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PATRIMÔNIO E MEMÓRIA: CONHECIMENTO … · conhecimento, aprendizado individual e coletivo, ... compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que

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PATRIMÔNIO E MEMÓRIA: CONHECIMENTO HISTÓRICO

E MEMÓRIA LOCAL EM SALA DE AULA

Autor: Luiza Maria Semkiw de Andrade1

Orientador: Oseias Oliveira2

Resumo

O presente artigo retrata a pesquisa – ação realizada com os alunos da 4ª série do Curso de Formação de Docentes no Colégio Estadual Professor Júlio César, que teve por objetivo fazer uma análise do trabalho desenvolvido quanto à abordagem do conteúdo patrimônio e memória: conhecimento histórico e memória local em sala de aula, considerando as dimensões filosóficas e artísticas do conhecimento. Na perspectiva de que a melhor forma de assegurar a identidade do patrimônio à uma comunidade, de forma significativa, é mantê-la presente no cotidiano. Assim, obter-se-á a forma de memória e registro daquilo que nos constitui e caracteriza no meio. Logo o conhecimento da cultura local é tarefa imprescindível para que pela educação patrimonial se tenha situações de aprendizado, num processo ativo de apropriação e valorização de uma herança cultural. Palavras-chave: Patrimônio, Memória, Cultura.

HERITAGE AND MEMORY: HISTORICAL KNOWLEDGE

AND LOCAL MEMORY IN CLASSROON

Abstract

This article delineates the action research accomplished with students in the 4th grade of the Teacher Formation Course from the Professor Júlio César State School, a study which had the purpose to analyze the work carried out regarding the approach of the content about cultural heritage and memory: historical knowledge and local memory in the classroom, considering the philosophical and artistic dimensions of knowledge. On this perspective the best way to assure the identity is to keep it present in the daily life of a community. Thus it is possible to attain a form of memory and record of what constitutes and characterizes us in a social environment. Therefore it is vital to know the local culture in order to provide learning situations by means of heritage education in an active process of appropriation and appreciation of cultural heritage. Key Words: Heritage, Memory, Culture.

1 Professora de Rede Estadual de Ensino do Paraná, licenciada pela Universidade do Oeste Paulista de Presidente Prudente- SP, com especialização em Educação Artística em Artes Plásticas. 2 Professor Adjunto do Departamento de História - UNICENTRO - Campus de Irati - PR

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Introdução

A necessidade de trabalhar o patrimônio cultural nas escolas fortalece a

relação das pessoas com suas heranças culturais, estabelecendo um melhor

relacionamento destas com estes bens, percebendo sua responsabilidade pela

valorização e preservação do patrimônio, e fortalecendo a vivência com a cidadania,

num processo de inclusão social.

A fim de buscar resultados na recuperação coletiva, com iniciativas de

resoluções inovadoras para preservação do patrimônio cultural em sua diversidade

de manifestações de bens materiais e imateriais, tendo-os como fonte primária de

conhecimento, aprendizado individual e coletivo, foi desenvolvido uma pesquisa-

ação como prática de cidadania e diálogo enriquecedor entre as gerações,

culminando assim em processo de apropriação e valorização de herança cultural.

O conhecimento crítico e a apropriação consciente dos indivíduos-alunos para

o seu patrimônio, são fatores indispensáveis no processo de preservação

sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de

identidade e cidadania.

A educação patrimonial é um instrumento de alfabetização cultural que

possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à

compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está

inserido, seja em um objeto ou conjunto de bens, um monumento ou um sítio

arqueológico, uma paisagem natural, um parque, uma manifestação popular de

caráter folclórico ou ritual, um processo de produção industrial ou artesanal e os

saberes populares. Estas diversidades culturais contribuem para a formação do

aluno-cidadão, incorporando-se ao processo de formação do indivíduo, e permitindo-

lhe reconhecer o passado, compreender o presente e agir sobre ele.

(...) o ser humano produz, então, maneiras de ver e sentir, diferentes em cada tempo histórico e em cada sociedade. Por isso, é fundamental considerar as influências sociais, políticas e econômicas sobre as relações entre os Homens e destes com os objetos, para compreender a relatividade do valor estético, as diversas funções que a Arte tem cumprido ao longo da história, bem como o modo de organização das sociedades. (PARANÁ, 1992, p.49.)

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A Arte é um processo de humanização em que o ser humano, como criador,

produz novas maneiras de ver e sentir, e através delas se torna consciente de sua

existência individual e social, sendo levado a interpretar o mundo e a si mesmo. E

educar os alunos em Arte é possibilitar a eles um olhar mais critico, a fim de

interpretar a realidade, criando e ampliando as possibilidades de apreciação, de

fruição e de expressão artística.

Neste processo dinâmico de socialização cultural ao trabalhar com os alunos

do Colégio Estadual Professor Julio César, foi destaque o patrimônio vivo e imaterial

da comunidade reboucense: os artesanatos, as maneiras de plantar, cultivar e

colher, de utilizar planta como alimento e remédios, a culinária, as danças e

músicas, os rituais e festas religiosas e populares, as histórias e experiências

vividas, e os fatos históricos, revelando os múltiplos aspectos que pode assumir a

cultura presente em nossa cidade, fazendo assim, acontecer o resgate da memória

local.

O princípio básico da Educação Patrimonial consiste em:

Um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho de Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto desses bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural. (HORTA, 1999.p.06.)

A educação patrimonial tem como objetivo buscar a conscientização dos

sujeitos envolvidos na valorização e preservação de sua identidade e memória

cultural, e ela deve ser incluída nos currículos escolares, levando à comunidade

escolar a serem sujeitos ativos e conscientes, tornando-os responsáveis pelo seu

entorno e exercendo de fato sua cidadania.

Esse processo educativo, teve como objetivo levar aos alunos em formação

(Curso de Formação de Docentes), o conhecimento teórico–prático, bem como toda

uma consciência sobre o processo cultural em que estão inseridos e, a partir de

suas experiências, estes poderão atuar, quando professores, não apenas

transmitindo-os fatos e movimentos históricos, mas principalmente, se identificando

como pertencentes àqueles elementos ou grupos formadores da história local.

Portanto, foi relevante trabalhar junto aos alunos, alguns conceitos como patrimônio,

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cultura, educação patrimonial, patrimônio cultural imaterial, praticas culturais, além

do CD ROM com todos os conteúdos/ pesquisas do patrimônio e memória da

cidade de Rebouças, como um apontamento a ser ministrado na Educação Básica.

Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais de Arte (2008), é necessário

que ocorra um diálogo entre a realidade de sala de aula e o conhecimento no campo

da educação. A partir do exposto, vê-se o projeto: "Patrimônio e memória:

conhecimento histórico e memória local em sala de aula”, como uma proposta de

realizar reflexão dos vários aspectos da memória local.

Ao considerarmos como modelo de formação do docente uma perspectiva

sócio-histórica, é indiscutível que se pense de forma relacional e contextual, logo o

valor dado a cultura local reflete toda a forma de organização, pensamento e lógica

que os sujeitos vivenciam, conservam ou transformam.

Neste aspecto quanto mais regular forem as experiências culturais da

comunidade, maior oportunidade de conhecimento de seus elementos constituintes

e que papel estes têm em relação à nossa própria história, melhores serão as

condições de identificação com as tradições, os saberes já produzidos, as formas

expressivas, enfim com o acervo próprio daquela ou de uma comunidade. A

aproximação conhecimento-comunidade via cultura, favorece o reconhecimento da

diversidade que nos constitui.

Cultura e Patrimônio

Podemos considerar cultura como tudo o que é aprendido e compartilhado

pelos indivíduos de um mesmo grupo, conferindo identidade a esse grupo.

A cultura refere-se a todas as ações e processos individuais ou coletivos de

criação e recriação de formas de perceber, organizar e integrar o mundo que os

homens e mulheres fazem entre si e com o meio-ambiente. Ela é um processo, é

vida, construção social, está nos saberes e não no consumo.

Na perspectiva de que a melhor forma de assegurar a identidade do

patrimônio é mantê-la presente no cotidiano de uma comunidade como significativa

e definidora de traços naturais e culturais; como forma de memória e registro daquilo

que nos constitui e caracteriza no meio. Logo o conhecimento da cultura local é

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tarefa imprescindível para que pela educação patrimonial se tenha situações de

aprendizado, num processo ativo de apropriação e valorização de uma herança

cultural. O patrimônio é a nossa herança do passado, com a qual convivemos hoje, e

que passamos às gerações futuras. É através da preservação e conservação deste

patrimônio, que se exerce a cidadania.

A origem da palavra Patrimônio é do latim, e é derivada de pater, que significa

pai. O patrimônio cultural constitui a riqueza e a herança de um povo, é o conjunto

de bens culturais, é um tesouro à sociedade, que revela a cultura recebida das

gerações anteriores. E está presente desde tempos remotos, ligado ao passado,

apesar de ser constituído como tal no presente. A valorização dos bens patrimoniais

que constituirão o patrimônio cultural depende do seu reconhecimento e da sua

apropriação pela sociedade como parte da identidade dos diversos grupos que a

compõem.

A definição mais abrangente do termo patrimônio indica bens e valores

materiais e imateriais, transmitidos por herança de geração na trajetória de uma

comunidade. (HORTA, 1999.p.oito.).

Nossa cultura vem sendo transmitida através das sucessivas gerações,

sempre se renovando e se recriando num processo dinâmico, propiciando à nação a

possibilidade de construir sua própria identidade, manifestação dessa identidade se

revela através do patrimônio cultural que não se restringe somente aos bens

culturais móveis e imóveis, temos representantes de nossa memória nacional e

protegidos por leis e instituições governamentais.

Nosso patrimônio vai muito além da matéria, se fazendo presente em outras

tantas formas de expressão cultural da sociedade, de norte a sul do país. Essa

herança imaterial se manifesta na interação de nossa gente com o ambiente, com a

natureza e com as condições de sua existência. É a alma de nosso povo,

materializados no artesanato, nas maneiras e modos do fazer cotidiano de nossas

comunidades, na culinária, nas danças, músicas, rituais, festas religiosas e

populares, nas relações sociais de uma família ou de uma comunidade, nas

manifestações artísticas, literárias, cênicas e lúdicas, nos espaços públicos,

populares, coletivos.

Como nem tudo o que restou do passado pode ser considerado patrimônio, o

que vai servir de referência para que isso ocorra é a relação existente entre a

comunidade e o elemento em questão, isto é, a cadeia de relações que se forma

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entre as partes. Sendo assim pode ser considerado como um revelador de

identidades a ser tratado como um:

Conjunto de bens produzidos por outras gerações, ou seja, os bens resultantes da experiência coletiva que um grupo deseja manter como perene. Nesse sentido patrimônio supera a definição estreita de um conjunto estático de objetos, construções, documentos, obras, etc, sendo uma marca, um vestígio cultural, que individualiza os homens em momentos temporal e culturalmente diferentes. (MACHADO, 2004. p.69.)

Os significados que a memória vai conferindo a um bem ao longo do tempo

acabam por dar-lhe uma identidade própria, tornando-a capaz de substituir e

representar um povo, um lugar. Dessa forma, o patrimônio cultural diz respeito à

identidade cultural de um povo, de uma região, de um país, e por isso deve ser

preservado e valorizado o máximo possível. Ele é o testemunho de uma cultura, a

marca de uma civilização. É o retrato do presente, uma expressão das

possibilidades políticas dos diversos segmentos sociais, expressas em grande parte

pela herança cultural, dos bens que materializam e documenta sua presença no

fazer histórico da sociedade.

Práticas Culturais

É o conjunto de atividades e modos de agir e viver de um povo, onde se

desenvolvem os grupos sociais, formando comunidades, coletividades e nações.

As praticas culturais são as manifestações da vida cotidiana em sua

totalidade, as festas, celebrações, rituais. Elas são de aceitação coletiva, vivas e

utilizadas pelo povo. Expressam seu sentir, pensar e agir na sociedade em que se

vive. Com o estudo das praticas culturais, pode-se ter maior compreensão dos seres

humanos, pois eles revelam suas semelhanças e diferenças, independentemente do

tempo, da localização geográfica ou da formação social.

Sendo que a cultura é tudo o que caracteriza uma população, portanto é

necessário a compreensão sobre o patrimônio cultural para que ocorra sua

perpetuação e valorização através das práticas culturais e assim tenhamos uma

verdadeira educação patrimonial.

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Educação Patrimonial

A educação patrimonial, interpretada por Horta (1999) como “um processo

permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural

como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo”, torna-

se um poderoso instrumento no processo de reencontro do indivíduo consigo

mesmo, resgatando sua auto-estima através da revalorização e reconquista de sua

própria cultura e identidade. Ao perceber seu entorno e a si mesmo em seu contexto

cultural como um todo, este transforma-se em principal agente de preservação.

Segundo Horta ainda, o “conhecimento crítico e a apropriação consciente pelas

comunidades do seu patrimônio são fatores indispensáveis no processo de

preservação sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos

sentimentos de identidade e cidadania”.

A educação patrimonial torna-se, assim, um processo constante de

ensino/aprendizagem que tem por objetivo central e foco de ações o patrimônio. É

nesse tópico que se encontra a fonte primária de atuação que vem enriquecer e

fortalecer o conhecimento individual e coletivo de uma nação sobre sua cultura,

memória e identidade. Através de ações voltadas à preservação e compreensão do

Patrimônio Cultural, a Educação Patrimonial torna-se um veículo de aproximação,

conhecimento, integração e aprendizagem de crianças, jovens, adultos e idosos,

objetivando que os mesmos (re) conheçam, (re) valorizem e se (re) apropriem de

toda uma herança cultural a eles pertencente, proporcionando aos mesmos uma

postura mais crítica e atuante na (re) construção de sua identidade e cidadania.

Identidade essa que, cada vez mais, urge por uma atenção especial dos diversos

setores da nossa sociedade.

A educação patrimonial é uma proposta que procura fomentar não só o

desenvolvimento, como a busca do saber no que diz respeito ao patrimônio, seja ele

histórico, cultural ou natural. Essa proposta de educação patrimonial não deve ser

vista como impositora de uma identidade, como uma obrigação; ela serve como

estímulo, um ponto de partida, apresentando, discutindo e gerando em cada

indivíduo a necessidade e o interesse em querer identificar-se com o patrimônio,

apenas apresentando subsídios para que ele veja dentro de sua comunidade os

patrimônios que são significativos de sua identidade.

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A metodologia da educação patrimonial não busca apenas estimular a

conservação física de lugares históricos, como prédios públicos, monumentos,

praças, bens naturais, entre outros, mas também resgatar a memória e os valores

que levaram a comunidade a reconhecer no humano, ações, crenças, conceitos,

objetos, fatos como patrimônio de uma coletividade. A educação patrimonial,

portanto, pretende valorizar a relação de afeto entre a comunidade e seus

patrimônios, estabelecendo entre eles um processo de aproximação, fazendo com

que a comunidade tenha um sentimento de pertencimento em relação a seus bens

patrimoniais, desejando assim, a sua identidade e a preservação.

A aplicação da metodologia da educação patrimonial esta baseada em quatro

etapas: observação, registro, exploração e apropriação (HORTA, 1999).

Observação: refere-se ao que está sendo visto. Aqui, deve-se fazer perguntas

ao objeto que está sendo analisado para que se obtenha o máximo de informações

a seu respeito.

Registro: neste momento, os indivíduos demonstram, de forma escrita, oral ou

através de desenhos, o que de mais significativo descobriram a respeito do objeto

por elas analisado.

Exploração: consiste na análise do problema, levantamento de hipóteses,

discussão dentro do grande grupo, pesquisa em outras fontes, as dúvidas e opiniões

de cada um sobre o objeto.

Apropriação: é o significado que ficou para cada pessoa do grupo à respeito

do objeto, ou seja, o que cada um aprendeu sobre o objeto estudado.

A partir destas etapas é possível promover propostas de aprendizagem, que

envolvam tanto adultos quanto crianças. Assim, cria-se uma relação significativa

entre a comunidade e seus patrimônios, de modo que preservá-los passa a ser algo

importante e prazeroso para todos os indivíduos da comunidade.

Considerando a rica diversidade de nossa cultura local, e através dos alunos

do Curso de Formação de Docentes, foi trabalhado uma ação educativa sobre

educação patrimonial com o projeto: “Patrimônio e memória: conhecimento histórico

e memória em sala de aula”, buscando implementar ações institucionais, na

identificação, reconhecimento, proteção e promoção do patrimônio imaterial

existente em nossa cidade.

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Legislação e História

Há uma preocupação mundial em preservar os patrimônios históricos da

humanidade, através de leis de proteção e restaurações que possibilitam a

manutenção das características originais. Mundialmente, a UNESCO (Organização

das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação) é o órgão responsável pela

definição de regras e proteção do patrimônio histórico e cultural da humanidade. No

Brasil, existe o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Este

órgão atua na gestão, proteção e preservação do patrimônio histórico e artístico. A

preservação de um povo está diretamente relacionada à conservação de seu

patrimônio cultural.

O primeiro órgão voltado para a preservação do patrimônio, no Brasil, foi

criado em 1933, como uma entidade vinculada ao Museu Histórico Nacional. Era a

Inspetoria de Monumentos Nacionais (IPM) instituída pelo Decreto n° 24.735, de 14

de julho de 1934, e tinha como principais finalidades impedir que objetos antigos,

referentes à história nacional fossem retirados do país em virtude do comércio de

antigüidades, e que as edificações monumentais fossem destruídas por conta das

reformas urbanas, a pretexto de modernização das cidades.

O Instituto foi precedido pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (SPHAN) criado em 13 de janeiro de 1937 e regulamentado pelo Decreto -

Lei nº 25 no dia 30 de novembro do mesmo ano, poucos dias após o golpe que

instituiu o Estado Novo. O decreto de criação do SPHAN definia o patrimônio

histórico e artístico nacional como "o conjunto de bens móveis e imóveis existentes

no país e cuja conservação seja do interesse público quer por sua vinculação a fatos

memoráveis da História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou

etnográfico, bibliográfico ou artístico".

Em 1970, o DPHAN (Departamento do Patrimônio Histórico e Artisitco) é

tranformado em IPHAN ( Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

inicialmente vinculada ao Ministério da Educação e Saúde está atualmente

subordinada à pasta da Cultura, que é responsável pela preservação do acervo

patrimonial, trangível e intangível , do país.

As discussões sobre patrimônio intensificaram-se no século XX, nas décadas

de 60 e 70, quando várias reuniões, conferências e encontros foram realizadas tanto

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nacionalmente como internacionalmente. Inúmeros documentos com objetivo de

proteção ao patrimônio de diversas nações surgiram e a idéia de patrimônio

ampliou-se como adjetivo cultural apresentado também pela Constituição Federal

Brasileira de 1988 no artigo 216.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 216, que define patrimônio

cultural a partir de suas formas de expressão; de seus modos de criar, fazer e viver;

das criações científicas, artísticas e tecnológicas; das obras, objetos, documentos,

edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais: e dos

conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,

paleontológico, ecológico e científico. A Constituição também estabelece que cabe

ao poder público, com o apoio da comunidade, a proteção, preservação e gestão do

patrimônio histórico e artístico do país.

A Legislação muitas vezes é criticada por algumas características de coerção

e penalidades que assume, entretanto, sem coercitividade nem sempre há

cumprimento do legalmente exigido. A legislação patrimonial não é diferente, possui

penalidades, amparo legal, a fiscalização e punição. Cabe a cada membro da

sociedade participar da proteção e do patrimônio cultural, através de sensibilização e

conscientização na possibilidade de preservar sua identidade cultural.

Diversidade Cultural, Preservação e Tombamento

Preservar é manter a integridade dos traços que definem o bem cultural. É

respeitar o direito de nossos descendentes. É garantir às gerações futuras o

conhecimento de sua própria história.

É a consciência de que pertencemos a história, estamos inseridos no contexto

e nas experiências humanas daquele grupo, logo é necessário defender, proteger,

resguardar os patrimônios, mantendo-os livres da destruição, depredação,

corrupção, perigo ou dano.

Tudo o que se preserva é marco de um tempo dentro da história, cujos fatos

não são apenas de ontem, de nossos pais e avós. A história não é só passado. Ela é

viva e atual e está acontecendo a cada segundo, no hoje. Cada momento é um fato

histórico.

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Preservar é proteger. Primeiro através de nossa educação, que vise atitudes

de sensibilização e conscientização na preservação de um patrimônio, além da

garantia que segundo a Constituição Federal de 1988, a proteção do patrimônio é de

responsabilidade da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

A perpetuação da memória de um povo, a manutenção da cultura, a vivência

das experiências de geração em geração, depende da conservação, de proteção, de

garantia, de amparo, e o tombamento faz parte do processo de proteção

Tombar significa amparar, preservar através de leis que impedem a

destruição, desintegração, o abandono do bem, do patrimônio, do saber e do fazer.

No processo de tombamento, à conscientização sobre proteção, fiscalização e

repressão atos lesivos ao patrimônio, o reconhecimento em cada nível municipal,

estadual e federal se dá de acordo com a importância deste em relação ao contexto

em que está inserido e na execução será protegido através de leis.

O IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em sua

legalidade, ao lado da proteção administrativa ao patrimônio cultural, estabelece,

que é crime, por exemplo, destruir,danificar ou realizar reformas em construções

tombadas sem autorização do órgão competente; exportar objetos artísticos , a

apropriação de artefatos arqueológicos, entre outros.

O importante é saber, que para se preservar nem sempre há necessidade de

se tombar tudo, o tombamento é apenas a garantia de sobrevivência de

determinados bens. Pois, a preservação deveria ser fruto de nossos sentimentos, de

nossa estima, de nosso amor pela nossa história, do reconhecimento de nossa

diversidade cultural.

Patrimônio Cultural Imaterial

A análise do artigo 216 da Constituição de 1988, denota o grande avanço que

se deu no tratamento do bem cultural, uma vez que inclui no seu conceito o aspecto

imaterial, absorvendo as concepções mais modernas referentes à matéria.

Assim, o conceito do patrimônio cultural possibilita a proteção dos mais

variados bens, vislumbrando um universo que transpõe as manifestações materiais,

tangíveis, para abarcar outras dimensões de cunho imaterial, fluídas, tão

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importantes quanto aquelas, que são expressões da história e da vida de um povo,

do seu modo ver e pensar o mundo, enfim, da sua própria identidade.

O patrimônio cultural imaterial diz respeito àquela porção intangível da

produção cultural dos povos, encontradas nas tradições, nos saberes, no folclore,

nas festas, e em outras tantas manifestações que são transmitidas de uma geração

a outra.

No Brasil, a categoria de bem imaterial tem validade apenas após a

Constituição de 1988, garantida no ano de 2000 com a criação do “Registro de Bens

Culturais de Natureza Imaterial” do IPHAN.

Segundo o IPHAN (2008.p.18):

A UNESCO define como Patrimônio Cultural Imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os instrumentos, objetos, artefatos, lugares que lhes são associados e as comunidades, os grupos, e em alguns casos, os indivíduos que se reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.

No ano de 2000 foi instituído no Brasil, o registro de bens culturais de natureza

imaterial, que inclui as formas de expressão de um povo, seu modo de criar, fazer,

viver e agir, seu conhecimento, costumes e instruções. Assim o registro do

patrimônio imaterial é feito em livros de:

a) Saberes, em que são inscritos conhecimentos e modos de fazer

enraizados no cotidiano das comunidades;

b) Celebrações: para os rituais e festas que marcam a vivência coletiva do

trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida

social;

c) Formas de expressão: para as manifestações literárias, musicais, plásticas,

cênicas e lúdicas;

d) Lugares: para os mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços

onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas.

No entanto, qual o valor dessa nossa riquíssima diversidade cultural, se não a

de reconhecemos ou se somos alienados do processo de sua construção e

enraizamento da educação patrimonial? Uma sociedade que não se reconhece está

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fadada à perda de sua identidade e ao enfraquecimento de seus valores mais

intrínsecos. É necessário que haja o envolvimento no processo de fortalecimento do

estudo sobre o patrimônio; é primordial, também uma postura consciente e ativa no

desenvolvimento de sua cidadania. Assim, podemos pensar que estamos atuando

como educadores e educandos, podendo nos considerar agentes em profunda

sintonia e responsabilidade para com o aprender e o ensinar do patrimônio cultural.

Implementação / Desenvolvimento

É preciso apontar formas efetivas de levar o aluno a apropriar-se do

conhecimento em arte, que produzam novas maneiras de perceber e interpretar

tanto os produtos artísticos quanto o próprio mundo.

Nesse sentido, educar os alunos em arte é possibilitar-lhes um novo olhar, um ouvir mais crítico, um interpretar da realidade além das aparências, com a criação de uma nova realidade, bem com a ampliação das possibilidades de fruição. (Diretrizes Curriculares de Arte, 2008.p.54.).

Além disso, a disciplina Arte tem uma forte característica interdisciplinar que

possibilita a recuperação da unidade do trabalho pedagógico, pois seus conteúdos

de ensino ensejam diálogos com a História, a Filosofia, a Geografia, a Matemática, a

Sociologia, a Literatura, etc.

Ao observarmos para (re) construirmos caminhos e constatar o que se tem, já

nos mobiliza para transformarmos o próprio conhecimento na relação que passa, de

mera informação, para um novo conhecimento capaz de interferir no cotidiano da

comunidade e gerando novas percepções de mundo, logo é processo educativo.

Para a intervenção pedagógica do projeto: “Patrimônio e memória:

conhecimento histórico e memória local em sala de aula” foi escolhido o Colégio

Estadual Professor Júlio César - Ensino Fundamental, Médio e Normal, com os

alunos da 4ª série do Curso de Formação de Docentes, com o objetivo de

proporcionar a eles o conhecimento e a aproximação com a história dos

Reboucense, no resgate do patrimônio imaterial local, capacitando os futuros

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profissionais, através de encontros, como agentes multiplicadores na preservação

de sua identidade e da história local.

Fig. 1 - Alunos do Curso de Formação de Docentes Foto: Arquivo Pessoal

Primeiramente foi realizada a apresentação do projeto de intervenção,

buscando despertar a sensibilização dos alunos com o conteúdo da música

Perfeição, de Renato Russo (CD do Legião Urbana), a qual retrata os problemas, as

dificuldades de nossa realidade brasileira, a música serviu ao questionamento para a

realidade local na compreensão e valorização da formação de uma identidade, com

o sujeito histórico e social na vivência e construção de sua cidadania.

Após foi trabalhado o enfoque sobre patrimônio e preservação, orientando-os

de como trabalhar com a metodologia da educação patrimonial em sala de aula ou

fora dela. Nesse processo educativo trabalhou-se na possibilidade de desenvolver a

sensibilidade e a consciência dos alunos para a importância e valorização do

patrimônio nos futuros cidadãos, através do documentário: As muitas faces de um só

Paraná (DVD da Secretaria de Estado da Cultura do PR).

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Na sequência com o tema: patrimônio histórico cultural, foi realizada as

atividades com sensibilização através da música utopia de Pe. Zezinho (CD - Os

melhores momentos das Paulinas), destacando e enfocando as experiências,

mudanças, lembranças, fatos que marcaram a vida de uma pessoa e outros que

caíram no esquecimento, que não fazem parte mais de nossos costumes, de nossos

valores. Tudo isso com a visita e relatos dos pais dos cursistas, avós e membros do

movimento “Aprendizes da Sabedoria”3, foi uma vivência gratificante e emocionante.

A seguir foi elaborado uma oficina com atividades diversas como caminhada

pela cidade, observação nas moradias e construções, visitas, palestras, resgate de

materiais e fotos e entrevistas com moradores, destacando o patrimônio vivo e

imaterial da comunidade, dentre eles os artesanatos, a culinária com deguste,e / ou

as peculiaridades locais, observação nas práticas culturais: benzimento, utilização

de alimentos e remédios, danças, rituais e festas religiosas e populares,

despertando e provocando nos alunos sentimentos de curiosidade, levando-os a

conhecerem o seu passado histórico, compreendendo melhor o presente e

projetando o futuro.

Dando sequência com a leitura e reeleitura de obras destacou-se o DVD de

Poty Lazarrotto (DVD - Arte na escola) que relata a diversidade cultural, com a

história do artista, seus trabalhos, processo de construção do seu cotidiano. Em

parceria com a comunidade foi montado a galeria de fotos dos diretores do colégio

do período de 1939 – 2011. Assim os alunos podem perceber a construção da

história, os modos de fazer artes visuais e sua função social, a relação com as

heranças culturais e os bens simbólicos.

Na continuidade foi relevante a atividade no uso do “coisário” (porção de

coisas) representando a bagagem cultural para trabalhar o doar-se, o desapego; o

aluno trazia objetos, documentos, relacionando situações tristes ou alegres,

marcantes, de recordação, saudades e depositava com a regra: se trouxe leva outro

com a preferência de deixar os objetos para a sala de memória do município.

3 MASA: Movimento dos Aprendizes da Sabedoria, grupo de detentores de ofícios tradicionais na

região Centro-Sul do PR

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Fig. 2 - Galeria dos Diretores do Colégio Julio César Foto: Arquivo Pessoal

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As escolas, os profissionais da educação básica do município de Rebouças,

sofrem grande carência de material didático para que o professor possa trabalhar as

questões referentes ao patrimônio cultural, histórico, social em sala de aula,

portando como efetivação desse projeto foi utilizado junto aos alunos um CD ROM

como todas as pesquisas e atividades do patrimônio e memória da cidade.

Ao trabalhar com o material do CD ROM foi possível aguçar a auto-estima, a

curiosidade no conhecer, o perceber a bagagem cultural existente em nosso meio.

Como resultado na ação de aprendizagem a sensibilidade histórica e a formação

estética. O conteúdo da história da arte e a linha do tempo permearam todo o

percurso do aluno em sua produção e composição; seguindo as figuras e por meio

do ritmo foi possível pela análise, o caminho da criação na confecção da sua linha

do tempo, o que envolveu toda uma identidade histórica e criatividade articuladas

com a emoção e o sentimento da dimensão humana na arte. Entre as atividades

estão a apresentação de cartazes, folder, álbum, diário, calendário com ilustrações,

desenhos, colagem. A grande contribuição nesta etapa do trabalho está também na

questão do aluno interpretar os fatos e momentos observados pelas recordações e

as lembranças que vão surgindo e proporcionando uma reeleitura da realidade. Traz

por exemplo, algumas situações extremamente marcantes e outras até já caídas no

esquecimento. Outra situação interessante de aprendizagem está exatamente nas

relações de interação com temáticas socioeducativas e o conteúdo pela experiência

do aluno, o que fortalece o princípio de que construímos conhecimento e nos

modificamos por ele. Os assuntos relacionados à reciclagem por exemplo,

oportunizaram ricas experiências daquilo que se guarda, daquilo que se separa,

daquilo que se joga.

E no final da intervenção foi elaborado como apropriação e resultado um

caderno/manual de receitas com as anotações: sabor & saberes do povo

reboucense.

No conteúdo do CD ROM com o título de: Inventário cultural e as evidências

do cotidiano da cidade de Rebouças, destacou-se como apoio/ suporte para o

desenvolvimento do projeto. Nele contém informações históricas, demográficas,

relatos de tradições, crenças, costumes, as práticas culturais e algumas

manifestações que já se perderam no tempo. Muitas outras ainda permanecem com

fatos e momentos que marcaram, onde os munícipes, lembram com saudades de

uma época consagrada pelas inúmeras festas comemorativas: desfiles de escolas;

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apresentações de bandas, bailes badalados, campeonatos de futebol, formados por

grandes times da cidade, as competitivas carreiras e principalmente pelas famosas

sessões dos cinemas, sendo muito rica a história da cidade de “Rebouças” .

Rebouças, é um município paranaense localizado na região Sul, no segundo

planalto. O passado de Rebouças é culturalmente rico. Sua história reserva fatos

preciosos que contribuíram para a formação de meios que vieram a consolidar uma

cultura dentro da comunidade reboucense, como afirma WSZOLEK (2008. p.101.):

”Os vagões de trens que aqui passaram levaram sim a nossa natureza (nossos pinheiros, nossas exuberantes imbuias, nossos majestosos cedros...), e isso é lamentável. Mas, em contrapartida, os mesmos vagões trouxeram muitos sonhos, seja dos comerciantes ou donos de serrarias, que viam ali a possibilidade de prosperidade econômica, dos próprios fazendeiros que passavam a obter novos mercados para seus produtos, ou então, dos imigrantes de diversas etnias, que buscavam a “terra prometida”. Essa união de sonhos, nem sempre concretizados, culminará na consolidação de mais uma etapa do processo de formação do município de Rebouças”.

Pelos trilhos era um vai e vem de pessoas, e rapidamente formou-se ao redor

da estação e nas proximidades, um grande agrupamento de moradias, de comércio,

de instalação de serrarias, depósitos, farmácia, hotel, cinema e a formação das ruas,

da cidade. Rebouças recebeu no processo de ocupação do seu território, vários

grupos étnicos, como luso-brasileiros, imigrantes poloneses, ucranianos, alemães,

italianos, sírios, libaneses e outros.

Nesta perspectiva, podemos considerar que a formação cultural do Município,

ocorreu a partir da fusão de uma grande diversidade de culturas. Cada um dos

grupos étnicos resultou na partilha de valores, formando-se a partir daí, a cultura

reboucense. Os luso-brasileiros e também os gaúchos estimularam o reboucense a

apreciar festas, músicas e danças.

Como diz Wszolek, (2008.p.136.): “Nossa alimentação, por exemplo, não

seria tão saborosa se não tivéssemos a polenta, as massas e o vinho, produtos

indispensáveis na mesa dos italianos, e também na nossa. Ou então, a broa, o

pierogue e o sonho, trazidos pelos poloneses. E ainda o charuto de repolho e a

cerveja dos alemães. E também o pão tradicional e o ovo cozido, típico dos

ucranianos. Estes produtos tornam-se presentes no cardápio do reboucense

juntamente com o feijão, arroz, verduras, frutas, carnes e derivados do leite”.

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A alimentação, religiosidade, festas, esportes, danças, músicas, são apenas

alguns aspectos da cultura reboucense. Contudo, podemos classificar o povo desta

cidade, como um povo simples, dedicado ao trabalho, mas também um povo que

preserva viva as manifestações culturais que vem do passado, tornando a cidade

mais alegre, preservando, assim, o título de Rebouças como Capital da Amizade.

No decorrer do projeto foi possível trabalhar, recordar, valorizar as práticas

culturais existentes e algumas ainda vivenciadas pelo povo reboucense. Assim foi

possível trabalhar esse resgate, compartilhando histórias e vivências, para que os

alunos pudessem perceber o patrimônio imaterial presente no passado e ainda hoje

em seu cotidiano e em todos nós.

Precisamos estar sensíveis à experiência cultural para entender e manter vivo

o gosto, a valorização e a ampliação do olhar crítico, imaginativo e inquieto; do

antigo ao novo, possibilitando a sensibilização, com emoção, para reconhecê-la

como nossa, repleta de situações que são íntimas. Também há a questão dos

lugares que fizeram parte da história de cada um e de todos; o jeito das pessoas, as

tradições, os costumes pertencentes à nossa cultura e que trazem à tona a

dimensão do humano e o social intrínsecos ao cotidiano. Toda estas situações

experimentadas revelam a natureza e a riqueza da diversidade como integrantes da

memória histórica e afetiva das gerações, presentes e refletidas ao longo do tempo,

de geração a geração.

Preservar o patrimônio imaterial, a memória são importantes ferramentas de

formação integradora, pois elas procuram salvar o passado para servir ao futuro,

garantindo a identidade e a sobrevivência de valores numa sociedade.

Considerações Finais

No trabalho de valorização do patrimônio imaterial, nos valores, tradições e

costumes herdados do passado e hoje sendo reapropriados no presente, em nosso

município de Rebouças através do projeto: “Patrimônio e Memória: conhecimento

histórico e memória local em sala de aula” foi despertado estratégias educativas que

contribuíram para a “consciência histórica patrimonial” através da pesquisa – ação

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com promoção e valorização do patrimônio local na construção da cidadania e

formação de identidade.

O desenvolvimento de uma cidade é importante, todos precisam compreendê-

lo em todos os aspectos cultural, ambiental, histórico, educacional, econômico. As

gerações atuais e futuras merecem conhecer suas raízes como afirma Itaqui

(1998.p.17): “Resgatar o patrimônio cultural dos nossos municípios através dos

elementos que fazem cada lugar e definem a identidade cultural dos nossos

habitantes, não só é uma responsabilidade com o passado histórico dessas

comunidades, mas fundamentalmente com o seu futuro”.

Os resultados aconteciam ao longo do desenvolvimento do projeto e foi

possível acompanhar em nível municipal a aprovação da Lei nº 1401/2010 com o

reconhecimento dos ofícios tradicionais da saúde popular, trabalho esse do grupo

dos “aprendizes da sabedoria”. Esse grupo realizou um mapeamento social no

município destacando ofícios de parteira, benzedores, benzedeiras, curandeiras,

curandores, costureiras e costureiros de rendiduras machucaduras, rezadeiras,

remedieiras sendo que foi conquistado também os prêmios: Cultura e Saúde 2010 e

da 24ª edição o prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. Foi de muito valor a

atuação desse grupo junto aos alunos no decorrer do projeto.

Os resultados mostraram-se positivos, os objetivos foram alcançados. Porque

por meio desse trabalho, os alunos puderam demonstrar sensibilização e

valorização de sua própria história, houve relatos orais, muito choro e emoção com

as histórias contadas pelos pais e avós, etapa riquíssima de troca de experiência e

vivência. Os alunos passaram a reconhecer o sentimento de vínculo, identidade e

importância através da coleta de objetos, documentos, fotos, para a sala de memória

do município, além da implantação da galeria de fotos dos diretores do colégio do

período de 1939 - 2011, que foi um marco na história da educação de nosso

município.

Enfim, o tema patrimônio imaterial foi bem compreendido e a valorização do

conhecimento histórico juntamente com a memória local em sala de aula foi

fundamental e reconhecido. É hora de valorizar o que é nosso. Tudo foi uma

referência para compreender o modo de vida dos antigos e atuais moradores,

independentemente da beleza artística ou cultural, as manifestações, os

documentos de uma época, os costumes foram pontos para trabalhar e acender a

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chama da cultura, da riqueza de nosso povo e resguardando a memória local para

se sentir parte dela.

Referências

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- Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estad o do Paraná . SEED. 2008

- FUNARI, Pedro Paulo Abreu; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. O que é

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Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília : IPHAN / Museu Imperial,

1999.

- IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em:

www.iphan.com.br

- MAGALHÃES, Leandro Henrique. BRANCO, Patrícia Martins Castelo Branco.

ZANON, Elisa Roberta. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: DA TEORIA À PRÁTICA .

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- PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Ensino Médio,

LDP: Livro Didático Público de Arte . Curitiba: SEED-PR, 2006.

- PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DE CTBA : identificação e registro.

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- RICHTER, I. M. Interculturalidade e Estética do cotidiano no ensin o das artes

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- WOISKI, Sebastião Miguel. O lazer e a cultura na comunidade Reboucense

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- WSZOLEK, Elcio. REBOUÇAS: OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO: UMA BREVE

ANÁLISE . SMEC DE REBOUÇAS, 2008.