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PARK a Cidade

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Page 1: PARK a Cidade

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Há pouco mais de cem anos, em 1'350, fi populaçãodo mundo era de Um bilhão de Seres hu.unnos; hoje já

;.ês bilhões, admirind. .-sc que alcançará n cinco bi-lhões alE o fim deste século, .

('onsíderando-sc que pelo menos a metade da po-pllÍa, .' ) atual vive em baixas condiçõcs de higiene c uli-m.:.l!dção, deve-se admitir que o grande desafio de nossotempo consiste em impedir o cre$cimcnto dos contingen-Ics .,' ~bnutridós e famintos dando-Ines condições devida li:.:.,; dignas.

Para isso, é indispensável que se crie, primeiro, umaconsciência ao mesmo tempo aguda e profunda do pro-bkma; o que só agora começa a OCorrer. Há apenas uma,I ',~ada, prestava-se atenção relativamente casual às COn-~'~'1iiêl!;~i!1Sdo crescimento descontrolado da população: (,UO(Üi:1l, havendo um sentimento mais ou menos genera-uzado de que a solução seria dada pelo prob'TCSSO tecno-!:O e científico; hoje, este sentimento está sendo subs-i.r.ndc por uma vaga apreensão, admitindo-se com fran-q.«. ,:.0;:." "quant0 a população Cresce geometricamente,

,li.luçao de alimentos cresce apenas aritmeticamente•:,!".' uma atualidade trágica às velhas e quase esqueci-,bs ','il.JUr.;; malthusianas.

A pablicação deste livro é parte da tarefa de criaçãod~:,;"a consciência do maior problema do nosso tempo.H cuninda trabalhos especialmente escritos por nomes!.;undialmente conhecidos - técnicos, historiadores, cien-ustas, escritores, sociólogos, economistas, naturalistas, nu-rrólogos, físicos, biólogos, ecologistas -proporciona estelivro urna visão ampla do que é preciso fazer e das imen-sas díucaldades - econômicas, psicológicas, religiosas- que terão de ser enfrentadas e vencidas se quisermosrealmente assegurar a sobrevivência da civilização.

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GEORG 5IMMF.LA Metrópole e a Vida Mentol

nonrnr EZRA PARKA Cidade: Sugestões para a Investigaçãodo Comportornento Humano no Meio Urbono

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MAX WEBERConceito e Categorias da Cidade

LOUIS WIRTHO Urhanismo como Modo de Vida

P. H. CHOMBART DE LAUWEA OrfJaniza~ão Social no Meio Urbano

Segundo edição Itm'. EDITORES

Page 2: PARK a Cidade

~fA,CIDADE: SUGESTõES PARA A INVESTI-GAÇÃO DO COMPORTAMENTO HUMANO

NO MEIO URBANO *

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RODERT EZRA PARK

Tradução de SÉRGIO MAGALHÃES SANTEIRO

Segundo o ponto de vista Ideste artigo, a cidade é algomais do que um amontoado de homens individuais e de conve-niências sociais, ruas, edifícios, luz elétrica, linhas de bonde,telefones etc.; algo mais também do que uma mera constela-ção de instituições e dispositivos, administrativos - tribunais,hospitais, escolas, polícia e funcionârios civis de vários tipos.Antes, ~ade é um estado d~ espírito, um corpo de costu-rnes e tradições e dos sentimentos e atitudes organ:zados, fne-rentesaesses costumes e tra mitidos . smoutras' 'pàlãv.:as;-âCiõãaenao .meramente um meçao_ fí-s~co. e uma ~~5ti~ç~2".~!!W~:al..§f~-er!YQjYida..nõ~ ..processosv~tals das pessoas q~e ,ª.,ç9J:g~.m;J.um,.pIoduto..,da.-lWUr.e2a.~, particularmeme.ida natureza bumana

IA C! com wald Spengler observou recentemente,

tem su <cultura própria: 'A cidade é, para o homem civiliza-do, o q é a casa P'! o camponês. Assim como a casa temseus deuses , mbém a cidade tem sua divindade prote-tora, seu santo local. A cidade, como a choupana do campo-nês, também tem suas raizes no solo". 1

Em tempos recentes a cidade tem sido estudada segundoo ponto de vista de Sua geografia, e ainda mais recentemente

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• Em A merican Iournal 01 Sociology, XX (março, 19: 6), Pr>.577-61:2.

, Oswald Spcnglcr, Der Untcrgang ele. Abcndlandcs, IV (Mu-nique, 1922). IO-t.

A CJIJAOIl27

segundo o ponto de vista de ~u{ ecologia. EX:stem forçasatuando dentro dos llmitcs da COm nid ••dc aua _ na ver-dade, dentro dos limites de qualquer rea de h<lbit<lção hu-muna - Iorças que tendem a ocasionar um agrup,HIICI\IO IÍ-pico c ordenmlo de sua população c inst~tuiçüc..<;. A cênciaque procura isolar estes fatores, e descrever as constelaçõestípicas de pessoas e instiluições J>roou,ddas pela operação con-junta de tais forças, chamamos Ecologia llumana, que se \JIS-tinguc da EcoJog:a dos animais e plantas.

Transporte e comunicação, linhas de bonde e telefones,jornais e publicidade, construções de aço e elevadores _ naverdade, todas as coisas que tendem a ocasionar a um mesmotempo maior mobilidade e maior concentração de populaçõesurbanas - são fatores primários na organização ccolúgica dacidade.

Entretanto, a cidade não é apenas uma unidade geográficae ecológica; ao mesmo tempo, é uma unidade econômica. Aorganização eq'nÔmica da cidadebasci, ~e- rfã"'diVJSãé;(Jo' tra-balho. A rriultipl:cação de ocupações e profissões dentro d9Slimites da população urbana é um dos mais notáveis e menosentendidos aspectos da vida citadina moderna. Sob este pontode vista podemos, se quisermos, pensar na cidade, vale dizer,o lugar e a gente, com todos os dispositivos de administraçãoe maquinaria que comp:eendem, como sendo organicamentere'acionada; uma espécie de mecanismo psicofísico no qual eatravés do Qual os interesses políticos e particulare., encontramexpressão não s6 coletiva, mas também incorporada.

Mu'to do que normalmente consideramos COmo a cidade- seu estatuto, organização formal, edifícios, trilhos de rua,e assim por diante - é, ou parece ser, mero artefato. Masessas coisas em si mesmas são utilidades, dispositivos adventí-c'os que somente se tornam parte da cidade viva quando, eenquanto. se interligam através do uso e costume, como umaferrarnente na mão do homem, Com as forças vuaís residentesnos indivíduos e na comunidade.

Finalmente, a cidade é o habita! natural do homem ci0.-tiz.ª-d.9· Por essa razão, ei'ãTWiiãareã-êülTüfãicàracíe-iiúi<Tã--',pelo seu próprio tipo cultural peculiar:

••~ um falo bastante certo, mas nunca inteiramente re-conhecido", diz Spengler, "que todas as grnndcs culrUfaS nas-ceram na cidade. O homem proem'nente da segunda geraçãoé um animal Construtor de cid3des. Este é o critério efetivoda história mundial, distinta da história da humanidade: his-tória mundial é a história dos homens da cidade. As nações,

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cidade enquanto processo, produto da natureza humana
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cidade: cultura própria
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Ecologia Humana
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divisão do trabalho
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0$ Governos, 11 política e Us religiões - todos se apóiam nofenômeno básico tia existência humana, n cidade", '

Até o presente, 11 Antropologia, D ciência do homem, tem-i:: preocupado principalmente com o estudo dos povos primi-I;VOS. Mas o homem clvilizudo é um objeto de investigaçãoifualmente interessante, e ao mesmo tempo sua vida é maisaberta à observação c no estudo .. A vida c a cultura urbanassão mais variadas, sutis c complicadas, mas os motivos fun-damentais são os mesmos nos dois casos. Os mesmos puc.cn-tcs métodos de observação dcspcndidos por antropólogos taiscomo Boas e Lowie no estudo da vida c maneiras do índionorte-americano deveriam ser empregados ainda com maiorsucesso na investigação dos costumes, crenças, práticas sociais,C concepções gerais de vida que prevalecem em Liule Italy, ouno baixo North Side dc Chicago, ou no registro dos [olkwaysmais sofisticados dos habitantes ~e Greenwich Village e da vi-zihança de Washington Square C;ID Nova York.

Estarnos em débito prindpalmente com os escritores deficção em nosso·\:onhcc'mcnto mais íntimo da vida urbana con-temporânea. Mas a vida de nossas cidades requer um estudomais inouisidor e desinteressado do que mesmo o que nos deuEmite Zola nos seus romances "experimentais" e nos anais daIamíl'a Rougon-Macquart.

Precisamos de tais estudos Quando mais não seia paranos habilitar a ler os jornais inteligentemente. O motivo paraque a crônica diária dos jorna's seja tão choc~J ª-º.,mes~.-,terrrtxr t~.9.JmçilJ!,.!~8fa o leitor .nédio. e Que o leitor médioc6nhecep.m\li!.~ ~.~co ã-vldâ"dã"'Zjüa1-õ jOilial é·-o-feg!&ko.. .. ,

Pretendemos eõm'ãs' observações 'éitie'seguem'C'deffn:r umpq!lliL.de....vista e jndicar um programa "p~.!....Q.....§~.wi<L,da....YkhLurbaQ~:."sua .o.cga.ni •.~~o físicaL, suas ocupações e sua cultura.--==----- _.- .'--'--"'--'--'-"" ,>~,-~""",.,~--"~-----,,-,,._,---

, '!S O Pr.N()MENO IJHnANo

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I. A PLANTADA CIDADE E A ORGANIZAÇÃO LOCAL

A cidade, especialmente a cidade americana moderna, sur-preende ao primeiro momento por ser tão pouco um produtodos nrocessos sem artifícios da natureza e do crescimento. ten-do difícil reconhecê-Ia Como urpa entidade viva. A planta ,10terreno da maioria das cidades americanas. por exemplo. é umtabule: ro de xadrez. A unidade de distância é o uuarteirão ,Essa forma geométrica sugerequc a cidade seia uma constru-cão puramente artificial oue ppssive1mente poderia ser separa-da e reagrupada como uma casa de blocos.

- ! 'I Oswald Spengler, Der Untergang de» .-4b.:ondlandcs. IV. 106.

,jil:~;!\."

A verdade, entretanto, é que a cidadc está cnrnizada noshábitos c costumes das essou'l uc LI habtlam. A consC-:Jiién-l:':a t1 que a cidudc possui uma {);g:ulIZ<..Içao filara bem comouma org.ulização física, c estas d\!:ls uucrugcrn mutuamente demodos cilracicrlsticos para se moldarem e modificarem urna aoutra. ê a estrutura da cidade que primeiro nos impressionapor sua vast:d;";o e complexidade visíveis. Mas, não obstantc,essa cst.utura tem suas bases na na! ur,:;t:!!"J~.t..!.!!!.!!!!.'.t1 de que é IJUma expressão. Por outro lado, essa cnorme organização que 11:

se. crigiu em resposta às necessidades de seus hunitantcs, lima J: e I

vez Io.rnada, impõe-se a eles como Um fato externo bruto, e I iU':".,.por seu turno os forma de acordo com o projeto e intcn ..esses ~(teúnela incorporados. Estrutura, c tradicão ~.ãQ a~pcct~ .apeAasx, ct<l&OcJdiferentes de um çaiji...frTêxocultural comum. que determi!:l.! o'lu<:._~~~~ac~«;.~!~t:c~..U:-:~l!.l~.!~,:~~aãc. 1!ffi"'cõnrrastCCo~ avTcla em aldeIa, e a VIda nos campos abertos.- _"-'~-'.-.,-..... -

A planta da cidade. - Por ter a cidade uma vida pro-priamente sua ~ que existe um limite para as modif.caçõesarbitrárias possíveis de se fazer: 1) em sua eSlrutllraê 2) emsua ordem moral. -

Por exemplo, a planta da cidade estabelece 'metas e limi-tes, fixa de maneira geral a localização e o caráter das cons-truções da cidade, e impõe aos edifícios levantados pela ini-ciat.va privada bem corno pela autoridade pública uma arru-mação ordenada dentro da área citadina. Entretanto, dentrodas limitações prescritas, os inevitáveis processos da naturezahumana continuam a dar a essas regiões e a esses ed.fícios umcaráter menos fácil de controlar. Sob nosso sistema de apro-priação individual, por exemplo, não é possível determinarcom antecedência a extensão da concentração da populaçãocapaz de ocorrer em quaquer área dada. A cidade não podefixar o valor da terra, e deixamos ao empreendimento privadoa maior parte da tarefa de determinar os limites da cidade ea localização de suas zonas industrial e residenciaj Gostos econveníênc'a pessoais, interesses vocacionais e econômicos ten-dem infalivelmente a segregar e por conseguinte a classificar aspopulações das grandes cidades. Dessa forma a cidade adq1lireuma organização e distribuição da população que nem é pro-i§da nem ~nlrolada~ __

A DeU Tclcphone Company está atualmente realizando, es-pecialmente 'em Nova York e Chicago, elaboradas investiga-ções, cujo propósito é determinar, além de suas mudanças de-tivas, o cresc:mcnto e distribuição prováveis da população ur-bana dentro das áreas metropolitanas. A Russell Slge Founda-

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tion, 110 decorrer de seus c..studos de plancjnmcntr, de cidades,rmellrou dcxcohr ir Iórmulas IIlHtcmáticas 4uC lhe habilitassem11 prever a expansão c limites futuros da população da cidadede Nova York. O recente desenvolvimento das cadeia') de lojastornou o problema de locali:r.ação um assunto de prcocupaçaor_Ira diversas cruprcsax de cadeias de lojas. O resultado foi oaparecimento de uma nova profissão.

Existe atualmente uma classe de peritos cuja única ocupa-ção consiste em descobrir e localizar, com algo de ucuidadccientífica, restaurantes, tabacarias, drogarias c outras pequc-nas unidades de negócios varejistas menores cujo sucesso de-pende largamente da localização, levantando as mudanças queas tendências presentes parecem capazes de produzir. Com cer-t! freqüência, os investidores se dispõem a financiar um negó-cio local desse tipo em localizações que acreditam serão pIO-vcitosas, aceitando como aluguC'1 uma percentagem nos lucros.

A geografia física, as vantagens e desvantagens· naturais,inclusive meios de. transporte, determinam com antecedência oesboço geral da planta urbana. Crescendo a cidade em popula-Ç:IO, as influências de simpatia, rivalidade e necessidade econô-mica mais sutis tendem a controlar a d:stribuição da popula-ção. _Coméicio e indústria buscam localizações vantajosas cir-cundando-se de certas partes da população. Surgem quartel-rões de residências elegantes, dos quais são excluídas as classesmais pobres cm virtude do acrescido valor da terra. Crescementão cortiços que são habitados por grandes números das clas-ses pobres incapazes de se defenderem da associação com mar-ginais e viciados. .

Através dos tempos, todo setor e quarteirão da cidadeassume algo do caráter e das qualidades- de seus habitantes.

, Cada parte da cidade tomada em separado inevitavelmente secobre com os sentimentos peculiares à sua população. Comoefeito disso, o que a princípio era: simples expressão geográficaconverte-se em vizinhança, isto é, uma localidade com senti-mentos, tradições e uma história sua. Dentro dessa vizinhançaa continuidade dos processos hist6ricos é de alguma formarnantidu. O passado se impõe ao' presente, e a vida de qual-quer localidade se' movimenta com um certo momento próprio,mais ou menos independente dor.círculo da vida e interessesmais amplos a seu redor. .

A organização da cidade, o caráter do meio urbano e dadisciplina por ele imposta são em última análise determinadospelo tamanho da população, sua' concentração e distribuiçãodentro da área citadina. Por esse. motivo, é importante estu-dar o crescimento das cidades, comparar as idiossincrasias na

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diHlribuição das populaç<"íes citadinas. Portanto, algllll\a~ daspr;nwi;lls coisas que queremos saber a respeito da cidadc são:

Quais os recursos da população da cidade?Que parte de seu crescimento popu1acwnal é nprmal, isto

~,..<,I~.Y~(l!,~..i! ex.ç,~~ de nascimentos solw' mortes'!

. Que partc_~_~~~ .._IEis!:as:ã?";"'lÜ_.!k ~onlin.scntcs na-tiVOS?; !'l.~ilê':cont:.ngcnlcs. ..~.r<uwál:os1..'-'~Q~;Jis ~L~;~!l~.."...!la!Ullli:i::_.Jl.O.l..áyI!~..LI~ .áreas Ü", sc-grcgaçiíZ>~P.õpulact('Wil.ll ~

~--~Cõmo,éufu.1r~~i 50 da população dentro da área citadinaé ~~~~!:!'!.w-~.-glilJ1Ç,':!"~2~L_..._. --.C).. L...... L.Qa..Jg!~b J por interesse sentimental, raça, vocação etc.?

----üíide: dentro (i;-cid~di:-68-S~ief\"it1êeiTfI'9-·p~puIBei~f*lI?Onde se observa expan5ão?

Onde é que o crescimento bopulacjonal e o tamanho dasfamílias em diferentes árcas naturais da cidade sc Correlacio-mt"tn ComOasc:mentos e mortes, com caSal!l'Ut.os.....e..Jiv8FGiei, _c6m--alug-üêisãe- cã~ª~.~,~.iliª~r·aevida?._·-"·-L·};;;;;;;'"d~~ç~~~- P•.oximidade e contato entre vizinhossão as bases para a mais sim pies e elementar forma de asso-ciação com que lidamos na organização da vida citadina. In-teresses e assoc:ações locais desenvolvem sentimento local e,sob um sistema que faz da residência a base da participaçãono Governo, a vizinhança passa a ser a base do controle po-lítico. Na organização social e política da cjdade. é ela a menorunidad00CaL

, Seguramente um dos mais notáveis de todos os fatos so-cíais é que, remontando a eras imemoriais, devesse existir esseentendimento instint:vo de que o homem que estabelece seular a seu lado começa a fazer jus ao seu senso de camarada-gem. '. A vizinhança é uma unidade social que, por Sua claradefinição de contornos, sua perfeição orgânica interna, suasreações imediatas, pode ser justamente considerada Como fun-cionando à semelhança da mente social... O chefe IOCál,apesar de poder ser autocrático na esfera mais ampla da cidadecom o poder que adquire da vizinhança, deve sempre ser dopovo e para o povo; e é muito cauteloso em não tentar de-cepcionar o povo local enquanto seus interesses locais estive-rem em jogo. B difícil enganar uma vizinhança a respe:to deseus próprios interc$ses. a

3 Robcrt A. WOods. "The Ncighborhood in Social Rcconstruclion",Papcrs and Prtx:eedillRs 01 tlu: Eiglul, Annual Mccting 01 1/,'; Amc-rlca« SoâulogicLJI Soci<'t.v. 1913.

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32,0' o FnN(),.,.fENO I.IHIIANO

A vi:LÍnhllllcll existe ~em orgllnizaçlio formal. 1\ socicdndcde npcrfciçoam<:llto local é uma estrutura crigkln nas bases daorganização de viz'nhançn espontânea e existe com o propó-sito de dar expressão ao sentimento local Ince a assuntos deinteresse local.

Sob as complexas influências da vida de cidade. o quese pode chamar de sentimento normal de vizinhança tem so-f rido muitas mudanças curiosas c interessantes, tendo produ-zdo muitos tipos inusitados ele comunidades locais. Mais doque :,so. existem vizinhanças n:lsccntes c vizinhanças em pro-~o de dissoluçao. Considere-scj por exemplo, a Quinta Ave-nida em Nova yorr, que provavelmente nunca teve uma asso-ciação de aperfeiçoamento. e comparem-na com a Rua 135 noBronx (onde fi população negra está provavelmente mais con-centrada do que em qualquer outro ponto do mundo), querao'darnentc se transforma numa 'comunidade muito intensa ealtamente organizada. : .. . '

Na his tó.i a de Nova Y ork ~=:-s:.:i~':r":;LI':;"~"~";-"'~-5::::~:;;:.-r::.:.:", lemvern mudando do alemão ab o .irlandê!> ara o lU eu e

f1u'ra o negro.:....Dessas mudanças a u trma se proce ssou ne m o"bem mais rápido. Através da América de cor, de Massachusettsao Mississípi, e atravessando o continente até Los Angeles e, :Seattle, seu nome, que nos últ'mos quinze anos raramente se dOA ,ouvia, representa agora a metrópole negra. De fato, o Harlemé a grande Meca para o gozad()~. o curioso, o aventureiro, oempreendedor. o ambicioso e o tálentoso do mundo negro: poisseu atrativo já atingiu todas as!· ilhas do mar das Antilhas,tendo penetrado mesmo na África.·

É importante saber quais sãô as forças que tendem a dis-solver as tensões, os interesses e. os sentimentos que conferemàs vizinhanças seu caráter individual. Em geral, pode-se dizerque seiam tudo e Qualquer coisa' que tenda a deixar a popu-lação instável. a dividir e concentrar atenções sobre objetos deinteresse amplamente separados.

Qnc parte da população é flutuante?

De alie elementos, isto é, raças, classes ete. se compõeessa população?

Ooantas pessoas moram em hotéis, apartamentos ou casasalugadas?

Qnantas pessoas possuem casa própcia?

• bmes W~M()n Johnson, 'lhe Making of Harlem", SurveyGraphlc; ~lIarço. 1925.

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1. Ou!: I'H '1''.'1<; ;'j() ,da jl0l'lIla,:;',,, é cous: i IIJílLt por lI,'\JII;hk",

biscatci: os c clg;lll()S1

Por 0111ro lado, certas viZinhanças urbanas sofrem de iso-lamento. Em diferentes épocas lê/ll sido Iciros esforços no scn-lido de rcconstu uir c dinalll:Z,lr a vida nas v:zinhancils citadi-nas c de colocá-Ias em contalo com os interesses "mais am-plos ti •• conllmidilde. Este é. em parte, o propósifo dos do-ruicílios SOCi,lis, Estas c outras organizaçôcs, quc tentam rc-constituir a vida da cidade, têm desenvolvido certos métodose uma técnica de estímulo e COntrole das comunidades locais,Em conexão com a investigação de tais agências, devemos es-tudar estes métodos c técnicas, uma vez que somente o mé-todo pelo qual os objetos são controlévcis praticamente revelasua natureza essencial. o que vale dizer, seu caráter previsível(GesetzmassigkeiJ). G

Em mu'tas das cidades européias, e até certo ponto nosEUA, a resConstituição da vida citadina levou até a edificaçãode subúrbios ajardinados, ou à substituição de habitações in-salubres c ,decadentes por' ed:fícios-mod<!lo de propriedade econtrole da rnunicipalidade.

Em cidades americanas tem-se tentado renovar vizinhan-ças ruins pela construção de pátios de recreio e pela in.roduçãoda prática supervisionada de esportes de vários tipos, inclusivebaile" munic:pais em salões de bailes municipais. Estas e outrasatitudes, destinadas em prime:ro lugar a elevar o tom moraldas populações segregadas das grandes cidades. devem ser es-tudadas em conexão Com a investigação da vizinhança em ge-ral. Devem, em suma, ser estudadas não apenas em seu própriobenefício, ~ em revelar do comportamentoh\lll1~ da' naTureza humana geral.

(' Colônias e áreas segregadas No meio cilad:no, a vizi-nh a tende a perder da sigmfJcância que Põ'SSul ~

oele a e maIs sIm e ... ,", '; . L-de nJ.elQ.s.::&, comuRicaç~o e !rl! "~p<'lite, qne ·'Pvssihilita ass iR

""aívíduos distribuir sua atenção e viver ao mesmo tempo em... ~- ',-..... _--_.~....<_._-_.~-~,._.,_.. -'''.. _., ..-,,.,,----*_.--------..._ .....,...

S "Wenn wir daher das Wort [Natur] als einen logischen Ter-minus in der Wissenschaflslehre zabrauchen wollen. 50 werden wirsagen diirfen, dass Natur die Wirklichl.:eist ist mil Rücksíchr auf ihrengeselzmiissingen Zusarnmenhang. Diese Hedeutung findem wír z.B. indern Worle Naturgesetz. Dann abcr kõnnen wir dií: Natur der Dirigeauch das nennen was in die Bcgriffe cingcht, oder am kürzesten unsdahin ausLlriicl.:en: die Natur is~ die Wirklichkeil nlil Rikl.:sidn aufdas AlIgcllleinc, S:> gewinn: dano das Wort er st eine logische Bedeu-tung" (fi. Rickert. Di" GTeIlU',. da nalllTl,'in-cnscJwfllidun Begti/Is-/JilJung, p. 2(2),

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VHrIOS mllndos diferentes. tende a[dcslfuirn permanência c 11ji,ITihidiiacda Y;zl/lhalH;a. l'orõJÚO·lado, O isclumcutó idas?"·COlóntns raciais c de im'grnntcs nos assim chamados gucio»c II~ áreas de segregação populacional tendem a prcl)(;fvar e,onde exista preconceito ruciat, 11 intensificar u intimidade e 50-

Iidaricdade dos grupos loca.s c de vizinhança. Onde indivíduosda mesma raça ou da mesma vocação vivem juntos em grupossegregados, o sentimento de vizinhança tende a se fundir <':0111

antagouismos de laça c interesses .dc classe. Distâncias físicac sentimelltal rcjorçam uma iL outr'a, c as illOuências ,ta d:sfii-oUlçao local da POPIII~i}~rtidpam com as influé"c.tas d.e~1.~~.~~..l::_!~.ç"'L~-ª-evoluÇi1() da organização social, Toda cidadegíande tem suas colônias raciais, l<1:s como as Chlnatowns deSão Francisco e Nova York, a Little Sicilv de Chicago, e váriosoutros tipos menos pronunciados. Em acréscimo a estas, amaioria das c.dades tem seus d:stritos de vício segregados, taiscomo O que até recentemente existiu em Chicago, seus pontosde encontro para criminosos de vários tipos. Toda cidade gran-de tem seus s~búrbiv; ocupacionais, como os Stockyards emChicago, e seus quistos rcs:dencléllS,COInQ Brookline em Boston,a assim chamada Go/d Coast em Chicago, Greenwich Villag.;em Nova York, cada um com o tamanho e caráter de umaaldeia, vila ou cidade completamente separadas, exceto quantoà população que é de tipo seleto. A mais notável destas ci-dades dentro de cidades, sendo sua característica mais interes-sante o fato de ser composta por pessoas da mesma raça, oupor pessoas de caças diferentes, .mas da mesma classe social,é sem dúvida East London, com uma população ·de 2.000,000de trabalhadores.

O povo da East London original agora extravasou e atra-vessou o Lea, e se espalhou por sobre os pântanos e brejosabaixo. Esta população criou novas cidades que eram anterior-mente vilas rurais. West Ham, com uma população de cercade 300.0CO habitantes; East Ham, eom 90.00{\ Stratford, comsuas "filhas", ISO.OC·); e outras "aldeias" similarmente super-crescidas. Incluindo estas novas 'populações ternos um agre-gado de aproximadamente 2 milhões de pessoas. A populacãoé maior que a de Berlirn, Viena, 'S. Petershurgo 011 Filadélfia,

-&: uma c'dade cheia de igrejas e templos, entretanto nãohá caledra:s, nem anglicanas, nem romanas; tem um númerosuficiente de escolas primárias, mas não tem escolas públicasou ginásios. e não tem faculdades para educação suoerior nemuniversidade alguma; todo mundo lê jornais, entretanto nãoexiste um jornal de East London à exceção dos til' gêneromenor c local... Nunca se vê nas ruas alguma carruagem

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particutar: não há ba.rro elegante algum. .. não se encontramsenhoras nas urtérias principais. Gente. lojas, casas, transpor-tcs - tudo marcado com o inConfundível selo da classe tra-balhadora .

Talvez o mais estranho de tudo é que, numa cidade dedois milhões de pessoas, não h:í hotéis! O que significa, cvi-ucutcmcntc, que não h:í v'sitantcs o

Nas cidades européias mais <tllligns, onde os processos desegregação já foram mais além, as distinções de ViZinhança de-vem ser mais marcadas do que o são na América. East Lon-don é uma cidade de uma única classe, mas no interior deseus limites a população é repet:damente scgregada por inte-resses raciais, culturais e vocJcionais. O sentimento de vizi-nhança, profundamente enraizado na tradição c COStumes locais,exerce lima decisiva influência seletiva sobre as populaçõesdas cidades européias mais an!igas e transparece em última.análise de maneira marcanle nas caracterfst.cas dos habitantes.

O que queremos saber dessas vizinhanças, Comunidadesraciais e áreas citadinas segreg~das, existentes dentro dasgrandes cidades e em suas orlas exte.nas, é o qUe quereruossaber de todos os demais grupos sociais:

Ouais são os elementos de que se compõem?

\ Em que medida são eles o produto de um processo se-\ letivo?

\ Como as pessoas entram e saem do grupo assim formado?\ Quais são a permanência e estabilidade relativas de suas

\

populações?

O que existe Com relação à idade, sexo e cond:ção sociall das pessoas?

1\ O que existe com relação às crianças? Quantas nascerame quantas permanecem?

I Qual é a história da vizinhança? O que ex.sre no sub-consciente -. nas experiências esquecidas ou fíacamente [ern-

I bradas - dessa vizinhança que determina seus sentimentos eI atitudes? . .

I 'O que existe perfeitamente consciente, isto é, quais são[seus sentimentos, doutrinas eic ... reconhecidos?' O que considera como situação de fato? O que é novo'!Qual é o sentido geral de atenção'? Que modelos imita e querepresentam eles dentro ou foca do grupo?

G \Vulter Besanl. East London, pp, 7.9.

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36 o FnNfiMf!NO URnANO

Ounl é o ritual social, isto é, o que se deve fazer, n fimde evitar ser encarado com suspeita ou ser considerado es-tranho',

Quem são os líderes? Que interesses da vizinhança elesincorporam em si mesmos c qual é a técnica através da qualexercem o controle'!

11. A. OltGANIZAÇÃO INDUSTRIAL E ••• ORDEM MORAL

A cidade antiga era principalmente uma fortaleza, umlugar de refúgio em tempo de guerra. A cidade moderna, pelocontrário, é princ.pa'rnente uma conveniência de comércio, cdeve sua existência à praça do mercado em volta da qual foierigida. A competição industrial e a divisão do trabalho, queprovavelmente mais fizeram pelo desenvolvimento dos podereslatentes da humanidade, somente são possíveis sob a condiçãoda existência de mercados, dinheiro e outros expedientes paraIaciltar os negócios e o comércio.

Um velho adágio alemão reza: que "o ar da cidade libertaos homens" (Stadt Lult macht frei) .. -Essa~,-serii---auvida,uiliã- fêIêréncia ao tempo em que as cidades-livres da Ale-manha gozavam o patrocínio do imperador, e as leis faziamdo se.vo fugitivo Um homem livre, caso lograsse respirar oar da cidade um ano e um dia. Entretanto, a lei, } .c si só,não poderia ter libertado o artesã? Um mercado aberto ondede pudesse vender os produtos de seu trabalho era um inci-'.kme necessário de sua liberdade.:e o que completou a eman-cipação do servo foi a aplicação da economia monetária àsrelações de mestre e empregado.

Classes vocacionais e tipos vpcoctonais.r-:« O velho adá-gio que descreve a cidade como o ambiente natural do homemlivre ainda permanece válido na medida em que o indivíduoencontra nas possibilidades, na diversidade de ínteresses c la-refas, e na vasta cooperação inconsciente da vida citadina aoportun'dade de escolher sua vocação própria e de desenvolverseus ta'entos individuais peculiares. A cidade oferece um mer-cado para os talentos específicos dos indivíduos. A competiçãopessoal tende a selecionar para cada tarefa específica () indi-víduo mais adequado para desempenhá-Ia.

A diferença de talentos naturais em homens Herentcs.s,na verdade, milito menor do que podemos achar; c- os têllinsmuito diferentes que surgem para distinguir os homens de pro-fissões diferentes, quando desenvolvidos até a maturidade, nãosão em muitas ocasiões tanto a causa, mas o cfc'to da divisão

A CIDADe37

do trabalho. A diferença entre ali pessoas mais dcsscmclharues,entre um filÓsofo e um porteiro Comum de rua, por exemplo,parece surgir não tanto da nutureza, mas do hábito, costumoc educação. Quando vêm ao mundo e durante os primeirosseis ou oito anos de sua cxistênciá, eles eram lálvez bastantesemelhantes, e tampouco seus pa:s ou companheiros de fol-gucdo poderiam perceber ~ualqucr diferença notável. Por voltadessa idade. ou logo depois, vieram a ser empregados emocupações dikr('ntes. A difccença de talentos veio então a sernotada, e se amplia por graus, até que finalmente a vaidadedo filósofo não deseja reconhece- praticamente semelhançaalguma. Mas sem a dispos:ção para o escambo, troca oucâmbio, todo homem deve ter bu:;cado para s: tudo o que eranecessário c Conveniente para a vida que desejava Todos de-vem ter tido os mesmos deveres a desempenhar, e o mesmotrabalho a fazer, e não poderia ter havido tal diferença deemprego que pudesse sozinha dar ocasião a qualquer grandediferença de talento ...

Sendo o. poder. de troca o que dá ocasião à divisão dotrabalho, a extensão dessa divisão deve estar sempre limitadapela extensão daquele poder ou, em outras palavras, pela ex-tensão do mercado ... J!ª_g!rlns atividades que, mesmo noseu gênero mais rudimentar, em lu~ar ali?Umpocteiri serdesen-volvidas, -a -não ser numa gr-ande cidade. r---

/' O sucesso, sob cond'ções de competição peSSoal, dependeda conccnlração sobre alguma tarefa simples, e essa concen-tração estimula a demanda de métodos racionais, dispositivostécnicos e habilidade excepcional. A habilidade excepcional,embora baseada no talento natural, requer uma preparaçãoespecial, tendo Provocado a existência de escolas profissionaise comerciais, e finatmenre de serv:ços de orientação vocacional.rodos e!>I<:'S,quer direta ou h.diretamente. servem a um tempopara selecionar e acentuar as diferenças individuais.

Todo dispositivo que facilita o comércio e a indústriaprepara o cam:nho para uma nova divisão do trabalho e dessaforma tende posteriormente a e<;pecializar as tardas nas quaiso homem encontra suas vocações.

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A conseqiiénc'a desse proccss-, é a Quebra ou modificaçãoda antiga organização social e econômica da sociedade. ouese baseava em laços familiares. associaçôes locais, na tradição,casto.' c status, e sua substituição por lln!a organiz?çãg baseadaem IlItúresses Ocupac:on:us c vocaClOnalS.

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1 Adarn Smith. The Wealt}. of Nntions, pp. 28.29.

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No cidade, Jllcr - mesmo u de mendigo, tenden nssumir iu áicr de profissão, c n disciplina <IUC. em 4\1:11-Quer voe no o sucesso nto com 115 associações li quedá Iorçu,' nt enchi _: li tendência, explicitamente,não "penas de cspcc.al.zar, mas de racionalizar li ocupação doalguém C de desenvolver uma técnica conscicm- e cspccílicude levá-Ia 11 termo.

O eleito das vocações e da divisão do trabalho ~ o deproduzir, em primeira instância, não grupos sociais, mas tiposvocac.ona!s: o ator, o bombeiro c (I madeireiro. As organi-zações, tais como os sindicatos de, profissionais e de ofícios,que homens do mesmo ofício ou profissão formam, estãobaseadas em interesses comuns. Neste aspecto diferem dasformas de associação tais como a vizinhança, que se baseiamna contigüidade, na associação pessoal e nos laços comuns ànatureza humana. Os diferentes ofícios e profissões parecemdispostos a se agrupar em classes; isto é, classes prof.ssionais,artesanais e de negócios. Contudo, 'no Estado democrático mo-derno as classes ainda não atingiram uma organização efetiva.O socialismo, fundado 110 esforço. de criar uma organizaçãobaseada na "consciência de classe", jamais conseguiu, excetotalvez na Rússia, criar algo mais do que um partido político .

Os efeitos da divisão do trabalho enquanto disciplina,isto é, enquanto meios de moldar; o caráter, podem portantoser melhor estudados nos tipos vocac'onais que a divisão dotrabalho produziu. Entre os tipos cujo e~~do poderia inte-ressar estão: a vendedora, o guarda, o camelô, o chofer detáxi, o vigia noturno, a quiromante, o comediante do teatrode revista, o médico charlatão, o balconista de bar, o carce-reiro, o furador de greve, o agitador trabalhista, o professorde escola, o repórter, o corretor de fundos públicos, o pres-tamista; todos estes são produtos, caracteristicos das condiçõesda vida citadilla; cada rmr; com sua exper1~ncla. perspeC!i.a ...•"'}'leRIa ele vista específicos, determina sua individualidade paracada grupo vocacional e para a cidade como um todo.

Até que ponto o grau de inteligência, representado nosdiferentes ofícios e profissões, depende de capacidade natural?

Até que ponto o c3,ráter da ocupação e as condições sobas quais é prat.cada determinam' a inteligência?

Até que ponto o sucesso nas ocupações depende de jul-gamento ponderado e de senso comum; até que ponto dependede c<'lpacidadc técnica'!

Capacidade inata ou treinamento especial dcterrnin- osucesso nas diferentes vocações? i

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(lt/;I! o prcslfg:o c quais os preconceitos associados a di-Icrcllll:s ofíc.ox c profissões'! Por quê?

A escolha da Ocupaçiio é detcrnlin:.da por consideraçõcssentimclltais, econômicas ou tcmpcr:unelltais'!

Em que ocupações os homens se saem melhor? Por quê?E as mulheres? Por quê?

Em que medida a ocupação, mais do que a assol'iar,;ío,é responsável pelas p.cdilcçõcs morais c atitude mental? Ho-mens da mesma profissão ou ofic.o, mas representando nacio-nalidades diferentes c grupos cu~turais diferentes, Sl!stcnrnmopiniões características e idênticas?

Até que ponto o credo social ou político, isto é, socia-lisrno, anarquisrno, sindicalisrno ele,.. é determinado pelaOClIpação? Pelo temperamento?

Até que ponto a doutriná social ou o idealismo socialinvalidaram e subStÍ!uíran. a fé religiosa nas diferentes ocupa-ções, e por quê?

As classes soe.ais tendem a assumir o caráter de gruposculturaís?" Vale dizer, as classes tendem a adquirir a exclu-sividade e independência de uma casta ou nacionalidade; oucada c'asse é sempre dependente da existência de outra classecorrespondente?

E...~ medida os r:Jhos seguem as vocações dos pais,~ ~u~L ---- --- ..Em que medida os indivíduos passam de lima classe à

Outra, e de que manei,a este 'fato mOdifica o caráter das rela-ções de classe?

As notícias e a mobilidade do grupo social. - A divisãodo trabalho, ao fazer o sucesso :nd:vidual depender da con-Centração de uma tarefa específica, teve o efeito de aumentara interdependência das diversas vocações. Cria-se dessa formauma organização social na qual o indivíduo passa cada vezmais a depender da comunidade de que é lima parte integrante.O efeito dessa crescente interdepcndência das partes, sob con-dições de competição pessoal, é criar na organização industrialcomo Um todo um certo tipo de solidariedade social, mas so-lidariedade fundada não sobre sentimentos e o húb:lo, massobre uma EOffiunidade de il'ltQ,es!5cs.

No sentido em que os termos estão usados aqui, senti-mento é o termo mais concreto, interesse o mais abstrato.Podemos acalentar um sentimento po. uma pessoa, Um lugarou um objeto qualquer. Pode ser Um semirncnrn de aversãoou um sentimento de posse. l'vlas POSSIÚ ou estar possukíu

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40 o FUN6MENO URnANO

de um sentimento por, ou em relação a, qualquer coisa, signi-f:cn que somos incapazes de agir com relação u esse algo douma maneira comp) 'Iamente nacional'. Siguificu (lUC o objetode nosso scut.mcnto corrcsponde de al~um modo especial aulguma dispO:iÍçoJo herdada ou adquirida. T ••1 disposição é aafeição da III:IC JX,r seu filho, que é instintiva. Ou mesmo osentimento que ela pode te.; para com o berço da criançavazio, que 6 adquirido,

~ cxislênda de uma atitude sentimental indic.~~e cxi~-tem motivos pa: •• 11 ação, dos guais o indivíduo por clc; lIlovidQn~ (em consClcnc.é~na; motivos sobre os quais ele !.e..~~~--tem um conlrole parclar.tõJo· senliiiicnfõ-fcm uma 'nlstÓrta, -.-+'.\ nll expcdellcin dõ'1ndivíduo, ou na experiência da raça,ruas a pessoa que age por esse sentimento pode não estarciente de sua história.

Os interesses dirigem-se menos a objetos específicos do:que aos fins que em Um ou outro momento este ou aqueleobjeto particular enca:na. Assim, os interesses implicam a exis-tência de me.os e de urna consciência da distinção entre meiose 1 ins. Nossos sentimentos- se re.acionam a nossos preconceitos,e os preconceitos poJem estar associados a ~r.í'alqller coisa _pessoas, raças, bem corno a coisas inanimadas. Os preconceitosestão relacionados também com QS tabus, e assim tendema manter "distâncias Sociais" e a organização social existente.Sentimento e preconceito são formas ele~~R'ares de mOw,"va-dOrISOlOS. Nossos irHeresses são racionais e móveis, e provocamri}ndaoça. '.--:._-._---

O dinheiro é o rinei al artifício pelo qual os valores. f~~<:~ollahza os e os sent~mcn os su s . _~:~ E Justamente porque nao ternos nenhuma atitude sen>:timental ou pessoal por nosso dinheiro, como acontece comrelação a, por exemplo, nossa casa, que o dinheiro se tornaum meio de troca valioso. Estaremos interessados em adquirir ~.certa quantidade de dinheiro a fim de atingirmos certo pro-pósito, mas se pudermos atingir esse propósito por qualqueroutra forma somos capazes de ficar: satisfeitos do mesmo jeito.~omente o avarento se torna sentimental pelo dinheiro, masneste caso ele é capaz de prd'crirum~ de dinheiro, diga-mos ouro, a outro, indlfcremcmCil'fe(Je séu valor. fqcste dlsO'a '.aIUl 'do OU.o ~ffi5is 'ÕéTêfiíiiilã1JÓ'põr"Selii:mêriTos pessoaisdo que pela razão.

Uma organização, que se compõe de indivíduos em com-petição, c de grupos de indivíduos em competição, acha-se emum estado de equilíbrio inst;ívcJ,.e esse equilíbrio somente

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A cxtensão da organiza<;iío industrial, que se baseia nasrelações impessoais úclillluas pelo dinhciro, tem avançadopasso a passo com um., creSCcnle IIlob,'idade da populaçiio.Ü Ir<tb<tlhauor e o urtcsáo apropriaJos para realizar uma tal eraespecífica são levados, sob as condiçóes criadas pela vida cita-dina, a se mudar de uma região para ourra à procura de umdeterminado tipo de emprego que estão capacitados a realizar.O fluxo de imigração que se movimenta para frente c paratrás entre a Europa e a América é, até certo ponto, umamedida dessa mesma mobilidade .•

Por outro lado, o negociante, o proprietário de manufa-turas, o profissional, o especilllisla em cada alividade, procuramseus clientes na medida em' que as dificuldades de viagem ecomunicação decrescem numa área de território sempre maior.Essa é outra maneira pela qual se pode medir a mobilidade dapopulação. Entretanto, mede-se mobilidade num indivíduo ounuma população não apenas pela mudança de localidade, masantes pelo número e variedade dos estímulos a que o indi-víduo ou a população respond":lll. A educação e a capacidadede ler, a extensão da eConomia monetária a um número deinteresses da vida sempre crescente, na medida em que tendea despersonalizar as relações sociais, vêm ao mesmo temi,0aumentando amplamente a mobilidade dos POVos modernos.

O termo "mobilidade" da mesma forma que seu correla-tivo "isolamento" cobre uma ampla gama de fenômenos. Podeao mesmo tempo representar um caráter e uma condição.Assim como o isolamento pode ser devido à existência debarreiras puramente físicas à comunicação ou à peculiaridadede temperamento e a uma carência de educação, também amobi/Jdade pode ser uma conseqüência de meios naturais decomunicação ou de maneiras apropriadas e de educação su-perior.

Hoje em dia reconhece-se claramente que o que normal-mente chamamos de falta de intcligênc'a em indivíduos, raçasc comunidades freqiicnlemente é um resultado do isolamento.Por outro lado, a mobilidade da população é inqucstionavel,mente um fator muito impottantc de seu desenvolvimento in-tclcctual.

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s Walrcr nagchot. The Postltlatcs o] Po/irical Ccof/omy (Londres,1885), pp. v-s.

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4:! o FEN()MENO URIlANO

Existe IIfIlil intensa \.Onc.xlio entre a imobilidade do homemprimitivo c kUiI chamada incapacidade para usar idéias abstrn-tas. O conhccinicntn que IIIIl camponês normalmente possuié. pela própria nat ureza de sua ocupação, concreto c pessoal.Ele conhece individualmente c pessoalmente cada membro dorebanho que tallge. No decor;er dos anos ele se torna tãopreso Ú terra que cultiva que sua mera transposi<;ão da faixade terra onde cresceu para outra com H qual não está tãoió,-: imamcntc acostumado é sentida por ele como uma perdaI' -soa t. r.~ra c:;te hOm.ÇIR. (l..valcvizinhooumcsmoajn] ~JIAe.terra no OiliTo·lii(I~)-da alde':.ll.é.l.I).I}.t!!. Ç.Ç(t<uçn.ti4o.. tcrri~6.r.i<?·cSlfanlro.Grnridc parte da eficiência do camponês como tra-õãTfü'i(]"dl agrícola depende desse relacionamento pessoal e in-tiro» com as idiossincrasias de um só ' pedaço de terra no cui-<LeJo do qual tem crescido. Parece que, sob ccndições taiscomo estas, muito pouco doconhecirnento prático do' cam-ponês tomará as formas nbstratâs da generalização científica.Ele pensa em termos concretos porque não conhece nem pre-.cisa de outros. :

Por outro lado, as características intelectuaisseu geralmente reconhecido interesse:eml~·~.·Q,1io.,,~dicais estão inquestionavelmente lig ao fato oue os~eus !ão, antes de mais nada,.~t.!!Il' cultura citadin O "judeuerrante à(Jqllue lefmM abstratos _ descreve asvárias cenas que visita. Seu conhecimento do mundo está ba-seado em ~,entida9~~,~.~~ç!j.f.~rçJ1~s.._~tQ~.á _~.!!LªD.áli.s~_~j;lass.i-ficacão. Cnado em íntima associação com o alvoroço e ne-gõciÕ·"(h praça do mercado, constantemente atento ao fasci-nante e sagaz: jogo de compra e venda, no qual emprega amais interessante das abstrações, (, > dinheiro, não tem nemoportunidade nem inclinação a cultivar aquele íntimo apegar-se a lugares e pessoas que é característico da pessoa imóvel.

A conccntrução das populações em cidades, os mercadosmaiores, a divisão do trabalho, a concentração de indivíduose grupos em tarefas específicas têm 'continuamente mudado ascai" íiçõcs materiais. de vida, e assim fazendo têm realizadore;ajustamentos a novas condições cada vez mais necessários.A partir dessa necessidade têm-se desenvolvido numerosas or-ganizações específicas que existem para ° propósito esoecíficode facilitar esses reajustes. O mercado que deu existência àcidade moderna é um desses dispositivos, Entretanto, mais in-tcressantes são as trocas, especialmente a bolsa de valores e;'. junta de comércio, onde os preços estão constantemente sendofixados Cm resposta às mudanças, ou melhor, aos relatórios

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ele mudanças nas condições econômicas ntiavés de todo omundo,

Esses relatórios, na medida em que são calculados paracausar reajustes, h:1lI O caráter do que chamamos Ilotícia. Eli existência de uma situação crítica rue converte em notíciao que, de outra forma, seriam meras informações. Onde existauma f1o:;sibil:dadc em jogo. onde, em vuma, exista crise, aí [I

informação, que de uma forma Oll de outra poderia afetar asolução, se torna "matéria viva", como dizem os jornalistas.Matéria viva é notícia; matéria mona é mera jnformacão.Q~ãréâ-·fêrâçãoenircnlObilici~~ic e sugestão, im!tação ctc.?

Quais são os dispositivos práticos pelos quais a sugesti-bilidadc c a mob:lidade são aumcntadas em uma comunidadeou em um indivíduo?

Existem condições patológicas correspondentes nas co-Ji)unidades à histeria nos indivíduos? Se assim for, eomo seproduzem e como são controlaoas?

Até que ponto a moda é uma ind.cação de mobilidade?"Qual é a diferença na maneira pela qual as modas e 05

COstumes são transmitidos?

O que é inquietação social e quais as condições sob asquais se manifesta?

Quais são as característ'cas de urna comunidade progres-siva, e qua's as de lima comunidade estática, com referênciaà sua resistência a sugestões novas?

Que características mentais do cigano, do biscateiro e donômade podem geralmente ser relacionadas a estes háb.tosnômades?

A bolsa de valores e a multidão. - Os valores, sobrecujas bases podemos observar a flutuação de preços em res-posta às notícias das condições econômicas nas d:fere.ntes par-tes do mundo, são típicos. Reajuste:> similares estão ocorrendoem cada departamento da vida SOCial, onde, entretanto, 05mecanismos para Se fazer esses reajustes não são tão com-pletos e perfeitos. Por exemplo, os jornais prof;,;sionais eco.rne.c'ais, que mantêm as profissões e o comércio informadosa respeito de novos métodos, experiências e esquemas, servempara manter os membros dessas profissões e do comércio li

par dos tempos, o que significa que eles facilitam os reajustesdas condições em mudança.

Há, entretanto, uma importante distinção a ser feita: Acompetição na bolsa é mais intensa; as mudanças são maisráp.das c. com relação aos indivíduos di crarncnrc mtcressados,

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ê lugar-comum d'zcr-sc que os fatores decisivos nas mo-vimcntuçocs da multidão, como nas Iiutuaçõcs do mercado,são pSlco,úg:cos. Isso significa quc: entre os indivíduos queconsutucm urna multídào, ou que. compõem o púbiic., queparticipa dos mov.meruos rcflcud.rs no mercado, cxrstc umacondiçao de instab:lidade que corrc~ponde a.( que em outroponto foi definido corno crise. l'! verdade a respeito da Bolsa,como o é a respeito das multidões, .que a situação por elasrepresentada é sempre crítica, isto é;" as tensões são ta.s queuma ligeira causa pode p.ccipitar um efeito enorme. O eufe-mismo corrente ,"o momento psicológico" define tal condiçãocrítica. :

Momentos psicológicos podem surgir em qualquer situa-'ção social, .,lUS- ocorrem mais Ireqüentemente numa sociedade'llle tenha adquirido um alto estágio de mobilidade. Ocorremmais frequentemente numa sociedade em que a educação égeneralizada, onde estradas de ferro, telégrafo e imprensa setornaram parte indispensável da economia social. Ocorremmais freqücnicmente em cidades do que em comunidades me-nores. Na multidão e no público pode-se dizer que cada mo-mento seja Hpsicológico".

Pode-se d.zer que a crise é a condição normal das va-ri?~ôes do câmbio. O que se chama de crises financeiras émeramente uma extensão dessa condição crítica à comunida :::..de negócios mais ampla. Pânicos financeiros que algumas vezesseguem ai crises financeiras são uma precipitação dessa con-drçâo crítica.

O que é fascinante no estudo de crises, como no de mul-tidões, é que elas podem ser controladas na medida em quesão de fato dev.das a causas psicológicas, isto é, na medidaem que são o re:mltado da mobiEdade das comunidades emque ocorrem. A prova disso é o fato de que podem ser rnani-puladas, e há provas abundantes de manipulação nas transa-ções da bolsa de valores. A prova da manipulação de multidõesé menos acessível. Contudo, as organizações trabalhisra, têm~abido como desenvolver uma técirca bastante definida paraa insrigaçâo e controle de greves. O Exército da Salvação ela-borou um livro de táticas que ~ largamente devotado aomanejo de multidões de rua; e pre~adorc.s profissionais, corno

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lIill}' Sunduy, tí'm lima técnica elaborada para II condução de~lIa') carnpanhn, rCli~ :::_,

Sob o títulc uc lêologia COIcI~\';I,I uito tem sido escritonos últimos anos c(htk~êncill a mil '(Jõcs e fenômenos devida social sim.lares. A Innlm. do que se tem escritoaté agora se baseia em observação geral, e quase inexistemméudo<; sistemiÍticos para o estlldo desse tipo de organizaçãosocial. Os métodos práticos que homens práticos eOIl1Oo chefepolítico, o agitador trabalhista, o espcculador da Bolsa e outrostêm claborudo para o controle c manipulação do público c damultidão forncCem um conjunto de material de que é possívelfazer-se um estudo mais detalhado e profundo do que se po-deria chamar de comportamento coletivo, a fim de distingui-lodo estudo de grupos mais altamente organizados.

A c.dadc, e especialmente a grande cidade, onde maisdo que em qualquer outro lugar as relações humanas tendema ser impessoais e racionais, definidas em lermos de interesse'c em termos de dinheiro, é num. sentido bem real um labora-tório ,~ara ..aj.~~~s~gaç,ão ,d? c.omport<:merrto co:~ti~o. 'A., grev~~._c movI ' cevo u. anos menores são endemlcos no meiourbauô.< As cKfãOei;e e pecia rotnle-às -é1(fa~~~_.grãndes, estão<1ÍÍl;-requ1lWnõ-~iáYa:-' res~Ttiião é que 'Os enormes agregadoscasuais e móveis, que onsntuen, nossas populações urbanas,est~. , r étua agitação, varridos por todo novov:nt~~ __ ~~_l]n.a-{_s~~itõ~I~U1es ~~~'e, ..~:::~s~~ •qoêncla, a cornun.dada, nllma ,'lse crornca.

--O-que:fem sido , to sugere, primeiro q a impor-tância de um estudo do comportamento coleti mais deta-lhado e fundanlenta. seguem irão talvezsugerir linhas de investigação que poderiam ser seguidas comproveito por estudiosos da vida urbana.

Qual é a psicologia da crise? Qual é o ciclo de aconte-cimentos envolvidos na evolução de uma crise polít:ca ou eco-nômica?

Até que ponto o sistema parlamentar, o sistema eleitoralinclusive, pode se; considerado Uma tentativa de regularizar arevolução, e de enfrentar e controlar crises?

Até que ponto a violênc.a da turba, as greves e os mo-vimentos políticos radicais são os resultados das mesmas con-dições gerais que geralmente provocam na população pânicosfinanceiros, grandes especulações imobiliárias e movimentos demassa?

Até que ponto o cqu'librio instável e a fe.rnenração socialexistentes são devidos à extensão e rapidez das mudanças eco-nôrnicas refletidas na bolsa de valores?

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Quaio; s:io os efeitos do incremento da comuu'cação c 1l0-

tícias sobre as flIlIUH~'ÕCS da bolsa de: valores c lIS muduuçaseconômicas em geral'!

O volume de :IÇÕCS movimcntadns tende a exagerar asf!utuaç()cs na Bolsa ou a estabilizá-Ias? .

As reportagens d05 jornais, na medida CIP/que rcprcscn-tarr os fatos, tendem a acelerar mudanças sociais Oll a esta-bilizar um movimento j;'t em CUíSO?

Qual é () efeito da propaganda e dos rumores nos casosem que as fontes de informações acuradas estão cortadas?

Até que ponto as flutunçõcr da Bolsa podem ser con-troladas por regulamentação formal?

Até que ponto as mudanças sociais, greves e movimentosrevolucionários podem ser controlados pela censura?

Até que ponto ti previsão científ.ca de mudanças econô-micas e sociais pode exercer um controle útil sobre a tendênciados preços e dos acontecimentos?

Até que ponto os preços registrados pela Bolsa são cem-paráveis com a opinião pública registrada pelo jornal?

Até que ponto a cidade, que responde mais rápida e maisdecisivamente aos acontecimentos e~ mudança, pode ser con-siderada o centro nervoso do organismo social?

II L RELAÇÕES SECUNDÁRIAS E CONTROLE SOCIAL

Os métodos modernos de transporte e comunicação urba-nos - o trem elétrico, o automóvel, o telefone e o rádio -têm mudado rápida e silenciosamente nos últimos anos a orga-nização social e industrial da cidade moderna. Multiplicandoos subú.bios residenciais e tornando possíveis O'> grandes ma-gazines. eles têm sido os me'os de .concentração do comércio•.m determinadas zonas, rendo mudado todo o caráter do co-mérc'o varejista. Essas mudanças na organização industrial ena distribuição da população têm :;sido acompanhadas pelasmudanças corresoondentes nos hábitos, sentimentos e caráterda população urbanà, .

A natureza geral dessas mudanças é ind'cada pelo fato dec;.e o crescimento das cidades foi acompanhado pela substi-tuição de relações diretas, face a face, "primárias", por rela-ções indiretas, "secundárias", nas associações de indivíduos nacornun'dade. :

Entendo por grupos primários aqueles caracterizados porassociação e cooperação íntimas face a face. Eles são em vários

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sentidos primários, llJas principn'mcntc no de que são funda-mentais 11" Iorrnação da natureza soei ••1 c dos ideais de cadailldivíduo. Psicologicamente, o resultado da associação íntimaé urna certa fusão de individualidndcs em um lodo Comum,de tal Iorrnu que o próprio ser individual, pelo menos paramuitos fins, é a vida c o propósito comuns do grupo. Talveza mais simples forma de se descrever essa totalidade é dizerque é um "nós"; ela envolve c.se tipo de simpatia e idcntifi-cacão mútua para as quuis "nós" é il expressão natural. Cadaum vive no sentimento do todo e encontra 05 objetivos pri-mordia.s de sua vontade nesse sentimento ... o

Tocar e ver, ° contato físico, são as bases para a primeirae mais elementar intcr-rclação humana. Mãe e filho, maridoc mulher, pai e filho, mestre e servo, parente e vizinho, sacer-dote, médico e professor - estas são as mais ínt.rnas e reaisinter-relações da vida, e na comunidade pequena são pratica-mente inclusivas.

As interações que têm lugar entre os membros de umacomunidade assim constituída são imediatas e não reflexivas.O intercurso é derenvOlvido amplamente dentro da região doinstinto e do sentimento. O controle social surge, em suamaior parte, espontaneamente, em resposta direta a influênciaspessoais e ao sentimento público. t mais ° resultado de umaacomodação pessoal do que a formulação de um princípioracional e abstrato.

A igreja, a escola e a família. - Numa cidade grande,onde a população é instável, onde pais e filhos estão empre-gados fora de casa e muitas vezes em partes da cidade dis-tantes, onde milhares de pessoas vivem lado a lado duranteanos sem nem ao menos um conhecimento de cumprimentar,essas relações Íntimas do grupo primário se enfraquecem, e aordem moral que sobre elas repousava dissolve-se gradativa-mente .

A maioria de nossas instituições tradicionais, a igreja, aescola e a família, tem sido, sob as influências desintegrantesda v.da citadina, grandernente modificada. ,; escola, por exem-plo, tem assumido algumas das funções da família.' Algo comoum novo espírito de vizinhança e comunidade tende a se orga-nizar em volta da escola e de sua solicitude pelo bem-estarfísico e moral das crianças.

Por outro lado, a igreja, que tem perdido muito de suainfluênc'a desde que as páginas impressas vêm t;-io ampla-

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• Char lcs Horton Cooley, Social Organi zation, p. J.5.

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mente tomando o lugar do púlpito na interpr.:laçiío da vida,parece csuir presentemente em processo de reajustamento àsnOVIlS condições.

I! importante que 11 igreja, n" escola e a fumíliu sejamestudadas sob o ponto de vista desse reajustamento às con-dições da vida citadina.

Que mudanças ocorreram nos últimos anos nos senti-mentes Iumiliarcs"; n:\ atitude dos maridos com relação àsesposas?; das e'iposas com relação aos maridos?; dos filhos com.relação aos pais?

O que indicam os registros dos tribunais de juventude emoral com referência a esse assunto?

Em que regiões da vida social os mores relacionados à-ida familiar mais mudaram? .

Até que ponto essas mudanças ocorreram em resposta àsinfluências do meio citadino?

Similarmente. devem-se realizAr investigações com reíe-i"' ncia à escola c à igreja; Também .aí, há orna atitude mudadae urna política mudada em resposta' a um meio mudado. Issoé importante porque, em última análise, é sobre essas insti-tuições, onde os interesses imediatos e vita's da vida encontramuma expressão corporificada, que api'ganização social repousatnl última análise. ' .

"~I .Provavelmente ~ _a rupt.u~a. das uniões locais. e 0. enfra-; queclmento das restnçoes e lnlblcõe~..do grupn==pnmáfJo,.~~. a irifluênc1ã do meío·-úrbano, que são grandemente-respoeséveis

Jpelo aument 'cio e do-crime nas-grandes e1illIdes. __Seriainteressante eterm ar por investigação até que ponto o••urnento dei rimes e equipara à crescente mobilidade da po-pulação. e ~t .,Qnd essa mobilidade é uma função do cresci-mento da popu.ação. E desse ponto de vista oue deveríamosprocurar interpretar todas essas estatísticas de divórcio, vadia-gem e crime.

Qual é o efeito da posse de propriedade. espec:almenteda casa, sobre a vadiagem, o divórcio e o crime?

Em que regiões e classes são endêrnicos certos tipos decrime?

Em oue classes o divórcio ocorre mais freqücntcmente?Qual é a diferença neste aspecto entre fazendeiros e, digamos,atores?

Até oue ponto em qualquer grupo racial dado, por exem-plo os ita\'anos em Nova York ou os poloneses em Chicago,pais e filhos vivem no mesmo mundo, falam a mesma língua

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c partilham as mesmas idéias, c até onde as condições cncon-tradas respondem pela delinqüência em cada grupo particular'?

Até que ponto os mores 'de casa são responsáveis pelasmanltcstuçõcs criminosas de um grupo imigrante?

A crise c o_çtribunais. - .l? caructcrístico da vida cradinaque todos os tipos de gente, que jamaís se compreendem total-rucmc, se encontrem e se misturem. O anarquista c o clubista,o sacerdote c o lcv.ta, o ator e II missionário, cujos ombrosse tocam nas rU<IS, vivem ainda em mundos completamentediíc.cntcs. A._segregação de classes voc'!9unais._Llão---COUlpletaque épossívcT Viver, dentro-dos limites da ..cidade, num iso-I'!mentaq uasc~iaàcQmpieW qU~:~I<;Lô_ili!-.lllgumª~L cqrn unidadesnu:a;&-ttft~·

Walter Besant conta a seguinte anedota de sua experiênciacomo diretor do Peoplz's Palace 'louruai:

"Nessa qualidade eu buscava encorajar os esforços lite-rários na esperança de deparar com algum gênio latente des-conhecido, Os leitores do jornal eram membros de váriasclasses, rgados ao setor educacional do lugar. Eram principal-mente jovens empregados - alguns dos quais muito bonssujeitos. Tinham um grupo de debates ao qual eu coro pareciade vez em quando. Infelizmente, Conduziam seus debates namais profunda, mais incônscia e satisfeita ignorância. Procureipersuadi-los que era desejável que e'es ao menos dominassemos fatos acerca do caso antes de falar. Em vão. Propus entãotemas de ensaios e ofereci prêmios para versos. Descobri, parameu estupor, que dentre todos os milhares de jovens, moçase rapazes, não hav'a a possibilidade de descobrir a mais rudi-mentar indicação de algum poder literário qualquer. Em todasas outras cidades havia jovens que alimentavam ambições lite-rárias com alguma capacidade literária. Como poderia haveralgum nesta cidade, onde não havia livros. jornal e, naqueletempo, biblioteca pública de jeito nenhum?"'O

Nas colônias de imigrantes, agora bem estabelecídas emqualquer cidade grande, as populações estrangeiras vivem numisolamento que é diferente do da população de East London,embora em alguns aspectos seja mais completo.

A diferença é que cada uma dessas pequenas colôniastem uma organ'zação social e política própria mais ou menosindependente, e é o centro de lima propaganda nacionalistamais 0\1 menos vigorosa.

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.~10 Walrer' Besant, East London, p. 13.

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Por exemplo, cnda 11111 desses grupos tem um ou maisi,rnn:s impressos cm 6lI<1 própria língua, Havia na cidade doNova York, há uns poucos anos atrás, 27() publicações, emsua maioria sustentadas pela população local, impressas em23 línguas diferentes. Havia em Chicago 19 jornais diáriospublicados em sete línguas estrangeiras c com Uma circulaçãodiária conjunta de 368.000 exemplares.

Sob essas cond'çõcs, o ritual social c a ordem moral, quoesses irnig.untcs trouxeram consigo de seus países de origem,conseguiram manter-se por um tempo ,coJl~~ob as in-fluência" do meio amc.icano. 0,. c~fê social, ~o nosm~(s do_lar~._~c_d~~troç.a,,~~~c.~a~~o na ~egunda -gcração.\',\ ."

---põ<fcmos expressar em termos, gerais a relação da Jdhdocom esse fato, dizendo que o efc:tô··'do.--Illcio urbano é inten-.siíicar todos os efcitos de criSês. _...__...--"-'-'-

--l:rtermo "crises" não deveser-entendido num sentido vio-lento. Está envolvido em qualquer distúrbio de háb'to. Há

, uma crise na vida do rapaz quando ele deixa o lar. A ernan-cioacão do negro e a imigração do, camponês europeu sãocrises de grupo. Qualquer .tcnsão de crise envolve três pos-sívcis mudanças: maior adaptação, eficiência reduzida ou_morte. Em termos -liiõróg-ícos-, "l's'ciFírevl\1!l1ciâ''-''sigiiifiCa ãius-t::.mentrr bem sucedido a crise, tipicamente acompanhado poruma modificação de estrutura. Significa no homem estímulomental e maior discernimento ou, no caso de fracasso, de-pressão mental. 11 :, /

Sob as condições impostas pela vida de cidade, na qualos ;:1divídllOS e os grupos de indivíduos, extremamente distantesem simpatia e cornprensâo, vivem juntos sob condições deinterdependência, se não de intimidade, as condições de con-trote social são grandemente alteradas e as dificuldades au-mClJadas.!

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O problema assim criado é usualmente caracterizado comoum problema de "assimilação"., Supõe-se que o motivo dor:,::-'ído aumentado crime em nossas ;grandes cidades é devidoac : ato de que o elemento estrangeiro de nossa população não"; ••,,, conseguido assimilar a cultura americana nem se con-[oflll.ldo aos mores americanos. Se verdade, isto seria interes-sante, mas os fatos parecem sugerir que a verdade talvez

\'c::.se ser procurada na direção ,oposta.

I',\ Wi.liarn L Thornas, "Race Psychology: Standpoint and Qucs-

uonnaire wilh Particular Reference to lhe: Irnrnigrant I\nJ tlegro", A.me-riciJn Iournal o/ Sociologv, XVII (maio d': 1911),736.

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Um dos mais imf>Ort, estabelecidos pela inves-tigação diz respeito s filhos nasci s na América de paisimigrantes ---:' .a' i scgumJa geração", s registros de conde-nações do Tribunnl de Sessões Gcrui de Nova York duranteo período de 1.0 de oUlUbTo'-dcí90~ a 30 de junho de 1909,c os de todas as transgressões às instituições penais de Massa-chusctts, cxccto as transgressões à fazenda estadual, durante() período anual tc.rm:nado a 30 de setembro de 1909, formama base dessa análise das tendências criminosas da segundageração.

A partir desses registros, parece que existe ~.I.!!~_tc!ldên-ci~!tid~r:_.p':l.!1_~ ~él segunda .&.e[a~ã2a diferir da primeira.~c.raçliQ .Imigrante, no caráter de sua crimin:.tlidade. Parecetambém que essa diferença é muito mais íreqüentemente no sen-tido de aproximar-se da criminalidade típica da descendêncianascida na América ou não-imigrante do que no sentido oposto.Isso significa que omovimento de crime da segunda geraçãose distancia dos crimes peculiares a imigrantes, aproximando-sedaqueles peculiares ao americano de descendência nativa. Al-gumas vezes, esse movimento tem levado a criminalidade dasegunda geração ainda além da dos nativos de descendência na-tiva. Um dos grupos da segunda geração, submetidos a essacomparação, mantém uma aderência constante à regra geralacima referida, enquanto todos os outros deixam de segui-Iaem algum ponto. Este único grupo é a segunda geração irlan-desa. 12

O que nós observamos, 'como um resultado da crise, éque o controle, anteriormente baseado nos mores, foi substituí-do pelo controle baseado na lei positiva. Essa mudança segueparalela ao movimento pelo qual as relações secundárias subs-tituí.arn as relações primárias na associação de indivíduos nomeio citadino.

É característico dos Estados Unidos que grandes mudan-ças políticas devessem efetuar-se experimentalmente sob a pres-são de agitacão ou ~I-.:lainiciativa de minorias pequenas, porémmilitantes. Provavelmente não há nenhum outro país no mun-do no qual tantas "reformas" estejam em curso como nos Es-tados Unidos no momento presente. Na verdade, a reforma setomou um tipo de "esporte caseiro" popular. As reformasassim cíetuadas envolvem, quase sem exceção, algum tipo derestrição ou controle governamental sobre atividades 'lue até

12 Reports 0/ the United States l mtnigration Commls.sion, VI.14·16.

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52 o FI!NIlMI!NO UHIIANO

então eram "livres" ou apenas controladas pelos mores c pelaopin.âo pública.

O efeito dessa expansão do que se chama poder judicialtem sido produzir uma mudança não apenas na dirctnz potí-tica íundnmcntal da lei, mas no caráter c posição dos trrbunars,

Os rribuna's de juventude e moral ilustram uma mudan-ça que talvez esteja ocorrendo em outro lugar. Nestes trrhu-nais os juizes assumiram algo nus rUIl'SÕC3 dos oficiais adminis-trativos, consistindo seus ucvcrcs menos na interpretação dalc! do que em prescrever remédios e par conselhos com a in-tenção de rccncarninhar a seu lugar normal na SOCiedade 03

dennqiicntcs trazidos à sua frente. .Uma tendência similar de dar 80S juizes ampla discrição

e impor-Ines uma responsabilidade adic.onaí é manifesta nostribunais que têm de lidar com. casos técnicos do mundo dos

. negócios, e no. aumento da popularidade de comissões nasq.iais se combinam funções administrat'vas e judiciais como,por exemplo, a Comissão de Comércio Interestadual.

A fim de interpretar de m~do;fundamental os fatos refc-rentes ao controle social, é imporúnte CQmeç~se com umaconcepção clara da natureza da ação, corporatrva.

A ação corporativa começa quando há algum tipo de co-municação entre os indivíduos que constituem um grupo. Acomunicação pode ocorrer em diferentes níveis; isto é, as su-~estões podem ser emitidas e respondidas nos níveis instintivo,sensomotor ou ideornotor. O mecanismo da comun.caçãr, émuito sutil, tão sutil, na verdade, que várias vezes é difícilconceber como as sugestões são transportadas de uma mentea outra. Isso não implica que haja qualquer forma de consciên-cia, qualquer sentimento especial de parentesco ou consciênciade espécie, necessários para explicara ação corporativa.

Na verdade, foi recentemente demonstrado que no caso decertas sociedades altamente organizadas e estáticas, como a dabastante conhecida formiga, provavelmente nada do que se cha-maria comunicação ocorre.

f. um fato bastante conhecido que se uma formiga for re-tirada de um formigueiro e mais tarde for recolocada ela nãoserá atacada, enquanto lima formiga que pertença a outro for-m"!.l1ciro será quase invariavelmente atacada. Tem sido COsi,meiro usar-se para a descrição desse fato as palavras memória,inimizade, amizade. Agora Bethe fez o seguinte experimento.Colocou uma formiga nos líquidos (sangue e linía ) extraídosdos corpos de companheiros de formigueiro, sendo entao reco-locada em seu forru:gue:ru, sem que houvesse sido atacada, Co-

A CI DAIl I! 53

locada então no líquido tirado de moradores de um formiguei-ro "hostil", foi imediatamente atacada c morta. li

Outro exemplo do modo pelo qual as formigas se comu-nicam ilustrará quão simples c automática a comunicação sepode tornar no nível instintivo.

Uma formiga, quando pela primeira vez toma uma direçãonova ao sair do formigueiro, volta sempre pelo mesmo cami-nho. Isso demonstra que algum rastro deve ser deixado atráspara seguir como guia de volta ao formigueiro. Se uma for-miga ao retomar por esse cam:nho não traz nenhuma presa,Bcrhc descobriu que nenhuma outra formiga tenta essa direção.Mas se ela traz de volta mel ou açúcar, outras formigas certa-mente tcnta'ão o cam'nho. E. por isso, algo das substânciascarregadas por este caminho pelas formigas deve permanecerno caminho. Essas substâncias devem ser suficientemente for-tes para afetar as formigas quimicamente. 1<

O fato importante é que por meio desse artifício compa-rativamente s.mples a ação corporativa se toma possível.

~ivíduos não s6 reagem um em relação· ao outro.dessa lIlan.eJia. refle!.a, mas_.!.ney!tavelmente comunicam se",>-~entimentos, . a~:t.!l.Qe.~_~._ex.<:it(lções orgânicas, e assim fazendonecessariaIiieiúe reagem não. aperias·âõ· -qúi!"'J::"ãâa.·inú;Yíàifu--':-.:'

,.efetivamente faz, mas ao que.l:Le_.pretende., deseja aI! _espçJ;,a .....'fazer. O fato de que os indivíduos traem outros sentimentose atitudes dos quais eles mesmos apenas obscuramente são cons-cientes, possibilita o indivíduo A, por exemplo, a ag'r em fun-ção de motivos e tensões de B no momento, ou mesmo antes,de B ser capaz de fazê-lo. Ainda, A pode agir sobre as su-gestões que emanam de B sem que ele mesmo esteja clara-mente cônscio da fonte de que surgem suas motivações. Asreações Que controlam indivíduos unidos em Um processo 50-

ciopsicológico podem ser a tal ponto sutis e íntimas.I:: sobre a base desse tipo de controle instintivo e espon-

tâneo que qualquer tipo de controle mais formal se deve fun-dar a fim de ser efetivo.

As mudanças na forma de controle social podem seragrupadas para i'IIS de investigação sob 03 títulos gerais:

I . A substituição do costume pela lei positiva e a ex-tensão do Controle municipal a atividades até então deixadasà discrição e iniciativa individuais.

13 Jacques Loeb, Comparativ- Physialogy af the Brain, pp. 220.21.H lbid .• p. 221.

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54 o FIlN()M HNO URnANO

2. A disposi<;iio dos juizes do~' tribunais numicipai» ecriminais para assumirem função administrntívn de tal formaque a udministrução da lei criminal deixa de ser uma meraaplicação do ritua] social e se torna uma aplicação de métodosracionais e técnicos, que requerem conhecimento ou conselhoespecializado, li Iirn de se rccncaminhar o indivíduo à socic-dadc c reparar o mal que sua delinqüência causou.

3. As mudanças e divergências nos mores de diferentesgrupos segregados e isolados na cidade. Ouais são, por cxem-pio, os II/OfeS da vendedora de loja?; do irnigrantc'i; do poli-tico'!; e do agitador trabalhista? '

O objetivo dessas investigações .dcvería ser não apenasdistinguir as causas dessas mudanças, a direção em que se-guem, mas também as forças capazes lde minimizá-las ou neu-tralizá-Ias. Por exemplo, é importante saber J!? os motivosque atualmente rnultiplicam as restrições positivas à vontadeindividual irão necessariamente tão longe neste pais quantoj.i foram na Alemanha. Ocasionaram elas, eventualmente, Umacondição ipróxirna do socialismo? '

Vício comcrcializadn e tráfico de bebidas. -- O controlesocial sob as condições da vida citadina talvez possa ser me-lhor estudado nas suas tentativas de eliminar o vício e de con-trolar o tráfico de bebidas.

O bar e os estahelecimentos de vício surgiram como ummeio de explorar os instintos e apetites fundamentais da natu-reza humana. Isto torna interessantes e importantes como ob-jetos de investigação os esforços realizados para regulamentare suprimir essas formas de exploração e tráfico.

Uma investigação desse tipo dexeria basear-se no estudoexaustivo: 1) da natureza humana sobre a aual se erigiu ocomércio; 2) das condições sociais que tendem a converterapetites normais em vícios sociais; 3) dos efeitos práticos dosesforços de limitação, controle e eliminação do tráfico do vícioe para acabar C0111o Uso e venda de bebidas.

Entre as coisas. que desejaríamos saber estão:Até que ponto o apetite para o estímulo alcoólico é uma

disposição pré-natal? . :Até que ponto tal apetite pode ser transferido de uma para

outra forma de estímulo, isto é, do }Iísque para a cocaína etc.?Até que ponto é possível substituir estímulos patológ'cos

e viciosos por estímulos normais e saudáveis'!Quais são os efe:tos sociais e morais da bebida em segredo?

A CIDAon

Ounudo se estabelece o tabu cedo na vida, ele tem o efei-to de idcaliznr 03 prazeres da satisfação do vício? Isso acon-tece em alguns casos e em outros não? Se assim é, quuis ascircunstânciue que contribuem pura isso? As pessoas perdemÍ'epentinanlcllte o gosto por bebidas e outros estímulos'? Quaissão as condições em que isso acontece?

Muitas destas perguntas podem ser respondidas apenas porum estudo de experiências individuais. Indubitavchnentc os ví-cios, como certas formas de doença, têm sua história natural.Podem, portanto, ser considerados como entidades independen-tes que encontram seu habita! no meio urbano, são estimula-dos por certa:; condições, inibidos por outras, mas exibem in-variavelmente, através de todas as mudanças, Um caráter que étípico.

Em seus primeiros dias, o. movimento de temperança ti-nha algo do caráter de uma campanha religiosa, e os efeitoseram altaml!nte pitorescos. Nos últimos anos, os líderes de-senvolverarn uma estratégia mais estudada, mas a luta contrao tráfico de bebidas ainda tem todas as caracteríslicas de umgrande movimento popular, Um movimento que, tendo inicial-mente conquístado os distritos rurais, está agora procurandoimpor-se nas cidades.

Por outro lado, a cruzada contra o vício começou na cida-de, de onde, na verdade, o vício comercializado é orlg.nário ,A simples discussão em público sobre este assunto significouuma enorme mudança nos mores sexuais. É significativo o fatode coincidir este movimeuto, em toda parte, Com a ascensãodas mulheres e uma liberdade maior na indústria, nas profis-sões e nos partidos políticos.

Há condições peculiares à vida das grandes cidades (re-feridas sob o título "Mobilidade da População das Grandes Ci-dades") que tomam o controle do vício especialmente difícil.Por exemplo, cruzadas e movimentos geralmente não têm nomeio ciu.dino o mesmo sucesso que alcançam em comunidadesmenores e menos heterogêneas. Quais as condições que fazemcom que isso aconteça?

Talvez os fatos mais merecedores de estudo com relaçãoao movimento para a suspensão do vício são aqueles que in-dicam as mudanças nos mores sexuais ocorridas nos últimoscinqüenta anos, especialmente Com referência ao Que é con-siderado modesto ou imodesto no vestuário e no comportamen-to, e com referência à liherdade com que os assuntos sexuaissão agora discutidos por jovem, moças e rapazes.

Parece, na verdade, como se cst.véssemos em presença deduas mudanças demarcadoras de épocas, uma que parece estar

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56 o FENÔMENO URDANO

definitivamente destinada n colocar as bebidas nlcoólicns nacategoria de drogas venenosas, e n outra a levantar o tabu que,especialmente entre os povos anglo-saxões, tem efetivamenteimpedido até o momento presente 11 discussão franca dos lutosdo sexo.

Politlca partidária e publicidade. - Existe atualmente emtoda parte urna disposição para aumentar o poder do ramo exe-cutivo do Governo às custas do ramo lcgisrativo, A inftuênciados Lcgislativos estaduais c dos conselhos citadinos tem d.mi-nuído em alguns casos pela introdução do referdo c pela re-vogação. Em outros, tem sido amplamente substituída pelaforma de Governo por comissão. A razão ostensiva para essasmudanças é que elas oferecem um meio de derrubar o poderdos políticos profissionais. A base real parece-me se; o reco-nhecimento do fato de que a forma de Governo que tinha suaorigem na assembléia da cidade, e que bem se adaptava às ne-cessidades de uma comunidade pequena baseada em relaçõesprimárias, não é apropriada para o Governo das populaçõeshe.erogêncas e em mudança 'de cidades de três ou quatro 111:-

'Ihões de habitantes.i

Muito, é claro, depende do caráter e do tamanho da popu-lação. Onde ela é de origem americana e o número de cica-dãos eleitores não é grande demais' para uma discussão calmae completa, não se pode imaginar; melhor escola de políticanem mais acertado método de controle dos negócios para evi-tar a corrupção e o desperdício, para estimula; ti vigilância ecriar satisfação. Quando, porém, a assembléia citadina cresceualém de setecentas ou oitocentas pessoas e, mais ainda, quandoalguma seção considerável é constituída por estrangeiros, ••.IlScomo irlandeses ou Iranco-canadenses, llltimamente vindospara a Nova Inglaterra, a instituição trabalha menos perfeita-mente porque a multidão é grande. demais para o debate, asfacções tendem a surgir, e os imigrantes, não-tre:nados em_au-togoverno, se tornam presa ded~gOgõSmesquTtlhoS e ,~de in- _dlVlduos9':le. _~~n~~r.a.El.p'~!!.~á5 os. ba~!!ªQr.ç.:i.._~

Pur um lado, os problemas do.Governo citadino tornaram-se tão complicados com o crescimento e a organização da v.da,!tadina que não é mais desejável deixá-Ias ao controle de ho-mens cuja única qualificação para! orientá-I os consiste no fatode haverem conseguido ganhar o Governo através da maqui-naria comum da política de bairro.

•• James :iiyce, The Amerlcan CommonK'callh. I, :566.

A CIO:\I)(!

Outra circunstância que tornou pouco prática, sob as con-diçõcs da vida citadina, li seleção dos íuucionários c.tadinospor voto popular é o fato de que, cxccto em casos cspcciais,_.:?_eleitor pouco ou nada sabe :>obrc . /" . otu'pouco ou na a sa >C .sob:C ..~lâ.J..lUll;ãcs ."du~-·pMlI-o--quaf·aqücté-fúncicinãriõ'-se 'elege; c. além.dctudoo ma's, está muitoocupado em outrr. coisa para se informar das condições e nc-ccssidadcs da cidade como um Iodo.

NIJma recente eleição em Chicago, por exemplo, convoca-ram-se os eleitores para selecionarem candidatos de um qua-dro contendo 250 nomes, a ma'oria dos quais desconhecidapara o. elci.tor. Sob cs~as c:irc~~.~!l~~~~ ..? c:d_~d,ãoq!JC desejavotar mtellgentemente confIa em alguma organização ou emalguo1 côriselheiro mais ou menos interessados para. lhe dize-rem como votar.

Para responder a essa emergência, primariamente criadapor condições impostas pela vida citadina, surgiram dois tiposde organização para controlar aquelas crises artificiais que cha-mamos eleições. Uma delas é a organização representada pelochefe po~í~i~.~ .pe!a ~~'l';!~,?a_P9_l!.!~ca. A outra é a r.ep~esenta-da petas. ~Igas dos efell<>.r:~ 1.~;o-â~~~~,~nt~:~.,2:I?sassocraçoes ,d9S.conmbuintes e por orgaruzaçces como os eS~~I.t9r!()sd.~,.pe.~.q!:l!~a_jnunicipal. .' ..,., . " ,

Uma indicação rias condições bastante primitiva; em quese formaram nossos partidos políticos é que e'es procuraramgovernar o país com o princípio de quç o remédio para todosos tipos de males administrativos era uma mudança de Gover-no, expressa numa frase popular - "expulsar os velhacos". Amáquina política e o chefe político surgiram no interesse dapolítica partidária, Os part'dos eram necessariamente organi-zados para vencer as eleições. A máguinª l'9li!ic~.L.~P.':tl~~UJ.11. instrumento técnico invemado __(:.Qm º.prop6s.!,to ,.d.e,~tin.gireste f:m. O chefe é. o per'to que.cpera a n,áquil!a.,~le é tã()_P..: .• .ssário para li vitória nas eleições quanto um treinador pro-fissional é necessário para o sucesso no futebol. ' .

B caractÚísticõA~,. s de organização, que se de-sen~olv~ram ..Ç9fTÍ~pio~~:.to 'de- ntrolar o yoto popl~l~r, queo pLlmelro,;{Í máquina pO.ItI~~ b a-se tima analise emrelações loc'a-K...e~ ..-_.~ "irnárias. O segundo, as or-gan'zações por um bom (J9ye[~~"""1l'Pelo ao público, eo público, como norm~entendemos... ~ta expressão, éum g:upo baseado c~elações secundárias. O~,~embros de umpúblico, em regra, 1I~ ~QRheceill--pêssoãfmente.• A máquina política é, de fato, uma tentativa de manter,

dentro da organização administrativa formal da cidade. o cou-

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58 o FEN()MENO UIWI\NO

trolc de UIII grupo primário, As organizuções assim constituí-das, das quais o Tuuunany J/aU é 11 uustrução clássica, parecemser profundamente feudais CIII seu caráter. As rela.ÇÕes entre ochefe c seu cabo eleitoral parecem ser eXUlãiüêõt~ <lS envoívT--(hís 'na relação feudal: por um Indo; de tcaídadc pessoa l, e,[Rfr outro, {te protcçããpcssoa]. As virtudes qyt" tal organiza-

-çã6 dcmoniúi-ã'süõ-üquclas velhas virtudes tribais de fidl:'Jllade,lealdade e devoção aos interesses do chefe do clã. As pessoasinternas à organização, seus amigos c.sustcntadorcs, constituemum grupo "nós", enquanto o resto da cidade c rncrurncntc omundo cxrc.ior, que não está propriamente vivo, nem é pro-priamcnte humano, no sentido em que os membros do grupo"nós" é e está. Temos aqui algo que se aproxima das condi-ções sociais da sociedade primitiva,

A concepção de "sociedade primitiva" que devemos formaré a de pequenos g.upos espalhados por um território. O lama-nho dOI; grupos é xlctermmado pelas' condições da luta pelaexistência. A organização interna de cada grupo correspondca seu tamanho, . Um grupo de grupos pode ter alguma relaçãoum com O outro (parentesco, vizinhança, aliança, connubiume commercium) que os reúne e oS diferencia de outros. Assimsurge uma diferenciação entre nós mesmos, o grupo "nós", ougrupo interno, * e todo mundo mais, :ou os grupos dos outros,ou grupos externos. * * Os que estão dentro de um grupo "nós"estão numa relação um com o outro 'de paz, ordem, lei, Gc-vemo e indústria. Sua relação com todos os forasteiros, ou gru-pos dos outros, é de guerra e saque, exceto na medida em queos acordos a têm modificado. I

A relação de camaradagem e pai no grupo "nós" e a dehostilidade e guerra contra os grupos dos outros são correlatí-vas uma com a outra. As exigências de guerra com os forastei-ros são o que garante a paz no interior, ou a discórdia internaenfraqueceria o grupo "nós" para a guerra. Essas exigênciastambém garantem o Governo e a Lei no grupo interno, a fimde evitar rixas e impor a disciplina. 10

A política da maioria das cidades grandes oferece mate-rial abundante para e estudo do tipo representado pelo chefepolítico, bem como dos mecanismos sociais criados e inccroo-rados pela máquina política. É necessário, contudo, que os 'es-tude'11OSdesapaixonadamente. Algumas das pergunt3s a que de-veríamos procurar responder são:

• N, do T. - No original: we-grou p c in-group,•• N, do T. - No original: othcrs-gronps e out-groups.te Sumner, Folkways, p. 12.

A ClOADE 59

o que é, na realidade, 1\ organização políricu em um pon-to qualquer da cidade'! Ouais Os scntimcnros, as atitudes e osinteresses quc encontram expressão por seu intermédio?

Ouais os dispositivos práticos que emprega para a mobili-znção de suas forças c para colocá-Ias em ação'!

Qual o caráter da atraçáo cxcrcida pelo partido nas dife-rentes regiões morais de que, é feita a cidade"!

Até onde o interesse nu política é prático c até onde ~mero esporte?

Que parcela do custo das eleições constitui a publicidade?Que quantidade dela pode ser classificada como "publicidadeeducacional", e quanto é pura demagogia?

Até que ponto, nas condições existentes, e especialmentecomo as encontramos nas cidades grandes, as clciçôes podemser controladas praticamente por artiãcios puramente técnicos,fichário de endereços, passeatas à luz de rochas, maquinaria dis-cursiva?

Que efeito terá a introdução do referendo e da revogaçãosobre os métodos atuais de Conduzir eleições nas cidades?

Propaganda e controle social. - Em contraste com a má-quina política.. que fundou sua ação organizada sobre OS inte-resses imediatos, locais e pessoais, representados pelas diferen-tes vizinhanças e localidades, as organizações para um bom Go-verno, os escritórios de pesquisa municipal e similares tentaramrepresentar os interesses da cidade como um todo, fazendo ape-lo a um sentimento que nem é local nem pessoal. Essas agên-cias procuraram assegurar a eficiêhciaeo bómGoverno pelaeducação do eleitor, isto é, investigando e publicando os fatosreferentes ao Governo. ~

Nesse sentido a publicidade passou a ser uma forma decontrole social reconhecida, e a propaganda - "propagandasocial" - se tornou um profissão com uma técnica elaboradasustentada por um corpo de conhecimentos específicos.

Um dos fenômenos caracrerístlcos da vida citadina e dasociedade baseada em rclaçôes secundárias é que a propagandaviesse a ocupar um lugar tão importante em sua: categoria,

Nos últimos anos, todo indivíduo e toda organização, quetenha de lidar com o público, isto é, com o público (ora dascomunidades da aldeia c da cidade pequena. menores e maisíntimas, vieram ::1 ler seu agente de publicidade, que cada vez émenos um publicista do que um diplomata acreditado juntoaos jornais, e através deles junto ao mundo. Instituições comoa Russcll Sage Foundauon c, num âmbito menor, a Junta de

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Educação Geral, procuraram influenciar diretamente a opiniãoplthlicu por intermédio da publicidade; O Rclatófio Carncgic so-bre Educacão Médicn, o Levantamento de Piusburgh, o Rela-tório da Russcll Sagc Foundation sobre Custos Comparativosd., Educação Escolar Pública nos vários estados são algo maisdo que relatórios científicos. São antes uma forma elevada dejornaJ:smo, lidando criticamente com çondiçõcs existentes c pro-curando provocar reformas radicais através da agência de pub'i-cidade. O trabalho do Escritório de PC!lquisa Municipal de NovaYork teve um objetivo prático similar, Acrescente-se a esteso trabalho realizado pelos relatórios do bem-estar infantil, peloslevantamentos sociais empreendidos Fm diferentes partes dopais, c por propaganda similar em prol da saúde pública.

A opinião pública toma-se importante como uma fonte decontrole social em sociedades baseadas em relações secundá-rias, de que as cidades grandes são típicas. Na cidade, todogrupo social tende a criar seu meio préprio e, na medida emque essas condições se-fixam, os mores tendem a se acomodaràs condiçõ~m criadas. Nos grupos secundários e na cidade,a moda t~de a ~uhstituir o costume, e a opinião p(lblica, maisdo que os ==» torna a força dominante do controle SOCIaL

Em qualquer tentativa de compreensão da natureza daopinião pública e de sua relação com o controle social, é im-portante investigar, antes de mais nada, as medidas e os meca-nismos que passaram a ser utilizados praticamente no esforçode controlar, esclarecer e explorá-Ia.

Destes o primeiro e o mais importante é a imprensa, istoé, o jornal diário e outras formas de'literatura usuais, inclusivelivros considerados de ampla circulação. 17

Depois do jornal, os escritórios de pesquisa, atualmentesurgindo em todas as cidades grandes; são os mecanismos parao uso da publicidade como meio de 'controle social mais inte-ressantes e promissores.

Os frutos dessas investigações pão atingem o público di-retamente, mas são disseminados por intermédio da imprensa,do púlpito e de outras fontes de esda:ecimento popular.

Além destes, existem as campanhas educacionais em prolde melhores condições de saúde, relatórios do bem-estar infan-til e os numerosos artifícios de "propaganda social" atualmenteempregados, algumas vezes por inicirttiva de sociedades priva-das, outra-s por iniciativa de jornais ou revistas popu'urcs, a fim

I:11 Cf. Bryce, The Amerlcan Comt/IOTlw~all", p_ '2(,7

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A C1DADH 61) I j

de educar o público c alistar a massa do povo no movimentopara a mclhoria das condições da vida comunitária.

O jornal é o grande meio de comunicação dentro da cida-de, c é na base da informação Iornccida por ele. que se baseia

. a opinião pública. A primeira função que um jornal preencheé a que anteriormente o Ialatório desempenhava na ardera.

Entretanto, apesar da diligência com que os jornais pro-curam fatos de informação pessoal e de interesse humano, nãopodem competir com o Ialatório da aldeia como meio de con-trole social. Uma das razões é que o jornal mantém algumasreservas não-reccnhecidas pelo Iaíatórío em assuntos de infor-mação pessoal. Por exeOl.e!_~,_~t§_º_m01T!~!11Q. e~,_C]!!~~~a.~~"i-datam a um cargô--õu cometem algum outro ato manifesto,qne-os-traz- ll:tidamente--diaTITC 'dõ puoIico, .a .vidà priviídà-'(fc··homens ou mulheres é um assunto-tabu paraosiornais. Isso nãoacontece com o Ialatório, em-::par1e-porque- rlllm-ã-êomunidadepequena, indivíduo algum é tão obscuro que seus negócios pri-vados escapem à observação e discussão; e em parte porque ocampo é menor. Em comunidades pequenas há urna quanti-dade verdadeiramente espantosa de informação pessoal à tonaentre os indivíduos que as compõem.

A ausência disso na cidade é que, em grande parte, faz dacidade o que ela é.

Algumas das perguntas que surgem com relação à. nature-za e função do jornal e da publicidade são em geral:

O que é notícia?Quais os métodos e motivações do jornalista? São os de

um artista?; os de um historiador?; ou apenas os de um comer-ciante?

Até que ponto o jornal controla e até que ponto é contro-lado pelo sentimento público?

O que é uma "nota falsa" e por quê?O que é jornalismo amarelo e por que é amarelo?Qual seria o efeito de fazer do jornal um monopólio mu-

nicipal? .Qual é a diferença entre propaganda e notícia?

IV. o TEMPERAMENTO E O MEIO URBANO

As cidades grandes sempre foram o cadinho de raças e deçultvras. A partir das interações sutis e vivWas"õe-qÜe-têtnsido os centros, surgem as novas variedades e os novos tipos

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•..~f ._~ o FENÔMENO URnANO

sociais. As cidades grandes dos Estados Unidos, por exemplo,tírvam do isolamento de suas aldeias natais grandes massas dopopolaçôcs rurais dn Europa c da América. Sob o impacto de'l0lUS contatos, as energias Intentes desses povos primil:vo$ ser;';:.:óam, c os processos mais sutis de intcração trouxeram aexistência não apenas de tipos vocaciounis, mas de t:pos temo.paramcntais .

A lI/ohilizaçÜo ~tQ..!z(}I1/C/ll individual. - O transporte c acomunicação efetuaram, entre muitas outras mudanças silcn-ciosas mas penetrantes, o que chamei de "mobilizaçâo do~OIIl~m individual". ~ullirlica~_~~:~g?~t,lI,I]~_~cS <l~.~5!!!1~)nIrulivJ(.l ua Iqu,lIf) to .. ~~ ....çg..n t~._.~ _._~J9.9II.sjiº.~.!}! ..o.~Ç!.I~._l'i.<:'!!lç: .IIW1tes, mas tornaram es~e~. <::~!1!~~<?~oA_..ª$.~gfiª~~",.m,\is ..transi- .!~~..~."-2.~.~<!~.s.~t4y~"í.s.U.maparcela bem grande das poru-laçôes das cidades grandes, inclusive as que constituem ".;u 'v o' •

lar em casas de cômodo ou apartamentos, vivem~, b.?~"..Ea,~tc r ,,\-!i' ,~I/coeo as pessoas em algu~ ..grandcihotel, C?~~2~.tEanà?:sç..mas --</f i).,{iCsem sc-cõrihctcrúriúis' às outras, (5, efeito disso é substituira. associações .. mais íntimas e~pénriaõéntei' ·da·· cOCflunlJada.menor por uma relação casual e fort!Ji~a... ;~ . " .. , , ' , .' ' " ' .

Sob essas circunstâncias o status do indivíduo é determi-nado num grau considerável por sinais con~encionais - pormoda e ··aparênci.a" -~~~~!~.~._y'~ªa_~~duz-s~.~.'P~an<;ly'.p:ãite"a esqUIar ~obje-superfícies finas e a um escrupulosoesmdo de estilos e maneiras.

Não sornente o transpo-rte e .a comunicação, mas tam-br-m a segregação da população urbana tendem a facilitar all":bilidade do homem individual. Os processos de segregaçãoeaabelecem distâncias morais que fazem da l::idade um ~~<licode pequenos mundos que se tocam.jmas não se interpenetram.Isw posSi6i1itáiiõ indlvfduó passar fápida 'efac1híiênté deummeio moral a outro, e encoraja a experiência fascinante, masperigosa, de viver ao mesmo tempo em vários mundos difc-ceares e contíguos, mas de outras' formas amplamente sepa-raJas. Tudo isso tende a dar à vida citad~~ª ...!!..rn.xarárer,~!~ficial e adventícío; tende a compjicar asrelaçõcs sociaise a produzir tipos 'individuais novos e d:verg:!ntes. Introduz,ao mesmo tempo, um elemento de: acaso e aventura que seacrescenta ao estimulo da vida citadina c lhe confere umaatnção especial para nervos jovens e frescos. O atrativo dascilbdes grandes é talvez uma conseqüência de estímulos que3g'Qn diretamente sobre os reflexos. Enquanto tipo de COIl1-

ponamento humano, pode ser explicado, numa espécie de tro-pu-o, como a atração de uma mariposa pela chama.

A emADE 63

Entretanto, a atração da metrópole é em parte devida 110

falo de que a longo prazo cada indivíduo encontra CIIl algum .. dlugar entre as variadas manifestações da vida cit;;dinã"õtipo c,o (1 \J WdCllI~lhJcntcl!<!".q~~s~§~p'~I!1®·~ê.~~c.:ScJl.l"Ç-à:::YQ.ãlã~--::ê'nciilil-H~;~'J, t.o I:/0 ',\:C.em suma, () clima mo~<t.I.e!l1 <p./c sua natureza peçul.iqr. O?léUl\u \ J I.C.os estímulos q~c dão livre C totulcxprcssâo .3 suas disposições .inatas; São mctivaçõcs desse tipo, suspeito eu, que têm suasbnxcs não no interesse, nem mesmo no sentimento, mas emalgo mais fundamental e primitivo, que trazem muitos, se nãoa maioria de jovens e mulhe:es, da segurança de suas casasno interior para a grande c atordoantc confusão e excitaçãoda vida citadina. ~.:omllnidadc pcoucna, o homem normal, /'(!' I I _{)_(.'

O homem sem cxcentricldâde' "ÕtCgêntó;"é"-'ô que' pareCê "malr . , '.I1 I, ,1"teíRlcrifC"u'sc" TCrrlmr;"'PotlCliS 'Qezc's-a'comUnidáde pequena'tolera a cxceritrk~<Jade.!-. A _çidad..Ç...._~o contrário, a rccom-~rísã~.~em o crimin;so, nem.o defeituoso, neffi'ü'-iêí1íi);' Iéinna cidade pequena a mesma oportunidade de desenvolver suadisposição inata que invariavelmente encontra na cidade grande.

Há cinqiienta anos, toda aldeia tinha um ou dois tiposexcêntricos que eram normalmente tratados com uma rolerân-cia henevolente, mas que eram entrementes considerados es-quisitos e intratáveis , Esses indivíduos excepcionais viveramuma existência. isolada, separados do intercurso genuinamenteíntimo com seus colegas, por suas próprias excentricidades.quer de gênio, quer de deficiência. Se tinham a potencialidadcde criminosos, as restrições e inibições da comunidade peqll~naos faziam inofensivos. Se tinham em si a substância do gênio,permaneciam estéreis por falta de apreciação ou oportunidade.A estória de Mark Twain Pudd'n Head Wilson é uma dcscliçãode um desses gênios obscuros e não apreciados. Como

Muita é a flor que nasce rásea sem ser vistaDesperdiçando seu perfume no ar deserto.

Gray escreveu a "Elegia no Pátio de uma Igreja do Campo"antes do surgirnento da metrópole moderna.

Na cidade. muitos desses tipos divergentes encontram ummeio no Qual, para o bem ou para o mal. suas disposições etalentos dão frutos.

Na invcstigaçào desses tipos excepcionais e ternperamcntaisq1le a cidade produz, deveríamos procurar distinguir, na me-dida do possível, entre as qualidades mentais abstratas em quese baseia a excelência técnica t: as características inatas n.ais

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o FeNÔMENO lJR.n,o\t-'()

fundamentais qlll! encontram expressão no temperamento. Po-demos portnnto perguntar:

Até que ponto as qualidades in'oraill dos indivíduos estãoba ••cudas no caráter inato'! Até que ponto são hábitos convcn-cionulizados do grupo, impostos a ;c1es ou por eles assumidos?

Ouais as qualidades e as características inatas sobre IIS

quais se hn••c:a o caráter rnorai ou imoral aceito e convcn-cionalizadn pelo grupo?

Que conexão ou que dissoc'ação parece existir entre asqualidades mOIais c mentais dos g.upos c dos indivíduos queos compõem?

Os criminosos são em regra, de ordem de inteligênciamais baixa que 05 não-crirn'nosos? Se assim é, que tipos deinteligência se associam a diferentes tipos de crime? Por exem-plo, ladrões profissionais e homens de confiança prof.ssionaisrepresentam tipos mentais diferentes? , _. o,

Ouais 05 efeitos sob.e esses 'o.diferentes tipos (mentais)elo cs.imulo e da repressão, do is?lamentoe da mobilidade?

Até que ponto os pátios de, recreio e outros tipos derecreação podem fornecer o estf .. .rlo que, de outra forma, éprocurado em prazeres viciosos?

Até que ponto a orientação vocaciorial pode auxilia, osindivíduos a trar vocações em que serão capazes de obteruma ex p' são livre e suas qualidades ternperamentais?

A egião moral. f: inevitável que indivíduos que bus-cam as s de diversão, quer sejam proporcionadaspor corridas de cavalos ou pela ópera, devam de tempos emtempos se encontrar nos mesmos lugares. O resultado disso éque, dentro da organização que a vida citadina assume espon-taneamente, !!oPOP.l:lJaç~9.~e!l~.ç.ª o~e ~~~egar .não. apenas deacordo com seus interesses, mas de a~~9.9,oJ~ºmSel}LgºSlOse seus temperamentos, A distdbüição'da população resultantetende a ser bastante dife:ente daquela ocasionada por inte-resses ocupacionais ou por condições econômicas.

Cada vizinhança, sob as influências que tendem a d.stri-buir e a segregar as populações citadinas, pode assumir ocaráter de uma "região moral". ,Assim são, por exemplo, aszonas do vício encontradas na maioria das cidades. Uma je(~omoral não é necessariamente um lugar de domicílio. Pôde ser'apenas tltif -põIilõ 'iIe°encõl1tro,°í1m·1oCClI .de--re\minlC _ .. .,,_0 o

, Com o intuito de entender as forças q~~·-~~ltoda cidadegrande tendem a desenvolver esses ambientes isolados nosquais 05 impulsos, as paixões e; os ideais vagos e reprimidos

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A Cmsnn(;5

se emancipam da ordem morol dominante, é necessário rcfe-rir-se no fato ou teoria dos impulsos latentes dos homens.

A verdade parece ser que os homens são trazidos aomundo com todas as pa~xõcs, instintos c Ilpetitcs, incootroladúsc ind'sciplinados. A civilizaÇão, no interesse do bem-estar co-mum, requer algumas vezes a repressão, c semp;e o controle,dessas disposições naturais. No processo de irupor sua disci-plina ao indivíduo, de refazer o indivíduo de acordo com omodelo cOrnunilúrio aceito, grande parte é Completamente re-primida, e uma parte maior encontra uma expressão substi-tuta nas formas socialmente valorizadas ou pelo menos inócuas.t nesse ponto que funcionam o esporte, a diversão e a arte.Permitem ao indivíduo se purgar desses impulsos selvagens ereprimidos por meio de expressão simbólica, B esta a catarsede que Arisl.~,pJes escreve em sua Poética, e à qual têm sidodadas significações novas e ma.s positivas pelas investigaçõesde Sigmund Freud e dos psicanalistas.

Não há dúvida de que muitos outros fenômenos sqçiaiscomo greves, guerras, eleições populares e movimentos reli-gíosos desempenham uma função similar ao libertar as tensõessubconscientes. Mas há, no interior de comunidades pequenas,onde as relações sociais são mais Íntimas e as inibições maisimperativas, muitos indivíduos excepcionais que não encontramdentro dos limites da atividade cornunal nenhuma expressãonormal e saudável de suas aptidões e temperamentos indivi-duais.

As causas que fazem surgir o que aqui descrevemos como"reg.ões morais" são devidas em parte às restrições que a vidaurbana impõe; e em pane à pe::missibilidade que essas mesmascondições oferecem. Temos dado muita atenção, até bem re-centemente, às tentações da vida citadina, mas não temosdedicado a mesma consideração aos ete:tos das inibições erepressões de impulsos e instintos naturais sob as condiçõestransformadas da vida metropolitana. Por um lado, as crianças _que no campo são consideradas uma ·varitagetn se tornam nacidade lima {esponsab~!iqade. Afora isso, é .muíro mais difícilcri ãrüm a família na cidade do que na fazenda, Na cidade, ocasamento aContece mais tarde, e algumas vezes não acontecede jeito nenhum. Esses fatos têm conseqiiênc:as cuja signifi-cação somos ainda totalmente incapazes de estimar.

A investigação dos problemas envolvidos bem poderiacomeçar por 11m estudo e comparação dos tipos caractcrísncoj,de organ:zação social existentes nas regiões refer.das.

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so o FnN~MRNO UKOANOí!

Ouais os fatos externos referentes i\ vida boêmia, 1I0 sub-mundo, i\ zonn proibida, c U outras "regiões morais" de carútcrmcnu!! pronunciado'! .

Ou ai 11 n:tturezn das vocações ligadas fi vida comumdCSS,L'i rc~iôes1 Ouais os tipos mentais característicos atraíd·"pela liberdade (IUC oferecem?

C0l110os indivíduos se orientam nessas regiões? Comoescapam delas?

Até que ponto as regiões referidas são o produto da licen-ciosidade; até que ponto são devidas às restrições impostasno h~ natural pela vida cj~

Temperamento e contágio sociàr;;- O que concede umaimportancm cspcama segregação do pobre, do viciado, docriminoso e das pessoas excepcionais em geral é o fato, urnadimensão tão característica da vida citadina, de que o contágiosocial tende a estimular em tipos divergentes as diferenças tem-pcramcntais comuns, e a suprimir os caractercs que os unemnos tipos normais à SU:l volta. A associação Com outros de sualaia proporciona não apenas um estímulo; mas também umsuporte moral para os traços que têm em comum, suporte quenao encontrariam em uma sociedade menos selecionada. Nacidade grande, O pobre, o viciado e Q delinqüente, cornprirn'dosum contra o ootro numa intimidade mútua doentia e conta-giosa, vão-se cruzando exclusivamente entre S!, corpo e alma,de um modo que muitas vezes me faz pensar que aquelasextensas genealogias dos Jukes e das tribos de lsmael nãoteriam demonstrado uma uniformidade de vício, crime e p0-breza tão persistente e tão angustiante a menos que estivessemadequadas da maneira peculiar ao meio em que foram conde-nadas a existir.

Devemos então aceitar essas "regiões morais" e a gentemais ou menos excepcional e excêntrica que as habita, numsentido, ao menos, como parte da vida natural, se não normal,de urna cidade.

Não é preciso entender-se pela expressão "região moral"um lugar ou uma sociedade Que é necessàriamente ou criminosaou anormal. Antes, 'ela foi proposta para se aplicar a regiõesonde prevaleça um código moral divergente, por uma regiãoem que as pessoas que a habitam são dominadas, de uma ma-neira que as pessoas normalmente '~ão o são, por um gosto,por uma paixão, ou por algum interesse que tem sua raizesductamcnle na natureza original do indivíduo. Pode ser umaarte, COulO a música, ou um esporte, como a corrida de ca-valos. '1.11 região diferiria de outros grupos sociais pelo fato

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de seus interesses serem mais imediatos e mais fundamentais.Por essa razão, suas diferenças tendem a ser devidas mais aum isolamento intelectual.

Devido à oportunidade que oferece, cspeciulrncmc aostipos de homens excepcionais c anormais, a cidade granll": ..tende .\ dissecar c a desvendar à vista pública c dc maneiramaciça tOlJQs'~o~jiãfcl-S··...Ecaracicres··n-üman-m-·ilormãlmerilé()J)sçu.:I~~a~itl:>.c.~cprinlido;nãs~<ij~_~.i!iJª-~\!~r.n~!12~<?~;J:msulná:-

l! a cidade mostra em c"'iccssõ o bem e o mal da natureza hu-inwna. I'alvéi· sclãCs·ic·1âtõ;IUá-is-·do Pq-í.ic·qualqüéi-()\llrO, que.. fu;;tITIcâ' a perspectiva que faz da fiili!~_Ufl}-.l:ll).~.:.?.!!~~i9... ~~\ clínica onde a natureza. humana c os processos sociais podem

ser estudados convcnlcnic c··prô'vcitosiimc"ílfC.·· -. .. ,..,---.