Paper - O Tribunal Do Júri e as Modificações Da Lei 11689

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Artigo publicado na revista online âmbito jurídico

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  • FACULDADE ESTCIO DO RECIFE

    Coordenao dos Cursos de Direito

    Ps-Graduao em Direito Penal e Processo Penal

    O TRIBUNAL DO JRI E AS MODIFICAES PROCESSUAIS

    DECORRENTES DA LEI 11.689/2008

    - Ampla Defesa x Plenitude da Defesa -

    AUGUSTO AURLIO VILAA DOS SANTOS

    Recife

    2015

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    AUGUSTO AURLIO VILAA DOS SANTOS

    O TRIBUNAL DO JRI E AS MODIFICAES PROCESSUAIS

    DECORRENTES DA LEI 11.689/2008

    - Ampla Defesa x Plenitude da Defesa -

    Paper apresentado Universidade Estcio de S,

    Curso de Direito, como requisito final para a

    concluso da disciplina As Reformas Processuais

    Penais.

    Orientador: Prof. Dr. Uraquitan Jos dos Santos

    Recife

    Campus Recife

    2015

  • 3

    SUMRIO

    INTRODUO .......................................................................................................... 04

    1. O PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JRI ......................................................05

    2. AS MUDANAS ADVINDAS COM A LEI 11.689/2008 .........................................05

    3. DA AMPLA DEFESA ........................................................................................... 08

    4. DA PLENITUDE DE DEFESA ............................................................................... 09

    5. CONCLUSES ..................................................................................................... 11

    REFERNCIAS ........................................................................................................ 12

  • 4

    INTRODUO

    H diversas teorias sobre a origem do Tribunal do Jri, algumas correntes o

    tratam como sendo uma evoluo dos conselhos de ancios, instituto ainda presente

    em diversas culturas. Porm, a posio mais aceita pela doutrina d conta de que

    tenha surgido com a Magna Carta de 1215, quando os grandes burgueses

    demandaram para si parte do poder antes concentrado nas mos do soberano Joo

    Sem-terra.

    Indepedentemente da tese, uma coisa certa, sua criao visou, ao submeter

    o ru a um julgamento perante seus iguais, ampliar o carter democrtico do evento,

    reduzindo a amplitude do poder legalmente concentrado nas mos do juiz.

    Ora, se o direito penal , ao menos no plano do derver-ser, a expresso

    mxima da defesa dos interesses da sociedade em que e quando aplicado, nada

    melhor e mais justo do que deixar que essa mesma sociedade julgue quem atenta

    contra o bem jurdico mais importante, e talvez a mola mestra de todo o sistema, em

    uma viso contratualista, que o direito vida.

    Seu surgimento no Brasil remonta a 1822, quando uma lei do Prncipe Regente

    criava o Jri Popular para julgar crimes de imprensa. Em 1824, teve sua primeira

    previso constitucional, passando a integrar o Poder Judicirio e a julgar tambm

    causas cveis e criminais.

    Da em diante o Tribunal do Jri passou por evolues como quando teve

    reconhecida a soberania de seus vereditos, e por involues quando deixou de ser

    previsto constitucionalmente (e, para alguns doutrinadores, de existir) ou quando

    perdeu a soberania.

    Por fim, atravs da Constituio de 1988, o Tribunal do Jri volta a ocupar lugar

    de destaque, includo como um dos direitos e garantias fundamentais previstos no Art.

    5, inciso XXXVIII, definindo como sendo competente para julgar de maneira soberana

    e isenta (atravs do sigilo das votaes), os crimes dolosos contra a vida, mas

    assegurando queles, ao seu crivo submetidos, a plenitude da defesa, algo que

    perpassa os limites da j conhecida e debatida ampla defesa, e cujos aspectos sero

    abordados no presente trabalho.

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    1. O PROCEDIMENTO DO TRIBUNAL DO JRI

    A legislao brasileira, ao instituir a figura do Tribunal do Jri, conforme leciona

    Tourinho Filho (1), estabeleceu procedimento escalonado ou bifsico. Na primeira

    fase, tambm chamada de sumrio de culpa, a acusao busca demonstrar a

    viabilidade do processo como sendo de competncia do jri e a legitimidade daquele

    ru levado a juzo, ou seja, cabe ao rgo acusador trazer a evidncia da

    materialidade delitiva em crime doloso contra a vida e os indcios suficientes de

    autoria, terminando com a deciso de pronncia.

    A segunda fase o verdadeiro processamento do Jri, onde se efetivar a

    condenao ou no do acusado, tendo como clmax o julgamento pela Corte Popular.

    Alguns autores como Guilherme de Souza Nucci (2), chegam a defender que o

    procedimento do jri trifsico e especial, incluindo a preparao do plenrio, quando

    so arroladas as testemunhas e definidas as provas e diligncias que sero

    executadas, ainda de acordo com o doutrinador, a clareza de individualizao de tal

    etapa prevista na prpria Lei n 11.689/2008 (que modificou o procedimento do

    Tribunal do Jri), ao destinar toda a Seo III, do Captulo II, a esta fase especfica.

    Em que pese o posicionamento escolhido se bi ou trifsico, certo que em

    todas as fases deve ser respeitado o direito do ru em se defender das acusaes

    que enfrenta, o que diferencia o espectro da defesa que na primeira fase (ou nas

    duas primeiras, seguindo a corrente defendida por Nucci), o ru valer-se- da ampla

    defesa, enquanto que na ltima ter direito defesa plena.

    2. AS MUDANAS ADVINDAS COM A LEI 11.689/2008

    A Lei n 11.689 de 09 de junho de 2008, trouxe ampla modificao ao

    procedimento do Tribunal do Jri, contudo, em razo de o foco do presente trabalho

    ser voltado ao impacto sobre a defesa do ru, a esses pontos que se dar destaque.

    No procedimento anterior lei, aps o recebimento da denncia, o ru era

    citado e interrogado, aps o qu apresentava a defesa prvia indicando as

    testemunhas. Na sequncia, eram ouvidas as testemunhas de acusao, depois as

    da defesa e, por fim, eram apresentadas as alegaes finais por escrito.

    Apenas aps cumpridos todos esses passos, o juiz responsvel pela conduo

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    do anteriormente denominado sumrio de culpa proferiria sua deciso pela

    pronncia quando houvesses elementos suficientes para levar o ru a Jri; pela

    impronncia quando o magistrado no se convence da materialidade e/ou da

    existncia de indcios suficientes de autoria ou de participao; desclassificao nas

    hipteses em que, embora comprovada a materialidade e os indcios de autoria, o

    magistrado entende que no crime da competncia do Jri; ainda pela absolvio

    sumria quando convencido de que o fato no ocorreu (ou, no era tpico) ou que,

    comprovadamente, o ru no o praticou/no teve participao, limitando-se aos casos

    de excludente de ilicitude ou de culpabilidade.

    No rito atual, aps a citao, o ru apresenta a defesa preliminar, conforme

    leciona Nucci (2):

    momento processual para que ele alegue matria preliminar, vale dizer, levante todas as falhas que puder detectar at ento, dentre as quais, por exemplo, a inpcia da denncia ou queixa. A preliminar, como regra, tem contedo de natureza processual, pelo juiz antes de qualquer anlise de mrito. Alm disso, deve arrolar testemunhas (at o mximo de oito, conforme dispe o art. 401 do CPP), oferecer documentos e requerer a produo de quaisquer outras provas. A meno feita justificao tem o significado de indicao de excludentes de ilicitude, as denominadas justificativas. (NUCCI, 2008, p. 716)

    J com base nessa defesa preliminar pode ocorrer a absolvio sumria que,

    agora, tambm se aplica aos casos de prova da inexistncia do fato, falta de provas

    da autoria ou atipicidade (pela lei antiga era cabvel absolvio sumria apenas nas

    hipteses de excludente da ilicitude ou culpabilidade).

    Decidindo o juzo pela continuidade do feito, h a oitiva de testemunhas, na

    mesma sequncia anterior e, s ento, o interrogatrio do acusado. A mudana faz

    muito mais sentido no aspecto da ampla defesa, vez que o ru ter a chance, em seu

    interrogatrio, de praticar a autodefesa, j consciente de tudo o que foi trazido em

    prova testemunhal pela acusao.

    O ltimo passo a apresentao de alegaes finais orais, de modo a dar maior

    celeridade processual, a fim de que o juzo de admissibilidade da acusao seja

    concludo em at 90 (noventa) dias, na forma do Art. 412 do Cdigo de Processo

    Penal.

    Como se v, no campo da defesa processual, o rito do Jri avanou com o advento

    da Lei 11.689/2008, entretanto, mister ressaltar que ainda persiste, embora amenizado, o

    princpio/brocardo jurdico do in dubio pro societate, ou seja, mesmo em face de certa

    dvida, deve o juiz pronunciar o ru, como se v no posicionamento tanto do Superior

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    Tribunal de Justia (3), quando do prprio Supremo Tribunal Federal (4):

    PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICDIO QUALIFICADO. SENTENA DE PRONNCIA. TRANCAMENTO DE AO PENAL. MATERIALIDADE COMPROVADA. INDCIOS DE AUTORIA. FALTA DE JUSTA CAUSA NO DEMONSTRADA. PREVALNCIA DO PRINCPIO IN DUBIO PRO SOCIETATE. ORDEM DENEGADA. 1. O habeas corpus, remdio jurdico-processual, de ndole constitucional, que tem como escopo resguardar a liberdade de locomoo contra ilegalidade ou abuso de poder, marcado por cognio sumria e rito clere, motivo pelo qual no comporta o exame de questes que, para seu deslinde, demandem aprofundado exame do conjunto ftico-probatrio dos autos, peculiar ao processo de conhecimento. 2. Incabvel o trancamento de ao penal, na via estreita do habeas corpus, quando, presente a materialidade de crime doloso contra a vida, h indcios de autoria, sendo certo que, em caso de dvida, em razo do princpio in dubio pro societate, norteador dessa fase preliminar de mera suspeita, cabe ao juiz acolher a acusao e pronunciar o ru. 3. Ordem denegada. (STJ, Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 03/04/2008, T5 - QUINTA TURMA)

    EMENTA Penal. Processual Penal. Procedimento dos crimes da competncia do Jri. Idicium acusationis. In dubio pro societate. Sentena de pronncia. Instruo probatria. Juzo competente para julgar os crimes dolosos contra a vida. Presuno de inocncia. Precedentes da Suprema Corte. 1. No procedimento dos crimes de competncia do Tribunal do Jri, a deciso judicial proferida ao fim da fase de instruo deve estar fundada no exame das provas presentes nos autos. 2. Para a prolao da sentena de pronncia, no se exige um acervo probatrio capaz de subsidiar um juzo de certeza a respeito da autoria do crime. Exige-se prova da materialidade do delito, mas basta, nos termos do artigo 408 do Cdigo de Processo Penal, que haja indcios de sua autoria. 3. A aplicao do brocardo in dubio pro societate, pautada nesse juzo de probabilidade da autoria, destina-se, em ltima anlise, a preservar a competncia constitucionalmente reservada ao Tribunal do Jri. 4. Considerando, portanto, que a sentena de pronncia submete a causa ao seu Juiz natural e pressupe, necessariamente, a valorao dos elementos de prova dos autos, no h como sustentar que o aforismo in dubio pro societate consubstancie violao do princpio da presuno de inocncia. 5. A ofensa que se alega aos artigos 5, incisos XXXV e LIV, e 93, inciso IX, da Constituio Federal (princpios da inafastabilidade da jurisdio, do devido processo legal e da motivao das decises judiciais) se existisse, seria reflexa ou indireta e, por isso, no tem passagem no recurso extraordinrio. 6. A alegao de que a prova testemunhal teria sido cooptada pela assistncia da acusao esbarra na Smula n 279/STF. 7. Recurso extraordinrio a que se nega provimento. (STF - RE: 540999 SP , Relator: Min. MENEZES DIREITO, Data de Julgamento: 22/04/2008, Primeira Turma, Data de Publicao: DJe-112 DIVULG 19-06-2008 PUBLIC 20-06-2008 EMENT VOL-02324-06 PP-01139 LEXSTF v. 30, n. 360, 2008, p. 484-500)

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    Diante disso, e alicerado nos direitos e garantias fundamentais extensveis a

    todo cidado, tenha ele cometido ou no algum crime, previu o constituinte a

    oportunidade de que, quem quer que seja acusado de cometer fato tpico tenha toda

    a chance de se defender.

    No caso especfico, dos crimes de competncia do Tribunal do Jri, com toda

    a sua complexidade e penas elevadas em razo do bem jurdico tutelado, maior ainda

    a cautela que se deve aplicar, surgindo, alm da ampla defesa, a plenitude da defesa

    tambm chamada de defesa plena, consoante se discorrer nos tpicos seguintes.

    3. DA AMPLA DEFESA

    o princpio que garante, ao indivduo que se veja processado, a defesa contra

    as acusaes no mbito mais abrangente possvel, podendo se utilizar de todos os

    meios a seu dispor para alcanar seu direito, seja atravs de provas ou de recursos.

    Por tal fundamento, o juiz no pode negar parte o direito de apresentar

    determinada prova, exceto se ela for repetitiva, irrelevante ou for utilizada apenas para

    atrasar o processo. princpio bsico da ampla defesa que no pode haver

    cerceamento infundado.

    Contm em sua prpria definio, duas regras bsicas: a possibilidade de se

    defender e a de recorrer, garantindo a reavaliao da deciso por um segundo grau

    de jurisdio colegiado.

    A ampla defesa abrange a autodefesa, quando o ru cala em juzo, pelo que

    esclarece em seu interrogatrio, ou ainda quando no produz prova contra si mesmo,

    e tambm a defesa tcnica atravs de advogado ou defensor pblico legalmente

    capacitado e habilitado, ou seja, na falta de defesa tcnica ou quando esta se mostra

    ineficiente, o processo pode vir a ser anulado, cabendo ao juiz que o perceba intimar

    o ru a constituir outro defensor ou nomear um, se o acusado no puder constitu-lo.

    ainda parte da ampla defesa, a chamada defesa efetiva, que a garantia e a

    efetividade de participao do ru e seu causdico em todos os momentos do

    processo.

  • 9

    4. DA PLENITUDE DE DEFESA

    Antes de esmiuar o tema, necessrio apresentar uma definio do que

    venha a ser plenitude da defesa ou defesa plena. Entre os autores mais lidos no Direito

    Penal, Guilherme de Souza Nucci (5) assim o define:

    ...a plenitude de defesa quer significar o exerccio efetivo de uma defesa irretocvel, sem qualquer arranho, calcada na perfeio - logicamente dentro da natural limitao humana.

    E vai alm:

    A plenitude de defesa, como caracterstica bsica da instituio do jri, clama por uma defesa irretocvel, seja porque o defensor tcnico tem preparo suficiente para estar na tribuna do jri, seja porque o ru pde utilizar o seu direito autodefesa, ouvido em interrogatrio e tendo sua tese devidamente levada em conta pelo juiz presidente, por ocasio da elaborao do questionrio.

    Arrematando acertadamente:

    "O defensor despreparado, sem experincia no trato com os jurados, incapaz de sustentar seus pensamentos de forma lgica e didtica, inabilitado para falar em pblico e distanciado das peculiaridades do tribunal popular pode colocar seriamente em risco o direito de defesa do ru, que , repita-se, fundamental."

    De incio, poder-se-ia questionar qual a razo de se estabelecer parmetros

    ainda mais amplos para a defesa j prevista no ordenamento, porm o instituto se faz

    necessrio quando se leva em considerao que, em que pese o carter democrtico

    de um julgamento popular, naquele momento a liberdade de algum est em jogo

    perante a um juzo que no precisa justificar seu posicionamento e que , em regra,

    regido antes pela emoo e pelo empirismo do que pela tcnica jurdica.

    Segundo este princpio, nos processos do Jri, mais que a ampla defesa, que

    exigida em todo e qualquer processo criminal, conforme o art. 5, LV da CF, vigora

    a plenitude da defesa, de tal maneira que, naquele instituto, no apenas a defesa

    tcnica, relativa aos aspectos jurdicos do fato, pode ser produzida.

    Assim, a plenitude da defesa , repise-se, exercida no apenas pela defesa

    tcnica e pela autodefesa, afinal agora possvel ao Advogado preparar os

    argumentos que favorecero o Ru, podendo, assim, expor o que melhor lhe couber,

    ainda que no haja o respaldo jurdico necessrio.

    E quando se fala em argumentaes no jurdicas, incluem-se a questes

    sociolgicas, religiosas e morais, como os apelos ao emocional do corpo de jurados e

    os testemunhos da vida do acusado trazidas pelos laudadores ou testemunhas de

    beatificao. De pronto j se observa que, tais argumentos, antes servindo apenas

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    para a anlise de quantificao de uma eventual pena, servem agora para a prpria

    absolvio ou condenao do acusado, podendo mesmo ser apontados como a

    aplicao do direito penal do autor, e no do fato.

    Isso no bastasse, tambm em tutela aos interesses do acusado, se o Juiz

    analisar a defesa e assim constatar que, da forma como desenvolvida em plenrio,

    mostra-se inepta, pode dissolver o Conselho de Sentena, declarando o Ru indefeso.

    Assim, o princpio da plenitude da defesa denota o exerccio efetivo de uma defesa

    irretocvel, sem qualquer mcula, perfeita, dentro dos limites da ao e compreenso

    humanas.

    O ltimo dos alicerces claramente estabelecidos e que diferenciam a ampla

    defesa da defesa plena, a previso do artigo 428 do CPP de desaforamento do Jri.

    Na prtica, alm de previses voltadas ao mero andamento processual, como as que

    referem ao excesso de servio, possvel a relocao do julgamento para a Comarca

    vizinha nos casos de risco concreto de grave perturbao da ordem pblica, dvida

    sria sobre a imparcialidade do jri ou sobre segurana pessoal do ru, claramente

    situaes que poderiam influir no posicionamento e nas convices dos jurados.

    Essas situaes, quando efetivamente comprovadas, demonstram a

    necessidade de alterao do local de realizao do julgamento,

    optando-se pelas localidades mais prximas onde no subsistam os

    mesmo motivos. Nesses pontos, a nova lei determina a preferncia

    por comarca da mesma regio. Mais importante do que a proximidade,

    no entanto, h de ser o critrio da contaminao, j que, em alguns

    casos, a repercusso do fato irradia-se por toda a regio, sendo caso

    de se desaforar para local onde no haja o reflexo da situao (6).

    Ainda assim, h doutrinadores que discordam do posicionamento de Jos

    Frederico Marques, por entenderem que a completa desvinculao com o fato

    descaracterizaria a essncia do Tribunal do Jri, como sendo um julgamento entre

    concidados, diante da falta de identificao entre si. Exemplo claro disso seria o

    desaforamento de um caso de crime passional de uma pequena e mais tradicional

    Comarca do interior para a Comarca da Capital (e vice-versa), em especial diante do

    fato de que, na prtica no se observa o mandamento legal de remoo dos autos

    para uma Comarca vizinha.

    Por todo o exposto, no h como deixar de enxergar diferenas entre os dois

    institutos: a ampla defesa e a plenitude da defesa, ainda que dentro de um mesmo rito

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    processual que o do Tribunal do Jri, o que os torna figuras reais e no meras

    divergncias dogmtico-filosficas.

    5. CONCLUSES

    Historicamente, o Tribunal do Jri integra o cenrio jurdico brasileiro desde o

    perodo do Imprio e, mesmo diante das diversas modificaes sofridas ao longo dos

    anos e das legislaes, sempre representou um marco democrtico na distribuio de

    Justia, possibilitando a submisso de um acusado ao julgamento pelos seus pares,

    o que, por si s, representa a busca por uma aplicao do direito que acompanhe os

    movimentos e as evolues (e involues) sociais.

    O objeto de estudo deste trabalho foi tentar mostrar que a plenitude de defesa,

    prevista na Constituio, configura, em relao ampla defesa, algo ainda mais amplo

    e especial, dada a sua importncia e aos bens jurdicos que esto em jogo: de um

    lado a vida, do outro a liberdade.

    Segundo alguns autores, enquanto a ampla defesa representa o direito

    positivado e dogmtico, a defesa plena remonta aos princpios do direito natural,

    ilimitado, irrestrito, sendo apenas guiado pelos princpios jurdicos norteadores do rito

    do Jri.

    bem verdade que tanto a ampla defesa quanto a defesa plena ocupam lugar

    de destaque no processamento e julgamento dos crimes dolosos contra a vida, sendo

    que a ampla defesa est presente na fase do juzo de asmissibilidade (sumrio de

    culpa), e a penitude da defesa na fase do Tribunal do Jri propriamente dito.

    Tambm no se pode olvidar que, no obstante o fato de o ru ter a seu favor

    o poder do exerccio da defesa em sua plenitude, o princpio do equilbrio processual

    paridade de armas, garante igual direito acusao.

    Assim, em sendo possvel defesa valer-se da teatralidade no convencimento

    dos jurados, com argumentos que sequer tenham embasamento jurdico, da mesma

    forma pode agir a acusao, cabendo ao Juiz Presidente apenas o controle para que

    o teatro no se venha a tornar um circo, como poderia vir a ocorrer.

    Em consequncia, no h falar em violao ao princpio do contraditrio pela

    concretizao do princpio da plenitude de defesa, uma vez que aquele deve ser

    observado no apenas formalmente, mas, sobretudo, pelo aspecto substancial,

  • 12

    material, por princpio, mandamento e permissivo constitucional.

    Ora, ao se subemeter algum ao julgo de outras pessoas, ainda que iguais,

    mas sem o arcabouo jurdico comum queles que integram o Poder Judicirio, e

    mais, sem cobrar-lhes justificativa para a deciso nessa ou naquela vertente, estar-

    se- claramente privilegiando a democracia, mas tambm propiciando reforos

    miditicos que podem levar a caminhos mais ou menos desejados, da a importncia

    de no limitar a defesa do acusado a parmetro estritamente positivados.

    Por outro lado, em uma perspectiva mais otimista, levando em conta a

    soberania dos vereditos, resta claro que os jurados leigos so to importantes quanto

    os Juzes togados, pois suas decises, baseadas na ntima convico e no bom senso

    do ser humano social, denotam o direito como a sociedade o deseja. Assim, a

    tecnicidade das decises judiciais, d lugar s sentenas coerentes dos jurados,

    relativizando a dependncia nica e exclusiva de conhecimentos jurdicos, em

    contraste com o senso comum de justia.

    E assim, o Jri representa, sem sombra de dvidas, um valioso instrumento da

    democracia e da certeza de que a Justia estar sempre sensvel s transformaes

    sociais.

    REFERNCIAS

    1. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 11 edio. So Paulo:

    Saraiva, 2009.

    2. NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Jri. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

    2008.

    3. STJ. Habeas Corpus. HC 58.823/MT, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA

    TURMA, DJ 09.06.2008 p. 1. : Superior Tribunal de Justia, 2008.

    4. STF. Recurso Extraordinrio. RE 540999/SP, Relator(a): Min. MENEZES DIREITO. Primeira

    Turma, DJe-112 DIVULG 19-06-2008 PUBLIC 20-06-2008 EMENT VOL-02324-06 PP-01139 :

    Supremo Tribunal Federal, 2008.

    5. NUCCI, Guilherme de Souza. Jri: Princpios Constitucionais. So Paulo: Juarez de Oliveira,

    1999.

    6. MARQUES, Jos Frederico. Elementos de direito processual penal. Campinas : Millenium,

    2009.