Paulo de Fontin

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  • 7/24/2019 Paulo de Fontin

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    So Paulo, 28 de fevereiro de 2013.

    EM DEFESA DA ENGENHARIA

    Eng Gilson Louro Marchesini

    No pela primeira vez, e nem pela ltima, disso estou certo, tive o desprazer dever algum se externar, travestido de mestre da cincia, e com a falsa nobreressalva de no desejar criar polmica nem constrangimento, sobre o acidentedo Elevado Paulo de Frontin, que j data de mais de 41 anos, mas que at hojeainda rende IBOPE aos abutres da Engenharia.

    Este comentrio, talvez pouco elegante, pelo que me desculpo, porm com aatenuante de estar eivado de indignao mais do que justificada, a propsitode um novo artigo que circula na praa, sob o ttulo Notcias sobre o ViadutoPaulo de Frontin, supostamente de autoria do Eng Bruno Contarini, pois noest assinado, ao qual tive acesso atravs de correio eletrnico. Como foiendereado a vrios grupos de colegas, fui impelido a dirigir aos mesmosdestinatrios essas palavras.

    Sinto-me vontade para tocar no assunto, pois sou um dos sobreviventes doque se transformou no massacre tcnico e humano do maior Engenheiro que o

    Brasil conheceu, o Professor Srgio Marques de Souza, este sim umverdadeiro Mestre, com quem tive a honra e o privilgio de trabalhar e aprenderdurante mais de trs dcadas de convvio dirio, iniciadas precisamente em1969, no incio da obra do Elevado, onde fui lotado como EngenheiroResidente, com 23 anos de idade.

    A bem da justia, cabe a reserva de que talvez o tal artigo no tenha de fatosido escrito pelo Eng Contarini, pois custa a crer que algum como ele, quetambm aprendeu a maior parte do que sabe trabalhando com o Dr. Srgio,inclusive a tica profissional, tenha se proposto a desempenhar esse tristepapel, principalmente se se levar em conta que o falecido no est mais capazde se defender, por razes bvias.

    Por ter vivido a tragdia, e sofrido os respingos das acusaes que choveramde todos os lados sobre o Dr. Srgio e sobre ns outros, participantes doprojeto e da construo, quando ocorreu o acidente, algumas delas ostensivas,originadas por leigos, por polticos e pela imprensa sensacionalista e sedentade sangue, e outras veladas, dodas e maldosas, fundamentadas em juzosprecrios formulados por muitos de nossos prprios colegas de profisso,

    posso asseverar que ningum conhece o assunto melhor do que eu, pelaverdadeira obsesso que se tornou descobrir a razo da tragdia, o que fez

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    com que, pelo menos durante os trs longos e sofridos anos que a ela seseguiram, eu me dedicasse diuturnamente a estudar e reestudar a fundo eminuciosamente cada um dos detalhes do projeto e da obra, em busca derespostas.

    Grandes nomes da engenharia, na poca, entre os quais posso citar FernandoLobo Carneiro, Jos Luiz Cardoso, Waldir Jos de Mello, Joo Alves deMoraes, Jorge de Mello e Souza, Carlos Freire Machado e Sidney MartinsGomes dos Santos, abraaram suas prprias teses explicativas do acidente,sem qualquer preocupao a propsito do fato de que suas teorias, algumasat de valor acadmico, seriam usadas como instrumentos de acusao por

    juristas despreparados para analisa-las tecnicamente.

    surpreendente como, at a presente data, ainda se encontre quem discorrasobre o assunto com a falsa segurana de um grande conhecedor, querendoconquistar pblico, e escrevendo um monte de bobagens, baseadas em dadostotalmente equivocados e imprecisos, ou em convices pessoaisabsolutamente afastadas da realidade, que nada elucidam sobre as reaispossveis causas do acidente, e por conseguinte em nada contribuem paratrazer ensinamentos, s mais dvidas e confuso.

    Mais recentemente, tive cincia de manifestaes semelhantes, por ocasio derealizao de palestras, por parte dos engenheiros Nelson de Arajo Lima ePaulo Helene, nomes conhecidos no mercado, que dentro da mesma linha se

    dispuseram a deitar ctedra sobre alegados erros cometidos, quer no projetoou na execuo do Elevado Paulo de Frontin, sem o menor domnio doassunto, comprometendo a imagem e o amor prprio de quem l trabalhou comseriedade e dedicao, como se fossem eles imunes a erros, donos daverdade, pertencentes quele grupo de engenheiros de obras prontas quepaira acima do bem e do mal. Fizeram ps-doutorado na especialidade deEngenharia Crtica.

    Lamentavelmente, no h mais qualquer sentido em se continuar batendonessa mesma tecla. Os teis ensinamentos que se poderia extrair daquela

    fatalidade foram despejados pela latrina, e seguem assim ao longo de todosesses anos, permanecendo tona apenas as vaidades e as apreciaescovardes ou tendenciosas, que visam atender a interesses escusos por partede elementos de carter duvidoso.

    Cumpre, finalmente, enfatizar, EM DEFESA DA ENGENHARIA, que existiram,naquele hiato do passado, grandes nomes de verdadeiros Engenheiros,daqueles que no se furtam a desafiar os poderes constitudos, quando assim necessrio, para preservar a verdade e a justia, tais como Paulo Fragoso,Leopoldo de Castro Moreira, Costa Nunes, Hlio de Almeida e Maurcio

    Joppert, para citar apenas alguns, que infelizmente j no esto entre ns.

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