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Para ver cenas dos filmes e ouvir as músicas dos CD, visite: www.fazendomeufilme.com.br

Para ver cenas dos filmes e ouvir as músicas dos CD ... · do meu aparelho de DVD, dos meus antigos filmes, da minha CAMA!). Abri o meu armário e olhei para todas as minhas roupas

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Para ver cenas dos filmes e ouvir as músicas dos CD, visite:

www.fazendomeufilme.com.br

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Agradecimentos:

Cada vez tenho que agradecer a mais pessoas... espero não me esquecer de ninguém!

Muito obrigada mais uma vez à mãe, à Bia e à Elisa, minhas leitoras críticas de sempre!

Essa vossa «profissão» é tão cobiçada que vocês nem imaginam! Obrigada por lerem previamente os meus livros,

por todas as opiniões e sugestões e, especialmente, por deixarem que eu fique por perto,

sondando a vossa expressão facial.

Bia, um agradecimento especial por sonhares com soluções para a minha vida que fazem parte

da história em forma de música...

Kiko, as minhas personagens masculinas não seriam as mesmas sem o teu auxílio. Obrigada por me ajudares

a compô-las! Muito obrigada também pelas ideias brilhantes e pela paciência ao me ouvirem falar só sobre

este livro durante tantos meses. Prometo que agora vou ter tempo para levar o lixo! ;-)

Aos elementos da banda No Voice, os meus sinceros agradecimentos por se tornarem parte do meu livro.

Obrigada também por fazerem músicas tão lindas que tanto encantam as minhas personagens.

À Tia Águeda, obrigada pela ajuda nos e-mails em inglês.

Ian Black, amigo querido. Obrigada pela hospedagem virtual,

pelo apoio de sempre e pela amizade de anos.

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Carol Christo, leitora que se tornou amiga. Obrigada pelas opiniões, conselhos, companhia no cinema

e no MSN, por me ensinar a preservar a minha «imagem de fundo» e especialmente pelas palavras

lindas que foram parar à badana do livro.

A todas as bloguistas, pelas lindas críticas de A Minha Vida É Um Filme 1 e 2! Fiquei emocionada ao

ler cada uma delas! Obrigada especialmente à Renata, do Bla Bla Books, que, no meu aniversário, criou

um CD para mim, do qual algumas músicas foram inspiração para quando chegou a vez de a Fani apagar

as velinhas; e à Julianna, do Lost in Chick Lit, pelo carinho ao citar-me nas suas entrevistas.

Um agradecimento muito especial a todos os meus leitores! Nunca me canso de receber os vossos recados!

Muito obrigada pelos presentinhos, pela divulgação para os amigos e professores e –

principalmente – por todo o carinho!

A Deus, por ser tão bom para mim. Nem todos os segundos da minha vida

seriam suficientes para agradecer.

Muito obrigada!

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A minha história começa em Londres, não há tanto tempo assim.

Mas tanta coisa aconteceu desde então, que mais parece uma eternidade

(Os 101 Dálmatas)

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Prólogo

Ainda hoje, tanto tempo depois, quando me tento lem-brar, o meu coração ainda dói. Algumas cenas surgem com-pletamente nebulosas, como se a minha mente tivesse apaga-do certas partes, numa vã tentativa de me preservar. Quando penso em tudo o que vivemos, é como se não fosse eu que tivesse passado por aquilo, mas sim uma personagem. Cer-tas coisas não acontecem na vida real. E aqueles seis meses, hoje, parecem ser apenas parte de um filme. Um filme que não teve fim.

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Edward Cullen: Já não tenho forças para ficar longe de ti.

Isabella Swan : Então não fiques.

(Crepúsculo)

Onze. Foi exatamente essa a quantidade de quilos que eu ganhei durante o meu intercâmbio. De início, bem que me tentei controlar. Fiz ginástica, esforcei-me por não comer muitos doces, mas, quando no final do ano o frio começou a chegar, simplesmente não consegui mais. A preguiça não deixava, era um grande sacrifício, tudo o que eu mais queria era que as aulas acabassem rapidamente para poder voltar para casa, preparar um chocolate quente, enfiar-me debaixo do edredão e ficar a ver filmes a tarde inteira!

Eu tinha acabado de terminar o namoro com o Chris-tian, a Tracy estava no colégio interno, pelo que ação não era propriamente o que havia nos meus fins de semana. E, para ser sincera, naquele momento eu não estava minimamente preocupada com a estética. Tinha o resto da vida para ema-grecer no Brasil!

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Só quando descobri que o Leo não tinha namorada, que tudo tinha sido uma invenção e que ele ainda estava à minha espera (pelo menos até descobrir a história do Chris-tian) é que entrei em desespero. Mas nesse momento já era demasiado tarde, faltava menos de um mês para o meu re-gresso e sem nenhuma possibilidade de, em poucos dias, emagrecer tudo o que tinha ganho num ano inteiro.

Mas não imaginava que tivesse sido tanto. Só quando fui tomar banho – depois de todas as pessoas que estavam na fes-tinha que os meus pais organizaram para comemorar o meu regresso irem embora – é que realmente entrei em choque. Olhei para a balança que está na minha casa de banho, aque-la que aos 13 anos pedi à minha mãe para comprar, exata-mente a mesma em que fiz uma marca vermelha nos 60 kg e jurei que aquele seria para sempre o meu limite. Qualquer quilo que ultrapassasse aquela marca deixava-me sempre de-primida e neurótica e mantinha-me à beira da anorexia du-rante dias, até o ponteiro baixar para os 57 kg, que é o peso que eu considero aceitável para os meus 1,65 m de altura.

Acontece, porém, que, quando subi para a tal balança, o ponteiro ultrapassou em muito a marca vermelha. Quase chegou aos 70 kg! Desci imediatamente, olhei assustada para a balança, subi de novo, o ponteiro voltou para a mesma po-sição e então percebi tudo... A Juju. Só podia ter sido a Juju. De certeza que a minha sobrinha tinha estado a brincar na casa de banho e estragado a balança! No mínimo andou a saltar em cima dela, divertindo-se a ver o ponteiro a mover-se de lá para cá...

Tomei banho tranquilamente e fui-me vestir para ir dar uma volta com a Ana Elisa, que ia só ficar dois dias em Belo Horizonte. Eu estava muito cansada, com a viagem e com to-das as emoções, mas ela tinha vindo de Brasília de propósito para o meu regresso e eu não podia deixar que ela ficasse fe-chada em casa a ver filmes (que, aliás, era tudo o que eu mais

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queria fazer naquele momento. Como eu tinha sentido a falta do meu aparelho de DVD, dos meus antigos filmes, da minha CAMA!). Abri o meu armário e olhei para todas as minhas roupas que já não via há um ano. Que saudades! Escolhi uma blusa e umas calças de ganga, e foi quando me comecei a ves-tir que percebi que não tinha sido a Juju a estragar a balança. Eu mesma tinha feito o estrago. No meu corpo.

As calças de ganga pararam um pouco acima dos joe-lhos. Nem fazendo muita força elas quiseram passar pelas minhas coxas. Imaginei que tivessem encolhido por algum motivo, agarrei numas calças pretas que estavam pendura-das no armário, que costumavam até ficar folgadas na cin-tura, e aconteceu o mesmo com elas! Vesti então a blusa e, para minha surpresa, as mangas estavam muito apertadas, a ponto de quase me cortarem a circulação nos braços! Foi aí que encarei a realidade... Eu estava gorda.

Nesse momento, a Ana Elisa bateu à porta do meu quar-to e chamou-me. Eu estava apenas vestida com a blusa aper-tada e uma toalha amarrada à cintura, ela não me podia ver assim tão gorda! Ninguém podia. Mas já todos me tinham visto! O LEO já me tinha visto! Não deixava de pensar: «Ai, meu Deus, como tive coragem de descer do avião nesta figu-ra!» E eu que tinha pensado que não passava de embirração da Gabi e da Natália terem dito no aeroporto que eu estava mais gordinha... mais gordona, queriam elas dizer!

Bateram de novo à porta. Sem pensar um segundo, abri a minha mala e retirei umas das calças que comprara em In-glaterra. Umas calças stretch. As calças deslizaram pelas mi-nhas pernas e fecharam, sem o menor esforço. Registei men-talmente que nunca mais na vida deveria comprar calças que contivessem uma certa percentagem de elastano, por menor que fosse! Calças do mal! Elas adaptam-se simples-mente ao nosso corpo, por mais que engordemos! Só perce-bemos que estamos acima do nosso peso quando tentamos

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usar umas calças normais. Calças stretch. Ufe! Aposto que as calças daquelas raparigas do filme Quatro Amigas e Um Par de Calças eram destas! Só isso pode explicar o facto de elas se ajustarem perfeitamente tanto à America Ferrera como à Alexis Bledel!

Despi a blusa apertada, optei por um vestido largo de alças e abri imediatamente a porta. Fiz um sorriso amarelo à Ana Elisa, agarrei na minha mala e os meus pais levaram-nos a dar uma volta pela cidade, para que a Ana Elisa a pudesse conhecer e para que eu pudesse começar a matar saudades. Eu tinha perguntado à Gabi e à Natália se elas queriam ir connosco, mas a Natália disse que tinha de embrulhar vá-rios presentes de Natal e que não queria deixar para a última hora, e a Gabi inventou que tinha uma confraternização de fim de ano, no emprego do pai. Não sei, mas acho que a Gabi recusou o convite por causa da Ana Elisa... Tudo bem, eu teria todo o tempo do mundo para conversar com ela mais tarde, mas, naquele momento, não podia deixar de acompa-nhar a Ana Elisa. E nem queria! Por algum motivo, era como se ela agora mantivesse um elo comigo que as minhas outras amigas não mantinham... Ela participou numa parte da mi-nha vida que mais ninguém viu, e era para mim estranho desligar-me dessa parte tão de repente. A Ana Elisa era como se fosse uma espécie de ponte, uma ligação da minha antiga vida com a nova. O engraçado é que na verdade a nova vida é que era a antiga...

O Leo foi um dos primeiros a ir embora da festa. Nem tive tempo de ficar a sós com ele. Do aeroporto até minha casa tive de ir no carro dos meus pais, pois eles queriam saber todos os pormenores da viagem. Mal entrei no apartamento, vieram todos conversar comigo. Percebi que ele não sabia se se de-via aproximar. Sempre que eu o procurava, via que ele estava a conversar com amigos, mas sem tirar os olhos de cima de mim. Quando percebi que o Leo tinha desaparecido, resolvi

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ir à casa de banho, para ver se conseguia descobrir onde é que ele estava para nos encontrarmos, nem que fosse por breves momentos, a sós. Ele estava no meu quarto, de costas, sentado na minha secretária, a anotar qualquer coisa.

– Leo? – chamei. Ele virou-se depressa e levantou-se.– Aconteceu alguma coisa? – perguntei, já por precau-

ção, pois, em relação ao Leo, algo não dar errado é que é a exceção.

– Não... – respondeu, meio sorridente, meio sério. – É que eu vou ter de ir embora agora, para poderes falar à vonta-de sobre a tua viagem com as tuas amigas, pois já reparei que elas estão loucas para saber sobre o tal namoradinho que tu arranjaste por lá...

Ciúmes. O Leo estava com ciúmes. Sem querer, sorri. – Estás com ciúmes? – perguntei, aproximando-me. – Eu não! – disse ele com cara de poucos amigos.– Estás, sim! – aproximei-me ainda mais e tentei fazer-

-lhe cócegas, mas, antes de o conseguir, ele agarrou na minha mão, passou-a para trás das costas e segurou-me, quase colado a mim.

– E se estiver? – perguntou, encarando-me. – O que é que vais fazer?

Eu não disse nada. Começámos a beijar-nos antes de qualquer palavra poder sair da minha boca. Durante o bei-jo, ele foi-me empurrando devagarinho até nos sentarmos na cama e, nem sei como, acabámos por nos deitar e ficámos ali imenso tempo assim, deitados, abraçados e a beijarmo-nos muito, e eu não tinha ideia de nada melhor do que aquilo, aliás, imaginava, mas uma voz vinda da porta interrompeu a minha imaginação.

– Meu Deus, se a mãe vê isto!

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Levantei-me rapidamente e vi o Alberto. Senti-me corar, não sei se pelos beijos ou com vergonha do meu irmão. Olhei para o Leo e vi que ele já se tinha levantado e que a cor da cara dele também não estava muito diferente da minha, além de ter o cabelo todo despenteado.

– Então, Leozão, a matar saudades? – disse o Alberto, com aquele seu sorriso debochado.

Antes de o Leo poder responder, o meu irmão virou-nos as costas e entrou na casa de banho.

Então o Leo olhou para mim e disse, enquanto se dirigia à secretária e pegava num papel que ali estava: – Fani, vou indo. Depois nós, hum, conversamos... O teu irmão tem ra-zão, imagina se fosse a tua mãe que tivesse entrado!

– Mas eu não quero que te vás já embora... – lamentei--me, agora com voz de choro. Era como se ele pudesse des-parecer para sempre, se passasse por aquela porta.

Ele sorriu, começou a abraçar-me, mas desistiu a meio, olhando para a casa de banho.

– Amanhã encontramo-nos... só que agora acho que deves dar atenção à tua família. Olha, escrevi isto aqui para ti. – Mos-trou-me o papel que tinha na mão. – É uma palermice. Só para não te esqueceres de mim até amanhã.

Dobrou o papel, pousou-o em cima da minha cama e pediu-me para o levar à porta. Fiz tenção de pegar no bilhete, mas ele pediu-me para o ler mais tarde.

Ao chegarmos à sala, a minha tia e duas minhas primas vieram logo dizer-me que se iam embora. Com isso, não nos pudemos despedir «como eu queria», pois elas entraram com ele no elevador. Mas, quando corri para o meu quarto, para ler o que o Leo tinha escrito, vi que não precisava de me preocupar. Parecia que despedida era tudo o que não nos iria acontecer daí em diante...

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Fanizinha,

Eu tenho que ir agora, pois já tinha combinado sair com os meus amigos, e, além do mais, gosto de ti quando és toda minha, mas agora ninguém te larga, querem todos saber as novidades e eu fico meio com ciúmes, aí prefiro ir embora... Depois nós teremos todo o tempo do mundo para ficarmos juntos, e então é que vai ser bom!Estou MUITO feliz por teres voltado! Continuas linda! Anota o meu número novo de telemóvel: 9123-3219Beijo grande, diverte-te com as tuas amigas, que depois não te vou largar!Ligo-te amanhã.

Leo

De: Natália <[email protected]>

Para: Gabriela <[email protected]>

Enviada: 22 de dezembro, 22:20

Assunto: Regresso da Fani

Gabi, preciso de falar contigo urgentemente, liga-me assim que receberes este e-mail! Estou desesperada, temos de ajudar a Fani! Ela está gordinha! Estive a pensar, o que achas se lhe dissermos para vir correr connosco todos os dias? Podemos fingir que já fazíamos isso, para ela não se sentir mal e não perceber que o objetivo da corrida é apenas fazer com que ela emagreça...

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E as roupas que ela estava a usar? Será que estão na moda? Achei aquelas botas meio out para o verão.

O que é que achaste da Ana Elisa? Pelos vis-tos não foste muito com a cara dela... Mas ela é bonitinha e calma, bem ao género da Fani. Gostei dela!

Ah, sobre a nossa conversa da semana passada, tens razão, o Alberto vai preferir receber no Natal uns calções e uma T-shirt do que um jogo de xadrez! Afinal, vamos para a praia...

Beijocas!

Natália ♥

De: Gabriela <[email protected]>

Para: Natália <[email protected]>

Enviada: 22 de dezembro, 23:44

Assunto: Re: Regresso da Fani

Na verdade? Odiei a tal Ana Elisa. Uma intro-metida! Só porque estudou com a Fani em Ingla-terra, acha que a conhece melhor do que nós! Ainda bem que ela só vai ficar aqui dois dias!

A Fani está um bocado esquisita também, espe-ro que esteja só abalada com o fuso horário. Aquela coisa de misturar inglês com português o tempo todo, aposto que é só para exibir a pronúncia... Ela não era assim!

Sobre as botas... acorda, Natália! Quase que nevava no lugar onde ela estava! O que é que querias? Que ela chegasse de havaianas?

Quanto ao peso, nem precisas de te preocupar. A mãe dela é muito mais neurótica com essa cena

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da estética do que todas nós juntas, aposto que vai fazer a Fani emagrecer todos os qui-los extra antes da Passagem do Ano! E, além do mais, quem se importa?? Certamente não o Leo. Ele está completamente na dela! A Fani passa e ele baba-se todo... Espero que ela tenha mesmo dado um pontapé no rabo naquele Christian, senão vai ser muita maldade. Se bem que ia até ser bom, para o Leo ficar mais esperto! Que histó-ria foi aquela de sair mais cedo ontem para ir ter com os amigos? Logo no dia do regresso da Fani...? Para quem esperou um ano inteiro, ele não parece nada ansioso por matar as saudades! Não gostei e acho que ela também não.

Já arranjaste coragem para dizeres ao teu pai que vais viajar com o Alberto? Duvido. E duvi-do que ele vá permitir essa viagem também...

Beijos,

à Gabi ß

De: Rodrigo <[email protected]>

Para: Leonardo <[email protected]>

Enviada: 23 de dezembro, 9:20

Assunto: iPod

Fala, Leo!

Liga o telemóvel, puto!

Como foi a night ontem? Queria ter saído depois da festa, mas a Priscila fez marcação cerrada, não me largou. Ficámos em casa da Fani até ao fim. Oh, como as mulheres falam!

É o seguinte, vou agora ao clube, queres vir? Ou vais agarrar-te à Fani? Dá-lhe um tempo, ela

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acabou de chegar, deve estar ainda um pouco no ar... e tem cuidado para a família dela não se começar a irritar. Deixa-os matar as saudades primeiro.

A Priscila não para de me chatear por causa do iPod dela que deixei em tua casa no dia em que fui copiar aquelas músicas. Se fores ao clube, lembra-te de o levar por amor de Deus! Os meus ouvidos já doem com tanta reclamação!

E a tua Passagem de Ano, já sabes? Vai ser mesmo no Rio?

Abraço!

Rodrigo

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Alex: Eu preciso de ajuda! Eu preciso de um tratamento!

Eu preciso de dinheiro! Eu preciso de uma limpeza de pele!

Eu preciso de fazer dieta! Eu preciso de sapatos novos!

Oh, Meu Deus, por favor, faz alguma coisa!

(Três à Mistura)

Acordei no dia seguinte, completamente confusa. A mi-nha primeira reação foi de susto, os meus olhos demoraram a reconhecer o ambiente onde me encontrava. Quando me lembrei de que estava no Brasil, tive um sentimento estra-nho. Aquele quarto não parecia meu. De alguma forma, aqueles ursinhos de peluche na estante já não combinavam comigo. E a janela estava pequena de mais! Levantei-me para abri-la e dei de caras com vários prédios e uma avenida cheia de carros lá em baixo. Senti saudades da vista de que ainda desfrutava há dois dias, do silêncio da rua, do quintal da minha casa. A minha casa. Lembrei-me de que aquela

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casa já não era minha... ela estava tão distante, do outro lado do mundo, e já não me pertencia. Eu estava de volta.

Deitei-me novamente e comecei a pensar como a Alice se devia ter sentido ao voltar do País das Maravi-lhas. Durante toda a história ela quis encontrar o cami-nho de regresso. Será que quando acordou e se viu em casa, ela também se sentiu estranha? Teria ela também sentido saudades daquela outra vida, que mais parecia um sonho?

Ouvi um barulho e vi que a minha mãe abria a porta devagarinho, provavelmente para ver se eu já tinha acor-dado. Tentei fingir que ainda estava a dormir, mas, antes de poder fechar os olhos, ela já tinha entrado e já se tinha sentado na minha cama.

– Vamos a acordar, dorminhoca...? – disse, enquanto passava a mão pelos meus cabelos. – Já é quase meio-dia! A tua amiga está acordada há muito tempo...

Meio-dia! Como pude dormir tanto e deixar a Ana Eli-sa sozinha?

– Onde é que ela está? – perguntei. – Calma, Fani – respondeu. – A Ana Elisa está a ver

televisão na sala. Perguntei-lhe várias vezes se queria que te acordasse, mas ela não deixou, disse que tu devias estar muito cansada com a viagem e também com a diferença de fuso horário.

Levantei-me e dirigi-me à casa de banho, mas, antes de entrar, ela continuou a falar: – Ah... e o Leo já ligou três vezes… Queria que fosses ao clube, mas eu pedi-lhe para te ligar mais tarde.

De repente, toda a confusão que eu estava a sentir pas-sou como que por encanto... a minha mãe tinha dito a palavra mágica: Leo. E ele já me tinha ligado! Três vezes! Comecei a sentir raiva de mim mesma por ter dormido

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tanto, mas não durou mais do que dois segundos. O telefo-ne tocou e minha mãe atendeu.

– Quarta vez – disse ela, passando-me o aparelho.O meu coração acelerou só de ouvir a voz dele. Estive

um ano inteiro com vontade de ouvir aquela voz, e agora ela estava ali, ao meu ouvido. Ele estava mesmo no clube, disse que todos tinham perguntado por mim e perguntou-me se eu não queria ir lá ter. Respondi que não podia, porque pre-cisava de dar atenção à Ana Elisa, mas a verdade era que não tinha maneira de vestir uma roupa que escondesse o meu corpo completamente! Ele propôs então encontrarmo -nos depois do almoço, e eu ia sugerir irmos ao cinema, mas a minha mãe – que, pelo que eu percebi, estava a prestar muita atenção à conversa – adiantou-se: – Não combines nada para mais tarde, temos de ir ao cabeleireiro! Essas tuas unhas estão péssimas, o teu cabelo está a precisar de um corte radical, e, pelo que notei, depilação é coisa de que tu nem ouviste falar durante um ano... O Natal é amanhã e não é possível ires onde quer que seja nesse estado!

Ótimo. Se eu já me estava a sentir mal, a minha mãe conseguiu deixar-me ainda pior. Além de gorda, sentia-me horrorosa.

Tive de dizer ao Leo que ia ter de resolver umas coisas e que mais tarde nos encontrávamos, mas percebi que ele não gostou muito. Para piorar, ao despedir-me, disse «bye» em vez de «adeus». Não era a primeira vez que uma pala-vra em inglês me vinha à cabeça antes da similar em por-tuguês, e percebi um risinho irónico antes de ele desligar, sem dizer nada.

Acabei mesmo por ir ao cabeleireiro com a minha mãe, enquanto o Alberto e a Natália ficaram a entreter a Ana Eli-sa. Eles disseram que iam levá-la a todos os pontos turísticos da cidade, mas, quando, às sete da noite, consegui sair do

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cabeleireiro e liguei do telemóvel da minha mãe para a Na-tália, eles não estavam a fazer nenhum tour, encontrando -se antes num barzinho. Eu estava ansiosa por me encontrar com o Leo, mas acabei por pedir à minha mãe para me deixar no tal bar, já que morria de vergonha de abandonar a minha convidada o dia inteiro às mãos de outras pessoas, ainda para mais porque ela se ia embora no dia seguinte. Para piorar, tentei ligar ao Leo para lhe pedir para ir lá ter comigo, mas ninguém atendeu o telefone da casa dele e a chamada para o telemóvel ia parar ao voice-mail.

Quando consegui chegar a casa, era já quase uma da manhã. Fui a correr para o meu quarto, ansiosa por ligar o computador para ver se ele tinha tentado contactar comigo por e-mail, e dei de caras com um presente em cima da minha cama. Nesse preciso momento, o meu pai apareceu.

– Fani, estava à tua espera, vocês demoraram tanto que quase adormeci! O Leo passou por aqui há algum tempo e deixou isto para ti. Perguntei-lhe se ele não queria que eu ligasse para o Alberto, para saber onde vocês estavam, mas ele disse que de qualquer forma não poderia ir...

Fiquei estática, à espera que o meu pai dissesse mais alguma coisa, mas ele ficou apenas a olhar para mim, como se estivesse a analisar-me. De repente tive a impressão de que me ia abraçar, mas em vez disso recuou um passo e disse com um sorriso um pouco estranho: – Vê se amanhã não acordas de novo ao meio-dia ... tenho saudades de to-mar o pequeno-almoço com a minha filha!

Em seguida, virou-se e foi para o quarto dele. Fiquei a olhar, à espera que a porta se fechasse para poder rasgar rapidamente o embrulho do tal presente. Encontrei uma caixinha de música e reparei que por baixo estava uma carta. Caramba, será que o Leo ainda não tinha percebido que eu tinha regressado e que já não era preciso conversar comigo por escrito?

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Fani, Queria entregar-te pessoalmente o teu presente, mas passei por aqui e não estavas... Parto amanhã bem cedo para o Rio para passar o Natal, não sei se ainda te lembras que a minha família é de lá e que a minha mãe faz questão da minha presença nestes eventos familiares... Mas eu queria muito passar o Ano Novo contigo. Será que os teus pais te deixam ir lá ter comigo? Podes ficar na casa da minha tia, dormir no quarto da minha prima, se for preciso peço até à minha mãe para falar com a tua. Se não puder ser, eu arranjo maneira de voltar, mas ia ser fixe ficar um bocado sozinho contigo, coisa que, já percebi, aqui é difícil... Ainda não matei nem um pouco as saudades. Por favor, promete-me que vais arranjar um novo telemóvel com urgência, liguei para o teu número antigo e vi que já não existe. Vou tentar encontrar-te em casa amanhã, para te desejar um Feliz Natal.

Beijo gigante! Leo

Peguei na caixinha de música, dei-lhe corda e ela come-çou a tocar. Dela, não saiu uma música clássica, tipo «Pour Elise» ou alguma do mesmo género, nem uma bailarina a dançar, que é o que geralmente acontece nestas caixinhas. Abri e havia um disquinho, tipo aqueles antigos de vinil, que começou a girar e a tocar «I Can’t Fight This Feeling». Eu amava aquela música, era da banda sonora de Glee! Onde é que o Leo tinha conseguido aquilo?

Enquanto a música tocava, li mais uma vez a carta e comecei a chorar. Será que ia tudo recomeçar? Os desencon-tros? Será que eu nunca iria conseguir ficar mesmo com ele?

Antes de poder enxugar as lágrimas, a Ana Elisa entrou no meu quarto, toda animada.

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– Fani, deves estar tão feliz por teres regressado! A tua família é o máximo! Adoro a relação do teu irmão com a Natália, eles são simplesmente feitos um para o outro! E o...

De repente ela parou. Ficou a olhar para a minha cara toda molhada, sem perceber nada. E não disse nada. Limi-tou-se a olhar para a caixinha de música que estava na minha mão, para a carta em cima da cama, e fitou-me, esperando que eu desse alguma explicação.

Fiquei por uns momentos calada, mas percebi que se ha-via alguém no mundo que me perceberia naquele momento, essa pessoa era a Ana Elisa.

– Estou tão confusa... – disse eu, recomeçando nova-mente a chorar. – Pensei que ia voltar e encontrar tudo como estava antes, mas está tudo tão diferente, não me sinto em casa...

Ela fez-me sentar na cama, fechou a porta e pediu-me para lhe dizer o que é que estava diferente.

– Tudo! – respondi entre lágrimas. – A Gabi parece que não é mais minha amiga, pouco falou comigo desde que eu cheguei. E o meu pai está tão distante, nem se aproxima de mim, ele costumava encher-me de beijos a toda a hora! E os meus irmãos estão tão preocupados com a sua própria vida... Acho que só a minha mãe não mudou nada, e isso, acredita, não é uma coisa boa!

Ela começou a rir quando eu falei na minha mãe, o que me fez chorar ainda mais!

– E até tu estás diferente! – continuei. – Estás toda so-ciável, em Inglaterra eu era a tua melhor amiga, só falavas comigo, e hoje passei a noite toda na plateia, a assistir à tua conversa com o Alberto e a Natália, como se eu fosse mesmo uma espectadora!

Ela tentou dizer qualquer coisa, mas eu não lhe dei hi-pótese.

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– E por falar na Natália e no Alberto, acho que os dois estão tão palermas, só falam no casamento, parece que nada mais importa! E nem mesmo a minha sobrinha quer saber de mim, agarrou nos brinquedos que eu trouxe e mal olhou para mim! Os meus sobrinhos não me reconheceram! Até a minha tartaruga parece que se esqueceu de mim, chamei-a e ela nem veio, como fazia antigamente! E o que dizer das minhas roupas? Nem elas querem saber de mim! Já não per-tenço a este lugar.

– Oh, Fani... – disse ela, conseguindo interromper-me. – Chegaste há pouco mais de vinte e quatro horas! Calma! Da mesma forma que tu tens de te readaptar ao Brasil, o Bra-sil também tem de voltar a habituar-se a ti... O teu pai cer-tamente está sem saber como te tratar, não imagina como vais reagir. Passaste por muita coisa, mudaste fisicamente, de-mora mesmo algum tempo para as pessoas perceberem que no íntimo continuamos a mesma pessoa. Eu passei por isso várias vezes... a cada regresso ao Brasil, depois de uns tempos fora com os meus pais, as minhas amigas pareciam tratar-me de forma diferente, como se eu não pertencesse mais ao gru-pinho delas, e eu, de igual modo, não me sentia bem inte-grada, tinha viajado tanto, passado por tantas situações, e elas continuavam na mesma. Aposto que te estás a sentir como se durante este período fora do Brasil tivesses vivido uns cin-co anos! Viste muita coisa, conheceste muitos lugares, mui-ta gente... mas as tuas amigas continuaram aqui, na mesma vidinha de sempre. Tu é que tens de ser compreensiva com elas. Podes ter a certeza de que todos te estão a observar para ver as tuas reações, para perceber as tuas mudanças, todos te estão a dar espaço. Tu é que tens de mostrar que continuas a mesma, por mais que não te sintas a mesma, para que as pessoas percebam que se podem reaproximar...

Meu Deus, obrigada pela existência da Ana Elisa! Tudo o que eu queria naquele momento era apanhar um avião

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de regresso a Inglaterra. Tinha tantas saudades da Tracy, do Tom, do Teddy, da Julie e do Kyle... de cada pormenor de Brighton. E a Ana Elisa lembrava-me tanto tudo aquilo! Ela tinha conhecido aquelas pessoas, aqueles lugares, tinha tam-bém vivido todas aquelas emoções... ela era a única coisa de Inglaterra que eu ainda mantinha.

– Eu sei que deves estar com saudades da nossa cidadezi-nha inglesa – continuou ela, adivinhando os meus pensamen-tos – mas ela vai continuar na mesma... a praia, o cais... e um dia vais voltar a visitar tudo aquilo. E podes conversar com a tua família de lá pela internet sempre que quiseres, tenho a certeza de que eles também já estão a morrer de saudades tuas... mas sabes que o teu lugar é aqui. Passaste um ano inteiro ansiosa por estar em BH, falavas da Gabi, da Natália e dos teus irmãos o tempo todo! Aproveita, agora que os tens a todos eles de novo! E nunca vais perder o que viveste, o que nós vivemos lá! Está tudo guardadinho nas tuas memórias... e nas fotografias.

Tive uma nova crise de choro, ela ficou a olhar para mim, à espera que eu me acalmasse, e então pegou na caixi-nha de música.

– O que é isso tão giro? – perguntou, dando-lhe corda. – Foi o teu querido que te deu?

Limitei-me a assentir com a cabeça, ela ouviu um boca-do da música e fez um enorme sorriso.

– Que fofo! Nunca me tinhas dito que ele era românti-co! E criativo, não é? E então, já recuperaram o tempo perdi-do? – disse, com um sorrisinho um tanto malicioso.

Eu, que já tinha me acalmado um pouco, tive outro ata-que, de raiva desta vez.

– Não recuperei nada! Não consegui ficar tempo ne-nhum com ele até agora!

– Ah, mas antes de chegares ao bar, o teu irmão disse que vos apanhou aos dois no maior enrolanço ontem, que seria

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obrigado a ter uma conversa a sério contigo e tal... ele deve achar que tu és toda inocente e que não sabes defender-te, não é, Fani? Eu nem quis comentar sobre a maneira como o Christian te agarrava e tu fugias dele.

– Ana Elisa – interrompi antes que ela terminasse –, eu não estou nem aí para o que o meu irmão acha! O caso é que foi só isso, o Leo beijou-me no aeroporto, depois mais um bocadinho no meu quarto e só! Foi embora! Foi embora para sair com os amigos! E hoje queria que eu fosse ao clube com ele, coisa que eu não faria nunca, nesta gordura toda em que me encontro! E, pelos vistos, ele comprou um telemóvel que não usa, já que eu tentei ligar para ele lá do bar e estava desligado! E então che-guei aqui louca para dormir, para o tempo passar mais depressa e o poder ver amanhã, mas dei de caras com esta carta, a dizer que, pelos vistos, só nos vamos encontrar para o ano que vem!

Ela leu a carta e começou a rir. Qual era o problema da Ana Elisa, estaria a gozar comigo?

– Fani, não é nada disso! Ele apenas diz que vai passar o Natal com a família, no Rio. E que, se tu não conseguires ir lá ter na Passagem de Ano, o que, se fosse a ti, eu arranjava maneira de ir, nem que para isso fosse preciso fugir, ele volta para passar contigo. Do que é que te estás a queixar?

Disse isto ao mesmo tempo que dava mais corda à caixi-nha de música. Em seguida, deu-me um abraço, abriu a por-ta e dirigiu-se ao quarto de hóspedes. De repente, lembrou-se de qualquer coisa e voltou. Eu ainda estava no mesmo lugar, a olhar para o disco da caixinha a girar.

– Só mais um pormenor... amanhã, quando eu me for em-bora, vai a correr a casa da Gabi. Se ela já está nestes ciúmes todos de mim, que só estou a disputar a tua companhia com ela durante dois dias, imagina como vai ficar quando tu e o Leo realmente começarem a andar sempre colados um ao outro...

Ela sorriu, atirou-me um beijinho pelo ar e, em seguida, desapareceu no corredor.

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De: Maria Carmem <[email protected]>

Para: Luigi <[email protected]>

Enviada: 23 de dezembro, 22:12

Assunto: Leo

Luigi,

Aqui é a tua tia. Preciso muito da tua ajuda.

Como sabes, chegamos ao Rio amanhã e gostava de te pedir para entreteres o Leo o máximo possível enquanto lá estivermos! Se possível, pede àquela tua namorada tão simpática e atenciosa para o apresentar a algumas das suas amigas! Chama-se Marilu, não é? Ela é amorosa, espero que esteja tudo bem com o vosso namoro!

O caso é que aquela rapariga, a Fani, voltou para o Brasil. Não quero que me percebas mal, gosto muito dela, costumava até fazer uma certa força para que o Leo namorasse com ela, mas isso foi antes. Deves lembrar-te bem de como o Leo ficou depois de ela partir. Foi-lhe difícil reerguer-se e, agora, ela mal voltou e ele já está a agir de uma forma estranha.

Ontem, para teres uma ideia, ele foi ao aero-porto esperá-la e depois à casa dela. Porém, voltou muito cedo e disse que ia dormir. Per-guntei-lhe se tinha acontecido alguma coisa e ele disse que não, que pela primeira vez ao fim de vários meses ia dormir tranquilo e feliz. Ah! E ainda avisou que, se alguém ligasse, não lhe dissesse que ele estava a dormir e, em vez disso, dissesse que tinha saído com a «miúda»! Diz-me lá, Luigi, tu que tens a mesma idade do Leo... É normal um rapaz ficar em casa numa sexta-feira à noite?

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Como se não bastasse, de manhã ele foi ao clube com os amigos, mas não ficou muito tempo, voltou passado pouco tempo e saiu de novo, dizendo que tinha de comprar um presente. Depois não sei o que aconteceu, mas ele voltou para casa com uma carinha que fazia pena... Não sei se não encontrou o presente que queria comprar ou se o encontrou e a Fani (não tenho a menor dúvida de que era para ela) não gostou.

Percebes a minha preocupação? Temos de tirá-lo desta confusão.

Conto contigo,

Tia Carminha

De: Natália <[email protected]>

Para: Priscila <[email protected]>

Enviada: 24 de dezembro, 11:31

Assunto: Ajuda!!!!

Olá, Pri!

Preciso de ajuda, amiga!

O Alberto quer muito viajar comigo, até já reservou um quarto numa pousada em Búzios! Só que, sabes, eu não posso ir sozinha com ele, o meu pai nunca iria deixar, e então, estive a pensar, será que tu e o Rodrigo não gostariam de ir connosco? Não seria o máximo nós os qua-tro a curtir aquela cidade perfeita??? Porque, nesse caso, eu posso dizer ao meu pai que vou contigo, e não é necessário referir que eles os dois também vão... Não lhe vou mentir, ape-nas ocultar... O que é que tu achas? Diz que siiiiiiiiiiim! A tua mãe é tããão querida, sei que ela não se vai chatear! E tenho a certeza

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de que o Rodrigo vai gostar da ideia! Pensa nisso e responde o mais rápido possível!? Tenho de dar o mais depressa possível uma resposta ao Alberto, coitado! Ele está superansioso...

Beijinhos!

Natália ♥

De: Alberto <[email protected]>

Para: Inácio <[email protected]>

João Otávio <[email protected]>

Enviada: 24 de dezembro, 13:02

Assunto: A CONVERSA

Pai,

Eu e o Inácio estivemos a falar e achamos que chegou a hora de termos UMA CONVERSA com a Fani. Ela acabou de chegar e já anda toda enrolada com o Leo! Só não lhe dei uma bofetada, a ele, porque ela tinha acabado de chegar e eu não queria causar nenhum problema familiar! Mas não gostei nada da cena que vi! Não sei como era o namoro dela com aquele rapaz lá de In-glaterra, mas estou a achar que ela está muito «prà frentex» para o meu gosto! Ela só tem 17 anos! Por este andar, vai começar a pedir para ir viajar com o Leo, ou, pior, vai começar a mentir, a dizer que vai viajar com as amigas e a encontrar-se com ele em segredo... Sei como são estas miúdas hoje em dia! Ainda bem que a Natália não é assim.

Alberto

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