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José Paulo

Para Nunca Mais Me Esquecer – José Paulo

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Catálogo de José Paulo, Para Nunca Mais Me Esquecer. Recife.

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Centro Cultural Correios | reCife | 26 de outubro a 25 de dezembro de 2011

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Os Correios, reconhecidos em prestar serviços postais com qualidade e excelência aos brasileiros, também investem em ações que tenham a cultura como instrumento de inclusão social, por meio da concessão de patrocínios. A atuação da empresa, cada vez mais destacada, visa não só fortalecer sua imagem institucional, mas, sobretudo, contribuir para a valorização da memória cultural brasileira, democratização do acesso à cultura e o fortalecimento da cidadania.

É nesse sentido que os Correios, presentes em todo o território nacional, apóiam, com grande satisfação, projetos desta natureza e ratificam seu compromisso em aproximar os brasileiros às diversas linguagens artísticas e experiências culturais que nascem nas mais diferentes regiões do país.

A empresa também se orgulha de disponibilizar à sociedade seus Centros e Espaços Culturais, onde ocorrem manifestações artísticas variadas, ocasião em que se consolidam como ambientes propícios ao fomento e à preservação da identidade cultural do país.

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Modos de domesticar, marcar, moldar para não esquecer. A exposição de José Paulo aborda poetica-mente relações políticas e subjetivas. Reconhecemos imagens metafóricas da dominação, do colonialismo, da dor, da classificação, da escrita. Qual será o sentido de lembrar? Os objetos de marcar, não por acaso, são sistematicamente ordenados (como nos ensinaram os minimalistas) em estantes, mesas, gra-des. Ao mesmo tempo, a desordem desestabiliza tal ordenação (estamos no lugar da “pós-produção”). Para que servem as palavras? Como expressar a interioridade dos sentimentos? Na dor, todos somos iguais, diz o lugar-comum. Mas, em momentos de desvantagens, de dependências políticas ou psíquicas, o que nos resta é a ambivalência, o acordo irônico. Não há forma legítima de propriedade.

A domesticação aponta distintas possibilidades de entendimento. A escrita, a palavra, explicitadas na exposição em materiais variados, evidenciam que o uso do alfabeto tornou “possível examinar o discurso de outra maneira”1. O caráter discursivo dos objetos apresentados fazem rememorar a literatura de cordel, o dicionário, a máquina de escrever e o carimbo, por exemplo. São formas de comunicar, protestar, legalizar, condenar e poetizar ao mesmo tempo. Tais mecanismos transformaram tanto “a natureza da comunicação”, ampliando-a além do contato entre sujeitos, quanto o “sistema de informação”. José Paulo, em suas criações, elabora estas recodificações: muda de lugar, amplia, usa definições e a própria letra

modos de domesticar

Marcelo Campos Curador

1. Goody, Jack. Domesticação do pensamento selvagem. Lisboa: Editorial Presença, 1988, p. 47.

Capa e página 2

para nunCa mais me esqueCer (detalhe)25 esculturas em ferro e madeira50 x 50 x 290 cm (cada)2010

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como imagem. São modos de classificação e arte. “A aquisição da língua, que é atributo exclusivo da espécie humana, é crucial para o conjunto das instituições sociais.”2

Sabemos que o direito garantiu a especificidade e manutenção regular da “pessoa”, do “eu”. Isso se deu através da escrita, do “preto no branco”. Mesmo assim, a complexidade dos processos sub-jetivos jamais se deixou ordenar. Como instituir leis universais? Cada cultura guarda e atualiza diferentes e, às vezes, conflitantes julgamentos sobre tabus, interditos morais, atribuições ao estado e ao foro íntimo, privado. A polaridade binária, ou isso ou aquilo, é ameaçada constantemente pelo “tudo ao mesmo tempo”. Se quer ter liberdade privada ainda quando o governo normatiza as correções. Como ser eu e outros? A punição, nos alerta Foucault, pode regular, mas excede-se em prazeres cruéis, revoltantes, tornando perigoso o embate entre a violência do rei contra a do povo. “É preciso que a justiça criminal puna em vez de se vingar.”3 Devemos respeitar a “humanidade” do pior dos assassinos.

Na fotografia de Steve McCurry, vemos o lindo rosto de uma menina afegã, Sharbat Gula. Os olhos verdes, o tecido roto envolvendo a cabeça deflagram uma atmosfera de espanto, perplexidade e abuso da beleza. Ao mesmo tempo, o manto a deifica, quase como uma Nossa Senhora. Como capa da revista National Geographic, em 1985, a foto trazia notícias de culturas pouco frequentes nos editoriais

de moda, nas imagens de celebridades. O que poderia estar como informação subliminar? O comparativo modelo ocidental/oriental de beleza? A pobreza explícita no tecido rasgado? Quase trinta anos depois, em outra revista, a Time Magazine, a capa lança a proposta de reflexão “O que aconteceria se nós deixássemos o Afeganistão”. A fotografia, mantendo a mesma pose e o mesmo enquadramento da histórica imagem de McCurry, revela uma outra jovem afegã, Aisha, com o nariz extirpado. Desco-brimos, em seguida, que isso aconteceu porque ela resolvera fugir da casa da família do marido.

Na exposição Para nunca mais me esquecer, José Paulo ativa as citadas imagens numa série de desenhos. Cria-se uma pesquisa sobre belas e célebres mulheres da história do cinema: Brigitte Bardot, Grace Kelly, Elizabeth Taylor. Rostos perfeitos para o padrão ocidental. Ícones de beleza. Objetos do desejo. O artista, então, pelo viés da possibilidade de edição do desenho a lápis, exercita a fictícia crueldade, colocando as atrizes da capa com os narizes arrancados. Aisha fugira dos modos de domesticar de sua própria cultura: casa, marido, família. As atrizes aceitaram parecidas domestica-ções. Quem é a presa? Quem é o algoz? Há um jogo de papéis sociais, cuja análise mais aprofundada pode gerar lugares de surpreendentes proximidades. Com o mecanismo e os dispositivos da arte, José Paulo mescla punição e vingança, a feiura do ato cruel unifica a beleza maculada. Uma fugiu das instituições de vigia e punição, outras aceitaram,

2. Idem, p. 19. 3. Foucault, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 63.

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submissas, a objetificação. Claro está que aqui tratamos de metáforas, e, ainda assim, são explici-tados fatos reais, fatos para nunca mais esquecer.

São essas e outras considerações que a exposição nos estimula a observar. Nos objetos e nas instalações produzidos pelo artista, a materialidade das peças: metal, argila, madeira encetam um caminho supos-tamente tradicional, arcaico, mas logo percebemos estratégias de recodificação das tradições. A matéria é memória. A palavra escrita deixa de estar ligada à realidade e se coisifica, assumindo de vez sua incapacidade de expressão total, ativando sua plasticidade. Ao mesmo tempo, a lógica é abstrata, tanto quanto os conceitos abordados, e está impreg-nada na sobriedade dos objetos. Dor, memória, luta, dominação configuram-se como percurso poético para os trabalhos apresentados. A potência e a carga dramática são reificadas nas dimensões das peças, passando da ampliação monumental de estantes, por exemplo, ao reduzido modo de executar pinturas e desenhos. José Paulo, nessas e em outras obras, interessa-se pelo ofício, acompanha a produção, controla as escalas. A partir disso, vai tecendo significados. O interesse em pesquisar a impalpável presença da dor norteou parte dos trabalhos. Ainda que se componham frases à procura de sinônimos para o adoecer, nada substitui a lógica dos sentidos.

Em outra vertente, a mostra trata de desejo, vonta-de, experimentação. O artista nos oferece objetos para usar: carimbos, peças de máquina de escrever,

ferros de marcar animais. São instrumentos de dominação e fetiche, concomitantemente. Sabemos que o fetiche é a colonização do Outro. Todos são expostos, mas a arte os retira do uso corriqueiro. E aqui o caráter escultórico contribui para torná-los totêmicos. A partir de tal transfigu-ração, refletimos sobre um mundo em dificuldade de exercer a pluralidade, de aniquilar a desigualdade social, de explicar a interdição, as proibições.

As esculturas de José Paulo na exposição Para nunca mais me esquecer se situam nessas encruzilhadas. Potencializam as tensões entre materiais e sentidos. Ficamos diante do que já nos é conhecido, mas questionamos a permissão e a validade das regras, do destino, do que deve ser mantido oculto ou explicitado como denúncia. Novamente podemos afirmar: “Não há forma legítima de propriedade”.

O exílio imposto pela dor, pelos modos de domestica-ção, pelos tabus, pelas leis, regras sociais e religiosas é inesperadamente comum. E a arte pode, como mais um dos processos de sociabilidade, nos fazer reco-nhecer, estimular a reflexão, mas permanece na sua ambivalente parcela de concretude e de volatilidade.

“Volátil adj. 1. V. voador. 2. Relativo a aves. 3. Que pode ser reduzido a gás ou vapor.”4

4. FErrEIra, aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa. rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 571.

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para nunCa mais me esqueCer25 esculturas em ferro e madeira50 x 50 x 290 cm (cada)2010

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rod245 peças em cerâmica6 x 21 x 31 cm (cada)2011

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pinturas negras i, ii, iii, iV e Vacrílico sobre tela15 x 20 cm (cada)2011

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brigittedesenho em grafite40 x 60 cm2011

graCedesenho em grafite40 x 60 cm2011

elizabethdesenho em grafite40 x 60 cm2011

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páginas 26-29

Carimbos siamesesApproved x Deniedmadeira e borracha27 x 65 x 8 cm2011

Cópia x Originalmadeira e borracha25 x 66 x 12 cm2011

Ordem x Caosmadeira e borracha16 x 16 x 65 cm2011

Sempre x Nuncamadeira e borracha21 x 71 x 11,5 cm2011

Positivo x Negativomadeira e borracha21 x 68 x 11 cm2011

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páginas 30-33

sem título13 esculturas em ferro29 x 200 x 2,9 cm (cada)2011

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JosÉ PaULoreCife – pernambuCo – brasil – 1962

exPosição individUaL

1988 projeto arte noVa. MAC – Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco – Olinda.

1990 pinturas. Museu do Estado de Pernambuco – Recife.

1996 reCortes. Galeria Vicente do Rego Monteiro – Fundaj – Recife.

2002 repetir, repetir, repetir. Amparo 60 Galeria de Arte – Recife.

2003 quimera. Mamam – Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães – Recife.

2005 repetir, repetir, repetir. MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói – Niterói.

2006 um Viaje sin final. Galeria do Tren Ligero – Guadalajara, México.

2009 retratos e auto-retratos. Amparo 60 Galeria de Arte – Recife.

2010 para nunCa mais me esqueCer. Pinacoteca Universitária de Alagoas – Maceió.

2011 retratos e auto-retratos. Centro Cultural Correios – Salvador.

2011 para nunCa mais me esqueCer. Centro Cultural dos Correios – Recife.

exPosição coLetiva

1986 noVos talentos. Galeria Metropolitana do Recife – Recife.

1988 espaço quarta zona da arte (exposição inaugural) – Recife.

1989 iii mostra de graVura de Curitiba – Curitiba.

1989 brigada henfil (exposição de painéis coletivos). Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco – Olinda.

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1990 impressões. Museu do Estado de Pernambuco – Recife.

1991 impressões pernambuCanas. Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará – Fortaleza.

1991 pintura emergente pernambuCana. Galeria Rodrigo de Mello Franco Andrade – Instituto Brasileiro de Arte e Cultura – Rio de Janeiro.

1992 treze artistas em tempo de Cólera. Quarta Zona de Arte – Recife.

1992 quarta dimensão. Quarta Zona de Arte – Recife.

1992 exposition d’art Contemporain bresilien. Mediatech Jean Cocteau – Massy, França.

1993 inútil-útil. Quarta Zona de Arte – Recife.

1994 ilha zero – artistas no bairro do reCife. Espaço Cultural Bandepe – Recife.

1994 na sombra da jurema-preta. Arts of the Américas Festival – New Mexico University – Albuquerque – Novo México, Estados Unidos.

1997 art-brèsil. Museu Sursock – Beirute, Líbano.

1998 temporal pe. Mamam – Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães – Recife.

1999 gambiarra – sistema móVel de sensações rústiCas. Galeria Debret – Paris, França.

2000 artes plástiCas. Submarino – Recife.

2000 gambiarra – sistema móVel de sensações rústiCas. Amparo 60 Galeria de Arte – Recife.

2001 Construção de uma linguagem – CerâmiCa brasileira. Centro Brasileiro Britânico – São Paulo.

2001 Casa Coisa. Atelier Submarino – Recife.

2002 Corgo – Cerâmica Contemporânea de Pernambuco. Observatório Cultural Malakoff – Recife.

2004 tudo é brasil. Paço Imperial – Rio de Janeiro e Itaú Cultural – São Paulo.

2004 quimera. Trienal Poli/Gráfica de San Juan – Porto Rico.

2005 1, 2, 3 talVez 4. Centro Cultural Borges – Buenos Aires, Argentina.

2005 Corgo – CerâmiCa Contemporânea de pernambuCo. 46º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco – Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco – Olinda.

2007 quimera. Encuentro entre dos Mares – Otras contemporaneidades. Convivências problemáticas – Bienal de Valência – Valência, Espanha.

2008 ano 1 – coletiva. Anita Schwartz Galeria – Rio de Janeiro.

2009 déCima bienal de haVana. artista convidado. Havana, Cuba.

2009 linha orgâniCa. Amparo Sessenta Galeria – Recife.

2010 tripé – esCrita. Sesc Pompéia – São Paulo.

Prêmios

1987 Conserpa prêmio de pintura – II Salão de Artes Plásticas de João Pessoa – João Pessoa.

1989 arte mural – Prêmio – Salão de Arte Contemporânea de Pernambuco – Olinda.

1992 esCultura – Prêmio – Salão de Arte Contemporâneo de Pernambuco – Recife.

oUtros trabaLhos

1989–1991 Ensina Desenho e Pintura no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco – Olinda.

1989 Brigada Henfil de Arte Mural – Recife.

1988 Fundador e membro do espaço Quarta Zona de Arte – Recife.

1997 2ª drap-art – marató de CreaCió & reCiClatge – Barcelona, Espanha.

1999 3º drap-art – marató de CreaCió & reCiClatge – Barcelona, Espanha.

2001 Workshop de escultura – com artistas de Moçambique, Cabo Verde, Portugal e Brasil – Escola de Belas Artes da Universidade do Porto – Portugal.

2002/2003/2004/2005 Criou e Coordenou o SPA – Semana de Artes Visuais do Recife – Recife.

2008/2009/2010/2011 Participa da SP-Arte – Feira Internacional de São Paulo – Pavilhão da Bienal – São Paulo.

2011 Participa da ArtRio – Feira Internacional de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro – Pier Mauá – Rio de Janeiro.

coLeções

Museu do Estado de Pernambuco – Recife.

Mamam – Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães – Recife.

MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói – Niterói.

Sesc – Paulista – São Paulo.

Sesc – Pompéia – São Paulo.

Contato [email protected]

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Forms oF taming

1. Goody, Jack. Domesticação do pensamento selvagem. Lisbon: Editorial Presença, 1988, p. 47. 2. ditto, p. 19.

Ways of domesticating, marking, shap-ing in order not to forget. José Paulo’s exhibition addresses poetically po-litical and subjective relations. We recognize metaphorical images of domination, colonialism, suffering, classification, of writing. What is the sense of remembering? The objects for marking, not fortuitously, are ordered systematically (as the minimalists taught us) in shelves, tables, grids. At the same time, disorder destabilizes the order (we are in the place of “post-production”). What is the purpose of words? How can the intimacy of feel-ings be expressed? In suffering, we are all equal, to quote the commonplace saying. But, at moments of disadvan-tage, of political or psychic depend-ence, what we are left with is ambiva-lence, the ironic agreement. There is no legitimate form of propriety.

Domestication or taming indicates distinct possibilities for understand-ing. Text, the word, made explicit in the exhibition through a variety of materials, testifies that the use of the alphabet made it “possible” to exam-ine speech in another manner”1. The discursive character of the objects pre-sented is reminiscent of the popular,

North-east Brazilian cordel literature, the dictionary, the type-writer and the stamp, for example. They are forms of communicating, protesting, legalizing, condemning and poetizing at the same time. Such mechanisms transform both “the nature of communication”, broadening it beyond the contact be-tween subjects, and the “information system”. José Paulo, in his creations develops this re-coding: he moves them around, enlarges them, uses definitions and the letters themselves as an image. These are forms of classi-fication and of art. “The acquisition of language, the exclusive attribute of the human species, is crucial for all social institutions.”2

Such social institutions are forms of or-dering: school, religion, the law, books. We know that the right guaranteed the specificity and regular maintenance of the “person”, the “self”. This took place through writing, the “black on white”. Nevertheless, the complexity of the subjective processes never let itself be ordered. How to establish universal laws? Each culture keeps and updates different and, at times, conflicting judgements on taboos, moral prohibi-tions, attributions for the state and the

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intimate, private sphere. The binary polarity, either this or that, is threat-ened constantly by the “everything at the same time”. If you want private freedom even when the government regulates the corrections. How to be myself and others? The punishment, Foucault warns us, may regulate, but exceeds in cruel, revolting pleasures, making the clash between the king’s against the people’s violence a dan-gerous one. “Criminal justice needs to punish and not seek revenge.”3 We must respect the “humanity” of the worst murderer.

In Steve McCurry’s photography, we see the beautiful face of an Afghan girl, Sharbat Gula. The green eyes and torn cloth around her head provoke an air of astonishment, bewilderment and abuse of beauty. At the same time, the shawl deifies her, almost like a Virgin Mary. As the cover to the National Geo-graphic magazine in 1985, the photo brought news of cultures infrequently present in fashion publications and ce-lebrity images. What could be there as subliminal information? The compari-son between western/ oriental models of beauty? The explicit poverty in the torn cloth? Almost thirty years later,

in another magazine, Time Magazine, bears the thought-provoking cover “What happens if we leave Afghani-stan”. The photography, maintaining the same pose and framing of McCurry’s historic image, reveals another young Afghan girl, Aisha, with her nose cut off. We then discover that this happened because she decided to leave her hus-band’s family home.

In his exhibition Para nunca mais me esquecer, José Paulo activates the aforementioned images in a series of drawings. A study is carried out be-tween beautiful and celebrated women from the history of cinema: Brigitte Bardot, Grace Kelly, Elizabeth Taylor. Perfect faces by western standards. Icons of beauty. Objects of desire. The artist, then, through the bias of being able to edit the pencil drawing, exer-cises the fictitious cruelty, presenting the cover actresses with their noses ripped off. Aisha had fled from the methods of taming of her own culture: house, husband, family. The actresses accepted similar domestications. Who is the prey? Who the tormentor? There is a game of social roles, a further analy-sis of which may give way to surprising proximities. With the mechanism and

the devices of art, José Paulo blends punishment and revenge, the ugliness of the cruel act unifies the tainted beauty. One woman fled the institu-tions of vigilance and punishment, oth-ers submissively accept objectifica-tion. It is clear that here we are dealing with metaphors, and, nonetheless, real facts are made explicit: facts to never again forget.

It is these and other considerations that the exhibition encourages us to observe. In the objects and installa-tions produced by the artist, the ma-teriality of the pieces of metal, clay and wood embark on a supposedly traditional, ancient, path; but we soon perceive strategies for recoding the traditions. The material is memory. The written word is no longer linked to reality and reified, assuming once and for all its incapacity for total expres-sion, activating its plasticity. At the same time, the logic is abstract, as much so as the concepts addressed, and is impregnated in the sobriety of the objects. Suffering, memory, strug-gle, domination are configured as the poetic trajectory for the works pre-sented. Power and drama are reified in the dimensions of the pieces, from

3. FouCauLt, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 63.

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the monumental enlargement of the shelves, for example, to the reduced format of the paintings and drawings. José Paulo, in these and in other works, is interested in writing; it accompanies the production, and controls scales. On the basis of this, he weaves mean-ings. The interest in researching the impalpable presence of pain guided part of the work. Even though phrases are composed that seek to be synony-mous with sickening, nothing substi-tutes the logic of the senses.

In another aspect, the exhibition ad-dresses desire, willing, experimenta-tion. The artist offers us objects for use: rubber stamps, typewriter parts, brands for marking animals. They are instruments of both domination and fetish. We know that the fetish is the colonization of the Other. All are exposed, but art removes them from their everyday use. And here the sculptured aspect contributes to make them totemic. On the basis of such transfiguration, we reflect on a world with difficulties in practicing plurality, in annihilating social in-equality, and explaining the ban, the prohibitions.

4. FErrEIra, aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa. rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 571.

José Paulo’a sculptures in the exhibition Para nunca mais me esquecer focus on these crossroads. They potencialize the tensions between materials and senses. We are in front of what is already known to us but we question the permission and the validity of the rules, the desti-ny, of what should be maintained occult or made explicit as a denouncement. Once again we can affirm: “There is no legitimate form of propriety”.

The exile imposed by suffering, by the methods of taming, by the taboos, by the laws, social and religious rules is unexpectedly common. And art can, as another of the processes of sociability, make us recognize, stimulate reflec-tion, but remains in its ambivalent por-tion of concreteness and volatility.

“Volatile (in Portuguese volátil) adj. 1. V. that flies. 2. Relating to birds. 3. That may be reduced to gas or vapour.”4

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Este catálogo foi produzido entre novembro e dezembro de 2011. A Zoludesign utilizou no projeto gráfico a Tarzana Narrow e Wide, desenhada por Zuzana Licko em 1998 e comissionada pela Emigre. A pré-impressão, a impressão, a encadernação e o acabamento foram realizados na Gráfica Santa Marta, com tiragem de 1.000 exemplares, impressos sobre papel couché fosco 150 g/m2, para o miolo, e Duodesign 350 g/m2, para a capa.

Criação e ConCepção artístiCa José Paulo

Curadoria e texto CrítiCo Marcelo Campos

Coordenação de produção Rosa Melo

Coordenação exeCutiVa Luni Produções

fotografia Francisco Baccaro

design gráfiCo e de sinalização Zoludesign

assessoria de imprensa Aponte Comunicação (Dani Acioli)

montagem Gil Montagem & Equipe

serralharia Jair Castro e Romero Paes

pintura Estevão Cerqueira e Ivan Amorim Oliveira

marCenaria Luizinho Molduras

projeto luminotéCniCo Light Switch

impressão de sign Ultrasign

Coordenação do eduCatiVo Luciana Padilha

mediadores Niedja Santos e Luiz Henrique Santos

assistente de atelier José Maciel da Conçeição

agradeCimentos

Alvaro Oliveira, Cátia Avellar, Danielle Hoover, Jeannine Silva

Oliveira, Joana D’Arc e Lúcia Santos.

artista representado pela galeria

Amparo 60 Galeria de Arte www.amparo60.com.br

Anita Schwartz Galeria de Arte www.anitaschwartz.com.br

Fabio Pena Cal Galeria de Arte www.fabiopenacalgaleria.com.br

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