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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros SAHR, W-D. Ação e espaçoMUNDOS – a concretização de especialidades na geografia cultural. In: SERPA, A., org. Espaços culturais: vivências, imaginações e representações [online]. Salvador: EDUFBA, 2008, pp. 31-58. ISBN 978-85-232-1189-9. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported. Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada. Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported. Parte 1 - Geografia cultural e social: teoria e método Ação e espaçoMUNDOS – a concretização de espacialidades na geografia cultural Wolf-Dietrich Sahr

Parte 1 - Geografia cultural e social: teoria e método

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SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros SAHR, W-D. Ação e espaçoMUNDOS – a concretização de especialidades na geografia cultural. In: SERPA, A., org. Espaços culturais: vivências, imaginações e representações [online]. Salvador: EDUFBA, 2008, pp. 31-58. ISBN 978-85-232-1189-9. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

All the contents of this chapter, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.

Todo o conteúdo deste capítulo, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição - Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada.

Todo el contenido de este capítulo, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.

Parte 1 - Geografia cultural e social: teoria e método Ação e espaçoMUNDOS – a concretização de espacialidades na geografia cultural

Wolf-Dietrich Sahr

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Wolf-Dietrich SAHrprofessor, Universidade Federal do paraná e Faculdades [email protected]

Ação e EspaçoMUNDOS a concretização de espacialidades na Geografia Cultural

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ambulo ergo sum

Gassendi

a virada cultural da geografia, o seu ‘cultural turn’, é vista, por muitos,

como uma inclusão de abordagens semióticas e hermenêuticas na epis-

temologia da geografia. roberto lobato corrêa e Zeny rosendahl, prota-

gonistas da geografia cultural no Brasil, comentam que esta tendência da

geografia tem “o significado como palavra-chave” (2003, p. 15), situando

destarte suas contribuições numa tradição interpretativa.

Foi a anglófona new cultural Geography, seguindo os preceitos de abor-

dagens dos cultural studies da escola de Birmingham (raymond Williams,

richard hoggart, e.P. thompson, stuart hall), que delineou, durante os anos

1980, esta linha de pensamento, quando interpretou a ‘cultura’, nas palavras

de Paul claval (1999, p. 56), como um “sistema de significações que tem por

objetivo permitir o funcionamento da sociedade global”. esta perspectiva

aprofundou-se pela inclusão de elementos do estruturalismo semiótico fran-

cês e de suas elaborações pós-estruturalistas (roland Barthes, Jacques derri-

da, Jean-François lyotard, Jean Baudrillard, Gilles deleuze e Felix Guattari; ver

sahr 2003a, p. 233).

a tendência de integrar o significado nos objetos da geografia expri-

me-se, assim, em quase todas as obras ‘clássicas’ da nova Geografia cultural.

Mencionamos, neste contexto, a interpretação das paisagens dos parques

ingleses (1984) e do Palladianismo na itália (1993) de denis cosgrove, o re-

conhecido estudo de James duncan sobre a cidade de Kandya em sri lanka

“a cidade como texto” (1990), as investigações das representações popula-

res na suécia do século XiX de allan Pred (1990) e as “imaginações Geográ-

ficas” sobre as visões européias do oriente Médio de derek Gregory (1994).

todos estes autores optam por uma “leitura da paisagem” (claval 1999, p.

313), investigando paisagens pré-existentes (em natura, ou seja, no pensa-

mento) e as submetem a métodos semióticos, hermenêuticos e desconstru-

tivistas. desta maneira, a nova Geografia cultural afastou-se tanto das então

vigentes tendências da geografia materialista-marxista, que se focaliza nas

relações sociais (relações capitalistas e de poder), como da geografia feno-

menológica, que destaca a experiência humana. contudo, a nova Geografia

cultural também se distancia da clássica geografia cultural, com as obras de

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carl sauer e Wilbur Zelinsky, criticando esta como positivista e “superorgâni-

ca” – como na pertinente crítica de don Mitchell (2000, p. 29-34).

em síntese, tem-se que o destaque ao significado como Palavrachave1

dá uma identidade própria à geografia cultural, tornando o plano interpre-

tativo uma ‘realidade’ idealizada, mas deixa ao mesmo tempo a experiência

humana em segundo plano, principalmente quando se trata dos seus aspec-

tos corporais, sensíveis e estéticos. estes elementos aparecem na geografia

interpretativa apenas como ‘valores’ semióticos, quer dizer, são traduzidos

da vivência plena para o nível do intelecto. Portanto, o foco do significado

negligencia os processos da própria condição humana do agir (arendt

1981, português 2007), o que inclui ‘o significar’, ‘o produzir’ e ‘o fazer’ dos

produtos, das obras e dos fatos culturais pesquisados. diante desta situa-

ção, nos parece importante apontar que a ação, traduzida para o geográfico

como ‘produção’ e ‘construção’ do espaço, também envolve a culturalização,

sendo os seus processos até agora pouco valorizados na própria epistemo-

logia da geografia cultural. Por isso, concentramo-nos a seguir na temática

do agir e na sua dialética vivenciada-pensada, o que interpretamos como

uma comunhão entre corpo e mente, um viversignificar.

Da geografia cultural do significado para uma geografia social da ação

investigando a dialética do viversignificar, tomamos como ponto de

partida algumas reflexões de proponentes da escola de Birmingham –

lembrando o caminho da própria nova Geografia cultural. Percebe-se, por

exemplo, nas escritas do sociólogo pós-estruturalista stuart hall, a intelectu-

alização do empírico social num hiato de sua evolução intelectual. em 1981,

este autor ainda se refere às “culturas populares” como “formas e atividades

cujas raízes se situam nas condições sociais e materiais de classes específi-

cas”, inclusive “tradições e práticas” (hall, 2003, p. 257), enquanto, em 1991, o

mesmo autor define o meio cultural apenas como linguagem, textualidade

e significação (2003, p. 212).

homi Bhabha (1998, orig. 1994), outro autor de destaque desta corrente,

quando constrói uma ligação desconstrutivista entre nação e povo, aponta

a ‘nação’ como uma construção semiótica formada por narrativas, enquanto

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o ‘popular’ aparece com certa autonomia como “forma de vida que é mais

complexa que ‘comunidade’, mais simbólica como ‘sociedade’, mais conota-

tiva do que ‘país’” (p. 199). assim, a “expressividade” (p. 246) e o “enunciado”

(p. 248) do popular ganham uma visão mais acionista, enquanto a “comuni-

dade”, o “social” e o “nacional” tornam-se invenções semióticas da ciência e

da política. conseqüentemente, Bhabha refere-se à autoridade das práticas

costumeiras, tradicionais, como um “espaço além da teoria”. Para ele, a ex-

periência e a identidade cultural localizam-se “fora da sentença” e dentro

da “polaridade teoria-prática” (p. 250). esta compreensão da experiência,

mesmo quando fica ainda parcialmente encarcerada no vício intelectuali-

zante da ciência, já garante uma transposição do linguajar científico para

uma linguagem da experiência, mostrando que atrás das Palavraschaves

dos significados existe ainda um campo de agência, no qual os significados

são apenas ‘chaves’ de compreensão, mas para onde a ‘porta’ se abre deixan-

do livre uma bela vista para um horizonte corporal em movimento. Para isto,

a agência é – para Bhabha – uma enFormação, uma criação de formas em

relação ao indeterminado e o contingente do movimento (p. 253). destarte,

tal visão da geografia cultural correria menos risco em privilegiar exagera-

damente o lado idealista do significado.

na geografia cultural francesa, por sua tradição mais ecológica do que

as geografias anglófonas ou alemãs, parece-nos possível que a tradição de

vidal de la Blache – com seu foco nas relações homemambiente – permita

uma “linha de fuga”2 do problema do idealismo semiótico pelo simples fato

que esta tendência dá maior atenção à relação do que ao significado em

si. entretanto, observando as práticas de pesquisa dos colegas franceses, o

fato da ‘relação’ tornar-se rapidamente um arteFato leva destarte ao mesmo

campo significativo fixo como a tradição da geografia cultural inglesa. isto

se deve à quase sempre presente sedução da geografia francesa em inter-

pretar o ‘fazer ciência’ como um processo civilizatório. assim, muitas pes-

quisas francesas compreendem a idéia da cultura como transformação do

espaço natural pela atividade civilizatória num processo de humanização

(claval 1999, p. 289). neste viés, o sistema cultural é interpretado como

um sistema tanto de formação e produção intelectual (i) como de transfor-

mação material (ii), mas se auto-representa ainda em contextos reflexivos

como o significado de atos de civilização. Formam-se, assim, ‘culturas’ que

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combinam elementos naturais (i) com elementos culturais e materiais (ii)

para construir identidades e etnias sociais (quer dizer significativas, iii), as

chamadas “etnogeografias” (claval; sinGaraveloU, 1995).

em conseqüência, os ‘territórios’ desta geografia cultural francesa re-

presentam tanto espaços de poder, como espaços ambientais e espaços

simbólicos (BonneMaison, 2000, p. 26), o que apontaria para uma geogra-

fia cultural mais concreta. Mas é a própria intervenção intelectual homo-

geneizadora dos pesquisadores que transforma novamente estes espaços

semioticamente, principalmente quando propõem conceitos ditos ‘geográ-

ficos’3, os quais apresentam as mesmas características de significado como

os significados-objetos da new cultural Geography. Uma Palavrachave para

esta atitude semiótica é a concepção do “território” que se compõe num

quadro onde existem saberes, tecnologias, crenças e poder e que – quando

passa pelo crivo do mundo intelectual dos geógrafos – é captado e fixado

conceitualmente diante de um mundo vivido em permanente movimento.

assim, a abordagem do território muitas vezes recai no mesmo perigo do

idealismo, mas agora através da atividade científica, quando aparece como

signo geográfico: um conceito representando um espaço delimitado e rei-

ficado numa condição idealizada, definida, identitária, ritual-simbólica ou

política (BonneMaison, 2000, p. 95).

Para evitar uma demasiada intelectualização, augustin Berque, outro

representante da geografia cultural francesa, introduz a “lógique de médian-

ce” (1990), fazendo alusões a uma filosofia budista-fenomenológica com

influência japonesa. esta Mesológica é um complexo onde a natureza é

apropriada pelo sujeito reflexivo que reformula sua condição de vivência,

mesclando o subjetivo com o objetivo, o físico com o fenomenológico, o

ecológico com o simbólico. entretanto, para alcançar a condição do ‘fenô-

meno’, Berque induz a ‘poetização da experiência’ para poder torná-la sensí-

vel para a consciência humana (p. 32). Por isso, apesar da bagagem budista,

ele investiga a apropriação da natureza não primeiramente através da ação

corporal, mas através de uma operação intelectual na qual o “em si” (a natu-

reza objetiva) é transformado em um “para si” (um sujeito), o que nos parece

ainda um resquício hegeliano numa abordagem que em outras partes já se

mostra muito promissora, mas ainda não leva suficientemente em conside-

ração os componentes acionistas do próprio budismo (p. 85).

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ainda outro autor francês, Guy di Meo, se aproxima mais de nossa idéia

do espaço material, sensível e de ação (1998, p. 95). ele inicia suas reflexões

nas esferas da experiência fenomenológica, colocando a “casa” como o “nos-

so canto do mundo” (p. 97), e, a partir daí, amplia o raio de ação para outras

localidades, primeiro às mais próximas, depois às mais afastadas até chegar

no infinito. desta maneira, o território vivido torna-se um laço intermediário,

reunindo a experiência fenomenológica direta e subjetiva com o objetivo

coletivo, público e infinito. o ‘espaço’ muda, destarte, gradativamente seu

caráter dentro do próprio conceito (p. 114). assim, a abordagem de di Meo

ganha um viés fortemente acionista (de “distanciamento”), onde implode

a diferença intelectual entre o corporal e o significativo. Por isso, a idéia de

di Meo em embutir a concepção do território na teoria da “estruturação”

torna-se relevante. esta teoria, desenvolvida por anthony Giddens nos anos

1980, não recorre à diferença cartesiana entre corpo e idéia, mas refere-se à

diferença leibniziana entre substância (traduzido para o processo e a ação)

e forma (traduzido para estrutura). surge, desta maneira, uma Multilética

entre várias formas de espacialização e regionalização (ver di Meo, 1998, p.

50). em conseqüência, o ‘espaço’ ganha aqui uma conotação mais kantiana,

sendo um elemento categorial tanto na percepção (razão teórica) como na

ação (razão prática).

A irmandade entre Geografia Social, Antropologia e Sociologia

na mesma época em que se desenvolviam estas conceituações da ge-

ografia francesa sobre o espaço, a sociologia e antropologia francesas, nas

obras de Pierre Bourdieu, Michel de certeau e alain tourraine, e as sociolo-

gias inglesa e americana do interacionsimo simbólico (erving Goffman, Ge-

orge herbert Mead), e, principalmente, a teoria da estruturação de anthony

Giddens apontavam também para a ação humana espacial como elemen-

tos fundamentais da Formação da sociedade.

Pierre Bourdieu, por exemplo, propõe na sua “teoria da prática” (1976,

orig. 1972) uma sociedade compreendida como ‘conjunto de formas de prá-

ticas’ e destaca a atividade humana baseada num ‘repertório de regras e

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eventos’ com um ‘programa de discursos e ações’, diferenciando assim um

espaço virtual e abstrato (habitual) de um espaço prático (p. 141). Marti-

na löw denomina esta dicotomia de Bourdieu como “dialética entre o es-

paço metafórico social e o espaço fisicamente apropriado” (2001, p. 182).

löw insiste, junto ao Bourdieu, que para superar a dicotomia espacial vir-

tual-prática precisa-se de uma relação entre interioridade e exterioridade

da pessoa, na qual se reúnem os dispositivos abstratos do habitus (coleti-

vo) com as estratégias individuais de ação (p. 164-65). isto inclui também a

capacidade humana em transformar as próprias regras desta relação. Por-

tanto, a diferenciação entre espaço material e espaço virtual resulta num

“espaço social” que se abre quase como brecha para práticas não-refletidas

ou contraditórias (p. 189); nesta brecha reproduzem-se ações sem necessa-

riamente serem tematizadas na própria consciência dos atores, mas ficam

embutidas em esquemas culturais performativos (tradições, costumes etc.).

assim, o espaço social ganha características relacionistas diferentes da ge-

ografia francesa ambientalista. agora, a dialética se desenvolve dentro da

construção da sociedade, entre sujeitos racionais e ambientes de poder e

do capital, onde cada um por si representa um ambiente cultural com lógica

diferenciada (BoUrdieU, 2000, p. 134, orig. 1989). a prática social é, assim,

uma apropriação espacial de lógicas abstratas. nesta construção epistemo-

lógica, Bourdieu encontra uma solução para embutir a ação como estrutu-

ra ‘motivadora’ e produto cultural da sociedade, diferenciada por gêneros,

classes e povos.4

Michel de certeau, por sua vez, se inclina mais para um ângulo feno-

menológico da ação, quando se concentra nas características do próprio

agir no cotidiano, contextualizando a ação na diferença entre o agir tático,

espontâneo e sem lugar específico, e o agir estratégico que cria e preserva

um determinado lugar (certeaU, 1999, p. 46 e p. 92). destarte, ele é mais

geográfico que Bourdieu. trata do “habitat” e não do “habitus”. este habitat

se constrói primeiramente no privado, o qual representa o lugar dos sonhos

e os anseios dos sujeitos, mas está embutido em um espaço de maior abran-

gência, como a cidade e a sociedade (certeaU; Giard; MaYol, 1998, p. 42).

assim, certeau e seus colegas desenvolvem uma nítida teoria espacial váli-

da e digna para a própria geografia.5

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ainda em 1984, a teoria social de estruturação de a. Giddens (2003, orig.

1984), procura outra solução para a construção da sociedade. esta aborda-

gem apresenta igualmente conotações geográficas, e, por isso, ganhou

força dentro da geografia inglesa durante os anos 1980, principalmente na

obra de derek Gregory e steve Pile (cloKe; Philo; sadler, 1991, p. 93-131).6

Para Giddens, a sociedade é fundamentada no agir7. cada indivíduo age

primordialmente conforme diferentes formas de motivação. aqui, Giddens

empresta conceitos do freudismo, diferenciando o caráter da motivação en-

tre motivos subconscientes, rotinizações e ações reflexivas (p. 47). o autor

chama este processo da organização espacial de “regionalização” e dedica

um capítulo inteiro a esta questão (cap. iii). nele, define o território como um

“zoneamento do tempo-espaço em relação às práticas sociais rotinizadas”

(p. 140). assim, Giddens consegue teorizar a regionalização além do primiti-

vo ‘dimensionalismo’ geográfico entre o local e o global. Baseia-se, portanto,

na própria fenomenologia do agir e mostra, assim, uma dupla face da ação:

esta é espontânea e efêmera, quando baseada na espacialização da ação

individual, e estratégica, quando se trata de um agir orientado numa regio-

nalização mais constante (como instituições, países, casas etc., cf. Giddens,

2003, p. 169). assim, a relação entre dois tipos de espaços torna-se resultado

de um processo de estruturação entre o espaço da ação e o espaço da es-

trutura.

todavia, o verdadeiro mérito da construção de uma geografia da ação

é da geografia social de língua alemã. esta, nos anos 1980, ainda na periferia

dos discursos internacionais da geografia, desenvolvia com bastante inde-

pendência uma reflexão profunda e nítida sobre a relação entre espaço e

ação. Principalmente geógrafos sociais, como o suíço-alemão Benno Werlen

(1986, 1987) e o austríaco Peter Weichhart (1986), destacaram que a produ-

ção do espaço precisaria de um fundamento fenomenológico além da ge-

ografia humanista, e por isso insistiram que o ‘paradigma do espaço’ fosse

revisto de um ângulo acionista (sahr, 1999, p. 43). Portanto, Werlen rejeita

a ontologização do espaço na geografia e focaliza no agir, quando propõe

uma “geografia das regionalizações cotidianas” (1995, 1997). Parece-nos inte-

ressante que, paralelamente a esta tendência da geografia alemã, também a

geografia brasileira discutia neste momento uma problemática semelhante.

Por exemplo, Marcelo lopes de souza, já em 1988, critica os denominados

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“espaciólogos”. também Milton santos, com certeza um dos proponentes de

uma “geografia do espaço” no Brasil, se sente forçado, em 1996, a posicionar o

espaço entre os sistemas de ação e os sistemas dos objetos.8 na mesma tra-

dição, mencionamos ainda a obra de Paulo césar da costa Gomes (2002), que

com sua concepção de nomoespaço e genoespaço aponta um problema do

agir no confronto entre diferentes formas espaciais. e, finalmente, rogério

haesbaert, que define o agir (as ações materiais, sociais, políticas e significati-

vas), como elemento formativo do território, destacando em cada dimensão

o “território como um ato” (2003, p. 127 e 281).

diante deste cenário da geografia social de ação, me parece necessário

entrar numa reflexão mais nítida sobre o próprio agir.

A variedade da ação

as origens do aspecto acionista na teoria social são fortemente rela-

cionadas à descoberta da atividade humana como fonte de riqueza nos sé-

culos Xviii e XiX. isto é tanto mérito de John locke como de Karl Marx. nos

manuscritos de 1844, Marx aponta a diferença essencial da atividade pro-

dutiva entre “Werken” (work) e “arbeiten” (labour) recorrendo a John locke.

Mas, ao contrário do empirismo de locke, Karl Marx segue as proposições

de hegel, mostrando que o trabalho é a essência expressiva do homem, a

exteriorização do si mesmo, a Selbstentäusserung (MarX, 1956, p. 521 e 573).

desta maneira, transforma o mundo “em si” (o espírito) para o mundo “para

si” (o material). isto quer dizer que esta transformação desenvolve-se atra-

vés da externalização corporal do intelecto humano. surge desta dialética

espiritual-material a autoconsciência (o Selbstbewußtsein), que recria o ho-

mem na sua totalidade (p. 574). o então hiato entre obra exterior e consci-

ência significa que todos os artefatos humanos são produtos materiais fora

desta consciência. com esta visão materialista, Marx sugere que a reificação

das obras é tanto uma naturalização destes artefatos (uma volta à natureza),

mas também uma realização intelectual (uma criação de natureza), embuti-

da numa Entfremdung, uma alienação desta natureza (p. 512-515). destarte,

a atividade humana se reduz a uma produção da própria propriedade, atra-

vés do trabalho.

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hannah arendt, na sua obra prima the human condition (orig. 1958),

traduzido para o alemão como vita activa (1981, orig. 1971)9, critica esta

postura marxista, com razão, quando aponta a fundamental diferença entre

“trabalhar” (arbeiten) e “fazer” (herstellen, werken), designando o homem

dialeticamente tanto como animal laborans como homo faber (1981, p. 103).

assim, encontra na “condição humana” um termo acionista para a alienação

entre trabalho e fazer.10 nesta visão, a sociedade moderna transforma-se,

sim, numa sociedade na qual predominam atividades produtivistas alie-

nadoras e de consumo, cujo equilíbrio oscila entre produção e destruição,

onde existe uma forte circulação de mercadorias e onde a sedução do ho-

mem é princípio e fim da produção (ver também BaUdrillard, 2004). Mas,

para arendt, esta característica é apenas marcante para a cultura de massa

que é “usada, abusada e esgotada para expulsar o tempo vazio”... “para os

fins do divertimento” (1981, p. 157).11 neste sentido, arendt afasta qualquer

felicidade na sociedade moderna que vai além da satisfação do animal la-

borans.12

Para fugir das limitações acionistas do sistema capitalista, hannah

arendt propõe uma outra interpretação do trabalho, agora no sentido do

work. este é o Fazer, o herstellen13, uma palavra alemã a qual se refere aos

artesãos e não aos trabalhadores. no herstellen junta-se a criatividade, com

espontaneidade reflexiva, à produção artesanal. trata-se de uma forma de

produção mais motivada e individualizada do que rotinizada. não existe, no

herstellen, o produtivismo genérico da subsistência, mas sim uma produ-

ção consciente necessária para a existência, onde se “realiza a vida humana

específica” (arendt, 1981, p. 211).

além do Fazer, hannah arendt aponta ainda uma terceira categoria

da agência, o agir (Handeln). esta categoria representa a principal fonte da

auto-expressão individual do homem como zoon polítikon. na sua esfera,

as atividades produzem uma pluralidade de semelhanças e de diversida-

des, constroem as suas “alteridades da vita activa” (1981, 214; 2007, p. 189).

Por isso, esta autoconsciência representa uma forma não-alienada, porque

retorna a si mesma, fundamentando e comungando o corpo da persona-

lidade com o intelecto da sociedade. trata-se de um espaço de liberdade,

onde as relações sociais permitem convivência livre e onde ações humanas

adquirem seus sentidos, onde aparecem significações e interpretações ape-

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nas como ferramentas da vita activa, e não como o seu sentido. em contras-

te ao trabalhar e ao FazerProduzir, o agir, e junto com ele o seu parceiro, o

Falar, formam um entreespaço social, “onde a ação (no nosso sentido o agir)

e o discurso (o Falar) criam entre as partes um espaço capaz de situar-se

adequadamente em qualquer tempo e lugar” (arendt, 2007, p. 211). trata-

se de um “espaço de aparência” (p. 212), que depende de atores sociais e

de relações de poder (arendt, 1981, p. 250). aqui, a geografia – e principal-

mente a geografia social e cultural – deveria dedicar-se às práticas sociais

do homem como uma produção do espaço ‘mesológico’, pesquisando os

‘enquadramentos do agir’, que garantem, através de suas formas culturais,

estabilidade e coerência dentro de uma sociedade (1981, p. 238).

as três formas da agência propostas por hannah arendt permitem uma

nova reflexão sobre as funções sociais da ‘produção do espaço’14. enquanto a

interpretação marxista do agir é reduzida ao “trabalho”, precisamos teorizar

a criatividade, o FazerProduzir, a ação non-conformista, a “revolução” do con-

tra-poder, para falar em termos marxistas. este lugar é a margem entre indivi-

dualidade e sociedade. neste entre-espaço questiona-se e se discute o agir

e o viver. nas sociedades capitalistas, submetidas ao trabalho e à reProdução,

estes espaços criativos encontram-se geralmente à margem. nestes lugares

limiares, nas fronteiras e nos limites, o ser humano adquire seu pleno sentido.

Por isso, a geografia do agir de arendt pode ser descrita da seguinte forma:

limites e fronteiras, que são de tanta significância para o

campo dos assuntos humanos, representam o nunca confiável

enquadramento no qual se movimentam os seres humanos, sem

os quais uma convivência não seria possível... tudo que estabiliza

este campo, desde a cerca protetora, a casa e a lavoura, até as

fronteiras nacionais que determinem a identidade física, e as leis

que definem e cuidam da existência política dos povos, tudo é

quase trazido de fora para este campo cujo interior compreende

as atividades do agir e do falar, cujas características são estabelecer

princípios e criar relacionamentos, mas não apenas estabilizar e

delimitar (arendt, 1981, p. 238, trad. do autor).

assim, mostramos que a auto-expressão humana vive nos limites e nas

fronteiras. trata-se de um agir que deleuze e Guattari denominam a “linha

de fuga” (1996, p. 69). neste lugar criam-se bifurcações e espaços de alterida-

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de, outras geografias e geografias dos outros15, formam-se espaços sociais

e políticos onde os sujeitos ganham aparência e onde os atores sociais tor-

nam-se fenômenos de suas culturas. aqui, surgem as diferentes concepções

do eu junto as diferentes formas do interagir como espaços culturais. aqui

se constroem o que denominamos os espaçoMUndos (sahr, 2007).

combinando as reflexões de hannah arendt com algumas suposições

do filósofo ernst cassirer, percebemos que o agir é profundamente social.

Por isso, cassirer o destaca como elemento fundamental da “cultura”, defi-

nindo as construções culturais de um “agir em comum” (gemeinsames Tun)

(1994c, p. 75)16. nestes mundos intersubjetivos, a constância egocêntrica e

a personalidade vêm das ‘formas simbólicas’ que reúnem conteúdos signifi-

cativos com elementos materiais. Para cassirer, as “formas simbólicas” são

...os conteúdos, nos quais se formam a organização do eu

para um mundo próprio e único...; eles são dados, de qualquer

exterioridade espacial, temporal, ideal fazendo também parte de

outros mundos, estes sociais e metafísicos, semânticos e éticos, e

dentro destes mundos eles consistem de formas e relações entre

eles que não coincidem com os mundos do eu (cassirer, 1994b,

p. 100, trad. do autor).

existe, portanto, para cassirer, uma dialética entre os espaçoMUndos

e a construção do eu, resultando da mesma alienação (exteriorização) da

cultura que Marx (1956) e simmel (1919) já apontaram (ver sahr, 2007, p.

75). no momento quando se constrói o eu do ator, recriam-se também as

formas simbólicas (linguagem, mitos, técnicas, ciência, arte etc.). assim, o eu

não é mais um ator por si, mas vira um produto do agir. ele próprio apare-

ce como forma simbólica. conseqüentemente, surge neste momento uma

idéia estranha: compreende-se o agir como um agir sem sujeito, no qual o

eu é apenas uma construção provisória17. Portanto, continuamos as nossas

reflexões delineando uma geografia cultural baseada na ação no limite en-

tre o agir individual e o sistema coletivo.

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As lógicas da ação – “lebenswelt” versus Sistema

os vários tipos de ação baseiam-se num conjunto de diferentes lógi-

cas que são formados por mundos específicos (formas simbólicas). trata-

se, como já demonstramos, de mundos em ação, nos quais não apenas os

indivíduos, mas também as estruturas, são transformadoras, motivacionais

e iniciadoras. assim, destacamos diferentes lógicas de ação: lógicas sistêmi-

cas, coletivas e/ou individuais.

Max Weber foi um dos primeiros sociólogos a sinalizar que sistemas de

ação dependem de racionalidades diferenciadas. em função desta observa-

ção, podemos destacar três tipos – a racionalidade utilitária, a racionalidade

normativa e a racionalidade comunicativa. a primeira refere-se a objetivos

imediatos do ‘indivíduo’ que satisFaz suas necessidades e desejos, enquanto

a segunda garante a coesão sistêmica da sociedade com sistemas do Fa-

zerProduzir. a terceira, finalmente, estabelece as modalidades para poder

comunicar-se sobre as outras racionalidades. esta diferenciação inspirou

tanto Jürgen habermas (1981), como Benno Werlen (1987), para fundamen-

tar suas respectivas abordagens na “teoria da ação comunicativa” (1981,

versão espanhola 1999) e na teoria das “regionalizações cotidianas” (1995,

1997).

a diversidade das racionalizações, contudo, expressa um sério problema

para a ciência. Porque existe uma diferença entre as racionalidades sistêmi-

cas que não necessariamente coincidem com a racionalidade dos próprios

atores e suas intenções. destarte, quando se fala da racionalidade humana

na ação nos referimos apenas à ‘reconstrução social’ dessa ação, nunca à

ação por si. isto vale tanto em situações do cotidiano, como na ciência ou na

arte e na política. assim, não é possível construir uma geografia acadêmica

que racionaliza completamente as diferentes ações e, assim, não podemos

nos permitir dizer que captamos realmente o mundo vivido autêntico. esta

divergência entre o mundo de ação vivenciado e o mundo racionalizado

já foi apontada por alfred schütz em sua obra sobre as “estruturas do le-

benswelt” (1984, p. 84).

Portanto, precisamos recorrer a uma idéia do agir que se defina como

processo. assim, a criatividade da ação, que ultrapassa a racionalidade, deve

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ser revelada metodologicamente pelo próprio pesquisador, num diálogo

direto com seus pesquisados com quem desenvolve um ‘conceito em co-

mum’ (sahr, 1997, p. 76, ver também GeertZ, 1978). inicia-se, destarte, uma

geografia da ação comunitária. aqui, a espacialização é tanto um processo

comunicativo, num espaço de convivência (motivada), como um processo

exteriorizante e racionalizante, onde surge uma multiplicidade de espaços

interpretativos.

neste momento, lembramos da antiga diferenciação entre Gemeins-

chaft (comunidade) e Gesellschaft (sociedade), proposta pelo sociólogo

Ferdinand tönnies (1935, veja também haesBaert, 2003, p. 215ss.). tönnies

destacava uma diferença constitutiva na forma da socialização: a comunida-

de, para ele, é formada através do contato direto, embutido numa tradição

comunitária, e a sociedade é baseada em relações abstratas e sistêmicas.

Portanto, a ação do ator social incorpora os dois aspectos. de um lado, ele se

preocupa em manter o sistema comunicativo e normativo, por exemplo, na

escolha de uma determinada língua ou através de gestos compreensíveis

para poder expressar-se, mas, de outro, se dirige diretamente a outros sujei-

tos (individuais e coletivos), para expressar-se, até – se for necessário – criar

suas próprias ferramentas e formas de comunicação.

habermas transpõe esta relação para um campo genuinamente geo-

gráfico quando explica o contraditório processo da “racionalização” na so-

ciedade moderna:

...abre-se uma contradição entre uma racionalização da

comunicação cotidiana, embasada nas estruturas intersubjetivas

do mundo vivido para qual a língua representa o genuíno

e insubstituível meio de comunicação e compreensão, e da

crescente complexidade de sistemas parciais do agir utilitário,

nos quais os meios dirigentes, como dinheiro e poder, coordenam

os atos (haBerMas, 1981, i, p.458-459, trad. do autor).

nesta citação aparece claramente a clássica diferença da geografia

acadêmica entre o “mundo vivido” e o “espaço geográfico”. contudo, sob in-

fluência da crescente divergência entre estes dois elementos espaciais na

sociedade moderna, o “mundo vivido” é crescentemente racionalizado (p.

231), deixando, terminalmente, o eu expulso dos mecanismos da sua pró-

pria interação. substituem-se, nesta situação, as lógicas comunicativas di-

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retas por lógicas sistêmicas indiretas, o que resulta numa “mediatização do

mundo vivido na forma de uma colonização” (p. 293). assim, a cultura supra-

orgânica, tão criticada pela geografia cultural crítica (Mitchell, 2000) pre-

cisa, sim, de uma crítica pela geografia cultural acionista, esta, por exemplo,

exercida nas lutas pela independência da auto-expressão. isto parece ser a

função essencial da geografia cultural e ultrapassa a mera questão geográ-

fica de encontrar um território para a autodeterminação.

territorialização e espacializações como elementos culturais da sociedade

durante os últimos anos, o território tornou-se um conceitochave até

modista dentro da geografia brasileira (ver soUZa, 1995, santos, 1996, ha-

esBaert, 2004 e saQUet, 2007). entretanto, existe pouco consenso sobre sua

compreensão teórica. Por exemplo, souza interpreta o território como uma

“extensão do poder” (1995, p. 80), reduzindo (com raffestin) o espaço a um

resíduo natural (p. 97). Milton santos interpreta o território como um todo

entre objetos e ações, um “espaço híbrido” (santos, 1996, p. 72). também

saquet posiciona o território como um corpo relacional entre o material e o

ideário, onde os elementos da apropriação e produção são “a um só tempo”,

“econômicos, políticos e culturais”, sem definir como estas três dimensões

são caracterizadas e interligadas (saQUet, 2007, p. 127). assim, todas estas

perspectivas reificam e objetivam o território, sem verdadeiramente captar

o problema processual. apenas a abordagem de rogério haesbaert (2004)

mostra que a discussão sobre o território precisa ser mais ampla, discutin-

do as características da mobilidade, da construção e da vivência, seguindo

deleuze e Guattari:

Muito mais do que uma coisa ou objeto, o território é um ato,

uma ação, uma rel-ação, um movimento (de territorialização e

desterritorialização), um ritmo, um movimento que se repete e

sobre o qual se exerce um controle (haesBaert, 2003, p. 127).

com esta interpretação, sim, o termo do território volta à idéia original

da existência cultural do homem nos manuscritos de 1844 de Karl Marx.

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assim, entretanto, o território não é mais um produto, mas uma “expressão”

(haesBaert, 2003, p. 50), uma criação cultural, com um determinado “rosto”

(deleUZe; GUattari, 1996, p. 32). o território territorializa-se entre signi-

ficância e subjetividade, e não no espaço. Por isso, chamamos o território,

como deleuze e Guattari, um ato em movimento. esta operação intelectual,

a qual transforma o território-conceito em um ator-conceito, faz dele um

corpo e um sujeito em ação. assim, o território ganha individualidade e tor-

na-se parceiro dos atores.

todavia, a expressividade do território surge através de uma diferen-

ciação teórica fundamental, da qual muitos geógrafos não se dão conta. a

organização (ou produção) do território não depende apenas de redes de

poder, mas também de máquinas-sistemas de produção e de significação.

os territórios se configuram em processos de territorialização que definem

um terreno delimitado, mas precisam também de processos de espaciali-

zação, que, na experiência vivida ilimitada, configuram as características da

formação do território, e não o próprio território. Por isso, concordamos com

a geógrafa christine chivallon que insiste, com razão e coração, que a geo-

grafia precisa de uma concepção plena do “espaço”, e não apenas do “terri-

tório” (1999, mas ver também haesBaert, 2003, p. 76).

Por isso, a diferença teórica entre território e espaço nos parece funda-

mental para uma geografia da ação. entendemos como territoria-lização,

com haesbaert, a configuração de espaços definidos por diferentes formas

de espacialização (lingüística, estética, política, social, econômica) e estru-

turação (hierarquica, reticular etc.). assim, a agência e as ações ganham um

novo papel. trata-se agora de formas geográficas de construção cultural.

neste momento, uma vertente da geografia fica ligada à geografia do terri-

tório, discutindo limites e fronteiras dos espaços reificados sobre o espaço,

e a outra à geografia das espacializações, que se refere a processos, transfor-

mações e ações de formar espaços.

três elementos fundamentais para uma Geografia da Ação

diante das reflexões expostas até aqui, propusemos uma abordagem

com uma perspectiva diferente da nossa proposta anterior sobre os “signos

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e espaçoMUndos”, embora ambas estejam interligadas (sahr, 2007, p. 76).

destacamos agora a perspectiva da ação em relação aos espaçoMUndos.

conforme a tipologia de hannah arendt, percebe-se que uma geografia

cultural da ação tem que dar conta da variedade espacial das diferentes for-

mas de agência.

1. o trabalhar, na sua forma de força de trabalho, acontece cultural-

mente dentro de padrões altamente normatizados, com forte do-

minação de esquemas culturais e semióticos de sistematicidade e

homogeneidade. Por isso, suas espacializações são basicamente

voltadas à organização fixa de limites sociais e materiais. em “vigiar

e Punir”, Michel Foucault já havia demonstrado a função destes es-

paços homogeneizadores para fins de poder (2007). neles, os hu-

manos territorializam-se através de rotinas, muitas vezes com ações

subconsciente mente internalizadas, que formam corpos e subjeti-

vidades. os territórios do trabalho baseiam-se principalmente em

racionalidades simples e homogeneizadoras (matemáticas, capita-

listas etc.), portanto, apresentam pouca expressividade. Geralmente,

são espaços de produção e de consumo, onde a intensa associação

entre trabalho e integração sistêmica estabelece uma lógica de “cur-

to circuito” que impede maior auto-expressividade. se reduz, assim,

à capacidade da sociabilidade e da comunicabilidade humanas. este

espaço de trabalho e de consumo, inclusive seus territórios, repre-

senta o espaço paradigmático da sociedade moderna industrial, no

qual predominam as atividades econômicas de troca, a técnica, a lei,

a burocracia etc., permitindo apenas uma individualização massifi-

cada alienada, mas não uma individuação existencial do ator social.

2. os espaços do Fazer (Herstellen), contudo, garantem uma melhor indi-

viduação existencial. aqui, predomina a produção criativa através de

atividades especializadas que, muitas vezes, juntam diferentes espa-

cialidades. conforma-se, assim, a obra artesanal e/ou artística como

produto intermediário entre individualização massificada, coletiviza-

ção e individuação. nos territórios do Fazer, a expressividade é maior

e variada, e, por isso, a significação faz parte integral desta forma

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de produzir. neste campo, atividades rituais (atos com significados

conscientes), artesanais e artísticas predominam. desenvolvem-se,

destarte, espacialidades coletivas que permitem a construção de

territórios de alteridade na vivência cotidiana. os mais importantes

exemplos disso são os espaços do mundo vivido familiar, espaços

étnicos e de resistência, mas também os cenários sociais, artísticos e

de fantasia (por exemplo, na religião, nas artes etc.). a sua integração

sistêmica coletiva permite uma maior individuação e diferenciação

social e garante espaços de alteridade sem plena submissão ao siste-

ma hegemônico. assim, nestes espaços, podem formar-se territórios

coletivos de contestação.

3. Finalmente, a terceira forma de agência, o agir, é uma espacialização

voltada à plena expressão humana. Forma espaços que dificilmen-

te podem ser intelectualizados ou semiotizados, mas que mostram

alta criatividade. esta criatividade – agora no sentido de criação, e

não do Fazer, apresenta-se em duas esferas: primeiro, inventa lingua-

gens inovadoras espaciais que permitem comunicação em ‘territó-

rios de liberdade’18, como é o caso das linguagens dos poetas, dos

músicos, das atmosferas e das virtualidades. aqui, a comunicação é

plena e direta, com alta expressividade, mas garante pouca estabili-

dade, porque não segue regras, pelo contrário, fura regras antigas e

estabelece novas. Por isso, nos seus espaços, o território no sentido

clássico não faz sentido. aqui rege a variedade das espacialidades,

sejam estes corporais ou significativas, mesmo dentro de uma única

ação. encontramos nesta diaMultilética libertária a força e a energia

da cultura, que permite uma integração social diferente da integra-

ção sistêmica da sociedade capitalista e moderna. no seu conjunto

espacial, as linguagens não são predefinidas, mas encontram o seu

profundo ‘sentido’ existencialista no significarviver, formando ‘terri-

tórios’ na concepção de deleuze e Guattari, que, no fundo, são limi-

tes, trajetos e linhas19. trata-se dos verdadeiros espaçoMUndos, com

uma miríade de lógicas, mesológicas, afetos e atmosferas criativas.

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esta concepção de uma geografia social e cultural da ação nos parece

possível quando abordamos a questão da ‘forma geográfica’ de uma nova

maneira. deveríamos rejeitar o formalismo geográfico atualmente vigente,

expresso tanto na abordagem do ‘território’, como na abordagem das ‘redes’,

e ampliar a questão da forma para a questão do “agenciamento” (deleUZe

e GUattari 1997, p. 218-220), do enquadramento da ação e do movimento

nas formas de convivências e dos conjuntos sociais. deveríamos pesquisar,

assim, os rizomas, as junções, os hibridismos, mas também as divergências

e as contradições dentro da sociedade, quando aparecem como formas de

expressão corporal ou significativa.

Notas

1 em algumas partes deste texto tomamos a liberdade de desconstruir algumas conotações despercebidas nos termos utilizados. Por isso, criamos formas de escrever onde uma letra maiúscula revela uma conotação diferenciadora dentro da palavra, principalmente no caso de palavras compostas. da mesma forma, afastamos outros termos do plano da compreensão direta com ‘aspas’ simples, elevando estas palavras para um nível diferente de compreensão dentro do texto, criando desta maneira uma paisagem verdadeiramente têxtil, com um relevo ondulado, no texto. assim, por exemplo, a palavra Palavrachave é um logos poético que se abre para uma compreensão da ‘realidade’ no fundo que fica esperando para seu deciframento em outro plano do texto, no metafórico. as “aspas” duplas são reservadas para citações de outros autores.

2 emprestamos este termo da filosofia da territorialização (em Mil Platôs) de Gilles deleuze e Feliz Guattari (1996, p. 69 e 102).

3 na verdade, trata-se de conceitos geográficos acadêmicos e não de conceitos geográficos populares.

4 vale a pena mencionar que a concepção do habitus se origina na filosofia da arte de erwin Panofsky que a propôs como uma estrutura estruturante, um modus operandi. ver o seu estudo sobre a “arquitetura gótica e escolástica” (PanoFsKY 2001, ver também BoUrdieU, 1999, p. 338).

5 no Brasil, as recentes publicações de Benhur Pinos da costa (2005, 2007) apontam exatamente nesta direção quando propõem o conceito das microterritorialidades como resultado de comportamentos táticos e estratégicos.

6 chama atenção que, depois de um primeiro momento, a teoria não empolgou mais os geógrafos ingleses. isto se deve provavelmente às fraquezas na sua interpretação pela time geography de torsten hägerstrand (ver Giddens, p. 157-58).

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7 diferenciamos neste capítulo, conforme a. Giddens, o “agir” (agency), como termo genérico do campo performativo, a “ação” (action), como uma seqüência (refletida ou não) de motivação e resultado, e o “ato” (act), um simples processo performativo.

8 Mesmo assim, faz uma alusão duramente crítica a obra de Benno Werlen (1996, p. 67ss.).

9 a tentativa de utilizar a tradução brasileira “a condição humana” (ed. Forense Universitária, trad. roberto raposo) para esta investigação frustrou-se pela sua qualidade insatisfatória. Já na tríade constitutiva da obra: “labour, Work, and action” aparece uma conotação confusa na tradução. assim, o que hannah arendt denomina seguindo Karl Marx o Labour (=trabalho) torna-se “labor”, enquanto o que hanna arendt chama Work (no sentido de Produzir e Fazer um artefato) vira “trabalho”. apenas o termo “ação” parece equivalente. contudo, este deveria ser, conforme as distinções giddensianas, traduzido por agir. também a palavra “sprechen” (Falar) é traduzida, a nosso ver erroneamente, por “discurso”. a tradução negligencia, assim, o quase sempre caráter processual dos verbos e não toma muito cuidado com substantivizações como “o Falar”, “o agir”, “o Produzir”, “o Fazer”, os traduz geralmente por palavras genéricas que apontam o produto ou o meio destas ações (línguagem, discurso, ação, produção, e fato). diante deste problema, referimo-nos apenas à tradução alemã, a qual é autorizada pela própria autora (nativa desta língua) e que capta melhor as alusões processuais que podem sim ser reproduzidas em português.

não podemos deixar de compartilhar também a observação de que a tradução brasileira ainda reduz o texto consideravelmente, por razões desconhecidas, se a comparamos à tradução alemã. corta às vezes parágrafos inteiros pela metade, encurta frases no seu interior, e até omite curiosamente em muitos casos as alusões religiosas, tão importantes para uma autora que publicou o seu primeiro trabalho científico sobre santo agostinho.

10 a mesma alienação do produto pelo produzir do próprio produtor é descrito por Georg simmel em seu clássico estudo sobre “o termo e a tragédia da cultura” (1919).

11 esta frase falta na tradução portuguesa, e se insere depois de “o resultado é aquilo que eufemísticamente se chama cultura de massas....” (2007, p. 146).

12 vilem Flusser ainda ironiza esta felicidade como uma “civilização idiota”, porque produz para o consumo e se consome para a produção (1998, p. 46).

13 a palavra “her-stellen”, quando traduzida literalmente do alemão, significa ProPor.

14 em “Mil Platôs v” (1997), deleuze/Guattari propõem uma tipologia de ação semelhante, quando falam do trabalho abstrato, do trabalho físico e da “ação livre” (p. 199).

15 estes espaços de alteridade nos parecem semelhantes ao conceito da “heterotopia” de Michel Foucault (1967, ver também deleUZe, 2005).

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16 ao contrário de hannah arendt, cassirer, que igualmente escreve em alemão, prefere para o agir a palavra Tun ao Handeln, provavelmente porque o Tun conota um aspecto acionista menos agudo e dirigido do que o Handeln. Para cassirer, o Tun é a pedra fundamental da “Filosofia das formas simbólicas” (cassirer, 1994a, p. 11; ver também schWeMMer, 1997, p. 27ss. e sahr, 2007).

17 Uma primeira tentativa de pensar o ‘agir sem eu’ já foi realizada pelo autor num texto publicado em alemão nos Jenaer Geographische Manuskripte (sahr, 2003b). infelizmente, a este esforço inicial não foi dado seqüência, embora uma ‘antropologia’ do agir seja de grande importância para uma geografia de ação.

18 o termo ‘territorios de liberdade’ é, no nosso ver, uma contraditio en adiecto. Um território sempre depende conceitualmente de uma delimitação (mesmo quando esta é apenas efêmera), e por isso nunca pode ser libertário.

19 deleuze e Guattari (1996, p. 9-15) falam, neste sentido, de um cso = corpo sem orgãos.

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