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PAULO FREIRE: aprendendo com a própria história Paulo Rosas Presidente do Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas PAULO Reglus Neves FREIRE nasceu no Recife, na Estrada do Encanamento, em 19 de setembro de 1921. Faleceu em São Paulo, no dia 2 de maio de 1997. Sua história de vida é marcada por três períodos, caracterizados por desiguais referências de espaço e tempo. Tempo do Recife O primeiro e mais longo deles teve o Recife e Jaboatão como cenários: 1921 a 1964. Anos de infância e adolescência, de formação escolar e consolidação das raízes afetivas e intelectuais de seu pensamento. Por tais motivos, o Tempo do Recife ocupará espaço maior neste artigo. Recife... Jaboatão... Paulo era filho de Joaquim Temístocles Freire, capitão da Polícia Militar de Pernambuco e de Edeltrudes Neves Freire: Dona Tudinha. Ela “era essa coisa eufêmica que se chama prendas domésticas (...). Era uma bordadeira excelente!” (Freire. P. e Guimarães, S., 1982, p. 17). Conforme depoimento de Maria Adozinda Monteiro Costa, educadora e prima de Paulo Freire, que conviveu com a família por vários anos, Dona Tudinha era uma pessoa boníssima, cuja conduta era pautada pela mansidão. Já no Recife e Paulo casado, Dona Tudinha o visitava quase diariamente. Paulo teve uma irmã, Stela, e dois irmãos, Armando e Temístocles. Stela foi professora primária do Estado. Armando, funcionário da Prefeitura da Cidade do Recife, abandonou os estudos aos 18 anos, não chegou a concluir o curso ginasial. Temístocles entrou para o Exército. Aos dois, Paulo agradece emocionado, em uma de suas entrevistas a Edson Passetti (Passetti, E. 1998, p. 35), pois começaram a trabalhar muito jovens, para ajudar na manutenção da casa e possibilitar que Paulo continuasse estudando. Guardou da infância lembranças fortes que o acompanharam por toda a vida e que relata em várias de suas obras. “Minha alfabetização”, declarou à Revista Nova Escola, em dezembro de 1994, “não me foi nada enfadonha, porque partiu de palavras e frases ligadas à minha experiência, escritas com gravetos no chão de terra do quintal”. De modo ainda mais incisivo, escreveu em A importância do ato de ler (Freire, P. 1982 p.16): “Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo, não do mundo maior dos meus pais. O chão foi o meu quadro-negro; gravetos, o meu giz.” E em Sobre Educação, V. 1 (Freire, P. e Guimarães,

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PAULO FREIRE: aprendendo com a própria história

Paulo Rosas

Presidente do Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas

PAULO Reglus Neves FREIRE nasceu no Recife, na Estrada do Encanamento, em 19 de setembro de 1921. Faleceu em São Paulo, no dia 2 de maio de 1997.

Sua história de vida é marcada por três períodos, caracterizados por desiguais referências de espaço e tempo.

Tempo do Recife

O primeiro e mais longo deles teve o Recife e Jaboatão como cenários: 1921 a 1964. Anos de infância e adolescência, de formação escolar e consolidação das raízes afetivas e intelectuais de seu pensamento. Por tais motivos, o Tempo do Recife ocupará espaço maior neste artigo. Recife... Jaboatão...

Paulo era filho de Joaquim Temístocles Freire, capitão da Polícia Militar de Pernambuco e de Edeltrudes Neves Freire: Dona Tudinha. Ela “era essa coisa eufêmica que se chama prendas domésticas (...). Era uma bordadeira excelente!” (Freire. P. e Guimarães, S., 1982, p. 17). Conforme depoimento de Maria Adozinda Monteiro Costa, educadora e prima de Paulo Freire, que conviveu com a família por vários anos, Dona Tudinha era uma pessoa boníssima, cuja conduta era pautada pela mansidão. Já no Recife e Paulo casado, Dona Tudinha o visitava quase diariamente.

Paulo teve uma irmã, Stela, e dois irmãos, Armando e Temístocles. Stela foi

professora primária do Estado. Armando, funcionário da Prefeitura da Cidade do Recife, abandonou os estudos aos 18 anos, não chegou a concluir o curso ginasial. Temístocles entrou para o Exército. Aos dois, Paulo agradece emocionado, em uma de suas entrevistas a Edson Passetti (Passetti, E. 1998, p. 35), pois começaram a trabalhar muito jovens, para ajudar na manutenção da casa e possibilitar que Paulo continuasse estudando.

Guardou da infância lembranças fortes que o acompanharam por toda a vida e que relata em várias de suas obras. “Minha alfabetização”, declarou à Revista Nova Escola, em dezembro de 1994, “não me foi nada enfadonha, porque partiu de palavras e frases ligadas à minha experiência, escritas com gravetos no chão de terra do quintal”. De modo ainda mais incisivo, escreveu em A importância do ato de ler (Freire, P. 1982 p.16): “Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo, não do mundo maior dos meus pais. O chão foi o meu quadro-negro; gravetos, o meu giz.” E em Sobre Educação, V. 1 (Freire, P. e Guimarães,

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S. 1982 p.14-15): “Você veja como isso me marcou, anos depois. Já homem, eu proponho isso! Ao nível da alfabetização de adultos, por exemplo.” Na mesma entrevista à Nova Escola (parcialmente transcrita em Paulo Freire, uma biobibliografia. p.30), Paulo fala com ternura de Eunice Vasconcelos, sua primeira professora: “jovenzinha de seus 16, 17 anos (...) ela me fez o primeiro chamamento com relação a uma indiscutível amorosidade que eu tenho hoje, e desde há muito tempo, pelos problemas da linguagem e os da linguagem brasileira, a chamada língua portuguesa do Brasil.” Difícil para toda a família foi deixar a casa da Estrada do Encanamento, em abril de 1932. Em vários depoimentos e entrevistas, Paulo recorda com amorosidade da casa, do quintal, das duas mangueiras, próximas o bastante para que seu pai armasse uma rede a sua sombra. Lembra que até os sete anos, aproximadamente, o bairro onde havia nascido “era iluminado por lampiões (...) Eu costumava acompanhar, do portão de minha casa, de longe, a figura magra do acendedor de lampiões de minha rua.” (Freire, P. 1982, p.15) Esclarece a Passetti (1992, p. 32): a casa da Estrada do Encanamento, 724, pertencia ao “tio Rodovalho”, comerciante no Rio de Janeiro, que a deixara com a mãe dele, avó de Paulo: “vivíamos todos na casa de minha avó.” “A crise de 1929 afetou o comércio” e o Rodovalho, até então bem sucedido, não encontrou outro caminho senão a concordata, seguindo-se hipoteca e perda da casa. Sem recursos para alugar outra casa no Recife, a família foi morar em Jaboatão.

Permaneceria em Jaboatão durante 9 anos, de abril de 1932 a maio de 1941

(Freire, P. 1994, p. 103). Recorda Paulo (idem, p. 40-41), que do Recife conservaram, como símbolos de um status provisoriamente perdido, o piano alemão em que sua tia Lourdes tocava Chopin, Beethoven, Mozart... e a gravata de seu pai. De Jaboatão ficaram as lembranças das travessuras com seu irmão Temístocles e com os novos companheiros ali descobertos, “de outra classe”, como indicava o piano: Dourado, Reginaldo, Baixa, Toinho Morango, Gerson Macaco... De Jaboatão mais fortes foram as lembranças da morte do seu pai, em 1934, e das privações antes desconhecidas: “minha compreensão da fome não é dicionária”, escreveria em À sombra desta mangueira (Freire, P. 1995, p. 31).

Em Jaboatão concluiu o curso primário. Mas, na época, não havia como

prosseguir sua formação escolar, salvo no Recife. Iniciou o curso ginasial no Colégio 14 de Julho, no bairro de São José. Sem recursos para continuar os estudos em uma escola paga, interrompeu o curso no final da primeira série. Insistentes pedidos seus reforçaram a luta de Dona Edeltrudes, que fez várias tentativas para conseguir uma escola onde Paulo pudesse estudar gratuitamente. Após diversas viagens frustradas ao Recife, afinal Dona Edeltrudes encontrou no Professor Aluízio Pessoa de Araújo, do Colégio Oswaldo Cruz, a compreensão que possibilitou a Paulo Freire dar continuidade a sua formação escolar. Ali concluiu o curso secundário, iniciado no Colégio 14 de Julho, e realizou o pré-jurídico, conforme o modelo então vigente (Freire, A. M. A., 1996, p. 30).

No Colégio Oswaldo Cruz, após algum tempo como censor, Paulo iniciou a carreira de magistério, como professor de português. Substituía Moacir Albuquerque, considerado, então, um dos melhores professores de português do Recife. De 1941 a 1944, recorda (Freire, P. 1994, p. 103-4): “...vivi um tempo intensamente dedicado a leituras tão críticas quanto me era possível fazer, de gramáticos brasileiros e portugueses.” Prossegue: “Parte da parte que me cabia do que eu ganhava dedicava à

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compra de livros e de velhas revistas especializadas. (...) Raramente, naquele período de alumbramento em que me achava, apaixonado, enfeitiçado mesmo, pela docência no Colégio Oswaldo Cruz, apliquei um dinheiro maior na compra de uma roupa. (...) Não andava sujo, é verdade, mas andava feiamente vestido”.

Em 1943 ingressou na Faculdade de Direito do Recife. No ano seguinte, casou-se com Elza Maria Costa de Oliveira, professora primária, que exerceria um papel fundamental na vida e na construção das idéias e das práticas de Paulo Freire. Sobre Elza, diria Paulo (Freire, P. e Macedo, D. 1990, p. 109): “Ela influenciou-me enormemente. Assim, meus estudos lingüísticos e meu encontro com Elza conduziram-me à pedagogia.” Com Elza, Paulo teve cinco filhos: suas três Marias, como gostava de dizer (Maria Madalena, Maria Cristina e Maria de Fátima), Joaquim e Lutgardes.

Pessoalmente, lembro de Elza como uma pessoa cativante, por quem alimentei,

juntamente com minha esposa, Argentina Rosas, profunda amizade e respeito por sua conduta ética e competência. Sem dúvida, não fomos nós os únicos a ver em Elza, mais do que a companheira amorosa de Paulo Freire, uma profissional competente. Arturo Ornelas (Gadotti, Org., 1996, box 34, p.150-51) declara que quando viu Elza pela primeira vez experimentou uma impressão da qual jamais esqueceu. E acrescenta: “Trabalhamos juntos na África, em São Tomé e Príncipe. Aí conheci a professora Elza, aquela que ensinava aos africanos de São Tomé, o caminho para descobrirem as palavras geradoras, os temas geradores a partir do universo vocabular; enquanto ela os ensinava eu também aprendia. Com ela, também, discutíamos e analisávamos a política nacional, a economia do país, a beleza e a dor da África.”

Quase Bacharel em Direito, aluno do último ano, não precisou de longo “estágio”, mas de uma decisiva e inconclusa experiência – a cobrança de um débito – para compreender com clareza que a prática jurídica não poderia ser seu cotidiano profissional.

No mesmo ano, 1947, ainda como professor de português no Colégio Oswaldo Cruz, tomou conhecimento, através de Paulo Rangel Moreira, da instituição do SESI pela Confederação Nacional das Indústrias. Recorda (Freire, P. 1992, p.15-18) que, “numa tarde clara do Recife”, Paulo Rangel, em visita a sua casa, na Rua Rita de Souza, falou, em presença de Elza, da criação do SESI, e “do que trabalhar nele” poderia significar para os dois: ele próprio já aceitara o convite de seu presidente, o engenheiro Cid Sampaio, para fazer parte de “um setor de projetos no campo da assistência social”, enquanto aguardava a implantação de um setor jurídico, mais adequado, por sua formação. Quanto a Paulo Freire, trazia o convite para ocupar a direção de uma Divisão de Educação e Cultura. Para Paulo Freire o SESI representaria muito mais do que um emprego. Junto ao desafio e à aprendizagem, foi a oportunidade decisiva para a definição de sua história profissional, como educador e filósofo da educação. Em 1992, Paulo Freire afirmaria na Pedagogia da Esperança (Freire, P. 1992, p. 18): “A Pedagogia do oprimido não poderia ter sido gestada em mim só por causa de minha passagem pelo SESI, mas minha passagem pelo SESI foi fundamental.”

Nos anos 50, o fazer administrativo e a ação pedagógica (cuja clientela era

formada preponderantemente por trabalhadores na indústria), inerentes a seu cotidiano no SESI, o magistério na Escola de Serviço Social de Pernambuco e na Escola de Belas Artes, da Universidade do Recife, onde lecionava História e Filosofia da Educação, foram as referências regulares de trabalho que provocaram sua criatividade e alimentaram a construção de seu pensamento. Além disso, nos anos 50/60, respirava-se no Recife um

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clima de renovação e de esperança que encontrava no pensamento de Paulo Freire fundamentação e, ao mesmo tempo, o fortalecia (Rosas, P. In Freire, P. 2001, p. XLIX-LXXV).

Os anos 50 foram particularmente importantes para a solidificação do pensamento

de Paulo Freire, no tangente a leituras e reflexões. Leituras e reflexões muitas delas comuns ao que chamo (Rosas, P. 1986, p. 23-4) de “uma certa força de trabalho em disponibilidade”, que então havia no Recife, formada por professores, artistas, intelectuais, estudantes insatisfeitos com o statu quo, entre os quais me incluo. A bibliografia citada por Paulo Freire em Educação e atualidade brasileira (1959) salienta autores integrantes do ISEB (Roland Corbisier, Hélio Jaguaribe, Djacir Menezes, Guerreiro Ramos, Álvaro Vieira Pinto) e “clássicos”, à maneira de Rugendas e Saint-Hilaire, além de Fernando Azevedo, Anísio Teixeira, Gilberto Freyre, Karl Mannheim, Gabriel Marcel, Jacques Maritain, Caio Prado Junior. Estas ou a maioria destas eram também nossas leituras ou as leituras de muitos de nós. Além de achados mais pessoais de Paulo Freire, como Zevedei Barbu. Eram, igualmente, leituras nossas Emmanuel Mounier, Georges Gurvitch, Lebret. Paulo procurava as idéias, mas sempre foi sensível à forma, ao escrever bem. Ainda quando do seu retorno ao Brasil, indicava aos jovens ler Gilberto Freyre, destacava Nordeste, ainda que muitas idéias divergissem das suas, para ver o que era escrever bem.

Nas palavras de Ana Maria Araújo Freire (1996, p.35), foi como autor do Relatório da Comissão Regional de Pernambuco, intitulado “A educação de adultos e as populações marginais – o problema dos mocambos”, apresentado no II Congresso Nacional de Educação, realizado no Rio de Janeiro em julho de 1958, “que Paulo Freire firmou-se como educador progressista.” No que se aprofundava na análise política e filosófica da educação, Paulo Freire definia sonhos e utopias possíveis, seu pensamento fazia-se mais consistente, seu fazer, mais criativo, sem perder a coerência entre o pensar e o fazer. Esta busca de coerência é reconhecida por muitos autores. De outra parte, provocou perplexidades e críticas, nem sempre formalmente expressas. Defender a rigorosidade ética e combater o rigorismo, tudo bem. Entretanto, agir de acordo com a rigorosidade ética, mas sem rigorismo, suscitou, muitas vezes, incompreensões. Como suscitou incompreensões dizer, publicamente, considerar justo receber certas homenagens, quando o comportamento esperado era o de agir de acordo com a praxe, dizendo-se não merecedor do que lhe era conferido, mesmo sendo insincero. A recusa da conduta insincera ficou explicitada, por exemplo, ao receber homenagem da Fundação Joaquim Nabuco, medalha de “pesquisador emérito”, em novembro de 1996.

A substituição do formato convencional das salas de aula pela distribuição dos atores em círculos e o emprego de técnicas de grupo (a conversa, o grupo de estudo, o grupo de ação, o fórum, o grupo de debate e a carta temário), como alternativas à conferência e à exposição didática, preparavam o clima para o diálogo e a descoberta, pelos atores, de saberes já existentes entre eles, mas não percebidos como saberes. O “movimento” da consciência intransitiva para a transitivo-ingênua e, desta, para a consciência “fanatizada” (massificação) ou a consciência crítica foi, de certo, o ponto de partida para as construções futuras da pedagogia freireana. Inclusive dos princípios do “método Paulo Freire de alfabetização”. A utilização de técnicas audiovisuais (projetores) facilitaria a prática do “método”, tanto quanto poderia facilitar, entre os alfabetizandos e os

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alfabetizados, sobretudo a partir da problematização e da pergunta/diálogo, a leitura ou releitura crítica do mundo. No processo de criação do “método”, Paulo Freire, do mesmo modo como ocorrera com sua própria alfabetização, salienta o universo vocabular do alfabetizando como ponto de partida. Descreve a Nilcéa Lemos Pelandré (Pelandré, 2002, p. 59): “... era preciso que eu fosse ao contexto de quem ia aprender a ler, para pesquisar o discurso da cotidianidade e de lá retirar o vocabulário a ser utilizado no processo.” Na simplicidade deste ato se encontra a origem do envolvimento dos alfabetizandos, não apenas quanto ao interesse por aprender a ler a palavra escrita, mas se dispor a participar da problematização de situações e a dialogar quanto à busca de explicações lógicas para as situações/problemas.

O advento dos anos 60 encontrou Paulo Freire com todo o delineamento de um pensamento político-pedagógico dialógico e libertador, conducente a atitudes indicativas da autonomia e do intercâmbio dos saberes entre o aprendiz e o educador. O Movimento de Cultura Popular (MCP), o Serviço de Extensão Cultural (SEC), da Universidade do Recife, a experiência de Angicos e o Programa Nacional de Alfabetização, do MEC, foram, então, os campos de exercício da criatividade e das práticas pedagógicas de Paulo Freire, sempre objetos de novas reflexões. Apesar de Paulo Freire se sentir cada vez mais interessado em aprofundar a discussão dos fundamentos filosóficos de suas propostas pedagógicas, o sucesso alcançado pelas primeiras experiências com o método atropelava o desejo de seu idealizador. “No princípio era o método” – escreve Gerhardt (Gerhardt, 1996, p.156). E, não se pode negar, o método era um dos primeiros sonhos possíveis de Paulo Freire.

No MCP, onde era Diretor da Divisão de Pesquisa e Coordenador do Projeto de Educação de Adultos, promoveu sua primeira aplicação, a qual teve lugar no Centro de Cultura Dona Olegarinha, no Poço da Panela, Recife (Freire, P. 1963). A turma era formada por 5 adultos analfabetos. Dois desistiram. Testemunha Freire: os alfabetizandos eram de origem rural, “revelando certo fatalismo e certa inércia diante dos problemas. Completamente analfabetos.” Já o primeiro teste, no vigésimo dia, alcançou resultados animadores. No trigésimo dia, “liam e escreviam texto simples e até jornal.”

A prática foi repetida com um grupo de 8 pessoas (3 desistiram). Os 5 restantes

obtiveram resultados semelhantes ao anterior. Um terceiro grupo, de 25 pessoas, foi iniciado, mas por motivos que independeram da vontade de Paulo Freire, o trabalho precisou ser interrompido na vigésima hora, “com a maioria já lendo e escrevendo palavras e pequenos textos.”

Outras aplicações do método foram feitas em João Pessoa (CEPLAR) e na

Universidade do Recife (Serviço de Extensão Cultural), com a colaboração de estudantes, sempre com resultados que justificavam a continuidade. Grupo de jovens pesquisadores atuando no SEC, entre os quais Jarbas Maciel, Jomard Muniz de Britto e Aurenice Cardoso, desenvolviam estudos sobre a fundamentação teórica do que já chamavam “Sistema Paulo Freire”.

Seguiu-se a experiência de Angicos, no Rio Grande do Norte, desenvolvida entre

janeiro e março de 1963, sem dúvida o mais expressivo esforço de alfabetização, empregando-se o “método Paulo Freire”, então concretizado no Brasil. Provocou uma

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certa polêmica, inclusive entre companheiros de Paulo Freire, pois foi realizada com recursos da USAID e interveniência de Aluízio Alves, na época Governador do Rio Grande do Norte. Entretanto, deu mais visibilidade às possibilidades pedagógicas e políticas do método e acirrou os temores dos conservadores (Lyra, C. 1996).

Finalmente, o Programa Nacional de Alfabetização, do MEC, cuja coordenação

assumiu, a convite do ministro Paulo de Tarso Santos. O Programa deveria adotar o “método Paulo Freire” e alcançar amplitude verdadeiramente nacional. Projeto político, “mas sem Partido e sem politiquices”, declarou Paulo a Sérgio Guimarães (Freire, P. e Guimarães, S. 1987, p. 13). E acrescentou: “Não quero dizer que na época já estivéssemos com o esquema montado para o país todo, mas quase: estávamos cuidando da capacitação de quadros que, por sua vez, se multiplicavam, etc. Com esse Plano, pretendíamos alcançar o país todo.”

A utilização do “método Paulo Freire” em Angicos e no Programa Nacional de

Alfabetização, do MEC, contribuiu, sem dúvida, para a prisão de Paulo e seu posterior exílio, quando foi deflagrado o golpe de Estado de1964.

Apesar da significativa influência exercida sobre os movimentos de cultura e educação popular dos anos 60 (Movimento de Cultura Popular, Recife, do qual foi um dos fundadores e dirigente; Campanha De Pé no Chão também se Aprende a Ler, Natal; Movimento de Educação de Base, de âmbito nacional; Campanha de Educação Popular, João Pessoa), das experiências de Angicos, do Programa Nacional de Alfabetização e do Serviço de Extensão Cultural, nesse primeiro período escreveu apenas um livro: Educação e Atualidade Brasileira. Ainda assim, utilizado como tese para concurso, teve uma edição particular, do Autor: Recife, 1959. Somente em 2001 Educação e Atualidade Brasileira teria uma edição comercial, São Paulo: Cortez Editora. Em 1961, a Imprensa Universitária, da então Universidade do Recife, publicou um opúsculo, também ele fora do comércio, A propósito de uma administração, onde Paulo Freire expôs sobre as atividades realizadas pelo Professor João Alfredo Gonçalves da Costa Lima, na Reitoria da Universidade. Fora do comércio foram também os Livros de exercício e o do monitor, destinados à orientação dos alfabetizadores. O único livro de Paulo Freire publicado antes do exílio data de 1963: Alfabetização e conscientização. Porto Alegre, Editora Emma.

Com o golpe de Estado de 1964, Paulo Freire foi preso no dia 16 de junho, acusado de atividades subversivas. Permaneceu 70 dias detido, parte em Olinda, parte no Recife, mas em diversas celas. Ou, como declarou a Sérgio Guimarães (1987, 66): “fui inquilino de duas casas, mas morei em vários apartamentos”...

Consciente da realidade que vivia o país e que vivia ele próprio, retirou da situação a oportunidade imprevista de uma nova aprendizagem. Consciente de ser preciso aprender a viver na cela, aprendeu com Clodomir Moraes palavras e expressões que “preso não usa em depoimento”: aliás, por sinal, a propósito... “, “até que você pare, vai ter que meter um terceiro no fogo”... Aprendeu novas formas de solidariedade. De respeito (e testemunhou desrespeito) à pessoa. A participar de jogos e passatempos: em um dos jogos, invenção de um jovem vizinho de cela (não se viam, mas se ouviam), Ariano Suassuna e o autor deste artigo, entre outros não citados, foram “personagens”... Questionado, Paulo Freire revelou a Guimarães: “Saudade, sim. Desespero, não.”

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Tempo de exílio

O fato de ser posto em liberdade não lhe oferecia o mínimo de segurança de poder retomar seu trabalho de educador e filósofo da educação, sem a constante ameaça de voltar a ser preso. O Programa Nacional de Alfabetização fora extinto já no dia 14 de abril. Por duas vezes (Freire, A. M. A., 1996, p. 42) tinha sido forçado a viajar do Recife ao Rio de Janeiro, para responder a inquérito policial-militar.

Entretanto, resistia a sair do Brasil. Nós próprios – eu e Argentina Rosas –

participamos de um esforço no sentido de lhe mostrar os riscos a que estaria sujeito se insistisse em permanecer no país: Paulo e Elza se encontravam, então, em um local reservado, em Casa Caiada, Olinda. Lembro que, diante da decisão, aparentemente inabalável, Elza me chamou à parte e disse: vocês ficam aqui até de manhã, mas que ele sai, sai. Ficamos menos intranqüilos.

Convencido, afinal, já agora sem nossa interferência, de não haver outra

alternativa, partiu para seu tempo de exílio: setembro de 1964 a junho de 1980. Uma rápida passagem pela Bolívia. Difícil, a negociação: o Embaixador se recusava a receber mais um asilado político. Vencida a barreira, durante sua permanência na Embaixada, no Rio de Janeiro, foi procurado pelo Diretor de um Departamento do Ministério da Educação da Bolívia, que o contratou para prestar assessoria no campo da educação, em particular da educação primária e de adultos. Saía do Brasil empregado. Entretanto, não suportou a altitude de La Paz.

Forçoso ir adiante. A descoberta de Santiago do Chile: novembro de 1964 a abril

de 1969. Escreveria em 1992, na Pedagogia da esperança (p. 35): “Cheguei ao Chile de corpo inteiro. Paixão, saudade, tristeza, esperança, desejo, sonhos rasgados, mas não desfeitos, ofensas, saberes acumulados, nas tramas inúmeras vividas, disponibilidade à vida, temores, receios, dúvidas, vontade de viver e de amar. Esperança, sobretudo.”

Em Santiago, o reencontro com a família – Elza e os filhos, chegados em meados

de janeiro de 1965 – possibilitou viver uma nova experiência, novas aprendizagens resultariam e, ao mesmo tempo, seriam o início de uma das linhas de força que marcariam sua história de vida. No Chile, respirou um certo clima de Brasil, o encontro e a aproximação com intelectuais brasileiros igualmente exilados: Plínio Arruda Sampaio, Ernani Maria Fiori, Álvaro Vieira Pinto, Francisco Weffort, Fernando Henrique e Ruth Cardoso, Thiago de Mello, entre outros. Certamente, não havia entre eles unidade de pensamento, nem ali estavam levados por motivos idênticos.

Uma produtiva permanência de quase cinco anos. Em Santiago retomou o fio de

sua prática pedagógica, de início, como assessor de Jacques Chonchol, Presidente do Institututo de Desarrollo Agropecuario (INDAP). Posteriormente, na condição de consultor da UNESCO, atuando no Instituto de Capacitación y Investigación de la Reforma Agrária (ICIRA). Naqueles anos, sobretudo, escreveu. Revelou a Sérgio Guimarães (Freire, P. e Guimarães, S. 1987, p. 94): “Cheguei até a contar, escrevi 1.600 páginas em um ano e meio, manuscritas.”

No Chile escreveu seu primeiro livro publicado comercialmente: Educação como prática da liberdade, “uma revisão ampliada” de Educação e atualidade brasileira, a tese com que concorreu à cátedra de História e Filosofia da Educação, na Escola de Belas Artes da Universidade do Recife. Os originais em português da Pedagogia do oprimido

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foram igualmente escritos no Chile, entre 1967 e 1968 e seriam publicados pela primeira vez em 1970: em inglês, nos Estados Unidos da América (Pedagogy of the oppresed), Nova York, Herder and Herder, e em português, com importante prefácio de Ernani Maria Fiori, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra (Cf. Gadotti, M., Organizador, 1996, p.262).

Em Pedagogia da Libertação em Paulo Freire, obra organizada por Ana Maria

Araújo Freire (1999), escrevi (p. 175-178) algumas reflexões sobre a construção da Pedagogia do oprimido. Disse então: “A Pedagogia do oprimido não é o resultado de um insight, o lampejo brilhante e fortuito de uma inspiração ou descoberta. É uma construção desenvolvida ao longo de duas décadas, um momento marcante em um processo de elaboração intelectual, e que, como tal, não representaria o término do processo.”

Por sinal, Paulo Freire (1992, p. 54), ele próprio, confessa haver levado um ano ou

mais falando, em conferências, debates e conversas com amigos, sobre o livro que estava sendo “partejado”: “tempo de oralidade” da Pedagogia do oprimido. Não vivera, igualmente, entre os anos 50 e 64, no Recife, o partejamento e o tempo de oralidade das referências primeiras, das categorias que fundamentariam e, ao mesmo tempo, seriam o legado maior do seu pensamento? Não estava ele, a todo instante, em aulas, conferências, debates, conversas com os amigos, a falar de conscientização e mudança, consciência ingênua, fanatizada ou massificada, e consciência crítica, educação e domesticação? Quantas, dessas e de outras palavras e expressões, não estavam, devagarinho, mas com firmeza, integrando nosso vocabulário cotidiano?

Por conseguinte, no Chile foram ainda partejados alguns dos livros de Paulo Freire

que davam forma a seu discurso no Recife, inclusive ao discurso-base do “método Paulo Freire” e anunciavam sua obra prima: a Pedagogia do oprimido. Livros, cujo “tempo de oralidade” havia tido início no Recife, tais como: Educação e conscientização: extensionsimo rural (em colaboração com Ernani Maria Fiori, José Luiz Fiori e Raul Veloso Farias), CIDOC, Cuernavaca, México, 1968; Contribución al proceso de conscientización del hombre en América Latina, Montevidéu, 1968; Acción cultural para la libertad, ICIRA, Santiago, 1968; Extensión o comunicación? La conscientización en el medio rural, ICIRA, Santiago, 1969 (Cf. Gadotti, M., Organizador, 1996, p.260-62).

Do Chile saiu pela primeira vez em 1966, para realizar conferências e participar de seminários no México, Cuernavaca, onde reencontrou Ivan Ilich, que conhecera no Recife, no início dos anos 60, e estabeleceu um bom relacionamento com Erich Fromm. Em 1967 fez sua primeira visita aos Estados Unidos da América, a convite de seis Universidades norte-americanas. E uma segunda vez, no ano seguinte, 1968, “rapidamente”. Voltaria aos Estados Unidos, ainda em seu tempo de exílio, para uma permanência mais longa: abril de 1969 a fevereiro de 1970, em Harvard e, não simultaneamente, em um Centro de Pesquisa, orientado “no sentido de uma compreensão crítica do desenvolvimento” (Freire, P. e Guimarães, S. 2000, p. 76-78). Sair do Chile, “não abandonar o Chile, do ponto de vista do meu querer bem”, já havia sido discutido com Elza. A saída para os Estados Unidos foi uma decisão que envolveu toda a família. Em 1969 Madalena já havia casado e estava morando no Brasil. Em 1970 tinha vários convites: continuar nos Estados Unidos por mais três anos (possibilidade que agradava a Elza), Canadá, Genebra (Conselho Mundial das Igrejas).

Amava e era grato ao Chile. De outra parte, algumas dificuldades começaram a surgir no Chile: boatos, que considera “de um ridículo enorme”, de que “teria escrito um

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livro violentíssimo contra a democracia cristã como um todo, mas sobretudo contra a pessoa do Presidente Frei, que era um homem de bem”. Acrescenta em depoimento a Sérgio Guimarães (Freire, P. e Guimarães, S. 1987, p.107): “Não quis ser saído de novo”.

Além disso, de acordo com informação de Almeri Bezerra de Melo (2001, p. 28),

Paulo Freire, que não se adaptara à altitude na Bolívia, agora enfrentava um maior obstáculo no Chile: os terremotos. Escreveu a Almeri, que se encontrava em Roma: “Meu amigo, acho que tudo pode me faltar na vida; daria um jeito. Mas, o chão, isso não! Quero sair dessa terra.” Diante disso, declara Almeri Bezerra ter ido a Genebra, acompanhado do presidente e do secretário executivo do Centro de Documentação da Igreja Pós-conciliar. Propuseram e foram acatados pelo Conselho Mundial das Igrejas, que enviou a Paulo uma carta convite para prestar algo como uma consultoria especial ao Departamento de Educação do Conselho. Diz Almeri, no mesmo local: “ele viria para as margens do Lago Leman, onde não há terremotos; teria uma sala com secretária, a biblioteca da instituição, uma digna ajuda de custos e tempo para estudar e aprofundar suas idéias...”.

Durante 10 anos, de fevereiro de 1970 a junho de 1980, Freire encontrou em Genebra, no Conselho Mundial das Igrejas, endereço estável. Professor na Universidade de Genebra, com liberdade para desenvolver experiências fora da Suíça, Paulo Freire partiu para o mundo (sempre retornando a Genebra): fez-se presente com sua palavra e ação na Ásia, Oceania, América e, sobretudo, na África de língua portuguesa (Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau). A partir de Genebra, Paulo Freire projetou-se na história da educação no século XX como um cidadão do mundo. Amadureceu afetiva e intelectualmente, a partir dos desafios vivenciados em diferentes culturas. No Conselho Mundial das Igrejas, confessa: “Eu nunca talvez tenha sido tão livre!” O mesmo diria, de modo mais incisivo, em uma entrevista a Tempo e presença (1979, citada por Faundez, 1996, p. 190): “E se você me pede para testemunhar, enquanto cristão, católico de formação, direi que jamais, em toda a minha vida, me senti tão livre, quanto no período que trabalhei no Conselho Mundial das Igrejas. E deve-se convir que eu trabalhei em muitos outros lugares.”

A expansão de suas atividades fora de Genebra foi facilitada pela criação do

Instituto de Ação Participativa (IDAC), fundado em 1971, em Genebra, por Paulo Freire juntamente com outros exilados brasileiros (Claudius Ceccon, Miguel e Rosiska Darcy de Oliveira). O IDAC, observam Eunice Macedo e colaboradoras (2001, p. 39-40), “alcançou um grande nível de popularidade” e organizou seminários e oficinas “por todo o mundo”. O IDAC levou Paulo Freire e o grupo que com ele atuava em Genebra a Cabo Verde, Angola, Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau. O projeto de assessoria à Guiné-Bissau se alongou por cinco anos (Ceccon, C. 1996, p. 214). Sem dúvida, como observa Faundez (1996, p. 190): “Todos os que conhecem o pensamento e a prática educativa de Paulo Freire sabem que os anos 70 foram o período mais profundo e mais rico de sua práxis pedagógica, sempre em contínua e constante evolução.”

Com a perspectiva do retorno de Paulo Freire ao Brasil, em decorrência da anistia,

a sede do IDAC foi transferida para o Rio de Janeiro e passou a ser um Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais, cujo principal objetivo “é a divulgação das obras e do pensamento de Paulo Freire” (Gadotti, M., Org., 1996, p. 682).

Paulo Freire tinha 43 anos de idade quando partiu para o exílio. Retornou quase 16 anos após. Em junho de 1979 obtivera seu primeiro passaporte brasileiro. Passou o

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mês de agosto no Brasil. Mas, somente no ano seguinte voltaria para ficar. Chegava com o desejo de “reaprender o Brasil”, como em 1964 falara de “aprender o Chile”.

Apesar do muito que ensinou ao mundo, que aprendeu do mundo, jamais perdeu os vínculos afetivos e culturais com o Brasil, o nordeste brasileiro, o Recife. “Antes de ser cidadão do mundo”, repetiu várias vezes, “sou um cidadão do Brasil.” Jamais perdeu sua recifensidade.

O período do exílio foi duramente vivido. Assim escreveu na Pedagogia da esperança (Freire, P., 1992, p.35): “É difícil viver o exílio. Esperar a carta que se extraviou, e notícias do fato que não se deu. Esperar às vezes gente certa que chega, às vezes ir ao aeroporto simplesmente esperar, como se o verbo fosse intransitivo.” Mas, ao mesmo tempo, lhe proporcionou a oportunidade de consolidar seu pensamento.

No intervalo, escreveu e publicou algumas de suas obras mais importantes. A

serviço do Conselho Mundial das Igrejas, lembra Ana Maria Araújo Freire (1996, p. 42), “andarilhou”, como ele gostava de dizer, pela África, Ásia, Oceania e América. Para sua tristeza, sublinha Ana Maria Freire, “com exceção do Brasil”. O Brasil manteve por quase 16 anos suas portas fechadas para Paulo Freire, até mesmo quando sua mãe agonizava. Voltou com um novo aspecto: a barba, que começou a usar nos Estados Unidos, para se defender do frio. Mas, era o mesmo Paulo Freire, profundamente telúrico, antes de tudo, um pensador, um filósofo da educação, um educador e, por ser educador, um político.

Tempo de São Paulo

Voltou para o Brasil e para o Recife: “Recife, sempre” escrevera do Chile. Então, por que São Paulo? Por que não, Recife?

São Paulo foi uma opção quase inevitável. Ninguém melhor do que Ana Maria Freire, para testemunhar (Freire, A. M. A., 1996, p. 44-45): “Condições políticas ainda difíceis”, decorrentes da Lei da Anistia, diz Ana Maria Freire, exigiam do antigo exilado, que pretendesse retomar suas antigas funções, requerer ao governo o estudo do seu caso. Requerimento pode ser deferido ou indeferido. Pode estabelecer restrições. Ainda que fosse deferido e sem restrições, seria uma condição inaceitável. “Por considerá-la ofensiva, recusou-se a aceitar tal exigência, tanto no caso da docência quanto no de técnico”, referente a suas atividades no antigo SEC.

De outra parte, dez anos de liberdade em Genebra não poderiam ser sucedidos

pelo garrote burocrático das universidades federais, contra o qual as instâncias administrativas eram, então, e, em grande parte, ainda são, impotentes. Paulo Freire precisava do apoio institucional que lhe assegurasse uma base salarial justa, referência internacional e liberdade para atender aos inúmeros convites que, bem sabia, continuariam a vir dos Estados Unidos da América e de outras partes do mundo, para ministrar cursos e conferências. Convites que, de fato, ocorreram, até o final de sua vida. Convites e convocações de Universidades e de outras entidades internacionais, que representavam justas honrarias, por tudo o que construíra e continuava construindo em

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prol da educação. Não poderia ser interrompida a seqüência de sua caminhada pelo mundo, como peregrino do inédito-viável, do sonho possível, “do direito e do dever de mudar o mundo”, da esperança no papel da educação para ajudar a conscientizar e transformar a sociedade.

Só a morte o impediu de repetir de viva voz: “Se, de um lado a educação não é a

alavanca das transformações sociais, de outro, estas não se fazem sem ela.” De “viva voz”, no entanto, continuou insistindo na Pedagogia da Indignação, obra

póstuma organizada por Ana Maria Araújo Freire: denúncia, anúncio, profecia, utopia e sonho (Freire, P., 2000, p.91).

Em São Paulo, encontrou as condições de trabalho e a liberdade de ação que não

encontraria no Recife. “Devido a possibilidade aberta pela Lei da Anistia e pelo espírito democrático da Reitoria da PUC, pôde ficar para trabalhar, amar e criar em seu próprio país” (Freire, A M. A ., 1996, p. 44).

Além disso, de setembro de 1980 ao final do ano letivo de 1990, foi professor da

UNICAMP. Já na UNICAMP o processo não foi tão pacífico: aconteceu, observa Ana Maria Freire (ob. cit., p. 44-45), por “pressões dos estudantes e de alguns professores”. Entretanto, somente em 1985, a UNICAMP conferiu a Paulo Freire a condição de professor titular. Para tanto, o Reitor solicitou do Conselho Diretor um “parecer sobre Paulo Freire”: Rubem Alves foi o encarregado de faze-lo e elaborou um incisivo documento, transcrito por Ana Maria Araújo Freire em “A voz da esposa – A trajetória de Paulo Freire” (1996, p.44-45).

No mesmo ano de seu retorno ao Brasil, 1980, Paulo Freire decidiu, pela primeira

vez, filiar-se a um Partido Político: o Partido dos Trabalhadores (PT), do qual foi um dos fundadores. Nos anos 50, certa frustração, diante das expectativas e do processo da redemocratização de 1945, não estimulara Paulo Freire a se envolver na política partidária. Nem mesmo durante os primeiros anos dos 60. Testemunha, no entanto, que por muitos anos sonhou com um Partido Político diferente. No “Manifesto à maneira de quem, saindo, fica”, Epílogo de Educação na Cidade (1991, p. 143), Paulo Freire confessa: “Esperei por mais de 40 anos que o PT fosse criado.” Ao tomar conhecimento da proposta de criação de um Partido dos Trabalhadores, ainda na Europa, já expressou sua adesão.

Se durante os anos 70, no Conselho Mundial das Igrejas e do Conselho Mundial

das Igrejas para o mundo, Paulo Freire alcançou o período mais profundo e mais rico de sua práxis educativa, nas palavras de Antonio Faundez, as décadas seguintes, dos anos 80 e 90, não apenas o mantiveram andarilhando mundo afora mas, agora, também pelo Brasil. Se Freire realizou sua reaprendizagem do Brasil, uma releitura do Brasil, o Brasil fez uma redescoberta de Paulo Freire. De 1964 a 1980, nomes como os de Paulo Freire e Dom Helder Câmara, experiências pedagógicas como a do Movimento da Cultura Popular, a Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler, o Movimento de Educação de Base eram “protegidos” pela cultura do silêncio. As conseqüências são, ainda hoje, conhecidas: no Brasil: quantos cursos de Pedagogia têm nos seus currículos o estudo do pensamento de Paulo Freire?

Em outubro de 1986, Paulo foi surpreendido pela morte de Elza. É verdade que o

estado de saúde de Elza inspirava cuidados. Era cardíaca. Usava um marcapasso.

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A morte de Elza representou para Paulo uma perda muito difícil de absorver.

Entretanto, compreendeu que era preciso viver. Fez a opção pela vida e pelo amor. No dia 27 de março de 1988 casou com Ana Maria Araújo. Ana Maria era então sua orientanda no curso de mestrado da PUC. Paulo a conhecera no Recife, filha de Aluízio Araújo, cujo papel havia sido tão decisivo em sua história, ao conceder-lhe, na condição de Diretor do Colégio Oswaldo Cruz, a bolsa que possibilitou a continuidade dos seus estudos.

De um belo depoimento de Mere Abramowicz (1996, p.201-04), envolvendo dois

momentos da vida de Paulo, a perda de Elza (1986) e o encontro com Nita - Ana Maria Araújo – (1988),. destaco:

“1986 – É um processo lento e difícil. Eu só saio disso se eu sair. Eu não posso ser saído, puxado por alguém. Decidir que eu saio é romper. Decidir é ruptura. Ficar com o morto é a tendência. Ficar com o que está vivo, essa é a decisão! Em momentos como eu experimento agora, morre-se um pouco. Muito de mim ficou vivo. Tenho uma lealdade para com a minha sobrevivência.”

Ao receber o título de Doutor honoris causa na PUC de São Paulo: “1988 – Amei durante 42 anos intensamente! Elza morreu e eu não matei Elza em

mim. Mas optei pela vida! É a única forma de viver e ser leal a Elza. Tive a coragem de casar, de amar outra vez! Vivi momentos de culpa ao olhar uma rosa bonita! Amando essa outra mulher encontrei o mundo! Quem não é capaz de amar tem que se rever.

Dedico esse título à memória de uma e à vida da outra!” De 01 de janeiro de 1989 a 27 de maio de 1991, Paulo Freire ocupou o cargo de

Secretário da Educação da Cidade de São Paulo. Não era a primeira vez que ele exercia a administração de um organismo de natureza educacional. Na verdade, assim começara, no SESI, em Pernambuco. Em 1960, Germano Coelho (2002, p. 49), na condição de Diretor Executivo do Departamento de Documentação e Cultura (DDC), da Prefeitura do Recife, nomeou Paulo Freire para a Diretoria de Cultura da entidade. No Movimento de Cultura Popular, era ele o Diretor da Divisão de Pesquisa e, como tal, integrante do seu Conselho de Direção. No SEC (Serviço de Extensão Cultural), órgão por ele criado no quadro da então Universidade do Recife, era igualmente o Diretor. Em 1964, por ocasião do Golpe, Paulo Freire era o Coordenador do Programa Nacional de Alfabetização, instituído no MEC pelo Ministro Paulo de Tarso Santos.

A escolha do nome de Paulo Freire para a Secretaria de Educação do Município

de São Paulo, pela Prefeita Luíza Erundina, foi “a opção mais lógica”, observam Moacir Gadotti e Carlos Alberto Torres (1995, p. 11-17): não apenas pelo fato de ser Paulo Freire o educador que era, mas por ser membro fundador do PT, integrar sua Comissão de Educação, ser o Presidente da Fundação Wilson Pinheiro, também do PT. Paulo aceitou o novo desafio, com a condição de permanecer como Secretário apenas durante os dois primeiros anos da gestão da Prefeita Luíza Erundina. Tinha o projeto de escrever outros livros, o que não seria possível enquanto estivesse envolvido com a engrenagem da administração pública. E considerava seus cursos, conferências, entrevistas, debates e livros como tarefas prioritárias.

Tanto que Paulo Freire não foi (nem poderia ter sido) um executivo convencional.

Nem sempre foi compreendido quando, percebendo que seria conveniente para o andamento das tarefas burocráticas, dar-se um tempo de lazer para refletir melhor,

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interrompia suas atividades na Secretaria e, sem meias palavras, dizia: “vou ao cinema com minha mulher”.

A obra que resultou de seu tempo de Secretário, A Cidade na Educação,

tampouco aborda o dia-a-dia da burocracia. Reúne dois conjuntos de entrevistas, concedidas, as primeiras, ao longo do ano de 1989, sob o título geral de “Educar para a liberdade numa metrópole contemporânea”, a periódicos brasileiros (Leia, Escola Nova, Psicologia – do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo) e estrangeiros (do Canadá e da Itália); ao Sindicato dos Trabalhadores do Ensino, de Minas Gerais; à Fundação para o Desenvolvimento do Oeste do Paraná. São, como são, em geral, as entrevistas de Paulo Freire, oportunidades de reflexões livres, ainda que um tema focal sirva de fio condutor do pensamento. Reflexões que nos conduzem a refletir também, sobre os déficits da educação brasileira; para mudar a cara da escola; desafio da administração municipal; alfabetização de jovens e adultos; história como possibilidade.

O segundo conjunto de entrevistas compreende um intercâmbio de reflexões e

experiências com a professora Ana Maria Saul e os professores Moacir Gadotti e Carlos Alberto Torres.

No Epílogo que fecha o livro (Manifesto à maneira de quem, saindo, fica), escreve:

“Não estou deixando a luta, mas mudando, simplesmente, de frente”. Contribuiu, ainda, para a construção do Instituto Paulo Freire, de São Paulo, e a

mais completa fonte bibliográfica para o estudo de sua história e do seu pensamento: Paulo Freire – uma biobibliografia, Organizada por Moacir Gadotti e Colaboradores (1996).

No dia 12 de abril de 1991, testemunha Moacir Gadotti (2001, p. 17), “Paulo Freire,

numa reunião com educadores e amigos, lançou a idéia da criação do Instituto Paulo Freire. Seu desejo era encontrar uma forma de reunir pessoas e instituições do mundo todo que, movidas pela mesma utopia de uma educação como prática da liberdade pudessem refletir, trocar experiências, desenvolver práticas pedagógicas nas diferentes áreas do conhecimento que contribuíssem para a construção de um mundo com mais justiça social e solidariedade.”

Naquele ano, 1991, 19 de setembro, Paulo Freire completou 70 anos de idade.

Este fato ensejou numerosos registros e homenagens, com ou sem sua presença, em várias partes do mundo. No Recife, sua Cidade, o Conselho Estadual de Educação e a Secretaria de Educação, Cultura e Esportes do Estado de Pernambuco promoveram, conjuntamente, uma afetuosa homenagem a seu filho, por vários títulos, ilustre: 70 anos de Paulo Freire no mundo.

No Manifesto à maneira de quem, saindo, fica, Paulo Freire declarou não estar

abandonando a luta, mas “mudando de frente”. Talvez fosse mais exato, dizer: retornando à frente à qual dedicou o tempo mais substancial de sua vida – pensar e escrever seus sonhos e utopias. Sonhos e utopias que dariam corpo a obras que completariam, ao lado de Educação como prática da liberdade (1967) e Pedagogia do oprimido (1970), algumas das referências maiores para se compreender Paulo Freire: Pedagogia da esperança (1992), Cartas a Cristina (1994), À sombra desta mangueira (1995), e Pedagogia da autonomia (1997). E deixaria, simbolicamente, inconclusos, cartas e textos que seriam reunidos por Ana Maria Araújo Freire em um livro emblemático: Pedagogia da Indignação

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(2000). Na verdade, como escreveu Balduino Andreola, que a prefaciou, não se trata de uma obra póstuma. Penso que simboliza uma história não finalizada, mas que continua “se fazendo”. Não era uma frase de efeito, mas uma convicção profundamente arraigada, quando Paulo Freire dizia: “seguir-me é não me seguir; é reinventar-me.”

Nos anos 90, durante a gestão da Professora Silke Weber na Secretaria de

Educação do Estado de Pernambuco, Paulo Freire fez diversas visitas ao Recife e, também, ao Cabo de Santo Agostinho. Vinha, quase sempre, para falar aos professores e professoras de várias entidades, principalmente atuando em programas de alfabetização. Trabalhava então, dando continuidade a vínculo que tinha raízes profissionais nos anos 50, ao lado de Maria Adozinda Monteiro Costa.

Em fevereiro de 1997, Paulo Freire fez sua última visita ao Recife. Veio a convite

do SESI. Proferiu, então, uma palestra (Freire, P. 1997-b), a última entre nós, quando rememorou os dez anos em que trabalhou no SESI. Mais uma vez, repetiu: “mudar é difícil, mas é possível.”

Escreve Ana Maria Araújo Freire, na Pedagogia da indignação (Freire, P., 2000, p.

67-68) que, apesar de cansado, ainda em abril de1997, Paulo se encontrava intelectual e emocionalmente envolvido com o seu trabalho, com a educação. Lembra que, no dia 20, recebeu a visita de Germano Coelho e de sua filha, Verônica, e para eles leu as cartas pedagógicas que estava escrevendo. Germano e Verônica “foram as últimas pessoas que tiveram o privilégio de saber detalhes e de ouvir da própria voz do autor, trechos desse livro inacabado” (Pedagogia da indignação).

Dois dias após, 22 de abril de 1997, Paulo Freire proferiu, na PUC de São Paulo,

sua última aula. Nas palavras de Ana Maria, naquele último encontro com Paulo Freire, Germano

Coelho e Verônica “testemunharam a energia emanada de sua indignação e de seu amor; a vontade de trabalhar e de participar, criticamente, da vida de seu país; e o gosto de viver que Paulo levou consigo na madrugada de 2 de maio de 1997.”

Paulo Freire morreu de infarto, aos 75 anos de idade. “Eu gostaria de ser lembrado como alguém que amou o mundo, as pessoas,

os bichos, as árvores, a terra, a água, a vida.” (Paulo Freire)

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