23
168 \R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 168 - 190, jan. - mar. 2016 \ Violência Contra a Mulher e o WƌŽĐĞƐƐŽ ĚĞ :ƵƌŝĚŝĮĐĂĕĆŽ ĚŽ &ĞŵŝŶŝĐşĚŝŽ ZĞĂĕƁĞƐ Ğ ZĞůĂĕƁĞƐ Patriarcais no Direito Brasileiro Ana Lucia Sabadell WƌŽĨĂ dŝƚƵůĂƌ ĚĞ dĞŽƌŝĂ ĚŽ ŝƌĞŝƚŽ ĚĂ hŶŝǀĞƌƐŝĚĂĚĞ &ĞĚĞƌĂů ĚŽ ZŝŽ ĚĞ :ĂŶĞŝƌŽ ŵĞŵďƌŽ ĚŽ ĐŽŶƐĞůŚŽ ĂǀĂůŝĂƟǀŽ ĚŽ /ŶƐƟƚƵƚŽ DĂdž WůĂŶĐŬ ĚĞ ŝƌĞŝƚŽ WĞŶĂů ƐƚƌĂŶŐĞŝƌŽ Ğ ŽŵƉĂƌĂĚŽ ;&ƌĞŝďƵƌŐͲůĞŵĂŶŚĂͿ ŽŶĚĞ ĂƚƵĂ ŶĂ ĂǀĂůŝĂĕĆŽ ĚĞ ƉĞƐƋƵŝƐĂƐ Ğ ƉƌŽŐƌĂŵĂƐ ĚĞ doutorado e de master nas áreas de Direito Penal, ^ŽĐŝŽůŽŐŝĂ WĞŶĂů WƌŽĐĞƐƐŽ WĞŶĂů Ğ ƌŝŵŝŶŽůŽŐŝĂ INTRODUÇÃO KďũĞƟǀŽ ĚĞƐƚĂ ĐŽŶĨĞƌġŶĐŝĂ Ġ ĂďŽƌĚĂƌ Ă ƋƵĞƐƚĆŽ ĚŽ ĂƐƐĂƐƐŝŶĂƚŽ ĚĞ ŵƵůŚĞƌĞƐ ƉŽƌ ƌĂnjƁĞƐ ĚĞ ŐġŶĞƌŽ ƋƵĞ Ğŵ ŵĂƌĕŽ ĚĞ ϮϬϭϱ ĨŽŝ ŝŶĐŽƌƉŽƌĂĚŽ ĂŽ ſĚŝŐŽ WĞŶĂů ĐŽŵŽ ĐŝƌĐƵŶƐƚąŶĐŝĂ ƋƵĂůŝĮĐĂĚŽƌĂ ĚŽ ĐƌŝŵĞ ĚĞ ŚŽŵŝĐşĚŝŽ Ğ ƚĂŵďĠŵ ŝŶƚĞŐƌĂĚŽ ĂŽ ƌŽů ĚĞ ĐŽŶĚƵƚĂƐ ƉƵŶşǀĞŝƐ ĐŽŵŽ ĐƌŝŵĞ ŚĞĚŝŽŶĚŽ ĂŶĄůŝƐĞ ƋƵĞ ƐĞ ĂƉƌĞƐĞŶƚĂ ĨƵŶĚĂŵĞŶƚĂͲƐĞ Ğŵ ĂƌŐƵŵĞŶƚŽƐ ĚĞ ƚĞŽƌŝĂ ĨĞ- ŵŝŶŝƐƚĂ ĚŽ ĚŝƌĞŝƚŽ ĚĞ ƉŽůşƟĐĂ ĐƌŝŵŝŶĂů Ğ ĚĞ ƐŽĐŝŽůŽŐŝĂ ũƵƌşĚŝĐĂ ĨĞŵŝŶŝƐƚĂ Parto de uma análise do processo de mudança social em relação ao ƉĂƉĞů ĚĂ ŵƵůŚĞƌ ŶĂƐ ƷůƟŵĂƐ ĚĠĐĂĚĂƐ Ğ Ž ƌĞůĂĐŝŽŶŽ ĐŽŵ Ă ũƵƌŝĚŝĮĐĂĕĆŽ ĚĞ ĚĞƚĞƌŵŝŶĂĚĂƐ ĨŽƌŵĂƐ ĚĞ ǀŝŽůġŶĐŝĂ ĚĞ ŐġŶĞƌŽ Ğ ĂƚƵĂĕĆŽ ĚŽ ƐƚĂĚŽ ĐŽŵŽ ſƌŐĆŽ ŐĂƌĂŶƟĚŽƌ ĚĞ ĚŝƌĞŝƚŽƐ ĨƵŶĚĂŵĞŶƚĂŝƐ ĚĂƐ ƉĞƐƐŽĂƐ /ŶĚŝĐŽ Ž ƋƵĞ ĐŽŶ- ƐŝĚĞƌŽ ĐŽŵŽ ƉŽŶƚŽƐ ĞŵďůĞŵĄƟĐŽƐ ĚĞƐƚĞ ƉƌŽĐĞƐƐŽ Ğ Ă ƐĞŐƵŝƌ ĂŶĂůŝƐŽ Ž ĨĞ- ŵŝŶŝĐşĚŝŽ ĐŽŵŽ ĨŽƌŵĂ ĚĞ ŵĂŶŝĨĞƐƚĂĕĆŽ ƐŽĐŝĂů ĚĞƐƐĂ ǀŝŽůġŶĐŝĂ e as reações ƋƵĞ ƐƵƐĐŝƚĂƌĂŵ ƐƵĂ ũƵƌŝĚŝĮĐĂĕĆŽ ŶŽ ƌĂƐŝů EĞƐƚĞ ĐŽŶƚĞdžƚŽ ƚƌĂŐŽ ă ůƵnj ƌĞŇĞdžƁĞƐ ƚĞſƌŝĐĂƐ ƋƵĞ ŶŽƐ ďƌŝŶĚĂŵ Ă dĞ- ŽƌŝĂ ĚŽ ŝƌĞŝƚŽ Ğ Ž ŝƌĞŝƚŽ ŽŶƐƟƚƵĐŝŽŶĂů ƐŽďƌĞ Ž ƉĂƉĞů ĚŽ ƉƌŝŶĐşƉŝŽ ĚĂ

Patriarcais no Direito Brasileiro · que entre 2004 e 2014 as horas que elas dedicavam ao cuidado do lar aumentaram em 54 minutos, passando de 4horas e 6 minutos em 2004 ñ Z } ]

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168 R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 168 - 190, jan. - mar. 2016

Violência Contra a Mulher e o

Patriarcais no Direito Brasileiro

Ana Lucia Sabadell

doutorado e de master nas áreas de Direito Penal,

INTRODUÇÃO

-

Parto de uma análise do processo de mudança social em relação ao

--

e as reações

-

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-

fundamentadas em um discurso liberal, mas também aponto as contradi-

CESSO DE MUDANÇA SOCIAL-

mas décadas. Isso decorre de um processo de mudança social, marcado 1, que se desen-

-

os

-nação da mulher. Quando esta, por exemplo, recebe salário inferior ao do

-ção salarial2. E essa situação perdura, apesar de as pesquisas indicarem que a mulher está cada vez mais inserida no mercado de trabalho3. Posso

feminino não é mais exercido unicamente pelas classes mais pobres da sociedade. Em outras palavras, quando a

diferença salarial entre homens e mulheres. Cf. h - Outras pesquisas sobre o mesmo tema

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4.-

--

5

tais dados.

-

depende de fatores internos e externos que incidem sobre cada estado.6 que convi-

--

que entre 2004 e 2014 as horas que elas dedicavam ao cuidado do lar aumentaram em 54 minutos, passando de 4horas e 6 minutos em 2004

trabalho dos homens fora do lar diminuiu, mas isso não se converteu em

7. Outra si-

-

-

-

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tuação exemplar refere-se à taxa de desocupação laboral feminina. O in-forme Internacional do Trabalho (OIT) indicou que essa taxa aumentou em toda

indicava uma oscilação desta taxa, independentemente da melhoria da 8.

--

mulheres9

um elemento que condiciona todos os fatores. Trata-se, na verdade, de uma constante na análise do problema: a cultura patriarcal. Dentre estes fatores, destaco os que me parecem mais relevantes para a análise do

brasileiro.

-

-te, de seus problemas, se relaciona diretamente com o que denomino

8 Cf.em:

-

online do referido documento em:

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-

-

social. Aqui cabe um esclarecimento mais detalhado. Se em determinado

comunidade (e autoridades), como esperar que mude a percepção social com relação aos efeitos nefastos da cultura patriarcal10

-

e aumentar a venda do produto. Essas duas situações podem passar des-

a uma roupa considerada ousada, ele deve se manifestar para alertar a

publicitário, é o que se espera de quem pretende aumentar a venda de

heterossexual.

coi-

Folha de São Paulo (Hélio Schwartsman), publicou um texto comentando uma pesquisa do IPEA que indicava aumento de assassinatos

-

com.br/colunas/helioschwartsman/2013/09/1348060-um-caso-de-fracasso.shtml.

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--

-

e ainda assim, somente sob o viés penal.

dividem espaço com os mecanismos que promovem a própria manuten-ção da cultura patriarcal11

-

autoridades estatais (e internacionais) acreditem que criminalizando a

-

-

propriedade que se pode utendi et abutendi, de que se tem o direito de dispor livremente, que se pode sequestrar -

comum a homens e mulheres

FeminicídioIn: -

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-

-ver,

própria cultura patriarcal12. Concentrar-se exclusivamente na punição da do pa-

-

-

-mento de mudança13

anos nas universidades brasileiras (e aqui situo as próprias faculdades de

-

direitos fundamentais de todas e todos.

12 Outros elementos podem ser aqui aduzidos para explicar a relação entre avanço e retrocesso, tais como a com-

13 Sobre a mudança social e sua relação com o direito, Cf. SABADELL, Ana Lucia. Manual de Sociologia Jurídica. , Revista dos Tribunais, São Paulo, 6ª. edição, 2013, p. 87 e ss.

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diversas partes do mundo14.

desenvolvido(s) para

2. ESTADO PATRIARCAL

-

-

Ocorre que o Estado é patriarcal. Ele se fundamenta e se estrutura-se

detentores de poder) que promoveram, no Ocidente, a derrocada da socie-

-

-

-mens para homens. Mas não qualquer homem. Situando aqui apenas o

op. cit.

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direito) não impede a sua transformação. Quem abraça essa tese enten-

-

-

reconhecer que esse é um discurso liberal, que aposta na capacidade de o

meramente liberal. Mesmo assim, são reformas importantes. A educação de e para -

-do amplo, não basta a pretensão do MEC de, ao criar uma base curricular

-

a produção de uma cultura inclusiva de direitos e de respeito verso ao di-

-

contrário da educação-, um instrumento de transformação social.

discriminação em todas as suas formas e, para tanto, ele precisa abando-

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o direito deve ser usado apenas como um instrumento acessório e não

3. MARCO LEGAL DO FEMINICÍDIO NO BRASIL E EFEITOS DA LEI

-to

problema cultural15.

-

-

que realizaram mudança de sexo.

-

o será para efeitos da lei penal.É também importante salientar que a referida Comissão Parlamen-

--

anteriormente aqui expostos. Especialmente, aqueles que indicam que as taxas de assassinatos de mulheres por 100 mil habitantes não sofreram

-

ou ex-companheiros. 16

15 O relatório da referida comissão pode ser consultado em:

16 Dados podem ser consultados em:

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-A impor-

-

-

-

.

o-A e § 7º. e os incisos I, II e

-

-lógica

-

-dor pátrio. Para efeitos de análise imediata do impacto da referida lei, op-

-

, in:

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-

discursos, a saber:I. que apenas se propõe a descrever as

II. , que -

18.III. , que se posiciona favoravelmente à

-lamentar Mista de Inquérito19.

-

-

Leonardo Isaac Yaro-chewsky20 -

em sala de aula.

-

Revista Sistema Penal e Violência -

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-minação da mulher em favor de uma suposta discriminação masculina.

-

“Ao tratar o homicídio perpetrado

-

“Mas é um desastre técnico. Conspira con-

-

-

--

-

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-

-

-dade

-

-

--

-

nos indicar por que os autores anteriormente citados fazem uma análise 21.

-dade. Elas introduzem (e ao mesmo tempo se fundamentam), a tutela da

-

Di- Laterza, Roma-Bari, 1989; e sua posterior obra Principia Iuris. Teoria

, Laterza, Roma-Bari, 2007, 3 volumes. Um trabalho publicado entre estas duas obras -,

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22, se trava uma bata-lha, pouco conhecida, entre mulheres e homens envolvidos com o mo-

23

-

resultado da revolução iluminista, foi essencialmente o masculino. Então, -

adoção os textos revolucionários, como a declaração francesa de 1789, se

-

mulheres. -

Todos

-

-in Estudos

23 Para as interessadas e interessados, há uma versão online dessa declaração, ver: -

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-

24.

-alidade25

-

são concebidas como superiores, mas simplesmente porque as diferenças

-

social. As mulheres possuem os mesmos direitos que os homens enquan-to

Porém, existe um ulterior modelo que é de muito interesse nessa análise. Trata-se do que ele denomina de -

-

Trata-se de um modelo muito interessante, porque não é indife-

mais forte. Ao contrário, faz valer que são os direitos 26.

-

, op. cit. p. 947 e ss.

26 Cf.nota 16. E Diritot e Ragione, op. cit, p. 947 e ss.

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io nem discriminação de nenhuma diferença. As diferenças são assumidas considerando-as como dotadas de diversos

-

O -

mo valor associado a todas as diferenças que fazem de cada ser humano

como todas as outras.

-

e que devem ser pensadas e elaboradas não só na formulação dos direitos, mas tam-bém nas suas

diferenças entre as pessoas, e que essas diferenças devem ser tuteladas e

---

tão sendo tratados de forma diferente das mulheres e que, portanto, são

-

-

para essa situação.

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-

um Direito Penal simbólico em face de um dado tão contundente: a cada uma hora e trinta minutos uma mulher é assassinada no Brasil, perfazen-do um total de 15 ao dia.

--

-

-

-

-

cial para

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-

-

.

--

face da criação da Lei Maria da Penha em 2006. Naquela época, poucos

-28.

-

contra a mulher no anonimato, evitar sua publicização, e, portanto, sua

Punidor, principalmente.

Feminicídio, op. cit.In: .

Comentário, op. cit.

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-outdo-

ors -

visibilidade.Não entendem os autores que a mulher assassinada pelo marido

-

3.1.4. Violação do princípio da ampla defesa

---

prova

-

-

uma

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-

-

--

-

in dubio pro

societate

-

.A ideia é muito simples. Ao conceder-se tratamento diferenciado

indicar que, ademais do direito penal, também o processo penal resta

-

-

op. cit.31 Ibidem.

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CONCLUSÕES

-

-planar as que consideramos mais relevantes.

-

sistema e não apenas as normas que tutelam as mulheres em situações

-

Mas não é o caso.

das recentes reformas. O temor é de que, por um lado, se amplie o campo

tratamento penal das questões vinculadas aos direitos humanos das mu-

-32.

-cadora. Mesmo assim, os minimalistas entendem que a criminalização não

Italiane, Napoli, 1997, p. 115 e ss. PITCH, Tammar.

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law and orderproduz um Direito Penal simbólico e induz a população a acreditar que a

-lações de direitos humanos33

-

por exemplo.

moral panic -

-

-

considero sua aplicação inadequada para qualquer crime. -

nal brasileira indica que se caminha em direção a um melhor aperfeiço-

humanos das mulheres. Mas insisto que nenhuma lei terá o poder de eli-

op. cit.in: , 12, p. 553-562. BARATTA, Ales-

in: Studi in memoria di Giovanni Tarello, v.