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TÍTULO DO PROJETO “ Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica” Rogério Orlando de Gouveia Freitas _________________________________________

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência ... · 1.1. Violência doméstica: Definição e especificidades A Violência Doméstica (VD) é um grave problema que atinge

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TÍTULO DO PROJETO

“ Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica”

Rogério Orlando de Gouveia Freitas

_________________________________________

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

Resumo

O presente Projeto tem como objetivo potenciar a atuação dos Agentes da

Polícia de Segurança Pública neste particular, através da melhor formação, a fim de

prevenir e punir os ofensores e defender as vítimas.

A Violência Doméstica (VD) é um grave problema que atinge a humanidade,

independentemente do sexo, da situação económica e social, religiosa ou cultural. Esta é

uma problemática social transversal a todas as classes sociais que é uma prioridade

combater e intervir de modo concertado e preventivo.

Este Projeto de Graduação visa contribuir para conhecer/o fenómeno da

violência doméstica na Região Autónoma da Madeira (RAM), a partir da realidade

social da cidade do Funchal. Assim, após um breve enquadramento conceptual que

aborda a definição e especificidades do crime de violência doméstica, reação das

vítimas, participação das forças policiais, é apresentada uma proposta de

investigação/intervenção orientada para responder às necessidades específicas da

Região Autónoma da Madeira, visando a criação do projeto de intervenção (GAIV).

Estamos cientes que não basta apurar a realidade da Violência Doméstica na

Região Autónoma da Madeira (RAM), é preciso encontrar soluções que passam por

mais formação e atuação.

Palavras-chave: Violência Doméstica, ofensores, vítimas, Segurança Pública, GAIV

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

Abstract

The purpose of this Project is to enhance the role of Public Security Police

Agents in this area through better training in order to prevent and punish offenders and

defend victims.

Domestic Violence (DV) is a serious problem that affects humanity regardless

of sex, economic and social, religious or cultural situation. This is a social problem that

is transversal to all social classes and that is a priority to fight and intervene in a

concerted and preventive manner.

This Graduation Project aims to contribute to the understanding of the

phenomenon of domestic violence in the Autonomous Region of Madeira (RAM),

based on the social reality of the city of Funchal. Thus, after a brief conceptual

framework that addresses the definition and specificities of the crime of domestic

violence, reaction of the victims, participation of the police forces, a proposal of

investigation / intervention is presented oriented to respond to the specific needs of the

Autonomous Region of Madeira, aiming at the Creation of the intervention project

(GAIV).

We are aware that it is not enough to recognize the reality of Domestic

Violence in the Autonomous Region of Madeira (RAM), it is necessary to find solutions

that go through more training and action.

Keywords: Domestic Violence, Offenders, Victims, Public Security, GAIV

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Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

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Índice

Introdução……………………………………………………………………………1

I- Enquadramento conceptual………………………………………………………...3

1.1.- Violência Doméstica: Definição e especificidades ………………………...3

1.1.1.- Enquadramento legal do crime de Violência Doméstica……………….4

1.1.2.- Ciclo da Violência Doméstica…………………………………………..4

1.1.3.- Tipos de Violência Doméstica…………………………………………..6

1.1.4.- Consequências da Violência Doméstica………………………………...7

1.1.5.- Quem são os ofensores………………………………………………….8

1.1.6.- Quem são as vítimas…………….………………………………..……..9

1.2.- Que fazer quando se é vítima de violência doméstica? …….………………10

1.2.1.- Fatores de Risco e de Proteção ……………………….………………...10

1.2.2.- O Risco de revitimização ……………………………………………….11

1.2.3.- Avaliação de Risco ……………………………………………………..11

1.3.- Forças Policiais: Polícia de Segurança Pública (PSP).…..………………….11

1.3.1.- Estatuto Processual da vítima…………………………………………...13

II - Proposta de Investigação e Intervenção ………………………………………….15

2.1.- Dados estatísticos do concelho do Funchal.………………………………...16

2.2. - Objetivo Geral do Programa………………………………….…………….23

2.2.1. - Levantamento das necessidades……………………………………….23

2.2.2. – Metodologia (criação do GAIV)……………………………………...25

2.2.3. – Estrutura do GAIV……………………………………………………25

2.2.4. – Composição da Equipa………………………………………………..26

2.3. – Programa de Intervenção………………………………………………….26

2.3.1. – Objetivos Específicos………………………………………………….27

2.3.2. – Avaliação do Programa de Intervenção……………………………….28

2.4. – Discussão e Resultados…………………………………………………...28

Conclusão……………………………………………………………………………..29

Referências …………………………………………………………………………...30

Anexos………………………………………………………………………………...35

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Siglas

APAV – Associação Portuguesa de Apoio à vítima

BIC – Brigada de Investigação Criminal

CP – Código Penal

DIAP – Departamento de Investigação e Ação Penal

EPAV - Equipas de Proximidade e de Apoio à Vítima.

EPES - Equipas do Programa Escola Segura.

GML-CF – Gabinete de Medicina Legal e Ciências Forenses

GNR – Guarda Nacional Republicana

IC – Investigação criminal

ICD – Intervenção Comunitária e Desenvolvimento

IS – Informação e Sensibilização

MIPP - Modelo Integrado de Policiamento de Proximidade

MP – Ministério Público

NICH – National Institute of Child Health and Development

NOVC – Novos Olhares Velhas Causas

OPC – Órgão de Policia Criminal

PIPP – Programa Integrado de Policiamento de proximidade

PJ – Polícia Judiciária

PSP – Polícia de Segurança Pública

RAM – Região Autónoma da Madeira

SSPT – Síndroma do Stress Pós-Traumático

UMAR – União de mulheres Alternativa e Resposta

VD – Violência Doméstica

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Índice de Gráficos

Gráfico 1. Queixas à PSP do Funchal em 2015 nos dias da semana………………17

Gráfico 2. Queixas à PSP do Funchal nos meses do ano de 2015...……………....18

Gráfico 3. Idade da vítima e do agressor de violência doméstica ………………...19

Gráfico 4. Tipos de violência doméstica apresentadas à PSP do Funchal………...19

Gráfico 5. Tipo de ferimentos que as vítimas apresentaram…...….………………20

Gráfico 6. Consumo de substância e do crime de violência doméstica…………...20

Gráfico 7. Horas das Queixas apresentada à PSP do Funchal no ano de 2015.…...21

Gráfico 8. Relação de parentesco entre a vítima e o agressor …………….………22

Gráfico 9. Modus operandi do agressor …………………………………………..22

Gráfico 10. Local da ocorrência …………………...……………………………...22

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Índice de Anexos

Anexo I – Artigo 152º do C.P. – Violência Doméstica

Anexo II – Avaliação de Risco (RVD-L1)

Anexo III – Avaliação de Risco (RVD-L2)

Anexo IV - Plano de Segurança (1,2 e 3 – quando a vítima vive com o agressor e pensa

afastar-se nos próximos meses)

Anexo V – Plano de Segurança (1e 2 – quando a vítima vive com o ofensor e assim

pensa continuar)

Anexo VI – Plano de Segurança (1 e 4 – quando a vítima já não vive com o agressor)

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Introdução

A Violência Doméstica é um problema que preocupa o quotidiano de todas as

sociedades. Encontrar respostas para esta situação continua a ser urgente e necessário

e, por isso, exige mecanismos de prevenção e combate. Numa breve retrospetiva

histórica podemos referir que foi com a Revolução Francesa que o feminismo ganhou

espaço de reivindicação. A França Revolucionária apoiou este movimento feminista

que simboliza para as mulheres o fim de uma história de submissão (Sardenberg &

Costa, 1994). Assistiu-se, ao longo dos anos, ao apoio da religião e da política à

Violência Doméstica, que, infelizmente, faz parte da história da família e das

sociedades ocidentais (Gelles, 1993). No decurso dos anos 60, num Tribunal

português, tendo em conta um ato criminoso de um marido contra a sua mulher, foi

considerado ser “moderado poder de correção doméstica” (MAI, Plano de Formação,

2003).

Na atualidade, a violência doméstica é considerada um crime de natureza

pública, na medida em que a sua denúncia não depende de queixa da vítima, podendo

qualquer pessoa denunciar, o que dá a este problema um carácter social. A dimensão

deste problema impõe a necessidade de, por razões políticas, económicas, sociais e

culturais, encontrar medidas que disciplinem os sujeitos envolvidos na Violência

Doméstica (Lourenço e Carvalho, 2001).

Em Portugal, o poder político fez nascer diversos grupos de trabalho com o

objetivo de estudar e refletir sobre este fenómeno a nível nacional, e redigir propostas

legislativas, promovendo parcerias com diversas instituições de cariz governamental e

não-governamental. O primeiro plano de luta contra a Violência Doméstica nasce em

1999 para, em 2003 e em 2007 se desenvolveram o segundo e terceiros planos

nacionais contra a Violência Doméstica. Mais recentemente, em 2014/2017, foi

constituído o quinto plano nacional contra a violência doméstica. O objetivo foi

sempre o mesmo: erradicação deste grave problema social.

A violência contra as mulheres está muito relacionada com o conceito de

machismo. Por isso defendemos que a desigualdade entre homens e mulheres é o

primeiro passo para a violência. Todos sabemos que a Violência Doméstica atinge

todas as classes sociais e as intervenções não podem estar circunscritas a zonas

geográficas determinadas, na medida em que os visados (vítimas) têm necessidade de

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procurarem ajuda fora da sua comunidade porque, muitas vezes, não existem serviços

que respondam positivamente ao seu problema. Mesmo assim, devemos sublinhar as

condições sociais das vítimas, os valores e as práticas sociais e o apoio da comunidade

que são fundamentais para a “sobrevivência” da vítima. A Violência Doméstica, não

acontece mais nas famílias mais pobres com menos escolaridade. Ela é transversal a

todos os níveis sociais. Há muito tempo que as mortes por questões passionais saíram

da esfera das classes sociais mais baixas, em que a falta de dinheiro tudo justifica. A

violência doméstica é há muito tempo um problema global do País.

Por isso, o estudo desta problemática passa também por uma análise

sociológica que não poderá ser esquecida pelas autoridades governamentais se

quiserem combater este fenómeno e se estiverem preocupados em proporcionar uma

assistência mais adequada às vítimas. A mulher é considerada a vítima primária e o

homem, além de vítima é tido como o principal autor da violência doméstica.

Acrescenta ainda que as consequências atingem não só a vítima, mas também o

agressor e todos os elementos que vivem no mesmo contexto familiar. Por isso, se

conclui que todos acabam por sofrer, quer física quer psicologicamente ao longo da

vida.

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Parte I - Enquadramento Conceptual

1.1. Violência doméstica: Definição e especificidades

A Violência Doméstica (VD) é um grave problema que atinge milhares de

pessoas e que, silenciosamente, acontece em ambos os sexos e não obedece a

nenhuma regra social, económica, religiosa ou cultural. A violência doméstica

acompanhou infelizmente, o homem desde sempre, até à atualidade.

A violência doméstica passou a fazer parte da sociedade e a sua prática é cada

vez mais transversal a todas as classes sociais (Manita, 2005). A violência doméstica

ocorre mais frequentemente, e em muitos países e mesmo proibida por Lei, continua a

ser a principal fonte de violência contra as mulheres (Santos e Fonseca, 1995). Esta

violência constitui um problema generalizado de índole social, frequentemente

encoberto, que afeta qualquer pessoa, independentemente da sua raça, idade,

orientação sexual, religião ou género, bem como, cultura e nível socioeconómico.

Ocorre entre o sexo oposto, no mesmo sexo e pode acontecer com parceiros íntimos,

casados ou não casados, que vivem juntos ou apenas namoram. Para Shipway (2004),

a violência doméstica, acontece também no âmbito das relações homossexuais, pela

violência das mulheres sobre os homens e violência e abuso perpetrado por um

membro da família sobre outro.

Magalhães (2005) entende que a Violência Doméstica é quase sempre exercida

sobre a mulher. Dias (2004) tem o mesmo entendimento e sublinha o facto do caso da

violência contra as mulheres acontecer no interior do lar, privado, nas relações de

intimidade, desencadeando consequências muito além das ofensas. A nível nacional

foi feito um estudo feito por Lourenço, Lisboa e Pais (1997), que coloca a habitação

ou a casa como local frequente da violência doméstica.

Segundo Watkins (2005), as mulheres são o centro da violência doméstica,

tendo em conta a análise sociológica do seu percurso. Os homens surgem em segundo

plano porque têm dificuldade em denunciar a sua situação às autoridades (Buzawa e

Buzawa, 2002). Segundo Manita, Ribeiro e Peixoto (2009), uma das maiores e mais

complexas especificidades da violência doméstica é ocorrer no contexto de relações

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íntimas nas quais o agressor, para além de uma particular proximidade efetiva, dispõe

de tudo um leque de conhecimentos e estratégias para controlar a (s) vítima (s).

Os fatores que contribuem para a violência são: “isolamento (geográfico,

físico, afetivo e social), a fragmentação (como mal que consiste em considerar apenas

uma parte menor do problema e que tem a ver com o rótulo que se confere à pessoa

em concreto), o poder e o domínio ou a influência” (Manita et al, 2009, pp. 11-12).

1.1.1.Enquadramento legal do crime de violência doméstica

De acordo com o Código Penal Português (CP) atual, o crime de violência

doméstica está previsto no artº 152º do CP, a saber: “Quem, de modo reiterado ou não,

infligir maus-tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da

liberdade e ofensas sexuais: ao cônjuge ou ex-cônjuge; a pessoa de outro ou do

mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma relação de namoro

ou uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação.”

Redondo, Pimentel e Correia (2012) referem alguns passos dos trâmites legais,

indicando em primeiro lugar que o procedimento criminal no crime de violência

doméstica inicia-se com a notícia do crime. A notícia do crime pode surgir da queixa

apresentada pela vítima ou por parte de uma pessoa ou entidade, numa Esquadra da

PSP, no Posto da GNR, na Polícia Judiciária ou no Ministério Público.

1.1.2.Ciclo da Violência Doméstica

Walker (2000) reconhece a existência de três fases que caracterizam a

dinâmica da violência doméstica (cf. figura 1). É este o ciclo que leva, muitas vezes, a

vítima a manter-se na relação, a acreditar no fim da violência e a eternizar o abuso.

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Figura 1. Ciclo de Violência (adaptado de Associação Portuguesa de Apoio à

Vítima, 2016).

1ª Fase: Criação do aumento da tensão: Consiste na violência psicológica que

passa sobretudo pelo desrespeito, intimidações, abusos verbais, destruição de

documentos, constrangimento público, atribuição de culpa à vítima, etc.

2ª Fase: O ato da explosão (violência): Nesta fase da violência física surgem os

atos de arrependimento do agressor que facilmente esquece e recomeça a violência.

São utilizadas, muitas vezes, armas brancas e fogo, a fim de atormentar a vítima.

3ª Fase: Fase amorosa, tranquila (lua de mel): O agressor tende a perdoar,

esquecer o acontecido, havendo uma falsa reconciliação. Assim, a vítima tem

dificuldade de pôr fim à relação por razões que passam, sobretudo por motivos

financeiros e emocionais. A sedução é uma característica do comportamento do

agressor em relação à vítima. Os presentes e os cuidados acontecem quase

diariamente, o que leva a vítima a criar falsas esperanças. Além disso, o agressor

justifica-se pelo ciúme, levando a vítima a auto culpabilizar-se. Infelizmente, a

violência não termina, pelo contrário, quase sempre aumenta.

Este ciclo é característico pela sua repetição, por muito tempo, havendo, por

isso, cada vez menores as fases de tensão e cada vez mais intensa a fase do ataque

violento.

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1.1.3. Tipos de Violência Doméstica.

A Declaração de Viena para a Eliminação Contra as Mulheres, em 1933,

sublinha as diferentes formas de violência: por membros da família, pelas

comunidades locais, tolerada pelo próprio Estado.

A violência doméstica pode ser entendida como: violência doméstica, em

sentido estrito quando referimos os maus tratos físicos, psíquicos, ameaças, coação,

injúrias, difamação e crimes sexuais, como refere o artigo 152º do Código Penal.

Fala-se em violência doméstica em sentido lato, quando existem outros crimes

da vida doméstica como por exemplo: violação de domicílio ou perturbação da vida

privada, devassa da vida privada (imagens, conversas telefónicas, emails, revelar

segredos e factos privados, etc. violação de correspondência ou de

telecomunicações, violência sexual, subtração de menor, violação da obrigação de

alimentos, homicídio tentado/consumado, dano, furto e roubo) (APAV, 2017).

Assim, a violência física passa por esmurrar, pontapear, estrangular, queimar,

etc, etc. Quando as vítimas são os homens, a violência surge de terceiros, tendo em

conta a maior força física destes (parentes da mulher ou profissionais contratados

para o efeito). A violência emocional inclui a ameaça, a humilhação, o insulto, a

crítica, a desvalorização entre outros. A violência psicológica poderá ser mais

prejudicial que a física quando acontece rejeição, depreciação, humilhação,

deixando emocionalmente profundas marcas para toda a vida. O agressor com este

perfil tem prazer quando o outro se sente inferiorizado, diminuído e incompetente

(APAV, 2017).

Podemos afirmar que as ameaças de agressão física (ou de morte), bem como

as crises de quebra de utensílios, mobílias e documentos pessoais são também

consideradas violência emocional, pois não houve agressão física direta; quando o

(a) cônjuge é impedido (a) de sair de casa, ficando trancado (a) em casa também se

constitui em violência psicológica, assim como os casos de controlo excessivo (e

ilógico) dos gastos da casa impedindo atitudes corriqueiras, como por exemplo, o

uso do telefone.

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A violência social caracteriza-se por impedir relacionamentos com terceiros

(amigos, familiares), desligar o telefone ou controlar as chamadas, prender o outro

em casa, etc. Na violência sexual o companheiro (a) é forçado a ter relações sexuais

protegidas ou não e a ter relações com outras pessoas conhecidas ou não. A

violência financeira consiste em controlar o dinheiro sem o consentimento do

companheiro (a), obrigando (a) a justificar todos os gastos; a perseguição da vítima,

intimidando-a ou atemorizando-a, através do controlo dos movimentos dos outros

(APAV, 2017).

É bom lembrar que a violência doméstica, também poderá ser exercida pelos

filhos e pelos netos.

1.1.4. Consequências da Violência Doméstica

Gossi (1996) refere que a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a

violência doméstica contra a mulher como um problema de saúde pública, pois

reconhece que a vítima vai mais vezes ao serviço de saúde. Tendo em conta a sua

fragilidade física e psicológica.

Lisboa, Vicente e Barrosos (2005) referem algumas consequências que

influenciam o estado físico: as situações de coma e obesidade com uma probabilidade

maior respetivamente de 55% e 80%. Para além destes sintomas, os autores

identificam ainda maior probabilidade de: asma, queimaduras, palpitações, tremores,

colite, cefaleias, vómitos, sensação de aperto na garganta, úlcera gastroduodenal,

dificuldades respiratórias, sudação, peso/dor na zona abdominal, dor/”pressão no

peito”, náuseas, hipertensão arterial, vertigens, secura de boca, insónias, ataques de

pânico e fobias. As tentativas de suicídio por parte das vítimas são 2.8 vezes superior

e, se conjugadas com os efeitos do álcool ou drogas, é 7 (sete) vezes superior. Falta de

esperança, comportamentos destrutivos, solidão e sentimentos de culpa são outros

indicadores das consequências da violência contra as mulheres em termos de saúde.

É entendimento geral que a violência psicológica antecede ou acompanha a

violência física. Mas Loring (1994), contrapõe, afirmando que a violência psicológica

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

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exercida durante muito tempo e que o ofensor nunca chega à agressão física. Daí,

segundo Peixoto (2003), entender que, no âmbito da violência psicológica, a vítima

constrói o chamado isolamento social e a cada vez maior baixa de autoestima cria

graves problemas de saúde mental. A chamada violência psicológica desencadeia na

vítima certas vulnerabilidades, porque face às agressões, manifestam uma resistência

menor (Bucher-Maluschke, 2004; CDC, 2011; DAIP, 2011; Gelles e Straus, 1988;

Hirigoyen, 2006; WHO, 2011). Importa questionar também como se inicia e se

desenvolve a Violência Doméstica (VD). Hirigoyen (2007) tem uma explicação

quando sublinha as micro-violências como início da violência doméstica. Numa

segunda etapa, segundo este autor, verifica-se a possessão, o controlo, o isolamento, a

perseguição, a difamação, etc, anulando, cada vez mais, a mulher. Este processo, na

visão de Silva, Coelho e Caponi (2007), cava bem funda a baixa autoestima e anula a

mulher na sua identidade e vontade. Infelizmente, a mulher quando sofre violência

psicológica em situação de violência conjugal, tende a esconder o comportamento do

homem.

Levendosky, Huth-Bocks, Shapiro e Semel (2003) caracterizam o ambiente

familiar onde a Violência Doméstica (VD) é uma realidade diária: a mulher afetada

física e psicologicamente perde capacidades de mãe, considerando a sua relação com

os filhos. Por isso, segundo Edleson, Mbilinyi e Shetty (2003), a mãe, nestas

situações, enfrenta maiores desafios, considerando o ambiente autoritário e opressor,

dificultando a tomada de decisões por parte da vítima.

O Síndrome do Stress Pós-Traumático (SSPT) demonstra bem que as

consequências da violência doméstica acompanham a vítima por muitos anos.

Explica-se, por isso, o estado de alerta diário, o pânico, o reviver das agressões, a

baixa auto-estima, as dificuldades cognitivas, a depressão, o que desencadeia na

vítima a necessidade do isolamento social.

1.1.5. Quem são os ofensores?

Não se pode traçar o perfil dos ofensores, não existe um único perfil, todavia

existe algumas características que identificam este sujeito: alcoolismo, desemprego,

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

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baixa auto-estima, depressão e violência na juventude. Manita (2005) completa o

referido perfil, acrescentando que o ofensor é, geralmente, do sexo masculino, com

idade entre os 26/40 anos. Outra característica apontada aos ofensores é culparem

sempre a vítima como causadora do seu comportamento. Finalmente, Goleman

(1995) distingue os maridos friamente brutais, dos maridos que batem nas mulheres.

Os primeiros espancam a mulher sem motivo em qualquer sítio; os segundos

exercem a sua violência no seio familiar levados pelo ciúme ou pelo medo de serem

secundarizados.

1.1.6. Quem são as vítimas?

Silva (2001) entende que as vítimas de violência doméstica não têm um perfil

único, mas experienciaram situações idênticas: foram agredidas por pessoas

próximas. Acrescenta que a vítima não é só a mulher, mas também homens,

crianças, jovens, adultos, idosos, deficientes ou saudáveis, heterossexuais ou

homossexuais, empregados ou desempregados. Mas existem características em

comum: envergonhadas, caladas, conformadas, passivas, dependentes, deprimidas.

Burgess, Regehr e Roberts (2010) referem que até ao início do século XX, o

conceito de vítima levava à aceitação da violência doméstica, pois considerava-a

como nata, precipitadora, facilitadora, provocadora. As mulheres estão no cimo da

pirâmide da violência doméstica. Elas são a maioria. Macleod (1980) concluiu que

uma em cada dez mulheres é vítima da violência doméstica. Mesmo assim, a vítima

teima em eternizar esta situação, vivendo com o ofensor/agressor. Segundo Andrews

e Berwin (1990), aquelas que continuam a viver com o seu ofensor, sentem-se

autoincriminadas, culpabilizadas, enquanto que as mulheres que acabaram com a

relação, culpam o agressor.

As crianças podem ser consideradas vítimas de violência doméstica como

testemunhas dessa violência, têm sido vítimas esquecidas da violência doméstica, pois

persiste a crença errónea de que estas podem, de alguma forma, escapar à exposição

directa à violência e aos seus efeitos (Jordan, 1997), cit. in Sani, 2006. Tal inclui

presenciar ou ouvir os abusos infligidos à vítima, ver os sinais físicos depois dos

episódios de violência ou testemunhar as consequências desta violência na pessoa

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

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abusada, ser usada pelo agressor como uma forma de abuso e controlo. As crianças

também são vítimas, porque podem ser física e/ou emocionalmente abusadas pelo

agressor (ou mesmo, em alguns casos, pela própria vítima).

Os homens também são vítimas de violência doméstica quando são controlados

pelas mulheres, e quando sofrem agressões físicas e psicológicas. Como sentem medo e

vergonha, dificilmente denunciam essas situações com receio de serem desacreditados e

humilhados por familiares, amigos e pelas próprias instituições judiciárias e policiais

(APAV, 2017).

1.2.1.Que fazer quando se é vítima de Violência Doméstica?

A vítima deverá dirigir-se a um hospital mais próximo, a fim de ser observada.

Deverá apresentar também queixa contra o agressor, na esquadra mais próxima no Posto

da GNR ou diretamente na Policia Judiciária ou no Tribunal. Se possível, a vítima

deverá fazer-se acompanhar por um familiar ou pessoa amiga. Também poderá dirigir-

se aos Institutos e Gabinetes Médicos Legais a fim de ser submetida a exames e

apresentar queixa a fim de desencadear os atos cautelares e urgentes.

1.2.2. Fatores de risco e de proteção

Ribeiro e Sani (2009) chamam a atenção para que haja uma boa intervenção com

as vítimas é fundamental conhecer os fatores de risco e de proteção que determinam

uma relação de violência. E acrescenta que num plano estratégico de intervenção com as

vítimas, os referidos fatores deverão ser apontados e analisados.

Como refere a APAV (2010), os fatores de risco passam pelo desajustamento da

personalidade e temperamento do agressor, frustrações, stress, baixa autoestima,

ansiedade, desemprego, imaturidade, impulsividade e violência na infância e acrescenta

que mesmo sabendo que a violência doméstica ser transversal a todas as classes

económicas e sociais/culturais, os níveis económicos mais frágeis são fatores de risco

que potenciam a violência nas relações de intimidade.

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

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1.2.3. O risco de revitimização

A revitimização é um risco que acontece frequentemente. Matos (2002) defende

e justifica esta realidade, afirmando que a reincidência dos maus tratos nas vítimas de

Violência Doméstica (VD) passa pela legitimação e impunidade social que o

comportamento do agressor ganha. Tusher (2007) procura encontrar razões para o risco

da revitimização: a depressão torna a vítima mais vulnerável; a dificuldade de analisar o

perigo em que vive; a incapacidade económica/cultural de se autoproteger; a baixa

autoestima e a vergonha no seio meio social; a idealização do agressor como garante da

sobrevivência.

1.2.4. Avaliação de risco

Almeida e Soeiro (2010) apontam algumas dificuldades sentidas pelos Órgãos

de Polícia Criminal (OPCs) e pelos profissionais de justiça. E questionam: Quais os

homens que possuem uma maior probabilidade de voltar a agredir ou ameaçar a vida

das companheiras? Quais os homens que devem ficar sujeitos a um programa de

acompanhamento terapêutico? Quais as mulheres que devem usufruir de medidas de

proteção? Estas questões poderão ser respondidas, segundo os autores, se houver a

realização de uma avaliação de risco.

As estratégias mais compagináveis com o nível de perigosidade subjacente

passam necessariamente por determinar, segundo Campbell (2005), o grau de risco.

Matos (2002) acrescenta, no âmbito do auxílio à justiça como contributo da avaliação

do grau de risco, a possibilidade de decisões mais justas e céleres, considerando as

medidas contra o agressor e à proteção da vítima.

1.3. Forças Policiais: Polícia de Segurança Pública (PSP)

A PSP é uma Instituição que presta um serviço público policial, com atribuições

específicas, orgânica própria e quadro privativo de pessoal, em contexto de meio urbano

e em proximidade ao cidadão (cf. site PSP). Esta força de segurança, uniformizada e

armada, cuja missão visa assegurar o exercício dos direitos fundamentais dos cidadãos e

o normal funcionamento das instituições democráticas. As suas atribuições passam pela

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

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segurança interna, o estado de sítio e de emergência, a investigação criminal, conforme

a Lei nº53/2007, de 31 de Agosto. No âmbito da promoção à Polícia de Segurança

Pública compete, garantir a segurança interna e também assegurar o normal

funcionamento das instituições democráticas bem como o pleno exercício de direitos,

liberdades e garantias dos cidadãos.

Coube à PSP, melhorar a prevenção e a investigação do crime de violência

doméstica. Assim, o programa congrega os projetos que foram implementados de uma

forma algo espartilhada, numa estratégia global, através do estabelecimento de objetivos

estratégicos e operacionais, implementando mecanismos de coordenação, de avaliação e

de formação (cf. site PSP).

Os elementos policiais que integram o Modelo Integrado de Policiamento de

Proximidade (MIPP), incluindo as Equipas de Proximidade e de Apoio à Vítima

(EPAV) e novas Equipas do Programa Escola Segura (EPES), receberam formação

específica para o desempenho das missões que lhes estão distribuídas. As Equipas de

Proximidade e de Apoio à Vítima, designadas (EPAV) são responsáveis pela segurança

e policiamento de proximidade, em cada setor da área de responsabilidade. As Equipas

de Proximidade e Apoio à Vítima (EPAV), que integram o Modelo Integrado de

Policiamento de Proximidade da PSP, surgiram para dar apoio, proteção,

acompanhamento e encaminhamento de vítimas de violência doméstica. Aos Agentes

da PSP exige-se sinalizar situações de risco; atender vítimas de públicos-alvo mais

sensíveis, tais como (menores e idosos) e de crimes mais traumáticos (designadamente

vítimas de violência doméstica, vítimas de crimes violentos); proceder ao

encaminhamento das vítimas e eventualmente testemunhas para as entidades

competentes; efetuar acompanhamento das vítimas pós-vitimação, em parceria com

entidades de Apoio Social nos casos mais sensíveis; isolar, em situações de flagrante

delito as vítimas do ofensor, impedindo a consumação ou a continuação da agressão;

prestar algumas vezes os primeiros socorros às vítimas; efetuar a detenção do suspeito

em flagrante delito; efetuar revista minuciosa de segurança ao mesmo, informando-o

dos direitos que lhe assistem por Lei (cf. site PSP).

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

1.3.1. Estatuto Processual da Vítima

Segundo a Lei 112/2009, de 16 de Setembro, é estabelecido o regime jurídico

aplicável à prevenção da violência doméstica, à proteção e à assistência das suas

vítimas, revogando-se a Lei n.º 107/99, de 3 de Agosto, e o Decreto-Lei n.º 323/2000,

de 19 de Dezembro. Na definição de «Vítima» é a pessoa singular que sofreu um dano,

nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um dano moral, ou uma

perda material, diretamente causada por ação ou omissão, no âmbito do crime de

violência doméstica previsto no artigo 152.º do Código Penal (CP); «Vítima

especialmente vulnerável» a vítima cuja especial fragilidade resulte, nomeadamente, da

sua diminuta ou avançada idade, do seu estado de saúde ou do facto de o tipo, o grau e a

duração da vitimização haver resultado em lesões com consequências graves no seu

equilíbrio psicológico ou nas condições da sua integração social. É atribuído o estatuto

de vítima quando é apresentada a denúncia da prática do crime de violência doméstica,

não existindo fortes indícios de que a mesma é infundada. A vítima recebe o documento

comprovativo do referido estatuto, explicitando os direitos e deveres estabelecidos na

presente lei, além da cópia do respetivo auto de notícia, ou da apresentação de queixa.

Em situações excecionais e devidamente fundamentadas o estatuto de vítima poderá ser

atribuído pelo organismo da Administração Pública responsável pela área da cidadania e

da igualdade de género, valendo este para os efeitos previstos na presente lei, com

exceção dos relativos aos procedimentos policiais e judiciários. A vítima e as

autoridades competentes estão obrigadas a um dever especial de cooperação. A vítima

terá o acesso às seguintes informações: o tipo de serviços ou de organizações a que pode

dirigir-se para obter apoio; o tipo de apoio que pode receber; onde e como pode

apresentar denúncia; quais os procedimentos sequentes à denúncia e qual o seu papel no

âmbito dos mesmos; como e em que termos pode receber proteção; em que medida e em

que condições tem acesso ao Aconselhamento jurídico; ou ao Apoio judiciário; ou ainda

outras formas de aconselhamento.

Além disso sempre que a vítima o solicite junto da entidade competente para o

efeito, e sem prejuízo do regime do segredo de justiça, deve ainda ser-lhe assegurada

informação sobre o seguimento dado à denúncia; os elementos pertinentes que lhe

permitam, após a acusação ou a decisão instrutória, ser inteirada do estado do processo e

da situação processual do arguido, por factos que lhe digam respeito, salvo em casos

excecionais que possam prejudicar o bom andamento dos autos.

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

Neste contexto, torna-se pertinente desenvolver e criar um programa de

intervenção que se mostre eficaz na atuação em casos de violência doméstica. De

seguida apresenta-se uma proposta neste âmbito.

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

Parte II - Proposta de Investigação e intervenção

O presente projeto de graduação avança com uma proposta de criação de um

Gabinete especializado na PSP voltado para a receção de queixa, informação e

encaminhamento, se necessário, de vítimas de violência doméstica no Funchal. Para

podermos justificar a pertinência desta proposta começaremos por descrever em termos

de dados estatísticos o fenómeno em estudo, tendo como ponto de partida os dados

fornecidos pela PSP e referentes à ilha da Madeira, em particular à cidade do Funchal.

Numa primeira fase, foi solicitado através de e-mail à Direção Nacional da

Polícia de Segurança Pública (PSP) autorização para acedermos a estatística criminal

oficial dos crimes de violência doméstica registados no ano de 2015 na área da cidade

do Funchal. Após alguns meses de intercomunicações entre a UFP e a PSP tivemos

acesso aos dados, cujos resultados de seguida se apresentam.

As várias estatísticas referem-se à percentagem de queixas apresentadas

semanalmente à PSP do Funchal, no ano de 2015; à percentagem de queixas

apresentadas mensalmente, à PSP do Funchal, no mesmo ano de 2015; número de

intervenientes na violência doméstica, considerando a idade da vítima e do agressor;

número de comportamentos apurados, tendo em conta a tipologia da violência;

percentagem dos diferentes tipos de ferimentos apresentados pelas vítimas; número de

casos e respetivas substâncias potenciadoras de violência doméstica; número de

ocorrências de violência doméstica, registadas nas diferentes horas do dia; sinalização

do maior número de casos de violência doméstica considerando o mês com maior

incidência; relação entre o maior número de casos de violência doméstica e o grau de

parentesco; identificação do “modus operandi” no maior número de casos de violência

doméstica; local de maior ocorrência de violência doméstica.

Após o tratamento dos dados, apresentamos um Programa de Intervenção

denominado Gabinete de Apoio e Informação às Vítimas (GAIV), tendo em conta a

realidade criminal em estudo, a fim de prevenir e melhorar futuras atuações por parte

dos Agentes da Polícia de Segurança Pública da Madeira.

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

Por isso, o referido programa será desenhado, considerando os objetivos gerais e

específicos, balizados no número de vítimas, no número de agentes envolvidos e a zona

de intervenção (Madeira).

2.1. - Dados estatísticos do Concelho do Funchal

De acordo com a leitura do gráfico (cf. Gráfico 1), há uma maior incidência de

queixas por agressões domésticas no período de fim-de-semana (sábado 15.6% e

domingo como 17.4) e a meio da semana (quarta-feira 17.2%)

Gráfico 1. Queixas à PSP do Funchal em 2015 nos dias da semana

A tendência de participações foi alta (cf. Gráfico 2), tendo o mês de Dezembro

sido o mês com menos registos (26 casos) e o mês de Maio o que teve o maior número

de participações (46 registos).

17,4

11,2 13,5

17,2

13,1 11,9

15,6

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

Perc

enta

gem

das

o

corr

ênci

as

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

Gráfico 2. Queixas à PSP do Funchal nos meses do ano de 2015.

Em termos etários há uma elevada frequência de vitimação por violência entre

os 16 anos e os 60 anos (cf. Gráfico 3). Todavia as maiores vítimas são menores de 12

anos de idade, existindo também violência doméstica na terceira idade.

Em relação aos agressores, o maior número de intervenientes estão entre os 18

anos e os 60 anos.

38

30

36

31

46

37 40

42

38

29

36

26

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

caso

s p

arti

cip

ado

s

Meses do ano de 2015

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

Gráfico 3. Idade da vítima e do agressor de violência doméstica

Podemos verificar (cf. Gráfico 4), que em relação ao tipo de violência, a

chamada violência física e psicológica situa-se em primeiro e segundo lugares,

respetivamente, com 295 e 272 casos verificados. Em terceiro lugar com 130 casos, a

violência social.

Gráfico 4. Tipos de violência doméstica das Queixas apresentadas à PSP do Funchal

0

50

100

150

0-12 anos de

idade

12-16 anos de

idade

16-30 anos de

idade

30-40 anos de

idade

40-50 anos de

idade

50-60 anos de

idade

60-70 anos de

idade

70-80 anos de

idade

Mais de 80 anos de idade

128

50

98 107

123

72

38 18

6 0 6

90 106

135

92

24 5 0

mer

o d

e in

terv

enie

nte

s

Vítima Agressor

295

7

130

64 59

5 6 35 36

272

18

58

15 1 0

50

100

150

200

250

300

350

Co

mp

ott

ame

nto

s ap

ura

do

s

Tipologias de violência

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

Os ferimentos ligeiros (30,6%) e a existência de lesões (68,9%) situam-se em

primeiro lugar. Apenas uma pequena percentagem (0,5%) são ferimentos graves, (cf.

Gráfico 5).

Gráfico 5. Tipo de ferimentos que as vítimas apresentaram

O álcool e os estupefacientes surgem bastante associados à violência doméstica

(cf. Gráfico 6), sendo o álcool o mais apontado com 117 casos, seguindo-se em segundo

e terceiros lugares respetivamente, o consumo de estupefacientes (73 casos) e álcool e

estupefacientes, em simultâneo (41 casos).

Gráfico 6. Consumo de substância e violência doméstica

0,5

30,6

68,9

Ferimentos graves Ferimentos ligeiros Sem lesões

117

73

41

Álcool Estupefacientes Álcool e estupefacientes

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

O pico da ocorrência da violência doméstica (cf. Gráfico 7) situa-se entre as

19H00 e as 23H00. A maior incidência é às 19 horas (37). A madrugada e primeiras

horas da manhã apresentam menor registo de ocorrências

Gráfico 7. Horas das Queixas apresentadas à PSP do Funchal no ano de 2015

A violência doméstica ocorre no contexto de relações íntimas nas quais o

agressor está próximo da vítima (cf. Gráfico 9). Essa relação de parentesco é visível

tendo em conta que existem 199 casos sinalizados de cônjuge/companheiro; 76, de ex-

companheiro; 42 de ex-cônjuge, etc.

Nas relações de namoro (17 casos) também acontece violência doméstica.

17

14

7

11

6 8

4

9 8

14 14

21

16 17

18 19

16

20

30

37 36

32

19

31

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0:0

0

1:0

0

2:0

0

3:0

0

4:0

0

5:0

0

6:0

0

7:0

0

8:0

0

9:0

0

10

:00

11

:00

12

:00

13

:00

14

:00

15

:00

16

:00

17

:00

18

:00

19

:00

20

:00

21

:00

22

:00

23

:00

me

ro d

e o

corr

ên

cias

Horas Número de casos durante consoante as horas

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

Gráfico 8. Relação de parentesco entre a vítima e o agressor

A força física é a estratégias mais usada, com 279 casos: A violência psicológica

(26+10) surge em terceiro lugar, estando outros motivos em segundo lugar com 98

casos, (cf. Gráfico 10).

Gráfico 9. Modus operandi do agressor

146

199

76

42

32 15

14 24

17 7 4 5 2 1

8

Filho Cônjuge/companheiro Ex-companheiro

Ex-cônjuge Mãe Pai

Eenteado Ex-namorado Namorado

Irmão Avô Neto

Tio Tutelado Sem relação

279

98

26 10 8 5 3

Ameaça/ através de força física Outros

Sujeição a maus tratos físicos e psicológicos Pressão psicológica

Com objetos Estrangulamento

Com arma branca

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

O local de maior número de ocorrências de violência doméstica (cf. Gráfico 11)

é na residência particular (302 casos), sendo a via pública (102 casos) o local escolhido

pelo agressor, em segundo lugar.

Gráfico 10. Local da ocorrência

A violência doméstica, é um problema que existe em todas sociedades, que não

atinge só as mulheres, mas também crianças, homens, idosos, deficientes, etc, etc.

Graças a uma maior sensibilidade social face à violência, surgiram organizações

não-governamentais, como a Associação de Apoio à Vítima (APAV) que diariamente se

preocupam com esta problemática existente em todos os extratos sociais.

Presentemente, a sociedade civil e as Organizações Públicas tentam responder

positivamente, encontrando soluções para que todos os cidadãos que são atingidos pela

violência doméstica possam sentir-se protegidos.

A Região Autónoma da Madeira não poderia, neste particular, ser exceção.

Sabemos que existem Instituições apostadas na prevenção e combate deste grave

problema. Sabemos também que todos somos poucos para participarmos ativamente

nesta luta. Assim, propomos um Programa de Intervenção (GAIV) que visa potenciar a

302

102

14 6 3 2

4

Residência particular Via pública Em edifício comercial

Est. Restauração e bebidas Estabelecimento de ensino Estabelecimento saúde

Outro(s)

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

intervenção dos Agentes da Polícia de Segurança Pública, pertencentes ao Comando

Regional da Madeira.

2.2. Objetivo Geral do Programa de Intervenção: GAIV

O objetivo geral deste programa passa por colmatar dificuldades e

necessidades detetadas nos Agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP), afetos à

patrulha, Investigação Criminal (I.C.) e Modelo Integrado de Policiamento de

proximidade (MIPP) na cidade do Funchal. Tudo isto implicará um melhoramento na

atuação dos profissionais que exercem as suas funções nestes serviços, de modo a que

haja uma melhor sinalização/deteção e acompanhamento de casos de violência

doméstica, atuando precocemente e resultando com uma maior satisfação das vítimas

de Violência Doméstica para com o trabalho destes agentes da Polícia de Segurança

Pública. Por isso, o principal objetivo é melhorar a intervenção dos Agentes da Polícia

de Segurança Pública, pertencentes ao Comando Regional da Madeira, no concelho do

Funchal junto das vítimas de violência doméstica, nomeadamente os elementos da

patrulha e das EPAV.

A Violência Doméstica é um fenómeno muito preocupante e que está bem

presente na nossa sociedade, considerando-se muito pertinente combater para prevenir

este flagelo e acompanhamento das suas vítimas, quer diretas ou mesmo indiretas.

Uma das principais barreiras na resolução dos casos de violência doméstica

provêm dos tribunais, porque demoram demasiado nos seus atos.

2.2.1. Levantamento das Necessidades

No âmbito da intervenção dos elementos Policiais de 1ª linha, os chamados

«patrulheiros» da Polícia de Segurança Pública (PSP), foi possível detetar que a

maioria tenta «safar-se» ao máximo ao expediente com o NUIPC (número único de

identificação processo crime), e então fazem regularmente uma participação tipificada

por «Desordem familiar e desavenças familiares» ou «Desacordo familiar», atribuindo

a este expediente um registo não criminal o chamado registo «normal». Este tipo de

participação, fica arquivada na Subunidade Policial a aguardar os trâmites legais para

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

formalizar queixa por parte da pessoa ofendida, não sendo contabilizado nas

estatísticas criminais. Nesta tipificação legal de crime não há lugar ao preenchimento

dos documentos inerentes ao Auto de Notícia por Violência Doméstica, RVD-L1,

Estatuto da Vítima, Notificações e Plano de Segurança.

O fator mais preocupante na violência doméstica é o álcool, porque na

esmagadora maioria dos casos ele está presente. Grande parte das vezes o agressor

nada faz para o evitar não se submete a tratamento. O Tribunal por sua vez, não tem

aplicado medidas que obriguem os agressores a serem submetidos a um tratamento.

Outras medidas são decretas para o ofensor cumprir, acordando-se a suspensão

provisória do processo. Dando-se o não cumprimento frequente dessas medidas nunca

são cumpridas cumulativamente a queixas (reincidência) por violência doméstica,

verificando-se um ciclo com novas medidas e novos aditamentos.

Outro dos constrangimentos verificados prende-se com o contato com as

vítimas de violência doméstica (a maior parte delas trabalha), conjugado com os

horários de serviço dos elementos policiais afetos às EPAV, torna extremamente

difícil efetuar as reavaliações (RVD-L2), bem como ao seu acompanhamento. A

reavaliação do risco (RVD-L2) é também difícil principalmente por insuficiência de

dados, pois algumas vítimas não respondem às questões, por variadas razões, ou

distorcem literalmente o que disseram na fase inicial, quando denunciaram os factos

ou quando se procedeu à primeira avaliação de risco (RVD-L1). Neste sentido, as

medidas de proteção às vítimas propostas pelos profissionais da Polícia de Segurança

Pública das EPAVs podem não responder às suas necessidades, além de que são muito

desvalorizadas por parte das Autoridades Judiciárias.

Outro grande problema com que os Órgãos de Polícia Criminal (OPC) se

deparam, é encontrar testemunhas que se prontifiquem a depor e que “atestem” os

factos constantes nos Autos de Violência Doméstica. Quando estas testemunhas falam

sobre o que sabem e presenciaram, é sempre em «off-record». Muitas vítimas têm

dificuldades em se exprimir/relatar factos/explicar. Na maioria dos processos de

violência doméstica não são deduzidas acusações por parte do Ministério Público

(M.P.), pois a prova contida nos autos é pouco consistente e isto deve-se ao facto de

na fase de inquérito a vítima, bem como os filhos, não prestarem declarações e o

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

ofensor/arguido se remeter ao silêncio ou também não prestar declarações sobre os

factos de que é acusado.

2.2.2. Metodologia (Criação do GAIV)

A Polícia de Segurança Pública (PSP) tem vindo a fazer o seu melhor, no

sentido de dar uma resposta plausível na prevenção e Investigação dos crimes de

Violência Doméstica, tendo em conta que a maioria deste tipo de crime são da sua

competência de investigação.

Com o presente estudo pretende-se criar um serviço específico no Comando

Regional da Policia de Segurança Pública da Madeira, que trate apenas deste tipo de

crime. Com este Gabinete de Apoio e Informação às Vitimas (GAIV), ficando a sua

sede na cidade do Funchal e cobrindo toda a ilha da Madeira.

Com a criação do GAIV, procuramos ir um pouco mais além do normal, não se

limitando apenas à Denúncia/Queixa, estabelecendo contactos periódicos, avaliação

de risco, acompanhamento das vítimas para o apoio social, apoio jurídico,

habitacional, etc…

2.2.3. Estrutura do GAIV

No que diz respeito à estrutura do GAIV, o mesmo passaria a estar sob a

dependência do Departamento de Investigação e Ação Penal do Funchal (DIAP), com

a estreita colaboração com o Gabinete Medicina Legal e Ciências Forenses (GML-CF)

da Madeira, e com um Núcleo de Criminologia, que também seria criado por parte do

Instituto Regional de Segurança Social da Madeira (IRSSM), que faria a avaliação

científica dos casos. Quanto ao espaço físico a funcionar o GAIV, o mesmo teria

obrigatoriamente duas (2) salas de atendimento, uma (1) delas preparada para receber

crianças e outra para os adultos vítimas.

Qualquer vítima seria encaminhada para o GAIV, onde existiria equipas

especializadas nestes casos de violência doméstica, que trabalham durante 24 horas

por dia e 365 dias ao ano.

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

2.2.4. Composição da Equipa

Este projeto de intervenção está direcionado para a formação, sensibilização e

atuação dos Agentes da PSP, principalmente os profissionais afetos ao MIPP/EPAV,

patrulheiros, investigadores criminais e comandantes de esquadra.

Considerando que a maior parte das Esquadras da Madeira, têm elementos

Policiais destinados ao acompanhamento de casos de violência doméstica e na 1ª

Esquadra do Funchal, existem também quatro (4) Agentes, propõem-se que esses

elementos policiais transitassem para o GAIV, constituindo equipas de três (3)

policias, com turnos de oito (8) horas diárias, com viaturas próprias de serviço, sendo

que um (1) elemento da equipa ficava na sede do GAIV, no sentido de receber

qualquer vítima que ali se deslocasse ou que fosse transportada por outros elementos

policiais de outras esquadras, e os outros dois (2) policias deslocavam-se às

ocorrências que existissem na ilha da Madeira relacionadas com violência doméstica,

bem como os acompanhamentos das vítimas de violência doméstica. Estas equipas

designadas por EPAV, e as Brigadas de Investigação Criminal (BIC), deveriam ser

compostas por elementos do género masculino e feminino.

2.3. Programa de Intervenção

O principal objetivo da intervenção deste programa é o melhoramento da

atuação dos Agentes da Polícia de Segurança Pública, que trabalham diretamente com

os casos da Violência Doméstica, constituindo para o efeito o GAIV. Existindo dois

(2) grupos distintos de intervenção, as EPAV, que são os que apoiam as vítimas de

Violência Doméstica, contatam diretamente com estas e as acompanham e os

elementos da Investigação Criminal. Com formação específica também nestes crimes

de Violência Doméstica, que procederiam às diligências processuais, mandados de

detenção fora de flagrante delito, condução de detidos, buscas, gestão do local do

crime, recolha de prova, inquirição da vizinhança junto à residência do agressor e da

vítima para tentarem recolher informações sobre os antecedentes e contexto da

violência, apreensão de objetos entre outras diligências consideradas relevantes no

âmbito do inquérito criminal.

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

2.3.1. Objetivos Específicos

Pretende-se uma maior formação para os Agentes da PSP de “campo” os

chamados patrulheiros, no preenchimento dos vários campos dos Autos de Notícia por

Violência Doméstica, bem como nas RVDs, estes têm de ser sensibilizados que a

Violência Doméstica não é um crime de furto ou dano.

É também objetivo dar uma maior e melhor formação a quem tem a

competência de verificar o expediente, que acaba por deixar passar todos estes

pormenores (que não são pormenores mas grandes inconsistências no expediente).

Os elementos policiais afetos às EPAV, teriam também formação. A formação

seria por um período de duas (2) semanas, onde eram ministrados alguns módulos

relacionados com esta temática: Violência Doméstica e Lei Penal Portuguesa, com

formadores ligados ou pertencentes ao Departamento de Investigação e Ação Penal

(DIAP), Associação de Apoio à Vítima (APAV), União de Mulheres de Alternativa e

Resposta (UMAR), Polícia de Segurança Pública (PSP), investigadores e académicos

especialistas no tema, da Universidade Fernando Pessoa.

Esta formação tem o objetivo de capacitar todos os polícias para lidarem

melhor quando deparados com esta problemática. Além da formação do conceito da

Violência Doméstica, também deve incidir na temática da Vitimologia, de modo a que

os elementos policiais saibam lidar com as vítimas nestes casos de Violência

Doméstica.

A sociedade atual apresenta-se em constante mudança, conferindo desta forma

um dinamismo económico e social que acarreta, por sua vez, nos diversos atores

sociais um acompanhamento, também ele, dinâmico e constante no sentido de ser

possível manter-se atualizado nesta mesma sociedade (Santos, 2006).

É urgente dotar os polícias da Investigação Criminal (I.C.) ligados aos

processos de Violência Doméstica, com o curso de Entrevista e Interrogatório, da

National Institute of Child Health and Development (NICH), visto ser uma ferramenta

de trabalho muito importante não só para as crianças que foram vítimas de abuso ou

violência doméstica de uma forma indireta, mas também para as vítimas ou ofensores

de violência doméstica.

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

É fulcral que os trabalhadores adquiram conhecimentos e competências tidas

como necessárias para fazer face aos desafios, cada vez mais elevados e profundos, de

cada tipo de trabalho (Santos, 2006).

2.3.2. Avaliação do Programa de Intervenção

Este projeto de intervenção aos elementos policiais, não só pretende apenas

focar-se na resolução dos casos de violência doméstica, mas também se debruçará na

prevenção dos mesmos, transmitindo confiança à sociedade deste flagelo. O projeto

pretende sensibilizar e alterar algumas mentalidades, qualificando a resposta

operacional da Polícia de Segurança Pública (PSP), em matéria de Prevenção bem

como na Investigação Criminal.

2.4. Discussão e Resultados

Após a implementação do GAIV e a formação aos Agentes da Polícia de

Segurança Pública (PSP), na intervenção contra a violência doméstica, os resultados

esperados dizem respeito a uma melhor atuação por parte deste Agentes Policiais

independentemente do serviço a que pertencem, mas que foram alvo desta formação,

de modo para que haja uma maior percentagem de casos de violência doméstica

reportados e automaticamente combatida. Pretende-se com a criação do GAIV, que

todas as vítimas de violência doméstica da ilha da Madeira sejam encaminhadas a este

serviço, para efeitos de um atendimento personalizado e especializado por equipas

policiais multidisciplinares, das valências policiais da Investigação Criminal (IC) e do

Modelo Integrado de Policiamento de Proximidade (MIPP). Com a criação deste

gabinete vamos combater também as cifras negras do crime de violência doméstica,

uma vez que também este serviço estará diretamente ligado ao Departamento de

Investigação e Ação Penal do Funchal (DIAP), sendo possível aplicar medidas

processuais e urgentes ao agressor e medidas de proteção às vítimas. O

acompanhamento das vítimas de muito perto por parte dos polícias permitirá de

certeza obter bons resultados, no âmbito da reincidência ou até dos homicídios.

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

Conclusão

O objetivo principal deste Projeto de Graduação “Para melhor

Conhecer/Compreender e Combater a Violência Doméstica”, é potenciar a atuação

dos Agentes da Polícia de Segurança Pública neste particular, através da melhor

formação, a fim de prevenir e punir os ofensores e defender as vítimas.

O enquadramento conceptual desta problemática capacitou-nos para melhor

compreender esta realidade social, onde, muitas vezes, a mulher é a vítima central.

Aqui os Agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) são sujeitos

fundamentais na sinalização destes casos, bem como na elaboração dos Autos de

Notícia por Violência Doméstica, tendo em conta a prevenção e a punição dos

prevaricadores.

Assim, a violência doméstica, acontece mais vezes ao fim de semana, entre

marido e mulher, e a meados do mês. As idades dos ofensores e das vítimas oscilam

entre os dezoito e os sessenta anos, sendo a violência física e psicológica a mais

exercida sobre as vítimas, sem lesões visíveis.

O álcool e os estupefacientes são fatores de risco da violência doméstica.

Dezembro é o mês que apresenta menos casos de violência doméstica.

Avaliando as necessidades existentes, verificou-se uma notória falta de

formação/sensibilização nos Agentes que lidam diariamente com esta problemática,

bem como o insuficiente número de efetivos que compõem as equipas de Proximidade

e Apoio às Vítimas (EPAV).

O Programa de Intervenção que se preconiza assenta, por isso, na seleção,

formação e qualidade de atuação dos Agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP).

Deverá abranger toda a Região Autónoma da Madeira (RAM), estando todos os

serviços centralizados na cidade do Funchal, porque a maior percentagem deste tipo

de criminalidade tem lugar nesta cidade.

Sabemos que este problema que atinge a nossa sociedade é de difícil combate,

mas estamos convencidos que a participação de todas as forças vivas da polis é

fundamental, para um maior e melhor combate à violência doméstica por parte dos

Órgãos de Polícia Criminal (OPC).

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

V

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Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

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Anexos

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Anexo I – Artigo 152º do C.P. – Violência Doméstica

Artigo 152.º - Violência doméstica

1 - Quem, de modo reiterado ou não, infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo

castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais:

a) Ao cônjuge ou ex-cônjuge;

b) A pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha

mantido uma relação de namoro ou uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem

coabitação;

c) A progenitor de descendente comum em 1.º grau; ou

d) A pessoa particularmente indefesa, nomeadamente em razão da idade,

deficiência, doença, gravidez ou dependência económica, que com ele coabite;

é punido com pena de prisão de um a cinco anos, se pena mais grave lhe não couber

por força de outra disposição legal.

2 - No caso previsto no número anterior, se o agente praticar o facto contra menor,

na presença de menor, no domicílio comum ou no domicílio da vítima é punido com

pena de prisão de dois a cinco anos.

3 - Se dos factos previstos no n.º 1 resultar:

a) Ofensa à integridade física grave, o agente é punido com pena de prisão de

dois a oito anos;

b) A morte, o agente é punido com pena de prisão de três a dez anos.

4 - Nos casos previstos nos números anteriores, podem ser aplicadas ao arguido as

penas acessórias de proibição de contacto com a vítima e de proibição de uso e porte de

armas, pelo período de seis meses a cinco anos, e de obrigação de frequência de

programas específicos de prevenção da violência doméstica.

5 - A pena acessória de proibição de contacto com a vítima deve incluir o

afastamento da residência ou do local de trabalho desta e o seu cumprimento deve ser

fiscalizado por meios técnicos de controlo à distância.

6 - Quem for condenado por crime previsto neste artigo pode, atenta a concreta

gravidade do facto e a sua conexão com a função exercida pelo agente, ser inibido do

exercício do poder paternal, da tutela ou da curatela por um período de um a dez anos.

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

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Anexo II – Avaliação do Risco – L1

Para melhor conhecer/compreender e combater a Violência Doméstica

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Anexo III – Avaliação do Risco – L2

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Anexo IV – Plano de Segurança (1,2 e 3)

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Anexo V – Plano de Segurança (1 e 3)

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Anexo VI – Plano de Segurança (1 e 4)

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