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Panorama das teorias do jornalismo 2: o "menu" da mídia BIBLIOGRAFIA: BARROS FILHO, Clóvis. Ética na comunicação. São Paulo: Summus, 2003. // RABAÇA, Carlos Alberto & BARBOSA, Gustavo Guimarães. Dicionário de comunicação. Rio de Janeiro: Campus, 2001. Afirmar que a mídia em geral (e o jornalismo em particular) determina cruamente o pensamento dos indivíduos é ingenuidade. Mais correto seria dizer que ela nos aponta, nos orienta e nos pauta sobre o que pensar, discutir, trocar e compartilhar. Nesse sentido, BARROS FILHO (2003) sistematiza duas teorias ligadas ao jornalismo: a hipótese do “agenda setting” e a hipótese da “espiral do silêncio”. Ambas partem do princípio de que a seleção que a mídia faz de determinados temas a serem veiculados é paralelo ao “apagamento” dos demais assuntos que não são por ela “iluminados”. Isto não significa dizer que as pessoas, em suas relações interpessoais, comentem apenas fatos midiatizados, mas sim que estes fatos estão marcadamente presentes no temário macro-social. No que diz respeito especificamente à idéia central da hipótese do “agenda setting”, a obra “Public Opinion” (1922), de Walter Lippmann, já destacava o direcionamento da atenção dos leitores para determinados temas apontados pela mídia como sendo de “interesse coletivo”. Para ele, o conhecimento que as pessoas têm do mundo exterior é formado pela seleção midiática de determinados símbolos do mundo real. Posteriormente, em 1972, Maxwell McCombs e Donald Shaw cunharam a expressão (“agenda” = pauta e “setting” = fixação, determinação) após constatarem que o principal efeito provocado pela imprensa é produzir a imbricação entre a agenda midiática e a agenda pública. De acordo com BARROS FILHO (2003), os fatores que condicionam o “agenda setting” estão ligados à mensagem e à recepção. Nesta, um dos fatores determinantes seria a necessidade de orientação que o público tem, necessidade esta que é condicionada pelo interesse e pelo grau de incerteza do receptor em relação a determinado assunto. No que diz respeito à mensagem, a maioria dos estudos do “agenda setting” dizem respeito a temas políticos, uma vez que apontam em que medida a mídia interfere na luta política pelo poder. O conteúdo destas mensagens, por sua vez, é determinado pela possibilidade de personalização do conteúdo da informação; pela possibilidade de dramatização (geralmente) através de um conflito; e pela eventualização, ou seja, a dinamização do tema que tona possível que o receptor constate uma ação ou um acontecimento. Concomitantemente a estas três características, a seleção de determinado conteúdo a ser veiculado em determinada mídia também é influenciada pela veiculação operada pelos outros meios e mídias. Ainda em relação ao conteúdo da mensagem, o autor destaca a diferenciação que deve ser feita entre os assuntos “temáticos” e os assuntos de “acontecimento”. Os primeiros s referem a reflexões sobre probelmas sociais e preocupações públicas, como o desemprego, a corrupção ou a inflação, por exemplo. Os demais dizem respeito a fatos concretos e, geralmente, caracterizados pelo elemento surpresa, como um terremoto, um acidente ou uma final de campeonato, por exemplo. Porém, esta divisão não é rígida, uma vez que um assunto inicialmente caracterizado como “acontecimento” pode vir a se tornar “temático”. O meio no qual a mensagem é veiculada também condiciona o “agenda setting”. Ainda segundo o autor, há mais “agendamento” através das mensagens impressas

Panorama Das Teorias Do Jornalismo 2 - O Menu Da Mídia

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  • Panorama das teorias do jornalismo 2: o "menu" da mdia

    BIBLIOGRAFIA: BARROS FILHO, Clvis. tica na comunicao. So Paulo: Summus, 2003. // RABAA, Carlos Alberto & BARBOSA, Gustavo Guimares. Dicionrio de comunicao. Rio de Janeiro: Campus, 2001. Afirmar que a mdia em geral (e o jornalismo em particular) determina cruamente o pensamento dos indivduos ingenuidade. Mais correto seria dizer que ela nos aponta, nos orienta e nos pauta sobre o que pensar, discutir, trocar e compartilhar. Nesse sentido, BARROS FILHO (2003) sistematiza duas teorias ligadas ao jornalismo: a hiptese do agenda setting e a hiptese da espiral do silncio. Ambas partem do princpio de que a seleo que a mdia faz de determinados temas a serem veiculados paralelo ao apagamento dos demais assuntos que no so por ela iluminados. Isto no significa dizer que as pessoas, em suas relaes interpessoais, comentem apenas fatos midiatizados, mas sim que estes fatos esto marcadamente presentes no temrio macro-social. No que diz respeito especificamente idia central da hiptese do agenda setting, a obra Public Opinion (1922), de Walter Lippmann, j destacava o direcionamento da ateno dos leitores para determinados temas apontados pela mdia como sendo de interesse coletivo. Para ele, o conhecimento que as pessoas tm do mundo exterior formado pela seleo miditica de determinados smbolos do mundo real. Posteriormente, em 1972, Maxwell McCombs e Donald Shaw cunharam a expresso (agenda = pauta e setting = fixao, determinao) aps constatarem que o principal efeito provocado pela imprensa produzir a imbricao entre a agenda miditica e a agenda pblica. De acordo com BARROS FILHO (2003), os fatores que condicionam o agenda setting esto ligados mensagem e recepo. Nesta, um dos fatores determinantes seria a necessidade de orientao que o pblico tem, necessidade esta que condicionada pelo interesse e pelo grau de incerteza do receptor em relao a determinado assunto. No que diz respeito mensagem, a maioria dos estudos do agenda setting dizem respeito a temas polticos, uma vez que apontam em que medida a mdia interfere na luta poltica pelo poder. O contedo destas mensagens, por sua vez, determinado pela possibilidade de personalizao do contedo da informao; pela possibilidade de dramatizao (geralmente) atravs de um conflito; e pela eventualizao, ou seja, a dinamizao do tema que tona possvel que o receptor constate uma ao ou um acontecimento. Concomitantemente a estas trs caractersticas, a seleo de determinado contedo a ser veiculado em determinada mdia tambm influenciada pela veiculao operada pelos outros meios e mdias. Ainda em relao ao contedo da mensagem, o autor destaca a diferenciao que deve ser feita entre os assuntos temticos e os assuntos de acontecimento. Os primeiros s referem a reflexes sobre probelmas sociais e preocupaes pblicas, como o desemprego, a corrupo ou a inflao, por exemplo. Os demais dizem respeito a fatos concretos e, geralmente, caracterizados pelo elemento surpresa, como um terremoto, um acidente ou uma final de campeonato, por exemplo. Porm, esta diviso no rgida, uma vez que um assunto inicialmente caracterizado como acontecimento pode vir a se tornar temtico. O meio no qual a mensagem veiculada tambm condiciona o agenda setting. Ainda segundo o autor, h mais agendamento atravs das mensagens impressas

  • do que das eletrnicas. Nestas ltimas, o agenda setting televisivo ocorre em relao s informaes de carter geral e tem maior probabilidade de influenciar a agenda pblica quando a cobertura de um tema especfico feita de maneira intensiva em um curto espao de tempo (BARROS FILHO: 2003, p192). Criada por Elizabeth Noelle-Neuman em 1972, a hiptese da espiral do silncio tem como ponto de partida o medo que os indivduos tm do isolamento social, medo este que os faria expressar opinies concordantes com a opinio dominante (imposta pelos meios de comunicao). O silenciamento das opinies minoritrias seria cclico e progressivo, o que explica a idia de espiral. Ou seja: quanto mais dominada, maior a tendncia de uma opinio no ser manifestada. Os fatores que produzem esta espiral do silncio so a acumulao, representada pela visibilidade exagerada que determinados assuntos tm na mdia; pela ubiqidade, representada pela sensao de que a mdia pode estar em todos os lugares; e pela consonncia dos assuntos na mdia, representada pela abordagem semelhante dos mesmos temas feita pelos diferentes veculos e mdias. BARROS FILHO (2003) nos chama a ateno para o fato de que Essa consonncia tendencial no s d ao conjunto dos produtos informativos, e indiretamente a cada informao mediatizada em separado, uma maior ou menor aparncia de objetividade, como tambm permite aos meios canalizar um s fluxo de opinio, impondo-o como dominante. (BARROS FILHO: 2003, p.210) A teoria da espiral do silncio mostraria, assim, que o medo do isolamento social que leva ao silenciamento seria um obstculo s mudanas e um mantenedor do status quo. E isto seria facilitado pelo acesso que uma minoria dominante tem aos meios de comunicao de massa.