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Parecer dissertação Boa tarde a todos e a todas. Agradeço o convite da professora Ilza e da Eutalita, é uma honra fazer parte da avaliação deste trabalho. A dissertação Meio ambiente no telejornalismo: efeitos de sentido sobre preservação no Nordeste Viver e Preservar, discute a crise ambiental que incide sobre a sociedade contemporânea e a relação homem-natureza. Faz isso a partir do objeto discursivo: o dizer jornalístico de preservação deste programa de televisão. O texto da dissertação é bem organizado, não encontrei problemas graves. Uma repetição de parágrafo semelhante e citação idêntica nas páginas 29-30. Mesmo tendo este cuidado com o texto, que vemos claramente no resultado do volume entregue à banca, indico mais uma revisão para detectar alguns pequenos detalhes de espaçamentos que passaram e recuos de parágrafo. Também dar uma olhada na padronização das citações dos autores, apenas pelo sobrenome. No resumo, substituir materias para reportagens. O estilo do texto é de leitura fluída, com clareza, que leva o leitor pelo caminho do discurso estudado, traz as sequências e discute a materialidade do discurso sem quebras de leitura. Ao mesmo tempo, não é exagerado em descrições ou análises, ao contrário, é bastante objetivo. *** Agora vou tecer comentários sobre o conteúdo da dissertação, e em alguns momentos buscar um diálogo com o que foi colocado no texto. Deixo claro que os questionamentos são diálogos que percebi a partir do trabalho, já que em minha visão, ele se apresenta como uma análise aprofundada sobre o objeto delimitado. Na Introdução, o Jornalismo é trazido como fundamental para a formação da opinião pública, no que concordo inteiramente. Na página 13, terceiro parágrafo, diz que a OP “tem papel expressivo enquanto mediadora”, me fez pensar que seria interessante ponderar que a própria opinião pública tem seus problemas. Para muitos estudiosos, trazidos especialmente ao diálogo por Habermas, esta OP é construída como um elemento de controle, geralmente estabelecido pela elite, e claramente influenciado pela midiatização e pelo enquadramento dos temas. Esse portanto é um grande nó do qual o Jornalismo faz parte, e por isso a importância de se questionar o Jornalismo e a própria opinião pública que não são equivalentes ao pensamento da sociedade como um todo. Eu indicaria esclarecer a frase e indicar mais objetivamente o funcionamento da OP no entendimento da dissertação. E, mais adiante, você afirma que os estudos apontam que educadores tendem a estar baseados no senso comum e na imagem midiatizada, ou seja, podemos pensar que há um fluxo de sentidos que passa pelo Jornalismo, como também pela OP. Esta parte da introdução, aliás, justifica muito bem porque temos que estudar o Jornalismo Ambiental e, como tu demostras de forma

Parecer dissertação mestrado

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Parecer dissertação de Eutalita Bezerra Silva

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Page 1: Parecer dissertação mestrado

Parecer dissertação

Boa tarde a todos e a todas. Agradeço o convite da professora Ilza e da Eutalita, é uma honra

fazer parte da avaliação deste trabalho.

A dissertação Meio ambiente no telejornalismo: efeitos de sentido sobre preservação no

Nordeste Viver e Preservar, discute a crise ambiental que incide sobre a sociedade contemporânea e

a relação homem-natureza. Faz isso a partir do objeto discursivo: o dizer jornalístico de preservação

deste programa de televisão. O texto da dissertação é bem organizado, não encontrei problemas

graves. Uma repetição de parágrafo semelhante e citação idêntica nas páginas 29-30. Mesmo tendo

este cuidado com o texto, que vemos claramente no resultado do volume entregue à banca, indico

mais uma revisão para detectar alguns pequenos detalhes de espaçamentos que passaram e recuos

de parágrafo. Também dar uma olhada na padronização das citações dos autores, apenas pelo

sobrenome. No resumo, substituir materias para reportagens.

O estilo do texto é de leitura fluída, com clareza, que leva o leitor pelo caminho do discurso

estudado, traz as sequências e discute a materialidade do discurso sem quebras de leitura. Ao

mesmo tempo, não é exagerado em descrições ou análises, ao contrário, é bastante objetivo.

***

Agora vou tecer comentários sobre o conteúdo da dissertação, e em alguns momentos buscar

um diálogo com o que foi colocado no texto. Deixo claro que os questionamentos são diálogos que

percebi a partir do trabalho, já que em minha visão, ele se apresenta como uma análise aprofundada

sobre o objeto delimitado.

Na Introdução, o Jornalismo é trazido como fundamental para a formação da opinião

pública, no que concordo inteiramente. Na página 13, terceiro parágrafo, diz que a OP “tem papel

expressivo enquanto mediadora”, me fez pensar que seria interessante ponderar que a própria

opinião pública tem seus problemas. Para muitos estudiosos, trazidos especialmente ao diálogo por

Habermas, esta OP é construída como um elemento de controle, geralmente estabelecido pela elite,

e claramente influenciado pela midiatização e pelo enquadramento dos temas. Esse portanto é um

grande nó do qual o Jornalismo faz parte, e por isso a importância de se questionar o Jornalismo e a

própria opinião pública que não são equivalentes ao pensamento da sociedade como um todo. Eu

indicaria esclarecer a frase e indicar mais objetivamente o funcionamento da OP no entendimento

da dissertação.

E, mais adiante, você afirma que os estudos apontam que educadores tendem a estar

baseados no senso comum e na imagem midiatizada, ou seja, podemos pensar que há um fluxo de

sentidos que passa pelo Jornalismo, como também pela OP. Esta parte da introdução, aliás, justifica

muito bem porque temos que estudar o Jornalismo Ambiental e, como tu demostras de forma

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concreta, sobre o estudo do espaço da televisão, uma importante lacuna de pesquisa. A apresentação

inicial da questão de pesquisa está clara e completa, uma boa introdução ao trabalho.

No Capítulo 2, é feita uma incursão às questões ambientais com foco especial na relação

homem-natureza, e situa de forma correta, em minha opinião, um panorama amplo do momento que

vivemos, em que as transformações são urgentes e necessárias para conter a crise ambiental.

Começando um diálogo com autores pertinentes no campo, como o geógrafo Porto-GONÇALVES,

o que diz sobre a escolha do ponto de vista das tuas análises, já que é um autor do paradigma

sociocrítico, e que traz complexidade ao tema ambiental. Porém, o item 2.1 está focado

praticamente apenas neste autor, e em documentos de organismos internacionais, teria sido

interessante trazer mais algum autor para contraponto ou reforço das ideias.

O destaque do capítulo é o item 2.3, quando temos uma discussão sobre a ecologia profunda

e a ecologia rasa. Traz para o leitor uma reflexão, pois se trata efetivamente de um sistema de

valores que funciona na base da utilidade, do valor da natureza pelo que ela pode sere útil ao

homem. Infelizmente, o sistema capitalista engendra ainda que não só a natureza seja explorada

pelo homem, mas que o homem explore também o outro homem, e assim tudo acaba sendo parte da

ecologia rasa, tudo e todos passam a ter utilidade antes de tudo. Caberia ainda trazer a visão de Boff

(em colaboração a Unger que foi citada no trabalho) de que precisamos de um novo olhar, uma

nova ética, precisamos nos reconhecer como parte de um mesmo ecossistema, para que possamos

cuidar da sustentabilidade da vida.

O Capítulo 3 apresenta de forma objetiva o Jornalismo Ambiental, que é sustentado pelas

ideias da ecologia profunda, e também é uma especialização que está sendo construída, pouco a

pouco, como resultado de esforços de jornalistas interessados na temática. Temos aqui nesta mesa o

exemplo de tenacidade da professora Ilza Girardi, recentemente agraciada com o prêmio Pioneiras

da Ecologia, e que se mantém ativa tanto no NEJRS quanto no PPGCOM ao longo dos anos

influenciando outros jornalistas e também pesquisadores Brasil afora.

Mas voltando à dissertação, ela está calcada numa perspectiva teórica e metodológica bem

situada, a Análise do Discurso de matriz francesa. Este empreendimento foi bem construído,

levando o leitor a entender os vários sentidos que formam a concepção de preservação do programa

observado. A descrição do objeto e do percurso metodológico estão bem colocados. Por uma

questão de preciosismo mesmo, eu indicaria que, na apresentação de unidades comunicacionais do

telejornalismo, sonoras e passagens, cabeça, nota pé (citados na página 41 por exemplo), pudesse

haver uma nota de rodapé para situar, ao público não-jornalista, do que se trata.

Na página 45, por exemplo, há “passagens indescritíveis”? Não sei se concordo com a ideia

de impossibilidade de descrição, mas que a descrição talvez não alcance o tipo de informação

contida no audiovisual. Do ponto de vista da análise de sentidos, o som traz uma memória tanto

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quanto a imagem e o texto falado. Depois, eu entendi que na discussão sobre a materialidade

discursiva, nas análises das reportagens, a questão áudio do audiovisual não retorna. Nas análises,

também teremos o texto falado da reportagem e a imagem. Por isso, eu sugiro retirar os exemplos

“sonoros” da página 45 para não criar uma falsa expectativa em relação às análises que serão

apresentadas.

O desenvolvimento das análises demonstrou profundidade e eu gostei particularmente do

tipo de análise realizada que faz ao longo do texto, um retorno aos princípios já elaborados

teoricamente. O trabalho tem a perspectiva, que eu considero essencial, que é questionar o que está

colocado, e também a ausência, o que não está no discurso. Por ser o discurso formado de

demarcações de lugares e formações discursivas em disputa. E por entender este espaço do discurso

como móvel, movente e não estático - que eu considero que o conceito de sustentabilidade está

sendo disputado, tanto pela corrente da ecologia profunda quanto pela ecologia rasa. E esta disputa

está muito clara no sentido das Formações Discursivas discutidas no trabalho. Por exemplo, na

página 81, você diz que “sustentabilidade está no rol de dizeres de uma corrente conservacionista,

por aliar-se à ideia de utilização dos bens naturais pelo homem”. Mas, a corrente preservacionista

também disputa a sustentabilidade. O que ocorre é que a sustentabilidade está sendo associada cada

vez mais ao discurso institucional de desenvolvimento sustentável, este uma clara falácia

economicista e de formação discursiva Conservacionista.

O trabalho chegou ao final com considerações pertinentes, a partir dos elementos trazidos

durante a pesquisa. A pesquisa portanto tem consistência e qualidade. Nas considerações finais, eu

destaco a menção ao caráter político do Jornalismo, pelo seu compromisso social e pela urgente

mudança que a humanidade deve fazer em suas escolhas. A participação e a cidadania fazem parte

dos valores ecológicos, sustentáveis e que por isso mesmo devem fazer parte do jornalismo

ambiental.

Estão de parabéns, Eutalita e Ilza, pela finalização deste trabalho.

Obrigada mais uma vez.