80
APRESENTAÇÃO Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea- lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que melhor se encaixa à organização curricular de sua escola. A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen- tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci- dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas, histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob- jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade. As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada região brasileira. Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz. Gerente Editorial Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

  • Upload
    others

  • View
    11

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

APRESENTAÇÃO

Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três

séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea-

lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que

melhor se encaixa à organização curricular de sua escola.

A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen-

tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci-

dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito

crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas,

histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de

dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob-

jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade.

As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante

situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos

privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de

questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada

região brasileira.

Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia

intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o

aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz.

Gerente Editorial

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo

Page 2: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

DIRETOR-SUPERINTENDENTE:

DIRETOR-GERAL:

DIRETOR EDITORIAL:

GERENTE EDITORIAL:

GERENTE DE ARTE E ICONOGRAFIA:

AUTORIA:

ORGANIZAÇÃO:

EDIÇÃO:

ANALISTA DE ARTE:

PESQUISA ICONOGRÁFICA:

CARTOGRAFIA:

ILUSTRAÇÕES:

PROJETO GRÁFICO:

EDITORAÇÃO:

CRÉDITO DAS IMAGENS DE ABERTURA E CAPA:

PRODUÇÃO:

IMPRESSÃO E ACABAMENTO:

CONTATO:

Ruben Formighieri

Emerson Walter dos Santos

Joseph Razouk Junior

Maria Elenice Costa Dantas

Cláudio Espósito Godoy

Nathalia Saliba Dias / Sergio Augusto Kalil

Sergio Augusto Kalil

Roland Cirilo da Silva / Rose Marie Wünsch

Tatiane Esmanhotto Kaminski

Madrine Eduarda Perussi

Luciano Daniel Tulio

Marcos Guilherme

O2 Comunicação

Danielli Ferrari Cruz / Arowak

© iStockphoto.com/kemie; © Thinkstock/Jupiterimages;

© Shutterstock/iofoto; © Dreamstime.com/Dmccale

Editora Positivo Ltda.

Rua Major Heitor Guimarães, 174

80440-120 Curitiba – PR

Tel.: (0xx41) 3312-3500 Fax: (0xx41) 3312-3599

Gráfica Posigraf S.A.

Rua Senador Accioly Filho, 500

81300-000 Curitiba – PR

Fax: (0xx41) 3212-5452

E-mail: [email protected]

2014

[email protected]

© Editora Positivo Ltda., 2013Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora.

Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.

Neste livro, você encontra ícones com códigos de acesso aos conteúdos digitais. Veja o exemplo:

Acesse o Portal e digite o código na Pesquisa Escolar.

@LIT030Autores e obras

da literatura

brasileira

@LIT030

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

D541 Dias, Nathalia Saliba.Ensino médio : modular : literatura : parnasianismo, simbolismo e pré-modernismo /

Nathalia Saliba Dias, Sergio Augusto Kalil ; ilustrações Marcos Guilherme. – Curitiba : Positivo, 2013.

: il.

ISBN 978-85-385-7201-5 (livro do aluno)ISBN 978-85-385-7202-2 (livro do professor)

1. Literatura. Ensino médio – Currículos. I. Kalil, Sergio Augusto. II. Guilherme, Marcos. III.Título.

CDU 373.33

Page 3: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

SUMÁRIO

Unidade 1: Parnasianismo

Poesia parnasiana 6

Olavo Bilac 8

Alberto de Oliveira 13

Raimundo Correia 14

Unidade 2: Simbolismo

Simbolismo em Portugal 26

Simbolismo no Brasil 27

Unidade 3: Pré-Modernismo

A literatura pré-modernista 47

Page 4: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Parnasianismo1

Correspondências

Como os ecos lentos que a distância se matizam

Numa vertiginosa e lúgubre unidade,

Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,

Os sons, as cores e os perfumes harmonizam-se.

BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 115.

4 Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo

Page 5: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Observe, nas imagens, elementos das culturas grega e latina da Antiguidade:

Partenon. Atenas, Grécia

© S

hutt

erst

ock/

Hea

ther

Wen

zel

Core

l Sto

ck P

hoto

s

Core

l Sto

ck P

hoto

s

© S

hutt

erst

ock/

Scio

n Tendo como base esses elementos da ar-quitetura e da escultura clássicas, que ideias mais comumente lhe vêm à mente: profusão de elementos e desordem ou equilíbrio de formas e ordem? Que elementos dessas formas artísticas justificam a sua opinião?

Core

l Sto

ck P

hoto

s

Vênus de Milo, Discóbulo e Kouros de Anavisos: exemplares da arte clássica greco-latina

Ensino Médio | Modular 5

LITERATURA BRASILEIRA

Page 6: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

O Monte Parnaso real, hoje, na Grécia

Poesia parnasiana

A arte realista, devido ao fato de reproduzir ostensivamente os costumes da sociedade, ao ponto de ser um espelho da realidade, acabou por saturar tanto os artistas quanto o público.

Diante disso, um grupo de intelectuais franceses ergueu a bandeira contra o Realismo e propôs o culto à arte voltado para a própria arte.

Os escritores passaram a valorizar a poesia que tinha como tema a própria poesia ou, ainda, objetos artísticos em oposição à produção literária realista, que focava o cotidiano bruto como tema primordial de suas composições.

A consequência disso é a elaboração de uma arte avessa ao envolvimento político – co-mum principalmente aos poetas românticos da terceira geração – e a crítica social, típica dos realistas.

Contrariando a estética predominante e, principalmente, os naturalistas que pregavam a análise da realidade por meio da observação dos locais que seriam descritos nos romances, os parnasianos apontavam o isolamento do poeta como necessário para que escrevesse suas composições. Foi com base nisso que emergiu, na poesia parnasiana, a ideia da torre de marfim – um espaço isolado e ideal para o poeta elaborar a sua obra.

Os ideais parnasianos foram, inicialmente, divulgados na revista francesa Le Parnasse Contemporain. Daí provém o nome do movimento, visto que os poetas passaram a ser chamados de parnasianos.

Contudo, deve-se observar que o nome “Parnaso” está relacionado à cultura grega antiga, que é um dos modelos seguidos pelos poetas parnasianos. Segundo a tradição, Parnaso é o nome de um monte, localizado na região da Fócida, na Grécia, dedicado ao deus Apolo, um dos protetores das artes poéticas.

Apolo, deus grego da músi-ca e da poesia

©W

ikim

edia

Com

mon

s/Ja

stro

w

Apollo Kitharoidos. [ca. I d.C.] 1 escultura em mármore. Museu Nacional de Roma.

Thin

ksto

ck/G

etty

Imag

es

Parnasianismo:

contexto

histórico e

estilo de época

@LIT664

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo6

Page 7: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Mitologicamente, esse monte também era considerado a morada das musas – entidades divinas que regiam os diversos fazeres artísticos, inclusive os literários.

Apolo e as musas no Monte

Parnaso

SANZIO, Rafael. Parnasso. 1510-1511. 1 afresco. Museu do Vaticano.

A poesia parnasiana traçava uma forte oposição ao sentimentalismo, ao individualismo e à liberdade formal e criativa cultuadas pelos poetas românticos. Ao mesmo tempo, opunha-se à reprodução da realidade, à critica social e à linguagem cientificista, presentes na literatura realista e naturalista.

A poesia parnasiana era, então, moldada por um acentuado apuro formal. Esse formalismo se manifestava na esmerada seleção de rimas, que eram primordialmente ricas, na metrificação rigorosa, na minuciosa seleção de vocabulário e na predileção por versos decassílabos.

A inspiração dos parnasianos passava, frequentemente, pelo ideário greco-latino. Isso ocorria exatamente pelo que você já percebeu ao analisar os exemplares de arte grega no início desta unidade. Do modo como chegou ao século XIX, toda a arquitetura e a estatuária grega e latina da Antiguidade já estava despida, pelo tempo, de sua ornamentação. Assim, os edifícios brancos e as estátuas em mármore ricamente trabalhadas apareciam puras nas formas, sem adornos desnecessários, mas capazes de demonstrar um elevado trabalho dos artistas. Do mesmo modo, a arquitetura clássica era famosa por seu equilíbrio, manifesto na simetria dos edifícios e no emprego muito bem articulado das formas geométricas. Para os parnasianos, esses elementos transmitiam uma ideia de ordem extrema, que lhes seria muito cara. Além disso, ao falar dos deuses e heróis da Antiguidade ocidental, os parnasianos afastavam-se dos valores e das discussões de seu tempo, para entregar-se à satisfação dos ideais míticos. Algo perfeito para um grupo de poetas que queria estar, exatamente, na torre de marfim, escrevendo longe das agitações do cotidiano, de seu momento histórico.

© W

ikim

edia

Com

mon

s/W

eb G

alle

ry o

f Art

LITERATURA BRASILEIRA

Ensino Médio | Modular 7

Page 8: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Não quero o Zeus Capitolino,Hercúleo e belo,Talhar no mármore divino Com o camartelo.

Que outro – não eu! – a pedra corte Para, brutal,Erguer de Atene o altivo porte, Descomunal.

Mais que esse vulto extraordinário, Que assombra a vista,Seduz-me um leve relicário De fino artista.

Invejo o ourives quando escrevo:Imito o amorCom que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo:O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papelA pena, como em prata firme Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem, A ideia veste:Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso, Por tão subtil,Possa o lavor lembrar de um vaso De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo, O olhar atento,A trabalhar, longe de tudo O pensamento.

Porque o escrever – tanta perícia, Tanta requer,Que ofício tal... nem há notícia De outro qualquer.

Olavo Bilac

O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi Olavo Bilac (1865-1918). Nascido no Rio de Janeiro, cursou a faculdade de Medicina, no Rio de Janeiro, até o 4º. ano, não se for-

mando. Passou a estudar Direito em São Paulo, mas não passou do primeiro ano. A partir daí, dedicou-se de corpo e alma ao jornalismo e à literatura. Bilac teve também forte

participação política. Ele ficou conhecido por participar de campanhas cívicas, como a do serviço militar obrigatório.

Bilac, seguindo os rigores do Parnasianismo, elaborou seus versos nas formas fixas do lirismo, especialmente a do soneto terminado em “chave de ouro”, que é o dístico perfeito composto dos dois versos finais.

A valorização do rigor formal era tamanha para os poetas parnasianos que Bilac, embora não fosse um teórico da poesia, a deixou expressa no poema “Profissão de fé”.

Profissão de fé Le poète est ciseleur,Le ciseleur est poète

Victor Hugo

manda

n

Acer

vo Ic

on

ographia

Camartelo: tipo de martelo.

Engasta: encrava.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo8

Page 9: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Assim procedo. Minha pena Segue esta norma,Por te servir, Deusa serena, Serena Forma!

Deusa! A onda vil, que se avoluma De um torvo mar,Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma Deixa-a rolar!

Blasfemo, em grita surda e horrendo Ímpeto, o bandoVenha dos Bárbaros crescendo, Vociferando...

Deixa-o: que venha e uivando passe– Bando feroz!Não se te mude a cor da face E o tom da voz!

Olha-os somente, armada e pronta, Radiante e bela:E, ao braço o escudo, a raiva afronta Dessa procela!

Este que à frente vem, e o todo Possui minazDe um Vândalo ou de um Visigodo, Cruel e audaz;

Este, que, de entre os mais, o vulto Ferrenho alteia,E, em jato, expele o amargo insulto Que te enlameia:

É em vão que as forças cansa, e à luta Se atira; é em vãoQue brande no ar a maça bruta À bruta mão.

Não morrerás, Deusa sublime! Do trono egrégioAssistirás intacta ao crime Do sacrilégio.

E, se morreres por ventura, Possa eu morrer

Contigo, e a mesma noite escura Nos envolver!

Ah! ver por terra, profanada, A ara partidaE a Arte imortal aos pés calcada, Prostituída!...

Ver derribar do eterno sólio O Belo, e o somOuvir da queda do Acropólio, Do Partenon!...

Sem sacerdote, a Crença morta Sentir, e o sustoVer, e o extermínio, entrando a porta Do templo augusto!...

Ver esta língua, que cultivo, Sem ouropéis,Mirrada ao hálito nocivo Dos infiéis!...

Não! Morra tudo que me é caro, Fique eu sozinho!Que não encontre um só amparo Em meu caminho!

Que a minha dor nem a um amigo Inspire dó...Mas, ah! que eu fique só contigo, Contigo só!

Vive! que eu viverei servindo Teu culto, e, obscuro,Tuas custódias esculpindo No ouro mais puro.

Celebrarei o teu ofício No altar: porém,Se inda é pequeno o sacrifício, Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança, Porém tranquilo,Inda, ao cair, vibrando a lança, Em prol do Estilo!

BILAC, Olavo. Obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 89-92.

Minaz: que amea-ça, intimida.

Maça: arma for-mada por um cabo

com uma pesada bola numa das extremidades.

Ouropéis: que imitam o ouro;

brilho.

LITERATURA BRASILEIRA

9Ensino Médio | Modular

Page 10: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

O trabalho do ourives. O incruste das pedras preciosas

Photodisc/Getty Images © Shutterstock/Luba V Nel

© S

hutt

erst

ock/

Luba

V N

el

1. Qual é o tema do poema “Profissão de fé”, de Olavo Bilac?

2. Olavo Bilac compara o ofício do escritor com qual atividade?

3. Transcreva versos em que tal comparação aparece de maneira explícita:

4. Por qual motivo o poeta inveja o outro artista quando escreve e de que forma tal inveja reflete o ideal parnasiano de busca da perfeição?

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo10

Page 11: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Texto para as questões de 5 a 7:

5. O poema retrata um espaço como ideal para que o poeta escreva a sua obra. Que espaço é esse?

6. Segundo o texto, a poesia é derivada da inspiração ou decorre do esforço do poeta? Cite um verso que comprove a sua resposta.

7. A cultura clássica é um tema recorrente na poesia parnasiana. Como ela é refletida no poema de Bilac?

A um poetaLonge do estéril turbilhão da rua,Beneditino, escreve! No aconchegoDo claustro, no silêncio e no sossego,Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o empregoDo esforço; e a trama viva se construaDe tal modo, que a imagem fique nua,Rica, mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplícioDo mestre. E, natural, o efeito agrade,Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,Arte pura, inimiga do artifício,É a força e a graça na simplicidade.

BILAC, Olavo. Obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 268.

Ensino Médio | Modular 11

LITERATURA BRASILEIRA

Page 12: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Os poetas do Parnasianismo foram dura e injustamente criticados por escreverem uma poesia fria e artificial. Contudo, uma leitura atenta demonstra que eles eram dotados de absoluta sensibilidade. O soneto “Língua portuguesa” é exemplo disso.

Leia o poema e verifique o modo como o poeta faz referência à língua com que trabalha:

Língua portuguesaÚltima flor do Lácio, inculta e bela,És, a um tempo, esplendor e sepultura;Ouro nativo, que, na ganga impura,A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,Tuba de alto clangor, lira singela,Que tens o trom e o silvo da procela,E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aromaDe virgens selvas e de oceano largo!Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”E em que Camões chorou, no exílio amargo,O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

BILAC, Olavo. Obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 240.

Agora, leia com atenção este trecho, extraído da música “Língua”, de Caetano Veloso:

Gosto de ser e de estarE quero me dedicar A criar confusões de prosódiaE uma profusão de paródiasQue encurtem doresE furtem cores como camaleõesGosto do Pessoa na pessoaDa rosa no RosaE sei que a poesia está para a prosaAssim como o amor está para a amizadeE quem há de negar que esta lhe é superiorE deixa os portugais morrerem à míngua“Minha pátria é minha língua”Fala, Mangueira!Fala!Flor do Lácio SambódromoLusamérica latim em póO que querO que pode Esta língua?

VELOSO, Caetano. Língua. In: Velô. Rio de Janeiro: Universal Music, 2009. 1 CD, digital, estéreo. Faixa 11.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo12

Page 13: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Texto para as questões 1 e 2:

Vaso grego

Alberto de Oliveira

Outro poeta que marcou o Parnasianismo foi Alberto de Oliveira (1857-1937). Diplomado em Farmácia, no ano de 1884, cursou a Fa-culdade de Medicina até o terceiro ano. Agregou em torno de si um significativo grupo de intelectuais. Sua casa em Niterói ficou famosa por ser frequentada pelos mais importantes escritores brasileiros, entre os quais Olavo Bilac, Raul Pompéia, Raimundo Correia e Aluísio Azevedo.

Sabendo-se que a língua portuguesa é uma língua românica, isto é, que, historicamente, provém do latim, e que essa era a língua dos antigos habitantes do Lácio, responda:

a) Quem é a “última flor do Lácio”? Por quê?

b) Observe o trecho da música grifado. Trata-se do refrão. Ele possui alguma relação intertextual com o poema de Bilac? Qual?

T t

Esta de áureos relevos, trabalhadaDe divas mãos, brilhante copa, um dia,Já de aos deuses servir como cansada,Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendiaEntão, e, ora repleta ora esvazada,A taça amiga aos dedos seus tinia,Toda de roxas pétalas colmada.

Depois... Mas o lavor da taça admira,Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordasFinas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga liraFosse a encantada música das cordas,Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

OLIVEIRA, Alberto. Poesias. Rio de Janeiro: Garnier, 1912. p. 168.

Copa: vaso fundo, de dimensões e

formas variadas, para bebidas; taça.

Poeta de Teos: o poeta grego

Anacreonte, nascido na ilha de

Teos.Colmada: coberta.

Acervo Iconographia

SaSSSSSaSSSaSSSSS bebebebebebebebebebeb ndo-sess qu

Ensino Médio | Modular 13

LITERATURA BRASILEIRA

Page 14: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

À descrição, segue o preciosismo que consiste não só na escolha da palavra perfeita, mas também na riqueza de detalhes abordados pelo poeta. Observa-se, no poema, a transposição dos entalhes presentes na taça para os sons que ela emite.

A poesia representa a perfeição formal típica do Parnasianismo. Alberto de Oliveira é o mais rigo-roso dos poetas de seu tempo no que se refere ao respeito às regras de composição. Dotado de plena objetividade, escolhia frequentemente objetos artísticos como temas de suas composições e sobre eles trabalhava a técnica da descrição. O poema “Vaso grego” é um precioso exemplo dessa técnica.

Raimundo Correia

O último poeta representativo desse movimento é Raimundo Correia (1859-1911). Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, exerceu o cargo de juiz de direito.

Raimundo Correia, ao publicar a obra Meridionais, em 1884, de-monstrou estar em plena sintonia com o movimento parnasiano. Ao lado de Bilac e Alberto de Oliveira, formou o grupo que ficou conhecido como a trindade parnasiana no Brasil.

As composições do poeta seguem os preceitos de perfeição formal típicos do Parnasianismo, mas, no âmbito temático, sua poesia retrata uma vertente pessimista, segundo o modelo que se instaurou no fim do século XIX na Europa e passou a exercer influência no Brasil. O poema “Mal secreto” representa a exploração da alma humana.

Mal secreto

1. Qual é o tema do poema?

2. Quais os sentidos explorados pelo poeta nesse soneto?

eiau

a

Se a cólera que espuma, a dor que moraN’alma, e destrói cada ilusão que nasce,Tudo o que punge, tudo o que devoraO coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,Ver através da máscara da face,Quanta gente, talvez, que inveja agoraNos causa, então piedade nos causasse!Quanta gente que ri, talvez, consigoGuarda um atroz, recôndito inimigo,Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,Cuja aventura única consisteEm parecer aos outros venturosa!

CORREIA, Raimundo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1961. p. 135-136.

Acervo Iconographia

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo14

Page 15: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

1. (FURG – RS) Marque a afirmativa correta. a) O Parnasianismo caracterizou-se, no Brasil,

pela busca da perfeição formal na poesia. b) O Parnasianismo determinou o surgimento de

obras de tom marcadamente coloquial. c) O Parnasianismo, por seus poetas, preconiza-

va o uso do verso livre. d) O Parnasianismo brasileiro deu ênfase ao ex-

perimentalismo formal. e) O Parnasianismo foi o responsável pela afir-

mação de uma poesia de caráter sugestivo e musical.

1. No poema “As pombas”, Raimundo Correia fez uma comparação entre as pombas e os sonhos. Contudo, o poeta estabeleceu uma diferença entre eles. Identifique-a.

2. O poeta afirma que, na adolescência, os sonhos “céleres voam”, mas “aos corações não voltam mais”. O que o poeta quis dizer com esses versos? Ele revelou uma visão pessimista do futuro?

Este é outro poema antológico de Raimundo Correia:

As pombas

Vai-se a primeira pomba despertada...Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenasDe pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortadaSopra, aos pombais de novo elas, serenas,Ruflando as asas, sacudindo as penas,Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,Os sonhos, um por um, céleres voam,Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais...

© S

hutt

erst

ock/

Fotó

graf

o D

esco

nhec

ido

Pombal

CORREIA, Raimundo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1961. p. 123.

2. (MACKENZIE – SP) Não caracteriza a estética par-nasiana:

a) a oposição aos românticos e o distanciamento das preocupações sociais dos realistas;

b) a objetividade, advinda do espírito cientificis-ta, e o culto da forma;

c) a obsessão pelo adorno e contenção lírica;

d) a perfeição formal na rima, no ritmo, no me-tro e a volta aos motivos clássicos;

e) a exaltação do eu e a fuga da realidade pre-sente.

Ensino Médio | Modular 15

LITERATURA BRASILEIRA

Page 16: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

3. (CEFET – PR) E sobre mim, silenciosa e triste,A Via-Láctea se desenrolaComo um jarro de lágrimas ardentes.

Olavo Bilac

Sobre o fragmento poético não é correto afirmar: a) a “Via-Láctea” sofre um processo de personifi-

cação;

b) a cena é descrita de modo objetivo, sem interfe-rência da subjetividade do “eu poético”;

c) a opção pelos sintagmas “desenrola” e “jarro de lágrimas ardentes” visa presentificar o movimen-to dos astros;

d) há predomínio da linguagem figurada e descri-tiva;

e) a visão de mundo melancólica do emissor da mensagem se projeta sobre o objeto poetizado.

4. (UFAL) “Depois da revolução romântica, formou--se em nosso país um grupo de poetas que de-sejava restaurar a poesia clássica. Propuseram, então, uma poesia objetiva, de elevado nível vo-cabular, racionalista, perfeita do ponto de vista formal e voltada para temas universais.” Instau-raram, assim, no Brasil: a) o Parnasianismo;

b) o Simbolismo;

c) o Pré-Modernismo;

d) o Realismo;

e) o Naturalismo.

(UFPB) Texto para as questões de 5 a 7: Remorso

Às vezes, uma dor me desespera...Nestas ânsias e dúvidas em que ando,Cismo e padeço, neste outono, quandoCalculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,Sem os gozar numa explosão sincera...Ah! mais cem vidas! com que ardor quiseraMais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que esperdicei na juventude;Choro, neste começo de velhice,Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,Por timidez o que sofrer não pude,E por pudor os versos que não disse!

BILAC, Olavo. Melhores poemas de Olavo Bilac. Seleção de Marisa Lajolo. 4. ed. São Paulo: Global, 2003. p. 106. (Melho-res poemas: 16)

5. No poema, o “eu lírico”

a) revela a frustração de não ter vivido plenamente a sua mocidade.

b) sente-se infeliz por ter chegado à velhice.

c) considera-se mártir da hipocrisia, por ter revela-do sentimentos não verdadeiros.

d) mostra-se fracassado por não ter amado nin-guém.

e) lamenta não ter sido um poeta, por lhe faltar inspiração.

6. Nos versos “Cismo e padeço, neste outono, quando/Calculo o que perdi na primavera”, os termos destacados

a) referem-se, denotativamente, às estações do ano, que são marcadas por características bem específicas.

b) expressam fases da vida do “eu lírico”, apre-sentadas por meio de antítese.

c) constituem exemplos de metonímias, expres-sando, respectivamente, a velhice e a juventude.

d) referem-se às etapas da vida do “eu lírico”, re-presentadas pelo eufemismo.

e) são usados de forma conotativa apenas para satisfazer as exigências da estética parnasiana.

7. Considerando a pontuação no poema “Remor-so”, é correto afirmar:

a) no verso “Às vezes, uma dor me desespera...”, a vírgula é usada para separar termos coordenados.

b) em “Versos e amores sufoquei calando,/Sem os gozar numa explosão sincera...”, a reticência aten-de meramente a uma exigência gramatical.

c) nos versos “Ah! mais cem vidas! com que ardor quisera/Mais viver, mais penar e amar cantando!”, o uso da exclamação reforça o tom emocional do poema.

d) em todo o poema, a pontuação limita-se a seguir as exigências gramaticais, não expressando valor estilístico.

e) em todo o poema, a pontuação só contribui para marcar a unidade melódica dos versos.

8. (FURG – RS) Marque a alternativa que não corres-ponde às características do Parnasianismo.

a) Crítica social.

b) Regularidade métrica.

c) Expressão ornamental.

d) Descrição nítida.

e) Culto à forma.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo16

Page 17: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

9. (FURG – RS) Observe atentamente o conteúdo e a forma do poema “Nel mezzo del camin...”, re-produzido abaixo. Após, indique quem é o autor da composição:

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigadaE triste, e triste e fatigado eu vinha.Tinhas a alma de sonhos povoada,E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estradaDa vida: longos anos, presa à minhaA tua mão, a vista deslumbradaTive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partidaNem o pranto os teus olhos umedece,Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,Vendo o teu vulto que desapareceNa extrema curva do caminho extremo.

a) Carlos Drummond de Andrade.

b) Cecília Meireles.

c) Álvares de Azevedo.

d) Olavo Bilac.

e) Gonçalves Dias.

10. (UCSAL) Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira são representantes de uma mesma escola literária. Assinale a alternativa cujos ver-sos exemplificam as características dessa escola.

a) A noite caiu na minh’alma,Fiquei triste sem querer.Uma sombra veio vindo,Veio vindo, me abraçou.Era a sombra de meu bemQue morreu há tanto tempo.

b) Dorme.Dorme o tempo que não podias dormir.Dorme não só tu.Prepara-te para dormir teu corpo e teu amor contigo.

c) Quantas vezes, em sonho, as asas da saudade.Solto para onde estás, e fico de ti perto!Como, depois do sonho, é triste a realidade!Como tudo, sem ti, fica depois deserto!

d) Pálida, à luz da lâmpada sombria,Sobre o leito de flores reclinada,Como a lua por noite embalsamada.Entre as nuvens do amor ela dormia!

e) Nas horas da noite, se junto a meu leitoHouveres acaso, meu bem, de chegar,

Verás de repente que aspecto risonhoQue torna o meu sonho,Se o vens bafejar!

11. (PUCRS)Vila rica

O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a ambiçãoNa torturada entranha abriu da terra nobre:E cada cicatriz brilha como brasão.

[...]

Como uma procissão espectral que se move...Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu...Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.

O poema, pertencente ao autor de “Profissão de fé”, não segue rigidamente o padrão ___________ no que se refere à ___________.

a) romântico / idealização do mundo

b) simbolista / busca do eu profundo

c) parnasiano / alienação dos problemas sociais

d) simbolista / inteligibilidade sintática

e) parnasiano / sonoridade dos versos

12. (FMU)Rio abaixo

Treme o rio, a rolar, de vaga em vaga...Quase noite. Ao sabor do curso lentoDa água, que as margens em redor alaga,Seguimos. Curva os bambuais o vento.

Vivo há pouco, de púrpura sangrento,Desmaia agora o Ocaso. A noite apagaA derradeira luz do firmamento...Rola o rio, a tremer, de vaga em vaga,

Um silêncio tristíssimo por tudoSe espalha. Mas a lua lentamenteSurge na fímbria do horizonte mudo:

E o seu reflexo pálido, embebidoComo um gládio de prata na corrente,Rasga o seio do rio adormecido.

Olavo Bilac

Lendo o poema, não é difícil perceber tratar-se do estilo de época do

a) Arcadismo. b) Romantismo. c) Parnasianismo.

d) Simbolismo. e) Modernismo.

Ensino Médio | Modular 17

LITERATURA BRASILEIRA

Page 18: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Observe estas obras pictóricas e responda à questão:

MOREAU, Gustave. Salomé dançando diante de Herodes. 1876. 1 óleo sobre tela, color., 60 cm × 92 cm. The Armand Hammer Collection, Los Angeles.

MOREAU, Gustave. A aparição. 1876. 1 aquarela sobre tela, color., 106 cm × 72,2 cm. Museu d´Orsay, Paris.

Simbolismo2

Etéreo: tudo aquilo que é relativo ao

celestial; puro, sublime, elevado.

As obras evocam uma atmosfera mística e etérea. Que elementos de cada obra con-firmam essa afirmação?

18 Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo

Page 19: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Ambas as obras de Gustave Moreau que você observou anteriormente representam a persona-gem bíblica Salomé, uma figura feminina retomada incansavelmente pelas artes e, sobretudo, pela literatura. Impactante, o tema de Salomé é abordado e interpretado das mais diversas maneiras por artistas ao longo dos séculos.

A mãe de Salomé, Herodíades (ou Herodias, segundo alguns autores), casara-se com o irmão de seu marido, após ter se tornado viúva. O tio e padrasto de Salomé, Herodes, soberano da Galileia, prendera São João Batista por julgar seus atos subversivos e também por não tolerar a crítica que ele fizera a seu casamento com a cunhada. O ódio de Herodíades, mãe da jovem Salomé, porém, ia mais longe.

Leia, a seguir, um dos trechos da Bíblia que narram o episódio de Salomé. O texto bíblico é o primeiro que apresenta essa história, sendo a fonte na qual a tradição ocidental posterior vai basear suas novas leituras dessa figura feminina.

[...]Herodes, com efeito, mandara prender João e acorrentá-lo no cárcere, por causa de Herodíades,

a mulher de seu irmão Filipe, pois ele a desposara e, na ocasião, João dissera a Herodes: “Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão”. Herodíades então se voltou contra ele e queria matá-lo, mas não podia, pois Herodes tinha medo de João e, sabendo que ele era um homem justo e santo, o protegia. E quando o ouvia, ficava muito confuso e o escutava com prazer.

Ora, chegou um dia propício: Herodes, por ocasião do seu aniversário, ofereceu uma ceia aos seus magnatas, aos oficiais e às grandes personalidades da Galileia. E a filha de Herodíades entrou e dançou. E agradou a Herodes e aos convivas. Então, o rei disse à moça: “Pede-me o que quiseres, e eu te darei”. E fez um juramento: “Qualquer coisa que me pedires eu te darei, até a metade do meu reino!”. Ela saiu e perguntou à mãe: “O que é que eu peço?” E ela respondeu: “A cabeça de João Batista”. Voltando logo, apressadamente, à presença do rei, disse: “Quero que, agora mesmo, me dês num prato a cabeça de João Batista”. “O rei ficou profundamente triste. Mas, por causa do juramento que fizera e dos convivas, não quis deixar de atendê-la. E imediatamente o rei enviou um executor, com ordens de lhe trazer a cabeça de João. E saindo, ele o decapitou na prisão. E trouxe a sua cabeça num prato. Deu-a à moça, e esta a entregou a sua mãe. (Marcos, 6, 17-28)

BÍBLIA SAGRADA. Português. A Bíblia de Jerusalém. Tradução diretamente dos originais. São Paulo: Sociedade Bíblica Católica Internacional; Paulus, 1980. p. 1906.

Ensino Médio | Modular 19

LITERATURA BRASILEIRA

Page 20: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

A face recolhida numa expressão solene, quase augusta, dá ela início à lúbrica dança que deve acordar os sentidos entorpecidos do velho Herodes; [...] seus braceletes, seus cintos, seus anéis lançam faúlhas; sobre a túnica triunfal, recamada de pérolas, ornada com ramagens de prata, guarnecida de palhetas de ouro, a couraça de ourivesaria em que cada malha é uma pedra que entra em com-bustão, faz serpentes de fogo se entrecruzarem, fervilha sobre a carne mate, sobre a pele rosa-chá, à semelhança de esplêndidos insetos de élitros ofuscantes, marmoreados de carmim, salpicados de amarelo-ouro, matizados de azul-aço, mosqueados de verde-pavão.

HUYSMANS, Jori-Karl. Às avessas. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 84-85.

Agora leia um trecho do romance Às avessas, de Jori-Karl Huysmans, escrito em 1884. No texto, a personagem central, Esseintes, encanta-se justamente com os quadros de Moreau, apresentados anteriormente, e narra detalhadamente o que viu. Na descrição que faz sobre a pintura Salomé dançando diante de Herodes, a jovem e o ambiente de sua dança surgem assim:

Já a cena da segunda pintura, A aparição, é descrita pela personagem Esseintes deste modo:

Mas a aquarela intitulada A aparição era ainda mais inquietante. Ali o palácio de Herodes se ele-vava, como um Alhambra, sobre colunas ligeiras, irisadas de ladrilhos mouriscos, chumbados como que com uma argamassa de prata, um cimento de ouro, arabescos partiam de losangos em lápis-lázuli, corriam em fio ao longo de cúpulas onde, sobre marchetarias de nácar alastravam-se brilhos de arco- -íris, fogos de prisma. O assassínio fora praticado; agora o carrasco se mantinha impassível, as mãos sobre o cabo de sua longa espada manchada de sangue. A cabeça decapitada do Santo elevava-se sobre o prato pousado em cima dos ladrilhos, dali a olhar lívida, a boca descorada e aberta, o pescoço carmesim a pingar de lágrimas. Um mosaico cercava o rosto de onde se desprendia uma auréola que dardejava flechas de luz sob os pórticos, iluminando a terrível ascensão da cabeça, acendendo o globo vítreo das pupilas fixadas, de certo modo crispadas, sobre a dançarina.

HUYSMANS, Jori-Karl. Às avessas. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 87-88.

Tanto as pinturas de Moreau como o romance de Huysmans pertencem à escola simbolista. Uma das características centrais das obras do grupo de artistas que a constituiu era exatamente a de explorar os elementos sensoriais, as atmosferas místicas, enigmáticas, percebidas mais pela intuição do que pela razão, as relações entre o macabro e o luxuriante.

Até aqui, você viu várias manifestações artísticas que abordam a história de Salomé, originariamen-te lançada à tradição ocidental por meio da narrativa bíblica. Agora, realize uma leitura analítica de algumas dessas manifestações.

1. A narrativa bíblica, extraída do Evangelho de São Marcos, fornece alguma descrição psicológica da jovem Salomé? Oferece detalhes sobre a sua dança?

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo20

Page 21: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Durante a Revolução Industrial, as grandes potências, como a Inglaterra, a Alemanha, a França e a Rússia, passaram a produzir um excesso de bens industrializados, graças à dinâmica implantada pelo capitalismo – o novo sistema econômico –, o que, por sua vez, criou a necessidade de buscar novos mercados consumidores que absorvessem essa crescente produção. Esse processo foi, evidentemente, movido por interesses políticos neocoloniais.

Assim, a África e a Ásia tornaram-se o alvo das grandes potências ocidentais. Subjugadas à força, essas regiões foram obrigadas, por meio de uma política econômica predatória, a consumir produtos a preços elevados e a exportar matéria-prima por valores reduzidos.

A disputa por espaço econômico e político, no cenário internacional, instituiu um clima de guerra que passou a rondar a Europa no fim do século XIX, o que culminou com o trágico episódio da Primeira Guerra Mundial.

2. E nos trechos do romance Às avessas, você percebe a inserção de conteúdos descritivos que provo-cam determinada visualização da cena e fornecem uma imagem psicológica da personagem Salomé? Explique.

3. A descrição de Huysmans provoca, sem dúvida, o sentido da visão. Porém, não somente ele. Que outros sentidos são instigados pela imagem que a personagem Esseintes faz dos quadros de Moreau?

LITERATURA BRASILEIRA

21Ensino Médio | Modular

Page 22: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

De cima para baixo e da esquerda para a direita: mulher “folheando” juta em uma fábrica de Dundee, na Escócia; meninos trabalhando na Geórgia no moinho de algodão, [ca. 1908-1912]; infantaria australiana utilizando máscaras contra gás, em Ypres, França, 1917; ataque francês às posições alemãs, em Champagne, França, 1917; caças alinhados para a inspeção, França, 1918; Divisão 27 chegando à Nova Iorque, 1914-1918; um avião britânico decola passando sobre duas grandes armas de um porta-aviões

A arte e as mais sólidas correntes filosóficas elaboradas nesse período refletem, de maneira expressiva, a profunda desilusão dos artistas diante do mundo em que viviam.

O pensamento filosófico do fim do século XIX revela a transição do racionalismo científico, que estava diretamente relacionado com a ideia de progresso, para o decadentismo. O primeiro e mais importante filósofo a tornar explícitas essas mudanças é Arthur Schopenhauer.

Getty

Images/H

ulton Archive/Stringer

Latin

stoc

k/Co

rbis

/Fot

ógra

fo D

esco

nhec

ido;

Lat

inst

ock/

CORB

IS/B

ettm

ann;

Get

ty Im

ages

/SSP

L/D

aily

Her

ald

Arc

hive

; Lat

inst

ock/

CORB

IS/B

ettm

ann;

Lat

inst

ock/

CORB

IS/

Bett

man

n/Le

wis

Wic

kes

Hin

e; ©

Wik

imed

ia C

omm

ons/

Fotó

graf

o D

esco

nhec

ido;

© W

ikim

edia

Com

mon

s/ C

apta

in F

rank

Hur

ley

Breve

biografia

do filósofo

Arthur

Schopenhauer

@LIT503

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo22

Page 23: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

O filósofo, na obra O mundo como vontade e representação, concebe o mundo como uma imagem, uma espécie de ilusão de nossos sentidos. Dessa forma, ele acaba por desprezar o conhecimento científico elaborado pelos positivistas. De acordo com Schopenhauer, se o mundo é representação, a vontade é meramente uma força irrefletida e cega que conduz o homem para diante.

Schopenhauer desmitifica, então, o esforço do homem em seu progresso, visto que este estará sempre em busca de algo, o que tem como consequência um constante processo de infelicidade. Dessa forma, o filósofo consolida o tema do pessimismo na filosofia do século XIX.

Na literatura simbolista, é comum a presença de imagens ofuscadas por uma neblina, como se os poetas estivessem habitando nas nuvens. Dessa característica nasce o estilo nefelibata, que se opõe radicalmente à objetividade parnasiana.

Os métodos e a linguagem científica, frequentemente utilizados pelos escritores realistas para a percepção e apreensão da realidade no âmbito da literatura, tornam-se inadequados para a nova tendência artística. Diante disso, a subjetividade e os sentidos são postos em relevo, em contraposição à racionalidade. Fruto da oposição entre razão e subjetividade, nasce a mais marcante característica do movimento simbolista, a sinestesia.

O poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) é o principal autor do Simbolismo europeu e quem melhor sistematizou o uso da sinestesia na literatura desse período.

Leia o poema “Correspondências” e, a seguir, responda às questões propostas.

Nefelibata: que ou quem anda ou vive

nas nuvens. No sentido figu-

rado, pode ser entendido como

alguém que é muito idealista e vive fugindo da realidade,

ou, ainda, como um escritor que não obedece às

regras.

Sinestesia é a relação subjetiva

que se estabe-lece esponta-

neamente entre a percepção de

um órgão dos sentidos e outra

que pertença ao domínio de

um sentido diferente. Ela

ocorre por meio do cruzamento das sensações

experimenta-das por uma

pessoa, como a percepção de um cheiro que

evoca uma cor, ou de um sabor

que lembra uma imagem.

Oboé: Instru-mento musical

de sopro, com timbre

semelhante ao do clarinete.

Getty

Imag

es/T

ime Lif

e Pictures/Fotógrafo Desconhecido

CorrespondênciasA Natureza é um templo vivo em que os pilaresDeixam filtrar não raro insólitos enredos;O homem cruza em meio a um bosque de segredosQue ali o espreitam com seus olhos familiares.

Como os ecos lentos que a distância se matizamNuma vertiginosa e lúgubre unidade,Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,Os sons, as cores e os perfumes harmonizam-se.

Há aromas frescos como a carne dos infantes,Doces como o oboé, verdes como a campina,E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,

Com a fluidez daquilo que jamais termina,Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente,Que a glória exaltam dos sentidos e da mente.

BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 115.

LITERATURA BRASILEIRA

23Ensino Médio | Modular

Page 24: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

1. Quais são as relações apresentadas entre perfume e sons no poema “Correspondências”?

2. Pode-se afirmar que há sinestesia nesse poema? Justifique.

1 QQ i ããã

Os poetas simbolistas passaram a valorizar a música como expressão artística. Isso ocorreu devido à busca por algo que transcendesse a realidade dos fatos, tão cultuada pelos escritores do Realismo. O culto a essa modalidade de arte decorre do fato de a música impressionista, então predominante, inclinar-se muito mais para o abstrato e o intangível.

O poeta Paul Verlaine (1844-1896), bastante vinculado à estética simbolista, escreveu sobre a importância da música em seu poema “Arte poética”.

Arte poéticaAntes de tudo, a Música. Preza Portanto o Ímpar. Só cabe usar O que é mais vago e solúvel no ar, Sem nada em si que pousa ou que pesa.

Pesar palavras será preciso, Mas com algum desdém pela pinça: Nada melhor do que a canção cinza Onde o Indeciso se une ao Preciso.

Uns belos olhos atrás do véu, O lusco-fusco no meio-dia, A turba azul de estrelas que estria O outono agônico pelo céu!

Pois a Nuance é que leva a palma, nada de Cor, somente a nuance! Nuance, só, que nos afiance O sonho ao sonho e a flauta na alma!

Foge do Chiste, a Farpa mesquinha, Frase de espírito, Riso alvar, Que o olho do Azul faz lacrimejar, Alho plebeu de baixa cozinha!

A eloquência? Torce-lhe o pescoço! E convém empregar de uma vez A rima com certa sensatez Ou vamos todos parar no fosso!

Quem nos dirá dos males da rima! Que surdo absurdo ou que negro louco Forjou em joia este toco oco Que soa falso e vil sob a lima?

Música ainda, e eternamente! Que teu verso seja o voo alto Que se desprende da alma no salto Para outros céus e para outra mente.

Que teu verso seja a aventura Esparsa ao árdego ar da manhã Que enche de aroma o timo e a hortelã... E todo o resto é literatura.

VERLAINE, Paul. Arte poética. In: CAMPOS, Augusto de. O anticrítico. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. p. 47-49.

Lusco-fusco: hora do anoitecer.Turba: multidão em desordem.Agônico: que está em agonia, em ânsia.Chiste: piada, jogo verbal gracioso.Alvar: estúpido, grosseiro, ingênuo.

Esparso: espalhado, disperso. Árdego: impetuoso.Timo: órgão que fica atrás do osso esterno, no peito.

Entendido, metaforicamente, como sede do ânimo, do espírito.

Getty

Im

ages/P

opperfoto/Fotógrafo Desconhecido

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo24

Page 25: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Níveo: relativo a neve, de neve.Refulgente: que brilha muito.Alampadário: suporte para várias lâmpadas, candelabroVelário: toldo com que se cobriam circos ou teatros para

protegê-los da chuva.

Templário: cavaleiro da Ordem Templária.Asceta: pessoa que se consagra à elevação espiritual,

abandonando elementos da vida mundana.Surdina: voz baixa, murmúrio.À surdina: de modo silencioso, discreto, calado.

1. Por que o poema de Verlaine se chama “Arte poética”?

2. Segundo o poema, que elemento deve ser privilegiado, ante os demais, no momento de compor um poema?

3. Como é possível interpretar os versos: “Nada melhor do que a canção cinza/Onde o Indeciso se une ao Preciso.”

4. Quando o “eu lírico” do poema se coloca contra a eloquência e a rima artificiosa, está aludindo ao fazer poético de um grupo de artistas de seu tempo, do qual Verlaine não participa. Que grupo é esse? Por quê?

Além da valorização da música, a “Arte poética” de Verlaine aborda ainda, como você pôde perceber, outra característica da literatura simbolista: a vagueza.

Em contraste com os poetas parnasianos, os simbolistas negam a objetividade. Essa oposição pode ser percebida quando se compara um poema parnasiano, como o “Vaso grego”, a um poema simbolista. O primeiro abrange um único objeto, enquanto, no outro, sobrepõem-se múltiplas imagens, criando a ideia de vagueza. Observe a utilização dessa técnica no poema “Música misteriosa”, de Cruz e Sousa.

Música misteriosa

Tenda de Estrelas níveas, refulgentes, que abris a doce luz de alampadários, as harmonias dos Estradivárius erram da Lua nos clarões dormentes...

Pelos raios fluídicos, diluentes dos Astros, pelos trêmulos velários, cantam Sonhos de místicos templários, de ermitões e de ascetas reverentes...

Cânticos vagos, infinitos, aéreos fluir parecem dos Azuis etéreos, dentre os nevoeiros do luar fluindo...

E vai, de Estrela a Estrela, à luz da Lua, na láctea claridade que flutua, a surdina das lágrimas subindo...

CRUZ E SOUSA, João da. Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1961. p. 90-91.

Estradivárius: atualmente

estradivário, palavra derivada

de stradivarius, um tipo de violi-no considerado por muitos como um dos melhores

do mundo, que era produzido

pela luteria de Antônio Stradivari

(1644-1747).

Ensino Médio | Modular 25

LITERATURA BRASILEIRA

Page 26: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Simbolismo em Portugal

Em Portugal, o Simbolismo inicia-se oficialmente com a publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro, em 1890. Esse movimento dura até 1915, quando a revista Orpheu é lançada por Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro, dando início ao Modernismo português.

Nesse período, Portugal passava por uma crise de âmbito político, econômico e diplomático. A Inglaterra, um dos países envolvidos nesses conflitos, deu um ultimato a Portugal, em 1890, exigindo que fossem retirados os exércitos portugueses que se encontravam em algumas regiões da África. Se assim não procedesse, seria declarado o estado de guerra entre os dois países.

Aproveitando-se da crise instaurada, os republicanos lusitanos fizeram uma forte campanha para derrubar o rei, contando com ajuda da imprensa de todo o país, que publicava artigos criticando não só a Inglaterra, mas principalmente a monarquia portuguesa. Essas manifestações culminaram com o assassinato do rei e a proclamação da república, em 1910, pondo fim à monarquia.

Camilo PessanhaCamilo Pessanha é o poeta que melhor expressa as tendên-

cias do movimento simbolista em Portugal. Era bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra e atuou como professor de Filosofia, advogado e juiz de comarca na China durante parte de sua vida, onde contraiu tuberculose, vendo-se obrigado a retornar a Portugal por diversas vezes, a fim de tratar de sua saúde.

Em sua poesia é recorrente a temática da ilusão, da dor. Marcada pelo pessimismo, sua poética foi influenciada pelo poeta francês Verlaine.

No livro Clepsydra, nome que significa “relógio de água”, Camilo Pessanha escreve poemas com intensa musicalidade que refletem as tendências estéticas simbolistas.

O poeta francês Stéphane Mallarmé afirmava que não se devia dar nome aos objetos nem mostrá- -los diretamente nos poemas, mas, sim, sugeri-los, evocando-os pouco a pouco, de modo que o leitor passasse a imaginá-los lentamente.

Esse processo, descrito por Mallarmé, pode facilmente ser percebido no poema “Música misteriosa”, de Cruz e Sousa, e constitui uma das características essenciais do Simbolismo.

O Simbolismo valoriza a subjetividade em oposição à objetividade dos poetas parnasianos, mas também conserva algumas características desse movimento. Entre elas, destacam-se a estrutura dos versos, o uso da forma fixa do soneto, a valorização da metrificação, o verso decassílabo e o preciosismo na escolha do vocabulário.

© W

ikim

edia

Com

mon

s/Jc

orne

lius

Obra completa

Clepsydra

@LIT715

26 Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo

Page 27: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Viola chinesa

Ao longo da viola morosaVai adormecendo a parlendaSem que amadornado eu atendaA lenga-lenga fastidiosa.

Sem que o meu coração se prenda,Enquanto nasal, minuciosa,Ao longo da viola morosa,Vai adormecendo a parlenda.

Mas que cicatriz melindrosaHá nele que essa viola ofendaE faz que as asitas distendaNuma agitação dolorosa?

Ao longo da viola, morosa...

PESSANHA, Camilo. Clepsydra: poemas de Camilo Pessanha. Campinas: Unicamp, 1994. p. 119.

Existe alguma relação entre o título do poema acima e a exploração da sonoridade ao longo do corpo do texto? Justifique sua resposta.EE i t l

Simbolismo no Brasil

No Brasil, o movimento simbolista tem seus primeiros contornos com a publicação dos livros Missal e Broquéis, de Cruz e Sousa, em 1893, e termina, como escola literária, no ano de 1922, com a Semana de Arte Moderna.

Seguindo as tendências políticas de países como França e Portugal, o império no Brasil vivia seus últimos momentos, enquanto os republicanos articulavam a Proclamação da República. Economi-camente, o país era sustentado pela agricultura cafeeira e dependente da importação de produtos manufaturados, máquinas e equipamentos.

O aparecimento de uma escola ou movimento literário não significa que as tendências pre-dominantes da escola anterior sejam rápida e definitivamente apagadas da literatura. É comum que uma escola coexista com outra até que uma delas predomine. No Brasil, para se ter um exemplo, o Simbolismo é uma das escolas literárias que influenciaram artistas do Realismo, do Naturalismo, do Parnasianismo e também do Pré-Modernismo.

Amadornado: sonolento.

Asita: forma alternativa do diminutivo de

“asas”, “asinhas”.

Simbolismo:

contexto

histórico

e estilo de

época

@LIT488

LITERATURA BRASILEIRA

Ensino Médio | Modular 27

Page 28: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Cruz e SousaJoão da Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Desterro, hoje Florianópolis, filho de escra-

vos alforriados. O poeta foi criado pelo marechal de campo Guilherme Xavier de Sousa, que lhe concedeu o sobrenome e lhe forneceu condições ideais para a sua educação. Quando adolescente, Cruz e Sousa foi aluno do naturalista alemão Fritz Müller, que morava no Brasil e era amigo de Charles Darwin. Em carta ao irmão Hermann, Müller falou sobre a inteligência do futuro poeta e questionou as teorias raciais vigentes. De acordo com ele:

Este preto representa para mim mais um reforço da minha velha opinião contrária ao ponto de vista dominante que vê no negro um ramo por toda parte (talvez sob todos os aspectos) inferior e incapaz de desenvolvimento racional por suas próprias forças.

CRUZ E SOUSA, João da. Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1961. p. 24.

1. Assinale a afirmação coerente com as caracte-rísticas das obras do movimento simbolista.

a) São bastante herméticas, justificando a re-ferência a um estilo “nefelibata”, que faz uso da obscuridade nebulosa e apresenta, não poucas vezes, uma linguagem de com-preensão extremamente difícil.

b) Evitam radicalmente a menção a paisagens desoladas e esfumaçadas, a visões esgarça-das, a elementos etéreos e a ambientes mal iluminados.

c) Há o predomínio de manifestações da maté-ria e elementos fisiológicos e não de manifes-tações de ordem espiritual e transcendente.

d) Dão preferência a assuntos de época, mar-cadamente as questões sociais, como a abolição da escravatura.

e) Apresentam um exacerbado sentimento pela natureza, que se revela especialmente no modo de mostrar o indígena e as rique-zas naturais, como florestas, rios e fauna.

2. O Simbolismo caracterizou-se por ser um mo-vimento literário:

a) positivista, naturalista, cientificista;

b) antipositivista, antinaturalista, anticientificista;

c) subjetivista, materialista;

d) que faz um retorno explícito aos modelos greco-latinos;

e) subjetivista, materialista, objetivo, racional.

3. Assinale a alternativa que não se aplica ao Simbolismo.

a) O poeta procura evocar a realidade e não descrevê-la minuciosamente.

b) O poeta evita que os sentimentos interfi-ram na abordagem da realidade.

c) O valor musical dos signos linguísticos é um efeito procurado pelos poetas.

d) O Simbolismo mantém ligações com a poética romântica.

e) O tema da morte é valorizado pelos simbo-listas.

4. A ênfase na seleção do vocabulário poético, com o objetivo de conferir ao poema o máxi-mo de correspondência com elementos sen-soriais, é uma característica do:

a) Romantismo;

b) Barroco;

c) Simbolismo;

d) Parnasianismo;

e) Arcadismo.

Agora, justifique sua resposta.

Acervo Iconographia

Cruz e Sousa:

biografia, obras,

cronologia e estilo

@LIT663

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo28

Page 29: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Pungir: ferir ou furar com objeto pontiagudo.Lacerar: separar violentamente aos pedações, rasgar,

abrir violentamente.Dolência: mágoa, lástima, dor.

Soturno: sombrio.Velado: oculto, escondido.Vórtice: redemoinho.

Violões que choram

[...] Harmonias que pungem, que laceram, dedos nervosos e ágeis que percorrem cordas e um mundo de dolências geram gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas, mágoas amargas e melancolias, no sussurro monótono das águas, noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes, volúpias dos violões, vozes veladas, vagam nos velhos vórtices velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa e vibra e se contorce no ar, convulso... tudo na noite, tudo clama e voa sob a febril agitação de um pulso. [...]

CRUZ E SOUSA, João da. Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1961. p. 124-125.

Aliteração é a repetição de sons consonantais semelhantes entre si ou idênticos, ao longo de uma sentença, verso ou poema.Assonância é a repetição de sons vocálicos semelhantes entre si ou idênticos, ao longo de uma sentença, verso ou poema.

A obra de Cruz e Sousa reflete também uma preocupação social que se torna explícita quando aborda temas como a angústia, o pessimismo e o tédio do homem do fim do século XIX. Assim sendo, diante da realidade opressora, a alternativa que resta é a evasão, a opção pelo misticismo.

Alguns críticos literários da obra de Cruz e Sousa viram, no uso ostensivo da cor branca, uma manifestação crítica do poeta ao preconceito racial, que era comum no país. Contudo, deve-se tomar

Sendo conhecedor da língua francesa e tendo completo domínio da língua portuguesa, o poeta atuou em diversos jornais e revistas da época. Em 1883, foi vitimado por uma explícita manifestação de preconceito racial: não foi aceito como promotor de Laguna devido ao fato de ser negro. Isso pro-vocou em Cruz e Sousa grande desalento, ao mesmo tempo que acirrou sua vontade de engajar-se na luta pelos ideais abolicionistas. O escritor, decepcionado, partiu, então, para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na estrada de ferro “Central do Brasil” e passou a colaborar com o jornal Folha Popular. Nessa mesma cidade, em 1890, formou o primeiro grupo simbolista brasileiro, juntamente com B. Lopes e Oscar Rosas.

Em 1893, o poeta desposou Gavita Gonçalves, com quem teve quatro filhos. A família do poeta, porém, desfez-se de maneira trágica: todos os seus filhos foram acometidos de tuberculose e morreram. Sua esposa, diante dessa situação, enlouqueceu. Debilitado emocional e fisicamente, Cruz e Sousa contraiu também tuberculose e, em busca de um clima mais favorável à sua recuperação, mudou-se para a cidade de Sítio, em Minas Gerais. Lá, faleceu no ano de 1898.

A poesia de Cruz e Sousa possui uma rigorosa metrificação decassílaba, uso de sonetos e rimas ricas. Além disso, o poeta trabalha a musicalidade em seus versos por meio do uso da aliteração, que consiste na repetição de fonemas idênticos ou parecidos no início de várias palavras na mesma frase ou verso.

Confira, lendo o seguinte poema:

Ensino Médio | Modular 29

LITERATURA BRASILEIRA

Page 30: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Ó Formas alvas, brancas, Formas clarasde luares, de neves, de neblinas!...Ó Formas vagas, fluídas, cristalinas...Incensos dos turíbulos das aras...

Formas do Amor, constelarmente puras,de Virgens e de Santas vaporosas...Brilhos errantes, mádidas frescurase dolências de lírios e de rosas...

Indefiníveis músicas supremas,harmonias da Cor e do Perfume...Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...Dormências de volúpicos venenossutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,inefáveis, edênicos, aéreos,fecundai o Mistério destes versos,com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidadesque fuljam, que na Estrofe se levanteme as emoções, todas as castidadesda alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astrosfecunde e inflame a rima clara e ardente...Que brilhe a correção dos alabastrossonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graçade carnes de mulher, delicadezas...Todo esse eflúvio que por ondas passado Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões álacres,desejos, vibrações, ânsias, alentosfulvas vitórias, triunfamentos acres,os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagasde amores vãos, tantálicos, doentios...Fundas vermelhidões de velhas chagasem sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,nos turbilhões quiméricos do Sonho,passe, cantando, ante o perfil medonhoe o tropel cabalístico da Morte...

Turíbulo: vaso em que se queima incenso, nor-malmente em templos ou similares.

Ara: altar.Mádido: úmido.Dolência: mágoa, dor.Flébil: lacrimoso, choroso.Volúpico: que provoca grande prazer dos sen-

tidos.Inefável: que não se pode exprimir por palavras,

indizível.Edênico: relativo ao Éden, ao paraíso.Diafaneidade: transparência.

Fulgir: brilhar.Alabastro: pedra encontrada geralmente em

cores claras, empregada em ele-mentos escultóricos e decorativos comumente.

Eflúvio: emanação invisível que exala dos fluidos.Álacre: alegre, jovial.Alento: motivação, animação.Fulvo: amarelo.Acre: azedo.Tantálico: relativo a Tântalo, figura da mitologia

grega cujo castigo eterno era passar

fome e sede sem fim: estava conde-nado a passar a eternidade sob uma árvore cheia de frutos, porém, toda vez que buscava alcançar algum, a árvore erguia seus galhos. Do mesmo modo, estava sempre junto a um lago de água fresca. Mas sempre que ten-tava bebê-la, o lago secava.

Cabalístico: relativo à cabala; relativo às ciências ocultas.

Antífonas

CRUZ E SOUSA, João da. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1961. p. 69-70.

cuidado com essa teoria porque, na poesia simbolista de países que não vivenciaram a escravidão, também se usava o vocabulário relacionado à cor branca: neve, espuma, pérola, nuvem, brilhante. Assim, Cruz e Sousa pode até ter pensado em uma crítica ao racismo, porém, é mais provável que ele estivesse utilizando um vocabulário tipicamente simbolista.

O poema a seguir exemplifica o uso desse vocabulário, que remete à ideia de alvura, clareza.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo30

Page 31: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

1. Cruz e Sousa é um poeta que tinha especial devoção pela cor branca. Há quem interprete essa re-corrência temática como uma crítica velada e algo irônica ao racismo, conforme você já viu. Grife, no poema “Antífonas”, as alusões ao branco a às tonalidades claras.

2. O poeta também faz, no mesmo poema, alusões a outras cores, algo bem ao gosto simbolista, assim como a própria recorrência ao branco, ao brilho e à luz para criar imagens poéticas. Que outras alusões a cores há em “Antífonas”?

3. Que sentidos são evocados durante a leitura do poema? Que trechos justificam sua resposta?

4. A que característica do Simbolismo tal alusão aos sentidos remete?

5. O poema “Antífona”, de Cruz e Sousa, é considerado uma espécie de profissão de fé simbolista. Quanto a esse poema, é correto afirmar que:

I. Traz a recorrência temática e vocabular típica do simbolismo, que apela às formas brancas, às cintilações, à vagueza, ao diáfano e ao transparente.

II. Apoia-se na necessidade de trazer, mediante o trabalho rigoroso com a forma como defen-diam os parnasianistas, a ideia da pureza celeste, tema caro ao Simbolismo.

III. Apresenta marcas estilísticas do Simbolismo, como a musicalidade das palavras, o uso das reticências e o emprego de letras maiúsculas para tornar mais emblemáticas e absolutas certas ideias e conceitos.

a) Apenas I e II.

b) Apenas I e III.

c) Apenas II e III.

d) Apenas I.

e) I, II e III.

Alphonsus de GuimaraensNo Simbolismo brasileiro, outro poeta que se destaca é Alphonsus de Guimaraens

(1870-1921). Ainda muito jovem e vivendo em Minas Gerais, Guimaraens sofreu um episódio traumático em sua vida: sua noiva morreu poucos dias antes do casamento. Esse fato repercutiu por toda a sua poesia.

Posteriormente, foi para São Paulo estudar Direito na faculdade do Largo São Francisco (atualmente Faculdade de Direito da USP), onde tomou contato com os

ideais simbolistas e escreveu a maior parte de sua obra.

Ace

rvo Iconographia

LITERATURA BRASILEIRA

31Ensino Médio | Modular

Page 32: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Val: valeEsquife: caixão

Immaculata

Quando te fores, branca, de mãos postas,E me deixares neste val de pranto,Deitada assim, como as demais, de costasSobre o teu leve esquife de pau-santo:

Quando as rosas dos seios, decompostas,Vierem causar à própria morte espanto,E nessas tábuas vis, onde te encostas,Te for o lodo o derradeiro manto:

Ainda hei de ver as lúcidas violetasQue floriram no teu olhar incerto,Por sob as tuas sobrancelhas pretas...

Ai! como Inês tu não serás rainha:Mas amada hás de ser no céu decertoPorque na terra nunca foste minha...

GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesias. Rio de Janeiro: Simões, 1955. v. 4. p. 24.

Por que o poema acima se chama “ Immaculata”? Por que o autor teria escolhido um título em latim para seu poema?

Já formado, Alphonsus viajou para o Rio de Janeiro, onde conheceu o poeta Cruz e Sousa. Depois de retornar a Minas Gerais, ele exerceu o cargo de juiz na cidade de Mariana e levou uma vida tranquila com sua esposa, Zenaide de Oliveira, e seus catorze filhos, até a sua morte, no ano de 1921.

A obra de Alphonsus de Guimaraens é marcada pela utilização de uma linguagem simples, em que transparecem a sinestesia, o ritmo e a musicalidade – estes últimos conseguidos graças à profusão de aliterações –, características bem estimadas entre os poetas simbolistas.

No que diz respeito à forma, sua poesia é moldada pelo culto aos sonetos com versos alexan-drinos e decassílabos. No plano temático, há constantes referências à noiva falecida, Constança, que é vista como uma verdadeira divindade, perfeita e imune a qualquer perspectiva erótica. O poema a seguir evidencia isso.

Versos alexandrinos

são os que contêm

12 sílabas poéticas.

32 Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo

Page 33: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Em muitos de seus poemas surgem temas correlatos à tristeza do destino do poeta, à desilusão, à perda. Observe, por exemplo, o poema a seguir.

A catedral

Entre brumas, ao longe, surge a aurora,O hialino orvalho aos poucos se evapora,

Agoniza o arrebol.A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece, na paz do céu risonho,

Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O astro glorioso segue a eterna estrada.Uma áurea seta lhe cintila em cada

Refulgente raio de luz.A catedral ebúrnea do meu sonho,Onde os meus olhos tão cansados ponho,

Recebe a bênção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

Por entre lírios e lilases desceA tarde esquiva: amargurada prece

Põe-se a luz a rezar.A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece, na paz do céu tristonho,

Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

O céu é todo trevas: o vento uiva.Do relâmpago a cabeleira ruiva

Vem açoitar o rosto meu.A catedral ebúrnea do meu sonhoAfunda-se no caos do céu medonho

Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lúgubres responsos:“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

GUIMARAENS, Alphonsus de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001.

Hialino: que tem transparência vítrea.Ebúrneo: feito de marfim.Lúgubre: triste.

Responso: versículos cantados depois da leitura de capítulos da Bíblia em celebrações religiosas.

1. O poema “A catedral”, além de trazer o tema da triste sina do poeta, recorrente em Alphonsus de Guimaraens, ainda contém outras caracterís-ticas do Simbolismo. Explique essas característi-cas, conforme solicitado nas questões a seguir:

a) No refrão, tem-se uma exploração clara da sonoridade. Como ela opera?

b) A alusão ao branco, à claridade, também aparece nesse poema. Em que verso ela se manifesta e qual a sua função aí?

2. (PUC-Campinas – SP) Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens são poetas identificados com um movimento artístico cujas características são:

a) o jogo de contrastes, o tema da fugacidade da vida e fortes inversões sintáticas;

b) a busca da transcendência, a preponderân-cia do simbolismo entre as figuras e o culti-vo de um vocabulário ligado às sensações;

c) a espontaneidade coloquial, os temas do cotidiano e o verso livre;

d) o perfeccionismo formalista, a recuperação dos ideais clássicos e o vocabulário preciso;

e) o jogo dos sentimentos exacerbados, o alargamento da subjetividade e a ênfase na adjetivação.

Ensino Médio | Modular 33

LITERATURA BRASILEIRA

Page 34: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Você sabe quem é a Inês mencionada no poema “Immaculata”? Trata-se da personagem central de uma das mais marcantes histórias de amor já narradas pela Literatura: o romance entre D. Pedro I, príncipe de Portugal, e Dona Inês de Castro. Vale relembrar a trajetória dessa ilustre dama.

Tudo começa em 1339, quando o jovem príncipe desposa uma dama de sangue igualmente real, D. Constança, que, passando a habitar a corte portuguesa, leva consigo seu séquito. E eis que, entre suas aias, estava Inês de Castro. O príncipe D. Pedro, que desposara D. Constança por razões funda-mentalmente diplomáticas, apaixona-se pela bela Inês, que corresponde aos seus sentimentos. Eles iniciam então um romance secreto, mas não conseguem ser discretos o suficiente, e o Rei D. Afonso, pai de D. Pedro, ao descobrir o caso de amor, decide separar o casal a fim de manter a integridade da imagem de sua casa real e manda exilar Inês. Apesar do esforço do rei para manter o casal afastado, D. Pedro e Inês se comunicam por correspondência durante todo o tempo que ela passa no exílio.

Em 1345, quando D. Constança morre ao dar à luz ao herdeiro do trono português e o príncipe se torna viúvo, apesar de haver uma grande pressão para casá-lo novamente com uma dama de sangue real, de modo a estabelecer alianças, politicamente favoráveis ao trono português, ele prefere viver clandestinamente com Inês, com quem gera quatro filhos. Mas se espalham os rumores de que, a despeito da vontade do seu pai e de seu reino, D. Pedro desposara Inês de Castro, e, para evitar complicações políticas e diplomáticas advenientes dessa união, a Corte portuguesa convence o rei D. Afonso a mandar matar Inês. E é isso o que acaba acontecendo. Inês é assassinada por dois algozes, a mando do rei D. Afonso IV.

D. Pedro, contudo, jamais se conformaria, nem deixaria de honrar a imagem de sua amada Inês. Assim, quando se torna rei, legitima todos os filhos de sua união, transformando-os em herdeiros reais de Portugal, e, segundo contam, teria ainda mandado arrancar o coração dos assassinos, assistindo à execução deles enquanto jantava calmamente.

Dos poemas que retratam esse famoso caso de amor, um dos mais famosos e comoventes é exatamente o de Alphonsus de Guimaraens. D. Pedro, tão logo se tornara rei, teria mandado exumar o corpo de Inês e realizado uma coroação dela como sua consorte e rainha, mesmo depois de morta, em uma cerimônia oficial e dentro do protocolo, que envolvia, inclusive, a prática de fazer com que os membros da corte beijassem, um a um, a mão da rainha recém-coroada. Por essa razão, Inês de Castro é conhecida como “aquela que depois de morta foi rainha”.

Os túmulos de D. Pedro e de D. Inês de Castro, segundo a lenda, teriam sido colocados um em frente ao outro no mosteiro de Alcobaça, porque a expectativa de D. Pedro era a de, no dia do Juízo Final (quando os mortos, de acordo com sua crença cristã, se levantarão para o Julgamento), ver a imagem de sua amada Inês antes de tudo.

Túmulos de D. Inês e D. Pedro alocados frente a frente no Mosteiro de Alcobaça

© W

ikim

edia

Com

mon

s/Ba

silio

© W

ikim

edia

Com

mon

s/Jo

sé L

uis

Filp

o Ca

bana

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo34

Page 35: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

CAMÕES, Luís Vaz de. Os lusíadas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988. p. 86-89.

De outras belas senhoras e Princesas Os desejados tálamos enjeita, Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas, Quando um gesto suave te sujeita. Vendo estas namoradas estranhezas, O velho pai sisudo, que respeita O murmurar do povo e a fantasia Do filho, que casar-se não queria,

Tirar Inês ao mundo determina, Por lhe tirar o filho que tem preso, Crendo co`sangue só da morte indi[g]na Matar do firme amor o fogo aceso. Que furor consentiu que a espada fina Que pôde sustentar o grande peso Do furor Mauro, fosse alevantada Contra u~a fraca dama delicada?

Traziam-[n]a os horríficos algozes Ante o Rei, já movido a piedade; Mas o povo, com falsas e ferozes Razões, à morte crua o persuade. Ela, com tristes e piedosas vozes, Saídas só da mágoa e saudade Do seu Príncipe e filhos, que deixava, Que mais que a própria morte a magoava,

[...]

Tais contra Inês os brutos matadores, No colo de alabastro, que sustinha As obras com que Amor matou de amores Aquele que depois a fez Rainha, As espadas banhando, e as brancas flores, Que ela dos olhos seus regadas tinha, Se encarniçavam, fervidos e irosos, No futuro castigo não cuidosos.

Bem puderas, ó Sol, da vista destes, Teus raios apartar aquele dia, Como da seva mesa de Tiestes, Quando os filhos por mão de Atreu comia. Vós, ó côncavos vales, que pudestes A voz extrema ouvir da boca fria, O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes, Por muito grande espaço repetistes.

Assi[m] como a bonina, que cortada Antes do tempo foi, cândida e bela, Sendo das mãos la[s]civas maltratada Da menina que a trouxe na capela, O cheiro traz perdido e a cor murchada: Tal está, morta, a pálida donzela, Secas do rosto as rosas e perdida A branca e viva cor, coa doce vida.

[...]

‘Co’: com. Forma do português arcaico.~Ua: uma. Forma do português arcaico.Furor Mauro: como haviam passado por um longo histórico de domi-

nação moura, os povos da Península Ibérica guardavam ainda, à época de Camões, a imagem de que os indi-víduos mouros (mauros) eram conquistadores cruéis e cheios de fúria guerreira.

“Como da seva mesa de Tiestes, /Quando os filhos por mão de Atreu comia”: alusão à história dos irmãos Atreu e Tiestes, da mi-

tologia grega clássica. Descendentes da estirpe real, ambos disputaram o trono de Micenas e, além disso,

a mesma mulher, Aerope, que, apesar de ser casada com Atreu, cometeu adultério, relacionando-se com Tiestes. Para articular uma terrível vingança, o irmão traído convida o outro para um falso jantar de recon-ciliação. No evento, porém, em vez de servir pratos convencionais, serve uma carne especial, diferente, que o convidado, Tiestes, come com prazer. Ao fim da ceia, no entanto, Atreu manda trazer à mesa as cabeças dos assados. Eram os filhos de Tiestes, que haviam sido mortos e servidos assados ao próprio pai.

Coa (contração): com + a

A obra literária que imortalizou a história de Inês e a consagrou como um tema da literatura universal foi Os lusíadas, de Luís de Camões. Leia o trecho desse poema épico em que a história de Inês é representada: Os lusíadas

Inês de Castro

Com base nos conhecimentos sobre os fatos da vida de Alphonsus de Guimaraens que podem ter influenciado a sua obra, e também na leitura da história de Inês de Castro, o que pode ser deduzido sobre a menção a Inês em “Immaculata”?

Obra

completa Os

lusíadas

@LIT678

LITERATURA BRASILEIRA

35Ensino Médio | Modular

Page 36: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

O desejo de evasão presente na ideia de morte é também uma característica marcante na obra do poeta Alphonsus de Guimaraens, já que por meio dela se abre o único caminho para se chegar à amada. Além disso, a sua poesia é dotada de elevado misticismo e religiosidade, ao ponto de o poeta ser considerado o mais místico entre os simbolistas brasileiros.

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar...

E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar...

GUIMARAENS, Alphonsus de. Ismália. Rio de Janeiro: Simões, 1955. p. 319.

Mar

cos

Gui

lher

me.

201

1. D

igita

l.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo36

Page 37: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Capa do livro ReVisão de Kilkerry, de Augusto de Campos

O fato de Alphonsus de Guimaraens optar por imagens como a da catedral e a da torre, presentes nos poemas apresentados anteriormente, é meramente casual ou pode ter relação com as carac-terísticas da sua poética e da poética simbolista em geral?

O movimento simbolista contribuiu muito para a evolução da indústria gráfica brasileira e para o mercado de periódicos, devido às diversas revistas que foram lançadas por seus integrantes em vários estados do país. Essas publicações representaram um grande avanço para o setor, principalmente devido ao apuro gráfico e às inovações formais e tipográficas praticadas pelos simbolistas, como os poemas figurativos, as páginas coloridas e os livros-estojo, que exigiam grande requinte técnico. Algumas ideias simbolistas, como a do livro-objeto, estão na última tendência do mercado editorial.

O poeta simbolista brasileiro Pedro Kilkerry (1885- -1917) não publicou nenhum livro em vida. Sua obra só ficou conhecida por um público mais numeroso em 1968, quando outro poeta brasileiro, Augusto de Campos, reuniu 36 poemas no volume ReVisão de Kilkerry.

O moviment

LITERATURA BRASILEIRA

37Ensino Médio | Modular

Page 38: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

A obra de Kilkerry obteve certo reconhecimento popular quando, recentemente, um de seus poemas, musicado por Cid Campos, filho de Augusto de Campos, foi gravado por Adriana Calcanhoto, importante intérprete da música popular brasileira. Confira a seguir:

O verme e a estrela

KILKERRY, Pedro; CAMPOS, Cid. O verme e a estrela. Intérprete: Adriana Calcanhoto. In: A fábrica do poema. Rio de Janeiro: Epic/Sony Music, 1994. 1 CD, digital, estéreo. Participação especial de Augusto de Campos.

Adriana Calcanhoto, expoente da música brasileira, gravou versos do poeta simbolista Kilkerry

Após refletir sobre o poema de Kilkerry, musicado por Cid Campos, responda às questões a seguir:

1. Na sua opinião, o poema continua, de algum modo, atual? Explique.

2. Por que, mesmo depois de passado tanto tempo de sua escrita, o texto de Kilkerry desperta interesse a ponto de ser gravado por uma representante significativa do contexto da música popular brasileira?

Getty Images/Latin Content Stringer/Luciana Whitaker

Agora sabes que sou verme. Agora sei da tua luz. Se não notei minha epiderme... É, nunca estrela eu te supus. Mas, se cantar pudesse um verme, Eu cantaria a tua luz

Se eras assim... Por que não deste Um raio, brando, ao teu viver? Não te lembrava. Azul-celeste O céu, talvez, não pode ser... Mas, ora enfim, por que não deste Somente um raio ao teu viver?

Olho, examino-me a epiderme Olho e não vejo a tua luz! Vamos que sou, talvez, um verme... Estrela nunca eu te supus!Olho, examino-me a epiderme Ceguei! ceguei da tua luz?

38 Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo

Page 39: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

1. (ITA – SP) Leia com atenção as duas estrofes a se-guir e compare-as quanto ao conteúdo e à forma.

I.

“Mas que na forma se disfarce o emprego

Do esforço; e a trama viva se construa

De tal modo que a imagem fique nua

Rica mas sóbria, como um templo grego.”

II.

“Do sonho as mais azuis diafaneidades

Que fuljam, que na estrofe se levantem

e as emoções, todas as castidades

Da alma do Verso, pelos versos cantem.”

Comparando as duas estrofes, conclui-se que:

a) I é parnasiana e II, simbolista.

b) I é simbolista e II, romântica.

c) I é árcade e a II, parnasiana.

d) I e II são parnasianas.

2. (UFAL) Acerca de algumas características de mo-vimentos literários brasileiros, analise as afirma-ções a seguir.

I. O herói típico da prosa romântica é, geralmente, “um ser dotado de idealismos, de honra e de co-ragem. Se necessário, chega a pôr a sua própria vida em risco para atender aos apelos do cora-ção ou da justiça.”

II. “Em lugar do egocentrismo romântico, os realis-tas tinham interesse de descrever, analisar e até criticar a realidade, apontar suas falhas, como forma de estimular a mudança das instituições e do comportamento humano.”

III. “O Naturalismo constrói sua ficção sob o regime das leis científicas e introduz, na literatura, todos os assuntos ligados ao homem, inclusive os repul-sivos e bestiais; sua linguagem caracteriza-se pela exatidão das descrições e pelo apelo à minúcia.”

IV. “Como movimento antimaterialista e antirracio-nalista, o Simbolismo buscou uma linguagem que fosse capaz de sugerir a realidade, e não retratá-la objetivamente, como fizeram os realis-tas. Daí o uso de símbolos, imagens, metáforas e sinestesias.”

Estão corretas:

a) I, II e III, apenas; b) I, II e IV, apenas; c) I, III e IV, apenas; d) II, III e IV, apenas; e) I, II, III e IV.

(UFCG – PB) Leia o poema a seguir como subsídio para responder às questões 3 e 4.

Litania dos pobres

Os miseráveis, os rotossão as flores dos esgotos.

São espectros implacáveisos rotos, os miseráveis.

São prantos negros de furnascaladas, mudas, soturnas.

São os grandes visionáriosdos abismos tumultuários.

As sombras das sombras mortas,cegos, a tatear nas portas.

Procurando o céu, aflitose varando o céu de gritos.

Faróis à noite apagadospor ventos desesperados.

Inúteis, cansados braçospedindo amor aos Espaços.

Mãos inquietas, estendidasao vão deserto das vidas.

Figuras que o Santo Ofíciocondena a feroz suplício.

Arcas soltas ao nevoentodilúvio do Esquecimento.

Perdidas na correntezadas culpas da Natureza.

[...]

CRUZ E SOUSA. Os melhores poemas de Cruz e Sousa, p.89

3. Analise as afirmações sobre o poema “Litania dos pobres”, de Cruz e Sousa e, em seguida, as-sinale as verdadeiras (V) e as falsas (F):

I. ( ) O poema é composto por dísticos rima-dos que lhe conferem musicalidade – característica comum do Simbolismo.

II. ( ) A temática central gira em torno da de-núncia social, muito comum entre os simbolistas que se preocupavam dema-siadamente com as questões sociais.

III. ( ) Ele possui alto poder sugestivo, trazen-do, através de adjetivos, qualificadores para definir os miseráveis.

Ensino Médio | Modular 39

LITERATURA BRASILEIRA

Page 40: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

IV. ( ) Apresenta várias características típicas do Simbolismo como a subjetividade, o universalismo e a racionalidade.

A sequência correta é:

a) F, V, V, F. b) V, F, V, F.

c) F, F, F, V. d) V, F, F, V.

e) V, V, V, F.

4. Julgue corretas (C) ou erradas (E) as assertivas que comparam o poema “Litania dos pobres”, de Cruz e Sousa, com a charge que segue:

(http://www.chargeonline.com.br, publicado especial-mente em: A Charge On Line, 05.04.09 e acessado em 30 de abril de 2009)

I. ( ) A charge confirma a condição humana de visionário miserável ilustrada no po-ema.

II. ( ) A temática da charge nega a condição divina como suporte salvador da condi-ção de pobreza desenhada no poema.

III. ( ) O poema revela a incredulidade do po-bre que tudo pode obter com a fé divi-na, reforçada na charge.

IV. ( ) A charge e o poema são gêneros intrin-secamente diferentes e, portanto, não se complementam em termos de temá-tica, não podem, pois, ser comparados.

A sequência correta é:

a) C, C, E, E.

b) C, E, E, C.

c) E, C, C, E.

d) E, E, C, E.

e) C, E, C, E.

5. (UFPE) A poesia simbolista era hermética e car-regada de mistério, musicalidade, subjetividade. Leia abaixo um poema de Cruz e Sousa, principal poeta simbolista, e analise as observações feitas em seguida.

Litania dos pobres

Os miseráveis, os rotos,São as flores dos esgotosSão espectros implacáveisOs rotos, os miseráveis,São pranto negro das furnas,Caladas, mudas, soturnasFaróis à noite apagadosPor ventos desesperados,Bandeiras rotas sem nomeDas barricadas da fomeBandeiras estraçalhadasDas sangrentas barricadas

(0-0) No Brasil, o estilo simbolista (subjetivista) superou o prestígio de que gozava a poé-tica parnasiana (objetivista), a qual se foi tornando uma tendência literária marginal no quadro de nossas letras literárias.

(1-1) Os versos de Cruz e Sousa, apesar de sim-bolistas, têm um tom de denúncia social e exploram, tematicamente, informações sócio-históricas.

(2-2) Há em “Litania dos pobres” claras referên-cias à cultura afrodescendente, herdeira do sistema escravocrata no Brasil, o que justifica a alcunha “cisne negro” atribuída ao poeta.

(3-3) No poema acima, o recurso às particulari-dades sonoras das palavras constitui uma opção poética para realçar, expressiva e simbolicamente, a imagem da pobreza, tão cruelmente referida.

(4-4) Na forma, o poema segue fielmente os mo-delos simbolistas, com ênfase na musicalida-de dos versos, que recorrem ao poder simbó-lico de aliterações, rimas e jogos de sentidos.

6. (FURG – RS) O Simbolismo, cujo representante máximo, no Brasil, foi Cruz e Sousa, é um movi-mento marcado pelas seguintes características:

a) nacionalismo e fixação pela cor branca;b) musicalidade e subjetividade;c) religiosidade e racionalidade;d) uso de iniciais maiúsculas e patriotismo;

e) descompromisso métrico-formal e racismo.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo40

Page 41: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

7. (PUCPR) Identifique nos versos finais do poema “O assinalado”, de Cruz e Sousa, os elementos que caracterizam a poesia simbolista do autor. Depois assinale a alternativa correta.

“Tu és o Poeta, o grande Assinaladoque povoas o mundo despovoado,de belezas eternas, pouco a pouco.

Na Natureza prodigiosa e ricaToda a audácia dos nervos justificaOs teus espasmos imortais de louco!”

a) A poesia é criação de belezas eternas.

b) A poesia é a linguagem que provoca a loucura do poeta.

c) O poeta se distingue dos mortais comuns por-que é louco.

d) A natureza oculta a loucura do poeta.

e) O poeta á assinalado porque contribui para povoar o mundo.

8. (UFAM) Assinale a opção cujo enunciado não pode ser aplicado aos poetas simbolistas, em ge-ral, e aos brasileiros, em particular.

a) Antiutilitaristas e anticientificistas, prolonga-ram, e até reforçaram, a oposição cultural her-dada dos grandes poetas românticos.

b) Opuseram à estética visual um constante desejo de musicalidade, atendendo ao pedido de Verlaine, que dizia: “De la musique avant toute chose”.

c) Preteriram o fluxo da imaginação em favor do polimento do verso e repeliram a lírica de con-fissão, reveladora dos sofrimentos interiores.

d) Insurgindo-se contra o império do imediato e positivo em arte, exaltaram o poder de “vi-dência” da poesia, algumas vezes em termos espiritualistas.

e) O uso abusivo de reticências é apenas o signo externo de uma reticência interior, de uma se-mântica da insinuação (e não da declaração).

9. (UTFPR) Sobre o Simbolismo, é correto afirmar:

I. Mergulha no inconsciente, ali buscando ima-gens que se coadunam com o onírico, o irra-cional e o transcendente.

II. É vago e indistinto, porém sua poesia atinge os pináculos da expressão objetiva, de onde se explicam as inúmeras referências à cor branca.

III. Tem, na própria materialidade sonora da pa-lavra, o anelo de aproximar-se da música, de onde justificam-se os inúmeros recursos fôni-cos de que faz uso.

IV. O maior poeta simbolista brasileiro é Cruz e Sousa, e as inúmeras referências à cor branca encontradas em sua poesia se explicam pela rejeição inconsciente à própria herança gené-tica de seus antepassados.

V. Trata-se do resultado de um desenvolvimen-to que se iniciou com o Romantismo, isto é, com a descoberta da metáfora como célula germinal da poesia.

VI. Sendo inexplicável e misteriosa a vida, era natural que o Simbolismo a representasse de maneira imprecisa, vaga, ilógica e obscura.

Estão corretas as afirmações:

a) apenas I, II, III e IV; b) apenas I, II, IV e V; c) apenas I, III, V e VI; d) apenas II, III, V e VI; e) todas estão corretas.

10. (FURG – RS) Leia o soneto “Madona da Tristeza”, de Cruz e Sousa, e as afirmativas feitas tendo em vista a sua parte formal:

Quando te escuto e te olho reverenteE sinto a tua graça triste e belaDe ave medrosa, tímida, singela,Fico a cismar enternecidamente.

Tua voz, teu olhar, teu ar dolenteToda a delicadeza ideal revelaE de sonhos e lágrimas estrelaO meu ser comovido e penitente.

Com que mágoa te adoro e te contemplo,Ó da Piedade soberano exemplo,Flor divina e secreta da Beleza.

Os meus soluços enchem os espaçosQuando te aperto nos estreitos braços,Solitária madona da Tristeza!

I. Quanto à métrica, observa-se que o soneto é todo composto de versos decassílabos.

II. O esquema de rimas do soneto pode ser resu-mido como ABBA / ABBA / CCD / EED.

III. O uso de substantivos com iniciais maiúscu-las é uma característica da poesia simbolista de Cruz e Sousa.

Ensino Médio | Modular 41

LITERATURA BRASILEIRA

Page 42: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Com base nas afirmativas acima, pode-se consi-derar que:

a) todas estão corretas;

b) todas estão erradas;

c) I e II estão corretas;

d) I e III estão corretas;

e) II e III estão corretas.

11. (UFV – MG) O poema transcrito abaixo é de au-toria do simbolista brasileiro Cruz e Sousa. Leia-o com atenção e responda ao que é solicitado:

Flor do mar

És da origem do mar, vens do secreto,Do estranho mar espumaroso e frioQue põe rede de sonhos ao navioE o deixa balouçar, na vaga, inquieto.

Possuis do mar o deslumbrante afectoAs dormências nervosas e o sombrioE torvo aspecto aterrador, bravioDas ondas no atro e proceloso aspecto.

Num fundo ideal de púrpuras e rosasSurges das águas muscilaginosasComo a lua entre a névoa dos espaços...

Trazes na carne o eflorescer das vinhas,Auroras, virgens músicas marinhas,Acres aromas de algas e sargaços...

CRUZ E SOUSA. Poesias completas. Rio de Janeiro: Ediouro, [19--]. p. 26.

No quadro abaixo, preencha cada linha da colu-na da direita com o verso do poema que exem-plifica a figura de linguagem que aparece na co-luna da esquerda:

Figura Verso

Comparação

Sinestesia

Aliteração

12. (UFMA) O Simbolismo prima pelo subjetivismo, busca a sublimação e valoriza o inconsciente/sub-consciente, daí o desenvolvimento de uma lingua-gem específica, e tem como características:

a) musicalidade, sugestão, linguagem simbólica;

b) linguagem simbólica, humanitismo, sugestão;

c) sugestão, musicalidade, culto da forma;

d) humanitismo, linguagem simbólica, denúncia;

e) culto da forma, sugestão, humanitismo.

13. (MACKENZIE – SP) Assinale a alternativa que não se refere ao Simbolismo.

a) Na busca de uma linguagem exótica, colorida, musical, os autores não resistem, muitas ve-zes, à ideia de criar novos termos.

b) Ocorre grande interesse pelo individual e pelo metafísico.

c) Há assuntos relacionados ao espiritual, místi-co, religioso.

d) Nota-se o emprego constante de aliterações e assonâncias.

e) Busca-se uma poesia formalmente perfeita, impassível e universalizante.

14. (CESCEM – SP) Um dos aspectos que faz com que a poesia simbolista se contraponha frontalmente ao Parnasianismo é

a) o predomínio da linguagem denotativa sobre a figurada, como tentativa de exprimir com mais clareza as ambiguidades da alma.

b) a consideração do poema como um produto artístico, resultante de um processo lógico e analítico de interpretação do real.

c) a visão materialista do mundo, adequada-mente expressa por uma linguagem eivada de sugestões plásticas que acentuam a ideia de sensualidade.

d) a adoção de uma postura subjetiva diante da realidade, expressa por uma linguagem rica de associações sensoriais.

e) o abandono do soneto, que, como forma po-ética fixa, passa a ser considerado impróprio para exprimir a fluidez onírica.

15. (CESCEM – SP) O texto que segue aponta carac-terísticas do Simbolismo.

“Nem a ideia clara, nem o sentimento preciso, mas o vago do coração, o indeciso dos estados da alma.”

Com base nessas propostas, aponte o excerto que pertence a esse movimento estético:

a) “Era um casarão sombrio, a casa da fazenda. Além de escura e abafada, recendia a um cheiro esquisito”.

b) “A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece na paz do céu risonho Toda branca de sol”.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo42

Page 43: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

c) “Lá nas areias infindas, das palmeiras do país, Nasceram – crianças lindas, Viveram – moças gentis...”

d) “Pois direi-me agora da grandeza, com que já me tendes ameaçado, desta província chama-da Brasil, ou Terra de Santa Cruz”.

e) “Vontade de dormir. Fumaça de chaminé transformada em lençol branco, cama macia de fazer água na boca.”

16. (UFES) Maior importância conferida às sensações produzidas pelas coisas do que às coisas em si, visão do tempo como algo que não se pode cap-tar e aparência fugidia das pessoas, objetos e paisagens são algumas das características de um estilo de época que se conhece como:

a) Romantismo;

b) Parnasianismo;

c) Simbolismo;

d) Impressionismo;

e) Modernismo.

17. (PUC-Campinas – SP)

“Ah! Plangentes violões dormentes, mornos Soluços ao luar, choros ao vento... Tristes perfis, os mais vagos contornos, Bocas murmurejantes de lamento.”

O texto acima é um fragmento da obra Violões que choram, de autoria de

a) Cruz e Sousa.

b) Alphonsus de Guimaraens.

c) Ciro dos Anjos.

d) Augusto dos Anjos.

e) Francisca Júlia.

Esta e a anterior são autoexplicativas. Que mais podemos dizer?

18. (FUVEST)

Perdida voz que de entre as mais se exila,

– Festões de som dissimulando a hora.”

Os versos anteriores são marcados pela presença ______ e pela predominância de imagens auditivas, o que nos sugere a sua inclusão na estética ______ .

Assinale a alternativa que completa os espaços:

a) da comparação – romântica

b) da aliteração – simbolista

c) do paralelismo – trovadoresca

d) da antítese – barroca

e) do polissíndeto – modernista

19. (PUCRS) O Simbolismo, estética que surgiu tam-bém no final do século XIX, reage contra _______ da época. Tal motivação justifica o subjetivismo profundo, que alcança _______, expresso de dife-rentes formas, assim como pela _______, confor-me se pode observar em versos tais como: “vozes veladas, veludosas vozes”; “ó formas alvas, bran-cas, Formas claras”.

a) o racionalismo – o pragmatismo – musicalidade.

b) o impressionismo – a percepção – aliteração.

c) o romantismo – a percepção – aliteração.

d) o cientificismo – o irracionalismo – musicalidade.

e) a espiritualização – o irracionalismo – clareza.

20. (PUCRS) Todas as afirmativas que seguem po-dem ser relacionadas ao Simbolismo, tendência a que se associa Eduardo Guimaraens, exceto a de que

a) contraria o pragmatismo de tendência parna-siana.

b) valoriza a expressão da subjetividade.

c) propõe o rigorismo formal.

d) retrata a realidade de maneira vaga, imprecisa.

e) expressa-se por imagens e não por conceitos.

21. (PUC-Campinas – SP) Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens são poetas identificados com um movimento artístico cujas características são:

a) o jogo de contrastes, o tema da fugacidade da vida e fortes inversões sintáticas;

b) a busca da transcendência, a preponderância do simbolismo entre as figuras e o cultivo de um vocabulário ligado às sensações;

c) a espontaneidade coloquial, os temas do coti-diano e o verso livre;

d) o perfeccionismo formalista, a recuperação dos ideais clássicos e o vocabulário preciso;

e) o jogo dos sentimentos exacerbados, o alarga-mento da subjetividade e a ênfase na adjetiva-ção.

Ensino Médio | Modular 43

LITERATURA BRASILEIRA

Page 44: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

1. No início do século XX, o que estava acontecendo no Brasil?

2. Se o Pré-Modernismo é tudo aquilo que problematiza a realidade brasileira do início do século XX, quais eram os temas das obras desse período?

3. Analisando os dois trechos apresentados, qual é a relação entre a definição de Alfredo Bosi e o trecho de Os sertões?

Mem

oria

l do

Imig

rant

e de

São

Pau

lo/

Fotó

graf

o D

esco

nhec

ido

Cole

ção

Fam

ília

Mon

teiro

Lob

ato

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

© W

ikim

edia

Com

mon

s/M

useu

His

tóric

o da

Im

igra

ção

Japo

nesa

/ Fo

tógr

afo

Des

conh

ecid

o

Pré-Modernismo3

Creio que se pode chamar Pré-Modernismo (no sentido forte de premonição dos temas vivos em 22) tudo o que, nas primeiras décadas do século, problematiza a nossa realidade social e cultural.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994. p. 306.

O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitis-mo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. [...]É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímo-do, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos.

CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. 3. ed. São Paulo: Ateliê, 2004. p. 207.

Hércules: semideus latino, reconhecido por sua força física.

Quasímodo: personagem principal de

O corcunda de Notre-Dame; monstro, ser

disforme.

44 Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo

Page 45: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

© W

ikim

edia

Com

mon

s/M

emor

ial d

o Im

igra

nte/

Gui

lher

me

Gae

nsly

No fim do século XIX e início do século XX, coexistiram na literatura brasileira diversas correntes literárias. Enquanto predominava o Realismo na prosa, que envolve romances, contos e crônicas; na poesia, o Parnasianismo e o Simbolismo exerciam suas influências. Contudo, a presença dessas três correntes não impediu que se formasse, no campo da literatura, uma nova linha de reflexão sobre a sociedade brasileira. Essa nova tendência ficou conhecida como Pré-Modernismo e é fruto das intensas transformações políticas, econômicas e sociais do período.

Após a fase inicial de consolidação da Primeira República (1889-1930), conhe-cida como República da Espada (1889-1894) por ser comandada principalmente por militares, tomou posse, em 1894, o primeiro presidente civil do Brasil: Prudente de Moraes.

Visando atender aos interesses de suas bases políticas paulistas e mineiras, Prudente de Moraes deu início à política que ficou conhecida por café com leite por alternar, com frequência, no governo federal um presidente ora paulista ora mineiro. Foi nesse período da Primeira República, chamado de República Oligárquica ou do Café (1894-1930), que diversas transformações se deram na realidade brasileira, alterando definitivamente a sociedade.

A imigração que ocorreu no fim do século XIX e início do XX alterou profun-damente a realidade social e étnica brasileira. Os imigrantes italianos, alemães, poloneses, árabes, japoneses, entre tantos outros, trouxeram para o Brasil hábitos alimentares e modos de se vestir que hoje estão profundamente internalizados na cultura brasileira. Além disso, houve uma mistura étnica que alterou signifi-cativamente os traços físicos do povo brasileiro.

Prudente de Moraes, terceiro presidente da República Brasileira

Segundo o crítico literário Alfredo Bosi, o número de estrangeiros que chegou ao Brasil foi de aproximadamente 2,6 milhões de pessoas entre os anos de 1891 e 1920.

Acervo

Iconographia

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Ensino Médio | Modular 45

LITERATURA BRASILEIRA

Page 46: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Uma consequência da imigração foi o processo de ur-banização pelo qual o Brasil passou nesse período. Entre todas as cidades do país, São Paulo foi a que mais cresceu, o que se deu, entre outros motivos, pelo fato de ela estar localizada estrategicamente entre o porto de Santos e o interior do estado, região economicamente forte devido ao cultivo do café. É interessante apontar que, embora muitos imigrantes fossem para o campo trabalhar nas lavouras, um grande contingente ficava nas cidades, exigindo que obras de infraestrutura fossem realizadas para atender à população que crescia.

Embora a República Oligárquica aparentasse um quadro de desenvolvimento, diversos problemas e conflitos sociais ocorridos no fim do século XIX ainda se perpetuavam, de-monstrando a permanência do abismo que separava as elites do povo e a incapacidade de administração do Es-tado pelos governos civis dessa fase. Um desses conflitos trouxe à tona questões referentes às desigualdades sociais e econômicas, conforme será visto brevemente a seguir.

No fim do século XIX, a Região Sudeste, principalmente no que concerne às cidades da faixa litorânea, havia se tor-nado o centro de toda a política econômica. Já o Nordeste vivia o declínio da produção açucareira e não conseguia competir em importância política e econômica com o Sudeste, ficando praticamente esquecido – inclusive em termos de apoio religioso –, até que revoltas populares chamassem a atenção do país para essa região.

Abandonados pelo Estado, o povo do Sertão da Bahia, na região que ficou conhecida por Canudos, reuniu-se para formar uma comunidade em torno do líder religioso Antônio Conselheiro. A comunidade de Canudos foi vista pelas au-toridades civis e militares como expressão monarquista, e o governo republicano, para abafar a suposta revolta, enviou o exército a fim de destruir a cidade que se formara com casas de barro. Esse episódio, que ficou conhecido na história do país como Guerra de Canudos (1896-1897), teve um fim trágico, resultando na morte de aproximadamente 5 mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças.

Entretanto, os problemas sociais do período da República Oligárquica, marcado por numerosos conflitos, não ocorreram apenas em regiões como a de Canudos, mas também no meio urbano. A classe trabalhadora passou a se mobilizar e a exigir seus direitos por meio de greves e passeatas que eram frequentemente reprimidas com violência pela polícia. No Rio de Janeiro, capital do país na época, a rebelião contra a vacina obrigatória e a Revolta da Chibata foram os dois grandes acontecimentos que caracterizaram a instabilidade política e social da Primeira República.

De cima para baixo: R. São Bento, em São Paulo (1902); Inauguração da Av. Central (atual Av. Rio Branco), Rio de Janeiro (1905); Construção da Av. Beira-Mar, Praia de Botafogo, Rio de Janeiro (1904); Colocação de trilhos de bonde na Rua Direita, esquina com São Bento, São Paulo (1902)

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo46

Page 47: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

A literatura pré-modernista

A literatura do Pré-Modernismo se diferencia daquela elaborada no Realismo e no Naturalismo, visto que, enquanto essas últimas visam representar os problemas sociais, a primeira traz à tona e discute os problemas sociais e a realidade cultural do Brasil.

No âmbito da linguagem, a produção literária do Pré-Modernismo tem muito do estilo jornalístico. Essa característica fica evidente na linguagem coloquial de Lima Barreto, mas também no formalismo exacerbado e no estilo imponente e rigoroso de Euclides da Cunha. Diante disso, não se pode falar em uma orientação estética predominante.

A fim de distinguir uma linha diretriz na literatura desse período, de modo a promover uma melhor compreensão do cenário nacional, é necessário perceber que ela trabalha predominantemente com a tensão entre polos opostos. Na verdade, esse momento da literatura brasileira recebe destaque devido ao tema que aborda: o Brasil, com suas tensões sociais entre ricos e pobres, brasileiros e estrangeiros, campo e cidade, civilização e barbárie. Os grupos sociais que se destacam no período, em meio a todas essas tensões, fazem com que novos personagens apareçam nos textos literários. Assim, o homem da periferia, o caipira interiorano, o imigrante e o sertanejo surgem nas obras dessa época, formando um quadro humano inédito para os leitores.

Euclides da CunhaEuclides da Cunha (1866-1909) nasceu em Cantagalo, Rio de Janeiro. Estudou na Escola Politécnica

e depois foi para a Escola Militar. No ano de 1888, fortemente influenciado pelos positivistas e republicanos, lançou aos pés do ministro da Guerra, o conselheiro monarquista Tomás

Coelho, a sua espada de cadete. Embora o ato de insubordinação o tenha tornado famoso, também resultou em seu desligamento do Exército.

Euclides se mudou, então, para São Paulo, que era um dos grandes redutos dos republicanos. A convite de Júlio Mesquita, diretor do jornal A província de São Paulo, futuro O Estado de S.Paulo, Euclides da Cunha escreveu uma série de artigos que tinham por tema a realidade brasileira.

Com a proclamação da República, em 1889, Euclides regressou ao Rio de Janeiro e, por intermédio de Benjamin Constant, retornou ao Exército. Em 1896, deixou definitivamente a carreira militar para se dedicar à Engenharia Civil.

Quando eclodiu o conflito em Canudos, Euclides escreveu um artigo para o jornal O Estado de S.Paulo intitulado “A nossa Vendeia”, em que estabelecia

uma comparação entre a revolta monarquista posterior à Revolução Francesa e o movimento de Canudos, que ocorreu após a Proclamação da República.

Júlio Mesquita, impressionado com a repercussão do texto, contratou Euclides como correspondente de guerra para cobrir os últimos momentos do conflito no

Sertão da Bahia. Ele esteve no teatro de operações entre os dias 16 de agosto e 3 de outubro de 1897 e, ali, assistiu aos últimos dias da luta do exército contra os homens

guiados por Antônio Conselheiro.

Acervo Iconographia

Pré-Modernismo:

contexto

histórico e estilo

de época

@LIT771

Euclides da

Cunha: biografia,

obras, cronologia

e estilo

@LIT493

Ensino Médio | Modular 47

LITERATURA BRASILEIRA

47Ensino Médio | Modular

Page 48: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Em 1898, fixou-se em São José do Rio Pardo para realizar a construção de uma ponte. Foi nesse período que Euclides redigiu Os sertões. A repercussão imediata da obra fez com que o escritor fosse eleito para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e para a Academia Brasileira de Letras.

Em 1904, o Barão do Rio Branco o nomeou chefe da Comissão Brasileira no Alto Purus, com a incum-bência de auxiliar no processo de demarcação de fronteiras. Ao retornar, passou a trabalhar no Itamaraty.

Afastado do lar e dedicado à vida pública, Euclides da Cunha passou a ter problemas conjugais. Na manhã de 15 de agosto de 1909, na Estação de Piedade, sucumbia no chão. Havia sido ferido por quatro tiros, todos disparados por Dilermando de Assis, amante de sua esposa.

Os sertõesPublicado em 1902, mistura vários gêneros literários – epopeia, romance e outros – e diversas

áreas de conhecimento, como Sociologia, História, Ciências Naturais e Teoria Política.O livro está dividido em três partes – A terra, O homem, A luta – e tem como tema central a

história da Guerra de Canudos (1896-1897), desde a sua gênese até os momentos finais do conflito.Os personagens que interagem no romance são primordialmente baseados em pessoas que partici-

param diretamente da Guerra de Canudos. Para retratá-las, Euclides se apoia fortemente nas correntes científicas predominantes no fim do século XIX.

No que diz respeito à linguagem, Euclides utiliza um vocabulário técnico, retirado das Ciências Biológicas, da Antropologia, da Sociologia e da Topografia. A isso, soma-se o estilo composto de parágrafos longos que são abruptamente interrompidos por outros excessivamente curtos.

A terra 1ª. parteAntes de viajar para Canudos, Euclides da Cunha parou em Salvador. Ali ele pôde aprofundar seus

estudos sobre a Geografia, a Botânica e a Zoologia da região, bem como sobre os antecedentes so-ciológicos do conflito, o que lhe forneceu subsídios para traçar, inicialmente, um panorama objetivo e técnico da terra. Esses estudos foram elaborados porque ele acreditava no determinismo de Taine como pressuposto teórico para escrever a sua obra. Segundo Euclides, o sertanejo do Sertão da Bahia era decorrência do ambiente físico – a terra, o clima, enfim, o meio – em que fora gerado. Contudo, o escritor tinha consciência de que o fato de o povo ter sido abandonado pelos políticos também foi um dos motivos que desencadearam a revolta de Canudos.

A entrada do Sertão

Está sobre um socalco do maciço continental, ao norte.Demarca-o de uma banda, abrangendo dois quadrantes, em semicírculo, o rio de São Francisco;

e de outra, encurvando também para sudeste, numa normal à direção primitiva, o curso flexuoso do Itapicuruaçu. Segundo a mediana, correndo quase paralelo entre aqueles, com o mesmo descambar expressivo para a costa, vê-se o traço de um outro rio, o Vaza-Barris, o Irapiranga dos tapuias, cujo trecho de Jeremoabo para as cabeceiras é uma fantasia de cartógrafo. De fato, no estupendo degrau, por onde descem para o mar ou para jusante de Paulo Afonso as rampas esbarrancadas do planalto, não há situações de equilíbrio para uma rede hidrográfica normal. Ali reina a drenagem caótica das torrentes, imprimindo naquele recanto da Bahia fácies excepcional e selvagem.

Determinismo de Taine: doutrina positivista de Hippolyte Taine segundo a qual o universo seria formado por um imenso mecanismo, constituído de fatos reais interligados de acordo com relações de causa e efeito. O homem, entendido como um sistema, seria unicamente determinado pelo seu meio, sua raça e seu momento histórico.

LOMBARDO, Patrizia. Hippolyte Taine ou la critique sans l’art. Cahiers de l’Association internationale des études françaises, EUA, n°. 37. p. 179-191, 1985. Tradução nossa.

Obra

completa

Os sertões

@LIT641

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo48

Page 49: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Terra ignotaAbordando-o, compreende-se que até hoje escasseiem sobre tão grande trato de território, que quase

abarcaria a Holanda (9º11’-10º20’ de lat. e 4º-3º, de long. O.R.J.), notícias exatas ou pormenorizadas. As nossas melhores cartas, enfeixando informes escassos, lá têm um claro expressivo, um hiato, terra ignota, em que se aventura o rabisco de um rio problemático ou idealização de uma corda de serras.

É que transpondo o Itapicuru, pelo lado do sul, as mais avançadas turmas de povoadores estacaram em vilarejos minúsculos – Maçacará, Cumbe ou Bom Conselho – entre os quais o decaído Monte Santo tem visos de cidade: transmontada a Itiúba, a sudoeste, disseminaram-se pelos povoados que a abeiram acompanhando insignificantes cursos de água, ou pelas raras fazendas de gado, estremados todos por uma tapera obscura – Uauá; ao norte e a leste pararam às margens do S. Francisco, entre Capim Grosso e Santo Antônio da Glória.

Apenas naquele último rumo se avantajou uma vila secular, Jeremoabo, balizando o máximo esforço de penetração em tais lugares, evitados sempre pelas vagas humanas, que vinham do litoral baiano procurando o interior.

Uma ou outra o cortou, rápida, fugindo, sem deixar traços.Nenhuma lá se fixou. Não se podia fixar. O estranho território, a menos de quarenta léguas da

antiga metrópole, predestinava-se a atravessar absolutamente esquecido os quatrocentos anos da nossa história. Porque enquanto as bandeiras do sul lhe paravam à beira e envesgando, depois, pelos flancos da Itiúba, se lançavam para Pernambuco e Piauí até ao Maranhão, as do levante, repelidas pela barreira intransponível de Paulo Afonso, iam procurar no Paraguaçu e rios que lhe demoram ao sul, linhas de acesso mais praticáveis. Deixavam-no de permeio, inabordável, ignoto.

[...]O regime desértico ali se firmou, então, em flagrante antagonismo com as disposições geográficas:

sobre uma escarpa, onde nada recorda as depressões sem escoamento dos desertos clássicos.Acredita-se que a região incipiente ainda está preparando-se para a Vida: o líquen ainda ataca a

pedra, fecundando a terra. E lutando tenazmente com o flagelar do clima, uma flora de resistência rara por ali entretece a trama das raízes, obstando, em parte, que as torrentes arrebatem todos os princí-pios exsolvidos – acumulando-os pouco a pouco na conquista da paragem desolada cujos contornos suaviza – sem impedir, contudo, nos estilos longos, as insolações inclementes e as águas selvagens, degradando o solo.

Daí a impressão dolorosa que nos domina ao atravessarmos aquele ignoto trecho de sertão – qua-se um deserto – quer se aperte entre as dobras de serranias nuas ou se estire, monotonamente, em descampados grandes...

CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. 3. ed. São Paulo: Ateliê, 2004. p. 80-94.

Banda: lado.Flexuoso: ondulante, tortuoso, sinuoso.Mediana: num triângulo, segmento de reta que une um

vértice ao meio do lado oposto.Jusante: o sentido da correnteza em um curso-d’água.Fácies: conjunto dos caracteres de uma rocha, conside-

rados sob o aspecto de sua formação.Trato: espaço.Cartas: mapas.Enfeixando: juntando, reunindo, acolchetando.Corda: cadeia.Visos: indícios, vestígios, vislumbres.Estremados: demarcados, limitados.Balizando: delimitando, demarcando.Bandeiras: expedições armadas que partindo, em geral,

da capitania de São Vicente (depois, de São

Paulo), desbravavam os sertões (fim do sé-culo XVI a começo do século XVIII) a fim de cativar índios ou descobrir minas.

Envesgando: entortando, torcendo, caminhando obli-quamente.

De permeio: nesse ínterim, entretanto.Líquen: vegetal criptogâmico formado pela íntima as-

sociação de uma alga verde ou azul com um fungo superior. As algas ficam dentro do talo, formando camada verde. Vivem nos lugares mais inóspitos, comumente sobre rochas e cascas de árvores.

Trama: trançado. Obstando: impedindo.Exsolvidos: desagregados, precipitados, a partir de uma

fase cristalina sólida, desligados, desprendidos.

Ensino Médio | Modular 49

LITERATURA BRASILEIRA

Page 50: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Ao observar o clima, Euclides fala também da secura do ar por meio da história de um soldado que havia combatido em Canudos:

Higrômetros singulares[...]O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão, e protegido por ela – braços largamente

abertos, face volvida para os céus – um soldado descansava.Descansava... havia três meses.Morrera no assalto de 18 de julho. A coronha da mannlicher estrondada, o cinturão e o boné

jogados a uma banda, e a farda em tiras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversá-rio possante. Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrar-se, dias depois, os mortos, não fora percebido. Não compartira, por isto, à vala comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela última vez juntos, os companheiros abatidos na batalha. O destino que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concessão: livrara-o da promiscuidade lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes...

E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incutir a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem um verme – o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria – lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão imperceptível. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema dos ares.

CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. 3. ed. São Paulo: Ateliê, 2004. p. 106-107.

Mannlicher : tipo de fuzil (Fuzil 88) comprado às pressas pelo Brasil em 1893 para reprimir as re-voltas que pipocavam por toda parte, che-gando em vários lotes. Sua escolha se deu por influência pessoal de Floriano Peixoto.

Estrondada: escoriada, esfolada, riscada.Derreando-se: tombando-se, prostrando-se, curvando-se.

Escara: crosta de sangue seco e tecido mortificado, resultante do ferimento da pele.

Côvado: antiga unidade de medida de comprimento equi-valente a três palmos, ou seja, 0,66 m.

Retemperando-se: recuperando-se, revigorando-se, fortalecendo-se.

Benfazeja: caridosa, generosa.

1. Além da Literatura, quais áreas do conhecimen-to são utilizadas por Euclides da Cunha para es-crever Os sertões. Aponte exemplos no texto.

2. (UFRGS – RS) Considere as seguintes afirma-ções sobre Os sertões, de Euclides da Cunha.

I. O autor, além de registrar a brutalidade da guerra envolvendo exército e sertane-jos, discute, entre outros tópicos, as con-dições objetivas de vida na região e a for-mação racial do sertanejo.

II. Ao revelar as dificuldades das tropas do exército para atacar os sertanejos, Euclides

denuncia os oficiais por envolvimento em corrupção e favorecimento na compra de armas e munição.

III. O comandante da terceira expedição con-tra Canudos, coronel Moreira César, to-mou a precaução de reforçar a retaguar-da de suas tropas, mas foi surpreendido pelo ataque da cavalaria dos jagunços.

Quais estão corretas?

a) Apenas I. b) Apenas III.

c) Apenas I e II. d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo50

Page 51: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Um parêntese irritanteAbramos um parêntese...A mistura de raças mui diversas é, na maioria dos casos, prejudicial. Ante as con-

clusões do evolucionismo, ainda quando reaja sobre o produto o influxo de uma raça superior, despontam vivíssimos estigmas da inferior. A mestiçagem extremada é um retrocesso. [...] De sorte que o mestiço – traço de união entre as raças, breve existência individual em que se comprimem esforços seculares – é, quase sempre, um desequi-librado. [...]

Uma raça forteEntretanto a observação cuidadosa do sertanejo do Norte mostra atenuado esse anta-

gonismo de tendências e uma quase fixidez nos caracteres fisiológicos do tipo emergente.[...]

O sertanejoO sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços

neurastênicos do litoral.A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe

a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a

fealdade típica dos fracos. [...]

O homem 2ª. parteA segunda parte do livro tem como tema central o homem que viveu e lutou em Canudos. Moldado pelas

teorias raciais, vigentes entre a intelectualidade europeia e amplamente divulgadas no Brasil pelo médico Nina Rodrigues, Euclides demonstra a trágica e errônea linha de pensamento predominante na época.

Para Euclides, a mistura racial e o posterior isolamento dos sertanejos – em relação aos homens da faixa litorânea – permitiram que eles se reproduzissem somente entre seus pares, formando uma raça forte.

Nessa parte do livro, é narrada a história de Antônio Conselheiro, líder religioso e político de Canudos. Euclides relata que Conselheiro, após uma vida profissional e amorosa frustrada, passa a andar pelo Sertão Nordestino e a agregar em torno de si uma série de homens, mulheres e crianças pobres que não eram atendidos pelo governo quanto às suas necessidades básicas, como saúde, educação, moradia e alimentação.

Com o aumento do número de pessoas em torno de Conselheiro, ocorre a mudança para Canudos, uma fazenda de gado abandonada nas proximidades do rio Vaza-Barris. Ali, nasce uma verdadeira cidade, com regras definidas pelo próprio Antônio Conselheiro.

A luta – 3.a parteNa terceira parte de Os sertões, são narrados os principais conflitos que ocorreram

no interior da Bahia.A economia de subsistência que regia Canudos precisou ser ampliada em face do

crescimento demográfico e, a mando de Antônio Conselheiro, a população passou a negociar com os vilarejos da região.

O primeiro conflito ocorre por causa de um desentendimento em uma negociação sobre madeira.

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Mus

eu d

a Re

públ

ica/

Repr

oduç

ão Ic

onog

raph

ia

CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. 3. ed. São Paulo: Ateliê, 2004. p. 199-207.

Neurastênicos: pessoas que sofrem de neurastenia ou afecção mental caracterizada por astenia física ou psíquica, preocupações com a saúde, grande irritabilidade, cefaleia e alterações de sono.

Fealdade: qualidade do que ou de quem é feio.

Ensino Médio | Modular 51

LITERATURA BRASILEIRA

Page 52: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

A ofensa levou os homens liderados por Conselheiro a invadirem a cidade e a tomarem a madeira. Algumas tropas do governo foram enviadas para conter a desordem e, então, ocorreu o primeiro combate. O contingente de militares era, porém, pequeno, e os sertanejos puderam vencê-lo com relativa facilidade. Duas expedições subsequentes foram organizadas, contudo, dessa vez, contavam com soldados mais numerosos e mais bem armados. A terceira investida militar, composta de 1 281 militares, foi comandada pelo portador de “uma legenda de bravura”, o Coronel Moreira César. Sua expedição, ao contrário do esperado, não logrou sucesso. Após sucessivas falhas de estratégia, foi dizimada. Com muitas baixas, inclusive a de seu capitão, morto em batalha, as tropas militares deixaram Canudos. Na fuga desesperada, os soldados abandonaram parte de seu arsenal. Armas modernas e em plenas condições de uso são, assim, legadas aos jagunços.

A imprensa nacional manifestou grande preocupação com esse fato. Conselheiro passou a ser visto como monarquista restaurador. O movimento de Canudos, conforme demonstram as opiniões coletadas por Euclides, precisava ser sufocado com urgência.

Uma quarta expedição, então, marcha contra Canudos. Um grupo de aproximadamente 5 mil sol-dados, formado por homens de todo o Brasil, reúne-se com o intuito de destruir o arraial. Dessa vez, Conselheiro e suas tropas sucumbem à força militar.

Adrede: com intenção, de propósito.

Bibl

iote

ca N

acio

nal d

o Ri

o de

Ja

neiro

/Fot

ógra

fo D

esco

nhec

ido

Causas próximas da lutaDeterminou-a incidente desvalioso.Antônio Conselheiro adquirira em Juazeiro certa quantidade de madeiras, que não podiam

fornecer-lhe as caatingas paupérrimas de Canudos. Contratara o negócio com um dos representantes da autoridade daquela cidade. Mas ao terminar o prazo ajustado para o recebimento do material, que se aplicaria no remate da igreja nova, não lho entregaram. Tudo denuncia que o distrato foi adrede feito, visando o rompimento anelado.

[...]

CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. 3. ed. São Paulo: Ateliê, 2004. p. 339.

Canudos não se rendeuFechemos este livro.Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo.

Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caí-ram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.

Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página, imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.

Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma pers-pectiva maior, a vertigem...

Ademais, não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos...

E de que modo comentaríamos, com a só fragilidade da palavra humana, o fato singular de não aparecerem mais, desde a manhã de 3, os prisioneiros válidos colhidos na véspera, e entre eles aquele Antônio Beatinho, que se nos entregara, confiante – e a quem devemos preciosos esclarecimentos sobre esta fase obscura

da nossa História?Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5.200, cuida-

dosamente contadas.

CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. 3. ed. São Paulo: Ateliê, 2004. p. 778.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo52

Page 53: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Diametral: oposta;

transversal.Dicotomia:

dualidade, oposição.

(UFSC)

Não lhes bastavam seis mil mannlichers e seis mil sabres; e o golpear de doze mil braços, e o acal-canhar de doze mil coturnos; e seis mil revólveres; e vinte canhões, e milhares de granadas, e milhares de schrapnells, e os degolamentos, e os incêndios, e a fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias de canhoneio contínuo; e o esmagamento das ruínas; e o quadro indefinível dos templos derrocados; e, por fim, na ciscalhagem das imagens rotas, dos altares abatidos, dos santos em pedaços – sob a impassibi-lidade dos céus tranquilos e claros – a queda de um ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença con-soladora e forte...

Impunham-se outras medidas. Ao adversário irresignável as forças máximas da natureza, en-genhadas à destruição e aos estragos. Tinha-as, previdentes. Havia-se prefigurado aquele epílogo assombroso do drama. Um tenente, ajudante-de-or-dens do comandante geral, fez conduzir do acam-pamento dezenas de bombas de dinamite. Era jus-to; era absolutamente imprescindível. Os sertanejos invertiam toda a psicologia da guerra: enrijavam--nos os reveses, robustecia-os a fome, empedernia--os a derrota.CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Martin Claret, 2003, p. 520-521.

Com base no texto, e na obra de Euclides da Cunha, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).

(01) O texto é exemplo de como o sertanejo é descrito também em outras passagens

do livro Os sertões e confirma a consa-grada frase de Euclides da Cunha: “O sertanejo é antes de tudo um forte”, p. 115.

(02) A narrativa de Euclides da Cunha propõe uma antítese entre a força física ou ma-terial do exército e a força do sertanejo, adaptado às condições de seu lugar e amparado pela crença religiosa.

(04) Quando afirma que “Impunham-se outras medidas” (linha 14), pois todo aquele arsenal não lhes bastava, o nar-rador quer dizer que os soldados apela-ram para os “céus tranquilos e claros” (linha 11).

(08) Há dois planos opostos que descrevem os dois lados desiguais da luta em Canudos. De um lado, o exército de São Sebastião e, de outro, os sertanejos com suas ruí-nas, na ciscalhagem das imagens rotas e em pedaços.

(16) A construção do texto por meio de para-doxos como “enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome, empedernia-os a derrota” (linhas 22-24) confirma uma das características da obra: a presença de elementos contrastantes como resul-tado de ideias antagônicas.

(32) A correta “psicologia da guerra” (linha 22), aplicada pelo exército, não foi sufi-ciente para a tomada de Canudos, já que os sertanejos a invertiam.

Além de ser uma fonte confiável para o conhecimento dos fatos que cercaram um significativo momento da história nacional, Os sertões é, sobretudo, uma obra capaz de revelar a diametral distância entre as condições políticas, econômicas e sociais do litoral e do sertão, da capital e do interior brasi-leiros. Euclides da Cunha explora essa dicotomia ao mesmo tempo que questiona o que se afirmava sobre a barbárie sertaneja. Os indivíduos brutalizados pela vida do interior surgem, na verdade, em sua obra, como vítimas do abandono do Estado, enquanto os supostamente civilizados homens da capital demonstram-se legitimamente bárbaros, ao guerrear, assassinar e destruir violentamente a população de Canudos.

1

5

10

15

20

Ensino Médio | Modular 53

LITERATURA BRASILEIRA

Page 54: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Lima BarretoAfonso Henrique de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 1881, sete anos antes da abolição

da escravatura. Era mulato, filho de um operário e de uma professora primária.Sua trajetória de vida foi marcada pelo preconceito e pelas dificuldades econômicas, mas, ainda

jovem, contou com a ajuda de um protetor, o Visconde do Rio Preto, que financiou seus estudos, permitindo que o autor terminasse o Ensino Médio no renomado Colégio Dom Pedro II e iniciasse os estudos de Engenharia Civil na Escola Politécnica.

Porém, em virtude dos problemas de seu pai, que sofria de problemas mentais e acabou sendo internado como louco na Colônia dos Alienados, sua situação financeira se agravou e Lima Barreto se viu encarregado de sustentar a família. Para tanto, entrou para o funcio-nalismo público e passou também a contribuir para diversos jornais da época, escrevendo especialmente crônicas.

Ainda estudante, fez colaborações no A Quinzena Alegre, em 1902, depois no Tagarela, em O Diabo, e na Revista da Época. Sua trajetória em jornais de maior circulação começou em

1905, com o Correio da Manhã, para o qual escreveu uma série de reportagens sobre a demolição do Morro do Castelo.

Já com uma certa idade, Lima Barreto passou a sofrer com o alcoolismo e foi acometido por diversas crises de depressão, que o levaram a ser internado no Hospício Nacional para tratamento. Morreu miserável, de um colapso cardíaco, aos 41 anos, em 1922.

Esses eventos serão decisivos para o tipo de escrita desenvolvido pelo autor. De modo geral, Lima Barreto subverteu o rígido padrão literário sustentado pelos parnasianos e apostou em uma escrita voltada para o subúrbio, os funcionários públicos, os aposentados, os operários, os vilões e as raparigas sonhadoras, relembrando temáticas já desenvolvidas pelo Naturalismo.

Do Realismo, herdou a investigação psicológica e a crônica de costumes, fazendo uma severa crítica social que, em seus melhores momentos, lembra a fina ironia de Machado de Assis. Era mestre na criação de caricaturas, construindo personagens arquetípicos representativos de tipos bem específicos

da sociedade, que têm seus defeitos e qualidades exaltados para demonstrar o ridículo de alguma situação ou conduta humana.

Lima Barreto produziu romances, contos, crônicas, sátiras políticas, crítica literária e um livro de memórias.

As obras de maior destaque são Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), Memórias do escrivão Isaías Caminha (1909), Clara dos Anjos (1948), Brundangas (1922) e o conto O homem que sabia javanês (1911). Essa última história ficou tão conhecida que se transformou em filme, peça de teatro e história em quadrinhos. Conta o caso do malandro Castelo, trambiqueiro que finge saber javanês para conseguir um emprego e acaba famoso como um dos únicos tradutores do idioma no país.

Sua maior contribuição para a literatura foi o abandono do modo erudito e artificial de escrever em favor de um estilo mais simples e despojado. Seus romances são fortemente influenciados pelo estilo jornalístico, pela linguagem informal e própria da fala cotidiana.

Em vida, não foi reconhecido como um escritor de talento, recebendo violentas críticas pelo seu modo peculiar de escrever, que tanto diferia do padrão parnasiano.

Os escritores modernistas, que aparecem na cena nacional logo após a morte do escritor, em 1922, veem seu estilo leve, fluente e propositadamente frouxo como um modelo a ser seguido, e o escritor alcança o posto de um dos maiores escritores do Brasil.

Acervo Iconographia

Obras

completas de

Lima Barreto

@LIT393

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo54

Page 55: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Editado pela primeira vez em 1915, o romance retrata o início da Repúbllica

Triste fim de Policarpo QuaresmaO romance conta a história do funcionário público Policarpo Quaresma, o

major Quaresma, subsecretário do Arsenal de Guerra. Nacionalista extremo, o personagem é uma caricatura daqueles que exaltam a pátria de forma exagerada e desmedida. Para ele, tudo o que há no país é superior, chegando a “amputar” alguns quilômetros do Nilo para ressaltar a grandeza do Amazonas. Essa característica faz com que ele seja incompreendido pelos colegas, vivendo isolado de todos.Dividido em três partes, na primeira, o romance se detém sobre a vida de Policarpo,

suas manias e crenças. Explora a mania de ler livros de sua vasta biblioteca, que conta somente com temas nacionais, a decisão de tocar violão (instrumento considerado “menor”, “coisa de malandro”), e até a proposta que leva à Câmara dos Deputados, solicitando que o Congresso Nacional adote o tupi como língua nacional, o que faz com que o considerem louco e seja, inclusive, internado.

Na segunda parte, Policarpo decide comprar uma fazenda e se muda para o in-terior. Conhecendo a situação das pessoas do campo, propõe uma reforma agrícola. Decide mostrar que a terra do Brasil é a melhor do mundo, mas se vê vencido pela má qualidade do solo e pelo ataque de saúvas. O personagem decide, então, voltar ao Rio de Janeiro para salvar o país da Revolta da Armada.

Na terceira parte, Policarpo Quaresma decide lutar pela República ao lado do marechal Floriano Peixoto. É incorporado ao batalhão sem qualquer treinamento militar e, durante a revolta, fica indignado com uma série de atitudes dos companheiros, como o uso da guerra a fim de se autopromover para alcançar postos maiores, ou a execução de prisioneiros de forma aleatória e sem justificativa. Policarpo decide denunciar os problemas e envia uma carta a Floriano Peixoto falando sobre as exe-cuções irregulares. Sua atitude é considerada um ato de traição e o personagem é condenado e fuzilado.

A chamada Revolta da Armada ocorreu em 1981 e foi organizada por setores da Marinha contra o governo do marechal Floriano Peixoto.

Marechal Floriano Peixoto e a Revolta da Armada

Mus

eu H

istó

rico

Nac

iona

l/

Repr

oduç

ão Ic

onog

raph

ia

Mus

eu d

o Ex

érci

to/

Fotó

graf

o D

esco

nhec

ido

Mus

eu H

istó

rico

Nac

iona

l/

Repr

oduç

ão

Icon

ogra

phia

Ensino Médio | Modular 55

LITERATURA BRASILEIRA

55Ensino Médio | Modular

Page 56: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Como em todas as obras de Lima Barreto, em Triste fim de Policarpo Quaresma há uma crítica à sociedade da época, em especial ao racismo e às atitudes políticas irregulares. No fim do livro, o autor ataca diretamente o governo republicano e expõe os problemas da pátria: a sua dificuldade em se estabelecer como governo democrático, de fato.

Se os romances de Lima Barreto forem analisados detidamente, é possível verificar que muitos dos problemas sociais que até hoje assolam o país já aparecem ali, como pequenas chagas, compor-tamentos daninhos que perseguem o Brasil ao longo dos anos.

Dom Quixote de la Mancha foi um romance escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes, no século XVII, que faz uma paródia às novelas de cavalaria típicas da Idade Média, ao contar as aventuras de Dom Quixote e Sancho Pança.

Dom Quixote é considerado louco por todos, sendo seguido somente pelo seu fiel companheiro Sancho. Juntos, eles saem em várias aventuras, típicas das histórias de cavalaria, para salvar a sua amada Dulcineia, lutando contra moinhos e fugindo de dragões.

Essa figura influenciou grande parte da literatura nacional, podendo ser identificada até mesmo na caracterização de Policarpo Quaresma. Ambos acreditavam que podiam mudar o mundo, eram considerados desajustados pela sociedade e, inclusive, dividiam certa semelhança física.

Texto para responder às questões de 1 a 4.

O visitante falou:

– Eu sou o Tenente Antonino Dutra, escrivão da coletoria...

– Alguma formalidade? indagou medroso Quaresma.

– Nenhuma, major. Já sabemos quem o senhor é; não há novidade nem nenhuma exigência legal.

O escrivão tossiu, tirou um cigarro, ofereceu outro a Quaresma e continuou:

– Sabendo que o major vem estabelecer-se aqui, tomei a iniciativa de vir incomodá-lo... Não é cousa de im-portância... Creio que o major...

– Oh! Por Deus, tenente!

– Venho pedir-lhe um pequeno auxílio, um óbulo, para a festa da Conceição, a nossa padroeira, de cuja irman-dade sou tesoureiro.

© W

ikim

edia

Com

mon

s/Fo

tógr

afo

Des

conh

ecid

o

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo56

Page 57: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

– Perfeitamente. É muito justo. Apesar de não ser religioso, estou...

– Uma cousa nada tem com a outra. É uma tradição do lugar que devemos manter.

– É justo.

– O senhor sabe, continuou o escrivão, a gente daqui é muito pobre e a irmandade também, de forma que somos obrigados a apelar para a boa vontade dos moradores mais remediados. Desde já, portanto, major...

– Não. Espere um pouco...

– Oh! major, não se incomode. Não é para já.

Enxugou o suor, guardou o lenço, olhou um pouco lá fora e acrescentou:

– Que calor! Um verão como este nunca vi aqui. Tem-se dado bem, major?

– Muito bem.

– Pretende dedicar-se à agricultura?

– Pretendo, e foi mesmo por isso que vim para a roça.

– Isto hoje não presta, mas noutro tempo!... Este sítio já foi uma lindeza, major! Quanta fruta! Quanta farinha! As terras estão cansadas e...

– Qual cansadas, Seu Antonino! Não há terras cansadas... A Europa é cultivada há milhares de anos, entretan-to...

– Mas lá se trabalha.

– Por que não se há de trabalhar aqui também?

– Lá isso é verdade; mas há tantas contrariedades na nossa terra que...

– Qual, meu caro tenente! Não há nada que não se vença.

– O senhor verá com o tempo, major. Na nossa terra não se vive senão de política, fora disso, babau! Agora mesmo anda tudo brigado por causa da questão da eleição de deputados...

Ao dizer isto, o escrivão lançou por baixo das suas pálpebras gordas um olhar pesquisador sobre a ingênua fisionomia de Quaresma.

– Que questão é? indagou Quaresma.

O tenente parecia que esperava a pergunta e logo fez com alegria:

– Então não sabe?

– Não.

– Eu lhe explico: o candidato do governo é o doutor Castrioto, moço honesto, bom orador; mas entenderam aqui certos presidentes de Câmaras Municipais do Distrito que se hão de sobrepor ao governo, só porque o Senador Guariba rompeu com o governador; e – zás – apresentaram um tal Neves que não tem serviço algum ao partido e nenhuma influência... Que pensa o senhor?

– Eu... Nada!

O serventuário do fisco ficou espantado. Havia no mundo um homem que, sabendo e morando no muni-cípio de Curuzu, não se incomodasse com a briga do Senador Guariba com o governador do Estado! Não era possível! Pensou e sorriu levemente. Com certeza, disse ele consigo, este malandro quer ficar bem com os dous, para depois arranjar-se sem dificuldade. Estava tirando sardinha com mão de gato... Aquilo devia ser um ambicioso matreiro; era preciso cortar as asas daquele “estrangeiro”, que vinha não se sabe donde!

– O major é um filósofo, disse ele com malícia.

– Quem me dera? fez com ingenuidade Quaresma.

Antonino ainda fez rodar um pouco a conversa sobre a grave questão, mas, desanimado de penetrar nas tenções ocultas do major, apagou a fisionomia e disse em ar de despedida:

Ensino Médio | Modular 57

LITERATURA BRASILEIRA

Page 58: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

– Então o major não se recusa a concorrer para a nossa festa, não é?

– Decerto.

Os dous se despediram. Debruçado na varanda, Quaresma ficou a vê-lo montar no seu pequeno castanho, luzidio de suor, gordo e vivo. O escrivão afastou-se, desapareceu na estrada, e o major ficou a pensar no interesse estranho que essa gente punha nas lutas políticas, nessas tricas eleitorais, como se nelas houvesse qualquer cousa de vital e importante. Não atinava por que uma rezinga entre dous figurões importantes vinha pôr desarmonia entre tanta gente, cuja vida estava tão fora da esfera daqueles. Não estava ali a terra boa para cultivar e criar? Não exigia ela uma árdua luta diária? Por que não se empregava o esforço que se punha naqueles barulhos de votos, de atas, no trabalho de

e guaribas, quando a nossa vida pede tudo à terra e ela quer carinho, luta, trabalho e amor...

BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Ática, 1988. p. 71-72.

1. Lima Barreto fazia muitas críticas à socie-dade da época, em especial, ao preconceito e às condutas políticas que visavam o fa-vorecimento pessoal. Com base nessas in-formações, assinale a opção correta sobre o trecho.

I. Em “Venho pedir-lhe um pequeno auxí-lio, um óbulo, para a festa da Conceição, a nossa padroeira, de cuja irmandade sou tesoureiro”, o escrivão aparece como uma figura pública que tem interesse em se aproveitar do novo morador da região, ad-quirindo, mediante a sua posição política, ajuda pecuniária para eventos pessoais.

II. Em “O senhor verá com o tempo, major. Na nossa terra não se vive senão de política, fora disso, babau! Agora mesmo anda tudo brigado por causa da questão da eleição de deputados...”, a importância da política como único meio de alcançar um objetivo, ressalta a corrupção e a irregularidade do governo.

III. Em “este malandro quer ficar bem com os dous, para depois arranjar-se sem dificul-dade. Estava tirando sardinha com mão de gato... Aquilo devia ser um ambicioso matreiro; era preciso cortar as asas daquele ‘estrangeiro’, que vinha não se sabe don-de!”, está claro que Policarpo Quaresma é mal interpretado pelo escrivão, que vê em seu distanciamento das rixas políticas um meio para se dar bem.

IV. Em “o major ficou a pensar no interesse estranho que essa gente punha nas lutas políticas, nessas tricas eleitorais, como se nelas houvesse qualquer cousa de vital

e importante”, Policarpo Quaresma está dissimulando sua verdadeira opinião, pois acredita que todas as pessoas devem se envolver nas causas locais para melhorar o país.

a) Todas estão corretas.

b) Somente I e II.

c) Somente I, II e III.

d) Somente II e III.

e) Todas estão incorretas.

2. As situações descritas nos textos de Lima Barreto podem ser atualizadas para a socie-dade de hoje. Assim, a crítica à corrupção e ao modo como a sociedade funcionava na época serve ainda para se referir à maneira como age a sociedade atual. Pensando nisso, faça um paralelo entre a charge publicada e o trecho lido.

RECCHIA, Tiago. Disponível em: <http://www.gazetado-povo.com.br/charges/index.phtml?foffset=1&offset=&ch=Tiago+Recchia>. Acesso em: 18 jul. 2011.

© T

iago

Rec

chia

/Gaz

eta

do P

ovo

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo58

Page 59: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

3. Em um artigo de opinião da revista Veja, o ensaísta Roberto Pompeu de Toledo faz um paralelo entre o romance Triste fim de Policarpo Quaresma e o governo atual. Assinale a opção correta sobre esse paralelo:

Fará 100 anos, em agosto, que começou a ser publicado em capítulos no Jornal do Comércio do Rio de Janeiro o romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. O livro é hoje um clássico da literatura brasileira, e o Policarpo do título, um de seus personagens mais marcantes. Mesmo quem não leu o livro tem uma ideia de quem se trata – o patriota tão patriota, tão enamorado e orgulhoso das coisas do Brasil, e tão avesso à influência estrangeira, que um dia enviou uma representação à Câmara dos Depu-tados propondo a adoção do tupi como língua oficial, em lugar do importado português. Tão patriota que proibiu em sua casa o jantar de frango com o estrangeiro petit-pois. Tinha de ser com guando.

Até lá pela metade do livro Policarpo Quaresma é personagem de comédia. Encanta-se com a magnitu-de dos rios brasileiros e tem tanta fé na dadivosidade do solo pátrio que, quando vira agricultor, se recusa a usar adubo nas plantações. Depois toma corpo um outro Quaresma, agora personagem de tragédia. O livro deve sua grandeza a essa transição. Como um herói do teatro grego, ele vai consumir-se numa luta perdida. Mas, à diferença dos heróis gregos, não é a manipulação dos deuses que o enreda na malha da danação. São as pragas bem terrenas do Brasil que tanto amou. A saúva que corrói suas plantações. O torniquete dos constrangimentos e das multas que, ao recusar-se a participar de uma fraude eleitoral, se fecha contra sua atividade de produtor rural.

Lima Barreto (1881-1922) é um ficcionista com pés muito firmes na realidade do seu tempo. Alvo preferencial de sua crítica – e de sua ira – é a política dos primeiros anos da República. Triste fim de Policarpo Quaresma passa-se no tempo do marechal Floriano Peixoto (1891-1894) e da Revolta da Ar-mada, o movimento que precipitou uma guerra de seis meses na Baía de Guanabara entre os rebeldes da Marinha e as forças do governo. Quaresma, que ainda acreditava em Floriano, decide alistar-se nas forças governistas. Vai fazê-lo apresentando-se pessoalmente ao presidente, a quem conhecera no tempo em que trabalhou no Ministério da Guerra. Tem a intenção de aproveitar a oportunidade para apresentar-lhe um memorial em que compendiara os problemas da agricultura.

[...]

Releve o leitor voltar à nossa rasa vidinha de cada dia, mas é irresistível. Se ressuscitassem hoje Policarpo Quaresma e Lima Barreto, veriam que continuam os embustes com a palavra “república”. Hoje temos um Partido da República. Aquele do Ministério dos Transportes.

TOLEDO, Roberto Pompeu de. A república que não foi. Veja, São Paulo, ed. 2225, p. 142, 13 jul. 2011.

a) O colunista retoma o livro de Lima Barreto para fazer uma crítica à ausência de mudanças no comportamento dos políticos.

b) Ainda que haja paralelos entre as situações, está evidente que a política nacional mudou desde a publicação do romance.

c) Roberto Pompeu de Toledo faz uma crítica ao romance, mostrando como Lima Barreto era, de fato, somente um autor de ficção.

d) O livro de Lima Barreto é somente mencionado para criar um argumento de autoridade diante dos problemas levantados pelo colunista.

e) Tanto no livro quanto no texto da coluna, os problemas políticos e sociais servem para demons-trar como o brasileiro se revolta contra a situação atual.

4. O estilo de Lima Barreto fez com que ele fosse muito criticado pelos parnasianos e admirado pelos modernistas. Explique o porquê, retirando elementos linguísticos do texto que comprovem a sua resposta.

Ensino Médio | Modular 59

LITERATURA BRASILEIRA

Page 60: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Não fora ele, porém, quem se lembrara; fora a afilhada que lhe trouxe à ideia aquele doce acabar para a sua vida. Vendo-o naque-le estado de abatimento, triste e taciturno, sem coragem de sair, enclausurado em sua casa de São Cristóvão, Olga dirigiu-se um dia ao padrinho meiga e filialmente:

– O padrinho por que não com-pra um sítio? Seria tão bom fa-zer as suas culturas, ter o seu pomar, a sua horta... não acha?

Tão taciturno que ele estives-se, não pôde deixar de modificar imediatamente a sua fisionomia à lembrança da moça. Era um velho desejo seu, esse de tirar da terra o alimento, a alegria e a fortuna; e foi lembrando dos seus antigos projetos que res-pondeu à afilhada:

– É verdade, minha filha. Que magnífica ideia tens tu! Há por aí tantas terras férteis sem em-prego...

A nossa terra tem os terrenos mais férteis do mundo... O mi-lho pode dar até duas colheitas e quatrocentos por um...

A moça esteve quase arrependida da sua lembrança. Pareceu-lhe que ia atear no espírito do padrinho ma-nias já extintas.

– Em toda a parte – não acha, meu padrinho? – há terras férteis.

– Mas como no Brasil, apressou-se ele em dizer, há poucos países que as tenham. Vou fazer o que tu dizes: plantar, criar, cultivar o milho, o feijão, a batata-inglesa... Tu irás ver as minhas culturas, a minha horta, e meu pomar – então é que te convencerás como são fecundas as nossas terras!

A ideia caiu-lhe na cabeça e germinou logo. O terreno estava amanhado e só esperava uma boa semente. Não lhe voltou a alegria que jamais teve, mas a taciturnidade foi-se com o abatimento moral, e veio-lhe a atividade mental cerebrina, por assim dizer, de outros tempos. Indagou dos preços correntes das frutas, dos legumes, das batatas, dos aipins; calculou que cinquenta laranjeiras, trinta abacateiros, oitenta pessegueiros, outras árvores frutíferas, além dos abacaxis (que mina!), das abóboras e outros produtos menos importantes, podiam dar o rendimento anual e mais de quatro contos, tirando as despesas. Seria ocioso trazer para aqui os detalhes dos seus cálculos, baseados em tudo que vem estabelecido nos boletins da Associação de Agricultura

5. O romance Triste fim de Policarpo Quaresma foi transposto para as histórias em quadrinhos. Com-parando as duas manifestações, analise a transposição e assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

BARRETO, Lima; BRAGA, Flávio (Roteiro). Triste fim de Policarpo Quaresma. De-senhos de Edgar Vasques. Rio de Janeiro: Desiderata; Ediouro, 2010.

60 Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo

Page 61: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Augusto dos Anjos

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) nasceu no engenho Pau d’Arco, na Paraíba.Estudou no Liceu Paraibano e, em 1903, matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1907. Nos anos seguintes, não advogou, trabalhando como professor de

Português no Liceu Paraibano. Em 1910, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde continuou a lecionar – dessa vez, Geografia no Ginásio Nacional e no Colégio Dom Pedro II. Em

1912, mudou-se para Leopoldina, em Minas Gerais, onde assumiu a direção de um grupo escolar.

Publicou diversos poemas em jornais da época, mas o seu primeiro e único livro, Eu, apareceu para o público somente em 1912.

Sua produção é de difícil classificação. Durante muito tempo, os críticos dis-cutiram se os seus poemas eram simbolistas ou parnasianos, mas ainda que a obra desse escritor pareça uma manifestação única no sistema literário nacional,

a verdade é que Augusto dos Anjos dialoga com muitas estéticas.Pelo uso da métrica rígida, da cadência musical, das aliterações e das rimas

preciosas aproxima-se do Parnasianismo, compartilhando o rigor da forma. Porém, distancia-se dessa escola pelo uso do esdrúxulo vocabulário extraído da área científica.

No poema a seguir, por exemplo, é possível identificar a presença de rimas interpoladas (ABBA); de aliterações, em especial na repetição do fonema /k/ em “caixão”, “caixas cranianas”

Acervo Iconographia

Nacional. Levou em linha de conta a produção média de cada pé de fruteira, de hectare cultivado, e também os salários, as perdas inevitáveis; e, quanto aos preços, ele foi em pessoa ao mercado buscá-los.

Planejou a sua vida agrícola com a exatidão e meticulosidade que punha em todos os seus projetos.

Encarou-a por todas as faces, pesou as vantagens e ônus; e muito contente ficou em vê-la monetariamente atraente, não por ambição de fazer fortuna, mas por haver nisso mais uma demonstração das excelências do Brasil.

BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Ática, 1988. p. 66-67.

( ) O quadrinho é mais enxuto do que o texto, pois a linguagem não verbal substitui as descrições.

( ) O quadrinho atualiza a linguagem que aparece no livro em discurso direto.

( ) Os pensamentos de Policarpo Quaresma, que são apresentados pelo narrador onisciente no romance, aparecem nos balões do quadrinho.

( ) O romance é mais bem-acabado do que o quadrinho porque oferece mais informações e a linguagem é mais rica.

( ) Nos quadrinhos, para mostrar ao leitor que Policarpo Quaresma está imaginando uma situ-ação, faz-se uso de imagens paralelas que não fazem parte do cenário.

( ) O uso da cor e da sombra nos quadrinhos serve para dar ênfase sobre algum elemento.

Augusto dos Anjos:

biografia, obras,

cronologia e estilo

@LIT312

Ensino Médio | Modular 61

LITERATURA BRASILEIRA

61Ensino Médio | Modular

Page 62: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

O Expressionismo é um movimento da vanguarda europeia que se desen-volveu primeiramente na Alemanha, com o intuito de expressar a realidade filtrada pela subjetividade do artista, entendendo que a obra de arte é um reflexo direto do mundo interior do artista.

Desenvolveu-se mais nas artes plásticas do que na literatura, carac-terizando-se pelas cores violentas, pela temática da solidão, desilusão, melancolia e miséria.

O quadro O grito ficou conhecido como ícone do Expressionismo ao demonstrar o sofrimento do homem solitário

e “cartilagens”, ou do fonema /s/ em “célere” e “cinza”, ou ainda, no último verso, na repetição da consoante “b”. A métrica rígida segue o esquema decassílabo.

O caixão fantásticoCélere ia o caixão, e, nele, inclusas, Cinzas, caixas cranianas, cartilagens Oriundas, como os sonhos dos selvagens, De aberratórias abstrações abstrusas![...]

ANJOS, Augusto dos. Obra completa. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2001. p. 119.

Em outros momentos, encontra-se muito ligado ao Simbolismo ao fazer uma profunda investiga-ção do “eu”, como o próprio título do livro indica. A vida é filtrada pelo viés da ciência, tudo é fruto da combinação de elementos químicos que dão forma à sua angústia e pessimismo. Pode-se dizer, ainda, que adianta a melancolia do Expressionismo, ao manifestar a subjetividade de um indivíduo em crise no começo do século XX.

Saudade[...]

À noute quando em funda soledadeMinh’alma se recolhe tristemente,P’ra iluminar-me a alma descontente,Se acende o círio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,E à dor e ao sofrimento eterno afeito,Para dar vida à dor e ao sofrimento,

[...]

ANJOS, Augusto dos. Obra completa. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 222.

MUNCH, Edvard. O grito. 1893. 1 óleo e pastel sobre tela, color., 91 cm x 73.5 cm. Galeria Nacional, Oslo.

62 Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo

Page 63: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Antecipa, também, a poesia modernista ao utilizar um vocabulário prosaico que é misturado a termos poéticos e científicos, assim como pela adjetivação e representação de situações inusitadas e cotidia-nas, que produzem uma sensação de perplexidade. Ao se compararem os primeiros versos de Augusto dos Anjos aos do poeta modernista Carlos Drummond de Andrade, é possível perceber esse paralelo.

MágoasQuando nasci, num mês de tantas flores,Todas murcharam, tristes, langorosas,Tristes fanaram redolentes rosas,Morreram todas, todas sem olores.[...]

ANJOS, Augusto dos. Obra completa. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 217.

Poema de sete facesQuando nasci, um anjo tortodesses que vivem na sombradisse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.[...]

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1973.

Leia o texto a seguir e responda às questões de 1 a 3.

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,Monstro de escuridão e rutilância,Sofro, desde a epigênesis da infância,A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,Este ambiente me causa repugnância...Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsiaQue se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas –Que o sangue podre das carnificinasCome, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,E há de deixar-me apenas os cabelos,Na frialdade inorgânica da terra!

ANJOS, Augusto dos. Obra completa. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 98.

1. Augusto dos Anjos trabalha, muitas vezes, com vocábulos muito específicos, emprestando da ciência termos técnicos e fazendo uma reapro-priação deles em seus poemas. A seguir, são apresentadas as definições de alguns termos e os versos em que eles são usados. Com base nesses dados, explique o que esses vocábulos signifi-cam no poema e quais são os efeitos de sentido.

a) “Eu, filho do carbono e do amoníaco” Carbono: elemento de número atômico 6,

capaz de formar extensas cadeias de átomos, e que constitui inúmeros compostos. É o pilar básico da química orgânica, são conhecidos cerca de 10 milhões de compostos de carbo-no, e forma parte de todos os seres vivos.

Amoníaco: gás incolor, com cheiro caracte-rístico e pungente, muito solúvel em água, sintetizado a partir do nitrogênio e do hidro-gênio, com importantes e variadas aplica-ções, em especial na produção de proteínas.

b) “Sofro, desde a epigênesis da infância”

Epigênesis: teoria segundo a qual a consti-tuição dos seres se inicia a partir de uma célu-la sem estrutura e se faz mediante sucessiva formação e adição de novas partes que, pre-viamente, não existem no ovo fecundado.

Ensino Médio | Modular 63

LITERATURA BRASILEIRA

Page 64: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

2. Como é a relação entre o “eu lírico” e o mun-do? Utilize trechos do poema para justificar a sua resposta.

3. No poema há uma progressão de ideias em cada estrofe, indicando por quem o “eu lírico” é vencido. Assinale as opções que indicam corretamente qual é a sequência presente.

a) Epigênesis/hipocondríaco/ruínas/terra

b) Signos do zodíaco/doenças/vermes/morte

c) Destino/frialdade/ânsia/vermes

d) Signos do zodíaco/ânsia/vermes/terra

e) Signos do zodíaco/doenças/vermes/cabelos

Observe a imagem e leia o texto a seguir para responder às questões de 4 a 7.

CHAMPAIGNE, Philippe de. Still-life with a skull [natureza morta com caveira]. [s.d.]. 1 óleo sobre painel, color., 28 cm × 37 cm. Museu Tessé, Le Mans, França.

Versos íntimosVês! Ninguém assistiu ao formidávelEnterro de tua última quimera.Somente a Ingratidão – esta pantera –Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!O Homem, que, nesta terra miserável,Mora entre feras, sente inevitávelNecessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!O beijo, amigo, é a véspera do escarro,A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,Apedreja essa mão vil que te afaga,Escarra nessa boca que te beija!

ANJOS, Augusto dos. Obra completa. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 280.

4. Logo na abertura do poema, já é possível com-preender a quem o “eu lírico” está se dirigindo: “Vês! Ninguém assistiu ao formidável/Enterro de tua última quimera”. Identifique para quem ele fala e assinale outros elementos linguísticos que reforçam essa evidência.

5. Identifique os seguintes elementos no poema e caracterize-os:

a) emissor;

b) destinatário;

c) mensagem.

6. A leitura livre do seguinte verso gera uma ambiguidade de sentido: “O beijo, amigo, é a véspera do escarro”. Explique quais sentidos são sugeridos, valendo-se dos seus conheci-mentos de língua portuguesa.

7. O verso “A mão que afaga é a mesma que apedreja” pode significar que:

a) o covarde é cheio de precauções;

b) a desconfiança é mãe dos discretos;

c) quem te avisa teu amigo é;

d) é melhor acender uma vela do que amaldi-çoar a escuridão;

e) o amigo disfarçado é um inimigo dobrado.

Leia o texto a seguir e responda às questões de 8 a 11.

Solitário

Como um fantasma que se refugiaNa solidão da natureza morta,Por trás dos ermos túmulos, um dia,Eu fui refugiar-me à tua porta!Fazia frio e o frio que faziaNão era esse que a carne nos conforta...Cortava assim como em carniçariaO aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!E eu saí, como quem tudo repele,– Velho caixão a carregar destroços –

Levando apenas na tumbal carcaçaO pergaminho singular da peleE o chocalho fatídico dos ossos!

ANJOS, Augusto dos. Obra completa. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p. 117.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo64

Page 65: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

8. Existem vários elementos nesse poema que remetem ao repertório característico dos sim-bolistas. Identifique-os:

a) sinestesia;

b) transcendentalismo;

c) aliteração.

9. Que tipo de esquema rígido e formal foi ado-tado para a elaboração do poema?

a) Ode, pois possui tema elevado e está orga-nizado em versos, com rimas interpoladas e em redondilha maior.

b) Balada, por ser organizado em octetos com quartetos finais, rimas cruzadas e em re-dondilha menor.

c) Soneto, porque é organizado em dois quartetos e dois tercetos, com rimas inter-poladas (ABBA) e alexandrinos.

d) Soneto, porque é organizado em dois quar-tetos e dois tercetos, com rimas alternadas (ABAB) e métrica decassílaba.

e) Versos livres, sem rimas e sem métrica re-gular, fazendo um adiantamento do que vai ser visto no Modernismo.

10. Há uma pequena narrativa no poema. O que acontece?

11. O poema faz inúmeras metáforas e compara-ções. Identifique-as:

a) Na primeira estrofe, o “eu lírico” se com-para a...

b) Na segunda estrofe, há um paralelo entre o frio e...

c) Na terceira estrofe, o “eu lírico” reforça a ideia de morte, identificando-se com...

d) Na quarta estrofe, há uma alegoria em que o “eu lírico” se vê como...

Graça AranhaJosé Pereira da Graça Aranha nasceu em São Luís, no Maranhão, em 1868. Cursou a faculdade de Direito em Recife e lá ocupou cargos na magistratura e diplomacia.

Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como juiz, e, depois, para Minas Gerais, exercendo o mesmo cargo. Em 1897, foi um dos 30 escritores e intelectuais

que fundaram a Academia Brasileira de Letras. Embora nessa ocasião não tivesse um único livro publicado, isso logo mudaria, uma vez que, em Minas, passou a recolher material para escrever o livro Canaã, publicado em 1902, com Os sertões, de Euclides da Cunha.

Nos anos seguintes, viajou como diplomata pela Europa, onde entrou em contato com as vanguardas do Modernismo e, ao voltar, participou da Semana de Arte Moderna, em 1922, que tinha a intenção de renovar as letras nacionais, propondo uma arte que fosse mais condizente com o espírito do homem moder-no. No dia 13 de fevereiro, com o pronunciamento do texto “A emoção estética na arte moderna”, Graça Aranha assumiu a defesa de novos paradigmas para

a poesia, a música e as artes em geral. Baseado nisso, rompeu, em 1924, com a Academia Brasileira de Letras.

Além de Canaã, publicou os livros: Malazarte (1911), A estética da vida (1921), Futurismo (1926). Faleceu em 26 de janeiro de 1931.

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Ensino Médio | Modular 65

LITERATURA BRASILEIRA

65Ensino Médio | Modular

Page 66: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

CanaãPode ser considerado o primeiro romance ideológico do Brasil, em que se discute o futuro do

país e a sua formação.

O romance ideológico, também conhecido como romance de tese, é aquele que se propõe a defender uma ideia, tendo sempre uma finalidade didática ou normativa ao procurar demonstrar a validade de uma visão do mundo com base em uma doutrina política, social, filosófica ou religiosa.

Foi o livro de maior impacto de Graça Aranha e conta a história de uma colônia alemã no interior do Espírito Santo, centrando-se sobre dois personagens principais, os imigrantes Milkau e Lentz. Esses dois amigos representam duas visões de mundo diferentes: Milkau acredita no amor universal, na união entre os homens e no futuro do Brasil; Lentz defende a superioridade das raças, a supremacia dos europeus sobre os brasileiros e o racismo.

Ainda que opostos, eles se unem para trabalhar na terra e prosperam. A situação se complica quando Milkau decide proteger Maria, uma colona que é expulsa da comunidade e presa, acusada de assassinar seu próprio filho (que, na verdade, foi morto por porcos). Eles planejam uma fuga durante a noite e vão em direção à terra prometida, uma Canaã, onde todos os homens são iguais.

O romance é muito criticado do ponto de vista estético porque o autor se preocupou mais em re-presentar as ideologias envolvidas do que propriamente a tessitura textual, o que fez com que a obra se configure mais como “filosofia ficcionalizada” do que propriamente como uma ficção.

Luci

ano

Dan

iel T

ulio

O nome “Canaã” faz referência à porção de terra sagrada, hoje conhecida como Estado de Israel, que compreende a Faixa de Gaza, uma parte do Líbano, da Síria e da Jordânia.

Comparada aos desertos circundantes, a terra de Canaã era muito farta, pois havia uvas e outras frutas, azeitonas e mel, sendo chamada por Abrão de “terra prometida”.

Atualmente, a disputa por territórios dessa terra sagrada continua gerando tensão entre Israel e Palestina.

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. Adaptação.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo66

Page 67: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Leia o trecho a seguir para responder às questões de 1 a 5.

Canaã

E, mudos, continuavam a caminhar pela rua coberta, os olhos de ambos a desmancharem-se de admiração.Passado algum tempo, Lentz exprimiu alto o que ia pensando:– Não é possível haver civilização neste país... A terra só por si, com esta violência, esta exuberância, é um

embaraço imenso...– Ora – interrompeu Milkau –, tu sabes como se tem vencido aqui a natureza, como o homem vai triun-

fando...– Mas o que se tem feito é quase nada, e ainda sim é o esforço do europeu. O homem brasileiro não é fator

do progresso: é um híbrido. E a civilização não se fará jamais nas raças inferiores. Vê, a história...MILKAU – Um dos erros dos intérpretes da História está no preconceito aristocrático com que concebem a

ideia de raça. Ninguém, porém, até hoje soube definir a raça e ainda menos como se distinguem umas das outras; fazem-se sobre isso jogos de palavras, mas que são como esses desenhos de nuvens que ali vemos no alto, aparições fantásticas do nada... E, depois, qual é a raça privilegiada para que só ela seja o teatro e agente da civilização? Houve um tempo na História em que o semita brilhava em Babilônia e no Egito, o hindu nas margens sagradas do Ganges, e eles eram a civilização toda; o resto do mundo era a nebulosa de que não se cogitava. E, no entanto, é junto ao Sena e ao Tâmisa que a cultura se esgota numa volúpia farta e alquebrada. O que eu vejo neste vasto panorama da História, para que me volto ansioso e interrogante, é a civilização deslocando-se sem interrupção, indo de grupo a grupo, através de todas as raças, numa fatal apresentação gradual de grandes trechos da terra, à sua luz e calor... Uns se vão iluminando, enquanto outros descem às trevas....

ARANHA, Graça. Canaã. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 58.

1. Com base em seus conhecimentos sobre o ro-mance e no trecho lido, analise as afirmações a seguir:

I. Lentz acredita que existem raças superiores e raças inferiores, sendo o europeu um exem-plo de sucesso, e os brasileiros, um modelo fracassado porque são miscigenados.

II. Milkau não é tão radical quanto Lentz, mas defende que alguns povos se iluminam enquanto outros são sinônimo de desgra-ça, como os brasileiros.

III. A linguagem utilizada no texto se apro-xima da estética simbolista por causa do trabalho com as metáforas e pelo rebus-camento dos termos.

Estão corretas as opções:

a) somente I; b) II e III;

c) I e III; d) todas;

e) nenhuma.

2. Explique o que o personagem quis dizer com a seguinte fala:

“O que eu vejo neste vasto panorama da His-tória, para que me volto ansioso e interrogan-te, é a civilização deslocando-se sem interrup-ção, indo de grupo a grupo, através de todas as raças, numa fatal apresentação gradual de grandes trechos da terra, à sua luz e calor... Uns se vão iluminando, enquanto outros des-cem às trevas...”

Ensino Médio | Modular

LITERATURA BRASILEIRA

67Ensino Médio | Modular

Page 68: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Monteiro LobatoJosé Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, interior de São Paulo, em 1882. Seu avô materno,

Visconde de Tremembé, era dono de uma biblioteca imensa, da qual Lobato tirou bastante proveito, pois tinha acesso a inúmeras obras de literatura infantil.

Após perder os pais na adolescência, decidiu estudar Belas-Artes, mas, para gerenciar os negócios do avô, foi levado por este a fazer Direito no Largo São Fran-cisco. Nesse período, já contribuía para diversos jornais em Taubaté e São Paulo, com caricaturas e algumas crônicas. Na faculdade, participou dos grupos “Arcádia Literária” e “Minarete”, iniciando as suas incursões no mundo literário.

Em 1911, herdou a fazenda São José de Buquira de seu avô e mudou-se para o interior para viver da agricultura. Em virtude de algumas dificuldades financeiras

e também por estar aborrecido com as queimadas praticadas pelos caboclos na região, decidiu escrever uma longa carta para a seção de queixas de O Estado de

S.Paulo, mas o jornal, ao examinar o seu conteúdo, decidiu publicá-la em outra seção, e a carta alcançou grande repercussão. A partir de então, passou a contribuir com vários

artigos que se tornaram obras famosas, como “Urupês”, e também fizeram conhecido o seu personagem “Jeca Tatu”.

Em 1917, fundou a editora Monteiro Lobato & Cia, iniciando os primeiros trabalhos de edição e tradução. Esse era o começo de um movimento editorial nacional.

Depois disso, permaneceu quatros anos nos Estados Unidos, de 1927 a 1931, trabalhando como adido comercial. Ao voltar, indignado com a exploração dos nossos recursos naturais, lançou uma campanha para extração do petróleo do Brasil, defendendo o bom uso dos recursos nacionais. Tomava partido, assim, na campanha chamada “O petróleo é nosso”. Em uma carta direcionada ao então presidente Getúlio Vargas, criticava as medidas que possibilitavam ao capital estrangeiro a exploração local. Em 1936, publicou o livro O escândalo do petróleo, denunciando o mau governo das riquezas locais.

Monteiro Lobato teve grande influência e foi muito ativo na luta a favor das questões nacionais. Por sua oposição ao governo Getúlio Vargas, foi detido por seis meses. Faleceu em julho de 1948, de um espasmo cerebral.

Ainda que tenha ficado conhecido publicamente por suas obras voltadas ao público infantil, a carreira de Monteiro Lobato é importante para a discussão dos temas políticos nacionais e da situação do homem trabalhador, em especial o do Vale do Paraíba.

UrupêsComo escritor para adultos, Monteiro Lobato ficou conhe-

cido pela sua produção de contos, caracterizada pelo humor refinado, sobre temas do Brasil, presente em obras famosas, como Urupês, Ideias de Jeca Tatu e Cidades mortas.

De modo geral, seu estilo não se aproxima das inovações modernistas, que eram abominadas pelo autor. Nas obras para esse público, predominava uma forma muito concisa e elegante de fazer denúncia social e a representação das paisagens e pessoas do Vale do Paraíba, em especial o Jeca Tatu. O autor chama a atenção para os habitantes dessa região, muitos dos quais, após a decadência da economia cafeeira, passaram a sofrer de subnutrição, sendo marginalizados so-cialmente, privados do acesso à cultura e acometidos por diversas doenças endêmicas.

Imagem do Vale do Paraíba no início do século XX

Ace

rvo

Icon

ogra

phia

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo68

Page 69: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Cuca, a personagem que é um jacaré

O personagem Visconde de Sabugosa A protagonista Emília

Os personagens da série de televisão Sítio do Picapau Amarelo

Abr

il Im

agen

s/A

ndre

Lob

oA

bril

Imag

ens/

And

re L

obo

Abr

il Im

agen

s/A

ndre

Lob

o

Monteiro Lobato ganhou mais fama pela produção infantil do que por sua prosa adulta. De todas as histórias criadas, e foram muitas, o Sítio do Picapau Amarelo ganhou mais notoriedade.

O autor inventou a Emília, uma boneca que pensa e fala como gente grande, e transformou um sabugo de milho em um sábio, o Visconde de Sabugosa, além de trazer para o sítio um rinoceronte. Além deles, personagens como a Narizinho, o Pedrinho, o Marquês de Rabicó, o Conselheiro, a Dona Benta, a Tia Nastácia, o Tio Barnabé, a Cuca e o Saci surgem alternadamente nos diversos episódios, envolvendo-se em inú-meras aventuras ocasionadas por um certo pó mágico que lhes permite voltar a épocas passadas ou se transportar para o futuro, ou, ainda, participar de histórias folclóricas nacionais ou mitológicas.

No entanto, por detrás dessas divertidas histórias para crianças, Monteiro Lobato cria personagens de verve crítica, que servem para lançar novos olhares sobre a

realidade nacional ou chamar a atenção para situações lo-cais de interesse comum. É possível identificar na Emília – na verdade, uma grande contestadora –, a manifestação de um alter ego do próprio Monteiro Lobato, uma vez que é ela quem sempre lança as inúmeras perguntas presentes nos episódios e está constantemente inconformada com a situação presente, revolucionando a vida no “sítio”, um local que apresentava diversas correlações com as situações vividas pelo autor.

Abr

il Im

agen

s/Re

gina

ldo

Teix

eira

1. Você conhece as histórias do Sítio do Picapau Amarelo? Quais são os seus personagens principais?

2. Você se lembra de alguma história? Qual era o tema? As histórias contam o quê?

Alter ego: do latim “outro eu”, é o nome dado ao duplo do autor, que pode se identificar em um personagem ou se referir a outra personalidade do próprio autor.

Ensino Médio | Modular 69

LITERATURA BRASILEIRA

69Ensino Médio | Modular

Page 70: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Leia o texto a seguir e responda às questões de 1 a 3:

Um homem de consciênciaChamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um

defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.

Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.

Mas João Teodoro acompanhava com aperto do coração o desaparecimento visível de sua Itaoca.– Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons – agora um e bem ruinzote. Já teve

seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está se acabando...

João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o con-vencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.

– É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.

Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, se julgava capaz de nada...

Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado – e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!...

João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada botou-as num burro, montou seu cavalo magro e partiu.

– Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?– Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.– Mas, como? Agora que você está delegado?– Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado eu não moro. Adeus.E sumiu.

LOBATO, Monteiro. Cidades mortas. São Paulo: Brasiliense, 1964. pág. 185-186.

1. De acordo com o conto, como é caracterizado o caboclo? Justifique.

2. Sobre o conto que você acabou de ler, é cor-reto afirmar que: I. retrata o dialeto típico do caboclo para

criticar a forma de falar caipira e errada dessa comunidade.

II. tem como tema central a situação do Brasil, focalizando a situação dos caboclos, que são marginalizados e acabam ficando com baixa autoestima.

III. a intenção é fazer uma dura crítica a um tipo social específico que impede que o Brasil se desenvolva socialmente.

Está correta a alternativa:

a) somente I; b) somente II;

c) somente I e III; d) somente II e III;

e) nenhuma das opções.

Desafio

3. Faça um texto de aproximadamente 15 linhas justificando o título do conto.

Se considerar pertinente, utilize informações sobre o livro e sobre o autor que possam con-tribuir para a sua argumentação.

L i

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo70

Page 71: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

O poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), um dos grandes teóricos da arte francesa, é considerado um dos fundadores da poesia simbolista. Além disso, é reconhecidamente o artista que deu início à poesia moderna. O poema a seguir é um dos mais famosos do escritor. Nele, Baudelaire descreve uma carniça de cachorro apodrecendo de forma tão bela e poética que chocou os leitores da época. Não só o tema era inusitado, mas ver tal cena como “bela” colocava em xeque os padrões estéticos da época, a noção de belo e feio, bem como rompia com a tradição poética.

Lembra-te, meu amor, do objeto que encontramosNuma bela manhã radiante:Na curva de um atalho, entre calhaus e ramos,Uma carniça repugnante.

As pernas para cima, qual mulher lasciva,A transpirar miasmas e humores,Eis que as abria desleixada e repulsiva,O ventre prenhe de livores.

Ardia o sol naquela pútrida torpeza,Como a cozê-la em rubra piraE para ao cêntuplo volver à NaturezaTudo o que ali ela reunira.

E o céu olhava do alto a esplêndida carcaçaComo uma flor a se entreabrir.O fedor era tal que sobre a relva escassaChegaste quase a sucumbir.

Zumbiam moscas sobre o ventre e, em alvoroço,Dali saíam negros bandosDe larvas, a escorrer como um líquido grossoPor entre esses trapos nefandos.

E tudo isso ia e vinha, ao modo de uma vaga,Ou esguichava a borbulhar,Como se o corpo, a estremecer de forma vaga,Vivesse a se multiplicar.

E esse mundo emitia uma bulha esquisita,Como vento ou água corrente,Ou grãos que em rítmica cadência alguém agitaE à joeira deita novamente.

As formas fluíam como um sonho além da vista,Um frouxo esboço em agonia,Sobre a tela esquecida, e que conclui o artistaApenas de memória um dia.

Por trás das rochas irrequieta, uma cadelaEm nós fixava o olho zangado,Aguardando o momento de reaver àquelaNáusea carniça o seu bocado.

– Pois hás de ser como essa infâmia apodrecida,Essa medonha corrupção,Estrela de meus olhos, sol de minha vida,Tu, meu anjo e minha paixão!

Sim! tal serás um dia, ó deusa da beleza,Após a bênção derradeira,Quando, sob a erva e as florações da natureza,Tornares afinal à poeira.

Então, querida, dize à carne que se arruína,Ao verme que te beija o rosto,Que eu preservei a forma e a substância divinaDe meu amor já decomposto!

BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira 1995. p. 173-177.

Uma carniça

Em alguma medida, Augusto dos Anjos pode ser comparado a Baudelaire, uma vez que, nos poemas de ambos, não só os temas de caráter científico se confundem com as cenas cotidianas, mas está presente a ideia de trazer novos olhares para a poesia. É o caso do poema “Psicologia de um vencido”, que, como você já leu, trabalha com o tema do corpo em decomposição.

Mar

cos

Gui

lher

me.

201

1. D

igita

l.

Ensino Médio | Modular 71

LITERATURA BRASILEIRA

Page 72: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

1. (UNEMAT) Sobre Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, pode-se afirmar:

a) é um poema épico que conta a história de Marechal Floriano;

b) é uma narrativa de ficção que conta a história de Brás Cubas;

c) é um livro de memórias escrito por Riobaldo Tatarana;

d) é um conto que narra a história de amor de Olga e Marechal Floriano;

e) é um romance em que é narrada a história de um brasileiro visionário.

2. (UFRR) Leia o texto abaixo e assinale, em segui-da, a alternativa correta:

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,Monstro de escuridão e rutilância,Sofro, desde a epigênesis da infância,A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,Este ambiente me causa repugnância…Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsiaQue se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas –Que o sangue podre das carnificinasCome, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,E há de deixar-me apenas os cabelos,Na frialdade inorgânica da terra!

ANJOS, Augusto dos. Eu. Rio de Janeiro: Livr. São José, 1965.

A partir desse soneto, é correto afirmar:

I. Ao se definir como filho do carbono e do amoníaco, o “eu lírico” desce ao limite inferior da materialidade biológica, pois, pensando em termos de átomos (carbono) e moléculas (amoníaco), que são estudados pela Química, constata-se uma dimensão onde não existe qualquer resquício de alma ou de espírito.

II. O amoníaco, no soneto, é uma metáfora de alma, pois, segundo o “eu lírico”, o homem é composto de corpo (carbono) e alma (amo-níaco) e, no fim da vida, o corpo (orgânico) acaba, apodrece, enquanto a alma (inorgâni-ca) mantém-se intacta.

III. O soneto principia descrevendo as origens da vida e termina descrevendo o destino final do ser humano; retrata o ciclo da vida e da morte, permeado de dor, de sofrimento e da presença constante e ameaçadora da morte inevitável.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I. b) apenas III.

c) apenas I e II. d) apenas I e III.

e) apenas II e III.

3. (UEM – PR) Leia o poema e assinale o que for correto.

Solitário

Como um fantasma que se refugiaNa solidão da natureza morta,Por trás dos ermos túmulos; um dia,Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que faziaNão era esse que a carne nos conforta...Cortava assim como em carniçariaO aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!E eu saí, como quem tudo repele,– Velho caixão a carregar destroços –

Levando apenas na tumbal carcaçaO pergaminho singular da peleE o chocalho fatídico dos ossos

ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 38.

(01) Augusto dos Anjos é um poeta que viveu, no final do século XIX e início do século XX, e, por isso, é o principal representante do movimento estético-literário denominado Simbolismo no Brasil, escrevendo, entre ou-tras, as obras Missal e Broquéis.

(02) Com base na construção formal do poema “Solitário”, sobretudo pelo emprego dos termos e expressões “fantasma”, “natureza morta”, “ermos túmulos”, “velho caixão”, “tumbal carcaça”, “chocalho fatídico dos ossos” e pela construção métrica rigorosa,

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo72

Page 73: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

emprego de inversões e versos rimados, pode-se afirmar que Augusto dos Anjos é um poeta profundamente influenciado também pelo Realismo/Naturalismo e pela estética do Parnasianismo.

(04) O emprego da métrica rigorosa, de rimas, de imagens referentes à morte, à noite, às estre-las, a Deus, ao amor geralmente frustrado, e uma visão pessimista da vida e cheia de incertezas, que se encontram, principalmen-te, na obra Eu, revelam que, na poesia de Augusto dos Anjos, há elementos temáticos e formais do movimento simbolista no Brasil.

(08) Com base em sua poética, exemplificada no poema “Solitário”, pode-se afirmar que Augusto dos Anjos é um poeta que valoriza a arte como forma de combater a angústia e o vazio da vida e de superar o dualismo conflituoso, a degradação do ser humano, bem como de dar pleno sentido à vida, so-bretudo após a morte.

(16) Augusto dos Anjos, enquanto poeta, para expressar a solidão, o lado frágil e perecível do ser humano, a podridão e decomposição do corpo humano, o sentimento da morte e o vazio existencial, empregou bastante a antítese, como se comprova nos versos: “Na solidão da natureza morta/O pergaminho singular da pele”.

(32) No poema “Solitário”, sobretudo pelos versos “Eu fui refugiar-me à tua porta!” e “Mas tu não vieste ver a minha Desgraça!”, o poeta quer sugerir que o “eu lírico” sentia o frio da solidão e não encontrou conforto na compa-nhia da amada, mas na companhia da morte.

4. (UFSC)Quando o criado me fez entrar no gabinete do doutor Benson o velho não se achava ali. Apro-veitei o ensejo para correr os olhos pelas pare-des e admirar ou, antes, embasbacar-me com as estranhas coisas que via. Devo dizer que não compreendi nada de nada. [...] Pelas paredes, quadros – não quadros comuns com pinturas ou retratos, mas quadros de mármore, como os das usinas elétricas, inçados de botõezinhos de ebo-nite. [...] Todavia, o que mais me prendeu a aten-ção foi, ao lado da secretária do professor, um enorme globo de cristal, e sobre ela, apontado para o globo, um curioso instrumento de olhar, ou que me pareceu tal por uma vaga semelhança com o microscópio. [...]

Nesse momento uma porta se abriu e o professor Benson entrou.

– Bom dia, meu caro senhor... Seu nome? Ainda não sei o seu nome.

– Ayrton Lobo, ex-empregado da firma Sá, Pato & Cia., respondi, fazendo uma reverência de ca-beça e carregando no ex com infinito prazer.

– Muito bem – disse o professor. – Queira sentar- -se e ouvir-me.

O hábito de sempre falar de pé aos ex-patrões im-pediu-me de cumprir a primeira ordem dada pelo meu novo chefe e vacilei uns instantes, permane-cendo perfilado. O professor Benson compreen-deu a minha atitude; pôs-me a mão no ombro e, paternalmente, murmurou na sua voz cansada:

– Sente-se. Não creia que o vou reter aqui como a um subalterno. Disse que iria ser o meu con-fidente e os confidentes não se equiparam aos homens de serviço. Sente-se e conversemos.

Sentei-me sem mais embaraço, porque o tom do misterioso velho era na realidade cordial.

LOBATO, J. B. M. O presidente negro. São Paulo: Globo, 2008. p. 36-37.

Considerando o texto, o romance O presidente negro e o contexto do Modernismo brasileiro, assinale o que for correto.

(01) A publicação de O presidente negro [O cho-que], em 1926, coincide temporalmente com a primeira fase do Modernismo brasilei-ro; todavia, Lobato não utiliza no romance o experimentalismo linguístico que caracteriza as produções modernistas daquele período.

(02) Embora seja um romance de ficção científi-ca, a narrativa de Monteiro Lobato é perpas-sada por uma crítica aos hábitos e gostos burgueses no Brasil do início do século XX.

(04) Após sofrer o acidente e ser acolhido pelo pro-fessor Benson, Ayrton abandona seu emprego na firma Sá, Pato & Cia., apesar do respeito e admiração que nutria por seus patrões.

(08) De uma maneira curiosamente avançada para o período em que se passa a história, Ayrton mantém com seus patrões uma rela-ção de relativa igualdade, que será reprodu-zida no castelo, com o professor Benson.

(16) O porviroscópio transporta para o futuro quem o utiliza. Assim, Ayrton pode acompanhar pes-soalmente a eleição do primeiro presidente negro nos EUA, em 2228.

Ensino Médio | Modular 73

LITERATURA BRASILEIRA

Page 74: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

(32) Em 1917, Lobato fez críticas virulentas à pintora Anita Malfatti no artigo “Paranoia ou mistificação?”, o qual se opunha aos princípios de liberdade artística e experi-mentalismo que norteariam a Semana de Arte Moderna de 1922.

5. (UFMT) Considere os dados:

I. Contraste entre um Brasil arcaico – representado principalmente pelo tradicionalismo agrário – e outro, com novos centros urbanos marcados pelo início da industrialização e pela emergên-cia de novas classes socioeconômicas.

II. Problematização da realidade social e cultural, pela revelação das tensões da vida nacional.

III. Primeira Guerra Mundial e Crise da República Velha.

IV. Modernidade estilística e negação do estilo da Belle Époque.

Caracterizam o período histórico e cultural do Pré-Modernismo em que se insere Lima Barreto os dados contidos em:

a) I e II, apenas; b) II e III, apenas;

c) I, II e III, apenas; d) II, III e IV, apenas;

e) I, II, III e IV.

6. (UEPG – PR) Assinale as alternativas que expres-sam a verdade sobre Os sertões de Euclides da Cunha.

(01) É uma obra polifônica, isto é, vários gêneros dialogam, incluindo-se o jornalismo, a poe-sia, a narrativa ficcional; múltiplas vozes se confrontam: a da cultura costeira e urbana, a das filosofias do século XIX, a dos militares e políticos, a da Igreja.

(02) O elemento religioso é tratado por Euclides como resultado do abandono social, do iso-lamento, da indefinição étnica e da presen-ça de elementos do catolicismo mal com-preendidos.

(04) Os políticos da época consideravam Antônio Conselheiro um benemérito; já a Igreja e o Exército o viam como ameaça, como ex-pressão de uma sociedade e de um meio marcados pelo atraso secular.

(08) A produção da obra, oriunda de um aconte-cimento ocorrido no Sertão da Paraíba de-limitado por um quadro científico, político

e cultural próprios do século XIX, permite vislumbrar nela o caráter documental, fac-tual, de um tempo e de uma história.

(16) O caráter revolucionário da obra impõe-se por salientar a importância da integração do imigrante à vida brasileira.

(UEMA) Texto para a questão 7.

Assim se apresentou o Conselheiro, em 1876, na vila do Itapicuru de Cima. Já tinha grande renome.

Di-lo documento expressivo publicado aquele ano, na Capital do Império.

“Apareceu no norte um indivíduo que se diz cha-mar Antônio Conselheiro, e que exerce grande influência no espírito das classes populares, ser-vindo-se de seu exterior misterioso e costumes ascéticos, com que impõe à ignorância e à sim-plicidade. Deixou crescer a barba e cabelos, veste uma túnica de algodão e alimenta-se tenuemen-te, sendo quase uma múmia. Acompanhado de duas professas, vive a rezar terços e ladainhas e a pregar e a dar conselhos às multidões, que re-úne, onde lhe permitem os párocos; e, movendo sentimentos religiosos, vai arrebanhando o povo e guiando-o a seu gosto. Revela ser homem inte-ligente, mas sem cultura.”

CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Círculo do Livro, 1979. p. 218-219. Coleção “Os grandes Clássicos”.

7. Considerando que o texto transcrito é um do-cumento publicado na capital do Império so-bre Antônio Conselheiro, segundo Euclides da Cunha, acerca da passagem “... e, movendo sen-timentos religiosos, vai arrebanhando o povo e guiando-o a seu gosto”.

Pode-se inferir que o processo histórico vivido pelas sociedades humanas é quase sempre tra-duzido ou revelado pelo(a)(s)

a) respeito total do governo a manifestações po-pulares.

b) identificação cultural satisfatória entre gover-no e povo.

c) linguagem da supremacia, revelada com ironia.

d) discurso dos mandatários, de teor técnico e impessoal.

e) documentos éticos marcantes em defesa dos não esclarecidos.

Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo74

Page 75: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Ensino Médio | Modular 75

Anotações

LITERATURA BRASILEIRA

Page 76: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

76

Anotações

Page 77: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Ensino Médio | Modular 77

Anotações

LITERATURA BRASILEIRA

Page 78: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

78

Anotações

Page 79: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

Ensino Médio | Modular 79

Anotações

LITERATURA BRASILEIRA

Page 80: Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismoprepapp.positivoon.com.br/assets/Modular/LEITURA... · 2019-08-29 · Olavo Bilac O poeta mais importante do Parnasianismo brasileiro foi

80

Anotações