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PARCERIAS E DIÁLOGOS ENTRE A ESCOLA, COMUNIDADE E A
UNIVERSIDADE: PRÁXIS E PRODUÇÃO DE SABERES
Este painel é composto por estudos que, a partir de diferentes perspectivas, abordam a
formação do professor, considerando a parceria e o diálogo entre a escola, comunidade
e universidade, como possibilidades para a produção de saberes e tema de reflexões no
âmbito da Didática, e a relação teoria/prática na formação escolar. São trabalhos que
partem da ideia de que a atividade docente é práxis e entendem a relação entre escola,
comunidade e universidade como fundamental para a formação de professores
pedagogicamente comprometidos com a transformação da realidade injusta e desigual.
Dialogam com estudos sobre a realidade da escola atual e formação de professores,
entendendo ser necessária uma formação que considere o professor como um intelectual
crítico reflexivo. Os textos discutem a partir de dados de pesquisa de campo, do relato
de práticas, tematizando a formação de professores e o estágio na formação de
professores, ressaltando que é preciso que os cursos de formação de professores se
organizem de forma a possibilitar aos docentes superar o modelo da racionalidade
técnica e assegurar a base reflexiva na sua formação e atuação profissional. Uma
preocupação comum aos três estudos que integram o presente painel, é a práxis docente
e a necessidade de se refletir sobre essa questão e o processo de formação de
professores nos cursos de licenciaturas, para que se possam constituir possibilidades
para a melhoria da formação de professores. Diante disso, o interesse central é o
processo de formação do professor, que vincule teoria e prática com a responsabilidade
de tornar a escola e comunidade como parceiras na democratização social, econômica,
política e cultura, bem como, na busca e na construção de uma sociedade mais justa e
igualitária.
Palavras-Chave: Licenciaturas, Práxis, Saberes
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
3195ISSN 2177-336X
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PARCERIA E DIÁLOGO ENTRE A UNIVERSIDADE E A ESCOLA:
POSSIBILIDADES NO CONTEXTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO
Profa. Dra. Kalline Pereira Aroeira
Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (CE/UFES)
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação de Educadores – FEUSP (GEPEFE)
Resumo
Este trabalho analisa possibilidades de parceria e diálogo entre a universidade e escola
na formação de professores, por meio de atividades desenvolvidas pela disciplina de
Estágio Supervisionado curricular em curso de licenciatura. Estuda como a articulação
de ações desenvolvidas entre a universidade e escola nos Estágios, pode contribuir para
a construção de saberes. As questões organizadoras deste texto privilegiam discutir
como a convivência com a escola pública, durante o Estágio Supervisionado, permite
que alunos de licenciatura construam práticas pedagógicas por meio de um Estágio em
que haja diálogo entre a universidade e escola, enfatizando nesse contexto a articulação
entre o professor da escola e o professor da universidade e seus pares. Baseia-se em um
quadro de referências teóricas preocupado com a teoria crítica, que tem contribuído para
esclarecer os problemas relacionados à prática pedagógica, já que ressalta a importância
da reflexão crítica e colaborativa como um procedimento de resolução dos conflitos que
existem na ação. Constitui um estudo decorrente da reflexão em relação ao processo de
supervisão de estudantes de Educação Física e da docência com a disciplina Estágio
Supervisionado. Recorre a pesquisa bibliográfica e documental, utilizando como fonte:
portfólios produzidos por estagiários e bibliografias sobre o tema. Como principais
resultados e conclusões, o estudo indica que além da necessidade de um projeto
institucionalizado que interligue ações entre a universidade e escola, subsidiando o
diálogo entre a escola e a universidade, essa perspectiva pode ser potencializada durante
as atividades de Estágio, ao ocorrer a prática de parceria entre o supervisor e o professor
da escola campo, enfatizando-se nessa parceria o processo coletivo de planejamento e
intervenção, bem como, a articulação com os outros pares da escola nesse processo.
Palavras-chave: Universidade; Escola; Estágio.
1 Introdução
Nesta reflexão damos ênfase às possibilidades de parceria e diálogos construídos entre a
universidade e escola, por meio de atividades desenvolvidas pela disciplina de Estágio
Supervisionado Curricular em curso de licenciatura. Especificamente, focalizamos
como a articulação de ações desenvolvidas entre a universidade e escola em Estágio
Supervisionado para futuros professores de Educação Física pode contribuir para a
construção de saberes.
Consideramos que o Estágio é fundado na práxis, assume importante contribuição na
produção de saberes por futuros professores, referenciando a reflexão como meio de
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redimensionar e ressignificar a prática. Compreendemos o Estágio na perspectiva de
aproximação da realidade e atividade teórica (PIMENTA; LIMA, 2004). Nesse
contexto, a pesquisa é uma estratégia para a produção de conhecimentos em que se faz
necessária a análise, a problematização, a reflexão e a proposição de soluções às
situações de ensinar e aprender.
Para tanto, nesta discussão, baseamo-nos em um quadro de referências teóricas
preocupado com a teoria crítica, que tem contribuído para esclarecer os problemas
relacionados à prática pedagógica, já que ressalta a importância da reflexão crítica e
colaborativa como um procedimento de resolução dos conflitos que existem na ação.
Refere-se a uma pesquisa qualitativa com ênfase em reflexões decorrentes do contexto
de um trabalho colaborativo da universidade com a escola-campo, que recorre à
pesquisa bibliográfica e documental, utilizando como fonte: portfólios produzidos por
estagiários no período de atuação como supervisora, dos anos 2011 a 2014, e
bibliografias sobre o tema.
Entendemos que no Estágio pode ocorrer um movimento dialético, de superação, para
se chegar a um outro momento, a partir de um processo de construção e recriação
coletiva da prática do futuro professor, o qual pode produzir um outro movimento, o de
síntese, em relação a aprender a ser professor sendo professor, numa experiência de
trabalho colaborativo e de estágio como um componente teórico e prático.
Vale ressaltar que não se trata de supervalorizar ou subvalorizar o potencial dos
Estágios, mas de analisar como estes, quando valorizam a mediação do trabalho docente
como fator determinante na mobilização de saberes, podem contribuir para a construção
de saberes. No âmbito da formação do futuro professor, compreendemos que o Estágio
não é um momento de aprendizagem solitária, nesse contexto, podem ser produzidos
saberes pelos diversos atores envolvidos nesse processo formativo, alunos estagiários,
professores orientadores, professores da escola e seus demais pares.
Em face a essas concepções, como questão organizadora deste texto privilegiamos
discutir como a convivência com a escola pública, durante o Estágio Supervisionado,
permite que alunos de licenciatura construam práticas pedagógicas por meio de um
Estágio em que haja parceria entre a universidade e escola, enfatizando nesse contexto a
articulação entre o professor da escola e o professor da universidade e seus pares. Para
tanto, o texto está organizado em quatro seções de discussão, em que enfocamos os
seguintes aspectos: reflexão sobre a produção de saberes no Estágio Supervisionado e
possibilidades para a formação de professores; análise sobre a organização dos Estágios
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e o diálogo entre a universidade e escola; contextualização em relação a parceria entre
pares da universidade e escola e possibilidades colaborativas, considerando atividades
de Estágio em Educação Física na escola.
2 Produção de saberes em Estágios Supervisionados: possibilidades para a
formação em cursos de licenciaturas
As questões que alimentaram a produção deste texto relacionam-se a uma rede de
situações limitantes que têm dificultado uma formação mais qualificada oferecida pela
universidade e pela escola. Dentre essas dificuldades destacamos a articulação entre a
universidade e as escolas-campo, e a necessidade de propostas de Estágio
Supervisionado que se configurem em prol da superação de práticas não
institucionalizadas no âmbito escolar.
O Estágio não pode tornar-se um projeto formativo fictício; é necessária a participação
do futuro professor nas relações que se estabelecem dentro da escola, inclusive para
instituir práticas inovadoras no ambiente escolar e para favorecer o enfrentamento de
limites educativos, sem se render a eles. Cabe questionar: como a convivência com a
escola pública durante o Estágio Supervisionado favorece que alunos de Licenciatura
produzam saberes necessários à docência?
Diante desse questionamento, é válido pensar a escola como lócus da formação
contínua, por considerarmos a necessidade de se superar uma concepção clássica sobre
o tema, segundo a qual o papel da universidade corresponderia à produção de
conhecimento, cabendo aos profissionais da Educação Infantil, e do Ensino
Fundamental e Médio sua aplicação, socialização e transposição didática.
Desse modo, pensar na possibilidade de construção de parcerias universidade-escola
implica, necessariamente, maior compreensão por parte dos profissionais tanto da escola
quanto da instituição formadora, acerca de seu papel de agentes formadores, da mesma
forma que requer compromisso ético e competência no desenvolvimento dessa tarefa a
fim de que seja possível estabelecer novos parâmetros para a produção de práticas e
diálogos comprometidos com uma formação qualitativamente melhor para os
professores (FRANÇA, 2006).
Por outro lado, quando se amplia essa análise numa esfera de questões mais gerais, não
se pode ignorar a discussão a respeito de qual é o objetivo do estágio. Qual o
compromisso das instituições formadoras com a escola? Como a observação do aluno
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estagiário supera o âmbito da denúncia e adentra o campo das possibilidades de
superação das dificuldades surgidas no percurso? Qual concepção de educação está na
base dos projetos das instituições formadoras?
A configuração dessas questões no processo de Estágio Supervisionado está ligada à
compreensão do estágio como campo de conhecimentos e eixo curricular central nos
cursos de formação de professores, o que possibilita trabalhar aspectos indispensáveis à
construção da identidade, dos saberes e das posturas específicas do exercício
profissional docente (PIMENTA; LIMA, 2004).
Nessa visão, ressalta-se a perspectiva de diálogo entre professor supervisor, professor da
escola, estagiários observadores e estagiários professores como uma das vantagens das
parcerias institucionalizadas, entre escola e universidade. Por isso investimos na
aprendizagem em contexto de parceria, pois favorece a estreita articulação entre o
futuro professor/profissão/escola: ―[...] uma relação entre um formador e um elemento
em formação, relação essa cuja natureza substantiva se constitui num corpo de saberes
que, nessa relação, se (trans)accionam‖ (SÁ-CHAVES, 1996, p. 40). Ou nas palavras,
que afirma Imbernón (2002, p. 15) cria-se ―[...] espaços de participação, reflexão e
formação para que as pessoas aprendam e se adaptem, para poder conviver com a
mudança e a incerteza‖.
3 O diálogo e parceria entre a universidade e a escola e a organização dos Estágios
O diálogo entre universidade e escola é um importante dispositivo para a organização
dos Estágios que privilegiam a produção de saberes durante a formação inicial. Como
supervisora de Estágio identificamos que dependendo de como o Estágio é estruturado
em relação a articulação universidade e escola, pode-se traçar contribuição para que
esse futuro professor amplie as possibilidades de identificação com a docência no
ensino escolar.
Por outro lado, reconhecemos, assim como Tardif (2002), que a relação entre as
universidades e os educadores, os educadores e os pesquisadores, o corpo docente e a
comunidade científica tornam-se dois grupos cada vez mais distintos, destinados a
tarefas especializadas de transmissão e de produção dos saberes sem nenhuma relação
entre si.
Numa direção oposta a essa ocorrência, no âmbito dos cenários dos Estágios da
licenciatura, temos investido na ideia de que a escola precisa ser reconhecida como
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instituição co-formadora, na medida que assume investimentos em seu projeto
pedagógico e ação integrada de planejamentos entre professores da escola com os
professores da universidade e pedagogos escolares, que precisam ser reconhecidos e
compartilhados nesse processo com a universidade.
Compreendemos que, para se colaborar na reinvenção da Escola de Educação Infantil,
Ensino Fundamental e Médio é imprescindível que o projeto de Estágio seja assumido
no Projeto Político- Pedagógico da instituição, porque o estagiário não pode reduzir-se à
condição de um visitante do ambiente escolar. Ele deve ser coparticipe da discussão e
da compreensão dos processos que envolvem a escola-campo e a universidade
formadora.
Sobre isso, ressaltamos, como Lima (2001, 2012) e Pimenta e Lima (2004), que as
escolas sempre são o ponto de partida e chegada nos estágios. Com essa perspectiva, em
nossa experiência como supervisora, investimos em parcerias com as escolas campo, em
que antes mesmo de se iniciar o semestre letivo na universidade, as escolas partilham
horários e espaços de diálogo, para que as atividades de ensino do Estágio possam ser
iniciadas e desenvolvidas, considerando que haverá um diálogo com sujeitos que
chegarão em um tempo e espaço institucionalizado, que no presente ainda não são
professores, mas poderão vir-a-ser um docente. Esse cenário de parceria institucional
pode favorecer que esses futuros professores, compartilhem saberes e os apreenda em
um contexto de troca e partilha com estudantes da escola básica, professores da escola e
futuros professores, podendo atribuir novos significados aos saberes aprendidos tanto no
âmbito escolar como da universidade.
Entendemos que os parceiros da universidade, professores supervisores e futuros
docentes, ao se aproximarem das rotinas e processos de organização escolares, poderão
aproximar-se da futura realidade de atuação, problematizando-a, pesquisando-a,
construindo e mobilizando saberes para a atuação docente. Isso significa dizer que as
práticas docentes que ocorrerão nesse cenário, não estão determinadas, vão sendo
produzidas em situações de organização coletiva, planejamento participativo e ação
conjunta entre os pares formadores professores da universidade e escola, futuros
professores e estudantes da escola básica.
Nesse contexto, apreendemos que mobilizar saberes da Didática e a formulação de
práticas interdisciplinares com o Estágio/Prática de Ensino do ensino da Educação
Física como componentes curriculares, têm nos oferecido investimentos em
possibilidades de trabalho fundadas numa racionalidade reflexiva, buscando a
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transformação das práticas pedagógicas, na direção da concepção de ensino como
prática social, configurando o caráter prático de seus saberes.
Um dos desafios para essa ocorrência, que precisa ser superado, é o distanciamento da
reflexão em relação às experiências situadas no processo de Estágio Supervisionado,
que em alguns casos não acontece ou ocorre distante dos desafios vividos na escola.
Entre os estudos que constatam essa dificuldade, as pesquisas de Campos (1999) e de
Sudan (2005) retratam essa situação nas licenciaturas de Educação Física e
Enfermagem. Campos (1999) investigou o Estágio Supervisionado em cursos de
Educação Física, considerando o discurso dos docentes e discentes dessa disciplina. A
autora verificou que, entre os cinco cursos pesquisados, apenas em um a disciplina
Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado está mais próxima de alcançar a reflexão e
a conscientização do aluno sobre a prática docente, priorizando o processo de ação-
reflexão. Em relação aos outros quatro cursos, Campos (1999) analisa que estão longe
do ideal de reflexão sobre a prática de ensino no estágio, que chega a ser defendida
pelos professores, mas acaba não acontecendo. Sudan (2005) aponta análises acerca da
construção de práticas educativas por egressos durante o Estágio Supervisionado de um
curso de Enfermagem, no Paraná. Segundo Sudan (2005, p. 9), ―[...] considerando a
incipiente formação pedagógica do estudante [...] é nítido que o estudante reproduz o
ensino tradicional, apresentando pouco espírito crítico e problematizador para análise da
realidade‖.
Esses resultados de pesquisa instigam-nos a pensar como, num processo de estágio de
formação de professores, os conhecimentos sobre os contextos de ensino-aprendizagem
que ocorrem numa escola precisam ser apreendidos na sua totalidade, e que não basta
estar na escola, ou improvisar situações que não se assemelham ao cotidiano, se não se
propicia a atenção, o estudo e a reflexão sobre a realidade conflitante do cotidiano
escolar, assim como a proposição de mudanças às condições existentes.
Com base nessa visão, sustentamos que de forma colaborativa, a problematização das
práticas educativas pelos professores e estagiários favorece a criação de um modo de ser
e estar na profissão durante as experiências do estágio. Essa construção favorece o
entendimento da própria identidade profissional porque ela se constrói também
Pelo significado que cada professor [futuro professor], enquanto ator e autor,
confere à atividade docente no seu cotidiano a partir de seus valores, de seu
modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações,
de seus saberes e de suas angústias e anseios, no sentido que tem em sua vida
o ser professor (PIMENTA, 2002, p. 19).
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Por outro lado, é necessário o desenvolvimento de projetos de formação profissional
focando um processo de Estágio Supervisionado que supere um trabalho hierarquizado
e solitário entre escola e universidade. Nesse contexto, o estágio pode contribuir para
uma atitude questionadora e para a construção de saberes, na medida em que supere
uma relação distanciada entre os estagiários, os professores universitários e os
professores da Educação Básica. Assim, o Estágio Supervisionado, que caracteriza o
diálogo e parceria entre universidade e escola, é pautado em relações de co-participação,
e colaboração, num diálogo constante entre essas instituições. Como registra o
depoimento a seguir, essa interlocução, marca sua contribuição no processo de
construção de saberes docentes:
De fato, esse estágio supervisionado foi muito importante para a nossa
formação, pois aprendemos a ser professor. Descobrimos e tentamos resolver,
junto com os alunos, professores e colegas, os desafios que a turma tem. Só
temos que agradecer (PORTFÓLIOS DE ESTÁGIO, 2013, [s.p.]).
Defendemos desse modo, que no espaço da sala de aula da Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Médio, o estagiário depara-se com a profissão e com a aprendizagem
docente, vivenciando a regência compartilhada e a significativa participação no
estabelecimento de redes coletivas de trabalho com a escola, podendo desse modo
assumir uma conduta de negação ao dualismo ―educadores e educandos‖, o que, nas
palavras de Vázquez (1977, p. 160), partindo da concepção da práxis em Marx ,―[...]
implica na ideia de uma práxis incessante, contínua, na qual se transformam tanto o
objeto como o sujeito‖. Desse modo, como identificam os estudantes estagiários:
a práxis tão mencionada e buscada durante o estágio se efetiva com a
realização da produção de novas práticas pedagógicas, que se faz tão
importante na disciplina de estágio supervisionado, e na nossa formação
(PORTFÓLIOS DE ESTÁGIO, 2011, [s.p.]).
No espaço da universidade investimos na ideia de se estabelecer o planejamento de
redes coletivas de trabalhos com a escola, na formulação de práticas interdisciplinares, e
na sistematização de Seminários de Estágios, visto que contemplam a produção, o olhar
e as interrogações vividas no decorrer dessa trajetória.
Por último, salientamos que para conduzir esses processos formativos, temos
identificado, a importância e a necessidade de atuar no chão das escolas campo, junto
com os professores regentes, desenvolvendo o acompanhamento e a orientação às
atividades de observação e regência compartilhada nesses espaços, assim como aos
momentos de socialização de reflexões relacionadas às práticas pedagógicas e ao
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planejamento e pesquisa na universidade, valendo-nos da interlocução, diálogo e
colaboração para o desenvolvimento e mobilização de saberes docentes.
4 A parceria entre os pares da escola e da universidade: possibilidades para a
produção de saberes no Estágio Supervisionado em Educação Física
No contexto de nossa experiência com a supervisão e orientação de estagiários-
professores de Educação Física e escolares do Ensino Médio, no âmbito de duas escolas
públicas do Município da Serra-ES, temos construído nossas intervenções considerando
o planejamento participativo, desenvolvido por meio da interação entre professor
supervisor, professor regente da escola-campo, estagiários e escolares do Ensino Médio.
Com isso, sustentamos a ideia de que o professor de Educação Física em formação
inicial ou contínua necessita durante o seu desenvolvimento profissional, percorrer
processos de formas singulares de educar em consonância com o trabalho vivo
desenvolvido na escola.
Os estudos da área vêm trazendo à cena novas perspectivas de ensino-aprendizagem em
Educação Física, dentre eles, os trabalhos organizados por Kunz (2009, 2005), que
apresentam propostas de ensino para atletismo, dança, capoeira, dentre outras
possibilidades, com condições para se pensar aulas para a formação de alunos críticos e
com características educacionais emancipatórias.
Nesse contexto Kunz e Souza (2009), partem da ideia que para garantir uma concepção
pedagógica no ensino dos esportes é necessário que o esporte passe por uma
transformação didático pedagógica e que se estabeleça um campo de diferentes e
significativas possibilidades de um se-movimentar. O aluno não seria considerado mero
apresentador de uma atividade esportiva e as formas tradicionalmente conhecidas
através de atletas e do esporte, serviriam de base para as transformações didático-
pedagógicas. Nesse entendimento, alunos e professores discutem o conteúdo e o
processo de ensino, que são analisados por meio da encenação temática do conteúdo
escolar, onde se pretende levar o aluno a conhecer, vivenciar concretamente, diferentes
formas em que o esporte se apresenta e/ou pode apresentar-se (KUNZ; SOUZA, 2009).
A aula não seria ministrada dentro da lógica de fases estanques, como geralmente é feito
com muitas práticas corporais (aquecimento, parte principal e volta à calma), teria foco
na continuidade entre os diversos momentos que serão desenvolvidos (FALCÃO,
2009).
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Nessa perspectiva, os processos de Estágio Supervisionado da Educação Física, nas
experiências que temos investido na escola, evidenciam a necessidade de serem
construídos por meio de um processo de planejamento e intervenção que considere o
cenário de diálogo com a escola, buscando-se produzir aulas de Educação Física
convergentes com as propostas pedagógicas consistentes no âmbito teórico. Como
registram um dos grupos de nossos estagiários em seus relatórios:
No que diz respeito à disciplina de Estágio Supervisionado, foram de suma
importância as reflexões e recomendações ocorridas durante as aulas de
segunda-feira, a visão e exposição das ideias, críticas e sugestões tanto dos
colegas quanto das professoras acrescentam e de fato faz com que o grupo
reflita e aprimore para próxima aula. É importante que este processo continue
(PORTFÓLIOS DE ESTÁGIO, 2012, [s.p.]).
Em outras palavras, esse processo abrangeria um planejamento coletivo, em prol da
formulação de ações que avancem para uma proposta de ensino que parte da concepção
de estágio como aproximação da realidade e atividade teórica, incluindo elementos
como a observação, problematização, investigação, análise, intervenção, mediado pela
reflexão (PIMENTA; LIMA, 2004).
Para a realização dessa possibilidade formativa, temos analisado que nesse tipo de
cenário é relevante que os alunos da universidade e da escola manifestem envolvimento
e protagonismo nas atividades de ensino e aprendizagem nesse contexto, e a
necessidade de articulação entre as disciplinas do currículo de formação do futuro
professor. Por último, ressaltamos nossa preocupação com a prática como eixo central
formador dos saberes docentes, assumindo que é preciso investir-se em formas de
organização dos cursos de formação de professores que possibilitem superar o modelo
da racionalidade técnica e assegure a base reflexiva na sua formação e atuação
profissional.
5 Considerações Finais
O questionamento que se apresentou para nós no exercício da produção deste texto, e
que tem nos acompanhado na atividade de professora supervisora, atuando nesse
processo de Estágio, e de estudante do tema, privilegiam discutir a relação entre a escola
pública, o Estágio Supervisionado/Práticas de Ensino em Educação Física, assim como
indagar como a articulação de ações desenvolvidas entre a universidade e escola nos
estágios, pode contribuir para a construção de saberes. Entendemos que é necessário
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investigar as práticas que ocorrem nos estágios em licenciatura, ampliando as suas
potencialidades à luz das teorias.
É preciso mais uma vez ressaltar o futuro professor, como autor ou coautor das práticas
pedagógicas no processo formativo de estágio, pois este vivencia modos de ser
professor, mas, para vencer e compreender os desafios da aprendizagem docente, é
necessário o suporte de um processo de reflexibilidade que medeie a significação e a
ressignificação da atividade docente.
A necessidade aí evidenciada é de que os projetos de estágio nasçam da articulação
entre escolas e universidades, tomando a realidade como objeto da reflexão, de modo
que o professor da universidade oriente o processo de formação do estagiário com a
colaboração dos pares envolvidos (professores e pedagogos), promovendo-se a
formação contínua dos professores da escola e dos professores formadores.
Por outro lado, é necessário o desenvolvimento de projetos de formação profissional
focando um processo de Estágio Supervisionado que supere um trabalho hierarquizado
e solitário entre escola e universidade. Nesse contexto, o estágio pode contribuir para
uma atitude questionadora e para a construção de saberes, na medida em que supere
uma relação distanciada entre os estagiários, os professores universitários e os
professores do ensino médio. Assim, o estágio supervisionado, que caracteriza uma
relação de parceria entre universidade e escola, é pautado em relações de co-
participação, diálogo e colaboração.
Em síntese, as reflexões aqui sistematizadas permitem identificar duas questões centrais
quando nos remetemos aos processos de estágios na escola básica: 1) para que o estágio
potencialize a construção de saberes não só dos professores-alunos como também dos
demais professores, é necessário estar articulado a um projeto que promova a reflexão
sobre a atividade docente e; 2) o estágio, no âmbito de formação de professores, pode
apontar aprendizagens significativas, desde que tenha como referência a escola nas suas
possibilidades e limitações, entretanto sem ignorar a troca de experiência e a
participação de todos (pares da escola e universidade).
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Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 2012.
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ESTÁGIO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: POSSIBILIDADES
FORMATIVAS E DIÁLOGO ENTRE A ESCOLA E A UNIVERSIDADE
Profa. Dra. Erika Barroso Dauanny
Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG)
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação de Educadores – FEUSP (GEPEFE)
Agência Financiadora: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(FAPEMIG)
Resumo
Este texto relaciona-se ao estudo de doutoramento, que teve como objetivo principal
compreender a contribuição do estágio para a formação dos professores para a Escola de
Educação Básica. Utiliza como base teórica reflexões sobre a realidade da escola atual,
que entende ser necessária uma formação que considere o professor como um
intelectual crítico reflexivo. Nessa perspectiva, considera-se o estágio como uma
atividade teórico-prática, uma atitude investigativa que envolve estudos, análise,
problematização, reflexão e proposição de soluções sobre o ensinar e o aprender, sobre
o trabalho docente e sobre as práticas institucionais situadas em seus contextos sociais,
históricos e culturais. O estudo de campo foi realizado no Curso de Licenciatura do
Instituto de Matemática e Estatística da USP e a opção metodológica utilizada foi a
pesquisa qualitativa apoiada em dados quantitativos de um questionário aplicado aos
alunos dos Cursos de Licenciatura, dados de análise documental, de observação, e de
entrevista. Foi adotada a estratégia de triangulação de métodos. Os dados aqui
apresentados evidenciam que as disciplinas responsáveis pelo estágio, e que o
desenvolvem com atividades que propiciam reflexão, buscando a unidade entre teoria e
prática, contribuem fortemente para a formação dos futuros professores. O estágio,
como parte essencial do processo formativo no contexto da formação inicial
universitária dos professores, apresenta-se como um lugar privilegiado para efetivar a
relação entre teoria e prática. Conclui-se que, o estágio supervisionado do Curso de
Licenciatura requer, para configurar-se como um processo formativo mais significativo,
ser amparado por um projeto político pedagógico que, dentre outros aspectos, promova
a ampliação dos espaços de reflexão sobre as atividades desenvolvidas durante o
estágio, promova o desenvolvimento de processos e atividades pautados em relações
sociais coletivas, colaborativas e dialógicas e, viabilize um diálogo crescente entre a
escola de Educação Básica e a universidade.
Palavras-chave: Formação inicial; Estágio; Escola.
1 Introdução
Este texto sistematiza dados relacionados a nossa pesquisa de doutoramento, que
teve como objetivo principal compreender a contribuição do estágio para a formação
dos professores para a escola de Educação Básica. A pesquisa realizada teve como foco
o processo vivenciado no espaço/tempo do estágio supervisionado do curso de formação
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inicial universitária do professor de Matemática, considerando as seguintes questões:
Como o estágio está sendo considerado e desenvolvido no curso de licenciatura em
Matemática? Que processos formativos ocorrem no estágio e como eles podem
contribuir para a formação de professores? Qual a compreensão dos futuros professores,
alunos do Curso de Licenciatura em Matemática, dos processos formativos relacionados
ao estágio, por eles vivenciados, no sentido da contribuição desses processos para a sua
formação como professores? Em quais condições o estágio constitui-se um processo
formativo significativo no curso de licenciatura em Matemática?
Os dados de campo foram coletados no Curso de Licenciatura do Instituto de
Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP). A opção
metodológica foi por uma pesquisa qualitativa apoiada em dados quantitativos
(BOGDAN; BIKLEN, 1994) de um questionário aplicado aos alunos dos Cursos de
Licenciatura da USP, dados de observação, realizada por um período de dois anos
(2011-2012), de momentos do processo de formação desenvolvido no Curso de
Licenciatura em Matemática, relacionados ao estágio supervisionado na universidade e
em uma das escolas de Educação Básica, onde os alunos o desenvolveram; e em dados
da entrevista semiestruturada realizada com alunos desse curso e com professor da
escola de Educação Básica, responsável por receber alunos estagiários. Para a
compreensão dos dados obtidos no conjunto desses instrumentos, foi utilizada a
estratégia de triangulação de métodos (TRIVIÑOS, 1987; MINAYO, 2005; 2013).
Para tanto, esta reflexão abordará inicialmente as concepções que entendemos
como necessárias de serem privilegiadas nesta discussão: de professor, de formação e de
estágio, partindo da compreensão de autores como Saviani (2009), Charlot (2008) e
Freitas (2012), sobre a realidade da escola atual.
Em seguida, é apresentada a análise de categorias evidenciadas pelos dados
quantitativos e qualitativos desta pesquisa, que explicitam a potencialidade formativa do
estágio, no contexto dos processos formativos do professor, e seu lugar privilegiado
nesse contexto, para efetivar a relação entre teoria e prática e para estabelecer um
diálogo entre escola e universidade, ao trazer a possibilidade de aproximação da
realidade profissional docente, e, a oportunidade de sobre ela refletir criticamente, com
vistas à sua transformação.
Por último, sistematizamos aspectos requeridos pelo estágio supervisionado do
Curso de Licenciatura, para que este, configure-se como um processo formativo mais
significativo.
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2 Concepções necessárias: de professor, de formação e de estágio
Segundo autores como Saviani (2009), Charlot (2008) e Freitas (2012), da
perspectiva do neoliberalismo decorre toda uma lógica de fazer educação com
consequências nefastas para a mesma. Para Charlot (2008), o professor, hoje, enfrenta
contradições que decorrem da contemporaneidade econômica, social e cultural, além
das tensões inerentes ao próprio ato de educar e ensinar. A análise das condições reais
da profissão docente, traz as seguintes questões para a formação do professor: Até que
ponto essas contradições estão sendo consideradas no processo de formação inicial
universitária do professor? Que espaços estão sendo abertos na universidade para a
construção de uma cultura profissional docente requerida pelas atuais condições do
trabalho docente? Como, onde e quando o processo formativo universitário inicial do
professor oferece elementos que o auxiliem a gerir e superar tensões e contradições
presentes na sua atividade profissional e a ―manter um mínimo de coerência, por mais
tensa que seja, em uma sociedade rasgada por múltiplas contradições‖, como diria
Charlot (2008, p. 31)? Nesse contexto, qual o lugar do estágio no processo de formação
do professor?
Apesar do amplo debate que se abriu, no Brasil, em relação às licenciaturas,
desde o ano de 2000, as pesquisas em relação à formação inicial, têm demonstrado que:
[...] os cursos de formação, ao desenvolverem um currículo formal com
conteúdos e atividades de estágio distanciados da realidade das escolas, numa
perspectiva burocrática e cartorial que não dá conta de captar as contradições
presentes na prática social de educar, pouco têm contribuído para gestar uma
nova identidade do profissional docente (PIMENTA, 2009a, p. 16).
Nesse sentido, essa autora afirma a necessidade de ressignificar os cursos de
licenciatura bem como a identidade do professor. Segundo Pimenta (2009c), do ponto
de vista teórico-metodológico, ―[...] os cursos de licenciatura precisam ser revistos a
partir de três premissas: a estreita vinculação entre os conteúdos específicos e os
pedagógicos; o conhecimento que se produz de forma construtiva e a íntima
articulação entre teoria e prática‖ (PIMENTA, 2009c, p.135, grifos nossos).
Com relação a essa última premissa, Pimenta (2009c) ressalta a importância do
estágio no processo de formação de professores para a efetivação da relação entre teoria
e prática.
[...] é no âmbito do processo educativo, que mais íntima se afirma a relação
entre teoria e prática. Na sua essência, a educação é uma prática
intrinsecamente intencionalizada pela teoria. Decorre dessa condição a
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atribuição de um lugar central ao estágio, no processo de formação do
professor. Entendendo que o estágio é constituinte de todas as disciplinas,
percorrendo o processo formativo desde o seu início, os cursos de
licenciatura devem contemplar várias modalidades de articulação direta com
as escolas e demais instâncias nas quais os professores atuarão, apresentando
formas de estudo, análise e problematização dos saberes nelas praticados
(PIMENTA, 2009c, p. 135).
Como apontado por Pimenta (2009c), consideramos que o estágio curricular
supervisionado dos cursos de formação inicial universitária de professores é um
espaço/tempo de formação que traz a possibilidade de aproximação da realidade
profissional docente e a oportunidade de sobre ela refletir criticamente com vistas à
construção de alternativas. Trata-se de um espaço que abre a possibilidade de captar as
contradições presentes na prática social de educar, podendo contribuir para gestar uma
nova identidade do profissional docente (PIMENTA, 2009a).
Pimenta e Lima (2010) analisam diferentes concepções de estágio relacionadas a
diferentes concepções de prática e de teoria e concluem que a superação da
fragmentação entre elas a partir do conceito de práxis se daria no ―[...] desenvolvimento
do estágio como uma atitude investigativa, que envolve a reflexão e a intervenção na
vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade‖ (PIMENTA; LIMA, 2010,
p.34).
A cada concepção de professor corresponde uma determinada teoria do
conhecimento e da sua transmissão e aprendizagem, e uma concepção própria da
relação entre teoria e prática (PÉREZ-GOMES, 1992). Essa correspondência se faz
também para diferentes concepções de estágio.
Diante da realidade da escola atual, faz-se necessária uma formação que
considere o professor como um intelectual crítico reflexivo conforme Contreras (2002),
Pimenta (2008), Ghedin (2008) e Zeichner (2008). Essa concepção de professor
considera que o exercício da docência não se reduz à aplicação de modelos previamente
estabelecidos, mas, ao contrário, é construído na prática dos sujeitos-professores
historicamente situados.
Nessa perspectiva ―a atividade docente é práxis‖ (PIMENTA, 2009b, p.83), uma
atividade teórico-prática conforme Vázquez (2007), e o estágio é também entendido
como uma atividade teórico-prática, uma atitude investigativa que envolve estudos,
análise, problematização, reflexão e proposição de soluções sobre o ensinar e o
aprender, sobre o trabalho docente e sobre as práticas institucionais situadas em seus
contextos sociais, históricos e culturais (PIMENTA, 2009b; PIMENTA; LIMA, 2010).
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A seguir destacaremos a análise de algumas categorias evidenciadas dos dados
quantitativos e qualitativos desta pesquisa, que explicitam a potencialidade formativa do
estágio, no contexto dos processos formativos do professor, e seu lugar privilegiado
nesse contexto para efetivar a relação entre teoria e prática, ao trazer a possibilidade de
aproximação da realidade profissional docente e, a oportunidade de sobre ela refletir
criticamente, com vistas à sua transformação.
3 O estágio na formação do professor e o diálogo com a realidade escolar
O Programa de Formação de Professores da USP (PFPUSP, 2004), base
empírica da pesquisa, considera que
[...] o ―estágio supervisionado‖ deve ter um papel de elemento integrador na
formação do professor, oferecendo ao estudante de licenciatura
oportunidades de ampliar e utilizar as habilidades e os conhecimentos
adquiridos no curso para responder às necessidades e aos desafios da
realidade escolar (PFPUSP, 2004, p. 27).
A meta do estágio deverá ser, portanto, segundo o próprio Programa, o
desenvolvimento de um saber teórico-prático que exija uma postura investigativa e
problematizadora da realidade escolar, integrando suas ações à proposta pedagógica da
instituição. A perspectiva em relação ao estágio, apresentada no PFPUSP (2004),
representa, assim, um avanço, na medida em que sua importância para a formação é
reconhecida e sua valorização fica instituída.
O PFPUSP (2004) considera concepções coerentes com as necessidades hoje
colocadas para a formação de professores. A concepção de professor que se almeja
formar pode ser identificada como a do professor intelectual crítico reflexivo, conforme
tratado no item anterior.
Na Licenciatura em Matemática do IME-USP, as 400 horas de estágio curricular
supervisionado, obrigatório no curso, estão distribuídas entre oito disciplinas: as
disciplinas do Bloco III, de Fundamentos Teóricos e Práticos da Educação (POEB -
Política e Organização da Educação Básica no Brasil; Didática e Psicologia da
Educação), obrigatórias para todas as licenciaturas da USP e oferecidas pela Faculdade
de Educação e as do Bloco IV, de Fundamentos Metodológicos do Ensino
(Experimentação e Modelagem; Estágio de Vivência e Investigação em Gestão Escolar
e Políticas Públicas; Metodologia do Ensino da Matemática I e II e Projetos de Estágio)
sendo as primeiras oferecidas pela FEUSP e a última pelo IME-USP.
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Os dados, produzidos através do questionário (SILVA; GIL; MAGALHÃES,
2013) trazem a perspectiva dos alunos estagiários em relação às seguintes categorias:
(A) Grau de contribuição dos conteúdos e atividades desenvolvidos em cada disciplina
para análise e construção de alternativas frente às dificuldades que hoje se apresentam
aos professores nas escolas; (B) Grau de contribuição de cada atividade ou estratégia de
ensino desenvolvida nas disciplinas, para a formação de professores; (C) Espaço de
reflexão, em cada uma das disciplinas, sobre as observações e outras atividades
desenvolvidas durante o estágio; (D) Influência do estágio, desenvolvido nas
disciplinas, no desejo de ser professor; (E) O fator que, na(s) disciplina(s), mais
contribuiu para a formação.
Em relação à categoria (B), a atividade de Reflexão sobre as atividades e/ou
observações desenvolvidas durante o estágio foi, percentualmente, a mais indicada,
pelos alunos, como tendo um Alto grau de contribuição para a formação dos mesmos
como professores.
A análise estatística da relação entre a categoria (A), e a categoria (C), indica
que, quando o Espaço de Reflexão, oferecido na disciplina, é tido pelo aluno como
Muito, o Grau de Contribuição do conteúdo e das atividades dessa disciplina tende a ser
classificado como sendo Alto. E vice e versa. Quando o Espaço de Reflexão, oferecido
pela disciplina, é tido pelo aluno como Nenhum, o grau de contribuição dessa disciplina
tende a ser classificado como sendo Nenhum ou Baixo.
Se acrescermos às análises anteriores que, os fatores que mais contribuíram para
a formação dos alunos como professores (E) foram as discussões sobre os problemas da
realidade profissional docente e os métodos, técnicas de ensino e ‗dicas‘ sobre formas
de trabalhar melhor, confirma-se o quanto a abertura de espaço de discussão e de
reflexão sobre a realidade encontrada nas escolas durante os estágios, é importante para
a formação do professor nos cursos de Licenciatura.
Em relação à categoria (D), os dados revelam que o estágio tem forte influência
no desejo ou opção de ser professor. A soma do percentual dos alunos que tiveram
influência do estágio no desejo de ser professor, seja uma influência positiva ou
negativa corresponde a 72% nas disciplinas do Bloco III e, 67% nas disciplinas do
Bloco IV. Um estudo aprofundado sobre a influência do estágio no desejo de ser
professor indica que a atividade de Reflexão sobre as atividades e/ou observações
desenvolvidas durante o estágio, quando tem sua contribuição avaliada como Alta pelos
futuros professores, aumenta a probabilidade de o estágio influenciar positivamente no
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desejo de ser professor, mais do que qualquer outra atividade ou disciplina quando estas
também são avaliadas de modo positivo pelos alunos.
O estudo estatístico (SILVA; GIL; MAGALHÃES, 2013), dos processos
formativos relacionados ao estágio curricular supervisionado, evidencia o quanto os
alunos da licenciatura, em especial, os alunos da Licenciatura em Matemática, chamam
a atenção para a importância da ―reflexão‖ sobre as atividades desenvolvidas durante o
estágio para a sua formação como professores. A reflexão aparece assim, como a
variável mais importante que mexe com a formação dos professores. Mas o que os
alunos estão chamando de ―reflexão‖?
Segundo os alunos entrevistados, a reflexão, desenvolvida nas disciplinas
relacionadas ao estágio acontece de diversas formas e está relacionada à discussão e ao
diálogo; discussão e problematização de questões observadas na escola, discussão sobre
experiência dos alunos, de temas ou textos, ou ainda relacionada com alguma
experiência. De um modo geral, a reflexão, na perspectiva dos futuros professores,
remete a algo que parece ter sido significativo na sua formação, conforme os
depoimentos a seguir.
Telma
Sobre essa reflexão, teve um estágio, se não me engano, foi de POEB, que eu
fui numa escola de ensino fundamental. E eu fui estudar como que a escola
está se preparando pra receber os alunos deficientes. [...] E essa experiência
foi fantástica pra mim. Foi em POEB. Adorei isso porque eu fui na escola.
[...] Eu acho que as matérias que eu consegui pensar bem sobre essas
discussões, sobre a realidade, foi a matéria de Didática, se não me engano. E
os textos trazidos e as discussões foram boas. Mas acho que teve uma
matéria, não estou lembrando qual matéria, que a professora pediu, na
primeira aula, pra nós desenharmos e escrevermos um texto: como que a
gente enxergava a escola, a nossa escola [...] no tempo, e a gente relatar
algumas coisas dos nossos passos. [...] Então, a partir dessa discussão, a gente
conseguia levantar temas de como estava a educação até aquele momento.
[...] Então, a gente levantou vários temas, e em cada aula, nós discutíamos
sobre um assunto que foi levantado. A infraestrutura na escola [...] Outro dia,
era como os conteúdos eram aplicados, as matérias, a dificuldade do aluno.
[...] A professora ficou, acho que uma semana, pra pesquisar os textos que
seriam entregues para cada assunto. [...] Então, nós costumamos discutir em
sala sobre o estágio. Nós trazemos uma folha com relatório, relatando tudo
que aconteceu nessa visita, aos professores e educadores aqui da universidade
e também... as nossas experiências que vivenciamos lá. Às vezes é levantado
um tema. Por exemplo, a avaliação. Então ele fala assim: como que vocês
avaliaram os alunos? Vocês perceberam... porque nós aplicamos uma
atividade. [...] E aí tinha a discussão sobre provas: será que a prova é a
melhor forma de avaliar? Será que uma nota D, isso quer dizer que ele
evoluiu que ele aprendeu ou não aprendeu? E aí tem essa discussão contando
que a gente presenciou lá entendeu? Por isso que é importante. [...] Com
certeza. Compartilhar as experiências vividas assim. Isso é bem mais, pra
mim, bem mais valioso do que entregar simplesmente um papel com relatório
do estágio do que aconteceu. [...]
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Guilherme
É, acho que foi a única coisa que marquei como ponto alto: diálogo. Sempre
que eu marquei uma contribuição alta foi assim, estágio, observação,
discussão, [...] Discussão eu marquei sempre alto.
Renato
Quando eu fiz POEB foi quando entrou o novo ENEM. Então a gente
comentava bastante sobre como que a escola estava lidando com isso, né?
Porque a gente sentia que [...] muitas escolas estavam vendo como uma
oportunidade de ser uma nova prova Brasil, um novo SARESP, pra aumentar
o nível da escola. Então, eles passavam quase o ano inteiro dando simulado
de ENEM. O ENEM foi em outubro por aí, novembro, você via desde junho,
maio, agosto, tudo é simulado de ENEM. Daí entrar nessa... discutir um
pouco isso, né. Por que a escola faz esse tipo de coisa? [...] A gente começava
a discutir se é uma decisão razoável, se não é, se cabe no ambiente de ensino
público ou não. Porque acaba que o ENEM, por mais que ele esteja
aprimorando, ele não é uma prova completa. Não trabalha todas as coisas que
você trabalha na escola só no ENEM. [...] O que isso vai significar para a
escola? O que que o indicador vai fazer com a escola. Vai melhorar? Vai
trazer mais aluno? Vai trazer mais financiamento? O Estado vai olhar pra esta
escola e vai falar: olha tá com nota boa então não precisa investir mais nela.
[...] Ou não? Então, era uma questão mais específica que a gente discutiu
bastante e que era da realidade das escolas, né.
De forma complementar, os dados de observação e dos depoimentos dos futuros
professores indicam a existência de um importante e rico movimento de reflexão no
curso, relacionado, não só às atividades de estágio, mas também aos saberes
experienciais, seja promovido pelos professores responsáveis pelas disciplinas de
estágio, ou pelos próprios alunos.
A interação, o falar sobre a experiência, a socialização da experiência, o
compartilhamento, apresentam-se como elementos importantes dos processos
formativos vivenciados pelos futuros professores. Fica evidente, nesses depoimentos, a
importância de uma reflexão compartilhada, de processos interativos, para que a
reflexão tenha uma maior contribuição.
Vale observar que se trata de uma reflexão mobilizada pelo fato de os alunos,
futuros professores, aproximarem-se da realidade profissional docente, com questões
relativas ao seu futuro profissional. Em algumas situações, suas experiências e saberes
foram problematizados e estudados. A reflexão desenvolvida parece ter trazido novos
elementos aos futuros professores no sentido de os levarem a se recolocarem diante das
experiências ou dos saberes, ou a ressignificarem saberes e experiências e, com isso,
construírem possibilidades de superação de problemas aí identificados. Até que ponto
esse movimento se estende às diversas disciplinas que têm estágio em sua carga
horária? Até que ponto os vários professores responsáveis por essas disciplinas têm
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usufruído dessas possibilidades formativas do estágio, buscando e trazendo elementos
que contribuam com as reflexões, o entendimento e a construção de alternativas para os
problemas encontrados na realidade profissional docente?
A concepção de professor intelectual crítico reflexivo considerada nesta
pesquisa, bem como a sua formação, são fundamentadas na epistemologia da práxis
(PIMENTA, 2008; GHEDIN, 2008) e tem a reflexão como categoria fundante. Trata-se
de uma reflexão crítica subsidiada pela teoria, que permite aos professores avançarem
num processo de transformação da prática pedagógica, mediante sua própria
transformação, como ressalta Ghedin (2008). Trata-se de uma reflexão que proporcione
aos professores condições de desenvolver um conhecimento sobre o ensino, que o leve a
reconhecer e questionar sua natureza socialmente construída e o modo pelo qual se
relaciona com a ordem social, bem como analisar as possibilidades transformadoras
implícitas no contexto social das aulas e do ensino, conforme Contreras (2002). Uma
reflexão cujo movimento envolve simultaneamente ação e reflexão, envolve uma
imbricação da teoria com a prática, ou seja, efetivação da relação entre teoria e prática.
A reflexão, nesses termos, não se dá no vazio, não é uma reflexão em si, mas uma
reflexão envolta na teoria e na prática, que transita entre esses espaços, proporcionando
a transformação tanto de um como de outro, da prática, da teoria e do próprio sujeito
que a desenvolve. Uma reflexão assim exige uma aprofundada formação teórica que dê
condições ao sujeito de promover mudanças em seu fazer pedagógico, se assim o
desejar.
Na perspectiva de formação aqui considerada, o movimento de problematização,
reflexão e construção de alternativas para os problemas da realidade profissional
docente, promovido pelo professor formador, é um movimento que envolve o próprio
professor formador, que se dispõe a ver de perto esses problemas, buscando estudá-los,
entendê-los, analisá-los e construir alternativas para sua superação. Nesse caso, esse
professor não ouve os alunos apenas para se manter informado sobre o que acontece na
realidade das escolas, mas para junto com eles pesquisar sobre o que acontece nessa
realidade. Ou seja, para conhecer e se apropriar da realidade escolar.
Segundo Pimenta e Lima (2010), todas as disciplinas do curso de formação são
responsáveis por trazer elementos que contribuam para as reflexões, o entendimento e a
construção de alternativas para os problemas encontrados na realidade profissional
docente. Todas são, ao mesmo tempo, ―teóricas‖ e ―práticas‖, na medida em que podem
(e devem) oferecer conhecimentos e métodos para esse processo reflexivo. Os futuros
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professores estão, mesmo que ainda numa perspectiva de senso comum, em alguns
momentos, a indicar esse caminho como essencial para a formação.
Nessa perspectiva, o estágio deixa de ser a ―hora da prática‖ para tornar-se uma
atividade teórico-prática, um espaço/tempo em que a teoria é indissociável da prática. O
estágio passa a ser, ao mesmo tempo, uma atividade teórica de conhecimento,
fundamentação, diálogo e intervenção na realidade prática. Essa perspectiva de estágio,
de formação, é uma demanda, que, a meu ver, está claramente colocada pelos alunos da
Licenciatura em Matemática que desejam ser professores. E como a docência, conforme
os dados da pesquisa, não está descartada para a grande maioria desses alunos, a
reflexão sobre as atividades desenvolvidas durante o estágio, mais do que qualquer
outra atividade, aumenta a probabilidade de que esses alunos venham a assumir
profissionalmente a docência.
Entretanto, contraditoriamente, em alguns momentos, apesar da explícita
intenção, de algumas disciplinas, de desenvolver as atividades de estágio articuladas
com as atividades desenvolvidas em sala de aula, pelo professor da escola-campo de
estágio, essa articulação, muitas vezes, fica restrita ao exercício de buscar identificar o
que os professores gostariam de trabalhar com seus alunos, sem uma problematização e
um processo de reflexão fundamentado teoricamente, para ressignificação das demandas
e mudança de fato das práticas escolares. Assim, o estágio acaba sendo desenvolvido
numa perspectiva ainda aplicacionista, de forma justaposta às atividades do professor da
Educação Básica, sem interagir com elas. Nesse sentido, cabe perguntar: como
incorporar às disciplinas responsáveis pelo estágio, um movimento de problematização,
investigação, reflexão, produção de conhecimento sobre o ensinar e aprender
Matemática, a partir da realidade encontrada nas escolas? Como trabalhar com os
futuros professores, ou já professores, na perspectiva do entendimento da docência
como práxis? São questões a serem consideradas no projeto político-pedagógico do
curso.
4 Considerações Finais
A prática educativa tem relações com o que acontece em outros âmbitos da
sociedade. O processo reflexivo proporciona o entendimento das relações entre o que
acontece na prática educativa e os seus determinantes externos. Nos estágios, os futuros
professores e os professores formadores têm oportunidade de se depararem com a
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complexidade que caracteriza o cotidiano das escolas, e isso faz surgir oportunidades de
refletir criticamente sobre essa realidade, de entender os seus determinantes, de
compreender a complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas e de
construir alternativas para os problemas que aí se apresentam.
Os dados e análises aqui apresentados evidenciam que as disciplinas
responsáveis pelo estágio, que o desenvolvem com atividades que propiciam reflexão,
buscando a unidade entre teoria e prática, contribuem fortemente para a formação dos
futuros professores. O estágio curricular supervisionado, como parte essencial do
processo formativo no contexto da formação inicial universitária dos professores da
Educação Básica, apresenta-se como um lugar privilegiado para efetivar a relação entre
teoria e prática na formação.
Conclui-se que, o estágio supervisionado do Curso de Licenciatura requer, para
configurar-se como um processo formativo mais significativo, ser amparado por um
projeto político pedagógico que, dentre outros aspectos, promova a ampliação dos
espaços de reflexão sobre as atividades desenvolvidas durante o estágio, o
desenvolvimento de processos e atividades pautados em relações sociais coletivas,
colaborativas e dialógicas e, viabilize um diálogo crescente entre a escola de Educação
Básica e a universidade.
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3218ISSN 2177-336X
25
A PARCERIA ENTRE COMUNIDADE E UNIVERSIDADE NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES COMPROMETIDOS COM A JUSTIÇA
SOCIAL
Camila Itikawa Gimenes
Universidade de São Paulo (USP)
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação de Educadores – FEUSP (GEPEFE)
Agência Financiadora: FAPESP
Resumo
Este texto insere-se no campo de formação de professores e toma como ponto de partida
a necessidade de construção de novas relações com diversas audiências e do
compromisso com as classes menos favorecidas, que são justamente as que
majoritariamente financiam a universidade e a escola públicas. Assim, entende-se que
não apenas a relação entre escola e universidade, mas também a relação dessas
instituições com a comunidade seja fundamental para a formação de professores
pedagogicamente comprometidos com a transformação da realidade injusta e desigual.
No escopo desta pesquisa, enfocamos a relação entre comunidade e universidade na
formação inicial. Primeiramente, discutimos e problematizamos o conceito de
comunidade, reconhecendo a necessidade de superar os riscos de fragmentação das lutas
sociais e da desresponsabilização do Estado que determinadas compreensões do
conceito podem induzir. Em seguida, apresentamos dois exemplos de cursos de
formação inicial docente que tomam a relação com a comunidade como eixo
estruturante de seus projetos políticos pedagógicos: a) no Brasil, o curso de licenciatura
em Ciência da Universidade Federal do Paraná - Setor Litoral, b) nos Estados Unidos, o
Programa de Formação de Professores da Universidade de Washington, Seattle. A partir
dessas experiências discutimos as contribuições da relação entre comunidade e
universidade para a formação de professores, em especial, ao que diz respeito à
superação da descrença na formação universitária e o combate à ideia de crise da
educação pública, de modo que os resultados se dão em uma via de mão dupla: a
conscientização no processo de formação dos futuros professores e o empoderamento
das comunidades locais.
Palavras-chave: Comunidade; práxis docente; formação de professores.
1 Introdução
Há um intenso e crescente debate sobre a formação de professores nas políticas
públicas educacionais e nos discursos sobre qualidade da educação em âmbito nacional
e internacional, marcado por um contexto de avanço do neoliberalismo, gerencialismo e
conservadorismo. A relação direta entre formação de professores e qualidade da
educação, e entre atuação do professor e resultado dos alunos em avaliações de larga
escala tem sido enfaticamente defendida por amplos setores ligados a grupos
empresariais e apoiados pela grande mídia a fim de responsabilizar os professores (com
consequente desresponsabilização da estrutura e contexto no qual o trabalho docente se
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insere) com a justificativa de falência da educação pública, abrindo espaço para a
entrada de serviços privados na educação (venda de sistema apostilado, prestação de
serviços de ONGs, até mesmo terceirização da gestão [ADRIÃO et al., 2009]).
Nessa construção ideológica sobre a falência da educação pública – que ignora a
discussão sobre financiamento-, afirma-se que as universidades não sabem formar
professores, são excessivamente e mesmo exclusivamente teóricas, e que esse sistema
precisa ser substituído por uma alternativa baseada na desregulamentação, competição e
mercado. O avanço do setor privado e do capital à educação tem se concretizado a
novos níveis, que obscurecem os limites entre público e privado, de modo que o
principal interlocutor do governo em matéria educacional é o empresariado organizado
no movimento ―Compromisso Todos pela Educação‖. A mensagem que subjaz a essas
medidas é clara: os professores fracassaram e as universidades públicas são
responsáveis por isso (LEHER, 2010).
Esses discursos buscam construir um contexto de crise que crie um ambiente
favorável para a transformação da educação em mercadoria, abrindo o campo
educacional para os investimentos lucrativos do setor privado. Para o enfrentamento
dessa crise em que se questiona a identidade e a legitimidade da universidade e da
escola públicas, é essencial que se construam novas relações com diversas audiências,
não só com os ricos e os poderosos, mas também com os fracos e os subjugados, para
desenvolver o debate público sobre os objetivos e a direção da sociedade; é necessário
que a universidade – e a formação de professores – se comprometa com as classes
subalternas que a financia (BURAWOY, 2015).
Consideramos esse contexto de crise da educação pública fundamental para
compreender os atuais debates sobre formação de professores, campo no qual essa
pesquisa se insere. Para superar essa crítica superficial e interesseira, concordamos com
Burawoy (2015) na necessária e urgente construção de novas relações, em especial,
aquelas com as classes menos favorecidas, que garantam a conexão entre formação e
realidade, possibilitando que a prática social seja tanto ponto de partida quanto critério
de verdade dos ensinamentos teóricos e práticos dos cursos universitários. Diante desse
quadro, entendemos que a necessidade da articulação entre escola, comunidade e
universidade é pedagógica, como também é política, pois é no interior dessa relação
com diferentes sujeitos e instituições que se pode desenvolver a formação de
professores pedagogicamente comprometidos com a transformação da realidade injusta
e desigual.
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Enquanto o papel das escolas é amplamente discutido e reconhecidamente
essencial para a preparação de futuros professores, o papel das comunidades e o
conhecimento que nelas existe também é fundamental na formação de professores. Essa
última questão geralmente constitui uma lacuna nas discussões sobre a formação
docente (ZEICHNER; PAYNE; BRAYKO, 2015). Por isso mesmo, voltamos a
discussão aqui proposta para esse ponto. Damos especial atenção à questão de quem é o
conhecimento que conta na formação de professores.
Há uma variedade de esforços em desenvolvimento a fim de mudar
significativamente aspectos da formação inicial docente na direção de uma maior
articulação da formação de professores com as escolas e comunidades, bem como do
fortalecimento dos estágios (ex.: MATSKO; HAMMERNESS, 2014; ZEICHNER;
BIER, 2013; PIMENTA, 2010; GÓMEZ ZERMEÑO, 2010; SANDLER, 2009; SILVA,
2008; DINIZ-PEREIRA, 2005; MURRELL, 2001). Nessa direção, apresentamos duas
experiências, uma nacional e outra internacional, de formação inicial comprometida
com a perspectiva que sinalizamos nesta Introdução.
Primeiramente, discutiremos o conceito de comunidade e suas contribuições para
a formação de professores e, em seguida, apresentamos as duas experiências de
programas de formação inicial que trabalham em articulação às comunidades nas quais
os futuros professores desenvolverão atividade docente: a) no Brasil, o curso de
licenciatura em Ciências da Universidade Federal do Paraná - Setor Litoral, b) nos
Estados Unidos, o Programa de Formação de Professores da Universidade de
Washington. Por fim, apresentamos as considerações finais, em que buscamos acalorar
o debate sobre a necessidade da universidade, em especial a formação de professores,
firmar novas relações com sujeitos e instituições tradicionalmente ausentes nessa esfera,
em especial, aqueles das classes menos favorecidas, que são os principais financiadores
da estrutura universitária e, justamente, os que menos usufruem de tal estrutura.
2. O que é comunidade?
Um grande desafio ao se falar sobre comunidade é definir o que se compreende
por ela. Esse é um conceito polissêmico e ambíguo; enquanto ―[...] pode ser entendido
como um elemento fundamental do contexto ou ambiente, o seu significado é
complexo, contestado, repleto de ambiguidades e suposições‖ (LYNN, 2006, p. 111). A
complexidade desse conceito é expressa nos diferentes significados que o termo pode
assumir. Por exemplo, pode ser compreendido como lugar, fonte de identidade pessoal e
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cultural, contexto social, símbolo, ideologia, grupo-alvo, problema, mercado,
espectadores, o público, fonte de financiamento, recurso, legitimador (real ou
imaginário), não-instituição, não-governamental, terceiro setor, técnica de governança,
forma de governar que regula à distância, aquilo que é específico a um grupo, dentre
outras possíveis interpretações (LYNN, 2006).
Diante da multiplicidade de significados conferidos a esse conceito, assumimos
o risco de incompletude e contingência, entendendo que comunidade é um conceito em
construção, e apontamos alguns pontos que consideramos fundamentais para sua
discussão. Uma primeira consideração diz respeito ao aspecto de coletividade que,
como fenômeno vinculativo humano, revela a presença incontornável do outro (um
além de mim), e desperta a condição originária dos indivíduos de ser-uns-com-os-outros
(YAMAMOTO, 2013). Ainda, a noção de comunidade é um meio importante que
conecta os indivíduos a instituições sociais de modo a contribuir para a construção da
noção de público (COLLINS, 2010). Outra dimensão essencial para se entender esse
conceito refere-se ao seu caráter de resistência; quando se trabalha com o
desenvolvimento da comunidade, é necessário que esteja muito claro que se está em
oposição ao discurso dominante, e que a resistência deve ser parte da estratégia (LYNN,
2006).
Dessa forma, entendemos a comunidade como um espaço local de luta global,
como reconhecimento de grupos específicos em que se busca superar a noção de
identidades – pois identidades ―sejam políticas ou psicológicas, sempre são construídas
no interior de relações assimétricas de poder, e, por isso, são expressões de estratégias
de defesa ou de dominação‖ (SAFATLE, 2015, p. 98) –, que se organiza com base na
solidariedade e resistência das classes menos favorecidas. Entretanto, é importante
destacar que há outras formas de compreensão do conceito que buscam esvaziar seu
fundamento classista. Nessa direção, Bauman (2003) nos alerta para a necessidade de
que a luta por reconhecimento de comunidades esteja conectada à luta pela
redistribuição, e Fraser (1999) alerta para o perigo da separação indiscriminada das
políticas culturais da diferença em relação às políticas sociais de igualdade. Esses
autores entendem que o objetivo final das lutas por reconhecimento é a universalidade
da humanidade, que só podem ser alcançados através da luta pelas diferenças culturais e
igualdade de condições materiais de vida.
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De modo geral, apoiamo-nos em Bauman (2003) e Freire (2011, 1991), pois nos
ajudam a compreender a comunidade em relação ao empoderamento de um coletivo de
sujeitos de uma mesma territorialidade e mesma classe social, que compartilham
determinadas condições existenciais, a fim de resistir à dominação, exploração e
expropriação dos meios de vida.
3 Por que comunidade na formação de professores?
Tendo em vista a potencialidade da comunidade como possibilidade de
desenvolvimento de coletividade e resistência, como local de produção de saberes e de
reivindicação de reconhecimento de grupos sociais, e ainda da territorialidade à qual
escola e universidade inserem-se, esse conceito aponta possibilidades para a formação
de professores. Há evidências empíricas sobre essa contribuição como fundamento para
que os futuros professores estejam preparados para engajar-se no contexto econômico,
político e social da escola onde irão trabalhar (que pode ser bastante diferente do
contexto de onde são provenientes) e para ensinar de maneira culturalmente responsável
e comprometida com a justiça social (ZEICHNER; BIER, 2013; FREIRE, 2011, 1991;
MURRELL, 2001).
Estas experiências têm variado muito em seus propósitos e nas atividades em
que os futuros professores estão envolvidos. Por exemplo, algumas experiências
concentraram na aprendizagem em serviço ou em compreender como os alunos
aprendem fora do ambiente escolar, enquanto outras têm enfatizado a aprender sobre os
recursos e as práticas disponíveis na comunidade para que os futuros professores
possam ensinar de modo culturalmente responsável. Essas experiências podem ser de
curto prazo em um único curso ou uma visita a uma comunidade; ou podem ser mais
longa e mais intensa, podendo ser pensada como imersão dos futuros professores nas
comunidades locais. Alguns programas são eletivos; outras experiências comunitárias
são partes curriculares dos programas de formação de professores para além dos
estágios escolares (ZEICHNER; BIER, 2013).
O pressuposto é um trabalho colaborativo, apoiado na relação horizontal entre
pessoas oriundas de diferentes instituições que se reúnem para buscar soluções a
problemas comuns. Como resultado, há um aumento de complexidade do modelo
formativo de tríade do estágio na formação de professores: professor da universidade,
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professor da educação básica, e licenciando - para o desenvolvimento de uma rede de
práticas. O objetivo é formar um professor que possua conhecimento contextualizado da
cultura, da territorialidade e da identidade das crianças e famílias a quem ele serve e que
se baseia nesse conhecimento para desenvolver práticas significativas para ensinar em
situações diversas (MURRELL, 2001).
Entendemos que a formação docente possui a atividade teórica (conhecimento
da realidade e definição de finalidades) em relação à atividade docente como dimensão
dominante da práxis do futuro professor (PIMENTA, 2010). A teoria é dominante na
dialética entre teoria e prática na formação docente uma vez que o processo formativo
tem como objetivo central o avanço da consciência do futuro professor, ou seja, a
elevação de sua consciência para a realização da atividade docente. Para tanto, a
formação de professores deve partir da Pedagogia como ciência prática da e para a
educação, como teoria científica que revela ao educador a realidade da prática e se torna
orientação para a sua futura práxis (SCHMIED-KOWARZIK, 1988). Ou seja, é
necessário assumir que um curso de licenciatura não é a prática docente em si, mas é a
teoria sobre a prática docente, aproximação e inserção à prática docente, e práxis
formativa para a futura prática docente. Para tanto, deve tomar a realidade objetiva
como ponto de partida e critério de verdade da teoria que constitui seu currículo, assim
como possibilitar experiências de aproximação e inserção na realidade escolar e na
comunidade em que ela se situa, sendo que aí o estágio é constituído como o eixo
estruturante de todo processo formativo.
Entretanto, isso não significa aceitar qualquer demanda da comunidade sem
questioná-la. Zeichner (1991) alerta para riscos nesse processo: as demandas da
comunidade poderiam negar o papel pedagógico da escola e, por exemplo, desejar que
os professores enfatizassem a memorização, a obediência absoluta à autoridade, e a
disciplina punitiva. Um segundo perigo, para o autor, é o caso em que os desejos que a
comunidade defende para a sua escola entram em conflito com os princípios de uma
sociedade democrática, reprimindo pontos de vista ou discriminando certos grupos de
pessoas. Para evitar esses dilemas, o autor argumenta que é necessário que se tenha
claro o processo democrático que se deseja preservar e os direitos de todos dentro de
uma sociedade democrática. Para isso, é imperativo que essa construção seja negociada
com a comunidade, construída com ela e não para ela. Esses dilemas, longe de
inviabilizar tal parceria, ressaltam o caráter contraditório da ação educativa e, por isso
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mesmo, a possibilidade de uma educação contra-hegemônica dentro do sistema
educativo formal.
4 Experiências de formação inicial de professores em parceria com comunidades
Com base na perspectiva educativa descrita acima, apresentamos duas
experiências em duas realidades distintas de programas de formação de professores
intimamente ligados com as comunidades onde se inserem. Entendemos que a
divulgação, análise e crítica de experiências contra-hegemônicas é essencial para
mapear a criação de alternativas, a fim de aprender a construir alternativas educacionais
totalmente democráticas (APPLE; AU; GANDIN, 2011). Para tanto, o desenvolvimento
desta pesquisa se deu com abordagem qualitativa e contou com observações in loco nos
programas investigados e análise documental como estratégias metodológicas.
a) Licenciatura em Ciências na Universidade Federal do Paraná - Setor
Litoral
A UFPR Litoral foi fundada em 2005, fruto do Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), que estimulou a
promoção de inovações pedagógicas.1 O Setor Litoral localiza-se em uma região de
turismo sazonal e predatório, ficando baixamente povoada entre os meses de março a
dezembro, além de ser uma localidade onde era ausente o ensino superior público e de
qualidade. Atualmente oferece quinze cursos de graduação – sendo quatro licenciaturas:
Artes, Ciências, Linguagem e Comunicação, e Educação do campo -, sete cursos de
especialização, e um curso de mestrado. O objetivo é atender à demanda de formação
profissional da comunidade local para atuar em prol do desenvolvimento regional, que
apresenta fragilidades social, econômica, ambiental e educacional, ao mesmo tempo em
que abriga um significativo patrimônio natural, histórico-cultural e potencial
econômico.
Para atingir esse objetivo, a proposta pedagógica do Setor Litoral é
fundamentada em projetos e desenvolvida junto às comunidades locais numa concepção
de Educação Emancipatória, o que propicia uma forte interação entre a comunidade da
universidade e a comunidade litorânea na construção do desenvolvimento regional. A
reflexão sobre a realidade concreta como a principal fonte de conhecimento em diálogo
com o conhecimento sistematizado é o fundamento do Projeto Político Pedagógico
(PPP). Os cursos apresentam uma estrutura que não está organizada em disciplinas
acadêmicas tradicionais, em vez disso, estabelece um currículo por módulos com três
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componentes interdisciplinares: Fundamentos Teóricos Práticos, Integração Cultural e
Humanística, e os Projetos de Aprendizagem. Obedecendo a esse princípio, o PPP
articula seu currículo em três grandes fases: 1) conhecer e compreender; 2) compreender
e propor; e 3) propor e agir. Essa organização curricular, por sua vez, é pautada por
princípios que envolvam: a) o comprometimento da Universidade com os interesses
coletivos; b) a educação como totalidade; c) a formação discente pautada na crítica, na
investigação, na pró-atividade e na ética, capaz de transformar a realidade.
A licenciatura em Ciências é ofertada desde 2008, como modalidade presencial,
com duração mínima de quatro anos, no período noturno e com carga horária total de
3.360h. Desde o primeiro semestre do curso, os licenciandos estão envolvidos em
estágios em estreita relação com a comunidade local e escolas públicas. Os futuros
professores são simultaneamente envolvidos em um projeto de pesquisa que se baseia
em um fenômeno local e é desenvolvido em parceria, novamente, tanto na comunidade
como nas escolas públicas. Por exemplo, o projeto de aprendizagem de Joana está
relacionado com sua experiência como pescadora e com o conhecimento científico do
curso3. Ela desenvolve seu projeto de aprendizagem a partir de seu estágio na escola:
A prática fora da sala de aula é um aprendizado muito grande. [...] O meu projeto de
aprendizagem é uma pesquisa de transformar tudo que é resíduo de peixe que eu
trabalho em adubo, porque é jogado do mercado de peixe em aterro sanitário e eu
como pescadora, desde antes de entrar na universidade, porque eu já trabalhava com
isso, eu sempre tive essa ideia de usar esse resíduo orgânico para alguma coisa. E
dentro desse projeto de arborização [realizado em parceria em uma escola, como
atividade pedagógica com os alunos da escola] eu utilizei o adubo com as mudas na
escola. [...] porque não é feito nada até agora com o resíduo. É um estudo a longo
prazo, e por eu estar inserida na comunidade, é uma coisa que eu sempre pensei em
fazer.
É importante salientar que para alcançar os objetivos pedagógicos há também
uma estrutura coletiva do curso. O grupo de professores formadores e alunos discutem
aspectos pedagógicos e administrativos do curso, do currículo, e do quadro institucional
na Câmara Técnica Interdisciplinar e na Câmara do Curso de Ciências. Este é um
espaço de reflexão e tomada de decisões coletivas, como também é um espaço para
partilha e discussão das práticas dos professores formadores. A Câmara se reúne a cada
duas semanas e conta com a participação de professores com formação nas áreas
específicas do curso e professores de áreas afins e/ou transversais, a fim de romper com
as reuniões departamentais tradicionais organizadas de uma forma disciplinar com a
finalidade de favorecer o desenvolvimento de um perfil docente que supera o
academicismo, o cientificismo e a rigidez curricular (KELLER-FRANCO, 2014).
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A relação institucionalizada entre escola, comunidade e universidade, que se
torna enraizada tanto na cultura institucional como nas estruturas organizacionais e
legais institucionais, não só garante estabilidade para essas relações, mas também
direitos a todos os envolvidos (professores, ativistas, agentes comunitários, estudantes
da educação básica, licenciandos). Ressaltamos a necessidade de aprofundar e
institucionalizar a relação entre as escolas e, em particular, as comunidades a fim de
assegurar relações mais estáveis e duradouras, e evitar relações baseadas na boa vontade
dos indivíduos e, atualmente, a relação com as comunidades é o elemento mais fraco da
estrutura curricular.
b) O Programa de Formação de Professores da Universidade de Washington
Nos Estados Unidos, não há regulamentação federal sobre como a formação de
professores deve ser ou onde ela deve acontecer. Naquele país, há uma variedade de
caminhos que levam a formação tanto para dentro como para fora de faculdades e
universidades (FRASER, 2007). O Programa de Formação de Professores para Ensino
Fundamental II e Ensino Médio ofertado pela Faculdade de Educação da Universidade
de Washington (UW) campus Seattle tem a duração de um ano com aulas em tempo
integral (manhã, tarde e noite) e em nível de mestrado.
O Programa é organizado em quatro trimestres, tendo início em abril. Há cinco
escolas parceiras, localizadas em áreas pobres da cidade. A justiça social é um dos
conceitos que fundamentam esse programa; é importante desde a seleção dos candidatos
até o desenvolvimento dos cursos e práticas ao longo do processo formativo. O
programa é organizado em um engajamento crescente dos futuros professores no
trabalho com as escolas.
No primeiro trimestre, os cursos são em sua maioria realizados na universidade,
e os candidatos têm algumas viagens de campo e observações nas escolas. Os cursos
baseados nas escolas crescem ao longo do Programa, com a consequente redução de
cursos na universidade. Alguns dos cursos de metodologia e fundamentos são
lecionados nas escolas públicas parceiras, e os professores buscam articular práticas
acadêmicas e escolares. No último trimestre, os futuros professores assistem a aulas na
UW apenas uma noite por semana; durante manhã e tarde eles acompanham as
atividades de um professor colaborador da educação básica, incluindo as reuniões com
equipes pedagógicas e as atividades de desenvolvimento profissional.
Além dessa intima articulação com as escolas, há esforços desse programa na
direção de incluir uma série de experiências e estágios com as comunidades. Em cada
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trimestre, o trabalho com a comunidade é relacionado com um curso e um estágio
específicos. A parceria com a comunidade é construída através da atuação de diferentes
sujeitos da comunidade (organizações comunitárias, movimentos sociais, membros,
líderes, ativistas dessas comunidades) que atuam como co-formadores dos futuros
professores. O Programa possui uma estrutura institucional, o Comunidade-Família-
Políticas (CFP) que consiste em um conjunto de 3 cursos, distribuídos ao longo desse
um ano de formação, e que abriga as experiências com a comunidade desse Programa.
São muitas as atividades propostas pela CFP ao longo do Programa: painéis com
familiares de estudantes de escolas públicas; formação para realizar visitas à
família/casa; fóruns com representantes da comunidade; lista de ações.2 Essas e outras
experiências têm proporcionado conhecimentos que podem contribuir para práticas
docentes culturalmente mais relevantes, e apoiar o desenvolvimento de um professor
comprometido com o bairro onde trabalha (ZEICHNER; BIER, 2013).
5 Considerações Finais
Os dois exemplos apresentados neste texto apontam para a possibilidade de unir
diferentes atores na formação de professores: a universidade, a complexidade das
escolas onde os futuros professores vão trabalhar e a comunidade onde os processos de
ensino e aprendizagem têm lugar. O trabalho em um ambiente de parceria, não-
hierárquico e democrático implica em repensar a epistemologia que fundamenta a
formação de professores, questionando a nossa própria concepção do que é
conhecimento. A fim de avançar na compreensão e no desenvolvimento de estruturas
necessárias para essa formação de professores são necessárias pesquisas futuras.
Essas experiências nos mostram que a articulação entre comunidade e formação
de professores contribui para a promoção da práxis nesses cursos, uma vez que não só
aproxima os futuros professores de seu futuro campo de ação, a escola em seu contexto
(PIMENTA; LIMA, 2012), como também os insere em relações sociais mais amplas às
quais estão conectados, de modo a promover sentido a essa formação, ao captar a
totalidade da atividade docente. Assim, é possível superar a descrença na formação
universitária e combater a ideia de crise da educação pública, de modo que os resultados
se dão em uma via de mão dupla: a conscientização no processo de formação dos
futuros professores e o empoderamento das comunidades locais. Se vivemos em um
mundo onde forças globalizantes dão o tom de políticas, da cultura e de nossas vidas, o
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empoderamento local é uma estratégia que pode combatê-las e obter conquistas na
promoção da justiça social.
Notas
1 A pesquisa de doutoramento de Couto (2013) toma o campus Litoral como objeto de pesquisa e o define
como inovador porque redefine a relação com o saber e, por isso, pensa o currículo no eixo da
interdisciplinaridade e/ou transdisciplinaridade, com vivências extracurriculares para os estudantes;
rompe as barreiras entre saber científico/popular, ciência/cultura, teoria/prática; produz coletivamente
entre professores, funcionários e alunos metodologia de ensino para dar conta dos processos inovadores
de lidar com o conhecimento.
2 Os futuros professores recebem uma lista de ações e devem escolher uma para realizar em um trimestre.
Dentre essas ações, eles podem escolher em visitar uma organização comunitária local, onde os alunos
realizam atividades no contra turno da escola e discutir com a equipe a melhor forma de trabalharem em
conjunto; realizar chamadas telefônicas para as casas de uma comunidade a fim de abrir um canal de
comunicação com as famílias; participar de reuniões do conselho escolar do bairro onde eles realizam
estágio para aprender sobre as questões políticas prementes.
3 Entrevista realizada em 2013 com aluna do quinto período de Licenciatura em Ciências. O nome da
aluna foi alterado a fim de garantir anonimato.
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