5
NQ 23 dez./83 p.1-5 ISSN 0100-7807 ~ EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECuARIA - EMBRAPA ~ vtncuraee se ~histério da Agricultura ~ CENTRO N~CIONAL DE PESQUISA DE GADO DE CORTE - CNPGC V Rodovia BR 262 - Km 4 - Caixa Postal. 154 79.100 - Campo Grande. MS Dorival Monteiro Pimentel 1 Ademir Hugo Zimmer 1 PASTAGENS DE SETÁRIA - FORMAÇÃO E MANEJO o capim setária, também conhecido por capim marangá ou capim do congo, é uma gramínea forrageira que, nos últimos anos, vem desper- tando um crescente interesse no meio pecuário brasileiro pelas suas boas características forrageiras. Dentre estas, destaca-se seu con- siderável potencial de crescimento durante boa parte da estação se- ca, quando a maioria das gramineas forrageiras tropicais cultivadas no pais tornam-se secas e pouco produtivas. Resultados experimentais e observações de campo têm confirmado os bons níveis de produtivida- de e de suporte da espécie verificados em outros paises, especial- mente da cultivar Kazungula que também tem se destacado como resis- tente ao pisoteio do gado e, aparentemente, às cigarrinhas das pas- tagens. Trata-se de uma gramfnea origindria de regloes altas da Afriea tropical, que foi intrcduzida no Brasil por volta de 1950. Sua difu- são, no entanto, só foi iniciada mais recentemente através da impor- tação de sementes produzidas na Austrália a partir de 1961. Esta es- pécie de capim, cujo nome científico é Setaria anceps (ou Setaria sphacelata varo sericea), apresenta várias cultivares, sendo a Ka- zungula e a Nandi as mais utilizadas na formação de pastagens no Bra sil. São plantas perenes e de hábito cespitoso, que crescem em toucei- ras alcançando cerca de 1,5 a 2,0 m de altura na época do floresci- mento. As folhas são glabras (sem pelos), verde azuladas e com bai- lEngº Agrº, M.Sc. Pesquisador da EMBRAPA-CNPGC; Caixa Postal 154 CEP 79100 - Campo Grande, MS

PASTAGENS DE SETÁRIA - FORMAÇÃO E MANEJOainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/138544/1/COT-23.pdf · NQ 23 dez./83 p.1-5 ISSN 0100-7807 ~ EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA

  • Upload
    lythuan

  • View
    212

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

NQ 23 dez./83 p.1-5

ISSN 0100-7807

~

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECuARIA - EMBRAPA

~

vtncuraee se ~histério da Agricultura

~ CENTRO N~CIONAL DE PESQUISA DE GADO DE CORTE - CNPGC

V Rodovia BR 262 - Km 4 - Caixa Postal. 154

79.100 - Campo Grande. MS

Dorival Monteiro Pimentel1

Ademir Hugo Zimmer1

PASTAGENS DE SETÁRIA - FORMAÇÃO E MANEJO

o capim setária, também conhecido por capim marangá ou capim docongo, é uma gramínea forrageira que, nos últimos anos, vem desper-tando um crescente interesse no meio pecuário brasileiro pelas suasboas características forrageiras. Dentre estas, destaca-se seu con-siderável potencial de crescimento durante boa parte da estação se-ca, quando a maioria das gramineas forrageiras tropicais cultivadasno pais tornam-se secas e pouco produtivas. Resultados experimentaise observações de campo têm confirmado os bons níveis de produtivida-de e de suporte da espécie verificados em outros paises, especial-mente da cultivar Kazungula que também tem se destacado como resis-tente ao pisoteio do gado e, aparentemente, às cigarrinhas das pas-tagens.

Trata-se de uma gramfnea origindria de regloes altas da Afrieatropical, que foi intrcduzida no Brasil por volta de 1950. Sua difu-são, no entanto, só foi iniciada mais recentemente através da impor-tação de sementes produzidas na Austrália a partir de 1961. Esta es-pécie de capim, cujo nome científico é Setaria anceps (ou Setariasphacelata varo sericea), apresenta várias cultivares, sendo a Ka-zungula e a Nandi as mais utilizadas na formação de pastagens no Brasil.

São plantas perenes e de hábito cespitoso, que crescem em toucei-ras alcançando cerca de 1,5 a 2,0 m de altura na época do floresci-mento. As folhas são glabras (sem pelos), verde azuladas e com bai-

lEngº Agrº, M.Sc. Pesquisador da EMBRAPA-CNPGC; Caixa Postal 154CEP 79100 - Campo Grande, MS

..---+---,--------------------- COMUN ICADO TECN ICO ---,

CT/2,~ - CNPGC

"hQI largas 6 Qul1h~dªl. Nas plantei novas ou afilha., fil ba1nhª1d~1 folhal Opfl$entam grandes manchal de palDfl~lo purp~rlgJ 110 ª-ehªt~dª1 e dispostas em fO:rmf'j de l,eqLJc. A pul,tillal.' Kª~wf)gt)ln PQd~serdl~tinglJh1g da Nandi por ser de twrt@ fflfjd,$ ",1to f! ªpr~~enhlf inflo ...r~§clnc!11 (e$plg~e) d~ oDlo~açãg mais pIara.

E~tª1 plantas* embora senda or1g1nllmlnt. de r.g1D~. de Bltltud~Il~Yadª aprasentam uma faixa d~ BdBptl;ao climática blltanta amplª.DldoD da 11t~fatura evidenciam que I Isp'cie pode I~r cult1v~d. dll-da a nível do mar a ~ltStudl8 em torno de '.000 m, vegetunda muitoblm 1m regi~e& troplelis ~ $ubtrop1cal1 Dom prec1pita;lo pluvlom'~tr1cI @ntr. 800 I 1.200 mm Inuai,. sendo qu~ • cultivar KllungulR '1!ijp~r~ntlmentl, melhgf adaptada QUI 6 N~nd1 .8 árlls de el1ml IDa!1frio. Na, regiõel and~ a Istaçlo leCI PU dI frio "Ia é muito longa Iª ocorrlnciª de geªdª~ $eyer~5 "10 é muita freqG~"tI1 ª& paltª9lnld~ I~t.rl~ têm proporcionadO produçDI6 ~lt!~fat6riI6 ~té durlnte ainverno. ObSITvBçôes de campo mOfitr~mquer embor~ O~~dID 8.Y~r.1 pDSrI@m prejudIoaf I$te fprrage1rQ pelD "qu~1m8" total dlfi plantlR Im~fimo morte de 11gumas, 8~ lobrevlventel rebrotBffl r~pidlmantl losoqUI ªI agndlç~el de tempef~tura e umidade le tornem fIYor'v~!.~ 60"5fllwltadoJ também têm lido oblprvadDI em rlgla~5 de çllml trDPicalúmida, D&pecJalmlnt. "ij .,ta;IQ chuvqla. NDI.ªI .f.ªI~ g Gªpim ~It'-r1l t~m ev1d~ne1ªdo bPD p.lptabl1idad~J bom velar nutritivo, bo~ fl-li.tlnGI. 80 pi.ateio direto pelo gado I mat1.fat6r1p produç~D ."1~fflftl.

5~g plontal Que $e adBPtBm aOI mil. variadO' t1po~ dI Rala., de.-di DI If6no&OS até OJ argila.ol, além dD II d'lenvolver,m bam ~m Ia·10. ómtdal PU m~l drenedpe. inclullve 05 .uj~itQ§ • encharclm,ntot~mpaf'rl0. As !nformªçÕ~fi d1iponlve11 indioam qu. ~ Knzungull • I

ffl611 tolerante ~ ~olo$ r~IO$ e ao Ilegam.nto, sendo, por ta'Df rl-cDmendªdl PPfQ I formlçlQ d~ p81tDgens em áreas !rrlgªdªs ou inyndd.Viii (brljPG, YarjDe~) ete.), ~ªra I~ çpndlçõI5 bVI111eirla DI ml~lhofl~ nJvais de produtividade e fiUpDrte ~nimftl de eltárla tlm lidoebllfvldDI quando é Qult!vadl em 50105 de medla"ª B bDa flrtilidade"ijtuTal, ou em IQ10$ pobres, de~de que oQrrlg1dlfi IUªI dlf1c11nel11fluiricio0aifi,

Pi;H:'~• f Q:rffH'4Ç~º de pas t aqens de ~~tªl' ;j.ª sãe n~HH~~fHh101 Id~H'G~ d~

r--'--;-----''-:----------....:.......---------- COMU N ICADO TEC N ICO ----,

CT/23 - CNPGC - dez./83 p.3

1,5 kg/ha de sementes viáveis, ou cerca de 5 a 8 kg/ha de sementescom 20 a 30% de valor cultural. Resultados de pesquisas mostram quea melhor época de plantio é nos meses em que as chuvas são mais re-gulares e Que a melhor profundidade de enterrio das sementes é de 2a 4 cm. Esta profundidade é facilmente obtida com uma semeadura su-perficial e posterior enterrio das sementes com uma passagem de gra-de niveladora. No preparo da área para a semeadura, é importante queo solo fique satisfatoriamente destorroado. Embora devam ser consi-deradas as condiçõe~ de cada propriedade, de modo geral, uma araçãoprofunda seguida de uma ou duas gradagens são suficientes. Em áreasúmidas ou periodicamente inundáveis, este tipo de preparo de solo é

\também viável, desde que feito nos períodos secos do ano. Nos plan-tios vegetativos devem ser utilizadas mudas enraizadas. No preparodas mudas, as partes aéreas das plantas devem ser cortadas de 10 a15 em acima do solo, em seguida as touceiras devem ser arrancadas edivididas em unidades com um ou mais brotos. De preferência, o plan-tio deve ser feito imediatamente, mas o material pode ser armazenadoaté cerca de uma semana, desde que em local úmido e fresco. No plan-tio, Que deve ser feito em plena estação chuvosa, é importante queas mudas não fiquem completamente enterradas, sob pena de fracassototal. Este sistema de plantio, apesar de muito oneroso e somente in-dicado para áreas não muito grandes, é muito eficiente. O espaçamen-to de plantio recomendado é de 50 cm entre linhas e 35 cm na linhade plantio, todavia, em casos de baixa disponibilidade de mudas, re-sultados satisfatórios podem ser obtidos também com 90 a 100 cm en-tre linhas e 30 a 70 em na linha de plantio.

Em implantações bem sucedidas, cerca de três a quatro meses apósa semeadura ou plantio de mudas a utilização da pastagem já pode serfeita, inicialmente com uma lotação animal leve. Entretanto, se apastagem ficar mal formada, com baixo número de plantas, é aconse-lhável aguardar a época de produção de sementes para o início do pas-tejo, que deve ser rápido e com lotação animal pesada. Em seguida, apastagem deve ser pastejada moderadamente até o início da estaçãochuvosa seguinte, quando deverá sei "vedada a fim de favorecer a ger-minação das sementes caídas.

Resultados experimentais e observações a nível de fazendas indi-

...----,..---.....--------------..:..--------,-- COM U N ICADO TEC N ICO -----.

CT/23 - CNPGC - dez./83 p.4

cam que o capim setária é tolerante a muitas práticas de manejo, to-davia, o pastejo muito pesado ou muito leve afetam a produtividadee a persistência da pastagem. É importante que a lotação animal sejaajustada em função da capacidade de suporte da pastagem. Nas condi-ções de Campo Grande-MS, têm sido obtidos ganhos de peso animal sa-tisfatórios durante a época seca do ano, com lotação animal igual a1,0 vaca/ha.

Durante a estação chuvosa tem sido utilizada a lotação de 2,4 va-cas/ha. Um dos maiores cuidados com o manejo de pastagens de setáriaé evitar o pastejo muito leve nos meses de maior crescimento da for-rageira (outubro a janeiro), para que a forragem produzida não tenha~eu valor nutritivo e palatabilidade reduzidos. O procedimento maisindicado nessa época é utilizar uma alta lotação animal a fim de e-vitar o florescimento da planta (emissão de talos) e manter a forra-geira sempre baixa, uniforme e em crescimento vegetativo. Este tipode utilização, seguido de um período de descanso (vedação) da pasta-gem de uns 30 a 40 dias ao final da estação chuvosa (meados de marçoa abril), além de ser importante para estimular a produção de forra-gem no outono e início de inverno, proporciona uma reserva de forra-gem verde de boa qualidade para ser utilizada nessa época. Da mesmaforma, o pastejo durante a seca ou inverno é também benéfico para apastagem pela remoção do material seco ou velho, o que irá favorecera rebrota no inicio da estação chuvosa seguinte e deixará a pastagemmais uniforme.

r COMUNICADO TECNICO --,

CT/23 - CNPGC - dez./83 p.S

lITERATU~A RECOMENDADA

PIMENTEl, D.M. & THIAGO, L.R.l.S.de. Oxalatos totais emceps cv. Kazungula. Campo Grande, MS, EMBRAPA-CNPGC,(EMBRAPA-CNPGC. Comunicado Técnico, 12).

Setaria an-1982. 5p.

ABRAMIDES, P.l.G.; MEIRELlES, N.M.F. & BIANCHINE,gerais sobre Setarla anceps Stapf. Zootecnia,219-50, 1980.

D. ConsideraçõesSão Paulo, 18(4):

PIMENTEL, D.M. & ZIMMER, A.H. Capim setária: características e as-pectos produtivos. Campo Grande, MS~ EMBRAPA-CNPGC. 1983, 71p.(EMBRAPA-CNPGC. Documentos, 11).

SCHENK, M.A.M.; FARIA FILHO, T.T.; PIMENTEl, D.M. & THIAGO, l.R.l.S.de. Intoxicação por oxalatos em vacas lactantes em pastagem de setária. Pesq.Agropec.Bras.! 8rasília, 22(9):1403-7, 1982.

ZIMMER, A.H.; PIMENTEl, D.M.; VAlLE, C.B.do & SEIFFERT, N.F. Aspec-tos práticos ligados à formação de pastagens. campo Grande, MS,EMBRAPA-CNPGC, 1983. 42p. (EMBRAPA-CNPGC. Circular Técnica, 12).

Tiragem: 3.000 exemplares