Parque Linear Prainha - Cuiaba

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    IV Encontro Nacional da ANPPAS4,5 e 6 de junho de 2008Braslia - DF Brasil

    Projeto de Interveno Urbana: Parque Linear da Prainha em Cuiab-MT, Uma Ruptura de Paradigmas.

    Geovany Jess Alexandre da Silva (FAU- UnB)Doutorando em Arquitetura e Urbanismo - FAU-UnB. Mestrado em Geografia - UFMT-MT. Graduao em

    Arquitetura e Urbanismo - UFU-MG. Pesquisador do Grupo GEEPI-CNPq-UFMT. Docente do curso deArquitetura e Urbanismo da UNEMAT-MT. E-mail: [email protected]

    Luiz da Rosa Garcia Netto (PPGEO-UFMT)Doutor em Engenharia de Produo - UFSC-SC. Mestre em Engenharia Civil - UFSM-RS. Graduao emGeografia - UFSM-RS. Lder do Grupo de Pesquisa GEEPI-CNPq-UFMT. Docente da Ps-Graduao em

    Geografia da UFMT-MT. E-mail: [email protected]

    RESUMO

    O Parque Linear da Prainha se constitui num projeto utpico de interveno urbana para a cidadede Cuiab, capital do Estado de Mato Grosso, resultado da Dissertao de Mestrado apresentadaao Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso UFMT,no dia 20 de novembro de 2007, e intitulada de Parque Linear da Prainha, Cuiab-MT: UmaRuptura de Paradigmas na Interveno Urbana. A utopia como proposio conceitual visionriade uma nova cidade permeia a necessidade atual de se romper paradigmas urbanos dacontemporaneidade, e assim idealiza uma cidade que respeite as leis ambientais reinventando umespao urbano para o cidado e estabelecendo seu lazer, recreio e convvio social saudvel com

    a natureza dentro de uma proposio sensvel de sustentabilidade urbana. A proposta do ParqueLinear da Prainha recriar um lugar natural esquecido e substitudo pelo homem em seu processode ocupao e modernizao urbana; pois, idealiza a descanalizao e a recuperao do traadooriginal de um crrego localizado na rea central histrica da cidade (antes denominado crregoda Prainha), e que atualmente se encontra retificado, concretado, canalizado e poludo sob aAvenida Tenente Coronel Duarte. A reinveno desse potencial ambiental do crrego da Prainha,com seus meandros de traado sinuoso, revive uma imagem da Cuiab colonial do sculo XVIII;na qual a chamada Prainha constitua-se em uma importante artria hidrogrfica que conectava ocentro da ocupao aurfera da Igreja do Rosrio (hoje rea do centro histrico tombado peloIPHAN) com a regio do Porto Geral, sendo piscoso, navegvel e utilizado como rea de lazerpela antiga populao at meados da dcada de 1960 e 1970. A utopia de cidade que serrecriada a partir da implementao do Parque Linear da Prainha aponta para a necessidadehumana de se repensar seu espao urbano e sua sociedade global; suprimindo as mazelassociais, educacionais e econmicas entre ricos e pobres, propondo um novo modelo dedesenvolvimento em sinergia com o meio ambiente e mais prximo, portanto, do utpico conceitode sustentabilidade mundial.

    PALAVRAS CHAVE: Parque Linear da Prainha para Cuiab-MT; Interveno Urbana Utpica;Planejamento Urbano e Regional; Projeto de Urbanismo.

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    Projeto de Interveno Urbana: Parque Linear da Prainha em Cuiab-MT, Uma Ruptura de Paradigmas.

    INTRODUO

    Reflexo das grandes e rpidas transformaes espaciais a partir da dcada de 1970, aglutinador

    das diversas formas de manifestaes e relaes humanas, conflitos, contradies, poluies,

    ocupaes descontroladas enfim, a cidade contempornea se tornou sinnimo de desordem e

    caos na configurao de um espao complexo em sua essncia. A cidade tambm o lugar do

    poder, da concentrao do capital e das suas diversas formas de produo, assim torna-se um

    espao que produz oportunidades de trabalho e, paradoxalmente, apresenta as maiores

    desigualdades e carncias para uma grande parcela de sua populao. Diante desse repertrio de

    problemas, o urbanismo vem se adaptando no decorrer dos ltimos sculos e tentando responder,

    em teorias ou projetos, s necessidades e exigncias desse espao, com suas condicionantes e

    variveis de fatores sociais, econmicos, culturais, polticos e, essencialmente, ambientais.

    A capital mato-grossense de Cuiab uma imagem desse processo global de construo das

    cidades capitalistas, especialmente quando analisada a partir do seu centro histrico, que o

    objeto desse trabalho. A antiga cidade colonial do sculo XVIII, de ocupao bandeirista (Figuras

    1, 2 e 3 apresentam a evoluo urbana da cidade at o sculo XXI), j no apresenta as

    caractersticas de outrora. A cidade de Cuiab se transfigurou em uma metrpole conurbada ao

    municpio de Vrzea Grande, com uma regio violenta, impermeabilizada, poluda, degradada e

    congestionada. O objetivo desse trabalho propor uma realidade alternativa e diversa dessecontexto atravs da implementao do Parque Linear da Prainha, assim uma nova cidade seria

    possvel, com qualidade ambiental e humana. Uma cidade ideal que respeite sua histrica

    ocupao, considerando a cultura ribeirinha e a do caboclo, resgatando a cuiabania tradicional

    que tem por necessidade se relacionar com a natureza e sua religiosidade.

    A regio da antiga Prainha o limite linear e objeto da interveno urbana desta proposta, pois

    essa rea expressa condicionantes importantes como um patrimnio arquitetnico expressivo no

    contexto histrico do cerrado no Centro-Oeste brasileiro, alm de ser uma rea constituda por

    edifcios simblicos e emblemticos para a capital. Atualmente, tambm uma das reas mais

    degradadas e densas da cidade, teve seu crrego canalizado e retificado entre os anos de 1960 e

    1970, interveno que esconde sob a atual Avenida Tenente Coronel Duarte um curso dgua

    poludo de esgoto e intensamente depreciado pela sociedade. A cidade de Cuiab torna-se refm

    de um intenso surto de expanso urbana entre os anos 1970 e 1980 que subjuga a cultura local e

    imprime forte presso especulativa sobre o centro histrico. Isso culmina com a descaracterizao

    ou destruio de vrias edificaes coloniais, situao que expressa a ideologia do moderno e

    avano da fronteira capitalista para o Centro-Oeste, bem como delineia uma capital mato-

    grossense que negligencia de seu meio natural caracterstico de cerrado e desagrega sua

    paisagem urbana e ambiental qualitativa de outrora.

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    1. O PORQU DA INTERVENO URBANA NO CONTEXTO ATUAL DA AVENIDA

    TENENTE CORONEL DUARTE

    Considerando o fato de este Parque Linear estar intervindo na atual Avenida Tenente Coronel

    Duarte (antigo crrego da Prainha), esta que constitui uma rea consolidada, de intenso uso e

    ocupao do solo urbano densificado, a proposio transformadora e radical frente leitura

    urbana contempornea da capital. A antiga Prainha se apresenta transfigurada atualmente, desdea dcada de 1960, em uma via estrutural de fluxo intenso e de alto impacto na urbe. Tambm

    Figura 1Planta da Villa do Cuiab, cortada pelo Crrego da Prainha at o encontro com o Rio Cuiab, naregio do Porto Geral, meados do sc. XVIII. Fonte: Arquivo Pblico do Estado Lauro Portela, 2007. /Org.:SILVA Geovan J. A. 2007.

    Figura 2Prospecto da Villa do Bom Jesus de Cuiab, de traado colonial. Imagem do acervo do MuseuBotnico Bocage em Lisboa, em 1790; desenhado por Joaquim Jos Freire/Jos Joaquim Codina. Fonte:SIQUEIRA, 2006: 109. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2007.

    Figura 3Vista tradicional de Cuiab a partir da torre da Embratel, junho de 2002. Observa-se o Parquedo Morro da Luz e seu potencial paisagstico em contraste com a cidade e seus edifcios. A Avenidaparalela ao Parque a Tenente Coronel Duarte, popular Avenida da Prainha. Fonte: SIQUEIRA, 2006: 109./Org.: SILVA, Geovany J. A., 2007.

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    temos nessa regio linear a existncia de um comrcio pujante para a cidade, delineada por

    edifcios simblicos e emblemticos do patrimnio arquitetnico, cultural e religioso da cuiabania.

    A transformao dessa rea em um grande parque urbano, proposta por este projeto, no em

    nenhum momento sequer imaginada pelo Poder Pblico ou pela sociedade local. Se por um lado

    a cidade tem crescido desordenadamente e sem um planejamento urbano adequado, a populaoda Prainha j no reconhece a potencialidade ambiental que o crrego apresentou no passado,

    sendo o mesmo piscoso e navegvel por sculos; hoje, resta apenas a imagem atual poluda e

    ocultada sob a Avenida. Dessa forma, o caminho encontrado para uma possvel reinveno

    urbana seria a utopiacomo proposio conceitual de projeto visionrio. O olhar para a cidade e

    perceber suas fissuras, seus conflitos, seus abusos, sua poluio ou o seu clima desfavorvel,

    permite ao urbanista se desvencilhar de um possvel comodismo humano, o que possibilita a no

    aceitao da feira urbana e da sua pouca qualidade de vida e ambiental. Assim sendo, a Prainha

    um ponto vital e estratgico para uma interveno urbana em Cuiab e podemos enumeraralgumas determinantes principais que justificam tal escolha:

    1. A consistncia histrica (histria urbana) da Prainha e do seu patrimnio arquitetnico e

    paisagstico pregresso, essencial ao surgimento da capital desde o sc. XVIII;

    2. O centro de Cuiab, em especial a regio da Prainha, tem um papel vital quanto

    identidade e referncia de seus cidados e visitantes;

    3. A destruio dos recursos naturais, matas de galeria, antigos largos e parques, ocupao

    das colinas de Cuiab resultaram na profunda alterao de sua paisagem urbana colonial

    principalmente a partir da dcada de 1960 e 1970 (CONTE & FREIRE, 2005);

    4. A poluio e descaracterizao das guas urbanas do crrego da Prainha e seus

    tributrios, a destruio da flora e fauna, bem como a alterao de seu traado original e a

    ligao criminosa da rede de coleta de esgoto e pluvial ao seu leito, este que desgua

    diretamente no rio Cuiab sem nenhum tratamento adequado;

    5. O impacto climtico gerado pelas intervenes antropognicas na rea central de Cuiab,

    desde a construo da Avenida Tenente Coronel Duarte e canalizao do crrego (1962);

    posterior cobertura do mesmo (1979), (Ibid., 2005), assim como a verticalizao,

    densificao e impermeabilizao do solo nos bairros centrais da cidade resultaram na

    formao de Ilha de Calor1, sendo constatadas as maiores mdias de temperatura urbana

    na regio da Prainha (MAITELLI, 1994);

    1Ilha de Calor uma anomalia trmica que resulta no aumento da temperatura do ar urbano em relao s outras reas vizinhas,

    configurando um bolso trmico na cidade. A substituio dos materiais naturais pelos espaos edificados, circulao de veculosautomotores e circulao intensa provocam mudanas nas caractersticas da atmosfera local. Por isso podemos observar o aumentode temperatura nos grandes centros, fenmeno chamado de ilha de calor. Os efeitos da ilha de calor so bons exemplos dasmodificaes causadas pelo homem na atmosfera urbana. Podemos observar que a ilha de calor costuma atingir maiores temperaturasquando o cu est limpo e claro e o vento calmo. (CPTEC/INPE, 2007).

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    6. A potencialidade transformadora de uma rea intensamente utilizada pela populao da

    cidade, principalmente em virtude do comrcio e servios diversificados, polarizados no

    local marcante presena das atividades tercirias2;

    7. A possibilidade de expanso do projeto para outras reas e crregos da cidade,

    estabelecendo um dilogo com outras reas de Preservao Permanentes ou Unidades

    de Conservao;

    8. A ausncia de arborizao e corpos dgua. Para Oke (1973), quando se tem uma rea

    com 20% da superfcie verde, a energia radiante utilizada predominantemente nos

    processos de evapotranspirao, e no para aquecer o ar. Assim, para a melhoria do clima

    urbano, a vegetao apresenta duas vantagens: o sombreamento e o resfriamento indireto

    do ar por evapotranspirao das folhas. Porm, Givoni (1998) ressalta a importncia da

    arborizao com o efeito direto de filtragem da poluio do ar e partculas em suspenso

    (ROMERO, 2000), e indireto de incrementar as condies de ventilao. Tambm mais

    eficiente espaar rvores e parques urbanos do que concentra-los em alguns pontos. A

    utilizao de espelhos dgua, esguichos, junto ao sombreamento de edificaes e densa

    arborizao (GOUVA, 2002), possibilita a criao de micro-climas urbanos que nunca

    existiram nas condies naturais: verdadeiros osis urbanos(DUARTE & SERRA, 2003).

    9. A rea , talvez, a nica regio-objeto de uma possvel interveno urbana de carter

    utpico na cidade em virtude da sua condio atual e concreta de centro de sedimentada

    ocupao, assim concatena com a postura de ruptura de paradigmas na interveno

    urbana, visto que nega a sua condio real e prenuncia uma nova imagem urbana etransformadora para Cuiab.

    O Centro, por definio, implica a presena de uma cidade de diversidade tnica, portadora de

    processos histricos conflituosos, com milhares de anos de existncia em permanente contradio

    (CARRION, 1998). No obstante, o centro tambm o lugar da gnese urbana e sua histria,

    local dinmico de fluxos e circulao, encontros, servios, simbolismo, onde se tem diversos

    edifcios de instituies pblicas e religiosas, e responsvel pela noo de pertencimento s

    pessoas que habitam a cidade (VARGAS & CASTILHO, 2006). A preservao do centro perfaz

    necessariamente todas as classes e segmentos sociais, e no deve estar restrita somente sedificaes mais imponentes ou expressivas, sendo que a cidade contempornea no possui a

    necessidade de se congelar no pretrito (MARCUSE, 1998).

    A morte, que no poupa nenhum ser vivo, atinge as obras dos homens. necessrio saberreconhecer e discriminar nos testemunhos do passado aquelas que ainda esto bem vivas. Nemtudo que passado tem, por definio, direito perenidade; convm escolher com a sabedoria oque deve ser respeitado. Se os interesses da cidade so lesados pela persistncia de determinadaspresenas insignes, majestosas, de uma era j encerrada, ser procurada a soluo capaz deconciliar dois pontos de vista opostos (...) (IPHAN et al., 1995: 59)

    2 Atividades Tercirias so aquelas que incluem o comrcio e os servios varejistas, incluindo servios de educao, de lazer,financeiros, de hospedagem etc. (VARGAS & CASTILHO, 2005)

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    O Parque Linear da Prainha tambm prope uma alterao significativa do trnsito, j que a

    Avenida Tenente Coronel Duarte representa uma via estrutural para a cidade. Contudo, a

    proposta justamente alterar a condio atual do centro urbano que funciona como uma rea de

    passagem e conexo para os automveis. Degradada pelo trnsito intenso, essa rea transmutar-

    se-ia assim em um lugar melhor do pedestre, destinado contemplao prazerosa do meio

    ambiente; um espao para o homem e no para a mquina.

    O projeto tem como uma de suas premissas a participao da sociedade em cada processo,

    conforme expressa a Constituio Cidad desde 1988. A populao deve assumir o Parque Linear

    da Prainha e se identificar com ele, conscientizando de sua cidadania na promoo de uma

    cidade melhor e mais justa. Esse iderio no revigora as ideologias modernistas de mudana

    social atravs da arquitetura ou do urbanismo, mas assume que atravs de uma utopia podemos

    constituir uma cidade para seus cidados. Para tanto, cada equipamento ou mobilirio deve

    atender as necessidades e carncias da populao, adequando-se s diversas classes sociais, sdistintas faixas etrias e contraditrias condies de educao e de vida.

    Segundo Denise F. Pessoa (2006: 16), projetos visionrios ou utopias poderiam apontar uma

    sada para o caos urbano no qual vivemos. Ela ainda afirma que essas vises ideolgicas acerca

    da cidade tm uma funo crtica e ao mesmo tempo propositiva, pois deflagram que tudo que

    est sendo produzido ou pensado para a cidade ou sociedade no corresponde aos anseios de

    um determinado contexto histrico, poltico, social ou econmico. Dessa maneira, a arquitetura

    visionria e a utopia urbana atuariam como uma espcie de radar, no qual se identifica

    prematuramente um momento de mudana antes de qualquer outro segmento da sociedade,

    decodificando assim os anseios coletivos da humanidade.

    A partir desse pressuposto utpico, a idealizao do Parque Linear da Prainhaperfaz o caminho

    de concepo de um projeto visionrio, pensando novas possibilidades futuras a partir de um

    outro paradigma de cidade, sem o conceito de re-vitalizar ou re-estruturar. O pensamento utpico

    torna-se assim uma ferramenta ilimitada para o entendimento da cidade, projetando um desenho

    de qualidade propositiva de dupla funo, pois alm de sanar determinadas necessidades, ela

    tambm prenuncia novas necessidades ainda no compreendidas.

    Uma forma aceita de pesquisa em projeto de arquitetura e urbanismo a proposio de sistemashipotticos, como exerccio de desenvolvimento das potencialidades criativas e tecnolgicas emprojetos de estruturas urbanas que sabidamente no sero construdas. Esse tipo de exerccioconstituiu o eixo de atividades dos utopistas de fins do sculo XIX e estabeleceu basesmetodolgicas mais tarde incorporadas arquitetura e urbanismo modernos. Diferentemente do quepode parecer primeira vista, no se trata de simples especulao de formas em um processo depensamento livre. um exerccio sistemtico de sntese, baseado na mais completa possvelreviso de estado da arte aplicvel sobre o objeto em estudo, mas que deve propor algo alm dorealizvel naquele momento particular, como forma de antever um estgio suplementar deprogresso a orientar os componentes dos outros projetos, estes voltados materializao imediata. como uma demarcao de vetor, cujo limite ainda est no plano do irrealizvel, mas que os

    passos intermedirios podero conduzir realizao da utopia. Esta foi a contribuio de artistas doRenascimento ao notvel desenvolvimento arquitetnico da poca, quando em suas pinturasrepresentavam complexos edificados que se antecipavam a sua materializao construtiva, maistarde realizada. Esta foi tambm a essncia do trabalho de Tony Garnier, entre os utopistas do

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    sculo XIX, que projetou uma hipottica cidade industrial at o nvel de detalhes executivos queanteciparam sistemas construtivos pr-fabricados voltados habitao em massa, desenvolvidossob a gide da arquitetura moderna. (SILVA, 2005)

    No contexto da utopia urbana, Ricardo Toledo Silva (2005) faz uma referncia necessria

    inteno do pensamento utpico para a humanidade, desde que obedecidas algumas sistemticas

    Figura 4Na dcada de 1970 tambm ocorrem ocupaes e intervenes mais agressivas sobre o Crrego.A exemplo da canalizao da cabeceira e da urbanizao da Praa Ernete Ricci junto Prainha, no BairroAras. Fonte: Acervo Fotogrfico da Prefeitura Municipal de Cuiab, 2007./Org.: SILVA, Geovany J. A., 2007.

    Figura 5Imagem atual da Praa no Bairro Aras. A ausncia do Poder Pblico e poluio intensa da guaresultaram na marginalidade e violncia local, assim os moradores deram as costas ao lugar com seusmuros altos. Fonte: Autor, 27/07/2006. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2007.

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    na idealizao de cdigos hipotticos, pois o mesmo se constitui em um exerccio de

    premeditao a um momento tecnolgico futuro que, a partir de novas descobertas, tornaria

    realizvel as concepes utpicas de outrora.

    O projeto para o Parque Linear da Prainha se fundamenta sobre dois pontos primordiais e

    norteadores das condicionantes urbansticas: a potencialidade ambiental e turstica da rea. Aprimeira nos remete a uma necessidade que se faz urgente nas cidades contemporneas, face

    aos diversos desmembramentos possveis a partir de uma recuperao ambiental, paisagstica e

    topogrfica do crrego da Prainha. A segunda, como potencial turstico, refere-se valorizao da

    rea central da cidade atravs da recuperao e revitalizao do centro histrico e sua conexo

    com a antiga regio do Porto, bem como a pertinente proposta de insero econmico-social. A

    criao de reas de convvio para a populao e conseqente revigoramento do comrcio local e

    do turismo nos remete aos perodos ureos da Cuiab dos sculos XVIII e XIX, fazendo-se assim

    a ponte entre a contemporaneidade urbana e o passado cultural e histrico da cuiabania.

    2. ABAIRRAMENTO DA REGIO DE INTERVENO, COMPREENSO DO ENTORNO

    E DETERMINANTES DE PROJETO

    A Avenida da Prainha, ou Avenida Tenente Coronel Duarte, uma via estrutural que define um

    eixo de diviso entre a Regio Leste e Oeste da cidade de Cuiab (IPDU, 2007). Por corresponder

    a uma linha central do tecido urbano, a avenida corta bairros antigos e com densidade alta (entre

    57,4 e 86,02 hab./ha.), como os Bairros dos Aras, da Lixeira e Dom Aquino. Bairros de

    densidade mdia (entre 28,77 e 57,39 hab. /ha.), como o Alvorada, do Ba, dos Bandeirantes,Centro Norte, Centro Sul e do Porto. E apenas o Bairro do Terceiro com densidade mdia baixa

    (entre 11,05 e 28,76 hab./ha.).

    A proposta para o Parque Linear da Prainhacomo projeto utpico abarca o eixo que definido em

    trs etapas temporais de ocupao da cidade de Cuiab, subdividida em setores para melhor

    entendimento, iniciada primeiramente das minas do Rosrio e atual centro histrico (SETOR 1),

    ainda no sculo XVIII. Depois, seguindo a cronologia histrica, temos a ocupao da regio do

    Porto Geral e formao dos primeiros comrcios e ncleos de habitao (SETOR 2). E por fim a

    unio entre esses dois plos de desenvolvimento urbano de Cuiab (SETOR 3), (Figura 6). Para

    melhor compreenso dessa setorizao, segue-se as delimitaes de cada rea abaixo:

    SETOR 1 Se inicia com a nascente do crrego da Prainha, no divisor de guas do Bairro

    Alvorada (onde at 12 de maro de 1974, atravs da promulgao da Lei Municipal n.

    1.346, era determinado como o limite do Permetro Urbano da capital), passando pelo

    encontro com a Avenida Historiador Rubens de Mendona onde, a partir da, passa a ser

    canalizado sob a Avenida Tenente Coronel Duarte (popularmente chamada de Avenida da

    Prainha). Depois, corta rea do centro histrico da cidade e sua rea de tombamento(entorno) at a Travessa Cel. Poupino, limite de tombamento aps a Praa Ipiranga e

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    antigo Quartel da Fora Pblica (edifcio de 1862). O SETOR 1 engloba os bairros do

    Alvorada, do Aras, do Ba, da Lixeira, do Centro Norte e dos Bandeirantes;

    SETOR 2 Abarca a Regio do antigo Porto Geral, entre os Bairros do Porto e do

    Terceiro, limite com as Avenidas Carmindo de Campos e Senador Metelo;

    SETOR 3 A partir da Praa Ipiranga at as Avenidas Carmindo de Campos e Senador

    Metelo, passando pelo Centro Sul e Bairro Dom Aquino.

    O Parque Linear da Prainha atende, diretamente, populao residente em nove bairros da

    cidade, o que totaliza cerca de 57.940 habitantes, segundo os dados do Instituto de Planejamentoe Desenvolvimento Urbano (IPDU, 2007), secretaria da Prefeitura Municipal de Cuiab. Os bairros

    Figura 6 Insero de imagem na rea de interveno e abairramento do Parque Linear da Prainha emCuiab; a Linha Vermelha Claradelimita o Crrego canalizado, porm descoberto, a Linha VermelhaEscuracorresponde poro canalizada e coberta pela Avenida Ten. Cel. Duarte. O abairramento foidividido sob a seguinte setorizao: SETOR 1:07-Bairro Alvorada; 24-Bairro dos Aras (parcial Leste);52-Bairro do Ba; 53-Bairro da Lixeira; 54-Bairro dos Bandeirantes e 19-Centro Norte; SETOR 2:21-Bairro do Porto e 71-Bairro do Terceiro; eSETOR 3:20-Centro Sul e 70-Bairro Dom Aquino.Fonte: Montagem do Autor, 2007/Mapa do IPDU, 2003/Imagem de Satlite -Google Earth, 2007. /Org.: SILVA,Geovan J. A. 2007.

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    mais populosos dessa rea so respectivamente: Dom Aquino (com 13.067 hab.), Alvorada

    (12.267 hab.), do Porto (9.335 hab.), Aras (5.538 hab.), da Lixeira (4.801 hab.) e Centro Sul

    (4.551 hab.). Os menos populosos so: dos Bandeirantes (1.193 hab.), do Terceiro (2.110 hab.),

    do Ba (2.271 hab.) e Centro Norte (2.807 hab.).

    Para melhor dimensionamento dos equipamentos urbanos e infra-estruturas necessrias paracada setor do projeto, foi elaborado um estudo sistemtico com base nos dados oficiais

    divulgados pela Prefeitura Municipal de Cuiab, no ano de 2007, atravs da anlise do IPDU

    sobre o Perfil Scio Econmico dos Bairros de Cuiab, estudo este realizado em maio do mesmo

    ano.

    3. O PROJETO DE INTERVENO PARQUE LINEAR DA PRAINHA: SUAS

    CODICIONANTES E POTENCIALIDADESDesde o colapso da idia de planificao global da cidade, como se sabe considerada pelosmodernos a mais acabada expresso da organizao racional do espao habitado coletivo a ums tempo trunfo da modernizao capitalista e prefigurao da socializao que ela pareciaantecipar , as intervenes urbanas vm se dando de forma pontual, restrita, por vezesintencionalmente modesta, buscando uma requalificao que respeite o contexto, sua morfologia outipologia arquitetnica, e preserve os valores locais.(ARANTES, 1998: 131)

    A implementao do Parque Linear da Prainha atravs dos Setores um carter norteador da

    proposta. Primeiro, a interveno urbana no SETOR 1, quase em conjunto com a do SETOR 2

    (num perodo de dois e cinco anos) e, por fim, a implementao do projeto no SETOR 3 (prazo de

    cinco a dez anos seguinte). Essa projeo em etapas temporais bem definidas torna o projeto

    mais bem estruturado, adequando-se s dinmicas urbanas de trnsito e circulao. Assim,

    possibilita-se a participao da populao de uma forma mais efetiva atravs de discusses com a

    sociedade (paralelamente a um programa de educao ambiental), apresentao das idias de

    projeto e das etapas a serem executadas. A sociedade, dessa forma, torna-se agente ativo da

    interveno urbana, ditando as prioridades de cada etapa, assumindo o projeto proposto atravs

    da identificao coletiva e de cidadania, tornando a utopia muito mais participativa e real.

    A proposta, como j foi dito, se fundamenta sobre o potencial ambiental e turstico da rea daPrainha, para tanto tem os objetivos principais de:

    Devolver a natureza local pregressa cidade de Cuiab, reforando a necessidade de relao

    entre o homem e seu ambiente natural como elemento apaziguador das tenses e estresses

    do dia-a-dia;

    Recuperar a condio ambiental do crrego da Prainha, devolvendo o percurso natural de seu

    leito constitudo por meandros de desenho sinuoso e com densa mata de galeria, como

    tambm refazer a flora e fauna local com a despoluio total das guas e substituio do

    concreto retificador pela terra em contato direto com o crrego, alm de atenuar as aes da

    ilha de calor na rea central da cidade;

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    Integrar a populao cuiabana em uma rea de centralidade ambiental, amparada por um

    sistema de equipamentos e mobilirios urbanos, integrando lazer com esporte, cultura, histria

    e cidadania restabelecendo assim o uso social, de lazer e convvio das APPs, valorizando a

    paisagem urbana e o patrimnio arquitetnico;

    Conscientizar e envolver a populao de Cuiab na participao efetiva das decises de

    projeto, amparadas por um programa de educao ambiental focado nas discusses de

    incluso do cidado na sua cidade e no despertar da conscincia ecolgica da humanidade e

    seu futuro.

    A partir da formulao desses objetivos, o projeto dever ocorrer nas seguintes fases:

    3.1 PRIMEIRA FASE

    CONSOLIDAO DO SETOR 1:

    Recompor o traado original do crrego, corrigindo a errnea interveno de retificao e

    canalizao de seu leito, ao que destruiu seu ecossistema e impermeabilizou o recurso

    hdrico do contato com o solo e alimentao do lenol fretico. O traado sinuoso

    reduzir significativamente a velocidade da gua e a recomposio da vegetao de

    galeria reordenar o ecossistema; (Figura 7)

    Recuperao e proteo das nascentes do crrego da Prainha e criao de um coletor

    tronco de coleta da rede de esgoto, interrompendo o lanamento de resduos lquidos e

    slidos no leito do crrego. O processo de despoluio do crrego deve ser

    acompanhado de uma rgida fiscalizao e aplicao das Leis ambientais;

    Restabelecimento da fauna e flora natural do local atravs da recuperao ambiental,

    concretizando um lugar melhor para o homem e a natureza do cerrado mato-grossense;

    Eliminao da Avenida Tenente Coronel Duarte como via estrutural e transformao em

    uma via coletora (ou mesmo local) de trnsito limitado de veculos e preferencialmente de

    transporte coletivo. O deslocamento do fluxo de veculos deve ser estudado pela

    engenharia de transportes para que sejam criadas alternativas eficientes para a Avenida

    Miguel Sutil (chamada via Perimetral da cidade), com possvel de deslocamento de

    trnsito para a Avenida Mato Grosso, Rua Marechal Deodoro e Comandante Costa. O

    fluxo das Avenidas Isaac Povoas, Cel. Escolstico e Getlio Vargas devem ser

    estudadas, pois exercem grande presso no centro da cidade. A eliminao do trfego

    intenso e pesado no centro possibilitar a criao de reas de lazer que integre o contato

    humano com a natureza e o crrego;

    Auxiliar na recuperao do Patrimnio Arquitetnico Histrico do Centro, revigorando o

    comrcio e criando novas funes para a rea que produzir nova centralidade na

    cidade. O Parque deve possuir equipamentos culturais como teatro, cinemas, galerias de

    arte regional, espaos para os festejos populares (principalmente na regio da IgrejaNossa Senhora do Rosrio); o folclore e as danas regionais como o Siriri e o Cururu

    tero tambm seu lugar. A conexo com o Museu da Imagem e do Som (MISC), IPHAN,

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    CEFET, Secretarias da Prefeitura, Escolas e Faculdades que se localizam na rea, alm

    da presena das Igrejas e a mobilizao de festejos populares (as chamadas festas de

    santo) to tradicionais na cultura cuiabana, funcionaro como potencializadores scio-

    econmicos (atravs do turismo), culturais e histricos;

    Propor um projeto de substituio da pavimentao da rea central por pisos ecolgicos

    mais permeveis, a exemplo do concreto intertravado, que permite maior infiltrao da

    gua pluvial e reduz a velocidade de carreamento da gua; (GOUVA, 2002: 91)

    Diminuir o nmero de vias pavimentadas e assim reduzir o custo total de parcelamento,

    pois o pavimento e drenagem so responsveis por cerca de 55% a 60% do custo de

    infra-estrutura; (MASCAR, 1991)

    Utilizar materiais que gerem sombreamento e cobertura vegetal intensa que evitem o

    contato direto do solo com as intempries. Verifica-se que em pocas de vero intenso a

    temperatura das superfcies gramadas reduz de 5 a 10C em relao a superfciepavimentada. (GOUVA, 2002: 126)

    A gua deve ser abundante, promovendo espaos para a pesca e banho, bem como

    umedecendo o ar seco nos perodos de estiagem e criando uma paisagem mais

    agradvel para ser vista e sentida. Para tanto, devem ser criados diques de contenso da

    Figura 7Imagem do SETOR 1, da nascente do Crrego da Prainha at o Morro da Luz.Fonte: Laboratrio de Geoprocessamento da UFMT, 1990. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2007.

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    gua, principalmente no encontro da Prainha com a Avenida Historiador Rubens de

    Mendona (rea de grande concentrao de residncias), como tambm na proximidade

    com a Igreja do Rosrio e Largo do Mundu;

    Criar reas para a prtica de esportes como quadras e campos de futebol, pista de

    corrida e caminhada, ciclovias e reas destinada a esportes radicais.

    CONSOLIDAO DO SETOR 2:

    Conectar o crrego da Prainha ao Rio Cuiab, pois suas guas estariam recuperadas e

    despoludas; (Figura 8)

    Propor um projeto de interveno urbana entre o Parque Linear da Prainha e as reas do

    Porto e Terceiro, interligando as margens do Rio Cuiab ao Parque e conectando o

    Museu do Peixe e antigo Mercado Municipal ao projeto.

    Recuperao das reas degradadas por cortios, habitaes abandonadas ou com

    problemas estruturais, bem como a valorizao da rea atravs da melhora dos servios

    e equipamentos pblicos;

    Figura 8 Imagem do SETOR 2 e 3. Acima temos o desvio sinuoso da Avenida Tenente CoronelDuarte (em frente ao Colgio Salesiano So Gonalo e Supermercado Modelo), depois segue at oencontro com a Avenida Beira Rio ( esquerda o Super-Mercado Atacado e direita o Parque deExposies Agropecurias). Fonte: Laboratrio de Geoprocessamento da UFMT, 1990. /Org.: SILVA,Geovany J. A., 2007.

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    Implementao de conjuntos habitacionais para a populao carente da regio;

    Instalao de rede de ensino pblico, posto policial e de sade para a populao, tendo

    em vista a condio de carncia social e econmica local;

    Revigoramento da economia local atravs da instalao de uma Oficina Cultural que

    promova cursos e atualizao profissional populao de baixa renda, como tambm

    implemente renda atravs na comercializao de produtos artesanais locais;

    Implantar programas gratuitos de alfabetizao, cursos supletivos, cursinhos de

    preparao para vestibulares e demais cursos profissionalizantes para a insero social e

    econmica do cidado, em parceria com Universidades Pblicas do Estado e do Governo

    Federal (Unemat e UFMT), Centros Federais como CEFET, ONGs, etc;

    Recuperao e reabilitao do Bairro do Porto e seu conjunto arquitetnico colonial.

    3.2 SEGUNDA FASECONSOLIDAO DO SETOR 3:

    Conexo com o Setor 1 e 2. A partir da percepo de uma cidade de maior qualidade

    ambiental e humana, assim a prpria populao cobraria a expanso do projeto e

    conexo entre as duas reas j consolidadas do Parque Linear da Prainha;

    Integralizao do Projeto e completa descanalizao do crrego, retornando a condio

    ambiental no centro da cidade;

    Valorizao e recuperao das reas que margeiam o Parque, bem como a conexo com

    novos edifcios e equipamentos urbanos prximos rea de interveno;

    Consolidao de uma cidade pensada para o pedestre, com largas caladas arborizadas,

    reas de lazer e convvio, alm da insero social da coletividade numa APP antes

    desfigurada.

    4. A PROPOSTA UTPICA A PARTIR DO DESENHO URBANO: DIRETRIZES GERAIS

    DO PARQUE LINEAR DA PRAINHA

    Neste Captulo esto sistematizados alguns pontos contemplados no projeto de interveno

    urbana a partir do Parque Linear da Prainha. Abordagens de projeto acerca do traado e planta

    geral proposta; ruas, vias e pavimentaes principais; a composio das praas, parques e

    espaos livres em geral; a dimenso da rea de interveno; equipamentos comunitrios

    propostos e alguns ndices urbansticos; o mobilirio urbano e materiais empregados; a nova infra-

    estrutura urbana. A Figura 9 apresenta um estudo sobre o uso e ocupao do solo a partir de

    imagens de alta definio geradas por satlite, compiladas em programa de plataforma CAD e

    depois de aplicadas as visitas e entrevistas in loco.

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    4.1 PRAAS, LARGOS, GUA E VEGETAO URBANA

    No Parque Linear da Prainha, caracterizado como um modelo de parque da cidade (GOUVA,

    2002: 104), sugere-se a utilizao de vegetao diversificada, intercalando volumes vegetais de

    bosques densos e midos, campos de vegetao herbcea e/ou ramagem, delineando-se reas

    abertas, utilizando a vegetao tambm como sinalizao, restabelecendo preservando a

    vegetao nativa sempre que observada a adequao ao equilbrio ecolgico local (Figura 10).As

    rvores devem ter copas robustas e densas, de folhagem perene, adequadas aos usos de acesso,

    recreio, lazer, contemplao etc. (Ibid., 2002: 92)

    Deve-se implantar um esquema de caminhos que atendam ao mximo a topografia, a

    acessibilidade e sinalizao, utilizando-se de desnveis mais concentrados apenas quando h

    necessidade de se instalar mobilirios ou equipamentos como arquibancadas, arenas, play-grounds, campos de futebol, pistas de esportes radicais, quadras de esportes, ou mesmo massas

    dgua, estas que dependendo do vento predominante chegam a estender a umidade relativa do

    ar em at 800 m de distncia.

    As nascentes urbanas do crrego da Prainha devem ser preservadas e rigorosamente protegidas,

    integrando-se tambm ao parque urbano e suas praas. A recuperao de suas guas se faz

    emergencial, para tanto, a rede de esgoto j existente na regio deve ser reestruturada e

    redimensionada para, de fato, funcionar como tal. Os coletores troncos e secundrios devem ser

    vedados de qualquer conexo com os crregos, obras ilegais que foram implementadas pela

    Prefeitura Municipal de Cuiab (atravs da Sanecap) a partir dos anos 1970. As ligaes

    Figura 9 Estudo do uso e ocupao do solo, correspondente reade interveno urbana do Parque Linear da Prainha, conforme alegenda ao lado, pode-se compreender que montante do crregoda Prainha, no Bairro Alvorada, tem-se um predomnio residencial;

    ao Centro Histrico uso misto, institucional, comercial; j na regiodos bairros do Porto, Dom Aquino, Terceiro e Centro Sul, prximo jusante do crrego, h o predomnio de reas ociosas e setortercirio.Fonte: SILVA, 2007: 247.

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    clandestinas tambm devem ser combatidas pelo poder pblico, para tanto, a aplicao de

    rigorosa fiscalizao e aplicao de multas por crimes ambientais deve ser um procedimento

    adotado.

    Grandes largos e diques de conteno da gua devem ser planejados ao longo do traado

    sinuoso da Prainha, esta sobre um novo desenho, porm referenciado ao seu corpo linear natural

    do passado, repleto de meandros e curvas. Esse procedimento projetual alm de possibilitar um

    controle da gua da chuva, tambm otimiza a utilizao social desses espaos e estabelece um

    microclima muito mais aprazvel, tanto no que se refere melhora da umidade relativa do ar,

    quanto configurao de uma nova paisagem urbana de escala diferenciada entre o homem e as

    construes.

    Nos espaos destinados rea verde, devem ser plantadas gramneas arbustivas eprincipalmente arbreas, de folhagem oleosa e perene para auxiliar na reteno e filtragem de

    partculas suspensas (poeira, gases, fuligens), dentro das mais de 5 mil espcies existentes no

    cerrado (GOUVA, 2002: 105). As espcies nativas do cerrado cuiabano devem ser

    preferencialmente escolhidas como forma de melhor adaptao s condicionantes locais, porm

    alguns espcimes exticos que bem se adaptam ao clima local e fornecem sombreamento

    eficiente sero devidamente aproveitados. As espcies nativas, alm de protegerem reas onde a

    grama batatais ou a cuiabana no vinga, tambm possui a funo de economia de gua (fato que

    as rvores do cerrado, adequadas ao clima rido e de razes profundas, se adaptam melhor

    Figura 10Sugestes de projeto para o uso correto da vegetao urbana.Fonte: GOUVA, 2002: 108. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2007.

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    regio), bem como funciona como instrumento de preservao do patrimnio ecolgico do cerrado

    mato-grossense. (Figura 11)

    Elegeu-se algumas espcies para o plantio sistematizado, todas disponveis no Horto Florestal do

    Municpio:

    Gramneas:grama cuiabana, grama batatais;

    Arbustivas: Jazida, Agriozinho, Flor do Cerrado, Amarelo, Sempre-Viva, Besouro,

    Cipreste, Jasmim-Manga, Caliandra, Canela-de-Ema;

    Arbreas de sombra:Oiti, Pateiro, Munguba, Chuva-de-Ouro, Jacarand, a Flamboyant,

    Ips, Seringueira, Quaresmeira, Fcus Pertusa, Sucupira, Pau-Santo, Pau-Terra,

    Embiruu, Jatob, Pau-rosa;

    Palmeiras:Buriti, Imperial, Guariroba, Gabiroba, Guapuruvu, ;

    Arbreas frutferas: Pitomba, Jabuticaba, Jaca, Goiaba, Limo, Laranja, Caju e

    Mangueira, Pequi, Ing, Amendoim-da-Mata, Araticum.

    As rvores frutferas so elementos emblemticos ao paisagismo cuiabano, pois os quintais das

    casas coloniais eram repletos de exemplares em seus pomares, como tambm no cultivo das

    hortas, como forma de assegurar alimento s famlias cuiabanas nas fases de penrias e crises

    econmicas vividas nos sculos XVIII, XIX e incio de XX, face ao isolamento geogrfico da capital

    com outras regies do pas. Dessa forma, o Parque Linear da Prainha deve reservar espaos

    concentrados ou dispersos de rvores frutferas pomares urbanos, salvo os locais de circulao

    de pedestres ou estacionamento de veculos.

    4.2 TRAADO E IMPLANTAO GERAL DO PARQUE LINEAR DA PRAINHA

    Figura 11Exemplos de abrigos artificiais e naturais adaptados ao clima do cerrado.Fonte: GOUVA, 2002: 109. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2007.

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    O projeto se delineia a partir da proposta de se configurar morfologias que permitam a interao

    entre os espaos livres, equipamentos e edifcios do Parque Linear, proporcionando acessos

    abrigados do sol e chuva. A composio das vias de pedestre deve respeitar, quando necessrio,

    os calades de comrcio que permaneceram na proposta, como tambm se apropriar das reas

    sombreadas pelas edificaes existentes e a permanecer, abusando no uso de arborizao e

    espelhos dgua.

    O traado orgnico da vias e espaos livres um desenho importante, pois se adapta

    perfeitamente s condies topogrficas das curvas de nvel, tendo em vista que as chuvas so

    concentradas no vero de Cuiab, de outubro a maro; quanto menos interferir nas condies

    naturais do terreno, melhor ser a adequao e estabilizao do solo frente s aes das

    intempries (MASCAR, 2005b: 18). Alm de facilitar a preservao da mata nativa, a topografia

    quando considerada tambm auxilia na diminuio da velocidade de gua pluvial carreada.

    (GOUVA, 2002: 88)

    4.3 GUAS PLUVIAIS

    Toda pavimentao deve obedecer restritamente necessidade de calamento permevel,

    antiderrapante e de rugosidade necessria para minimizar a velocidade da gua pluvial, e de cor

    clara para diminuir a absoro de calor solar (atravs das ondas de infravermelho invisvel).

    Caladas, passeios, pistas de caminhada, praas, vias; devem utilizar calamento em concreto

    intertravado (em blocos pr-moldados articulados). Nos estacionamento, utilizar-se- piso de

    concreto vazado (chamado piso ecolgico), com grama cuiabana plantada em cada unidadevazada. A permeabilidade do solo uma diretriz de projeto, pois alm de atenuar as aes da

    chuva, contribui para a melhoria do clima urbano (temperatura e umidade), como tambm

    abastece o lenol fretico atravs da umidificao do solo. (Figura 12)

    4.4 ACESSIBILIDADE E SINALIZAO

    Figura 12Exemplo de pavimentao ecolgica para a cidade.

    Fonte: GOUVA 2002: 91. /Or .: SILVA Geovan J. A. 2007.

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    Todos os equipamentos, sinalizaes e mobilirio devem ser adaptados para a utilizao dos

    portadores de necessidades especiais (permanentes ou temporrios), bem como otimizar o

    acesso e uso de idosos, crianas, gestantes, pessoas obesas ou com dificuldade de locomoo.

    Pisos alertas e guias sero contemplados nos projetos e escolhas de materiais conforme as

    normas vigentes e Leis Municipais para projetos de espaos pblicos. (ABNT/NBR 9050)

    4.5 O PROJETO E A RELAO COM A FORMA DOS ESPAOS LIVRES

    Os espaos livres tero preferencialmente vegetao abundante, utilizao excessiva de gua

    atravs do crrego da Prainha, espelhos dgua, esguichos no nvel do piso (projetores de gua),

    desnveis, com vegetao viosa e regada constantemente. Essas aes possibilitam que nos

    perodos de baixa umidade relativa do ar e, conseqentemente, poca de intensa fumaa

    (decorrente dos quintais e terrenos baldios da cidade, parques e reservas ambientais prximas,

    cultivo de cana-de-acar e outras fontes de queimada), ocorra o ressecamento excessivo do ar,

    pois em alguns perodos chega a quase 10% de umidade relativa do ar em Cuiab. A melhoria da

    performance do clima urbano vital para a eliminao da ilha de calor constatada no centro de

    capital.

    4.6 EQUIPAMENTOS COMUNITRIOS E ALGUMAS INFORMAES GERAIS DO

    PROJETO DE INTERVENO

    O Parque Linear da Prainha apresenta no SETOR 1, 2 e 3, reas respectivas de 620.545,66 m,

    176.285,69 m e 353.290,73 m. Isso totaliza um montante de 1.150.122,08 m de rea de

    interveno urbana total, desde as cabeceiras do crrego at as reas prximas do Parque de

    Exposies e antigo Mercado Municipal (Museu do Peixe), estas ltimas j nas proximidades do

    rio Cuiab. (Figura 13)

    A rea linear do projeto urbano de 2,77 km no SETOR 1; cerca de 1,97 km no SETOR 2; e 1,38

    Km no SETOR 3. Assim, temos um total de 6,12 km de rea linear de interveno. As altitudes

    tambm so bastante variadas, desde 207 m na cabeceira do crrego (Bairro Alvorada), passando

    pelo Centro Histrico entre 182 e 173 m e, por fim, a regio do Porto Geral, com mdia de altitude

    em torno de 146 m acima do nvel do mar.

    A proposta contempla a substituio da funo atual da Avenida Tenente Coronel Duarte como via

    estrutural, conforme j citado anteriormente. Em contrapartida, o fluxo grande de veculos advindo

    da Avenida Historiador Rubens de Mendona (chamada Avenida do CPA), passando pela Avenida

    da Prainha at regio do Porto (onde se conecta ao sistema virio de Vrzea Grande), dever ser

    desviado e concentrado na Avenida Miguel Sutil, nordeste do Parque Linear, e sudoeste (entre

    o Porto e Terceiro), sobre a Avenida Beira Rio. Entretanto, essa alternativa deve ser

    compreendida como uma sugesto viria, sendo que para o re-planejamento do sistema devero

    ser feitos estudos de engenharia de trnsito e transporte, calcado no clculo efetivo e preciso da

    demanda e necessidade de deslocamento desses fluxos urbanos. (Figuras 14 e 15)

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    Figura 13Projeto de interveno urbana proposto em setores (1, 2 e 3). Fonte: SILVA, 2007: 247.

    PARQUE LINEAR DA PRAINHA INTERVENO SETOR 1

    PARQUE LINEAR DA PRAINHA INTERVENO SETOR 2+SETOR 3

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    Tambm contemplada pela proposta a implantao de uma linha de metr para a cidade,

    interligando os pontos extremos do projeto e em suas vrias estaes de transbordo de pessoas.

    O metr, j atualmente, uma alternativa vivel para Cuiab, porm pouco discutida pelo Poder

    Pblico em virtude seu alto custo de implantao e manuteno. Porm, ser uma alternativa

    eficaz se interligar o projeto do Parque Linear da Prainha com toda a poro norte e nordeste da

    cidade, que so os bairros mais populosos de Cuiab (a exemplo do bairro CPA e Morada da

    Serra, contemplam quase um tero da populao total da cidade). Face ao caos no transporte

    pblico cuiabano, falta de qualidade e eficincia, calor excessivo dos veculos (pois poucos so

    climatizados), alm do impacto ambiental no centro e regio, essa alternativa de transporte

    Figura 15No mesmo enquadramento da Figura 14, o croqui do Parque Linear da Prainha a partir da vistada Igreja do Rosrio (ao Centro) e Morro da Luz ( esquerda). Fonte: SILVA, 2007: 230. /Org.: SILVA, GeovanyJ. A., 2008.

    Figura 14 esquerda, vista do Crrego da Prainha j canalizado e entorno na dcada de 1970; ao fundo damesma imagem est a Igreja Nossa S. do Rosrio e esquerda a Igreja do Senhor dos Passos. direita, omesmo enquadramento, porm em tempos atuais e com o Crrego j coberto e transformado na AvenidaTem. Cel. Duarte. Fonte: SIQUEIRA, 2006: 38. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2007.

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    bastante plausvel. Para os milhes de passageiros anuais ser um deslocamento rpido,

    confortvel e digno, j que sob o solo tm-se a inrcia trmica que contribui com a minimizao de

    calor, alm de estar comprovadamente afirmado a excelncia ambiental e funcional do metr

    sobre o veculo motorizado coletivo. Porm, o transporte coletivo motorizado ser uma alternativa

    de acesso para o Parque Linear, sendo a nica modalidade de veculo motorizado permitido a

    circular pelo centro. (Figuras 16 e 17)

    O caminhar p, corrida e deslocamento de bicicletas sero atividades incentivadas pelo projeto.

    Para tanto sero dimensionadas ciclovias extensas (e reas de bicicletrio), juntamente com

    pistas de caminhada, corrida e calades de acesso ao comrcio, servios e equipamentos. Esse

    Figura 17No mesmo enquadramento da Figura 16, o croqui do Parque Linear da Prainha a partir davista sobre o Largo do Mundu e Chafariz (Praa Bispo Dom Aquino) e Igreja Bom Despacho (esquerda). Fonte: SILVA, 2007: 230. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2008.

    Figura 16 esquerda, vista da Prainha ainda aberta na dcada de 1970, rotatria do cruzamento com aAvenida Isaac Povoas; na poro superior esquerda da mesma imagem est a Igreja Nossa SenhoraAuxiliadora e ao fundo a torre da Igreja de So Gonalo. direita, Vista atual da Prainha j canalizada, atualAvenida Tenente Coronel Duarte. Fonte: SIQUEIRA, 2006: 39. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2008.

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    deslocamento pedestre deve ser acompanhado de intensa arborizao, gua e reas de

    sombreamento, descanso ou lazer. O conforto estar garantido, pois ter diversos postos de

    informao com bebedouros e sanitrios ao longo do trajeto e nas proximidades de cada ponto de

    nibus ou estao de metr. Atravs da locao de quadras poli esportivas, campos de futebol,

    quadras de areia, o esporte ter garantido, definitivamente, seu lugar no centro da cidade, como

    h muito indicado a necessidade de sua presena atravs dos inmeros campos de futebol

    improvisados pela comunidade local nos terrenos baldios.

    A segurana pblica um ponto tambm marcante na proposta. Ter, ao longo do Parque, dez

    postos de policiamento (oito no SETOR 1, e dois em cada SETOR, o 2 e o 3). Os policiais estaro

    constantemente circulando pelo parque, assim, os focos de violncia hoje existentes tanto no

    Bairro Aras e Centro como na regio do Porto, sero eliminados.

    A violncia um dos problemas decorrentes da segregao e excluso social, tendo em vista a

    condio scio-econmica e educacional de uma boa parcela da populao que mora ou utilizar

    a regio do Parque Linear, sero instalados seis Centros Educacionais de qualificao

    profissional, pr-vestibulares comunitrios, alfabetizao e insero social. Aliados a essa idia de

    educao social e ambiental, sero propostos quatro espaos para projetos de extenso e

    pesquisa universitria direcionados para a questo social, educacional e ambiental, em parceria

    com instituies universitrias pblicas e privadas da cidade e regio.

    Nos bairros Centro Norte, Centro Sul e Dom Aquino, constatam-se atualmente a presena de

    setores tercirios direcionados s atividades que no funcionaram mais na regio da Prainha, aexemplo: lojas de equipamentos industriais, autopeas, garagens, estacionamentos. A esses

    espaos sero destinados novos usos de comrcio voltados ao atendimento da populao e

    implementao de turismo cultural e ambiental. Nas garagens, estacionamentos e vazios urbanos

    teremos a aquisio preferencial do Poder Pblico municipal, destinando esses espaos novos

    usos como reas de lazer, recreao, atividades scio-culturais, museus, oficinas, etc. (Figuras 18

    e 19)

    Figura 18Croqui do Parque Linear da Prainha e os novos espaos e construes propostas para as reasa serem desapropriadas. Edifcios construdos com tcnicas e materiais locais (regionalismo arquitetnico),adequadas ao clima como a madeira, a cobertura de palha de buriti, sistemas de ventilao, etc. Fonte:SILVA, 2007: 232. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2008.

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    Os quintais cuiabanos e paisagismo das ruas sero incentivados atravs de medidas

    compensatrias e atenuaes fiscais sobre os imveis dos proprietrios conscientes, o que

    minimiza o processo de impermeabilizao crescente ao qual tm prejudicado tanto o clima

    urbano da cidade nas ltimas dcadas. Os cidados de baixa renda que no tiverem condies

    dignas de moradia, principalmente os que habitam casares centenrios da arquitetura colonial,

    sero relocados para habitaes de qualidade, construdas no mesmo Bairro, com a opo de

    retornarem para suas antigas casas aps a restaurao necessria conforme o caso.

    O patrimnio arquitetnico ser inserido completamente na rota turstica, cultural, religiosa e

    ambiental dos pedestres, para tanto, todos os edifcios histricos, principalmente os abandonadospelo poder local, sero restaurados e determinado usos especficos, desde que no agridam suas

    instalaes. O patrimnio ambiental e paisagstico estar garantido, bem como a cultura cuiabana

    e as demais culturas que tm migrado intensamente para a cidade e regio nas ltimas dcadas.

    O Parque Linear da Prainha uma esperana nova de cidade, uma alternativa utpica e

    transformadora do clima urbano catico, bem como dos usos e funes do centro de Cuiab a

    partir da reinveno urbana do crrego da Prainha, este que desde a dcada de 1970 tem sido

    esquecido, marginalizado, poludo, escondido e ignorado, principalmente, pelo Poder Pblico

    municipal.

    Figura 19Croqui de um centro educacional e de qualificao profissional proposto para o Parque. Almda arquitetura de referncias regionalistas, tm-se a utilizao do piso subterrneo para adequaoclimtica mais eficiente decorrente da inrcia trmica do solo. O paisagismo e o uso da gua (atravs decascatas, esguichos e espelhos dgua) permitem melhor ambincia urbana e umidificao do ar. Fonte:SILVA, 2007: 233. /Org.: SILVA, Geovany J. A., 2008.

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    CONSIDERAES FINAIS

    A compreenso da histrica ocupao urbana da cidade de Cuiab e suas diversas intervenes

    ao longo dos sculos, na regio do crrego da Prainha, um princpio para o entendimento das

    condicionantes urbansticas que permearo o Projeto. O Parque Linear da Prainha se constitui de

    um projeto utpico devido ao seu iderio proposto e inimaginvel para a cidade atual, pois a rease encontra intensamente ocupada e consolidada, ao passo que j no se apresenta as mnimas

    referncias naturais do lugar. A implantao desse projeto implicaria na remoo de algumas

    funes estruturantes na Cuiab contempornea, pois a atual Avenida Tenente Coronel Duarte

    representa uma artria viria estrutural, marco divisor entre a regio Leste e Oeste, interligando a

    poro Norte da cidade com a Sul e ao municpio de Vrzea Grande. Existe outro agravante para

    a implementao de um projeto de cunho utpico, a viso imediatista das administraes

    municipais no vislumbra uma cidade longo prazo, pois seus projetos de governo quase sempre

    tendem s obras eleitoreiras e de retorno imediato comunidade.

    A proposta do Parque Linear da Prainha se faz utpica, pois rejeita todas as intervenes

    equivocadas j realizadas na rea, contrariando a imagem da Prainha existente e que j se

    apresenta impregnada na opinio pblica dos usurios da rea. A populao pede sua

    canalizao porque o crrego da Prainha, nas ltimas dcadas, sinnimo de sujeira, mau cheiro,

    poluio, e de doenas transmitidas por insetos e ratos. A retificao e posterior canalizao

    fechada do crrego; a implantao de uma via de trnsito rpido cortando o Centro Histrico da

    cidade; a locao de um sistema deficitrio de coleta de esgoto e guas pluviais e conseqente

    lanamento para o crrego, fato que culmina com a instalao de uma estao elevatria

    jusante da Prainha que desviaria a gua para o tratamento e despoluio (fato que no ocorre no

    contexto atual, pois as guas poludas so lanadas diretamente no rio Cuiab); so aes

    paliativas ao problema, que no equacionam a situao crtica da regio. A ausncia de verde, a

    verticalizao do centro, a impermeabilizao do solo e intenso trfego de veculos desqualificam

    a rea para a ocupao humana, contrariando o intenso comrcio atuante na regio.

    Intervir nos centros urbanos pressupe avaliar sua herana histrica e patrimonial, seu carterfuncional e sua posio relativa na estrutura urbana, mas, principalmente, precisar o porqu de sefazer necessria a interveno. Esta idia de interveno sustenta-se na identificao de um claroprocesso de deteriorao que pode ser entendido por analogia aos termos provenientes dascincias biolgicas. Interveno e cirurgia so palavras sinnimas, e o organismo submete-se auma interveno basicamente em trs situaes: para a recuperao da sade ou manuteno davida; para a reparao de danos causados por acidentes e, mais recentemente, para atender sexigncias dos padres estticos.

    Os conceitos de deteriorao e degradao urbana esto freqentemente associados perda desua funo, ao dano ou runa das estruturas fsicas, ou ao rebaixamento do nvel do valor dastransaes econmicas de um determinado lugar. Deteriorar equivalente a estragar, piorar ouinferiorizar. J a palavra degradao significa aviltamento, rebaixamento e desmoronamento.Degradar vem de gradus, grau, que compe a palavra degrau, na qual a preposio de refere-sea qualquer coisa que se movimenta de cima para baixo (Castilho, 2004). Em geral, a referncia aos

    espaos degradados acontece quando, alm das estruturas fsicas, verifica-se a reverberao damesma situao nos grupos sociais. Atribui-se a condio de empobrecimento e de marginalizaoe destruio das bases da solidariedade entre os indivduos e o descrdito na noo de bemcomum (Gutierrez, 1989). (VARGAS & CASTILHO, 2006: 3-4)

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    O projeto do Parque Linear da Prainha tem um carter subjetivo e simblico, pois busca devolver

    a cidade de Cuiab aos cuiabanos, reconsiderando sua histria negada pelo processo de

    modernizao e subjugao da cultura regional ao programa de desenvolvimento de interesses

    nacionais e internacionais. A cidade no mais dar as costas para seus rios e crregos, ao

    contrrio, reconheceria sua presena e se identificaria com suas potencialidades ambientais; o

    grande parque da Prainha se constituir no quintal das casas cuiabanas, com seus pomares, suas

    rvores e muita gua, em referncia a antiga casa colonial de ricas hortas e rvores frutferas para

    os perodos de estiagem e crises financeiras.

    Um futuro de cidade mais igualitria seria possvel, com espaos verdes de lazer e convvio,

    centros de educao e qualificao profissional, gua e arborizao, equipamentos urbanos,

    mobilirios de desenho qualitativo, policiamento eficaz e com constante fluxo de pessoas e

    atividades culturais, esta uma imagem possvel para a regio da Prainha. O potencial ambiental

    e turstico da rea deve ser visto como uma alternativa sensvel ao sistema virio presente.

    O que atra, no passado e no futuro, justamente o no estar presente. at mesmo possvelreunir as duas categorias aparentemente contraditrias em uma s e considerar tudo como utopia:entendida no tanto como prefigurao de um tempo melhor, mas como desgosto e impossibilidadede viver no atual. (ARGAN, 2001: 09)

    O resgate do meio ambiente, a recuperao dos recursos naturais e de suas matas de galeria, a

    valorizao do patrimnio histrico arquitetnico, a construo de uma rea de conexo entre o

    passado e o futuro a prefigurao de um presente melhor de cidade, uma utopia que une

    definitivamente o homem sua cidade, ao seu lugar melhor. O Parque Linear da Prainha uma

    interveno na vida urbana de Cuiab para o sculo XXI, pois prope o caminhar ao automvel, o

    encontro das pessoas com a funo social de um espao de lazer numa rea de preservao

    permanente ambiental e histrica. A minimizao do trnsito de veculos em detrimento do

    caminhar do pedestre uma opo saudvel para a vida urbana em todos os aspectos, a

    separao entre o parque (feito para as pessoas) e as vias estruturais (feitas para os veculos)

    clara e eficaz na construo de uma cidadania urbana da Cuiab contempornea, atingindo a

    sustentabilidade temporal, social e ambiental.

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