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Texto de autoria do professor Paulo Cunha, utilizado em atividade com os alunos de Pré-Iniciação Científica da EE Romeu de Moraes, integrantes do Projeto Imunologia nas Escolas.
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Para entender o que é um Paradigma Paulo Cunha
Thomas Kuhn (1922-1996), físico e historiador da ciência, mudou completamente a noção sobre o
progresso científico.
Até a década de 1960 tínhamos a noção de que a ciência progredia de forma contínua, por melhorias
consecutivas, adicionadas por sucessivos cientistas.
Em sua mais conhecida obra, “A Estrutura das Revoluções Científicas” de 1962, Kuhn defendeu que
os grandes progressos da ciência não resultam de processos de continuidade, mas sim de processos de
ruptura.
Períodos nos quais uma ciência evolui de forma contínua são denominados de Ciência Normal. Durante
esse período, os fenômenos naturais aos quais essa ciência se aplica são vistos por todos os seus praticantes a
partir de uma mesma perspectiva. Todos vêm “o mundo” da mesma maneira.
O trabalho contínuo de pesquisadores envolvidos com essa ciência começa a produzir informações e
conhecimentos que, uma vez analisados, apontam contradições internas, ou seja, a maneira como se explica
certos fenômenos passa a não ser aceita por todos. Assim, chega-se à conclusão de que a forma de ver o
mundo em que essa ciência de baseia não é mais adequada. Busca-se uma nova maneira de ver “o mundo”
(os fenômenos naturais daquela ciência).
Kuhn denominou de paradigmas as diversas formas de ver o mundo. Em certas situações, um paradigma
tornasse tão difundido e amplamente aceito que temos a impressão de que é a única maneira possível para se
explicar um fenômeno.
Os períodos de transição no qual novos paradigmas são propostos para explicar os fenômenos naturais é
denominado “Ciência Revolucionária”.
Segundo Kuhn, uma ciência evolui por alternância de etapas que ora são de evolução normal, ora de
ruptura revolucionária. Para ele, as rupturas revolucionárias são as que mais contribuem para o progresso de
uma ciência.
Transição de paradigmas: o caso dos modelos geocêntrico e heliocêntrico Na Astronomia durante muitos séculos acreditou-se no paradigma geocêntrico, segundo o qual o Sol
giraria em torno da Terra. Todos os cálculos matemáticos da época, realizados sobre os movimentos dos
planetas, confirmavam que o paradigma geocêntrico era o correto. A certa altura, no entanto, alguns
astrônomos e físicos começaram a observar irregularidades em alguns dos cálculos. Essas irregularidades
só poderiam ser explicadas se a Terra girasse em torno do Sol, e não o contrário. Durante anos, essas novas
ideias (paradigma heliocêntrico) sofreram rejeições sociais, acusações de heresia e, em alguns casos, as
pessoas que defendiam essas novas ideias perderam a própria vida nas fogueiras da Inquisição. A partir de
certo momento, no entanto, os cálculos começaram a confirmar que, de fato, os heliocentristas estavam com
a razão, e esse paradigma prevaleceu.
Uma ciência imatura, segundo Thomas Kuhn, é aquela que ainda nem sequer tem paradigmas e como
tal, nem sequer poderia ser considerada uma ciência. Um investigador que pretenda fazer ciência na ausência
de um paradigma se depara com uma coleção caótica de conceitos não organizados, sem coerência e
unidade, ou então, esse pesquisador se depararia com múltiplas propostas de explicações que são
inconciliáveis entre si. Por outro lado, como citamos acima, uma ciência normal é aquela que já estabeleceu
os seus paradigmas.
De acordo com Kuhn, os grandes progressos de uma ciência só acontecem quando os seus próprios
paradigmas são desafiados e substituídos por novos paradigmas. A essas ciências, que rompem com os
paradigmas que as regiam, chamou ciências revolucionárias.
O conceito de paradigma tornou-se muito popular a partir das propostas de Kuhn e hoje significa na
linguagem popular uma maneira de ver a realidade. Trata-se de um conceito particularmente importante para
compreender, não apenas a ciência, mas também, muito do que ocorre na vida em sociedade. Muitos dos
conflitos que hoje em dia são gerados resultam de choques entre pessoas que vêm a realidade de maneiras
diferentes ou mesmo antagônicas.
Isso tem particular importância, por exemplo, em matéria de ética, na medida em que caso vejamos as
questões segundo uma determinada visão, porventura reprovável, dificilmente seremos capazes de adotar
uma visão alternativa que seja eticamente mais equilibrada.
O importante é ganharmos flexibilidade intelectual que nos torne capazes de mudar de paradigma. Uma
vez adquirida essa flexibilidade, poderemos, então, analisar cuidadosamente os paradigmas em jogo e fazer
opções mais apropriadas aos contextos nos quais estamos inseridos.
Referências:
KUHN, T. S. The structure of scientific revolutions. Chicago: University of Chicago Press, 1962.
A revolução de Kuhn – Ciência Hoje – Dez de 2002.