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PANORAMA DA ARBITRAGEM EM CONTRATOS COMERCIAIS INTERNACIONAIS NO STJ 1 Luciana S. S. Desessards* RESUMO Às vésperas da Lei de Arbitragem – Lei 9.307/1996 completar 15 anos de vigência, e, também, desde a promulgação da Emenda Constitucional n. 45, em dezembro de 2004, que atribuiu ao Superior Tribunal de Justiça a competência para a homologação de sentenças arbitrais estrangeiras, há uma série de decisões que sobre elas versam, que por essa Corte proferidas, das quais, a partir de uma análise, já se torna possível identificar o posicionamento que esse Tribunal vem tendo em relação aos contratos comerciais que resolvidos por meio de arbitragem internacional, e da própria arbitragem, de um modo geral. Com isso, já é possível chegarmos a uma conclusão se esse posicionamento incentiva, ou não, a inclusão da cláusula arbitral nos contratos. Nesse compasso, pertinente saber como vem se dando a relação entre a via arbitral e a Justiça Estatal, quando ambas necessariamente devem se encontrar para que uma sentença arbitral internacional surta aqui seus efeitos. Assim, o presente estudo visa fazer um levantamento quantitativo e qualitativo de todas as decisões do STJ que digam respeito à homologação de sentenças arbitrais estrangeiras que tenham tido por objeto um contrato comercial internacional. Palavras chave: Arbitragem. Cláusula arbitral. Contrato. STJ. Pesquisa. 1. INTRODUÇÃO É hoje realidade o fato de que a economia está cada vez mais acelerada, instigando o comércio internacional, de modo que, como conseqüência direta, há um aumento da necessidade de utilização de vias jurídicas alternativas que possam se alinhar a essa expansão dos negócios. Não restam dúvidas, portanto, que a arbitragem vem como opção a essa necessidade, vez que, além de impulsionar sua aplicação na solução de conflitos de forma rápida e eficiente, com a edição da lei que a instituiu no Brasil, reforçou ainda mais as oportunidades de utilização do 1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso em Ciências Jurdídicas e Sociais, apresentado como requisito à obtenção de título de bacharel em direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. *Graduanda em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]

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PANORAMA DA ARBITRAGEM EM CONTRATOS COMERCIAIS

INTERNACIONAIS NO STJ 1

Luciana S. S. Desessards*

RESUMO

Às vésperas da Lei de Arbitragem – Lei 9.307/1996 completar 15 anos de vigência, e, também, desde a promulgação da Emenda Constitucional n. 45, em dezembro de 2004, que atribuiu ao Superior Tribunal de Justiça a competência para a homologação de sentenças arbitrais estrangeiras, há uma série de decisões que sobre elas versam, que por essa Corte proferidas, das quais, a partir de uma análise, já se torna possível identificar o posicionamento que esse Tribunal vem tendo em relação aos contratos comerciais que resolvidos por meio de arbitragem internacional, e da própria arbitragem, de um modo geral. Com isso, já é possível chegarmos a uma conclusão se esse posicionamento incentiva, ou não, a inclusão da cláusula arbitral nos contratos. Nesse compasso, pertinente saber como vem se dando a relação entre a via arbitral e a Justiça Estatal, quando ambas necessariamente devem se encontrar para que uma sentença arbitral internacional surta aqui seus efeitos. Assim, o presente estudo visa fazer um levantamento quantitativo e qualitativo de todas as decisões do STJ que digam respeito à homologação de sentenças arbitrais estrangeiras que tenham tido por objeto um contrato comercial internacional. Palavras chave: Arbitragem. Cláusula arbitral. Contrato. STJ. Pesquisa.

1. INTRODUÇÃO

É hoje realidade o fato de que a economia está cada vez mais acelerada,

instigando o comércio internacional, de modo que, como conseqüência direta, há um

aumento da necessidade de utilização de vias jurídicas alternativas que possam se

alinhar a essa expansão dos negócios. Não restam dúvidas, portanto, que a

arbitragem vem como opção a essa necessidade, vez que, além de impulsionar sua

aplicação na solução de conflitos de forma rápida e eficiente, com a edição da lei

que a instituiu no Brasil, reforçou ainda mais as oportunidades de utilização do

1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso em Ciências Jurdídicas e Sociais, apresentado como requisito à obtenção de título de bacharel em direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. *Graduanda em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]

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recurso em âmbito internacional, principalmente no que se refere às relações

comerciais – já diz Luiz Olavo Baptista.2

Assim, temos que, se por um lado é bem verdade que os primeiros anos do

advento da Lei de Arbitragem - Lei 9.307/96 - foram marcados por diversas

discussões que questionavam a sua constitucionalidade, e, por conseqüência,

também a sua aplicabilidade, ocasionando certo receio quanto à sua utilização e

inclusão da cláusula arbitral nos contratos, por outro, vivemos hoje um momento de

segurança jurídica quanto à utilização da via arbitral, já que, em 2001, o Supremo

Tribunal Federal afirmou a constitucionalidade da Lei de Arbitragem, dando fim às

discussões que ainda pendiam a respeito, de modo a não gerar espaço, hoje, a

quaisquer dúvidas atinentes à perfeita regularidade legal do instituto da arbitragem

no Brasil.3 Desde então, o Brasil vem recuperando os tantos anos de atraso em

relação aos outros países no que tange ao avanço da prática arbitral, se igualando,

pois, às mais avançadas economias, nas quais a arbitragem já possui tradição no

ordenamento jurídico.

Uma prova disso é que, conforme Pedro Batista Martins, “o número de

contratos com cláusula compromissória cresce vertiginosamente”4, sugerindo,

inclusive, a tendência que a inclusão da cláusula arbitral, com o tempo, venha se

tornar praxe, e não mais exceção. Batista Martins refere, ainda, que “o País, enfim,

passou a ser visto pelos empresários e advogados estrangeiros como ‘amigo da

arbitragem’, mas que, no entanto, ainda há muito por avançar.”5 Neste ínterim, tendo

em vista que, em se tratando de sentenças arbitrais proferidas fora do Brasil, para

que essas possam aqui surtirem seus efeitos, dependem de serem homologadas

pelo Superior Tribunal de Justiça, desde que lhe foi atribuída tal competência, em

dezembro de 2004, através da promulgação da Emenda Constitucional n. 45.

Verificou-se, então, que seria muito oportuna a realização de estudo passível de

identificar e diagnosticar o posicionamento desta Corte em relação a arbitragem,

como forma de constatar se o órgão responsável pela homologação da sentenças

2 Palavras de Luiz Olavo Baptista em artigo “Além das Fronteiras”, em publicação da Câmara de Comércio Brasil Canadá – Ago/Set. 2008, p. 12/13.

3 MACHADO, Rafael Bicca. A arbitragem como ''saída'' do PoderJudiciário? (Algumas relações entre Direito e Economia com apoio em Albert O. Hirschman), p. 359 In: JOBIM, Eduardo; MACHADO, Rafael Bicca. (Org.). Arbitragem no Brasil. 1. ed. São Paulo, 2008.

4 Palavras de Pedro A. Batista Martins em artigo “Cultura Arbitral”, em publicação da Câmara de Comércio Brasil Canadá – Ago/Set. 2008, p. 12/13.

5 Idem, ibidem

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arbitrais estrangeiras tem acompanhado, ou não, a arbitragem em seu caminho em

direção ao progresso.

Para isso, tem este artigo como foco a análise pelo STJ das decisões

arbitrais derivadas de conflitos oriundos de contratos comerciais internacionais, ao

passo que, identificando-se se o seu posicionamento incentiva, ou não, a inclusão

da cláusula arbitral nos contratos, significa a possibilidade de se prognosticar o rumo

que a arbitragem tende a tomar nos próximos tempos em relação à sua prática e às

relações de comércio internacional que envolvam players brasileiros. Já diz Luiz

Olavo Batista que “um bom contrato internacional faz referência à lei da

arbitragem”.6 Assim, resta saber se o STJ também compartilha desse pensamento.

Desse modo, o resultado dessa pesquisa permitirá que se obtenha noção do

atual nível de aceitação da arbitragem no país. Ainda mais, quando a opção por

essa via alternativa se faz em relação a um Judiciário moroso e também, de certa

forma, não suficientemente preparado para enfrentar a complexidade e a

peculiaridade de um litígio derivado de uma relação firmada por um contrato

internacional, como é o caso da hodierna situação da Justiça estatal no Brasil. O que

não significa dizer que isso se trate de uma deficiência do Poder Judiciário, mas sim,

que investir em treinamento aos nossos magistrados com foco em análises tão

casuísticas e excepcionais não compensaria o investimento, nem o tempo

despedido com tal estudo e desperdiçado do exercício da atividade-fim dos

magistrados, qual seja, o julgamento dos processos como forma geral.

Nesse sentido, as considerações tecidas por Timm e Jobim, de que,

no mundo real das empresas, que operam dentro de uma lógica econômica (custo/benefício), custas judiciais elevadas, um sistema com problemas de morosidade, com procedimentos demasiadamente complexos, exagerado sistema recursal, falta de conhecimento específico na matéria em julgamento e falta de previsibilidade podem encorajar as partes a usarem mecanismos alternativos de resolução de conflitos, sendo a arbitragem o mais importante deles pela sua característica jurisdicional.7

Este trabalho, portanto, visará à análise de todas as decisões do STJ em

sede de homologação de sentença arbitral estrangeira, que versem sobre contratos

6 Palavras de Luiz Olavo Baptista em artigo “Alem das Fronteiras”, em publicação da Câmara de Comércio Brasil Canadá – Ago/Set. 2008, p. 12/13.

7 TIMM, Luciano Benetti; JOBIM, Eduardo. A arbitragem, os Contratos Empresariais e a Interpretação Econômica do Direito. Direito e Justiça. Porto Alegre, v. 33, n. 1, p. 80-97, 2007.

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4

comerciais resolvidos por arbitragem internacional, em busca de que se obtenha um

panorama desses contratos perante o Superior Tribunal de Justiça, e, após isso, se

buscará constatar se o tribunal responsável pela homologação das sentenças

arbitrais estrangeiras incentiva, ou não, a inserção da cláusula arbitral nos contratos.

2. APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA

Por muito tempo, o Brasil não foi tido como um país que reconhecesse e

incentivasse as chamadas vias ADR’s – Alternative Dispute Resolutions, e,

conseqüentemente, como um país em que a arbitragem tivesse papel significativo

como via alternativa à solução de litígios, ficando atrás, assim, de muitos outros

ordenamentos jurídicos os quais a arbitragem há muito tempo já é aceita como para

tanto, com avançados estudos na área. De acordo com as ilustres palavras de

Selma Lemes, o Brasil, com uma legislação arbitral apropriada, com o apoio do

Judiciário e a ratificação de diversas convenções internacionais vem tentando

recuperar o atraso e superar o estado de letargia que o acometeu por mais de 60

anos, já que a última iniciativa na área fora em 1932, com a ratificação do Protocolo

de Genebra sobre Cláusulas Arbitrais. Assim, explica que a citação do renomado

arbitralista francês René David, a qual classifica como célebre, de que “o Brasil era

uma ilha de resistência à arbitragem” cai no ostracismo. Reproduzindo as palavras

de Lemes, “é folha dobrada, pois não obstante a questão envolva mudança de

paradigma, nasce e floresce uma nova era de arbitragem no Brasil”.8

Neste ínterim, então, por diversas razões, entre as quais se pode citar o

avanço da economia no País, bem como uma situação atual de maior segurança

jurídica em relação à arbitragem do que a que tínhamos há alguns anos atrás,

dentre outros diversos motivos, são responsáveis pelo crescimento do instituto no

nosso País.

Estudo promovido pelo Comitê Brasileiro de Arbitragem (CBAr) e pela

Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (Direito GV), publicado

na Revista Brasileira de Arbitragem n. 19, em agosto de 2008, menciona que

predomina, entre professores, pesquisadores e advogados que estudam e trabalham

com a arbitragem, a percepção de que o instituto tem passado por uma verdadeira

8 LEMES, Selma ferreira. O desenvolvimento da arbitragem no Brasil e no Exterior. Revista Vasca del Derecho Procesal y Arbitraje. 2005.

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revolução em nosso País, deixando de ser uma técnica de composição totalmente

desconhecida, tal como ocorria antes de 1996, para incorporar-se cada vez mais à

cultura jurídica brasileira, particularmente à prática empresarial.9

Tal pesquisa, a propósito, traz justamente uma radiografia da situação da

arbitragem em relação aos nossos Tribunais e também às Cortes Superiores, de

modo que faz um mapeamento, análise e tabulação criteriosos e precisos das

decisões sobre arbitragem que existiam até o momento em que foi realizada. O

referido estudo teve como objetivo realizar um mapeamento geral das decisões

judiciais sobre os casos de arbitragem decididos pelo Judiciário Brasileiro, no âmbito

dos Tribunais Estaduais, Regionais Federais e Superiores, o qual foi atingido de

modo muito acertado e preciso, conseguindo ilustrar o panorama do Judiciário

Brasileiro acerca da relação entre arbitragem e o Poder Judiciário.

Pela pesquisa realizada pela Direito GV e pelo CBAr já se sabe que

praticamente metade (49%, conforme publicação da pesquisa)10 das decisões do

STJ que versam sobre arbitragem são acerca da homologação de sentença

estrangeira. Portanto, em relação ao especificamente ao Superior Tribunal de

Justiça, órgão competente à homologação das sentenças arbitrais estrangeiras, é

também pertinente um mapeamento que ilustre o posicionamento desta Corte

Superior frente à questão, ainda mais, levando-se em consideração a tendência de

que a inclusão da cláusula arbitral em contratos comerciais tem cada vez se dado

com mais freqüência. Para Rafael Pellegrini Ribeiro, a reforma no sistema de

reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras foi uma das

principais demonstrações de que o Brasil vem-se alinhando à prática internacional

no que se refere à arbitragem.11

Em 2006, Eleonora Pitombo e Luciano Timm já ressalvavam, o aprendizado

de todos12, como uma das conseqüências do crescimento do instituto, a respeito da

relação que se trava entre Poder Judiciário e a arbitragem, e, diante disso, a

9 Projeto de Pesquisa “A Arbitragem e Poder Judiciário” – Parceria Institucional Acadêmico-Científica da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Direito GV) e do Comitê Brasileiro de Arbitragem (CBAr) – Coordenação Daniela Monteiro Gabbay, Rafael Francisco Alves e Selma Ferreira Lemes. RBAr n. 19, Jul-Set/2008.

10 Idem. p. 22. 11 RIBEIRO, Rarafael Pellegrini. O reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estrangeiras no direito brasileiro. In: JOBIM, Eduardo; MACHADO; Rafael Bicca. (Org.). Arbitragem no Brasil. 1 ed. São Paulo, 2008, p. 419-436.

12 Por todos, os autores entendem os acadêmicos, os advogados, os magistrados, os árbitros e as próprias partes.

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previsibilidade de futuras decisões dos magistrados que digam a respeito a contratos

que contam com a cláusula arbitral, no sentido de que de nada adiantaria dispor nos

contratos uma cláusula arbitral, se previsse que ela não seria aceita pelo poder

Judiciário.13

Assim, o objetivo deste trabalho é efetuar um levantamento empírico-

jurisprudencial de todos os casos já julgados pelo Superior Tribunal de Justiça de

pedidos de homologação de sentença arbitral estrangeira, as quais o objeto se

tratava de contratos comerciais internacionais, até o presente momento – daí a

razão de se ter adotado como critério que ele seja pertinente somente às decisões à

título de SEC – Sentença Estrangeira Contestadas. Ele não visa apontar

explicações, nem tampouco fazer uma análise crítica em relação às decisões. Visa,

sim, contribuir para o diagnóstico do posicionamento do Superior Tribunal de Justiça

em relação à homologação das sentenças arbitrais estrangeiras, de modo que se

possa chegar a conclusão de se ele incentiva ou não a inclusão da cláusula arbitral

nos contratos comerciais, principalmente em relação aos internacionais.

Considerando-se o já exposto otimismo em relação à arbitragem de todos aqueles

que ela estudam, bem como o crescimento que o instituto vem tendo em nosso País,

parte-se do pressuposto de que o estudo que será apresentado terá grande

relevância aos estudos da arbitragem no Brasil.

Para isso, buscou-se a maior abrangência possível, daí a escolha das

palavras adotadas como critério de busca na jurisprudência do endereço eletrônico

do STJ, as quais foram apenas “arbitragem” e “arbitral”, a fim de possibilitar um

resultado primeiro suficientemente genérico e abrangente a impossibilitar a exclusão

de qualquer decisão que se enquadrasse nos critérios de resultado o qual se

almejava alcançar, para, a partir daí, ser feita uma triagem e posterior seleção de

julgados a serem analisados, conforme os critérios adotados para pesquisa, que a

frente serão expostos.

3. DA PESQUISA, SUA METODOLOGIA E CRITÉRIOS ADOTADOS

13 PITOMBO, Eleonora Coelho; TIMM, Luciano Benetti. Arbitragem: Instrumento para a Garantia da Aplicação do Pacta Sunt Servanda em Detrimento dos Amplos Poderes Conferidos aos Juízes Togados pelo Novo Código Civil? Direito de Empresa e Contratos – Estudos dos Impactos do Novo Código Civil. Editora Thomson, 2006.

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3.1 Da metodologia utilizada

O percurso metodológico desta pesquisa se deu, basicamente, em três

etapas.

1a etapa: constituiu na análise quantitativa das decisões judiciais por

palavras chaves e triagem a partir do critério adotado para resultado da busca, para

que se alcançassem todas as decisões existentes em sede de Sentença Estrangeira

Contestada – SEC, conforme logo será explicitado -, a partir de diagnóstico obtido

através da transparência do banco de dados do endereço eletrônico do Superior

Tribunal de Justiça (www.stj.jus.br), em seu sistema de busca jurisprudencial, até

que fosse obtida a totalidade de decisões que se enquadrassem nos critérios

adotados para busca.

2a etapa: constitui na triagem de decisões a partir do resultado de pesquisa,

com a leitura de ementas, e com a posterior exclusão das decisões que resultaram

dos critérios adotados para a busca, mas que não se enquadraram em todos os

critérios selecionados para a realização da pesquisa, ou seja, aquelas decisões em

sede de homologação de sentença arbitral estrangeira que não versassem sobre a

arbitragem em contratos comerciais internacionais. Dessa etapa, restaram

descartadas apenas duas decisões. A primeira, porque do acórdão, foi considerado

que sequer se tratava de sentença estrangeira a ser homologada.14 A segunda,

porque se tratava de pedido de homologação de sentença estrangeira que versava

sobre divórcio. A última busca por decisões se deu em 16.10.2010.

3a etapa: constituiu a fase principal de pesquisa, a qual teve como base a

leitura dos acórdãos selecionados, bem como a análise qualitativa de cada um, a

qual versou a respeito dos argumentos nele utilizados, a qual foi composta dos

fundamentos e da conclusão a respeito do que foi decidido pelo Superior Tribunal de

Justiça em relação a cada uma das decisões analisadas.

3.2 Critérios adotados na pesquisa

14 Trecho do voto proferido nessa pelo Relator, Ministro Francisco Falcão: Em conclusão, não há sentença estrangeira stricto sensu a ser homologada e, tampouco, é legítima a empresa Gespart Comércio Participações Ltda. para solicitar tal homologação a qual, enfim, afrontaria a soberania nacional. (SEC 2.707 –NL, DJe 19.09.2009)

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A metodologia adotada para a realização desta pesquisa, consoante

explicitado anteriormente, é a quantitativa qualitativa de jurisprudência.

Tendo em vista que o objetivo da pesquisa foi ilustrar, da forma mais clara e

objetiva possível, o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça em relação à

homologação de sentenças arbitrais estrangeiras, traçando assim um panorama

atual da questão no Brasil, foi escolhido como critério chave à análise das decisões

que ela se desse apenas em relação às decisões proferidas em sede de SEC –

Sentença Estrangeira Contestada, consoante já foi explicitado.

Apenas não foram analisados, portanto: (i) casos em que a decisão quanto à

homologação foi proferida anteriormente a promulgação da Emenda Constitucional

45, ou seja, casos os quais a competência para a homologação de sentença arbitral

estrangeira não pertencia ao Superior Tribunal de Justiça, já que a busca se deu

apenas no endereço eletrônico desse Tribunal; (ii) casos que, embora tivessem

alguma relação com o tema arbitragem (relação com a Lei 9.307/96), não diziam

respeito a contratos comerciais internacionais; sendo eles, por exemplo, sobre

família, esportes, etc.; (iii) casos julgados em outro grau de recurso, que não o de

sentença estrangeira contestada, tais como em recurso especial, agravo de

instrumento, etc.

Ao final, de acordo com esses critérios, foi encontrado um total de 26

decisões a serem classificadas e detalhadas (resumidas).

4. LEVANTAMENTO DOS CASOS

Eis a lista de todos os casos encontrados na pesquisa. As decisões estão

acompanhadas da informação de (i) qual foi o ministro (a) relator (a) do acórdão; (ii)

a data de sua publicação no DJe; (iii) qual foi o objeto da sentença arbitral e (iv) por

qual corte arbitral foi proferida (quando informado no corpo do acórdão). Além disso,

cada julgado está acompanhado de um resumo, o qual visa ilustrar as principais

razões de decidir adotadas em cada um deles, estando essas sempre relacionadas

com as principais controvérsias ao deferimento do pedido de homologação da

decisão alienígena, as quais são igualmente destacas no relatório de cada SEC. O

rigor do detalhamento de cada decisão está de acordo com a argumentação

constante de cada acórdão. Por fim, as decisões encontram-se ordenadas a partir

dos julgados mais recentes.

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SEC N. 826 - KR – Relator Ministro Hamilton Carvalho – 14.10.2010

Objeto da sentença arbitral: Descumprimento de cinco contratos de compra

e venda de Polietileno de Alta Densidade – HDPE

Sentença proferida pelo Tribunal Arbitral da Câmara Coreana de Arbitragem

Comercial

Principais controvérsias: ausência de anuência expressa em relação à

cláusula compromissória; existência de ação em curso na Justiça brasileira visando

a rescisão de contrato de compra e venda objeto da homologação, bem como

concordata preventiva em que o crédito que a autora postula já foi declarado.

A decisão entende que, não obstante ter havido a adoção da via arbitral

através de cláusula compromissória, no caso, a autora se submeteu voluntariamente

à competência da Justiça estatal, habilitando seu crédito nos autos de concordata

preventiva deferida pela Justiça brasileira, antes da prolação da sentença arbitral.

Dessa forma, aplica o disposto no artigo 6o da Resolução n. 09/200515 do STJ,

considerando que a homologação da sentença implicaria ofensa à soberania.

Pedido de homologação indeferido.

SEC N. 885 – EX – Relator Ministro Francisco Falcão – 10.09.2010

Objeto da sentença arbitral: Descumprimento de contrato de compra e

venda

Sentença proferida pela American Arbitration Association – AAA

Principais controvérsias: inexistência de cláusula compromissória, ausência

de assinatura nos contratos.

A decisão entende que, em razão da ausência de assinatura da parte

requerida que deu origem ao pedido de arbitragem, se torna incontroversa a falta de

obrigatoriedade de submissão ao foro arbitral, por não se poder afirmar a existência

de cláusula compromissória.16

Pedido de homologação indeferido.

15 Art. 6o Não será homologada sentenc a estrangeira ou concedido exequatur a carta rogatória que ofendam a soberania ou a ordem pública.

16 “O certo é que da análise da documentac ão trazida aos autos, não resultou comprovada a existência de cláusula compromissória, inexistindo documento que demonstre o consentimento da requerida com tal procedimento, sem o qual não se pode aferir a competencia do juízo prolator (Lei 9.307, arts. 37, II e 39, II e R.I.S.T.F., art. 217, I).”

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SEC N. 4.415 – EX - Relator Ministro Aldir Passarinho Junior – 19.08.2010

Objeto da sentença arbitral: descumprimento de contrato de compra e venda

Sentença proferida pela International Cotton Association Limited – ICA

Principais controvérsias: Possível ofensa à ordem pública, ação revisional de

contrato em trâmite na Justiça brasileira, ausência de assistência jurídica quando

firmado o contrato o qual previa a via arbitral.

Decisão que considera presentes todos os requisitos à homologação, bem

como inexiste ofensa à ordem publica. Quanto à tramitação de ação revisional do

contrato decidido na arbitragem perante a Justiça brasileira, ressalta que tal

pendência não impede a homologação, sendo esse o posicionamento do STJ em

relação ao ponto. Ressalta a desnecessidade de assistência por advogado para

celebração do compromisso arbitral.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 269 – RU – Relator Ministro Fernando Gonçalves – 10.06.2010

Objeto da sentença arbitral: Anulacão de cláusula de estatuto social

pleiteado

Sentença proferida pelo Superior Tribunal de Comércio da Federacão Russa

Principais controvérsias: ilegitimidade ativa, pelos requerentes não terem

sido parte no processo arbitral; ofensa à ordem pública; violação ao devido processo

legal, ao contraditório, à igualdade processual e à ampla defesa, em razão da lei

aplicada na arbitragem; irregularidade na citação.

A decisão, além do voto do Ministro Relator, conta também com outros dois

votos, proferidos em pedidos de vista, os quais acompanham o voto proferido pelo

Relator.

É destacada a dificuldade da doutrina em estabelecer um conceito de ordem

pública, para que de fato se possa identificar quando há violação à ela. Destaca,

ainda, a impossibilidade, em sede de homologação de sentença arbitral estrangeira,

da discussão sobre relac ão de direito material subjacente à decisão, porque excede

os limites do artigo 9º da Resolucão no 9/STJ. Assim, por entender que, no caso, as

alegações de ofensa à ordem pública e de violação ao devido processo legal, ao

contraditório, à igualdade processual e à ampla defesa, em razão da lei aplicada na

arbitragem se confundiria com o próprio mérito daquilo que fora decidido pelo juízo

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arbitral, são elas afastadas. No que tange à ilegitimidade ativa, esclarece que o

pedido de homologação pode ser proposto por qualquer pessoa interessada nos

efeitos da sentença estrangeira: as partes no processo original, seus sucessores ou

terceiros.

O pedido preencheria os demais requisitos à homologação, contudo, não

restou comprovada a citação ou comparecimento espontâneo de todos os

requeridos no processo que deu origem ao pedido de homologação, razão pela qual

é considerado violado o disposto no art. 5º, II, da Resolução nº 9, de 2005, do STJ17,

requisito indispensável para a homologação18.

Pedido de homologação deferido em parte, somente em relação a uma das

partes requerentes (a qual restou comprovada a regularidade da citação).

SEC N. 3.035 - EX – Ministro Fernando Gonçalves - 31.08.2009

Objeto da sentença arbitral: Inadimplemento de contrato de compra e venda

Sentença proferida pelo Tribunal Internacional de Arbitragem.

Principais controvérsias: possível existência de coisa julgada pela mesma

sentença estrangeira já ter sido objeto de pedido de homologação perante o STJ e

extinto sem julgamento do mérito por ilegitimidade ativa.

A decisão afasta a preliminar de existência de coisa julgada, porquanto

denegac ão da homologação por vício formal não exclui a possibilidade de o autor

intentar novamente a ação, desde que sanado o vício (art. 40 da Lei no 9.306/96).

Pelo ato homologatório da sentenca estrangeira restringir-se à análise dos seus

17 Art. 5º Constituem requisitos indispensáveis à homologação de sentença estrangeira:

I - haver sido proferida por autoridade competente; II - terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia.; III - ter transitado em julgado; e IV - estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de tradução por tradutor oficial ou juramentado no Brasil.

18 “De início, verifica-se que, com exceção da 4ª Requerida (PLODOVAYA COMPANIA), não existe comprovac ão da citação ou do comparecimento esponta neo de todos os requeridos no processo que deu origem ao presente pedido conforme determina o art. 5º, II, da Resoluc ão no 9, de 4 de maio de 2005, do Superior Tribunal de Justiça, requisito indispensável para a homologação. A propósito, a jurisprude ncia desta Corte: "HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. JUSTIÇA ARGENTINA. AÇÃO DE COBRANÇA DE HONORÁRIOS CONTRA EMPRESA BRASILEIRA. CITAC ÃO DA RÉ NÃO COMPROVADA. REQUISITOS PARA A HOMOLOGAÇÃO DESATENDIDOS. PRECEDENTE DESTA CORTE. HOMOLOGAÇÃO INDEFERIDA. 1. Inexiste prova efetiva de que a requerida fora citada para responder os termos da ac ão no Juízo estrangeiro. 2. Desatendido, assim, requisito indispensável à homologac ão, nos termos do art. 5o, II, da Resoluc ão 9/05, desta Corte. 3. Pedido de homologação indeferido." (SEC 969/AR, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Corte Especial, DJ 08/11/2007)”

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requisitos formais, questões que se confundiam com ele (alegações de ofensa à

ordem pública por não ter sido aplicada a legislac ão expressamente determinada no

contrato e ofensa ao princípio da vedacão ao enriquecimento ilícito) não foram

acolhidas.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 3.660 – GB – Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima – 25.06.2009

Objeto da sentença homologada: inadimplemento de contrato de compra e

venda de algodão pela parte brasileira.

Sentença proferida pela International Cotton Association Limited

Principal controvérsia: Validade da citação, efetuada por via postal (courier),

correio eletrônico e fax, e não por carta rogatória.

Fundamentando-se no disposto no parágrafo único do art. 39 da Lei

9.307/96, bem como considerando que o requerido não se desincumbiu do onus

constante no art. 38, III, da mesma Lei, julgou descabida a alegação da necessidade

que a citação se dê por carta rogatória, ante a comprovação de que o requerido foi

comunicado acerca da instauração do procedimento de arbitragem, bem como dos

atos ali realizados, não só por meio das empresas de serviços de courier, mas

também via correio eletrônico e fax.

Pedido de homologação deferido.

SEC No 3.661 - EX – Ministro Paulo Gallotti – 15.06.2009

Objeto da sentença arbitral: Inadimplemento de contrato de compra e venda

de algodão, tendo o procedimento corrido à revelia.

Sentença arbitral proferida pela International Cotton Association

Principais controvérsias: Validade da citação, em razão de todos os pedidos,

documentos e sentença terem sido postados (courier), não tendo sido utilizada a

carta rogatória.

A decisão se fundamenta no disposto no parágrafo único do art. 39 da Lei de

Arbitragem. Leva em consideração que o conjunto probatório presente nos autos

certifica que o requerido teve ciência de todos os atos do procedimento arbitral,

ainda que tenha sido notificado por via postal, tendo sido, portanto, perfeitamente

válidas todas as citações.

Pedido de homologação deferido.

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13

SEC No. 978 - EX – Relator Ministro Hamilton Carvalhido – 05.03.2009

Objeto da sentença arbitral: Descumprimento de contrato de fornecimento

de algodão cru.

Sentença proferida pela Liverpool Cotton Association Limited.

Principais controvérsias: ausência de expressa manifestacão por escrito

(assinatura) de uma das partes acerca da opcão pelo juízo arbitral e demais

considerações a ele relativas.

A decisão considera que por não haver no contrato de fornecimento de

algodão cru e seu termo ativo comprovação de anuência (assinatura ou visto) da

parte requerida em relação à cláusula de eleição de árbitro, essa fica ressentida da

concordância com a eleição da via arbitral. Assim, teve que, ausente dos autos

prova de expressa manifestação de vontade em renunciar à jurisdição estatal em

favor da arbitral, o pedido importou violação ao art. 4o, §2o, da Lei no 9.307/96

(princípios da autonomia da vontade e ofensa à ordem publica brasileira) era inviável

a homologação (artigos 5o, inciso I e 6o da Resolução n. 9 do STJ).

Pedido de homologação indeferido.

SEC N. 894 - UY – Relatora Ministra Nancy Andrighi – 09.10.2008

Objeto da sentença arbitral: Inadimplemento de contrato de fornecimento e

montagem dos elementos necessários para a construção e término da

implementação comercial de duas linhas transmissão de alta tensão.

Sentença proferida pela Corte Internacional de Arbitragem da Ca mara de

Comércio Internacional.

Principais controvérsias: Possibilidade, ou não, de homologação da

sentença arbitral, dada a existência de ação judicial que contesta a sentença arbitral

em trâmite no Uruguai (ausência de trânsito em julgado); incorporação de uma das

empresas requeridas por outra, alterando o pólo passivo, litigância de má-fé.

O julgado considerou não haver falar em litigância de má-fé, por ter sido

perfeitamente valida a citação através de edital, porquanto, anteriormente a ela,

foram feitas diversas tentativas de citação pessoal da requerida. Nenhum óbice

quanto à incorporação de uma das empresas requeridas por outra empresa, eis que

a incorporadora assume todos os direitos e obrigações da incorporada, transmitidos

globalmente por efeito do negócio único que estipularam.

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14

Entendeu não haver existência de coisa julgada anterior, pois a sentença a

qual a parte requerida sustentou estar pendente de trânsito em julgado não era

judicial, mas sim, uma sentença arbitral, a qual a homologação se faz

desnecessária, sendo inaplicável, portanto, a Súmula 420 do STF.

O fato de a carta de intenções assinada pelas partes ser anterior ao vigor da

Lei de Arbitragem foi considerado irrelevante para aplicação da mesma, bem como

inviável a aplicação do revogado artigo 1.097 do CPC, que previa a necessidade de

homologação judicial do laudo arbitral para que esse produzisse efeitos de sentença

judiciária.

No restante, feita uma analise da questão à luz dos artigos 38 e 39 da Lei de

Arbitragem (os quais listam os motivos para que a homologação da sentença

arbitram seja denegada), não foi verificado nenhum óbice ao deferimento do pedido

de homologação.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 1.302 – KR – Relator Ministro Paulo Galotti – 06.10.2008

Objeto da sentença arbitral: pagamento de indenização, em razão de danos

decorridos de rescisão contratual.

Sentença arbitral proferida pela Camara Coreana de Arbitragem Comercial.

Principal controvérsia: legitimidade para propor a homologação, uma vez

que a requerente do pedido não figurou como parte no processo arbitral.

A decisão considerou que qualquer pessoa interessada tem legitimidade

para requerer a homologação de sentença estrangeira. Neste caso, a requerente é

representante exclusiva no Brasil da empresa que foi condenada pelo juízo arbitral

ao pagamento de indenização à empresa ora requerida. O objetivo de ter proposto o

pedido de homologação da sentença arbitral se deu em razão de a empresa

vitoriosa na demanda arbitral ter ajuizado contra a ora requerente, perante o

Judiciário Brasileiro, nova ação, a qual encontrava-se em trâmite quando do

julgamento do pedido de homologação, sob o mesmo objeto da demanda arbitral,

que já havia sido decidida.

Foi feita, ainda, uma análise da questão à luz dos pressupostos presentes

nos artigos 37 e 38 da Lei n. 9.307/96.

Pedido de homologação deferido.

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SEC N. 2517 – US – Relator Ministro Fernando Gonçalves – 21.02.2008

Objeto da sentença arbitral: Pagamento de valores devidos ao requerente.

Sentença arbitral proferida pelo Tribunal de Falências dos Estados Unidos -

Distrito Central da Califórnia - Divisão Norte.

Principais controvérsias: eventuais nulidades da citação, por não ter sido o

mandado assinado, e da sentença homologanda, por conter suposta rasura,

correspondente a assinaturas de pessoas que não constam do processo.

A decisão, quanto à ausência de assinatura do mandado de citação, baseia-

se na fé pública do oficial de justiça, que, no caso, fez constar da certidão a recusa

do requerido em assinar o documento.

No que tange à possível rasura existente da sentença, esclareceu não se

tratar de rasura que impossibilite a leitura, mas simples correção de operação

aritmética. O Oficial do Tribunal no qual foi proferida a sentença afirmou ser a

constante dos autos copia idêntica a original, bem como, a pedido do Relator, foram

refeitas as operações aritméticas (que envolveram a rasura), de modo que estavam

essas de acordo com as consignadas na sentença.

A decisão entende não haver violação as requisitos dispostos nos artigos 38

e 38 da Lei de Arbitragem.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 831 – RF – Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima - 19.11.2007

Objeto da sentença arbitral: inadimplemento de contrato (acordo de

consórcio).

Sentença arbitral proferida pela International Court of Arbitration, da

International Chamber of Commerce – ICC.

Principais controvérsias: Incorporação de empresa, parte do contrato

inadimplido, por outra, que não foi signatária do contrato o qual constava a previsão

pela arbitragem; possíveis vício na citação e ofensa ao contraditório. Possível ofensa

à ordem pública, por ter sido o acordo firmado anteriormente a edição da Lei de

Arbitragem, em 1996.

A decisão considera presentes os requisitos da Lei de Arbitragem, bem

como das disposições da Convencão de Nova York, com eficácia interna autorizada

pelo Decreto n° 4311/2002, para homologação da sentença. Quanto a incorporação

que ocorrera entre as empresas, e a alegação de ofensa ao princípio do

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contraditório a ela relacionada, a decisão afirma que foi fortemente demonstrado ter

sido exercido, em plenitude, o direito de defesa da requerida perante a Corte

Arbitral, onde, além de discutir a jurisdição, veio a aceitá-la, adendo a ata de missão,

e tendo apresentado defesa de mérito, tendo assim, também, confirmado a cláusula

arbitral. Afirma ser pacífica a incidência das normas da Lei de Arbitragem, ainda que

o contrato tenha sido firmado anteriormente a sua edição.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 839 – EX – Relator Ministro Cesar Asfor Rocha – 13.08.2007

Objeto da sentença arbitral: rescisão de contrato de compra e venda

Sentença proferida pela Câmara Arbitral dos Cafés e Pimentas do Reino de

Havre, França.

Principais controvérsias: supostas inexistência de compromisso arbitral e

ilegitimidade da Câmara Arbitral que proferiu a decisão.

O julgamento se baseia na análise dos requisitos impostos pelos artigos 38

e 39 da Lei de Arbitragem à homologação da sentença, os quais restaram

confirmados, e o mesmo quanto aos requisitos da Resolução n. 09 do STJ.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 1.210 – EX – Relator Ministro Fernando Gonçalves – 06.08.2007

Objeto da sentença arbitral: inadimplemento de contrato de compra e venda

de algodão.

Sentença proferida pela Liverpool Cotton Association, hoje denominada

International Cotton Association.

Principal controvérsia: Suposta invalidade da cláusula arbitral no contrato.

Restado comprovada a existência de compromisso arbitral no contrato de

compra e venda firmado entre as partes, a decisão considerou que a pactuação de

cláusula compromissória no bojo do contrato celebrado entre as partes, por si só, é

suficiente para levar a discussão e a solução da controvérsia estabelecida à Corte

Arbitral escolhida, ressalvando que tanto a cláusula compromissória quanto o

compromisso arbitral são causas de convenção que dão origem ao processo arbitral.

Quanto aos demais aspectos, restaram preenchidos os requisitos dos

artigos 38 e 39 da Lei de Arbitragem, bem como da Resolução n. 09/2005 do STJ.

Pedido de homologação deferido.

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SEC N. 349 – JP – Relatora Ministra Eliana Calmon – 21.05.2007

Objeto da sentença arbitral: descumprimento de contrato internacional de

licenciamento e transferência de tecnologia

Sentença arbitral proferida pela Associacão de Arbitragem Comercial do

Japão.

Principais controvérsias: Não estar a empresa requerida submetida à

sentença arbitral porque, ao tempo da assinatura do contrato, não havia lei

disciplinando a arbitragem no Brasil; existência de litispendência, em razão de que

havia no STJ Recurso Especial pendente de julgamento, que aguardava o desfecho

do processo.

Trata-se de caso polêmico, com divergência de posicionamentos entre

ministros, tendo sido o caso submetido à Corte Especial.

O posicionamento da Ministra Relatora, amparou-se, basicamente, em

precedentes do STF, no sentido de que a convenção de arbitragem tem aplicação

imediata, de modo que, tendo a requerida comparecido a corte arbitral e

apresentado defesa, não poderia questionar a sua submissão a ela. Quanto a

litispendência, entendeu a Relatora inexistirem prejuízos em relação ao julgamento

da SEC, de modo que, caso houvesse qualquer prejuízo, o reflexo seria na ação

pendente de julgamento.19 Assim, considerou estarem presente os requisitos à

homologação da sentença.

Por outro lado, houve posicionamentos contrários à homologação,

inaugurados por voto-vista do Ministro Ari Pargendler, foram no sentido de que20 não

19 “Entendo inexistir a prejudicialidade em relac ão a esta SEC. Se prejudicialidade houver, o reflexo

será na ação pendente de julgamento, na qual foi decidido que não tem a ora requerente interesse em recorrer à Justiça brasileira, sendo portanto carecedora de ação. Como está a requerida submetida à Justiça Arbitral Japonesa, diante da imediata aplicação da Lei de Arbitragem às avenças antecedentes, não poderia recorrer à Justiça brasileira. A independência e soberania do Poder Judiciário se faz presente, porque não acoberta brasileiros que assinam contrato, aceitam subordinação à Justiça Arbitral, elegem o foro do Japão para dirimir controvérsias contratuais e depois, escudando-se na cidadania brasileira, voltam-se contra a decisão arbitral. Como bem destacou o douto representante do Ministério Público Federal, "fica, então, à lei brasileira, no caso, examinar se a sentença estrangeira é a compatível com a ordem pública local".

20 “Em suma: a irrelevância do processo alienígena exaure a sua significac ão no fato de a existência dele, mesmo iniciada em data anterior, não constituir obstáculo ao exercício da atividade cognitiva pela Justiça nacional sobre a lide. Essa atividade desenvolver-se-á normalmente; e, consumada que seja através da emissão de sentença, o respectivo trânsito em julgado impedirá, em termos definitivos, qualquer repercussão, no território nacional, do resultado a que se chegue no outro país – a não ser, é claro, que se venha a rescindir, por decisão irrecorrível, a sentença brasileira, caso em que desparecerá, como bem se compreende, o óbice à homologação da

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18

se poderia considerar ter havido renuncia à Justiça Brasileira, de modo que a

homologação, amparados, principalmente, pelo argumento de que a cláusula

compromissória, na época em que ajustada, não implicava automaticamente a

renúncia da jurisdição brasileira.21 Na decisão, este segundo posicionamento,

contrário à homologação, restou vencido.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 611 EX - Relator Ministro João Otávio de Noronha – 11/12/2006

Objeto da sentença arbitral: Contratos de Joint Venture que geraram créditos

e débitos recíprocos entre as requeridas.

Sentença proferida pela Câmara Internacional do Comércio – Corte

Internacional de Arbitragem.

Principais controvérsias: Existência de crédito em favor das requerentes,

oriundo da sentença arbitral e não pago espontaneamente, implicando a

necessidade de homologação para gerar título executivo. Nulidade ou invalidez da

convenção de arbitragem constante dos contratos de Joint Venture, em razão de

consentimento viciado das partes. Insurgência quanto à exclusão de empresa da

demanda arbitral. Insuficiência da via arbitral para resolver a demanda. Tramitação

de ação anulatória de sentença arbitral e convenção de arbitragem no Justiça de

São Paulo. Violação dos princípios do devido processo legal, isonomia e ampla

defesa.

A decisão considera presentes os requisitos do artigo 37 da Lei de

Arbitragem. No que tange às insurgências apresentadas, as analisa uma a uma,

concluindo não ser possível que a parte ré discuta questões que vão além dos

requisitos indispensáveis à homologação, regra que permanece quando a defesa

pautar-se nas disposic ões contidas no art. 38 da Lei n. 9.307/96. Assim, as

insurgências apontadas foram consideradas como questões de mérito da sentença,

estrangeira, ressurgindo assim a possibilidade de que repercuta aqui o resultado do processo em que ela foi proferida.” – trecho do voto-vista do ministro Ari Pargendler

21 “Aqui a situação é diferente. Evadin Indústrias Amazônia S/A compareceu ao juízo arbitral para contestar-lhe a competência (fls. 240/246, 2o vol.), e nesse contexto não se lhe pode imputar má-fé se, antecipando-se à sentença arbitral, provocou a jurisdição nacional por meio de ação ordinária, valendo – ou não – seu pleito exclusivamente pelo merecimento da tese sustentada: a de que a cláusula compromissória, na época em que ajustada, não implicava automaticamente a renúncia da jurisdição brasileira. – trecho do voto-vista do ministro Ari Pargendler.”

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fora da legitimidade do Superior Tribunal de Justiça apreciá-las, já que isso

implicaria que a decisão arbitral fosse revista.

Quanto à existência de ação anulatória de sentença arbitral em tramite na

Justiça Brasileira, a decisão entende que tal fato não constitui fato impeditivo à

homologacão, nem significa ofensa à soberania nacional, já que essa segunda

hipótese exigiria a existência de decisão pátria relativa às mesmas questões

resolvidas pelo Juízo arbitral. Em relação aos princípios invocados, entende que não

houve nenhum óbices as rés quanto ao acesso ao processo.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 507 – EX – Relator Ministro Gilson Dipp – 13.11.2006

Objeto da sentença arbitral: Inadimplemento de contratos de compra e

venda de soja.

Sentença arbitral proferida pela Federation of Oils, Seeds and Fats

Associations Limited – FOSFA.

Principais controversas: Necessidade da prestação de caução por parte da

requerente, por ser empresa estrangeira. Ausência de preenchimento de requisitos

de admissibilidade da arbitragem. Suposta renúncia a cláusula arbitral. Violação aos

princípios da ampla defesa e contraditório, implicando nulidade da decisão arbitral.

Ofensa à ordem pública. Rompimento de contrato por parte da requerente,

implicando a ela ausência de fundamentação legal para reivindicar prejuízos.

Decisão que reconhece a constitucionalidade do art. 7o da Lei de arbitragem.

Quanto à necessidade de prestação de caução à propositura do pedido de

homologação, diz não haver qualquer previsão para tanto. No que diz quanto a

observância requisitos previstos no §2o do art. 4o da Lei n. 9.307/96, entende que

são elas intrínsecas ao mérito, de modo que o controle judicial da homologac ão da

sentenca arbitral estrangeira está limitado aos aspectos previstos nos artigos 38 e

39 da Lei no 9.307/96, sendo que “para a eventual análise da alegac ão de que o

contrato objeto da arbitragem é ‘de adesão’, seria necessário o exame do mérito da

relac ão de direito material afeto ao objeto da sentença estrangeira homologanda, o

que se mostra inviável na presente via.”22 Relativamente à suposta ofensa aos

princípios da ampla defesa e contraditório, entende que a aderência aos contratos

22 Trecho do acórdão.

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20

que continham a clausula arbitral se deu livremente, assim como houveram

oportunidades defesa, as quais foram aproveitadas, não se configurando, portanto,

ofensa a nenhum dos princípios. Por fim, ressalva que a escolha pela via arbitral

não configura qualquer ofensa à ordem pública.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 833 – US – Relatora Ministra Eliana Calmon; R.P/Acórdão Ministro

Luiz Fux - 30.10.2006

Objeto da sentença arbitral: Inadimplemento de contrato de comércio

internacional de franquia.

Sentença proferida pelo Tribunal de Arbitragem da Associação de

Arbitragem Americana.

Principais controvérsias: Revelia. Citação por carta rogatória. Dúvida a

respeito da efetivação da citação, gerando a possível nulidade dessa.

Decisão em que a Relatora entendeu não haver óbices à homologação da

decisão, estando presentes os requisitos para tanto, razão pela qual o deferiu. No

entanto, após pedidos de vista, restou vencida na sua posição, em razão de

posicionamento diverso, inaugurado pelo Ministro Luiz Fux. O julgado considera,

assim, que, tendo o processo corrido à revelia, e não havendo prova inequívoca de

que a citação por carta rogatória chegou ao seu destino, não houve a obediência do

principio do contraditório. Releva o entendimento que o trânsito em julgado da

sentença arbitral não pode, no Brasil, ter força maior que a sentença nacional

trânsita, porquanto em nosso ordenamento, a ausência de citação contamina todo o

processo de cognição.

Pedido de homologação indeferido.

SEC N. 968 – EX – Relator Ministro Felix Fischer – 25.09.2006

Objeto da sentença arbitral: Rescisão do contrato de compra e venda de

guindaste móvel portuário.

Sentença arbitral proferida pelo Tribunal Internacional de Arbitragem de

Paris.

Principais controvérsias: Ilegitimidade ativa da requerente. Eficácia do

contrato de cessão de crédito, objeto da sentença arbitral.

21

21

A decisão considera que, para deslinde da questão e certeza quanto a

legitimidade ativa da requerente seria necessária análise de contrato de cessão de

crédito firmado entre as empresas partes da demanda arbitral, visto que a

requerente da homologação não foi parte do processo alienígena. Assim, por ser

imprescindível a análise de tal contrato, o que implicaria análise de mérito, e dada a

ausencia de legitimidade ativa da empresa requerente, o mérito do pedido de

homologação da sentença arbitral estrangeira não pode ser analisado.

Processo extinto sem julgamento de mérito.

SEC N. 760 – EX – Relator Ministro Felix Fischer – 28.08.2006

Objeto da sentença arbitral: inadimplemento de contrato de compra e venda

de 90 (noventa) toneladas métricas de resíduos de pentóxido de vanádio.

Sentença proferida pela American Arbitration Association – AAA.

Principais controvérsias: Nulidade da sentenca arbitral por ause ncia de

relatório e fundamentação. Ocorrência de possível adimplemento do contrato,

estando quitada a obrigação.

A decisão ressalva que questões quanto ao eventual adimplemento do

contrato dizem respeito ao mérito e não podem ser apreciadas em sede de

homologação de sentença. Entende que estão presentes os requisitos do artigo 26

da Lei 9.307/96, bem como que os demais requisitos indispensáveis à homologacão

da sentença arbitral estrangeira foram atendidos.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 866 – EX – Relator Ministro Felix Fischer – 16.10.2006

Objeto da sentença arbitral: Inadimplemento de contratos de compra e

venda.

Sentença proferida pela The Grain and Feed Trade Association (GAFTA).

Principais controvérsias: Contrato de compra e venda celebrado

verbalmente, por telefone, implicando ausência de clausula compromissória.

A decisão considera que, ainda que o contrato de compra e venda entre as

partes tenha sido celebrado verbalmente por telefone, após a celebração, através de

troca de correspondências, houve a previsão de eleição da via arbitral, conforme

hipótese prevista no §1o do artigo 4o da Lei de Arbitragem. Entretanto, entende que,

ainda que tenha havido tal previsão, não houve anuência da então requerida em

22

22

relação a tanto. Assim, entende não haver nos autos elementos probatórios que

confirmem a renúncia a Justiça Estatal para ser possível a homologação da decisão

arbitral.

Pedido de homologação indeferido.

SEC N. 874 – EX – Relator Ministro Francisco Falcão – 15.05.2006

Objeto da sentença arbitral: Inadimplemento de contrato aquisic ão e

distribuic ão de programas de TV.

Sentença proferida pelo Tribunal Arbitral do Esporte em Lausanne, Suíça.

Principais controvérsias: Invalidade do contrato celebrado, suposta

irregularidade na citação no processo arbitral.

Decisão que considera presentes todos os requisitos impostos pelo artigo

38 da Lei de Arbitragem. A decisão apenas ressalva que, quanto a citação no

procedimento arbitral, tendo a requerida sido citada e intimada por via postal e

estando tal fato comprovado nos autos, embora o processo tenha corrido à revelia, a

requerida teve ciência de todos os atos.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 887 – EX – Relator Ministro João Otavio de Noronha – 03.04.2006

Objeto da sentença arbitral: Inadimplemento de contrato de compra e venda

Sentença proferida pela Câmara Arbitral dos Cafés e Pimentas do Reino de

Havre

Principais controvérsias: Ausência de comprovação de existência prévia de

compromisso arbitral, possível não exercício regular da ampla defesa e contraditório

durante o processo arbitral.

Decisão que considera que os documentos constantes dos autos são

suficientes para provar a existência de convenção arbitral entre as partes. Quanto ao

exercício por parte da requerida da ampla defesa e contraditório durante o processo

arbitral, entende que, se não houve, foi por parte dela, considerando presentes os

requisitos do artigo 38, III, da Lei de Arbitragem.

Pedido de homologação deferido.

SEC 967 – EX – Relator Ministro José Delgado – 20.03.2006

Objeto da sentença arbitral: descumprimento de contrato de compra e venda

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23

Sentença proferida pela Liverpool Cotton Association –LCA.

Principais controvérsias: Renovação do pedido de homologação, eis que

havia sido indeferido pelo STF; incompetência do juízo que proferiu a decisão

arbitral, ausência de anuência quanto a cláusula arbitral, existência de vício formal

da decisão exarada pelo STF (art. 40, Lei n. 9.307/96).

A decisão versa sobre a possibilidade, ou não, de renovação do pedido de

homologação de sentença arbitral, denegado pelo STF, à época de sua competência

para tanto, nos termos do artigo 40 da Lei de Arbitragem. Considera que a decisão

proferida pelo STF é revestida com força de coisa julgada, só podendo ser revista

em sede de ação rescisória. Entende, assim como a decisão anterior, não haver nos

contratos apresentados assinatura da requerida, anuindo com a cláusula de

arbitragem. Do mesmo modo, aponta para o fato de que a requerida, sempre que

compareceu ao juízo arbitral alegou sua incompetência. Em razão da ausência de

manifestação voluntária, por escrito, da parte requerida em aceitar a cláusula

arbitral, a decisão considera que seria ofensa à ordem pública caso se homologasse

o pedido, dada a existência do princípio do ordenamento jurídico brasileiro que exige

aceitação expressa das partes para submeterem a solucão dos conflitos surgidos

nos negócios jurídicos contratuais privados à arbitragem.

Pedido de homologação indeferido.

SEC N. 802 – EX – Relator Ministro José Delgado – 10.09.2005

Objeto da sentença arbitral: descumprimento de contrato firmado para a

execução de levantamento batimétrico do leito de parte dos rios Madeira e

Amazonas

Sentença proferida por Tribunal Arbitral, de acordo com as Regras de

Arbitragem da Comissão das Nações Unidas sobre o Direito Comercial Internacional

– UNCITRAL.

Principais controvérsias: Possível violação à ordem pública e a soberania

nacional e interferência do resultado da decisão arbitral no cumprimento de

obrigação estipulada em contrato. Suposta possibilidade de inadimplemento de

contrato decorrente da exceptio non adimpleti contractus, prevista no então vigente

Código Civil de 1916.

A decisão esclarece que o fato de que a requerida afirmar ter suspendido os

pagamentos devidos, em decorrência de inadimplemento de obrigação por parte da

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requerente, conforme lhe permitia, na época, o art. 1.092 do CC de 1916, que previa

a exceptio non adimpleti contractus não se enquadra no conceito de ordem pública

(o qual é exposto na decisão de diversas formas). Afasta o condicionamento

sugerido no parecer do Ministério Público para que surtissem os efeitos jurídicos da

sentença arbitral, em razão de o ordenamento jurídico brasileiro exigir que a

sentença seja executada de modo certo e determinado.

Pedido de homologação deferido.

SEC N. 856 – EX – Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito –

27.06.2005

Objeto da sentença arbitral: descumprimento de contrato de compra e

venda.

Sentença proferida pela Liverpool Cotton Association – LCA.

Principal controvérsia: validade da cláusula arbitral, já que a defesa foi

alicerçada na falta de anuência expressa com a cláusula, em razão da falta de

assinatura do contrato.

O julgador considerou ausente qualquer dúvida sobre a aplicação da Lei de

Arbitragem no tocante à homologação da respectiva sentença, devendo ser

examinada a questão fundamental da existência de acordo sobre a convenção de

arbitragem. Não presentes dos autos correspondências trocadas entre as partes

sobre a aceitação da cláusula arbitral para solucionar futuros litígios. Aplicado,

então, o artigo II, número 2, da “Convenção Sobre o Reconhecimento e a Execução

de Sentenças Arbitrais Estrangeiras Feita em Nova York, em 10/6/58”, promulgada

pelo Decreto nº 4.311, de 23/7/02. O objeto de análise da decisão foi a ausência de

concordância expressa da requerida com a convenção de arbitragem. O argumento

de falta de concordância não prosperou, em razão de que o contrato foi parcialmente

cumprido, e que dos autos consta a indicação precisa de que a parte requerida

efetivamente manifestou defesa sobre o mérito da controvérsia, sem impugnar a

instauração do Juízo arbitral. A decisão considera que a prática internacional em

contratos da espécie deve ser sempre relevada, não havendo a possibilidade de se

desqualificar a existência da convenção arbitral. A participação da requerida no

processo, com a apresentação de razões e a intenção de nomear novo árbitro,

indicou manifestação induvidosa sobre a existência acordada da cláusula

compromissória.

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Pedido de homologação deferido.

5. DO RESULTADO DA PESQUISA – PANORAMA DOS CASOS ANALISADOS

Realizada a análise das decisões, a primeira conclusão que se pode

alcançar é de que, na maior parte dos casos analisados, o STJ mostrou-se favorável

à arbitragem, ou seja, em sua grande maioria o pedido de homologação de sentença

arbitral estrangeira foi deferido, tendo em vista que, das 26 decisões analisadas, 18

tiveram a sentença arbitral inteiramente homologada, o que representa um

percentual de 69%. Vejamos a totalidade dos dados alcançados:

• Em 18 (dezoito) decisões, ou em 69% delas, o pedido para

homologação da sentença arbitral foi deferido;

• 06 (seis) casos, ou 23% deles, tiveram o pedido de homologação

indeferido;

• 01 (um) caso, ou 4%, teve a sentença arbitral homologada em parte e

• 01 (um) caso, ou 4%, não teve julgamento de mérito.

Essa conclusão preliminar pode ser melhor conferida através do gráfico

abaixo, que ilustra o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, classificando

os casos em relação ao seu resultado (pedido de homologação), ou seja, se a

sentença arbitral estrangeira foi homologada ou não.

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Figura 01 – Classificação das Decisões Fonte: Autora

Conforme anteriormente demonstrado, a maioria dos estudiosos,

doutrinadores e profissionais de renome que atuam na área da arbitragem

constatam que a inclusão da cláusula arbitral nos contratos vem sendo cada vez

mais freqüente e já se traduz em tendência nas práticas comerciais do mercado

brasileiro.

Perceba-se que, em relação às decisões que não tiveram o pedido de

homologação deferido, tal resultado se deu, basicamente, por conta da força

vinculante da cláusula compromissória, ou seja, quando foi considerado que não

havia elementos suficientes no conjunto probatório capazes de confirmar a renúncia

a justiça estatal. Cumpre ressaltar, ainda, que em apenas um dos casos, o

indeferimento do pedido se deu por conta da invalidade da citação.

Esta análise faz transparecer uma grande disposição por parte do Superior

Tribunal de Justiça em aceitar a arbitragem. Dentre os diversos acórdãos

analisados, vê-se da pesquisa a utilização de vasta doutrina especializada, bem

como uma análise minuciosa dos elementos necessários à homologação, o que,

somado aos dados alcançados, faz-se concluir, ainda mais, que o Superior Tribunal

de Justiça é um tribunal a favor da inclusão da cláusula arbitral.

Neste ínterim, a título de considerações finais, cabe reproduzir as palavras

de Timm, Machado e Moser, ao efetuarem e concluírem estudo semelhante a este,

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mas em relação ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, que

ressaltam que

vale lembrar que a relação entre o Poder Judiciário e Arbitragem deve guardar laços de cooperação mútuos. Embora o termo possa conduzir a interpretações precipitadas quanto à impossibilidade e à impontualidade de diálogo entre os institutos, é imperativo destacar que a arbitragem não surgiu, tampouco atingiu reconhecimento e prestígio, para rivalizar o judiciário. A idéia de cooperação demonstra a maturidade intelectual tanto dos players do âmbito negocial quanto da própria sociedade, aproximação essa que se pode atingir ao respeitarmos a vontade contratual das partes, livre de vícios, máculas e ransos.23

E foram esses laços de cooperação os quais referem os autores, pois, que

aqui se buscou ilustrar a partir do detalhamento de decisões realizado, já que a partir

desse detalhamento se é possível reconhecer os argumentos e os posicionamentos

do Judiciário ao julgar e avaliar a prática arbitral.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a Lei de Arbitragem cada vez mais fortalecida em nosso ordenamento,

já é possível identificar a tendência de que o instituto muito ainda irá se difundir nos

próximos anos. Assim, entende-se que a realização de um estudo que seja focado

no encontro que a Justiça estatal e a arbitragem têm de compulsoriamente ter para

que a segunda passe a ser eficaz em nosso direito, como é o que ocorre com a

homologação de sentenças arbitrais estrangeiras, é de suma importância que essa

tendência se efetive em realidade, de forma, também, a equiparar o Brasil à

ordenamentos jurídicos mais avançados no que tange à arbitragem. Assim, ter-se

buscado identificar se essa cooperação tão importante que deve existir entre

Judiciário e arbitragem realmente está ocorrendo é de grande relevância a todos

aqueles que de alguma forma estão relacionados ao estudo da arbitragem.

Consoante todos os dados demonstrados ao longo deste estudo, foi possível

concluir que o Superior Tribunal de Justiça vem aplicando sua jurisdição de forma

positiva à arbitragem, especificamente no que diz quanto à homologação de

sentenças arbitrais estrangeiras, casos objetos do estudo. Concluir que o Judiciário,

23 TIMM, Luciano Benetti; MACHADO, Rafael Bicca; MOSER, Luiz Gustavo Meira. Um Panorama da Arbitragem na Justiça Estadual do Rio Grande do Sul. Revista da Ajuris, n. 117, p. 224, março 2010.

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na forma do STJ, tem-se mostrado favorável à inserção da cláusula arbitral significa

concluir que a cooperação indispensável a essa relação entre estado e via privada

de jurisdição de fato está ocorrendo.

Dos julgados analisados, viu-se, de forma geral, - salvo raras exceções, é

verdade -, que nossos Ministros estão tendo cuidado minucioso com os casos que

envolvem homologação de sentença estrangeira. Nada mais justo e adequado, já

que a submissão ao juízo arbitral geralmente se dá em razão da especificidade do

caso fazer dele demasiadamente complexo, seja por questões de necessidade de

que haja maior celeridade, técnica, ou tantas outras possíveis razões. O que se quer

dizer é que, sendo inegável que os julgamentos proferidos por árbitros costumam

dizer respeito a casos muito específicos – principalmente em se tratando daqueles

que decorrem de contratos internacionais, conforme foco deste estudo -, com

complexidade acima da média dos demais processos, é merecido que, quando tais

decisões se deparam com a jurisdição estatal, sigam recebendo, a partir daí,

tratamento de mesma sorte. Isso, mesmo considerando que o STJ, órgão que foi

analisado neste estudo, não analisa o mérito das questões, mas apenas os

requisitos necessários à homologação da sentença arbitral.

Ademais, a respeito da relação entre Judiciário e a arbitragem, é importante

que seja feita a ressalva, ainda, de que o bom andamento do instituto não beneficia

apenas aquelas partes que da arbitragem usufruem, pois se pode também dizer que

é extremamente benéfica a sociedade, de modo geral, a exclusão de casos

complexos da jurisdição do Poder Judiciário a qual arbitragem propicia. Isso porque

um caso complexo tramitando no Judiciário significa grande tempo de trabalho

despedido em apenas um processo, para que esse seja julgado precisamente, além

de grande parte das possibilidades recursais utilizadas, já que, em se tratando de

casos que envolvam altos valores, sabe-se que é praxe que a parte devedora faça

de tudo para protelar o trânsito em julgado, o que implica na utilização de vias

recursais supérfluas e desnecessárias ao curso do processo.

Buscou-se, como objetivo principal desse trabalho, analisar, através do

ângulo da receptação do instituto da arbitragem no STJ, qual vem sendo o

tratamento por ele recebido no Brasil, considerado o seu tempo relativamente curto

de existência e seu histórico de resistência no Brasil. Conclui-se, pois, que em um

mundo em que a globalização segue um compasso de velocidade talvez até

inestimável, é pertinente que se busque, também no campo do direito, por

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alternativas que acompanhem o rumo acelerado que as práticas comerciais tomam,

conforme já se faz em tantos outros campos, seja, por exemplo, no que diz respeito

à tecnologia, gestão, e em tantas outras áreas, sob pena de que caiamos em uma

ciência demasiadamente estática, já que, culturalmente, o direito sempre foi tido e

rotulado como ciência conservadora. Temos, portanto, que a arbitragem surge como

saída a essa situação, e que o Poder Judiciário, ao com ela se encontrar, vem

cooperando com o crescimento do instituto e colaborando para o seu crescimento e

fomento da sua utilização.

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