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Terrorismo e Fanatismo Religioso Escrito por Elbson do Carmo Para aqueles que imaginavam ser distante a possibilidade de um conflito global por conta do fim da guerra fria, o terrorismo revelou-se como a verdadeira 3ª grande guerra, que tem tingido com o sangue de inocentes o alvorecer do terceiro milênio. Há pouco mais de um ano escrevemos um artigo acerca da possibilidade de uma nova onda de ataques terroristas em escala global tendo em vista a iminente invasão do Iraque por tropas de uma coalisão militar liderada pelos Estados Unidos – o artigo intitula-se " Crônica de Uma Guerra Anunciada &quo t;. Na época, recebemos todo tipo de crítica a respeito do artigo, inclusive algumas que nos acusavam de delírio surrealista. Isso porque creditávamos aquela invasão a algo injustificado sob a ótica do combate ao terrorismo, e que a mesma atendia tão somente a interesses econômicos e bélicos. Infelizmente, nossa análise se comprovou verdadeira. O Iraque não tinha qualquer ligação com o ataque ao World Trade Center, não havia armas de destruição em massa e o país não representava qualquer risco à segurança global. Era tão somente um alvo de oportunidade que atendia perfeitamente aos interesses norte-americanos na geopolítica do petróleo, pior que isso, os EUA tinham ciência de tudo isso e fraudou juntamente com a Inglaterra uma miríade de supostas evidências. A imagem do EUA piorou em todo o mundo. Mais uma vez trocou-se petróleo por sangue. Que Sadam era um ditador assassino e cruel, não há dúvidas. Que deveria ser deposto, também. Mas a história comprova que há meios de derrubar um governo sem a necessidade de uma invasão, a história recente da América Latina comprova isso. Nenhum povo vê com bons olhos que seu país seja invadido e ocupado por um exército estrangeiro de forma prolongada, mesmo que o motivo seja justo. O resultado dessa invasão está exposto nos noticiários. O Iraque está melhor sem Saddam? Sim. Mas está pior depois da invasão. Quem será o próximo? O Irã, a Líbia? Provavelmente. Notadamente, o terrorismo no mundo recrudeceu desde a invasão do Iraque, foi o combustível que faltava aos radicais islâmicos que já identificavam o ocidente como seu grande inimigo. E esse conceito não é novo, consolidou-se ao longo dos séculos que se seguiram às cruzadas cristãs. Esse conceito firmou-se definitivamente com a fundação do Estado de Israel. Não raro o próprio Osama Bin Laden se refere ao ocidente como "cruzados". O fundamentalismo islâmico. Entendemos por "fundamentalismo" toda e qualquer doutrina ou prática social que busca seguir determinados "fundamentos" 1 / 9

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Para aqueles que imaginavam ser distante a possibilidade de um conflito globalpor conta do fim da guerra fria, o terrorismo revelou-se como a verdadeira 3ªgrande guerra, que tem tingido com o sangue de inocentes o alvorecer doterceiro milênio.

Há pouco mais de um ano escrevemos um artigo acerca da possibilidade de umanova onda de ataques terroristas em escala global tendo em vista a iminenteinvasão do Iraque por tropas de uma coalisão militar liderada pelos EstadosUnidos – o artigo intitula-se " Crônica de Uma Guerra Anunciada ". Na época, recebemos todo tipo de crítica a respeito do artigo, inclusivealgumas que nos acusavam de delírio surrealista. Isso porque creditávamosaquela invasão a algo injustificado sob a ótica do combate ao terrorismo, e que amesma atendia tão somente a interesses econômicos e bélicos.

Infelizmente, nossa análise se comprovou verdadeira. O Iraque não tinhaqualquer ligação com o ataque ao World Trade Center, não havia armas dedestruição em massa e o país não representava qualquer risco à segurançaglobal. Era tão somente um alvo de oportunidade que atendia perfeitamente aosinteresses norte-americanos na geopolítica do petróleo, pior que isso, os EUAtinham ciência de tudo isso e fraudou juntamente com a Inglaterra uma miríadede supostas evidências. A imagem do EUA piorou em todo o mundo. Mais umavez trocou-se petróleo por sangue. Que Sadam era um ditador assassino e cruel,não há dúvidas. Que deveria ser deposto, também. Mas a história comprova quehá meios de derrubar um governo sem a necessidade de uma invasão, a históriarecente da América Latina comprova isso. Nenhum povo vê com bons olhos queseu país seja invadido e ocupado por um exército estrangeiro de formaprolongada, mesmo que o motivo seja justo. O resultado dessa invasão estáexposto nos noticiários. O Iraque está melhor sem Saddam? Sim. Mas está piordepois da invasão. Quem será o próximo? O Irã, a Líbia? Provavelmente.

Notadamente, o terrorismo no mundo recrudeceu desde a invasão do Iraque, foio combustível que faltava aos radicais islâmicos que já identificavam o ocidentecomo seu grande inimigo. E esse conceito não é novo, consolidou-se ao longodos séculos que se seguiram às cruzadas cristãs. Esse conceito firmou-sedefinitivamente com a fundação do Estado de Israel. Não raro o próprio OsamaBin Laden se refere ao ocidente como "cruzados".

O fundamentalismo islâmico.

Entendemos por "fundamentalismo" toda e qualquer doutrina ouprática social que busca seguir determinados "fundamentos"

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tradicionais, geralmente baseados em algum livro sagrado ou práticascostumeiras, consuetudinárias. Todo o fundamentalismo tende a umaabsolutização do "eu", do "ego" em detrimento do"outro". Deixa-se de perceber que o "outro" é em verdadesimilar a sí próprio, detentor de idéias e conceitos, e termina-se por nãoreconhecer a validade do ponto de vista do outro.

O islamismo já nasceu fundamentalista e expansionista. O islã conquistou pelaforça mais nações do que o cristianismo conquistou pela pregação, e sua crençabaseia-se apenas na revelação de um livro – o Corão – que o próprio Maomé dizter sido inspirado por Deus entre 578-632 DC. Em várias das suras (capítulos) doCorão lê-se passagens que colocam como uma obrigação do crente islâmicosubjugar os "Infiéis", "perseguí-los", "fazer-lhesguerra santa - Jihad". Ou seja, o islamismo nasceu votado à sua expansãoa qualquer custo, é parte de sua identidade.

O próprio nome "Islã" significa "o fundamento". A exemplodo protestantismo fundamentalista, o islamismo não admite um mundo que estejafora das linhas de seu livro sagrado. Mesmo o que é reinterpretado fora daliteralidade, o é em favor de uma visão estreita que exclui completamente apossibilidade de um entendimento mais amplo de qualquer questão. Épraticamente impossível explicar aos fundamentalistas que o pensamento e amoral humana evoluiram ou devem evoluir dando novas luzes à sua crença."O que está escrito, está escrito", talvez seja essa a resposta maiscomum num diálogo com um fundamentalista, onde "Alah" ou Deus, émenor que seu livro sagrado e toda a revelação contida nesse livro encerra todasas verdades, nada mais pode ser admitido.

Mas há de se fazer justiça, o islamismo atual como um todo não representa oideal fundamentalista, principalmente as comunidades muçulmanas ocidentais oulocalizadas em países antes colonizados por nações do ocidente. Há valoresimportantes no islamismo como o respeito à família, a caridade, o patriotismo, asolidariedade e a devoção. E muitas comunidades muçulmanas no mundo sãoexemplo de tolerância e virtude.

Entretanto, quando se fala de fundamentalismo islâmico – que é o nosso foco -mesmo os grupos muçulmanos moderados são considerados infiéis ou traidorespelos fundamentalistas. A exemplo de nosso mundo cristão, onde, mesmo noseio do protestantismo não há qualquer unidade, apenas o fundamentalismobíblico é fator comum entre esses protestantes.

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O mundo islâmico é vasto, mas dificilmente se pode dizer que o mesmo sejacoeso, e que o fundamentalismo seja uma característica própria da fé islâmicaem todos os lugares onde é praticado. Mas, nos países islâmicos mais pobres oumarcados por uma organização social tribal ou patriarcal, sem dúvida, ofundamentalismo e o fanatismo são a tônica. Haja vista, o fundamentalismo sejapara essas sociedades um veículo útil de domínio e controle das massas.

Um fundamentalista islâmico não vê a outras pessoas ou povos como sereshumanos, mas como "infiéis", e esse adjetivo traz consigo umatradução de inferioridade a ponto de não se enxergar nos "infiéis"simplesmente pessoas, mas inimigos. Não há ética ou moral que se possa aplicarao "infiel" a não ser a lógica do porrete, afinal, para umfundamentalista islâmico não é um "haran" (pecado) matar um infiel.Essa constatação é terrível, pois é a promessa de algo que acompanhará omundo por muito tempo, um estado de conflito permanente.

O terrorista – Morrer (e matar) em nome de Deus.

O perfil do terrorista que se lança para a morte pretendendo levar consigo outrostantos inocentes (ou não) e com isso implantar uma atmosfera de terror socialnão é novo. Na antiga Judéia os zelotas já se lançavam em ataques suicídascontra grupos de romanos ou contra judeus acusados de colaborar com osinvasores. Eram logicamente massacrados, mas a meta era provar que nenhumromano ou judeu estava seguro enquanto persistisse a ocupação. Os zelotastambém eram chamados de sicários por causa do punhal que carregavamescondido sob seu manto. Os zelotas eram fundamentalistas radicais, queriamexpulsar os romanos pela luta armada. Essa luta nacionalista tinha cunhoreligioso: queriam instaurar um Estado onde Deus fosse o único rei, representadopor um descendente de Davi, o Messias. Para os zelotas, a aceitação de umadominação estrangeira e o pagamento dos impostos a um soberano estrangeiroera uma blasfêmia contra Deus. Ou seja, tinham em Deus a justificação para suaalienação assassina.

Durante as cruzadas temos os "fedahin" - que significa "osassassinos". O nome parece familiar? Se você recordou-se das tropas deelite de Saddam Hussein que tinham o mesmo nome, então a relação é correta.Os fedahin eram originalmente os guerreiros suicídas do sultão Hassan binSabbah Homairi. Eram recrutados entre os jovens mais pobres, entre as aldéias efamílias mais miseráveis. Esses jovens eram doutrinados segundo o maior rigorda fé islâmica. Eram aliciados à crença de que suas mortes eram uma grande

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honra para suas famílias - que passavam a ser vistas com distinção nacomunidade, além da adulação e prêmios recebidos quando da morte do filho emcombate. Os jovens eram levados a pensar que matavam não em favor de seusoberano, mas em nome de sua nação e de sua fé. Tinham a firme crença deque eram mártires da fé islâmica, e por isso receberiam as delícias do céu. Alahos premiaria com os favores sexuais de 70 virgens, além de prazeres sem limites.Esse padrão de aliciamento e fundamentalismo religioso persiste até os nossosdias.

Nos dois perfis, observamos um mesmo padrão: pobreza e fanatismo religioso.Os terroristas da atualidade possuem o mesmo perfil. Jovens, homens emulheres, entre os 16 e 30 anos, pobres, desempregados, com baixíssimainstrução, e que em sua maioria vivem em regiões de conflito ou marcadas poruma história de guerras e fome. A essas pessoas, que desde cedo convivem coma violência como uma forma lícita de sobrevivência, não são oferecidas muitasopções, ou vivem "covardemente" a sua sina, ou"dignificam" suas vidas através da luta, que pressupõe a utilização detodos os meios, e o único meio lícito para eles é a violência e o terror queconheceram ao longo da vida.

Um terrorista nunca é uma vítima, mas, certamente, é fruto de uma sociedadeviolenta e pobre, além de profundamente dominada por uma estrutura religiosafundamentalista e retrógrada. Mas percebamos que a pobreza e a falta dehorizontes desses jovens são os veículos utilizados pelos líderes e aliciadoresterroristas. Para esses líderes, pessoas com esse perfil são as escolhas perfeitaspara uma lavagem cerebral.

As organizações terroristas

Em geral, os jovens terroristas islâmicos são recrutados em suas comunidadespor organizações que têm grande influência política e religiosa. Essasorganizações ocupam os espaços deixados pelo Estado. Muitas vezes cuidam dasaúde, da educação e, principalmente, da formação religiosa das comunidades.Iniciam o recrutamento de seus membros ainda na infância, e formam indivíduosvoltados unicamente aos objetivos da organização. Toda a educação física eintelectual desses jovens é dirigida aos objetivos dessas organizações, quemuitas vezes colaboram entre sí. Mesmo para as organizações terroristas, seusmembros de baixo escalão são tão somente peões num jogo, a vida dos mesmos

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não tem qualquer valor.

Em geral, as organizações terroristas islâmicas têm por meta a"restauração" dos estados muçulmanos, tendo a lei corânica (doCorão) como regente do funcionamento da sociedade. Pretendem abolir toda equalquer influência do ocidente seja na política, seja nos hábitos da população. OAfeganistão era um típico exemplo desse "estado islâmico puro", ondemulheres eram fuziladas pelos menores deslizes e crianças eram obrigadas adecorar o Corão a pauladas. Esses objetivos são comuns a todas asorganizações. Mas variam bastante a depender do grupo étnico ou do país aoqual pertença a organização terrorista.

Para o atingimento dos objetivos de uma organização terrorista, os meios sãodesprovidos de qualquer ética ou moral. Não importa se os alvos são crianças,trabalhadores, civis inocentes. Esses são considerados "perdas deguerra", elementos menores num intrincado jogo onde o objetivo maior éminar as sociedades ocidentais pelo que elas têm de maior valor, seusindivíduos. O mundo islâmico como um todo não preza o indivíduo como um valora ser protegido. E os terroristas vêem nesse elemento da constituição social dospaíses ocidentais uma fraqueza. Não há remorso por parte do terrorista em matarinocentes, eles são apenas um veículo útil, são "infiéis", não sãoconsiderados humanos, filhos de Deus, apenas "infiéis" e nada mais.E mesmo o assassínio desses "infiéis" é bem visto aos olhos de Deussegundo os fundamentalistas.

Chocar a opinião pública dos países ocidentais é a grande meta, um veículo útilaos seus objetivos de subjugar seus inimigos e infundir-lhes o medo. Por issodegolam suas vítimas diante de câmeras, fazem questão de filmar seus gestos debarbárie, querem a atenção da mídia, divulgam suas atrocidades de todas asformas. Querem mostrar ao mundo que não há limites para o que podem fazer.Preferem mandar um vagão de passageiros inocentes pelos ares – comoaconteceu na Espanha – do que atacar um quartel militar. Eles sabem o poder daopinião pública nos países democráticos e sabem explorar a comoção populardessas nações em favor de seus objetivos. Isso é notório quando se observa quena Espanha, por exemplo, o governo que apoiou a coalisão no Iraque perdeu aseleições após o ataque terrorista de 11/03/2004. E mais recentemente na cidadede Breslan, na Federação Russa, onde o governo enfrenta um verdadeiroterremoto político após o atentado que matou mais de 370 inocentes, entre eles,mais de 150 crianças. É terrivel saber que no caso de Breslam, quando a escolafoi invadida pelo exécito russo, os terroristas voltaram suas armas aos reféns, e

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não aos soldados, ou seja, não lhes era importante a própria integridade, massim cumprir sua promessa matando tantos reféns quanto pudessem.

O que causa o terrorismo

Voltamos a afirmar que nenhum terrorista ou organização terrorista é inocente ouvítima. Não há motivo que justifique a matança de inocentes. Se a causa de umaorganização reside na defesa da liberdade de seu país, de seu povo, e de seumodo de vida, ainda assim essa organização será tão somente um grupo deassassinos covardes quando fizerem de cidadãos comuns e inocentes o seu alvopreferencial. A justeza de sua causa se dilui completamente nos meios queutilizam para defende-la.

É sabido que política externa das potências ocidentais já não prima pelomultilateralismo há bastante tempo, e a "doutrina Bush" só piorou ascoisas; a globalização sem dúvida influencia a cultura dos países globalizados; oEstado de Israel foi constituído à custa da expulsão de famílias palestinas que hámuito ocupavam aquela terra; já afirmamos que os terroristas suicídas em suamaioria são oriundos de bolsões de miséria e exclusão social. Mas nenhumdesses fatores é decisivo como causa para o terrorismo. Então, qual é?

Que me desculpem os crédulos, mas miséria não é desculpa, não é fatorprimordial como gerador do terrorismo, muito embora seja o ambiente propício aodesenvolvimento do fanatismo religioso que possa desaguar em práticasreligiosas violentas.

O terrorismo não se alimenta da miséria – como a ETA comprova, como o IRAcomprova, como o Baader-Meinhof comprova, como as Brigadas Vermelhascomprovam.

Nenhuma destas organizações era formada por pessoas miseráveis ou vivendoem ambientes degradados – pelo contrário, são formados por pessoas oriundas,às vezes, das classes altas, que se auto-excluiram da sociedade.

E auto excluíram-se porquê?

Por razões ideológicas ou religiosas. É disso que se alimenta o terrorismo.

Osama Bin Laden - atualmente o mais procurado terrorista do mundo - era (é) ummilionário saudita, ou seja, não viveu uma vida de privações motivadas por seuambiente social.

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Muitas organizações terroristas são muito bem financiadas, e esse dinheirologicamente não provém de comunidades miseráveis. Miseráveis mesmo sãoapenas os recrutados por esses grupos. Combater a miséria no médio oriente epromover a justiça social certamente diminuirá bastante o número de jovens semamanhã que abraçam o terrorismo internacional. Mas não será a soluçãoinfelizmente.

O problema reside numa gênese mais ideológica e religiosa que em qualqueroutra. Reside mais uma vez no fundamentalismo. Reside num fundamentalismonacionalista, racista, histórico ou religioso. Este último tem sido a marca de nossotempo, Deus se transformou no argumento perfeito para os assassinos islâmicos.

Utilizando do fundamentalismo religioso, Bin Laden e outros formaram umverdadeiro exército em todo o mundo. Homens e mulheres dispostas a morrer ematar em nome de um Deus que elegeu apenas eles, os radicais muçulmanos,como o povo eleito e destinado a dominar o mundo. Deus é a desculpa paramatar crianças, trabalhadores, civis que sequer entendem a real razão de tantaviolência. O alcorão se transformou no guia do valente guerreiro, servo do únicoDeus. A paz só lhes parece possível à custa da eliminação dos seus oponentes,e não à custa da coexistência de raças e credos de forma pacífica.

Que ninguém se engane, mesmo que os "infiéis" da sociedadejudaico-cristã simplesmente abandonem os países islâmicos à própria sorte, ouparem de influenciar suas políticas, ainda assim essa violência em nome deDeus, essa "guerra santa" persistiria. Se não pelos motivos de hoje,mas por uma vingança sem fim. Um claro exemplo disso é a Guerra dos SeisDias de 1967, um conflito que até hoje não acabou. E ambos os lados invocarame invocam Deus como advogado de seus atos.

À custa da invocação de Deus e do Corão, Bin Laden transformou-se num heróipara o mundo islâmico, afinal o deus de Bin Laden tem obtido enorme êxito,inclusive com a ajuda de George Bush. Convocou todos os muçulmanos para a"guerra santa", e fez o pior: transformou sua organização, a Al-Qaeda,numa idéia, num formato de luta que certamente tem influenciado gruposterroristas em todo o mundo. Em tudo isso persiste a atribuição de um caráterdivino à sua luta.

Sob um verniz de emissário de Deus, de um novo Saladino, Bin Laden aparece

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aos olhos dos fundamentalistas muçulmanos - e de antiamericanos ainda pioresque os radicais muçulmanos – como um messias do islamismo puro, umcampeão da "verdadeira" fé islâmica. Verniz esse que parecedistorcer a realidade de tratar-se de um assassino, de um fanático que naverdade utiliza-se do nome de Deus da mesma forma como manuseia um fuzil.

Da mesma forma que no mundo cristão um falsário e ladrão parece bastantehonesto e bom aos olhos dos seus seguidores. Em ambos os casos, o uso donome de Deus e o fundamentalismo religioso são as armas.

Diante do atual conflito global que chega às raias de uma guerra nãoconvencional, os terroristas já comprovaram que nenhuma nação está segura.Mesmo a Rússia que foi contrária a invasão do Iraque sofreu um atentadopatrocinado por terroristas chechenos e membros da Al-Qaeda.

Não há inocentes em nenhum dos lados, nem ocidentais e nem muçulmanos,mas é inegável o fato de que em todos os atentatados terroristas perpetrados nomundo desde o 11/09/2001, em todos houve a participação de terroristasmuçulmanos, sempre a gritar morte aos "infiéis", sempre a invocar onome de Deus e citar passagens do corão. E isso credita sem dúvida à formacomo o a fé islâmica é pregada e ensinada em várias nações do mundo um ônusmuito grande. Credita ainda mais aos governos árabes uma culpabilidade aindamaior por utilizarem do mesmo fundamentalismo em favor de seus objetivos, queobviamente excluem a influência ocidental como aceitável.

Sem dúvida que a miséria e a fome devem ser erradicadas, que as potênciasocidentais devem rever sua política externa em relação ao oriente médio e a todoo mundo; que a multirateralidade deve ser o balizador das relaçõesinternacionais; que as nações islâmicas devem combater as organizaçõesterroristas sediadas em seus países e o fundamentalismo religioso. Todas essassão as medidas necessárias para extirpar o mal do terrorismo em sua origem.Mas os terroristas de hoje só podem ser combatidos com energia e açõesefetivas, e não com a invasão ou agressão a qualquer outra nação árabe, pois seas potências do ocidente abraçarem o terrorismo de estado, o conflito atual quepoderá levar décadas para ter um fim, não terá um termo nunca.

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O banco dos réus da história

É necessário que todos os homens das religiões desenvolvam a consciência deque Deus está acima das realidades temporais e não se pode servir-se de Deuscomo argumento, justificativa ou mesmo cabo eleitoral. O papa João Paulo IIadvertiu, muito sabiamente, ao presidente George Bush por tentar trilhar amesma estrada dos radicias islâmicos, de invocar o nome de Deus como avalistade seus objetivos belicistas. Mas infelizmente o mundo islâmico não dispõe deuma liderança religiosa de mesmo calibre. Deus não é culpado pelos erros dasnossa sociedades, seja cristãs, seja muçulmanas; das nossas religiões e dasnossas teologias e filosofias.

Muitos ateus hoje creditam o panoram violento do mundo atual às religiões e aum Deus que segundo os mesmos é tão somente um pretexto para a violência epara a guerra sem medidas. Ou seja, para esses ateus, a existência de religiõese de um Deus único é um fator de desestabilização permanente do mundo. SeDeus fosse banido da existência humana e com Ele todas as religiões, o mundoencontraria a paz. Mas esquecem (ou querem esquecer) que um mundo semDeus não faria os homens mais solidários, menos egoístas ou mais pacíficos. Ahistória comprova que mesmo antes do estabelecimento do monoteísmo ousequer das grandes religiões monoteístas, os homens já matavam, roubavam eguerreavam por riqueza, poder, prazer, vingança e inveja.

Quem deveria então estar no banco dos réus da história? Deus e as religiõespregadoras da paz, da valorização da vida e da concórdia? Ou o homem queainda persiste no pecado adâmico de ser como Deus, de ser um deus?

Para os estorvos da humanidade, o santo nome de Deus é o grande bodeexpiatório da história.  Em toda a trágica, mas brilhante história humana, já se fezde tudo em nome de Deus, mas no tribunal dessa mesma história não é dificilatestar que ao homem cabe todo o ônus de suas derrocadas,  Deus é inocente.

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