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UFMG/ECI- CURSO: BIBLIOTECONOMIA DISCIPLINA: TOPICOS EM GESTAO DA INFORMACAO E DO CONHECIMENTO D (Filosofia e Ética da Informação) Código TGI053 PROFESSOR: Marcello Peixoto Bax ALUNA: Rita de Cássia Gonçalves - DATA: 19 de Fevereiro de 2014 “Os homens sábios falam porque têm algo a dizer; os tolos porque têm que dizer alguma coisa”. (Platão) “Melhor é não pensar filosoficamente” ( Jaspers) Para que Filosofia? Ao buscar o sentido da filosofia no mundo engana-se quem acredita ser a filosofia algo desconhecido ou distante. O conhecimento que resulta da investigação filosófica tem muito a dizer, especialmente para aqueles que "aspiram ao conhecimento racional, lógico, demonstrativo e sistemático da realidade natural e humana, da origem e das causas da ordem do mundo e de suas transformações [...]" (CHAUÍ, 2010, p. 34 ) . Enquanto seres no mundo, cada pessoa percebe a realidade de uma maneira singular, trata-se de uma ‘filosofia de vida’. O filósofo alemão Karl Jaspers (citado por Aranha, 1993 ) diz que a filosofia incomoda, porque ‘aspira à verdade total, que o mundo não quer, perturbadora da paz 1 . Ela , a filosofia pode ser meramente especulativa ou apresentar-se com o rigor de disciplinas catedráticas (Ética, Moral, Metafísica, Teoria do Conhecimento, Filosofia Política, entre outras ) impondo-se soberana e respeitada ou simplesmente como dizem por aí, ‘ a filosofia é inútil’, ‘fazer o quê com filosofia?’ Entretanto, a filosofia é válida e aplicável em vários campos do conhecimento, seja nas ciências exatas ou humanas, ela pode argumentar muito sobre o objeto de pesquisa e o sujeito que busca o conhecimento, trata-se de uma questão onde somente os humanos desejam conhecer sobre as coisas do mundo. Não há, contudo, um ‘divisor de águas’, que nos permita claramente saber ao certo onde começa ou termina a filosofia, em outras palavras , a atitude filosófica. Há, entretanto, pessoas que não reconhecem na filosofia atitude precisa, valorosa, importante conhecimento que vai 1 JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico, p. 138.

Para que filosofia capítulo 1 resenha chauí - atualizado

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UFMG/ECI- CURSO: BIBLIOTECONOMIA

DISCIPLINA: TOPICOS EM GESTAO DA INFORMACAO E DO

CONHECIMENTO D (Filosofia e Ética da Informação) – Código TGI053

PROFESSOR: Marcello Peixoto Bax

ALUNA: Rita de Cássia Gonçalves - DATA: 19 de Fevereiro de 2014

“Os homens sábios falam porque têm algo a dizer; os tolos porque têm que dizer alguma coisa”. (Platão)

“Melhor é não pensar filosoficamente” ( Jaspers)

Para que Filosofia?

Ao buscar o sentido da filosofia no mundo engana-se quem acredita ser a

filosofia algo desconhecido ou distante. O conhecimento que resulta da investigação

filosófica tem muito a dizer, especialmente para aqueles que "aspiram ao conhecimento

racional, lógico, demonstrativo e sistemático da realidade natural e humana, da origem

e das causas da ordem do mundo e de suas transformações [...]" (CHAUÍ, 2010, p. 34 )

. Enquanto seres no mundo, cada pessoa percebe a realidade de uma maneira singular,

trata-se de uma ‘filosofia de vida’.

O filósofo alemão Karl Jaspers (citado por Aranha, 1993 ) diz que a filosofia

incomoda, porque ‘aspira à verdade total, que o mundo não quer, perturbadora da paz

’1. Ela , a filosofia pode ser meramente especulativa ou apresentar-se com o rigor de

disciplinas catedráticas (Ética, Moral, Metafísica, Teoria do Conhecimento, Filosofia

Política, entre outras ) impondo-se soberana e respeitada ou simplesmente como

dizem por aí, ‘ a filosofia é inútil’, ‘fazer o quê com filosofia?’

Entretanto, a filosofia é válida e aplicável em vários campos do conhecimento,

seja nas ciências exatas ou humanas, ela pode argumentar muito sobre o objeto de

pesquisa e o sujeito que busca o conhecimento, trata-se de uma questão onde somente

os humanos desejam conhecer sobre as coisas do mundo. Não há, contudo, um

‘divisor de águas’, que nos permita claramente saber ao certo onde começa ou termina

a filosofia, em outras palavras , a atitude filosófica. Há, entretanto, pessoas que não

reconhecem na filosofia atitude precisa, valorosa, importante conhecimento que vai

1 JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico, p. 138.

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além do abstrato e permanente no cotidiano, pelo contrário, atestam que a filosofia não

serve para nada.

No sentido de compreensão da filosofia , muitos pensadores ao longo da sua

história realizaram verdadeiros tratados sobre o assunto . Para Caio Prado (1988) , ‘ a

filosofia seria uma especulação infinita e desregrada em torno de qualquer assunto ou

questão, ao sabor de cada autor, de suas preferências e mesmo de seus humores’. Em

outras palavras, a filosofia não se ocuparia de trazer respostas ou soluções para os

problemas e questionamentos acerca do mundo, ela se aventura e se ocupa de uma

infinidade de objetos tangíveis ou mesmo intangíveis . Ela seria de antemão, um

emaranhado de perguntas sobre uma infinidade de coisas que estão no mundo,

inclusive, o homem.

Na Antiguidade, a filosofia era considerada o ‘coroamento do saber’

(ARANHA,p. 133) , de origem e tradição grega colaborou com a ciência durante

muitos séculos. Na Idade Moderna, a revolução científica fragmentou o saber, dando

origem às várias disciplinas (ciências) particulares. Sendo assim, a filosofia foi

'destituída' de conteúdo científico , tornando-se ' amparo' às demais ciências.

Porém, não bastaria ser apenas uma mera colaboradora das ciências . A

filosofia busca conhecer a verdade sobre os fatos e as coisas do mundo, faz isso

também quando avalia a ciência propriamente dita. Sendo a filosofia , uma disciplina

que estuda a vida e as coisas do mundo , vale para o homem que está no mundo e

passa por várias ‘experiências’ de aceitar, negar, criticar, ofender-se, ou acomodar-se

diante das coisas .

O mundo que o ser humano encontra ao nascer é um mundo ‘pronto’ - um

emaranhando de pessoas, coisas e situações , praticamente aprendemos a lidar com a

diversidade e heterogeneidade . Mergulhamos na vida , aceitamos num primeiro

momento , até nos depararmos com as questões elementares e próprias da filosofia .

O que é tudo isso que se apresenta como ‘natural’? Ninguém nasce sabendo das coisas .

As experiências do cotidiano nos informa sobre uma infinidade de coisas, mas , como

conhecer, de fato o que se apresenta como mais um ‘dado’ ? Quem ou o quê poderia

nos dar as respostas para as dúvidas e perguntas que formulamos a todo instante?

Complexo, não?! Realmente , se nos colocamos como protagonistas teremos momentos

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de crises, desconfiança, buscas , ou então, podemos nos satisfazer com o que já nos foi

dado. São justamente estes momentos que nos ‘convidam à filosofia’!

Pois bem, Marilena Chauí faz da temática um convite à reflexão e ao filosofar

sobre coisas simples ou complexas da existência humana. O livro ‘Convite à filosofia’

introduz o aprendizado filosófico , inicialmente no capítulo tratado, a autora nos dá

uma ‘explicação’ sobre a origem da filosofia , assim como as ‘ atitudes filosóficas’

diante dos hábitos mais costumeiros do indivíduo. A cultura é entendida como sendo o

primeiro caminho para conhecer e experimentar as coisas do mundo. Cultura quer dizer

"sistema de ideias, conhecimentos, técnicas e artefatos, de padrões de comportamento e

atitudes que caracterizam determinada sociedade.” (CEGALLA, 2005).

As crenças nascidas no meio de uma cultura se impõe aos indivíduos , são

alimentadas e repassadas , ‘apreendidas’ , ( CHAUÍ, 2010)

Nossa vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas, da aceitação

tácita de evidências que nunca questionamos porque nos parecem

naturais, óbvias. Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na

qualidade, na quantidade, na verdade, na diferença entre realidade e

sonho ou loucura, entre verdade e mentira; cremos também na

objetividade e na diferença entre ela e a subjetividade, na existência da

vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade.

O conhecimento adquirido pelo senso comum, é de fundamental importância na

formação do ser humano . Ao longo da história de cada um , todas as pessoas foram

submetidas a um conjunto de regras e normas sociais pré-estabelecidas pelas

autoridades, tradicionalmente . Primeiro a família, comunidade , depois a escola,

sociedade e finalmente o estado .Assim sendo , o homem nasce, cresce , faz algumas

coisas e um dia deixa de existir. É uma sucessão 'natural'? Quando conscientes,

fazemos escolhas e nos responsabilizamos por elas - ‘liberdade de escolha ’, de

expressão, opinião, pensamento, atitude. Qualquer coisa que saia diferente do pré-

estabelecido , ecoaria como um ruído, uma ‘disfunção’ social (lembrei-me aqui, do

filme ‘A Letra Escarlate’).

Portanto, filosofar ‘é perigoso’, ‘a filosofia se vê rodeada de inimigos, a

maioria dos quais não tem consciência dessa condição’ (JASPERS). De fato, a filosofia

provoca incômodo, complicações, desarticula os convencionalismos, considera a ironia,

cria o improviso porque não há receitas para ‘viver uma vida bem vivida’ que sirva de

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modelo para todos os indivíduos . Ao chamar o indivíduo à reflexão constante , causa

polêmicas, talvez, seja por isso mesmo que o filósofo Jaspers lança o desafio ,

‘melhor é não pensar filosoficamente’.

Qual seria então a relação entre cultura e filosofia?

Ao meu ver, a cultura engendra o homem no mundo com todas as suas

especificidades, regras, normas, uma ‘teia’ de valores que o ser humano encontra ao

nascer, enquanto a filosofia é a possibilidade do homem , ser racional, pensante e

moral, compreender como foram estabelecidas tais regras , normas e propriamente a

‘teia’, em que ele se encontra.

Platão, filósofo grego, em seu Mito da Caverna, aconselha o homem a ‘sair da

caverna (escuridão) para contemplar e enxergar a luz’. Marilena Chauí nos dá no

referido capítulo uma interpretação do mito de Platão , ou seja, não acomodar-se diante

do que parece natural, obvio e evidente, torna-se necessário ‘investigar e compreender’

o mundo em que vivemos e não sabemos por quanto tempo. Por meio da filosofia o

homem reflete sua vida , adquire condições para melhor avaliar a atitude (prática)

humana, buscando superar tudo que é meramente convencional. Trata-se de um desafio

cotidiano , é preciso coragem!

REFERÊNCIAS

ARANHA. Maria Lúcia Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:

Introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. São Paulo:

Companhia Editora nacional, 2005.

CHAUÍ, Marilena. Iniciação à filosofia. São Paulo: Ática, 2010. Volume Único.

Capítulo 1 , Unidade I . P. 06-17.

PRADO JÚNIOR, Caio. O que é Filosofia. São Paulo: Brasilense, 1988. (Coleção

Primeiros Passos)

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