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Affonso Romano de Sant’Anna PARÓDIA, PARÁFRASE E CIA

paródia, paráfrase e cia Affonso Romano de Sant'Anna

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paródia, paráfrase e cia Affonso Romano de Sant'Anna

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Page 1: paródia, paráfrase e cia Affonso Romano de Sant'Anna

Affonso Romano de Sant’Anna

PARÓDIA,PARÁFRASE

E CIA

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Intertextualidade

conjunto das

similaridades

conjuntodas

diferenças

Paráfrase Estilização Paródia Apropriação

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INTERTEXTUALIDADECanção de Exílio, de Gonçalves Dias, apresenta intertextualidade com a letra do Hino Nacional

“Nosso céu tem mais estrelas. Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida Nossa vida mais amores.”“Do que a terra mais garrida Teus risonhos, lindos campos têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida Nossa vida, no teu seio, mais amores”.

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Meus oito anos Meus oito anos

Oh! Que saudade que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais

Naquele quintal de terra Da rua São AntônioDebaixo da bananeira Sem nenhum laranjais!

Oswald Andrade

Meus oito anos Meus oito anos

Oh! Que saudade que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais Que amor, que sonhos, que

flores Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu

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IntratextualidadeIntratextualidade

Manuel Bandeira usa e abusa da intertextualidade, ele é um refazedor da tradição, um leitor dos Clássicos e um reescrevedor de poesia. Em Bandeira, o curioso é assinalar a auto-textualidade

como sinônimo de intratextualidade.

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“Antologia” A vidaNão vale a pena e a dor de ser vivida.Os corpos se entendem, mas as almas não.A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.Vou me embora pra Pasárgada!Aqui eu não sou feliz.Quero esquecer tudo:-A dor de ser homem...Este anseio infinito e vãoDe possuir o que me possui.Quero descansarHumildemente pensando na vida e nas mulheres que amei...Na vida inteira que podia ter sido e que não foi.Quero descansar.Morrer.Morrer de corpo e de alma.Completamente.(Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá liçõesde partir)Quando a Indesejada das gentes chegarEncontrará lavrado o campo, a casa limpa,A mesa posta,Com cada coisa em seu lugar.

Manuel Bandeira

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“Pneumotórax”

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.A vida inteira que podia ter sido e que não foi.Tosse, tosse, tosse.Mandou chamar o médico:- Diga trinta e três.- Trinta e três...trinta e três...trinta

etrês...- Respire

O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.Então, doutor, não é possível tentar

o pneumotórax?Não. A única coisa a fazer é tocar

um tango argentino.

Manuel Bandeira

“Consoada”

Quando a Indesejada das gentes chegar(Não sei se dura ou caroável),talvez eu tenha medo,Talvez sorria, ou diga:- Alô, Iniludível!O meu dia foi bom, pode a noite descer, (A noite com seus sortilégios)Encontrará lavrado o campo, a

casa limpa,A mesa posta,Com cada coisa em seu lugar.

Manuel Bandeira

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““Vou- me embora pra PasárgadaVou- me embora pra Pasárgada”

Vou- me embora pra PasárgadaLá sou amigo do reiLá tenho a mulher que eu queroNa cama que escolhereiVou-me embora pra PasárgadaVou-me embora pra PasárgadaAqui eu não sou felizLà a existência é uma aventuraDe tal modo inconseqüenteQue Joana a louca de EspanhaRainha e falsa dementeVem a ser contraparenteDa nora que nunca tiveE como farei ginásticaAndarei de bicicletaMontarei em burro braboSubirei no pau-de-seboTomarei banhos de mar!E quando estiver cansadoDeito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d`água.Pra me contar as históriasQue no tempo de eu meninoRosa vinha me contarVou-me embora pra PasárgadaEm Pasárgada tem tudoÉ outra civilizaçãoTem um processo seguroDe impedir a concepçãoTem telefone automáticoTem alcalóide à vontadeTem prostitutas bonitasPara a gente namorarE quando eu estiver mais tristeMas triste de não ter jeitoQuando de noite me derVontade de me matar-Lá sou amigo do rei-Terei a mulher que eu queroNa cama que escolhereiVou-me embora pra

Pasárgada.

Manuel Bandeira

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As vozesNa literatura as vozes se cruzam constantementenum jogo de intertextualidade e intratextualidadecriando, re-criando, invertendo, contradizendo,enfim revelando o que já dizia Júlia Kristeva,“Todo texto é absorção e transformação de

outro texto.”Então, doravante ao estudarmos os textos a

seguir,perceberemos e compreenderemos o que revela a Paródia, a Paráfrase, a Estilização e a Apropriação.E os motivos que geram essas vozes.

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Canto de Regresso à PátriaCanto de Regresso à Pátria

Minha terra tem palmaresOnde gorjeia o marOs passarinhos daquiNão cantam como os de láMinha terra tem mais rosasE quase que mais amoresMinha terra tem mais ouroMinha terra tem mais terraOuro terra amor e rosasEu quero tudo de láNão permita Deus que eu

morraSem que volte para láNão permita Deus que eu

morraSem que volte pra São PauloSem que veja a Rua 15E o progresso de São Paulo.

Oswald de Andrade

Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. As aves , que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas.Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vidaNossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá. Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem palmeiras,Que tais não encontro eu cá:Em cismar:- sozinho, à noite - Mais prazer encontro eu lá: Minha terra tem palmeiras.Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para lá:Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá:"Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias

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ParáfraseParáfraseA paráfrase é a reprodução do texto de outrem com as palavras do autor. Ela não se confunde com o plágio porque seu autor explicita a intenção, deixa claro a fonte.Do grego paraphrasis (repetição de uma sentença), a paráfrase imita o original, inclusive em extensão. Assim, parafrasear um texto é repeti-lo com outras palavras, mas sem alterar suas idéias. Para produzir uma paráfrase, portanto, é preciso seguir as idéias do texto original, reproduzindo-as de outra maneira.

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ParáfraseParáfrase

O termo paráfrase tem um sentido diversificado. “É a reafirmação, em palavras diferentes, do mesmo sentido de uma obra escrita. Uma paráfrase pode ser uma afirmação geral da idéia de uma obra como esclarecimento de uma passagem difícil. Em geral ela se aproxima do original em extensão”.

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Exemplo de paráfrase: Carlos Drummond de Andrade no poema “Europa, França e

Bahia”:

“...Meus olhos brasileiros se fecham saudosos

Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?Eu tão esquecido de minha terra...Ai terra que tem palmeiras onde canta o

sabiá!”

Na paráfrase de Drummond, o deslocamento é mínimo e ocorre uma técnica de citação e transcrição direta do poeta romântico.

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“- Ave Maria cheia de graças...” A tarde era tão bela, a vida era tão

pura, as mãos de minha mãe eram tão doces, havia, lá no azul, um crepúsculo de

ouro...lálonge... “- Cheia de graça, o Senhor é

convosco, bendita!” Bendita! Os outros meninos, minha irmã, meusirmãos menores, meus brinquedos, a casaria branca de minha terra, a burrinha do vigário pastando junto à capela... lá longe... Ave cheia de graça - ...”bendita sois entre as mulheres,

bendito é o fruto do vosso ventre...” E as mãos do sono sobre os meus

olhos, e as mãos de minha mãe sobre o meu

sonho, e as estampas de meu catecismo para o meu sonho de ave! E isto tudo tão longe... tão longe...

Jorge de Lima

AVE MARIA

Ave-Maria, cheia de graça!

O Senhor é convosco Bendita sois vós entre as

mulheres E Bendito é o Fruto do

vosso ventre, Jesus Santa Maria Mãe de Deus, Rogai por nós os

pecadores Agora e na hora de nossa

morte. Amém

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Estilização

A estilização é um jogo de diferenciação do texto original

sem que, contudo, haja traição ao seu significado primeiro.

Estilização é a movimentação do discurso e o “estilizador

usa a palavra do outro”A estilização está entre a paráfrase e a paródia,

portanto é considerado um desvio tolerável.

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A estilização encontra-se em diversos outros campos. Mostraremos a seguir um outro tipo de estilização usado amplamente por todos nós no dia a dia.

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Segundo Tynianov, quando há a estilização, não há discordância, mas, sim, uma concordância dos

dois planos.

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Once upon a midnight dreary, while

I pondered weak ande weary Over many a quaint and curious volume of forgot- tem lore, while I modded, neraly napping, suddenly there came a tapping, As of some one gently rapping, rapping at may chamber door Only this and nothing more. (Edgar A. Poe)

Numa meia-noite agreste, quando eu

lia, lento e triste, Vagos curiosos tomos de

ciênciasancestrais, E já quase adormecia, ouvi o que parecia O som de alguém que batia levemente a meus umbrais Uma visita¹ eu me disse, está batendo a meus umbrais E só isto, e nada mais. (Fernando Pessoa)

Em certo dia, à hora, à hora Da meia-noite que apavora, Eu caindo de sono e exausto de fadiga, Ao pé de muita lauda antiga, De uma velha doutrina, agora morta Ia pensando, quando ouvi à porta Do meu quarto um soar devagarinho E disse estas palavras tais: É alguém que me bate à porta de mansinho: Há de ser isso e nada mais.

(Machado de Assis)

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Tradução é paráfrase quando Tradução é paráfrase quando realizado por pessoas comuns.realizado por pessoas comuns.

Uma vez em uma meia-noite triste, enquanto eu pensava em minha tristeza e cansaço

sobre um volume curioso e esquecido de sabedoria, enquanto eu quase dormindo, veio um repentino bater

Quando um batida leve, batendo na porta do meu quarto apenas isto e nada mais

(tradução de Pedro Falco Neto)

Era uma meia-noite monótona, enquanto eu ponderava fraco e cansado

sobre um muito singular e curioso volume de esquecida tradição, enquanto eu perto do sono de repente lá veio um/a como se alguem gentilente

Tocar á porta do meu quarto somente isto e nada mais

(tradução de António Gomes Martins)

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Paródia

A paródia é uma recriação de caráter contestador:

ela mantém algo da significação do texto primeiro,

mas constrói todo um percurso de desvio emrelação a ele, numa espécie de

insubordinação crítica que incomoda.

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Nel Mezzo del Camin

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e triste e fatigado eu vinha.Tinhas a alma de sonhos povoada, E a alma de sonhos povoada eu

tinha... E paramos de súbito na estrada Da vida: longos anos, presa à minha A tua mão, a vista deslumbrada Tive da luz que teu olhar continha. Hoje, segues de novo... Na partida Nem o pranto os teus olhos

umedece, Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo,Vendo o teu vulto que desaparece Na extrema curva do caminho

extremo

Olavo Bilac

No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma

pedra. Nunca me esquecerei desse

acontecimento na vida de minhas retinas tão

fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio

do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do

caminho no meio do caminho tinha uma

pedra.

Carlos Drummond de Andrade

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“A paródia é uma forma de apropriação que, em lugar deendossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente”. Ela acontece no famoso poema de Carlos Drummond deAndrade No Meio do Caminho, que faz uma paródia do

sonetoNel Mezzo del Camin, de Olavo Bilac que, por sua vez, remeteao primeiro verso da Divina Comédia, de Dante Alighiere: "Nel mezzo del camin de nostra vita". Além do título, Drummond imitou o esquema retórico dosoneto de Bilac, ou seja, em vez de parodiar o significado, promoveu um paródia na forma: empenhou-se na imitação irônica da estrutura, reproduzindo apenas o quiasmo

(repetição invertida) do texto.

ParódiParódiaa

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ParódiaParódiaAs nossas paródias terminaram. Estes nossos

autores, Como vos dissemos, eram todos espíritos eEsfumaçaram-se no ar, no finíssimo ar.E, tal como a infundada textura destes versos,A baforada do crítico, o anúncio do comércio, A promessa do patrono, e o aplauso do Mundo,Sim, todas as esperanças dos poetas, - se

dissolverãoE como está insubstancial fábula fadou, Não deixarão um vintém atrás de si!

Horace Twiss

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APROPRIAÇÃO

• Os artistas colecionavam, utilizavam símbolos do cotidiano para mostrar um retrato industrial do tempo.

• A apropriação chegou a literatura por meio do Dadaismo.

• Podemos afirmar que há existência da apropriação de 1º grau e de 2º grau.

• A apropriação é uma técnica que se opõe à paráfrase e diverge totalmente da estilização, aproximando-se por excelência da paródia.

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Apropriação na EsculturaApropriação na Escultura

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Pero Vaz de CaminhaPero Vaz de Caminha

a descobertaSeguimos nosso caminho por este mar de longoAté a oitava da PáscoaTopamos avesE houvemos vista de terraos SelvagensMostraram-lhes uma galinhaQuase haviam medo delaE não queriam pôr a mãoE depois a tomaram como espantadosprimeiro CháDepois de dançaremDiogo DiasFez o salto realAs meninas da gareEram três ou quatro moças bem moças e bem gentisCom cabelos mui pretos pelas espáduasE suas vergonhas tão altas e tão saradinhasQue de nós as muito bem olharmosNão tínhamos nenhuma vergonha

Oswald de Andrade

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Apropriação na Pintura

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Visão GeralVisão Geral• A paródia deforma o texto original

subvertendo sua estrutura ou sentido. • Já a paráfrase reafirma os ingredientes

do texto primeiro conformando seu sentido.

• A estilização reforma esmaecendo, apagando a forma, mas sem modificação essencial da estrutura;

• A apropriação usa um jogo de diferenciação sem trair o texto primeiro.

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Caetano Veloso sempre se mostrou preocupado com os rumos tomados pela música no Brasil. Desde o início de sua carreira, tornou-se ato freqüente em sua atividade como cancionista a incorporação de fragmentos da

cultura lítero-musical brasileira e mundial e a rearticulação destes elementos de maneira a olhar criticamente a tradição, o estado presente da arte e suas projeções para o futuro.

Tal conduta é coerente com a prática artística no século XXI, que tem se caracterizado por um processo constante de auto-reflexão, através de procedimentos intertextuais. A presente comunicação abordará uma das canções de Caetano Veloso que faz uso da intertextualidade em uma das vozes estudadas.