Património Geológico de Moçambique

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UNIVERSIDADE DO MINHO ESCOLA DE CINCIAS DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA TERRA

ngelo Nhapacho Francisco Cumbe

O Patrimnio Geolgico de Moambique: Proposta de Metodologia de Inventariao, Caracterizao e Avaliao

Tese de Mestrado em Patrimnio Geolgico e Geoconservao

Trabalho efectuado sob a orientao da

Professora Doutora Graciete Tavares Diase co-orientao do

Professor Doutor Lopo Antnio Ferreira Trigoso de Sousa e VasconcelosBraga, Dezembro de 2007

O trabalho que se apresenta foi possvel graas a uma bolsa de estudos concedida ao autor pelo Instituto Portugus de Apoio ao Desenvolvimento.

iii

Aos que, dia aps dia, lutam pela promoo das Geocincias e atravs destas pela preservao da natureza para a nossa sobrevivncia e das geraes futuras.

Dedico este trabalho aos meus pais FRANCISCO LICEMANE CUMBE in memoriam e GRACINDA A. BAHULE CUMBE, aos meus irmos CELSO MORANE CUMBE, CARMINA ROSA CUMBE, LEVY MALUVELE e minha noiva SANDRA SALETE MABOMBO.

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AGRADECIMENTOS

A Deus todo-poderoso por me ter facultado o Dom da Sabedoria, Perseverana e pela sua proteco.

minha famlia e namorada que souberam confiar, acreditar e suportar a minha ausncia por longo perodo e pelo carinho e apoio incondicional sempre disponibilizado. Profa. Doutora Graciete Dias e ao Prof. Doutor Lopo Vasconcelos, pela orientao, crticas e sugestes aquando da realizao da presente Dissertao e pela amizade.

Ao Director do Museu Nacional de Geologia, Lus da Costa Jnior, por todo apoio por si disponibilizado e o qual foi fundamental para o sucesso deste projecto.

Ao Prof. Doutor Joo Marques, pela ajuda prestada durante a preparao da seco da presente Dissertao referente geologia de Moambique.

Ao Prof. Doutor Jos Brilha, por sempre ter me encorajado nos momentos difceis, por ter estado sempre disponvel a ajudar, por todo apoio prestado e por toda amizade.

Meu especial agradecimento a todos colegas do Museu Nacional de Geologia, pelo envio de material bibliogrfico para a realizao de alguns trabalhos de investigao na poca curricular do Mestrado, pela compreenso e cooperao.

A todos funcionrios da Direco Nacional de Geologia, por todo apoio prestado no fornecimento de documentos, em particular aos senhores Ponta Vida, Simbine e Dino Milisse.

Ao Senhor Agostinho, funcionrio da biblioteca da Direco Nacional de Geologia, pela sua disponibilidade e apoio prestado na biblioteca durante as minhas consultas bibliogrficas.

v

Aos alunos do Instituto de Transportes e Comunicaes nomeadamente, Castor Joo Dana, Clrcio do Rosrio Guiliche e Leonel Amlcar Narciso Estvo, pela materializao da Base de Dados.

A todos docentes e colegas do curso de Especializao e Mestrado em Patrimnio Geolgico e Geoconservao da Universidade do Minho, por me terem acolhido e enquadrado de maneira excelente durante a minha permanncia em Portugal.

Ao Instituto Portugus de Apoio ao Desenvolvimento pela concesso da bolsa de estudos que tornou possvel a concretizao deste trabalho.

A todos que, directa ou indirectamente, contriburam para a realizao deste trabalho,

MUITO OBRIGADO

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O Patrimnio Geolgico de Moambique: Proposta de Metodologia de Inventariao, Caracterizao e Avaliao

Palavras-chave: Geodiversidade, geosstio, patrimnio geolgico, inventariao, caracterizao, avaliao, geoconservao, Moambique.

RESUMO

Moambique caracterizado pela ocorrncia de uma grande diversidade geolgica (geodiversidade), da qual fazem parte locais geolgicos com carcter excepcional do ponto de vista cientfico, didctico, turstico, etc., denominados por geosstios. Devido cada vez maior procura de recursos naturais para serem utilizados como matria-prima, relacionada com o crescente desenvolvimento econmico mundial, a integridade da geodiversidade est cada vez mais ameaada. Por isso, torna-se necessrio criar mecanismos que assegurem a proteco e preservao de locais da geodiversidade considerados excepcionais, para que neles possam ser realizadas actividades cientficas, pedaggicas, tursticas e para que as futuras geraes tambm possam usufruir deles. Em Moambique, no foi ainda delineada uma estratgia visando a inventariao, caracterizao, valorizao e conservao dos seus stios geolgicos excepcionais. na sequncia desta realidade que, no mbito da presente Dissertao, foi apresentada uma proposta de metodologia de inventariao, caracterizao e avaliao do patrimnio geolgico moambicano. Para o efeito, foram analisadas vrias experincias internacionais em matria de geoconservao, incluindo alguns mtodos de avaliao de geosstios. Estas prticas e mtodos internacionais foram adequados s especificidades e realidades moambicanas, de que resultou a elaborao de uma proposta de metodologia a adoptar em Moambique e sua aplicao avaliao de alguns stios geolgicos moambicanos de referncia ocorrendo na provncia de Maputo. No mbito do presente trabalho, foi desenvolvida uma ficha de inventariao que se prope seja aplicada durante o processo de inventrio do patrimnio geolgico moambicano. Foi ainda concebida uma base de dados, com o objectivo de acomodar e centralizar todos os dados recolhidos durante o processo de inventariao. vii

O presente trabalho composto por cinco captulos. O primeiro captulo introduz o tema e os objectivos do trabalho. O segundo aborda os principais conceitos relacionados com a geoconservao e equaciona a situao e perspectivas em matria de geoconservao em Moambique. O terceiro captulo refere a geodiversidade em Moambique. No quarto captulo efectua-se a anlise de metodologias e experincias internacionais em geoconservao e apresenta-se uma proposta de metodologia de inventariao, caracterizao e avaliao a adoptar em Moambique. No quinto e ltimo captulo faz-se uma reflexo final e concluso ao trabalho.

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The Geological Heritage of Mozambique: Proposal of Methodology on Inventory, Characterization and Assessment

Key-words: Geodiversity, geosite, geological heritage, inventory, characterization, assessment, geoconservation, Mozambique.

ABSTRACT

Mozambique is characterized by the occurrence of a large geodiversity which includes geologic sites of exceptional interest (scientific, didactic, tourist or others), denominated geosites. Due to the even increasing demand of natural resources for their utilization as raw materials, related to the worldwide development, the integrity of the geodiversity sites is at high risk. Hence, it is necessary to put in place some mechanisms that can guarantee the protection and preservation of the geosites carrying up scientific, pedagogic, tourist activities thereon, so that future generations may also enjoy their usufruct. In Mozambique there is still no strategy envisaged at inventory, characterization, assessment and conservation of its geosites. Facing this reality, in the scope of the present Dissertation a proposal of methodology o the inventory, characterization and assessment of the mozambican geological heritage is presented. To that effect, various international experiences in geoconservation, including some assessment methods for geosites were analyzed. These international practices and methods were thereafter adapted to the specifications and reality of mozambican geologic heritage. In the context of the same work, an inventory form was designed, which is proposed to be used during the process of inventory of the mozambique geologic heritage. To accommodate and centralize all data to be collected during the inventory process, a data bank was also designed. This work is composed on 5 Chapters: Chapter 1 is introductory and addresses generic aspects; Chapter 2 is about the main concepts related to geoconservation and the current status on geoconservation in Mozambique; Chapter 3 is on the geodiversity in Mozambique; in Chapter 4 the analysis of methodologies and international experiences on geoconservation is presented, as well as a proposal of methodology on inventory, ix

characterization and assessment of the mozambican geological heritage; Chapter 5 and last is about final remarks on the work.

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NDICE Resumo. Abstract. Lista de abreviaturas e smbolos... Lista de figuras. Lista de tabelas. CAPTULO 1 INTRODUO... 1.1 Consideraes gerais. 1.2 Contextualizao do trabalho. 1.3 Objectivos....... 1.3.1 Geral... 1.3.2 Especficos... 1.4 Metodologia. 1.4.1 Trabalho de gabinete... 1.4.2 Trabalho de campo. 1.5 Plano geral da Dissertao. 1.6 A rea de estudo. 1.6.1 Localizao geogrfica 1.6.2 Geomorfologia. 1.6.3 Clima... 1.6.4 Vegetao 1.6.5 Hidrografia... 1.6.5.1 Rios... 1.6.5.2 Lagos......... 1.6.5.3 Canal de Moambique. CAPTULO 2 PATRIMNIO GEOLGICO E GEOCONSERVAO 2.1 Conceitos gerais... 2.1.1 Geodiversidade 2.1.2 Geosstio... 2.1.3 Patrimnio geolgico... 2.1.4 Geoconservao... 2.2 Estratgias de geoconservao. 2.2.1 Inventariao e Avaliao 2.2.2 Classificao. 2.2.3 Conservao. 2.2.4 Valorizao e divulgao. 2.2.5 Monitorizao... 2.2.6 Implementao de estratgias de geoconservao... 2.3 Iniciativas internacionais em geoconservao. 2.3.1 Conveno sobre o Patrimnio Mundial. 2.3.2 Programa Homem e Biosfera da UNESCO (MAB) ... 2.3.3 Conveno de Ramsar. 2.3.4 Tratado Antrctico... 2.3.5 Projecto Geosites. 2.3.6 Programa Geoparks. 2.4 Geoconservao em Moambique: situao e perspectivas......... 2.4.1 Patrimnio geolgico em Moambique... vii ix xiv xvi xx 1 1 1 3 3 3 3 3 4 5 6 6 6 25 28 33 33 37 38 41 41 41 41 42 43 44 44 44 45 46 47 47 48 48 50 51 51 51 55 56 56

xi

2.4.2 reas Protegidas em Moambique... 2.4.2.1 Zonas de Proteco... 2.4.2.2 Legislao que rege as reas Protegidas. 2.4.3 Legislao moambicana aplicvel ao patrimnio geolgico. 2.4.4 Geoturismo em Moambique... 2.4.5 Geoconservao e Ensino em Moambique. CAPTULO 3 GEODIVERSIDADE EM MOAMBIQUE. 3.1 Geologia de Moambique 3.1.1 Terreno do Gondwana Oeste 3.1.2 Terreno do Gondwana Sul... 3.1.3 Terreno do Gondwana Este. 3.1.4 Cobertura fanerozica. 3.2 Evoluo geodinmica. 3.3 Processos e fenmenos naturais actuais............................... 3.3.1 Eroso... 3.3.2 Cheias... 3.3.3 Ciclones.... 3.3.4 Estiagem... 3.3.5 Sismos. 3.4 Minerais, rochas e fsseis 3.4.1 Minerais 3.4.1.1 Depsitos minerais de ferro, mangans e titnio. 3.4.1.2 Ouro e prata. 3.4.1.3 Andalusite, cianite e silimanite. 3.4.1.4 Asbestos. 3.4.1.5 Berilo. 3.4.1.6 Fluorite 3.4.1.7 Grafite 3.4.1.8 Outros minerais e gemas 3.4.2 Rochas. 3.4.2.1 Bauxite e sienito nefelnico. 3.4.2.2 Pegmatitos. 3.4.2.3 Bentonite 3.4.2.4 Mrmore. 3.4.2.5 Granitos vermelhos e castanhos 3.4.2.6 Granitos negros. 3.4.2.7 Anortosito. 3.4.2.8 Labradorito 3.4.2.9 Calcrio. 3.4.3 Fsseis. 3.4.4 Recursos energticos. CAPTULO 4 PROPOSTA DE METODOLOGIA DE INVENTARIAO E AVALIAO DO PATRIMNIO GEOLGICO EM MOAMBIQUE 4.1 Introduo 4.2 Anlise de experincias internacionais em aces de inventariao 4.2.1 A experincia da Gr-Bretanha 4.2.2 A experincia da Espanha 4.2.3 A experincia da Itlia.

57 57 61 62 64 68 71 71 73 77 80 80 86 90 90 92 95 95 95 98 99 99 101 101 102 102 103 103 103 110 110 110 111 111 112 112 112 112 114 114 118

121 121 122 122 128 131

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4.2.4 A experincia da Irlanda. 4.2.5 A experincia de Portugal 4.3 Anlise de mtodos de avaliao internacionais. 4.3.1 O mtodo de Panizza, 1999 (Itlia) . 4.3.2 O mtodo de Coratza & Giusti, 2005 (Itlia) .. 4.3.3 O mtodo de Bruschi & Cendrero, 2005 (Espanha) ... 4.3.4 O mtodo de Serrano & Gonzlez-Trueba, 2005 (Espanha) 4.3.5 O mtodo de Brilha, 2005 (Portugal) . 4.4 Proposta de metodologia a adoptar em Moambique. 4.4.1 Fases do processo de inventariao. 4.4.2 Linhas gerais de orientao na seleco dos geosstios... 4.4.3 Avaliao da relevncia dos geosstios 4.4.3.1 Critrios de seleco e indicadores de relevncia. 4.4.3.2 Clculo do valor dos indicadores. 4.4.3.3 Cdigo de discriminao do valor final do geosstio (GAUV) ... 4.4.4 Exemplos de aplicao dos critrios de seleco. 4.4.4.1 Afloramento na estrada nacional EN4. 4.4.4.2 Dique da pedreira de Estevel 4.4.4.3 Afloramento dos CFM de Boane. 4.4.4.4 Miradouro junto ao controlo da polcia em Marracuene... 4.4.4.5 Afloramento da pedreira de calcrios de Salamanga 4.4.4.6 Anlise dos resultados da avaliao quantitativa dos locais propostos. CAPTULO 5 CONSIDERAES FINAIS E CONCLUSES. 5.1 Sobre os programas internacionais em conservao da natureza. 5.2 Sobre a geodiversidade em Moambique. 5.3 Sobre a geoconservao em Moambique: situao actual e perspectivas. 5.4 Sobre o processo de inventariao e avaliao do patrimnio geolgico em Moambique... BIBLIOGRAFIA. Anexo 1. Anexo 2. Anexo 3.

133 133 135 135 136 142 147 148 157 157 160 161 161 168 172 172 173 180 184 192 196 204 207 208 209 213 215 221 227 231 237

xiii

LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

AGMM AIA AMCG ASPAs CBD CENACARTA CFM CITIES CONDES DNG E ENE ENH EN4 ESE ESW Etc. Fig. FUTUR Ga GCR GGWG IIAM INE INGC ITGE IUGS kbar km m Ma MAB MICOA MIREM MITUR MNG N No. NCR NE NNW NHA NRIC NW p.ex. PIB

Associao Geolgica Mineira de Moambique Avaliao do Impacto Ambiental Anortosito-Mangerito-Charnoquito-Granito reas Antrcticas Especialmente Protegidas Conveno sobre Diversidade Biolgica Centro Nacional de Cartografia e Teledeteco Portos e Caminhos de Ferro de Moambique Conveno sobre Comrcio Internacional de Espcies de Flora e Fauna em Perigo de Extino Comisso Nacional para o Desenvolvimento Sustentvel Direco Nacional de Geologia Leste Este-Nordeste Empresa Nacional de Hidrocarbonetos Estrada Nacional nmero 4 Este-Sudeste Este-Sudoeste Et cetera Figura Fundo Nacional do Turismo Giga anos Geological Conservation Review Global Geosites Working Group Instituto de Investigao Agrria de Moambique Instituto Nacional de Estatstica Instituto Nacional de Gesto de Calamidades Instituto Tecnolgico Geomineiro de Espanha Unio Internacional das Cincias Geolgicas Quilobares Quilmetros Metros Milhes de anos Man and Biosphere Programme Ministrio para a Coordenao da Aco Ambiental Ministrio dos Recursos Minerais Ministrio do Turismo Museu Nacional de Geologia Norte Nmero Nature Conservation Review Nordeste Norte-Noroeste Natural Heritage Areas Nature Reserves Investigation Committee Noroeste Por exemplo Produto Interno Bruto

xiv

Prof. Profa. ProGEO RIGS S SE SSE SSSIs SW UEM UNCCD UNESCO WHC WNW WSW ZCS % o C

Professor Professora Associao Europeia para a Conservao do Patrimnio Geolgico Regionally Important Geological/geomorphological Sites Sul Sudeste Sul-Sudeste Sites of Special Scientific Interest Sudoeste Universidade Eduardo Mondlane Conveno das Naes Unidas para o Combate Desertificao United Nations Educational Scientific and Cultural Organization Conveno sobre o Patrimnio Natural e Cultural Mundial em Propriedades Naturais e Culturais Oeste-Noroeste Oeste-Sudoeste Zona de Cisalhamento de Sanngo Percentagem Graus Clsios

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LISTA DE FIGURAS

Figura CAPTULO 1 Localizao geogrfica de Moambique. Mapa cedido pelo CENACARTA (Setembro de 2006). Hipsometria e hidrografia de Moambique. Fonte: MINED, 1986. Geomorfologia de Moambique (adaptado de MINED, 1986). Monte Maadja visto numa imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Serra Sitatonga vista em imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Serra Lepe vista numa imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Lagoas Quissico e Massava observadas em imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Ilha Matemo vista em imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Imagem de satlite ilustrando a cadeia dos Libombos. Fonte: Google Earth. Serra Mecula em imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Serra Maungune, Necero e Nicage em imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Monte Muambe em imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Monte Salambdu visto em imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Monte Tumbine. Fonte: http://nossomocambique.blogs.sapo.pt (stio consultado em 8/10/2006). Imagem de satlite ilustrando o macio da Gorongosa. Fonte: Google Earth. Distribuio dos tipos de clima em Moambique. Fonte: MINED, 1986. Distribuio das temperaturas mdias anuais em Moambique. Dados cedidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Novembro de 2007). Distribuio da precipitao mdia anual em Moambique. Dados cedidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Novembro de 2007). Mapa de uso e cobertura da terra em Moambique (2004). Dados cedidos pela Unidade de Inventrio Florestal Ministrio da Agricultura (Janeiro de 2008). Distribuio das bacias hidrogrficas de Moambique. Fonte: MINED, 1986. Imagem de satlite ilustrando o lago Niassa. Fonte: Google Earth. Imagem de satlite ilustrando o Canal de Moambique, entre Moambique e Madagscar. Fonte: Google Earth.

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13 1.14 1.15 1.16 1.17 1.18 1.19 1.20 1.21 1.22

CAPTULO 2 2.1 Parques Nacionais, Reservas Nacionais e Coutadas Oficiais de Moambique (ver tabela 2.3 para legendagem de Coutadas Oficiais). Fonte: www.futur.org.mz (stio consultado em 08/12/2006). CAPTULO 3 Reconstruo do Gondwana. ANS: Escudo Arbico-Nubiano; EAAO: Orgeno Este Africano-Antrtida; M: Madagscar; Da: Damariano; Z: Cinturo do Zambeze. Fonte: GTK Consortium, 2006b. Mapa simplificado do Crato do Zimbabwe, ilustrando as principais unidades tectono-estratigrficas (adaptado de GTK Consortium, 2006b). Extracto da Carta Geolgica de Moambique 1:250 000, Folha No. 1432 (Chifunde). Fonte: Direco Nacional de Geologia. Extracto da Carta Geolgica de Moambique 1:250 000, Folha No. 1532 (Songo).

3.1

3.2 3.3 3.4

xvi

3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10

3.11 3.12

3.13 3.14 3.15 3.16 3.17

3.18 3.19 3.20

3.21

3.22 3.23 3.24

Fonte: Direco Nacional de Geologia. Extracto da Carta Geolgica de Moambique 1:250 000, Folha No. 1533/1534 (Cazula-Zbu). Fonte: Direco Nacional de Geologia. Extracto da Carta Geolgica de Moambique 1: 250 000, Folha No. 1633 (Tete). Fonte: Direco Nacional de Geologia. Extracto da Carta Geolgica de Moambique 1: 250 000, Folha No. 1530/1531 (Zumbo/Fngo-Mgo). Fonte: Direco Nacional de Geologia. Terrenos do Gondwana Este, Oeste e Sul na provncia de nortenha de Tete (GTK Consortium, 2006a). Extracto da Carta Geolgica de Moambique 1: 250 000, Folha No. 1834 (Gorongosa). Fonte: Direco Nacional de Geologia. Geologia simplificada da sub-Provncia de Nampula. Azul-escuro: Complexo de Mocuba; Azul-claro: Gnaisses de Mamala; Prpura: Gnaisses de Rapala; Castanho-escuro: Complexos de Molcu e de Mecubri; Castanho-claro: Suite de Culicui; Preto: Complexo do Alto-Benfica; Cinzento: Complexo de Ocua (incluindo os Klippen de Monapo e Mugeba); Verde-claro: sub-Provncia de Unango; Verde-escuro: sub-Provncia de Marrupa; Vermelho: Suites de Murrupula e de Malema (GTK Consortium, 2006d; Macey et al., 2006). Principais unidades geolgicas do nordeste de Moambique (Bingen et al., 2007). Distribuio do Karoo Superior e Inferior e sequncias depositadas durante o desenvolvimento do Sistema do Rifte da frica Oriental (GTK Consortium, 2006b). Distribuio das principais bacias e estruturas do tipo Graben em Moambique (GTK Consortium, 2006b). Modelo geotectnico simplificado da evoluo geodinmica pan-africana do nordeste de Moambique (Bingen et al., 2007). Distribuio das reas susceptveis ocorrncia de eroso. Dados cedidos pelo Instituto de Investigao Agrria de Moambique (IIAM). Ravinas abertas durante as chuvas do ano 2000, na zona perifrica da Cidade de Maputo. Fotos: Enoque Mendes. Exemplo do impacto que as cheias de Fevereiro do ano 2000 causaram. Foto: Franois Goemans. Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/713_mocambique/page7.shtml (stio consultado em 05/02/2007). Mapa de zonas do pas vulnerveis s cheias. Fonte: INGC, 2003. Mapa de zonas do pas vulnerveis a ciclones. Fonte: INGC, 2003. Mapa que ilustra o sistema de riftes instalados no Miocnico ao longo da frica Oriental, que vai desde o Mar Vermelho passando pelo Qunia, Tanzania e terminando em Moambique (Lago Niassa e Urema). Os tringulos representam alguns dos vulces activos. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Vale_do_Rift (stio consultado em 02/03/2007). A imagem ilustra uma fractura com um rejeito vertical de cerca de 50 cm causada pelo sismo de 22 de Fevereiro de 2006 em Machaze. Fotos: Geraldo Valoi & Celestino de Sousa. Mapa de ocorrncia de depsitos de ferro, ferro-titnio e no-ferrosos (adaptado de Lchelt, 2004). Distribuio das mineralizaes de andaluzite, cianite, silimanite, asbestos e magnesite em Moambique (adaptado de Lchelt, 2004). reas de prospeco de gemas (adaptado de Lchelt, 2004). 1: Pegmatitos com

xvii

3.25 3.26 3.27 3.28 3.29 3.30 3.31 3.32 3.33 3.34

berilo, turmalina, quartzo e feldspatos; 2: reas com granadas; 3: reas com gatas; 4: Ocorrncias de corindo; 5: Dumortierite; 6: reas de prospeco de kimberlitos e diamantes; 7: reas de prospeco de selenite. guas-marinhas em exposio no Museu Nacional de Geologia em Maputo. Quartzo ametista em exposio no Museu Nacional de Geologia em Maputo. Imagens de quartzo fumado em exposio no Museu Nacional de Geologia em Maputo. Cristal de amazonite em exposio no Museu Nacional de Geologia. Cristais de rubelite em exposio no Museu Nacional de Geologia em Maputo. Mrmore em exposio no Museu Nacional de Geologia. Distribuio regional das rochas ornamentais de Moambique (adaptado de Lchelt, 2004). Ostra Lopha Ungulata em exposio no Museu Nacional de Geologia. Mapa ilustrando as reas onde ocorrem troncos fossilizados (Ferrara, 2004). Bacias onde ocorre carvo em Moambique (adaptado de Lchelt, 2004).

CAPTULO 4 4.1 Localizao geogrfica do afloramento na estrada EN4. Fonte: Google Earth. Dique dolertico do lado esquerdo da estrada EN4 em direco a Ressano-Garcia. 4.2 Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.3 Brecha rioltica com calhaus angulares de riolito. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.4 Riolito apresentando estruturas de fluxo. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. Riolito com diaclases preenchidas por veios de calcite. Foto: Lopo Vasconcelos, 4.5 2007. 4.6 Dendrites de pirolusite em planos de diaclases. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.7 Sistemas de diaclases nos doleritos. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.8 Zona de contacto entre o dique dolertico e o riolito. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.9 Dolerito apresentando disjuno esferoidal. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.10 Localizao geogrfica do dique da pedreira de Estevel. Fonte: Google Earth. 4.11 Dique dolertico na pedreira de Estevel. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.12 Diaclases paralelas ao contacto preenchidas por calcite. direita fotografia em pormenor dos veios de calcite. Fotos: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.13 Zona de contacto entre o dique dolertico e o latito. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.14 Anis de Liesegueng. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.15 Latito apresentando xenlitos. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.16 Localizao geogrfica do afloramento de grs de Boane. Fonte: Google Earth. 4.17 Parte do afloramento de siltito de Boane. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.18 Estruturas convolutas resultantes de deformao plstica de sedimentos (unidade 3). Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. Arenito ostentando estratificao cruzada planar (unidade 3). Foto: Lopo 4.19 Vasconcelos, 2007. 4.20 Siltito com camada fina de calhaus (unidade 3). Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.21 Camada compacta de argila (unidade 3). Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.22 Manchas brancas resultantes da remoo de ferro por reduo (unidade 4). Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.23 Fracturas inclinando para sentidos opostos. Foto: Lopo Vasconcelos, 2007. 4.24 Localizao geogrfica do miradouro de Marracuene. Fonte: Google Earth. 4.25 Chamins-de-fada exumadas pela eroso pluvial durante as chuvas fortes que

xviii

4.26 4.27 4.28 4.29

4.30 4.31

4.32 4.33

causaram cheias no ano 2000 em Maputo (miradouro de Marracuene). Ravinas prximo do afloramento, causadas pelas chuvas do ano 2000 (miradouro de Marracuene). A partir do afloramento, observa-se, ao fundo e para leste, parte do meandro do rio Incomti. Localizao geogrfica do afloramento da pedreira de calcrios de Salamanga. Fonte: Google Hearth. Camada superior de calcrio numultico apresentando textura pisoltica (afloramento de Salamanga). Panormica de parte do afloramento de Salamanga onde se podem observar nitidamente duas unidades distintas separadas por um contacto abrupto e vrias camadas frontais (foresets). Camada de arenito apresentando estratificao cruzada planar e trs unidades separadas por superfcies de truncao das quais a primeira ostenta uma textura de dissoluo (afloramento de Salamanga). Superfcies de truncao apresentando lentes e/ou bolas elpticas de lama (afloramento de Salamanga). Foto: Mussa Achimo, 2007. Estruturas de bioturbao preenchidas por lama (afloramento de Salamanga). Foto: Mussa Achimo, 2007.

xix

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 2.2 2.3 2.4 Parques Nacionais de Moambique. Fonte: MITUR, 2004. Reservas Nacionais de Moambique. Fonte: MITUR, 2004. Coutadas Oficiais de Moambique. Fonte: MITUR, 2004. Exemplo de locais favorveis prtica de geoturismo em Moambique.

4.1 Indicadores e classificao para os critrios relacionados com a qualidade intrnseca (Qi), segundo o mtodo de avaliao da relevncia de geosstios proposto por Bruschi & Cendrero (2005). As letras entre parnteses correspondem aos parmetros usados para o clculo do Qi. Os indicadores para os quais s podem ser definidos trs nveis de classificao encontram-se referenciados com um asterisco (*). 4.2 Indicadores e classificao para os critrios relacionados com o potencial para uso (Ui), segundo o mtodo de avaliao da relevncia de geosstios proposto por Bruschi & Cendrero (2005). As letras entre parnteses correspondem aos parmetros usados para o clculo do Ui. Os indicadores para os quais s podem ser definidos trs nveis de classificao encontram-se referenciados com um asterisco (*). 4.3 Indicadores e classificao para os critrios relacionados com ameaas potenciais e necessidade de proteco (Pi), segundo o mtodo de avaliao da relevncia de geosstios proposto por Bruschi & Cendrero (2005). As letras entre parnteses correspondem aos parmetros usados para o clculo do Pi. Os indicadores para os quais s podem ser definidos trs nveis de classificao encontram-se referenciados com um asterisco (*). Valor cientfico de geomorfosstios, segundo a proposta de Serrano & 4.4 Gonzlez-Trueba (2005). Valor adicional de geomorfosstios, segundo a proposta de Serrano & 4.5 Gonzlez-Trueba (2005). Valor para uso e gesto de geomorfosstios, segundo a proposta de Serrano 4.6 & Gonzlez-Trueba (2005). Critrios intrnsecos ao geosstio (A), segundo a proposta apresentada por 4.7 Brilha (2005). Critrios relacionados com o uso potencial do geosstio (B), segundo a 4.8 proposta apresentada por Brilha (2005). Critrios relacionados com a necessidade de proteco do geosstio (C), 4.9 segundo a proposta apresentada por Brilha (2005). 4.10 Indicadores para avaliar os atributos naturais do geosstio (A). 4.11 Indicadores para avaliar a utilidade do geosstio (U). 4.12 Indicadores para avaliar a vulnerabilidade do geosstio (V). 4.13; 4.17; Informao sobre o grau de conhecimento cientfico. 4.21; 4.25; 4.29; 4.14; 4.18; Avaliao quantitativa dos atributos naturais do geosstio. 4.22; 4.26; 4.30

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4.15; 4.19; Avaliao quantitativa da utilidade do geosstio. 4.23; 4.27; 4.31 4.16; 4.20; Avaliao quantitativa da vulnerabilidade do geosstio. 4.24; 4.28; 4.32 4.33 Resumo dos resultados da anlise quantitativa dos locais propostos geoconservao.

xxi

xxii

Captulo 1

Introduo

CAPTULO 1 INTRODUO

1.1

CONSIDERAES GERAIS

O presente trabalho visa desenvolver uma proposta de metodologia de inventariao, caracterizao e avaliao do patrimnio geolgico de Moambique. A escolha de Moambique como rea de estudo prende-se com o facto de este ser o pas de origem do Autor e para o qual espera desta forma dar um contributo. Esta escolha tambm pretende que a Dissertao v de encontro aos interesses e objectivos da actividade profissional desenvolvida pelo Autor em Moambique. A conservao da natureza assume-se da maior importncia, pois dela depende a sobrevivncia humana. A conservao dos stios geolgicos especiais contribui para a preservao da natureza, tendo-se assistido, nos ltimos anos, a um incremento do interesse cientfico no domnio da Geoconservao e a uma maior sensibilizao da sociedade em geral por esta temtica. Moambique um pas de uma ampla diversidade geolgica e caracteriza-se pela ocorrncia de vrios stios geolgicos de especial interesse. Contudo, no pas, ainda no esto definidas estratgias e metodologias para a inventariao e caracterizao dos geosstios. Assim, pretende-se no mbito deste trabalho, apresentar uma proposta de metodologia de inventariao, caracterizao e avaliao de stios geolgicos especiais, que poder ser aplicada em Moambique. Para o efeito, procedese a uma anlise de vrias metodologias j em uso e com sucesso em alguns pases, que serviro de base elaborao de uma proposta de metodologia adaptada s particularidades de Moambique.

1.2

CONTEXTUALIZAO DO TRABALHO Moambique um pas de grande extenso geogrfica (799.380 Km2) e com

uma ampla diversidade geolgica, onde esto representadas rochas sedimentares, magmticas, metamrficas, e uma larga diversidade de minerais e fsseis. A grande extenso territorial e a imensa geodiversidade, associada a diversos processos geolgicos, faz com que em Moambique ocorram vrios stios geolgicos excepcionais, do ponto de vista cientfico, didctico, cultural, turstico ou outro. Estes stios geolgicos de valor e interesse significativo ainda no esto inventariados, 1

caracterizados e classificados e, consequentemente, tambm ainda no foram desenvolvidas aces que visem a sua valorizao e proteco. Para que uma estratgia visando a conservao dos stios geolgicos especiais seja bem sucedida, deve passar necessariamente por uma etapa inicial de inventariao e de caracterizao. Em Moambique, no existe uma estratgia definida para a conservao dos stios geolgicos especiais, no estando ainda desenvolvida uma metodologia para inventariao destes stios. Assim, pretende-se que, no mbito desta Dissertao de Mestrado, seja apresentada uma proposta de metodologia de inventariao, caracterizao e avaliao de geosstios, que poder ser aplicada em Moambique, como parte integrante de uma estratgia de geoconservao. A conservao da geodiversidade, ao contrrio da conservao da

biodiversidade, tem tido grandes dificuldades resultantes do facto de a comunidade geolgica ainda carecer de mecanismos eficazes para reconhecer e justificar internacionalmente os seus elementos mais importantes e de maior valor cientfico. Isto verifica-se porque as cincias geolgicas tradicionalmente estavam viradas

essencialmente para a explorao econmica dos recursos geolgicos e no propriamente para a sua conservao. Um facto importante e lamentvel que a sociedade em geral pouco esclarecida em assuntos que dizem respeito Geologia e, por conseguinte, no tem a percepo de que as cincias geolgicas so fundamentais na caracterizao do substrato que constitui suporte de vida para todos os seres vivos na Terra, incluindo a do Homem. A Terra dinmica pois est em constante alterao e dela fazem parte a biodiversidade (diversidade viva) e a geodiversidade (diversidade no viva). na geodiversidade que a biodiversidade encontra o seu substrato e nela retira todos os nutrientes de que necessita para a sua sobrevivncia. Na Natureza, a geodiversidade e a biodiversidade interagem, em equilbrio, e dependem uma da outra. Por isso, no se pode pensar em proteger apenas a biodiversidade e deixar a geodiversidade desprotegida e vulnervel a ameaas resultantes da prpria actividade humana imprudente. A destruio da geodiversidade tem implicaes negativas no equilbrio natural entre esta e a biodiversidade, com consequncias nefastas para a sobrevivncia da biodiversidade, incluindo a do Homem. Portanto, a conservao da geodiversidade justifica-se:

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Captulo 1

Introduo

pela necessidade de preservar o patrimnio geolgico para as geraes futuras; pelo interesse em manter locais para a investigao cientfica e formao de geocientistas; pela necessidade em preservar locais de interesse didctico de importncia fundamental na formao das geraes vindouras; pela necessidade de preservar locais para actividades de lazer (geoturismo); pelo seu valor esttico, histrico e cultural; pela sua relao com a preservao da biodiversidade.

1.3

OBJECTIVOS

1.3.1

Geral

A presente Dissertao de Mestrado tem como principal objectivo, desenvolver uma proposta de metodologia de inventariao, caracterizao e avaliao do patrimnio geolgico moambicano.

1.3.2

Especficos

Propor um conjunto de aces, faseadas no tempo, tendo em vista a implementao do processo de inventariao; Propor linhas gerais de orientao tendo em vista a seleco dos geosstios; Elaborar uma proposta de critrios de avaliao da relevncia dos geosstios.

1.4

METODOLOGIA

1.4.1

Trabalho de gabinete

Numa primeira etapa procedeu-se a um levantamento da situao em Moambique em matria de geoconservao, nomeadamente no referente a: definio do seu patrimnio geolgico; reas protegidas em Moambique; legislao moambicana aplicvel ao patrimnio geolgico; perspectivas na rea do geoturismo; geoconservao e ensino em Moambique.

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Numa segunda etapa, procedeu-se a uma pesquisa da informao actualmente disponvel sobre a geologia de Moambique, tendo em vista a elaborao de uma sntese sobre a geodiversidade que ocorre em territrio Moambicano. O trabalho de gabinete consistiu ainda na anlise de algumas experincias internacionais em matria de geoconservao, particularmente de experincias bem sucedidas, como o caso, por exemplo, da Gr-Bretanha, Espanha, Irlanda e Portugal. Nesta anlise deu-se particular ateno aos mtodos aplicados inventariao e avaliao da relevncia de geosstios. Durante esta fase foram tambm analisados alguns mtodos de avaliao quantitativa de geosstios, propostos por diversos autores. Com base no trabalho de anlise prvio, procedeu-se em seguida elaborao de uma proposta de metodologia de inventariao, caracterizao e avaliao de geosstios a aplicar em Moambique, que se pretende adaptada realidade e especificidade moambicanas. Para o efeito, realizaram-se as seguintes tarefas: definio do conjunto de aces a implementar no processo de inventariao e do seu faseamento no tempo; definio das linhas gerais de orientao a ter em conta na seleco dos geosstios; definio dos critrios de seleco e indicadores de relevncia a utilizar; concepo de uma base de dados, tendo em vista acomodar e centralizar os dados recolhidos durante o processo de inventariao e avaliao. Por ltimo, tendo em vista testar o mtodo proposto para a avaliao da relevncia dos geosstios, foram estudados alguns stios geolgicos de referncia na provncia de Maputo, no sul de Moambique.

1.4.2

Trabalho de campo

O trabalho de campo foi efectuado na provncia de Maputo em alguns stios geolgicos de referncia, pretendendo-se com ele aplicar com exemplos concretos a metodologia de avaliao de geosstios desenvolvida no mbito desta Dissertao. Foram caracterizados e quantificados cinco geosstios, tendo o trabalho de campo sido precedido de recolha e anlise de material bibliogrfico referente aos stios a serem estudados. Em cada stio foram efectuadas as seguintes actividades: 4

Delimitao e/ou localizao do stio no mapa geolgico; Caracterizao geolgica e de outros aspectos de interesse existentes; Preenchimento das fichas de inventrio/caracterizao;

Captulo 1

Introduo

Documentao dos stios com fotografias.

1.5

PLANO GERAL DA DISSERTAO

A presente Dissertao composta por cinco captulos que constituem o seu corpo. A anteceder os captulos, encontram-se os elementos pr-textuais nomeadamente, uma dedicatria, os agradecimentos, um resumo em portugus seguido do resumo em ingls, o ndice geral, uma lista de abreviaturas e smbolos, lista de figuras e por ltimo, a lista de tabelas, para auxiliarem a consulta do trabalho. A seguir ao corpo, encontra-se a parte ps-textual, da qual fazem parte os anexos e as referncias bibliogrficas. O primeiro captulo faz uma introduo ao trabalho e aborda de forma generalizada alguns aspectos referentes Dissertao. Este captulo faz referncia aos motivos que inspiraram a realizao deste trabalho, s metas que se pretendem atingir, assim como aos mecanismos que foram seguidos para a concretizao dos objectivos pretendidos. Apresenta-se ainda o contexto geomorfolgico, climtico e hidrolgico de Moambique. O segundo captulo comea por abordar conceitos chave muitas vezes referidos quando se fala de patrimnio geolgico e de geoconservao, apresentando-se ainda uma breve referncia s principais etapas a ter em conta na implementao de estratgias de geoconservao. Segue-se uma breve reviso do que tem sido feito a nvel internacional no que diz respeito Geoconservao. Este captulo termina com uma abordagem situao actual em que Moambique se encontra em matria de geoconservao e legislao moambicana que pode ser aplicada na salvaguarda do patrimnio geolgico. No terceiro captulo refere-se a geologia, processos e fenmenos naturais e alguns exemplos de minerais, rochas, fsseis que ocorrem em Moambique, isto , apresenta-se uma resenha da geodiversidade neste pas. Inicia-se o quarto captulo com uma anlise de metodologias e experincias internacionais em matria de inventariao e quantificao da relevncia de geosstios. Esta anlise permitiu desenvolver uma metodologia de inventariao, caracterizao e avaliao quantitativa de stios geolgicos que se prope seja adoptada em Moambique e que se apresenta neste captulo. So apresentados alguns exemplos de aplicao que visam testar o mtodo proposto de avaliao de relevncia dos geosstios em

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Moambique. Recorre-se a alguns stios geolgicos moambicanos de referncia, localizados na provncia de Maputo. Finalmente, o quinto captulo refere-se s consideraes finais relativas Dissertao.

1.6

A REA DE ESTUDO

Apresenta-se, de seguida, um enquadramento geomorfolgico, climtico e hidrolgico do territrio moambicano. So utilizadas designaes locais e regionais cuja localizao se encontra referenciada no Anexo 1.

1.6.1

Localizao geogrfica

Moambique localiza-se a sudeste do continente africano. limitado a leste pelo Oceano ndico, a norte pela Tanznia, a noroeste pelo Malawi e Zmbia. A oeste faz fronteira com o Zimbabwe, frica do Sul e Swazilndia, e a sul com a frica do Sul (Fig. 1.1). Em termos de coordenadas geogrficas, Moambique situa-se entre as latitudes 10 27 Sul e 26 52 Sul e entre as longitudes 30 12 Este e 40 51 Este (Barca, 1992; Muchangos, 1999). O seu territrio enquadra-se no fuso horrio 2 (dois), o que lhe confere duas horas de avano em relao ao Tempo Mdio Universal (Muchangos, 1999). Moambique tem uma superfcie total de 799.380 km2 dos quais 13.000 km2 so ocupados pelas guas interiores que incluem os lagos, albufeiras e rios (Barca, 1992).

1.6.2

Geomorfologia

O relevo de Moambique dispe-se em forma de anfiteatro onde se distingue uma zona montanhosa a Oeste, que decresce em degraus aplanados at plancie litoral a Leste. Assim, de acordo com a altitude, identificam-se em Moambique, plancies, planaltos, montanhas e depresses (Muchangos, 1999; Fig. 1.2). Cerca de metade (44%) do territrio moambicano constitudo por plancie, com altitudes at 200 metros (Fig. 1.2).

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Captulo 1

Introduo

Fig. 1.1 Localizao geogrfica de Moambique. Mapa cedido pelo CENACARTA (Setembro de 2006).

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Com uma extenso maior (51%), ocorrem superfcies aplanadas com altitudes compreendidas entre 200 e 1.000 metros, desenvolvidas na metade Norte de Moambique e constituindo o Planalto Moambicano. Distinguem-se em Moambique duas zonas planlticas. A primeira, de altitudes entre 200 e 500 metros designada por planaltos mdios e est representada ao Norte do paralelo 17 Sul. A segunda, designada por altiplanltica, tem altitudes superiores a 500 metros (Fig. 1.2). A sua maior ocorrncia verifica-se no Norte e Centro do Pas. A zona de planaltos com altitudes entre os 200 e 500 metros, situa-se nas provncias de Cabo Delgado, Nampula e interior de Inhambane (Fig. 1.2). As reas de montanhas que incluem formas de relevo com altitudes superiores a 1.000 metros, so pouco extensas (5%) e no constituem faixas contnuas, semelhana dos planaltos. A sua maior ocorrncia regista-se a Norte do paralelo 21 Sul, nas provncias de Niassa, Zambzia, Tete e Manica (Fig. 1.2). Segundo Bondyrev (1983), a geomorfologia de Moambique pode ser descrita pelas morfoestruturas que a seguir se descrevem (Fig. 1.3).

a) Superfcies dos cumes e cristas, de origem intrusivo-tectnica

Fazem parte deste grupo morfoestrutural:

Relevos em patamar da zona do rifte So representados pela elevao de Cheringoma, a leste do macio de Gorongosa. O planalto est muito peneplanizado pelo facto de este se situar na interseco dos grabens de Chire-Urema e Zambeze. As altitudes variam entre 210 e 220m.

Relevos de desligamento Relevos intrusivos em patamar Relevos bsicos Relevos granticos Este tipo de relevo muito comum em Moambique e pode ser visto em todo territrio, a norte do rio Bzi.

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Captulo 1

Introduo

Fig. 1.2 Hipsometria e hidrografia de Moambique. Fonte: MINED, 1986.

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Fig. 1.3 Geomorfologia de Moambique (adaptado de MINED, 1986).

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Captulo 1

Introduo

b) Superfcies dos cumes e cristas, de origem intrusivo-tectnica e erosivodesnudada

Este grupo morfoestrutural caracterizado por:

Inselbergs granticos Os inselbergs e formas relacionadas ocorrem principalmente nos distritos de Nampula e de Ruvama-Mavago. Alguns exemplos so os inselbergs clssicos de Murrupula (1.098m), Nambiuca (1.288m) e Maadja (1.182m; Fig. 1.4).

Fig. 1.4 Monte Maadja visto numa imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Macios erosivos-desnudados Relevos granticos aplanados e em vias de rejuvenescimento Estas estruturas ocorrem no nordeste de Moambique, no distrito de Meluco (provncia de Cabo Delgado) e entre os rios Metamboa e Mucanha (provncia de Tete). Distinguem-se quer pelas altitudes, quer pela prpria posio no quadro geral do relevo. A morfoestrutura de Meluco, por exemplo, uma elevao que tem aspecto de mesa, com pequenas elevaes de altitude variando entre 550 a 700m. Relevos desnudados e parcialmente peneplanizados com cobertura charnoqutica

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Relevos enrugados bem pronunciados, de origem quartztica e xisto-gnaissica As estruturas deste tipo esto situadas na provncia de Manica. De grande interesse a Serra Sitatonga, constituda por curtas e estreitas serras submeridionais com altitudes absolutas de 850 at 900 metros e desnivelao relativa de 400 a 450 metros (Fig. 1.5).

Relevos estruturais altos e compartimentados Este grupo de morfoestruturas est amplamente representado em todo territrio de Moambique, para norte do rio Save. Fazem parte deste grupo as montanhas mais altas de Moambique, tais como, por exemplo, os cumes ocidentais da parte central da cadeia Chimanimani, representados pelo monte Binga (2.436 m), Mesurucero (2.176 m), Macace (2.134 m), etc.

Fig. 1.5 Serra Sitatonga vista em imagem de satlite. Fonte: Google Earth.

c) Superfcies dos cumes e cristas de origem erosivo-desnudada

As superfcies dos cumes e cristas de origem erosivo-desnudada so caracterizadas por:

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Captulo 1

Introduo

Relevos esculpidos por desnudao (ruiniformes) O relevo ruiniforme est bem desenvolvido na provncia de Nampula, na regio de Ribau-lalana. Os montes afectados pela desnudao criam uma paisagem absolutamente fantstica, nomeadamente os macios Ribau I (1.777 m), Ribau II (1.536 m), Norre (1.038 m), Lepe (1.154 m; Fig. 1.6). Algumas formas assemelham-se a torres de fortalezas antigas, outras a dinossurios, etc. Estas morfoestruturas so constitudas em granitides e as suas formas esto relacionadas com as particularidades da alterao qumica, expressa na desagregao esferoidal que apresentam. Na provncia de Niassa estas morfoestruturas ocorrem nos arredores de Manua e no Macio Mindje (1.176 m).

Fig. 1.6 Serra Lepe vista numa imagem de satlite. Fonte: Google Earth. Relevos suaves e compartimentados As morfoestruturas deste tipo ocorrem em todo o territrio de Moambique e ocorrem nas zonas perifricas dos sistemas montanhosos mais altos.

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Relevos em cpula de origem sedimentar O exemplo mais representativo desta morfoestrutura o planalto de Mueda, em particular na sua parte perifrica, onde os depsitos quaternrios foram removidos e todas as formas principais so constitudas em arenitos. Este tipo de morfoestruturas tambm pode ser observado na parte sul do rio Save, constituindo as elevaes de Tome (174 m) e Panda (219 m). O carcter e o aspecto destas morfoestruturas foram determinados pela natureza da sua litologia.

Relevos suaves nas formaes do Karoo A litologia (arenitos, tilitos, conglomerados, xistos, etc.), determinou uma disseco vertical significativa. A desnudao selectiva originou uma paisagem de colinas grandes, mais caractersticas nos vales dos rios Lunho e Messinge (provncia de Niassa) e no curso inferior dos rios Panhame, Choe, Impata, Daque, Muze (afluentes da margem direita do rio Zambeze, provncia de Tete). As altitudes na provncia de Tete variam de 700 a 750 m e na provncia de Niassa de 180 a 250 m. As morfoestruturas tm geralmente um aspecto aplanado e cncavo, relacionado com a tectnica e com as particularidades da sedimentao das rochas do Karoo no graben de Messinge e do Mdio Zambeze.

Colinas nas zonas de sop Em Moambique, a zona entre os macios montanhosos e as zonas aplanadas pode estender-se at 70-80 km, chegando num caso a atingir os 200 km. Tal fenmeno consequncia do carcter de plataforma das estruturas principais e das particularidades da composio litolgica. O relevo de colinas estende-se por vastos espaos, nos quais se elevam por vezes grupos de inselbergs. As colinas raramente ultrapassam a altitude mdia de 150-200 m, ocupando a zona hipsomtrica de 180-250 m de altitude absoluta.

Cornijas de cuestas O relevo de cuestas, representado por dobras monoclinais, caracterstico das regies constitudas por rochas sedimentares. Este tipo de relevo est representado, por exemplo, pelos estreitos cumes de cuestas do complexo sedimentar da margem direita do rio Zambeze. Um grupo destas morfoestruturas ocupa uma faixa entre o rio Luenha e a boca de Lupata. As morfoestruturas esto situadas umas por detrs das outras,

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Captulo 1

Introduo

descaindo para o lado do rio Zambeze. As altitudes dos cumes de cuestas so da ordem de 300 a 320 m. H ainda de salientar um grupo de morfoestruturas de cuestas desenvolvidas no complexo gnaissico-migmattico, resultantes da alterao selectiva, da eroso fluvial e da tectnica. Estas morfoestruturas ocupam a regio entre Muandina e Chilo (distrito de Morrumbala).

d) Vertentes, vales e fundos dos rios

Este grupo morfoestrutural caracterizado por:

Deslocamentos tectnico-gravticos Fundos e vertentes dos vales sem aluvies tpicos Fundos e vertentes dos vales com terraos rochosos e outros com aluvies pouco espessos Leitos antigos cortando grs e conglomerados (Cretcico Superior Quaternrio Inferior) Leitos abandonados cortando depsitos eluviais do Quaternrio Inferior Plataformas litorais recobertas por conglomerados e arenitos cretcicos

e) Superfcies aplanadas que cortam o complexo de base (peneplancie de soco)

Este grupo morfoestrutural caracterizado por:

Superfcies aplanadas que intersectam o complexo de base, peneplancies e pedimentos (peneplancie de soco de origem extrusivo-desnudada) Peneplancies talhadas em rochas granitides Pedimentos sobre o substrato basltico (peneplancie de soco de origem extrusivo-desnudada e de acumulao)

f) Superfcies aplanadas que cortam estruturas da plataforma sub-horizontal, de origem de acumulao

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Este grupo morfoestrutural caracterizado por:

Terraos fluviais talhados na rocha

g) Depresses erosivo-desnudadas e de acumulao

As depresses erosivo-desnudadas e de acumulao so:

Depresses ocupadas por lagos Estas morfoestruturas ocorrem principalmente a sul de Moambique, nas provncias de Gaza e Inhambane. Contudo, tambm ocorrem nos arredores de Lichinga na provncia de Niassa. As principais morfoestruturas deste tipo esto representadas por lagos na parte continental (Inhatuco, Nhangul, Marrngua, etc.). A zona litoral caracterizada pela ocorrncia de lagoas limitadas por dunas, do lado do oceano (Maiene, Massava, Quissico, etc.; Fig. 1.7).

Fig. 1.7 Lagoas Quissico e Massava observadas em imagem de satlite. Fonte: Google Earth. 16

Captulo 1

Introduo

Depresses e colinas com cobertura de aluvio e proluvio Fundos de depresses entre escarpas (zonas de rifte com sedimentos)

h) Depresses de acumulao

As depresses de acumulao incluem:

Pntanos que ocupam leitos mveis com depsitos proluvionares Este tipo de morfoestrutura ocupa uma rea extensa da plancie de Changani, situada entre os rios Save e Limpopo, numa extenso de 2.100 km2. Os leitos pantanosos dos rios conferem paisagem um aspecto particular. As altitudes mdias oscilam entre os 50-60 m na parte SE e 85-90 m na parte NW. Estas morfoestruturas encontram-se tambm na parte sul da provncia de Maputo, no vale do rio Govuro em Vilanculos, na elevao de Pempe em Homoine, ambos na provncia de Inhambane.

Pntanos formados por obstruo de depsitos aluviais Depresses com acumulao e terraos de eroso As morfoestruturas deste tipo encontram-se na rea litoral de acumulao aluvionar e martima, bem como em reas de vales dos rios Zambeze, Lrio, Messalo, Rovuma, Save, Limpopo, etc. A espessura do aluvio chega a atingir valores significativos e estas morfoestruturas tm especial interesse como fontes possveis de aluvio.

Plancies de acumulao formadas por materiais argilosos e de aluvio-proluvio

i) Plancies de origem de acumulao

Fazem parte deste conjunto morfoestrutural:

Plancies de sop com cobertura bem marcada de aluvio, proluvio e eluvio Estas morfoestruturas ocupam vastos espaos nas zonas Central e Norte de Moambique. As altitudes raras vezes ultrapassam os 350-400 m, mas, no distrito de Nampula, e entre os rios Rovuma e Luatize, os numerosos inselbergs do paisagem um aspecto particular e completamente distinto.

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Pequenas elevaes (250 metros), constitudas por depsitos de material quaternrio indiferenciado Plancies constitudas por depsitos de cor vermelha, de gro grosseiro, do Pleistocnico Inferior Plancies e depresses constitudas por areias brancas de gro fino e restos de formaes dunares antigas, parcialmente pantanosas, do Pleistocnico Inferior Plancies baixas de natureza sedimentar flvio-marinha Terraos Plancies de acumulao marinha Plancies costeiras com mangal Praias arenosas Estas formas ocupam uma faixa praticamente contnua da costa moambicana, desde a Ponta de Ouro, no extremo sul, at foz do rio Rovuma no extremo norte.

Formaes de dunas do Pleistocnico Superior Recifes coralinos e ilhas de acumulao biognica Em Moambique, o relevo biognico resultante da actividade dos plipos de coral est amplamente representado. Existem vrias formas que originam zonas subaquticas pitorescas (p.ex. Baa de Mossuril). A maior ilha de coral a ilha Matemo, com superfcie de 22,5 km2 (Fig. 1.8).

Fig. 1.8 Ilha Matemo vista em imagem de satlite. Fonte: Google Earth. 18

Captulo 1

Introduo

Quase todas as ilhas do arquiplago das Quirimbas resultaram da actividade de corais. A mesma origem tem tambm as ilhas do arquiplago Primeiras. Outras formas de acumulao biognica muito caracterstica do relevo moambicano so as termiteiras.

j) Superfcies de lavas

Fazem parte deste grupo morfoestrutural:

Planaltos, mantos e macios de lavas alcalinas A morfoestrutura mais caracterstica deste tipo a serra Lupata. O ponto mais alto da serra o monte Dmu (723 m).

Vertentes dos macios de lavas alcalinas Mantos baslticos do Tercirio Macios de riolitos jurssicos Esto representados pela estrutura monoclinal do macio dos Libombos do Karoo Superior. A cadeia dos Libombos estende-se a SW de Moambique, e faz fronteira com a Swazilndia e a frica do Sul (Fig. 1.9). O seu comprimento de cerca de 500 km e largura mxima de 30 km. Esta cadeia montanhosa tem uma altitude mxima de 805 m no macio de Mpondune. Os Libombos so intersectados pelos vales dos rios Umbelzi, Incomti, Sabi e Elefantes, alimentados por uma rede fluvial subsidiria com nascente nos Libombos.

Relevos sienticos Estas morfoestruturas so representadas pelas serras Mecula, no norte de Moambique, e a serra Morrumbala. A serra Mecula uma montanha com altitude de 1.441 m, muito dissecada pelos agentes activos da eroso (Fig. 1.10).

Mantos baslticos desnudados do Jurssico Inferior Os basaltos esto geralmente relacionados com o vulcanismo de fracturas. Em Moambique, os mantos baslticos esto relacionados com linhas de fractura de direco meridional e diagonal. A passagem dos Libombos s plancies est claramente marcada por linhas de fractura de orientao submeridiana, bem expressas em imagens de satlite, sendo marcadas pelo desnivelamento no

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relevo. A altitude mdia destes mantos oscila entre os 65-70 m, na regio de Catuane na provncia de Maputo, e os 164 m nos arredores de Machatune.

Fig. 1.9 Imagem de satlite ilustrando a cadeia dos Libombos. Fonte: Google Earth.

Fig. 1.10 Serra Mecula em imagem de satlite. Fonte: Google Earth.

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Captulo 1

Introduo

Pequenas elevaes constitudas por basaltos e doleritos precmbricos A norte de Moambique, estas estruturas esto representadas pelo macio de orientao submeridional, composto pelas serras Maungune (753 m), Necero (930 m) e Nicage (880 m), (Fig. 1.11). O macio est bastante aplanado, embora esteja atravessado por uma densa rede de rios e ribeiros. A sul de Moambique, estas morfoestruturas aparecem a norte e a sul da cadeia montanhosa de Chimanimani.

k) Relevo submarino

Fig. 1.11 Serra Maungune, Necero e Nicage em imagem de satlite. Fonte: Google Earth. No que diz respeito a tectono-estruturas, a geomorfologia de Moambique pode ser descrita em termos de (Bondyrev, 1983):

a) Alinhamentos e falhas

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b) Estruturas circulares

Fazem parte das estruturas circulares:

Estruturas circulares de cratera do tipo Muambe (carbonatitos), (Fig. 1.12). Estruturas circulares de cpulas duplas do tipo Salambdu (sienitoscarbonatitos), (Fig. 1.13).

Fig. 1.12 Monte Muambe em imagem de satlite. Fonte: Google Earth.

Estruturas circulares de cpulas exumadas tipo montes Tumbine, Derre e outros (sienitos nefelnicos) As estruturas circulares deste tipo no so uniformes no sentido gentico, mas esto associadas por certas afinidades morfolitolgicas. O cone Tumbine (1.542 m) representa uma morfoestrutura com vertentes no escarpadas e pouco convexas, que em alguns lugares passam a vertentes escalonadas e cobertas de florestas, atingindo 40 de declive. O macio constitudo principalmente por sienitos nefelnicos (Fig. 1.14).

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Captulo 1

Introduo

Fig. 1.13 Monte Salambdu visto em imagem de satlite. Fonte: Google Earth.

Fig. 1.14 Monte Tumbine 1 .

1

Endereo na Internet: http://nossomocambique.blogs.sapo.pt (stio consultado em 8/10/2006).

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Estruturas circulares granticas o tipo mais difundido entre as formas de estruturas circulares. Estas estruturas esto amplamente desenvolvidas em todo o territrio do Norte de Moambique. Esto representadas pelos macios Macua (2.077 m), Sanga (1.798 m) e Unango (1.315 m). A estrutura circular de maiores dimenses e a mais complexa o macio da Gorongosa (Fig. 1.15). O macio tem forma aproximadamente elptica, com dimetro de 20 km e altura mxima de 1.863 m.

Fig. 1.15 Imagem de satlite ilustrando o macio da Gorongosa. Fonte: Google Earth. Estruturas circulares tipo Chissindo Estruturas circulares de cpulas exumadas Este tipo de estruturas ocorre geralmente nas zonas de relevo montanhoso das provncias de Niassa, Cabo Delgado, Zambzia, Tete, Manica, estando representadas pelos macios Maconoce (1.697 m), Macalambo (1.337 m) e Russaca (958 m). Estruturas circulares exumadas indiferenciadas Outras estruturas circulares

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Captulo 1

Introduo

c) Blocos elevados d) Klippens

1.6.3 Clima

Os tipos de clima em Moambique (Fig. 1.16) so determinados pela localizao da zona de baixas presses equatoriais, das clulas anticiclnicas tropicais e das frentes polares do Antrctico (Muchangos, 1999). O litoral moambicano sofre influncias da corrente quente MoambiqueAgulhas e dos correspondentes ventos dominantes martimos do quadrante Leste. Em Moambique existem duas estaes: estao quente e chuvosa e estao seca e fresca. A estao quente e chuvosa tem incio no ms de Outubro e termina em Maro. A estao seca e fresca vai de Abril a Setembro. Moambique possui, de uma maneira geral, um clima quente e hmido. As principais variaes climticas esto relacionadas com os seguintes factores: continentalidade, altitude, exposio e posio geogrfica. O carcter predominantemente tropical do clima moambicano, exprime-se sobretudo pela coincidncia entre o perodo de chuvas e o perodo quente, e pela amplitude trmica anual que , em todo Pas, inferior diurna. Segundo Muchangos (1999), a temperatura mdia anual sempre superior a 20oC, excepto nas montanhas das Provncias de Niassa, Zambzia, Tete e Manica, onde ocorrem temperaturas inferiores a 16C, condicionadas pela altitude (Fig. 1.17). As temperaturas mais elevadas registamse entre os meses de Dezembro e Fevereiro, podendo as mximas atingir 38 e at mesmo 49 C. Os meses mais frios so Junho e Julho. O perodo das chuvas, que tem incio em Outubro, mais curto que o perodo seco, excepto em algumas regies costeiras onde as chuvas duram aproximadamente 6 (seis) meses. A influncia ocenica contribui para uma certa uniformizao do clima de toda a zona litoral, onde a temperatura da ordem de 24 C (Fig. 1.17) e a pluviosidade varia entre 800 e 1.400 milmetros (Fig. 1.18; Muchangos, 1999). As regies mais afastadas do litoral apresentam climas secos e semi-ridos.

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Fig. 1.16 Distribuio dos tipos de clima em Moambique. Fonte: MINED, 1986.

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Captulo 1

Introduo

Fig. 1.17 Distribuio das temperaturas mdias anuais em Moambique. Dados cedidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Novembro de 2007).

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1.6.4 Vegetao

Muchangos (1999) descreve as caractersticas da flora moambicana e sua distribuio regional. Segundo este autor, Moambique situa-se na regio sudanozambezaca, da qual tambm fazem parte a Tanznia, o Malawi, a Zmbia, o Zimbabwe, o Botswana e a Swazilndia. Em funo do meio geogrfico em que se desenvolve e do grau de interveno humana, a flora moambicana pode subdividir-se em terrestre, aqutica e cultural. A composio e distribuio da flora terrestre esto relacionadas com a posio geogrfica de Moambique na zona sub-equatorial e tropical do Hemisfrio Sul, na costa oriental e austral do continente africano. Tambm exercem influncia sobre a composio e distribuio da flora terrestre as condies regionais e locais do clima, relevo, rios, lagos, rochas, solos e a distncia em relao ao Oceano ndico. A localizao de Moambique na regio florstica sudano-zambezaca e as condies climticas condicionam o desenvolvimento de variedades de associaes vegetais hidrfilas, mesfilas e xerfilas de floresta e de savanas arbreas e arbustivas (Fig. 1.19). As diferenas na distribuio, composio, densidade e variedade de espcies devem-se a factores tais como latitude, alternncia entre as terras altas e as depresses, continentalidade, natureza pedolgica, condies de gua, de solo e o grau de interveno humana. Estes factores provocam diferenas espaciais na distribuio da vegetao. A rea de disperso da floresta est relacionada com o clima, continentalidade, altitude e as condies edficas. Elas apresentam caractersticas mesfilas subequatoriais com grande diversidade e tamanho de rvores que atingem at 35 m de altura. Para esta floresta, o clima sub-equatorial do norte do pas e de todo o litoral, propiciam as melhores condies, devido s caractersticas de humidade e pluviosidade. Ela desenvolve-se de preferncia em reas onde a pluviosidade superior a 1000 mm por mais de 5 meses e tem o carcter de floresta sempre verde (Fig. 1.19). Trata-se de uma floresta com grande densidade do estrato arbreo, com rvores de tronco grosso, com amplas copas que se elevam at a uma altura de 10 a 20 m. Em geral as suas folhas so pequenas e caducas, raramente largas e perenes. O estrato herbceo pobre e constitudo por gramneas curtas.

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Captulo 1

Introduo

Fig. 1.18 Distribuio da precipitao mdia anual em Moambique. Dados cedidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Novembro de 2007).

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A floresta sempre verde desenvolve-se sobretudo nas principais montanhas do pas e a densidade em espcies maior nas encostas voltadas para leste em altitudes compreendidas entre 1200 e 1600 m e onde a pluviosidade superior a 1500 mm (Fig. 1.19). Na provncia de Niassa, a floresta sempre verde ocorre numa faixa de montanhas desde Maniamba at s proximidades de Mandimba (Fig. 1.19). Na Zambzia abrange grande parte das terras altas de Milange, Namli, Gru, Namarroi e Morrumbala. Em Manica, a floresta sempre verde ocorre em reas montanhosas de Espungabera, Chimanimani, Vengo, Vumba, Tsetserra, Mavita, Garuzo, Zuira, Penhalonga e Choa (Fig. 1.19). Nos planaltos de Chimoio e de Mossurize, particularmente em Espungabera, Mabongo, Marongo, Sitatonga e Amatongas, onde a pluviosidade de cerca de 1200 mm, desenvolve-se a floresta semi-decdua ou semi-caduca, em que as rvores dominantes atingem cerca de 20 m de altura (Fig. 1.19). Este tipo de floresta ocorre nas terras planlticas da provncia de Cabo Delgado entre Mueda, Chomba e Ngapa, em altitudes que variam entre 750 e 850 m e onde a pluviosidade superior a 1000 mm (Fig. 1.19). A floresta de folha caduca ocorre nas zonas sub-planlticas prximas da zona litoral, de onde se destacam as regies planlticas de Cheringoma, Madanda-Machaze e do Baixo Bzi. A floresta de folha caduca encontra-se bem representada ao norte do rio Save em terrenos calcrios tercirios e onde os valores de pluviosidade variam entre 800 e 1200 mm (Fig. 1.19). Ao norte do rio Zambeze esta floresta apresenta-se relativamente mais densa devido s condies particulares de humidade, sendo de destacar as regies de Macomia e Mueda (Fig. 1.19). Ao sul do rio Save a floresta de folha caduca ocorre nos Montes Libombos, sendo mais extensa e rica em variedade de espcies na provncia de Inhambane, entre Vilanculos e Massinga. Nas margens aluviais dos principais rios de Moambique, em especial na parte norte, ocorre uma floresta adaptada s condies edficas locais, cujas rvores podem ser dominadas por um estrato herbceo de canio, bambu e outros. Ela dispe-se ao longo dos rios, parecendo cobri-los, sendo por isso designada por floresta-galeria. Nas dunas, existentes em quase todo o litoral, desenvolve-se a floresta dunar caracterizada por uma vegetao mista, arbreo-arbustiva com estrato herbceo abundante. A floresta dunar mais vistosa onde a pluviosidade superior a 900 mm.

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Captulo 1

Introduo

Embora constituindo manchas descontnuas, interrompidas pela savana arbrea, ao sul do rio Save que a floresta dunar tem a sua maior expresso. Em regies de relativa fraca pluviosidade, normalmente afastadas da costa, e de solos secos, ocorre a savana. A savana pode ser arbrea ou arbustiva de acordo com a predominncia de rvores ou arbustos nos respectivos estratos, mas com o estrato herbceo sempre presente. De uma maneira geral a savana uma formao baixa (plantas de altura at 10 m), por vezes degradada, com plantas espinhosas e outras de folha caduca. As espcies so de porte mdio, variando de 10 a 15 m, e distribuem-se a norte da provncia de Manica, em Gaza, Inhambane e, em geral, nas margens dos principais cursos de gua, onde a pluviosidade no ultrapassa os 600 mm (Fig. 1.19). A sua maior rea de ocorrncia a parte meridional de Moambique, excepto as estreitas faixas de floresta sub-litoral e a floresta de montanha nos Libombos. A flora aqutica de Moambique distribui-se em funo das condies de temperatura, salinidade, dinmica e limpidez das massas aquticas. A floresta aqutica desenvolve-se na orla martima e na foz dos rios normalmente em terrenos alagadios e sujeitos influncia das guas do mar. Esta floresta, conhecida por mangal, tpica de regies costeiras tropicais e subtropicais. O mangal distribui-se por cerca de 48% do litoral moambicano, perfazendo mais de 800 km2. Em Moambique as principais espcies de cultura so o cajueiro (Anacardium occidentale), mafurreira (Trichilia emtica), mangueira (Mangifera indica), imbi (Garcinia livingstonei), ucanho (Sclerocarya caffra), stricnos (Strichnos spp.). O coqueiro e o cajueiro, duas das mais importantes culturas industriais de Moambique, desenvolvem-se na regio costeira e sub-costeira. O cajueiro encontra boas condies para se desenvolver em todo o litoral, enquanto que o coqueiro, devido s suas maiores exigncias climticas e edficas, se desenvolve sobretudo em manchas no litoral da provncia de Nampula, Zambzia, Sofala e Inhambane. Na regio litoral, onde a amplitude trmica fraca, com pluviosidade total anual superior a 900 mm, com humidade da ordem dos 75%, e onde os solos so aluvionares, existem boas condies para o desenvolvimento do milho, arroz, amendoim, cana-deacar, mandioca e legumes. O arroz e a cana-de-acar so cultivadas sobretudo nas margens dos rios Zambeze, Pngu, Bzi, Limpopo e Incomti. O algodo, o tabaco e as fruteiras encontram boas condies para o seu desenvolvimento nas regies planlticas e montanhosas, com solos residuais.

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Fig. 1.19 Mapa de uso e cobertura da terra em Moambique (2004). Dados cedidos pela Unidade de Inventrio Florestal Ministrio da Agricultura (Janeiro de 2008).

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Captulo 1

Introduo

O cultivo de batata, legumes, ch, caf e cereais favorvel em regies de clima de altitude, com solos ferralticos. O ch cultiva-se nas terras altas da provncia da Zambzia, onde a pluviosidade total anual superior a 2.000 mm e com chuvas durante cerca de 6 meses. Nas vertentes da maioria das montanhas existem condies para a produo da vinha, gengibre, nanxenim, trigo e cevada. Nas regies com estao seca prolongada e de fraca pluviosidade anual das provncias de Tete, Inhambane e Gaza desenvolvem-se a mapira e a meixoeira.

1.6.5

Hidrografia

As caractersticas hidrogrficas do territrio moambicano encontram-se referidas em Muchangos (1999), de que se apresenta uma breve sntese.

1.6.5.1 Rios

De norte para sul, as principais bacias hidrogrficas que drenam o pas so: Rovuma, Messalo, Montepuez, Lrio, Monapo, Ligonha, Licungo, Zambeze, Pngu, Bzi, Save, Govuro, Inharrime, Limpopo, Incomti, Umbelzi, Tembe e Maputo (Fig. 1.20). Os grandes cursos de gua moambicanos so de abastecimento

predominantemente pluvial, de regime peridico, apesar de a maioria dos seus afluentes serem de regime ocasional. A maior parte dos rios de Moambique corre de oeste para leste, devido configurao do relevo, e atravessam sucessivamente montanhas, planaltos e plancies, desaguando no Oceano ndico. Os principais rios de Moambique tm as suas nascentes nos pases vizinhos, excepto no norte do pas em que a maioria tem a sua bacia hidrogrfica totalmente em Moambique. As oscilaes do caudal dos rios ao longo do ano so condicionadas por factores climticos, registando os mximos na poca das chuvas e os mnimos na estao seca. Nas terras altas os rios possuem grande capacidade erosiva e constituem cascatas, limitando por isso a navegabilidade. Nas plancies, formam meandros e depositam os seus aluvies ou formam lagoas e pntanos. 33

Para alm do relevo, a natureza dos solos tambm influencia o caudal, a estrutura e o padro da rede hidrogrfica. Quanto s bacias hidrogrficas, dado que as condies orogrficas, atmosfricas, climticas e pedolgicas exercem grande influncia sobre o regime e caudal, distinguem-se trs regies no que respeita ao comportamento dos rios (Muchangos, 1999): regio norte, regio entre as bacias dos rios Zambeze e Save, regio a sul do rio Save. Na parte norte do pas, devido melhor distribuio e frequncia das chuvas e maior disperso de rochas magmticas e metamrficas, as bacias hidrogrficas apresentam predominantemente um padro dendrtico. O rio Lrio, com uma bacia hidrogrfica de 60.800 km2, a maior totalmente moambicana, nasce no monte Malema a mais de 1.000 m de altitude e tem cerca de 1.000 km de comprimento (Fig. 1.20). Dada a extenso da sua bacia hidrogrfica, ele representa com os seus numerosos afluentes, a linha mestra da subdiviso do Planalto Moambicano. O rio Rovuma faz fronteira com a Tanznia em quase todo o seu percurso (Fig. 1.20). A sua nascente situa-se no planalto do Ungone na Tanznia e atinge Moambique na sua confluncia com o rio Messinge. A partir da, toma a direco oeste-leste, numa extenso de mais de 600 km, at a sua foz no Oceano ndico onde desagua em forma de esturio. A sua bacia hidrogrfica em territrio moambicano de 101.160 km2, sendo na maior parte do seu percurso em rio estreito, alargando-se somente ao atingir a plancie litoral. Os seus principais afluentes da margem moambicana so: Messinge, Lucheringo e Lugenda. Estes tm origem nas terras altas do Niassa e possuem elevado potencial hidroelctrico. O rio Zambeze , pelas suas caractersticas hidrolgicas, o maior e o mais importante rio que atravessa o territrio moambicano. Com cerca de 2.600 km de comprimento, o 26 rio mais comprido do mundo e o 4 em frica depois do Nilo (6.700 km), Zaire (4.600 km) e Nger (4.200 km). O rio Zambeze nasce na Zmbia a cerca de 1.700 m de altitude (Fig. 1.20). A barragem de Cabora Bassa, que a maior do pas, resulta do represamento das guas do rio Zambeze em Songo, na provncia de Tete. O rio Zambeze desagua num amplo delta de cerca de 7.000 km2 de superfcie. O caudal mdio do rio estimado em cerca de 16.000 m3/s, transportando e depositando anualmente um volume de aluvies de mais de 500.000.000 de toneladas. O principal brao do delta do Zambeze o rio Cuama, que rectilneo e presta-se navegao fluvial.

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Captulo 1

Introduo

Entre as bacias dos rios Zambeze e Save, devido ao grande desnvel que se verifica entre as terras altas e as plancies num espao relativamente curto, os cursos de gua registam nas suas seces superiores, intensa eroso e grande capacidade de transporte de materiais. Estas caractersticas favorecem a construo de barragens para a produo de energia elctrica, mas limitam grandemente a sua navegabilidade. No curso inferior eles so parcialmente navegveis e as suas margens, de solos aluvionares, apresentam boas condies para o desenvolvimento de culturas irrigveis. Os rios mais importantes desta regio do pas, o Pngu e o Bzi, nascem nas terras altas do Zimbabwe e desaguam na baa de Mazanzane no Oceano ndico. Dos 29.500 km2 do total da bacia hidrogrfica do rio Pngu, 28.000 km2 encontram-se em Moambique. O rio Save representa o limite entre as provncias do centro e do sul de Moambique, separando as provncias de Manica e Sofala, no centro, e as provncias de Inhambane e Gaza a sul (Fig. 1.20). Nasce nas terras altas do Zimbabwe e corre na direco oeste-leste, at desaguar no Oceano ndico por um esturio perto de Nova Mambone. Em territrio moambicano, o rio Save totalmente um rio de plancie, com uma bacia hidrogrfica de 14.646 km2. Ao Sul do rio Save, o regime hidrogrfico condicionado pelo clima, relevo, natureza das rochas e pelos aproveitamentos hdricos. Os principais cursos de gua importantes so, de norte para sul: Govuro, Inhanombe, Limpopo, Incomti, Umbelzi, Tembe e Maputo (Fig. 1.20). Exceptuando os rios Govuro e Inhanombe, os restantes rios nascem nos pases vizinhos e atravessam os montes Libombos. Ao atingirem a plancie perdem a sua capacidade erosiva e formam nas suas margens extensas plancies aluviais, propcias agricultura. Na plancie, o seu caudal condicionado pela influncia combinada das condies climticas gerais, do fraco declive e da elevada permeabilidade das rochas sedimentares. Nas seces inferiores dos rios formam-se frequentemente pntanos. A navegabilidade dos rios nesta regio limitada, devido ao regime sazonal do caudal e sua elevada capacidade de assoreamento. O rio Limpopo (Fig. 1.20), pela extenso da sua bacia hidrogrfica, o rio mais importante do sul de Moambique. Ele nasce na frica do Sul e atinge o territrio moambicano na confluncia com o rio Pafri. O seu comprimento total de 1.170 km dos quais 600 km ocorrem em Moambique, drenando uma rea de cerca de 80.000 km2. O rio Limpopo apresenta uma forte tendncia para a meandrizao e para o desenvolvimento de lagoas e pntanos no seu curso inferior. Este rio caracteriza-se por um caudal extremamente varivel, com o seu leito seco em estiagem e muito caudaloso na poca das chuvas. 35

Fig. 1.20 Distribuio das bacias hidrogrficas de Moambique. Fonte: MINED, 1986.

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Captulo 1

Introduo

Os seus principais afluentes so: Nuanetze, Chichacuare e Changane na margem esquerda e o rio Elefantes na margem direita. A bacia do rio Limpopo possui considerveis empreendimentos hidrulicos. Em Macarretane, prximo de Chkw, foi construda uma barragem de derivao e um regadio de cerca de 30.000 hectares a jusante. No Baixo Limpopo, existem numerosos regadios e diques de proteco contra inundaes com cerca de 50 km de extenso. No rio dos Elefantes, afluente do Rio Limpopo, a cerca de 130 km da cidade do Chkw, foi construda a barragem de Massingir, cuja principal funo o represamento de gua para irrigao.

1.6.5.2 Lagos

Para alm das albufeiras, consideradas lagos artificiais, em Moambique existe um elevado nmero de lagos e lagoas naturais de diferentes origens. Os lagos tectnicos mais importantes pelas suas dimenses so Niassa, Chita, Amaramba e Chirua, localizados na zona noroeste do pas (Muchangos, 1999). O lago Niassa o maior lago natural de Moambique (Fig. 1.21). Localiza-se na parte ocidental da provncia do mesmo nome, numa depresso tectnica encaixada entre rochas cristalinas, constituindo um verdadeiro mar interior. Dos 28.678 km2 de extenso, apenas 7.000 km2 pertencem a Moambique e os restantes ao Malawi. Tem forma alongada, com encostas predominantemente ngremes e margens rectilneas de norte para sul, sendo o seu comprimento mximo de cerca de 600 km, dos quais metade em territrio moambicano. A sua largura varia entre 15 e 90 km e o nvel mdio das suas guas situa-se a cerca de 472 m acima do nvel mdio das guas do mar. A sua profundidade mxima, sensivelmente na parte central do lago, de 706 m. No lago Niassa a pesca, o turismo e a recreao so actividades importantes, oferecendo ainda boas condies de navegabilidade. Lagos com origem em factores exgenos relacionados com a eroso e a acumulao de sedimentos ocorrem em todo litoral e na margem dos rios (Muchangos, 1999). A regio mais rica em formaes lacustres de origem exgena situa-se no litoral ao sul do rio Save. Os mais importantes so de norte para sul: Quissico e Poolela (Inharrime), Nhambavale (Chidenguele), Bilene, Manhali, Zevane, Muanguane, Nhamanene, Dongane e Piti.

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Fig. 1.21 Imagem de satlite ilustrando o lago Niassa. Fonte: Google Earth. 1.6.5.3 Canal de Moambique

O canal de Moambique a poro do Oceano ndico situado entre a costa da frica Oriental e Madagscar, aproximadamente entre as latitudes 10 e 25 S. A sua origem e desenvolvimento esto relacionados com vulcanismo extensivo ao longo das fronteiras entre a frica, Antrctica e Madagscar que teve incio no Jurssico Mdio (Fig. 1.22). A temperatura mdia da gua relativamente elevada, com temperaturas nunca inferiores a 18C, sendo as mais elevadas de 36C registadas em reas com guas pouco profundas. A principal corrente do Canal de Moambique (Corrente de Moambique), forma-se aproximadamente latitude de 12 sul, no noroeste da Ilha de Madagscar, como ramo sul da corrente Equatorial sul. No seu percurso norte-sul, junto ao paralelo de 26 sul, junta-se corrente de Madagscar oriental, formando a Corrente das

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Captulo 1

Introduo

Agulhas. Por isso a principal corrente de Moambique tambm conhecida por Moambique-Agulhas.

Fig. 1.22 Imagem de satlite ilustrando o Canal de Moambique, entre Moambique e Madagscar. Fonte: Google Earth. Devido ao regime de ventos locais, esta corrente sofre alguns desvios e ramificaes pouco significativas, mas com capacidade suficiente para estimular a morfodinmica costeira. A amplitude das mars varia em mdia entre 0,5 e 4 m, podendo ultrapassar os 6 m durante as mars vivas na baa de Sofala, devido grande extenso da plataforma continental (Muchangos, 1999).

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40

Captulo 2

Patrimnio Geolgico e Geoconservao

CAPTULO 2 PATRIMNIO GEOLGICO E GEOCONSERVAO

2.1

Conceitos gerais

2.1.1

Geodiversidade

O conceito geodiversidade comeou a ser utilizado pelos gelogos nos anos noventa, para se referirem diversidade que ocorre dentro da natureza abitica (Gray, 2004). Segundo este autor, o termo geodiversidade foi utilizado em 1993 por C. Sharples, em estudos de conservao geolgica e geomorfolgica na Austrlia, sendo igualmente referido nas actas da Conferncia de Malvern sobre Conservao Geolgica e Paisagstica realizada no mesmo ano, no Reino Unido. Numa abordagem simplista pode definir-se geodiversidade como sendo a diversidade na natureza no viva, assim como a biodiversidade a diversidade na natureza viva. Gray (2004) apresenta a seguinte definio de geodiversidade: Geodiversity: the natural range (diversity) of geological (rocks, minerals, fossils), geomorphological (land form, processes) and soil features. It includes their assemblages, relationships, properties, interpretations and systems. Devido sua simplicidade e maior abrangncia, no presente trabalho adopta-se o conceito de geodiversidade proposto pela Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido. Segundo esta, geodiversidade a variedade de ambientes geolgicos, fenmenos e processos activos que do origem a paisagens, rochas, minerais, fsseis, solos e outros tipos de depsitos superficiais que constituem o suporte para a vida na Terra (Brilha, 2005).

2.1.2

Geosstio

Na Terra ocorrem stios geolgicos naturais excepcionais, do ponto de vista cientfico, didctico, cultural, turstico, etc., denominados geosstios. Os geosstios diferem de outros stios geolgicos pelo seu carcter excepcional, o que pressupe o desenvolvimento de estratgias de inventariao e avaliao do seu valor ou relevncia.

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Geosstio uma parte da Geoesfera que apresenta uma importncia particular para a compreenso da histria geolgica da Terra, sendo delimitado em termos de espao fsico. Brilha (2005) define geosstio como sendo a ocorrncia de um ou mais elementos da geodiversidade, que afloram como resultado da aco de processos naturais ou devido a interveno humana; os geosstios so bem delimitados em termos geogrficos e devem apresentar um valor excepcional do ponto de vista cientfico, pedaggico, cultural, turstico, etc. De acordo com as caractersticas de cada geosstio, este pode apresentar um ou vrios elementos de interesse: estrutural, petrolgico, mineralgico, paleontolgico, estratigrfico, geomorfolgico, etc. Os geosstios geomorfolgicos so tambm conhecidos por geomorfosstios. O termo geomorfosstio foi proposto por Panizza (2001). Stios geomorfolgicos ou simplesmente geomorfosstios so paisagens geomorfolgicas (incluindo processos), com um valor cientfico, cultural/histrico, esttico e/ou social/econmico de acordo com a percepo e uso humano (Panizza & Piacente, 1993), importantes na reconstruo, explicao e no registo da histria da Terra, do seu clima e de toda a vida que esta suporta (Grandgirard, 1997; Panizza, 2001; Reynard, 2004).

2.1.3

Patrimnio geolgico

O patrimnio geolgico o conjunto de geosstios inventariados e caracterizados numa determinada rea ou regio (Brilha, 2005). O patrimnio geolgico constitudo pelo conjunto de ocorrncias geolgicas representativas de uma determinada regio, que possuem reconhecido valor cientfico, pedaggico, cultural, turstico ou outro. O patrimnio geolgico pode ser dividido em patrimnio paleontolgico, mineralgico, hidrogeolgico, geomorfolgico, petrolgico, etc. Esta subdiviso do patrimnio geolgico feita de acordo com o conjunto de elementos geolgicos que este patrimnio engloba. O patrimnio paleontolgico, por exemplo, o patrimnio geolgico que constitudo pelo conjunto de geosstios de interesse paleontolgico excepcional, inventariados e caracterizados numa determinada rea. Os termos patrimnio paleontolgico, patrimnio mineralgico, etc., devero restringir-se apenas a especialistas da rea. Para o pblico em geral dever usar-se o termo patrimnio geolgico, por questes de simplificao e tambm para evitar a 42

Captulo 2

Patrimnio Geolgico e Geoconservao

proliferao de terminologias tcnicas que em nada ajudam a despertar o interesse do pblico por assuntos ligados geologia em geral e ao patrimnio geolgico em particular. O patrimnio mineiro (arqueologia mineira) no faz parte do patrimnio geolgico, devido diferena de conceitos e metodologias entre ambos (Brilha, 2005). Embora o patrimnio mineiro, assim como o patrimnio geolgico, estejam ancorados na geodiversidade, diferem na abordagem. O patrimnio geolgico est relacionado com a conservao da geodiversidade, enquanto que o patrimnio mineiro est relacionado com a explorao mineira desta mesma geodiversidade. No entanto, o patrimnio mineiro pode ser aproveitado para enriquecer o patrimnio geolgico devido ao seu valor turstico/cultural. As coleces de minerais, rochas e fsseis que ocorrem nos museus tambm no podem ser consideradas como sendo patrimnio geolgico, pelo facto de estes materiais j no se encontrarem no seu contexto geolgico natural. Apesar disso, estes podem ter um valor patrimonial devido a sua raridade, singularidade e elevado valor cientfico, educacional, esttico, etc. Estes materiais podem ser considerados qui como sendo patrimnio museolgico.

2.1.4

Geoconservao

O patrimnio geolgico, assim como outros recursos naturais, tambm pode ser modificado, danificado e at destrudo por processos naturais e pela actividade humana (actividade extractiva, desenvolvimento de obras, colheita de amostras para fins no cientficos, etc.). O patrimnio geolgico um recurso natural no renovvel. A sua destruio constitui, por isso, uma perda irrecupervel. Para assegurar a salvaguarda do patrimnio geolgico, desenvolvem-se actividades que visam a geoconservao. Assim, as actividades que tm como finalidade a conservao e gesto sustentvel do patrimnio geolgico e dos processos naturais a ele associados denominam-se por geoconservao (Brilha, 2005). Conservar todos os geosstios uma tarefa bastante complicada. Para que se conserve um geosstio, os valores ou atributos por este apresentados devem estar acima da mdia. Assim, num conjunto de geosstios de uma determinada rea, a prioridade para o desenvolvimento de aces visando a conservao ser dada aos geosstios que

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apresentam atributos adicionais que os tornam preferveis relativamente aos outros (melhores condies de observao, facilidade de acesso, extenso, etc.).

2.2

Estratgias de geoconservao

2.2.1 Inventariao e Avaliao

A inventariao consiste no levantamento e registo sistemtico de geosstios que ocorrem numa determinada rea, aps um reconhecimento geral prvio da rea. Durante o processo de inventariao, apenas feito o levantamento daqueles stios que apresentam caractersticas geolgicas que os evidenciam relativamente aos outros stios. fundamental a recolha pormenorizada de informao, eventualmente com recurso a registo em ficha de inventariao/caracterizao, adaptada em funo dos objectivos especficos e s caractersticas de cada regio. A avaliao, denominada por quantificao por Brilha (2005), a etapa posterior ao levantamento e caracterizao dos geosstios. No entanto, esta tambm poder ser realizada durante a fase de inventariao. A avaliao consiste no clculo do valor que cada geosstio possui, de acordo com critrios tais como, por exemplo, integridade (se o objecto est ou no completo), representatividade (at que ponto o geosstio representativo da geologia de uma determinada regio), raridade (nmero de ocorrncias semelhantes no espao em referncia), condio de observao (at que ponto o geosstio fcil de observar), acessibilidade (se o local de fcil acesso), vulnerabilidade (facilidade de destruio), valor esttico, valor social/econmico e valor cultural/histrico (Reynard, 2004; Brilha, 2005). A avaliao orienta a escolha dos geosstios para os quais as aces visando a sua conservao sero prioritrias. Os geosstios seleccionados passam depois para as etapas subsequentes de uma estratgia de geoconservao (classificao, conservao, valorizao, divulgao e monitorizao).

2.2.2 Classificao

A classificao a etapa posterior inventariao, caracterizao e avaliao numa estratgia de geoconservao e visa dotar o patrimnio geolgico de um estatuto legal para a sua proteco e gesto. Os procedimentos a seguir com vista a classificao 44

Captulo 2

Patrimnio Geolgico e Geoconservao

do patrimnio geolgico dependem da legislao em uso em cada pas. Em Moambique, a Lei que regula o processo de declarao e criao de novos monumentos culturais e naturais (onde se pode enquadrar o patrimnio geolgico) a Lei de Proteco Cultural No. 10/88 de 22 de Dezembro. Portanto, podem propor classificao as seguintes entidades e instituies (Fernando & Sigaque, 2007):

a) rgos do Estado a vrios nveis; b) rgos autrquicos; c) Pessoas singulares ou colectivas.

A proposta de classificao deve ser devidamente fundamentada do ponto de vista tcnico e canalizada ao Conselho Nacional do Patrimnio Cultural, que o rgo que se pronuncia sobre as propostas de classificao de patrimnio cultural e natural (Lei de Proteco Cultural No. 10/88 de 22 de Dezembro, Capitulo VIII, Artigo 19, nmero 1). Da proposta, devem constar todos os aspectos relacionados com o geosstio nomeadamente: localizao do geosstio, caracterizao cientfica, descrio do tipo de interesse, avaliao da vulnerabilidade e propostas de estratgias de geoconservao (Brilha, 2005). A classificao ou anulao da classificao de bens do patrimnio cultural e natural compete ao Conselho de Ministros (Lei de Proteco Cultural No. 10/88 de 22 de Dezembro, Capitulo IV, Artigo 7, numero 1).

2.2.3 Conservao

Numa estratgia de geoconservao, a conservao a etapa posterior classificao, embora a ausncia de classificao no impea que se proceda a conservao dos geosstios. O objectivo principal da conservao dever ser o de assegurar a integridade fsica do geosstio, permitindo que ao mesmo tempo, o pblico possa ter acesso ao mesmo (Brilha, 2005). Para cada geosstio, deve proceder-se a avaliao da vulnerabilidade de degradao ou perda face a factores naturais e/ou antrpicos, para que em funo desta e da sua relevncia, seja definida a estratgia a seguir. Como no possvel conservar todos os geosstios devido a limitaes tcnicas, financeiras e de recursos humanos, 45

deve-se proceder a conservao daqueles que apresentam maior relevncia (Brilha, 2005). Em alguns casos poder no ser possvel conservar um determinado geosstio na sua condio natural, em virtude de um elevado risco de degradao natural, roubo ou actos de vandalismo. Nestas situaes, pode justificar-se a recolha dos valores geolgicos e a sua posterior conservao e exposio em instituies de acesso pblico (museus, universidades, etc.).

2.2.4

Valorizao e divulgao

Aps a anlise da vulnerabilidade de perda do geosstio, os geosstios mais vulnerveis so conservados, enquanto se criam condies apropriadas para a sua valorizao e divulgao. Os geosstios menos vulnerveis passam para a fase de valorizao e divulgao. Entende-se por valorizao ao desenvolvimento de aces e de infra-estruturas no local de ocorrncia dos geosstios, com o objectivo de disponibilizar informao e auxiliar o pblico na interpretao de aspectos da geodiversidade. A valorizao dos geosstios deve ser anterior sua divulgao, de modo a permitir que o pblico menos informado e no especializado disponha de meios que ajudam na compreenso dos valores apresentados. Os geosstios podem ser valorizados por exemplo, atravs da produo de painis informativos e/ou interpretativos que devem ser colocados prximo do geosstio ou em outra posio adequada para a transmisso da informao pretendida. So ainda exemplos de aces de valorizao, o estabelecimento de percursos temticos ligando vrios geosstios numa regio, centros de interpretao, produo de pginas de Internet, CD ou DVD-ROMs e de outro tipo de materiais (canetas, bons, jogos, colares, etc.). De salientar que os materiais produzidos para as aces de valorizao, devem ser cuidadosamente preparados em funo do tipo de pblico que se pretende atingir, procurando sempre a utilizao de uma linguagem acessvel para o pblico em geral. O patrimnio geolgico pode ser divulgado atravs de vrias aces de promoo em escolas, feiras, instituies do sector do turismo, visitas guiadas ao campo, etc.

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Captulo 2

Patrimnio Geolgico e Geoconservao

2.2.5

Monitorizao

Numa estratgia de geoconservao, a monitorizao a etapa posterior valorizao e divulgao. Entende-se por monitorizao ao processo de verificao peridica da perda de relevncia de um deter