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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ANA PAULA PASTORELLO CRISTALDO Campo Grande -MS 2012

Parque Águas Do Cerrado

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TCC- ARQUITETURA E URBANISMO UFMS. PARQUE REGIONAL ÁGUAS DO CERRADO

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Page 1: Parque Águas Do Cerrado

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ANA PAULA PASTORELLO CRISTALDO

Campo Grande -MS

2012

Page 2: Parque Águas Do Cerrado

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

ANA PAULA PASTORELLO CRISTALDO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso

de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Ciências

Exatas e Tecnologia da Universidade Federal de Mato

Grosso do Sul, como pré-requisito para obtenção do

título de Arquiteto e Urbanista.

Orientadora: Profª Dra. Eliane Guaraldo

Campo Grande - MS

2012

Page 3: Parque Águas Do Cerrado

FOLHA DE APROVAÇÃO

Autora: Ana Paula Pastorello Cristaldo

Título: PARQUE ÁGUAS DO CERRADO

Trabalho de Conclusão de Curso de Arquitetura e Urbanismo defendido e aprovado em

20/02/2013, pela banca composta por:

____________________________________________________________________

Prof. Drª. Eliane Guaraldo (orientadora)

Curso de Arquitetura e Urbanismo/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

____________________________________________________________________

Prof. Dr. Gutemberg dos Santos Weingartner

Curso de Arquitetura e Urbanismo/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

____________________________________________________________________

Jussara Basso

Arquiteta e Urbanista

__________________________________

Prof. Dr. Andrea Naguissa Yuba

Coordenador(a) do Curso de Arquitetura e Urbanismo

Page 4: Parque Águas Do Cerrado

Dedico a minha família, meus amigos e colegas de

faculdade, que com muito esforço enfrentaram

juntos esses anos de batalha.

Page 5: Parque Águas Do Cerrado

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus.

Agradeço aos meus pais e meu irmão, pelo apoio e compreensão. Sem eles nada

disso seria possível.

Agradeço a Vivi, uma amizade para ter a vida toda.

Agradeço aos meus queridos amigos Cynara, Veronica, Marlon, Nanny, Laís e

Fernando. Grandes responsáveis por tornarem essa longa caminhada mais fácil e agradável.

Agradeço, em especial, à Eliane Guaraldo pelas horas de dedicação, ajuda e

paciência, sem a qual este trabalho não estaria concluído.

Page 6: Parque Águas Do Cerrado

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ iii

RESUMO ................................................................................................................... iv

ABSTRACT ............................................................................................................... v

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1

1.2 OBJETIVOS GERAIS ................................................................................................ 2

1.2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 2

1.2 METODOLOGIA ....................................................................................................... 3

2 O HOMEM E A NATUREZA ................................................................................. 4

2.1 HISTÓRICO DE PARQUES ...................................................................................... 6

2.1.1 EUROPA ..................................................................................................................... 6

2.1.2 ESTADOS UNIDOS ................................................................................................... 7

2.2 PARQUES REGIONAIS ............................................................................................ 8

2.3 ESPAÇOS LIVRES ARBORIZADOS- REFERÊNCIAS PROJETUAIS ................ 10

2.3.1 JARDIM BOTÂNICO DE SÃO PAULO ................................................................. 10

2.3.2 INHOTIM .................................................................................................................. 11

2.3.3 JARDIM BOTÂNICO DE LONDRINA ................................................................... 16

2.3.4 PROJETO PARQUE ECOLÓGICO NORTE DE BRASÍLIA (PqEN) .................... 17

3 ÁREAS DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL (APA) .......................................... 20

3.1 ORIGENS E CONTEXTUALIZAÇÃO DO CONCEITO DE APA ........................ 20

4 ASPECTOS DÁ AREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BÁCIA DO

CÓRREGO CEROULA- APA DO CEROULA .................................................................. 36

4.1 CRIAÇÃO ................................................................................................................. 26

4.2 LOCALIZAÇÃO E INSERÇÃO REGIONAL ......................................................... 28

4.3 CONDICIONATES FISICAS ................................................................................... 31

4.3.1 HIDROGRAFIA ........................................................................................................ 31

4.3.2 SOLOS ....................................................................................................................... 35

4.3.3 VEGETAÇÃO ........................................................................................................... 37

5 PROJETO: PARQUE ÁGUAS DO CERRADO .................................................. 39

5.1 SOBRE A DENOMINAÇÃO DO PARQUE ............................................................ 39

5.2 ASPECTOS REFERENTES AO USO DO SOLO .................................................... 39

5.3 BREVE HISTÓRICO DO INFERNINHO ................................................................ 42

5.5 IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA, SOLUÇÕES E PARTIDO ................................. 43

6 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 50

7 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO .................................................................... 51

i

Page 7: Parque Águas Do Cerrado

LISTA DE FIGURAS

Capítulo 2

Figura 1- Planta Regents Park .................................................................................................... 7

Figura 2- Foto Regents Park Atualmente .................................................................................. 7

Figura 3- Alameda de Palmeiras ............................................................................................ 10

Figura 4- Vistas das estufas do Jardim Botânico ...................................................................... 10

Figura 5- Interior estufa Mata Atlântica ................................................................................... 10

Figura 6- Trilha Elevada ........................................................................................................... 10

Figura 7- Imagem Aérea Inhotim ............................................................................................. 12

Figura 8- Galeria Adriana Varejão ........................................................................................... 13

Figura 9- Galeria True Rouge ................................................................................................... 13

Figura 10– Galeria Miguel Rio Branco .................................................................................... 13

Figura 11 – Galeria Som da Terra ............................................................................................ 13

Figura 12 – Agrupamento de Palmeiras. .................................................................................. 13

Figura 13- Orquidário ............................................................................................................... 13

Figura 14- Obra ao ar livre ....................................................................................................... 14

Figura 15- Obra ao livre ........................................................................................................... 14

Figura 16- Terraço do Centro de Educação Ambiental ............................................................ 14

Figura 17- Espaço de descanso e contemplação descanso ....................................................... 14

Figura 18- Mapa Inhotim .......................................................................................................... 15

Figura 19- Implantação ............................................................................................................. 16

Figura 20- Arboreto e Jardins Temáticos ................................................................................. 16

Figura 21- Lagos e Administração ........................................................................................... 16

Figura 22- Estufas, Lago e Pórtico de Acesso .......................................................................... 16

Figura 23- Planta PqEN ............................................................................................................ 17

Figura 24- Espaço de descanso e contemplação descanso ....................................................... 18

Figura 25- Vegetação................................................................................................................ 19

Figura 26- Setores ..................................................................................................................... 19

Figura 27- Fases de implantação .............................................................................................. 19

Figura 28- Estufas dos ecossistemas brasileiros ....................................................................... 19

Capítulo 3

Figura 29- Carta Imagem Área de Proteção Ambiental de Petrópolis- RJ ............................... 22

Figura 30- Áreas Protegidas (UCs e Terras Indígenas) e Assentamento em MS ..................... 24

ii

Page 8: Parque Águas Do Cerrado

Figura 31- APAs localizadas no município de Campo Grande ................................................ 25

Capítulo 4

Figura 32- APA em relação ao munícipio de Campo Grande e sua região urbana .................................... 27

Figura 33- Localização APA do Ceroula ................................................................................. 29

Figura 34- Cobertura vegetal de Mato Grosso do Sul e biomas ............................................... 30

Figura 35- Bacia do Córrego Ceroula no contexto dos municípios ........................................ 32

Figura 36- Limite APA do Ceroula e Bacia geolocalizados .................................................... 33

Figura 37- Mapa Hidrográfico APA do Ceroula ...................................................................... 34

Figura 38- Mapa tipos solo APA do Ceroula ........................................................................... 36

Figura 39- Mapa vegetações existentes APA do Ceroula ........................................................ 38

Capítulo 5

Figura 40- Uso do solo ............................................................................................................. 39

Figura 41- Gráfico mostrando a predominância de pequenas propriedades ........................... 40

Figura 42- Gráfico mostrando a predominância de áreas com pastagem plantada .................. 41

Figura 43- Vôo livre ................................................................................................................. 41

Figura 44- Produção de mussarela em minifúndio ................................................................... 41

Figura 45- Turismo rural .......................................................................................................... 42

Figura 46- Grande fazenda destinada à agropecuária ............................................................... 42

Figura 47- Mapa delimitações .................................................................................................. 42

Figura 48- Área de Intervenção ................................................................................................ 42

Figura 49- Inferninho ............................................................................................................... 43

Figura 50- Ruínas da usina ....................................................................................................... 43

iii

Page 9: Parque Águas Do Cerrado

RESUMO

O presente trabalho é o estudo da implantação de um Parque Regional no município de

Campo Grande - MS. O local de intervenção é uma ampla área localizada fora do contexto

urbano, inserida em uma área de preservação ambiental, APA do Ceroula. Para isso fizeram-

se necessárias pesquisas de referenciais conceituais e de projeto para elaboração da proposta

arquitetônico urbanística. Os capítulos iniciais abordam aspectos referentes aos espaços livres

arborizados, sendo eles parques urbanos e parques regionais, ponderando sobre sua história,

desenvolvimento e conceito, além de ressaltar sua importância em relação à vida humana.

Também apresenta referências projetuais que foram de grande significância para elaboração

do mesmo. Em seguida expõe informações a respeito das Unidades de Conservação (UCs),

com enfoque nas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e mostra dados significativos da APA

do Ceroula e da região conhecida popularmente como “Inferninho”, onde esta inserida a

proposta. Por fim, é traçada uma análise da área com a finalidade de identificar seus

problemas e as potencialidades a serem evidenciadas, assim como as diretrizes a serem

seguidas de forma a possibilitar na conclusão dessa monografia o projeto do Parque Águas do

Cerrado.

Palavras-chave: parque, APA do Ceroula , “Inferninho”, paisagem e preservação ambiental

iv

Page 10: Parque Águas Do Cerrado

ABSTRACT

The present work is an implementation study of a regional park in the city of Campo Grande-

MS. The intervention local is an extensive area located outside the urban settings, which is

inserted in an environmentally protected area, the Ceroula’s APA. Therefore, it was necessary

to research theoretical references in order to elaborate the project. So, the initial chapter deal

with the aspects related to wooded open spaces, as parks and regional parks, discuss its

history, development and concept, and emphasizes its high value for human life. Also

presents some project references that were of great importance for its development. Then

exposes information about the Conservation Units, focusing on Environmental Protection

Areas (APAs) and about some meaningful data on Ceroula’s Environmental Protection Area

and the area usually known as "Inferninho" ( in English, Little Hell), where the proposal is

located. At last, the area is analyzed in order to identify their problems and the potential to be

evidenced, as are guidelines to be followed in order to make possible, at the end of this essay,

a park proposal named as “Águas do Cerrado.”

Key words: park, “Ceroula’s APA”, landscape, park and environmental preservation.

v

Page 11: Parque Águas Do Cerrado

1

1. INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade com vastas preocupações nos problemas de degradação

ambiental, sejam referentes à poluição, energia, plantas e animais em extinção ou paisagens

naturais e de produção. Contudo ainda é notável uma grande propensão a “passar por cima”

do meio ambiente, inclusive onde a maior parte da população reside (na própria cidade), onde

com frequência os objetivos prevalecidos acabam sendo mais econômicos do que sociais ou

ambientais.

Com a grande expansão urbana uma significante parcela da sociedade passou a buscar

o contato com natureza, que muitas vezes é negado nas cidades, em refúgios naturais. No

Brasil, apenas no inicio dos anos 80 surge uma consciência ecológica, a qual reconhece a

importância dos espaços livres e arborizados. Aliando a necessidade de preservação,

conservação, lazer e contato com a natureza, surge a proposta de criação de um Parque

Regional na região conhecida popularmente como “Inferninho”, no município de Campo

Grande-MS, a qual apesar de fazer parte de uma Área de Proteção Ambiental e de possuir

paisagens cênicas e de grande importância ambiental como ecossistema, e até histórica, por

contar com a presença das ruínas da primeira e única usina hidrelétrica de Campo Grande, foi

e continua sendo grandemente desmatada em prol da agropecuária. Não obstante, também é

constante alvo de depósito de lixo por turistas e moradores da região que frequentam o local e

de acidentes devido à inexistência de qualquer estrutura de apoio que garanta a segurança às

atividades lá realizadas, como banho nas cachoeiras ou prática de esportes radicais.

Este trabalho de conclusão de curso trata de um projeto de espaço livre, que objetiva

minimizar a influência antrópica através da recuperação da área descrita, assim como uma

alternativa para lazer, educação e apropriação da paisagem à população de Campo Grande e

cidades vizinhas.

Os elementos textuais se dividem em cinco capítulos, sendo iniciados pela introdução;

o segundo capítulo trata das questões históricas e de contextualização da relação entre o

homem e a natureza com enfoque nos parques; o terceiro abrange os conceitos gerais das

Unidades de Conservação em especial, das Áreas de Preservação Ambiental- APAs; o quarto

descreve os aspectos relevantes tanto à APA onde a proposta esta inserida e por fim, o quinto

capítulo denominado Parque Águas do Cerrado trata do projeto, explicando sobre o terreno,

análises, estudos e programa realizados para sua elaboração.

Page 12: Parque Águas Do Cerrado

2

1.1 JUSTIFICATIVA

Este trabalho justifica-se pela importância de espaços que proporcionem lazer, cultura

e a integração com natureza, tendo em vista a emergente busca por esses espaços, além de

contribuindo para o equilíbrio entre a urbanização e a proteção do meio ambiente. Faz-se

também necessário nos sentidos de minimizar a carência de atividades turísticas existentes no

munícipio de Campo Grande e no sentido de promover o reconhecimento da necessidade de

recuperação dos recursos naturais dessa área, através da ampliação do uso e da apropriação,

pois para preservar é importante “conhecer”. Nesse sentido também se valida pelos aspectos

educacionais, através da apreciação, aprendizagem e pesquisa obre a flora local, nativa e

proposta. Sendo assim, o Parque Regional, teria muito a contribuir nesses aspectos.

1.2 OBJETIVOS GERAIS

Estudar a relevância dos parques na compreensão da paisagem e seus aspectos

ambientais e sociais, visando à sua elaboração como alternativa de lazer à população sul

mato-grossense.

1.2.1 OBJETIVOSESPECÍFICOS

Analisar a influência do Parque Regional no contexto das cidades;

Estabelecer uma relação adequada entre os usos propostos de forma a promover

a conservação, recuperação e preservação do local;

Estudar o conceito de espaços livres para a atitude projetual, principalmente na

realidade brasileira e seus biomas;

Analisar as referências e suas determinantes para elaboração e compreensão do

processo de projeto da paisagem;

Estudar aspectos históricos, determinantes físicos e de plantio da região de

intervenção;

Evidenciar a identidade do local com a escolha de espécies nativas;

Melhorar a maneira como o local é percebido pela população, muitos não sabem

de sua existência ou associam o local aos antigos crimes ali cometidos no

passado;

Propor instrumentos de apoio às atividades a serem realizadas, através da

avaliação das necessidades existentes;

Evidenciar a importância da integração da natureza com o homem.

Page 13: Parque Águas Do Cerrado

3

1.2 METODOLOGIA

A metodologia consistiu na busca de publicações e trabalhos técnicos, científicos,

de conclusão de curso, legislações e projetos referentes aos conceitos de história, evolução,

planejamento e desenho da paisagem, relacionados direta ou indiretamente ao tema Parques

Regionais. Também foram realizados levantamentos de dados a partir de outras fontes, como:

a) Documentação técnica de órgãos públicos, tais como: Instituto

Municipal de Planejamento Urbano- PLANURB e Secretária Municipal de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Urbano - SEMADUR;

b) Visitas ao local e entorno para coleta de dados: identificação do

estado de preservação e depredação dos recursos naturais e conhecer detalhes da

ocupação e entorno que inclui registro fotográfico;

a) Visitas a algumas áreas verdes similares em escala, inserção e

alcance, relevantes para referências de projeto.

Page 14: Parque Águas Do Cerrado

4

2. O HOMEM E A NATUREZA

O solo é um dos bens mais preciosos do mundo e as questões relevantes ao seu

planejamento de uso e conservação são fundamentais.

O solo torna-se paisagem quando visto em termos descritos ou referentesàs suas

peculiaridades fisiográficas e ambientais. A paisagem muda de acordo com essas

características e influencias históricas do homem. Consequentemente, a paisagem é

um reflexo dos sistemas climáticos, naturais e sociais. (LAURIE, 1983, p. 11,

tradução da autora)

Para a sociedade, elas existem desde as antigas civilizações da China, Egito e

Oriente Médio que já possuiam um planejamento e distribuição conscientes da terra com

objetivos agrícolas e sociais. No Oriente, as plantações de arroz em terraços escalonados e

em Tebas, os primeiros jardins particulares que temos consciência são claros exemplos que

provam uma manipulação intencional da paisagem. Inevitavelmente, nosso enfoque à um uso

de solo e aos desenhos atuais acabam sendo condicionados por esses resíduos de experiência,

tradição e aprendizado, assim como nossa percepção da paisagem e a postura que temos

diante da natureza são influenciadas pelo contexto particular em que temos crescido e pela

sociedade que vivemos no momento atual.

As palavras planejamento, desenho e uso nos sugerem uma paisagem feita e

controlada pelo homem, mas sabemos que não é exatamente assim, e que existem graus de

adaptação dos sistemas naturais pelo homem. Por exemplo, os índios da Califórnia apenas

modificavam ou alteravam elementos da paisagem onde viviam, diferentemente dos impactos

causados nas metrópoles que são manifestados a todo tempo . Em ambos os casos é possível

relacionar o uso da terra pelo homem com vista ao crescimento de cultivos e aumento de

recursos. Ou seja, o ser humano gerou sua ação sobre a Terra em diferentes graus e

tecnologias mais variadas.

Para Gutkind, 1952 (apud Laurie, 1983) a relação homem-natureza se divide

em três períodos. A primeira fase se caracteriza pelo medo das forças ocultas da natureza,

junto com o desejo de segurança. Esse é o modelo mais generalizado nas sociedades

primitivas que formavam grupos autossuficientes com a moradia e a agricultura, onde o

indivíduo reconhecia a necessidade de outros indivíduos para cooperar em sua vivência. A

Page 15: Parque Águas Do Cerrado

5

relação dessas sociedades primitivas com a paisagem em que trabalham e vivem é muito

direta.

Na segunda fase é observado um aumento da confiança em si mesmo

condizente a uma adaptação mais radical do entorno, tendo em vista necessidades diferentes.

Contudo, o homem aceita o desafio da natureza por meio da disciplina. Nessa fase as pessoas

atuam com a natureza com base na compreensão de seus processos e sabendo conhecer as

limitações do homem na hora de manipularas. A paisagem é encarada como um meio e se

sabe que a continuidade da produção da colheita anual depende da fertilização e de uma boa

organização dos campos. Exemplos físicos dessa fase são os terraços e campos de arroz da

China e Oriente a regularização de rios para irrigação de cultivos nas antigas civilizações do

Oriente Médio, as pirâmides e templos do Egito. Respondem a mesmo tipo os povos

medievais com a sua igreja, seu castelo e uma tortuosa trama viária que trabalha intimamente

as características fisiográficas do lugar.

A terceira fase se trata de uma fase de agressão e conquista. A adequação ao

entorno, característica da segunda fase, é substituída pela exploração e consumo dos recursos

naturais e simbolizada pela expansão urbana de nossos dias. Resultado de uma

despersonalização da natureza através da especialização cientifica.

Sendo assim, os valores tradicionais que moldaram a paisagem das nossas cidades

pouco contribuíram para saúde mental das mesmas. Há, portanto, a necessidade de aplicação

de um pensamento urbano preocupado com as questões energéticas, o meio ambiente, a

preservação e conservação dos recursos naturais.

Já a quarta fase se projeta no futuro e é descrita como uma época de

responsabilidade e unidade através da percepção do funcionamento da natureza, cuja

consequência seja a consciência social e uma sensível adaptação às condições ambientais.

A realidade não é (autentica) realidade sem o homem, assim como não é (somente)

realidade do homem. É realidade da natureza como totalidade absoluta, que é

independente não só da consciência do homem, mas também da sua existência, e é

realidade do homem que na natureza e como parte da natureza cria a realidade

humano-social, que ultrapassa a natureza e na historia define o próprio lugar no

universo. O homem não vive em duas esferas diferentes, não habita por uma parte de

seu ser, na historia, e pela outra, na natureza. Como homem ele está junto e

concomitantemente na natureza e na história. Como ser histórico e, portanto,

social, ele humaniza a natureza, mas também a conhece e reconhece como totalidade

absoluta, como causa sui suficiente a si mesma, como condição e pressuposto da

humanização. Em todas as variantes da posição humana diante da natureza, em

todos os progressos do domínio e do conhecimento humano dos processos naturais,

Page 16: Parque Águas Do Cerrado

6

a natureza continua a existir como totalidade absoluta. Na indústria, na técnica, na

ciência e na cultura, a natureza existe para o homem como natureza humanizada.

(KOSIK apud MAGNOLI, 2006).

2.1 HISTÓRICO DE PARQUES

2.1.1 Europa

Nas civilizações grega e romana existiam espaços de ar livre cujas origens vinham

do antigo mercado (Ágora na Grécia e o Fórum em Roma), o ginásio para os atletas e os

lugares sagrados para o entretenimento. Cada um deles se desenhava e escolhia para uma

finalidade específica. No interior das cidades não se desfrutava de zonas de parques públicos

como os que possuímos agora, ou seja, sem função com exceção do lazer. Somente em

ocasiões especiais, quando as propriedades privadas abriam suas portas para o público, este

tinha a oportunidade de desfrutar de beleza de um jardim.

As vilas europeias na idade média estavam densamente povoadas, mas suas

reduzidas dimensões tinham a vantagem que era possível acessar sem o esforço o campo

aberto e o ar livre. Embora o espaço fosse limitado, também era a necessidade de reservar

uma zona como centro de diversão. O mercado e as escadas das igrejas que davam as praças

constituíam o único espaço aberto onde as pessoas podiam reunir-se. A praça da igreja era

utilizada para apresentações simbólicas ou religiosas e o mercado era utilizado para venda e

trocas de mercadorias.

No renascimento europeu se observava como frequentemente os jardins

privados abriam suas portas ao público. Os jardins reais que ocupavam grandes extensões de

terras em Londres também eram de livre acesso ao povo e esse exemplo era também seguido

em outras capitais reais. Essas cidades generosamente dotadas de parques se distinguiam por

desfrutar de uma quantidade considerável de terrenos destinados a parques, porém sua

localização e planejamento não tinham relação com as necessidades da população. Apenas no

século XVIII esta distribuição se modificou para converter-se na paisagem que conhecemos

hoje em dia.

Segundo Lamas (apud FRANCO, 1997, pg.80) é no período clássico barroco que

se estrutura a arte do paisagismo como um campo especifico da arquitetura e do planejamento

urbano.

Page 17: Parque Águas Do Cerrado

7

Em 1810 o Regents Park foi projeto por John Nash, propriedade da Coroa, que era

parte pública e parte privada, abordagem que aumentou o valor e o atrativo daquela zona. O

parque se ajustou as normas de estilo paisagista, com lagos e jardins que pareciam tirados de

uma propriedade particular, tanto por seu caráter como por sua escala.

Figura 1: PLANTA REGENTS PARK

Fonte: http://www.royalparks.org.uk/parks/the-

regents-park

Figura 2: FOTO REGENTS PARK ATUALMENTE

Fonte: http://www.royalparks.org.uk/parks/the-regents-

park

2.1.2 Estados Unidos

Nos Estados Unidos não existia tradição nenhuma relacionada a parques

municipais. Em algumas cidades cuja expansão se direcionou por um plano, como Filadélfia e

Savana é fácil encontrar praças onde foram plantadas árvores no estilo georgiano de Londres.

Essas praças, apesar de não serem propriamente parques públicos eram reservadas aos

moradores do entorno, significa que as áreas verdes haviam atingido às cidades.

Segundo Laurie (1983, pg. 99) no século XIX o tema de parques públicos se

solidificou com as mesmas premissas que regiam a reforma de edifícios. Quatro pontos

essenciais dominavam a questão: A saúde pública, a moral das pessoas, a trajetória do

movimento romântico e a situação econômica.

A preocupação com a saúde publica motivada a reforma de moradias e a melhora

em instalações de saneamento e despejo de águas, ao mesmo o conjunto de medidas era

somado a função dos parques de purificação do ar, fazer exercícios e descansar. A mesma

preocupação resultou na criação de moradias de pessoas no campo, levando a habitação de

inúmeras pessoas nos Estados Unidos nos subúrbios.

Page 18: Parque Águas Do Cerrado

8

Para Franco (1997, pg. 83) O trabalho de Olmstead inspirou a criação de

numerosos parques nacionais nos Estados Unidos e em todo o mundo, além de mudar o

conceito de qualidade ambiental urbana, com a criação de vários parques em cidades como

Nova York.

Os surgimentos dos parques urbanos e da busca pelo verde acabaram inspirando a

conhecida criação de Ebnezer Howard, “A cidade Jardim” e seus conhecidos

desenvolvimentos na história do urbanismo. Finalizo assim, com algumas definições:

Para Rosa Grena Kliass (1993), “os parques são espaços públicos com dimensões

significativas e predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal,

destinados à recreação”.

Já Frederick Law Olmsted (apud SCALISE, 2002) associa os parques aos cenários

ao afirmar: "Reservo a palavra parque para lugares com amplitude e espaço suficientes e com

todas as qualidades necessárias que justifiquem a aplicação a eles daquilo que pode ser

encontrado na palavra cenário ou na palavra paisagem, no seu sentido mais antigo e radical,

naquilo que os aproxima muito de cenário”.

2.2 PARQUES REGIONAIS

Segundo Clawson (apud MAGNOLI, 2006, p. 140) O espaço livre é todo espaço

não ocupado por um volume edificado (espaço-solo, espaço-água, espaço-luz ao redor das

edificações a que as pessoas têm acesso) e divide-se nas seguintes funções:

• propiciar perspectivas e vistas do cenário urbano;

• propiciar recreação no mais lato sentido do termo, com amplo de atividades específicas;

• propiciar proteção ecológica a valores importantes, como recarga de água do subsolo,

prevenção de inundações, preservação de áreas excepcionais e similares;

• servir como dispositivo ou influencia para a morfologia urbana, de tal forma que parte de

um extenso aglomerado seja identificado de suas vizinhanças;

• preservar presentemente áreas sem utilização para usos futuros.

Page 19: Parque Águas Do Cerrado

9

A apropriação dos espaços pelo homem para suas necessidades e atividades se dá

em âmbitos locais, setoriais, urbanos, metropolitanos, sub-regionais ou regionais em função

da proximidade espacial. A proximidade espacial demanda permeabilidade entre os espaços

por meios diversos de locomoção. Logo, a distribuição de espaços livres (sistema de parques)

para serem apropriados pelo homem fica vinculada aos acessos disponíveis em cada uma das

escalas de urbanização, e à frequência dos usuários. A apropriação dos mesmos em sentido

amplo diz respeito à duração e periodicidade de tempo gastos no local. Isso condiz, ainda que

esquematicamente, aos usos diários, semanais, de feriados, de férias curtas ou prolongadas.

Então, é pela relação entre o uso diário e a duração reduzida que é possível diferenciar

espaços que devem estar próximos da habitação, de nível local e quais os espaços de

atividades de longa duração, em que tempo de acesso não possui muita interferência,

permitindo localizações regionais.

O atendimento do usuário nas múltiplas escalas de urbanização e a diversidade de

apropriação em atividades variadas, específicas ou não, “ativas” ou “passivas”, para todos os

cidadãos, em idade, sexo, isolados ou em grupos, leva à distribuição de espaços diversificados

no interior, na periferia e no exterior da mancha urbana. Diversificados em configuração, em

acessibilidade, em desenho e em manutenção. (MAGNOLI, Miranda Martinelli. O parque no

desenho urbano. Paisagem ambiente, São Paulo, n. 21, 2006)

Falcón (2007, pg. 44) na sua publicação Espacios Verdes para una Ciudad

Sostenible, destaca a importância dos parques e bosques que se encontram situados ao redor

das grandes cidades e que, em sua maioria, consistem em espaços naturais formados por

densas áreas de vegetação e de considerável extensão. Esses parques e bosques além de

funcionarem como reservas da paisagem e dos recursos naturais constituem um ponto de

atração para os habitantes das cidades. Também podem servir como laboratórios e espaços de

aprendizagem, pois podem possuir equipamentos especiais em seu programa, que permitem o

conhecimento de diferentes comunidades de flora e fauna.

O parque regional também deve atuar como espaço de lazer, porém como nem

todas as pessoas estão interessadas em conhecer os aspectos da natureza as ofertas lúdicas se

fazem necessárias. Destacam-se as que as que permitem passar o dia ao ar livre, como: as

áreas de piquenique, áreas de jogos infantis, esportes, restaurantes, alugueis de bicicletas,

entre outros.

Page 20: Parque Águas Do Cerrado

10

2.3 ESPAÇOS LIVRES ARBORIZADOS- REFERÊNCIAS PROJETUAIS

2.3.1 Jardim Botânico de São Paulo

O Jardim Botânico de São Paulo foi fundado em 1928 e possui em torno de 36

hectares abertos à visitação pública. Está localizado no Parque Estadual das Fontes Ipiranga,

Água Funda, uma reserva com remanescente de Mata Atlântica. No final do século XXI, sua

área, uma vasta região com mata nativa, era ocupada por sítios e chácaras. Visando a

recuperação da vegetação, a utilização dos recursos hídricos e a preservação das nascentes do

Riacho do Ipiranga, iniciou-se, em1893, uma série de desapropriações na área, por ordem do

Governo do Estado, que o toma para si em 1917.

Figura 3: ALAMEDA DE PALMEIRAS Figura 4: VISTA DAS ESTUFAS DO JARDIM

BOTÂNICO

Figura 5: INTERIOR DA ESTUFA MATA

ATLÂNTICA

Figura 6: TRILHA ELEVADA

Acervo pessoal

Page 21: Parque Águas Do Cerrado

11

Até 1928 o local serviu para captação de águas, que abasteciam o bairro do Ipiranga.

Nesse mesmo ano, o naturalista Frederico Carlos Hoehne foi convidado para implantar um

jardim botânico na região. O local mantém hoje vários recantos que convidam as pessoas ao

relaxamento e à admiração das plantas de variadas formas de flores, frutos, caules e

folhagens.

A entrada do Jardim é composta por uma alameda de palmeiras jerivá, ladeada

por bancos e pérgolas com trepadeiras floríferas. Mais adiante se encontra o Jardim de Lineu

inspirado no Jardim de Uppsala, na Suécia, com duas estufas monumentais (uma da mata

atlântica e outra, recém-inaugurada, do cerrado) que permitem aos visitantes de todas as

faixas etárias e níveis de escolaridade o aprendizado sobre os biomas de maneira lúdica e

interativa. Mais interiormente no Jardim existe um lago com ninféas, plantas aquáticas da

família da vitória-régia.

Outras atrações existentes são os bosques temáticos de pau-brasil, de imbúias e de

palmiteiros, a Alameda Von Martius com aléias de palmeiras reais, o túnel de bambus, o

castelinho das crianças, uma coleções de espécies arbóreas nativas e exóticas, um museu de

botânica, um orquidário, um jardim sensorial, um restaurante, diversos lagos (formados pelas

nascentes do riacho) e trilhas na vegetação natural , sendo uma delas elevada por decks de

madeira a qual leva o visitante até uma das nascentes que formam o Riacho do Ipiranga.

2.3.2 INHOTIM

O instituo Inhotim localiza-se na cidade de Brumadinho-MG e fica à

aproximadamente 60 km de Belo Horizonte. Esta inserido dentro do domínio da mata

atlântica, mas com partes de cerrado nos topos das serras. Sua área total é de 786 ha, sendo

440,16 ha área de preservação ambiental (compreendidos entre fragmentos de mata e incluem

a Reserva Particular do Patrimônio Natural- RPPN, que possui 145,37 ha). Sua área de

visitação compreende jardins, galerias, edificações e fragmentos de mata, possuindo

atualmente uma extensão de 96,87 ha. Possui ainda cinco lagos ornamentais com

aproximadamente 3,5 hectares de lâmina d'água.

Page 22: Parque Águas Do Cerrado

12

Figura 7: IMAGEM AÉREA INHOTIM

Fonte: http://www.arquitetosassociados.arq.br/?projeto=centro-educativo-burle-marx-–-inhotim

Foi concebido pelo empresário Bernardo Paz em meados da década de 1980. Em

1984, o local recebeu a visita do paisagista Roberto Burle Marx, que apresentou algumas

sugestões e colaborações para os jardins. Desde então, o projeto paisagístico cresceu e passou

por várias modificações.

O local foi se transformando com o tempo. Um grande espaço cultural começou a

nascer, com a construção das primeiras edificações destinadas a receber obras de arte

contemporânea.

Atualmente conta com 10 galerias espalhadas por seu parque ambiental, como:

Fonte, Praça, True Rouge, Mata, Cildo Meireles, Adriana Varejão, Doris Salcedo, Lago,

Marcenaria. Pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e instalações de renomados

artistas brasileiros e internacionais são exibidos nas mesmas.

Nenhuma das galerias é igual à outra, porém todas tem em comum a integração da

obra com seu entorno, quase como fizessem parte da própria paisagem natural se adaptando

ao espaço. As galerias, no geral, são compostas por linhas retas e exibem formas geométricas

com fachadas cegas ou cobertas por vidros. Outra característica marcante é a presença de

grandes áreas em balanço.

Page 23: Parque Águas Do Cerrado

13

Figura 8: GALERIA ADRIANA VAREJÃO Figura 9: GALERIA TRUE ROUGE

Figura 10: MIGUEL RIO BRANCO Figura 11: GALERIA SOM DA TERRA

Acervo pessoal

Além disso, possui um grande acervo botânico, consolidado a partir de 2005 com

o resgate e a introdução de coleções botânicas de diferentes partes do Brasil e com foco nas

espécies nativas. O trabalho de composição das paisagens em Inhotim obedece a critérios

como adaptabilidade e funcionalidade. É hoje, no Brasil, um dos mais importantes parques

tropicais em termos de diversidade e quantidade de coleções botânicas. Ainda que o

paisagismo no Inhotim não possa ser enquadrado em um estilo único, alguns princípios

podem ser observados. A preferência pelo uso de grandes maciços ou manchas de espécies é

um dos princípios, que tira vantagem do efeito causado pelo agrupamento.

Figura 12: AGRUPAMENTO DE PALMEIRAS Figura 13: ORQUIDÁRIO

Acervo pessoal

Page 24: Parque Águas Do Cerrado

14

Também são muito utilizadas curvas, passagens e descontinuidades que,

subitamente, exibem novas perspectivas. Ao caminhar pelas diversas alamedas e passagens, o

visitante se surpreende constantemente com os ambientes que se criam e se descortinam

sucessivamente, alternando espaços de passagem e contemplação.

Figura 14: OBRA AO AR LIVRE Figura 15: OBRA AO AR LIVRE

Figura 16: TERRAÇO DO CENTRO DE

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Figura 17: ESPAÇO DE DESCANÇO E

CONTEMPLAÇÃO DESCANÇO Acervo pessoal

No aspecto de educação, possui um Viveiro Educador que abrange uma área de

aproximadamente 25.000 m², voltada para a manutenção do acervo botânico, pesquisa

científica, conservação e educação ambiental. Hoje esse acervo conta com mais de 4.800

espécies, distribuídas em 167 famílias botânicas, dentre as quais se destacam arecaceae

(família das palmeiras), araceae (imbés, antúrios, copo-de-leite) e orchidaceae (orquídeas).

Page 25: Parque Águas Do Cerrado

15

Figura 18: MAPA INHOTIM

Fonte:http://www.inhotim.org.br/index.php/p/v/209-341

Page 26: Parque Águas Do Cerrado

16

2.3.3 JARDIM BOTÂNICO DE LONDRINA

O projeto conta com uma área de 971.300 m² e localiza-se na região sul de

Londrina- PR. Seu programa abrange uma série de jardins temáticos que representam as

formas, cores, estruturas de vegetação exóticas pertencentes a diversos países e etnias, além

de aliar a pesquisa, a conservação e a preservação da natureza com coleções de plantas vivas e

cientificamente reconhecidas. Também propõe um insetário, lagos, edifícios administrativos,

estufas, restaurante, loja, praças, passarelas e fontes interativas. No total serão cerca de 11 km

de pistas pavimentadas para caminhada e passeio, inclusive para portadores de necessidades

especiais e 5 km de ciclovias. O projeto foi elaborado pelo escritório de arquitetura Slomp e

Busarelo e buscou fazer uso das características próprias do terreno, intensificando algumas

situações já existes, como a presença do lago.

O mesmo foi executado parcialmente e há pouco retornou as obras.

Figura 19: IMPLANTAÇÃO Figura 20: ARBORETO E JARDINS TEMÁTICOS

Figura 21: LAGO E ADMINISTRAÇÃO Figura 22: ESTUFAS, LAGO E PÓRTICO DE

ACESSO Fonte: http://www.slompbusarello.com.br/

Page 27: Parque Águas Do Cerrado

17

2.3.4 PROJETO PARA O PARQUE ECOLÓGICO NORTE DE BRASÍLIA (PqEN)

O Projeto para o Parque Ecológico Norte de Brasília situa-se na Asa Norte do seu

plano piloto e possui cerca de 180 ha. O projeto foi vencedor do concurso nacional de estudos

preliminares para a área citada, promovido pela Secretária de Meio Ambiente e Tecnologia-

Sematec e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil- IAB em 1991.

O PqEN, compõe junto ao outro grande parque de Brasília, o Parque da

Cidade,uma longa faixa destinada à áreas verdes que acompanha o desenvolvimento norte-

sul, linear, conforme desenvolvido pelo original plano piloto de Lucio Costa.

Figura 23: PLANTA PqEN

Fonte: FRANCO, 1997

A denominação de parque ecológico diferencia-se da de um parque urbano,

enquanto aquele é destinado essencialmente a várias formas de lazer ao ar livre, este é voltado

essencialmente à educação ambiental, por formas de lazer informativas e formativas. No

parque ecológico a natureza prevalece sobre as demais coisas.

Page 28: Parque Águas Do Cerrado

18

Figura 24: PLANO DE MASSAS PqEN

Fonte: FRANCO, 1997

A ordenação do parque é dividida em 3 partes:

1- Cumeada Sul (Área administrativa Institucional)

Ocupa áreas degradadas de fácil acesso ao Eixo Monumental. Nesta área se localizam as

atividades administrativas e institucionais, com suas áreas de apoio, onde serão introduzidas

espécies vegetais exóticas de grande porte e crescimento rápido, provedoras de

sombreamento.

2- Depressão Central (Área de Educação Ambiental)

Ocupa áreas alteradas de cerrado originale interliga a malha urbana no entorno com as

diversas áreas do PqEN. Neste setor haverá: um pólo central de atração aos usuários do

parque, chamado de Ala dos Estados, também se encontrarão aqui os grandes lagos e as

estufas piramidais. Nesse setor serão recuperadas as manchas de cerrado alteradas pela ação

do homem.

3- Pendente Noroeste (Área de Preservação).

Este setor corresponde à área de preservação máxima, onde se localizam os locais de pesquisa

e estudo, sendo de acesso restrito ao público.

A vegetação é caracterizada em:

1- Cerrado inalterado;

2- Cerrado alterado;

3- Áreas degradas; e

4- Perímetro da área de preservação.

Page 29: Parque Águas Do Cerrado

19

Figura 25: VEGETAÇÃO

Fonte: FRANCO, 1997

Figura 26: SETORES

Fonte: FRANCO, 1997

O projeto também divide as fases de implantação em quatro etapas, são elas:

Fase 1- Construção da sede de administração do Parque, as estruturas de apoio, controle e

acesso à área do PqEN, assim como as vias de acesso principais. Nessa fase inicia-se a criação

de viveiros de plantas para repovoamento da vegetação nativa e para multiplicação de plantas

exóticas a serem empregadas na arborização e futura composição paisagística do Parque.

Fase 2- Captação das águas para execução do lago e modelagem do solo. As terras retiradas

para o lago serão utilizadas no parque na criação de dunas e em locais dispostos à ação de

erosão do solo.

Fase 3- Implantação das bases de estudo.

Fase 4- Implantação de estufas referentes aos ecossistemas brasileiros (Amazônia, Caatinga,

Cerrado, Mata Atlântica e Mata Temperada), além da implantação do museu e de instalações

de uso público.

Figura 27: FASES IMPLANTAÇÃO

Fonte: FRANCO, 1997

Figura 28: ESTUFAS ECOSSISTEMAS BRASILEIROS

Fonte: FRANCO, 1997

Page 30: Parque Águas Do Cerrado

20

3. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL (APA)

3.1 ORIGENS E CONTEXTUALIZAÇÃO DO CONCEITO DE APA

A proteção de sítios geográficos se mostra como importante elemento das

sociedades humanas desde a antiguidade. Segundo Gonçalves (2002, p.8 apud MILLER,

1997, p.4) “Uma das mais antigas referências documentadas vem da Ásia, onde o Imperador

Ashokam da Índia, em 525 a.C., ordenou a proteção de certos animais e áreas florestadas.”

O conceito de unidade de conservação de maneira similar ao que conhecemos

hoje teria surgido em 1872 nos Estados Unidos com a criação do “Yellowstone Nacional

Park”. Na época, em Yellowstone, foi proibida qualquer exploração que alterasse as

características naturais da área que passava a destinar-se à preservação, lazer e benefício das

gerações futuras (Miller, op. cit.).

Para Gonçalves (2002, p. 216) a primeira proposta para a criação de Parques

Nacionais no Brasil surgiu em 1876 (quatro anos após o estabelecimento de Yellowstone),

ainda na época do Império, quando o engenheiro e político André Rebouças sugeriu a criação

do Parque Nacional na Ilha do Bananal e outro em Sete Quedas. Porém, legalmente, apenas

em 1981 surgiu no então território do Acre, através do Decreto nº 8.843, uma Reserva

Florestal que, todavia, não chegou a ser implantada.

A partir daí a criação de parques prosseguiu por vários outros países, como

Canadá (1885), Nova Zelândia (1894), Austrália, África do Sul e México (1898), Argentina

(1903), Chile (1926), Equador (1934), Venezuela e Brasil (1937).

Somente em 1986 foi criado o primeiro parque estadual brasileiro com fins de

preservaç, conhecido como Parque da Cidade, em São Paulo. Já o primeiro parque nacional

foi implantado apenas em 1937, conhecido como Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de

Janeiro. Em seguida foram criados os parques de Iguaçu, no Paraná e o da Serra dos Órgãos,

também no Rio de Janeiro (ambos em 1939).

A falta de critérios e padrões para seleção e manejo de áreas visando à criação

de unidades de conservação se tornou objeto de discussões internacionais e em 1940 a cidade

Page 31: Parque Águas Do Cerrado

21

de Washington realizou uma Convenção sobre a Proteção da Natureza e Preservação da Fauna

e Flora, estabelecendo definições para Parque Nacional, Monumento Natura e Reserva

Silvestre.

Até meados da década de 70 no Brasil,as unidades de conservação eram criadas

em sua maioria por suas belezas cênicas e oportunismo político, ao invés de critérios técnicos

e científicos.

No início da década de 80 foram implantadas no Brasil nas estâncias federal,

estadual e municipal a Política Nacional de Meio Ambiente. Essa política questionava três

importantes aspectos daquele momento: o primeiro era o começo do pensamento quanto aos

impactos ambientais resultantes das grandes obras executadas num momento prévio

(hidrelétricas, rodovias, poluição industrial entre outros); o segundo era que o país começava

a abertura política e havia a necessidade da criação de meios para a participação da população

nas decisões do governo; e por fim, a pressão exigida por órgãos financeiros internacionais

que demandava dos países em desenvolvimento a avaliação da dimensão ambiental na

solicitação de recursos para futuros programas e projetos a serem desenvolvidos.

A política ambiental define então seus objetivos na Lei Federal nº 6.902, de 27 de

abril de 1981, que em seu Art. 8º estabelece:

"Havendo relevante interesse público, os poderes executivos Federal, Estadual ou

Municipal poderão declarar determinadas áreas dos seus territórios de interesse para

a proteção ambiental, a fim de assegurar o bem-estar das populações humanas, a

proteção, a recuperação e a conservação dos recursos naturais”.

Também é criado o CONAMA- Conselho Nacional do Meio Ambiente- o qual

define pela Resolução nº 10, de 14 de dezembro de 1988, no Art. 1º o que são APAs:

“As Áreas de Proteção Ambiental – APAs são unidades de conservação,

destinadas a proteger e a conservar a qualidade ambiental e os sistemas naturais ali

existentes, visando à melhoria da qualidade de vida da população local e também

objetivando a proteção dos ecossistemas regionais”.

A primeira APA criada pelo Governo Federal foi a APA de Petrópolis, no Estado

do Rio de Janeiro (decreto nº 87.561/1982).

Page 32: Parque Águas Do Cerrado

22

Figura 29: CARTA IMAGEM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE PETRÓPOLIS – RJ 2006

Fonte: IBAMA.

As APAs são também compreendidas como locais de planejamento e gestão

ambiental de extensas áreas que possuem ecossistemas de importância regional, englobando

um ou mais atributos ambientais. Necessitam de um ordenamento territorial orientado para o

uso mais sustentável dos recursos naturais, elaborado por meio de processos participativos.

A APA destaca-se das demais unidades de preservação por ter como

objetivo a experimentação de formas concretas de desenvolvimento sócio-

econômico, em harmonia com os preceitos ecológicos e as normas de

preservação ambiental. Em suma, o processo de gestão direcionado pela criação de

um espaço ideal para as práticas de Desenvolvimento Sustentável. FRANCO (1997,

p. 110, grifo da autora)

Logo, as APAs foram criadas visando conservar a diversidade de ambientes, a

proteção da vida silvestre, à manutenção de bancos genéticos e espécies raras da biota

regional, bem como dos demais recursos naturais, através da adequação e orientação das

atividades humanas na área, o que requer ordenação e disciplina de atividades que estejam de

acordo com as potencialidades e obstáculos do meio físico- ambiental no local.

O valor das unidades de conservação ganhou um novo apoio ao constar na

Constituição Federal de 1988 como responsabilidade do Poder Público em todas as unidades

da Federação, a definição de espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente

protegidos, podendo altera-los ou cancela-los somente através de lei (§ 1º Art. 225

Constituição Federal). Mesmo assim,a instituição do Sistema Nacional de Unidades de

Page 33: Parque Águas Do Cerrado

23

Conservação da Natureza- SNUC ocorreu só após 12 anos, com a aprovação da Lei n° 9.985,

de 18 de julho de 2000, regulamentada pelo Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002.

O SNUC divide as Unidades de Conservação-UCs em diferentes objetivos de

manejo, com 12 categorias distintas que são agrupadas em dois grupos:

a) Unidades de Proteção Integral: tem como objetivo preservar a natureza, sendo

admitido apenas o uso indireto de seus recursos naturais. Composto por cinco

categorias, entre elas o Parque Nacional.

b) Unidades de Uso Sustentável: tem como objetivo compatibilizar a conservação da

natureza com o uso sustentável de parcela de seus recursos naturais. Composto por

sete categorias, uma das quais a Área de Proteção Ambiental - APA.

TABELA 1- Número e área total das diferentes categorias de unidades de conservação estaduais

e federais no Brasil (fevereiro de 2005) UNIDADES DE

CONSERVAÇÃO

FEDERAIS

Nº ÁREA

(HECTARES)

UNIDADES DE

CONSERVAÇÃO

ESTADUAIS

Nº ÁREA

(HECTARES)

PROTEÇÃO INTEGRAL PROTEÇÃO INTEGRAL

Parque nacional 54 17.493.010 Parque estadual 180 7.697.662

Reserva biológica 26 3.453.528 Reserva biológica 46 217.453

Estação ecológica 30 7.170.601 Estação ecológica 136 724.127

Refúgio de vida silvestre 1 128.521 Refúgio da vida silvestre 3 102.543

Monumento natural 0 0 Monumento natural 2 32.192

Subtotal 111 28.245.729 Subtotal 367 8.773.977

USO SUSTENTÁVEL USO SUSTENTÁVEL

Floresta nacionala 58 14.471.924 Floresta estadual 58 2.515.950

RDS 0 0 RDS 9 8.277.032

Reserva extrativista 36 8.012.977 Reserva extrativistab 28 2.880.921

APA c 29 7.666.689 APA 181 30.711.192

ARIEd 18 43.394 ARIE 19 12.612

Subtotal 141 30.194.984 Subtotal 295 44.397.707

TOTAL 252 58.440.704 662 53.171.684 aReserva de Desenvolvimento Sustentável

b Inclui três florestas extrativistas em Rondônia, totalizando 1.438.907 ha

cÁrea de Proteção Ambiental

dÁrea de Relevante Interesse Ecológico

Fonte: Brandon, Katrina; Rylands, Antony. Unidades de conservação brasileiras. MEGADIVERSIDADE, Belo

Horizonte, MG, v.1, n. 1, p. 32, Jul. 2005.

Em Mato Grosso do Sul, segundo o Zoneamento Ecológico Econômico ,

existem cerca de 190.497 ha de Parques Estaduais, 32.348 ha de APAs estaduais e 6.703 ha

de RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Natural).

Page 34: Parque Águas Do Cerrado

24

Figura 30: Áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas) e assentamentos em Mato

Grosso do Sul.

Fonte: Zoneamento Ecológico Econômico do Mato Grosso do Sul, v. 1, p. 108.

Segundo dados obtidos no Perfil Socioeconômico de Campo Grande de 2011, no

âmbito municipal existem três Unidades de Conservação da Natureza instituídas legalmente

pelo Poder Público Municipal, são elas: Área de Proteção Ambiental dos Mananciais do

Córrego Lajeado- APA do Lajeado; Área de Proteção dos Mananciais do Córrego Guariroba-

APA do Guariroba; e Área de Proteção Ambiental da Bacia do Córrego Ceroula –APA do

Ceroula e ocupam uma área de aproximadamente 106. 037,00 ha, destes 66.954,00 ha

correspondentes a APA do Ceroula.

Page 35: Parque Águas Do Cerrado

25

Figura 31: APAs localizadas no munícipio de Campo Grande

Fonte: Secretária Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Campo Grande – SEMADUR,

2012

Page 36: Parque Águas Do Cerrado

26

4. ASPECTOS DA AREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BÁCIA DO CÓRREGO

CEROULA- APA DO CEROULA

4.1 CRIAÇÃO

A primeira ideia de converter a bacia do córrego Ceroula em uma Unidade de

Conservação surgiu registrada em um projeto que integra uma carta-consulta, de novembro de

1994, feita pela Prefeitura Municipal de Campo Grande e encaminhada ao Ministério do Meio

Ambiente e da Amazônia Legal,chamado “Implantação da Unidade de Conservação da Sub-

Bacia do Córrego Ceroula e da Bacia do Alto Paraguai”. O projeto possuía uma intenção de

transformar parte da “(...) Bacia do Ceroula, com uma área de 33.760 hectares, local de rara

beleza, numa Unidade de Conservação Pública, tendo em vista a facilidade da mesma do

ponto de vista ecológico, social e econômico, para o município de Campo Grande”. Não

obstante não foram encontrados registros dos desenvolvimentos dessa intenção.

Em 2000 o então Diretor de Meio Ambiente do PLANURB realizou uma

apresentação a respeito do conceito de APA e as decorrências do ajuste da região nessa

categoria. Foi organizada uma proposta de projeto denominado “Área de Proteção Ambiental-

APA Furnas do Ceroula”. A proposta apresentava como justificativa os aspectos:

potencial para pecuária, produção de hortifrutigranjeiros e exploração

mineral( basalto);

potencial para exploração do lazer e esportes associados ao ecoturismo,

tais como pesque-pagues, trilhas, ciclismo, rapel, etc. ;

a existência, em Campo Grande, de uma classe média ávida por este tipo

de alternativas de lazer, dentre outras tais como os hotéis fazenda e as

pousadas rurais (SPAs) para combate ao “stress” urbano, associados a

disponibilidade de produtos “orgânicos ou agroecológicos”.

Explicava-se a denominação de “Furnas do Ceroula” devido ao córrego Ceroula

possuir uma região de relevo acidentado, constituído por vales íngremes, com afloramentos

rochosos e presença de cachoeiras, furnas e solos férteis, além de constituir-se na única área

da Bacia do Paraguai- BAP em Campo Grande.

Page 37: Parque Águas Do Cerrado

27

Outro fator relevante era a preocupação quanto ao futuro da região, afirmando

que:

A transformação da microbaciado CEROULA em uma APA, prende-se ao fato que

todo esse potencial encontra-se hoje sob processos de degradação e desperdício dos

recursos ambientais devido a dispersão e desintegração das intervenções de

ocupação e uso. É urgente a necessidade de uma ação de ordenamento estratégico e

integrado que contemple efetiva parceria entre o poder público, os proprietários e

moradores da região, dentre outros segmentos (universidades) para reversão do atual

quadro negativo. O processo de discussão e transformação da microbacia em uma

APA surge como a solução mais interessante.

Em 30 de Julho de 2001, o Executivo Municipal publicou o decreto n° 8.264,

de 27 de Julho de 2001 (anexo 1), que cria a Área de Proteção Ambiental- APA do Ceroula,

localizado ao norte de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, ocupando uma área com cerca de

66.954 ha.

Figura 32: APA em relação ao munícipio de Campo Grande e sua região urbana

Fonte: SEMADUR, 2012, modificado pela autora.

Page 38: Parque Águas Do Cerrado

28

Seu artigo 1º menciona as quatro finalidades que devem servir de base ao

processo de implantação e consolidação da APA do Ceroula. Sendo:

I- recuperar, proteger e conservar os cursos d’água que compõe a bacia

do Córrego Ceroula;

II- proteger os ecossistemas locais, suas paisagens notáveis, o solo e

demais atributos naturais que possam ser considerados relevantes;

III- resguardar e valorizar aspectos culturais históricos associados às

comunidades locais e à região;

IV- promover programas, projetos e ações de gestão e manejo da área

que contribuam com a sustentabilidade econômica e social de

atividades e empreendimentos compatíveis com as finalidades

constantes nos incisos anteriores.

Já seu artigo 2º, define medidas a serem tomadas para sua implantação e

funcionamento, dando destaque a elaboração de um plano de manejo que contenha um

zoneamento definindo quais atividades deverão ser incentivadas, toleradas, restringidas e

proibidas. É importante lembrar que até o momento nenhum plano de manejo foi elaborado

pelo Poder Público Municipal.

O artigo 3º proíbe ou restringe alguns empreendimentos ou atividades, como: a

implantação de empreendimentos ou atividades industriais ou equivalentes que possam ser

poluidoras e assim degradar os mananciais de água; o parcelamento urbano; a realização de

obras de terraplanagem e abertura de canais, se esses causarem sensíveis alterações ecológicas

locais; atividades capazes de provocar erosões ou assoreamentos; e, atividades que ameacem

extinguir as espécies raras da biota regional.

4.2 LOCALIZAÇÃO E INSERÇÃO REGIONAL

A APA do Ceroula esta situada na região norte do município.

Em 1977, o Estado de Mato Grosso do Sul foi criado, pela Lei Complementar

nº 31, de 11 de outubro de 1977, e em 1979, instalado seu primeiro governo.

Antes constituía a parte meridional do estado do Mato Grosso, do qual foi

desmembrado, porém a história e a colonização da região, onde hoje se localiza a unidade

federativa, é bastante antiga.

Page 39: Parque Águas Do Cerrado

29

Segundo o Zoneamento ecológico- econômico de Mato Grosso do Sul – ZEE MS

o povoado mais antigo aqui registrado é Santiago de Xerez, ainda como território espanhol.

Figura 33: LOCALIZAÇÃO APA DO CEROULA.

Fonte: Elaborado pela autora,com base em imagens retiradas da enciclopédia eletrônica WIKIPÉDIA.

O estado é uma das 27 unidades federativas do Brasil e está localizado ao sul da

região Centro-Oeste. Tem como limites os estados de Goiás (nordeste), Minas Gerais

(leste), Mato Grosso (norte), Paraná (sul) e São Paulo (sudeste), além daBolívia (oeste) e

o Paraguai (oeste e sul).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ocupa uma

superfície de 357.145,836 km², sendo 22,2% da superfície da Região Centro-Oeste do Brasil e

4,2% da área territorial brasileira (de 8 514 876,6 km²), sendo pouco maior que a Alemanha.

Possui 78 municípios, 165 distritos e com uma densidade demográfica de 6,86 hab/km². A

população é de 2.449.024 habitantes, conforme Censo Demográfico de 2011(IBGE, 2011).

Em relação aos biomas nacionais os cerrados recobrem a maior parte do

estado, também possui a maior parcela brasileira do Pantanal e ainda há a presença de

Pampas e Mata Atlântica.

O Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo em

biodiversidade com a presença de diversos ecossistemas, riquíssima flora e fauna, porém

Page 40: Parque Águas Do Cerrado

30

segundo a página eletrônica do IBAMA é um dos mais ameaçados do mundo e tem somente

0,85% de sua área em unidade de conservação.

Figura 34: Cobertura Vegetal de Mato Grosso do Sul e Biomas.

Fonte: Governo do Mato Grosso do Sul, 2008, v. 3, p. 17.

Em 1980 o Governo do Estado criou uma comissão para realizar o

Macrozoneamento Industrial de Mato Grosso do Sul. De acordo com a sua publicação a bacia

do Córrego Ceroula, enquadra-se como “bacia a ser preservada” para atender futura demanda

de abastecimento público da sede municipal.

Campo Grande, no âmbito municipal, com 8.092,97km² e uma área urbana de

35.302 ha, ocupando 2,16% da área do Estado. Tem como divisa os municípios de Jaraguari,

Rochedo, Nova Alvorada do Sul, Ribas do Rio Pardo, Sidrolândia, e Terenos.

A sede do munícipio esta localizada nas imediações do divisor de águas das

bacias do Rio Paraná e Paraguai. Teve sua ocupação norteada pela presença de água, nas

confluências dos Córregos Prosa e Segredo, propagando a atividade agrícola e pecuária.

Em 1899 passa a constituir a Vila de Campo Grande, enquadrada na categoria de

município (Campo Grande, 2011).

Page 41: Parque Águas Do Cerrado

31

Dois distritos fazem parte do município, são eles:

Anhanduí (distante da APA do Ceroula, situada na direção Sul da Sede); e

Rochedinho (com a maioria de seus limites inseridos na APA do Ceroula).

Campo Grande além das três Unidades de Conservação (APA do Lajeado, APA

do Guariroba e APA do Ceroula) abriga outras áreas verdes distribuídas nas regiões urbanas

do munícipio.

Na região Central se encontra o Parque Florestal Antônio Albuquerque,

comumente conhecido como Horto Florestal; na região do Prosa estão o Parque das Nações

Indígenas, o Parque Estadual do Prosa e os Parques Municipais: Consul Assaf Trad e Parque

do Sóter; na Região do Segredo está o Parque Estadual das Matas do Segredo e o Parque

Municipal Água Limpa; na Região do Anhanduizinho está o Parque Ecológico Anhanduí e a

Reserva Particular do Patrimônio Natural da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

(UFMS) e; na Região do Bandeira se localiza a Estação Ecológica do Dahma e o Parque da

Lagoa Itatiaia.

A partir do ano 2000 os Parques Lineares começaram a ser implantados na

cidade, são eles: do Segredo, do Lagoa, do Cabaça, do Bandeira, do Lagoa e do Imbirussu.

Tais áreas verdes não se enquadram entre as categorias de Unidade de

Conservação do SNUC, porém são muito importantes para a conservação ambiental da

cidade.

4.3 CONDICIONANTES FÍSICAS

4.3.1 HIDROGRAFIA

A APA do Ceroula é composta pela maior parcela de rede de drenagem da

Bacia do Córrego Ceroula. Suas águas também drenam parte dos municípios vizinhos de

Jaraguari, Terenos e Rochedo

. O Córrego Ceroula possui dois grandes afluentes. O primeiro é o Córrego

Piraputanga, que nasce na área da APA, atravessa a divisa municipal de Terenos e deságua na

margem esquerda do Ceroula alguns quilômetros antes da foz do Córrego Angico, que é o

Page 42: Parque Águas Do Cerrado

32

segundo maior afluente, situado na margem direita e formado pelos córregos Mateira e

Campo Alegre. Também podemos citar os seguintes afluentes:

Pela margem direita: córrego Inferninho, córrego Limpo e córrego Seco.

Pela margem esquerda: córrego Estiva e córrego Vertente Comprida.

Figura 35: Bacia do córrego Ceroula no contexto dos municípios.

Fonte: QUEVEDO, R.; STEFANES, M.; FILHO, A.; COPATTI, A. 1985 -2007.

Os córregos que possuem nascentes dentro da APA são: córrego Inferninho,

córrego Limpo, córrego Seco e córrego Piraputanga. O córrego Angico é o único que constitui

divisa municipal e também é limite da APA. Já os córregos Estiva e Vertente comprida estão

fora do município e fora da APA.

Page 43: Parque Águas Do Cerrado

33

Figura 36: Limite APA do Ceroula e Bacia, geolocalizados.

Fonte: elaborado pela mestranda Camila Mioto, curso de geografia UFMS, 2012.

Quanto à qualidade das águas os córregos Ceroula e Piraputanga foram

enquadrados como pertencentes à Classe especial pelo CECA (Conselho Estadual de Controle

Ambiental), significa que suas águas devem destinar-se à preservação do equilíbrio natural

das comunidades aquáticas, e quando destinadas ao abastecimento doméstico, não precisam

de prévia desinfecção, ou quando necessário apenas uma simples desinfecção.

Page 44: Parque Águas Do Cerrado

34

Figura 37: Mapa Hidrográfico APA do Ceroula (sem escala)

Fonte: SEMADUR,2012.

Page 45: Parque Águas Do Cerrado

35

4.3.2 SOLOS

Segundo Gonçalves (2002, p. 61) existem cinco classes de solo na APA do

Ceroula, são elas:

Latossolo Vermelho- Escuro álico: significa que possui saturação por

alumínio, ou seja, grande potencial para utilização intensiva, normalmente as

áreas ocupadas por esses solos encontram- se desprovidas da vegetação original

(cerrado) e são utilizadas para lavouras de soja, milho e etc.

Latossolo Roxo distrófico: Possui variação quanto a saturação por bases,

normalmente possuem um potencial nutricional mais elevado que os demais

Latossolos, favorencendo atividades pastoris.

Glei Pouco Húmico distrófico: costumam ocorrem nas planícies marginais de

cursos d’água. Na APA do Ceroula surge ao longo do Córrego Ceroula( da foz

até à montante, próximos dos afluentes: córrego Angico e Piraputanga).

Areais Quartzosasálicas: constituídas predominantemente por grãos de areia,

ou seja, baixa capacidade de retenção de umidade e elevada susceptibilidade à

erosão.

Solos Litólicoseutróficos: costumam ocupar áreas dissecadas de relevo com

mais rugosidade e nas bordas do planalto, limítrofes com a depressão

pantaneira. Apresenta uma série de limitações naturais, como a topografia

desfavorável, por isso é recomendado que tais solos sejam destinados a

preservação da fauna e da flora.

Page 46: Parque Águas Do Cerrado

36

Figura 38: TIPOS SOLOS APA DO CEROULA (sem escala)

Fonte: GONÇALVES, 2002

Page 47: Parque Águas Do Cerrado

37

4.3.3 VEGETAÇÃO

O Cerrado é um tipo de vegetação que constitui a fitogeografia brasileira, já

ocupou 25% do território brasileiro, fato que lhe dá a classe de segunda maior cobertura

vegetal do país, excedida apenas pela floresta Amazônica. Porém, com o passar dos anos o

Cerrado diminuiu drasticamente, esse que já ocupou uma área de dois milhões de km2, hoje

ocupa aproximadamente 800 mil km2. Essa expressiva diminuição se deve à intervenção

humana no ecossistema.

De acordo com os mapas encontrados, foram identificadas as seguintes formações:

Floresta Estacional Semi-decidual

o Sub-classe aluvial (conhecida como Mata e Mata ciliar)

Savana (Cerrado)

o Sub-classe arborizada (conhecida como Campo Cerrado, Cerrado ou

Cerrado Aberto)

o Sub-classe florestada (conhecida como Cerradão)

o Sub-classe arborizada e florestada

Encrave

o Savana/ Floresta Estacional Decidual (conhecida como Mata)

Sistema Secundário (pastagens cultivadas, áreas agrícolas e reflorestamentos)

o Áreas onde a vegetação nativa foi substituída por agropecuária.

Page 48: Parque Águas Do Cerrado

38

Figura 39: VEGETAÇÕES EXISTENTES APA CEROULA (sem escala)

Fonte: GONÇALVES, 2002

Page 49: Parque Águas Do Cerrado

39

5 PROJETO: PARQUE ÁGUAS DO CERRADO

5.1 SOBRE A DENOMINAÇÃO DO PARQUE

Através do desenvolvimento do trabalho foram recolhidas diversas informações a

respeito da área de intervenção que foram apresentadas ao longo dessa monografia. Mais

alguns fatos se destacaram dos demais, como por exemplo: a região estar situada nas escarpas

de Maracaju, sendo divisor de água das bacias do Rio Paraná e Paraguai, definida como

Bacia do Alto Paraguai-BAP. Assim como, a presença predominante do bioma Cerrado, em

especial, da formação vegetal Cerradão, fatores esses que inspiraram a escolha do nome para

o parque proposto.

5.2 ASPECTOS REFERENTES AO USO DO SOLO

Figura 40: USO DO SOLO (sem escala)

Fonte: Gonçalves, 2002, adaptado pela autora.

Page 50: Parque Águas Do Cerrado

40

O entorno da APA é marcado pela cidade de Campo Grande. No extremo

Oeste da sede esta situado o Núcleo Industrial, próximo à estação ferroviária INDUBRASIL.

Junto à estação cresceu a chamada Vila Entroncamento.

Outro aglomerado próximo é a Vila Rochedinho, sede do Distrito de

Rochedinho.

A zona rural do entorno é formada basicamente pela ocupação e uso voltados à

agropecuária.

Um aspecto relevante a ser mencionado é que parte da área urbana da capital

esta sobreposta à APA do Ceroula. Uma parcela pequena do noroeste da cidade encontra-se

dentro do limite Sul da APA. Sendo esta parcela parte das Regiões Urbanas do Segredo e do

Imbirussu.

Possuindo algo entorno de 238 propriedades rurais, além dessas propriedades

foram identificadas a existência de loteamentos rurais na APA: Chácara Agrícola Rizolândia ,

Loteamento da Conquista (assentamento rural com 65 lotes, com cerca de 17 ha cada,

ocupando uma área de 1.557,8916 ha) e Loteamentos Santa Cruz do Pontal 1 e 2 (tendência

para chácaras de lazer, com 111 lotes de aproximadamente 20 ha cada, ocupando uma área de

272,3525 ha).

Essas 238 propriedades foram agrupadas nas seguintes categorias:

Minifúndio: área inferior a 15 ha,

Pequena Propriedade: ≥ 15 e ≤ 60 ha;

Média Propriedade: ≥ 60 e ≤ 225 ha;

Grande Propriedade: >225 ha;

Fig. 41: Gráfico mostrando a predominância da pequena propriedade.

Fonte: GONÇALVES, 2002.

Minifúndio21%

Pequena Propriedade

61%

Média Propriedade

6%

Grande Propriedade

12%

Participação das propriedades por Categoria na região da APA do Ceroula

Page 51: Parque Águas Do Cerrado

41

Ainda referente às 238 propriedades, verifica-se que ocupam uma área total de

56.528,9 ha, desses 41.427,55 ha, ou seja, 73,29% são constituídos por pastagem plantada. As

áreas de “reserva florestal” aparecem com 11.711,4 ha, 20,72% do total analisado.

Fig. 42: Gráfico mostrando a predominância das áreas ocupadas por pastagem plantada

Fonte: GONÇALVES, 2002.

As grandes propriedades possuem como principal atividade econômica a

pecuária de corte. Em muitas é comum a exploração de atividades de lazer, tais como: aluguel

para realização de festas; clubes; turismo rural e voo livre.

Por fim, a existência de áreas com grande beleza natural tem inspirado alguns dos

proprietários locais, que começaram a notar a importância da conservação de tais sítios,

vislumbrando o seu aproveitamento econômico através de atividades de lazer e turismo.

Fig. 43: VOO LIVRE

Fonte: GONÇALVES, 2002

Fig. 44: PRODUÇÃO DE MUSSARELA EM

MINIFÚNDIO

0

50000

Área

em he

ctares

Tipos de ocupação e uso

Composição dos diferentes tipos de ocupação e uso das propriedades na região

Page 52: Parque Águas Do Cerrado

42

Fig. 45: TURISMO RURAL

Fonte: GONÇALVES, 2002

Fig. 46: GRANDE FAZENDA DEDICADA Á

AGROPECUÁRIA

Sendo assim, o parque funcionaria trazendo a opção de lazer e educação para os de

pequenos proprietários, prevenindo futuros desmatamento advindos da agropecuária, além de

reforçar as atividades já existentes do setor turístico.

5.3 DELIMITAÇÃO DA ÁREA

A delimitação da área (cor vermelha) levou em consideração os seguintes

aspectos: os dois pontos de interesse, a cachoeira do inferninho (ponto vermelho da parte

superior) e as ruínas da antiga usina (ponto vermelho da parte inferior), os limites que foram

encontrados das propriedades existentes (quatro estâncias, na cor cinza escuro), somados à

mata nativa (verde claro).

Figura 47: Mapa delimitações

Fonte: elaborado pela autora

Figura 48: ÁREA DE INTERVENÇÃO

Fonte: elaborado pela autora

Page 53: Parque Águas Do Cerrado

43

Para reafirmar essa situação MacHarg (apud Tardin, 2008) diz que:

Os elementos cênicos dão caráter a um lugar. Permitem abarcar sua

conformação física e destacar seus atributos mais significativos (as

formas singulares do relevo, da hidrografia e da vegetação). Estes

elementos funcionam como referentes e como marco do lugar,

constituindo parte de sua identidade territorial e do potencial visual de

sua paisagem.

Assim como os espaços remanescentes de ocupação costumam ser testemunhas da

história e representativos de valores, os quais que merecem ser identificados e avaliados.

A área totaliza 570 ha, dos quais 410 ha são de matas nativas a preservar.

Permanecem 160 ha, os quais foram separados em áreas a serem recuperadas e áreas a serem

projetadas.

Figura 49: CACHOEIRA

INFERNINHO

Figura 50: RUÍNAS DA USINA

5.4 BREVE HISTÓRICO INFERNINHO

Este é um local de grande beleza paisagística originada por processo

de modelamento de escarpas da Serra de Maracaju, fruto de erosão

natural fluvial, formando então vales e cachoeiras profundas”.

PEREIRA (1995, pg. 19)

Em 1995 essa área foi citada no Plano Diretor de Campo Grande como área de

interesse ambiental pela lei complementar nº 05 de 22 de Novembro de 1995 , que diz:

Page 54: Parque Águas Do Cerrado

44

Área compreendida pelas matas ciliares dentro da faixa de (cem)

metros de cada lado do leito do Córrego, desde sua nascente 500

(quinhentos) metros após a cachoeira do local denominado Inferninho.

Existem diferentes versões a respeito do surgimento do nome “Inferninho”.

Muitos acreditam que é assim denominado devido ao grande número de cadáveres que eram

jogados na região no passado.

Segundo Machado (apud Pereira, 1995), o local recebe esse nome porque as

pessoas da região viam o Vale como um buraco profundo e feio, passando a chama-lo de

Inferninho. Algumas histórias eram contadas a respeito da região.

Uma delas era sobre dois irmãos que eram donos de uma fazenda nas

proximidades do vale aonde nasce o Córrego Inferninho e que um dos irmãos queria ficar com

toda a terra para ele, matando então o outro irmão dentro da própria fazenda.

Outra lenda se refere ao “Bicho do Inferninho” ou “Bicho da Furna”, que aparecia

algumas vezes na região e quem o visse, morria logo em seguida. Então, sempre que

apareciam pessoas ou animais mortos, sem um motivo aparente, a causa era dominada ao tal

“Bicho do Inferninho”. (Pereira, 1995, p. 21-22)

Com o passar dos anos os donos das fazendas foram mudando, assim como as

pessoas que ali moravam, as matas foram sendo substituídas por pastagens e plantações e da

mesma maneira as lendas foram sendo esquecidas.

5.5 IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA, SOLUÇÕES E PARTIDO

A solução encontrada para a proposta do parque foi uma parceira público-privada,

pois não seria viável a desapropriação de tamanha área. A prefeitura funcionaria como

parceira no auxílio da manutenção e manejo da área de preservação, o proprietário cobraria o

ingresso para fins lucrativos e de manutenção do parque, assim como com os equipamentos

que seriam instalados (restaurantes, galerias, lanchonetes, entre outros) e as universidades

teriam um centro de pesquisa para monitoramento da área. A ideia é que mesmo sendo

cobrada a entrada existisse, pelo menos, em um dia da semana a entrada gratuita a fim de

permitir que todos possam utilizar o parque, assim como preços diferenciados para os

moradores da região abrangente.

Page 55: Parque Águas Do Cerrado

45

O projeto procurou atender aos conceitos, precedentes e termos de referência

estudada, explorando potencialidades existentes e criando ambientes de interesse através do

plantio e programa.

Busca refletir a paisagem local, Cerrado, em suas fitosionomias típicas (Campo

limpo, Campo Sujo, Veredas, Cerrado Ralo, Cerrado Denso, Matas Secas e Cerradão) sem

abrir mão do caráter atrativo da vegetação e da integração com o bioma que o cerca.

O desenho busca adaptar e harmonizar as configurações da paisagem com a

ocupação humana, como prevê a definição de Parques Regionais.

O projeto se divide em 4 zonas:

Preservação: Áreas de vegetação nativa e capacidade de suporte ao uso relativa;

Recomposição: recuperação natural e induzida de áreas que sofreram alteração;

Uso restrito: viveiro, centro de pesquisa, caminhos de serviço e trilhas;

Uso intensivo: demais áreas do parque.

Qual o objetivo?

O objetivo é deter a degradação dos recursos naturais em evolução, manter a

vegetação nativa remanescente e recompor áreas já degradadas. As demais áreas do parque

buscam o respeito mútuo entre a natureza e o homem através de uma intervenção positiva,

pois nem sempre a ação do homem é deformadora.

Através de levantamentos anteriormente realizados, respectivamente por Pereira

(1995) e Gonçalves (2002) foi possível identificar alguns aspectos relevantes à vegetação

existentes no local.

A mata ciliar ao Inferninho é composta por vegetação secundária e apresenta

características de formação de Cerradão, com extratos: arbóreo, sub- arbustivo e herbáceo.

Ainda com a presença de muitas árvores jovens.

As espécies sugeridas para recomposição do parque foram escolhidas através de

um estudo de recomposição da Embrapa Cerrados, juntamente com informações dos livros

Árvores brasileiras (Lorenzi, 2008; Lorenzi, 2009) , são elas: pindaíva (Duguetia lanceolata),

pimenta-de-macaco (Xylopia aromática); peroba (Aspidosperma polyneuron), cambará-do-

Page 56: Parque Águas Do Cerrado

46

mato (Gochnatia polymorpha), jacaratiá (Jacaratia spinosa), piquiá (Caryocar brasiliense),

canafístula (Cassia ferrugínea), sucupira branco( Acosmium subelegans), sucupira preto

(Bowdichia virgilioides), sapuvussu (Dalbergia miscolobium), mulungu (Erythrina

dominguezii), guianã (Lonchocarpus muehlbergianus), canjica (Sweetia fruticosa), pacará

(Enterolobium contortisiliquum), amarelinho (Plathymenia reticulata), monjoleiro (Senegalia

polyphylla), tarumã (Vitex montevidensis), paineira rosa (Ceiba speciosa), veludo (Tachigali

rubiginosa), morcegueiro (Andira inermis), ingá-macaco (Inga sessilis), canela (Nectandra

cissifolia), açoita-cavalo (Luehea paniculata), gambirobeira (Campomanesia eugeníoides),

folha-de-serra (Ouratea spectabilis), novateiro-preto (Triplaris Gardneriana), lobeira

(Solanum lycocarpum), farinha-seca (Ouratea castaneifolia), pau-formiga ( Triplaris

americana), lixa (Aloysia virgata) e melambo ( Drymys brasiliensis).

Para todo o parque, não só na área de reflorestamento, foram usados os

seguintes critérios na escolha de espécies: uso indicado para reflorestamento ou característico

do cerrado, valor ornamental (pela forma ou floração) e se possuem frutos, pois as aves

constituem importantes agentes na recomposição vegetal.

Ao longo do parque é possível observar plantios rígidos, enfatizando a

presença do homem como modificador da paisagem e plantios mais livres, assim como na

natureza.

A proposta de plantio é complementada por maciços arbóreos, nativos ou não, que

servem como ponto de referência ao usuário ou como facilitador educativo, no caso dos

maciços perenes ou caducifólios.

Para recomposição do plantio é sugerido um viveiro, o qual foi locado e pré-

dimensionado. Com o seguinte programa:

Área de produção 1: 450 m²

Área de produção 2: 300 m²

Canteiro de rustificação e produção: 740 m²

Galpão de depósitos: 600 m²

Área de pátio expedição: 300 m²

Page 57: Parque Águas Do Cerrado

47

Além da produção o viveiro possui a utilidade de capacitar e ensinar técnicas de

produção aos pequenos moradores da região do entorno e após a recomposição e manutenção

do parque também poderá servir como fonte de renda através da venda de mudas.

O dimensionamento do seguinte viveiro produz cerca de 1 milhão de mudas por

ano e foi realizado tendo como base no viveiro municipal de Campo Grande.

Também é proposta uma base de pesquisas do Cerrado, pré -dimensionada para a

seguinte estrutura: alojamentos (com capacidade para 40 pessoas), refeitório, despensa,

lavanderia, casa de máquinas com gerador de energia, laboratórios, salas de aula e biblioteca.

A qual necessita cerca de 1.200 m². O referido dimensionamento levou em consideração a

base de estudos do bioma do pantanal, existente em Paço do Lontra- MS.

A estratégia de circulação é divida em vias principais e secundárias, a via

principal busca passar pelos principais atrativos do programa projetadas para o usuário com

disponibilidade e intenções de permanecer mais tempo no parque, enquanto as vias

secundárias são caminhos mais rápidos aos usuários que buscam locais específicos, como de

eventos.

Os caminhos principais possuem 10m de largura, podendo ser percorridos a pé, de

bicicleta ou por pequenos carros elétricos alugados (como em Inhotim) ou gratuitos para

portadores de necessidades especiais, que facilitariam o acesso aos locais mais distantes. Já os

caminhos secundários possuem dimensões reduzidas, 5m, e se restringem apenas a circulação

de pedestres.

Todos os percursos se adaptam a topografia existente, pois estão dentro do limite

de acessibilidade de 8,33%, como mostram as pranchas. Exceto as trilhas, pois ambas se

direcionam para regiões de fundo de vale, e a região da cachoeira do Inferninho, onde se

localiza uma proposta de mirante. As trilhas tem trajeto já definido e permitem que o usuário

conheça os espaços de vegetação nativa e recomposta.

Espaços com água em forma de espelho d’agua ou lagos permeiam o percurso,

hora com função de espelhos para contemplação e hora para interatividade. Quanto aos lagos

a ideia é que a água seja bombeada do córrego e depois retorne ao mesmo por gravidade.

O programa leva em consideração a diversidade de usos que a população venha

buscar, apresentando espaços que possam ser apropriados e adaptados a diversas funções e

Page 58: Parque Águas Do Cerrado

48

diversos usuários, com equipamentos de uso mais “dinâmicos” e de usos mais silenciosos e

reservados. Muitas das atividades reforçam a população a importância do parque para o bem

estar humano e para preservação.

O parque se divide em três setores: cultural, educação e atividades de lazer com

caráter mais esportivo. Embora esses setores estejam separados por uma barreira física

(vegetação nativa) são elementos complementares e conectados. Os setores serviriam como

facilitadores caso fosse necessária a implantação do projeto em diferentes etapas.

Cada setor possui acesso, estacionamento e ponto de ônibus, sendo que em um

dos casos a distância entre um acesso e outro é maior que os 250 m adotados como

convenção. Os acessos são todos pelo macro anel, vindo pela MS-080 e são marcados por um

pórtico que funciona como marco visual aos transeuntes que circulam pela estrada, reforçando

as entradas do parque. A vegetação ao longo da estrada buscou fechar visuais (em contraponto

as propriedades vizinhas que são abertas) e abrir alguns pontos de paisagens interessantes de

dentro do parque ao usuário do lado de fora, chamando-o a visitar o ambiente.

Programa dos setores:

Setor Cultural - 56 ha:

Caminho das cores, grandes percurso rigidamente marcado por forrações de

cores diversas (floração ou folhas) e coberto por um alto pergolado

minimizando os efeitos do sol, pois não possui sombras advindas de

arborização;

Labirintos vegetais com diferentes alturas e dimensões;

Espaço livre para exposições e feiras;

Arena para apresentações ou cinema ao ar livre no período noturno;

Área para piqueniques;

Área com árvores frutíferas em que os usuários pudessem colhê-las;

Caminho dos contrastes: maciços arbóreos alterando espécies altas, baixas e

com diferentes tipos de copas;

Lagos;

Caminho das águas, o qual o usuário passa por cima do lago para chegar ao

segundo setor;

Page 59: Parque Águas Do Cerrado

49

Trilha usina.

Setor Educacional - 10,2 ha (escolhido para apresentação de projeto mais aprofundado para

apresentação do TFG):

Caminho conhecimento do cerrado: ao longo do percurso é possível percorrer e

conhecer os diversos tipos de cerrado (foi elaborado levando em consideração

as espécies mais frequentes de cada uma das fitofisionomias e também sua

abrangência de cobertura arbórea, segundo estudo da Embrapa Cerrados);

Jardim sensorial;

Estufas com fins educativos representando outros dois importantes biomas

brasileiros: Mata Atlântica e Pantanal;

Borboletário.

Setor esportivo - 23 ha:

Trajeto arborismo;

Pista de bicicross com arquibancada;

Parede de escalada;

Redário;

Playground;

Espaços desníveis ou “cupinzeiro” frequentemente visto nos cerrados o

espaço remete à um local de permanência com desenho inusitado;

Mirante para cachoeira do Inferninho.

O mobiliário projetado se divide em três tipos de bancos, postes de iluminação

alta e baixa e placas informativas. Os bancos são locados nos caminhos em áreas sombreadas

para descanso e também nas áreas de permanência.

Page 60: Parque Águas Do Cerrado

50

6 CONCLUSÃO

De acordo com as informações analisadas e refletidas sobre a atual situação da

ocupação do local e seus efeitos na transformação da paisagem, pode-se compreender a

importância do reconhecimento dos elementos naturais existentes na área de intervenção, que

são precariamente valorizados, como também a necessidade de requalificação de tais áreas

degradadas.

No Brasil mais de 80% da população vive e trabalha em meios urbanos, contudo,

nem sempre esses locais possuem as melhores condições, principalmente no que se refere ao

meio-ambiente. Apesar do reconhecimento da importância das áreas verdes urbanas, existe

uma tendência a se “economizar” nos espaços de lazer, especialmente nas regiões mais pobres

e, como consequência há a diminuição da qualidade de vida dos habitantes.

Sendo assim, a criação de um parque na região de intervenção é de grande

importância, tanto para aumento do bem estar humano da população, como para manter a

qualidade da área de preservação, auxiliando no seu manejo e gestão.

Resgatando, por fim, o pensamento de Patrick Gueddes que diz que o urbanismo

não é a arte de fazer, no imaginário, um lugar possível onde tudo esteja bem (utopia), mas de

fazer o melhor e maior para todos os lugares, especialmente onde vivemos.

Page 61: Parque Águas Do Cerrado

51

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