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A MISSÃO DE DEUS NAS ESCRITURAS Pontos-chaves.

1. O ministério intercultural origina-se na natureza de Deus. 2. Deus escolheu Israel para participar de sua missão de redimir a

humanidade. 3. O ministério intercultural é o centro da natureza da igreja e a razão da

sua excelência. 4. O segredo da participação do homem na missão de Deus é obedecer-

lhe de todo o coração. É este também o segredo para alcançar as promessas e as bênçãos divinas.

5. Deus não vê nenhuma cultura e nenhum povo como superiores a outros, nem tampouco deseja que sua igreja assim os considere.

O caráter e a natureza de Deus são a base do estudo do ministério intercultural. Só chegamos a compreender a finalidade do reino de Deus e os propósitos divinos mediante uma compreensão completa do seu controle soberano do Universo e da história. O amor de Deus é o princípio fundamental da história da redenção A característica da natureza de Deus da qual o gênero humano depende totalmente é o seu amor. Para Deus, toda a sua criação é importante, mas ele escolheu o homem, de modo especial, para receber o seu favor imerecido, a sua graça. Mas desde o princípio Deus teve de encarar dilema no que diz respeito ao homem. Algum tempo depois de Satanás haver sido expulso do céu. Deus fez outra criação, à qual também concedeu o livre-arbítrio: o homem. Esta liberdade de escolha reflete a imagem de Deus. Outorga ao homem o poder de agradar a Deus, e principalmente de corresponder ao seu amor. A fim de ter comunhão com Deus e amá-lo, foi preciso que o homem contasse com a liberdade moral de escolher. O vínculo do amor é muito mais poderoso que a força do poder. Deus estabeleceu seu relacionamento de companheirismo e comunhão com Adão e Eva mediante o amor, e não por intermediário da força. Fê-los também participantes de seu senhorio sobre a terra. A fim de continuarem nesse relacionamento com Deus, teriam apenas de passar na prova de obediência total à vontade divina. Mas falharam. Esse desastre identificou a humanidade com Lúcifer, que também falhara em sua prova. A falha do homem ocasionou dois problemas para Deus. Ao criar seres morais, Deus arriscou-se a perder a obediência deles. Primeiro, Lúcifer desertou-se, seduziu a lealdade de enorme número de anjos e iniciou um reino contrário a Deus. Em segundo lugar, o homem também se afastou e caiu num estado de pecado e de contínua decadência moral. Anunciando Deus sua sentença sobre Satanás pela parte deste na queda homem, ele disse: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3:15). Amiúde faz-se referência a esta passagem como o proto-evangelho. Esta é a primeira referência a Cristo na Bíblia, e é importante porque ela relaciona Cristo com a derrota de Satanás. É esta a essência do evangelho – as boas-novas de vitória sobre o fracasso.

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O Sentido mais direto em que esta passagem do Gênesis se cumpriu foi na crucificação de Jesus Cristo. Satanás foi a força impulsionadora do sofrimento de Cristo antes de sua morte. Mas o ferimento no calcanhar, produzido por Satanás, quando comparado com a ferida na cabeça, causado por Cristo, foi menor e temporário. A morte e ressurreição de Cristo selaram a condenação final de Satanás e do seu reino. Deus tem uma missão. Com sua missão ativa. Deus deseja que os homens se arrependam mediante a obra realizada por Cristo. Veja Lucas 19:10; 2 Pedro 3:9. Através de toda história. Deus tem contado com a participação dos seus servos. Noé construiu a arca, que foi um instrumento da Salvação de Deus no dilúvio. Israel devia ser a testemunha de Deus perante as nações. Hoje, a igreja de Jesus Cristo é o instrumento que Deus chamou para participar de sua missão. O amor de Deus não se restringe a uma raça, nação, ou grupo cultural. Ele ama a todos os povos. Ama tanto os pigmeus da África quanto os homens de negócio da Ásia. Deseja redimir os refugiados cambojanos tanto como quer que os soldados argentinos encontrem a Cristo. O amor de Deus ultrapassa as fronteiras culturais, raciais e lingüísticas. Ele deseja que todos tenham a oportunidade adequada de seguir a Cristo. A missão redentora do povo escolhido de Deus São muitos os que se perguntam por que Deus escolheu o povo de Israel para ser seu povo especial ao longo da história. Será que Deus os amou mais? Desejou ele abençoá-los e esquecer-se das demais nações do mundo? Israel foi um povo obstinado, lento para guardar as leis divinas. Por que se comprometeu Deus tanto com um só povo, com uma só nação? O Senhor mostrou favor para com o povo judeu, em parte por causa da fé que Abraão, o patriarca fundador dessa nação, possuía. Mas, o que é ainda mais importante, ele escolheu os israelitas para que participassem de modo especial de seu plano de redimir toda a humanidade. A promessa intercultural na aliança abraâmica. Deus havia prometido abençoar a Abraão, fazendo dele uma grande nação. “Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da Terra” (Gênesis 12:3). Em Gálatas 3:8, escreveu Paulo: “Ora, tenho a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos”. Em Gênesis 12:2, Deus fez três promessas pessoais e especificas a Abraão:

1. “De ti farei uma grande nação”. 2. “Te abençoarei o nome”. 3. “Te engrandecerei o nome”.

Então Deus fez uma pausa para a cláusula final: “Sê tu uma bênção”. Deus não permite que alguém gaste consigo mesmo as bênçãos ou as promessas divinas. Uma grande bênção demanda grande responsabilidade. Deus abençoou a Abraão a fim de que ele abençoasse a outros. A seguir, em Gênesis 12:3, Deus fez duas promessas de poder a Abraão:

1. “Abençoarei os que te abençoarem”. 2. “E amaldiçoarei os que te amaldiçoarem”.

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Ao estabelecer seu pacto com Abraão e seus descendentes, Deus deu ao mundo informações acerca da sua própria natureza. Ele se dava a conhecer como Deus amoroso e misericordioso, mas também justo e reto. Ao intervir nos assuntos da humanidade mediante a linhagem abraâmica, Deus demonstrava sua recusa em olhar de braço cruzados à contínua degeneração da raça humana. Ele não permitiria que o homem destruísse a si mesmo sem esperança e sem conhecimento do Criador. Deus chamou Abraão e Israel com o fim de salvar todo gênero humano, e não somente uma nação. O chamado de Israel à missão de Deus. O monte Sinai foi um marco na história do relacionamento de Deus com seu povo escolhido. Foi ao pé desse monte que Israel acampou no terceiro mês depois de sair do Egito. Foi junto ao Sinai se rebelou contra Deus e adorou o bezerro de ouro. Foi no Sinai que Deus deu a lei a Moisés e chamou Israel para ser o instrumento de sua missão de alcance mundial. Veja Êxodo 19:1, 2. Nação Santa. “Santo” quer dizer “separado, especialmente justo”. Não significava separado no sentido de segregado ou “intocado”. Tem o sentido de ser separado para um propósito específico. Essa nova aliança de Deus era um chamado a Israel para que fosse separado, escolhido de modo especial para os propósitos divinos. Israel havia de ser santo em dois sentidos: 1) devia dedicar-se à adoração do único Deus verdadeiro e a uma devoção singular a ele. Israel devia imitar a justiça divina mediante a observação fiel de suas leis e decretos. 2) Israel viria a ser também agente de Deus em seu trato com as nações pecadoras. Ao estabelecer um relacionamento vertical correto com Deus, Israel seria o brilhante exemplo para as demais nações. As formas Ímpias de adoração pagã, como a prostituição a serviço dos templos e o sacrifício de crianças, contrastariam fortemente com um Israel iluminado pela glória, justiça e presença de Deus Jeová. Era assim que Israel haveria de ser uma nação de sacerdote! Deus desejava que em seu povo fosse um exemplo vivo do poder e da graça divina para as nações, as quais seriam chamadas à Justiça de Deus por mediação do sacerdócio de Israel. Deus chamou Israel para mostrar o poder, a glória, a compaixão e o amor divinos às outras nações. Foi a constante obediência de Abraão aos mandamentos de Deus que abriu as portas de bênçãos ininterruptas e revelações de Deus. Quando Deus, provando Abraão, ordenou-lhe que oferecesse Isaque em holocausto, sua obediência agradou-lhe sobremaneira. Deus preservou a vida de Isaque e reconfirmou a sua aliança. “Jurei, por mim mesmo, diz o Senhor, porquanto fizeste isso, e não me negaste o teu único filho, que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos; nela serão benditas todas as nações da terra: porquanto obedeceste à minha voz”. (Gênesis 22:16-18). Revelação do ministério. A desobediência do povo de Israel por toda a sua história impediu que ele levasse a cabo sua missão intercultural. Com o tempo, até o conceito que tinham de si mesmos se deformou. A desobediência é uma forma de egoísmo. Os judeus se concentraram em si mesmos e buscaram os falsos deuses das nações vizinhas. Esperaram séculos inteiros pelas

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promessas de Deus, mas negligenciaram a responsabilidade de alcançar as nações. Nem nações nem indivíduos podem acumular continuamente as bênçãos de Deus e se esquecer das responsabilidades que essas bênçãos trazem. Com o tempo, os judeus começaram a ver-se como pessoas muito especiais para Deus por direito próprio. Esqueceram-se de que Deus os havia redimido, tirando-os do Egito, e os havia chamado para ser uma nação para seus propósitos divinos. Esqueceram-se de que seu próprio direito de existir dependia da misericórdia divina e do cumprimento do chamado de Deus para o serviço. Chegaram mesmo a crer que Deus os amava simplesmente por serem judeus! Em sua opinião, ser judeu era condição suficiente para a santidade na terra. Se alguém quisesse agradar a Deus, teria de fazê-lo por meio da lei judaica, conforme as normas do culto judaico, e na língua judaica. Esse conceito de santidade levou os judeus a um grande preconceito racial e cultural; perverteu a lei dada por Deus a Moisés, ao ponto de não tocarem nas pessoas estranhas à raça judaica. Nem mesmo ficavam na sala em que gentios estivessem comendo. Aparentemente, chegaram a considerar-se superiores aos gentios em todos os sentidos. Como resultado dessa intolerância, os judeus chegaram a pensar que Deus não poderia receber os gentios sem que estes primeiro se convertessem ao judaísmo. E esse forte preconceito cultural, segundo o livro dos Atos, não desapareceu com o nascimento da igreja. Mesmo depois do estabelecimento de igrejas por toda a Ásia Menor, Paulo achou necessário explicar aos crentes judeus de Éfeso o “mistério de Cristo”. Vejamos Efésios 3:2-5. “Se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois segundo uma revelação me foi dado conhecer o mistério conforme escrevi há pouco, resumidamente, pela qual, quando lerdes, podeis compreender o meu discernimento no mistério de Cristo, o qual em outras gerações não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como agora foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito”. (Efésios 3:2-5). Esta passagem deve ter produzido forte impacto naqueles crentes judeus que ainda persistiam na antiga atitude da superioridade judaica. Paulo trata diretamente desse sentimento, declarando que tanto os judeus como os gentios participavam, de igual modo, da recepção da graça de Deus por meio de Jesus Cristo. Mais importante ainda, Paulo vincula a aliança abraâmica, o fundamento da nacionalidade judaica, diretamente aos gentios. Os gentios eram também “co-herdeiros [com Israel]... da promessa”. Paulo declara que o centro da atuação de Deus havia sido transferido. Passara de Israel a um povo novo criado em Cristo Jesus, constituído tanto de judeus quanto de gentios. O apóstolo descreve, nessa passagem, um momento importante e crítico na história de Israel. Judeus e gentios se uniriam mediante a obra de Cristo realizada na cruz, para formar o novo povo de Deus, a Igreja. E esta herdaria a promessa de Deus a Abraão de ser este bênção para “todas as famílias da terra”. Prosseguindo, Paulo esclarece a missão da recém-constituída Igreja: “Para que, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida agora dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo nosso Senhor” (Efésios 3:10-11).

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“Principados e potestades nos lugares celestiais” referem-se às mesmas forças espirituais mencionadas em Efésios 6:12. O quadro que Paulo está pintando é figurativo. Ele fala dos governantes terrenos e das forças espirituais malignas que os sustêm, mantendo o reino tenebroso de Satanás na terra. A igreja foi comissionada para derribar as fortalezas do reino terrenal de Satanás, proclamando aos governantes e a todos os que vivem sob o seu domínio “a multiforme sabedoria de Deus”, o evangelho puro e simples, as boas-novas de que todos os povos podem unir-se à igreja de Cristo. A igreja substituiu Israel como instrumento de Deus na propagação do evangelho. Missão contrípeta-centrífuga. Existe grande diferença entre os métodos que Deus deu a Israel e os que ele deu à Igreja para o cumprimento de suas respectivas missões. Israel, como vemos na aliança mosaica, devia servir como imã espiritual e atrair para Deus os povos de outras nações. Os filhos de Israel deviam ser sacerdotes santos que revelassem Deus às nações, e mediadores que as levassem a Deus. A natureza de sua missão era centrípeta. Deviam atrair outras nações a si próprios e também à obediência às leis divinas. Sua eficiência em realizar essa missão relacionava-se diretamente com sua própria obediência como povo de Deus. A Igreja também tem um chamado para o ministério sacerdotal. Veja 2 Coríntios 5:16-19; 1 Pedro 2:9, 10. Mas a natureza de sua missão é centrífuga. Diferentemente de Israel, não se requer da igreja que esteja quieta e atraia outros povos à sua própria cultura e nacionalidade. Requer-se que vá a outras gentes e as ganhe, onde quer que se encontrem, para a causa de Cristo. Depois de ganhas para Cristo, devem formar extensões da igreja em seu próprio país. A seguir, esse povo mesmo levará a cabo missões centrífugas, saindo a pregar. Veja Mateus 28:19; Atos 1:18. Antes de Jesus subir aos céus, disse a seus discípulos que seriam testemunhas em Jerusalém, na Judéia, Samaria e até aos confins da terra. Esta é uma descrição perfeita da natureza centrífuga da missão da Igreja. Ela jamais deve esperar até que os incrédulos venham a ela. Deve sair continuamente, alcançando-os em círculos de influências cada vez mais amplos. A natureza missionária da Igreja Jesus disse a seus discípulos: “Edificarei a minha igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18). Que entendia Jesus por “igreja”? Sabemos, com toda a certeza, que ele não falava de um edifício. Referia-se àqueles que o seguiriam através dos séculos. O Novo Testamento afirma que quando os crentes se reúnem em assembléia, são muito mais que mero grupo. Os membros recebem, individualmente, dons ministeriais e espirituais, o que permite que a igreja funcione unida para propósitos comuns como o “corpo de Cristo”. Veja Romanos 12:3-8; 1 Coríntios 12. Que propósitos são esses? Qual é a natureza da igreja? A Bíblia fala com freqüência do “reino de Deus”. Em geral, podemos dizer que o reino de Deus é a totalidade do governo de Deus no Universo. Contudo, a Bíblia usa esse termo de três maneiras distintas: 1) Algumas passagens referem-se ao reino de Deus no sentido universal, o governo de Deus sobre todas as coisas; 2) outras passagens referem-se ao reino de Deus na terra hoje, exercido através dos crentes; 3) outras passagens ainda se referem ao reino de Deus como um reino futuro, no qual o céu e a terra serão finalmente

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reunidos para experimentar a plenitude do governo de Deus no final dos tempos. A igreja relaciona-se diretamente com a segunda definição – a atividade dos crentes sob o governo de Deus na terra. A igreja não é o reino de Deus, mas representa esse reino sobre a terra. Ela há de realizar a invasão que o reino de Deus está fazendo ao reino de Satanás. A igreja é a luz que penetra as trevas espirituais deste mundo. Embora a igreja não seja perfeita, nem o será até Cristo voltar para reinar, é, contudo, o equivalente mais próximo do reino de Deus na terra. Foi por isso que, nos seus ensinos, Jesus deu ênfase ao reino de Deus. A igreja deve refletir esse reino. Jesus falou da natureza da igreja por meio de parábolas. O tema da expansão e crescimento é comum nestas parábolas. Jesus comparou o reino, e, portanto, a igreja: a uma rede, lançada ao mar com o fim de colher muitos peixes. Mateus

13:47. ao grão de mostarda que, ao cair na terra, cresce e se torna tão grande

que abriga as aves do céu. Mateus 13:31, 32. ao fermento, deitado na farinha, que leveda toda massa. Mateus 13:33. à semente espalhada para uma colheita abundante. Mateus 13:4-8.

Jesus ensinou vários princípios através dessas parábolas, mas o tema particular de cada uma delas é a expansão do reino. Crescimento é uma característica fundamental da igreja. O Senhor deseja ver seu povo enviar obreiros ao mundo para uma abundante colheita de almas. Veja Mateus 9:37, 38. Ele quer uma igreja que se interesse não só pelo trigo recolhido, mas também pelo trigo dos campos que estão brancos para a ceifa. Ele quer uma igreja que se expanda constantemente, alcance outros povos, e cresça em número e em dedicação. O Senhor, em sua missão para a igreja, a quer como igreja centrífuga, que cresça em virtude do que ela é. A igreja é o instrumento das atividades de Deus na terra que mais se aproxima do seu reino. A igreja que Jesus Cristo tinha em mente, ao dizer: “edificarei a minha igreja”, é um instrumento da graça de Deus, em expansão constante e em crescimento natural. Administradores de boas-novas. A igreja herdou o direito exclusivo que pertencia a Israel de ser o povo de Deus. A igreja se uniu a Israel como herdeira das promessas divinas. Veja Efésios 3:6. Deus destruiu a parede de separação entre Judeus e gentios, e dos dois formou um novo corpo – a igreja – o corpo de Cristo. Veja Efésios 2:14-16. Esta igreja herdou as bênçãos de Deus, mas também recebeu as responsabilidades inerentes a elas. Paulo reconheceu esse fato, ao escrever: “importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso o que se requer dos despenseiros é cada um deles seja encontrado fiel” (1 Coríntios 4:1-2). O termo “despenseiro” é importante no Novo Testamento. O despenseiro (mordomo) era uma pessoa a quem se confiavam recursos valiosos. Esperava-se que ele tomasse esses recursos, usasse-os esforço e os recursos originais, a fim de dar renome a seu senhor. O princípio-chave em que se funda uma boa administração é o serviço fiel e produtivo do qual o senhor pode dispor como desejar.

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Não é de estranhar que o Senhor Jesus tivesse usado o exemplo da administração, ou mordomia, para descrever a responsabilidade que Deus conferiu à igreja. O ministério de aprendizagem dos discípulos foi o período de mais de três anos que Jesus passou com eles. Jesus os enviava sem dinheiro às aldeias e cidades da Judéia, dizendo-lhes que aceitassem a hospitalidade do povo. Deviam proclamar o reino de Deus, curar os doentes, purificar os leprosos e expulsar os demônios. Veja Mateus 10. No final do seu ministério, Jesus disse aos discípulos: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamados amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (João 15:15). Jesus disse essas palavras algumas horas antes de ser crucificado. O aprendizado dos discípulos havia chegado ao fim. Foi também durante essas instruções finais que Jesus prometeu aos discípulos: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da Verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar” (João 16:12-14). Uma das últimas instruções de Jesus a seus discípulos, antes de subir para o céu, foi: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). E eles estavam dispostos a ir! Mas, prestes a deixá-los definitivamente, Jesus disse-lhes que esperassem – esperassem até receberem o poder necessário: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (Atos 1:8). Essas foram as últimas palavras de Jesus na terra. Com elas, ele determinou a missão centrífuga dos discípulos. Eles deviam ministrar o evangelho em círculos sempre mais extensos e a povos cada vez mais diferentes. Não deviam deter-se ante nenhuma fronteira cultural ou geográfica. Deviam continuar expandindo seu ministério até chegarem aos “confins da terra”! O que aconteceu dez dias mais tarde é bem conhecido. Havia chegado o dia da festa de Pentecoste. Todos os discípulos estavam reunidos e unânimes. O Espírito Santo desceu sobre eles, enchendo toda a casa onde estavam – e também os discípulos. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes permitia que falassem. Muitos crentes não compreendem o verdadeiro significado do dia de Pentecoste do capítulo dois de Atos. Quem escutou os discípulos no dia de Pentecoste? Principalmente um grupo de pessoas conhecidas como judeus “helenistas”. Os helenistas eram trilíngues. Continuavam sendo judeus e se reuniam em suas próprias sinagogas para cultuar. Aprendia hebraico nas sinagogas. A maioria aprendia o grego Koinê, a língua comercial da época. Aprendiam também os idiomas ou dialetos das regiões em que se haviam estabelecido. O verdadeiro significado do dia de Pentecoste. Nesse momento Deus estava mostrando ao mundo algo muito especial: ele já não se revelaria apenas por meio dos Judeus. Agora o faria mediante a igreja de Jesus Cristo. E esta igreja estaria tão cheia de poder do Espírito Santo que seria capaz de cruzar toda

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barreira racial, cultural ou lingüística na terra e penetrar na idiossincrasia de cada povo com o evangelho de Jesus Cristo. Seria uma igreja decidida a penetrar a própria vida de cada sociedade, com o evangelho na língua materna de cada povo. Deus declarava que o plano de ação do Espírito Santo na igreja de Jesus Cristo seria estabelecer igrejas em cada grupo étnico da terra. Cada igreja deve buscar a vontade de Deus para descobrir como enviar evangelistas interculturais. Os agrupamentos de igrejas devem trabalhar conjuntamente para certificar-se de que tais evangelistas tenham preparo adequados para o ministério intercultural. Devem também assegurar-se de que recebam fielmente o seu sustento. O ministério intercultural é central e fundamental ao plano de ação do Espírito Santo para a igreja. O grau de atuação de nossas igrejas no centro do movimento do Espírito Santo na terra será o grau de sua participação na evangelização intercultural. Todos os povos, em cada geração, precisam ouvir as boas-novas. O plano de ação do Espírito Santo é o ministério intercultural! Povos não Alcançados: Tarefa inacabada

1. Deus é o criador da diversidade humana, e seu plano de redenção permite que os diferentes grupos étnicos o sirvam em sua própria identidade cultural.

2. A unidade de igreja baseia-se na unidade espiritual, não na semelhança física nem na uniformidade cultural.

3. A evangelização que não leva em conta a diferenças culturais e sociais dos grupos étnicos, não alcançará todos os tipos de povos, e afastará muitos do evangelho.

4. O fator-chave, ao definir os grupos étnicos é descobrir a que grupo o povo acredita pertencer.

5. Ensina-se à maioria das pessoas a não ver o mundo como Deus o vê. Deus se interessa mais pelas barreiras entre os grupos étnicos do que pelas fronteiras entre os países.

6. Quanto maior for à distância cultural de um povo, também maior será a dificuldade para evangelizá-lo.

7. Uma boa estratégica de evangelização leva em conta as necessidades de cada grupo étnico e procura ganhar um povo de cada vez.

8. Quando o povo crê em Cristo e o aceita, gosta de fazê-lo sem ter de cruzar barreiras sociais, lingüísticas ou sociais.

9. É grande a necessidades de preparar evangelistas interculturais e envia-los, de todo povo alcançado a todo povo não alcançado, em todo o mundo.

Deus é o criador da diversidade humana. Muitos dos conflitos entre países e entre habitantes de um mesmo país resultam de diferenças raciais, lingüísticas e culturais. Às vezes procuram eliminar essas diferenças ao bem da unidade nacional. Às vezes os líderes religiosos procuram diminuir essas diferenças em nome da unidade cristã. Devemos recordar, porém, de que foi Deus quem deu origem à diversidade humana. Com o fim de trazê-los de volta para seu divino propósito, Deus realizou um milagre. Confundiu a língua, de modo que não compreendessem uns aos outros. Deus criou, instantaneamente, muitos grupos étnicos diferentes, que se encontraram separados por uma barreira lingüística, e se espalharam pela face

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de toda a terra. Com o tempo, esses grupos desenvolveram suas próprias normas de conduta e seu próprio sistema de valores. Não se aproximaram, nem se uniram mais, mas, pelo contrário, cada vez mais se separaram. Suas línguas se subdividiram e se tornaram ainda mais diferentes. Atualmente, há mais de sete mil línguas faladas no mundo. Que é um grupo étnico? Os seres humanos fazem parte de grupos culturais. Estes agrupamentos existem desde a confusão das línguas na torre de Babel. Desde os tempos bíblicos até os dias da história moderna, com muita freqüência os seres humanos têm sido considerados em termos dos grupos étnicos as que pertencem – sua tribo ou casta. Na história moderna, os surgimentos do nacionalismo e da crescente urbanização têm obscurecido as diferenças entre esses distintos grupos. Entretanto, essas diferenças ainda persistem e podem constituir grande barreira ou boa oportunidade para a difusão do Evangelho. Esta definição bastante útil para a evangelização intercultural ressalta as coisas que os povos têm em comum, ou seja, sua etnia, língua, religião, ocupação, classe, casta, residência, situação social ou legal, ou qualquer combinação destas. O fator-chave é como os indivíduos que formam o grupo vêm a si mesmos. Partilham um vínculo comum, não porque os observadores externos os identifiquem como parte de certo grupo étnico, racial, religioso, ou de classe. Têm esse vínculo comum em virtude de se verem a si mesmos como membros desse grupo. Os membros de um grupo étnico partilham de uma série comum de problemas, necessidades e oportunidades. Pensam em si mesmos como “nós” e nos demais que não pertencem ao grupo como “eles”. Para nossos propósitos, o grupo étnico deve ser significativamente grande, de modo que seja possível evangelizá-lo como grupo. Não deve ser nem demasiadamente pequeno nem demasiadamente grande. Uma família em particular, integrada pelos familiares mais próximos, não se encaixa em nossa definição de grupo étnico. Os membros de uma família partilham muitos vínculos comuns importantes para eles, mas constituem um grupo demasiadamente pequeno para uma estratégia de evangelização distinta. Por outro lado, tentar evangelizar todo o Norte de um país, como o Peru, com uma única estratégia, seria escolher um número de pessoas demasiadamente grande. Haveria demasiadas línguas e diferenças entre os grupos para que uma única estratégia fosse eficaz. A grande comissão: um enfoque etnocêntrico Aprendemos a vê-lo como uma série de países, estados ou territórios. Dê acordo com a Organização das Nações Unidas, são 223 as nações-estados, ou países, com fronteiras políticas determinadas pelo homem, que dividem as massas geográficas da terra. Aprendemos a ver o mundo de acordo com essas fronteiras. Mas essa não é a forma como Deus prefere ver o mundo. Os discípulos de Jesus compreenderam essa verdade. Foi por isso que Mateus citou as palavras de Jesus: “Poreuthentes oun matheutésate panta ethne” “Poreuthentes” quer dizer “deveis ir” ou “ide” (imperativo). “Oun” é uma palavra de ligação, “portanto” ou “pois”. “Mathetéusate” significa “fazei aprendizes,

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seguidores, discípulos” (também imperativo). “Panta ta” quer dizer “a todos”. De modo que esta passagem significa: “Ide, pois, fazei discípulos de todos o ethne”. A palavra “ethne” merece atenção especial. Muitos idiomas ocidentais, desde o século dezesseis e dezessete, traduzem ethne por “nações”. Mas esta palavra deriva-se de “ethnos”, termo grego que significa “povo”, “gente”. Portanto, temos uma tradução mais exata do sentido das palavras de Jesus, assim: “Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos”. O plano de Jesus para alcançar todos os povos Jesus cresceu numa parte remota do Norte da Palestina e trabalhou apenas durante três anos e meio. Contudo, seu propósito foi levar o evangelho do reino a todo mundo. Teve de preparar líderes para continuarem seu ministério depois que ele ascendesse ao céu. Ele não escolheu o tipo de líderes que nós teríamos escolhido. Provavelmente, teríamos selecionados alguns homens das redondezas de Jerusalém; talvez um ou dois fariseus, um escriba, alguns membros do Sinédrio. É provável que tivéssemos escolhido representantes do Norte e do Sul da Judéia; talvez um ou dois da Galiléia e um da região de Jericó. Mas não foi esse o método que Jesus usou na escolha dos discípulos. O Senhor escolheu os seus discípulos com base na disposição deles em tomar a sua cruz e segui-lo, e na condição étnica deles. Tinham ocupações diferentes e suas riquezas e prestígios na comunidade eram diferentes. Mas também tinham coisas em comum. Desejavam seguir a Jesus, e todos, com exceção de um, eram judeus galileus de fala aramaica. Falavam o mesmo dialeto (ver Marcos 14:70), e compreendiam as normas de conduta uns dos outros. Seus estilos de vida eram comuns a todos. Do ponto de vista cultural, precediam do mesmo ethnos, ou grupo étnico. Tipologia da Evangelização Nosso mundo, hoje, é muito mais complexo do que o mundo dos crentes da igreja primitiva. Atualmente há mais países, mais línguas, mais grupos étnicos do que quando a Igreja primitiva foi tão eficaz na evangelização intercultural. Nessa época não era preciso passaporte nem visto, e o grego era um idioma comum falado por muita gente. Hoje, as distâncias entre as cidades são muito maiores, tanto geográfica quanto culturalmente. Se desejarmos ser evangelistas interculturais eficazes, devemos aprender tudo quanto podemos acerca das diferenças e de como superar as barreiras que estas representam para uma comunicação eficaz do evangelho. Um povo de cada vez A fim de alcançar estes 80% do mundo não cristão, é necessário que a igreja se empenhe na evangelização intercultural; mas a tarefa parece tão grande que podemos perguntar: “Como realiza-la?”. A resposta parece ilusoriamente simples: “Um povo de cada vez!”. Mas isto significa que a boa evangelização intercultural é bastante complexa. Reconhece que cada grupo étnico é singular. Admite que tentar evangelizar todos os grupos étnicos com a mesma estratégica, os mesmos métodos e as mesmas formas, é como tentar caçar borboletas com um barco de pesca. Atingir um povo de cada vez ajuda o

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evangelista intercultural a evitar alguns dos erros mais comuns na obra de alcançar os povos de outras culturas. O enfoque de uma estratégia fixa e universal: Com este enfoque dá-se por assentado que a mesma estratégia que se usa com bons resultados em um lugar, pode usar-se acertadamente em outros. Por exemplo, um grupo de norte-americanos empreendeu um programa de “distribuição de Bíblias”. Em várias cidades ou regiões do Paquistão, cada lar que aparecia na lista telefônica receberia um exemplar do Novo Testamento na língua urdu. Quando os pacotes chegaram, muitos haviam-se mudado, houve também os que se recusaram a receber o presente não solicitado. O resultado foi um amontoado de Novos Testamentos nas repartições do Correio os quais, finalmente, foram relegados à categoria de papel de embrulho. Uma vez que nos países muçulmanos as pessoas têm grande respeito por todas as Escrituras, incluindo-se a Bíblia, o povo ficou horrorizado ao ver páginas da Bíblia sendo usadas para embrulhar mercadoria. Embora, sem dúvida alguma, tenha havido os que aceitaram com prazer a dádiva, o impacto que essa estratégia causou na sociedade como um todo foi negativo. Para o muçulmano era difícil compreender que os cristãos pudessem permitir a profanação do seu livro sagrado. Comunicação através de fronteiras culturais

1. As dificuldades na comunicação da mensagem através de fronteiras culturais poderão ser infinitas.

2. A teoria básica da comunicação é muito importante na dinâmica do ministério intercultural.

3. Todo evangelista intercultural deve conhecer sete categorias de diferenças culturais.

4. Em toda comunicação requer-se o uso de símbolos. Diferentes culturas usam diferentes símbolos para transmitir significados equivalentes.

5. É difícil transmitir de uma cultura para outra o significado das coisas mediante o uso dos símbolos da linguagem, porque o significado desses símbolos – as palavras – não é a exatamente igual em todas as línguas.

6. Com freqüência, os evangelistas interculturais não distinguem entre formas e significados ao comunicar em outra cultura. É essencial a compreensão das formas e significados para uma evangelização eficaz em meio a um povo não alcançado.

7. A cosmovisão, como fonte geradora das culturas, é o centro do modo de vida do grupo étnico, a origem de seu sistema de valores e de suas formas de conduta.

8. As mudanças apenas no nível das normas de conduta têm como resultado o sincretismo. A comunicação eficaz da verdade bíblica deve produzir mudanças no nível da cosmovisão e do sistema de valores.

9. Quando um evangelista entra em outra cultura, deve seguir os cincos princípios da aculturação. Isso diminuirá o choque cultural e levá-lo-á a uma posição “intercultural” nesse grupo. Essa é a melhor maneira de apresentar o evangelho.

10. É muito importante que o evangelista tenha um conhecimento claro da dinâmica da comunicação intercultural, antes de tentar evangelizar o povo de outra cultura.

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A natureza de uma cultura Os antropólogos apresentam várias definições de cultura. A mais extensa e, sem dúvida, a mais largamente aceita, é a que forneceram certos antropólogos alemães no princípio do século dezenove: cultura é a herança total de normas e conduta aprendidas, comuns aos membros de uma sociedade em particular, e que não são resultado da natureza biológica instintiva do homem. A cultura e o processo da comunicação. Ao estabelecer a comunicação através das fronteiras culturais, surge de imediato uma infinidade de empecilhos. As culturas diferem na língua, na forma de ver o mundo, na valorização da conduta e em muitos outros aspectos. Quando alguém tenta comunicar uma mensagem a uma pessoa de outra cultura – até mesmo algo tão importante como o evangelho – uma miríade de coisas impede que essa mensagem seja bem compreendida. É como se houvesse um bloqueio entre a fonte e o receptor. Tanto o mensageiro como o receptor ficam frustrados. Quando pouco da mensagem é comunicado, o ouvinte não respeita nem o mensageiro nem a mensagem. O evangelista, partindo de sua posição na cultura, ao comunicar com a cultura através da rede, não terá bom êxito. Alguns obreiros, diante de uma barreira cultural, cometem o erro de tentar atrair o receptor, através da rede, para sua própria cultura. Forçam o receptor a aprender outros padrões culturais. Mesmo quando encontram uns poucos dispostos a passar através da rede, para o lado dos evangelistas, esses crentes já não serão considerados por seu próprio povo como parte da sua cultura. Dessa forma, parecerão tão estrangeiros que haverá outra rede entre eles e sua gente. Hospedar-se com uma família do lugar durante as primeiras semanas em outra cultura acelerará grandemente o aprendizado do idioma e da cultura. É melhor passo que você pode dar para assegurar pleno benefício do processo de vinculação. Hospedando-se com uma família local, a pessoa aprende muitas coisas da forma de vida do povo. E aprende-as de dentro. Quando a pessoa está morando com uma família local, aprende fazer compras, cozinhar, comer, lavar, limpar, realizar diversos tipos de trabalho – tudo no contexto natural. A pessoa notará que vão entendendo muitas das formas de conduta e muitas dos valores da gente do lugar, sem sentir nenhuma rejeição cultural. Em vez de considerar inferiores algumas de suas normas de proceder, a pessoa começará a adotá-las abertamente. Começará a ver por que essas normas fazem sentido nessa cultura. Chegará ao ponto de gostar de sua nova “família” e aprecia-la à medida que recebe a sua hospitalidade. Aprenderá a executar com eles as tarefas diárias. É uma experiência de vinculação da qual o evangelista não se deve privar! Diálogos em potencial. Você pode preparar diálogos que aumentarão grandemente sua capacidade de comunicar em outro idioma e compreende-lo. Essas conversações são feitas de forma que outros o ajudem a descobrir o uso do vocabulário, a conhecer a cultura e medir sua habilidade de falar. Por exemplo, um exercício poderia incluir a pergunta: “Que é isto?” As pessoas dirão com prazer o nome das coisas a que você se estiver referindo. Diálogos de narrador. Em quase todos os grupos étnicos há indivíduos que se dedicam a contar histórias. Em algumas culturas, são os anciãos. Em outras,

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são indivíduo de todas as idades. Muitas culturas dão importância às histórias em forma de provérbios, que ensinam determinados princípios ou valores aceitos nessa sociedade. A pessoa que está aprendendo a língua faria bem em aprender os tipos de histórias que o povo conta, e a seguir procurar narrar aquelas que se encaixam nesse padrão. Isso não quer dizer que tenha de contar as mesmas histórias, embora não seria necessariamente errado. Pode-se contar história de mil coisas. Quando mais perito você for a contar histórias, tanto mais desejará o povo ouvi-lo e mais oportunidades terão de passar tempo com essa gente. Além disso, podem usar as histórias como instrumentos para originar diálogos. Chegará o dia que você poderá parar de usar o ciclo diário de aprendizagem. A maioria das pessoas pára de usá-lo muito cedo. Usam-no só até conversarem com fluência sobre os assuntos mais comuns. Então cometem o erro de deixarem de usá-lo. O ciclo é um recurso para a aprendizagem de qualquer assunto ou propósito. Se você empregar de forma constante este sistema juntamente com novas idéias, à medida que estas forem surgindo, poderá aprender em um ano qualquer idioma. Encontrará um padrão amplamente aceito para medir o progresso de sua aprendizagem. Deve examinar esse padrão antes de dar início à aprendizagem de uma língua, para ver que metas devem fixar. Também deve usá-lo para verificar seu progresso. À medida que sua capacidade de comunicação aumentar descobrirá novas formas para aprender mais. Princípios do Ministério Intercultural Eficaz

1. Mediante a comunicação intercultural eficaz, apresenta-se o evangelho de forma tal que ele pode ser recebido sem interferências culturais. A grande responsabilidade que o evangelista tem nesse processo.

2. Estabelecem-se diferentes níveis de confiança entre o evangelista e os membros da cultura que se deseja alcançar. Para ser eficiente em seu ministério, o evangelista tem de alcançar os mais altos níveis de confiança.

3. As normas de conduta cristã, por serem símbolos de princípios bíblicos, variam de uma cultura para outra. Como as palavras mudam na tradução da Bíblia para outra língua, da mesma forma o comportamento se modifica.

4. O evangelista intercultural tem de aprender a fazer distinção entre os princípios bíblicos e as formas culturais de sua própria cultura, entre as culturas bíblicas e a cultura que espera evangelizar.

5. Julgar a conversão de uma pessoa pelas normas de conduta não é eficaz no ministério intercultural.

6. O modelo contrípeto é a maneira mais eficaz de ver a conversão na evangelização intercultural. Ele dá ênfase à direção do crescimento e não às normas de conduta na vida dos convertidos.

7. É melhor considerar a conversão como um processo que inclui muitos passos, em vez de algo que ocorre em dado momento.

8. A conversão leva em si um crescimento espiritual, mental e emocional para Deus.

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9. Em algumas sociedades é melhor evangelizar o povo de forma coletiva em vez de fazê-lo de forma individual.

10. As estratégias de evangelização devem ser executadas dentro do padrão das normas de relações interpessoais de cada cultura.

Planejamento de Estratégias para a Evangelização intercultural

1. Falhar em planejar é o mesmo que planejar para falhar. Assim como qualquer outro empreendimento importante, a evangelização dos grupos étnicos não alcançados requer um planejamento efetivo de estratégias.

2. Não existe uma estratégia específica que sirva para alcançar todos os grupos étnicos. Partes de estratégias podem ser úteis a mais de um grupo, mas parte alguma serve para alcançar todos os grupos.

3. No planejamento de boas estratégias requer-se boa habilidade em estabelecer metas de longo alcance e de alcance intermediário.

4. Além da direção específica do Espírito Santo, a receptividade é o fator mais importante ao escolher os grupos étnicos que devem ser evangelizados. O Espírito Santo pode dirigir a evangelização por meio do raciocínio humano.

5. A receptividade de uma etnia à mensagem do evangelho pode ser medida com um grau de exatidão suficiente para tornar útil o planejamento.

6. O ponto de partida para a compreensão do povo que se deseja evangelizar é a análise de suas necessidades.

7. Os evangelistas intercultural devem ser bem preparados e treinados antes de saírem para evangelizar outro povo.

8. A seleção dos líderes das igrejas estabelecidas em determinado povo deve estar principalmente sob a responsabilidade dos crentes locais.

9. Existe uma relação direta entre o nível de fé e a disposição do estabelecer metas para uma futura evangelização intercultural.

10. O planejamento de estratégias é um processo contínuo, que vai do princípio ao fim da nossa missão de evangelizar um grupo étnico não alcançado.

11. A seleção de bons métodos de evangelização intercultural não garante o bom êxito dessa evangelização; porém, a escolha de métodos pobres limitará a possibilidade de sucesso desses métodos.

12. Métodos são maneiras de aplicar o conhecimento prático na realização de metas específicas. Constituem o “como fazer” do planejamento de estratégias.

13. O Espírito Santo é criativo – usam métodos diferentes para diferentes culturas. Os métodos desempenham um importante papel na realização das metas do Espírito Santo para a evangelização de grupos étnicos não alcançados. É possível medir até que ponto seria recomendável empregar algum método específico em determinada cultura.

14. Muito podemos aprender dos métodos utilizados pelo próprio povo que desejamos evangelizar.

15. Os planejadores de estratégias confirmam que Deus tem uma meta especial para cada grupo étnico, e consideram como sua tarefa, descobrir essa estratégia e associar-se com Deus para a sua realização.

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16. As boas estratégias são orientadas para a meta e para o processo. Elas contêm metas específicas e mensuráveis, mas flexíveis e variáveis.

17. As boas estratégias são orientadas para as necessidades do povo e, ao mesmo tempo, equilibradas no esforço de satisfazer a essas necessidades.

18. As boas estratégias são orientadas para a transformação do grupo. Nelas dá-se ênfase à conversão individual, mas também se insiste em levar a sociedade toda para mais perto de Cristo.

19. Uma boa estratégia e sua avaliação constituem um processo cíclico que se repetem várias vezes durante a execução da estratégia.

20. O propósito principal da execução de uma estratégia é revelar Jesus Cristo através dos melhores meios possíveis.

21. O método de trabalho em equipes em outras culturas tem o potencial máximo para pôr em prática, com êxito, a estratégia.

22. Com esse método as Igrejas crescem com maior rapidez, multiplicando-se em novas unidades, em vez de apenas crescerem as unidades existentes.

23. Ajudar os líderes locais a adotar sua própria estratégia para o crescimento, é parte importante de um bom planejamento e execução da estratégia.

24. É importante avaliar o crescimento do povo a ser alcançado como um todo, conforme as pessoas vão-se aproximando mais da aceitação de Cristo como Salvador.

25. Os instrumentos de avaliação do crescimento numérico são muito úteis ao planejamento e avaliação das estratégias de evangelização intercultural.

26. Na avaliação do crescimento numérico, os índices de crescimento são, pelo menos, tão importantes quanto as cifras de crescimento de novos membros.

27. A avaliação do crescimento numérico pode servir tanto para o crescimento quantitativo como para o qualitativo.

28. Um bom planejamento e uma boa execução de estratégia requerem, para sua eficácia, uma avaliação periódica e os necessários ajustes.

A organização eficaz para a evangelização intercultural

1. É preciso uma boa organização para um programa eficaz de evangelização intercultural. As organizações deficientes desanimam as pessoas que procuram operar por meio delas. Uma organização eficaz aumenta a eficiência da evangelização intercultural.

2. Relações entre a equipe de evangelização intercultural e as igrejas existentes na área de trabalho.

3. Quando as igrejas estabelecem organizações para supervisionar a evangelização intercultural, aquelas devem dar a estas plenas liberdades de planejar e executar suas estratégias.

4. Nenhuma organização pode ser eficaz se não for baseada na confiança e consentimento mútuo de seus membros.

5. É importante respeitar os princípios autóctones ao estabelecer e operar novas organizações que promovam a evangelização intercultural.

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6. As organizações da evangelização intercultural não devem ser estabelecidas para exercer domínio sobre outras.

7. Nas estratégias da evangelização intercultural devem estar incluídos planos que ajudem as igrejas participantes a adestrar e enviar seus próprios evangelistas interculturais.

8. A tarefa de evangelizar todos os povos não alcançados é uma responsabilidade de toda igreja em todo lugar.