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Pastoral é entendida como a ação do povo de Deus na
realidade cotidiana, onde, na relação tempo e espaço, o ser
humano se encontra;
A preocupação básica da pastoral é a eficácia e a relevância
da fé cristã;
Pastoral também é responsável pela inserção do povo de
Deus no espaço público;
Pastoral é ação intencional, sistemática e
organizada coletivamente. É fruto do
esforço missionário da igreja que busca
mudanças, vislumbrando novos tempos na
perspectiva do Reino Messiânico de Deus;
Não é, portanto, qualquer tipo de ação. Não
é uma ação esvaziada de sentidos;
É a ação que instaura o novo. Não é a ação
isolada, individual e personalizada do pastor
ou do agente, mas a ação da comunidade de
fé, organizada em pastorais específicas, que
atua e colabora na produção de eventos de
ação pública.
Pode ser entendida como uma meta-
pastoral, pois, além de ter sua
singularidade e sua própria agenda,
como pastoral específica (setorizada),
serve também de referência às demais
pastorais, com as quais deve articular-
se num esforço missionário comum
(Pastoral de Conjunto);
O mundo passa por um rápido processo de
urbanização;
No Brasil, mais de 80% da população vive nas
cidades e 25% da população em apenas 10 cidades
(metrópoles ou megalópoles);
O palco da ação missionária da maioria das igrejas
é majoritariamente urbano (em alguns casos, há
ainda a presença de aspectos da cultura rural);
Com a melhoria dos meios de transporte e o avanço das tecnologias, especialmente relacionadas à comunicação e informação (Tv, Rádio, Internet, Satélite), a cultura urbana invadiu o mundo rural.
SOCIEDADE RURAL SOCIEDADE URBANA
Pouca distinção entre a vida privada e a vida pública;
Forte distinção entre a vida privada e a vida pública;
Os conhecimentos vinham por canais diretos; as pessoas tinham contato direto com a realidade da qual falam;
Os conhecimentos vêm por canais indiretos (quase todas as informações são indiretas);
Havia poucas informações por dia;
Há um excesso de informações, novidades;
Forte apego à tradição, ao conservadorismo;
Abertura ao novo, busca das coisas novas (novidades); falta de continuidade, cultura do descartável;
A experiência religiosa acontecia, principalmente, mediada pela natureza;
A experiência religiosa mediada pelos relacionamentos humanos;
Maior aceitação (uma passividade) dos dogmas e doutrinas religiosas;
Rejeição do dogmatismo e doutrinas racionais
SOCIEDADE RURAL SOCIEDADE URBANA
Pessoas geralmente nasciam e morriam numa mesma religião, havia uma dominação religiosa. Sociedade religiosa;
Multivariedade de formas religiosas. As pessoas buscam a religião que lhes dá muita satisfação. Há liberdade de opção religiosa, inclusive de não ter religião. É uma sociedade mais secular;
Presença de uma cultura dominante, sociedade mono-cultural;
Multiplicidade de culturas;
Havia uma ênfase no comunitário. O indivíduo existia na e para a comunidade;
Há uma tendência ao individualismo, à massificação. O indivíduo se sente autônomo;
Marcada pelo providencialismo; Marcada pelo racionalismo;
O ritmo de vida era mais lento, sendo determinado pelo ciclismo agrário. Havia uma dependência dos tempos do sol e da lua;
O ritmo de vida é acelerado. A relação com o tempo e o espaço não é mediado pela natureza;
A Cidade hoje - tensão entre a confiança e o medo:
Laços comunitários corroídos: relações humanas flutuantes, “liquefeitas”;Nem sempre a caracterização em indivíduos com direitos expressam o fato;Excluídos estereotipados como perigosos;Desenraizamento e extra-territorialização;Espaço de confronto entre o local e o global;Espaço de trânsito de estrangeiros;Paradoxal incentivo à mixofilia e à mixofobia;Síndrome da seletividade e banalização do público.
“A arquitetura do medo e da intimidação espalha-se pelos espaços públicos das cidades, transformando-a sem cessar – embora furtivamente – em áreas extremamente vigiadas, dia e noite”.
Zygmunt Bauman
Somos “pastores/as” das cidades;
Mesmo as igrejas em pequenas cidades
assimilam comportamentos da urbanidade;
Participar da construção de cidades mais justas,
inclusivas, solidárias – onde todos tenham
direito à vida (transformar “lugar” em “espaço”);
Cabe à Pastoral Urbana, como meta-pastoral,
levar em consideração o caráter
multidimensional da missão da Igreja, ou seja,
deve refletir as várias dimensões pastorais da
vida e missão da igreja:
a. Um grande desafio é o tema da violência
urbana.
b. Para isso propomos o paradigma
missionário do Shalom para a pastoral
urbana:
Justiça, assim como vários outros
conceitos presentes no AT, tem suas
raízes em outras culturas; está ligada a
idéia de uma realidade cósmica como
ordem do mundo (criada e sustentada
pelos deuses).
Exemplos: Mesaru – para a antiga
Babilônia; Me – para os sumérios; Maat
– para os egípcios
Para os israelitas esta ordem
cósmica é conhecida como
sedeq – justiça é o mundo em
ordem; o mundo é, portanto,
ordenado em justiça
Na Bíblia, shalom, mishpat e sedaqah (direito e
justiça) mantêm uma relação estreita. Para
alcançar o shalom é necessária a prática da
justiça. Assim como mishpat, o campo semântico
de shalom é muito amplo. Em língua portuguesa,
a tradução mais comum para shalom é paz.
É, sem dúvida, uma tradução
muito pobre, especialmente pela
tradição dualista tão presente nas
teologias das comunidades locais,
que diferencia ‘paz espiritual de
paz material’, ‘paz pública de paz
privada’.
É resultado da justiça: “O fruto da justiça
[sedaqah] será a paz [shalom], e a obra da
justiça consistirá na tranqüilidade e segurança
para sempre. O meu povo morará em moradas
de paz [shalom], em mansões seguras e em
lugares tranqüilos” (Is 32, 17 e 18).
Portanto, o paradigma missionário do shalom
torna-se numa motivação a mais para os
cristãos se inserirem no espaço público. Eles
são desafiados a participarem na obra de
restauração do mundo bom criado por Deus,
através da vivência da fé cidadã.
O shalom acontece, essencialmente, na
relação humana; não é algo que alguém
pode vivenciar na esfera privada. É
necessária a presença do outro; shalom
ganha sua visibilidade na pluralidade do
espaço público.
Enfim:
Não há “receitas” prontas ;
É fundamental desenvolver uma Teologia de Missão apropriada
ao mundo urbano (princípio arquitetônico: shalom e princípio
hermenêutico: cidadania) – conhecer as diferentes “teologias” que
alimentam a vida e a missão de comunidades cristãs.
Necessidade de uma ‘boa’
teologia que alimente a vida e a
missão das comunidades locais
Há muitas teologias que
simplificam a complexidade da
realidade cotidiana (compreensão
mágica da fé)
Compreender a influência da
modernidade (pós-modernidade) na
dinâmica das igrejas locais:
(a) Ausência de consistência doutrinária
(uma igreja sem tradição e sem memória);
(b) Sem passado e sem futuro – vive das novidades efêmeras,
provisórias; há uma descontinuidade histórica;
(c) Centralizada no templo, mas não como comunidade e sim
como ajuntamento de pessoas autônomas e sem vínculos;
(d) Sincrética e com a presença de um forte misticismo;
explicações mágicas da realidade; é a fé sem razão;
(e) Dependente mais do marketing do que do
autêntico testemunho evangélico, destacando-se a
importância da imagem; quase tudo se transforma
num simulacro;
(f) Transformada em um supermercado de produtos
religiosos; o fiel é visto como consumidor; é a
mercantilização da fé (shopping gospel);
(i) Evangelho sem cruz, sem discipulado
e sem compromisso público; marcada
pelo hedonismo (prazer pelo prazer) e
pela experiência emocional (sentir é mais
importante que pensar);
(j) Fragmentação do discurso religioso
(pequenas ou micro-narrativas);
(g) Seduzida pela idéia do “sucesso” a qualquer
preço; ênfase na teologia da prosperidade, que
enfoca o “sucesso” (prosperidade) do indivíduo
e não da comunidade;
(h) Privatização da experiência religiosa;
(l) Não subordinação às autoridades, às
estruturas de poder; cada um/a é a medida de
si mesmo; ausência de limites;
(m) Autonomia da igreja local
(enfraquecimento dos vínculos burocráticos).
NOVOS DESAFIOS
Desenvolver uma nova compreensão de poder;
Acreditar na possibilidade da gestação de pequenos (e
grandes) milagres;
Colaborar na instituição da polis (perspectiva ecumênica);