Para uma História dos Índios do Oeste Catarinense

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  • 5/11/2018 Para uma Hist ria dos ndios do Oeste Catarinense

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    UNIVERSII)ADE DO OESTE DE SANTA CATARINAUNOESC - CAMPUS CIIAPECOLourdes AlvesPRO-REITORA DE ADMINISTRA

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    II II

    I I

    * Artigo publicado nos Cadernos do CEOM v. 4,n. 7 (1989).

    PARA UMA HISTORIA DOSiNDIOS DO OESTECATARINENSE*

    Wilmar da Rocha D'Angelis

    Para 0Pedro Dereio Zilleso "Pedro Cafe"do Chimbangue,que sonhou e mesmosonho(in memoriam)

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    Intro ducao ; l. Os p ovo s indi genas no 0est ecatarinense no seculo XVI;. 2. Os seculos XVIIe XVIII;3. A conquista de Guarapuava e Palmas e 0 indio Conda;4. A situacao dos indios apos a Lei de Terras; 5. Aprimeira metade do seculo XX; 6. Apos os anos 50: 0Xap eco e 0 Irani; Conclusac; Notas; Ref'erenciasBiblio graficas,

    I NTRODU

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    I IE preciso ainda ressaltar que para uma Historia dos Guarani no

    Oeste, se dispoe de escasso material coligido, compulsado e publicado.o que havera na memoria oral dos caboclos da regiao, da costa doChapeco, de Mondai, do Peperi? E na memoria dos colonos desses mesmosIug ares ? 0 que havera nos documentos das colonizadoras, n ascorrespondencias de seus fiscais e agentes, nos relatorio s e ate mesmonos Livros Caixa? 0 que pode dizer a mem6ria indigena atual?

    Desse modo, a presente trabalho tenta recolher algumas questoesdispersas entre as fundamentais, para buscar urna linha geral deinterpretacao da hist6ria da presenca indigena e? mais que tudo, dapresenca indigena e, mais que tudo, da penetracao luso-brasileira na regiaoem relacao aqueles povos pioneiros.

    Finalmente, convem dizer que 0 autor nao escreve pelo prazer deescrever. Nem deseja contribuir para mera "ilustracao "do leitor . Trata-se de urn comprornisso com a sobrevivencia e com a libertacao de povosoprimidos. Resgatar e compreender a propria Historia e urn passo funda-mental para se poder assumir 0 papel de sujeito - e nfio paciente - damesma historia. E nfio hi nenhum escrito, nenhuma interpretacao hist6ricaque nao seja comprometida: au 0 sera com a manutencao daordern vigente,ou 0 sera com a constncao de urna sociedade melhor para as pessoas.

    I.Os Povos Indigenas no Oeste Catarinense no Seculo XVIA partir das informacoes da arqueologia" e, se tivermos em mente urn

    mapa da Vegetacao Original de Santa Catarina (MAPA n" 01), podemos fazeruma ideia da ocupacao indigena a epoca em que os portugueses aportavamnas costas brasileiras, iniciando seu projeto colonizador na America./.. - ---CHhando 0 referido mapa, devemos identificar a area de mata sub-I tropical no Oeste Catarinense como de ocupacao Guarani, sobretudo aolongo dos grandes rios e excetuando as bordas de campo. Por outro lado,identificaremos como ocupacao Kaingang a mata da Araucaria e seus cam-pos intermedios. E, como ccupacao Xokleng, identificaremos os Cam-

    e_."

    * Ver nesta coletanea artigo sobre a pre-historia da regiao,144

    . (p.os de Lages, .Curitiban. os e Cacador e as matas de ~r~ucaria a lesteI deles. A fai xa inte rme d iar ia de m atas de Araucari a e campos,\aproximadamente a altura dos Campos Novas e. R~o ~o Pei~e,possivelmente, desde aquela epoca, representava urn limite indefinidoentre as ocupacces desses dois ultimos povos.Desse primeiro seculo de ocupacao europeia no SuI do continenteha, pelo menos, dois epis6dios digno s de nota. 0 prime iro e a Ienda dapassagem de D.Alvar Nunes Cabeza de Vaca pela regiao Oeste, entre 1541e 1542. Porem, com base nos pr6prios relatos de Cabeza de Vaca, noseculo passado, Batao do Rio Branco mostrava que 0 itinerario do

    ".

    V~.geto~cio Ori gino I

    m t 61. ,HII;Co!tIIOn(O[ I ] 1 l l J ) MeI!o SvDo ~ I r g P 0 IaOj'l l : ( : II A t' "' . .. .'~r'oD-IJ,trI.POSoC'9lt(l~QQ"llalQ;n.1lI

    Fonte: LAGO apud D' ANGELIS (1984:35)

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    espanhol , que partiu do litoral de Santa Catarina para atingir Assuncao(Paraguai) por terra, seguin pelo Norte do Parana e nao pelo OesteCatarinense".

    a segundo episodic importante e a presenca do mi1itar alemaoUlrich Schm ide l (servi nd o ao governo de Pedro de Mendoza, emAssuncao), que, entre 1552 e 1553, teria atravessado 0 Peperi-Guacu echegado a margem direita do Rio Uruguai, aproximadamente na regiaode Palmitos - segundo interpretacoes de Reinhard Mack ( apud Ehlke,1973: 61) - onde encontrou um a povoacao de indigenas da n acao"Biessaie" (Mbiazais = = Mbyas = = Guarani).

    Outra importante documentacao colonial tern origem nos jesuitasdo secu lo XVII. Trata-se de famosa carta g e ografi ca intitulada"PARAQUARIA VULGa PARAGUAY COM ADJACENTIBUS", que,segundo 0 Barao do Rio Branco, foi gravadaem Amsterdam por J. Blaeu 2e e obra dos jesuitas espanhois entre os anos de 1646 e 1649 (MAPA n02).

    Nesse mapa, entre os rios Iguacu e Uruguai, aparece a denominacao"IBITURUNA" para os habitantes, j untamente com a representacao demais de uma dezena de aldeias nas matas e nos campos .Acima do Iguacuhabitariam as "CHIQUIS" a mapa assinala, ainda, as Reducces jesuiticas(missiles com indios Guarani), identif icadas por l im sinal + e pelo nome.

    as j esu itas nfio penetraram nesse territorio . S uas Red ucoes doGuaini(1609 -1629) permaneceram ao norte do Rio Iguacu e as Reducoesdo Tape - apos 1626 - ao Sui do Uruguai (mesmo, ao SuI dos camposKaingang de Nonoaie Erexim). Enquanto estiveram no Guaira, os Jesuitasrnantiveram tambem mjssao entre indios "Gualachos"> grupos Je da familiaKaingang ~pelo menos na Reducao de Conceicao de Nossa Senhora dosGualachos, na regiao do rio P iquiri, e entre os "Coroados", na deEncamacao, as margens do Tibagi (PR). Par eles, tinham contato indiretocom as "Gualachos';do Uruguai, como atesta a Carta Anua de 1628 do Pe.Montoya'. Porem , apos a transferencia dos jesuitas para 0Tape(RS), essecontato parece ter desaparecido, e as informacoes indiretas da regiaoU ruguai- Iguacu passam a ter com a fan te os Guarani Missioneiros. Poresta razao os habitantes do Oeste Catarinense aparecem ali com urn nomedado em Guarani: yby + ityra + una = = Ibituruna, ou, "monte negro"

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    r ~uiIiI

    0 0 P~lW: IWtO KAI'l"A. ~UJOO P1:.Ul!I J~:!'~ l ' . . .. [..... fi{O..l fOCU. L)(I _IIIAIU,(." ,A.l'. a ) n oGOO . .. . r . i . _ 1'_ ~.&, G1:1t...A1. DA Oa ll f )1 . f fl lT "" t" . , : . , : o . : " ' V 1 i ' J - ~ lMIio r l . .. .. ..O ' fL ( '" ." ' . .. V"Pt.l . . ..) . .J. I Il rA F. U E M A~r.U.IiIC.

    Publicado pelo Barao do Rio Branco na "Exposi~ao que asE sta do s u ni dos d o B ra zi l a pre se nt am ao Presidente dos Es-tados unidos da America como arbitro - sequr.do a s e st ip uJ .~ .,oes do t ra tad o d e 7 de setembro de 1889, c on cl ui nd o e nt r. eo B ra zi l e a R ep ub lic a Ar ge nt ina ". N ew Yo rk , (Gov. do s Eflt.Unidos do 8razil), 1894. Vol. V - A p md ic e M ap as I nQ 1.

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    (SAMPAIO, 1928 :68).PossiveImente, entre os Kaingang e Xokleng (esses, muitas vezesidentificados com a "Biurunas") os j e s uitas nao faziam importantedistincao. Quanta aos CHI QUI, do norte do Iguacu, informa 0 Pe. Montoyaser "gentilidade de Gualachos que estao entre 0 rio Piquiri eo Yguacu".

    Publicado pelo Badia do Rio Branco na "Exposicao que os EstadosUnidos do Brazil apresentam ao Presidente dos Estados Unidos da Americacomo arbitro - segundo as estipulacoes do tratado de 7 de setembro de1889, concluindo entre 0 Brazil e a Republica Argentina". New York,(Gov. dos Est. Unidos do Brazil), 1894. Vol. V - Apendice Mapas, n 1.

    2. Os Seculos XV]] e XVIII2.1. Jesuitas, Bandeirantes e gado : 150 anos decisivos para 0Oeste.Os jesuitas da Provincia espanhola do Paraguai entraram na regiao

    do atual estado do Parana em 1609 e, no ana seguinte, ja fundavam aprimeira missfio au Reducao de Loreto, no rio Parapanema (atual divisaParana - Sao Paulo). Osespanhois, com "direito" a toda essa regifio peloTratado de Tordesilhas, fundaram ai a Cidade Real de Guaira (proxima afoz do Piquiri) e Vila Rica do Espirito Santo (no medic rio Ivai),denorninando a toda a regiao entre os rios Parana e Tibagi de Provinciade Guaira (ou Guaira).

    Ao longo d~ duas decadas os jesuitas criaram mais de uma dezenade reducoes nessa regiao, a maioria delas com populacao de fala Guarani.Na parte mais ao SuI, localizaram a Reducao de Santa Maria Maior, namargem do Iguacu, pouco acirna das Cataratas, e na regiao central;fundaram a Reducao de Conceicao de Nossa Senhora dos Gualachos, noalto Piquiri.r - ~ ---Entre tanto , de 1628 a 1630, a maior parte dessas missfies foi atacada

    I pOTtropas de Bandeiras paulistas, que escravizaram milhares de indigenas

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    rc~da vez, Ievando-os para comerciar em Sao Paulo. Famoso por essesataques ficou a bandeirante Rapos 0Tavares. Ao fim, sem poder oferecerresistencia eficaz aos bandeirantes, os jesuitas transmigram para 0 SuIas populacoes restantes das Reducoes de Loreto, Santo Inacio e da zonado cacique Tayao ba (MONTOYA, 1985: 134-9). Os portugueses de Sao

    , Paulo terminaram sua ayao destruindo tambem as povoacoes espanholasde Vila Rica e Guaira,

    ~ Os fatos resurnidos acima sobre 0Guiara sao importantes para acompreensao do desenvolvimento posterior de toda a historia da regiaoSuI do Brasil. A ocupacao espanhola e a ayao jesuitica entre os indigenas;a destruicao das Reducoes de onde os bandeirantes levaram mais de 60mil escravizados a Sao Paulo (Gvdor de Buenos Aires apud Montoya1985:. 258) e, a regressao da ocupacao espanhola a margen: d~rei~a dorio Parana vao abrir espaco a urn reordenamento da ocupacao indigenatradicional de todo esse territorio, com reflexos para a regiao ate 0 RioUruguai.~--Na sequencia dos fatos, os je suitas ~s~abelecer~m a~~nov~s

    I Reducoes Rio Parana. abaixo e na altura do medic Uruguai, regrao hoje'\ representada pelo Sudeste Paraguaio,Misiones Argentina e a Rio Gran~edo SuI (do paralelo 28 para 0 SuI). Os ataques paulistas p~o.ssegue~ ~as\ novas Reducoes ate que, autorizados par Espanha a munrciar os llldlO,SI com armas de fogo, os jesuitas permitem a vit6ria indigena de Mboro_re,em 1641. Ap6s esse fato, cessam as ataques bandeirantes e as Reduyo~sI vao florescer par mais 100 anos, sete das quais no territorio ~o atual ~1OGrande do SuI com suas "estancias" que se encheram de gado introduzido

    I pelos jesuitas e criado solto ou "alcado". Estas reducoes no~io_ Grandedo Sui ficaram conhecidas como Set e Povos d as Missoe s, ausimpiesmente,Sete Povos, devido it traducao que se fez da palavracastelhana "pueblo" (povoacao) par povo. .c.....---- Cabe esclarecer que as bandeirantes nao molestavam os Kalllg~nge Xokleng porqu-e nao representariam escravos "d~ev~lor" ante as ,valonza-des-Guarani. Deve-se isso ao fato de que as Je nao eram de lingua co-nhecida -(enquanto os pr6prios bandeirantes falavam 0 tupi, da mesmafamilia linguistica que 0 Guarani) e ao fato de que nao eram, como os

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    I I

    Guarani, tradicionais agricultores de habitos sedentariosFinalmente, devido ao Tratado de Madrid de 1750 que, em uma_- ~de suas clausulas, escondia os reais interesses de portugueses e espanhois

    em tomar dos "Sete Povos" suas fabufosasestancias - os indios dasreducoes riograndenses estavarn obrigados a retirar-se para a margemdire ita do Uruguai. Como os indios resistissem, foram guerreados efinalmente vencidos em 1756 pelos exercitos reunidos de Portugal eEspanha, Como se poderia prever, dominados os indios e conquistadassuas estancias, a Espanha volta atras em sua intencao de entregar a regjfioa Portugal e 0 Tratado de Madrid e anulado em 1761. A pendencia seraresolvida pelo Tratado de San Ildefonso (1777) que redividiu taisestancias de gado entre as duas potenciaso fato tera repercussoes imediatas na economia da epoca. Vivia-seainda a "febre do ouro ", descoberto nas Minas Gerais no final do seculoanterior e a regiao das minas necessitava de tropas de muares paratransporte (na sua Iigacao com 0 Rio de Janeiro) e gado vacum paraalimentacao De imediato, a conquista do territorio missioneiro colocavaa disposicao da economia portuguesa vastos campos de criar e, sobretudo,vastos rebanhos Na avaliacao de Aurelio Porto, "mantinham os inacianosem media, cerca de meio milhao de gada "(apud EHLKE, 1973:122),Mesmo as estancias que permaneceram com os espanhois . ate 1801 -integraram a economia portuguesa pela pratica de contrabando(DOMINGUES, 1981: 73).

    Note-se que fa "em 1755 secomecou a cobrar em Sorocaba impostosobre muares vindos do Sui" (MOTA apud MACEDO 1951: 48),

    Sabe-se que desde 1730 se tinha acesso aos Campos de Vacaria nonordeste do Rio Grande, pela Estrada dos Conventos aberta pelo Sgto.Mor Francisco de Souza e Faria (EHLKE, 1973: 345), Porem, a conquistados "Sete Povos "em 1756 vai incentivar 0 transite pelo caminho aberto

    I pela Lapa (PR) aos Campos de Lages (SC), ate entao perigoso para osI tropeiros por atravessar territ6rio dos aguerridos Xokleng (MACE-DO, 1951 :67).

    ~I

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    2.2. 0Mapa de Olmedilla - 1775E dessa epo ca tam bern 0 famoso "MAPA GEOGRAFICO DA

    AMERICA MERIDIONAL dispuesto y gravado por D. Juan de la CruzCano y Olmedilla", datado de 1775. Reproduzimos (MAPA n" 03) detalhedesse mapa utilizado pelo Barao do Rio Branco, em sua defesa da posicaobrasjleira na "Questao de Palmas ", 1itigio brasileiro-argentino resolvidoem 1895.No detalhe em questao identifica-se claramente a regifio OesteCatarinense, localizando-se a Norte 0 "R. GRANDE DE CURITIBA u R.Yguazu" e seu afluente "R. PERITlBA", atual Rio Chopim; ao Sui, 0 "R.URUGUAY" e a Oeste os Rios "PEPERY-GUAZU"(desaguando noUruguai) e "R.S,ANTONIO."

    Na reg iao identificada, encontramos os nomes de populaco esindigenas "GUNANAS"e "BITURUNAS" desde 0Campo Ere ate os cam-pos de Cacadore de iridigenas "TAPES" entre os Rios Macaco Branco edas Antas na margem direita do rio Uruguai.

    Como referimos antes, par "BlTURUNA" muita vezes foramidentificados os Xokleng ; e os "GUAIANA" (Gunhanas) sa o os tam bernchamados Goianas ou Guaiana, denorninacao generica que se atribui amuito s grupos Kaingang na do c u m entacao dos periodo colonial(D'ANGELIS, 1984 07; BECKER,1986:40-4). Jao nome "TAPES"surgiucomo denominacao generica de grupos Guarani a partir das Reducoes noRio Grande do Sui no seculo XVII, como informam as pr6prios jesuitas:

    "Par antomasia puseram-Ihe os moradores de/oda a com area 0nome de 'Tape ', que quer dizer "a cidade", A partir da grandeza destepovo ('pueblo' de S. Tome) toma seu nome esta provincia, queco rn um ente se chama de 'Provincia do Tape' " (MONTOYA, 1985:212).

    Posteriormente, passou-se a denominar Tapes a todos os Guaranida regiao. Destaca-se q tie a regiao em que Olmedilla Iocaliza os "TAPES"em 1775, esta muito pro xim a - se nao for a t rt esm a > daquela em que UlrichSchmidel encontrou os Mbya 220 anos antes.

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    MAPA nQ 03~o, 16

    I ! k I ~ Ttfl !,!,!:~ ' ,1- ~~ . !J! " ''''!I " .~ ~ . .. ~r~ 1f llf~~J"1 IE:R 1 1 '1 1 t H I - ' ! t. F I\ V I L '1 - : 01 1'lfF I tIN G U f- ~ ... .N iI"l .'1. ,1 1j II W "101 : ~ ... , ' " f . ." "~ , ,_k .. . 'I"H .:It: .; T ! tE .( 1t-i ' ;1 'j~ .r~{ \ 1' 1 .1 1 1" 1 I":'t!. BY tOIl 4MA : - rI~ r)J T:Hr. K ~I"H '1 o ; . , . I~

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    C 05 M OC R " - J Q M ( J ! no RE1:r-ro G ! " :"po EM 1" PO { f; !o ;O N DQ SIL t : P t "I S"~A...

    F on te : "E xp os i< ;aa q ue o s Es ta do s Uni do s do B ra si l a pr es en -t am a o P re si de nt e d as E st ad os Onidos da A r n er i c a . . . " Ne wYork, 1984. Vol. VI - Apendice ~lapas, nQ l~.

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    detalhe do Mapa de Olmedilla informa igualmente da presencados "PINARES" a Leste do rio Guarita ( "Uruguay Pota"), outradenominacao atribuida a grupos de Kaingang, pelo fato de ocuparem matasde Araucaria (SERRANO, apud BECKER, 1976: 42).2.3. Avanco das Frentes Pastoris no Territ6rio KaingangEnquanto nfio era resolvido, nas Cortes, 0 impasse pela revogacaodo Tratado de Madri (sobre as posses portuguesas e espanholas naAmerica Meridional ), reservadamente, 0 Ministro Portugues, Conde deOeiras, ( depois, Marques de Pombal) enviava ordens ao Governador daCapitania de Sao Paulo, em 1765, para que procurasse "dilatar osdominios de S. Magestade pelos sertoes desse Brasil ate 0 Rio daPrata"(MACEDO, 1951: 86). Segundo MONTOYA,(I985: 35) "La Plata"eo termo com que "comumente chamam"ao Rio Parana.Esta evidenciado ai 0 interesse estrategico da penetraeao, ao ladodos interesses da exploracao economica (procura de ouro) que ficamtambem claros na cor respondencia trocada entre 0 Governador daCapitania e 0Ministro Oeiras (D'ANGELIS, 1984).- : a 0 Tenente Cel. Afonso Botelho de Sampaio e Souza (sobrinho doGovernador) foi encarregado de fazer as exploracoes. Ap6s enviar duasexpedicoes a regiao, este decidiu, em meados de 1771, por "pessoalmenteir aos campos", partindo com mais 26 homens em novembro daquele ano(MACEDO, 1951 :89). Chegados aos Campos, em 28 de novembro,armaram rancho e passaram a explora-Io. Nos dias 16 de dezembro eseguintes, rea1izaram contatos amistosos com indigenas que visitavamfrequentemente 0 acampamento portugues. Finalmente, ou por defendersoberanamente seus campos contra a penetracao portuguesa, ou porresponder a ofensa sofrida na expedicao, os indigenas atrairam oitosoldados ao outro lado do rio, matando sete deles, escapando apenas urnque avisou os demais. A malograda expedicao retirou-se daqueles.cam-pos em II de janeiro de 1772 ( MACEDO, 1951). escritor paranense Davi Carneiro (1952) divulgou documentosda epoca que atribuem 0 ataque aos indios "Xaclans".

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    3. A Conquista de Guarapuava e Palmas/ ~-- A ocupacao dos Campos de Guarapuava torna-se imperiosa, somente

    i no inicio do seculo XIX, em razao da economia portuguesa e em funcao( da "geopohtica" colonial.- . Do reconhecimento, ja feito, passa-se a necessidade de incorporacaoI dos ditos campos. 0 territ6rio das Missfies riograndenses acabara de serconquistado aos espanhois (Agosto de 180 I) e era necessaria consolidara conquista, dando-lhe urn acesso mais direto e econ6mico a feira dogadoem Sorocaba -SP. De igual modo, toda a vasta regiao a Oeste dosCampos Gerais de Curitiba e da Estrada para 0 Sui, via Lages, encontrava-se ern "quase total abandono'" , 0 que suscitava preocupacoes de natureza

    I estrategica, uma vez que a fronteira entre os domini os de Portugual eEspanha, nessa regiao, permanecia indefinida, par falta de acordo entreas metropoles, apesar do Tratado de San Ildefonso.

    A transferencia da familia real portuguesa para 0 Rio de Janeiro,em 1808, colocaria esse e outros assuntos atinentes a ex-colonia na ordemdo dia. Finalmente, a expansao do mercado de gado muar e vacum, emfuncfio da industria extrativ a (minerayiioem Minas Gerais) e ,posteriormente, da lavoura cafeeira (Rio de Janeiro, Espirito Santo eVale do Paraiba ~ SP) exigia a expansao dos campos de criar, ate entaorestrita nos limites da circunvizinhanca da estrada para 0 Rio Grande doSuI. E natural que, para essa expansao , a frente pastoril se dirigisse paraos Ca'mpos de Guarapuava, dos quais t in h a-se noticias e certoconhecim ento.

    r --Decidida a ocupacao, Dam Joao VI, Principe Regente , assina aI Carta Regia, de 05 de novernbro de 1808, dirigida ao Governador daI Capitania de Sao Paulo, mandando "suspender os efeitos de humanidade"e: "Considerar como principiada a guerra" contra as 'indios bugres',habitantes dos campos de Curitiba e as de Guarapuava, assim como todosI os terrenos que desaguam no Parana e formam do outro Iado as cabeceirasdo Uruguai" (apud MOREIRA NETO,1972: 408-9).

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    se estavam respondendo a uma ofens a ou agressao sofrida. A interpretacaode alguns historiadores, repetindo 0 que dizem documentos da epoca,aponta que os indigenas estavam indignados com os portugueses porqueestes nao aceitaram as filhas que Ihes tinham oferecido (Idem, ibidem).

    Conhecido 0 poderio belico do invasor, as indigenas afastam-se.Por ana e mei o os portugueses nao encontram qualquer indio nasproximidades, Passado esse tempo 0 Comandante Diogo Portugal enviauma escolta aos alojamentos indigenas, e esta traz capturado "0 indio denome Pahy", escreve 0 Pe. Chagas Lima (apud MACEDO, 1951: 125).A iniciativa tinha em vista, evidenternente, possibilitar a real ocupacaoda regiao, po is se os indios nfio ousavam mais atacar a fortificacaoportuguesa, e certo que os ocupantes nao ousavam avancar nos campos,mais separados das tropas armadas.

    Mantido preso par cinco meses, 0 indio conhece melhor a posicaoe capaci dade belica do invasor e, de acordo com 0 Pe. Chagas Lima,suas "intencoes favoraveis a respeito dos nacionais do Pais". Libertado

    \apes esse tempo, a 97 de Agosto de 1812, retorna a Atalaia , acompanhadode sua gente e do cacique Conda com as seus (312- pessoas, ao todo).Esses primeiros a aceitar - au buscar - alianca com os portugueses saoidentificados como de "duas Nacoes'': "Carnes" e "Votor6es" (LIMA, 1943:237). o Came denominado Pahy, batizado com 0 nome de Antonio Jose~e Azevedo Pahy, re.~ebeu 0 titulo de "Capitao dos indios de Guarapuavapelo comandante DIOgo Portugal (MACEDO, 1951: 153-4).

    r r= Como mencionamos em outra ocasiao , (D'ANGELIS,1984: 09)1 "estava lancada a base da ocupacao dos Campos de Guarapuava e dePalmas, com a submissao de urn grupo Kaingang e com a emprego daI classica tecnica colonial de alimentar e explorar as lutas internas dospovos colonizados". Par . esse motivo e que os fates acontecidos nos"Campos de Guarapuava sao fundamentais e indispensaveis para entendera penetracao Iuso-brasileira na regiao do atual Oeste Catarinense.

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    3.2. Os Kaingang divididosDiante da ocupacao portuguesa em seus territ6rios - considerada

    irreversivel devido ao arsenal da Expedicao - e provavel que os "Carnes"e as "'.'otor6es" (se, de fato, fossem grupos distintos) tenham optadop~la alianca com as poderosos invasores, como forma de tirar partidodlS~O, lancando-se contra grupos rivais. De fato, a Pe.Chagas Limare~lstra~taq u~s. em 18 18 dos "Votorties, no Ocidente, aos 'Cayeres' decuja nacao apnsronaram sete, trazendo-os para Atalaia onde as venderamaos Portugueses" (apud LIMA, 1943: 246). Os indios cames tambemfiz~ram i~cursoes no sertao numa das quais teria morrido 0 Capitao An-tomo Jose Pa}"lY. Pelo que, em 1819, e escolhido para 0 seu posto de

    0"'Capitao dos Indios de Guarapuava" 0 indio Luiz Tigre Gacon, que terial4-SUlfrentado oposicao dos Votor5es e dos Dorins (MACEDO, 1951:215).Em 1822, provavelmente Votor6es assassinaram com porretes a indioJacinto Doiangre e sua muIher, que era 0 "maior amigo e companheiro deGacon" e acusado pelos que 0 mataram, de persegui-los (LIMA, 1842:49). No ana seguinte, a "( . .. ) horda inteira dos Votor6es (cern individuosaproximadamente) se apartou espontaneamente da aldeia para as sert6esda parte do P inhao a distancia de 12 leguas, levando consigo duasfamili as de Cam e jab atizadas, onde esti veram incomunicave is ate1827"(Idem, ibidem: 58). .

    Ano em que uma parte deles retornou.Perseguidos pelos Votorces , as Dorins decidem a vinganca sabre

    os da Atalaia quando ela estava menos povoada. Em 26 de Abril de 1825os "Dorins" ~ p ossivelrnente liderados por Tando ~ atacame destroemAtalaia, quando morreram 28 "Votor6es". Vingavam , segundo 0 Pe.Chagas Lima, "repetidos insultos, cruel dade e mortes, que na suacorporacao praticavam os aldeado s" (LIMA, 1842: 49-5 0).Em 1827 "vieram a aldeia uma porcao de 18 a 20 Dorins de ambosos sexes, para se refazerem de ferramentas, e amigaveis suplicas" mas,no mesmo dia em que chegaram, cinco deles foram assassinados pelosindios aldeados (Idem, ibidem: 5 1). .

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    ~ - - - - - - -s fatos citados que rem apenas exemplificar os conflitos surgidosom a penetracao portuguesa em territ6rio Kaingang e que, a partir de812 dividiu definitiv.amente rt esse povo. indigena entre as favo. raveis es contraries a alianca e aceitacao des brancos. 0 relato de Arakch6 aTelemaco Borba, sobre seu antepassado Combr6, demonstra exatamenteeste conflito interno de posicoes nas aldeias Kaingang (BORBA, 1908).

    A ocupacao dos campos, entre os rios Pinhao e Cavernoso, pelasfazendas dos portugueses nfio significa a capitulacao dos Kaingang ou,sequer, a subrrrissao de uma grande parte deles Significa a submissao(de urna pequena parceia da populaeao Kaingiiig, que passa a desempenhar\,~__.:'apel de garantia da permanencia invasora.

    Isso explica a referencia do Diretor Geral dos indios da Provinciade Sao Paulo, em 1867 as "Tribos que, segundo informacoes colhidas dealguns sertanejos e dos mesmos indios aldeados, ainda habitam as matasde Guarapuava e tern sido tenazmente refratari a a quantos meiospersuasivos ou rigorosos se tern peste em pratica para fazerem parte doaldeamento" (OLIVEIRA,1867:245).

    Esses grupos, que ele identifica como "Votorons" e "Carnes", "jamaisacederam a s condicoes do aldeamento. Conservaram-se nas matas, levandoa vida que Ihes era pr6pria, e sempre em guerra com as seus conterraneos"(Idem, ibidem: 246).

    Em 1826, as e stim ati vas po r tugue s as para a pop ul a9ao ind igena nareg iao eram de 152 individuos Came s; os Votoroes perfaziam 120 e 400individuos pertencentes ao grupo Dorins, que tinha "seu aldeamento itmargem do R. Dorins para cujos Iados fica 0 Campo das Laranjeiras";enquanto que, 60 individuos eram Xokrens, localizados " ... entre os riosIguassu e Uruguai .... ", alem de 240 idios Taven, estabelecidos "entre osrios Parana, Pequiry e Itatu" (LIMA, 1842:52). Havia tambem os "indiosGuaranis, barbaro s assistentes (sic) nos bosques e faxinais inerentes aoRio Uruguai", estimados , em 1821, 'em torno de 500 individuos (LIMA,1943:258).

    3.3. A penetr a cao na regi5.o de Palmas

    Aj.unt. d.Re.~l Expe.di9ao.e COllqu.ista de Gua.r.a.pu.v.a dera ordensComandante DIOgO para a descoberta de urn caminho "m ai snveniente" e de direta comunicacao da cidade de Sao Paulo com 0 RioI ?;rande do SuI e Campo das Mis.soes, do que f.Oi encarrega. do 0 Tenente

    ~anoe~ Soares do Valle. De suas exploracoes "resultou a mais amploconhecimento dos campos e dos matos circunvizinhos e 0 melhoramentodo transite pelos passes do Iguassu, Chapec6 e Goy-oen" (MACEDO,1~51: I ~ 4). Determinada pela Junta a continuidade das exploracoes,DIOgO Pinto encarrega da missao 0 Alferes Atanagildo Pinto Martins,_ c?m algun~ homens e 0 indio Jongong, por guia (MACEDO, 1951: 184),Pmto Martins retorna, em janeiro de 1816, com 0 roteiro da "Vereda das~issoes"(Idem, ibidem: 185).

    Alguns ~e seus homens e 0 guia Jongong, indo por outro caminho, naoretomaram mars, 0 que se atr ibui terem sido mortos peJos Kaingang de Nonoai.

    Em 1837, 0Governo Provincial de Sao Paulo decidira a "descoberta"dos Campos de Palmas, 0 que e oficializado na lei de 16 de marco daquele~o (BANDEIR~_l?51 :43 Q)jA economia pastoril reclamava novos cam-pos para sua expansao e a geopolitica do Imperio seguia as Iinhas mestrasda estrategia de ocupacao portuguesa. Adiantando-se , porem, it iniciativaoficial, fazendeiros de Palm eira dirigem-se a reconhecer os ditos Cam-pos. Sabedores do fato, em Guarapuava, organ iza-se tambern uma"bandeira" para a conquista de Palmas. As duas bandeiras encontram-seo campo, e~ .1839 e disputam a sua posse, Para julgar a questao ,lcolheram arbitros entre os moradores de Curitiba que decidem aeparticao do mesmoentre ambos os grupos. .

    3.4. Campos de Palmas e Campo Erer-.! E fundamental ter em mente a extensao dos Campos de Palmas.I Estes campos estao , em sua maior parte, em territorio do atual Oeste~atarine~se, a~range?do gra~des extens.5es de terras nessa regiao .. Peloapa (n . 04) e posslvel verificar que ditos Campos de Palmas incluem,do Paran~, apenas os rnunicipios de Clevel andia e Palmas, enquanto

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    I II

    01c :

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    que do atual estado de Santa Catarina abrangem onze municipios, de SaoLourenco do Oeste a Quilombo, a Oeste ate Cacador, Rio das Antas e Videira,a Leste. Desses municipios, seis tern a totalidade de seu territorio abrangidapelos referidos campos, e,. outros quatro, mais da metade de seu territorid.

    Portanto, quando a documentacao oficial fala de Campos de Palmasesta se referindo, sobretudo , a terras do atual Oeste Catarinense. Porextensao, Palmas passou a designar a regiao, sobretudo apes 1855, ana dacriacao da Freguezia (Par6quia) de Palmas . * A Freguezia de Palmas ia ateas limites da Provincia do Parana com a de Sao Pedro do Rio Grande do SuI,au seja , 0 rio Uruguai; a Oeste, ia ate os limites (entao indefinidos ) com aArgentina, (que 0Brasil pleiteava situar os rios Peperi -Guacu e Santo Antonio).

    Com 0 advento da Republica, e ate a solucao do litigio dos Iimitesentre Parana e Santa Catarina, em 1916 (Contestado), toda a extensao daantiga Freguezia passou a integrar Municipio de Palmas. Ou seja,quando no pertodo Imperial e na Republica, ate 1917, os documentosmencionam Palmas estao, inclusive, referindo-se, de fato, a toda a regiaoOeste Catarinense

    Ressalta-se, que a ocupacao detais campos pelas fazendas de gadocriou urn cerco aos Campos do Bitunna, onde dominavam ainda os Xoklenge sabre os quais nem Conda nem Viry tinham qualquer ascendencia ou

    i pO,def. ~sse.s Xo~leng man~iveram essa ~rea em seu ~ontrole,,,praticame~te,I ate a pnm:ua de~ad~ do seculo XX, e ai foram "pacificados pelo Serv190. de Protecao aos Indios - SPI, para que suas terras fossem, finaimente,entregues aos fazendei ros.

    Pe lo excesso de pretende ntes aos Campos de Palmas, para aspadroes de ocupacao da epoca, dos integrantes das duas Bandeiras de

    , 1 83 9, trinta e sete fazendeiros estabeceram ali suas possessoes, Outros .

    Udirigem-Se aoCampa Er-e-;-mais aOesre-:- segu irido inform aedes dosKaingang liderados por Conda. Cauda, sua esposa e mais nove indioshaviam acompanhado os arbitros vindos de Curitiba, desde Guarapuava.. As freguezias eram as unidades administrativas do Imperio, em funcao daconcordata entre a Igreja Catolica e 0 Governo Imperial. Correspondiam ao quehoje sao as jurisdicao dos Cartorios de Im6veis e na sua sede - nos livros daIgreja - se fazi am os registros de terrenos e direitos de posse.

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    ate 0 local da contenda, perrnanecendoentre os fazendeiros por dois mesesdos dois meses e m ei em qu e se decidiu a questao territorial(D' ANGELIS, 1983: 05)

    No Campo Ere, os novos povoadores encontraram 0 "alojamentodos selvagens comandados pelo segundo chefe indio Viri" (BANDEIRA,1851: 430).

    3.5. 0 Indio CondaCumpre aqui esclarecer 0 papel de Conda nesse processo de

    ocupacao brasileira que, iniciando em Palmas, em 1839, determinara ardmeira penetracao de efetiva ocupacao no Oeste Catarinense, paraatravessar 0 Rio Uruguai (Goio-En) e atingir os Campos de Nonoai. em1845. '

    rCo nd a p ertencia as hordas Kaing ang, que havi a aceitado aconvivencia pacifica com os fazendeiros em Guarapuava. Seu papelcolaboracionista ficara marcado no apoio a penetracao brasileira nos

    campos de Palmas e,em seguida, de Nonoai, no Rio Grande do SuI. Esteprocesso e descrito por historiador catarinense (SANTOS, 1970: 34) doseguinte modo:

    "No Oeste a frente pastoril tambem fez guerra ao indio. Mas ali afigura do bugreiro foi rara Habilmente os integrantes da frente seassociaram aos Kaingang de Guarapuava e por meio desses foramIimpando as campos dos grupos hostis, persuadindo-os ao convtviopacifi co ou movendo-lhes campanhas de exterminio. Os grupos dePalmas Coram neutralizados pelos Kaingang de Guarapuava,enquanto as hordas do Nonohay foram estimuladas ao contatopacifico CO!11 os brancos pelos indigenas de Palmas".

    As seguintes cousideracoes do Capitao Herm6genes Carneiro LoboFerreira, Comandante do Destacamentoem Palmas, ao Presidente de SaoPaulo, em novenbro de 1840, isto e, alguns meses apos a tomada dosCampos de PaImas, evidenciam, de forma bastante clara, a manipulacaoque faziam os brasileiros das rivalidades internas dos Kaingang:

    162

    "No dia 20 de outubro p.p. chegou oLldio Vitorino que the dei 0posto deCapitao emnome do Ilmo, Sr.Presioentedesta Provincia, e ele nomeou aoindioViriTe:nente,0MathiasAlferes eManoel Sargento de sua companhia,que secomp5e de 16a 20annas ... M dizem as Indios que querem armas defogo, e municao, assim como ferranentas para trabalhar...""Lembra-se mais a ser possivel faLer~sereviver a Carta Regia de 05 denovembro de 1808, revogada pela le i de 27 de outubro de 1831 de seremcativos as indios apanhados ematNues, tanto pelos indios como pelosbr'!j.leiros~porque tendo 0 Vitoriro acerrima rivalidade com os indioso Paiquere, que cada certo tempose atacam, se amarram, e os que urn

    a..nha. . . .d? o.u.r.o.conserv.~m.p.or sess . .cat~v.o.S.;.6.uti! apanM~l~.Sese.ra.oeio mats favoravel de rrvalizar 0Vitorino com os que tern feito grandean o no Campo do SuI desde a \ila do Principe ate Miss5es que detudo ele da noticia e pronto para if bate-los para venderem; precise de

    : V.Excia. faculdade para esta comjra, e sua distribuicao e condicces'?".. . . . . _ _ ,3,6. Cunda no IraniConda era, assim, praticamente

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    "Foi um dos primeiros cuidados do Capitao Herm6genes CarneiroLobo, marcar 0 Iugar em que se devia estab elecer a povoacaoforam preferidos os lageados das Caldeiras e Cachoeira, para ond:com boas maneiras pode transferir a tribe de selvagens, de que jAfalamos: cOl~andada po~ Conda, a qual tantos receios causava, porestar ate entao estabclecida em uma campina chamada Iranin, a duasleguas do sertao "(Idem, ibidem: 433)

    As cabeceiras do rio Irani - afluente itdireita do rio Uruguai - acham-se ern meio a campinas que sao parte dos Campos de Palmas. Essacampina, situada it altura do Paralelo 27 e entre 51045' e 520 Oeste deGree.nwich, de fato ~ncontra-sea poueos qui16metros das matas queeobn~m 0 mesmo Irani nos seus curses medic e inferior, assim como osdemais pequenos formadores do Uruguai.

    Que Conda fosse de Guarapuava, a atesta a mesmo Pinto Bandeiraquando diz que Rocha Loures, "habitando na sua inffinciaemGuarapuava ... teve ali conhecimento com a indio Conda tambem meninoque depois retraindo-se aos bosques, se tornou formidavel e temido entreos seus'' (BANDEIRA, 1851434). Conda, porem, nao permanecera emGuarapuava, conforme a texto eitado esclarece. 0 fato e confirmado paroutra expressao do autor da "Noticia", ao ressaltar que as arbitro snomeados pelos fazendeiros, viajando de Curitiba para os Campos dePa~mas, "passando par Gurapuava tiveram ( ... ) a fortuna de ai encontraro Indio Conda., che~e ~a principal horda de selvagens , que ocupavaPalmas, e mars dois Indios com suas familias, em numero de IIpessoas "(Idem ,ibidem: 428-9),

    Rie.semberg, q~e tam bern informa ter Conda trazido "a sua gentedacampma do Irani para as arredores do nucl eo recem fundado "(RIESEMBERG, 1978: 75), relata urn episodic em que duas referenciasgeogra.ficas confinnam a identifi cacao da Campina do Irani com ascabeceiras do rio hom6nimo . Baseado ern Luiz Daniel Cleve e AntonioAlceu,?e Araujo., Riesemberg relata uma viagem de Pedro de SiqueiraCor~e.s para 0RIO Grande do Sui, a comprar animais, quando a altura deCuritibanos, foi a sua cornitiva atacada por uma horda de indios". Noataque, Cortes feriu - com a cano de sua pistola - a face de urn dos

    164

    ~ I

    indios assaltantes. Esse indio era Vitorino Conda , que confessaria 0fato, e que, segundo 0 referido Antonio Alceu Araujo, "se preparava noXanxere para vingar-se", quando foi surpreendido par urn ataque de PedroSiqueira Cortes acompanhado de indios ditos "mansos" (Idem, ibidem:73). 0 fato, pelas indicacoes dos textos, deu-se antes de 1839.

    Os locals mencionados sao, portanto, Curitibanos - onde ocorreua assalto - e Xanxere - onde Conda preparava a vinganca. As cabeceirasdo Irani (e, portanto, a Campina do Irani) encontram-se praticamenteameio caminhoentre a Campina do Xanxere e Curitibanos.o que, par fim, confirma 0fato de que a "Campina chamada Irani",de que fala Pinto Bandeira, e a camp ina que existe nas cabeceiras doRio Irani e a toponimia Kaingang do lugar . Segundo as Kaingang, Iranie corruptela portuguesa de Renr, que sign ifi ca: "no campo", "nogramado"ou "na campina"(D'ANGELlS, 1978: 82)Ainda sobre a dominio inconteste Kaingang desta vasta regiao, e aascendencia de Conda entre esses Kaingang, vale reproduzir as palavrasde Riesemberg: "Era realmente impressionante a ascendencia de Condaentre os demais caciques, tanto em Palmas, como no Irani, como noNonohai" (RIESEMBERG,1978:82).

    3.7. Mas sacres e bugrei r osAldeado em Palmas, enviado pel o Comandante Herm6genes

    Carneiro Lobo Ferreira, a Cacique Conda realiza uma expedicao a groposKaing ang "arredio s", " (. .. )trazend 0 consi goal em de algumas criancasbrasileiras de ambos os sexos, duas tribos de indios com suas mulherese familias, que tinham deliberado deixar a vida errante e aldear-se,juntamente com os demais, nos campos de Palmas" (ELLIOTH, 1980a:06~07).

    Moreira Neto, com base no Relat6rio do Presidente da Provinciade Sao Paulo de 1844, infonna que:~ "( ... )um grupo de indios que tentava escapar ao aldeamento foi

    perseguido por uma escolta militar 'e vinte e tantos indios de ambos

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    as sexos, inermes, sem op orem resi st encia ativa, foramassassinad osI. Vitorino Conda recebeu 220$000 por sua participacaoe foi nomeado comandante dos indios que reduzisse, a que da asua ccndicao de bugreiro urn carater oficial" (MOREIRA NETO,1972: 389-90).

    Esses Kaingang sao recebidos emPalmas e, ponca depois, em marcode 1841, a Capitao Herm6genes demite-se do cargo por motivo de saude,assumindo em seu Iugar Pedro de Siqueira Cortes, seu rival (e, como seviu, rival tambem de Conda). Hermogenes segue para Sao Paulo, "levandoconsigo Conda e seus protegidos resgatados do mato", provavelmentepara receber a recompensa ja referida . Atesta 0 relato de ELLIOTH(1980b:01-2):

    II A auseneia de tal protetor foi funestissima e fatal aos Indios.Pessoas mal intencionadas cornecaram a espalhar boatos, que asIndigenas premed] tavam urn ataque contra apovoa r;:ao;e, au porqueo comandante realmente acreditasse em tais boatos, ou [0 que emais provavel] porque desejasse neutralizar todos as planes de sellrival, C . . . ) 0 certo e que nao perdeu tempo em deprecar forca ar-mada, como que se esta, tendo de vir de distancias, pudesse obviaresse fantasticoe sonhado ataque . Com a chegada deste auxllioorganizou uma escolta sob pretexto de ir ao mato buscar os Indios,que se entretinham em suas inocentes cacadas, e os conduzir para apovoacao; mas sua fixa intencao era de assassina-los, porque emlugar de entregar II dtsposicao de urna pessoa de humanidade,honradez e inteligencia, escolheu para comandante urn ignorante ebrutal fanaticc, bem conhecido por sua ferocidade e malvadez,Dadas as instrucdes a este digno instrumento, que as devia executar,nao era necessaria ser profeta para antecipar as consequencias eprever 0 desastroso futuro, que estava erninente. Chegada a escoltaao lugar onde estavam os indios abarracadcs, lhes foi intimada aordem do coman dante para seguirern a povoacao ".

    I .

    166

    II Os selvagens obedeceram submissamente, nunea suspeitando 0infernal trama que estavacontra eles surdido: Marcharam pois,seguindo a escolta e no dia da viagem, na salda de uma pequenacampina ( ... ) per urn sinal dado, os indios foram de sub ioacometidos, e ferozmente assassinados( ...).Uma segunda escolta foi entao mandada em busca de algumasfamilias que andavam dispersas do grosso da Indiana, e como erade esperar, , a mesma tragedia foi repetida, e as mesmas atrocidadesperpetradas( ...). Depots destes gloriosos feitos e armas, as rnulherese criancas que tinham escapado da carnificina foram conduzidas,como em triunfo , para a povcacao; as chinas e alguns de seus mhosainda pequenos entregues aos indios aldeados, e os mais vendidos,como escravos, aqueles que mais oferecera mil.

    o mesmo autor, contemporaneo dos fatos, afirma que 0massacreocorreu no Campo de Chapec6, onde morreram 106 pessoas (ELLIOTH1980a: 13-4). Tal "Campo do Chapec6" nao deve ser confundido com acidade de Chapec6. Conhecendo-se a geografia da epoca, pode-se situa-10 nos Campos da margem norte do rio Chapec6, campos naturais entreas atuais cidades de Abelardo Luz e Palmas.

    Ainda na ausencia de Conda, urn dos grupos Kaingang insubmissoaos braiicos 'decide tentar a expiilsao dos fazendeiros de Palmas. Noaldeamento de Palmas ficara o "tenente" Viry it frente dos entao chamados,"indios mansos" compreendiam, os Kaingang revoltados, que a garantiada permanencia dos fazendeiros eram seus irmaos que se aliaram aos"f6ng"("portugueses"). Par isso, segundo relato da epoca:"Na noite de quatro de marco de 1843 (... ) em numero consideravel,quando Conda estava ausente, vieram as tais selvagens atacar a novaepequena povoacao: dividido s em dois grupos, primeiramen te atacaramos indios ja aldeados que se defenderam corajosarnente com 0 favorda superioridade das armas* , matando-lhes oito, alem de se fazeremalgumas indlas prisioneiras, e perdendo somente dois dos seus, E comoeste conflito despertasse a pouca gente da povoacao que se pBs ematitude de defesa, fugiram os que a cercavam...."(BANDEIRA, 1851:433).

    * Os aldeados possuiam armas de fogo (Nota do autor).

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    o lider da revolta contra p,almas seri a 0 indio Vaiton (FER-NANDES, 1941: 163) e,certamente, lOS atacantes avaliaram que a ausenciado Conda lhes era favoravel para c(Onseguir aexpulsao dos fazendeiros.

    A vit6ria sobre os Kaingang [insubmissos certamente consolidou aposicao de Viry entre 0 seu grupo (e garantiu-Ihe 0 reconhecimento dosfazendeiros, Par 18S0, ao retornar die sua viagern a Sao Paulo, em 1843,Conda encontrou ja parte do seu gnupo decidida pela chefia de Viry. Dofato, resultou a separacao dos doiis grupos (Idem, Ibidem: 164) .Virypermaneceu ern Palmas e Conda conn os seus passa a colaborar em outrosempreendimentos oflciais

    3.8. As Estradas pelo Oestee CatarinenseConsolidado 0 povoamento dee Palmas, a Presidencia da Provincia

    de Sao Paulo incumbe 0Coletor de IR.endas da Freguezia de Guarapuava,Alferes Francisco Ferreira da Rachal Loure s: tt de abrir urn picadao quepartindo da Freguezia de Ponta Grosssa, passando pelos campos de Palmasem direcao a Vila de Cruz Alta, cromunicasse esta Provi~cia com a doRio Grande do SuI" (ROCHA LOUIRES apud D'ANGELIS, 1984:27).o trabalho e realizado em 1f84i,_.fo_1!tal1,dQRocha.Loures com aindispensavel coliibools:ao -de VictoHino Conda, conforme a ref;rSnciaantes transcrita , de Pinto Bandei~~i. Por suavez, da tradicao oral dosKaingang de Nonoai temos a seguirnte referencia: "0 indio Conda elemorava aqui (em Chapeco ou Santta Catarina) . Quem era mesmo deNonoai era 0 Nonowoyn nao se davai com os brancos, sempre brigava. 0indio Conda foi la dizer pra ele: vamrlOS parar, vamos acalmar, Entao eleparou"?

    A picada de Rocha Lo ure ss , cruz an d o os ri o s Chapec6 eChapecozinho, passava pela Campinsa do Xanxere , Xaxim, pela Serra doTigre, Pilao de Pedra, Passo do Caarneiro e Goyo-en (Rio Uruguai).Atravessando esse rio, cruza os canmpos de Nonoai e. segue para CruzAlta, onde se liga .iestrada que da nnas estancias das Missoes, vindo deVacaria.

    Na sequencia da abertura dessa estrada e criado, em 1846, 0Aldeamento de Nonoai, pelo Governo da Provincia do Rio Grande doSuI, junto aos Toldos Kaingang situados naqueles campos, sob a liderancado cacique do mesmo nome.

    Por outra parte, 0 transite de tropas para a qual a picada foi abertaintensificava-se dia a diae, por sua grande importancia, ja nos anosseguintes, entre 1854 e 1857, a estrada e inspecionada, com vistas emelhoram entos, nada menos que tres vezes por engenheiros do Imperio(Beaurepaire Rohan, Gengembree Hegreville). 0 primeiro deles, em relat6riode seus trabalhos ao Presidente da Provincia do Parana - desmembrada deSiio Paulo em 1853 - esclarece as vantagens da nova estrada:

    "Todas essas vias de comunicacac, que tern relacao com a questao,estao compreendidas entre a margern esquerda do Y guassu e adireita do Uruguay .Elas pertencem a estrada geral que do municipiode Castro se dirige, por Guarapuava, ao territ6rio das Missoes, noRio Grande do SuI, estrada de muita importancia, porque tern sobrea do Rio-Negro, a vantagem de encurtar de muitas dezenas de leguasa distancia que percorrem as tropas, no seu trajeto para a feira deSorocaba, e a outra nao menor, quee a de nao atravessar 0municipio de Lages, livrando, d'estarte, 0 comercio dos impostosali estab elecidos, por conta da Provincia de Santa Catarina"

    Se aestrada Palmas-Missoes incorporou aos dominios do Imperiovasta regiao do territorio Kaingang, entre os rios Iguacu e Uruguai, essaincorporacao ficou restrita ate a instalacao da Colonia Militar do Xapec6em 1882, aos seguintes pontos:- Fazendas de criacao nos Campos de Palmas e Campo Ere: asfazendas instaladas no Campo de Palmas, ate a data menci onada,praticamente nfio excediam, ao SuI, a margem direita do rio Chapecozinho(isto e, ficavam a Norte deste).- Pousos ao longo da estrada, como os que foram se formando aoPasso do Xapec6, devido a agencia de imposto ali instal ada (em [rentede onde hoje se Iocaliza Abelardo Luz, na margem Norte do Chapeco);no Xanxere, no Passo do Carneiro (hoje Passo Bormann) e no Goio-En.

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    o sertao circun dante aos rio s Chapec6, Chapecozinho e Irani(curses media e interior), bern como as serras adjacentes nao forampalmilhadas e, muito menos, ocurados por brasi leiro s . Perrnaneciamterritorio livre Kaingang, assim cono as: matas marginais do Uruguai. Aeconornia madeireira ainda nao se iniciara no lado brasileiro,e a que seocupou na regiao, alem de pastagense urn caminho rnais direto is Missoes,foram os ervais, que ja se encontravam rra rota do mesmo caminho.~~ nesse periodo (meados do )6cul.@X~X),os int:resses a.rg:lltinos

    ( na regiao aumentavam, exatamente dev'ido a exploracao madeireira queiniciavam usando 0 curso do Rio Umguai e a exploracaoervateira, entaoem franca expansao. Oai reacender-se nesse memento a Iitigio sabre asl imites internacionais naquela zona, reivirrdicando a Argentina 0 territ6rioI de Misiones (disputado. ao .Paraguai) e as terras situadas a Oeste dos rios

    ~hapec6 e Chopin (disp utadas ao Brasil).A ocupacao efetiva do territorio torna-se , entao, questao estrategica

    para a geopolitica do Imperio. Nesse contexte e que a abertura da estradade Palmas a Corri entes tornava-se inadi avel. Os pl a no s brasil eirospreviam, certamente,estabelecer uma situacao de fato que lhe favorecessena decisao do litigio, e preparar a ocupacao definitiva (com povoacees),quando essa decisao ocorresse.

    De outro lado, confluiam para tornar inadiavel a abertura dessanova com unicacao 0s interesses brasileiros do corn ercio de rnuares,abastecedores da lavoura cafeeira que se expandia em Sao Paulo.

    f ---Vma vez que os principais centres produtores desses muaressituavam-se ern Corrientes e Entre Rios, na Argentina,e que pela rotaI vigente, para ganhar os Campos Gerais de Curitiba ~ onde se fazia a~

    ngOrda antes de seguir a Sorocaba - precisavam ingressar no Brasilmissfies pelas riO.grandenses, 0 produto chegava a lavoura cafeeira pordemais encarecido.

    Mais uma razao uma que determinava a abertura da referida via(WACHOWICZ, 1979: 2005).

    ~~ interessante notar que a abertura dessa estrada suscitava 0 de-

    ate entre os.povoadores da regiao , debate esse bern descrito por Manoeluarte Bogia do BALLE (1983: 130- I).

    I I

    170

    "Uns d izem que e para libertar 0 importantissimo COillercio~e b.estasda impcsicao do Rio Grande do S\u1. Outros que Q ,S Cornentmos,com noticia da navegabHidade do alto Urugua i( ... ) pro~u~am seassenhorear dos melhores ervais .que existem nas proxlml~adesdaqueles rios, E outros, que ela tern por fim facilitar os meres dacrlacao de colfmias e outros estabelecimentos para quando seproceder 0 reconhecimento dos l irmites do Imperio po r aquele lado,mostrarem urn direito de po 55 e" .

    Assim, Manoel Marcondes de Sa dirige a exploracao ~es.sa estradaem 1864, "desde 0Campo Ere ate 0Cavaru-Coya, nas pro){l~~~ades dosde Corrientes". Nessa exploracao encontra.ra no Campo Ere setenta etantos brasileiros em perfeito isolamento por estarem separados dePalmas por uma mata de doze leguas", Esaes brasileiros seriam os queentraram no Campo Ere em 1839. .Seguindo adiante , para Oeste, pel.o divisor d as .aguas, :el~taMarcondes de Sa: "alem do Campo Ere emcontrei vestigivf dos 111dlOS. .:tid a deles ca9avaque moravam por essas paragens. uu n a par 1. ,descuidadamente e foram encontrados por lllOSSOS picadores, porem , elesfugiram precipitadamente"lO. ,. ,Trata-se aqui da reg iao de mata de araucarra l1a, altura dosform adores dos rios An t a s (SC), Ma rme leiro e Taman~ua(PR) 0 qu eindica ser 0 grupo indigena em questao prowavelmente Ka.tngang.,

    Informa 0 relatorio citado, de Mamoel Marcondes de Sa '. que"parecendo mais conveniente pender antes para 0 lado d~ Urugua~,. . ~~V t . Canda com v r n a i spassando a rio Parobangue, mandei 0 caciquie IC OIl no ~. .pessoassuas ... ". Conda, seguindo as orderis, encontrou o s Camp~s, q~e

    d C ~';r'. U ' 0 atual terrrtoriojulgou serem os procurados . a avaru-x.oya an"argentino) nos quais encontrou "dais told.os dos selvagen~ , urn del~s~ d d d cobnndo que tatscom restos de 13 ranchos e uas gran es .casas, ees ,d t I t ." u rocas.Suposindios possuiam boas ferramentas e carr e e p an ave>.> T ~"' . . d M I F ntigo catecumeroVitorino serem eles "capitanea os por anroc . acran, a. .'" I d 30 . tes se retrrara parada aldeia de Guarapuava , 0 qua cerca e. anos am

    o sertao com 50 ou 60 indios (idem, ibid.ern).

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    3.9. Co n da em Nonoai - Aldeamento de Palmas e Xapec6Entre a participacao de Conda na abertura da picada para a Sui e

    sua participacao na exp loracao da estrada para Corrientes, Condaestabel eceu-se em Nonoai, no aldeamento recem fundado junto aosToldos do Cacique Nonoai, Conda ali esteve residindo pelo menos desde1847 ate 0 ano de 1856, quando veio estabelecer-se no Xapec6 (atualAbelardo Luz}!'. Nesse periodo, atuou a soldo da Provincia do Rio Grandedo SuI, na funcao de colaborador com 0 Governo, defendendo osfazendeiros de investidas de indios insubmissos.

    Nesse trabalho, segundo consta no relat6rio do Presidente daProvincia do Rio Grande do SuI (apud MOREIRA NETO, 1972:396)"como 'capitan' nao s6 tinha sua funcao de 'bugreiro' equiparada acondicao militar com direito a soldo e fardamento, como decidiu 0 Gov.Provincial'dar-Ihe gratificacao mensal de 50$000 logo que a aldeia tivesse500 indios; depois se resolveu dar 5$000 mensais par cada grupo de 50que apresentasse ' ".

    As mas relacoes entre indigenas e os Destacamentos Militares dePalmas e Guarapuava prosseguiam nessa epoca.Assim e que Jose Joaquim Machado d'Oliveira, Diretor Geral dasindios, pede providencia ao Presidente da Provincia de Sao Paulo emAgosto de 1848, para que"obste 0 mau proceder do destacamento deGuarapuava'!e, ao mesrno tempo, afirma que "( . .. )a mesma inconduta oualguma coisa houve. no aldeamento do campo de Palmas( ... ) pais que 0destacamento dali apossando-se violentamente das rccas dos indios, deucausa a que estes ab ondonassem 0 aldeamento" (OLIVEIRA apudD'ANGELIS, 1984: 17).A essa epoca, a populacao indigena do Oeste Catarinense iriadist~ib~ir-se pelo territorio em funcao de sua postura ante a ocupacao~rasllelfa. Os que aceitavamessa ocupacao au buscavam aliancas com 01Dvas.or, aproximavam-se da estrada Palmas - Goio-Bn, ao longo da qualtransitavam as tropas de gada e as extratores de erva-mate. A estrada vaise pontuando de paradas au pousos, sendo os mais antigos 0Xapeco, 0

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    Xanxere, a Palmital, 0 Passo do Carneiro e a Goio-En. Ja os gruposhostis a esta penetracao refugiam-se mais lange da rota da estrada,embrenhando-se no mato.Como tam bern a rio Uruguai comeca a ser fre quentado e utilizadocomo via de penetracao e ocupacao economica (para a erva-mate e , emseguida, a madeira), tambem ai nao poderao ficar tranquilos os gruposindigenas arredios ao contato. Nesse momenta observa-se urn retraimentorapido de grupos Guarani, ate ali numerosos nas matas proximas do RioUruguai. A zona de refugio rnais segura para mu i tos desses grupos fo-ram as matas de Missiones, na Argentina. Alguns deles permaneceramnos seus locais trad iin ai s ate serem molestados pelas le v ascolonizadoras ja no seculo X X.Os Kaingang arredios teriam concentrado suas localizacoes no Iranie sua regiao Leste, no medic rio Xapeco e regiao a Oeste dele. Os gruposKaingang simpaticos aos novos ocupantes rn antiveram-se na regifio doXapeco e Xapecozinho (sempre no ponto de confluencia com a estrada);no Xanxere; no Passe do Carneiro, no Toldo da Serrinha e familias noPalmital e no Go io-En.Enquanto isso, grupos Xokleng aproximavam-se do rio do Peixe eainda ocupavam a reg iao entre os rios Timbo e Jang ada, mas nao searriscavarn a circular livremente nos campos abertos, assumindo a vidana mata cerrada,Jonge dos fazendeiros. Eventualmente , a caca ao gadoimpelia-os a alcancar a borda do campo.

    3.10. A Situac ao dos " indios Manses"A si tuacao dos cham ados "ind ios aldead os" au "manso s'', i sto e ,

    aqueles que se submeteram aos aldeamentos oficiais do governo , nfioera de nenhum modo anim adora e 0 fato certamente dava motives aosKaingang insubmissos a permanecer lange dos brancos. Vej a-se, parexemplo, a situacao dos aldeamentos de Guarapuava e Palmas na decadade 1840:

    "Os Kaingang recentemente pacificados em Palmas sofriam de urn

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    lade 0 ataque de grup o s hostis( ... ) de outre, as press5es deproprietaries de terras que se esforcavam por ocupar seus territoriostribais( ...) A valorizacao das terras servidas pela estrada contribuiupara que novas tentativas de desiojamento se exercessem contraas areas ocupadas pelos indigenas. Ao mesmo tempo, a AssemblelsLegislativa de Sao Paulo reclamava insistentemente a transferenciados indios de Guarapuava para 0 aldeamento de Palmas, medidapor ela decretada em consonancia com as interesses imobili

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    Favoreciam apenas os setores dominantes da sociedade, com aces.a informacao eNaos ctrculos do poder, que acabam titulando para:~enonnes extensoes de terras (que nem chegavam a conhecer ) com 0 fmico de I .. rrnuntco e ucrar com a revenda a empresas colonizadoras ou diretamentea colonos.

    ~Nesse novo contexte foi criada a Provincia do Parana, desmembradadeSao .Paulo, em 1853, e abrangendo integralmente os Campos de Palmase ,0 atual Oeste Catarinense Na nova provincia foi nomeada primeiroDiretor Geral dos Indios urn rico fazendeiro de Castro: Manoel Ignaciodo Castro e Silva (MOREIRA NETO, 1972:388).. Relat6rio do Primeiro Presidente da Provincia do Parana, em 1854,~n~orma que 0 grupo de Vi ry contava entao com 152 pes soas (Idem,1bidem: 389). No ano seguinte, ainda 0 Presidents Zacarias de Goes eyasconcellos (1855: 456) informava a Assembleia Provincial que: "( ... )o aldeamento de Palm as, unico urn tanto regular que continua a existir~a Provincia, tern ja 0 seu diretor parcial, mas falta-Ihe ainda 0 que maisunporta a prosperidade dos indios, porquanto nao hi ali missronarjos,nem eles possuem terras para cultivar, e vivem por iS50 expostos it ex.trema indigencra". .

    II

    4.2. As relacoes dos Kaingang do Oeste com Nonoai e Erechim, .Como ja se dernonstrou, 0SuI do pais vivia memento especialmente

    decisive em relacao a questao fundiaria De urn lado,as terras de campoeram requisitadas para expansao da econom ia pastoril , agora incrernentadatam bern em funcao da expansao daeconomia cafeeira no Sudeste. Deoutra parte, as terras ag r icul tave i VaG sendo requisitadas pel oempreendimento colonizador (por ex : Blumenau e Joinville 1850 e.1851), ou sendo incorporadas ao estoque de terras em esp;cula9aoimobi ljaria a partir da Lei de Terras, em vista de tal emprendimento.

    , n~sse modo compreende-ss que a mesmaepoca em que naentaeProvincia de Sao Paulo a Assernb leia Legislativa prop6e a transferenciado aldeamento de Guarapuava para juntar-se ao de Palmas - na Provincia

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    do Rio Grande do SuI 0 Governo tenta igualmente reunir em Nonoai todaa populayao indigena da Provincia, promovendo transferencias forcadasdos grupos localizados em outros pontes do territ6rio. 0 processo 56funcionou parcialmente em relacao aos indios de Guarita, com a fixacaoda gente de Fongue, Portela e Prudente nas terras da gente do CaciqueNonoai. Porem, mesmo com a iniciativa de concentrar 05 Kaingang nessasareas, os fazendeiros nao deixavam de pressionar e forcar a reducao dasterras indigenas para expandir os seus campos particulates de criacao.Ate mesmo 0 primeiro Diretor do aldeamento de Nonoai, Joao Cyprianoda Rocha Loures irmao de Francisco da Rocha Loures, Diretor Geraldos indios do Parana apes 1855 foi urn dos primeiros fazendeiros a ocuparvasta extensao dos campos indigenas, fato apontado pelo pr6prioPresidente da Provincia em 1870(LA YTANO, 1957: 186).

    A transferencia dos Kaingang da Guarita para Nonoai tinha pormotivo a Iiberacao daquelas terras tambem aos fazendeiros, e igualmenteneste caso 0 Diretor do Aldeamento, Jose Joaquim de Oliveira, repre-sentava os interesses da frente pastoril. 0 mesmo processo vai se repetirnos Campos de Erexim, local izados entre os rios Passo Fundo, Piracucee Apue. Tais campos sao de ocupacao tradicional da gente do cacique Votouro.No relat6rio a Assembleia Provincial de 1854, 0 Presidente do RioGrande do SuI identifica a gente dos Caciques Nonoai, Victorino Conda,Pedro Nicafi e Votouro como urn unico grupo. Conda e Nicafi estao jun-tos em Nonoai em 185}, e os documentos da epoca mostram que 0segundoera genro do prim ei ro ( D'ANGELIS, 1984). Nonoai faleceu em meadosde 1853 e Votouro, batizado pelo jesuita Pe Solanellas, por volta 1850,teria falecido em 1854. Entre os Kaingang cresceria entao a importanciade Conda e Nicafi, este ultimo celebre pelos ataques que promovia comseu grupo nos campos da Vacaria e de Cima da Serra (TESCHAUERapud BECKER, 1976: 127). Porem , os fazendeiros e 0 Governo Pro-vincial parecem cada vez mais valorizar a fidelidade demonstrada porFongue, Portela e Prudente, no Alto Uruguai, e Doble no nordesteriograndense, na funcao de "bugreiro s'' da Provincia. A invasao dosCampos Kaingang do Erexim cclocara Conda e Nicafi definitivamenteContra 0 empreendimento oficial naquela regiao.

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    Em marco de 1854 dirigiu-se para Porto Alegre 0 Cacique Anto~nio, de Erexim, com sua esposa e dois outros indios, queixar-se aoPresidente da Provincia de que 0 Dj retor do Aldeamento de Nonoai ostern pressionado para que abandonem seus campos e sigam para aquelaaldeia. Dizem que estao bern arranchados no Erexim, onde plantam efazem erva e com a venda desta tiram 0 sustento. Por fim, queixam-sstambem, dos fazendeiros Clementine Pacheco e Antonio Joaquim, quedividiram entre si os Campos dos Kaimgang e queriam expulsa-los para fora.Clementine dos Santos Pacheco era irmao do Juiz de Direito JoseGaspar dos Santos Lima, genro por sua vez do Diretor do Aldeamento deNonoai, Jose Joaquim d'OIiveira (D'ANGELIS, 1984)

    Em resposta a suas reclarnacces n5:0 houve providencias oficiais,mas recrudesceram as pressoes dos fazendeiros e do Diretor de Nonoai.Em outubro do mesmo ano, os Kai.ngang desmancharam a mangueiraconstruida por Clementino nos seus campos, bem como incendiaram acasa que construiu, atropel ando animais invernados ali ~ inclusivematando alguns ~ , trancando fin almente a entrada do campo com cercade tronqueiras falquejadas. A inform a980 e do pr6prio Pacheco, que sequeixou do fato ao Diretor de Nonoaii por oficio de 19 -1 O ~ 1854.Em resposta, 0 Diretor de NOI1l~ai acaba de reconhecer que ditoscampos eram ocupados pela gent:e do Cacique Pedro Nicafl maspo~iciona~se a favor do seu parente fazendeiro. Em junho de 1855, osKaingang fazem nova viagem a Porto Alegre. Desta vez foi 0 CapitaoAgo.stinho Rodrigues, a queixar-se do esbulho dos seus campos. No mesde julho, urn grupo Kaingang invade: a fazenda de Joaquim de Macedo,assassinando-o juntamente com urn genre , urn filho e urn peao 0fato 6atribuido a tres filhos do Cacique Joao Grande e urn irmao do caciquePedro Nicafi. Os quatro acusados sao perseguidos na mata por urn grupode indios liderados pelo "bugreiro " Luiz Portela e sao executados

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    sumariarnente . Urn filho de Manoel Grande, do Grupo de Nicafi, assassinaLuiz Portela em represalia.'

    Todos esses fatos nao convenceram as autoridades da gravidade dasituayao. Em janeiro de 1856 urn grupo de dez homens e cinco mulhereskaingang a atacar a chamada Fazenda Tres Serros, de Clementino dosSantos Pacheco, e ali assassinam a fazendeiro , seu filho e urn sobrinho,seu capataz e urn filho deste, rnais urn escravo.

    A consequencia deste ataque sera uma perseguicao implacavel aogrupo de Nicafi com a participacao da Guarda Nacional, dos grupos dosi'bugreiros" Fongue e Prudente e de urn grupo dos proprios fazendeiros.Trinta pessoas do grupo de Nicafi foram presas, e tres morreram no atode resistir a prisao. Pedro Nicafi, urn irrnao seu e mais dais Jideres dogropo , foram executado s sumariamente, aigemados, antes da escolta queos conduzia a Passo Fundo (D'ANGELlS, 1984).

    Esses acontecirnentos sao importantes para a compre ensao dahistoria indigena do Oeste Catarinense. Em primeiro lugar, porquedemonstrarn a ccmpulsao par que passavam os grupos indigenas que naregiao ocupavam terras de interesse da frente pastoril, para abandonaremsuas aldeias; em segundo lugar, porque os fatos do campo de Erexirn vfioprovocar urna fuga dos restos dos grupos de Nicafi e Joao Grande para osmatos do Norte do Rio Uruguai, e tarn b em a saida do proprio Conda, deNonoai, indo instalar-se na costa do Xapeco.

    4.3. Conda no Oeste ~ refugio do Irani"A perseguicao continuada it gente de Manoel Grande, a morte deNicafln eprisao de sua geate e, finaimente, a expulsao dos Kaingangdo campo de Erexirn tornou irreconciliavel a divisso existente entreos Kaingang de Nonoai. De urn Jado, permaneceria 0 grupo ligadoa Antonio Prudente e Fongue, incondicionalmente prestativos aosinteresses dos brasileiros e aproveitando-se da confianca e apoiodesses nas suas rivalidades com outros Kaingang. Esses dois ca-ciques e sua gente pertenciam a extinta aldeia de Guarita e foramtransferidos a Nonoai por decisao do Governo Provincial. De outrelado a gente do falecido cacique Nonoai, do falecido Votouro

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    e de Canhefe, juntos com a gente de Conda, Estes ultimos, emboratendo aceito 0 convivio com os brancos - e, no caso de Conda, atecolaborando em ayoes de repressao a seus irmao s Kaingang _parecem estar percebendo, naquel e momenta particularmenteviolento do processo de incorporacao de seus territories a economiado Imperio, que a paz com os brancos nao apresentava realmentevantagens.Conda conhecia as dificuldades por que passavam seus irmaosaldeados em Guarapuava e Palmas, e via agora como rapidamentese deterioravam as condicoes no aldeamento de Nonoai ~criado hasomente uma decada - assim como de que forma eles mesmos eramusados para garantir aos brancos a limpeza dos territ6rios da suapropria gente (como acabava de ocorrer com os Campos de Erexim). Ademais, Conda sem duvida se desgostava pelos atrasos de algunsanos no recebimento dos seus soldos. (D'ANGE-LIS, 1984:31).

    Todos esses fatos levam a que Victorino Conda se retire de Nonoaino final de marco ou comeco de abril de 1856 e va estabelecer-se noXapeco, levando consigo muitos Kaingang, ao mesmo tempo em quedebandavam do aldeamento de Nonoai outros tantos Kaingang, queprocuravam embrenhar-se nos matos, conforme atesta fartamente adocumentacao da epoca.

    Acompanham Victorino Conda , na sua saida de Nonoai "oitenta etantos homens e mulheres", segundo 0 Diretor Geral dos indio s do RioGrande do Sui; mas assentam-se com ele no Xapec6 apenas "quarenta euma pessoa .d'ambos as sexos e idades", segundo informacao do DiretorGeral dos Indios do Parana, Francisco Rocha Loures (D'ANGE-LIS,1984:45).

    Entre os Kaingang atacantes da Fazenda Tres Serros ~ informacaodo indio Joaquim Manoel ,tam bern atacante e que foi preso poucos diasdepois estavam as indios Salvador e Chimbangue, reconhecidos namemoria Kaingang regional como as que com ecaram 0 aldeamento doIrani e 0 Lageado Lam bedor, seu afl u ente a direita. 0 farto materialceramico encontrado no local e a ocupacao antiga do proprio Conda e sua

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    gente, n~ Campina do Irani, ate 1840, sao iudiicacfies de que a regiao doIrani ja estava ocupada por grupos Kainganjg ligados a Conda antes darnigra9ao de 1856.Os indios foragidos do Rio Grande do Sui, onde eram perseguidospar defender intransigentemente, suas terrais, nfio podiam localizar-seno Toldo de Xapeco, considerando urn dos: toldos do Aldeamento dePalmas, porque alem de ser Aldeamento ofic.ial estava situado na rota daEstrada SuI. Ali seriam encontrados e passiv-e is de prisao. Vej a-se que 0proprio Conda fora chamado ali, por precatoiria vinda de Cruz Alta, paraesclarecer a morte do fazendeiro Clementine Pacheco, em setembro de1856, conforme atesta documento da epoca D'ANGELIS, 1984: 33).

    Por volta de 1856, podemos aceitar a localizacao dos Kaingang naregiao Oeste Catarinense, pelo menos , nos seguintes locais: Toldo Xape-co, Toldo Formigas, Toldo Jacu e varies ontjros entre 0medic Chapec6 eo Chapecozinho: Chapecozinho, Toldos da Emigra, Irani e os matos aLeste dele atingindo os rios Ariranha e Jacutinga; Serrinha; proximidadesdo baixo rio Chapeco; regiao entre os rios Anta e Sargento; regiao deDionisio Cerqueira.Seguramente foram varias as ocupaco es dos Guarani nas proxirni-dades do rio Uruguai, sobretudo nas imed iacfies da foz do rio das Antas.

    Em julho de 1857, inspecionando a estrada que vai as Miss5e s,passando pelos rios Chapeco e Chapecozinh.o, 0 Engenheiro Hegreville(1857:3) anotou em seu relatorio: "A 2 do corrente passando eu pelasproximidades do aldeamento do Xapeco, comandado hoje pelo CaciqueVictorino Con da, e achan do-me acornpanhado do cacique Viri quecom anda os aborigenes de Palmas, etc ... " .No seu Relatorio a Assembleia Provincial, em 1859, 0 Presidentedo Parana informaria sobre esses dois caciques:"0 numero de indios no s al deamentos que atualmente conta aprovincia e de 425 . Na Freguezia de Palmas, sob 0 coman do do caciqueViri, hi 215, sendo do sexo masculino e maio res de 16 anos, 102; dofeminino 68; e menores de ambos os sexos 45".

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    "Na mesma Freguezia, residindo no Xapec6Victorino Conda existem 48; de stes, 10 do sex~feminino e 13 ruenores de urn e outro sexo(_. .)"

    sob 0 comando demasculino, 15 do

    Conda foi nomeado Major, com vencimentos mensais do Gd P , , d ' ' ,overnoa rovmcrav desds 0 ana de 56, quando retornou ao P 'EC da di . ,"N '. arana. m 1862on a Inge.s,e ao Porto UnIao pa,ra ali c om bats r "as d t ib 'Bot d II, I'" ' . a n 0, oeu os que a I aparece, ram c,ausando terror a populacao" s ' dR I t" de P .' , . l"" , egun 00e a on 0 0 residente da ProVInCIa de 18631 3 desse tempo, quando Conda morou no Xapeeo' urn .d . d ',. , .. preclOSoocumento, atado de 25 de maw de 1869. Tratase de oficio d Od AId a Iretor. oeamento de Palmas ao Delegado das Terras Publ icas do P ,mformando: arana,

    "Hoje segue para essa Capital 0 Cacique Vitorino Conda- d 'd' . a com umaporcao e III lOS de sua tribe 0 qual vai a presenca de su E 'S id d '" .y. ' , a XCIa, 0r. presl.ente a PrOVInCIa pedir,um terreno de campoa .Id '. 'qUI nestea eamento para morarern e terem seus animal's Id ' ' ". , ., e es estaomoran 0 em terrenos alheios, e J a tenhao sido vexados , ara ' 'do terreno. ' p ,. sarrern( ': ) 0 Cacique quer ir, a,te 0 Rio a.'p resenca de SMa ge t d r. .. , ' y . , ,s a e tazersuas que,Ixas( .. . ) eles tambem pedem urn Mestre de la I tr inar seus nl . s. e asparaensmar sens. Ihos ( ... ) tambem querem urn ferreiro para [ d. : IJ' rasga 0no o~lgma. as fe:ram:n, ta,s de rocas que neste Distrito nao Mumferr,erwe fica rnurto di fici l para eles compor suas ferra t diC" . " .. ' '. ramen as 1Zo acrque Victorino, que no caso d,~."ao arranjar nada que entaogarra 0mato 0 que nos sera multo prejudiciapr.!.

    p.o,ressa epoca ta,mava,' im,pulso, na regiao Oeste a expl . - derva t E . II ' . noracao a-m a e., ~ JU 10 de 1861 a Governo Imperial instala no Xapec6(margem direita) uma coletoria do Tesouro Nacional onde h . "agenci d I ." avra ja uma,'cIa e mpostos do Parana. 0 escriturario da Coletori. M IDuarte .do Valle, avaliou a produ~ao dos carijos das duas m~rge::udeoUfligual a exportar para a Argentina ~ em 10 a 12 mil arrobas

    A Guerra d0 Paraguai provocaria urn enorm e incremen~o dessa

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    produyao e exportacao aos argentinas, pois ate entao 0 Paraguai era seumaior fornecedor. A consequencia imediata e urn maior trans ito de gentee tropas na regiao e a ocupacao dos ervais disponiveis, a cornecar pelosdo Passo Carneiro e Serrinha. Tambem e nesse momenta que comecam asprimeiras pressoes sobre as terras dos toldos da regiao do Chapecozinhoe da Emigra, pelo interesse nos ervais. Muitas familias indig enas[ntegraram-se nessa atividade econ6miea, e os grupos distantes de ervaisseguiam sem ser molestados, como os Kaingang da Irani, par exemplo.Nesse memento, registros de posse feitos na Freguezia de Palm as,com 0 advento da Lei de Terras, passam a ser uti lizados como prova dedominio nos terrenos onde tradicionalmente habitaram os indios. Esse eo caso de alguns toldos Kaingang de Xapeco.Em 18770 Pres. da Provinciado Parana pede ao Juiz de Guarapuava que providencie, junto aofazendeiro Pedro Carneiro , filho de J oao Carneiro Marcondes, quepermitarn "a contin ua9ao do s in dios nas terms em que se achamestabelecido s" ate que se verificasse a situacao de posse. Trata-se deuma enorme grilagem de terras as margens do rio Chapec6 onde a posseera indiscutivelmente indlgena.

    4.4. As Raz6es Estrategicas e a Colonia MilitarAs negociacoes dos governos do Brasil e da Argentina sabre os

    limites dos dois palses, entre os rios Uruguai e Iguacu, pareciam caminhara born termo em fins da decada de 1850 quando, de ultimo momenta, 0governo argentino suspendeu os tramites. A questao passaria"esquecida"ate que, finda a guerra do Paraguai, esse pais e a Argentina decidemsuas quest6es pendentes sabre Misiones, e a Argentina volta a alimentaro desejo de ter seus limites chegando aos rios Chapec6 e Chopim.Posteriormente, em 1888 a pretensao argentina amplia-se, situando 0limite mais a Leste, no rio Jangada.Essas alteraco es na discussao das fronteiras, bern como asdisposicoes diplornaticas do momenta, levaram 0 Governo Imperial adetenninar a instalacao das Co16nias Militares do Chapec6 e Chopim,que haviam sido eriadas pelo Decreta n" 2502, de 16 de novembro de

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    1859. 0 ato que as criara fora mais abrangente que as citadas "razfiesestrategi cas ", incluindo, por exemplo, em seu Artigo 2, que essasColonias sao destinadas "a proteyaP dos habitantes dos Campos dePalmas, Ere, Xagu e Guarapuava, contra a invasao dos indios, e a chamardos ditos indios, com auxilio da catequcse, it civilizaryao" (PIAZZA, 1982:188).

    Em 02 de marco de 1882 a Colonia Militar do Xapeco e instal adano Xanxere, por seu primeiro diretor, Capitao Jose Bernardino Bormann.A .Colonia Militar, par sua fun90es precipuas, contribuini para 0estabelecimento de agricultores na regi~o.Porem, os t itulos que distribuirae os colonos que assentara sempre sefao dentro dos limites das terrasda pr6pria ColOnia, que ao Sul limitavam-se com 0 Alto Irani.

    D~ ~utro lado: ~arece certo que ~s relacfies com indigcnas de partedos oficiais da Coloma Militar, resumtram-se ao relacionamento com osch.ef~s indigenas dos toldos do Xapec6 (Xapec6 e Formigas,principalmente). 0 Capitao Bormann, alias, ficara na memoria dosKaingang do Xapeco cuja tradicao oral registra seu casamento comuma indigena dali . enquanto que para os Kaingang do Irani nao seraconhecido.

    4.5. A Ultima Decada do Seculo XIXA tradicao oral dos Kaingang do Xapec6 lembra a participaryao

    desse grupo e dos Kaingang da regiaO de Clcvelandia na abertura dapicada da Iinha telegrafica de Palmas < L O Goyo-En, no inicio da decadade 1890, dirigida pelo Diretor da ColOnia Militar, Jose Bernardino~ormann.Contavam os Kofa Kaingang J3onifacio Luiz Ndokrlgn, e Fran-CISCO Fernandes Kanei grfi (ambos naturais do Toldo do Ernbu ou Umbu,na margem esquerda do Chapec6), que na abertura da picada da linhatelegrafica os Kaingang foram requisitadvs a trabalhar. Na fom1a de relatara historia oral, explicam que quando abriram a picada forarn dando nomesaos lugares (ou, mais provavelmente, Mndo a conhecer ao Diretor essesno~es, para registro). Assim, ao Chapecc chamaram "Xapetk6"(xa + en +mbitko) . Adiante, mataram uma anta sm ur n passo, que denominaram

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    Passe da Anta. Seguindo, p;erderam um facao em um lageado, quechamaram Lageado Facao. Acamparam em urn final de tarde,mais adiante.Mas a meia-nuite as fonnigas: correicao bateram no acampamento e todostiveram que levantar. Chamaram esse lugar de Formigas. Chegaram noDutro di .a ao "Xapetkoxi" que ficou Chapecozinho'" . Ao chegarem nacamp ina, ao final da tarde, ao limpar 0 terreno para acampar mataram aliuma cascavel. Chamaram ao local "Xaxare"( "Campina da Cascavel"), eno dizer dos Kofa, "0portugues nao sabia escrever, e escreveu Xanxere".Na sequencia, passaram em ur n a agua onde havia muito xaxim("ngoytangui"- "agua do xaxim") e 0Diretor chamou Xaxim.Outra versao- t ambem de velhos Kaingang . diz que nesse Iugar estava terminando 0sal que traziam (xa + xi = sal poueo/pequeno), dai 0 nome Xaxim serKaingang. Continuando viagern, chegaram a lima serra, onde mataram umtigre. Fincaram uma vara no ehao e sobre esta estaca espetaram a cabecacortada do animal. Ch am aram Serra do Tigre. Adiante, enquantoacamparam ao meio-dia para comer, as mulheres Kaingang tinham idacolher frutos da palmeira QlU buti as. Nao tendo como socar, usaramburacos nas pedras de urn lageado. Deram ao lugar 0 nome de Pilao dePedra OU, em Kaingang, Potakrei. , .Na sequencia, atravessaram 0 passo que chamavam Passo dos Indios,e it frente onde encontraram uns carneiros - "que decerto ja tinhaportugues morando hi" - chamaram de Passo Carneiro ao riacho que aliSe encontra. Por fim, deram com 0 grande rio, e ao tentar atravessa-lo urnhomem morreu. Chamaram-no "Goio-En" (ngoio - embang - "agua grande,invadeavel").Encerrados os trabalhos, voltaram ate Boa Vista (Clevelandia) e la.h i estava 0 dinheiro que 0 Governo havia mandado para pagar os indios.Alertado por urn dos seus ltderes, 0 Cacique respondeu ao homem ~ogoverno: "olha nos precisanaos de terra pra criar nossos filhos, que nosna~ vamos andar criando nosso filhos nas copas dos pinheiros. N6s nfiosomes macacos"- "E onde voces que rem a terra? ", perguntou 0 oficial."Entremeio do Chapec6 com 0 Chapecozinho" respondeu 0 cacique.

    Essa seria a origem do Decreta n" 7, de 1902, que delimitou terrasdesses grupos kaingang, como veremos adiante.

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    A linha telegrafica foi inatgurada em Xanxers no ano de 1893ligando a Colonia Militar ao restcdo pais. 'Em 1890, 0 Re censeam erto Geral do B rasil apontava, para a

    Comarca de Palmas, urn total de 9.;01 habitantes, dos quais 4.759 brancos2.074 indios, 2.099 mesticos e 6;9 pretos. Os indios ali eontados sao'pelos dados do mesmo Censo, assm distribuidos por Distrito: '

    Palmas 164 (mais 377 mesticos)Palmas do SuI 369 (mais 292 mesticos)Boa Vista 13 8 (mais 210 mesticos)Campo Ere 149 (mais 17mesticos)Mangueirinha 233 (mais 290 mesticos)Chopim (Col. Militar) 126 (mais 147 mesticos)Passe do Carneiro 245 (mais 119mesticos)Xanxere (Col. Mi litar) 151 (mais 182 mesticos)Uniao da Vitoria 499 (mais 465 mesticos)(EE.UU. DO BRAZIL, :694: IV, 204).

    A area do media e baixo Iraii estava afeta ao Distrito de Passo doCarneiro, enquanto somente 0 All> Irani ficavaafeto a Colonia Militarestabelecida no Xanxere. Os habiantes da aldeia Kaingang do Irani, jaem relacao amistosa com a popuacao brasileira da regiao, mesmo demaneira esporadica, teriam sido cortatados entre os indios do Distrito dePasso Carneiro. E certo, no entantcque no numero de indigenas apontadono Recenseamento de 1890, cornr presentes naquele Distrito, estavamincluidos os aldeados na Serrinha I no proprio Passo do Carneiro. 0quese pode concluir, sern dificuldade, eque os 245 indios (mais I 19 mesticos)relacionados no Distri to do Passo (0 Carneiro nao se tratava de urn unicoaldeamento. Se 0 fosse, seria tao ppuloso para os padrfies da epoca quecertamente teria merecido mencf ie, nos docurnentos e relat6rios oficiaisde entao Estes, no entanto, Iimitar-se a mencionar os sempre referidosAldeamentos de Palrnas, Xapec6 eFormigas.

    Cabe destacar, por fim, que 0 dados do referido Censo dernonstramuma popuJayao indigena presente er toda a regiao, e bastanteexpressiva,e~pe.cialmente se contarmos que acategoria "mesticos" para a epoca,slg11lficava pessoas com ascendenia indigena imediata (mae indigena

    J)6

    e pai braneo ou negro, e vice-versa).4.6. A Constituicao da Republica e a Revolucao Federali staUrn movimento m il itar derruba 0 Ministerio e termina com 0

    Imperio em novembro de 1889. Os militares estabelecem a Republica, eem fevereiro de 1891 e promulgada a Constituicao Republicana. Emvirtude dela, as terras devolutas do Imperio sao entregues ao dominicdos Estados, que ficam com 0 di reito de medi-Ias, doa-las, etc.A praticafoi tamar as terras legitimamente possuidas pelos indios como se fossemdevolutas, e titular essas terras para fazendeiros interessados. Imrmerosaldeamentos, em todo 0 pais, sobretudo na regiao Leste-Nordeste, foramtornados dos indios por essa epo ca. A nova Constituicao veio jogar lenhana fogueira da especul acao imobiliaria.o Governo do Parana, que nos u lti m os 10 anos antes daConstituicao Republicana, havia expedido apenas 4 (quatro) titulos deterras na regiao de Palmas, nos dez a110Sseguintes a nova lei, ja tinhaexpedido 76 titulos (D'ANGELIS, 1984 38~9).Tais titulos, vale recordar,nao significavam uma nova onda de migracao e ocupacao da regiao.Tratava-se apenas de "gri lagens", "ocupacoes" de papeis e titulos,que aguardavam 0 momento de negociar as terras no processo decol onizacao. Por essa epoca, por exernplo, aconteceu a me dicao etitulacao da Fazenda Barra Grande, a pedido de Jose Joaquim de Morais,urn morador da regiao que acobertava uma das grilagens em favor de LuizVicente de Souza Queiroz, 0Barao de Limeira, na regiao Oeste. De umadita posse de uma legua quadrada , na margem do rio Uruguaie a Oestedo Irani Morais conseguiu a medicao e a venda de 10,5 leguas quadradasque avancam sobretudo a Leste do Irani. Tal medicao incluias ocu~ayoesde varias familias brasileiras a Oeste do rio Irani , alem das terras dos Kamgangdo Chimbangue e dos Kaingang do PinhaI, nas duas margens do mesmo rio.Nessa mesrn a epo ca, a reg iao Oeste vai receber cons ideravelcontingente de brasileiros vindos do Rio Grande do SuI, em consequenciada Revolucao Federalista.

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    ~ R~publica contava. com pOUCio~.a.nos quando eclodiu essa revoltaque evoluiu para verdadeira guerra clvIl.Surgida do descontent ..'I't' d " . . amentocom a po 1 tea espotica de Julio die Castilhos coincide co . 1. . _ ' . .., .m a revo taprov,o,c~da no m,eto popular camp one s pelas altera~oes na estruturafundiaria, Era a epoca do fechamenjo das propri edadr . .. es com as cercas dearame, e tambem das concessoes de terras ditas devolutas 'd d d '. -., aos amrgoso po er esta ual, Grande numero de posseiros era atirado as estrad

    perdendo suas terras Crescia 0 despotism o dos "coro _" " as,A ' I neis'.. ... DIve nacional, a Revolucao Federalista vai fazer corpo no b 'do desc~ntentamento geral a ditaduta de Floriano Peixoto. OJOFor, sem sambra de duvidas, pDr todos os testemunhos que dI

    ~~nserv~am, uma das mais sangrentas lutas entre brasiieiros. Cen:sa~:ecucoes en~ massae degolamento sao sempre associadas as lutas

    travadas no RIO Grande do SuI nesss periodo.Ven~ida a R~voiUl;ao, e dado 0 espirito de vinganca e represaliaque _acoml~nara e deixara raizes. MuiIOS dos revoltosos nao tiveram outra

    ~Plao. senao embrenhar.~e por regiCSes desconhecidas, e outros tantose uglar~e no Urug uai e Argentina. Nao seri arn poucos os ueatravessanama fronte,ira Norte, do rio Uruguai, para escouder-ss ~as~at,as de Sal!t,a .Catanna e, mais cpmum ainda, abrigar.se na re i~~m~ltrofe do h~lglO ent~e Parana e Santa Catarina, lugar onde nenhum gd~~OIS Estados t inha efet j vo controle.

    A t.radicao e a memoria Kaingang do atual Toldo Chimbque . - . .. -angue conta. nesse tempo fugiram do Rio Grande SuI outros grupos Kai _ _persegu_ ios, que atra yes sando 0 Ria Urugu ai seguiram mgr r ldngantg:conhece ldei ,. an 0 a er a ,a era proXIma do Irani, onde acabaram ficandoru E~sa.lmportante migrayao, que tambem reflete 0 cerco as terras e~o po s rndlgenas que,paralelamente se verificava tambem no Rio GrandeS .. h uI, trouxe ao Chlmbangue a g ente do velho Peytkar Antonio K .. Arnaara Wage Chi p , uxe,M

    ' u,. ICO ataca e outros, entre eles 0 conhecl 'do Chiarcelino R' kA .. ICC. . 0 ag, que veio a falecer no Irani com rnais de 100respelt,ado como cacique, em agosto de 1980. anos,

    dE rnuito rica a tradiyao de mersoria oral dos Kaingang a itessa mig - . .. -.. - respel 0H" ,.. racao, e, em boa parte publicamos em "Tal do Chim ban ue:rstoria e Luta Kamgang em Santa Catarina'' g .I188

    4.7.Mapas do Final do SeculoData de 1894 0 importante"MAPA DA COMARCA DE PALMAS

    NO ESTADO BRAZILEIRO DO PARANA; DA GOBERNACION ARGENTINA DE MISSIONES E DE UMA PARTE DO ESTADOBRAZILEIRO DO RIO GRANDE DO SUL" que reflete, sem duvida, 0conhecimento da regiao pela equipe de abertura da picada do telegrafo,antes referida, Nele estao assinaladas algumas das mais antigas ocupacoesbrasileiras na regi :10.

    Partindo de Boa Vista (atual Parana), na rota da Estrada para 0 RioGrande ve-se "Posto", a Oeste da referi da estrada.que parece indicar alocalizacao dos Kaingang referidos A Leste da Estrada, "J oao Carnei ro", fazendei ro referido neste texto. Segue-se a "Collectoria Velha Alipio",a direita da estrada e a norte do Chapeco; rio Chapeco; "Pinheirinho", aleste da estrada (talvez Pinhalzinho?); "Form iga";" Candinho"; "rioChapecozinho"; 'Barro Pr e to "; "Xan xe re " (Colonia Militar doChapec6)";" J acu"; "Chachi"; ' 'Tigre '' ; "Pil1io de pedra"; "Rodeio Bonito";"Alegria"; "Palmital"(onde esta 0 rio hornonimo); "RodeioChato" (sabreo Arroio do Ferrei ro , que se refere ao Passo F errei ra); "Sao S ebastiaodo Passo Carnei ro";" Passo Goyo- En e, de a utro lado do rio Uruguay,"Nonohay". Mais a Oeste, na atual divisa com 0 Parana, ve-se 0 "CampoEre", e em sua volta" Antonio Lara" (duas vezes), "Ladislao Ferreira"(aocentro), "Belarmino Lara", "Coelho"; "Pedro Machado". Abaixo desteultimo, 11 muros (posicao aproxirnada)", referindo-se a localizacao desupostas fortificacoes de bande irantes portugueses, na tese do Barao doRio Branco para defender 0 direito brasileiro (sic) na regiao. A Leste,acima do Chapec6 no atual municipio de Ponte Serrada: "Norte". E naregiao do atual municipio de Agua Doce ve-se: Floresta, Vicente Camargo,Pim pao, Cruz, Candao, Mendes, Estrell a, S.N i colau.

    Tam bern e do finaJ do seculo outro importante mapa para a regiaooeste. Trata-se do "MAPA DO ESTADO DO PARANA organizado porordem do govemador Dr. Jose Perei ra Santos Andrade", de 1896 (Mapan" 5). Nele, imedlatamente nos chama a aten cao a in d icacao

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    MAPA 09 05

    IIII

    ",,~--

    I II

    "MGlPpa do Estado do Par-ana "F o n t e _ A .d _ a p t ,ado d o mapa arqul'vado n a BibliotecaPub11ca do ?arani sob nO 912.8l62/A162/1896.

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    "INDIOS, COROADOS", sobreposta a "SERTAO DESCONHECIDO"para toda a regiao imediatamente a Leste do Rio Irani e ate 0Rio do Peixe.Na margem do Chapec6, a altura da atual Abelardo Luz, esta 0"REGISTRO", que se refere a Agencia de Impostos Abaixo , entre 0Chapec6 eo Chapecozinho , a indicacao "ALDEAMENTO FORMIGA" ,representando-se com pequenos trrangulos dais toIdos na regido do rioFormigas, proxima a estrada, e outros dois na margent esquerda doChapec6 (U111 quase em frente a foz do Saudades e outro na barra doLageado Grande). Pouco abaixo de "Chapeco Colonia Militar (Xanxere)",perto da estrada localiza-se "SERRINHA" com a mesrna indicacao emtriangul os de Toldo Indigena.

    Nessa localizacao nfio ha povoacao com esse nome.Porem, a aldeiaSerrinha, bastante antiga e conhecida, manteve sua localizacao com essenome ate hoje, entre 0 Passo Carneiro (hoje Passo Bormann) e 0 Gcio-En.

    Por fim, acima da localidade "FERREIRA", na mesma estrada,indi ca-se um to ldo ind ig ena. Passo Ferreira e antiga ocupacao debrasileiros que conserva essa denominacao ate hoje. Nfio temos noticia-seja par documentos ou tradicao oral - de aldeamento indigena na posicaoali indicada. Ou se trata de aldeamento ate aqui nao identificado, ou seriauma rn a Iocalizacao do Toldo Irani (ou Chimbangue), que dista poucosquilometros do Passo Ferreira, mas esta situado a margem direita do Irani,regiao aquelaepoca tambem ccnhecida.

    5, A primeira metade do seculo XX5. L Seculo X XC01110 se disse, a hist6ria oral Kaingang registra, como pagamento

    por seu trabalho na picada do telegrafo, a delimitacao de sua area peloGoverno do Parana pelo Decreto n" 7, de 31 de dezembro de 1902. 0referido decreta, assinado pelo Governador Francisco Xavier da Silvaexplicitava: "Atendendo a que a tribo de indios Coroados de que e chefe 0cacique Vaicre em nurnero aproximado de duzentas almas, acha-se estabelecidona margem esquerda do rio Chapec6, no municipio de Palmas" 14.

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    E que _ ."E necessari o reservar uma area de tetras para que osmesmos indios possam, com a necessaria estabil idade dedicar-se a lavouraa quee~tao afeito~". Estabelecendo : "Fica re servad a para ~est~b:,leclment~ d.e tnbo de ~ndigenas coroados ao mando do cacique,:ar~re, salv~ dHe~to de t.ercelfo~, uma area de terras compreendida noslimites s~gurntes: A ~artlT do RlO Chapeco, pela estrada que segue parao SuI, ate 0 passo do no Chapecozinho, e por estes dois rios ate onde elesfazem barra' ".. . C?mo ja se mencionou, havia importantes toldos Kaingang fora detars lI~ltes, a co:neyar pelos Toldos da Emigra, e regiao de Clevelandia,ademais da Serrinha e Irani como as ja conhecidos a esse tempo. Fica~at~nte que reservar terras, nesse caso, nao visa garantir os direitos dosindios - que eram muito mais amplos - mas nas palavras de SILVIOCOELHO DOS SANTOS (198124-5): "ald ear os indios era forma demante-los confinados dentro de uma area detenninada e submetido aoGoverno. Dessa forma, ficam eliminados as prejuizos causados pelosataques que fru:ia ,ffias propriedades dos civi lizados, gerando insegurancae causand~ p.reJ~lzo pelo abate de gada e roubo em rocas",

    Os d ire ito s de terceiros"que 0 Decreta ressalva estavamconstituid~s