38
CURSO DE LETRAS Paloma Schilling O ROMANCE MUDA DE LADO: DE DOM CASMURRO A MINISSÉRIE CAPITU Santa Cruz do Sul 2016

Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

  • Upload
    tranque

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

CURSO DE LETRAS

Paloma Schilling

O ROMANCE MUDA DE LADO: DE DOM CASMURRO A MINISSÉRIE CAPITU

Santa Cruz do Sul

2016

Page 2: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

Paloma Schilling

O ROMANCE MUDA DE LADO: DE DOM CASMURRO A MINISSÉRIE CAPITU

Monografia apresentada ao Curso de Letras da

Universidade de Santa Cruz do Sul como atividade

integrante do currículo normal do curso.

Orientadora: Prof.ª Dra. Ana Cláudia Munari Domingos

Santa Cruz do Sul

2016

Page 3: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

E com uma letra bem pequena, lá estava escrito no

seu epitáfio: Tentou ser, não conseguiu; tentou ter,

não possuiu; tentou continuar, não prosseguiu. E

nessa vida de expectativas frustradas tentou até

amar… Pois bem, não conseguiu, e aqui está!

(Machado de Assis, Dom Casmurro)

Page 4: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

RESUMO

Esta monografia discute a relação intersemiótica entre a minissérie Capitu, dirigida por Luiz

Fernando Carvalho (2008), e a obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, contemplando o

conceito das relações transtextuais a partir dos estudos de Gerard Genette. Defendendo uma

concepção de adaptação que ultrapassa a simples ideia de cópia e considerando os diálogos

possíveis entre os signos verbais da literatura e a televisão, a análise tem como ponto central

os protagonistas – Capitu (Capitolina) e Bentinho (Bento Santiago) – e salienta as inúmeras

particularidades correspondentes a cada personagem, a partir da leitura de estudiosos como

Thaïs Flores Nogueira Diniz, Linda Hutcheon, Robert Stam e outros.

Palavras-chave: Machado de Assis. Capitu. Dom Casmurro. Relações transtextuais.

Tradução intersemiótica.

ABSTRACT

This monograph discusses an intersemiotic relation between the sitcom Capitu, directed by

Luiz Fernando Carvalho (2008), and Machado de Assis‟s play Dom Casmurro, contemplating

the concept of transtextuais relations based on the studies of Gerard Genette. Defending a

conception of adaptation that goes beyond a simple copy idea and considering the possible

dialogues between the verbal signs of literature and television, this analysis focus on the

protagonists – Capitu (Capitolina) and Bentinho (Bento Santiago) - and stresses the numerous

particularities corresponding to each character from the reading of scholars such as Thaïs

Flores Nogueira Diniz, Linda Hutcheon, Robert Stam and others.

Keywords: Machado de Assis. Capitu. Dom Casmurro. Transtextual relation. Intersemiotic

translation.

Page 5: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 5

2 A TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA ................................................................................. 6

2.1 A fidelidade às palavras ..................................................................................................... 7 2.2 As relações transtextuais e a adaptação ........................................................................... 9

3 OS GÊNEROS E A LINGUAGEM ................................................................................... 11

3.1 A literatura ........................................................................................................................ 12 3.2 A televisão.......................................................................................................................... 16

4 DE DOM CASMURRO A CAPITU .................................................................................... 19

4.1 A minissérie Capitu: pontos relevantes a serem considerados ..................................... 19 4. 2 De um lado para o outro: de Dom Casmurro a Capitu ............................................... 20

4. 3 Figuração de personagens: palavras e imagens ............................................................ 31

4.3.1 O agregado ..................................................................................................................... 31

4.3.2 Tio Cosme ....................................................................................................................... 32

4.3.3 Dona Glória .................................................................................................................... 32

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 34

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 36

Page 6: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

1 INTRODUÇÃO

5

A programação da televisão brasileira vem se diversificando bastante nos últimos anos,

principalmente a partir da entrada das tevês pagas. Algumas emissoras produziram inúmeras

adaptações de obras literárias, principalmente minisséries. A televisão, como um veículo de

comunicação de massa, envolve vários aspectos socioculturais e estéticos pertinentes ao

contexto de sua recepção. A literatura, por sua vez, devido também a questões culturais, vem

perdendo apreciadores ao longo dos últimos anos, a partir sobretudo da entrada da internet e

da consequente cultura da imagem.

As adaptações audiovisuais, neste cenário, podem ser um importante veículo para a

popularização de obras da literatura, bem como uma ponte entre a televisão, e ainda o cinema

e a literatura. A adaptação literária para os canais audiovisuais sofre algumas modificações na

passagem de uma linguagem a outra. As alterações realizadas pelo roteirista muitas vezes não

agradam ao espectador, que, por sua vez, também é leitor. Nesse ponto, surge a falsa ideia de

que uma adaptação deve ser fiel ao texto outrora lido.

Assim como no cinema, a televisão também utiliza o material narrativo da literatura,

recriando obras, muitas vezes os chamados “clássicos”. Nesse processo, são utilizados recursos

audiovisuais para construir o cenário, personagens, expressões faciais e até mesmo externar

expressões de felicidade, tristeza, angústia ou dor, partindo do ponto de vista do roteirista. Por

esse motivo, muitas vezes as adaptações são criticadas pelo público que enxerga a obra

somente a partir da sua própria interpretação, ignorando as várias leituras que pode ter um

texto.

A monografia a seguir propõe ao leitor um entendimento sobre os aspectos da tradução

intersemiótica, relações transtextuais e adaptação, ressaltando a relação entre gêneros e

linguagem e apontando os diversos aspectos de transmutação de um texto a uma cena,

desmistificando alguns tabus e preconceitos acerca da adaptação literária. O primeiro capítulo

teórico explica o processo da tradução interssemiótica. O segundo explica a questão dos

gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro.

A presente monografia segue a linha de pesquisa “Processos narrativos, comunicacionais

e poéticos”, do Departamento de Letras da UNISC, tendo como objetivo a construção do

sentido através da interpretação, buscando conhecer os processos da narrativa e das mídias.

Page 7: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

2 A TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

6

A tradução intersemiótica poderia ser definida como uma adaptação da linguagem verbal

para não verbal, porém sabemos que o campo que envolve a adaptação é muito mais vasto e

vai além dessa breve definição. Segundo Linda Hutcheon (2013, p. 61), “a adaptação é um

tipo de palimpsesto extensivo, e com frequência, ao mesmo tempo, uma transcodificação para

um diferente conjunto de convenções”. Portanto é possível afirmar que a tradução

interssemiótica é uma transcodificação, uma mudança de códigos.

Uma das formas de adaptação mais comuns atualmente é a dos textos verbais para os

meios audiovisuais, como, por exemplo, os roteiros de novela e de cinema criados a partir de

histórias literárias. Na adaptação da literatura para a linguagem audiovisual, como em todos

os outros casos, há entre os dois gêneros algumas diferenças básicas, tanto na parte técnica

quanto estética que precisam ser resolvidas (DINIZ, 2005). O signo literário concretiza-se

através da palavra, enquanto o cinema faz uso da linguagem visual, a imagem e a imagem em

movimento, e a linguagem sonora, música, ruídos, além da linguagem verbal falada e,

também, a escrita; assim, o cinema é capaz de transcender o jogo de palavras da literatura, no

entanto o cinema não prescinde do material verbal.

A literatura em si é uma arte, bem como a dança, a dramaturgia, entre outras tantas

existentes. Assim como com toda forma de arte, é difícil atribuir apenas um conceito a ela. A

literatura acompanha a evolução cultural do homem, portanto é possível dizer que em cada

época literária pode-se atribuir à literatura natureza e funções distintas condizentes com a

realidade cultural e social da época. A literatura, portanto, é um retrato do homem, de suas

culturas e costumes:

A arte, e portanto a literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de

uma estilização formal da linguagem, que propõe um tipo arbitrário de ordem para

as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à

realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à

sua configuração, e implicando em uma atitude de gratuidade. (CANDIDO, 1972, p.

53).

Assim, cada forma de arte ou de cultura tem sua linguagem. Outra forma de expressão

cultural que tem esse vínculo forte com a realidade através da linguagem e de uma técnica

própria está nas mídias audiovisuais, que surgiram com o cinema, chegaram à televisão e hoje

também estão na internet. Assim como na literatura, essas formas atendem ao mesmo desejo

humano por narrar e ouvir histórias, mas também à necessidade de rapidez e praticidade em

um século onde tudo deve ser imediato.

Page 8: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

7

Hoje, para muitos brasileiros, a televisão é o principal meio de informação e

entretenimento. Segundo Cristina Rego Monteiro Luz e Pablo Victor Fontes Santos, no artigo

“História da televisão: do analógico ao digital” (2013), que apresenta dados do IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística), a televisão está presente em 95,7 % das residências

brasileiras. Mas nem sempre ela teve toda essa popularidade. Tal como aconteceu com a

literatura e com a cultura em geral, a televisão sofreu muitas alterações desde o seu

surgimento até invadir os lares e tornar-se essa grande potência cultural em nível mundial,

sobretudo em relação à propaganda.

A relação entre a literatura e a televisão se fez também por meio das adaptações de

obras literárias para as mídias televisivas, como também aconteceu no surgimento do cinema.

Hutcheon (2013) explica que, de acordo com o dicionário, adaptar significa ajustar, alterar,

fazer adequado, podendo ser feito de diversas maneiras.

Falando sobre os processos de adaptação, Robert Stam (2005p. 15) diz que “a fidelidade

[…] é literalmente impossível. Uma adaptação fílmica é automaticamente diferente e original

devido à mudança de medium”. Stam e Raengo (2005p. 17) assinalam ainda que “as

largamente variáveis fórmulas de adaptação – “baseado no romance de”, “inspirado por”,

“adaptação livre de” – indiretamente reconhecem a impossibilidade de qualquer verdadeira

equivalência”. Portanto, entende-se que a adaptação não acontece apenas com uma única

fórmula, existindo diversos meios de fazê-la.

2.1 A fidelidade às palavras

A adaptação ou tradução literária para o cinema e a televisão vem sendo motivo de

algumas discussões nos últimos tempos. Há quem ainda defenda que uma boa adaptação é

aquela que é “fiel” à sua versão original. Mas quais seriam os fatores para determinar e

fundamentar essa questão? Tomando a adaptação como uma espécie de tradução, Thaïs Flores

Nogueira Diniz explica (2001, p. 10):

Ao definir a reformulação de uma mensagem dentro da mesma língua como um

processo tradutório, Jakobson estaria abrindo o leque da tradução e deixando

margem para que não se priorize a fidelidade ao texto original e nem se procure o

sentido através da organização interna do texto. Mesmo que se estabeleçam

equivalentes semânticos para os elementos de dois sistemas de signos diferentes, não

se pode abranger todas as nuances de cada um dos sistemas. Por isso, como bem

reconhecem todas as teorias de tradução, não se pode encontrar correspondência

Page 9: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

8

total entre dois textos (sejam eles ou não de sistemas diferentes). Toda tradução irá,

portanto, oferecer sempre algo além ou aquém do chamado original, e o sucesso não

dependerá apenas da criatividade nem da habilidade, mas das decisões tomadas pelo

tradutor, seja sacrificando algo, ou encontrando a todo custo um equivalente.

Nesse caso, a adaptação restaria em ser uma imitação ou reprodução do texto original.

Sendo outro gênero, podemos dizer que a adaptação não precisa necessariamente ser fiel à

obra que está sendo traduzida. Como o próprio nome já nos indica, a adaptação envolve um

ajuste de um texto a outro, sendo necessário que ocorram algumas modificações no momento

em que o roteirista reescreve o texto, sobretudo pela diferença de linguagem.

O cineasta Jorge Furtado, em uma palestra na 10ª Jornada Nacional de Literatura

(2003), em Passo Fundo, explica que ao ler um texto literário, cada leitor cria a imagem

mental das cenas e dos personagens, portanto é um processo natural dizer que não gostou das

cenas e imagens criadas pelo cineasta ou roteirista, já que a concretização nunca será a

mesma, visto virem de leitores diferentes.

A ordem em que as informações são liberadas no cinema ou na literatura são

inteiramente diferentes. Lembro de um trecho de um livro de Dashiel Hammet, o

mais filmável dos romancistas, em que Sam Spade descreve sua entrada numa casa:

"Havia duas mulheres na sala. As duas estavam nuas mas só uma estava morta". A

frase de Hammett nos surpreendente pela avalanche de informações. Hammet

primeiro nos informa que há duas mulheres na sala, depois nos informa que estão

nuas e em terceiro lugar nos informa que uma delas está morta. A adaptação desta

cena para o cinema quase que inevitavelmente perde o caráter surpreendente desta

escolha ao revelar simultaneamente a existência das duas mulheres, o fato de

estarem nuas e o fato de uma delas estar morta. (FURTADO, 2003).

Cada um de nós passa o tempo que julgar necessário na leitura de um texto ou apreciando

uma obra de arte. Já na televisão ou cinema, um filme de uma hora e trinta minutos vai durar

exatamente esse período de tempo para todas as pessoas que assistem ao filme. Aí está uma

das grandes diferenças de uma obra literária para a televisiva, o ritmo da leitura, que também

influencia na interpretação.

As estratégias verbais de construção do universo ficcional são diferentes daquelas

utilizadas no cinema, em que os elementos já trazem uma concretização imagética. Portanto,

uma adaptação não deve ser vista como uma reprodução do texto original, mas sim como uma

mudança de gênero. Em relação ao texto original, pode haver menos ou mais modificações na

passagem para o audiovisual adaptado, pois entram em conta as interpretações subjetivas da

obra original pelos criadores da obra adaptada – o diretor, o casting, o figurinista, o diretor de

fotografia, os atores e sua interpretação, etc.

Page 10: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

9

2.2 As relações transtextuais e a adaptação

Além dos aspectos de utilização dos elementos ficcionais em uma adaptação da

literatura para o cinema, que Gerard Genette (2006) chama de relação hipertextual, existem

também outras formas de fazer referência a um texto em outro. Genette cita cinco instâncias

para as relações transtextuais: intertextualidade, paratextualidade, metatextualidade,

arquitextualidade e, por último, hipertextualidade, que é a que diz respeito à adaptação:

Intertextualidade: a intertextualidade é caracterizada por Genette (2006) pela co-

presença de dois os mais textos, ou seja, a presença de um texto dentro de outro texto,

podendo ocorrer de três formas: citação, que é a forma mais explícita de intertextualidade, no

qual se utilizam aspas com referência precisa ou não; plágio, forma menos explícita de

intertextualidade, que pode ser considerada uma cópia não declarada; alusão, caracterizada

por um enunciado cuja compreensão plena supõe a percepção de uma relação entre o autor do

texto e outro. Um filme, por exemplo, pode apenas fazer referência a algum dos elementos de

um romance.

Paratextualidade: conforme Genette (2006, p. 9), é uma relação menos explícita e mais

distante da obra, constituída pelo conjunto apresentado em uma obra literária como, por

exemplo: “título, subtítulo, intertítulos, prefácios, posfácios, advertências, prólogos, etc.; notas

marginais, de rodapé, de fim de texto; epígrafes; ilustrações; errata, orelha, capa, e tantos

outros tipos de sinais acessórios, autógrafos ou alógrafos”. Uma obra cinematográfica pode,

por exemplo, fazer referência à obra literária da qual é adaptada na capa, nos créditos.

Metatextualidade: para Genette (2006), é a relação que une um texto a outro, sem citá-

lo necessariamente, uma espécie de comentário. Neste caso, os críticos podem encontrar

semelhanças entre um filme e uma obra literária, mesmo que essa relação não seja dada

explicitamente. O metatexto pode ser considerado uma crítica, pois guarda relações com o

texto que lê.

Arquitextualidade: determina o status genérico de um texto, segundo Genette (2006).

Geralmente, essa relação está presente no título ou subtítulo da obra como, por exemplo:

poesias, ensaios, novela. Uma obra cinematográfica pode evocar a poeticidade da obra que

adapta, como no caso do cinema de poesia.

Hipertextualidade: é todo texto que deriva de um texto anterior, tema que o autor se

detém a analisar com maior profundidade na obra. Para Genette (2006, p. 12), é “toda relação

que une um texto B (que chamarei hipertexto) a um texto anterior A (que, naturalmente,

Page 11: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

10

chamarei hipotexto) do qual ele brota, de uma forma que não é a do comentário”. Esse é o

caso das adaptações para a televisão de textos literários.

Todos esses aspectos citados por Genette são necessários quando falamos de

transtextualidade, as relações entre os textos e sua significação, principalmente quando

tratamos da adaptação, a passagem de um texto a outro.

Page 12: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

11

3 OS GÊNEROS E A LINGUAGEM

Quando pensamos em gêneros, podem surgir inúmeras possibilidades, como, por exemplo,

o que diferencia um homem de uma mulher, gênero masculino e feminino. Podemos entender

o gênero também como aquilo que diferencia socialmente as pessoas. Nos estudos biológicos,

podemos ter a definição de gênero como um termo utilizado na classificação de organismos

vivos. No campo da gramática da língua portuguesa, o gênero pode se referir aos diferentes

tipos e classificações de substantivos, por exemplo, os que são: masculinos, femininos,

biformes, heterônimos, entre outros. Por sua vez o gênero literário refere- se ao uso das

palavras para produção de obras literárias. Exemplo: romântico, poético, barroco, etc. O gênero

musical se refere aos vários estilos musicais, como o rock, o jazz, o pop, entre outros.

E ainda podemos considerar os gêneros cinematográficos, que são os filmes de drama,

musicais, western, policiais, infantis, etc.

Ao longo dos últimos anos, com o processo comunicativo passando por diversas

transformações, e transitando por diversos meios, a ideia de gênero começou a passar por um

processo de transformação. Antes se pensava que o gênero era imutável, que era um processo

fechado, agora ele passa a ser entendido como algo mutável, que sofre transformações e

adaptações, porque tem relações com a sociedade em que funciona e sobre a qual age.

Não foram „os‟ gêneros que desapareceram, mas os gêneros-do-passado que foram

substituídos por outros. Já não se fala de poesia e de prosa, de testemunho e de ficção,

mas do romance e da narrativa, do narrativo e do discursivo, do diálogo e do diário.

O fato de a obra desobedecer ao gênero não o torna inexistente; [...] Primeiro, porque a

transgressão para existir enquanto tal, em necessidade de uma lei que será

precisamente transgredida. [...] Mas há mais. A obra não só pressupõe

necessariamente uma regra, para poder ser uma exceção, como também logo que é

reconhecida no seu estatuto excepcional, se torna, por sua vez, graças ao sucesso de

livraria e à atenção dos críticos, uma regra (TODOROV, 1981, p. 47).

A narrativa foi o gênero que mais sofreu modificações ao longo do tempo, ela se

deslocou além da palavra, indo para os meios audiovisuais e posteriormente para o meio

digital, ou seja, o gênero narrativo encontrou outras formas de ser, além da palavra oral e

escrita. Segundo o artigo “Por que se ocupar dos gêneros?” de Irene Machado (2001), o

gênero evolui e se transforma tornando-se elemento comum de diferentes sistemas. O que

existe de comum entre romance, filme, videogame e a hipermídia? Cada um a seu modo

cumpriu o desafio de organizar um dos mais antigos gêneros da tradição ocidental: a

Page 13: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

12

narrativa. Contudo, o modo de contar uma história no cinema não dispõe dos mesmos

recursos usados pela narrativa literária. Por isso, caracteriza-se como outro gênero à parte.

Assim como os gêneros, a linguagem também sofre transformações. Segundo Lúcia

Santaella, no livro Matriz da linguagem e do pensamento (2001), seguindo a teoria do signo

de Charles Sanders Peirce, existem três matrizes da linguagem e do pensamento, que nos

levam a compreender como os signos são formados, e como a linguagem e os meios se

misturam, são elas: a linguagem sonora, a visual e a verbal

A sonora está ligada a audição, realiza a primeiridade, pois está sob o ponto de vista da

qualidade, fugacidade, e tem como prioridade a sintaxe. A visual, está ligada ao sentido da

visão, realiza a secundidade, por haver uma presentificação, trata-se dos objetos, é singular, e

tem como propriedade a forma. A verbal, diretamente ligada à verbalização, realiza a

terceiridade, está ligada a mente e tem como propriedade o discurso.

Como abordado anteriormente, podemos notar que cada matriz corresponde à uma

categoria, a sonora corresponde a de primeiridade, visual à secundidade e verbal à

terceiridade, portanto, cada uma destas categorias encontrará correlação a cada matriz da

linguagem e do pensamento.

Para Santaella (2001), todo pensamento, linguagem ou raciocínio se dá em signos e se

desenvolve somente por meio de símbolos. Ela afirma ainda que as matrizes de linguagem

não são puras, elas se misturam, são híbridas. A sonoridade não é percebida apenas pelo

ouvido, a visualidade também é tátil e absorve a lógica da sintaxe do domínio sonoro, a verbal

absorve a sintaxe do domínio sonoro e a forma do domínio visual. Isso significa que, mesmo a

literatura sendo uma linguagem do signo visual escrito, ainda assim são ativadas todas as

matrizes do pensamento quando a lemos, pois formalizamos imagens e sons.

Santaella (2001) ressalva ainda a linguagem de hipermídia, que surgiu com a explosão

da cultura de massa e da tecnologia, convergindo as diferentes linguagens e tornando-se um

lugar com características inéditas no ambiente da informação.

Em seguida esmiuçaremos o gênero literário, atendo-nos principalmente ao romance, e

também o gênero televisivo, abordando as séries televisivas.

3.1 A literatura

Entendemos a literatura de um modo geral como um conjunto de obras literárias, de valor

estético, pertencentes a um país, a uma época ou a um gênero. A literatura vem acompanhando

a história do homem através do tempo, seguindo os comportamentos e tendências de

determinadas épocas. Contudo, ela não pode ser entendida somente como um conjunto de

Page 14: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

13

obras literárias, mas também como um registro histórico e artístico.

Como a literatura é difícil de ser conceituada, pois depende de muitos fatores históricos

relacionados a cada período, vamos nos ater aos gêneros literários, que, por sua vez, estão

classificados em três grandes gêneros. E a partir desses gêneros teremos ramificações, que

podem ser classificados como subgêneros. São eles: o lírico, o narrativo e o dramático.

Aristóteles foi o primeiro a dividir a produção dos textos em diferentes categorias, no

séc. IV a. C. A sua divisão, baseada nos textos que circulavam em sua época, foi feita em três

gêneros: o lírico, o épico e o dramático. O gênero lírico é caracterizado pela presença do

ritmo, ou seja, é um poema cantado – enquanto se declamava o poema, ao fundo eram tocados

instrumentos, principalmente a lira. O épico agrega as narrativas em versos, através das quais

são contadas histórias de um povo – os mitos - em torno da figura de heróis. O dramático, por

sua vez, é o gênero dos teatros, pois os textos são voltados para a encenação nos palcos, e

são divididos em comédias e tragédias.

A divisão feita por Aristóteles no período grego-clássico impulsionou a concepção de

gêneros e foi considerada por muitos anos, durante a Idade Média e até o Renascimento. No

entanto, segundo Hênio Tavares (1969), no livro Teoria literária, começaria a existir a

necessidade de um estudo mais aprofundado sobre os gêneros na fase moderna. Neste período,

a concepção de gênero foi mudando um pouco de forma, mesmo porque os próprios textos

eram diferentes, e percebeu-se que nem tudo poderia ser classificado em apenas um gênero.

Assim começou-se a classificação dentro de cada gênero da literatura.

Para Hênio Tavares (1969), os gêneros líricos passaram a ser aqueles que expressam

sentimentos e emoções através de poesia, explorando a sonoridade, o ritmo e a melodia.

Pertencem ao gênero lírico: a prosa poética, que são textos em prosa que guardam uma

proximidade subjetiva entre o sujeito que fala e a emoção; e o poema, que são as formas

poéticas de estrutura fixa e as espécies literárias, como as odes, as elegias, os sonetos, etc.

Os gêneros dramáticos estão ligados a representações teatrais, escritos para serem

exibidos em palcos, em obras teatrais, os textos narrados pelos personagens através da

representação. A forma pode ser em prosa ou verso, o conteúdo pode ser objetivo ou objetivo-

subjetivo e a composição é representativa (TAVARES, 1969).

Os gêneros narrativos ou épicos constituem a maior gama de subdivisões. Como o

próprio nome já diz, o gênero narrativo é aquele que narra, conta um fato, uma história

normalmente em prosa, desenrolando-se em uma trama com início, meio e final. Para

Page 15: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

14

Tavares (1969), a forma pode ser em prosa ou verso – mas o distanciamento entre o narrador e

o conteúdo narrado é maior, por isso não é lírico. O gênero épico tem por método fundamental

a narração. Entre os gêneros narrativos modernos, existem dois grandes ramos, em prosa ou

verso, que se subdividem.

Em verso há a canção de gesta, a balada, a epopeia, o poema heroico, o poema herói-

cômico, o poema burlesco, o poema alegórico ou prosopopaico. O último ainda pode ser

dividido entre fábula e apólogos. As narrativas em prosa se dividem em romance, epopeia,

novela, conto e crônica, anedota, fábula, apólogo e parábola (TAVARES, 1969).

Ainda para Tavares (1969), o gênero narrativo mais representativo da modernidade, e

que aqui nos importa, é o romance, um dos mais lidos ainda hoje e cujas histórias abrangem

os mais variados temas, históricos, psicológicos, experimentais, cientificistas ou aventureiros.

Este gênero do narrativo volta-se para o homem como indivíduo, surgindo na Idade Média

com o romance de cavalaria, modificando-se a partir de D. Quixote, de Cervantes, e

estendendo-se por diversas formas narrativas até chegar ao romance contemporâneo. Conforme

Georg Lukács (2000), o romance é a narrativa do herói problemático, surgido na modernidade

e respondendo à sociedade conforme a epopeia respondia àquele mundo descrito por

Aristóteles. Analisando a produção da sua época, tal como fez Aristóteles em seu tempo,

Lukács dividiu o gênero romanesco em três tipos: o romance do idealismo abstrato, que tem

como protagonista um personagem cuja consciência é muito simples para compreender o

mundo, como em Dom Quixote; o romance psicológico, cujo herói não se adapta ao mundo

porque sua consciência é mais ampla, como em Educação sentimental, de Flaubert; e o

romance pedagógico, quando o protagonista renuncia conscientemente a compreender o

mundo, como em Wilhelm Meister, de Goethe.

Independentemente da forma como apresenta o protagonista em relação ao mundo, o

gênero romanesco possui elementos que o estruturam, como o narrador, o enredo, personagens,

espaço e tempo. O enredo trata-se do modo como se organizam os acontecimentos, em como a

fábula é narrada. Nos romances tradicionais, até o período do Romantismo, os enredos eram

geralmente apresentados em ordem cronológica, construindo o que é chamado de romance

fechado (TAVARES, 1969).

Começava por uma apresentação na qual são definidas as personagens, as

circunstâncias do enredo, a ambiência; prosseguia com a complicação, quando se

encadeiam os fatos, que chegam ao clímax, isto é, ao ápice da ação e ao encontro da

solução; e terminava com o epílogo, quando geralmente é o leitor informado sobre o

destino das personagens. (SOARES, 1999, p. 45).

Page 16: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

15

De acordo com os estudos de Angélica Soares (1999) e Hênio Tavares (1969), com a

ascensão do romance, na contemporaneidade, começa a surgir a forma aberta, que não apenas

estende linearmente o enredo, ocorrendo até a ausência de um desfecho, como deixa mais

elementos para a interpretação do leitor. Essa indeterminação pode ocorrer também nos

elementos espaço-temporais. Toda narrativa se constrói pela centralidade de uma ação que se

desenrola em um determinado espaço e tempo, que, neste último caso, pode ser cronológico

ou psicológico. O primeiro acontece de acordo com uma ordem prevista, seguindo o tempo do

relógio. Já o segundo não segue a ordem normal dos acontecimentos, não obedece à sequência,

mas, sim, o pensamento, misturando presente, passado e futuro.

O espaço na narrativa é o conjunto de elementos da paisagem exterior, o local em que se

desenvolve a ação, podendo ser físico ou psicológico. O foco narrativo, ou ponto de vista,

trata-se de como o narrador observa a história, a partir de uma posição que é espaço- temporal,

mas também de relação com as personagens e suas ações. Segundo Santaella (2001), para Jean

Pouillon, existem três tipos de focos narrativos: no primeiro, o narrador conhece tudo sobre

as personagens; no segundo, o narrador sabe tanto quanto as personagens; e no último caso o

narrador limita-se ao que vê.

Segundo Angélica Soares (1999), no livro Gêneros literários, as personagens são

conceituadas como parte fundamental do enredo, pois são elas que dão sentido à trama, como

também um elemento importante do próprio gênero romanesco, visto que o sujeito passa a ser

o centro da narrativa, com suas idiossincrasias. Normalmente temos, em um romance, uma

personagem principal, que é o protagonista, e as personagens secundários, porém, em muitos

romances dois personagens assumem conjuntamente a centralidade.

Identificamos as personagens principais pelo retrato físico e psicológico que o narrador

apresenta conforme forem importantes esses elementos para a história. As personagens

secundárias também são retratadas segundo os aspectos físicos e psicológicos, porém de uma

forma não tão detalhada, dependendo aí daquela distância entre elas e o narrador e a

importância de sua constituição para a história narrada. É importante ressaltar que uma

personagem não é necessariamente uma pessoa, mas todo elemento personificado que age ou

sofre a ação na narrativa, com determinada descrição e função no enredo (SOARES, 1999).

Destacam-se, ainda, do elenco de seres de papel que o romance constrói, o narrador e o

narratário. O narrador não pode se confundido com o autor, mas pode apresentar-se como

personagem, quando participa da ação. É o narrador que reconstrói a história através do

enredo e a organiza de forma que seja um todo significativo. Já o narratário é o leitor com

quem o narrador dialoga, aquele para quem a obra está sendo organizada (SOARES, 1999).

Page 17: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

16

3.2 A televisão

A televisão foi criada como meio de entretenimento e comunicação há mais de noventa

anos; no entanto, foi apenas a partir dos anos 1950 que ela começou a invadir os lares. Sua

interação com o receptor requer um sistema de transmissão de imagem e som através de um

aparelho denominado televisor. Esse aparelho funciona através de um sistema eletrônico que

converte as ondas eletromagnéticas formadas da captação da luz e do som em imagem na tela

do aparelho. Essas imagens, na maioria dos casos, estão sendo formadas em um ponto distante

de seu destino através de equipamentos como câmeras e microfones e enviadas através

do sinal eletromagnético que é distribuído por uma antena a um grande número de antenas

secundárias e delas aos aparelhos que temos em nossas casas (QUE CONCEITO, 2016).

Historicamente, no geral, a televisão teve seu real desenvolvimento após a Segunda

Grande Guerra, após o desenvolvimento de sua tecnologia, a queda dos preços dos aparelhos

e o aumento do consumo. Tomaremos por base a história da televisão estadunidense, que foi

onde surgiram as séries televisivas. Em As séries televisivas, Jean-Pierre Esquenazi (2011)

mostra como a difusão televisiva conhece os seus primeiros êxitos nos bares e tabernas dos

centros urbanos, tendo assim como principais espectadores os homens de diversas classes

sociais, que se reuniam normalmente para assistir às programações esportivas. Assim, em sua

primeira fase, a televisão desenrola-se no espaço público e não no privado.

Por volta de 1950, a tendência começa a mudar, as vendas de televisores aumentam

significativamente, e assim ela vai tomando boa parte dos lares, tornando-se um espetáculo

familiar. Quanto à sua programação, surge o espetáculo de vaudeville, que consistia em um

show de sequências curtas e variadas. No entanto, os críticos exigiam programas com maior

continuidade narrativa. Foi aí que surgiram os chamados sitcoms, que são as séries de tv.

Em 1950, surge a primeira sitcom filmada da história da televisão, intitulada I Love

Lucy, e adaptada do sucesso radiofônico My Favorite Husband. A partir daí, as séries

televisivas tomaram sua real importância e assentaram-se nos lares como uma programação

doméstica. A partir da década de 90, a disseminação da internet nos EUA ajudou na

popularização deste gênero, pois a partir dai as pessoas têm mais acesso aos conteúdos,

podendo baixar e compartilhar episódios das séries televisivas.

Page 18: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

17

A propagação do gênero deve-se muito às televisões por assinatura como a Sky, onde é

possível escolher a programação por meio de pacotes pagos, e também a Netflix, que tem

conteúdo sob demanda, ou seja, o espectador decide o que vai assistir dentro de um leque de

filmes, séries e desenhos.

Contudo, é importante ressaltar que a série televisiva, como gênero, é uma herança de

gêneros narrativos, como o romance e a dramaturgia, que foram por sua vez adaptados para as

telas. É possível classificarmos as séries em duas grandes categorias narrativas: as imóveis e

as evolutivas. A primeira garante ao telespectador que regresse a um universo ficcional com

regras invariáveis; já a segunda faz corresponder à sucessão dos episódios, ocorrendo a

evolução das personagens e da passagem do tempo.

Algumas preferem fazer dos seus encontros com os públicos reiterações de uma

mesma estrutura, negando assim a passagem do tempo histórico. Nestas séries, as

personagens são sempre iguais a si mesmas e o universo ficcional não evolui.

Maggie, a bebé Simpson, chupa a sua eterna chucha hoje como há 18 anos. O

tenente Columbo nunca passa à reforma e faz as suas investigações há quase 30 anos

sempre da mesma maneira. Outras séries, pelo contrário, aceitam utilizar o tempo

cronológico como uma passadeira entre o pragmático e o narrativo: o universo

pessoal da série envelhece um pouco em cada um dos seus encontros com o público,

ou vida humana, fazendo dele um dado narrativo. (ESQUENAZI, 2011, p. 93).

As séries imóveis dominaram o cenário televisivo por muito tempo, mas as séries

evolutivas foram ganhando espaço, sobretudo com a chegada da internet e a mudança de

comportamento dos espectadores. Esse gênero consiste na utilização de ganchos, a ação não

termina, mas o episódio sim, portanto para saber o que acontecerá com o personagem, o

telespectador precisará assistir ao próximo episódio.

As séries imóveis propõem aos telespectadores a segurança de encontrarem uma

estrutura ficcional fixa e personagens idênticas a si mesmas. No entanto o tempo

passa e os telespectadores envelhecem. Por que não fazer evoluírem ao mesmo

tempo os personagens ficcionais das séries? (ESQUENAZI, 2011, p. 103).

As séries corais, por sua vez, são a mistura de gêneros, a transferência de um gênero a

outros, permitindo numerosas variações. As séries corais possuem elementos folhetinescos,

que se assentam em formas de causalidade mais rigorosas, ligadas à sucessão dos episódios.

O cenário brasileiro foi bastante influenciado pelos americanos, tendo como um de seus

primeiros sucessos a minissérie Alô, Doçura, inspirada no grande sucesso americano I Love

Lucy. O maior sucesso das séries televisivas no Brasil se deu entre os anos 50 e 60; após essa

fase, as telenovelas foram ganhando espaço e conquistando os telespectadores. Atualmente

Page 19: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

18

ainda são exibidas algumas séries de TV por temporada em algumas emissoras, porém as

telenovelas têm mais espaço nos lares brasileiros. Algumas séries que caíram no gosto

popular brasileiro são Tapas & Beijos, que foi ao ar em temporadas de 2011 a 2015; A

Grande Família foi uma série que fez muito sucesso durante um grande período de tempo,

entre 2001 e 2014. A série foi muito popular, pois caiu no gosto do público ao fazer de sua

protagonista uma tradicional família de classe média com todos os seus problemas e alegrias,

identificando-se com o público, que finalmente se sentia retratado na televisão.

Existem também as séries que não são feitas por temporadas, mas sim em sequência, em

determinados dias por semana ou até mesmo em dias subsequentes, como foi o caso de Capitu

e Dupla Identidade. Normalmente as séries brasileiras, nos canais abertos, são exibidas após o

horário nobre, tendo como objetivo o público adulto.

Atualmente existe uma lei do conteúdo nacional de emissoras. Isso significa que, no

horário nobre da televisão, os canais por assinatura, pagos, deverão transmitir a programação

nacional. Por esse motivo, estão surgindo novas séries brasileiras.

Page 20: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

19

4 DE DOM CASMURRO A CAPITU

4.1 A minissérie Capitu: a mesma história

A minissérie Capitu foi parte integrante do Projeto Quadrante, da Rede Globo de

Televisão. Esse projeto tinha como objetivo adaptar quatro obras literárias para a televisão no

formato de minissérie. Seu idealizador foi o diretor Luiz Fernando Carvalho.

O primeiro texto adaptado foi A pedra do reino (2007), baseada na obra O romance d’A

Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta, do autor Ariano Suassuna. No ano

seguinte, foi lançada a minissérie Capitu (2008), uma adaptação do livro Dom Casmurro, de

Machado de Assis. Após a exibição da minissérie, o projeto foi engavetado.

A minissérie foi apresentada em cinco capítulos, exibidos entre os dias 9 e 23 de

dezembro de 2008, no horário das 23h. O roteiro adaptado é de Euclydes Marinho, e o texto

final e a direção são de Luiz Fernando Carvalho.

A estrutura da série televisiva é dividida em capítulos, como o livro, em que foram

explorados 120 dos 148 capítulos, descartando, assim, 28. O texto verbal, tanto aquele do

narrador quanto o dos personagens, é o mesmo, porém com alguns cortes e pequenas

modificações.

Como hipotexto, Dom Casmurro serve de inspiração para muitas outras narrativas, pois

seu tema é atemporal e trouxe personagens representativos de um sentimento muito comum,

que é o ciúme. Capitu não é uma cópia do romance, mas, sim, uma releitura da obra, pois traz

a interpretação de seus produtores na adaptação para outra linguagem. Por exemplo, Capitu

traz elementos do circo e da ópera em sua montagem, e o espaço em que se desenrola a

história nos remete à dramaturgia, como um cenário que lembra o teatro, bem como os

personagens que aparentam estar encenando, utilizando as expressões faciais como um dos

principais recursos.

Na obra Dom Casmurro, a cidade do Rio de Janeiro é um espaço importante para o

desenrolar dos acontecimentos, como era costume de Machado de Assis; porém, na

minissérie, esse contexto não foi explorado, pois as cenas são gravadas no mesmo lugar, não

aparece a cidade que foi tão citada pelo narrador.

Publicado pela primeira vez em 1899, Dom Casmurro é uma das grandes obras de

Machado de Assis. A história do romance é narrada pelo protagonista, Bento Santiago, anos

após os fatos terem ocorrido. A série é narrada por um narrador na maior parte do tempo

presente nas cenas, narrador personagem, embora ele traga os acontecimentos do passado,

Page 21: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

20

além dos personagens que utilizam o discurso direto, quando Bentinho presentifica a cena. Ele

relata a história de sua vida desde os seus 14 anos de idade, começando com a explicação de

por que ele tem a alcunha de “Dom Casmurro” e acaba justificando esse apelido pela narração

de toda a sua vida.

A história se centraliza no romance entre o protagonista-narrador, Bento Santiago, o

Bentinho, e Capitolina, a Capitu, e num possível romance entre esta, quando eles já eram

casados, e Escobar, melhor amigo de Bentinho. Tudo que sabemos deste triângulo amoroso é

contado através da visão do narrador, a partir de sua desconfiança e sua amargura. Como ele

próprio parece não ter provas absolutas, embora encaminhe o leitor para a traição, não

podemos saber com certeza se ela ocorreu ou não.

Assim como na obra que a originou, na série televisiva Capitu o narrador também é o

próprio protagonista, que conta os fatos já no fim da vida, aparecendo diversas vezes entre as

cenas e os personagens. A estrutura narrativa é dividida em duas fases, o amor adolescente

entre Capitolina e Bento Santigo, e o ciúme que Bento, já casado com Capitu, passa a ter de

sua esposa.

A história se concentra, assim como no livro, nos dilemas morais e afetivos de Bentinho

na adolescência, e trata de questões atemporais, como relações interpessoais, afetos familiares,

amor, desejo, religião, vocação. E, também como no livro, a narrativa é também uma crítica

aos costumes da elite da sociedade da época.

Os figurinos da série remetem ao século dezenove, época em que se passa a história,

mas o diretor lança mão de elementos contemporâneos, como um mp3, tatuagens – a própria

Capitu tem uma – e estilos musicais diversos, que não existiam à época, na composição das

cenas. Ao comparar as duas histórias, o romance e a série adaptada, falaremos sobre esses e

outros recursos. Já o grande mistério da obra foi mantido: Capitu traiu ou não Bentinho?

4. 2 De um lado para o outro: de Dom Casmurro a Capitu

Logo na abertura da série podemos perceber a fusão da contemporaneidade com o

antigo: hora aparece a cidade do Rio de Janeiro nos dias atuais, com o trem urbano todo

grafitado, hora o trem passa a ser um antigo, uma maria fumaça, quando a imagem se mostra

envelhecida.

Page 22: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

21

Figura 1 – Abertura da série.

Figura 2 – Abertura da série.

O cenário, a partir daí, quando a história começa propriamente, não sofre grandes

modificações, todos os acontecimentos se passam na casa da rua de Matacavalos e cercanias,

mas são internos. Com exceção de pouquíssimos momentos como, por exemplo, a cena em

que aparece Capitu indo à igreja, a maioria das cenas se passam no mesmo pavilhão, somente

algumas modificações são feitas, ora para imitar a entrada de uma casa, ora para imitar a visão

da rua. O cenário faz lembrar um palco teatral. A trilha sonora é de cantores atuais, como a

música “Elephant Gun”, da banda Beirut, tema de Bentinho e Capitu. Músicas de bandas

famosas de rock’n roll também foram usadas, como Iron Man, Black Sabbath, e ainda

Page 23: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

22

músicas de Jimi Hendrix e Janis Joplin. A contemporaneidade musical contrapõe-se às

vestimentas dos personagens, que lembram trajes de época.

Para essa pequena análise comparativa entre o romance Dom Casmurro e a minissérie

Capitu, as relações serão feitas através de nossa interpretação e ponto de vista, cotejando os

capítulos que tratam da figuração dos personagens Bentinho, Capitu e Escobar, além de

capítulos decisivos do enredo. Observaremos também a figuração de alguns personagens

secundários, como Dona Glória, José Dias, Tio Cosme e Tia Justina.

Como a parte verbal permanece a mesma, vamos priorizar a questão da configuração

visual e os cortes, relacionando com as relações transtextuais da adaptação. Os capítulos que

sofreram cortes, ou que não aparecem na minissérie, não mudam o sentido da obra, o seu

enredo, pois os capítulos cortados não são de relevância para o entendimento do todo, já que o

livro tem muitos capítulos e muito nos diz naqueles que não sofreram cortes. Assim,

colocamos sob nosso foco os capítulos: II – “Do livro”; XXXII – “Olhos de Ressaca”; LVI –

“Um seminarista”; CXXIII – “Olhos de ressaca”; CXXXVI – “A xícara de café”; CXXXVII –

“Segundo impulso, CXXXVIII – “Capitu que entra”. Atentando para a divisão capitular do

diretor, que não foi feita como no livro, nossa intenção é trazer à tona a interpretação de Luís

Fernando Carvalho em sua adaptação audiovisual.

Antes de o autor iniciar o capítulo “Do livro”, ele explica o título do livro, destinando o

nome ao moço do vagão de trem que o apelidou como Dom Casmurro. “O meu poeta do trem

ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá

cuidar que a obra é sua” (MACHADO, 2000, p. 13).

O capítulo narra o propósito de Bentinho de escrever o livro de sua vida, justificando-o.

Como o próprio narrador conta, ele deseja “atar as duas pontas da vida” (MACHADO, 2000,

p. 14). Assim, ele traz ao leitor como é a sua vida no momento da narração, já na maturidade,

descrevendo a casa em que vive, que é uma reconstituição da casa onde morava quando

criança, na Rua de Matacavalos, justamente mostrando essa amarração, entre o seu passado e

o seu hoje. O protagonista-narrador mostra-se entediado com sua vida atual, sente um grande

vazio, por esse motivo resolve atar as duas pontas da vida, como o próprio narrador fala.

Estes foram os principais motivos que levaram Bentinho a escrever a sua biografia, da

infância até a maturidade.

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, restaurar na velhice a

adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em

tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá;

um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e

está lacuna é tudo .(MACHADO, 2000, p. 14).

Page 24: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

23

Na minissérie, o capítulo “Do livro” inicia com o narrador, o próprio Bentinho, já mais

velho, assim como no livro, deixando mais clara essa passagem do tempo entre a história a ser

narrada e o momento da narração, pois o narrador é então mais idoso que o personagem. Este

narrador se faz presente nas cenas que narra, ora aparece atrás de cortinas ou até mesmo na

própria cena, ora está próximo dos personagens enquanto eles conversam e tudo acontece,

como uma aparição invisível para eles. Além disso, o narrador revive os fatos, mostrando

expressões intensas de riso, choro, surpresa, entre outras. Essas reações do narrador em

relação ao que ele conta mostram-se interpretações da história, visto que verbalmente, no

romance, elas não são tão claras para o leitor. Ele fala em primeira pessoa, diante das cenas, e

usa o texto praticamente na íntegra, com pouquíssimas modificações do original. O cenário

desse capítulo é a casa de Bentinho, a antiga casa de Matacavalos, que foi reconstruída por

ele. Alguns detalhes da casa aparecem na cena, parte da decoração do ambiente, as estátuas

nas paredes. Em vista da curvatura do personagem, dada pelo ator que o interpreta, e seu olhar

cansado e às vezes meio alucinado, a questão de que a história de sua vida não tem final feliz

vem claramente à tona.

Figura 3 – Bentinho narrador em Do livro.

“Olhos de ressaca” é o capítulo que apresenta Capitu (Capitolina). Neste capítulo

Bentinho e Capitu estão na adolescência e Bentinho descreve a personagem de Capitu

detalhadamente, principalmente sobre os olhos. No livro, essa emoção é retratada pelo

narrador. Neste caso, Luis Fernando Carvalho não se afastou do original, a cena demonstra

uma emoção similar à do livro, a mesma descoberta do personagem em uma nova

Page 25: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

24

experiência, apenas dando vida ao papel. Os personagens recriam a cena com a mesma riqueza

de detalhes com que o escritor a escreve, interpretando as palavras do livro com gestos e

expressões.

Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que

foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra

da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de

ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluído

misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se

retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras

partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas

tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e

escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me (MACHADO, 2000, p. 55).

Na minissérie, o narrador aparece por trás do cenário, por entre os lençóis, narra e

observa a cena. Bentinho pede para ver os olhos de Capitu, e o narrador faz a descrição dos

olhos de Capitu, como no livro, porém com cortes. A expressão de tristeza do narrador ao

recordar é muito forte na cena. Fica muito clara a posição do narrador na minissérie, é

possível perceber que o narrador está contando a história como uma maneira de reviver todas

aquelas emoções. Esta ideia de reviver a história com toda a emoção que ela causa não fica

tão clara no livro, pois ela não aparece nas palavras do narrador. Na tela, ele evidencia aquilo

que no livro pode vir apenas com o esforço do leitor.

Figura 4 - Bentinho narrador observando Capitu e Bentinho na cena em

que Bentinho observa os olhos de Capitu.

Após a descrição dos olhos, por parte do narrador, Bentinho pede a Capitu para pentear

os seus cabelos, fazendo uma trança. No livro, este capítulo é separado e é intitulado como “O

Penteado”. Na minissérie, o capítulo está dentro de “Olhos de ressaca” justamente para não

Page 26: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

25

ocorrer quebra na sequência da cena, pois os capítulos se correlacionam e dependem um do

outro, na descrição de Capitu, que, na minissérie, é ainda mais o foco de Bentinho: “Capitu

deu-me as costas, voltando-se para o espelhinho. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-os todos e

entrei a alisá-los com o pente, desde a testa até às últimas pontas, que lhe desciam à cintura”

(MACHADO, 2000, p. 56).

Na tela, muitas partes da narrativa foram cortadas, pois a imagem é autoexplicativa,

como, por exemplo, quando no livro o narrador diz: “Onde estava a fita para atar-lhes as

pontas? Em cima da mesa, um triste pedaço de fita enxovalhada” (MACHADO, 2000, p. 57).

Já na minissérie não é preciso a narração detalhada nesse caso, pois o público está vendo,

aparece Bentinho procurando com os olhos a fita e qual é o seu aspecto.

Logo após a cena do penteado ocorre a cena do beijo. A cena é rápida, mas no livro esse

acontecimento tem uma duração maior, pois há a voz do narrador descrevendo o que se passa

na cabeça do personagem; na cena a narração não acontece, apenas o recurso visual é

utilizado na adaptação.

Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava

sentada, de costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso

acudir com as mãos e apará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois

sobre ela, rosto a rosto, mas trocados, os olhos de um na linha da boca do outro.

Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço. Cheguei a

dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu. (MACHADO, 2000, p. 57).

Figura 5 - Cena do primeiro beijo entre Capitu e Bentinho.

Na série, o capítulo “Sou homem” não aparece também como separado de “Olhos de

ressaca” como está no livro. Após o beijo, a mãe de Capitu entra no cômodo, Bentinho, ainda

Page 27: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

26

tomado de emoção pelo acontecido, não consegue dissimular, ao contrário de Capitu. A

emoção do beijo fica clara por parte do personagem, ficando imóvel. Esta passagem na

minissérie, intitulada de “Olhos de ressaca”, demonstra a maturidade de Capitu em relação a

Bentinho e principalmente explica o porquê de José Dias fazer tal descrição dos olhos dela.

Capitu não era tão ingênua como Bentinho, esta passagem diz mais sobre Capitu do que sobre

os acontecimentos na narrativa.

O capítulo “Um seminarista” conta sobre o personagem Ezequiel de Souza Escobar,

que Bentinho descreve como:

Um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugitivo, como as mãos, como os pés,

como a fala, como tudo. [...] Não fitava de rosto, não falava claro nem seguido; as

mãos não apertavam as outras, nem se deixavam apertar delas, porque os dedos,

sendo delgados e curtos, quando a gente cuidava tê-los entre os seus, já não tinha

nada. O mesmo digo dos pés que tão depressa estavam aqui como lá. (MACHADO,

2000, p. 86).

Escobar era mais velho que Bentinho, por este motivo tornou-se conselheiro dele e logo

amigos inseparáveis. Na minissérie, Escobar não é descrito com tantos detalhes como no

livro, pois ele é construído apenas com a parte audiovisual e não com a narração. A

apresentação do personagem na minissérie é um pouco peculiar, parecendo mais com um

clipe musical, com uma trilha sonora um tanto quanto pesada, o que vem a explicar depois o

que Escobar representa na história. No livro o personagem entra na história como os outros, a

partir da descrição verbal; já na tela, Escobar logo no primeiro momento dá a entender que

não será um personagem secundário na trama, pois ele traz uma carga sensória diferente.

Figura 6 - Ezequiel de Souza Escobar, no seminário.

Page 28: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

27

Quatro capítulos são dedicados à morte de Escobar no livro: “A catástrofe”, “O enterro”,

“Olhos de ressaca” e “O discurso”. O capítulo que trataremos especificamente é “Olhos de

ressaca”, a fim de comparar o olhar de Capitu diante de Escobar. O título é o mesmo

daquele que trata especificamente do olhar de Capitu, quando de sua entrada na história.

Neste, o narrador sugere sua desconfiança sobre as relações de Capitu com o amigo. Segundo

a voz do narrador, “a confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes

para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas

lágrimas poucas e caladas...” (MACHADO, 2000, p. 161).

O capítulo do livro que trata especificamente desse olhar de Capitu para Escobar, na

minissérie, está junto com “O enterro”. A passagem é rápida, o narrador não aparece nesse

momento, mas é possível perceber a tristeza e a aflição de Bentinho, como se estivesse

morrendo por dentro, não pela morte do amigo, mas sim por achar que o olhar de Capitu

naquele momento não era apenas de tristeza por perder um amigo, mas sim por estar perdendo

um amante. Novamente Luis Fernando Carvalho juntou os capítulos que tratam do mesmo

acontecimento para evitar a quebra da cena com a inserção do título. As imagens não

esclarecem ao leitor qual era a real relação entre Escobar e Capitu, assim, não é possível,

mesmo com a interpretação dos atores, saber se Capitu estava apenas triste pela perda de um

amigo ou pela perda de um amante. A única difença do livro para a minissérie é que nesse

momento Capitu aperta os olhos, e isto não está no livro.

Figura 7 – Capitu despedindo-se de Escobar, no caixão.

Page 29: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

28

Figura 8 – Bentinho observando as reações de Capitu.

“A xícara de café”, juntamente com “Segundo impulso” e “Capitu que entra”, formam

os três capítulos de maior dramaticidade na narrativa, pois, no primeiro, Bentinho pensava em

suicídio e já havia comprado a substância necessária para cometer o ato, misturando a mesma

ao próprio café, porém hesitou. Nesta altura da história, na minissérie, fica clara a perturbação

de Bentinho na cena, pois a imagem externa todos os sentimentos do personagem, sentimentos

esses que as palavras do narrador no livro não conseguiram passar, pois já que o audiovisual

proporciona isso ao receptor, através da dramatização do ator, não são necessárias tantas

palavras.

No livro, Bentinho, em meio a toda confusão mental, escuta a voz do pequeno Ezequiel,

que acabava de entrar correndo no cômodo. O desenrolar do acontecimento prossegue no

próximo capítulo, denominado de “Segundo impulso”. Bentinho pensa em assassinar o

menino com o café envenenado.

Inclinei-me e perguntei a Ezequiel se já tomara café.

- Já, papai; vou à missa com mamãe. - Toma outra xícara, meia xícara só. - E papai? - Eu mando vir mais; anda, bebe! Ezequiel abriu a boca. Cheguei-lhe a xícara, tão trêmulo que quase a entornei, mas

disposto a fazê-la cair pela goela abaixo, caso o sabor lhe repugnasse, ou a

temperatura, porque o café estava frio... Mas não sei que senti que me fez recuar.

Pus a xícara em cima da mesa, e dei por mim a beijar doidamente a cabeça do

menino. - Papai! papai! exclamava Ezequiel. - Não, não, eu não sou teu pai! (MACHADO, 2000, p. 173).

Page 30: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

29

No capítulo seguinte, Capitu chega no mesmo cômodo que ambos e observa o final da

conversa entre os dois, quando Bentinho diz ao menino que não é o pai dele. Bentinho

descreve-a apenas como quem parecia estar lívida, não dá maiores detalhes sobre a expressão

facial de Capitu. O mesmo ocorre na minissérie, não é possível distinguir o olhar que Capitu

faz, se ele dá alguma ideia de culpa, ela apenas parece mais contrariada do que no livro.

Não disse tudo; mal pude aludir aos amores de Escobar sem proferir - lhe o nome.

Capitu não pôde deixar de rir, de um riso que eu sinto não poder transcrever aqui;

depois, em um tom juntamente irônico e melancólico: - Pois até os defuntos! Nem

os mortos escapam aos seus ciúmes! (MACHADO, 2000, p. 175).

A interpretação do ator na minissérie novamente dá a ideia da perturbação do

personagem, pois ele, diferentemente do livro, repete a frase sobre não ser pai de Ezequiel

quatro vezes e aos gritos. Nessa sequência de cenas, o narrador não aparece tanto, pois no

livro ela é presentificada pelo discurso direto entre os personagens. O afastamento do narrador

é maior na minissérie, pois é o ator que traz a carga dramática, sem necessidade de narração.

Na minissérie, o riso de Capitu que Bentinho não consegue descrever é mais um

movimento sutil dos lábios, quase um desdém, não há propriamente riso. Ali, os mesmos

capítulos foram utilizados a fim de descrever essa passagem. “A xícara de café” mostra toda

angústia de Bentinho com relação à situação, quando ele coloca o veneno que havia comprado

no café, e depois hesita, dizendo que é melhor esperar Capitu sair de casa com o filho.

Figura 9 – Bentinho em “A xícara de café”.

Page 31: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

30

No capítulo “Segundo impulso” Bentinho pensa em matar o próprio filho, assim como

no livro. Ele insiste para que o menino tome o café e, em seguida, desiste de tal ação

abraçando o menino e enchendo-o de beijos, dizendo que o garoto não é seu filho.

Figura 10 – Bentinho tenta envenenar o filho, em “Segundo impulso”.

Em “Capitu que entra” existem algumas diferenças, Capitu não demonstra ar de riso na

cena, como Bentinho narra no livro, e não existe narrador presente na cena da minissérie, ao

contrário do livro, quando o narrador é quem descreve Capitu, seus gestos e expressões.

Capitu não se senta como no livro e mantém uma postura firme durante toda a discussão, com

ares de acusada, apenas nega, pega o filho e vai embora.

Figura 11 – Capitu em “Capitu que entra”.

Page 32: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

31

4. 3 Figuração de personagens: palavras e imagens

4.3.1 O agregado

José Dias é um personagem secundário, chamado por Bentinho de agregado, pois mora

na casa de Matacavalos com a família de Bentinho, porém não possui nenhum parentesco com

a família. No capítulo de sua descrição, Bentinho explica como aconteceu, por que ele mora

há anos na casa de Matacavalos e tem tanto prestígio com Dona Glória.

Era nosso agregado desde muitos anos; meu pai ainda estava na antiga fazenda de

Itaguaí, e eu acabava de nascer. Um dia apareceu ali vendendo-se por médico

homeopata; levava um Manual e uma botica. Havia então um andaço de febres; José

Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração.

Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre. (MACHADO, 2000, p. 18).

José Dias voltou dali a duas semanas e passou a acompanhar a família. Tempos depois

confessou que não passava de um charlatão. Porém, continuou na família e com o tempo foi

tomando seu espaço.

Na minissérie, José Dias tem uma figuração muito próxima à do livro, porém com

pequenos cortes dos trechos que o descrevem. Fica evidente na minissérie que José Dias é um

boa vida, gosta de vestir-se bem e quer lucrar com certos acontecimentos, por exemplo,

quando deu a ideia a Bentinho de ir estudar fora do país, evidentemente ele iria junto.

Figura 12 – José Dias chegando ao Rio de Janeiro.

Page 33: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

32

4.3.2 Tio Cosme

Tio Cosme vivia com Dona Glória desde que ficou viúvo. Era advogado, e tinha o

próprio escritório. O narrador descreve Tio Cosme: “Era gordo e pesado, tinha a respiração

curta e os olhos dorminhocos”. (MACHADO, 2000, p. 20).

Na minissérie, Tio Cosme é descrito da mesma forma pelo narrador, porém não tem um

capítulo específico para falar sobre ele, ao contrário do livro.

Figura 13 - Tio Cosme.

4.3.3 Dona Glória

O capítulo “D. Glória” fala sobre a mãe de Bentinho, explicando que ela enviuvou

muito cedo, quando tinha trinta e um anos de idade.

Ora, pois, naquele ano da graça de 1857, D. Glória Fernandes Santiago contava

quarenta e dois anos de idade. Era ainda bonita e moça, mas teimava em esconder os

saldos da juventude, por mais que a natureza quisesse preservá-la da ação do tempo.

Vivia metida em um eterno vestido escuro, sem adornos, com um xale preto,

dobrado em triângulo e abrochado ao peito por um camafeu. Os cabelos em bandós,

eram apanhados sobre a nuca por um velho pente de tartaruga; alguma vez trazia

touca branca de folhos. Lidava assim, com os seus sapatos de cordovão rasos e

surdos, a um lado e outro, vendo e guiando os serviços todos da casa inteira, desde

manhã até à noite. (MACHADO, 2000, p. 21).

Page 34: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

33

Quanto à minissérie, Dona Glória tem um capítulo à parte, e aparece rodeada de escravas

ajudando-a a vestir-se, sempre de preto, representando o luto pela morte do marido. O

narrador disserta sobre as características da mãe de Bentinho. Dona Glória na minissérie foi

descrita pelo narrador assim como no livro, como uma boa mulher, bonita e ainda jovem, a

narração é feita com as mesmas palavras porém com alguns cortes. As suas vestimentas, na

minissérie, reforçam a ideia de riqueza.

Figura 14 – Dona Glória.

Page 35: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

34

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tradução de uma linguagem para outra, tradução intersemiótica, como a realizada de

um romance para um texto audiovisual, é um grande desafio para os tradutores. Quando

falamos de Dom Casmurro, trabalhamos não apenas com um dos romances mais lidos de

Machado de Assis, mas também com um texto bastante lacunar, tornando ainda mais

complexa a adaptação. Luis Fernando Carvalho, quando adaptou Dom Casmurro, dando à

minissérie o nome de Capitu, já nos tira a ideia de uma simples releitura e nos leva a uma

nova perspectiva. Isso nos remete à adaptação não somente como o ato de transportar de uma

mídia a outra, mas como uma maneira específica de contar a história, dando um novo olhar e

outra perspectiva, mesmo sem sair do enredo.

Quando lemos um romance, sempre, de alguma forma, construímos visualmente

personagens e espaço, mas nem sempre os desenhamos em nossas mentes com todos os

detalhes, até porque eles podem não ser importantes. Por exemplo, nem sempre concretizamos

qual é a expressão facial dos personagens em uma cena. Já nas telas a configuração visual é

imprescindível, então os autores da adaptação precisam estudar minuciosamente o texto para

conseguir uma definição da figuração e da expressão dos personagens, a movimentação, o

modo como olha, caminha, veste-se, etc. É preciso dar vida aos personagens e ao ambiente, de

uma forma que é sempre interpretativa. No caso de Capitu, sem fugir do enredo, Luís

Fernando Carvalho utiliza recursos para tornar a adaptação tanto legítima quanto ímpar – é a

obra de Machado, mas a seu modo particular.

As modificações de Luis Fernando Carvalho, ao trazer a obra para a contemporaneidade,

tem o intuito de levar o receptor a conversar com ela. Em Capitu, a identificação entre

espectadores de televisão e texto ocorre por meio dos recursos utilizados pelos personagens,

equipamentos modernos, que não existiam na época em que o livro foi escrito. Além das

tatuagens e da trilha sonora, um desses recursos utilizados nas cenas é o MP3 player,

mostrando ao receptor que a obra pode ser atemporal.

A minissérie Capitu, ao mesmo tempo em que traduz o enredo do livro, traz marcas

particulares, fazendo da série uma tradução única, com características próprias, fugindo do

convencional e ao mesmo tempo sem deixar de contar aquela mesma história sobre amor,

ciúme e desconfiança.

Capitu surge a partir de uma interpretação de Luis Fernando Carvalho, dando vida aos

personagens e um novo olhar ao enredo e ao cenário, que faz lembrar os elementos teatrais,

tanto os personagens quanto o cenário, leitura essa que pode ser feita, pois no livro o narrador

Page 36: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

35

cita o teatro, ele se compara muitas vezes a Otelo. Justamente por essas diferenças de cenário

e de leitura da obra, Luis Fernando Carvalho optou pela escolha do título Capitu pelo fato de

estabelecer a ideia de um diálogo com a obra original e com a personagem. Outro motivo do

título foi demonstrar que a minissérie não é uma simples reprodução do original.

Page 37: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

36

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Poética. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. 123 p.

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. 31ª. ed. São Paulo: Ática, 2000.

CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. In: Ciência e Cultura. São Paulo.

USP, 1972. CARVALHO, Luiz Fernando. Capitu. Rio de Janeiro: Globo, 2009. 2 DVDs vídeo (VHS) (300

min.: NTSC : son., color.

DINIZ, Thaïs Flores Nogueira. Literatura e cinema: tradução, hipertextualidade, reciclagem.

Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2005.

ESQUENAZI, Jean-Pierre. As séries televisivas. 1ª. ed. Lisboa: Texto e Grafia, 2011.

FURTADO, J. A adaptação literária para cinema e televisão. Palestra na 10ª Jornada Nacional

de Literatura, de 29 de agosto de 2003. Casa de cinema de Porto Alegre. Disponível em:

<http://www.casacinepoa.com.br/as-conex%C3%B5es/textos-sobre

cinema/adapta%C3%A7%C3%A3o-liter%C3%A1ria-para-cinema-e-televis%C3%A3o>.

Acesso em: 8 set. 2015.

GENETTE, Gerard. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Extratos traduzidos do francês

por Luciane Guimarães e Maria Antônia Ramos Coutinho. Belo Horizonte: FALE/UFMG,

2006.

HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Trad. André Cechinel. Florianópolis: Editora

da UFSC, 2013.

LUKÁCS, György. A teoria do romance. Trad. José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo:

Editora 34, 2000.

LUZ, Cristina Rego Monteiro; SANTOS, Pablo Victor Fontes. História da Televisão: do

Analógico ao Digital, [S.l]: Invocom, Vol. 4. nº 1, 2013. Disponível em:

<http://portcom.intercom.org.br/revistas/index.php/inovcom/article/viewFile/1599/1567>. Acesso em: 10

maio. 2016.

SOARES, Angélica. Gêneros literários. 5. ed. São Paulo: Ática, 1999. 85 p.

STAM, R; RAENGO, A. Literature and film: a guide to the theory and practice of film

adaptation. Oxford: Blackwell, 2005.

MACHADO, Irene. Por que se ocupar dos gêneros? Revista Symposium, Ano 5, nº 1, janeiro-

junho 2001. Disponível em:<http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/3194/3194.PDF>. Acesso

em: 8 jun. 2016.

QUE conceito. Site e dicionário online. Disponível em: <http://conceito.de/televisao>. Acesso

em: 22 maio 2016.

SANTAELLA, Lúcia. Matrizes da linguagem e pensamento: sonora, visual, verbal. São Paulo:

Iluminuras, 2001.

Page 38: Paloma Schilling - repositorio.unisc.br · gêneros e o no último são feitas relações entre a minissérie e o livro Dom Casmurro. ... pode-se atribuir à literatura natureza e

TAVARES, Hênio. Teoria Literária. 4. ed. [S.l.]: Bernardo Álves,1969.

TODOROV, Tzvetan. Os gêneros do discurso. Tradução Ana M. Leite. Lisboa: Edições 70,

1981.