário exportador. O que significa isso? Na divisão internacional do trabalho, enquanto a Inglaterra, os Estados Unidos, a França produziam e exportavam produtos industriais, muitos países da África e da América Latina, inclusive o Brasil, tinham a sua dinâmica de crescimento na exportação de produtos primários. Nós exportáva-mos alimentos, madeira, minérios, ouro, prata, minério de ferro, manganês, exportávamos fardos de algodão, então, nós caracterizamos essa economia, como economia primário-exportadora.

PaleStraS

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária10

O que caracteriza esse modelo primário exportador são dois fatos importantes. Primeiro, o que a gente exportava tinha baixo conteúdo tecnológico. Nós exportávamos, na verdade, produtos que eram intensivos de clima adequado, fertilidade do solo, abundância de recursos naturais, posição geográfica, ou seja, todos os fatores que não eram especializados. Isso foi caminhando, a gente exportava produ-tos primários e, com a receita cambial, nós importávamos produtos industrializados da Europa, dos Estados Unidos e de outros países e, à medida que haviam crises cambiais, de alguma forma aparecia uma substituição de importações. Ou seja, nós conseguimos produzir internamente aquilo que era importado, por falta de reserva cambial, por falta de divisas para fazer importações.

Esse quadro veio se caracterizando até a chegada do presidente Juscelino Kubitschek no poder, quando ele estrutura o modelo de substituição de importações, que foi um modelo de um trabalho corajoso de um grande estadista, que programou 56 metas, uma delas era a construção de Brasília, e tinha as metas para substituições de importações de automóveis, de produtos químicos, de produtos cerâmicos, entre outros.

Quando sai do governo o presidente Kubitschek, o Brasil era o país do Terceiro Mundo com a indústria mais moderna entre todos eles. Mas, nesse processo de industrialização do Brasil, nós desen-volvemos um preconceito muito forte contra minérios e produtos agrícolas. Ao valorizar a industria- lização, a Cepal e o BNDES, que formularam o programa de metas, desenvolveram uma série de argu-mentos que continuam na consciência popular brasileira.

Os argumentos são baseados na teoria do economista argentino Raúl Prebisch, ex-presidente da Cepal. Segundo ele, um país que se especializa em produtos primários, proteína animal, proteína vege-tal, ele não tem um horizonte de desenvolvimento muito grande, por três motivos. Primeiro, há uma tendência para a deterioração nas relações de troca, como a entrada de concorrentes é muito grande, por causa da facilidade de entrada no setor, a oferta de produtos primários se intensifica rapidamente, como o exemplo do café. O café era um produto brasileiro, passou para a Colômbia e, nos anos mais recentes, o Vietnã é segundo maior produtor mundial de café, que não consome café, e sim chá.

Então o que você precisa é do clima, da fertilidade de solo, da abundância de recursos naturais, mão de obra não qualificada ou semi qualificada, ou seja, a condição de entrada de concorrentes é relativamente mais fácil. Isso provocaria, segundo Prebisch, uma deterioração nas relações de troca, ou seja, você tem que mandar mais e mais fardos de algodão, ano a ano, pra conseguir comprar o mesmo fusca da Alemanha. Ou então, você tem de mandar mais e mais sacas de café para conseguir importar algum produto durável de consumo.

A segunda tese é a de que você tem uma capacidade de substituir produtos que têm intensidades de recursos naturais com mais facilidade. Fibras sintéticas contra fibras naturais, você pode substituir diferentes tipos de carne, diferentes produtos de alimentos, você pode miniaturizar os produtos indus-triais usando menor intensidade de produtos naturais. Temos, por exemplo, uma comparação entre a quantidade de recursos naturais em uma televisão antiga e a quantidade de recursos atualmente. Você pode melhorar a tecnologia e economizar a quantidade de minério de ferro por tonelada de aço.

O terceiro argumento é o de que, à medida de que a renda do mundo aumentava, você consumia relativamente menos alimentos. Por exemplo, uma família de renda alta consome 11% de alimentos e uma família de renda baixa consome 32% da renda em alimentos, e isso aconteceria entre as nações.

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 11

Ficou esse sentimento na consciência popular de que, para se desenvolver, você precisa de in-dústria, indústria tecnológica, eletrônica, siderurgia, petroquímica, etc.

O segundo modelo é o de substituição de importações, quando a mineração alimentou o proces-so de industrialização, no primeiro modelo a mineração tinha um papel importante. O terceiro modelo é o da globalização econômica, que acontece a partir de 1990. O Brasil abriu seu comércio internacion-al, derrubou as barreiras e facilitou a entrada e saída de capitais estrangeiros e de mercadoria e serviços, nós passamos a exportar, por mês, o que a gente exportava por ano, isso há 20 anos. A dinâmica do crescimento passou então a depender da integração do Brasil no processo de globalização. Esse mod-elo é chamado de integração competitiva.

EConomia globalizada

Nós podemos dizer o seguinte: qual a mudança entre a mineração no modelo primário exporta-dor e a mineração numa economia globalizada? Em primeiro lugar, temos que observar que, com a entrada da China, da Índia, dos países do sudeste asiático no mercado internacional, e com a melhoria da distribuição da renda em vários países, como é o caso brasileiro, quando nós incorporamos 100 milhões de pessoas ao mercado consumidor, e com o desenvolvimento e urbanização dos países, a demanda para produtos intensivos de recursos naturais mudou de patamar.

Hoje, há uma mudança muito grande da demanda do mercado de minério, de alimento, de proteína animal, de proteína vegetal, de papel e celulose, etc. Essa demanda fez com que puséssemos em questão o modelo cepalino de desenvolvimento em relação ao modelo dos produtos primários.

Primeiro, com a avalanche de demanda que há para produtos intensivos de recursos naturais, começaram a ser desenvolver, aceleradamente, a mineração e o agronegócio no Brasil. A mineração, nos últimos 10 anos, é responsável por 180 bilhões de dólares na formação das reservas cambiais brasileiras. Ou seja, o agronegócio com 45 bilhões de superávits na balança comercial por ano, e a mineração em torno de 20 a 30 bilhões de superávits na balança comercial por ano, juntos, elas têm formado grande parte das reservas cambiais brasileiras, e isso é fundamental. Nesse momento de crise nacional, o fato de o Brasil ter 380 bilhões de dólares de reserva cambiais dá ao país maior autonomia para formular a política econômica, de defesa do nível de renda, de emprego interno.

Quando eu entrei no Ministério, a reserva cambial brasileira era de 19 bilhões de dólares, vocês imaginam se houvesse uma nova crise de petróleo, uma quebra de safra, e o Brasil tivesse de comprar à vista produtos para abastecer a nossa economia, energia e alimentos? Do ponto de vista macroeco-nômico, há uma mudança substancial no papel do agronegócio e da mineração na economia brasile-ira. Eu diria, hoje, que se nós não tivéssemos o dinamismo do agronegócio e da mineração, nessa crise que estamos vivendo, estaríamos numa profunda depressão econômica.

Então é preciso ver do ponto de vista macroeconômico o papel que vem sendo desenvolvido pela mineração e o agronegócio.

Esse modelo funciona assim: a demanda mundial de produtos intensivos de recursos naturais se amplia, com isso o patamar da demanda aumenta. Há uma pressão de demanda para alimentos na

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China, de fibras naturais, proteína animal, proteína vegetal, diferentes tipos de minérios, isso criou um novo patamar. A tendência é reverter a deterioração nas relações de troca e isso significa que toda vez que houver um ciclo de crescimento, como houve de 2002 a 2010, os preços dos produtos naturais crescem mais rapidamente do que os produtos industriais.

Se vocês observarem, qualquer surto de crescimento provoca imediatamente aumento do preço do petróleo, do minério, dos alimentos, dos produtos intensivos de recursos naturais. A região que esti-ver produzindo alimentos, minérios, produtos naturais tendem a produzir coisas de alto valor econômi-co. Esse é o primeiro ponto.

O segundo ponto é que quando você explora uma tonelada de carne, em Uberlândia, para co-locar na mesa de um japonês, ou uma tonelada de minério em Itabira, para colocar na China, hoje, existe uma grande intensidade tecnológica nos produtos. Se você elevar o custo de produção de uma tonelada de minério, de Itabira com destino para a China, 15% são recursos naturais e 85% são engen-haria financeira, pesquisa e desenvolvimento, logística de transporte, ou seja, capital humano, e não capital natural. Isso significa que a mão de obra e as instituições que produzem esses recursos são hoje intensivas de tecnologia e de capital humano.

Isso é importante porque, em torno de 1960, o presidente Kennedy estava preocupado com a influência da ideologia cubana na America Latina. Você tinha dois focos importantes de influência cubana. No Nordeste brasileiro, com as Ligas Camponesas de Francisco Julião, e na Bolívia com Che Guevara.

O presidente Kennedy usou o seguinte raciocínio. Quando terminou a 2ª Grande Guerra, a Europa estava destruída, fizemos então o Plano Marshall e levantamos a Europa em 10 anos, através de ajuda financeira e assistência técnica. Foi pensado em fazer o Plano Marshall da América Latina e trabalhar contra a pobreza no Nordeste e de outros países da América Latina. Esse programa se chamou de “Aliança para o Progresso”.

O Celso Furtado escreveu um artigo brilhante, que dizia o seguinte: quando um país desenvolvido sofre uma perda na guerra, o que foi destruído é o capital físico, não foi o capital social. Então, as fábri-cas, as casas, as estradas foram destruídas, mas o empreendedorismo dos empresários locais estava lá, as universidades estavam lá, o capital cultural e o capital institucional. Quando você injeta uma moeda forte em uma economia cujo capital físico foi destruído, é possível levantar esse país. Mas não neces-sariamente se você injetar mais dinheiro, numa região subdesenvolvida que não tem capital social, o desenvolvimento vai aparecer.

O segundo argumento é de que hoje há mais tecnologia numa semente de soja, ou de ovo na granja, do que na indústria têxtil tradicional. Ou seja, nós temos hoje na exportação de produtos primários, uma alta intensidade tecnológica. E o terceiro argumento é de que os países que importam estão impondo a especificação do produto que gera necessidade nos países que exportam em qualifi-car os produtos. Na Europa, por exemplo, em 2002, 27 países da União Européia criaram um sistema em que você controla a entrada de produtos de 1.600 substâncias químicas. Foi instalado na Finlândia um grande laboratório e se, no Vale Jequitinhonha ou em Montes Claros, você produziu extrato de tomate para exportar para um destes 27 países, a exportação pode voltar se tiver alguma substância química que é proibida naqueles países. Esse programa se chama Reach.

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A partir da demanda dos países, a qualidade dos produtos que entram, em termos do sabor do café, segurança dos produtos, manutenção, entre outros, há um exigência tão grande que, do lado de cá, nós temos de qualificar os produtos. Fazer o café gourmet, o café orgânico, introduzir mais sabor no café arábica, tem ainda a logística de transporte, a certificação, ser contra a mão de obra infantil, contra a degradação ambiental, etc.

Dessa forma, o mercado mundial está colocando tantas restrições, que nos obriga a formular as nossas tecnologias. Essa é uma visão muito positiva para as regiões, os municípios, que têm na sua base econômica os produtos intensivos de recursos naturais.

difEREnças REgionais

Vou apresentar um quadro agora, onde as regiões em vermelho, representam municípios onde o PIB per capita é inferir a 30% do PIB per capita brasileiro. Nesse mapa você tem o seguinte: na parte ori-ental da Amazônia esse cálculo do PIB não tem o menor significado, porque é um vazio demográfico e econômico. Mas do estado do Pará até Minas Gerais, você tem áreas economicamente deprimidas. Isso significa que, nessas regiões, produz-se pouco, a renda é pequena e a sobrevivência de um município como este, de 70% a 80% dos recursos das prefeituras vêm de transferências do Governo Federal, fun-do de educação, de saúde, de participação dos municípios.

Portanto, se não houvesse esse mecanismo político de transferência das regiões mais ricas para as mais pobres, através da tributação, as prefeituras dificilmente poderiam fornecer os serviços sociais básicos, e as famílias, uma média de 60%, estão debaixo de um “guarda-chuva” de política social compensatória. Ora, aí você tem o Bolsa Família, os benefícios continuados, e, no começo de cada mês, entre o dia 1 e 10, são pagas essas transferências, a economia da cidade se movimenta e se paralisa na segunda quinzena.

Evidentemente que é uma solução política inteligente, porque se não houvesse esse bombea-mento de recursos das áreas mais ricas, através do Imposto de Renda, do IPI, para as regiões mais pobres, fazendo os fundos compensatórios, o que nós teríamos ali seria uma Somália no Vale do Jequi- tinhonha, uma Gana no agreste, uma Nigéria no sertão. Então, pelo menos, essa política compen-satória, que às vezes os economistas criticam muito, foi uma solução política, na Constituição de 1988, que tem dado certa paz para o capitalismo funcionar no país. Então, quando você começa a fazer o ajuste fiscal e não toma cuidado com essa modelagem que nós construímos em nossa história, é muito perigoso jogar nessas áreas uma profunda depressão econômica.

Agora no mapa tem os municípios em azul que têm o PIB per capita maior do que o dobro do PIB per capita brasileiro. Quem está bem nesse cenário? Centro-norte do Mato Grosso, Triângulo Mineiro, Oeste do Maranhão, Oeste da Bahia, Sul do Maranhão, Sul de Rondônia. Esses municípios são aque-les do agronegócio e estão muito bem. Primavera do Leste, Sorriso, Vilhena, Uberlândia, Uberaba são municípios que estão muito bem nos indicadores econômicos, e todos os municípios de mineração capitalista moderno. Por exemplo, o maior PIB per capita de Minas é de São Gonçalo do Rio Abaixo, Mina do Brucutu, Nova Lima, Itabira, Fortaleza, todos esses municípios que têm uma empresa capita- lista moderna e não o garimpo, o extrativismo, eles estão na posição azul.

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária14

Então aqui nos permitimos comparar. Historicamente, em Minas Gerais, é como se você saísse de carro do Rio para Brasília, para cima fica o Nordeste brasileiro, temos 180 municípios no vermelho. Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Norte de Minas, e quatro microrregiões do Vale do Rio Doce. Acima, o Nordeste, para baixo (no quadro), Alto Paranaíba, Triângulo, Sul de Minas, municípios que parecem o interior de São Paulo. Então essa dualidade espacial da economia mineira mostra que as áreas antigas da mineração colonial, do modelo primário exportador, estão hoje economicamente deprimidas, e as áreas da mineração moderna estão com alto nível de desenvolvimento.

Esse é um ponto muito importante porque há uma relação muito estranha da população com as empresas mineradoras. Você está numa cidade, você está gerando emprego, renda, aumentando a base tributária do município, e a população tem uma imagem negativa do empreendimento. Isso tem muito a ver com a história que contei anteriormente. Olha o ciclo de diamante, o ciclo do ouro, o que ficou? Essa idiossincrasia do buraco da mineração.

É importante percebermos esse problema. Como, por exemplo, o município de São Gonçalo do Rio Abaixo, antes da Mina Brucutu, a prefeitura arrecadava 20 milhões, já em 2014, 231 milhões, o que é 10 vez mais. Você também pode pegar o salário médio antes e depois da mina, ele aumenta cinco vezes. Outro exemplo, o município de Parauapebas onde tem o Projeto Carajás, depois de um exercício que fiz, somei e nos últimos 40 anos de Projeto Carajás gerou-se uma arrecadação crescente, o orçamento do município hoje é de 1 bilhão e 500 milhões, para 200 mil habitantes. Se você aplicasse corretamente todo o recurso arrecadado através do Projeto Carajás, você universalizaria água, saúde, esgoto e educação, com déficit zero, fome zero.

Temos que olhar então esse impacto da atividade mineradora moderna, globalizada, competitiva, sobre a geração de renda e emprego nessas regiões.

ondas dE inovação

Agora tem um dado importante sobre o capitalismo, que eu vou fazer uma observação. O capi-talismo evolui por ondas de inovações. De 1785 até os dias de hoje, a primeira onda de inovação está ligada à energia hidráulica, à produção do ferro, à mecanização, etc. A segunda onda de inovação, em 1845, foi a da energia a vapor, depois a terceira onda de inovação, em 1900, é a da eletricidade e produtos químicos, a quarta onda de inovação, 1950, petroquímicos , eletrônicos, etc. E a quinta onda de inovação são as redes digitais, biotecnologia, software , tecnologia de informação. Nós estamos na transição da quinta onda para a sexta onda de inovação.

Qual a característica principal das cinco primeiras ondas de inovação? Aumento da produtividade da mão de obra, como exemplo, se você em 1960 tivesse que escrever uma tese ou relatório, só na pesquisa bibliográfica você perderia 20 a 30 horas, o que você consegue hoje, em segundos na rede digital. Então, a produtividade da mão de obra aumentou profundamente nessas ondas de inovação.

Agora a sexta onda de inovação, que já começou, é a produtividade de recursos naturais, como exemplo o bagaço de cana. Quem frequentava algumas praias do Espírito Santo se lembra da chegada dos bagaços de cana, na época da colheita, nas praias deste estado, ou no norte do estado do Rio

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 15

de Janeiro. Hoje, o bagaço de cana, com a inovação tecnológica da sexta onda, gera energia elétrica, gera a segunda geração de etanol, e também uma coisa impressionante: a Coca Cola estabeleceu, em Araraquara, uma fábrica de pet orgânico, que permite você usar 25 vezes a mesma garrafa feita com bagaço de cana.

Outro exemplo, com a crise da água, nós estamos desenvolvendo várias formas de reuso e reaproveitamento da água. Você tem os rejeitos de minério e, em Itabira, foi desenvolvida uma tecno-logia, e hoje ele está sendo transformado em minério para exportação.

Temos vários e vários exemplos que atualmente a onda tecnológica é de aumentar a produtivi-dade dos recursos naturais. Vou dar um exemplo do qual eu participei. Na Amazônia existem alguns municípios que são regiões desmatadas para o avanço da pecuária, da soja e, depois, foram abando-nados e viraram pasto. Então, você tem municípios no Pará, como Moju, Concórdia do Pará, Tomé-Açu, são regiões de pastos, não têm nada produzido. Foi desenvolvido um projeto chamado Biopalma, com a produção de semente de dendê formulada por biotecnologia na Costa Rica, e lá você está produ- zindo o óleo de dendê que substitui o biodiesel mineral por biodiesel orgânico. Pegou-se um recurso natural que não valia nada e transformou-o num recurso natural que tem valor econômico. Essa é a sexta onda de inovações.

ExEmPlo do CERRado

Nós temos um caso muito importante. Em 1960, o cerrado que constitui 60% da área geográfica brasileira não tinha valor econômico, você usava como pasto e ninguém se preocupava em delimitar a propriedade, porque não tinha valor econômico. O ministro Alysson Paulinelli saiu da universidade de Lavras, foi ser secretário da Agricultura do governador Rondon Pacheco, apoiou o desenvolvimento tecnológico, numa experiência em São Gotardo: PADAP (Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba), e conseguiu desenvolver tecnologia para explorar a produção de sequeiro e a produção de irrigação no cerrado. O presidente Geisel viu aquilo, eu estava presente quando ele foi ver a primeira colheita em São Gotardo, e o levou para ministro da Agricultura. De repente, você tem hoje o maior celeiro de alimentos de proteína animal e vegetal no mundo, que é a região do cerrado brasileiro.

Então, o que é um recurso natural? Depende não da característica física dele, mas da tecnologia, da demanda, do mercado, etc. Quando o preço do minério sobe, minas que foram desativadas ressur-gem das cinzas, pastos que eram inúteis se transformam em produção de biodiesel de dendê. É preciso que reformulemos o nosso modo de pensar sobre os recursos naturais.

Conflitos

Nós chegamos agora,nos conflitos que a mineração provoca. No ciclo de uma mina, você tem a fase de implantação, a produção sobe, depois em ritmo crescente, depois decrescente, se estabiliza e se exaure. Quando você tem uma região mineradora como o sudeste do Pará, ou o quadrilátero ferrífero, a

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária16

mineração consegue desenvolver a região. Porque, enquanto está terminando um projeto, outra mina, outro produto está sendo aberto. Você então tem o projeto Carajás, Sossego, Mina de Manganês, Mina de Ouro, quando há uma província minera,l a exaustão é compensada pelo início de outra mina.

Nós temos aí vários conflitos. A demanda mundial para produtos intensivos minerais aumenta, aumenta o investimento em projetos nas regiões dos países que têm estabilidade econômica, que tem legislação transparente, que têm marco regulatório adequado, esses investimentos aumentam. Ai você começa a ter os conflitos. Na fase de implantação, o que acontece? Você tem uma cidade tradicional com 10 a 15 mil habitantes e chega uma tropa de trabalhadores, 10 mil pessoas, para a fase de implan-tação. Geralmente, na fase de implantação, você precisa de uma mão de obra semiqualificada e isso cria uma série de problemas para a população local, como desabastecimento, aumento do preço do aluguel, violência sexual, roubo, etc. Aí começam as demandas de serviço do Judiciário, em relação à propriedade e ao direito familiar.

Esse período acontece porque não tem planejamento, se houvesse, seria através de um convênio da empresa mineradora com a Polícia Militar, para, durante a fase de implantação, fazer um regime especial de segurança. A localização do canteiro de obra ser feita de tal forma que deixa um legado para a comunidade, campo de futebol, hospedagem, etc. Você teria de ter um acordo com a secretaria de saúde para controle de doenças epidêmicas e sexualmente transmissíveis. Ou seja, é possível você planejar a fase de implantação e evitar essa avalanche de casos que aparecem no Tribunal.

Na segunda fase a preocupação é outra. Existem tem 20 mil pessoas no canteiro de obras e 5 mil operando. O perfil do trabalhador na fase de implantação é diferente do perfil de qualificação na fase de operação, você precisa de pessoas mais qualificadas para operar do que para construir. Aí, é possível internalizar na comunidade local parte do excedente que é gerado. Por exemplo, qualificando a mão de obra local, através do Sesi, Senai e etc. Você pode, através da empresa, estimular compras locais, o efeito multiplicador, ou seja, uma série de ações entre a empresa e a comunidade que servem para integrar a imagem do empreendimento com a comunidade.

Agora, o problema mais difícil aparece quando a mina se exaure. Em 1975, o poeta Carlos Drum-mond de Andrade telefonou para o secretário de Planejamento de Minas, doutor Paulo Camilo de Oliveira Penna, dizendo o seguinte: nós somos de Itabira, precisamos fazer alguma coisa para nossa cidade. E o doutor Paulo Camilo pediu que a Fundação João Pinheiro fizesse um estudo sobre como beneficiar o município minerador. Naquela época, o presidente da Fundação João Pinheiro era o pro-fessor Israel Vargas, e ele trouxe a legislação francesa sobre a compensação que se fazia na França para os municípios mineradores. Fizemos então, com minha participação, um documento onde foi criado o royalty do minério, chamado Fundo de Exaustão. Era um recurso que não era imposto, era um fundo compensatório entregue aos municípios para que eles pudessem lidar com os danos causados pelo processo de implantação e operação do projeto de mineração.

Quais eram esses danos? Eram excedentes de imigrantes, terminada a obra aquela população não qualificada, que não vai ter emprego na mina, forma uma favela na região, a marginalidade social, a pobreza, etc. É um lumpemproletariado naquela área. Então, esse royalty do minério foi pensado aqui, nessa cidade, e foi levado para a Constituição de 1988, quando nasceu o CFEM. Qual é o problema do CFEM, e porque há tanta insatisfação legítima dos prefeitos com a contribuição financeira para extração

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mineral? Pelo seguinte motivo: na discussão da reforma tributária na Constituição de 1988, o imposto único sobre minério, como o imposto único sobre combustível, imposto único sobre transporte, foram absorvidos basicamente pelo ICMS.

Na conta de telefone antiga, você tinha o imposto único sobre telecomunicação, na conta de telefone nova você tem o ICMS. Foi criado o CFEM para compensar os municípios, mas acontece que esse índice do CFEM não é suficiente para que os municípios possam enfrentar, pelo menos na primeira etapa, todos os problemas que aparecem. Então, não se deve jogar para a empresa o aumento de uma carga tributária, porque isso tudo que destaquei, foram escolhidos 12 minérios e 13 países no mundo, inclusive o Brasil, e estudada a carga tributária total, não a do município, sobre os impostos. Dos 12 minérios, o Brasil tem 8 minérios que têm a maior carga tributária do mundo, outros dois que têm a segunda maior, e mais dois que têm a terceira carga tributária.

Não vamos resolver o problema aumentando o CFEM e passando paraa empresa. Você tem de redistribuir o bolo da carga tributária que nasce através da exploração minerária. Se não, as empresas perdem em competitividade, principalmente em fase de preços decadentes.

Conflito ambiEntal

Acontece que a grande questão que se coloca é a do conflito ambiental. Isso acontece porque o valor econômico da natureza tem quatro dimensões: valor de uso (a natureza te alimenta, te dá ar puro, os frutos, a madeira, a bionergia, etc). Primeira coisa, o habitante da Amazônia vê a natureza como valor de uso, ele vê a mata amazônica como madeira, energia, fruta, como peixe, ouro. Depois, pode ter o valor de não uso, sem usar a natureza ela te presta serviços ambientais, como uma mata em pé ou uma bacia hidrográfica, estão prestando um serviço para nós, como serviços de alimento, ar puro, polinização, microclima, tem valor estético (temos prazer em ver uma bela natureza), lazer, isso são serviços que a natureza presta.

Vou contar um caso para vocês ligado à crise da Cantareira. São Paulo tem uma região metropoli- tana com 39 municípios, alguns destes municípios são considerados dormitórios, onde a população trabalha em São Paulo e mora em alguma cidade dormitório. O governo criou para essas cidades um fundo de compensação social, o governo paulista pega do orçamento um recurso e atribui para esses prefeitos poderem resolver os problemas. Como Ribeirão das Neves e outras que temos por aqui. Nes-sas cidades dormitórios não é gerado o ICMS, ele não pode puxar o IPTU porque a população é pobre, não tem circulação de mercadoria, não tem prestação de serviço, então não tem ISS, então a ideia é compensar.

Por outro lado, dos 39 municípios, existe um que 80% de sua área é parque ecológico, com área de preservação permanente, e quando o governo preserva uma área do município ele congela o po-tencial econômico do município, ele cria um fator de limitação para o desenvolvimento das atividades agrícolas, silvícolas ou industriais, porque ele congela o espaço.

É importante que se crie um fundo de compensação para esses municípios cujo potencial de desenvolvimento foi congelado porque aquelas Matas Atlânticas que existem lá prestam serviços am-

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bientais, de preservação de mananciais, de purificação do ar, de polinização. E como você paga isso? Na conta de água do consumidor da Sabesp ou no fundo fiscal, porque, do contrário, esses municípios não têm o menor interesse em preservar os mananciais.

O que acontece no conflito ambiental é que existem várias concepções de qual é a ideologia que deve prevalecer. Para os que defendem um economicismo, como exemplo, eu vou construir uma barragem hidrelétrica no Rio Madeira, então meu objetivo é trabalhar o rio para gerar energia. Nesse tipo de visão, você vê o recurso natural, a bacia hidrográfica como um fator de geração de energia, aí você pergunta: e os peixes, e a vida do rio, e sua poluição? E vamos para o outro extremo: a ideologia profunda da bioética, em que você atribui ética aos seres não humanos, quer dizer que você tem de respeitar a vida dos pássaros, das flores, do rio, etc.

No momento em que se vai fazer uma nova mina em Caeté, chamada Apolo, você vê a história de Caeté, que tinha uma fábrica de tubos cuja tecnologia ficou atrasada em função da tecnologia da Valorec, e a fábrica foi fechada. Ao fazer isso, gerou-se desemprego, e lá tem 5 mil jovens sem alterna-tivas. Você então cria um projeto para empregar essa mão de obra, treiná-la e capacitá-la. Essa é uma das visões. Por outro lado, existem ambientalistas que dizem: aqui tem a Serra, ela tem os mananciais que alimentam o abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, ela tem valor em si mes-ma, tem valor espiritual, tem valor estético, ajuda o microclima da Região Metropolitana, então vamos discutir.

Aí começa a importância desse seminário, começa então um jogo de força, entre força política, força de mobilização, ganha um lado e perde outro, então você desiste do projeto e preserva a serra.

Ora, resolvemos esse problema com um marco regulatório adequado, com uma legislação ambi-ental bem adequada e com os juízes, procuradores e desembargadores fazendo a gestão do conflito, aí que temos a importância desse seminário. Quanto mais se conhece da natureza desses conflitos, mais a Justiça tem condições de dizer como resolver os problemas, porque é sempre possível, através de um processo de negociação, de modificação do projeto, chegarmos a alguma solução que seja justa para os dois objetivos. É possível conciliar a exploração minerária com o desenvolvimento sustentável.

Vou dar mais um exemplo. Em 1980, eu era secretário do Planejamento, e o governador Francelino Pereira foi a Brasília e recebeu a informação que o Governo Federal ia construir um aeroporto na Região Metropolitana de Belo Horizonte, um aeroporto internacional, e outro em São Paulo, que já estava dec-idido que seria em Cumbica, e em Belo Horizonte teria de se estudar o local do projeto.

Aqui tinha um órgão de Planejamento, chamado Plambel, que estudou a necessidade de se criar um outro eixo, um vetor novo para desenvolver a Região Metropolitana que estava se concentrando muito na Zona Sul. Foi escolhido o local em Confins justamente para criar o vetor Norte, um vetor de ocupação alternativa para a Região Metropolitana. Quando foi escolhido o local, não havia legislação ambiental (Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto ao Meio Ambiente), não havia estes instrumentos da política ambiental. Morava em Macacos um líder budista que nos procurou na secre-taria e falou: “olha, toma cuidado porque o aeroporto vai ficar em cima de grutas de calcário, onde tem rios subterrâneos”. Chamamos então as empreiteiras e falamos para reformular o projeto para preservar essa área. O custo do projeto aumentou em 3%, e a área foi preservada. Isso significa o seguinte, há sempre algum mecanismo de negociação, de compensação, que permite a convivência do meio am-

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biente, dos ecossistemas com a mineração. Para as mineradoras, isso é fundamental, não apenas para elas consolidarem sua imagem diante da comunidade, mas principalmente porque ela vai exportar para países que condicionam a compra às boas práticas ambientais e sociais da atividade econômica.

JudiCiáRio

Nós estamos precisando é de instrumentalizar a Justiça mineira e brasileira de tal forma que ela seja a última instância para resolver esses problemas ambientais com a mineração, e não deixar que isso seja um jogo de poder de partido político, de jovens ambientalistas idealistas, versus o interesse de emprego, de renda e base tributária das comunidades organizadas.

A minha última palavra é de que nós não podemos continuar nesse estado geral de coisas, resolver caso a caso, quem tem mais acesso aos ministérios, quem tem mais acesso ao poder político, quem é do partido que está no poder versus os empreendimentos mineradores. Nós temos de conciliar o tripé entre crescimento econômico, uma base competitiva globalmente, justiça social, ou seja, que os frutos do crescimento sejam distribuídos equanimente, e a sustentabilidade ambiental.

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Marco Regulatóriootávio bulcão nascimento

Transcrição da palestra sobre o “Marco Regulatório”, proferida pelo diretor Jurídico da Vale , Otávio Bulcão Nascimento.

Vídeo disponível em www.youtube.com/watch?v=d7ghPt6EBJo

O Tema da tributação na mineração está inserido no novo Marco Regulatório, mas é importante contextualizá-lo no sistema tributário nacional como um todo. Do ponto de vista das empresas, os desafios se colocam para que tenhamos insumos para o debate.

O primeiro slide traz a notícia de algo que é o mais perceptível dos desafios: a quantidade e a complexidade das normas tributárias. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento tributário, nos últimos 25 anos, temos nada menos que 309 mil normas tributárias, uma média de 31 normas por dia. Isso dá a dimensão do desafio que nós, destinatários das normas, e os senhores aplicadores do direito temos no processo de atualização e interpretação desse conjunto de textos normativos.

Adicionado a esse grau de desafio, temos um conteúdo que certamente traz também certa com-plexidade. A ideia de que hoje temos 40% das nossas riquezas dirigidas à tributação e somente 7% dirigidas aos acionistas mostra a alta carga tributária que temos no Brasil.

Muitas vezes, a parte do concatenamento das legislações estaduais traz dificuldades operacio-nais. Mesmo aqueles que querem cumprir a legislação têm muitas vezes dificuldade de aplicá-la. Por exemplo, sabemos que existem muitos incentivos fiscais para investimentos oferecidos pelo Governo Federal que dependem de atos normativos dos estados. O Confaz é o instrumento e o meio próprio para isso. Ele faz o convênio autorizando os estados a concederem os incentivos nas esferas estaduais, entretanto nem sempre os estados adotam e internalizam esses convênios na velocidade desejada.

Com isso, temos um investimento que é feito de uma forma que é a regionalizada, um planeja-mento de aquisições para um determinado estado e a falta desse convênio internalizando impede que

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você faça e cumpra o planejamento inicial. Assim, não apenas a carga, mas muitas vezes a aplicação das normas dificulta o investimento.

tRansPaRênCia

A ideia de transparência me parece o tema do dia. Participamos de um grupo da FGV que pre-tende apoiar o governo na formulação de propostas de reforma tributária. Os lideres do grupo, ministro Nelson Machado e Isaias coelho (secretário da fazenda) e o Eurico de Sanches, estão pensando sobre alternativas e trazem para mim o novo marco, que é o marco da transparêcia. Eles estão levantando onde estão os gargalos que temos hoje na administração do contencioso e na própria carga tributária.

O Bernard se juntou ao grupo recentemente e fez um depoimento afirmando que hoje precisa- mos ter fórmulas claras numa espécie de portal para mostrar a real carga tributária efetiva no Brasil. Quando vivemos a mudança do PIS-Cofins cumulativo para o não cumulativo, ali havia uma regra que seria a neutralidade tributária, ou seja, não teríamos na nova configuração do PIS-Cofins, impactos de aumento de arrecadação. Entretanto, na forma que saiu, houve um grande incremento de carga, o próprio Bernard foi um dos gestores e reconhece isso.

Para mim e para as empresas de uma forma geral, o importante é a transparência. Estamos dis-cutindo muito uma nova reforma do PIS-Cofins. Estamos com caso paradigma no STJ, um recurso re-petitivo onde se discute o que é que dá crédito e o que não dá crédito. Essa insegurança traz um custo muito alto para as empresas e para a sociedade de uma forma geral. Não há duvida que a simplificação seja o caminho. Agora, há uma gestão de que se deu o chamado crédito financeiro. Ou seja, tudo aquilo que tiver tributação pelo PIS-Cofins e for adquirido para a atividade dará crédito.

Naturalmente, haverá uma perda de arrecadação, porque o crédito diminui a arrecadação. Então, vamos falar em novas alíquotas. A indústria está aberta a isso. O importante é que a discussão se dê no plano político e de transparência. Não ter os chamados impostos indiretos, em que você tem um escamoteamento da tributação efetiva. O ICMS é um exemplo concreto. Colocamos ele dentro de sua própria base. Portanto, a alíquota nominal difere da alíquota efetiva. A transparência da tributação é fundamental colocar no debate.

obRigaçõEs aCEssóRias

Outro ponto que gera um grande desconforto são as chamadas obrigações acessórias. É um tema muito pertinente e pouco nobre. O Fisco, por intermédio das obrigações acessórias, tem um controle efetivo da atividade e da apuração do contribuinte. É um instrumento muito legítimo. O ponto é pela quantidade de obrigações acessórias e sua complexidade, você traz e transfere para o particular um risco, um custo de sistemas e de gestão que traz também o risco pela não conformidade.

Com a quantidade de obrigações acessórias, tendo uma delas não cumprida, sem que haja ne- cessariamente dano ao erário, porque o tributo está adimplido, você pode ter multas desproporcionais

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que podem inviabilizar a própria atividade empresarial. Darei um exemplo concreto. No PIS-Cofins hoje vigoram multas que podem chegar a 1% do faturamento. Isso significa em qualquer estágio ou tama- nho empresarial um gravame muito perigoso. Estamos falando de 1% ao ano, pela simples inconsistên-cia na declaração. Como você ter um processo de compra em empresas que naturalmente fazem os pedidos de compras e precisam de sistemas.

O NCM é um elemento, que tem a nomenclatura como a do Mercosul, que vem e tem que ficar regis-trada na nota e no próprio sistema eletrônico de processamento de dados. Então, o que acontece? Se você deixa de consignar o NCM ou no seu pedido vem um NCM diferente do que seu fornecedor coloca, essa simples inconsistência gera uma multa que, pela quantidade, poderá chegar a 1% de seu faturamento, inde-pendente do tributo ter sido ou não adimplido. Essa é uma temática que está perto de chegar ao Judiciário, porque, na esfera administrativa, já está sendo colocada a proporcionalidade das multas, a razoabilidade das multas, ou seja, elas devem ser o instrumento, mas não o fim em si mesmo. E daí novamente, neste momen-to, de discussão mais ampla, a proporcionalidade das obrigações acessórias é fundamental.

insEguRança JuRídiCa

As mudanças frequentes na legislação, que abordamos no início, geram um risco no acompanhamento e uma insegurança na sua gestão. As fiscalizações também são muito bem-vindas. Hoje, há um aprimora-mento muito grande das fiscalizações pelo envio eletrônico das informações. Dessa forma, o Fisco já tem praticamente todas as informações. Hoje, podemos dizer que o Fisco pode fazer o lançamento do que você tem a pagar. Isso é muito bom e um grande avanço. No entanto, as fiscalizações devem se dar em um ambi-ente de um tempo razoável para que se tenham as respostas. Há espaço para se discutir prazos e condições do cumprimento das exigências no processo de fiscalização. E, por fim, todas as inseguranças, naturalmente, desembocam no Judiciário e eu acredito que a tendência é tentarmos uma pauta em que o contencioso seja exceção e não mais a regra. O período de se financiar com tributo, eu acredito que acabou.

Quem fizer conta vai ver que não justifica qualquer gestão de contencioso tributário. Não vamos apresentar detalhes, mas essa é um conclusão que as empresas de uma forma geral estão tendo. Precisamos, de outro lado, a condição de simpli-ficação e de segurança nas mensagens que ven-ham do Poder Legislativo.

Naturalmente, essa complexidade gera a ne-cessidade de estrutura. As empresas precisam se estruturar e fazer frente a essas demandas fiscais. O palestrante apresenta imagem de um trabalho desenvolvido por um advogado mineiro (Vinicius Leôncio) que compilou os textos normativos dos últimos 23 anos para dar a dimensão do nosso de-safio interpretativo:

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Então, esse é o universo e as empresas e todos os operadores e aplicadores do Direito têm que se deparar com esse universo, identificar quais os textos são pertinentes a cada caso e isso não vem sistematizado, é um trabalho intelectual, um processo de interpretação.

Os critérios de apropriação e de interpretação vão variar. Podemos ter conclusões coerentes, mas distintas de vários setores. Imaginem isso dentro de uma empresas. Temos um grupo que está partici- pando desse processo promovendo a interpretação e acontece que a primeira etapa é confirmar se a interpretação dada internamente coincide com a do Fisco. Se coincidir, ótimo. Vamos com esse grupo e parametrizar nossos sistemas para apurar os impostos, vamos cumprir as obrigações acessórias e vamos passar internamente orientações para as operações de como eles devem se portar. O plane-jamento vem nesse contexto. No momento em que uma empresa vai fazer um investimento ou um desinvestimento, vai procurar as estruturas, os incentivos e essa interpretação vão direcionar o que é cabível ou não.

Aqui no planejamento, eu abro um parênteses que é outro tema que eu acho que tem um espaço grande de avanço. Atualmente, está muito em voga a ideia de que o planejamento, de uma forma geral, é um planejamento abusivo, que visa única e exclusivamente não pagar tributos. Acredito que a gente pode e deve discutir o tema. Existe, de fato, planejamento abusivo, movimentos entre empresas do mesmo grupo para gerar artificialmente ágios que poderão ser dedutíveis e pagar por isso menos impostos. E isso, naturalmente, deve ser combatido. Mas há operações em que se tem um planejamen-to decorrente da própria reestruturação e eficiência da atividade. Separar esse joio do trigo é difíci,l porque temos critérios subjetivos. Não há, ainda, uma diretriz clara do Carf ou dos tribunais judiciais sobre quais são exatamente os critérios. Cada caso é um caso.

Dentro do grupo de discussão, inclusive com a CNI e com as autoridades, estamos tentando dis-cutir e implementar algo que pudesse ter uma inspiração no próprio Cade. Vocês sabem que quando se faz hoje uma aquisição, você vai ao Cade para saber se ela está ou não de acordo com os requisitos, se ela fere alguma norma concorrencial.

A gente tem pensado em algo desse tipo, ou seja, apresentaríamos previamente ao fisco o plane-jamento e aí o sinal verde para que fôssemos adiante. Isso daria segurança e permitiria que muitas das discussões que estão no Judiciário deixassem de acontecer.

Vamos entender qual é a jurisprudência dominante. Se há uma jurisprudência pacificada, natu-ralmente acatamos e o assunto está vencido. Mas, infelizmente, em muitos casos, o assunto é novo e não está suficientemente amadurecido, ainda não temos uma orientação firme de qual é o desfecho da situação. Sendo assim, os jurisdicionados ficam numa situação muito delicada. Se eles esperam ser autuados porque acreditam na tese, junto com a autuação vem a multa, ou seja, o débito já vem in-crementado. Você vai, então, discutir no Judiciário num valor já superior e vai precisar de uma garantia. Isso tem um custo.

O segundo modelo você diz que não quer ter a multa, não quer aumentar esse risco. Então você vai ao Judiciário imediatamente. Aí no Judiciário, naturalmente, se pede uma liminar. Saindo, é um passo adiante. Mas não há garantia de que a liminar vai permanecer. Se ela vier a ser derrubada em algum momento, você terá que ter o desembolso. Assim, essa preparação para o desembolso possível tem que estar em jogo. Se não sai a liminar ou se você precisa fazer o depósito – que hoje virou um

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assunto delicado, uma vez que implica o desencaixe de todo o valor da discussão. Então a empresa já está antecipando, de alguma forma, o dispêndio.

As legislações estaduais, municipais e federais permitem que esse valor depositado seja utilizado pelos entes. Eles levantam e utilizam. Isso faz parte, inclusive, do superávit primário, daí o estimulo aos depósitos. Só que aí aparecem algumas questões. Depois do desencaixe, o depósito levantado já tem começado a acontecer circunstancias em que os entes têm dificuldade de devolver o depósito quando há o desfecho da ação. Tenho casos concretos de que prefeituras afirmam não ter a menor condição de devolver o dinheiro, e mesmo estados.

O próprio depósito, do ponto de vista fiscal, quando se deposita você não tem a dedutibilidade do depósito. Esse processo, que pode demorar algum tempo, não te traz a dedutibilidade. O depósito, então, acaba sendo a última ou uma das últimas opções. E se você não está com a possibilidade do depósito, a própria prestação jurisdicional fica prejudicada. O desafio de quando você tiver uma tese que considere legitima, não aventureira como se socorrer do Judiciário. É o desafio que as empresas enfrentam.

algumas soluçõEs

Temos discutido e nossa ideia, do grupo que tenho feito parte, é de que pelo menos do tributário, evitar que ele aconteça. Temos que estar estruturados em foro como esse, por intermédio de asso-ciações com o Ibram, para discutir, na origem, a política fiscal. Ela sendo discutida, apresentada todas as consequências e reflexos para se ter uma discussão realmente produtiva, e, no momento em que ela seja chancelada pelo Legislativo, o convite venha também para participar da regulamentação. Ali que mora o perigo, no momento da regulamentação, que é onde aparecem as incertezas operacionais. E se você tem uma regulamentação não precisa, dificilmente terá espaço para consultar o Fisco antes de tomar uma posição.

As consultas formais são importantes, mas elas não respondem a tudo. Seja pelo tempo ou pela própria formalidade. Essa comunicação direta de qual é a interpretação do Fisco na origem, acredito que é fundamental. Porque as empresas vão adotar essa interpretação e vão deslocar toda a discussão do Judiciário para a política fiscal. Porque é lá que deve acontecer essa discussão. Se a carga é alta, é in-conveniente ou não, é na política fiscal. Não podemos usar o Judiciário para tentar reverter discussões que são, na minha visão, políticas.

A gestão desse contencioso gera custos de pessoas. Na Vale, por exemplo, ele é todo terceirizado, mas tem o custo todo de gestão desses escritórios. E tem custos também que não são tão visíveis. Se vamos fazer, por exemplo, lançamento de um título no exterior, a primeira pergunta dos analistas será sobre o contenciosos, qual a probabilidade de sucesso naquele contencioso, o grau de risco dele. Nós temos que preencher formulários, para quem está listado em bolsa, tanto para CVM, como a SEC, que é a CVM dos EUA, trazendo o mapa de risco de todo nosso contencioso. Isso é extremamente custoso e, no final do dia, a gente percebe que não compensa.

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lEi dE tRansação

Um dos pontos que acho que o Judiciário pode promover como debate é participar do que seja um assunto que foi muito polêmico pela forma com a qual foi abordado, mas entendo ser fundamen-tal, que é uma lei de transação. A lei de transação é o ponto que talvez dê um pouco de segurança e desafogue um pouco o Judiciário. Tem que ter parâmetros muito rígidos, claro, e seguro para todos, para evitar que o mau pagador seja estimulado a ter um caminho. São pequenas ideias, por exemplo, se você está no tribunal administrativo e tem uma discussão em que há um empate. Se há um empate, a questão é controvertida. Vai ter o voto de qualidade que normalmente é da Fazenda. Pois bem, nesse tipo de caso, se já tivermos uma lei que dê a opção desse contribuinte fazer um pagamento tirando multa e juros, pagando o valor principal, tenho certeza que muitas empresas não iriam para o Judi-ciário. Aí separamos o joio do trigo, porque o Refis ou essas anistias são muito mal vistas, e com razão, porque ali você mistura bons e maus pagadores. Ali há pessoas que já contam com os programas e deixam de pagar, e se financiam com isso, ou simplesmente deixam de pagar mesmo.

Permeando, então, toda a atividade empresarial, nós temos a gestão dos riscos que é essa ava- liação com respectivos planos de ação de como lidar com as incertezas. Mas tudo isso, como eu disse, gera custos indiretos que acabam sendo uma tributação indireta. Trago para os senhores um dado da Price, de 2014, que traz o primeiro índice de competitividade na questão tributária e nos coloca numa posição não muito alvissareira. Estamos na posição de numero 159, sendo que países como Moçam-bique, em que a Vale também está presente, conseguem ter menos complicação que o Brasil. Mas o mais relevante do ponto é a questão das obrigações acessórias.

Estamos presumindo que todos os tributos sejam legítimos e que não haja nenhuma contestação. A média no mundo é de 260 horas para se estar em conformidade fiscal. No Brasil, nesse estudo, 2.600 horas, 10 vezes.

Recentemente, formamos um grupo de trabalho no Getap, das maiores empresas, e fomos apro-fundar um pouco mais, incluindo aí a gestão do próprio contencioso. Chegamos a um número que nos assustou ainda mais: 14.500 horas para estar em conformidade fiscal. Esse tipo de constatação, que é objetiva, está sendo disponibilizada para os entes políticos. Já estivemos na Receita Federal e estamos indo aos Estados para tentar promover um processo de simplificação. Porque um espaço que acho que existe hoje é a simplificação, ainda que não haja a diminuição de carga – acho difícil, sendo bem pragmático, neste momento de ajuste fiscal, a gente falar em redução de carga – mas espaço para simplificação há e boa vontade dos entes também. Portanto, cabe esse processo ir adiante, porque vai trazer alternativas de sistematizações que permitam a simplificação do processo.

ComPEtitividadE

Na palestra proferida pelo ministro Haddad, foi feita a menção a alguns estudos sobre a compet-itividade e a comparação do setor mineral brasileiro com outros países. Porque é importante enten-dermos tudo isso no novo marco dentro do processo de globalização. O setor mineral está, inevitavel-

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mente, globalizado. Os senhores sabem que quem dita hoje os preços dessas commodities é a China. Nós temos uma grande desvantagem de geografia. Enquanto a Austrália leva 12 dias para levar

seu minério até a China, o Brasil demora 45 dias. Isso significa tempo e significa um frete muito mais caro. Como a sofisticação, por incrível que pareça, está acontecendo nesta demanda do minério – hoje o minério é pedido com especificações – nos exige investimentos, inclusive no exterior. O próprio governo federal, bastante sensível a isso. A Vale investiu em um porto na Malásia um bilhão e 800 mil-hões de dólares, porque sem essa base na Ásia, para receber o minério e decidir o melhor momento de vender, fazer os processos necessários para entregar na especificação pedida, você sai do mercado. Investimentos no exterior são fundamentais para que você mantenha a competitividade.

No setor mineral, os principais concorrentes do Brasil são Austrália, Canadá e África do Sul. Esta-mos em primeiro lugar em carga. Ou seja, qualquer nova tributação tem que ser vista com muita cau-tela e prudência. Os incentivos que temos no Brasil como Sudam, Sudene, Recaps e outros programas de investimento, não dariam um quadro diferente? Não. Olhando pela alíquota efetiva, os incentivos desses países e os do Brasil, ainda assim, estamos em primeiro lugar. Ou seja, estamos em desvantagem competitiva bastante grande.

Em contrapartida, quero falar também sobre um avanço obtido pelo Governo Federal no sentido da tributação internacional. Um breve relato. Temos ainda discussão sobre tributação de lucros no exterior e eu acho que essa questão está dividida em duas legislações importantes que vão afetar o Marco Regulatório.

Uma é preço de transferência. Devem haver regras que digam e que impeçam a gente de transfe- rir artificialmente lucros gerados no Brasil para o exterior. Por exemplo: eu utilizo uma empresa no exte-rior, faço uma venda em um valor abaixo do mercado para fazer lucro no exterior, com uma tributação menor. Esse era o planejamento clássico abusivo que se deseja evitar. Com as novas regras de preço de transferência, isso foi muito simplificado.

Hoje, no caso das commodities, um preço em bolsa da China, que é um dado objetivo e disponível a todos. A Receita Federal identificou quais são os descontos que se faz para trazer o preço Brasil. Tem o frete, que não faz parte do seu preço. Tem a umidade e algumas questões de qualidade do produto. O fato é que isso está especificado e você traz para o preço parâmetro do Brasil. Essa é a regra de você poder aferir se o preço está ou não dentro da margem. Se tiver fora, adiciona ao lucro aqui no Brasil. Essa foi uma regra que estabilizou e colocou um padrão na relação com empresas de fora. Acho que deve ser incorporado pelo novo Marco, porque estamos falando aqui da Cefem. Qual é o valor que a Cefem deve ser utilizada quando se faz uma exportação? O preço de referência que a Receita Federal já usou, que fiscaliza e avaliou que é o preço de mercado. Ou seja, não precisamos reinventar a roda ou ter uma espécie de dissociação para o Marco e da própria legislação federal. Isso, salvo engano, está incorporado ao texto que está circulando com texto de discussão.

O ponto seguinte para mostrar que o Brasil não teria prejuízo em algum descompasso, ainda que sutil, é que a nova legislação de lucro no exterior diz o seguinte: o lucro auferido no exterior será tributado independentemente de onde ele for auferido. Ou seja, no fim do ano você tem a obrigação de trazer subcontas de cada entidade que você tem no exterior, trazer os resultados e adicionar ao seu lucro do Brasil. Em algumas condições, você pode até ter um prazo para pagamento, uma espécie de

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financiamento desse tributo. Mas se o preço de transferência não te alcançar, o lucro no exterior na outra ponta será adicionado no mesmo ano. Então, o Brasil não tem o risco disso ficar sem alguma tributação. A mesma coisa a Cefem aqui.

taxas dE fisCalização

Esse é um tema que tem me tirado o sono. Acho que nem todo mundo já teve a dimensão desse tema, porque taxa é um tema relativamente simples, especialmente na academia, não é glamouroso e não há tantas discussões sobre taxas. Só que aqui, a questão se descola para o Pacto Federativo. Precisamos revisar o Pacto Federativo. Eu circulo e converso bastante nos Estados com as prefeituras, aqui em Minas, e noto, com razão, que há um problema sério de caixa dos estados e municípios. Eles têm uma dificuldade grande na arrecadação. E agora, com a diminuição da atividade econômica, isso se agravou muito. Há uma espécie de desespero, às vezes, no sentido de conseguir equalizar as contas. Somos todos sensíveis a isso. Mas, infelizmente, a distorção nasce no próprio Pacto Federativo.

No caso dos Estados, por exemplo, temos a Lei Candir, que diz que as exportações dos minérios serão não-tributadas pelo ICMS. A fonte de arrecadação que os Estado deixam de ter. Por outro lado, há um fundo que compensaria os Estados por essa desoneração. Se esse fundo tivesse funcionando, tanto no conteúdo quanto na forma de repasse, talvez o impacto fosse menor. Mas existe uma queixa generalizada dos estados de que esse repasse não funciona da forma ideal. Isso gera uma espécie de déficit nos estados.

O segundo ponto: as chamadas transferências de impostos. Temos o IPI, o imposto sobre a renda, que parte desses recursos, arrecadados pela Receita Federal, são transferidos para os estados e mu-nicípios, que são os fundos de participação estadual e municipal. Acontece que também há uma certa crítica nesse repasse. E há outro ponto bastante debatido que é a série de desonerações do IPI con-cedida pelo Governo Federal para automóveis, geladeiras. Com isso, o governo sofre um impacto de redução de arrecadação do IPI, mas imediatamente há um impacto nos estados e municípios, porque a parte que eles receberiam também diminui.

Os estados lutam com uma fórmula na qual eles não sejam prejudicados com uma eventual desoneração. Esse é um quadro que faz com que eles pensem e necessitem de caminhos alternativos. Só que o caminho alternativo passaria muito mais por rediscutir o Pacto Federativo, o ICMS, acabar com a guerra fiscal, ver as compensações da Lei Candir de uma forma mais efetiva, a discutir e redistribuir a Cefem, entre outros. Mas isso demora. Do ponto de vista político, tem muitos interesses envolvidos e não sairia em curso prazo.

taxação

Daí surgiu uma fórmula mágica que é a taxa. Sem cerimônia, todos falam que é uma forma de compensar a queda de arrecadação. O setor pode e deve dar mais e a taxa é o caminho para isso. Aí eu

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convido os senhores a refletir sobre o seguinte: a taxa é um instrumento legítimo, claro. Mas é impor-tante saber quais são seus limites para que não tenhamos o chamado caos.

A gente tem uma chamada competência concorrente, prevista no artigo 23 da Constituição, e essa competência diz que a União tem a primazia, a competência privativa para legislar sobre recursos minerais e recursos hídricos. Entretanto, no decorrer do artigo, há a previsão da fiscalização da União, dos Estados e dos Municípios concorrentemente. Ai vem a pergunta: fiscalização em que medida? Qual fiscalização é essa?

Esse mesmo artigo remete a uma Lei Complementar que disciplinaria acordo de cooperação para que isso seja feito de uma forma coordenada. Com base nesse artigo, alguns Estados – inclusive Minas Gerais – lançaram taxas de fiscalização. Abstraindo as questões jurídicas, que ainda vamos trazer, a taxa de fiscalização representa hoje quase três vezes o valor que se paga pelo ICMS.

É como se, da noite para o dia, nascessem três novos ICMS, em termos de custo. É um peso e disso não há a menor dúvida. Isso só na questão de encargo novo. E essa taxa não é repassada aos Municípios. No momento em que se discutiu isso, haveria uma espécie de convênio ou de cooperação para que isso fosse de alguma forma repartido.

Portanto, tem esse acréscimo, e esses assuntos todos estão em discussão no STF. Temos quatro ações diretas de inconstitucionalidade pendentes ainda de apreciação. A Seininfo é a autora das ações.

A taxa é chamada taxa de controle, monitoramento e fiscalização das atividades de pesquisa, lavra, exploração e aproveitamento de recursos minerais. Os estados do Pará, Minas, Amapá e Mato Grosso instituíram a taxa e o contribuinte é a pessoa física ou jurídica que realizar pesquisa, lavra, ex-ploração ou aproveitamento dos recursos minerais. E tem as unidades de cada Estado, as alíquotas que são aplicadas sobre a tonelada explorada. Essa é a configuração da taxa.

Disso surgem questões que têm argumentos respeitáveis de lado a lado, indiscutivelmente. Os Estados discutem quem tem a competência comum para fiscalizar, logo poderiam criar taxas. Esse é o ponto. E a base de cálculo, a tonelada explorada seria uma medida justa do custo da atividade de fis-calização. A métrica, o meio de mensurar a atividade. Por outro lado, há uma discussão de contraponto que traz, principalmente, e acho que o mais importante, porque é uma regra que pacifica expectativas, é a competência.

Para exemplificar: a taxa de poder de polícia pressupõe o exercício efetivo do poder de polícia. E o que seria isso? Sabemos que a prerrogativa dos Estados, Municípios e União é legislar e limitar direitos e liberdades individuais em prol de um valor constitucional positivado. Ou seja, eu em nome de uma coletividade restrinjo e limito direitos. Por exemplo, os alvarás de construção e assim por diante.

Mas temos que identificar o que é competência de cada ente na limitação de direitos. Qual é a competência da União para limitar direitos? Dos Estados e dos Municípios? No momento que você firma claramente essa competência, e ao exercício do poder de polícia decorrente dessa limitação, então o Esta-do vai aplicar a lei fiscalizando. Tendo a lei, de sua competência, a fiscalização efetiva nasce a competência para a criação de uma taxa que remunere esse serviço de fiscalização. A taxa tem o caráter retributivo remuneratório do custo do serviço. Não tem em nenhum momento caráter arrecadatório por definição, por natureza. É importante que os Estados e Municípios, quando forem pensar nas taxas, lembrem-se qual é a competência que estão exercendo. São balizas que devem ser discutidas e verificadas.

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O desafio é, primeiramente, no momento em que se lança uma taxa. A redação dela, natural-mente, vai se dizer que aquela taxa remunera a fiscalização e é muito difícil a priori dizer que há um descompasso direto do que está arrecadado e do que é aplicado. E isso a gente pode ver a posteriori nas próprias fiscalizações dos Tribunais de Conta. Estamos vendo que nem sempre todos os valores são dirigidos para exatamente o custeio da atividade. Mas tem ali os requisitos da competência, da estrutu-ra já instalada de fiscalização. Você tem algumas informações que podem ser analisadas para entender um pouco a dinâmica da taxa.

Concretamente, a proposta para um foro como esse é refletir sobre o fato de que dar limites é fundamental. Hoje, o Judiciário já está convidado. Se os Municípios começarem a cobrar essas taxas, e provavelmente irão, haverá uma demanda no Judiciário para entender se eles estão ou não dentro das balizas que seriam constitucionais. Aí eu volto à história não jurídica, que remete à regulamentação dessa Lei Complementar. Se cada Município de Minas Gerais, por exemplo, resolver cada um deles ins- tituir a taxa valendo três vezes o valor do ICMS que se aplica aqui em Minas, é como multiplicar, numa conta que no dia seguinte a atividade se torna inviável.

Sendo assim, é fundamental trabalharmos, em curto prazo, nesses limites, e o Judiciário vai ter essa provocação. Mas também discutir formas de definir as competências de todos os entes para que a Lei Complementar prevista seja editada. Ali você tem as regras claras e, certamente, a cooperação e a forma igualitária de distribuição desses recursos. Hoje, no Marco Regulatório, há previsão de uma taxa federal, que já está sendo discutida. A estadual já existe e alguns Municípios, naturalmente, serão convidados a estudar também taxas municipais. Então, novamente, é o momento de termos, dentro da legitimidade que o grupo tem, de provocar o Pacto Federativo. Precisamos discutiras reformas de forma ampla para evitar procurar vias alternativas, que nem sempre são as mais adequadas.

Para fechar a nossa conversa, vou falar um pouco da Cefem, que é uma das maiores motivações da discussão do Marco Regulatório, porque essa compensação também vem preencher essa lacuna desse déficit de caixa dos Estados e Municípios.

Hoje, a Cefem incide sobre a receita líquida da empresa. Isso significa dizer que tenho que fazer o desconto do frete, do transporte, tenho que descontar os tributos e o seguro incidente na exploração. Então, essa é a primeira grande discussão. O que é que dá desconto e em que medida esse desconto é efetuado. Na questão do transporte, tem ainda alguma discussão sobre o transporte próprio. Se você tem um transporte contratado de terceiros e destaca na nota o custo desse transporte. Não há muita dúvida sobre a possibilidade de você abater da base de cálculo. Entretanto, quando você tem um transporte feito pelo próprio empreendedor, que tem custos regulares inclusive pela ANTT, esses são custos dedutíveis?

Nos parece que, pela lógica, deveria ser dedutível, porque não há essa ressalva na lei e esse trans-porte não é uma receita da minha exploração, mas sim uma receita da logística que poderia estar ou não verticalizada. É uma opção do empreendedor e hoje uma necessidade de custos você integrar a exploração com a logística, porque se você tem uma logística apartada, muitas vezes, você perde com-petitividade. Essa é a discussão que tem sido colocada sobre o transporte.

Dos tributos, a discussão é até mais simples. O tributo, o DNPN não tem dúvida de que é dedutível. A discussão é sobre se é um tributo incidente na operação ou um tributo pago. Parece uma sutileza

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irrelevante, mas não. O caso do ICMS, por exemplo. O ICMS incide sobre o valor da saída. Sobre esse valor de saída eu tenho o ICMS. Outra coisa é o sistema de créditos. Sobre meus ingressos eu tenho um crédito, que eu uso como moeda para pagar a saída. Então, se eu tenho 100 de saída e tenho 20 de crédito, qual é o meu débito de ICMS? É 100. Incidiu 100. Uma parte da moeda eu vou pagar como crédito e a outra em dinheiro. Se eu condicionar o meu desconto ao que eu pago em dinheiro, estou distorcendo a realidade, porque meu custo foi da saída.

Algumas redações do Marco Regulatório foram tentando esclarecer isso. Mas é importante que tenhamos atenção para não ter uma discussão perpétua, que é indefinida. Esses dois pontos estão avançando com uma modificação que está proposta qual seja base bruta. Há uma proposta das prefei-turas e dos Estados de que, em vez da base liquida, seja o faturamento bruto. Nós reconhecemos que isso é uma simplificação. Acho que vai ao encontro do que queremos. De outro lado, o grupo tem que reconhecer que a base bruta por si só já é um aumento, porque você tem descontos a menos, vai pagar a mais. Há um cálculo que pode chegar a 50% de aumento. Portanto, já é, pela simples mudança de base, um aumento relevante.

Paralelo a isso, se discute as alíquotas que poderiam ir até 4%. A reflexão proposta pelo grupo é de que pudéssemos apresentar a oportunidade e a crise que se vive no mercado atualmente, e resgatar um pouco a história da capacidade contributiva. Por que não pensamos em alíquotas progressivas? Então, se temos o minério que vai para um determinado padrão, é justo que se pague mais Cefem. Já se o minério está em um preço desafiador, pague uma alíquota adequada a isso. Calibrar as alíquotas, já teríamos a bruta, que já é um avanço, mas ter alíquotas proporcionais a uma determinada faixa de preço. Parece que essa discussão está sendo bem aceita, e acho que isso simplifica muito.

O último elemento é a história da pelotização. A Cefem incide na exploração e no beneficiamento do minério. E deixa de incidir sobre o ato de transformação. A industrialização do minério, quando você altera suas características físicas ou químicas. Segundo os laudos da UFMG e demais universidades, a pelotização é um processo de transformação. Esses laudos estão se portando ao Judiciário para saber se alcançam ou não a Cefem. Essa é uma questão mais técnica. Acho que essa incisão técnica deveria ser incorporada no esclarecimento do novo Marco, porque aí poderíamos tirar isso de pauta para o futuro do Judiciário.

Essas foram as provocações e contribuições que eu gostaria de trazer para os senhores e falar mais uma vez da minha alegria e honra em poder estar aqui neste Congresso.

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Direito de pesquisa e lavraRicardo Eudes Ribeiro Parahyba

Apresentação do geólogo Ricardo Eudes Ribeiro Parahyba, coordenador do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM),

realizada no I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária

Vídeo da palestra disponível em www.youtube.com/watch?v=O1muRLxfj1A

i. intRodução

Nessa apresentação se pretende expor a parcela mais relevante do Código de Mineração, a que trata dos Direitos de Pesquisa e Lavra, direitos que são decorrentes de dois regimes de aproveitamento de substâncias minerais, autorização e de concessão e são a essência do Decreto-Lei n° 227, de 28 de fevereiro de 1967, o Código de Mineração.

ii. ConCEitos imPoRtantEs

Tudo se volta, primeiramente, ao entendimento do que sejam recursos minerais, bens da União na forma do Art. 20 da Constituição Federal.

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OBJETODIREITO DE PESQUISA E LAVRA

INSTRUMENTO DE REGULAÇÃORECURSOS MINERAIS

ÓRGÃO RESPONSÁVELCÓDIGO DE MINERAÇÃO

DNPM

II.1 – A quem pertence os recursos minerais? O Art. 20 da CF já é claro quando nomina os bens da União e o Art. 176 é mais preciso sobre este bem especificamente, a ver:

• As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, • Garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra, • Sendo assegurada a participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei.

II.2 – O que são os recursos minerais, as jazidas e as minas? Na forma do Código de Mineração:

• Os recursos minerais são as massas individualizadas de substâncias minerais ou fósseis encontra-das na superfície ou no interior da terra;• As jazidas são as massas individualizadas de substâncias minerais ou fósseis encontradas na superfície ou no interior da terra, e que tenha valor econômico; e• As minas são as jazidas em lavra, ainda que suspensa.

Para uma compreensão da evolução conceitual pode-se recorrer à Lei 4.265/1921; nela se verifica que ao início do século passado os termos recursos minerais, jazida e mina se confundiam. No entanto a lei expressava, de forma mais didática, o que seriam as ditas “massas individualizadas”:

“Art. 2°. Consideram-se minas, para os effeitos desta lei, além das minas propriamente ditas, as jazidas ou concentrações naturaes, existentes na superficie ou no interior da terra, de substancias valiosas para a industria, exploraveis com vantagem economica, contendo elementos metallicos, semi-metallicos, ou não metallicos, e os respectivos minereos, os combustiveis fosseis, as gemmas ou pedras preciosas, e outras substancias de alto valor industrial.”

O conceito mais recente foi trazido pela Lei n° Lei 8.970 de 1994, que transformou a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM em empresa pública:

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• Recursos minerais: as massas individualizadas de substâncias minerais ou fósseis encontradas na superfície ou no interior da terra, bem como na plataforma submarina;

• Recursos hídricos: as águas de superfície e as águas subterrâneas.

II.3 – O que é o Código de Mineração? O Decreto-Lei n° 227, de 28 de fevereiro de 1967 é o conjun-to de normas que regulam o aproveitamento das substâncias minerais, os direitos sobre os recursos minerais, o regime de seu aproveitamento e a fiscalização pelo Governo Federal, da pesquisa, da lavra e de outros aspectos da indústria mineral. É um instrumento legal fruto de um processo gradual de evolução que remonta ao tempo do Brasil Império.

Para exemplificar, desde 1921, as leis que trataram especificamente do tema mineração no país são:

• Lei 4265, de 15 de janeiro de 1921 - Regula a propriedade e a exploração das minas – Presidente: Epitácio Pessoa;Decreto Nº 24.642 De 10 de Julho De 1934 – Código de Minas – Presidente: Getúlio Vargas;• Decreto-Lei n° 1985, de 29 de março de 1940 – Código de Minas – Presidente: Getúlio Vargas; e• Decreto-Lei n° 227, de 28 de fevereiro de 1967 – Código de Mineração – Presidente: Castello Branco – ATUAL.

II.4 – O que é o Departamento Nacional de Produção Mineral?

Autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia, criada pela Lei 8.876/1994 em substituição ao órgão de mesmo nome criado pelo Dec. 23.790/1934, subordinado ao MME e que tem como fina-lidade, na forma da lei:

... promover o planejamento e o fomento da exploração e do aproveitamento dos recursos minerais, e superintender as pesquisas geológicas, minerais e de tecnologia mineral, bem como assegurar, controlar e fiscalizar o exercício das atividades de mineração em todo o território nacional, na forma do que dispõe o Código de Mineração, o Código de Águas Minerais, os respectivos regulamentos e a legislação que os complementa...

II.5 – Quais os regimes de aproveitamento das substâncias minerais de que trata o Código de Mineração?

Art. 2º. Os regimes de aproveitamento das substâncias minerais, para efeito deste Código, são:

I - regime de concessão, quando depender de portaria de concessão do Ministro de Estado de Minas e Energia; II - regime de autorização, quando depender de expedição de alvará de autorização do Diretor-Geral do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM;

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III - regime de licenciamento, quando depender de licença expedida em obediência a regulamentos administrativos locais e de registro da licença no Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM; (Tratado pela Lei 6.567/1978)IV - regime de permissão de lavra garimpeira, quando depender de portaria de permissão do Dire-tor-Geral do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM; (Tratado pela Lei 7.805/1989)V - regime de monopolização, quando, em virtude de lei especial, depender de execução direta ou in-direta do Governo Federal.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica aos órgãos da administração direta e autárquica da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, sendo-lhes permitida a extração de sub-stâncias minerais de emprego imediato na construção civil, definidas em Portaria do MME, para uso exclusivo em obras públicas por eles executadas diretamente, respeitados os direitos minerários em vigor nas áreas onde devam ser executadas as obras e vedada a comercialização. (Tratado pela Lei n° 9.827/1999, regulamentada pelo Dec. n° 3.358/2000 e Portaria MME n° 23/2000)

Art. 3° § 1º. Não estão sujeitos aos preceitos deste Código os trabalhos de movimentação de terras e de desmonte de materiais in natura, que se fizerem necessários à abertura de vias de transporte, obras gerais de terraplenagem e de edificações, desde que não haja comercialização das terras e dos materiais resul-tantes dos referidos trabalhos e ficando o seu aproveitamento restrito à utilização na própria obra.

Portanto, cabe ao dnPm o cumprimento do CM que, por sua vez, trata, quase que exclusiva-mente, dos regimes de aproveitamento de Concessão (lavra) e Autorização (pesquisa) e, ainda:

• Dec.-Lei 4.146/1942 - Espécimes minerais ou fósseis, destinados a Museus, estabelecimentos de Ensino e outros fins científicos• Dec.-Lei 7.841/1945 – Código de Águas Minerais• Lei 6.567/1978 – Regime de aproveitamento de Licenciamento• Lei 7.805/1989 – Regime de aproveitamento de Garimpagem• Lei n° 9.827/1999 – Registro de Matrícula

iii - o diREito dE PEsQuisa

Reportando à Lei nº 4.265/1921, o entendimento de pesquisa mineral ao início do século passado era:

Capitulo IVDas pesquizas da mina

Art.. 19. Consideram-se pesquizas todos os trabalhos que teem por fim verificar a existencia e a capacidade economica da mina, desde as excavações superficiaes até ás sondagens e perfurações de poços e galerias.

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Atualmente, na forma do Código de Mineração, “entende-se por pesquisa mineral a execução dos trabalhos necessários à definição da jazida, sua avaliação e a determinação da exequibilidade do seu aproveitamento econômico” (Art. 14).

O CM estabelece, ainda, que a definição da jazida resultará da: (Art. 14)

• Coordenação, correlação e interpretação dos dados colhidos nos trabalhos executados, e condu-zirá a uma medida das reservas e dos teores.• A exequibilidade do aproveitamento econômico resultará da análise preliminar dos custos da produção, dos fretes e do mercado.

Pesquisa mineral é, portanto, um conceito técnico que se manteve inalterado ao longo deste último século.

III.1 - Assuntos legais relacionados ao Direito de Pesquisa.

• A autorização de pesquisa será pleiteada em requerimento dirigido ao Diretor-Geral do DNPM, (podendo ser deferida ou indeferida) (Art. 16). O REQUERIMENTO É COMPOSTO, BASICAMENTE, DA IDENTIFICAÇÃO DO REQUERENTE, O POSICIONA-MENTO GEORREFERENCIADO DA ÁREA PRETENDIDA E UM PLANO DE TRABALHOS DE PESQUISA• Serão respeitados na aplicação dos regimes de Autorização, Licenciamento e Concessão: o direito de prioridade à obtenção da autorização de pesquisa ou de registro de licença, atribuído ao interessado cujo requerimento tenha por objeto área considerada livre, para a finalidade pre-tendida, à data da protocolização do pedido no DNPM, atendidos os demais requisitos cabíveis, estabelecidos neste Código; e os direitos do proprietário na lavra. (Art. 11).• A autorização de pesquisa será outorgada pelo DNPM a brasileiros, pessoa natural, firma individ-ual ou empresas legalmente habilitadas, mediante requerimento do interessado. (Art. 15).• A autorização de pesquisa importa nos seguintes pagamentos: (Art. 20).a) Quando do requerimento de autorização de pesquisa, de emolumentos - R$ 710,47b) Pelo titular de autorização de pesquisa, até a entrega do relatório final dos trabalhos ao DNPM, de taxa anual, por hectare - R$ 2,61/ha/anoc) O não pagamento dos emolumentos e da taxa ensejará a aplicação das seguintes sanções:- tratando-se de emolumentos, indeferimento de plano...- tratando-se de taxa:

• Multa, no valor máximo previsto no art. 64 do CM - R$ 2.631,31 • Nulidade ex officio do alvará de autorização de pesquisa, após imposição de multa• A autorização de pesquisa será conferida nas seguintes condições, além das demais constantes do CM: (Art. 22).

a) O título poderá ser objeto de cessão ou transferência, desde que o cessionário satisfaça os requisitos legais exigidos;

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b) É admitida a renúncia à autorização, sem prejuízo do cumprimento, pelo titular, das obrigações decorrentes do título;c) O prazo de validade da autorização não será inferior a um ano, nem superior a três anos;d) A prorrogação poderá ser concedida, conforme critérios estabelecidos pelo DNPM - R$ 3,95/ha/ano prorrogação;e) O titular da autorização fica obrigado a realizar os respectivos trabalhos de pesquisa, devendo submeter à aprovação do DNPM, dentro do prazo de vigência do alvará, ou de sua renovação; f ) A não apresentação do relatório referido sujeita o titular à sanção de multa - R$ 2,61/ha;• As autorizações de pesquisa ficam adstritas às áreas máximas que forem fixadas em portaria do Diretor-Geral do DNPM. (Art. 25) - PORTARIA DNPM N° 392/2004 a) I dois mil hectares: substâncias minerais metálicas; substâncias minerais fertilizantes; carvão; diamante; rochas betuminosas e pirobetuminosas; turfa, e salgema;b) II cinquenta hectares: as substâncias minerais relacionadas no art. 1º da Lei nº 6.567/1978, águas minerais e águas potáveis de mesa; areia, quando adequada ao uso na indústria de trans-formação; feldspato; gemas (exceto diamante) e pedras decorativas, de coleção e para confecção de artesanato mineral; e mica;c) III mil hectares: rochas para revestimento; e demais substâncias minerais.d) cinco hectares as áreas máximas objeto da Lei nº 9.827/1999; ee) dez mil hectares as áreas localizadas na Amazônia Legal, das substâncias minerais tratadas no inciso I e caulim.• O titular de autorização de pesquisa poderá realizar os trabalhos respectivos, e também as obras e serviços auxiliares necessários, em terrenos de domínio público ou particular, abrangidos pelas áreas a pesquisar, desde que pague aos respectivos proprietários ou posseiros uma renda pela ocupação dos terrenos e uma indenização pelos danos e pre-juízos que possam ser causados pelos trabalhos de pesquisa, (Art. 27).• Realizada a pesquisa e apresentado o relatório exigido nos termos do inciso V do art. 22, o DNPM verificará sua exatidão e, proferirá despacho de: (Art. 30). a) I - aprovação do relatório, quando ficar demonstrada a existência de jazidab) II - não aprovação do relatório, quando ficar constatada insuficiência dos trabalhos de pesqui-sa ou deficiência técnica na sua elaboração; c) III - arquivamento do relatório, quando ficar demonstrada a inexistência de jazida, passando a área a ser livre para futuro requerimento, inclusive com acesso do interessado ao relatório que concluiu pela referida inexistência de jazida; d) IV - sobrestamento da decisão sobre o relatório, quando ficar caracterizada a impossibilidade temporária da exequibilidade técnico-econômica da lavra..., • O titular, uma vez aprovado o Relatório, terá 1 (hum) ano para requerer a concessão de lavra, e, dentro deste prazo, poderá negociar seu direito a essa concessão, (Art. 31).

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Em resumo: Qualquer brasileiro, pessoa natural, firma individual ou empresa legalmente habilitada pode exercer o Direito de Pesquisa em terrenos públicos ou particulares desde que objetive área considerada livre para pesquisa, lhe sendo outorgado o Alvará respectivo por até 03 anos, prorrogáveis a juízo do DNPM, por igual período. Estando obrigado o titular a indenizar o superficiário por danos e prejuízos, ao pagamen-to das taxas anuais por hectare autorizado a pesquisar e, ao final do prazo que lhe foi autorizado, deverá apresentar relatório circunstanciado sobre as pesquisas desenvolvidas, sob pena de sanções.

iv - o diREito dE lavRa

Entende-se por lavra o conjunto de operações coordenadas objetivando o aproveitamento indus-trial da jazida, desde a extração das substâncias minerais úteis que contiver, até o beneficiamento das mesmas. (Art. 36). O requerimento de autorização de lavra será dirigido ao Ministro das Minas e Energia, pelo titular e deverá ser instruído com os seguintes elementos de informação e prova:

CONSTANDO DO REQUERIMENTO, A IDENTIFICAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA REQUERENTE, O POSICIO-NAMENTO GEORREFERENCIADO DA ÁREA O PLANO DE APROVEITAMENTO ECONÔMICO E A PRO-VA DE DISPONIBILIDADE DE FUNDOS OU DA EXISTÊNCIA DE COMPROMISSOS DE FINANCIAMENTO, NECESSÁRIOS PARA EXECUÇÃO DO PLANO DE APROVEITAMENTO ECONÔMICO E OPERAÇÃO DA MINA.

O Plano de Aproveitamento Econômico – PAE da jazida consta, entre outras obrigações, de: (Art. 39).

Projetos ou anteprojetos referentes:• Ao método de mineração a ser adotado, fazendo referência à escala de produção prevista inicial-mente e à sua projeção;• À iluminação, ventilação, transporte, sinalização e segurança do trabalho, quando se tratar de lavra subterrânea;• À higiene da mina e dos respectivos trabalhos;• Às moradias e suas condições de habitabilidade para todos os que residem no local da miner-ação;• Às instalações de captação e proteção das fontes, adução, distribuição e utilização da água, para as jazidas de águas minerais

A autorização será recusada, se a lavra for considerada prejudicial ao bem público ou comprome-ter interesses que superem a utilidade da exploração industrial, a juízo do Governo. Neste último caso, o pesquisador terá direito de receber do Governo a indenização das despesas feitas com os trabalhos de pesquisa, uma vez que haja sido aprovado o Relatório. (Art. 42).

Fica obrigado o titular da concessão, além das condições gerais que constam do CM, ainda, às seguintes, dentre outras, sob pena de sanções: (Art. 47).

• Iniciar os trabalhos previstos no plano de lavra, dentro do prazo de 6 (seis) meses, da publicação do Decreto de Concessão no DOU, salvo motivo de força maior, a juízo do DNPM;

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária38

• Confiar a direção dos trabalhos de lavra a técnico legalmente habilitado;• Não dificultar ou impossibilitar, por lavra ambiciosa, o aproveitamento ulterior da jazida;• Responder pelos danos e prejuízos a terceiros, que resultarem, direta ou indiretamente, da lavra;• Promover a segurança e a salubridade das habitações existentes no local;• Evitar o extravio das águas e drenar as que possam ocasionar danos e prejuízos aos vizinhos;• Evitar poluição do ar, ou da água, que possa resultar dos trabalhos de mineração;• Proteger e conservar as Fontes, quando se tratar de águas minerais;• Manter a mina em bom estado, no caso de suspensão temporária dos trabalhos de lavra, de modo a permitir a retomada das operações;

Os cuidados com a saúde, a segurança e o meio ambiente dos trabalhadores e dos moradores no entorno das minas é uma preocupação já bastante antiga da legislação mineral, conforme nos conta a LEI Nº 4.265/1921.

DA POLICIA DAS MINAS

Art.. 72. O Governo fiscalizará, por suas autoridades technicas ou por pessoas competentes todos os serviços de pesquiza e lavra de minas, fazendo cumprir os regulamentos de:

I. Protecção dos operarios; II. Conservação e segurança das construcções e trabalhos; III. Precaução contra perigos ás propriedades visinhas; e protecção do bem estar publico.

Algumas características legais importantes, inerentes às Concessões de Lavra:

Subsistirá a Concessão, quanto aos direitos, obrigações, limitações e efeitos dela decorrentes, quando o concessionário a alienar ou gravar, na forma da lei. (Art. 55).

• A concessão de lavra somente é transmissível a quem for capaz de exercê-la de acordo com as disposições do Código. • As dívidas e gravames constituídos sobre a concessão resolvem-se com extinção desta, ressalva-da a ação pessoal contra o devedor.• Os credores não têm ação alguma contra o novo titular da concessão extinta, salvo se esta, por qualquer motivo, voltar ao domínio do primitivo concessionário devedor.

A concessão de lavra pode ser desmembrada em duas ou mais concessões distintas, a juízo do DNPM, se o fracionamento não comprometer o racional aproveitamento da jazida e desde que eviden-ciadas a viabilidade técnica, a economicidade do aproveitamento autônomo das unidades mineiras resultantes e o incremento da produção da jazida. (Art. 56).

no curso de qualquer medida judicial não poderá haver embargo ou sequestro que resulte em interrupção dos trabalhos de lavra. (art. 57).

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 39

Em síntese, não há restrição quanto ao número de concessões por titular; cada área pode ser desmem-brada em duas ou mais, desde que não comprometa o racional aproveitamento; é livre a cessão do direito; várias concessões de um mesmo titular e da mesma substância mineral, em áreas de um mesmo jazimento ou zona mineralizada, poderão ser reunidas em uma só unidade de mineração, sob a denominação de Grupamento Mineiro, contanto que a intensidade da lavra seja compatível com a importância da reserva total das jazidas agrupadas; a lavra pode ser suspensa, desde que justificadamente. Cabe ao titular a ex-ecução do PAE e o recolhimento da Compensação pela Exploração de Recursos Minerais.

v – as sERvidõEs

Ficam sujeitas a servidões de solo e subsolo, para os fins de pesquisa ou lavra, não só a proprie-dade onde se localiza a jazida, como as limítrofes, para: (Art. 59).

CONSTRUÇÃO DE OFICINAS, INSTALAÇÕES, OBRAS ACESSÓRIAS E MORADIAS, VIAS DE TRANSPORTE E LINHAS DE COMUNICAÇÕES; CAPTAÇÃO E ADUÇÃO DE ÁGUA NECESSÁRIA AOS SERVIÇOS; BOTA-FORA DO MATERIAL E DEMAIS OBRAS DE INFRAESTRUTURA.

Instituem-se as Servidões mediante indenização prévia do valor do terreno ocupado e dos pre-juízos resultantes dessa ocupação. (Art. 60)

• Não havendo acordo entre as partes, o pagamento será feito mediante depósito judicial da importância fixada para indenização, através de vistoria ou perícia com arbitramento, inclusive da renda pela ocupação, seguindo-se o competente mandado de imissão de posse na área, se necessário.• O cálculo da indenização e dos danos a serem pagos pelo titular da autorização de pesquisas ou concessão de lavra, ao proprietário do solo ou ao dono das benfeitorias, obedecerá às prescrições contidas no Artigo 27 deste Código, e seguirá o rito estabelecido em Decreto do Governo Federal.

O não cumprimento das obrigações decorrentes das autorizações de pesquisa, das permissões de lavra garimpeira, das concessões de lavra e do licenciamento implica, dependendo da infração, em (Art. 63).

• Advertência; • Multa; e • Caducidade do título.

será sempre ouvido o dnPm quando o governo federal tratar de qualquer assunto referente à matéria-prima mineral ou ao seu produto. (art. 94)vi – a ComPEnsação finanCEiRa PEla ExPloRação dE RECuRsos minERais - CfEm

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária40

CONSTITUIÇÃO FEDERAL – Art. 20, § 1º

É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.

lei 8.001/1990 alterada pelas leis 9.993/2000 e 12.087/2009 e que altera a lei 7.990/1989.

Para efeito do cálculo de compensação financeira entende-se por faturamento líquido o total das receitas de vendas, excluídos os tributos incidentes sobre a comercialização do produto mineral, as despesas de transporte e as de seguros. (Art. 2º)

• O percentual da compensação, de acordo com as classes de substâncias minerais, será de:I - minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio: 3% (três por cento);II - ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias minerais: 2% (dois por cento), ressalvado o dis-posto no inciso IV deste artigo;III - pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e metais nobres: 0,2% (dois décimos por cento);IV - ouro: 1% (um por cento), quando extraído por empresas mineradoras, e 0,2% (dois décimos por cento) nas demais hipóteses de extração.

No caso das substâncias minerais extraídas sob o regime de Permissão de Lavra Garimpeira, o valor da compensação será pago pelo primeiro adquirente, ...

• A distribuição da compensação financeira referida no caput deste artigo será feita da seguinte forma: I - 23% (vinte e três por cento) para os Estados e o Distrito Federal;II - 65% (sessenta e cinco por cento) para os Municípios;II-A. 2% (dois por cento) para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT, instituído pelo Decreto-Lei no 719, de 31 de julho de 1969, restabelecido pela Lei no 8.172, de 18 de janeiro de 1991, destinado ao desenvolvimento científico e tecnológico do setor mineral; III - 10% (dez por cento) para o MME, a serem integralmente repassados ao DNPM, que destinará 2% (dois por cento) desta cota-parte à proteção mineral em regiões mineradoras, por intermédio do Ibama.

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Direito de Superfícieadriano drummond Cançado trindade

Transcrição da palestra sobre “Direito de Superfície”, proferida pelo advogado Adriano Drummond Cançado Trindade

no I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária

Vídeo disponível em www.youtube.com/watch?v=er4I_GYkWmY

Cumprimento todos os presentes e em especial agradeço à Amagis pelo gentil convite. Agradeço na pessoa do desembargador José do Carmo, que gentilmente me apresentou. Agradeço também ao presidente, Herbert Carneiro, e quero dizer que é um enorme prazer estar aqui em Minas para falar de mineração.

É um prazer não só para tratar de um tema, que é um tema que já vem sugando toda a minha atenção ao longo dos últimos anos, tanto do ponto de vista acadêmico como do ponto de vista profis-sional, mas também é um tema que me traz de volta às minhas origens mineiras. Então, muito embora eu não tenha construído minha vida profissional aqui em Belo Horizonte, toda a minha família é origi- nária daqui. Apesar de estar longe de Minas, eu trago Minas em mim.

E também quero cumprimentar a Amagis pela brilhante iniciativa, uma iniciativa maravilhosa, porque eu já participei de vários congressos para tratar de mineração, congressos envolvendo empre-sas, envolvendo advogados, mas honestamente eu não conheço nenhuma outra iniciativa que tenha partido de associações de magistrados.

Dando sequência às atividades da manhã de hoje, tratamos de aspectos tributários na primeira palestra. Na segunda palestra falamos de direito de pesquisa e lavra e, talvez nesse momento, nós tenhamos um dos pontos mais emblemáticos da atividade de mineração, que é a relação entre quem exerce essa atividade e quem ocupa o terreno onde essa atividade terá lugar.

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária42

Eu tentei sintetizar com o título “Exploração Mineral e Direitos de Superfície”, mas nós vamos ver que as implicações vão muito além desse breve título que eu atribuí aqui, para que vocês possam ter uma noção de como é que vai ser a minha linha de raciocínio, eu vou iniciar essa exposição com um breve apanhado histórico. Juristas gostam muito de se valer de aspectos históricos no início de seus discursos. Em seguida, a gente trata da disciplina constitucional, legal, e aí eu vou me ater mais de-talhadamente aos instrumentos que são viabilizados hoje pela legislação, em especial a avaliação de renda e indenização por meio de uma ação específica e que é muito utilizada para pesquisa mineral e a própria servidão minerária, que foram temas que o doutor Ricardo Parahyba elegantemente deixou para eu tratar. E, no fim, eu vou fazer um breve comentário sobre licenciamento e sobre o novo marco, que é algo que também tem demandado bastante atenção de nossa parte.

Como eu disse, nós temos que traçar um corte histórico para esse breve apanhado. E esse corte foi por mim escolhido representando o momento em que a mineração passa a ter uma legislação própria e reconhecida da República Federativa do Brasil. Vou fazer esse apanhado a partir da Constituição de 1891, porque, antes disso, muito embora o Brasil já existisse, muito embora a atividade de mineração já existisse no Brasil, nós aplicávamos a legislação da nossa antiga metrópole, as ordenações filipinas, e mesmo com a independência do Brasil, no início do século XIX, em boa parte isso ainda veio sendo aplicado.

Começamos a ter uma disciplina própria de mineração, brasileira, com a Constituição de 1891. E essa Constituição é um tanto quanto emblemática, especialmente para o nosso assunto “Direito de Superfície”, porque ela estabeleceu o regime da acessão, pelo qual os recursos minerais são considerados como uma espécie de acessório da propriedade imobiliária. Esse é um ponto de partida importante, porque não basta simplesmente falar que foi adotado o regime de acessão no Brasil nessa época. Apesar de ser uma época distante, ainda hoje os reflexos dela são visíveis. Basta mencionar que uma das principais minas de Minas Gerais, a Mina de Casa de Pedra, da CSN, é uma mina amparada por um manifesto de mina que tem a sua origem justamente no regime da acessão, ou é decorrente do regime da acessão.

Há tantos outros manifestos de mina ainda hoje em vigor. Mas o meu ponto aqui é que, a partir do momento que foi adotado o regime de acessão no Brasil, essa adoção viabilizou a existência de três tipos de minas. Com o regime da acessão e, consequentemente, como os recursos minerais passaram a ser con-siderados um acessório ao imóvel, eu posso ter minas privadas, minas públicas em terras federais e minas públicas em terras estaduais. Quando me refiro a minas públicas, não significa necessariamente que é o poder público que vai conduzir essa atividade, mas sim que está sujeito ao direito público.

Esse é um momento emblemático, porque já tenho três sistemas jurídicos diferentes. E, fora isso, o regime da acessão no Brasil não passou por um crivo muito detalhado pelos constituintes de 1891. A adoção do regime da acessão muito mais tem a ver com uma reação aos resquícios ainda de dominação de um poder central da época da monarquia ou talvez ainda da época do Brasil colônia do que uma opção por ter sido feito por conta de política mineral. A adoção do regime de acessão é muito mais uma reação a essas realidades, que até pouco tempo antes de 1891 se faziam presentes, do que uma decisão que foi tomada com a consciência e com a intenção de desenvolver a mineração brasileira.

Essa decisão de adotar um regime próprio para a mineração brasileira só vai surgir em 1934, quan-do é abandonado o regime da acessão e é adotado o regime dominial. E aí vem a origem do nosso tema, que vai tratar de Direitos de Superfície, ou seja, da relação entre aquele que explora os recursos

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minerais com base em um ato administrativo, em uma concessão, e o dono ou o possuidor da terra, isso tudo decorre do momento em que se separa a propriedade imobiliária da propriedade dos recur-sos minerais.

Veja que eu não falo aqui de propriedade do subsolo, que é um vício muito grande em que se cos-tuma incorrer, mas a propriedade dos recursos minerais, que contempla inclusive os recursos minerais que afloram ao solo. Com essa separação, o ordenamento jurídico passa a ter que considerar essa nova relação jurídica, entre o titular do direito de exploração e o titular do bem imóvel, no caso da superfície. Não é que antes disso, esse tipo de situação não fosse possível. Mesmo no regime da acessão, o propri-etário do solo poderia desmembrar aquela propriedade, de forma a atribuir a um terceiro o direito de explorar recursos minerais. Isso já era possível mesmo no regime da acessão.

Só que, nesse caso, a iniciativa era do próprio proprietário do solo. Então, da mesma forma que ele optava por desmembrar aquela propriedade, ele também iria automaticamente saber que teria que se sujeitar a um terceiro ingressando no seu imóvel e realizando as atividades de pesquisa e lavra, especialmente de lavra.

Diante dessa constatação de que surge essa nova relação jurídica, é que nós temos que fazer a análise dessa matéria à luz da Constituição de 1988 e à luz do Código atual. A Constituição de 1988 é aquela que mais detalhou a nossa matéria – recursos minerais. É a primeira constituição a efetivamente declarar que os recursos minerais constituem propriedade da União. Até então, havia alguns diplomas legais que faziam esse tipo de reconhecimento, mas a primeira constituição que efetivamente reco- nhece a propriedade da União é a Constituição de 1988. E, ao mesmo tempo, a constituição de 1988 assegura o direito do proprietário do solo à participação nos resultados da lavra. Isso já existia desde 1967, mas desde 1934 já havia possibilidade de uma participação nos resultados da lavra, mas ela era combinada com uma preferência do proprietário do solo. Essa preferência desaparece em 1967 e, hoje em dia, o proprietário do solo tem na constituição o direito assegurado ao royalty, a essa participação nos resultados da lavra.

No mais, a Constituição vai nos dizer, no que diz respeito a essa relação entre concessionário e pro-prietário do solo, que a pesquisa e lavra de recursos minerais representam uma atividade de interesse nacional – isso está previsto no artigo 176 da Constituição – e, fora isso, aplica-se a garantia do direito de propriedade previsto no artigo 5º inciso 22, mas ao mesmo tempo a sua mitigação ou pelo menos a imposição de uma obrigação de atribuir a ela uma função social (inciso 23) e a possibilidade de a propriedade ser suprimida em casos de utilidade pública ou interesse social - inciso 24.

Com base nesses dispositivos constitucionais é que temos que fazer essa nossa análise relaciona-da a direito de superfície. O Código de Mineração atual é um decreto lei de 1967 que foi precedido de um outro decreto lei 1985 de 1940, por sua vez precedido de um outro decreto de 1934. Então, agora que tratamos de novo marco, talvez tenhamos uma lei mineral que tenha sido originariamente gerida e submetida a um processo legislativo no Congresso.

Isso não significa dizer que o nosso Código atual – o decreto lei 227 – não tenha sido submetido a nenhum tipo de processo democrático. Pelo contrário, o código de 1967 foi profundamente alterado, algumas vezes, por leis, inclusive a lei 9314 de 1996. Esse é um ponto muito significativo porque, em 1996, houve vários debates com relação à reforma do Código de Mineração. Muito embora tenhamos

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um código de 1967, ele já foi de certa forma atualizado em 1996, inclusive atualizada a ordem consti-tucional vigente, mas a sua estrutura está baseada na ordem constitucional anterior à Constituição de 1988, tendo ele sido recepcionado pela Constituição de 1988.

O Código atual, no seu artigo 27, assegura o direito do titular de autorização de pesquisa de rea- lizar trabalhos em terras de domínio público e de domínio privado. E, nesse caso, estabelece esse di-reito ao titular da autorização de pesquisa e ao mesmo tempo estabelece aos proprietários do solo ou possuidores o direito de receber uma renda em virtude da ocupação da terra e também uma indeni-zação pelos danos que porventura eles venham a sofrer.

O Código também prevê a possibilidade de servidões minerárias, no artigo 59 e seguintes, e rea- firma o direito de participação do proprietário do solo nos resultados da lavra (artigo 11 alínea B), que é um direito constitucional.

Vamos nos aprofundar então na nossa etapa de pesquisa. Por definição, a etapa de pesquisa é aquela que envolve uma atividade de menor interferência na propriedade imobiliária. Isso não significa que o proprietário do solo não sofra nenhum tipo de consequência, mas, quando me refiro a menor interferência, estou falando de uma atividade pontual, seja com relação à sua natureza (os trabalhos são pontuais, uma campanha de sondagem não ocupa a propriedade em definitivo), mas também com relação à duração.

Muito embora as autorizações de pesquisa possam ter um prazo de até três anos, nem sempre toda a propriedade vai ser ocupada por todo esse período. Esse é um ponto muito importante a ser considerado, porque estima-se que entre 1% e 2% das pesquisas é que efetivamente identificarão uma jazida passível de aproveitamento econômico. Isso vale dizer que nem toda pesquisa vai necessaria-mente levar a uma atividade de lavra e que consequentemente a interferência da pesquisa mineral na propriedade não significa que haverá uma interferência na propriedade porque não necessariamente haverá uma lavra naquele local.

Tendo isso em mente, o Código de Mineração estipulou um procedimento de forma a assegurar que, de um lado, o proprietário do solo receba as compensações que lhe são devidas e, de outro lado, o objetivo daquela autorização de pesquisa, que é efetivamente identificar se há ou não ali uma jazida, seja atingido.

As compensações de que nós estamos tratando aqui são a renda e a indenização. A renda está relacionada ao fato de a área ser ocupada por um determinado tempo e, durante esse tempo, seu pro-prietário ou possuidor não poder aproveitar aquela área. Grosso modo, seria algo muito semelhante a um “aluguel” porque, no momento em que aquela terra está sendo utilizada pelo pesquisador, aquilo não poderá ser utilizado pelo proprietário da terra.

Essa é uma comparação feita apenas para que tenhamos uma noção. Há inúmeros pontos de distinção. Justamente por ser esse o fundamento, o Código de Mineração prevê que o valor máximo devido a título de renda é o rendimento líquido da propriedade, ou seja, quanto que seria possível obter com aquela propriedade, caso ela não estivesse sendo utilizada para pesquisa.

E aí surge a nossa primeira pergunta: será que em terras que não têm nenhum tipo de aproveita- mento econômico e que circunstancialmente estão sujeitas a uma atividade de pesquisa mineral, é devido o pagamento de renda pelo pesquisador ao proprietário do solo? Esse é um ponto que já vem sendo bastante discutido.

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A minha visão pessoal é de que é , porque, muito embora o proprietário do solo não esteja utili-zando o solo naquele momento, o pesquisador suprime do proprietário aquela faculdade que ele teria de atribuir ao solo algum tipo de aproveitamento. Mas, como eu disse, é um tema aberto ao debate e comporta as mais diversas opiniões.

A outra verba é a indenização pelos danos que forem causados porventura pela atividade de pesquisa mineral. É óbvio que só saberemos que danos são esses ao final, mas o pagamento dessa indenização deve ser prévio. O próprio Código de Mineração estabelece um valor teto, que é o valor venal da propriedade, que foi até mencionado pelo doutor Ricardo Parahyba mais cedo. O ponto que eu trago à reflexão de todos nós é: e se, ao final da atividade de pesquisa, houver, pelo próprio pesqui-sador, a recuperação dos danos que porventura tiverem sido causados, ele tem o direito de receber a indenização de volta? Porque a indenização seria justamente uma forma de recompor aquilo que for destruído. A partir do momento em que aquilo é recomposto, em tese a indenização deveria ser de-volvida. Mas não devemos nos esquecer de que o custo de oportunidade está sendo remunerado pela renda e não pela indenização. Esse aqui é um procedimento muito particular previsto para essa ação, que eu chamei de ação de avaliação. Essa não é a nomenclatura utilizada pelo Código de Mineração, mas é a nomenclatura utilizada comumente no setor, que é a ação de avaliação de renda e indenização. É um procedimento muito particular, a ponto de se discutir se efetivamente seria um procedimento de jurisdição contenciosa ou jurisdição voluntária ou administrativa.

O Código de Mineração prevê que, uma vez outorgada a autorização de pesquisa, o titular da autorização de pesquisa tem que apresentar ao DNPM um acordo com o superficiário – dono da terra ou possuidor da terra. Se não for apresentado esse acordo, ou pelo menos notícia desse acordo, cabe ao DNPM notificar o juízo da comarca para que tenha início a ação de avaliação de renda e indenização. No prazo de 15 dias do recebimento desse ofício, essa ação vai ser iniciada. Eu uso a voz passiva porque há dúvidas sobre quem seria o autor dessa ação - se seria o DNPM ou o titular da autorização de pesqui-sa. Eu vou responder a essa pergunta daqui a pouco.

É determinada a citação do promotor de justiça da comarca na qualidade de representante da União. Isso daqui é um trecho da lei que não foi atualizado. Então, está bem claro que não está de acor-do com a ordem constitucional de 1988. Trinta dias depois deve ser proferida a sentença determinando os valores de renda e indenização. Caso haja algum tipo de recurso, ele não será dotado de efeito sus-pensivo. Oito dias depois deve ser depositado o valor. Em mais oito dias, o superficiário vai ser intimado, assim como o DNPM, de que houve a definição do valor. Normalmente, não havendo recurso, a decisão transitaria em julgado e o processo estaria extinto, terminado.

Curiosamente, o Código de Mineração prevê que o processo ficaria em aberto, não se sabe muito bem do ponto de vista jurídico o que isso significaria, até que houvesse uma comunicação por parte do pesquisador ou do DNPM de que a pesquisa terminou e, com isso, a ação seria encerrada. O que quer que signifique encerramento da ação. Eu coloquei vários pontos de interrogação em vermelho porque essa sistemática salta aos olhos. E ela não só salta aos olhos como causa dificuldades práticas. Tudo tem início com o ofício enviado pelo DNPM. Não se sabe muito bem qual que é o propósito desse ofício que é enviado pelo DNPM aos juízos da comarca, já que o maior interessado na realização da pesquisa é aquele que detém o título de autorização de pesquisa. Ele não tem apenas um direito de pesquisar,

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ele tem o dever de pesquisar. E é por isso que aquele título de autorização de pesquisa é dotado de exclusividade, e ninguém mais pode pesquisar aquela área.

Em tese, caberia a ele dar início à ação, e não ao DNPM. Além do mais, o interesse que existe aqui é o interesse do titular da autorização, ao passo que o DNPM sempre deixou muito claro, seja na legislação seja na prática, que ele não se envolve em questões envolvendo o titular da pesquisa e o superficiário.

Um outro ponto que causa espécie nesse procedimento é a citação do promotor de justiça na qualidade de representante de União. Primeiro, porque não se sabe muito bem qual seria o papel do promotor de justiça na qualidade de representante da União. Segundo, porque esse ponto não foi atua- lizado de acordo com o ordenamento constitucional de 1988. Então, ainda hoje, alguns juízos, obe-decendo ao que diz o Código de Mineração, determinam a citação, notificam o promotor de justiça, algum representante da Advocacia da União, a própria Procuradoria Federal que presta assessoria ao DNPM ou, às vezes, o Ministério Público, mas há essa enorme dúvida que paira ainda hoje no Código de Mineração.

Outro ponto que chama atenção nesse procedimento: é determinado o depósito de uma renda de dois anos. Por que dois anos? Muito provavelmente porque o Código já previu no passado, na sua redação original, que as autorizações de pesquisa teriam até dois anos. Depois, foi alterado para prever três. Mas a melhor interpretação do Código é a de que a autorização de pesquisa pode ter até três anos. Então, ainda que a gente faça uma interpretação chegando à conclusão de que a renda seria de três anos, e não dois, não há razão para que seja pré-estabelecido esse prazo, pelo menos não na lei.

O mais curioso de tudo: oito dias depois o superficiário vai ser intimado. Até então ele não tinha conhecimento desse procedimento. Vejam que essa sistemática que foi adotada pelo Código de Mine- ração de certa forma limitava o exercício do direito de propriedade, ou pelo menos o exercício do di-reito de se defender também do proprietário do solo. Ele não iria questionar aqui o direito de pesquisa, mas ele tem todo o direito de questionar o valor da indenização, o valor da renda. Existe um outro diploma legal, muito anterior ao Código de Mineração, o decreto lei 3365 de 1941, que prevê esse direito do proprietário no momento em que ele se vê diante de uma ação de desapropriação. Mas aqui não. Aqui, 16 dias depois da sentença, em tese, é que ele receberia essa notificação. Então, todo esse procedimento dá margem a muitas dúvidas ainda hoje.

Fiz questão de ressaltar que ele foi inspirado pelo antigo Código de Minas, de 1940, o decreto lei 1985. Na verdade, ele foi alterado em 1946. Então, a redação de 1946 é quase idêntica à redação atual do artigo 27. A meu ver, já passou da hora de nós mudarmos isso. Felizmente, o substitutivo apresentado pelo relator na Comissão Especial pelo menos trata essa matéria com mais consistência. Qual tem sido, então, a solução prática que vem sendo apresentada nesses casos? Vem sendo admitido o ajuizamento da ação de avaliação pelo próprio titular da autorização. Nada mais lógico. Até porque nem sempre o DNPM enviava aquele ofício. Não se sabe muito bem qual o propósito daquele ofício. E o DNPM tem parcos recursos pessoais e financeiros e ainda tinha que se ocupar com o envio de ofícios.

Então, pelo menos na prática, tem nos poupado desse procedimento que não fazia muito sentido. E o próprio Judiciário, em várias decisões nas mais diversas instâncias – 1ª, 2ª, tribunais superiores –, já tem consagrado também que a competência para esse tipo de ação é da Justiça comum, não é da

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Justiça Federal. Até porque a União não tem o interesse direto aqui. Nem o DNPM, se nós considerar-mos como integrante da administração indireta. Fora isso, nem o DNPM nem a União são parte. A parte legítima para ajuizar a ação é o titular da autorização de pesquisa. O objeto é justamente a discussão de valores, não é o direito de pesquisar, seguindo a lógica da ação de desapropriação.

E o que se propõe aqui, e o que tem sido efetivado pelo Judiciário, é a garantia de acesso para a pesquisa. É claro que há situações e situações. Pode haver conflitos de interesse de uma atividade de pesquisa mineral em um determinado local em que há o exercício de outra atividade de utilidade pública. Isso é um assunto que a gente vai tratar mais tarde. O ponto aqui é eliminar as incertezas. E, pela sua prática reiterada, boa parte do Poder Judiciário tem eliminado essas incertezas no que diz respeito ao direito de acesso para pesquisa.

Há outros desafios que se fazem presentes. Uma das formas que tem sido muito utilizada pelo Judiciário é a antecipação dos efeitos da tutela mediante o depósito dos valores-teto que estão es-tabelecidos no Código de Mineração. Ainda há casos em que juízes negam a antecipação dos efeitos da tutela mesmo com a realização do depósito, mas há vários precedentes em que essa antecipação tem sido concedida. Não há dúvidas quanto à urgência da antecipação dos efeitos da tutela. A dúvida que muitas vezes surge, e isso é mais preocupante, é com relação à plausibilidade do direito alegado. E um dos principais obstáculos é o artigo 62 do Código. O artigo 62 do Código é claro ao dizer que não podem ser iniciados trabalhos de pesquisa ou lavra antes de ser paga a importância a título de indenização ou de fixada renda. Alguns magistrados entendem que somente ao fim do processo seria permitido o ingresso à área. Eu particularmente não vejo razão para que não possa ser concedida uma antecipação dos efeitos da tutela mediante a garantia de que haverá esse pagamento.

Um outro ponto importante ainda com relação à ação de avaliação: eu comentei que a urgência está clara, até sob a ótica do texto do artigo 27. Ele estabelece uma série de dias, de prazos determi-nados no detalhe. Isso demonstra que há uma preocupação muito grande em se viabilizar o quanto antes o acesso do pesquisador à terra privada. Nesse caso, o próprio DNPM reconhece que, quando o pesquisador não conseguiu ter acesso à terra para fazer a pesquisa, ele pode ter sim sua autorização de pesquisa prorrogada, desde que comprove que adotou todas as medidas. E uma delas, talvez a principal, é o ajuizamento da ação de avaliação. Nós estamos analisando isso tudo imaginando uma situação em que não houve acordo entre o titular da autorização de pesquisa e o proprietário do solo ou o seu possuidor.

A experiência mostra que, na maior parte dos casos, esse acordo se faz presente, ou de forma verbal ou pelo menos de forma bastante resumida em um papel, com duas ou três páginas, e há várias maneiras de tratar desse acordo. Nós podemos imaginar um acordo que já compreenda as etapas de pesquisa e lavra, mas na maior parte dos casos as empresas optam por fazer o acordo apenas para pesquisa, tendo em mente o fato de que poucas são as pesquisas que chegarão a uma lavra. Sendo assim, não faz sentido discutir uma série de pontos relacionados à larva. Pontos esses fundamentais, considerando que vai ser na etapa de lavra que o proprietário do solo vai sofrer a maior interferência na sua propriedade, mas não faz sentido discutir esse ponto se eu sequer sei se vou chegar à fase de lavra.

Assim, a prática tem sido tentar-se acordos para pesquisa. E esses acordos podem naturalmente compreender outros valores, inclusive acima do teto previsto no artigo 27 do Código de Mineração,

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tanto para renda quanto para indenização, mas o que é absolutamente fundamental é o reconheci-mento desses acordos pelo Poder Judiciário, caso ele seja instado a tanto. Uma vez firmado o acordo, claro que sendo ele algo razoável, que não contenha nenhum vício, o que se espera é o reconhecimen-to desse acordo por parte do Poder Judiciário.

Um outro instituto que está diretamente relacionado ao direito de superfície é a servidão mine-rária. Ela é muito aplicada na fase de lavra, muito embora possa também ser aplicada à pesquisa. Particu- larmente, não conheço nenhum caso em que tenha sido ajuizada uma ação para constituição de uma servidão minerária para pesquisa. Até porque os custos e os procedimentos necessários para cons- tituição de uma servidão talvez não façam sentido na fase de pesquisa. Mas ainda assim o Código de Mineração prevê essa possibilidade de servidão minerária também para pesquisa. O que pode ser atingido pela servidão minerária? O Código de Mineração fala em propriedade onde se localiza a jazida e propriedades limítrofes. Esse é um ponto interessante. Primeiro: talvez tenha havido aqui uma impre-cisão do legislador no momento em que ele fala de propriedade onde se localiza a jazida, naturalmente ele buscava identificar no espaço a propriedade que vai se sujeitar a uma interferência.

No entanto, não cabe falar apenas que a área da jazida vai ser ocupada. É muito comum que em-preendimentos mineiros abarquem muito mais apenas do que a área da jazida. Então, a interpretação que tem sido dada é a de que o objeto é a propriedade compreendida pela área da poligonal da con-cessão. Mas também as propriedades limítrofes. E o que são propriedades limítrofes aqui? São apenas as vizinhas? Essas, com toda a certeza. Ou nós podemos imaginar que um mineroduto, que parte de Mariana e chega até Anchieta, no Espírito Santo, se sujeita a servidões minerárias. Seriam então todas essas propriedades limítrofes? Um mineroduto que parte de Conceição do Mato Dentro e chega até o litoral do Rio de Janeiro. Também todas essas propriedades seriam propriedades limítrofes ou não? Para que a gente possa aprofundar essa questão é interessante fazer uma análise da própria natureza da servidão minerária e de como que ela se insere no direito administrativo.

O que tem sido reconhecido é que a servidão minerária é uma espécie do gênero servidão ad-ministrativa. Consequentemente, o direito que ela cria é um direito real público, tais quais as servidões administrativas. Quando nós analisamos o ordenamento jurídico aplicável às servidões administrativas, que, aliás, é o ordenamento que se aplica à desapropriação e é extensivamente aplicado à servidão administrativa, esse ordenamento prevê que a servidão administrativa comporta duas etapas, tal qual a desapropriação.

A etapa em que a utilidade pública é reconhecida por um ente competente, que é a etapa declaratória, e depois a etapa em que efetivamente são tomadas as medidas concretas para se efetivar aquela servidão, que é a etapa executória. O primeiro ponto de distinção aqui é que as servidões ad-ministrativas podem ter como ente competente para declarar a União, o Estado, o município, o Distrito Federal. E ainda, em alguns casos, o DNIT e a Aneel. No nosso caso, ao tratar de servidão minerária, nat-uralmente que apenas a União, por intermédio de seus órgãos, teria competência para essa declaração. Esse ponto foi muito discutido no exemplo que eu dei, de construção dos minerodutos, porque nada impede que a construção de um mineroduto esteja amparada numa servidão administrativa. Não é imprescindível que aquela servidão seja uma servidão minerária. E a competência para declaração da utilidade pública para constituição de uma servidão administrativa pode ser da União ou dos estados.

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Então, sugeriu-se, por exemplo, que o estado de Minas Gerais declarasse a utilidade pública com relação aos terrenos compreendidos no seu território e que o estado do Espírito Santo ou o estado do Rio de Janeiro assim o fizesse com relação às propriedades do seu território. Mas a servidão minerária, por excelência, está muito mais relacionada a viabilizar o exercício da lavra, tanto é que o artigo 59 cita vários exemplos ou várias utilidades da servidão minerária.

Ele fala em instalação de oficinas, obras. Eu copiei alguns trechos do artigo 59 que contém um rol de objetivos. O ponto importante aqui, a meu ver, é que esse rol deve ser entendido como um rol exem-plificativo, no sentido de que, qualquer que seja a obra que vai ser realizada, ou o uso que vai ser dado à terra, ele está relacionado com o exercício da lavra. Da mesma forma que uma intervenção em uma propriedade privada para alguma outra finalidade não desce em minúcias, a ponto de dizer se haverá ali uma captação de água ou uma instalação para ventilação, aqui nós estamos tratando também do objeto último da servidão que é o exercício das atividades inerentes à lavra. Então, esse rol do artigo 59 não pode ser entendido como um rol exaustivo. E me parece que não tem sido entendido dessa forma. O ponto de maior discussão talvez seja como funciona a etapa de declaração na servidão minerária.

Os usos e costumes nos mostram que um instrumento que passou a ser chamado pelo DNPM de laudo de servidão é uma espécie de declaração da necessidade da constituição de uma servidão minerária. Então, ele em tese seria a manifestação do poder público, por intermédio do DNPM (admi- nistração indireta, não estamos falando então da União), com relação à necessidade daquela servidão. Agora, haveria outras possibilidades? Por exemplo, no momento em que é apresentado um plano de aproveitamento econômico ou um requerimento de lavra. O plano de lavra vai ter que prever uma série de coisas. Entre essas coisas, vai ter que prever quais vão ser as servidões de que vai se valer a operação de lavra. A simples aprovação do plano será que também teria esse condão? E, ainda, será que a simples outorga da concessão representaria também uma declaração de que toda aquela área compreendida pela poligonal da concessão está sujeita a servidão?

São perguntas que eu trago e que não encontram ainda uma resposta uníssona, seja na doutrina seja na jurisprudência. Com relação ao laudo de servidão, isso tem sido bastante aplicado, mas com relação aos outros pontos. E aí eu trago o exemplo do setor elétrico, que prevê a declaração de utilidade pública, no caso de instalações de geração de energia elétrica ou de transmissão. E em tempos de novo marco porque não criarmos algo semelhante à declaração de utilidade pública. Bom, na fase ex-ecutória, no momento em que devem ser tomadas medidas concretas para se efetivar a servidão. Não há nenhuma dúvida de que o concessionário tem esse poder de tomar essas medidas, até mediante o ajuizamento de uma ação de constituição de servidão. A dúvida é se é imprescindível aguardar a outor-ga da concessão de lavra ou se isso já pode ser feito no momento em que o plano de aproveitamento econômico foi aprovado. São momentos distintos.

É muito comum que o plano de aproveitamento econômico seja aprovado pelo DNPM e haja um inter-valo de meses, às vezes até anos, até que seja obtida a concessão de lavra. Será que eu já posso então tomar as medidas para efetivação da servidão, que já foi aprovada naquele plano de aproveitamento econômico? Eu já me deparei com casos em que o Judiciário entendeu que, até que a concessão de lavra seja outorgada, eu ten-ho apenas uma expectativa de um direito de lavrar e consequentemente o direito acessório que seria de instituir a servidão. Ele também não estaria materializado. Mas é um ponto que merece ser discutido.

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Outro ponto: por que seguir a lógica do artigo 27? Já demonstramos aqui as incongruências do artigo 27. Até porque o artigo 27 fala em renda pela ocupação da terra e indenização. Bom, se falamos em renda pela ocupação da terra e indenização, estamos falando de duas parcelas, mas a servidão administrativa, por excelência, segue o princípio da desapropriação, que deve ser indenizada e é uma indenização justa, prévia e em dinheiro, como diz a Constituição – artigo 5º, inciso 24. Então, nesse ponto, quando nós falamos no Código de Mineração em renda e indenização, o conteúdo dessa renda e indenização nada mais é do que o mesmo conteúdo da indenização de que trata o artigo 5º inciso 24 da Constituição, que se aplica à desapropriação e, consequentemente, às servidões administrativas. Até porque a indenização, quando a gente fala em justa, ela também tem que remunerar o proprietário do solo pelo fato de ter o seu uso econômico tolhido.

Mas o fato de termos um diploma legal que fala de renda e indenização abre margem para muita discussão. O ponto é que a indenização tem que ser ampla, ao ponto de incluir a renda. E, por último, um ponto muito importante. No momento depois de constituída a servidão, o registro na matrícula do imóvel, que muitas vezes é negligenciado. Nada impede também que a servidão seja constituída por acordo. Da mesma forma que a desapropriação pode se dar por acordo, a servidão também pode se dar por acordo. O acordo seria entre a empresa, a concessionária de lavra, e o proprietário do solo, o possuidor. Para isso, o pressuposto é que já tenha havido a declaração. Nesse caso, pode haver a constituição de uma servidão minerária por acordo sem a declaração ou será que aí nós estaríamos falando de algum outro direito real? Será que seria um direito real com base no Código Civil? O Código Civil fala em direito real, que atribui utilidade ao imóvel dominante e grava o imóvel serviente. Então, será que nós estaríamos falando de uma servidão civil, mas nesse caso se fosse uma servidão civil não caberia ao proprietário do imóvel dominante, no caso a União, participar desse acordo? Ou será que na verdade nós estaríamos falando de um direito de superfície, que é um direito real previsto no Código Civil. Isso também merece discussão, até porque o direito de superfície ainda é um instituto que vem sendo bastante debatido.

E, por último, falamos muito em servidão, mas será que é cabível falar em desapropriação também? Não vejo o menor obstáculo para se falar em desapropriação, só que o Código de Mineração não traz a possibilidade de desapropriação. Quem traz a possibilidade de desapropriação é o decreto lei 3365 de 41, é a Lei de Desapropriações. É óbvio que ela seria fundamento para uma desapropriação, mas me parece que, em uma desapropriação, em prol de um aproveitamento mineral, imaginando ainda que a jazida se localiza naquele imóvel, ou está subjacente a ele, eu vou ter que incluir na indenização os royalties que seriam devidos ao proprietário do solo, ou seja, a participação nos resultados da lavra.

Aí eu teria o que a gente chama de uma indenização justa. Temos aqui algumas outras situ-ações que valem apena nós comentarmos brevemente. Por exemplo: eu posso ter a servidão minerária instituída também de forma a afetar outros direitos minerários. Aqui no Quadrilátero Ferrífero essa é uma situação recorrente. Eu tenho uma tentativa de se constituir uma servidão minerária sobre uma área de uma concessão ou sobre uma área de uma outra servidão minerária. Também é um caso muito conhecido aqui. E aqui sim se espera o envolvimento do DNPM. Porque aqui eu estou falando de duas atividades que constitucionalmente têm o mesmo peso e que vão ter que ser avaliadas no caso concreto.

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Se for possível a compatibilização, esse deve ser o caminho a ser seguido. Se não for possível a compatibilização, deve ser feito um juízo de valor por parte da União por intermédio do DNPM. O mesmo raciocínio se aplica a outras atividades de utilidade pública, como a geração de energia elétrica. Atento a esse tipo de situação, o DNPM tem implementado uma sistemática de bloqueio de áreas.

Então, a partir do momento em que o DNPM é informado de que há um determinado projeto para construção de uma linha de transmissão ou um gasoduto ou para criação de uma instalação de geração de energia elétrica, o DNPM condiciona um direito minerário ou efetivamente bloqueia aque-la área. Isso tem sido aplicado também em algumas rodovias. Ele bloqueia aquela área para futuros requerimentos. Isso demonstra a própria prática do DNPM ciosa em evitar os conflitos, sobretudos os conflitos de natureza pública. Mas a previsão de bloqueio de áreas não está expressa no Código de Mineração. Que fiquei bem claro: não é que eu entenda que não possa haver bloqueio de áreas. Pelo contrário. Eu acho que, como um ente regulador, uma autarquia reguladora, ele tem toda a prerrogati-va, senão o dever de estabelecer bloqueio de áreas quando for o caso.

Por último, tem dois pontos que eu queria comentar com vocês. Registro de licença: eu decidi falar sobre isso porque foi mencionado o registro de licença na palestra da manhã. Eu não ia comentar, mas como foi mencionado pelo doutor Ricardo... É um regime destinado ao aproveitamento de substâncias, sobretudo aquelas de emprego imediato na construção civil, que dispensa uma pesquisa prévia. Não significa que essas substâncias possam ser exploradas apenas sob o registro de licença, mas é uma for-ma de se evitar a etapa de pesquisa e partir diretamente para o aproveitamento mineral. Qual é o ponto aqui? Essa lei 6567 de 1978 tem uma particularidade. Ela determina que o registro de licença apenas é compreendido por um ato administrativo do município seguido de um outro ato administrativo da União. Isso significa que o ato administrativo do município sem o ato da União não tem eficácia.

Para fins de aproveitamento mineral, é imprescindível que haja o registro da licença e não apenas a outorga da licença pelo município. Mas o que mais me chama a atenção aqui é que ele é destinado apenas ao proprietário do solo ou quem dele tiver a autorização. Em outras palavras, nós estamos fa-lando aqui de uma mitigação daquilo que nós chamamos de dualidade da propriedade, da separação da propriedade imobiliária, da propriedade dos recursos minerais no sentido de que, pelo menos aqui, é imprescindível que o proprietário do solo dê essa autorização. Se ele não der, restam os regimes de autorização de pesquisa e concessão de lavra.

Um outro ponto importante que eu não queria deixar passar é a reforma da Lei Mineral. Hoje em dia, nós temos o projeto de lei 5807, enviado pelo Executivo em junho de 2013 com urgência constitucional. Vejam que curioso: eu comentei que o atual Código de Mineração, assim como os que o antecederam, eram decretos-lei que não teriam se submetido a uma prática democrática, mas a proposta que resultou no projeto de lei 5807 não foi nada diferente. Foi algo concebido entre quatro paredes e discutido apenas no âmbito do Poder Executivo. Pouco ou nada se sabia desse projeto de lei no dia 17 de junho de 2013, dia anterior à sua divulgação. E ainda comentou-se que a nova Lei Mineral na verdade seria uma medida provisória. Isso teria sido considerado pelo Poder Executivo, felizmente não aconteceu, mas ainda assim foi enviado com urgência constitucional, que felizmente depois foi retirada.

Um tema como esse é muito complexo, não envolve apenas direito de superfície, envolve muito mais do que isso e não pode apenas ser discutido no âmbito do Poder Executivo, ignorando-se a prática

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da jurisprudência, ignorando-se a dinâmica do mercado, ignorando-se os anseios de outros setores, que são todos anseios justos e que têm que ser considerados. Esse projeto de lei 5807 segue um modelo de lei quadro, adotando então um modelo de regulação que o Brasil vem seguindo desde a segunda metade da década de 1990. Então, deixa à regulação do Poder Executivo boa parte do seu detalhamento, o que em si não é ruim, desde que o essencial conste do projeto de lei, e aqui não constava.

Não há nenhuma menção a direitos de acesso, a superfície, nenhum artigo que trate disso. A única menção que existe ao superficiário, na verdade ao proprietário do solo, no texto do projeto lei 5807, é a menção à participação do proprietário do solo nos resultados da lavra. Pelo menos se esperava muito mais do que isso.

Se hoje eu critico o artigo 27, eu criticaria muito mais o silêncio da lei. Então, o projeto de lei foi concebido declarando expressamente que a mineração é atividade de utilidade pública. Isso já existe desde 1941 na Lei de Desapropriações. Isso foi repetido na nova Lei Florestal em 2012. É algo que se esperava, mas não é o suficiente.

No entanto, com a chegada do projeto de lei à Câmara, foi formada uma comissão especial. Essa comissão especial se encarregou de fazer aquilo que o Poder Executivo não fez: discutir de forma mais ampla, por meio de audiências públicas, por meio de reuniões nas unidades da Federação, essa propos-ta. E, como resultado dessa proposta, surge o substitutivo do deputado Leonardo Quintão. Mas, ao menos aqui, eu vejo um detalhamento da relação entre o concessionário e o superficiário. Vejo tam-bém a possibilidade de acontecer expressamente a desapropriação para fins de aproveitamento mi- neral ou a constituição de servidões minerárias como espécie do gênero servidão administrativa para fins de aproveitamento mineral também.

O que tudo isso nos mostra? Mostra que, no passado, a mineração pode ter sido considerada uma atividade que tinha precedência sobre todas as outras atividades, precedência em termos de uso da terra. Esse não é o sistema adotado no Brasil. Esse sistema foi adotado na Lei Federal de Mineração dos Estados Unidos, de 1871, salvo engano, que ainda está em vigor. Aqui no Brasil não é assim. Não é assim porque eu tenho normas ambientais que estabelecem unidades de conservação em que o exercício da mineração pode ser impedido, no caso de unidade de proteção integral, ou condicionado, no caso de unidade sustentável. Tenho outras áreas reservadas, outras áreas sujeitas à proteção.

Já estou falando aqui de compatibilização de interesses no nosso ordenamento jurídico. Mas em termos de relacionamento entre concessionário de lavra e proprietário do solo, tenho um diploma le-gal que ainda precisa ser bastante aprimorado. E, felizmente, a prática tanto do DNPM como dos tribu-nais vem caminhando para esse aperfeiçoamento. É claro que sempre há situações limítrofes, sempre há dificuldades que são enfrentadas caso a caso, sempre há decisões que causam insegurança, mas ao menos essas lacunas que existem na nossa lei não vêm impedindo o exercício do direito de lavra, não vêm impedindo também a justa compensação que é necessária e é devida aos proprietários e possuidores da terra. Com isso eu concluo, agradeço a atenção de todos, e mais uma vez agradeço a Amagis pelo gentil convite para colaborar nesse seminário.

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Expansão da Atividade Minerária Walter lins arcoverde

Transcrição da palestra sobre “ Expansão da Atividade Minerária”, proferida por Walter Lins Arcoverde,

diretor de Fiscalização Minerária do DNPM

Vídeo da palestra disponível em www.youtube.com/watch?v=1XHOS9Pdcys

Preparei uma apresentação na linha da economia mineral. O tema é bastante vasto, portanto procurei fazer um histórico dos últimos anos de como se comportou a economia mineral do Brasil. Essa será a linha de trabalho.

Inicialmente, quero falar sobre a importância dos recursos minerais no nosso cotidiano, das forças determinantes no comportamento da atividade, da oferta e demanda de recursos, fatores internos, tanto de oferta quanto de demanda por recursos minerais no Brasil, fatores externos que impactaram na mineração brasileira.

Vamos abordar também a questão do deslocamento da curva de demanda no mundo por re-cursos minerais, decorrência disso os investimentos realizados em pesquisa para descoberta de novas jazidas depois de muitos anos bem aquém da necessidade da reposição de jazidas, para o consumo humano. E agora o cenário mais recente que mostra uma queda de preços dos recursos minerais decorrente de um novo ajuste de oferta e demanda, com redução de crescimento dos países asiáticos e algumas situações de crise em países desenvolvidos, reduzindo o consumo, e abordamos ao final os impactos decorrentes desses cenários, tanto inicial quanto a posição do Brasil hoje no mundo em termos de mineração e uma abordagem de visão de futuro, ou seja, o que estamos vendo daqui para a frente. Sinalizações operacionais de trabalho.

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nosso Cotidiano

Os recursos minerais estão no nosso dia a dia. Peguei na Mineropar uma cartilha de uma série de geologia na escola que é muito interessante, da geóloga Maria Elizabeth, que preparou, para mostrar para vocês que os recursos minerais são essenciais para a gente se alimentar. No dia a dia, temos que comer no mínimo três refeições e sem recurso mineral a gente não se alimenta. Por quê? Para fazer o alimento, a agricultura precisa de potássio, que são sais de potássio que estão debaixo da terra em bacias sedimen-tares, precisa do fosfato que está em rochas sedimentares ou ígneas como no Brasil. Temos que tirar o fósforo, o NPK e o nitrogênio que vem do gás. O NPK aplicado em toda agricultura e toda plantação, cada qual na sua dosagem, vem de rochas e essas rochas só saem para serem colocadas no solo a partir da mineração e da agricultura.

Produzido o grão, tem que colocar em um caminhão ou trem e levar para o consumo, ou seja, supermercados e consumidores. Caminhão e trem são feitos de ferro, de aço, de nióbio, de níquel, de zinco. Tem que ter o transporte. Os processadores, as colheitadeiras também são feitos de elementos metálicos que são elementos úteis que estão em minérios, em rochas e que se descobre, se pesquisa, se minera. Assim como as plantas precisam do potássio e do fosfato, nós, no nosso dia a dia, para nos alimentarmos, precisamos da mineração.

Um exemplo do produto cloreto de potássio minerado, em Sergipe, que vai para todo o agrone-gócio e toda a agricultura familiar brasileira a partir dos NPK.

A mineração é importante também para a gente morar. Ou seja, não existe uma casa construída sem recursos minerais. O tijolo é feito de argila, argamassa, areia; as fundações, de cimento, que é ferro, areia, brita; contra-piso é feito de calcário; telhado é feito de cimento ou telha; as fiações todas de uma casa são de cobre ou de alumínio. Então, a casa não seria construída sem o recurso mineral.

Precisamos do recurso mineral para morar, se alimentar e também para se deslocar. Nossa vida é um eterno deslocamento: de avião, de carro, de ônibus ou metrô. Em todos esses meios que usamos para nosso deslocamento é intenso o recurso metálico. Todos são feitos utilizando minerais metálicos.

Atualmente, mais do que nunca, temos nos comunicado bastante. Seja pelas redes sociais, pelo telefone. E também para nos comunicar, precisamos do recursos mineral. Hoje, o celular, os smart-phones são feitos de metal. Tem um exemplo dos elementos que são utilizados no revestimento, na placa do celular. Encontramos alumínio, cobre, cobalto, níquel, cromo e uma série de elementos para se montar um celular. Ou seja, para nos alimentarmos, morarmos, nos deslocarmos e nos comunicarmos precisamos da mineração.

Esse é um ponto fundamental de entendimento. Uma plantação com pouco potássio, por exemp-lo, e uma plantação com bastante fertilizante, potássio. A produtividade por hectare é fantasticamente diferente em favor da aplicação do fertilizante, que é mineração.

Nosso dia a dia é moer minério e sair carro, televisão, transporte. A sociedade em que convivemos hoje é essa e tem uma qualidade de vida à qual chegamos depois de muitos séculos de trabalho. As inovações tecnologias estão sempre associadas ao recurso mineral.

Na revolução industrial, você tem o carvão para a geração de termoelétrica, gerar vapor d’água. O carvão é uma lenha concentrada. Ele gera calor, esquenta as caldeiras, faz o vapor d’água. Lá atrás,

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 55

ele movia máquinas a vapor e até hoje move turbinas para a geração de energia. Atualmente, temos poucos produtores de carvão mineral, mas o mundo todo e os grandes países desenvolvidos, como os Estados Unidos, têm uma base de geração energética à base de carvão.

Aqui no Brasil, cerca de 40% ou 50% da energia é hidrelétrica, já nesses países, é termoelétrica. A tecnologia do concreto veio revolucionar a construção civil. A partir daí, você utiliza o ferro e cimento para fazer o concreto, calcário e argila, além da areia e pedra britada. Daí o início do processo de ur-banização. A humanidade começou a se deslocar para as cidades, um movimento que gera grande demanda por recursos minerais. As tecnologias de construção de meios de transportes – navios, trens, ônibus, caminhões, automóveis. Para tudo isso é fundamental ter recursos como o nióbio, que dá resistência ao aço, que tinha baixa qualidade e com os elementos dopantes úteis passou a ter uma grande qualidade e ser usado desta forma em gasodutos, diversos dutos feitos do complexo ferro e aço.

PRodutividadE

A melhoria da produtividade agrícola, por exemplo, cresceu muito por causa da capacidade de fertilização das plantas. A geração de energia nuclear a partir da tecnologia da fissão nuclear precisa do urânio, do tório e de uma série de elementos. Novos materiais petroquímicos, cerâmicos procuram de-slocar os materiais adicionais. Lembro-me de quando estudei na Unicamp, final da década de 1980, só ouvíamos falar em novos materiais, que o ferro ia acabar e que seria utilizada cerâmica nos motores de automóveis, que a fibra ótica iria substituir o cobre, e assim sucessivamente. Só que isso envolve pro-cessos de custo e tecnologia e os produtos tradicionais reagiram aos novos materiais e se mantiveram. O estanho é típico, é um metal pesado usado em solda e produtos eletrônicos que por volta dos anos de 2000 se achava que ele seria substituído pelo peso que tem. Mas ele reagiu e o preço da cassiterita subiu nos últimos anos, de 4 mil dólares foi para 22 mil dólares a tonelada. Os minerais e seus produtos tradicionais continuam sendo usados pela humanidade.

Os avanços ambientais colocam na pauta catalisadores antipoluentes à base de metais, como a platina e os elementos terras-raras. Há alguns anos, a China parou de vender óxido de lantânio, que é um óxido de elementos terras-raras, obtido da monazita. E uma empresa que fornece a todo nosso pólo petroquímico ficou sem oxido de lantânio, e o preço foi nas alturas. Realmente faltou, o que impe-diu a produção de catalisador para tirar a poluição da indústria petroquímica.

A revolução que está em curso do carro elétrico vai precisar de baterias leves, e hoje as baterias são feitas de chumbo, um material muito pesado. Existem baterias de lítio, carbono. Tudo isso está sendo desenvolvido. Já existem carros elétricos. E outros materiais serão demandados, como as terras-raras, para o futuro.

ExPansão

Voltando ao título da palestra, a expansão da atividade minerária, quais são as forças determi-nantes que fazem essa atividade expandir?

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária56

O que gera a demanda? É a oferta primeiro? Tem que ter o produto antes? Ou é um mercado que está consumido e você vai atrás do produto? Acho que são as duas coisas.

A oferta condicionada pela disponibilidade e descoberta dos recursos minerais. Se você não tiver o recurso, não vai pesquisar e desenvolver mercados para ele. E a demanda dos mercados consumi-dores. São duas forças: oferta e procura.

Pelo lado da oferta, eu quero destacar a importância dos levantamentos geológicos básicos tradicionalmente feito pelos estados nacionais, que compreendem as atividades de identificação das rochas, suas estruturas e seus inter-relacionamentos que compõem os terrenos dos países. É uma ativi- dade exercida diretamente pelo estado em todos os países por meio do qual são assinalados os indi-cadores preliminares regionais, onde se desenvolverão pesquisas mais detalhadas pelos pesquisadores e empresas de mineração.

É uma atividade de caráter permanente, à qual, ao longo do tempo, vão sendo agregadas novas informações, feições antigas são reinterpretadas à luz de novos conhecimentos e modelos geológicos ou novas concepções sobre a estruturação do globo terrestre.

O Brasil tem seu serviço geológico já muito antigo, e esse trabalho de muitos anos vai redefinindo a geologia do país. Em um mapa de 1854, se comparado com um mapa de 1908 e até os dias de hoje, são notáveis as feições geológicas do nosso país. Nos dias de hoje, elas estão demarcadas e são facil-mente reconhecidas pelo mapa em diferentes escalas. Temos regiões com mapeamento 1/100.000, 1/50.000, que são escalas grandes, como também temos regiões com escalas muito maiores, como na região da Amazônia, onde o mapeamento é de 1/1 milhão, que ainda tem muito o que ser descoberto.

Normalmente, os sais, como o potássio, o enxofre, petróleo, gás, estão nas bacias. Enquanto que outros minerais estão no embasamento, o ouro, o ferro, o cobre, que estão em outras condições geológicas.

A partir desse trabalho de estado, além do mapeamento geológico, tem a geoquímica, a geofísica, trabalho sistemático como os levantamentos aerogeofísicos, que nos últimos anos têm sido feitos com um espaçamento de linha de voo de apenas 500 metros. Tudo isso traz informações através de magne-tometria, gamaespectrometria para os levantamentos geológicos que, integrados com o mapeamento dos geólogos em campo, cria condições e identifica regiões favoráveis a cada tipo de minério. Aí você passa a ter o trabalho da iniciativa privada, que é prospectar, também, além de fazer novos levantam-entos, com outros detalhes e controle da mineração, além de identificar quais as rochas estão hospe-deiras daquela mineração, a quantificação e a caracterização tecnológica do mineral.

Deve-se delinear a jazida através de sondagens para definir o corpo, sua forma, para definir se uma mina é subterrânea ou se é a céu aberto. Esse trabalho da empresa gera oferta de recurso mineral tam-bém. Com esse trabalho sistemático, nós chegamos a Carajás, a maior provincia mineral do país hoje, com potencial futuro muito grande, assim como o quadrilátero ferrífero nosso aqui em Minas Gerais.

Em Carajás tem ferro, serra norte, serra sul, serra leste. Tem cobre, associado a ouro; níquel; cobre no sossego, no cristalino; paladium, platina. Esse trabalho sistemático tem que ser contínuo. E ainda falta muito a ser feito no país para descobrir outros Carajás. Se olharmos o mapa geológico, a região da calha norte, pela falta de acesso, ainda pode trazer grande surpresas para o país. Aqui tem continui-dade entre a parte de Carajás e a parte que foi coberta pela bacia sedimentar mais recente. Tem pouco

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trabalho feito por lá. Desta forma, chegamos a ofertar bens minerais, não só pelo lado da demanda. Nós estamos procurando para descobrir. E as atividades de pesquisa são fundamentais para repor as reservas exportadas e produzidas e garantir fornecimento dos minerais para as futuras gerações.

A atividade de pesquisa é essencial a uma empresa de mineração. Qual o grande ativo de uma empresa de mineração? É ter reservas para o futuro. Existe um consumo anual, e existe a reserva que vai se exaurindo. Por isso, é necessário o trabalho de pesquisa contínuo para que as reservas sejam ampliadas. O cobre da Bahia, Caraíba Metais, estagiei lá. Ali era somente cobre. Os teores encontrados e tamanho da produção que foi feita na mina não estavam se relacionando corretamente com a previsão da reserva. Fizeram a mina muito grande para o consumo. Mas e a reserva, responde? Houve, portanto, todo um novo programa e perfuraram profundamente a jazida e ela existe até hoje. Naquela época, década de 1980, estavam pensando em encerrar as atividades por lá. Acharam prata, ouro e mais cobre. Isso para vocês verem que a pesquisa é fundamental. E é um trabalho de detalhe científico, com muito estudo. É necessário sempre ser realizado pela empresa de mineração para que ela possa continuar tendo vida.

Do lado da oferta, gostaria de ressaltar que a expansão da atividade minerária se dá não só por ter mercado. Os trabalhos científicos geram oferta de recursos minerais. E o exemplo principal que gostaria de deixar registrado é o nióbio de Araxá, em Minas Gerais. O nióbio é uma mina maravilhosa, que não tinha mercado. A empresa, que eu reputo como um exemplo de casos bem sucedidos na mineração brasileira começou, produzindo concentrado de nióbio e hoje só produz produtos com maior valor agregado, e tem um retorno muito bom.

É uma grande mina, de classe internacional, representa 90% da produção mundial. Agora, para chegar até isso, muita pesquisa foi realizada, bem como financiamento de universidade, mestrando, doutorandos, para chegar e construir o mercado de nióbio, que é um elemento super condutor. Por exemplo, aqueles trens que levitam no Japão, que temos vistos, têm que ter nióbio. O produto é tam-bém muito utilizado na indústria metalúrgica do aço. São aços especiais e, para isso, o nióbio é muito importante. Foi a partir da existência da oferta dessa mina que se construiu um mercado. Por isso, eu coloquei essa força indutora da expansão da atividade mineral que é a descoberta, por si própria, de uma riqueza e de uma utilidade daquele elemento concentrado na natureza.

Do lado da demanda, o mundo já está acontecendo há muitos anos, portanto já se tem a oferta e a procura por recursos minerais. Uns substituem os outros, mas já existe o uso para cada um definido. Existem fatores que deslocam a curva de demanda e muitas vezes a curva da oferta não avança na mesma velocidade. Isso gera aumento de preço. Foi o que ocorreu nos últimos 12 anos. Vivenciamos uma expansão por fatores externos, inicialmente, e depois por fatores internos também.

Os principais mercados que impactam o consumo de bens minerais são geração de energia – para construir a hidrelétrica, utiliza-se toda uma parte de cimento, calcário, brita, areia, e precisa também de carvão para a termelétrica. Para se ter luz acesa e energia são necessários carvão, urânio ou água. São elementos minerais. Isso demonstra que a necessidade da geração de energia impacta diretamente a indústria mineral.

A mesma coisa acontece com a construção civil que alavanca e puxa o consumo de recursos minerais, além da indústria de transporte, de bens de capital, máquinas e equipamentos. A Europa, por

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exemplo, está totalmente construída. No entanto, o consumo de cimento per capita na Europa é maior que o nosso aqui no Brasil, que tem tudo por fazer. Isso acontece porque a Europa está sempre cons- truindo novas infra-estruturas. É impressionante como a construção civil alavanca e puxa o consumo de recursos minerais. E quando a construção civil freia, o impacto é imediato.

A transmissão de energia e de telecomunicações utiliza cobre, alumínio. O Brasil, ultimamente, fez muitas linhas de transmissão e, para isso, são necessários esses elementos. A agricultura também faz parte dos grandes mercados que impactam a indústria mineral.

Nos últimos anos houve um forte crescimento em países populosos na Ásia, especialmente na China que alavancou setores altamente demandantes de bens minerais, como a construção civil, com intenso movimento de deslocamento de populações do campo para as cidades. O PIB da China, por exemplo, a forma de calcular, já empatou com os EUA em termo de valor do PIB. Isso são muitas indústrias de todo tipo produzindo coisas e, para tudo isso, são necessários recursos minerais. A mineração, a partir do crescimento da China e da consequente valorização das commodities, entrou em um virtuoso super ciclo que alterou o interesse das empresas no Brasil resultando em novos investimentos e projetos.

No que se refere ao cobre, a representação da China correspondia a 6% do consumo mundial e passou para 39%. O mesmo aconteceu com o alumínio, que passou de 5% para 43%.

Isso mostra o impacto que gerou no mundo inteiro. Nós sofremos, no bom sentido, uma força de compra de minerais vinda da Ásia. Ou seja, o desenvolvimento rápido nesses países asiáticos, cerca de 12% ao ano, a oferta dos bens minerais não acompanhou. O consumo cresceu muito e, como a oferta não acompanhou, o preço subiu. Quando o preço sobe de algum setor, todo mundo quer produzir naquele setor para ter uma margem de lucro maior. É a lei da oferta e da procura e a maximização de lucros no sistema em que vivemos.

mERCado intERno

No mercado interno também foi grande o impacto. Tivemos um crescimento do aumento da renda per capita da população e uma melhor distribuição dessa renda, que aumentou o mercado consumidor de vários produtos que, indiretamente, impactam na mineração. O aumento do emprego formal e a maior disponibilidade de crédito também contribuíram para um boom na construção civil. Nós vivemos isso de perto aqui em Nova Lima. Foi visível nos últimos 10 anos a quantidade de cons-truções. Programas habitacionais e de infraestrutura, hidrelétricas sendo construídas, pontes, rodovias, duplicações de rodovias.

Também houve um processo paulatino, no mundo, não só no Brasil, que foi o avanço da urbani- zação. Se a gente andar no interior do Brasil a gente percebe. As pessoas estão saindo dos campos, do sítio, da fazenda e indo morar nas cidades mais próximas. Tem as cidades que são polos regionais que cresceram muito. Tudo isso aumenta o consumo de minerais. A renda per capita subiu e o índice que mede a maior e a menor renda da população, o índice de Gini, quanto mais próximo de zero melhor.

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Houve uma redução desse índice ao mesmo tempo em que houve o crescimento da renda per capita. Isso aumentou o número de consumidores e gerou maior demanda por recursos minerais.

A empregabilidade, que da condições de pedir um financiamento de um crédito habitacional, por exemplo, também subiu. Nos últimos anos, saímos de 23 milhões de empregados formais para 47,5 milhões em 2012. Com relação à produção agrícola, na área de grãos, passamos de 39 milhões de hectares de área ocupada para 57 milhões de hectares enquanto a produção mais que dobrou. Isso também provocou a procura por potássio e fosfato, dois elementos que a gente produz e importa. Foi outro grande impacto na mineração por mercado interno, pela produção agrícola brasileira. A cons-trução civil se expandiu como já falei aqui. E o que melhor demonstra essa expansão é o cimento: em vinte anos, passamos de 25 milhões de toneladas para 70 milhões de toneladas de cimento.

Imaginem quantos milhões de automóveis produzimos há alguns anos? Um milhão e setecentos mil automóveis. Hoje, estamos produzindo três milhões e meio de automóveis. Isso mostra que a pro-dução industrial cresceu muito. Começou a recuar este ano, mas saímos de um patamar para outro. E a crise mundial de 2009 trouxe uma grande redução. A produção da indústria de transformação, que é a que mais consome recursos minerais, também foi bastante forte para fazer os produtos finais que a população passou a consumir e demandar.

Esse movimento trouxe investimentos externos estrangeiros portentosos. Recentemente, no jor-nal Valor Econômico, saiu matéria colocando o Brasil como quarto país em atratividade de investimen-to externo direto, de acordo com estatística da ONU. A China é o primeiro, EUA segundo lugar. Nos últimos anos, esse grande investimento externo direto, com a redução do preço das commodities min-erais não está vindo para o setor mineral. Em 2014, houve uma redução de 50%, em relação a 2013, nos investimentos no setor mineral. Ele está chegando no setor de serviços. Mas até 2012 tivemos grandes aportes de recursos estrangeiros para a mineração no Brasil.

Quais foram os impactos decorrentes destes movimentos de maior demanda? Elevação de preço é um deles.

Temos um índice na Bolsa de Londres de uma cesta de metais. Estávamos no índice 1.000 e todo esse movimento de aumento de consumo multiplicou por quatro, chegamos a 4.000, e em 2009 houve um queda, voltando nos anos de 2010 a 2012, e voltamos a cair agora. Uma multiplicação por quatro. Isso atraiu os investimentos.

Os impactos positivos desse aumento de preços foi o aumento dos investimentos em pesquisas no Brasil e na produção, gerando aumento de empregos no setor, no valor da produção e da oferta de bens minerais.

Chegamos a ter pleno emprego de geólogos; não se achava geólogos no Brasil. Hoje, o cenário é outro. Está havendo demissão. Por vários motivos. Tínhamos uma empresa de sondagem que não dava conta dos pedidos. Vieram mais duas grandes empresas de sondagem para o Brasil para competir com a mineira, a Geosol. Mas esse cenário já mudou também. Já está em declínio.

Como já apresentei, a mineração envolve uma fase de pesquisa, delineamento da jazida – deve-se fazer um plano de lavra, definir se será a céu aberto, subterrânea, se terá plano inclinado ou não, produzir, beneficiar. Tem-se mina com 0,4 grama de ouro por tonelada de minério. E tem que concentrar isso para fazer a barra de ouro. Para fazer o vergalhão de energia do cobre, tem mina com cerca de 2% por tonelada.

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A mineração vai até a concentração. Tem-se que fazer a recuperação ambiental e, muitas vezes, fazer a transformação desse minério em um produto intermediário, agregando valor, o que é salutar.

Faz parte também da mineração o encerramento da atividade, o descomissionamento da mina. E a definição de um uso para a área da mineração. Isso vem ocorrendo. Muitas áreas de argila e de areia em São Paulo são recuperadas e definidas para outras atividades.

Esse movimento gerou aumento dos investimentos em pesquisas, saímos de 3 bilhões de dólares em investimentos e pesquisa mineral no mundo para achar minério para chegar a 20 bilhões de dólares. O petróleo é 10 vezes isso. Houve esse grande investimento. Isso repercutiu no Departamento Nacional de Produção Mineral no país, ou seja, os alvarás de pesquisa e requerimentos de pesquisa que nós tivemos que analisar foram inúmeros.

Tirando o ano de 2000, quando houve uma ação de esforço concentrado de um diretor geral, houve uma elevação de 10 mil alvarás por ano para quase 20 mil alvarás por ano. Isso é muito trabalho e conseguimos cumprir, fizemos dois concursos nesse período. Entre 2005 e 2014, investimentos de 2,5 bilhões de dólares em áreas de autorização de pesquisa, e cerca de um bilhão de dólares em reava- liação de reservas de minas já concedidas. Para fornecer os alvarás, criamos a diretoria de arrecadação toda informatizada e cobramos taxa de oneração da pesquisa, o que rendeu ao Estado Brasileiro cerca de 130 milhões de reais por ano só pago pela pesquisa. Entraram 39 mil relatórios de pesquisa de 2006 a 2013, analisamos 36 mil, aprovamos 11 mil, dos quais 1024 foram jazidas de metálicos e fertilizantes.

Foram gerados 11,4 bilhões de toneladas de minério de ferro contido, com teor médio de 36%, teor baixo em relação às melhores minas nacionais. Mas a tendência mundial da mineração é trabalhar com teores cada vez menores.

Passamos a ser a segunda maior reserva de terras-raras do mundo, atrás da China apenas. Houve grande expansão também em alumínio e ouro, cobre, níquel, fosfato e potássio.

Com isso, foram gerados 28 anos de vida útil para o ferro, 15 anos para o alumínio, 33 para o ouro, 102 para o cobre. Com as terras-raras, nós podemos atender o mundo por 200 anos. Tudo isso é fruto dos investimentos de pesquisa nos últimos anos.

O valor da produção sofreu uma curva, conforme o gráfico apresentado, chegando a produzir 53 bilhões de dólares. A participação no PIB voltou a crescer para 4% do PIB brasileiro. Os royalties saíram de 180 milhões de reais para 2,4 bilhões de reais em 2013, recuando pra 1,7 em 2014, pela redução dos preços e dos pagamentos de passivo, cobrado pelo Departamento. Isso contribuiu para a gente ter reservas internacionais. O saldo da Balança Comercial das Exportações de minério brasileiras contribuiu para as nossas reservas internacionais.

novo CEnáRio

E qual é o novo cenário de redução de preços? Houve a redução do crescimento chinês, países europeus em crise, e tem então uma desvalorização dos preços das commodities, isso recentemente. De 2007 para cá. O aço, o minério de ferro, o zinco e o chumbo despencaram no fim do primeiro se-mestre deste ano.

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O ouro, que geralmente cresce nas crises por ser reserva de valor, subiu, mas recentemente caiu de 1.800 dólares a onça para 1.100.

O Brasil, juntamente com a Rússia, Estados Unidos e China, é um dos países com mais de cinco milhões de quilômetros quadrados e com uma população maior que 150 milhões de habitantes e um PIB maior que 600 bilhões de dólares. É a 7ª economia do mundo, onde o FMI trabalha com a metodo- logia de PIB por paridade de poder de compra. É a maior indústria mineral da América Latina, o maior território em potencial para grandes minerais, grandes jazidas, grande produtor de equipamentos e infraestrutura, e o maior consumidor de minérios da América Latina.

Há uma tendência mundial. A mineração praticamente acabou na Europa. Enquanto no Brasil, Chile, Peru, África do Sul, Zâmbia e República do Congo, a tendência é de a mineração continuar cres- cendo. No ranking do Banco Mundial, por causa da elevação de preço do minério de ferro, o Brasil ficou em terceiro lugar depois de China e Austrália. Depois vem Rússia, Chile, Estados Unidos e África do Sul. Ficamos em terceiro em valor da produção mundial, em 2012. Já não está mais assim.

Temos a segunda empresa em valor de mineração no mundo, temos investimentos na ordem de 54 bilhões de dólares para os próximos cinco anos; produzimos muito ferro. Nosso problema é a vulner-abilidade ao minério de ferro. Nossas exportações representam 23% da balança comercial, sendo 89% de minério de ferro. Nossos valores de exportações estão caindo com a redução do preço do minério de ferro. Vendemos muito para a China. Importamos muito potássio, carvão mineral e fosfato. A mão de obra cresceu e agora, no cenário de preços reduzidos, estamos sofrendo um ajuste, a mineração vai passar por dificuldades. Já começam as demissões.

No ferro, nós só temos 14% das reservas mundiais, mas somos um dos maiores produtores. Re- presentamos, em produção de ferro, 13% do mundo. Quando se coloca carvão nessa conta, tem-se os países mineradores – que são os Estados Unidos, a China e a Austrália – tem pouco aqui.

Para mostrar nossas deficiências também. Nós não temos tudo. Somos fracos aqui em carvão, por exemplo; o cobre tem o Chile como grande país produtor; níquel, a gente tem produção muito pequena; somos fracos também na produção do ouro, feita pelo Peru; na bauxita nós somos fortes com Austrália e China; Urânio somos fracos – e hoje há uma grande demanda de pesquisa mineral; diamantes são produzidos mais na África, Rússia, Canadá e Austrália.

Quero mostrar que a tendência nossa é ser um país para agregar valor à cadeia produtiva, porque a gente não sobrevive – 200 milhões de habitantes – apenas vendendo grãos e minérios. A Austrália e o Canadá têm o padrão de vida muito alto com grãos e minérios, principalmente com minérios. Mas nós não. Nós temos 200 milhões de habitantes e precisamos fazer indústria aqui. Os Estados Unidos, apesar de ser hoje Google, Apple, a indústria do conhecimento, continua tendo a grande base mineral e a grande base de indústria de transformação e de base mineral que foi o que originou a riqueza que eles têm hoje.

A indústria mineral tem peculiaridades. Estamos falando com pessoas que decidem casos na Justiça sobre a mineração e é importante mostrar que se trata de um recurso não renovável, as jazidas se exaurem, tem uma rigidez vocacional das ocorrências. É a geologia quem determina. Por exemplo, você não pode deslocar a jazida, você pode deslocar algumas coisas que estão próximas. A jazida está naquele lugar fixo.

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A distribuição dos depósitos é irregular mundo a fora. O Chile tem muito cobre, e em outros lugares não tem nada de cobre. Por isso, é uma indústria globalizada. Cada jazida é uma qualidade diferente. Há uma incerteza muito grande na fase da pesquisa mineral. Alto risco de investimento. Tem longo prazo de maturação de projeto, escala de produção pouco flexível, indústria de mercados transnacionais e equipes multidisciplinares trabalhando juntas, advogados, geólogos, engenheiros, ambientalistas, todo mundo tem que trabalhar junto.

Nesse cenário atual, a mineração tem que ser defendida no Brasil. Ela é base de um desenvolvi-mento nacional e tem que ser vista não como um patinho feio como a gente ouve em muitos debates, mas sim como a indutora de desenvolvimento, de um desenvolvimento de forma equilibrada e social-mente correta, ambientalmente correta. Ela não tem que ser negada. Somos um dos grandes países mineradores do mundo e negamos isso, infelizmente. Isso está na nossa raiz, não podemos negar. Diamantina, por exemplo, depois da Índia, foi a primeira produção de diamantes no mundo.

Somos um país que ainda tem muito o que descobrir e muito que gerar riqueza a partir da min-eração. E, para os próximos anos, tem se debatido uma governança pública eficaz, fortalecendo a sus-tentabilidade do setor por meio de planejamento, regulação, monitoramento e fiscalização das ativi-dades. Esperamos para este ano definir o Marco Regulatório. Ele não pode passar deste ano porque diminui os investimentos. Ele definido, serão criadas regras jurídicas estáveis para se reconstruir um novo ciclo no País.

Este é o cenário que estamos vislumbrando: em 2015, definição do marco regulatório e, de 2016 a 2019, fortalecer a sustentabilidade e a elaboração dos atos normativos, bem como a estruturação do novo DNPM, da Agência Nacional, fortalecer a incorporação de melhores práticas no setor, plane-jamento territorial para evitar conflitos, implantar um processo eletrônico de outorga e fiscalização Agência, elaborar planos diretores nas regiões mais críticas, defender a geodiversidade, desenvolver agregação de valor, continuar ampliando conhecimento geológico, criar mecanismos de mercado para a disponibilidade de recursos para pesquisa mineral, promover a formalização da atividade e estruturar arranjos produtivos de pequena mineração.

Esse é o cenário futuro, difícil, de ajustes. Mas acho que, no médio e no longo prazos, o cenário para a mineração não tem como não ser de desenvolvimento e agregação de valor e de sustentabili-dade.

Estamos sempre abertos a trabalhar com a sociedade civil, com as empresas, as universidades e o poder público para, nessa parceria, conseguirmos construir um caminho juntos. Obrigado

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Medidas Compensatóriasthiago Rodrigues Cavalcanti

Transcrição da palestra “Medidas Compensatórias”, proferida pelo advogado Thiago Rodrigues Cavalcanti no

I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária

Vídeo disponível em: www.youtube.com/watch?v=A3RsOYpfUEs

Inicialmente gostaria de agradecer o convite da Amagis para fazer essa palestra e parabenizá-la pela iniciativa de realizar esse congresso. Pelas apresentações que assisti ontem e hoje, vi que são de extrema importância para a discussão desse tema no Estado de Minas Gerais.

Temas que geram diversos questionamentos e conflitos. Quanto a este tema “Medidas Compen-satórias”, não é diferente. Vou tentar mostrar para vocês como são aplicadas essas medidas no Estado de Minas Gerais e os conflitos existentes tanto na legislação mineira quanto na legislação federal. Ver-emos que existem ainda alguns conflitos entre as legislações.

Vamos tratar da compensação ambiental prevista na lei 9985/2000, conhecida como Lei do Siste-ma Nacional de Unidades de Conservação. Temos a medida compensatória por intervenção em áreas de preservação permanente e que geram uma grande discussão em virtude da aprovação no Novo Código Florestal, em 2012. A medida compensatória por supressão de vegetação no bioma da Mata Atlântica, prevista na lei 11.428/2006. A medida compensatória pelo significativo impacto ambiental causado por empreendimentos minerários prevista somente na legislação estadual de Minas Gerais.

E esse último ponto que não vamos tratar, mas eu trouxe para mostrar que existem outras medi-das compensatórias previstas na legislação, como a medida compensatória por supressão de espécies ameaçadas de extinção, previstas também na legislação estadual, e por supressão de espécies pro-tegidas por lei, como o caso do ipê amarelo, do pequi, e a medida compensatória por supressão de

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árvores isoladas. Em regra, temos sete medidas compensatórias previstas no licenciamento ambiental, das quais iremos tratar das quatro principais, as primeiras que mencionei.

dEfinição

Uma definição de compensação, apenas para termos um norte dentro do que iremos discutir, é uma ação ou efeito de compensar, e tem como objetivo o equilíbrio ou igualdade, nesse caso que estamos tratando dos impactos ambientais gerados pelos empreendimentos aqui no estado de Minas Gerais. A medida compensatória não tem como objetivo compensar além do impacto causado, so-mente trazer um equilíbrio sobre o impacto causado pelo empreendimento.

A compensação ambiental está prevista no artigo 36 da Lei do SNUC (Sistema Nacional de Uni-dades Conservação), publicada em 19 de julho de 2000, com o objetivo de compensar significativos impactos ambientais causados pelos empreendimentos. Todo aquele licenciamento ambiental de empreendimento causador de significativo impacto ambiental, e esse impacto ambiental tem de ser identificado pelo órgão ambiental competente, através do estudo do impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental.

Identificado esse significativo impacto ambiental, o empreendedor é obrigado a apoiar a implan-tação e manutenção de unidades de conservação de proteção integral. Com uma exceção: se o em-preendimento afetar uma unidade de conservação de uso sustentável, essa unidade também tem de ser apoiada por esse empreendimento.

É o próprio órgão ambiental quem vai definir a destinação desses recursos e quais unidades de conservação vão ser beneficiadas pelo recurso da compensação ambiental daquele determinado em-preendimento que teve sua incidência.

Se não me engano, em 2004 ou 2003, a Confederação Nacional das Indústrias moveu uma Ação Di-reta de Inconstitucionalidade contra essa compensação ambiental, contra esse artigo 36 da Lei do SNUC, e essa ação foi julgada em 2008. Basicamente, foi dado provimento parcial a essa ADI, a compensação ambiental foi declarada constitucional, mas o parágrafo 1º, foi declarado inconstitucional em parte.

Foi determinado então, que compete ao órgão ambiental fixar o quanto dessa compensação com base nos impactos ambientais identificados no estudo de impacto ambiental em respectivo relatório. E deu, a essa compensação, fazendo uma análise próxima do princípio do usuário pagador significando o mecanismo de assunção partilhada da responsabilidade social pelos custos ambientais derivados da atividade econômica.

Nesse parágrafo 1º, definia que o valor da compensação ambiental pago pelo empreendedor, não poderia ser inferior a 0,5% do valor daquele empreendimento, do valor de instalação do empreendi-mento. Isso foi declarado inconstitucional exatamente por conta da definição de que a compensação tem de ser proporcional ao grau de impacto do empreendimento.

Se o empreendimento pode não ter impacto ambiental, obviamente você tem de partir a com-pensação ambiental do zero, e não do 0,5%. Foi isso que o Supremo Tribunal Federal (STF) quis dizer ao declarar a inconstitucionalidade desse dispositivo.

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 65

No decreto de 4.340/2002 veio a definição de como esses recursos da compensação ambiental têm de ser aplicados. Sempre, é bom deixarmos muito claro, o recurso tem de ser aplicado em uni-dades de conservação, finalidade específica da lei, o recurso não pode ser aplicado para outras finali-dades pelo poder público, somente nas unidades de conservação.

Primeiro, a prioridade de aplicação desses recursos é a regularização fundiária de unidade de con-servação. Ou seja, aquelas unidades de conservação criadas pelo poder público e que, necessaria-mente, pela lei do SNUC, têm de ser de posse do domínio público, o poder público tem de desapropriar aquelas pessoas que residem dentro dessa unidade de conservação, e pagar a justa indenização por essa desapropriação.

E é importante porque, se não me engano no Estado do Paraná, há uns anos atrás, em 2010 ou 2011, houve um decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, desafetando uma unidade de con-servação, exatamente pelo fato do Poder Público não ter feito a desapropriação das terras no interior daquela unidade de conservação.

Em Minas Gerais, vocês vão ver que tem um déficit muito grande ainda de áreas a serem re- gularizadas no interior das unidades de conservação estaduais. Uma outra finalidade é a elaboração, revisão ou implantação de planos de manejo dessas unidades de conservação, muito para definir as formas de uso dentro das unidades de conservação e para definir também as restrições em sua zona de amortecimento.

A aquisição de bens e serviços necessários à implantação, gestão, monitoramento e proteção da unidade, compreendendo sua área de amortecimento. E o desenvolvimento de estudos necessários à criação de novas unidades de conservação.

Aqui em Minas Gerais, pela Câmara de Proteção da Biodiversidade, temos um plano operativo anual de aplicação desses recursos da compensação ambiental, e realmente a gente segue essa pri-oridade.

A regularização fundiária recebe 50% dos valores totais da compensação ambiental. Elaboração do plano de manejo e aquisição de bens e serviços recebem 20%, e 5% para criação de novas unidades de conservação e o restante vai para as unidades de conservação afetadas pelo empreendimento que destinou aquele recurso.

O desenvolvimento de pesquisas necessárias para o manejo da unidade de conservação e área de amortecimento não recebe recurso pela compensação ambiental em Minas Gerais.

Existem algumas unidades de conservação que não são de posse do domínio público pela leg-islação, portanto, não há a necessidade de regularização fundiária dessas unidades de conservação. Nesses casos, vocês podem ver que não temos dentro das prioridades para essas unidades, reserva particular de patrimônio natural, monumento natural e outras, à regularização fundiária, somente os outros incisos já previstos no texto anterior.

Foi feito um estudo pelo Ministério Público em 2013, sobre a atual situação das unidades de con-servação no Estado de Minas Gerais. E, temos unidades de conservação de proteção integral, e outras unidades de conservação que são necessariamente de posse do domínio público, 605 mil hectares de unidades de conservação estaduais. Dessas, efetivamente regularizadas nós temos cerca de 180 mil hectares, os outros 426 mil ainda estão sem regularização.

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É importante mencionarmos que, apesar desses 426 mil não estarem ainda regularizados, tem área aqui que já é do estado, mas que não é do Instituto Estadual de Florestas, então basta simples doação ao Instituto Estado de Florestas, já que é do próprio estado, e outras áreas que são terras devo-lutas. Portanto, esse número de 426 mil provavelmente deverá diminuir bem em virtude desses casos.

O valor disponível da compensação ambiental, em abril de 2013, era cerca de R$111 milhões de reais nas contas do Estado, para aplicação nas unidades de conservação.

A compensação ambiental tem dois momentos no processo de licenciamento ambiental. Que é o momento da incidência, quando o órgão ambiental competente identifica o significativo impacto ambiental e, portanto, informa o empreendedor e insere no seu processo de licenciamento a condicio-nante da obrigação de pagamento da compensação ambiental.

Geralmente, em regra, essa incidência é feita na licença prévia do empreendimento, na primeira li-cença prevista para aquele empreendimento. Entretanto, se não for estabelecida na licença prévia, isso pode ocorrer em fases subsequentes do licenciamento ambiental, inclusive na revalidação de licença de operação, ampliações e modificações daquele empreendimento.

A competência para definir essa incidência é da unidade regional colegiada do Copam, que é quem tem a competência para conceder e julgar o licenciamento ambiental daquele empreendimen-to, e para a compensação ambiental vai se considerar somente os impactos ocorridos após 19 de julho de 2000, que é a data de publicação da lei 9.985, que foi quem criou essa compensação ambiental, não perfazendo sobre os impactos ocorridos antes desta data.

Eu mostrei para vocês que, tanto na legislação federal quanto na decisão do STF, toda a iden-tificação de impactos ambientais tem de ser feita no estudo de impacto ambiental e no respectivo relatório. Contudo, nestes dois decretos de Minas Gerais, 45.175 e 45.629, após diversas discussões no Conselho de Política Ambiental de Minas Gerais, inclusive com dois pareceres da Advocacia-Geral do Estado, o Estado decidiu por aplicar essa compensação ambiental também em empreendimentos que não apresentam estudos de impacto ambiental e respectivo relatório.

Ou seja, aqueles que apresentam relatório de controle ambiental e plano de controle ambiental. Ele estabelece que poderá incidir a compensação em processos em revalidação, em licenciamento ou com processos de compensação em análise até a data de publicação do decreto. A data de publicação do decreto é de 7 de julho de 2011, portanto aqueles empreendimentos que não apresentaram Eiari-mam, e tiveram processos iniciados antes dessa data também podem ser objetivo de incidência da compensação ambiental. Tem um certo conflito com a decisão do STF que fala que tem de seguir o relatório do estudo de impacto ambiental e respectivo relatório. Hoje, não existe nenhuma discussão no Copam a respeito disso. É aplicado de forma bem tranquila fora do estudo de impacto ambiental e respectivo relatório.

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O segundo momento da compensação é a fixação, feita pela Câmara de Proteção da Biodiver-sidade. É nesse momento que vai se definir o valor da compensação ambiental. É aqui que o em-

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preendedor vai saber exatamente quanto vai pagar, a forma de destinação, para quais unidades de conservação vão, se vai para um bolo geral, se vai para regularização fundiária somente, se vai para a elaboração, para planos de manejo ou para uma unidade de conservação específica, afetada pelo empreendimento.

A instrução do processo vai ser com base no processo de licenciamento, aprovado pela URC sobre qual teve a incidência dessa compensação ambiental, competindo ao Instituto Estadual de Florestas a apuração do valor da compensação e a sugestão de aplicação dos recursos. Nesse caso, analisando o estudo ambiental do empreendimento e o parecer único elaborado no processo de licenciamento. O parecer único vai mostrar todos os impactos ambientais e, através dele, vai se definir o valor da com-pensação ambiental.

O valor da compensação ambiental segue a seguinte regra: é o grau de impacto versus o valor de referência (que nada mais é do que o valor de implantação daquele empreendimento). E, como eu disse anteriormente, só serão considerados os impactos ambientais ocorridos após 19 de julho de 2000. Portanto, se for um empreendimento instalado antes desta data, nós vamos considerar a com-pensação ambiental somente os impactos da operação, os impactos continuados daquele empreendi-mento. Os impactos ocorridos pela implantação não serão considerados na compensação ambiental, como por exemplo o caso de uma supressão de vegetação.

Existem duas regras para se estabelecer o valor de referência do empreendimento. Se for um empreendimento anterior, instalado antes de 19 de julho de 2000, vai se usar o valor contábil líquido daquele empreendimento, que, excluídas as reavaliações, ou na falta destas, o valor de investimento apresentado pelo representante legal. Para os casos de empreendimentos instalados após essa data, utiliza-se então o valor de referência definido no inciso 4º do artigo 1º do decreto estadual.

Valor de referência nada mais é do que o valor de implantação do empreendimento, com alguns excludentes de encargos e custos incidentes sobre financiamento, investimentos que possibilitem alcançar níveis de qualidade ambiental superiores aos exigidos naquele processo de licenciamento ambiental o restante todo é computado para se estabelecer esse valor de referência, esse valor de investimento do empreendimento.

O valor contábil líquido é algo ligado à contabilidade do empreendedor, montante pelo qual um bem está registrado na contabilidade em uma determinada data-base. Líquido da correspondente depreciação, amortização ou exaustão acumulada. Ou provisão para ajuste do ativo ao seu valor recu-perável.

O grau de impacto tem três fatores para que se chegue nesse grau de impacto do empreendi-mento. Fator de relevância, que são os impactos efetivamente causados pelo empreendimento. Fator de temporalidade, que é até quando vai durar esse impacto. E o fator de abrangência, que é até onde esse impacto vai chegar e ocorrer.

De acordo com o decreto estadual 45.175, alterado pelo decreto 45.629, seguindo disposição do decreto federal 6.848/2009, o valor máximo da compensação ambiental é de 0,5%, que parte de zero chegando a 0,5%. Anteriormente, como vocês viram, era de no mínimo 0,5%. Com a decisão do STF, trazendo a compensação para partir do zero, ela passou a ser então, com esses dois decretos, de zero a 0,5%.

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Aqui em Minas Gerais, o somatório total dos impactos chegam a 0.82%. Nesses casos, em que o impacto ultrapassa o 0,5%, ele necessariamente cai para 0,5%, exatamente pelo disposto do decreto federal e do decreto estadual.

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Tem diversos impactos ambientais, desde interferência em áreas de ocorrência de espécies ameaçadas de extinção, supressão de vegetação que é um impacto bem característico dessa com-pensação, chegando até a interferências em áreas prioritárias. Existem seus valores como interferên-cia/supressão de vegetação em ecossistemas especialmente protegidos, no caso da Mata Atlântica, por exemplo, em que o valor é de 0,05% do valor de implantação do empreendimento. Temos ainda, emissão de ruídos, aumento de erodibilidade do solo, emissão de gases do efeito estufa e outros.

O fator de temporalidade define que, se for um impacto imediato que vai durar de zero a cinco anos, tem-se um valor 0,05% chegando até uma temporalidade longa, acima de 20 anos, chegando a 0,1%.

A grande maioria, posso afirmar que mais de 80% dos empreendimentos, cai na faixa de tem-poralidade longa, porque isso não é definido impacto por impacto, dentre todos os impactos, se um deles ultrapassar mais de 20 anos, chega-se a 0,1%. O fator de abrangência trata da extensão daquele impacto ambiental. Se ele atingir somente a área de interferência direta do empreendimento, que é uma área de até 10km de raio do empreendimento, aplica-se então 0,03;, para os outros casos que ultrapassam esse raio aplica-se então 0,05%.

O interessante é que se você pegar a decisão do STF que determina que a compensação ambien-tal tem de ser proporcional ao grau de impacto ambiental, e você tem na tabela valores que chegam a 0,82% e retornam a 0,5%, você não tem uma certa proporcionalidade nisso, porque um empreendi-mento com 0,5% causa menos impacto do que um com 0,82%.

Portanto, para seguir a decisão do STF e o decreto federal, o somatório geral da tabela deveria chegar a 0,5%, para que um empreendimento que seria 0,82% retornar-se a 0,5%, mas aquele que é 0,5% torna-se 0,#%, exatamente para seguir a proporcionalidade que foi definida pelo STF.

A decisão da Câmara de Proteção da Biodiversidade sobre aquela compensação foi definida, quem não concordar tem direito a recorrer à Câmara Normativa e Recursal do Conselho de Política Ambiental, num prazo de 30 dias contados da publicação daquela decisão. Isso retorna à CPB para uma reconsideração, e ela não reconsiderando, sobe efetivamente para a Câmara Normativa e Recursal.

Sobre a compensação ambiental, é da lei do Snuc, não temos tantos conflitos a respeito disso no estado de Minas Gerais. A compensação já vem sendo aplicada no estado efetivamente, há mais de 10 anos, desde a Deliberação Normativa do Copam 69/2013, alterada em 2006 pela DN 94 e poste-riormente alterada em virtude da decisão do STF em 2008, pelos decretos 45.175/2009 e 45.629/2008, seguindo determinações do próprio decreto federal 6.848/2009.

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Passivos

Tínhamos um passivo muito grande de compensações ambientais a serem aplicadas no estado de Minas Gerais, e esse passivo praticamente zerou. Nos últimos anos, o estado tem julgado em torno de 300 a 400 processos por ano, de compensação ambiental, para poder zerar esse passivo, inclusive em reuniões com 50 processos de julgamento. E agora chegou-se a um patamar de equilíbrio e não tem tantos processos assim nas pautas da Câmara de Proteção da Biodiversidade, temos um equilíbrio bem mais interessante para julgamentos de todos esses processos.

Mas tem que lembrar que isso ficou parado durante muito tempo, muito em virtude da Ação Direita de Inconstitucionalidade, muito em virtude da decisão do STF e de discussões acerca do cumprimento dessa compensação, inclusive aquela discussão que eu levantei sobre estudo de impacto ambiental.

Ficou-se muito tempo no Copam discutindo se realmente iria estender essa compensação am-biental a empreendimentos sem a apresentação desse estudo. Por isso, ficou muito tempo parado. A medida compensatória por intervenção em APP é prevista hoje na Resolução Conama nº 369 de 2006. Aqui importa lembrar que, tanto o novo Código Florestal – Lei nº 12.651 de 2012 – quanto a nova Lei Florestal Mineira, aprovada em 2013, não mais exigem essa compensação em seu texto.

Através da Resolução Conama, todo empreendimento que tiver intervenção em área de preser-vação permanente tem que pagar essa medida compensatória. Não tem nessa Resolução Conama quantidade, proporcionalidade dessa compensação, e tem que ser aplicada na regeneração ou recom-posição de APPs e na mesma bacia hidrográfica do empreendimento. Essa Resolução Conama, em 2006, regulamentou um artigo da Lei nº 4.771 de 1965. Esse é o artigo da Resolução Conama nº 369: “O órgão ambiental competente estabelecerá, previamente à emissão da autorização para a intervenção ou supressão de vegetação em APP, as medidas ecológicas, de caráter mitigador e compensatório, previstas no § 4º, art. 4º da Lei n º 4.771, de 1965, que deverão ser adotadas pelo requerente”.

Esse era o Código Florestal até 2012 – Lei nº 4.771 de 1965 –, que estabelecia no seu art. 4º, § 4º: “O órgão ambiental competente indicará, previamente à emissão da autorização para a supressão de ve- getação em área de preservação permanente, as medidas mitigadoras e compensatórias que deverão ser adotadas pelo empreendedor”.

Portanto, nenhum problema. Regulamentou especificamente esse artigo, trouxe a compensação por intervenção em APP, bem de acordo com o que estabelecia a Legislação Federal. Como eu mos-trei aqui, essa lei foi revogada em 2012 e o novo Código Florestal estabelece o seguinte: “A vegetação situada em APP deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante, a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado”. Exatamente como era anteriormente, mas o § 1º trouxe uma alteração: “Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em APP, o proprietário da área, possuidor ou ocupante a qualquer título, é obrigado a promover a recomposição da vegetação, ressalvados os usos autorizados previstos nessa lei”.

Assim, anteriormente, os usos autorizados eram obrigados a fazer a compensação por intervenção em APP. Atualmente, somente naqueles casos em que o empreendedor ou o proprietário rural fazem a intervenção de forma ilegal, ele é obrigado a promover a recomposição da vegetação, mas não mais existe a compensação por intervenção em APP.

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Compensação só existe para impactos autorizados pela legislação. No outro caso é responsabili-dade civil, criminal e administrativa e há obrigação de recomposição do dano. Para aqueles casos em que há autorização da legislação, não mais existe a figura da compensação por intervenção em APP de acordo com o novo Código Florestal. E a lei mineira, Lei nº 20.922, seguiu o mesmo texto. É uma cópia do art. 7º da Lei nº 12.651. Então, se nós temos uma Resolução Conama que regulamentava um artigo revogado por uma nova lei, que não mais estabelece essa compensação, vejo claramente que há uma perda de eficácia nessa Resolução Conama nº 369. Ela não tem como regulamentar diferente do que estabelece a nova legislação.

Hoje, ela continua sendo aplicada pelo Conselho de Política Ambiental do Estado. A Secretaria de Meio Ambiente continua sugerindo a aplicação dessa compensação. Nós, da Fiemg, votamos sempre contra, mas somos voto vencido no Conselho de Política Ambiental. Eu vejo com muita clareza que houve a perda de eficácia desse dispositivo. E é uma discussão que tem que se iniciar para que pos-samos aplicar aquilo que deve ser aplicado nos empreendimentos e aplicar proporcionalmente ao impacto ambiental e de acordo com as leis stricto sensu no Estado de Minas Gerais.

A medida compensatória da Lei da Mata Atlântica é prevista na Lei nº 11.428 de 2006 e no Decreto Federal nº 6660 de 2008. Toda vez que houver corte ou supressão de vegetação primária ou secundária nos estágios médio e avançado de regeneração no bioma Mata Atlântica, tem que haver essa compen-sação. Basicamente, vegetação primária é aquela em que não houve qualquer mudança no tempo. Ela é aquela desde que nasceu. A vegetação secundária é quando houve algum corte naquela vegetação e houve uma regeneração.

Então, ela parte de uma regeneração inicial, passando por um estágio médio e, por fim, por um estágio avançado, que já é um estágio de vegetação que quase se confunde com uma vegetação primária. Toda supressão na vegetação primária e na secundária, nos estágios médio e avançado, tem que ter essa compensação. Naquelas supressões na vegetação secundária, no estágio inicial, não há necessidade de pagamento de compensação por sua supressão.

A quantidade definida pela Lei Federal é um hectare para cada hectare impactado. Se eu suprimi 50 hectares de vegetação secundária no estágio médio de regeneração do bioma Mata Atlântica, eu tenho que compensar 50 hectares dessa mesma tipologia vegetacional. Em Minas Gerais, a gente tem uma Deliberação Normativa do Copam nº 73 de 2004 que estabelece isso dobrado – dois hectares para cada hectare. A forma de aplicação dessa compensação é a seguinte: em regra, destinação de área equivalente à extensão da área desmatada através de criação de RPPN (Reserva Particular do Patrimô-nio Natural), unidade de conservação de uso sustentável definida na Lei do Snuc.

É bom lembrar que é a única tipologia de unidade de conservação em que o proprietário da uni-dade é uma pessoa física ou uma pessoa jurídica. Não é o Estado o proprietário da unidade. Tem casos em que as áreas dentro da unidade são de terceiros, mas a gestão da unidade é do Estado. No caso da RPPN, a gestão da unidade é do proprietário daquela área ou através de servidão florestal instituída de acordo com a legislação vigente.

O outro caso é a doação ao poder público de área equivalente no interior de unidade de conser-vação e proteção integral de posse de domínio público. Ao invés de criar uma RPPN ou instituir uma servidão ambiental, eu adquiro uma área que deveria ter sido adquirida pelo Estado para regularização

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fundiária e doo ao Estado, cumprindo então a obrigação da compensação ambiental. E aí existe uma ex-ceção. Para aqueles casos, na impossibilidade de cumprir a compensação dessas duas formas, o empreend-edor pode pegar uma área desmatada e efetuar uma reposição florestal com espécies nativas nessa área.

Acontece que existe também uma outra discussão a respeito disso. O que o decreto e a lei falam é: na impossibilidade de cumprimento nos termos do inciso 1, que é a destinação de área equivalente, e o inciso 2, que é a doação ao poder público, verificado pelo órgão ambiental essa impossibilidade, ele pode optar por estabelecer essa reposição florestal. Acontece que algumas pessoas entendem que o empreendedor tem que procurar na bacia hidrográfica inteira se existe uma área equivalente para ele doar ao poder público. Isso é impossível.

Primeiro, porque o empreendedor não tem como entrar na terra de terceiros para verificar se aquilo existe, sem autorização do terceiro. Segundo, porque ele pode encontrar a área e o terceiro não querer vender. E terceiro, que ele pode encontrar a área e o terceiro querer vender por valor muito aci-ma do mercado, o que vai inviabilizar o empreendimento dele. Então, o ideal é que o empreendedor apresente a proposta de reposição e justifique tecnicamente a impossibilidade de cumprimento nos termos do inciso 1 e do inciso 2. Ele tem que seguir esse trâmite. Imagine o empreendedor pesquisar uma bacia hidrográfica inteira e não achar. Passam-se cinco anos, o Estado vai lá fazer uma unidade de conservação e acha a área. Vai responsabilizar o empreendedor porque não achou? Porque não pôde entrar numa terra de terceiro ou porque o terceiro não quis vender essa propriedade para que ele pu-desse fazer a compensação nos termos do inciso 1 ou 2?

No meu entendimento, basta que o empreendedor apresente uma justificativa técnica compro-vando essa impossibilidade. Verificado isso pelo órgão ambiental, então ele permitiria a reposição flo-restal com a espécie nativa em área equivalente à área desmatada. E essa compensação tem que ser feita sempre na mesma microbacia hidrográfica ou, na impossibilidade, na mesma bacia hidrográfica.

E aí vem a discussão sobre a Deliberação Normativa nº 73 de 2004. Vejam essa Deliberação Nor-mativa de 2004 e a Lei nº 11.428 de 2006. Portanto, anterior. Na época dessa deliberação ainda vigia o Decreto Federal nº 750 de 93, que era o decreto que tratava do tema Mata Atlântica no Brasil. E esse decreto não tinha nenhuma medida compensatória por supressão de vegetação do bioma Mata Atlân-tica. Então, o ADN 73 estabelecia que, até que aparecesse uma norma do Conama na forma do art. 6º desse decreto, considerava-se Mata Atlântica todos aquelas fitofisionomias associadas a esse bioma. E no seu art. 4º § 4º estabelecia essa compensação: “O IEF determinará nos processos autorizativos e de licenciamento ambiental medidas compensatórias e mitigadoras relativas à supressão de vegetação do bioma Mata Atlântica na proporção de, no mínimo, duas vezes a área suprimida a ser feita preferencial-mente na mesma bacia hidrográfica e município e obrigatoriamente no mesmo ecossistema”.

Está aqui a cobrança do dois para um, dobro da área suprimida. Vamos ler aqui o art. 17 da Lei Fed-eral nº 11.428 de 2006. “O corte ou supressão de vegetação primária ou secundária nos estágios médio e avançado de regeneração do bioma Mata Atlântica ficam condicionados à compensação ambiental na forma da destinação de área equivalente à extensão da área desmatada”. Ou seja, é equivalente à extensão. Ele não escreveu “no mínimo equivalente à extensão”.

Se é equivalente à extensão, eu não posso estabelecer na legislação estadual, ainda por cima num dispositivo infralegal, algo em dobro daquilo que a legislação federal estabelece. Vejo aqui o mesmo

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária72

caso da Resolução Conama nº 369. Tenho uma norma posterior, hierarquicamente superior, contrária ao que estabelece a Deliberação Normativa nº 73 de 2004. Deliberação essa que regulamentava o Decreto nº 750 revogado pela nova Lei nº 11.428.

Entendo aqui o mesmo princípio da compensação por intervenção em APP. Aplica-se a lei: a área equivalente à área desmatada e não área em dobro da área desmatada. Para mim, é muito claro que o § 4º do art. 4º da ADN 73 perdeu a eficácia. Ele é contrário ao art. 17 da Lei nº 11.428. É interessante que, se eu não me engano, em Minas Gerais o único dispositivo dessa ADN que é aplicado é esse § 4º. O restante, que é a definição de fitofisionomias, já foi definido pela Resolução Conama nº 392 para fitofisionomias florestais e pela Resolução Conama nº 423 para fitofisionomias campestres (campos de altitude).

Não tem por que se aplicar mais esse artigo em Minas Gerais. Nós temos uma lei federal tratando sobre o tema, e Minas Gerais continua aplicando deliberações normativas contrárias a esse dispositivo. Em Minas Gerais, nós temos uma compensação específica que não tem em lugar nenhum do país. É uma compensação específica para empreendimentos minerários. Essa compensação foi criada em 2002, na antiga Lei Florestal mineira nº 14.309 de 2002, por coincidência também no artigo 36, como é a Lei do Snuc, por coincidência com o mesmo fato gerador, que era significativo impacto ambiental, e por coincidência com a mesma destinação, que eram as unidades de conservação, igual na Lei do Snuc.

Eles mudaram um pouquinho nessa Lei nº 20.922, retiraram o fato gerador, significativo impacto ambiental, e colocaram supressão de vegetação. Ocorre que supressão de vegetação é o significativo impacto ambiental. Então, nada mais fez do que alterar o nome e colocou como destinação, não idên-tico ao que era anteriormente à Lei do Snuc, que era “na criação e manutenção de unidades de conser-vação”, mas mudou para “regularização fundiária e implantação de unidade de conservação”. Nada mais é do que criação e implantação de unidade de conservação. Ou seja, a mesma coisa.

E essa compensação não pode ser inferior àquela que tiver aquela área suprimida pelo empreen-dimento. Assim, se eu suprimir 50 hectares, vou compensar 50 hectares através dessa compensação. E criou-se uma regra de transição exatamente por conta do passivo que se existia em virtude da Lei nº 14.309 de 2002 e que o Estado, durante esse tempo todo, não julgou e não determinou o julga-mento dessas compensações, apesar de terem sido incididas, essas compensações ainda não haviam sido efetivamente julgadas pelo Estado. Para aqueles empreendimentos que iniciaram o processo de licenciamento ambiental antes dessa lei, aplica-se o disposto na lei anterior. Para os empreendimentos novos, aplica-se o disposto nessa nova lei. No caso dos empreendimentos minerários, praticamente eles pagam todas essas compensações. Se você não estiver no bioma Mata Atlântica, obviamente não vai pagar a compensação da Lei da Mata Atlântica. Mas tratando-se de Quadrilátero Ferrífero, que boa parte está no bioma Mata Atlântica, então pagam-se essas quatro compensações, na grande maioria dos empreendimentos minerários.

Ocorre que a compensação ambiental da Lei do Snuc é pelo significativo impacto ambiental. Um dos significativos impactos ambientais é a supressão de vegetação. Compensação da Lei da Mata Atlântica é supressão de vegetação. Compensação de empreendimentos minerários é supressão de vegetação. Compensação por intervenção em APP, na grande maioria dos casos, é por supressão de vegetação. Posso ter intervenção em APP em área sem vegetação, mas na grande maioria dos casos tem vegetação.

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 73

Portanto, eu pago quatro compensações por supressão de vegetação. Se eu tiver espécie ameaça-da de extinção, também é supressão de vegetação dessas espécies. Se eu tiver espécie protegida por lei (pequi e ipê amarelo), também é supressão de vegetação. Se eu tiver árvore isolada, também é supressão de vegetação. Então, são sete compensações. Eu usei o fato gerador entre aspas porque não se trata de tributo, mas é só para mostrar que são sete medidas compensatórias com o mesmo motivo: uma supressão de vegetação.

Não tem previsão legal que proíba o Estado de fazer isso, mas eu vejo como total injustiça. Se a gente está tratando de equilíbrio e igualdade, a minha compensação tem que ser equilibrada com o meu impacto ambiental, e não acima daquilo que eu fiz. Isso torna a compensação elevada em relação ao impacto efetivamente causado. Eu causei a supressão de 15 hectares. Não tenho que pagar acima de 15 hectares. Tenho que pagar 15 hectares.

Casos PRátiCos

E aí eu trouxe dois casos práticos para mostrar esse abuso nas compensações. Em um desses casos há uma compensação ambiental no valor de R$ 27 milhões – 0,5% do valor do empreendimento dela deu R$ 27 milhões. Para a gente não fazer um cálculo muito acima, peguei somente o valor relativo à supressão de vegetação. Em vez de 0,5%, 0,05%, que equivale a R$ 2,7 milhões. Compensação da Lei nº 20.922: foram 70 hectares de supressão no total do empreendimento. Então, ele pagou mais 70 hectares de compensação. Compensação da Lei da Mata Atlântica: desses 70 hectares de supressão, 68 eram em estágio médio de regeneração do bioma Mata Atlântica. Portanto, ele pagou mais 136 hectares de compensação. Não teve intervenção em APP. Teve supressão de espécie ameaçada de ex-tinção. Foram 81 espécimes. Ele teve que plantar 25 espécimes para cada espécime protegida, dando um total de 2.025 espécimes. E teve compensação pela supressão de ipê amarelo, que ele vai ter que pagar ainda de um a cinco espécimes para cada espécime suprimido. Vamos no total. Ele suprimiu 70 hectares de vegetação. Então, ele pagou através de duas compensações, a da Mata Atlântica e da Minerária, 206 hectares, isso sem computar o ipê amarelo e a espécie ameaçada de extinção, porque eu não consegui fazer o cálculo para transformar em hectare. Equivale a 2,95 vezes a área suprimida. E mais R$ 2,7 milhões.

Quero fazer um parêntese nesse ponto pelo seguinte: o ex-diretor geral do Instituto Estadual de Florestas, numa reunião da Câmara de Proteção à Biodiversidade, disse que faltavam 100 mil hecta-res em unidades de conservação para serem adquiridos, e o valor desses 100 mil hectares girava em torno de R$ 1 bilhão. Então, fazendo um cálculo simples, a média diária no interior de unidade de conservação em Minas Gerais é de R$ 10 mil o hectare. Como a prioridade desses recursos é a regular-ização fundiária, se a gente transformar esses R$ 2,7 milhões em hectare em unidade de conservação, equivale a 270 hectares que o Estado poderia comprar com esse recurso. Somando 270 com 206, são 476 hectares que equivalem a 6,8 vezes a área suprimida pelo empreendimento. O empreendimento suprimiu 70 hectares e está pagando o equivalente a 476 hectares por esse impacto. Acho que é muito acima do razoável.

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Um outro caso prático, seguindo a mesma lógica: R$ 20 milhões de compensação ambiental. Impacto da supressão de vegetação: R$ 2 milhões. 83 hectares de supressão e 83 hectares de compen-sação da Lei nº 20.922. 80 hectares de supressão na Lei da Mata Atlântica. Desses 83, 80 eram estágios médio e avançado de regeneração. 160 hectares de compensação. Esse aqui tinha compensação por intervenção em APP. Desses 83 hectares, 48 estavam em APP. Então, 48 hectares de compensação por intervenção em APP. 22 espécimes ameaçados de extinção. 550 espécimes plantados. E o resultado deu 83 hectares de supressão e 291 hectares de compensação, ou seja, 3,5 vezes a área suprimida, mais R$ 2 milhões que podem ser convertidos a 200 hectares em unidades de conservação, que equivalem a 491 hectares para 83 de supressão, dando 5,9 vezes a área suprimida.

Isso tudo foi para deixar claro que nós não somos contra compensação. Somos favoráveis. É um instrumento extremamente importante para alcançar o desenvolvimento sustentável. Tem que cobrar no processo de licenciamento ambiental, mas não pode ser usado para onerar excessivamente um empreendimento e para cobrar acima daquele impacto que ele realizou. Lembro que aqui nós estamos tratando de medidas compensatórias. Ainda tem no processo de licenciamento as medidas mitigado-ras em empreendimento, todas as condicionantes do processo de licenciamento ambiental. Isso aqui são sete condicionantes. Nós temos processos com 80, com 50, com 40 condicionantes no processo de licenciamento. São sete de compensação, fora todas as outras para minimizar o impacto, ainda tem a compensação que é justa, tem que ser paga, mas tem que se avaliar essa excessiva cobrança. Tem que se avaliar a aplicação da legislação nos termos atuais e não nos termos antigos. A gente não pode aplicar a Lei nº 4.771. Ela já foi revogada.

Por mais que se tenha a discordância quanto ao novo Código Florestal, ele está vigente. Enquanto não for declarada sua inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, nada mais resta ao Esta-do do que aplicá-lo. Nada mais resta ao empreendedor do que cumpri-lo. Sendo assim, o que nós defendemos é a cobrança da compensação nos moldes da legislação, da lei federal, da lei estadual, observando os conflitos existentes e a perda de eficácia de legislações infralegais existentes e o limite da razoabilidade sobre isso tudo que é exigido no processo de licenciamento ambiental. Obrigado.

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Fechamento de Minadenes martins da Costa lott

Palestra sobre “Fechamento de Mina”, proferida pelo advogado Denes Martins da Costa Lott no

I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária

Vídeo disponível em www.youtube.com/watch?v=rCLLbr8EW4Y

Fechamento de Mina é a fase derradeira da atividade minerária. Sua ocorrência pode não ser previamente determinada no tempo, mas é prevista e sabida desde a abertura da mina.

Até a década de 1940 a indústria nacional do ferro e do aço era incipiente. Em 1942, a assinatura de alguns tratados com os Estados Unidos e entrada do Brasil na segunda grande geraram com con-trapartida a Companhia Siderúrgica Nacional, que se instalou na cidade de Volta Redonda, estado Rio de Janeiro.

O estado de Minas Gerais, detentor das maiores reservas de minério de ferro do Brasil, recebeu como compensação a criação da Companhia Vale do Rio Doce, empresa mineradora estatal organi-zada através da nacionalização das reservas minerais situadas na cidade de Itabira e da ferrovia Vitória Minas que já estava em instalação. Estes dois empreendimentos, até então, estavam sob controle de capital inglês.

A mineração em grande escala no Brasil tem seu marco inicial nesta época. A Segunda Guerra Mundial tem seu fim com a explosão de duas bombas atômicas no Japão. Nos

anos seguintes, desastres ambientais ocorrem por todo o mundo, como os casos dos problemas de reprodução dos falcões americanos contaminados por DDT, a poluição transfronteiriça decorrente de lançamentos de poluentes de industrias dos EUA sobre o Canadá, acidentes com derramamento de

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petróleo no mar do norte, dentre outros. O homem passa a ter a preocupação com a possibilidade de que ele mesmo pode ser o agente da sua própria destruição.

A partir dos anos 70, tendo como marco a Conferência sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente em Estocolmo, tem início a introdução da variável ambiental nas atividades econômicas e vem desta época o embrião das ideias sobre sustentabilidade.

Na mineração até a década de 1960, não era comum a construção de barragens de rejeito, ou pilhas de estéril que eram lançados em leitos de córregos ou nos chamados “botas-fora”. Eram poucas as medidas de mitigação e controle adotadas.

O tema Fechamento de Mina é resultante da evolução das ideias ambientais na mineração. Com a evolução dos conceitos, chegou-se a uma normatização que na NR 20 da Portaria 237/2001 do DNPM subdivide o tema em fechamento definitivo e suspensão que levam em conta as diversas fases de desenvolvimento de uma mina.

Diversas são as razões que levam a suspensão ou ao fechamento de uma mina, dentre elas podem ser citadas razões econômicas: queda no preço das commodities ou altos custos de produção, razões geológicas decorrendo de decréscimo no teor do corpo de minério; razões técnicas face a condições geotécnicas adversas ou falhas mecânicas, acidentes ambientais ou questões de segurança, mudanças políticas, pressão social de ONGs, movimentos sociais e entidades internacionais, fechamento de indústrias ou de mercados da cadeia produtiva, exaustão das reservas.

O planejamento do fechamento de mina permite tornar a efetiva a ideia de sustentabilidade na mineração. A moderna teoria conhecida como Triple Botton Line alicerça a sustentabilidade empresar-ial considerando que uma atividade só pode ser considerada sustentável caso se verifique o entrelaça-mento das características economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta. John Elkington, Peter Nijkamp e Ignacy Sachs, são teóricos contemporâneos que defendem estas ideias, que levam a que as grandes empresas de mineração do mundo só comercializem suas ações em bolsa de valores se internalizarem em seus balanços os custos com fechamento de mina.

Ao se pensar fechamento de mina é necessário conceber o uso futuro da área minerada. Para cada situação os mais diversos usos são possíveis, como por exemplo o retorno ao uso original, venda da área para um novo proprietário visando uma nova atividade econômica, desenvolver planos para uso futuro da área em cooperação com comunidades locais, transferir partes das pro-priedades da mina para comunidades locais ou outros usos futuros, desenvolver novos negócios em cooperação com governos e outras indústrias e até mesmo uma futura mina.

Em todo o mundo há interessantes exem-plos de utilização de áreas mineradas, as fotos abaixo demonstram:

Estádio do Braga – Portugal – Construído numa pedreira exaurida

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Projeto Éden – Grande estufa de plantas, instalada numa antiga mina de Caulim na Inglaterra.

José Gustavo Abreu Murta Parque das Mangabeiras – Situada nas antigas instalações

da Ferrobel, mina de ferro que pertencia a Prefeitura de Belo Horizonte.

Ópera de Arame, construída numa pedreira que teve suas atividades encerradas em Curitiba – Paraná.

Campus da UFOP – Situado em uma antiga mina de Bauxita em Ouro Preto – Minas Gerais.

Ocorre que de forma mais ampla que decidir o destino da área minerada, o planejamento do Fe-chamento de Mina tem que se preocupar com o homem. Fechamento de Mina não é um destino, mas uma caminhada que traz direitos e obrigações a todos os envolvidos, ou seja, poder público, sociedade e empresas de mineração.

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As premissas para um planejamento eficaz devem considerar que os custos com o fechamento de mina devem ser internalizados nos balanços do setor mineral. Na mesma direção, o setor público e a sociedade são responsáveis pela progressiva construção da solução socioeconômica ambiental decorrente.

Como temos consciência que o atual estágio dos estudos sobre Fechamento de Mina resulta da evolução de conceitos e paradigmas técnicos, também as normas atuais são fruto da preocupação ambiental do século XX.

A experiência mundial já tem demonstrado que a aplicação de excedentes gerados pela mine-ração em atividades focadas em geração de conhecimento podem dinamizar o desenvolvimento da região, que há necessidade de articulação das regiões mineradoras com as regiões circunvizinhas e diversificação da base econômica.

Por conseguinte há necessidade que as comunidades conheçam os denominados “trade-offs” associados a uma base produtiva mineradora, entendido isto como ciência dos fatos, das vantagens, desvantagens da atividade de forma a ser parte na escolha de se levar adiante ou não uma atividade minerária.

No campo legal o tema Fechamento de Mina é visitado indiretamente por diversas abordagens em nossa legislação. Vejamos:

-§ 2° do art. 225 da CF;-inciso VIII do art. 2° da Lei 6938/1981; -Decreto Federal 97632/89-incisos XIII e XIV do artigo 2° da Lei 9985/2000;-Resolução CONAMA 01/86;-Resolução CONAMA 237;-NRM 20 e 21 - Portaria 237 de 2001 - DNPM-DN 127 de 2008 do COPAM;-Lei 7990/89 – CFEMNo Marco Regulatório da Mineração que vem sendo debatido no Congresso por meio do PL

5807/2013 o tema vem abordado de forma expressa no artigo 3º como uma das fases da atividade minerária, sendo que o parágrafo único é peremptório ao estabelecer obrigação de reparação ambi-ental de áreas impactadas. Tal dispositivo representará uma recepção expressa do tema na legislação brasileira.

Na ordem de ideias que vimos desenvolvendo, acreditamos que CFEM – Compensação Financeira por Exploração Mineral, estabelecida na Lei 7990/89 e inserida no contexto do Fechamento de Mina, pode ser uma boa ferramenta para se alcançar a sustentabilidade na mineração. No entanto este ins- trumento merece ser aperfeiçoado. O STF já considerou que a CFEM não é um tributo. É um preço público e sua receita é patrimonial.

Seria desejável que através de mecanismos mais eficazes, além de se ampliar base de cálculo e majorar alíquota, outras soluções fossem inseridas na norma, tais a utilização da receita como uma poupança pública para diversificação econômica do município minerador e garantir os futuros dispêndios públicos decorrentes de encerramento de atividades geradoras da CFEM. Obrigatoriedade

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do uso em melhoria de infraestrutura urbana, construção e aparelhamento de escolas, hospitais e capacitação empreendedora da população local e efetividades por meio da fiscalização e controles da responsabilidade fiscal.

Em todo o mundo grandes empreendimen-tos minerários podem servir de paradigma para o estudo do Fechamento de Mina, trazendo para análise experiências positivas e negativas.

A mina Rio Tinto pode ser considerada a Mina mais antiga o mundo. Teve início nos primórdios da nossa civilização, grande desenvolvimento nos séculos XIX e XX, foi paralisada em 2001 e está tendo suas atividades minerárias retomadas num novo projeto em implantação.

A Mina de Serra do Navio, no estado do Amapá, teve atividades iniciadas na década de 50 e foi paralisada no ano de 2002. Não é um bom exemplo como uma atividade minerária sustentável. Os excedentes gerados pela atividade não foram investidos na região, a vila que se apresentava um modelo, pela sua arquitetura e soluções ambientais, hoje está fadada a ser um local sem nenhuma dinâmica econômica.

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A Mina de Águas Claras, situada em Nova Lima na região metropolitana de Belo Horizonte, em região extremamente nobre teve atividade intensa entre os anos de 1972 e 2001. Após seu fechamento, passa por obras de reabilitação para ter o uso futuro adequado, o que está em fase de deliberação pela Vale S/A que adquiriu os ativos da MBR.

A atividade mineral desenvolvida pela Vale na cidade de Itabira é paradigma mundial. Representa o marco inicial da mineração em grande escala no Brasil. A atividade se desenvolve até hoje como uma demonstração inequívoca da aplicação da tecnologia na mineração, desenvolvimento de uma cidade e região com aplicação de excedentes em atividade geradora de conhecimento diversificado, convi-vendo com problemas e incertezas próprias da atividade.

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A reflexão sobre o fechamento de mina, como uma fase inexorável da mineração instiga o “pen-sar”, inserindo na atividade minerária a necessária participação da sociedade num ambiente de ex-pansão de conhecimento em busca de retribuição e recuperação da natureza, com a melhoria conti-nua do ambiente.

* Fotos cedidas pelo palestrante

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária82 AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária82

Mediação e direitos superficiários Priscila Ramos netto viana

Material da ofi cina sobre “Mediação e Direitos Superfi ciários”, conduzida pela advogada Priscila Ramos Netto Viana no

I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária

Duas coisas bem distintas, uma é o preç o, outra é o valor Quem nã o entende a diferenç a pouco saberá do amor, da vida, da dor, da gló ria e tampouco dessa histó ria, memó ria de cantador... (EL EFECTO, 2012)

intRodução

O presente texto abordará os confl itos mais comuns existentes entre os proprietários/superfi ciári-os de imóveis e os titulares de direitos minerários que exploram e explotam os recursos minerais da União, expondo as possíveis formas para a solução dos confl itos, bem como o atual posicionamento do Poder Judiciário mineiro sobre a matéria. Para tanto, faz-se necessária uma abordagem inicial de alguns conceitos inerentes ao Direito Minerário, para a exata compreensão das importância do Poder Judiciário como agente garantidor do cumprimento da lei, quando da ocorrência desses confl itos.

1) o PRinCíPio da dualidadE imobiliáRia

Conforme consignado no art. 176 do nosso texto constitucional, o ordenamento jurídico brasile-iro elegeu o princípio da dualidade imobiliária, ao tratar da propriedade onde existe a ocorrência de substâncias minerais. Tal princípio separa a propriedade dos recursos minerais, bens da União, estejam

oficinaS

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 83AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 83

eles no solo ou subsolo, da propriedade do solo, ou seja, do proprietário que exerce legitimamente o domínio sobre o imóvel. Vejamos a sua expressão no Decreto-Lei n. 227/67 ( Código de Mineração):

Art. 84. A Jazida é bem imóvel, distinto do solo onde se encontra, não abrangendo a propriedade deste o minério ou a substância mineral útil que a constitui.

A separação da propriedade mineral (União) da propriedade do solo (superfi ciário – proprietário ou posseiro) é assim, uma separação jurídica ( muitas vezes os recursos minerais estão superfície e não no subsolo), que tem como consequência a prevalência do direito de propriedade mineral sobre o direito de propriedade superfi cial, tendo em vista que a atividade de mineração deve ser exercida no interesse nacional, sendo ainda considerada atividade de interesse público, nos termos do Decreto-Lei n. 3365/41.

Aliado ao princípio da dualidade imobiliária, outros princípios que informam o Direito Minerário aparentemente confl itam com os direitos fundamentais de posse e de propriedade, quais sejam: o princípio da rigidez locacional, o princípio da continuidade da atividade mineral e o princípio da su-premacia do interesse público sobre o interesse privado.

2) dos diREitos do PRoPRiEtáRio/suPERfiCiáRio

Face à necessidade de coexistência harmônica de todos os princípios que regem o nosso or-denamento jurídico, o texto constitucional estabeleceu que, em virtude da limitação do direito de propriedade gerada pela exploração e explotação de recursos minerais, caberia ao proprietário do solo uma participação nos resultados da lavra. (Art. 176 §2º). Essa participação, regulamentada também no Código de Mineração, corresponde a 50% ( cinquenta por cento) do valor total devido pelo con-cessionário à União, Estados e Municípios, a título de compensação fi nanceira pela exploração dos recursos minerais (CFEM).

Segundo o art. 12 do Código de Mineração, essa participação não pode ser objeto de transferên-cia ou caução separadamente do imóvel a que corresponder, mas o proprietário deste poderá transferir ou caucionar o direito ao recebimento de determinadas prestações futuras ou renunciar ao direito, sendo que tais atos somente valerão contra terceiros a partir da sua inscrição no Registro de Imóveis.

Importante salientar que o proprietário do imóvel não perde o seu direito, mas tem as suas faculdades limitadas pela atividade de mineração. Assim, além da participação no resultado da exploração, outros dire-itos são assegurados ao proprietário/superfi ciário, quais sejam: uma renda pela ocupação dos terrenos e uma indenização pelos danos e prejuízos que possam ser causados pelos trabalhos realizados no imóvel.

A renda pela ocupação e a indenização devidas ao superfi ciário estão disciplinadas em diversos dispositivos do Código de Mineração e são devidos tanto na fase de pesquisa quanto na fase de ex-tração mineral. Confi ra-se o texto legal:

Art. 27. O titular de autorização de pesquisa poderá realizar os trabalhos respectivos, e também as obras e serviços auxiliares necessários, em terrenos de domínio público ou particular, abrangidos pelas

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áreas a pesquisar, desde que pague aos respectivos proprietários ou posseiros uma renda pela ocu-pação dos terrenos e uma indenização pelos danos e prejuízos que possam ser causados pelos tra-balhos de pesquisa, observadas as seguintes regras:I- A renda não poderá exceder ao montante do rendimento líquido máximo da propriedade na ex-tensão da área a ser realmente ocupada;II - A indenização por danos causados não poderá exceder o valor venal da propriedade na extensão da área efetivamente ocupada pelos trabalhos de pesquisa, salvo no caso previsto no inciso seguinte;III - Quando os danos forem de molde a inutilizar para fi ns agrícolas e pastoris toda a propriedade em que estiver encravada a área necessária aos trabalhos de pesquisa, a indenização correspondente a tais danos poderá atingir o valor venal máximo de toda a propriedade;IV - Os valores venais a que se referem os incisos II e III serão obtidos por comparação com valores venais de propriedade da mesma espécie, na mesma região;V - No caso de terrenos públicos, é dispensado o pagamento da renda, fi cando o titular da pesquisa sujeito apenas ao pagamento relativo a danos e prejuízos;

Não se pode deixar de atentar para o fato de que ainda que o terreno não seja utilizado para fi -nalidades agrícolas ou pastoris, caberá indenização e renda, sendo que o valor a título de indenização poderá incorporar, por exemplo, um valor afetivo, que deve ser considerado no cálculo dessa parcela. A simples presença de pessoas estranhas realizando atividades minerárias na propriedade poderá in-utilizá-la para fi ns de lazer ou recreio.

Em suma, pode-se concluir que são direitos do proprietário/superfi ciário: a) renda pela ocupação do terreno a ser pesquisado ou lavrado, não devem ser considerados os

lucros cessantes e os rendimentos líquidos passíveis de serem gerados pela propriedade, constituin-do-se assim em um valor a ser pago mensalmente.

b) indenização por danos ou prejuízos (materiais ou morais) causados à propriedade ou ao seu proprietário: parcela única e prévia, tendo como parâmetro o valor venal do imóvel, podendo chegar ao valor venal global da propriedade, se a atividade de mineração impedir a sua total utilização pelo proprietário;

c) participação no resultado da exploração: devida apenas quando há extração mineral/ex-plotação;

d) garantia de recuperação da área lavrada: esse direito implica na obrigação do minerador de reabilitar o terreno para uso pós-mineração, sendo certo que tal direito encontra guarida no art. 225 da Constituição Federal.

3) sERvidão minERal

Decorrência natural da prioridade da propriedade minerária sobre a propriedade imobiliária é a necessidades de instituir-se servidões minerais (espécie de servidão administrativa) para que seja pos-sível a adequada exploração/explotação dos recursos minerais.

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áreas a pesquisar, desde que pague aos respectivos proprietários ou posseiros uma renda pela ocu-pação dos terrenos e uma indenização pelos danos e prejuízos que possam ser causados pelos tra-balhos de pesquisa, observadas as seguintes regras:I- A renda não poderá exceder ao montante do rendimento líquido máximo da propriedade na ex-tensão da área a ser realmente ocupada;II - A indenização por danos causados não poderá exceder o valor venal da propriedade na extensão da área efetivamente ocupada pelos trabalhos de pesquisa, salvo no caso previsto no inciso seguinte;III - Quando os danos forem de molde a inutilizar para fi ns agrícolas e pastoris toda a propriedade em que estiver encravada a área necessária aos trabalhos de pesquisa, a indenização correspondente a tais danos poderá atingir o valor venal máximo de toda a propriedade;IV - Os valores venais a que se referem os incisos II e III serão obtidos por comparação com valores venais de propriedade da mesma espécie, na mesma região;V - No caso de terrenos públicos, é dispensado o pagamento da renda, fi cando o titular da pesquisa sujeito apenas ao pagamento relativo a danos e prejuízos;

Não se pode deixar de atentar para o fato de que ainda que o terreno não seja utilizado para fi -nalidades agrícolas ou pastoris, caberá indenização e renda, sendo que o valor a título de indenização poderá incorporar, por exemplo, um valor afetivo, que deve ser considerado no cálculo dessa parcela. A simples presença de pessoas estranhas realizando atividades minerárias na propriedade poderá in-utilizá-la para fi ns de lazer ou recreio.

Em suma, pode-se concluir que são direitos do proprietário/superfi ciário: a) renda pela ocupação do terreno a ser pesquisado ou lavrado, não devem ser considerados os

lucros cessantes e os rendimentos líquidos passíveis de serem gerados pela propriedade, constituin-do-se assim em um valor a ser pago mensalmente.

b) indenização por danos ou prejuízos (materiais ou morais) causados à propriedade ou ao seu proprietário: parcela única e prévia, tendo como parâmetro o valor venal do imóvel, podendo chegar ao valor venal global da propriedade, se a atividade de mineração impedir a sua total utilização pelo proprietário;

c) participação no resultado da exploração: devida apenas quando há extração mineral/ex-plotação;

d) garantia de recuperação da área lavrada: esse direito implica na obrigação do minerador de reabilitar o terreno para uso pós-mineração, sendo certo que tal direito encontra guarida no art. 225 da Constituição Federal.

3) sERvidão minERal

Decorrência natural da prioridade da propriedade minerária sobre a propriedade imobiliária é a necessidades de instituir-se servidões minerais (espécie de servidão administrativa) para que seja pos-sível a adequada exploração/explotação dos recursos minerais.

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 85

Sujeitam-se a servidões de solo e subsolo, para os fi ns de pesquisa ou lavra, não só a propriedade onde se localiza a jazida, bem como também as propriedades limítrofes. As servidões devem ser insti-tuídas para as seguintes fi nalidades, exemplifi cadas no art. 59 do Código de Mineração:

a) construção de ofi cinas, instalações, obras acessórias, moradias, utilização de aguada;b) abertura de vias de transporte e linhas de comunicações;c) captação e adução de água para os serviços de mineração;d) transmissão de energia elétrica;e) escoamento das águas da mina e da planta;f ) abertura de passagem de pessoal e material, de conduto de ventilação e de energia elétrica; g) bota-fora do material desmontado e dos refugos do engenho.

Para sua instituição, é indispensável indenização prévia do valor do terreno ocupado e dos pre-juízos resultantes dessa ocupação ao proprietário do solo ou ao dono das benfeitorias de acordo com o art. 27 e art. 60 do Código de Mineração.

A declaração de necessidade de instituição da servidão é dada por laudo técnico do DNPM, a pedido do titular do direito minerário. Assim, a servidão é instituída pelo minerador, por autorização do DNPM. Importante também que seja anotada à margem da matrícula da propriedade serviente.

4) açõEs JudiCiais

Na hipótese em que a utilização da propriedade do superfi ciário pelo minerador não é objeto de consenso entre as partes, mediante acordos extrajudicias, existem duas ações em que o Poder Judi-ciário é convocado a solucionar esses confl itos.

A primeira delas é tratada no próprio Código de Mineração ( art. 27) e é denominada ação judicial de avaliação de renda, danos e prejuízos. Trata-se, em verdade, de um procedimento de jurisdição vol-untária, provocado pelo Diretor Geral do DNPM que pode assim ser resumido:

a) O Diretor Geral do DNPM enviará ao Juiz de Direito da Comarca onde estiver situada a jazida, cópia do referido título e o Juiz mandará proceder à avaliação da renda e dos danos e prejuízos a que se refere este artigo, na forma prescrita no CPC ( perícia - art. 420 e ss.), sendo que as despesas judiciais com o processo de avaliação serão pagas pelo titular do direito minerário;

b) O juiz efetuará o julgamento da avaliação e intimará o titular a depositar quantia correspon-dente ao valor da renda de 2 anos e a caução para pagamento da indenização;

c) Feitos os depósitos, o Juiz, intimará os proprietários ou posseiros do solo a permitirem os tra-balhos e comunicará seu despacho ao Diretor-Geral do DNPM e, mediante requerimento do titular do direito minerário, às autoridades policiais locais, para garantirem a execução dos trabalhos;

d) Concluídos os trabalhos de pesquisa/lavra, encerra-se a ação judicial referente ao pagamento das indenizações e da renda.

AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 85

Sujeitam-se a servidões de solo e subsolo, para os fi ns de pesquisa ou lavra, não só a propriedade onde se localiza a jazida, bem como também as propriedades limítrofes. As servidões devem ser insti-tuídas para as seguintes fi nalidades, exemplifi cadas no art. 59 do Código de Mineração:

a) construção de ofi cinas, instalações, obras acessórias, moradias, utilização de aguada;b) abertura de vias de transporte e linhas de comunicações;c) captação e adução de água para os serviços de mineração;d) transmissão de energia elétrica;e) escoamento das águas da mina e da planta;f ) abertura de passagem de pessoal e material, de conduto de ventilação e de energia elétrica; g) bota-fora do material desmontado e dos refugos do engenho.

Para sua instituição, é indispensável indenização prévia do valor do terreno ocupado e dos pre-juízos resultantes dessa ocupação ao proprietário do solo ou ao dono das benfeitorias de acordo com o art. 27 e art. 60 do Código de Mineração.

A declaração de necessidade de instituição da servidão é dada por laudo técnico do DNPM, a pedido do titular do direito minerário. Assim, a servidão é instituída pelo minerador, por autorização do DNPM. Importante também que seja anotada à margem da matrícula da propriedade serviente.

4) açõEs JudiCiais

Na hipótese em que a utilização da propriedade do superfi ciário pelo minerador não é objeto de consenso entre as partes, mediante acordos extrajudicias, existem duas ações em que o Poder Judi-ciário é convocado a solucionar esses confl itos.

A primeira delas é tratada no próprio Código de Mineração ( art. 27) e é denominada ação judicial de avaliação de renda, danos e prejuízos. Trata-se, em verdade, de um procedimento de jurisdição vol-untária, provocado pelo Diretor Geral do DNPM que pode assim ser resumido:

a) O Diretor Geral do DNPM enviará ao Juiz de Direito da Comarca onde estiver situada a jazida, cópia do referido título e o Juiz mandará proceder à avaliação da renda e dos danos e prejuízos a que se refere este artigo, na forma prescrita no CPC ( perícia - art. 420 e ss.), sendo que as despesas judiciais com o processo de avaliação serão pagas pelo titular do direito minerário;

b) O juiz efetuará o julgamento da avaliação e intimará o titular a depositar quantia correspon-dente ao valor da renda de 2 anos e a caução para pagamento da indenização;

c) Feitos os depósitos, o Juiz, intimará os proprietários ou posseiros do solo a permitirem os tra-balhos e comunicará seu despacho ao Diretor-Geral do DNPM e, mediante requerimento do titular do direito minerário, às autoridades policiais locais, para garantirem a execução dos trabalhos;

d) Concluídos os trabalhos de pesquisa/lavra, encerra-se a ação judicial referente ao pagamento das indenizações e da renda.

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Sobre a ação judicial de avaliação e renda, importante consignar que outras matérias que não o quantum dos valores devidos ao superfi ciário serão objeto de ação específi ca no foro competente.

Quanto à titularidade, esta é exclusiva da União/DNPM, responsável pela proteção dos interesses do proprietário/posseiro do solo. Assim, não há como o DNPM transferir essa obrigação para o titular do direito minerário.

Por fi m, o STJ, por meio Súmula 238, estabeleceu que a avaliação da indenização devida ao pro-prietário do solo, em razão de alvará de pesquisa mineral, é processada no Juízo Estadual da situação do imóvel.

A outra ação judicial que possibilita a solução de um dos confl itos entre superfi ciário e minerador não encontra previsão expressa em nenhum diploma legal e decorre, muitas das vezes, da inércia do DNPM em informar ao Poder Judiciário sobre a inexistência de acordo entre o superfi ciário e o titular do direito minerário, aliada à necessidade de o minerador iniciar os seus trabalhos. Nesta hipótese, munido do laudo de instituição de servidão elaborado pelo DNPM, o titular do direito minerário busca obter judicialmente a imissão na posse do imóvel, cabendo também neste caso a realização de perícia para a fi xação dos valores da renda e da indenização. Essa ação, que tem como sujeito ativo o titular de direito minerário, é denominada de ação de constituição de servidão de mina e não segue o rito previsto no art. 27 do Código de Mineração.

Em geral, objetiva o minerador com tal ação a obtenção da antecipação dos efeitos da tutela, para que ele possa ingressar na área e iniciar os seus trabalhos. Contudo, para a obtenção do efeito preten-dido, não basta apenas alegar prazo certo para o início dos trabalhos de pesquisa/extração mineral ou ainda o depósito de caução do valor de indenização e renda com base em laudo de avaliação elabora-do unilateralmente pelo minerador. O correto é a obtenção da imissão provisória na posse mediante o depósito dos valores devidos legalmente ao superfi ciário, apurados em prévia perícia judicial.

Em ambas as ações, aplica-se o disposto no ar. 62 do Código de Mineração, ou seja, não poderão ser iniciados os trabalhos de pesquisa ou lavra, antes de paga a importância título de indenização e de fi xada a renda pela ocupação do terreno.

Cabe-nos ainda comentar sobre o art. 87 do Código de Mineração, que estabelece que não se impedirá por ação judicial de quem quer que seja, o prosseguimento da pesquisa ou lavra. Contudo, tal dispositivo deve ser interpretado de maneira sistemática com o disposto nos demais artigos do Código de Mineração, sendo indubitável que ele não se aplicará, por exemplo, na hipótese de pesquisa ou lavra praticadas sem acordo ou sem o pagamento correto do que é devido ao superfi ciário.

O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais ainda não apresenta um posicionamento uniforme sobre a questão dos requisitos para a determinação da imissão provisória na posse do imóvel por parte do minerador, nas ações para a instituição de servidão, mas a grande maioria dos julgados mais recentes apontam no sentido da necessidade de prévia perícia judicial. Nesse sentido, AI 1.0686.15.002840-1/001 Rel. Des. Sérgio André da Fonseca Xavier, DOE, 08/06/2015; AI 1.0514.13.004083-5/001, Rel. Des. João Câncio, DOE, 12/02/2015; AI 1.0319.13.002445-2/002 Rel. Des Valdez Leite Machado, DOE, 04/07/2014 e AI 1.0216.12.006304-7/001 Rel. Des.Amorim Siqueira, DOE, 04/02/2013, dentre outros.

Existem julgados entendendo que apenas o depósito prévio de caução, independentemente de perícia judicial, ensejam a imissão provisória da posse. Nesse sentido, AI 1.0672.12.031110-1/001,

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Sobre a ação judicial de avaliação e renda, importante consignar que outras matérias que não o quantum dos valores devidos ao superfi ciário serão objeto de ação específi ca no foro competente.

Quanto à titularidade, esta é exclusiva da União/DNPM, responsável pela proteção dos interesses do proprietário/posseiro do solo. Assim, não há como o DNPM transferir essa obrigação para o titular do direito minerário.

Por fi m, o STJ, por meio Súmula 238, estabeleceu que a avaliação da indenização devida ao pro-prietário do solo, em razão de alvará de pesquisa mineral, é processada no Juízo Estadual da situação do imóvel.

A outra ação judicial que possibilita a solução de um dos confl itos entre superfi ciário e minerador não encontra previsão expressa em nenhum diploma legal e decorre, muitas das vezes, da inércia do DNPM em informar ao Poder Judiciário sobre a inexistência de acordo entre o superfi ciário e o titular do direito minerário, aliada à necessidade de o minerador iniciar os seus trabalhos. Nesta hipótese, munido do laudo de instituição de servidão elaborado pelo DNPM, o titular do direito minerário busca obter judicialmente a imissão na posse do imóvel, cabendo também neste caso a realização de perícia para a fi xação dos valores da renda e da indenização. Essa ação, que tem como sujeito ativo o titular de direito minerário, é denominada de ação de constituição de servidão de mina e não segue o rito previsto no art. 27 do Código de Mineração.

Em geral, objetiva o minerador com tal ação a obtenção da antecipação dos efeitos da tutela, para que ele possa ingressar na área e iniciar os seus trabalhos. Contudo, para a obtenção do efeito preten-dido, não basta apenas alegar prazo certo para o início dos trabalhos de pesquisa/extração mineral ou ainda o depósito de caução do valor de indenização e renda com base em laudo de avaliação elabora-do unilateralmente pelo minerador. O correto é a obtenção da imissão provisória na posse mediante o depósito dos valores devidos legalmente ao superfi ciário, apurados em prévia perícia judicial.

Em ambas as ações, aplica-se o disposto no ar. 62 do Código de Mineração, ou seja, não poderão ser iniciados os trabalhos de pesquisa ou lavra, antes de paga a importância título de indenização e de fi xada a renda pela ocupação do terreno.

Cabe-nos ainda comentar sobre o art. 87 do Código de Mineração, que estabelece que não se impedirá por ação judicial de quem quer que seja, o prosseguimento da pesquisa ou lavra. Contudo, tal dispositivo deve ser interpretado de maneira sistemática com o disposto nos demais artigos do Código de Mineração, sendo indubitável que ele não se aplicará, por exemplo, na hipótese de pesquisa ou lavra praticadas sem acordo ou sem o pagamento correto do que é devido ao superfi ciário.

O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais ainda não apresenta um posicionamento uniforme sobre a questão dos requisitos para a determinação da imissão provisória na posse do imóvel por parte do minerador, nas ações para a instituição de servidão, mas a grande maioria dos julgados mais recentes apontam no sentido da necessidade de prévia perícia judicial. Nesse sentido, AI 1.0686.15.002840-1/001 Rel. Des. Sérgio André da Fonseca Xavier, DOE, 08/06/2015; AI 1.0514.13.004083-5/001, Rel. Des. João Câncio, DOE, 12/02/2015; AI 1.0319.13.002445-2/002 Rel. Des Valdez Leite Machado, DOE, 04/07/2014 e AI 1.0216.12.006304-7/001 Rel. Des.Amorim Siqueira, DOE, 04/02/2013, dentre outros.

Existem julgados entendendo que apenas o depósito prévio de caução, independentemente de perícia judicial, ensejam a imissão provisória da posse. Nesse sentido, AI 1.0672.12.031110-1/001,

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 87

Rel. Des. Leite Praça, DOE 03/09/2013 e AI 1.0319.09.037853-4/001, Rel. Des. Osmando Almeida. D. J.: 08.02.2011, dentre outros.

Quanto ao art. 87 do Código de Mineração, este há muito já deixou de ser aplicado na corte minei-ra, por evidente incompatibilidade com a atual ordem constitucional vigente, notadamente o disposto no art. 5o, XXXV do texto constitucional. Nesse sentido, AI 1.0319.13.002445-2/002 Rel. Des Valdez Leite Machado, DOE, 04/07/2014 e AC 10054130024505003 MG, Rel. Des. Newton Teixeira Carvalho, DOE, 17/10/2014, dentre outros.

5) Conflitos E mEdiação – CostumEs E Casos ConCREtos

Em nossa experiênica prática, temos observado as seguintes formas de solução de confl itos entre minerador e superfi ciário:

a) acordos extrajudiciais; b) processo de avaliação judicial; c) ação de constituição de servidão mineral; d) aquisição de imóveis pelo minerador, de forma consensual e espontânea; e) desapropriação/servidão administrativa-mineral; f ) outras ações judiciais, conforme acima mencionado.

Os confl itos entre minerador e superfi ciário acabam ocorrendo em decorrência de algumas práticas condenáveis, realizadas por ambas as partes. Por parte do minerador, observa-se: a) não pagamento de renda ou indenização na fase de pesquisa; b) pagamento de um salário-mínimo a título de renda, independente da área utilizada e não pagamento de indenização, seja na fase de pesquisa ou lavra; c) pagamento de indenização e renda tendo como base o número de furos de sondagem realizados; d) diminuição da área considerada para fi ns de indenização, obrigando a convivência indesejada do superfi ciário com as atividades minerárias); e) tratamento dos incômodos causados aos superfi ciários apenas como impacto ambiental; f ) ausência na recuperação das áreas degradadas, entre o término da fase de pesquisa e o início da atividade de lavra; g) pagamento de custos necessários à regularização ambiental, registral do imóvel, como compensação pelas ativ-idades de pesquisa; h) ausência total de recuperação da área minerada, para permitir o seu uso pós-mineração; i) propostas de compra de imóveis por valor abaixo do justo; j) negociações com apenas parte dos herdeiros, no caso de imóveis em inventário; k) desconsideração da disciplina do Código de Mineração nos acordos extrajudiciais; l) entrada ou permanência na propriedade, sem a autorizaç ã o do proprietá rio.

Por parte dos superfi ciários, podemos mencionar: a) consentimento verbal na fase de pesquisa; b) “exigência” de valores abusivos a título de renda e indenização ou para alienação do imóvel; c) descon-hecimento dos seus direitos; d) consideração de expectativas de direito como elementos balisadores do valor de sua propriedade ou da renda/indenização (ex: proprietário entende que tem direito a um

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Rel. Des. Leite Praça, DOE 03/09/2013 e AI 1.0319.09.037853-4/001, Rel. Des. Osmando Almeida. D. J.: 08.02.2011, dentre outros.

Quanto ao art. 87 do Código de Mineração, este há muito já deixou de ser aplicado na corte minei-ra, por evidente incompatibilidade com a atual ordem constitucional vigente, notadamente o disposto no art. 5o, XXXV do texto constitucional. Nesse sentido, AI 1.0319.13.002445-2/002 Rel. Des Valdez Leite Machado, DOE, 04/07/2014 e AC 10054130024505003 MG, Rel. Des. Newton Teixeira Carvalho, DOE, 17/10/2014, dentre outros.

5) Conflitos E mEdiação – CostumEs E Casos ConCREtos

Em nossa experiênica prática, temos observado as seguintes formas de solução de confl itos entre minerador e superfi ciário:

a) acordos extrajudiciais; b) processo de avaliação judicial; c) ação de constituição de servidão mineral; d) aquisição de imóveis pelo minerador, de forma consensual e espontânea; e) desapropriação/servidão administrativa-mineral; f ) outras ações judiciais, conforme acima mencionado.

Os confl itos entre minerador e superfi ciário acabam ocorrendo em decorrência de algumas práticas condenáveis, realizadas por ambas as partes. Por parte do minerador, observa-se: a) não pagamento de renda ou indenização na fase de pesquisa; b) pagamento de um salário-mínimo a título de renda, independente da área utilizada e não pagamento de indenização, seja na fase de pesquisa ou lavra; c) pagamento de indenização e renda tendo como base o número de furos de sondagem realizados; d) diminuição da área considerada para fi ns de indenização, obrigando a convivência indesejada do superfi ciário com as atividades minerárias); e) tratamento dos incômodos causados aos superfi ciários apenas como impacto ambiental; f ) ausência na recuperação das áreas degradadas, entre o término da fase de pesquisa e o início da atividade de lavra; g) pagamento de custos necessários à regularização ambiental, registral do imóvel, como compensação pelas ativ-idades de pesquisa; h) ausência total de recuperação da área minerada, para permitir o seu uso pós-mineração; i) propostas de compra de imóveis por valor abaixo do justo; j) negociações com apenas parte dos herdeiros, no caso de imóveis em inventário; k) desconsideração da disciplina do Código de Mineração nos acordos extrajudiciais; l) entrada ou permanência na propriedade, sem a autorizaç ã o do proprietá rio.

Por parte dos superfi ciários, podemos mencionar: a) consentimento verbal na fase de pesquisa; b) “exigência” de valores abusivos a título de renda e indenização ou para alienação do imóvel; c) descon-hecimento dos seus direitos; d) consideração de expectativas de direito como elementos balisadores do valor de sua propriedade ou da renda/indenização (ex: proprietário entende que tem direito a um

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária88 AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária88

valor maior, porque existe interesse de terceiros de realizar um empreendimento imobiliário em seu terreno); e) não buscar adequada assessoria jurídica.

Alguns casos concretos denotam a total falta de respeito à lei, já tendo sido constatado algumas práticas que em tese, ensejariam a nulidade dos negócios jurídicos entabulados sob a sua égide. Cite-mos como exemplo: a formalização de contrato de promessa de compra e venda de imóvel com pro-prietário alcoólatra, quando este estava embriagado; a utilização de interposta pessoa para aquisição de imóveis por preço abaixo do justo; chantagens e ameaças aos superfi ciários de judicialização do confl ito para provocar a demora no recebimento dos valores de renda e indenização.

Destarte, o Poder Judiciário, além das duas costumeiras ações acima abordadas, tem se deparado com ações interpostas por superfi ciários buscando a nulidade de contratos de compra e venda ou de instrumento de acordo para pagamento de renda e indenização, sob a alegação de que não celebrar-iam o negócio se soubessem da consequente valorização imobilária; sob a alegação de desconheci-mento do direito à participação que teriam nos resultados da lavra quando da explotação/exploração pelo minerador, ainda que conste expressamente a sua renúncia no instrumento de acordo; ações buscando a complementação dos valores a título de renda ou indenização, além de ações cominatórias para pagamento da participação no resultado da exploração.

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 89AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 89

Projeto e exposição sobre o marco regulatório -

legislação sobre o temadeputados federais leonardo Quintão e gabriel guimarães

Ofi cina realizada pelos deputados federais Gabriel Guimarães, presidente da Comissão Especial do Novo Marco Regulatório Mineral,

e Leonardo Quintão, relator do projeto do novo Marco Regulatório

Como uma das mais importantes atividades econômicas do nosso país, principalmente, do estado de Minas Gerais, estamos trabalhando junto aos deputados federais, membros da Comissão Especial do Novo Marco Regulatório Mineral, com intenso apoio do Governo de Minas e junto ao Governo Federal para que o texto da proposta do Novo Marco Regulatório Mineral seja aprovado com a máxima urgência na Câmara dos Deputados. O potencial mineral do território brasileiro é muito elevado e sua exploração deve ser estimulada para que possa ser revertida em benefícios para toda sociedade, inclu-sive, nesse momento, em que poderá ser essencial para a retomada do crescimento do país.

Desde o início da tramitação do Projeto na Câmara dos Deputados, houve uma alteração sub-stancial na realidade do setor, que teve uma queda brusca no preço de comercialização da principal commoditie mineira, qual seja, o minério de ferro, saltando de mais de 140 dólares a tonelada para valores aproximados de 40 dólares a tonelada. A alteração da legislação que regula o setor é de ex-trema importância, para assegurar aqueles que tenham interesse de investir no Brasil, contribuindo com a geração de emprego e renda e, principalmente, deixando claro que Minas e o Brasil dispõem de legislações regulatórias e de proteção ambientais e dos trabalhadores claras, não podendo os “maus investidores” se utilizarem de lacunas legislativas ou da ausência de clareza para promoverem o tumul-

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária90 AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária90

to no setor e utilizarem de um direito concedido pelo setor público pra especulação com um bem da sociedade, que é a exploração de nossa riqueza mineral.

Sobre a questão da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), é fundamental en-tender a verdadeira função dessa cobrança, que é dar aos estados e municípios produtores condições de se prepararem para um futuro em que não disponham dessas riquezas como alternativas econômi-cas, pelo exaurimento das minas. A boa utilização da fonte, CFEM, criará alternativas econômicas pra essas regiões, tendo em vista que elas deverão estar preparadas para o fi m da exploração da atividade minerária, que é fi nita. Sobre a metodologia de cobrança, o grande avanço do projeto é a alteração da base de cálculo, que passará a ser o faturamento bruto, ao invés do faturamento líquido, que é a metodologia atual. Trata-se de um ganho pra quem recebe (setor público) e pra quem paga (setor produtivo), já que deixam de ter dúvidas em relação a quais despesas podem ou não ser deduzidas, aumentando um custo no setor tributário da empresa e criando falsas expectativas para o poder públi-co. Tendo em vista a volatividade dos preços das riquezas minerais, que fi cam vulneráveis a alterações externas de nossa economia, sobretudo em razão do mercado consumidor estar em grande parte situado fora do Brasil e de que outros países também possuem reservas minerais competindo com o nosso preço, a Comissão Especial buscou solucionar esse problema elaborando alíquotas modulares da CFEM, respeitando pisos e tetos, de acordo com o preço das riquezas no mercado internacional. Questão unânime na Comissão é de que a alíquota ideal da CFEM deve ter por base o valor máximo, desde que não prejudique a competitividade de nossa indústria.

Por isso, a proposta do Novo Marco, de iniciativa do Poder Executivo Federal, vem sendo aprimora-da cujo principal objetivo é promover o desenvolvimento sustentável da mineração e do país, por meio do estímulo aos investimentos para o setor mineral em infraestrutura, modernização e desburocra-tização do sistema regulatório e dos regimes de outorga, garantia da segurança jurídica, diretrizes para a proteção da saúde e à segurança dos trabalhadores do setor, inserção de dispositivos que garantam a prevenção e recuperação dos danos ambientais. Além dos mecanismos voltados ao aumento da arrecadação com a exploração, também a readequação da sistemática de distribuição de recursos, de modo a atender, de forma mais efetiva e justa, as necessidades das comunidades impactadas.

A mineração é uma atividade que demanda planejamento a longo prazo e minuncioso estudo de risco. Por isso, para atrair investimentos e promover o desenvolvimento sustentável da atividade e, assim, permitir que toda sociedade seja benefi ciada com a exploração mineral, é preciso que o merca-do brasileiro seja estável e confi ável. Assim, o regime de transição presente no Novo Marco procura, na esteira do que vem sendo estabelecido pelo Poder Judiciário, apresentar mecanismos de garantia da segurança jurídica e resguardo dos direitos adquiridos.

Essas e outras questões estão sendo muito bem elaboradas no texto do relator, deputado Leonar-do Quintão, que detalha nesse seminário a criação da Agência Nacional, do requerimento de pesquisas, entre outros importantes temas do Novo Código Mineral.

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 91AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 91

Exploração minerária: evolução e perspectivas

José mendo mizael de souza

“A Mineração é a atividade que propicia aos seres humanos, mediante seus produtos, saciarem suas fomes biológicas, psicológicas, sociais e espirituais e concretizarem seus sonhos”. José Mendo Mizael de Souza

1. intRodução

Em boa hora, a AMAGIS - Associação dos Magistrados Mineiros vem de realizar seu “I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária”, cujas Solenidade de Abertura e Palestras proferidas - assim como o elevado nível dos participantes da citada Solenidade e do Evento como um todo - atestaram não só o alto nível do citado Congresso, como o integral atingimento dos objetivos colimados.

2. minERação, simPlEs na aPaRênCia, ComPlExa na EssênCia

Os que nos dedicamos à Mineração e procuramos mostrar à sociedade a importância da mesma e sua essencialidade para a Qualidade de Vida - como ela hoje é vivida e percebida e como é vislum-brada, no futuro - normalmente nos deparamos com um imenso desafi o. Esse desafi o é o de mostrar, aos que não convivem com a atividade minerária, quão complexa e intensiva em tecnologia mineral,

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária92 AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária92

a mesma é, o que nos permite bem usar os minerais que a natureza nos oferece. E não vamos nos esquecer que, hoje, os países do mundo reconhecem a importância fundamental da Mineração para o desenvolvimento sustentável, especialmente desde que, reunidos na Rio + 10, sob a égide das Nações Unidas, em Johanesburgo, em 2002, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, no Plano de Implementação das decisões da referida Cúpula Mundial, esses países deixaram claro, no item 44 do referido Plano, que “a Mineração, os minerais e os metais são importantes para o desenvolvimento econômico e social de muitos países” e que “os minerais são essenciais para a vida moderna”.

No que respeita à importância dos bens minerais, vale lembrar, como bem destacam João Furtado e Eduardo Urias, que os recursos naturais tem tanto ou mais potencial para gerar agregação de valor do que a indústria de manufatura”, os quais acrescentam: “Muitos dos países tidos como mais desen-volvidos - a Austrália, o Canadá, os países da Escandinávia e os Estados Unidos, por exemplo - tiveram os recursos naturais como chave para um sucesso que souberam construir. Não há nenhum sinal de trivialidade nas trajetórias seguidas, pelo contrário: elas demonstram uma complexa coevolução das formas de organização empresarial e industrial, de ciências e de tecnologia, sem deixar de considerar as instituições de suporte. Em todos esses países, a educação e o treinamento exerceram um papel fundamental. Já em 1870, mais de 80% da população dos Estados Unidos e do Canadá com mais de 10 anos de idade eram alfabetizados, de três a quatro vezes mais do que os níveis observados na América Latina”.

3. minERação, fazEdoRa dE dEmoCRaCia E Quinta - EssênCia dE bRasilidadE

Embora nem todos os brasileiros percebam ser o Brasil um País Mineiro, nossa história, nossos valores e nosso desenvolvimento socioenômico tiveram - e tem - seu alicerce na Mineração. Tudo começou no Brasil Colônia, nas Minas Gerais, nos denominados Ciclos do Diamante e do Ouro: naque-les tempos, a mineração forjou os valores de liberdade e democracia dos brasileiros, bem como esta-beleceu o próprio território do País, assim como construiu nosso sentimento de nação: erigiu, também, a estrutura administrativa do governo e a burocracia estatal. Na verdade, entre nós, onde nasceu a democracia? No curral, como a civilização cristã, para repetir um dito de Cassiano? Não. Entre nós, a democracia nasceu da Mineração, que era uma atividade industrial. E havia nisso uma lógica. Nem seria preciso lembrar que ‘a democracia é fi lha dileta da revolução industrial’, conforme Vitor de Azevedo. Aliás, e é este um ponto relevante, a mineração não passa de um desdobramento do bandeirismo. A bandeira, esclarece Cassiano, vai até o seu primeiro objetivo, o índio, mas transborda desse objetivo para revelar ao mundo a realidade humana do índio, até então deformada ou desconhecida: vai ai seu último objetivo econômico, que é o ouro, mas transborda desse objetivo para a revolução industrial e para a concepção do ‘homo economicus’, conforme Cassiano Ricardo.[...] Fazedora de democracia, a mineração trazia, em si mesma, os elementos de conquista: a alforria dada ao negro pela denúncia de fraudes fi scais do patrão, ou em virtude de seu trabalho, em proveito próprio, catando às últimas horas do dia e nos dias santos, como aconteceu, em Vila Rica, com Chico Rei. E era o garimpo, criando a fi gura legendária do garimpeiro, o primeiro herói nacional na luta contra o monopólio. E era o descaminho,

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 93AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 93

dando evasão ao contrabando e a ferir de morte a sucção fi scal e monopolista do despotismo por-tuguês. Dessa maneira, ‘o ouro não escravizava apenas, libertava também’, lembra Cassiano Ricardo. Produzia, pondera o mesmo Cassiano, um Chico Rei, como o diamante produziria uma Chica da Silva. [...] Sem falar no mais, basta dizer que o nosso ouro foi alimentado de democracia e fautor de inde-pendência. Contribuiu para a concepção do homo economicus e infl uiu, poderosamente, ‘num dos maiores movimentos da história do mundo: a Revolução Industrial’, destaca Paul Vanorden Shaw, apud Ricardo. Demais, a mineração tinha um conteúdo moral, impossível de ser esquecido. ‘O diálogo com as bateias é uma escola de aperfeiçoamento’, escreveu Alceu de Amoroso Lima. E Afonso Pena Júnior, glória do pensamento nacional, diria, com os olhos do espírito voltados para sua querida Santa Bárbara: ‘Estas terras de mineração, eu as vejo como um fundo de bateia ou carumbé, em que se apura o ouro ou o diamante da brasilidade. Gente de todas os quadrantes aí ocorre, movida da auri sacra fames, e, à medida que se cruza e sedimenta, vai pintando no fundo da bateia a mais pura, a mais genuína raça brasileira, quinta-essência de brasilidade”.

4. minERação - ConCEituação iniCial

Fernando Moacyr Lisboa, Engenheiro de Minas com cerca de 4 (quatro) décadas de vivência na In-dústria de Produção Mineral, nos apresenta uma interessante “Conceituação Inicial” da Mineração, que reproduzimos a seguir: “Mineração é a arte de descobrir, avaliar e extrair as substâncias minerais úteis, existentes no interior ou na superfície da terra” - J.Maia. Considerando arte, no seu sentido liberal, como habilidade, engenho, capacidade humana de criação, a Mineração é um dos ramos mais empolgantes da Engenharia. Na arte de descobrir (pesquisas geológicas), avaliar (cubagem geológica de reservas) e extrair (estudos de viabilidade técnico-econômica do aproveitamento da reserva e transformá-la em mina a céu aberto ou subterrânea), a Mineração se fundamenta não só em métodos precisos de cál-culos, mas também em métodos estatísticos, probabilísticos e outros, confi rmando assim o emprego da palavra arte para a sua defi nição. Assim sendo, por mais criteriosos e atualizados que sejam os métodos utilizados para se cubar uma reserva geológica, não será similar, preciso e tão matemático como o cálculo de uma viga na Engenharia Civil. Levando-se em conta que para extrair bens minerais serão considerados a necessidade de investimentos, com a premissa básica do retorno desse capital investido, pode-se ter uma ideia fundamental da complexidade para o bom julgamento decisório de um empreendimento mineiro. Assim sendo, para obtenção dos seus objetivos, a Mineração terá de se valer da cooperação de especialidades afi ns e correlatas, a fi m de que o seu discípulo e representante, o técnico da Mineração, se ache bem embasado para decidir bem. Com especialidades afi ns, podemos citar: Geografi a, Geologia, Mineralogia, Geofísica, Geoquímica, Estatística, etc. No que diz respeito às especialidades correlatas, temos: Física, Química, Termodinâmica, Hidráulica, Eletrotécnica, Resistência dos Materiais, Estabilidade, Mecânica Aplicada, Preparação dos Minerais, Lavra de Minas, Ciências Ad-ministrativas e Econômicas, etc. Outro ponto importante também diz respeito às especializações, pois seria humanamente impossível, com todos e os inúmeros pormenores, envolvidos, a existência de uma formação única e geral para todas as fases da Mineração. Daí, a necessidade cada vez mais acentuada,

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária94 AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária94

para as especializações em: Engenheiro Geólogo (pesquisa, acompanhamento de mina); Engenheiro de Minas (produção, benefi ciamento, planejamento); Engenheiro de petróleo, Economista Mineral, Geomecânico, Geofísico, etc. Um conceito importantíssimo na Mineração que deverá ser plenamente conscientizado e assimilado por todos os que labutam nesse ramo da Engenharia é o de Verdadeira Conservação Mineral, que pode assim ser defi nida: Ativa descoberta, Complexa extração e Máxima utilização. É importante lembrar que o reino animal, o reino vegetal e o reino mineral sustentam a vida do planeta terra; somente o reino mineral não tem reposição, ou seja, não dá “duas safras”. Daí, a neces-sidade de uma ativa descoberta (pesquisa geológica constante e duradoura), completa extração (ex-austão completa de uma mina, ou seja, esgotar inteiramente até a “última gota”) e máxima utilização (emprego total de todos os produtos e sub-produtos extraídos e, até mesmo, a estocagem de produtos extraídos para futuros mais promissores). Na Mineração, será sempre necessário Prever para Prover, levando-se em conta a vida provável da mina; novas reservas para a manutenção das extrações futuras; evolução dos métodos e processos de pesquisa, de avaliação e de extração; oscilações dos preços no mercado de venda dos produtos; carências de materiais para pesquisa e extração; necessidades de treinamento da mão de obra; atualização permanente dos meios gerenciais para a sobrevivência, face à competitividade do mundo atual etc. Aliado ao referido, levando-se em conta que o “habitat” da Miner-ação, salvo algumas exceções, é normalmente em lugares ermos, longe dos grandes centros urbanos, exige que o homem de Mineração seja imbuído de uma personalidade forte, disciplinar e cheia de bom senso, a fi m de que sejam vencidas a contento as difi culdades do “modus vivendi” do profi ssional desse ramo da Engenharia. Na fase de pesquisas geológicas, em que os alvos, geralmente, encontram-se em áreas inóspitas e até mesmo repletas de isentos portadores de doenças, como malária, o homem da Mineração, mesmo com o apoio de toda a tecnologia de suporte existente, deve ser comparado e valorizado como um “BANDEIRANTE” do século atual. “Bandeirante”: indivíduo que no Brasil colonial tomou parte em Bandeira (expedição) e tinha como objetivos fundamentais a captura de indígenas, a pesquisa de jazidas de pedras e metais preciosos, bem como de ocupações territoriais. Infelizmente, os méritos para esse valente desbravador são, normalmente, ignorados e até mesmo esquecidos. A título de lembrete, é válido ressaltar como um exemplo entre muitos que a riqueza descoberta e atualmente explorada em minério de ferro da Serra dos Carajás - Vale encontra-se em plena selva amazônica. Outro exemplo importante é o da Grasberg Mine da Freeport - McMoran, a mina de cobre e ouro nos cumes das montanhas do Irian Ocidental (Parte oeste da Nova Guiné) Indonésia. Seria interessante abordar, também, um ponto, às vezes, mal entendido e até mesmo mal interpretado. Trata-se do termo Pedrei-ra, utilizado para designar a extração de rochas tipo granito, gnaiss, dolomita, etc. utilizadas, normal-mente, para a construção civil, sob a forma de brita (agregado rochoso para fabricação do concreto, revestimento asfáltico, etc.). A pedreira, na realidade, é uma mina a céu aberto, e como tal, para a sua implantação, deve ter passado pelas fases de descoberta e avaliação do produto a ser extraído. A única diferença, a meu ver, é que o produto não é um mineral e sim uma rocha (agregados de certos minerais característicos, formados em tempos e formatos diferentes). Essa abordagem visa um esclarecimento para o não emprego discriminatório, no sentido pejorativo, do termo pedreira.

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AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 95AMAGIS • I Congresso Mineiro sobre Exploração Minerária 95

5. PaRa tER futuRo, o bRasil nECEssita dEsEnvolvER sua minERação

A Mineração é uma atividade de utilidade pública e como tal deve ser reconhecida, pois é inimagi- nável a vida sem minerais, metais e compostos metálicos, essenciais para a vida das plantas, dos ani-mais e dos seres humanos. O combate à fome depende da agricultura e esta dos fertilizantes. Também dependem de produtos minerais a habitação, o saneamento básico, as obras de infraestrutura viária, os meios de transportes e de comunicação. Para os padrões, métodos e processos de desenvolvimento econômico e social, com qualidade ambiental, hoje existentes no mundo, a disponibilidade de bens minerais é simplesmente essencial: não há progresso sem a mineração e seus produtos. Como enfatiza o Banco Mundial: “É quase impossível imaginar a vida sem minerais, metais e compostos metálicos. Dos 92 elementos que ocorrem naturalmente, 70 são metais; muitos são essenciais para a vida das plantas, dos animais e dos seres humanos. Estas substâncias fazem parte da atividade humana desde que pequenos pedaços de cobre foram martelados pela primeira vez e transformados em ferramentas simples, ao redor do ano 6000 a.C. Atualmente, a sociedade precisa de minerais e metrais para cada vez mais fi nalidades. Minerais industriais, como a mica, são componentes essenciais de materiais in-dustriais avançados. A agricultura necessita de fertilizantes à base de minerais. A indústria depende dos metais para seus maquinários e de concreto para as fábricas necessárias à industrialização. Nenhuma aeronave, automóvel, computador ou aparelho elétrico funcionaria sem metais. O fornecimento de e- nergia elétrica depende do cobre e do alumínio. O titânio é fundamental para motores de aeronaves. Um mundo sem o chip de silício, hoje, é inimaginável. Os metais continuarão a atender às necessidades das gerações futuras, através de novas aplicações nos setores eletrônica, telecomunicações e aeroespa-cial. Contribui, também, para a compreensão do importante papel econômico e social desempenhado pela indústria mineral, destacarmos o exemplo da mineração, produtora de agregados (areia e brita) para a construção civil. “Computando-se as áreas das diversas pedreiras existentes na Região Metro-politana do Rio de Janeiro - RMRJ, chega-se a um valor total de 3000 ha. O valor anual da produção atinge cerca de R$ 80 milhões de receita, com um contingente de mão-de-obra direta superior a 1.200 empregos, sem contar os demais segmentos da cadeia produtiva da brita. É óbvio que a acima citada, por suas próprias características fi siográfi cas, pouco se presta para práticas agrícolas. No entanto, ape-nas para efeito comparativo, pode-se considerar uma área de igual extensão (3.000 ha), plantada com soja, grão altamente valorizado no mercado. Nessa hipótese, a mão-de-obra absorvida difi cilmente atingirá número de 300 e o valor anual de geração de receita estaria no entorno de R$ 5 milhões, ou seja, 16 (dezesseis) vezes menos que o valor obtido com a produção de brita. Em outras palavras: para a mesma geração de receita, em ambos os casos, o impacto agrícola, em termos de área comprometida, seria 16 vezes maior. Tal comparação não objetiva subestimar a agricultura; demonstra tão somente que o impacto do setor mineral é mais pontual e, portanto, deve merecer tratamento diferenciado em regulamentações fi scais e ambientais, até por conta da rigidez locacional da mineração, característica não extensível a outros setores produtivos. Além disso, a mineração, quando comparada a outras ativ-idades produtivas, possibilita uma maior inserção social, não só pela acentuada oferta de empregos por unidade de investimento fi xo, como, ainda, pela fi xação do homem em condições mais dignas de trabalho e geração de emprego e renda em vazios geográfi cos e/ou econômicos, possuidores de

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difíceis alternativas de desenvolvimento” (CALAES, Gilberto Dias; ALBUQUERQUE, Gildo de A. Sá. C. de. Indicadores de Sostenteniblidad para la indústria extrativa Mineral. Rio de Janeiro: CNPQ/CYTED, 2002).

6. QualidadE dE vida É obtida Com a minERação

Nos dias de hoje, a expressão que melhor retrata os anseios da sociedade do século XXI, extasiada com um mundo maravilhoso na tecnologia - mas brutal em sua competição, extremamente carente de amor, compreensão, tolerância e aceitação das diferenças -, é Qualidade de Vida. Qualidade de Vida, como a desejamos hoje, em um mundo que valoriza muito mais o ter do que o ser, tem tudo a ver com a satisfação das nossas necessidades, desde as mais básicas, segundo Maslow as fi siológicas e as de segurança, até, ainda de acordo com Maslow, a mais elevada, a auto-realização, todas elas não sendo possíveis de serem satisfeitas sem os “bens minerais” - casa, carro, computador, avião, estradas, aeroportos, energia elétrica, etc. -, todos eles “pacotes de minerais”, ou seja, frutos da Mineração. Mas, se a Mineração é tão importante assim para a Qualidade de Vida, porque ela é tão pouco compreen-dida em Estados como Minas Gerais, que é fi lho da Mineração, e cujos fi lhos - os netos e bisnetos da Mineração - orgulhosamente se intitulam Mineiros, com o paradoxo, muitas vezes, de serem mineiros que rejeitam a sua razão de ser, a Mineração? Diríamos que por várias e boas razões. A primeira delas é que, tendo o ciclo do ouro ocorrido no Brasil Colônia, embora a Mineração, além da Democracia, tenha feito nascer no Brasil a luta pela Liberdade, acabou sendo percebida e identifi cada como exploração (da Coroa para com a Colônia) e como riqueza que acaba (a exaustão mineral), embora tenha sido a Mineração quem ergueu, por exemplo, cidades admiradas até hoje - como Diamantina, Itabira, Mar-iana, Ouro Preto e São João Del Rei, para citar apenas estas -, enquanto outros tipos de indústria, ou atividades agrícolas, também tenham fenecido e deixado como legado cidades fantasmas. E isto sem falar na rigidez locacional das minas, que necessariamente interioriza o desenvolvimento, como Cara-jás, no Pará (Vale): a ICOMI, no Amapá, por exemplo, que iniciou em 1957 sua lavra de manganês, foi o primeiro empreendimento de sucesso na Região Amazônica - onde a poderosa Fordlândia e o Ciclo da Borracha não se sustentaram -, com indicadores sociais e de desenvolvimento humano melhores do que os de muitas das mais importantes cidades do primeiro mundo na mesma época, tendo sido quem construiu a primeira estação de tratamento de esgoto da Amazônia. A segunda, pela inapetência natural - que levou à incompetência - da Mineração em comunicar-se, em uma sociedade “da comuni-cação”, na “aldeia global”, cada ano mais urbana, com os habitantes nascidos e criados nas megacidades (as que tem maior poder de mídia), habitantes esses, como dizem os australianos, pessoas “desejosas dos produtos, mas rejeitando a produção”, ou, como dizia um amigo meu, contemporâneo das Minas Gerais, já falecido, “pessoas que acham que arroz e feijão dão é na mercearia”. Esta inapetência é facil-mente explicável: é que, historicamente, e muitas vezes até mesmo nos dias de hoje, o minerador que anuncia uma grande descoberta, uma “mina”, nem sempre usufrui da mesma...Mas se a Mineração é realmente importante - “como estou agora convencido”, poderia dizer o leitor -, “o que deve o Brasil faz-er para se valer mais dela e melhorar seu desenvolvimento econômico e social?”. A resposta é, primeiro, os formuladores de política, os meios de comunicação, os governantes e a sociedade aprenderem - e

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apreenderem - que, na moderna civilização em que vivemos, a qualidade de vida almejada pela popu-lação não é conseguida sem termos acesso aos bens minerais que a propiciam. Segundo, conhecendo as peculiaridades da Mineração, ou seja, a jazida tem que ser minerada “onde Deus a colocou”, isto é, onde foi encontrada - a rigidez locacional, que é como denominamos esta característica -, o que tem vantagens sociais extraordinárias, como, entre outras, as de interiorizar o desenvolvimento e manter o homem em sua região -, por exemplo, permitir às famílias que habitam o local da mina, pelo conheci-mento que lhes é proporcionado, assim como a seus fi lhos, pelas Escolas e Colégios que são instalados nas Vilas Residenciais, saltarem, em apenas 1(uma) geração, do extrativismo ao século XXI! É que a produção de uma mina implica, necessária e inexoravelmente, em um círculo virtuoso, qual seja, em permanentes esforços para a descoberta de novas reservas ou de novas jazidas que venham a repor as mineradas, item em que os geólogos, os engenheiros de minas e as empresas de mineração tem tido grande sucesso, eis que nunca a humanidade desfrutou de tanta segurança a respeito, ou seja, de tão confortáveis relações reserva/produção dos diferentes bens minerais, em geral. Entretanto, a obtenção e a manutenção deste sucesso pressupõe a oferta, em quantidade e qualidade, de infor-mações geológicas atualizadas - para o que não faltam métodos, equipamentos e tecnologias as mais sofi sticadas e universalmente empregadas pelos países líderes mundiais da mineração, como Austrália e Canadá - oferta esta em que o Brasil está tremendamente atrasado!!

7. ConClusão

Temos que ter sempre presente, como destaca a US National Academy of Sciences, que, “nos Esta-dos Unidos, todo ano, cerca de 11,3 t de novos minerais devem ser proporcionadas, por habitante, para se fabricar os itens de uso diário de cada pessoa - e um crescente número desses minerais são impor-tados”. Por seu turno, Stephen Kesler nos alerta que “Considerando uma estimativa média de 9 bilhões para a população global em 2050 e assumindo que cada pessoa adicional irá demandar um pouco menos que os atuais habitantes demandam, esse aumento da população poderia levar a um aumento de 25% da demanda por minerais, até 2050”. Ou seja, promover a Mineração é cuidar do futuro, das novas gerações - em outras palavras, construir o “Desenvolvimento Sustentável” -, e para concretizá-lo é fundamental que tenhamos sempre presentes os “15 Desafi os à Atração de Investimentos”, como os elenca o Fraser Institute, do Canadá:

• Incertezas quanto à interpretação pelas autoridades;• Incertezas relativas à regulamentação ambiental;• Duplicidade e inconsistências dos regulamentos;• Regime tributário;• Incertezas relativas à disputa de áreas;• Incertezas quanto às áreas que serão protegidas, tais como, parques, sítios arqueológicos, etc.;• Infraestrutura;• Comunidades e Acordos Socioeconômicos;

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• Barreiras alfandegárias e não-alfandegárias;• Estabilidade política;• Legislação Trabalhista, Acordos e Greves;• Qualidade dos dados geológicos;• Segurança, inclusive sequestro, terrorismo e guerrilha;• Disponibilidade de Mão de Obra qualifi cada.

É, pois, muito importante termos estes itens sempre presentes - eis que o nosso País tem que atrair investimentos privados, nacionais e internacionais, da ordem de US$ 270 bilhões, até 2030 (PNM - 2030 - www.mme.gov.br) - e que, sem o crescimento da Mineração, não há como o Brasil desen-volver-se, considerados nossos constrangimentos macroeconômicos e a nossa realidade, hoje. Para tanto, é absolutamente fundamental termos segurança jurídica, ou seja, é essencial que o arcabouço jurídico-legal do País - em especial a legislação que regula a Mineração - seja, tanto quanto possível, estável, e as leis bem aplicadas, para que possamos atingir o sonhado desenvolvimento sustentável do Brasil em seus 3 (três) aspectos, a saber, o ambiental, o econômico e o social. Como bem nos lembra o Instituto Brasileiro de Mineração - IBRAM, “Minerar sim, pois os bens minerais são essenciais à quali-dade de vida almejada pela humanidade e à sua própria sobrevivência: mas fazê-lo com permanente atenção no que respeita ao meio ambiente, à segurança e à saúde ocupacional dos trabalhadores e às necessidades das gerações futuras”.

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Aperfeiçoamento constanteCom o objetivo de promover o aperfeiçoamento da prestação jurisdicional, a Amagis realizou o i congresso Mineiro sobre exploração Minerária, em Belo Horizonte. O evento, que faz parte das comemorações dos 60 anos da amagis, tem a participação de especialistas de todo o país, discutindo os reflexos econômicos, ambientais e sociais da mineração em Minas Gerais, em função da crescente demanda judicial envolvendo a questão.

A mineração é uma atividade que representa de 3% a 5% do PIB brasileiro. Minas Gerais é o mais importante Estado nesse setor, responsável, por exemplo, por mais de 50% da produção nacional de minerais metálicos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Apenas pela importância econômica, a mineração já merece intensa discussão. Há, porém, outros aspectos como as questões ambiental, social e jurídica.

realização

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